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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES


MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO DE PROCESSOS INSTITUCIONAIS

CYNTHIA GUADALUPE DE AZEVEDO CHAVARRIA

ANÁLISE DO CUMPRIMENTO DA LEGISLAÇÃO REFERENTE AO USO DE


ANIMAIS NO ENSINO E NA PESQUISA CIENTÍFICA NA UNIVERSIDADE
FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

NATAL
2022
CYNTHIA GUADALUPE DE AZEVEDO CHAVARRIA

ANÁLISE DO CUMPRIMENTO DA LEGISLAÇÃO REFERENTE AO USO DE


ANIMAIS NO ENSINO E NA PESQUISA CIENTÍFICA NA UNIVERSIDADE
FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

Trabalho de conclusão de curso


apresentado ao Programa de
Pós-graduação em Gestão de Processos
Institucionais, da Universidade Federal do
Rio Grande do Norte, como requisito à
obtenção do título de Mestre.

Linha de Pesquisa: Ética Aplicada às


Organizações

Orientador: Prof. Dr. Sérgio Luís Rizzo


Dela-Sávia

NATAL
2022
CYNTHIA GUADALUPE DE AZEVEDO CHAVARRIA

ANÁLISE DO CUMPRIMENTO DA LEGISLAÇÃO REFERENTE AO USO DE


ANIMAIS NO ENSINO E NA PESQUISA CIENTÍFICA NA UNIVERSIDADE
FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

Trabalho de conclusão de curso


apresentado ao Programa de
Pós-graduação em Gestão de Processos
Institucionais, da Universidade Federal do
Rio Grande do Norte, como requisito à
obtenção do título de Mestre.
Orientador: Prof. Dr. Sérgio Luís Rizzo
Dela-Sávia
.

BANCA EXAMINADORA

______________________________________
Prof. Dr. Sérgio Luís Rizzo Dela-Sávia
Orientador
UFRN

______________________________________
Profa. Dra. Patrícia Borba Vilar Guimarães
Membro interno
UFRN

______________________________________
Profa. Dra. Ana Luiza Félix Severo
Membro externo ao Programa
UFCG
Aos animais, que, sem serem consultados, são
obrigados a contribuir para nosso desenvolvimento e
aos humanos que lutam por eles.
AGRADECIMENTOS

Agradeço ao meu marido, Everton Pontes Borges, meu fã número 1, para


quem quero sempre ser motivo de orgulho. A cada conquista nossa, tenho certeza
de que estou bem acompanhada na minha jornada.
À minha mãe, dona Noemia, a quem eu devo tanto, e tão pacientemente
tolerou minhas angústias e momentos de aflição e com quem tento aprender a ser
flexível, para não quebrar diante dos ventos inevitáveis da vida; e ao meu pai, que
sempre nos fez entender que estudo e trabalho são os caminhos a serem seguidos.
Aos meus familiares e amigos que torceram por mim, em especial a minha
amada tia Tita; à minha amiga Déborah Fontoura, a prova de que uma amizade
verdadeira supera qualquer diferença; e aos colegas do mestrado, que formaram
uma turma unida e divertida, todos torcendo uns pelos outros.
Aos colegas de trabalho, em especial a Luan Nascimento, sempre me
incentivando no decorrer desse mestrado; à Pró-Reitora de Pesquisa, que apoia a
entrada de sua equipe em programas de qualificação como este; e um
agradecimento especial à minha ex-chefe e amiga dra. Josy Pontes, médica
veterinária desta instituição, com quem tiro minhas dúvidas e sempre tão
prontamente me ajudou, assim como seu marido Thiago Zaqueu.
Agradeço aos professores do programa, pela sua dedicação e
compartilhamento de conhecimento, em especial à professora Patrícia Borba Vilar
Guimarães, tão lindinha, doce e acolhedora, que sempre lembra da nossa
importância para a instituição e nunca soltou nossa mão.
Ao meu orientador, professor Sérgio Dela-Sávia, por ter aceitado me orientar
e que, mesmo de longe, me ajudou a manter a calma e contribuiu com a minha
vontade de seguir com meu projeto.
Ao professor José Luiz de Oliveira, que tanto contribuiu na minha banca de
qualificação, e à professora Ana Luiza Félix Severo, por aceitar participar de minha
banca de defesa.
À Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN, que, como
costumo dizer, é a minha segunda casa, e incentiva seus servidores à qualificação,
tão importante para que se possamos prestar um bom serviço à sociedade.
RESUMO

O uso de animais no ensino e na pesquisa científica abrange questões sociais e


éticas e traz ainda hoje conflitos entre a comunidade científica e a sociedade. Em
resposta à pressão da sociedade, Comissões de Ética no Uso de Animais (CEUA)
foram consolidadas em vários países visando garantir o bem-estar dos animais. No
Brasil, com a Lei n.º 11.794, de 2008, passou a ser obrigatória a existência dessas
comissões nas instituições de ensino e pesquisa, cujo papel principal é analisar
todas as propostas envolvendo animais na instituição, considerando sua relevância
e o Princípio dos 3Rs, julgando-as com base em sua aceitabilidade ética e
minimizando os danos impostos aos animais. Diante do exposto, o objetivo deste
estudo é realizar um diagnóstico do processo de análise ética e legal da CEUA na
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), através da compreensão do
processo de submissão e avaliação das propostas de ensino e pesquisa submetidas
e da identificação de inconsistências nessas propostas e no processo de revisão
ética. Ao final do estudo, detectou-se que os principais motivos para não aprovação
imediata das propostas submetidas estão relacionados ao cronograma, à
metodologia e ao N amostral. Detectou-se ainda uma fragilidade na forma como o
parecer consubstanciado está apresentado e como é preenchido pela Comissão,
com inconsistências na padronização de decisões. Mesmo com esses achados,
pode-se concluir que a CEUA-UFRN se esforça para garantir o cumprimento da
legislação quanto ao uso de animais no ensino e na pesquisa na UFRN, tendo se
tornado, com o tempo, mais rígida em favorecer a aprovação imediata dos
protocolos e estando atenta aos princípios da redução e do refinamento.

Palavras-chave: Comissão de Ética no Uso de Animais. Experimentação animal.


Princípio dos 3Rs.
ABSTRACT

The use of animals in teaching and scientific research covers social and ethical
issues and still brings conflicts between the scientific community and society. In
response to pressure from society, Ethics Committees on Animal Use (CEUA) have
been consolidated in several countries to ensure the welfare of animals. In Brazil,
with the Law 11794 of 2008, the existence of these committees became mandatory in
educational and research institutions, whose main role is to analyze all proposals
involving animals in the institution, considering their relevance and the 3Rs Principle,
judging them based on their ethical acceptability and minimizing the damage
imposed on animals. Given the above, the goal of this study is to perform a diagnosis
of the ethical and legal review process of the CEUA at the Federal University of Rio
Grande do Norte (UFRN), by understanding the process of submission and
evaluation of submitted teaching and research proposals and identifying
inconsistencies in these proposals and in the ethical review process. At the end of
the study, it was detected that the main reasons for not immediately approving the
submitted proposals are related to the timeline, methodology and sample size. It was
also detected a weakness in the way the consubstantiated opinion is presented and
how it is filled out by the Committee, with inconsistencies in the standardization of
decisions. Even with these findings, it can be concluded that the CEUA-UFRN strives
to ensure compliance with the legislation regarding the use of animals in teaching
and research at UFRN, having become, over time, more rigid in favoring the
immediate approval of protocols, and being attentive to the principles of reduction
and refinement.

Keywords: Ethics Committees on Animal Use. Animal experimentation. 3Rs Principle.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Fluxo de submissão e análise dos protocolos pela 71


CEUA-UFRN..................................................................................
Proporção do número de protocolos aprovados (aprovados em
primeira análise e aprovados após ajustes) e não aprovados
Figura 2 – entre janeiro de 2009 e dezembro de 2020Proporção do número 73
de protocolos aprovados e não aprovados entre janeiro de 2009 e
dezembro de 2020……………………………………………………...
Proporção do número de protocolos aprovados e aprovados com
Figura 3 – recomendação em primeira análise e aprovados após ajustes 74
entre janeiro de 2009 e dezembro de
2020…………………………………………………...…………………
Figura 4 – Número de projetos aprovados, aprovados com recomendação, 75
com pendências e não aprovados em primeira análise por ano…..
LISTA DE QUADROS

Comparação entre as definições propostas por Russell e


Quadro 1 – Burch (1959) e NC3Rs sobre Substituição, Redução e 30
Refinamento ..................................................................................
Quadro 2 – Compilado legislativo referente à proteção animal e ao seu uso 36
para fins científicos.........................................................................
Quadro 3 – Resumo da pesquisa ..................................................................... 65

Quadro 4 – Dados encontrados separados por objetivo específico............... 67


LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Número de propostas submetidas para avaliação ética e isentas 71


de avaliação por ano .....................................................................
Tabela 2 – Número de propostas de ensino e status após primeira análise… 75

Tabela 3 – Espécies e números de animais utilizados em ensino e 76


pesquisa de 2009 a 2020 aprovados pelo CEUA-UFRN………….
Frequência de observações relacionadas aos “itens
Tabela 4 – metodológicos e éticos” nos pareceres “aprovados com 79
recomendação” por ano……………………………………………….
Frequência de observações relacionadas aos “itens
Tabela 5 – metodológicos e éticos” nos pareceres “com pendências” por 79
ano………………………………………...…………………………….
Frequência de observações relacionadas aos “itens
Tabela 6 – metodológicos e éticos” nos pareceres “não aprovados” por 79
ano………………………………………………………………………
Tabela 7 – Frequência de pareceres que apontam as propostas com 82
“incompatibilidade com a legislação”..............................................
Frequência de observações relacionadas à seção “informações
Tabela 8 – relativas aos animais” em pareceres “aprovados com 83
recomendação” por ano……………………………………………….
Frequência de observações relacionadas à seção “informações
Tabela 9 – relativas aos animais” nos pareceres “com pendências” por 84
ano………………………………………...…………………………….
Frequência de observações relacionadas à seção “informações
Tabela 10 – relativas aos animais” nos pareceres “não aprovados” por 84
ano………………………………………………………………………
Outras observações relacionadas à seção “informações relativas
Tabela 11 – aos animais” nos pareceres “aprovados com recomendação”, 86
“com pendências” e “não aprovados”.............................................
LISTA DE SIGLAS

CEUA Comissão de Ética no Uso de Animais


CIUCA Cadastro das Instituições de Uso Científico de Animais
CONCEA Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal
CTNBio Comissão Técnica de Biossegurança
CFMV Conselho Federal de Medicina Veterinária
DBCA Diretriz Brasileira para o Cuidado e a Utilização de Animais em
Atividades de Ensino ou De Pesquisa Científica
IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis
ICMBio Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade
MCTI Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação
PROPESQ Pró-Reitoria de Pesquisa
SIPAC Sistema Integrado de Patrimônio, Administração e Contratos
SISBIO Sistema de Autorização e Informação em Biodiversidade
UFRN Universidade Federal do Rio Grande do Norte
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO......................................................................................... 13
2 REVISÃO DA LITERATURA................................................................... 17
2.1 A bioética e a experimentação animal ................................................ 17
2.1.1 O status moral do animal......................................................................... 17
2.1.2 Breve histórico da bioética ...................................................................... 19
2.1.3 Implicações bioéticas da experimentação animal ................................... 21
2.2 O Princípio dos 3Rs .............................................................................. 25
2.3 Legislação sobre o uso de animais no ensino e na pesquisa .......... 31
2.4 As Comissões de Ética no Uso de Animais - CEUAs......................... 39
3 CONDIÇÕES PARA O BOM FUNCIONAMENTO DE UMA
COMISSÃO DE ÉTICA NO USO DE ANIMAIS ...................................... 44
3.1 A revisão ética ....................................................................................... 47
3.2 Realização de inspeções ...................................................................... 59
3.3 Suspensão das atividades ................................................................... 60
4 METODOLOGIA ..................................................................................... 61
4.1 Caracterização do trabalho .................................................................. 61
4.2 Coleta e análise de dados .................................................................... 62
4.3 Descrição do cenário da pesquisa ...................................................... 64
5. RESULTADOS ........................................................................................ 66
5.1 Do fluxo processual e emissão dos pareceres ................................. 67
5.2 Apresentação e discussão dos dados ................................................ 70
5.3 Proposta de intervenção .................................................................... 86
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................... 90
Referências…………………………………………………………………... 95
ANEXO I - Modelo do Formulário Unificado para Solicitação
de Autorização para Uso de Animais em Experimentação e/ou
105
Ensino elaborado pelo CONCEA ..............................................................
ANEXO II - Modelo atual de parecer consubstanciado utilizado pela
CEUA-UFRN ............................................................................................. 114
APÊNDICE I - Proposta de novo modelo de parecer para a
CEUA-UFRN ............................................................................................. 116
13

1 INTRODUÇÃO

Evidências históricas indicam que os animais eram usados para estudos de


anatomia comparada desde a Antiguidade, colaborando com os diversos avanços na
área médica. Até a época da Revolução Industrial (final do século XVIII até meados
do século XIX), o interesse público no bem-estar animal, sem falar nos direitos dos
animais, era praticamente inexistente, já que a pessoa média em todo o mundo
estava mais interessada na sobrevivência pessoal. Prevalecia o conceito de que os
animais não eram dignos de consideração moral, pois não tinham inteligência e
existiam apenas a serviço do homem (SIMMONDS, 2018).
Diversos filósofos e pesquisadores debatiam a respeito da ética e do status
moral dos animais, comparando-os aos seres humanos em essência. Dentre eles,
destacam-se Jeremy Bentham, que introduziu uma nova corrente filosófica
bem-estarista e trouxe princípios de que os animais eram um fim em si mesmos e os
colocavam em um novo patamar; e, mais recentemente, Peter Singer, outro
utilitarista frequentemente citado por ativistas dos direitos dos animais, que
fortaleceu o debate sobre o uso de animais na pesquisa científica e em outras
atividades.
O século XIX ainda viu surgir as primeiras associações de defesa dos animais
de laboratório, uma delas fundada pela esposa do fisiologista Claude Bernard,
defensor da utilização de animais na pesquisa. Um século depois, William M.S.
Russell e Rex L. Burch elaboraram o Princípio dos 3Rs: Replacement, Reduction e
Refinement, que passou a nortear o uso de animais na pesquisa científica.
Isso levou à implementação de medidas destinadas a reduzir possíveis danos
impostos aos animais, desde a produção, criação, captura, transporte e intervenção,
até à eutanásia, bem como a aplicação dos princípios que visam garantir seu
bem-estar, como é o caso das Cinco Liberdades ou o princípio dos 3Rs, uma vez
que as atividades em que são utilizados geralmente abarcam procedimentos
invasivos que envolvem sofrimento.
Tais medidas e posições deram origem à existência de vários protocolos de
intervenção, nacionais e internacionais, utilizados para evitar a deterioração da
qualidade de vida dos animais e garantir procedimentos relevantes, de acordo com o
tipo de investigação, que são regulados por comitês institucionais de bioética e
14

comitês de ética em pesquisa, em instituições onde são realizados experimentos


com animais.
Na década de 1990, os/as comitês/comissões de ética foram se consolidando
em vários países como referências dentro das instituições que realizavam pesquisas
com animais. Desde então, esses órgãos começaram a garantir implementações
adequadas de leis e regulamentos sobre o bem-estar animal. É válido ressaltar que
muitas universidades criaram comitês de bioética sobre pesquisa em animais frente
às respostas das pressões sociais e das demandas de instituições internacionais ou
revistas científicas de alto impacto.
No Brasil, em 08 de outubro de 2008, foi promulgada a Lei Federal n.º 11.794.
Intitulada de Lei Arouca, ela passou a estabelecer procedimentos para o uso
científico e didático de animais. Nesse sentido, foi criado o Conselho Nacional de
Controle de Experimentação Animal (CONCEA), órgão responsável pela publicação
e revisão dos regramentos concernentes ao uso de animais em prol do ensino e
pesquisa científica, velando pela observância dessas normas; e as Comissões de
Ética no Uso de Animais (CEUAs), que devem ser estabelecidas por toda instituição
brasileira que utilize animais para ensino ou pesquisa. Essas comissões são grupos
multidisciplinares que agregam docentes/pesquisadores, representantes de
sociedade protetora de animais, médicos veterinários e biólogos, que trabalham
subordinados ao CONCEA para o monitoramento da experimentação animal na
instituição.
Assim, as instituições que utilizam animais no ensino e na pesquisa contam
com as CEUAs para promover padrões de bem-estar animal e conformidade com as
diretrizes, regulamentos e políticas federais. Dentre algumas competências dessas
Comissões, destacam-se examinar previamente os protocolos pedagógicos ou
experimentais aplicáveis aos procedimentos de ensino e de projetos de pesquisa
científica a serem realizados na instituição à qual esteja vinculada, para determinar
sua compatibilidade com a legislação aplicável.
Para atender à lei, a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)
constituiu, em outubro de 2008, sua Comissão de Ética no Uso de Animais, uma
comissão permanente, de caráter consultivo, deliberativo, educativo, autônomo,
vinculado a Pró-Reitoria de Pesquisa (PROPESQ), constituída nos termos da Lei n.°
11.794, de 08/10/2008, e na Resolução n.° 879, de 15/02/2008, do Conselho Federal
de Medicina Veterinária (CFMV). A CEUA-UFRN tem por finalidade cumprir e fazer
15

cumprir, no âmbito da instituição e nos limites de suas atribuições, o disposto na


legislação aplicável à criação e/ou utilização de animais, do Filo Chordata e subfilo
vertebrata, para o ensino e a pesquisa, caracterizando-se a sua atuação como
educativa, consultiva, de assessoria e fiscalização nas questões relativas aos termos
da lei.
Diante do exposto, pretende-se com esta pesquisa responder à seguinte
questão: como pesquisadores e membros da CEUA-UFRN estão atendendo às
exigências éticas e legais quanto ao uso de animais no ensino e na pesquisa da
UFRN?
O objetivo geral deste estudo visa diagnosticar o processo de análise ética e
legal da CEUA na Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Para alcançar esse
objetivo, faz-se necessário compreender o processo de submissão e avaliação das
propostas de ensino e pesquisa com uso de animais na CEUA-UFRN; identificar
inconsistências nas propostas de ensino e pesquisa submetidas e no processo de
revisão ética; e, a partir de problemas identificados, propor medidas de
aperfeiçoamento ao atual processo.
Consiste-se em um estudo de caso que utiliza o método exploratório, com
base bibliográfica e documental. A coleta dos dados será feita a partir de
documentos oficiais relacionados ao tema e de pareceres emitidos pela
CEUA-UFRN, com análise qualitativa.
Esta pesquisa se justifica especialmente pelo interesse pessoal da autora,
servidora lotada na Comissão de Ética no Uso de Animais da UFRN desde seu
funcionamento efetivo, em janeiro de 2009. Através do acompanhamento diário das
atividades da CEUA-UFRN, da legislação e dos questionamentos feitos pelos
usuários de animais, surgiu a inquietação de se realizar um diagnóstico sobre como
as atividades de ensino e pesquisa que utilizam animais na instituição estão
vinculadas à responsabilidade científica e social e como esta Comissão cumpre seu
papel de revisão ética e comprometimento com o bem-estar dos animais. Um estudo
detalhado do caminho percorrido pela Comissão e a proposta de intervenção aqui
apresentada tem o intuito de contribuir para o fortalecimento e a melhor eficiência do
processo de avaliação das propostas submetidas sob os aspectos éticos e legais,
colaborando com o desenvolvimento da UFRN no âmbito da pesquisa científica.
No que concerne à justificativa social, no Brasil, há poucos estudos no
arcabouço científico que verificam o funcionamento das CEUAS, como estão
16

desempenhando seu papel, como pesquisadores atendem os aspectos éticos e


legais e como esse processo de revisão ética das propostas pode ser aprimorado.
As informações obtidas neste estudo podem ser úteis para aplicação de melhorias
no processo de revisão das CEUAs, ajudando a educar pesquisadores, membros
das comissões e instituição, levando, consequentemente, a população a perceber a
pesquisa científica de um modo diferente, tendo em vista que o bom desempenho
de uma comissão de ética pode contribuir com a criação de vínculos de confiança da
sociedade em relação ao uso de animais na pesquisa científica.
Além da introdução e da conclusão, o texto constitui-se de quatro capítulos
embasados na legislação e na literatura relacionada ao tema. No primeiro capítulo
são abordadas a bioética e a experimentação animal de forma geral, trazendo para
esta discussão o status moral do animal, o histórico da bioética, suas implicações na
experimentação animal e as definições originais e atualizadas do Princípio dos 3Rs.
Em seguida, são expostas a legislação referente ao uso de animais no ensino e na
pesquisa, bem como a criação e importância das Comissões de Ética no Uso de
Animais no Brasil e em outros países. O segundo capítulo trata dos pontos
essenciais para o bom funcionamento de uma Comissão de Ética no Uso de Animais
para ser possível comparar com o que tem sido feito na Universidade Federal do Rio
Grande do Norte. O terceiro capítulo descreve a metodologia, com a caracterização
do trabalho, a coleta e análise dos dados, além da descrição do cenário da
pesquisa. O capítulo seguinte apresenta os resultados da coleta dos dados obtidos
dos pareceres emitidos pela CEUA-UFRN, organizados em gráficos e tabelas,
seguido da discussão dos achados e a proposta de intervenção.
17

2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1 A bioética e a experimentação animal

2.1.1 O status moral do animal

Usar animais na pesquisa científica é ético ou moral? Esta provavelmente é


uma pergunta difícil de se responder, visto que o uso de animais para benefício do
homem e até mesmo de outros animais é centro de debate em todo o mundo, por se
saber hoje que são seres sencientes, que podem sentir dor e sofrer. Para alguns
autores, possuem o mesmo status moral que o homem; para outros, podem ser
considerados coisas. Além disso, tradições, religiões e valores éticos individuais
dificultam determinar o que é certo ou errado quando se considera os animais para
uso no ensino e na pesquisa.
É provável que o questionamento sobre a utilização de animais na pesquisa e
em outras atividades, como em abatedouros, indústrias de cosméticos, criação e
transporte, pode ser atribuído a Peter Singer, com o seu livro Libertação Animal, de
1975, que causou polêmica mundial, principalmente devido aos relatos das
condições a que os animais eram submetidos pela indústria de cosméticos e no
processo de produção de alimentos (RAYMUNDO; GOLDIM, 2002).
Singer, em seu livro Ética Prática (2018), estabelece um princípio ético para
fundar a igualdade entre os seres sencientes humanos e não humanos, o princípio
da igual consideração de interesses. Sugere que “ao aceitarmos o princípio da
igualdade para os seres humanos, também nos comprometemos a aceitar que ele
se estende a alguns animais não humanos” (SINGER, 2018, p. 85).
Para fundamentar seu pensamento, Singer recorre a Jeremy Bentham,
filósofo utilitarista inglês dos séculos XVIII e XIX, que publicou o seguinte:
Poderá existir um dia em que o resto da criação animal adquirirá aqueles
direitos que nunca lhe poderiam ter sido retirados senão pela mão da tirania.
Os franceses descobriram já que a negrura da pele não é razão para um ser
humano ser abandonado sem mercê ao capricho de um algoz. Poderá ser
que um dia se reconheça que o número de pernas, a vilosidade da pele ou a
forma da extremidade do osso sacro são razões igualmente insuficientes
para abandonar um ser sensível ao mesmo destino. Que outra coisa poderá
determinar a fronteira do insuperável? Será a faculdade da razão, ou talvez
a faculdade do discurso? Mas um cavalo ou cão adultos são
incomparavelmente mais racionais e comunicativos do que uma criança
com um dia ou uma semana ou mesmo um mês de idade. Suponhamos que
eram de outra forma - que diferença faria? A questão não é: Podem eles
18

raciocinar? nem: Podem eles falar? mas: Podem eles sofrer? (BENTHAM
apud SINGER, 2018, p. 87).

As três últimas frases do parágrafo são frequentemente citadas por


defensores dos direitos dos animais, pois introduz a senciência, ou seja, ter a
capacidade de sentir dor e sofrimento, ter o direito de não sofrer, na equação moral
e ética. Embora a citação de Bentham pareça sugerir que ele se opôs aos
maus-tratos gratuitos aos animais, ele não se opôs ao uso de animais por humanos,
incluindo o uso de animais em atividades biomédicas. Em uma carta ao editor do
Morning Chronicle (4 de março de 1825), ele declarou que não via objeção em se
utilizar animais, como cães, em um experimento médico e infligir-lhes dor quando
esse experimento tem um objetivo determinado, benéfico para a humanidade,
acompanhado de uma perspectiva justa de sua realização. Isso enfatiza a base da
visão utilitarista que pesa benefícios e custos e se concentra no bem geral que uma
atividade proporciona. Além disso, embora a citação de Bentham no parágrafo
anterior seja frequentemente citada por defensores do vegetarianismo, não parece
haver nenhuma referência a ele ser vegetariano. (SIMMONDS, 2018).
Em relação à afirmação de que a autoconsciência, a autonomia ou outra
característica semelhante podem servir para distinguir os seres humanos dos
animais não humanos, Singer indica que existem seres humanos com deficiências
mentais que, apesar de sencientes, poderiam ser considerados menos conscientes
ou autônomos que muitos animais não humanos, o que os poria no mesmo status
moral que os animais. Assim, o status moral relaciona-se à capacidade de sentir dor
e sofrer, não mais em função da capacidade racional como nas éticas tradicionais. O
autor, no entanto, não afirma que os animais possuem direitos, mas que os
princípios éticos válidos para os humanos devem ser válidos para alguns animais, e
que seu objetivo não é diminuir o status de qualquer ser humano, mas, sim, elevar o
status dos animais.
Como o homem se relaciona com diversas espécies animais (silvestres,
aquáticas, exóticas, domésticas, sinantrópicas, de companhia, de laboratório,
comestíveis, venenosas, perigosas ou pragas), o status moral do animal pode
desencadear as mais variadas percepções: científicas, filosóficas, legais, emotivas,
românticas, artísticas ou médicas, gerando, assim, movimentos ideológicos mais ou
menos radicais como os protecionistas, utilitaristas permissivos, utilitaristas
restritivos e abolicionistas. (FISHER; OLIVEIRA, 2012)
19

Não é objetivo deste trabalho buscar aprofundamento na discussão sobre a


posição dos animais na sociedade, ou provar que merecem ser tratados como
sujeitos de direito. Buscou-se, até este momento, mostrar dois pontos de vista que
divergem para que se possa entender, mais a frente, como esses pensamentos
contribuíram para o desenvolvimento das políticas em torno do bem-estar animal e
seu uso no ensino e na pesquisa científica.

2.1.2 Breve histórico da bioética

Em diferentes períodos da história da humanidade, o avanço da tecnologia


esteve atrelado às demandas da ciência biomédica apoiada pela biologia
experimental. Espécies de vertebrados tão diversas quanto camundongos, ratos,
porquinhos-da-índia, coelhos, hamsters, cães, gatos, primatas, porcos, cabras,
ovelhas, galinhas e anfíbios têm sido usadas em experimentação, permitindo o
desenvolvimento de medicamentos e vacinas (QUEIROZ et al., 2019), sem contar os
benefícios direcionados aos animais domésticos e até mesmo selvagens e o
aumento da expectativa de vida do homem, que dobrou de 40 para 80 anos em
cerca de apenas 100 anos. (ZOTZ; FISCHER, 2018)
Com os dilemas advindos da revolução biotecnológica e suas aplicações nas
áreas médica, farmacêutica, industrial e social, surge a necessidade de se
estabelecer critérios éticos, morais e jurídicos como resposta a esses dilemas.
Mesmo havendo consenso entre a comunidade científica e boa parte da sociedade
sobre o uso científico dos animais, há uma preocupação com o destino das espécies
utilizadas, levando academia e legisladores a implementar condutas moralmente
corretas, resultando na compilação de dados confiáveis e na diminuição do
sofrimento animal (ZOTZ; FISCHER, 2018).
Neste cenário, surge a avaliação ética em pesquisas que utilizam modelos
animais, pois, diferentemente de outras espécies, o homem possui a singularidade
de ser um sujeito ético, que pode fazer juízos de valor e distinguir entre bem e mal.
Para Santos (2017), a ética pode ser definida como o conjunto de atitudes,
costumes, convicções, crenças morais e formas de conduta, tanto dos indivíduos,
como dos grupos sociais, assumindo um caráter reflexivo. Sua complexidade deriva
das muitas variantes espaço-temporais que denota.
20

Fritz Jahr, em 1927, definiu bioética como a obrigação ética do homem para
com o ser humano e demais seres vivos, propondo um “imperativo bioético”, o de
respeitar todo ser vivo essencialmente como um fim em si mesmo e tratá-lo, se
possível, como tal. Mas somente na década de 70, o termo bioética passou a ser
reconhecido mundialmente através de Van Rensselaer Potter, caracterizando-a
como a ciência da sobrevivência e, em 1971, como uma ponte entre os fatos novos
que a ciência descobria e os valores que esses fatos punham em jogo. Em 1980,
Potter enfatizou a característica interdisciplinar e abrangente da Bioética,
denominando-a de global (GOLDIM, 2006), compreendendo o mundo todo, com
uma abordagem voltada para as preocupações ecológicas, preservação do planeta
e de seus ecossistemas.
Desde o surgimento da bioética até os tempos atuais, compreende-se que se
faz necessário tentar esclarecer não sua evolução, mas, sim, seu trabalho em
relação à vida em geral, uma vez que as ações humanas, quando exercidas em
todos os seres vivos, apresentam problemas morais. Expande-se assim o corpo da
bioética referente à vida como tal, tanto sobre a vida humana quanto sobre a vida
em geral frente às abordagens morais, dadas suas condições de consciência,
autoconsciência, liberdade e as consequências que delas decorrem. Neste cenário,
os testes em animais abrem amplos debates éticos e suas complexidades, que são,
em maior ou menor grau extraídas de autores, tornaram visíveis o entendimento e
sua consideração diante da evolução da ciência e o desenvolvimento da bioética
moderna.
Assim, se por um lado, de uma perspectiva global, a bioética tenta relacionar
os julgamentos de valor com fatos biológicos e é considerada um conjunto de
diretrizes filosóficas e metodológicas que orientam os processos e decisões em
pesquisa científica, social e humanística, com o objetivo de alcançar o bem, por
outro lado, o debate da bioética permeia a incorporação da diversidade e pluralidade
de pensamento em favor da guarda respeito à vida, com base em princípios e
normas básicas que foram retirados da filosofia e da prática humana.
Embora o conceito inicial de bioética tenha relação com o respeito à vida em
todas as suas formas, foi aplicada primeiramente na pesquisa envolvendo seres
humanos, a partir de condutas impróprias na prática científica. O Código de
Nuremberg (1947) foi o primeiro documento específico sobre ética para pesquisa
com seres humanos, surgindo em resposta às atrocidades do nazismo alemão.
21

Mesmo após a publicação desse documento, pesquisas com graves distorções de


natureza ética continuaram a ser realizadas. A Associação Médica Mundial, reunida
em Helsinque, complementou o Código de Nuremberg, e, em 1964, foi promulgada a
Declaração de Helsinque, tendo sido revisada 7 vezes, sendo a última em 2013. Na
sua segunda versão, passou a preocupar-se com o meio ambiente e com os
animais envolvidos na pesquisa, provavelmente como consequência dos protestos
contra o uso de animais em pesquisa científica. Ambos documentos têm se
constituído base para elaboração de vários outros documentos sobre ética na
pesquisa biomédica, tanto para humanos como para animais.
Para Raymundo e Goldim (2000), a Bioética propicia a reflexão que considera
os diferentes pontos de vista, levantados no passado e no presente, visando
adequar a pesquisa aos fundamentos do respeito à vida, principalmente das
pessoas, e da tolerância, mas, igualmente, de respeito à vida que dignifica o animal
como merecedor de considerações éticas, tolerância que traz consigo a
possibilidade de manter a realização de experimentos desde que adequadamente
justificados e planejados com um mínimo de impacto sobre a vida dos animais
participantes. Santos (2017) a define como uma disciplina que muda com o tempo, a
depender do progresso científico-tecnológico, e com cada autor que tratou de
defini-la; uma reflexão compartilhada, complexa e interdisciplinar, um saber plural e
global no qual confluem todos os saberes que tem a ver com a vida.

2.1.3. Implicações Bioéticas da experimentação animal

Apesar da preocupação da sociedade quanto ao uso de animais na ciência e


o comprometimento de seu bem-estar, há um consenso entre os cientistas de que o
uso de animais em várias áreas da ciência ainda é necessário para a obtenção de
conhecimento (ZOTZ; FISCHER, 2018; GUILLEN; VERGARA, 2018; ANDERSEN;
FLOETER-WINTER; TUFIK, 2020). Com o avanço científico-tecnológico, surgiu a
necessidade de mudança de paradigmas. A visão antropocêntrica e utilitarista, na
qual os animais são valorizados pela sua utilidade, passou a dar vez a uma visão
biocêntrica, que valoriza cada animal, individual e fisicamente, pela sua condição de
ser vivo, respeitando suas necessidades biológicas, memória e instinto de
sobrevivência (ZOTZ & FISCHER, 2018). As denúncias de abusos e maus-tratos, a
22

pressão da sociedade e das revistas científicas impulsionaram o surgimento de uma


cultura de valorização do animal.
Claude Bernard, o pai da biologia experimental e adepto da prática de
vivissecção, e que deixou inúmeros textos sobre a ética para com os pacientes,
afirmava que a experimentação animal é um direito do homem e que o fisiologista
não deveria se comover com a expressão dos animais. Em oposição a essa postura,
sua esposa e filha fundaram a primeira sociedade francesa em defesa dos animais,
estimulando o surgimento de várias outras associações de proteção animal
(QUEIROZ et al., 2019).
Quase um século depois, Russell e Burch, em 1959, publicaram os Princípios
das Técnicas Experimentais Humanas e com eles o Princípio dos 3Rs (replacement,
reduction e refinement), que tem sido base e se incorporado às leis que
regulamentam a utilização de animais para pesquisa científica. Baseado nesse
Princípio, que não impede a utilização de animais na pesquisa, mas tem como
premissa uma pesquisa humanitária para os animais, atualmente, cientistas são
orientados a substituir, sempre que possível, o uso de animais por métodos
alternativos validados (replacement), a diminuir o número de animais utilizados
(reduction); e optar pelo modelo mais adequado para cada tipo de experimento e
aprimorar as técnicas de modo que não seja necessário refazer procedimentos
(refinement).
Em janeiro de 1978, a UNESCO proclamou a Declaração Universal dos
Direitos dos Animais, em Bruxelas, em que destacou, dentre outros direitos, que
todos os animais têm direito à vida e devem ser respeitados; que nenhum animal
deve ser maltratado ou submetido a atos cruéis; e, em se tratando de
experimentação animal, no seu Artigo 8º, versa que “a experimentação animal que
implique sofrimento físico ou psicológico é incompatível com os direitos do animal,
quer se trate de uma experiência médica, científica, comercial ou qualquer que seja
a forma de experimentação; e as técnicas de substituição devem ser utilizadas e
desenvolvidas”.
Outro conceito que passou a influenciar algumas regulamentações e
orientações foi o das "cinco liberdades dos animais”, publicado pelo Farm Animal
Welfare Council, em 1979, em resposta ao relatório do governo do Reino Unido
sobre a criação de gado, como princípios que norteiam as boas práticas de
23

bem-estar animal. Ficou conhecido como uma espécie de declaração dos direitos
dos animais:
1. Estar livre de fome e sede: Os animais devem ter acesso a água e alimento
adequados para manter sua saúde e vigor.
2. Estar livre de desconforto: O ambiente em que eles vivem deve ser adequado a
cada espécie, com condições de abrigo e descanso adequados.
3. Estar livre de dor, doença e injúria: Os responsáveis pela criação devem garantir
prevenção, rápido diagnóstico e tratamento adequado aos animais.
4. Ter liberdade para expressar os comportamentos naturais da espécie: Os animais
devem ter a liberdade para se comportar naturalmente, o que exige espaço
suficiente, instalações adequadas e a companhia da sua própria espécie.
5. Estar livre de medo e de estresse: Não é só o sofrimento físico que precisa ser
evitado. Os animais também não devem ser submetidos a condições que os levem
ao sofrimento mental, para que não fiquem assustados ou estressados, por
exemplo.
No tocante à vivissecção, esta prática tem dividido a sociedade em,
basicamente, três correntes, de acordo com Lacerda (2013): os vivisseccionistas,
para quem os benefícios obtidos com tais experimentos ultrapassam os malefícios
proporcionados aos animais, representando importante instrumento em pesquisas
voltadas para cura de doenças, avanços científicos e consequente melhoria na
qualidade de vida, além da relevância para formação profissional dos estudantes
ligados a área da biomédica; os abolicionistas, que a veem como uma prática cruel
que não se justifica, visto que existem métodos alternativos eficazes para
proporcionar os mesmo objetivos a qual esta se destina, argumentando ainda que os
experimentos realizados em animais geram resultados duvidosos em decorrência de
fatores como imperícia técnica na condução do experimento, desequilíbrio na saúde
física e psíquica do animal, e outros; e por fim os defensores dos 3Rs, que tratam da
possibilidade da prática experimental, entretanto, estabelecendo princípios de forma
a evitar experimentos desnecessários com animais.
O surgimento de regulamentações nos países europeus e nos Estados
Unidos aperfeiçoaram-se gradualmente para se tornar disposições, documentos
regulatórios e leis em nações. Aumentar o uso de legislação de bem-estar animal de
laboratório criou novos regulamentos nas áreas onde eles não existiam antes e
levou à revisão e melhoria das leis e diretrizes existentes. E isso se deve
24

principalmente ao interesse, energia e entusiasmo dos profissionais de animais de


laboratório que buscam continuamente difundir conhecimentos, princípios éticos e
boas práticas em todo o mundo (GUILLEN; VERGARA, 2018).
Duas grandes organizações merecem destaque: o International Council for
Laboratory Animal Science (ICLAS) e o Council for International Organizations for
Medical Sciences (CIOMS). Ambas se uniram para revisar antigos princípios
orientadores internacionais da pesquisa biomédica envolvendo animais. Outros
exemplos em nível regional são: Federation of European Laboratory Animal Science
Associations (FELASA), na Europa; American Association for Laboratory Animal
Science (AALAS), nos Estados Unidos; Federación Sudamericana animales
laboratório (FESSACAL), na América Latina; Asian Federation of Laboratory Animal
Science Associations (AFLAS), na Ásia; e Australian & New Zealand Council for the
Care of Animals in Research and Teaching (ANZCCART), na Oceania. Em uma
outra perspectiva, a Association for Assessment and Accreditation of Laboratory
Animal Care International (AAALAC), organização privada, sem fins lucrativos,
promove o tratamento humano de animais na ciência por meio de programas
voluntários de acreditação e avaliação, no qual os programas de pesquisa
demonstram que atendem aos padrões mínimos exigidos por lei e também estão
dando um passo a mais para alcançar a excelência no cuidado e uso de animais.
Mais de 1040 programas de uso e cuidado de animais de 50 países têm conquistado
a acreditação da AAALAC, que vem servindo como uma ferramenta para a melhoria
e harmonização de práticas e programas no uso e cuidado de animais.
Essas organizações internacionais desempenham um papel fundamental na
expansão e harmonização das melhores práticas, aproximando profissionais e
legisladores e promovendo a implementação dos mesmos princípios para o uso e
cuidado de animais de laboratório.(GUILLEN; VERGARA, 2018).
O uso de animais para fins de ensino e pesquisa não deve ser tomado de
ânimo leve e sem o reconhecimento consciente sobre a proteção e direitos para os
animais. Além disso, a necessidade de realizar experimentos de maneira ética
deu-se também para evitar variáveis indesejáveis na pesquisa, causadas por dor e
angústia nos animais de laboratório que dificultaria a interpretação dos resultados,
bem como a reprodutibilidade dos experimentos.
Embora a experimentação animal tenha desempenhado um papel vital no
progresso científico e biomédico, visto que alguns avanços não teriam sido possíveis
25

sem os estudos in vivo, e provavelmente continuem a fazê-lo em um futuro


previsível, é importante manter o foco na melhoria contínua do bem-estar dos
animais de laboratório, bem como no desenvolvimento de alternativas de
substituição para experimentos com animais (FRANCO, 2013).
A sensibilidade da comunidade e o interesse dos cientistas que trabalham no
campo da ciência e do bem-estar dos animais de laboratório demonstraram
claramente que o uso de animais em pesquisas biomédicas deve ser conduzido sob
normas científicas, legais e éticas específicas, resultando na criação de uma relação
de confiança entre cientistas e sociedade (KOSTOMITSOPOULOS; DURASEVIC,
2010).

2.2 O Princípio dos 3Rs

Os 3Rs (replacement: substituição, reduction: redução e refinement:


refinamento) são orientações para melhorar o bem-estar dos animais usados em
pesquisas, bem como os resultados científicos. Originaram-se de uma proposta feita
em 1954 por Charles Hume, fundador da Federação das Universidades para o
Bem-Estar Animal (Universities Federation for Animal Welfare - UFAW), mas foram
William Russell, zoólogo, e Rex Burch, microbiologista, os responsáveis por
desenvolver e descrever o conceito no livro “Princípios da Técnica Experimental
Humana” (Principles of Humane Experimental Technique), em 1959. Na época,
Hume comentou que esse trabalho deveria se tornar um clássico, gerando um novo
campo de estudo sistemático. Suas previsões sobre o impacto do livro foram
percebidos à medida que os conceitos de alternativas de substituição, redução e
refinamento se estabeleceram em lei, regulamentos e políticas governamentais.
(ZURLO; RUDACILLE; GOLDBERG, 1996)
Russell e Burch consideravam como objetivo final dos 3Rs a diminuição ou
eliminação o quanto possível da “desumanidade” imposta aos animais para alcançar
a “humanidade”. Os autores descrevem a desumanidade como vários estados
mentais desagradáveis experimentados pelos animais na pesquisa, sendo
equivalente à angústia (dor, medo, conflito, fome e desconforto corporal).
A desumanidade é distinguida em direta e contingente. A direta é definida
como a imposição de angústia como consequência inevitável do procedimento
aplicado. Exemplo: teste de eficácia de uma droga analgésica em que é necessário
26

infligir dor não aliviada. Já na desumanidade contingente, se inflige sofrimento como


um subproduto acidental e inadvertido do uso do procedimento. Exemplos de
desumanidade contingente são técnicas de manejo precários e métodos de
eutanásia ineficazes (RUSSELL; BURCH, 1959). Há ainda a questão relacionada a
minimizar a desumanidade experimentada por animais individuais e minimizar a
soma total de desumanidade experimentada por todos os animais em um
experimento, ou seja, expor mais sofrimento a um pequeno número de animais ou
utilizar muitos animais a cada um sendo imposto menos sofrimento? Russell e Burch
não indicam qual seria sua escolha em tais circunstâncias.
O conceito de desumanidade tem, assim, íntima relação com o Princípio dos
3Rs, visto que os princípios são “as maneiras pelas quais a desumanidade pode ser
e está sendo diminuída ou removida”. Dessa forma, a proposta original dos 3Rs
definia “replacement como a substituição por animais superiores vivos conscientes
de material insensível; reduction como redução no número de animais utilizados
para obter informações de uma determinada quantidade e precisão; e refinement
como qualquer diminuição na incidência ou gravidade de procedimentos desumanos
aplicados aos animais”. (RUSSELL; BURCH, 1959. p. 64)
Para os criadores do Princípio dos 3Rs, há uma sobreposição entre essas
três categorias. O uso de cultura de tecido proveniente de um animal, por exemplo,
substitui animais por material insensível. Essas várias culturas fornecem mais
informações do que um único animal inteiro usado diretamente e, então, pode-se
falar em redução. Por fim, como esse animal, fonte para várias culturas, seria morto
sem dor, ao invés de submetido a procedimentos dolorosos, pode-se afirmar que
houve refinamento.
A seguir, serão apresentadas as definições dos 3Rs oferecidas nos
Princípios.

a) Replacement (Substituição):

Russell e Burch distinguiram “substituição” em absoluta, em que os animais


não são necessários em nenhum estágio do procedimento, podendo ser utilizados
plantas superiores, culturas de células e tecidos humanos ou metazoários
endoparasitas mais degenerados, nos quais os sistemas nervoso e sensorial estão
quase atrofiados; e relativa, com a morte humanitária de um animal vertebrado
27

fornecendo células, tecidos ou órgãos para estudos in vitro. Na substituição relativa,


os animais são utilizados sob anestesia profunda e em procedimento terminal, e,
segundo os autores, totalmente livres de desumanidade.
É importante enfatizar que os autores se referem à substituição como uma
maneira de diminuir ou eliminar, quando possível, o sofrimento e não como
eliminação total do uso de animais ou uso de animais que sintam menos angústia do
que os vertebrados. Substituição significa usar material não senciente, insensível,
seja proveniente de um animal ou não.
Podemos considerar experimentos em que os animais ainda são
necessários, mas apenas para fornecer preparações após serem mortos
sem dor. Isso já constitui mais um avanço. Desde que a eutanásia seja
satisfatória, e desde que haja uma redução substancial nos números, tais
experimentos são irrepreensíveis (RUSSEL; BURCH, 1959, p. 71).

b) Reduction (Redução):

Russell e Burch definem a Redução como “redução no número de animais


usados para obter informações de uma determinada quantidade e precisão”,
centrado no problema de controle de variância, visando reduzir e, quando possível,
remover a desumanidade ou sofrimento. Os animais individuais variam, não se
podendo medir simplesmente como cada animal de uma determinada espécie
responde a uma determinada dose de uma determinada substância. Se cada
indivíduo fosse absolutamente idêntico em todos os aspectos, muito poucos animais
seriam necessários para fins de ensaio. É importante que sejam utilizados animais
geneticamente homogêneos, limitar as variáveis, controlar e manter os experimentos
de forma cuidadosa.
O método estatístico tem, portanto, o papel de especificar o número mínimo
de animais necessários para um experimento, mas, por si só, mesmo levados aos
seus refinamentos finais, ainda podem deixar com a necessidade de usar um
número de animais, às vezes bastante grande, mas o mínimo necessário para
obtenção de resultados confiáveis.
Para fins de redução, como observamos, o método estatístico tem uma
propriedade fundamental: especifica o número mínimo de animais
necessários para um experimento. Esta afirmação precisa de qualificação.
Certamente é sempre possível, de acordo com o conceito arbitrário mas
viável de nível de significância, decidir após o evento se foram usados
animais suficientes. Isso evita repetições desnecessárias, e onde, como às
vezes em bioensaios, os trabalhadores estão familiarizados com a
quantidade de variação esperada, um número encontrado para dar
28

resultados significativos pode ser fixado para a prática regular. (RUSSELL;


BURCH, 1959, p. 111)

O conceito elaborado pelos autores difere de algumas definições recentes de


redução que definem redução como a minimização “absoluta”do número de animais.
O objetivo não é apenas evitar o uso de muitos animais, mas também garantir que
“foram usados animais suficientes”, indicando que a redução não necessariamente
resulta no uso de poucos animais. Reduzir ao máximo o número de animais pode
impor mais sofrimentos aos animais individualmente, não sendo essa atitude nem
sempre a mais humanitária.

c) Refinement (Refinamento):

Russell e Burch definem refinamento como a redução “ao mínimo absoluto da


quantidade de sofrimento imposta aos animais que ainda são usados.” Mas os
autores chamam atenção para os casos em que eliminar, ou mesmo reduzir, a
angústia imposta, sem prejudicar o fim em vista torna-se um problema difícil de
resolver, a depender do objetivo do estudo.
Técnicas anti-sépticas e avanços na área de cirurgia, por exemplo,
promoveram o progresso na biologia experimental, incidindo tanto na redução como
no refinamento. Outros procedimentos destacados pelos autores são a anestesia
(mais importante na sua opinião), analgesia e eutanásia, chamados por eles de
“procedimentos sobrepostos ao procedimento específico escolhido para um
experimento”, bem como a escolha do procedimento para um determinado objetivo e
a escolha da espécie a ser utilizada (espécies particulares para propósitos
particulares).

Outras definições de 3Rs foram sendo acrescentadas àquela proposta por


Russell e Burch. O Centro Nacional para Substituição, Refinamento e Redução de
Animais na Pesquisa (Nacional Centre of the Replacement, Refinement and
Reduction of Animals in Research - NC3Rs), por exemplo, uma organização
científica sediada no Reino Unido, atualizou as definições de acordo com a
linguagem científica comum para destacar a importância dos 3Rs para as práticas
modernas de pesquisa, apresentadas no Quadro 1.
29

Quadro 1 – Comparação entre as definições propostas por Russell e Burch (1959) e


NC3Rs sobre Substituição, Redução e Refinamento
Definição original Atualizada

Substituição Absoluta: Emprego de material Acelerar o desenvolvimento e


não senciente, como plantas o uso de modelos e
superiores, microorganismos e os ferramentas preditivos e
metazoários endoparasitas mais robustos, baseados na
degenerados (sistemas nervoso e ciência e nas tecnologias
sensorial quase atrofiados) para mais recentes, para abordar
substituir vertebrados vivos questões científicas
conscientes. importantes sem o uso de
Relativa: uso de partes de animais. A substituição
animais mortos sem dor. relativa inclui invertebrados
como Drosophila , vermes
nematóides e amebas
sociais, e formas imaturas de
vertebrados

Redução Através da análise estatística Experimentos com animais


indicar o mínimo de animais adequadamente projetados e
necessários em um experimento analisados para garantir
para não apenas evitar o uso de achados robustos e
muitos animais, mas também reprodutíveis, permitindo
assegurar que “animais ainda maximizar as
suficientes foram usados”. Não informações coletadas por
significa reduzir ao mínimo animal e reduzir o uso de
absoluto. animais adicionais.

Refinamento Minimizar a dor, sofrimento, Minimizar o sofrimento, além


angústia ou danos duradouros de promover o bem-estar
que os animais de pesquisa animal de pesquisa
possam experimentar. explorando as mais recentes
tecnologias in vivo e
melhorando a compreensão
do impacto do bem-estar nos
resultados científicos.
Fontes: Russell e Burch, 1959; NC3Rs, c2022.

A definição atualizada de substituição relativa inclui o uso de alguns animais,


que, com base no pensamento científico atual, não são considerados capazes de
sofrer. Três espécies de invertebrados que têm contribuído substancialmente para as
áreas da biologia celular e genética são: o nematóide Caenorhabditis elegans
(apoptose, interferência de RNA, genética do desenvolvimento), a levedura de
padeiro Saccharomyces cerevisiae (sequenciamento do genoma, envelhecimento,
doenças mitocondriais) e o artrópode Drosophila melanogaster, a mosca da fruta
30

(modelagem genética, biologia do desenvolvimento, transformação, mutação,


rastreio de toxicidade). Um exemplo do uso dessas alternativas em pesquisa, é a
substituição de camundongos, modelo padrão para estudos de patologia e
mortalidade, pelo nematóide C. elegans, na área de pesquisa referente à
patogênese de Pseudomonas aeruginosa (CHELUVAPPA; SCOWEN; ERI, 2017).
Por outro lado, a definição de substituição elaborada pelo “Guia para o
cuidado e uso de animais de laboratório”, do governo dos Estados Unidos, parece
confusa quando trata da substituição relativa (“substituir animais como os
vertebrados por outros, que estão mais abaixo na escala filogenética”). Essa
definição não indica se a substituição de animais é por uma espécie não vertebrada
(insetos, por exemplo) ou por qualquer espécie, vertebrada e invertebrada, inferior
na escala filogenética (por exemplo, substituir primatas por ratos).
Atualmente, a comunidade científica tem se esforçado para desenvolver
métodos alternativos e apesar do número de centros especializados terem feito
significativos progressos, o processo de validação em certas áreas, como na de
toxicologia, tem sido lenta (GUILLEN; VERGARA, 2018).
Em relação ao refinamento, as definições atuais complementam a definição
original, incluindo “promoção do bem-estar animal”. O refinamento se aplica a todos
os aspectos do uso dos animais, desde seu alojamento e criação até os
procedimentos científicos realizados neles. Exemplos de refinamento incluem
garantir que os animais recebam alojamento que permita a expressão de
comportamentos específicos da espécie, usando anestesia e analgesia apropriadas
para minimizar a dor e treinar os animais para cooperar com os procedimentos para
minimizar qualquer sofrimento. (NC3Rs, 2022)
Independentemente das definições que surgem, o Princípio dos 3Rs tem um
objetivo e deve ser levado em consideração no planejamento, na execução e na
avaliação da pesquisa animal, bem como é uma forma de orientar os membros de
uma CEUA nas suas decisões. No entanto, em uma revisão feita por Jorsengen et al
(2021), foi observado que compreender e pôr em prática o Princípio dos 3Rs é um
desafio tanto para os pesquisadores como para as comissões de ética, pois são
ainda conceitos imprecisos, permitindo que pessoas de pontos de vista diversos
façam suas próprias interpretações, baseados em valores pessoais. Assim, uma
prova documental de aprovação ética não seria suficiente para garantir que o
Princípio dos 3RS é de fato implementado. Aliado a isso, existe ainda a preocupação
31

de que o aumento de controle exigido pela legislação acrescente um nível de


burocracia não proporcional à garantia do bem-estar animal ou dos 3Rs (VOIPIO,
2004; FESTING & WILKINSON, 2007; PETRIE & WALLACE, 2015).
Para Cheluvappa, Scowen e EriI (2017), o princípio do refinamento tem se
mostrado desafiador devido à sua flexibilidade e às diversas possibilidades, em
inúmeros cenários. Todas as atividades envolvendo animais devem ser descritas em
sua totalidade (do transporte ao momento da eutanásia), para que seja possível a
CEUA avaliar os impactos causados ao bem-estar dos animais (CONCEA, 2016).
Alojar animais em condições mínimas, fornecendo, por exemplo, apenas comida,
água e cama, provavelmente causará algum sofrimento ao animal mesmo antes de
qualquer procedimento experimental ter sido iniciado, pois, não se deve esquecer,
os recintos oferecem poucas possibilidades de expressão do comportamento natural
da espécie (desumanidade contingente). Alguns exemplos de como os
procedimentos podem ser refinados para minimizar a dor ou angústia: uso de
analgésicos pós-operatórios, treinamento de procedimento que ocorre antes de usar
animais vivos, etc, e promoção de “estados mentais e físicos positivos”, como o
enriquecimento ambiental.
A implementação bem sucedida do Princípio dos 3Rs, segundo Zurlo,
Rudacille e Goldberg (1996), depende da educação e treinamento dos envolvidos na
pesquisa com animais, cujo objetivo é fornecer informações suficientes para permitir
que cientistas e usuários conduzam os procedimentos em animais com altos
padrões de ciência e bem-estar animal, contribuindo para sua capacitação para
projetar experimentos adequadamente e planejar estratégias de pesquisa, tornar-se
competente no manejo, tomar decisões éticas e determinar a existência de métodos
alternativos.

2.3 Legislação sobre o uso de animais no ensino e na pesquisa

O uso de animais no ensino e na pesquisa abrange questões sociais e ética e


traz ainda hoje conflitos entre a comunidade científica e a sociedade. Para aqueles
que estão fora do campo científico, pode não ser fácil entender os detalhes de uma
pesquisa que utiliza animais e julgar a necessidade e a qualidade dessa pesquisa.
Mesmo assim, há consenso de que os danos causados aos animais em nome da
ciência devem ser regulamentados e submetidos à aprovação ética antes de serem
32

realizados (KOSTOMITSOPOULOS; DURASEVIC, 2010; GUILLEN; VERGARA,


2018).
Em 1999, Aldhous et al (1999) publicaram uma pesquisa em que foram feitas
perguntas com possibilidade de flexibilidade nas respostas: quando questionados se
concordavam com o uso de animais em pesquisa, 24% dos entrevistados
responderam que sim, enquanto 64% disseram que não; quando explicados os
potenciais benefícios médicos do uso de animais em experimentos, 45% aprovava
enquanto 41% não aprovou; quando questionados se concordavam com
experimentos em que ratos estariam sujeitos a dor, doença ou cirurgia, 61%
desaprovaram o uso deles para estudar como funciona a audição, enquanto que
65% aprovaram o uso de ratos para garantir um novo medicamento para curar a
leucemia infantil. Outra pesquisa, conduzida em 2015 pelo Pew Research Center,
um centro que realiza pesquisas de opinião pública nos Estados Unidos, mostrou
uma divisão na opinião da população: 47% concordavam e 50% se opuseram ao
uso de animais na pesquisa científica, contrastando com 89% de cientistas a favor.
Em um levantamento feito no Brasil sobre a opinião da população brasileira em
relação à utilização de animais em diferentes modalidades de pesquisa científica e
atividades de ensino, Andersen, Floeter-Winter e Tufik (2020) observaram que houve
um apoio significativo no uso em ciências aplicadas (por exemplo, pesquisa
destinada a encontrar uma cura para doenças), enquanto o uso de animais em
pesquisas de ciências básicas e de ensino suscitou mais objeções e maiores
percentagens de respostas, como indiferente ou indeciso.
Percebe-se que a pertinência, ou seja, o benefício do procedimento, bem
como a análise crítica da real necessidade do uso de animais em situações
experimentais, constituem bases imprescindíveis para que a sociedade compreenda
e aceite como justificável a participação de animais em procedimentos didáticos e
científicos (CONCEA, 2015).
As preocupações éticas da sociedade com os animais usados para fins
científicos fizeram com que sociedades científicas, governos e agências regulatórias
desenvolvessem e implementassem uma legislação como resposta a essas
preocupações. Governos do mundo todo passaram a fornecer orientação, criar leis,
órgãos regulatórios e licenças para supervisionar o uso e o bem estar de animais no
ensino e na pesquisa, e mesmo aqueles que não possuem legislação específica
33

acabam sendo influenciados pela legislação de outros países (GUILLÉN;


VERGARA, 2018).
No Reino Unido, em 1876, a lei British Cruelty to Animal Act é a primeira que
se tem notícia a regulamentar o uso de animais de experimentação, enquanto que a
criação do FRAME (Fund for the Replacement of Animals in Medical Experiments),
em 1969, foi a primeira ação em favor do princípio dos 3Rs, promovendo o conceito
e o desenvolvimento de métodos alternativos. Em 1986, a lei inglesa foi atualizada,
passando a se chamar Animal (Scientific Procedures) Act, prevendo punição para
quem a infringir, de multa até prisão, servindo de modelo para o resto do mundo. Os
próximos países na Europa a criarem leis de proteção aos animais em pesquisas
científicas foram Suécia (1944), França (1968), Holanda (1977) e Noruega (1984).
(ANDERSEN et al, 2004)
Nos Estados Unidos, em 1963, foi publicado pelo National Institute of Health
(NIH), um dos principais polos de pesquisa em saúde do mundo, um guia sobre
animais de laboratório (Guide for laboratory animal Facilities and Care), atualizado
em 1996 (Guide for the care and use of laboratory animals) para dar assistência
científica, técnica e ética apropriada. No Canadá, foi criado o Canadian Council on
Animal Care (CCAC), em 1968, responsável por estabelecer e manter padrões para
o cuidado e uso de animais na ciência dentro do país. Na Austrália, o Australian
Code for the Care and Use of Animals for Scientific Purposes (Código Australiano
para o Cuidado e Uso de Animais para Fins Científicos), um documento
nacionalmente aceito que é revisado periodicamente para levar em consideração as
mudanças na tecnologia e os pontos de vista da sociedade, foi estabelecido por
iniciativa de cientistas em 1969. Em 1985, o uso de animais em pesquisa e ensino
passou a ser regulamentado pelo Animal Research Act 1985, cujo objetivo é
proteger o bem-estar dos animais usados em pesquisas. A lei também estabelece o
Painel de Revisão de Pesquisa Animal para fornecer um mecanismo para que
representantes de grupos governamentais, científicos e de bem-estar animal
participem conjuntamente no monitoramento da eficácia da legislação.
Na Europa, a Directiva 2010/63/UE do Parlamento Europeu e do Conselho da
União Europeia sobre a proteção dos animais utilizados para fins científicos foi
aprovada em setembro de 2010, entrando em vigor nos Estados-Membros em
janeiro de 2013, com o objetivo de estabelecer regras mais pormenorizadas “a fim
de reduzir as disparidades entre as disposições regulamentares, legislativas e
34

administrativas dos Estados-Membros [...] visto que enquanto alguns adotavam


medidas para assegurar um elevado nível de proteção dos animais utilizados para
fins científicos, outros se limitaram a aplicar os requisitos mínimos” estabelecidos
pela Directiva anterior, o que pode prejudicar “o comércio de produtos e substâncias
cuja elaboração envolva experiências com animais” (PARLAMENTO EUROPEU,
2010, pág. 1).
No Brasil, a primeira manifestação sobre o bem-estar dos animais foi
estabelecida em 1924. O Quadro 2 mostra o compilado legislativo referente ao tema
até os dias atuais.

Quadro 2 – Compilado legislativo referente à proteção animal e ao seu uso para fins
científicos
1924 Decreto Federal n.º 16.590 Regulamenta o funcionamento das casas de
diversões públicas; proíbe uma série de maus
tratos que violam a dignidade animal

1934 Decreto n.º 24.645 Estabelece medidas de proteção aos animais

1941 Decreto-Lei n.º 3.688 Proíbe experiência dolorosa ou cruel em local


público

1967 Lei n.º 5.197 Dispõe sobre a proteção à fauna (silvestre)

1979 Lei n.º 6.638 Normatiza a prática didático-científica da


vivissecção, proibindo-a em estabelecimentos
de ensino de 1º e 2º graus e para menores de
idade

1981 Lei n.º 6.938 Política Nacional do Meio Ambiente.


Estabelece diretrizes e fixou
responsabilidades relativas ao meio ambiente,
tendo grande repercussão no direito dos
animais

1988 Constituição Federal O inciso VII do § 1o do art. 225 garante


“proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma
da lei, as práticas que coloquem em risco sua
função ecológica, provoquem a extinção de
espécies ou submetam os animais a
crueldade”

1998 Lei n.º 9.605 Dispõe sobre as sanções penais para quem
praticar ato de abuso, maus tratos, ferir ou
mutilar animais silvestres, domésticos ou
domesticados, nativos ou exóticos e realizar
experiência dolorosa ou cruel em animal vivo,
35

ainda que para fins didáticos ou científicos,


quando existirem recursos alternativos

2008 Lei n.º 11.794 Regulamenta o inciso VII do § 1º do art. 225


da Constituição Federal, estabelecendo
procedimentos para o uso científico de
animais, revogando a Lei nº 6.638, de 8 de
maio de 1979; cria o CONCEA e estabelece a
criação das CEUAs

2009 Decreto n.º 6.899 Regulamenta a Lei n.º 11.794 e cria o CIUCA

2012 Resoluções Normativas Organizam e facilitam o entendimento da


- legislação a respeito da utilização humanitária
atual de animais com finalidade de ensino e
pesquisa científica, bem como estabelecem
procedimentos para instalação e
funcionamento de centros de criação, de
biotérios e de laboratórios de experimentação
animal

A Lei n.º 11.794, de 2008, conhecida também como Lei Arouca, levou 13 anos
para ser aprovada, tornando-se o marco histórico para o uso de animais no ensino e
na pesquisa. A lei criou o Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal
(CONCEA), órgão de caráter normativo, consultivo, deliberativo e recursal,
responsável pela política nacional para essas atividades que usam animais,
revisando e publicando periodicamente decretos, portarias, resoluções normativas e
orientações técnicas, abrindo, desde sua criação, consulta pública para a sociedade
poder opinar sobre como serão as futuras normatizações para o uso de animais em
pesquisa e ensino; estabeleceu a criação das Comissões de Ética no Uso de
Animais (CEUAs) em instituições que criam ou utilizam animais para fins de ensino e
pesquisa como requisito essencial para seu credenciamento no CONCEA
No ano seguinte, em 2009, o Decreto n.º 6.899 regulamentou as atividades de
ensino e pesquisa com animais vivos das espécies classificadas como filo Chordata,
subfilo Vertebrata, transformando o bem-estar dos animais não só em uma questão
ética e humanitária, mas também em uma questão legal (CONCEA, 2015); e criou o
Cadastro das Instituições de Uso Científico de Animais (CIUCA). Após a análise da
solicitação de credenciamento realizada pelo sistema CIUCA, é gerado um número
de Cadastro das Instituições de Uso Científico de Animais (CIAEP), válido por cinco
anos, período em que a instituição é autorizada a realizar essas atividades.
36

Em uma consulta realizada pela autora em 23 de outubro de 2022 na página


do CIUCA, havia, até aquele momento, 736 instituições credenciadas no país. É no
CIUCA em que são feitos os registros das instituições e dos protocolos
experimentais ou pedagógicos realizados ou em andamento, assim como dos
pesquisadores, a partir de informações remetidas pelas CEUAs. O CIUCA passa a
ser o conhecimento e controle do CONCEA sobre as atividades de ensino e
pesquisa realizadas com modelos animais no país.
Um ponto que merece atenção acerca da Lei Arouca é que o texto não faz
menção explícita ao Princípio dos 3Rs, como outros documentos internacionais e até
mesmo nacionais anteriores à lei. Em 1986, o Conselho da Europa, em um dos seus
tratados (n.º 123), diz:
Os Estados-membros do Conselho da Europa, signatários deste, [...]
Reconhecendo que o homem tem a obrigação moral de respeitar todos os
animais e ter a devida consideração por sua capacidade de sofrimento e
memória; [...] Resolveu-se limitar a utilização de animais para fins
experimentais e outros fins científicos, com o objetivo de substituir essa
utilização sempre que possível, procurando e encorajando o uso de
medidas alternativas; Desejosos de adotar disposições comuns a fim de
proteger os animais usados em procedimentos que possam causar dor,
sofrimento, angústia ou danos duradouros e para garantir que, quando
inevitáveis, sejam reduzidos ao mínimo [...] (COUNCIL OF EUROPE,
1986, p. 1, tradução nossa, grifos nossos).

No Brasil, a Lei n.º 9605, de 1998, já fazia menção ao princípio da


Substituição, em que penaliza quem realiza “experiência dolorosa ou cruel em
animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos
alternativos” (§1º do artigo 32). Apesar de o § 4º do Art. 14 da Lei Arouca citar que “o
número de animais a serem utilizados para a execução de um projeto [...] será o
mínimo indispensável para produzir o resultado conclusivo […]” (princípio da
redução), não faz referências claras sobre o Refinamento e Substituição. No
entanto, deixa a cargo do CONCEA, e somente do CONCEA, monitorar e avaliar a
introdução de técnicas alternativas.
A publicação de resoluções, decretos e orientações pelo CONCEA desde a
promulgação da lei federal tem incluído em seus textos as diretrizes do Princípio dos
3Rs. Esse é um processo em constante construção, visto que é comum surgirem
casos específicos não previstos na legislação.
Em 2010, iniciou-se a publicação do Guia Brasileiro para Produção,
Manutenção ou Utilização de Animais em Atividades de Ensino ou Pesquisa
Científica, um manual de referência de procedimentos e estrutura física de
37

instalações animais, atendendo a diferentes espécies e suas particularidades, dentro


ou fora dos biotérios. Os capítulos são escritos por especialistas, levados a consulta
pública por 60 dias, discutidos e revisados pelos membros do CONCEA, analisados
juridicamente e então publicados pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.
À medida que os capítulos e resoluções são publicados, um prazo é dado às
instituições para que se adequem e possam seguir o que é determinado.
Em 2012, foi criada a Rede Nacional de Métodos Alternativos ao Uso de
Animais - RENAMA, através da Portaria n.º 491 do Ministério da Ciência, Tecnologia
e Inovação (MCTI, 2012), cujo objetivo, dentre outros, é estimular a implantação de
ensaios alternativos ao uso de animais e promover o desenvolvimento, a validação e
a certificação de novos métodos. O RENAMA é uma estratégia nacional de
articulação dos Laboratórios de Pesquisa, com foco na eficiência econômica, na
otimização da infraestrutura e na capacidade de inovação nacional.
No mesmo ano, com a publicação da Resolução Normativa n.º 25 (CONCEA,
2015) que traz a "Introdução Geral" do Guia Brasileiro de Produção, Manutenção ou
Utilização de Animais para Atividades de Ensino ou Pesquisa Científica, fica
evidente que o pesquisador deve seguir os Princípios Éticos da utilização de animais
em atividades de ensino ou pesquisa científica e o Princípio dos 3Rs. Além disso,
percebe-se claramente o princípio das cinco liberdades nas orientações quanto à
elaboração do projeto de pesquisa ou atividade didática.
A Diretriz Brasileira para o Cuidado e a Utilização de Animais em Atividades
de Ensino ou De Pesquisa Científica – DBCA (CONCEA, 2016) é outro exemplo em
que a legislação brasileira ressalta a responsabilidade de todos que produzem,
mantêm ou utilizam animais para ensino e pesquisa e estabelece a responsabilidade
das CEUAs em determinar se a utilização de animais é devidamente justificada, a
relevância da proposta (relação custo x benefício) e garantia da adesão aos
princípios de substituição, redução e refinamento.
1.2 Esta Diretriz ressalta as responsabilidades de todos que produzem,
mantêm ou utilizam animais para: (a) garantir que a utilização de animais
seja justificada, levando em consideração os benefícios científicos ou
educacionais e os potenciais efeitos sobre o bem-estar dos animais; (b)
garantir que o bem-estar dos animais seja sempre considerado; (c)
promover o desenvolvimento e o uso de métodos alternativos que
substituam o uso ou reduzam o número de animais em atividades de ensino
ou de pesquisa científica; (d) minimizar o número de animais utilizados em
projetos ou protocolos sem comprometer a qualidade dos resultados a
serem obtidos; (e) refinar métodos e procedimentos a fim de evitar a dor ou
o distresse de animais utilizados em atividades de ensino ou de pesquisa
científica; (f) assegurar que as condições estruturais, procedimentos
38

operacionais e os padrões ambientais permitam que os resultados das


pesquisas sejam válidos. (CONCEA, 2016, p. 3, grifos nossos).

Por fim, em maio de 2021, a Resolução Normativa n.º 51 atualizou as normas


sobre a instalação, a competência, a composição e o funcionamento das CEUAs e o
Art. 7º cita que uma das competências da CEUA é “incentivar a adoção dos
princípios de refinamento, redução e substituição no uso de animais em ensino e
pesquisa científica” (CONCEA, 2021a).
Até outubro de 2022, foram publicadas 29 resoluções normativas (vigentes,
excluindo-se 27 revogadas) e 2 orientações técnicas (vigentes, excluindo-se as 9
revogadas). Há ainda e-books, disponíveis gratuitamente, que contemplam o
Princípio dos 3Rs e orientam usuários de animais e membros da CEUA.
Mesmo com os documentos que visem garantir os direitos e bem-estar dos
animais, prevenindo-os do sofrimento, eles podem estar sujeitos à dor e sofrimento
potencial se for considerado necessário, como nas pesquisas científicas. Sita,
Bittencourt e Visintin (2017) afirmam, no entanto, que legislação brasileira é
considerada sólida para garantir equilíbrio entre o bem-estar animal, a formação
acadêmica e o desenvolvimento científico e tecnológico, transcorrendo de maneira
ética no país, compondo um guia minucioso que orienta e controla pesquisadores,
professores e alunos em suas atribuições na docência e pesquisa, prevendo,
inclusive, penalidades para o uso inadequado de animais no ensino e na pesquisa,
como multas em dinheiro e até a suspensão de atividades.
No entanto, mesmo regulamentando o uso de animais no ensino e na
pesquisa e elevando o país ao patamar das nações que buscam proteger os animais
utilizados na pesquisa, a Lei Arouca não correspondeu aos anseios das sociedades
protetoras de animais, que esperavam a abolição do seu uso nas práticas científicas.
Alguns autores acreditam que a lei é um retrocesso, pois, quando comparada à Lei
n.º 6.638, de 1979, agora dá oportunidade e autoriza práticas vivisseccionistas,
ampliando ainda a autorização para estabelecimentos de ensino profissional técnico
de nível médio na área biomédica, além dos de ensino superior (GUIMARÃES;
FREIRE; MENEZES, 2016).
Na América Latina, Brasil, México (NORMA Oficial Mexicana
NOM-062-ZOO-1999) e Uruguai (lei n.º 18.611, de 2009) possuem legislação própria
para esse tema. Na Argentina, não há atualmente legislação desse tipo, apenas a lei
nacional 14.346, de 1954, sobre maus-tratos e atos de crueldade contra animais,
39

cujo artigo 3 contempla algumas situações específicas de experimentação com


animais. Em 2016, foi submetido à câmara dos deputados, um projeto de lei de
proteção para animais experimentais utilizados para fins científicos e educacionais,
aprovado em 2017 e seguindo ao senado em 2018, mas sem definição até o
momento. No Chile, a lei n.º 20.380, de 2009, que trata da proteção animal de forma
geral, faz em seu capítulo IV referência a experimentação com animais vivos, além
de criar o comitê de bioética animal. Na Bolívia, a lei n.º 700, de 2015, trata da
defesa dos animais contra atos de crueldade e maus tratos, com uma rápida
menção ao uso de animais para fins científicos em seu artigo 4. Na Colômbia,
existem regulamentos que se referem a alguns aspectos da experimentação animal:
a Lei n.º 84, de 1989 (Estatuto Nacional de Proteção Animal), Resolução n.º 8.430,
de 1993 (Norma técnico-científica para pesquisa em saúde) e Lei n.º 576, de 2000
(Código de ética para o exercício profissional da medicina veterinária e zootécnica).
Perante o que foi apresentado, percebe-se que o Brasil encontra-se à frente
de alguns dos seus vizinhos, pois tem apresentado, desde 2008, uma legislação que
combina elementos técnico-científicos com a preocupação ética com o uso de
animais no ensino e na pesquisa, discutindo e regulamentando aspectos relevantes,
como as condições a que os animais são submetidos, tanto em termos de estrutura
física como de procedimentos a serem utilizados (manipulação, anestesia,
eutanásia, por exemplo), a formação e função de um conselho nacional e de
comissões de ética que possam orientar e acompanhar esse uso, e a
responsabilidade bioética dos pesquisadores, incluindo o treinamento e o
conhecimento científico, contemplando com o tempo temas sensíveis observados
pelas CEUAs nas análises dos protocolos.

2.4 As Comissões de Ética no Uso de Animais - CEUAs

Casos de abusos e maus-tratos estabeleceram a necessidade de supervisão


da ética em pesquisa para proteger os direitos e o bem-estar dos animais no estudo.
Assim, surgem as comissões de ética no uso de animais no ensino e na pesquisa.
Pode-se dizer que sua principal função é analisar todas as propostas envolvendo
animais na instituição, mesmo aquelas que objetivem apenas observações, sem
qualquer manipulação ou intervenção no manejo dos animais, julgá-las com base
em sua aceitabilidade ética e minimizar os danos impostos aos animais.
40

Além de garantir o uso ético e humanitário dos animais, essas comissões


possuem uma posição privilegiada para contribuir com a qualidade dos trabalhos
científicos realizados na instituição. É um fato bem conhecido que animais saudáveis
alojados em condições ideais geram dados mais confiáveis, enquanto o
comprometimento do bem-estar afeta negativamente a fisiologia, a imunologia e o
comportamento dos animais, levando a resultados distorcidos e deturpados.
podendo ainda comprometer a reprodutibilidade dos experimentos (MOHAN;
HUNEKE, 2019).
No tocante a esse último ponto, arbitrariedades e divergências no método
científico têm resultado em uma verdadeira crise de reprodutibilidade na ciência,
mostrando que as pesquisas vêm, frequentemente, produzindo resultados
equivocados às custas de vultosos recursos financeiros, humanos e animais. É
estimado que somente os EUA tenham um dispêndio anual superior a US$ 28
bilhões em pesquisa pré-clínica não reproduzível (FREEDMAN; COCKBURN;
SIMCOE, 2015).
Portanto, como órgão fiscalizador do uso de animais, essas comissões de
ética são responsáveis por avaliar a adequação de procedimentos, diminuindo o
mal-uso de recursos e de animais, conferindo maior transparência à ciência perante
a sociedade e refletindo uma exigência pela ética e bem-estar animal. Para Mohan e
Huneke (2019), o papel central dessas comissões de ética ajuda a salvaguardar a
pesquisa animal responsável, garantindo práticas éticas, cientificamente sólidas e
padronizadas nesse tipo de pesquisa. Por pesquisa responsável, os autores
entendem como sendo constituída por práticas do dia-a-dia de maneira confiável,
sendo um conceito amplo que abrange tudo, desde o conflito de interesses até a
reprodutibilidade e o gerenciamento de dados.
O Canadá foi um dos primeiros países a instituir um comitê de ética animal,
conhecido como Animal Care Committee (ACC), em 1968 (SCHUPPLI, 2004b). Na
Suécia, as primeiras comissões de ética referentes ao uso de animais (Animal Ethics
Committee - AEC) surgiram em 1979, mas apenas em 1989 suas decisões
passaram a ser juridicamente vinculativas (JORGENSEN et al., 2021). Os Estados
Unidos oficializaram os Institutional Animals Care and Use Committees - IACUC -
através da política do Serviço de Saúde Pública (Public Health Service - PHS), em
1985 (OLAW, 2021). No Brasil, as primeiras comissões de ética voltadas para a
experimentação animal (Comissão de Ética na Experimentação Animal - CEEA)
41

surgiram na década de 1990 (PAIXÃO, 2001). Mesmo sem uma legislação


específica, várias instituições de ensino já procuravam de alguma forma constituir
suas comissões de ética, mesmo que não institucionalizadas, para analisarem
propostas com experimentação animal, fundamentadas nos Princípios Éticos na
Experimentação Animal editados pelo Colégio Brasileiro de Experimentação Animal
da Sociedade Brasileira de Ciência em Animais de Laboratório (COBEA/SBCAL),
defendendo um papel educativo, mas que ainda dependiam do apoio das
instituições (FILIPECKI; MACHADO; TEIXEIRA, 2010). A Universidade Estadual de
Campinas foi uma dessas instituições e em 1998 criou uma CEEA, a fim de atender
a demanda das agências de fomento e periódicos internacionais indexados (ARNS,
2015). A Universidade Federal de Juiz de Fora seguiu o exemplo da UNICAMP e
criou sua CEEA, institucionalizando-a em 2002 (UFJF, 2021) e a Universidade
Federal do Paraná, em 2003 (UFPR, 2021). Após a aprovação da Lei Arouca, esses
colegiados passaram a se chamar Comissão de Ética no Uso de Animais - CEUA,
termo que a partir de agora será utilizado neste texto para se referir a essas
comissões/comitês.
A partir da Lei n.º 11.794/08 e do Decreto n.º 6.899/09, as instituições com
atividades de ensino ou pesquisa com animais foram obrigadas a constituir suas
próprias Comissões de Ética no Uso de Animais, para examinar e determinar a
compatibilidade dos protocolos experimentais com a legislação e com os princípios
éticos. Além disso, essas instituições devem reconhecer o papel legal e autonomia
das CEUAs, tendo por obrigação apoiar suas tomadas de decisão e garantir que
essas comissões tenham suporte financeiro e administrativo contínuos necessários
e suficientes para cumprir suas funções, dentre elas as que se destinam à
supervisão das atividades de criação, ensino ou pesquisa com animais. (RN
01/CONCEA). Atualmente, existem cerca de 725 CEUAs atuando no país.
Nos Estados Unidos, as comissões de ética no uso de animais são
constituídas por pelo menos 5 membros, a fim de representar os interesses da
comunidade no que se refere ao tratamento dos animais, devendo incluir, no
mínimo, um veterinário, um cientista com experiência com pesquisa com animais,
um membro sem vínculo com a área científica (por exemplo, advogado, especialista
em ética) e um membro que não tenha vínculo com a instituição ou relação de
parentesco com alguém filiado à essa instituição (NATIONAL INSTITUTES OF
HEALTH, 2015). No Canadá, são compostas por cientistas ou docentes com
42

experiência em pesquisas com animais, veterinários, membros sem envolvimento


com pesquisa animal, médicos veterinários, além de pessoas sem vínculo com a
instituição e que representam os interesses da sociedade(CANADIAN COUNCIL ON
ANIMAL CARE, 2021). Na Austrália, as instituições devem garantir que os membros
da AEC incluam pelo menos uma pessoa de cada uma das quatro categorias de
membros: um médico veterinário, um pesquisador ou docente com comprovada
experiência com uso de animais, um membro com comprovada experiência em
bem-estar animal e sem vínculo com a instituição e, por fim, um membro sem
vínculo com a instituição ou com uso de animais no ensino ou pesquisa. Na Suécia,
para garantir a segurança jurídica, o presidente e o vice-presidente de cada
comissão são ex-advogados ou advogados em exercício (JORGENSEN et al.,
2021). Tanto na Suécia como na Austrália, metade e um terço desses comitês de
ética, respectivamente, devem ser compostos por leigos não afiliados e especialistas
em bem-estar animal.
No Brasil, essas comissões devem ser integradas por médicos veterinários e
biólogos; docentes e pesquisadores com “reconhecida competência técnica e notório
saber, e destacada atividade profissional em áreas relacionadas ao escopo da Lei
n.º 11.794/08”; e representantes de sociedades protetoras de animais legalmente
estabelecidas no País. A Resolução Normativa n.º 51 (CONCEA, 2021a) permite
que representantes de outras categorias profissionais possam integrar a comissão
além daquelas que são obrigatórias.
Paixão (2008) faz uma observação quanto à composição das CEUAS: por
serem compostas geralmente por uma maioria de cientistas, corre-se o risco de
haver um consenso prévio a favor do uso de animais como modelos de pesquisa,
destacando que para que a revisão ética seja efetiva, é importante que sejam
observados os princípios da independência, competência, pluralismo e
transparência. O ideal é que os membros dessas comissões tenham a experiência
necessária para revisar as propostas, incluindo especialização técnica para avaliar
procedimentos e compreensão do princípio dos 3Rs; e que haja maior diversidade
de pontos de vista (SCHUPPLI, 2004; ORMANDY, 2019).
Importante destacar que o papel central das comissões de ética no uso de
animais é o aspecto comum predominante entre todos os diferentes conjuntos de
regras e regulamentos que regem a pesquisa animal em vários países. Essas
comissões têm como objetivo garantir altos padrões éticos, humanitário e
43

responsabilidade em todo o uso de animais de pesquisa. Os detalhes da


composição das comissões de ética diferem, mas o escopo de sua autoridade e
responsabilidade é consistente.
Apesar de não ser uma tarefa fácil conciliar os aspectos éticos com os
interesses científicos, econômicos e legais, de enfrentar resistências na realização
de suas atividades tanto por parte dos defensores dos direitos dos animais quanto
dos pesquisadores, visto que estes veem a CEUA como um empecilho à ciência e
um peso burocrático (FILIPECKI; MACHADO; TEIXEIRA, 2010; GUILLEMIN et al.,
2012; FISHER et al., 2014; PETRIE; WALLACE, 2015), além da carga de trabalho,
das responsabilidades e do fardo administrativo, para Petrie e Wallace (2015), uma
comissão de ética quando funciona bem permite que os membros da CEUA mudem
de opinião, reconhecendo a importância dessa comissão. Essa afirmação se
assemelha à de Page e Nyeboer (2017), que afirmam que a maioria dos membros
de uma comissão de ética demonstra interesse e compromisso com suas funções,
além de cumprir um papel que faz parte de suas responsabilidades acadêmicas.
Garantindo o uso ético e humanitário dos animais, as comissões de ética, por
sua formação e função, contribuem com a qualidade do trabalho científico realizado
em uma instituição, assegurando uma pesquisa responsável e garantindo práticas
éticas, cientificamente sólidas e padronizadas na pesquisa animal (MOHAN;
HUNEKE, 2019; ORMANDY et al., 2019), além de facilitar a ciência, orientando e
educando pesquisadores e demais usuários de animais, contribuindo para uma
melhor comunicação e transparência frente à sociedade.
44

3 CONDIÇÕES PARA O BOM FUNCIONAMENTO DE UMA COMISSÃO DE ÉTICA


NO USO DE ANIMAIS

Para que uma CEUA desempenhe seu papel com eficiência, é importante que
haja uma cultura de conformidade dentro da instituição e compromisso de todos os
envolvidos: membros, pesquisadores e demais usuários de animais. As
competências de uma CEUA estão bem determinadas na legislação nacional e
internacional, podendo variar em alguns pontos, mas compartilhando do mesmo
objetivo: garantir o bem-estar dos animais e os padrões éticos no cuidado e uso de
animais no ensino e na pesquisa.
Segundo a Diretriz Brasileira para o Cuidado e a Utilização de Animais em
Atividades de Ensino ou de Pesquisa Científica (CONCEA, 2016) e a Resolução
Normativa n.º 51 (CONCEA, 2021a), as instituições, devem prover estrutura física
para reuniões, assim como recursos humanos adequados; garantir um sistema de
registro eficiente para monitorar o número de animais produzidos e utilizados na
instituição; fornecer recursos necessários para a orientação, a educação e a
capacitação continuada de seus membros, bem como a capacitação da assistência
administrativa, em ética e em cuidados e uso de animais em experimentação;
garantir que usuários ou qualquer pessoa envolvida no cuidado com os animais
sejam capacitados e estejam cientes de suas responsabilidades perante a Lei n.º
11.794/08; e observar as recomendações das CEUAs, assegurando o suporte
necessário para o cumprimento de suas obrigações, em especial as que se
destinam à supervisão das atividades de produção, manutenção ou utilização de
animais em ensino ou pesquisa científica.
Aos membros, cabe a responsabilidade primária de avaliar as questões éticas
das propostas submetidas à CEUA e equilibrar o impacto ao bem-estar dos animais
com um bem maior antecipado, pautando suas decisões nos Princípios Éticos da
utilização de animais e nos conceitos dos 3Rs. Possuem uma posição privilegiada
para contribuir com a qualidade dos trabalhos científicos realizados na instituição.
Para Petrie & Wallace (2015), os membros das CEUAs devem estar cientes de suas
responsabilidades, garantindo que as normas e regulamentos relativos ao uso de
modelos animais sejam compreendidos e seguidos.
Silverman et al (2015), para determinar a frequência dos tópicos discutidos
pelas CEUAs de 10 instituições acadêmicas, fizeram uma revisão de estudos que
45

apontaram que as leis, regulamentos e políticas federais são apenas um ponto de


partida para as decisões que os membros de uma CEUA devem tomar. Outros
fatores pesam na tomada de decisão, como por exemplo as opiniões pessoais sobre
a importância percebida de um estudo, crenças sobre o uso de animais, a
quantidade de dano que os animais sofrerão, as espécies envolvidas, a posição
filogenética das espécies propostas para uso, a aplicabilidade percebida dos
resultados para humanos, a presença ou ausência de revisão prévia por pares do
estudo, se o revisor conhece o investigador, a probabilidade de sucesso
experimental e o gênero do revisor.
Como a legislação exige que façam parte da comissão profissionais, docentes
ou pesquisadores com conhecimento e formação em uma das áreas relacionadas ao
escopo da Lei n.º 11.794/08, é possível que os membros tenham relações de
trabalho ou de amizade com pesquisadores cujos protocolos estão sendo revisados,
sendo muito importante que se mantenham imparciais, abstendo de votação de
projetos e discussões em que possam ter algum tipo de relação. Ainda, devem evitar
suposições quando as informações forem confusas ou incompletas.
Hansen, Goodman e Chandna (2012) analisaram a composição de
comissões de éticas no uso de animais das 21 principais instituições de pesquisa
financiadas pelo National Institutes of Health (NIH). Observaram que essas
comissões são compostas majoritariamente por pesquisadores que usam animais,
seguido daqueles que possuem vínculo com a instituição ou com uso de animais no
ensino ou pesquisa. Concluem que esse desequilíbrio pode minar a confiança da
sociedade na objetividade do processo de revisão da pesquisa animal e contribuir
para deficiências nesse processo, podendo resultar em uso e sofrimento
desnecessários de animais.
Uma forma mais justa de avaliação durante a discussão dos protocolos é a
presença dos representantes das Sociedades Protetoras de Animais. Por não ser
obrigado a ter familiaridade com a linguagem científica utilizada na universidade e
não ser exigido que tenham formação nas áreas específicas dispostas na lei,
contribuem para uma cultura de conformidade, evidenciada pelos "porquês",
solicitando explicações e contribuindo para que haja melhorias na política e nas
boas práticas dos experimentos e para que as tomadas de decisões sejam
baseadas nas informações apresentadas no protocolo (HANSEN; GOODMAN;
CHANDNA, 2012; PETRIE; WALLACE, 2015). Dá-se a oportunidade para que
46

pessoas da causa animal possam se manifestar, a cada novo projeto apreciado pela
Comissão, como membros de uma sociedade mais ampla.
A CEUA conta ainda com as figuras do Coordenador e Vice-coordenador,
cujas funções estão estabelecidas na Diretriz Brasileira para o Cuidado e a
Utilização de Animais em Atividades de Ensino ou de Pesquisa Científica (DBCA),
devendo, principalmente, assegurar que a CEUA opere de acordo com a Lei n.º
11.794/08, e demais disposições legais pertinentes ao seu escopo, com o Decreto
n.º 6.899/09, e com as resoluções do CONCEA. É papel do coordenador moderar as
discussões, identificar opiniões antagônicas, dar vez para que todos possam opinar,
estimular o questionamento e facilitar a conclusão, submetendo a decisão em
plenário. (BRASIL, 2007)
Por fim, a lei determina que o médico veterinário faça parte da comissão, com
reconhecida competência técnica e notório saber, e destacada atividade profissional
em áreas relacionadas ao escopo da Lei n.º 11.794/08. Cabe ao médico veterinário a
responsabilidade pelas ações relacionadas aos cuidados médicos veterinários e ao
bem-estar dos animais utilizados em ensino ou pesquisa científica nas instalações
animais nas quais for designado a atuar pela Instituição (CONCEA, 2021a).
O médico veterinário deve ser considerado um aliado, visto que é o
responsável pela saúde e bem-estar dos animais. Assim, pesquisadores e membros
da CEUA devem reconhecer e respeitar a autoridade e julgamento desse
profissional, e vice-versa (PETRIE & WALLACE, 2015)
De acordo com Mohan e Foley (2019), muitas CEUAs optam por exigir uma
pré-revisão do protocolo pelo médico veterinário, garantindo que as descrições dos
procedimentos, critérios de pontos finais humanitários, adequação dos
medicamentos e plano de intervenção na dor sejam adequadamente tratados. Essa
pré-análise ajuda a facilitar o processo de revisão ética da CEUA, podendo resultar
ainda em um tempo de aprovação mais rápido.
A seguir, serão feitas considerações acerca de algumas funções da CEUA,
focando na função da revisão ética dos protocolos de ensino e experimentais, uma
das mais importantes, pois é por meio dessa revisão que a CEUA indica que os
procedimentos propostos são de grande valor científico e ético para serem
realizados na instituição.
47

3.1 A revisão ética

Uma variedade de diferentes processos de revisão ética, baseados


principalmente em diferentes sistemas jurídicos e origens culturais, foram
estabelecidos em todo o mundo. O objetivo dessas revisões éticas é garantir que o
Princípio dos 3R's seja respeitado (KOSTOMITSOPOULOS; DURASEVIC, 2010).
Vários países possuem requisitos legais na legislação tornando a revisão ética, feita
pelas comissões de ética no uso de animais, obrigatória em todos os usos de
animais tanto no ensino como na pesquisa científica.
No Brasil, a Lei n.º 11.794/08 determina que é competência da CEUA
examinar previamente os protocolos experimentais ou pedagógicos envolvendo
animais para determinar sua compatibilidade com a legislação aplicável. O texto fala
em legislação, mas vale lembrar que toda ela é baseada nos princípios éticos da
experimentação animal e no princípio dos 3Rs.
A revisão ética é essencial para regular qualquer pesquisa feita com humanos
ou animais. Para Petrie & Wallace (2015), uma comissão de ética no uso de animais
deve reconhecer que as questões científicas e éticas embutidas em uma proposta
de pesquisa merecem consideração e devem ser abordadas como parte da revisão
do protocolo, mesmo sendo freqüentemente reivindicadas como fora da alçada de
uma comissão de ética. Os membros da comissão são tão responsáveis quanto os
docentes/pesquisadores em garantir a integridade física e bem-estar dos animais
utilizados em ensino ou pesquisa, pois fatores que afetam a qualidade do bem-estar
animal também podem afetar a qualidade do estudo.
Para Kostomitsopoulos e Durasevic (2010), as principais questões de
preocupação na revisão ética de um projeto de pesquisa são: justificativa da
necessidade do projeto e da necessidade de utilização de animais no interesse da
saúde humana ou animal, a importância de realizar um estudo piloto e uma revisão
sistemática de pesquisas com animais já publicadas sobre o tema, e a
disponibilidade de instalações adequadas, equipamento e pessoal.
Ainda para Petrie & Wallace (2015), melhor que o termo revisão ética é o
termo “análise custo x benefício”, pois leva em consideração a relevância do uso dos
animais no ensino ou na pesquisa para a saúde humana, do animal e do meio
ambiente, além do avanço do conhecimento científico. O termo “custo” define o dano
esperado, dor e angústia que provavelmente serão experimentados pelos animais
48

durante a condução do projeto de pesquisa. O termo “benefício” define os benefícios


potenciais que podem ser gerados. Dessa forma, o uso de animais em um projeto de
pesquisa só é aceitável quando seus benefícios esperados superem os danos
causados aos animais. Aos membros de uma CEUA cabe sempre indagar: os
potenciais benefícios para seres humanos, animais, meio ambiente e avanço do
conhecimento são suficientes para que animais sejam expostos à dor, sofrimento ou
angústia?
Em relação à análise do mérito científico, embora não haja requisitos
explícitos na legislação vigente que o inclua na revisão feita pela CEUA, o CONCEA
decidiu que quando houver comprometimento do bem-estar dos animais “as CEUAs
devem julgar o mérito dos projetos na medida em que ele entra no cálculo de custo x
benefício que pode ou não justificar a autorização de procedimentos que tragam
sofrimentos aos sujeitos experimentais” (BRASIL, 2010, p.3). A CEUA deve estar
atenta, por exemplo, se o experimento consiste na repetição de estudos com
resultados já consolidados, sem avanço para o conhecimento, mesmo com prejuízo
mínimo ao animal. Essa posição corrobora com o Item II, do Apêndice B do “Guia
para o cuidado e uso de animais de laboratório”, do governo dos Estados Unidos,
que afirma que “os procedimentos envolvendo animais devem ser projetados e
executados com a devida consideração de sua relevância para a saúde humana ou
animal, o avanço de conhecimento, ou o bem da sociedade”.
De acordo com a legislação brasileira, um protocolo de ensino ou pesquisa
com uso de animais só pode ser realizado após sua avaliação quanto à sua
justificativa, ao seu valor científico ou educacional previstos em relação aos
potenciais efeitos negativos sobre o bem-estar dos animais (relação custo x
benefício) e aos aspectos relacionados ao bem-estar animal, observando, sempre, o
Princípio dos 3Rs (CONCEA, 2016).
O Princípio dos 3Rs e a relação custo x benefício são dois critérios que
embasam as legislações de vários países do mundo. A Directiva 2010/63 da União
Europeia, de 2010, em seu artigo 40º, por exemplo, destaca que um projeto só pode
ser autorizado quando são avaliados os objetivos, benefícios científicos previstos ou
valor educativo; a relação custo x benefício; o princípio dos 3Rs; e o grau de
severidade.
Como dito anteriormente, a sociedade concorda que os protocolos que
utilizam animais para fins científicos devem ser regulamentados e submetidos à
49

avaliação ética para garantir boas práticas, competindo às comissões de ética no


uso de animais esse papel.
A seguir, serão descritos e comentados, de forma geral, os requisitos exigidos
e que devem ser analisados num protocolo de ensino ou pesquisa, baseados nos
formulários unificados e nas diretrizes publicadas pelo CONCEA para garantir que a
integridade e bem-estar dos animais utilizados sejam preservados. Ressalta-se,
mais uma vez, que docentes, pesquisadores e membros das CEUAs devem
assegurar que os Princípios dos 3Rs sejam aplicados nesses protocolos.

a) Importância da informação

Para que seja possível uma revisão ética adequada, as informações


fornecidas pelos pesquisadores devem ser completas, corretas, atuais, relevantes e
com uma linguagem de fácil entendimento, demonstrando que o uso de animais é
justificado e suficiente para permitir uma análise crítica da proposta (DBCA, 2016).
Sem as informações necessárias para embasar suas discussões e decisões, a
comissão não pode cumprir um dos seus papéis: examinar os procedimentos de
ensino e pesquisa a serem realizados para determinar sua compatibilidade com a
legislação aplicável.
Informações confusas ou incompletas dificultam que o Princípio dos 3Rs seja
garantido, atrasam o processo de análise da proposta e dão espaços para
suposições. Não se deve esquecer que além da presença de membros “não
científicos”, como os representantes das OnGs, pode haver membros, docentes ou
pesquisadores, sem familiaridade com a metodologia ou modelo animal das
propostas discutidas: um docente da zootecnia, com especialização em grandes
ruminantes, pode achar difícil avaliar um projeto cujo modelo animal seja aplicado a
pequenos roedores.

b) Identificação e capacitação dos envolvidos no projeto de ensino ou pesquisa

A Resolução Normativa n.º 51 (CONCEA, 2021a), em seu Art. 7º, cita que é
competência da CEUA “avaliar a qualificação e a experiência do pessoal envolvido
nas atividades de produção, manutenção ou utilização de animais em atividades de
ensino ou pesquisa científica, de modo a garantir o uso adequado dos animais”. O
50

pesquisador responsável pela prática de ensino ou pesquisa deve assegurar o


bem-estar dos animais no protocolo, supervisionar o pessoal do laboratório (cuidado
e manejo dos animais) e garantir que o protocolo esteja em conformidade com a lei
e demais disposições legais.
São exigidas nesta seção informações de todos os indivíduos que realizam os
procedimentos descritos no protocolo (nomes, contato, função e comprovantes de
qualificações e treinamento). É imprescindível que as pessoas que trabalham com
animais de experimentação sejam totalmente treinadas em cuidados com animais e
compreendam as necessidades das espécies que estão cuidando, bem como os
procedimentos experimentais que serão utilizados no projeto de pesquisa. Isso inclui
a capacidade de observar e avaliar quando um animal pode estar com dor ou
angustiado, e o conhecimento para então tomar as medidas relevantes para aliviar
efetivamente a dor ou a angústia o mais rápido possível. A Resolução Normativa n.º
49 (CONCEA, 2021b) passou a exigir que todos os pesquisadores, responsáveis e
demais usuários de animais de experimentação devem possuir capacitação,
conforme suas atribuições nas atividades de ensino ou pesquisa científica,
independentemente do grau de invasividade do protocolo empregado. A exigência
das qualificações e treinamento dos envolvidos visa, assim, garantir o bem-estar dos
animais e a aptidão em manipulá-los adequadamente, identificar indicadores de
angústia, dor e alteração do comportamento animal da espécie utilizada, por
exemplo.

c) Objetivos

Os objetivos do estudo devem “auxiliar os membros da CEUA, inclusive a


comunidade não científica, a compreender as razões da solicitação de aprovação do
uso de animais, bem como os benefícios potenciais da proposta” (CONCEA, 2016).

d) Justificativa para o uso de animais e o Princípio dos 3Rs

O principal objetivo da justificativa ética é garantir que o projeto esteja


científica e eticamente em conformidade com o exigido por lei
(KOSTOMITSOPOULOS; DURASEVIC, 2010). O Guia Brasileiro de Produção,
Manutenção ou Utilização de Animais para Atividades de Ensino ou Pesquisa
51

Científica (CONCEA, 2015) cita, claramente, que pesquisadores e docentes são


responsáveis, ética e legalmente, por garantir que os princípios dos 3Rs sejam
utilizados em seus projetos de pesquisa ou atividades didáticas, devendo considerar
se o uso de animais proposto é justificado; o "estado da arte" (avaliar se projetos
similares já foram realizados); e se os objetivos do projeto podem ser alcançados
por meio de métodos alternativos, tais como cultura de tecidos, modelos
matemáticos,métodos in silico, etc. As Resoluções Normativa n.º 51 (CONCEA,
2021a) e n.º 52 (CONCEA, 2021c) reforçam essa orientação.
Uma boa justificativa ética para o uso de animais reflete o interesse e a
responsabilidade dos cientistas em reduzir o número de animais, refinar os
procedimentos e possivelmente substituir os animais em seus projetos de pesquisa
(KOSTOMITSOPOULOS; DURASEVIC, 2010) ), demonstra a importância do estudo,
com bases científicas que fundamentem o uso de animais, além de ser facilmente
compreendidas por todos os membros da comissão, inclusive a comunidade não
científica, independentemente de sua formação.
Atenção especial deve ser dada às propostas cujos protocolos, por exemplo,
não utilizem anestésicos ou analgésicos, sob pena de comprometer os objetivos
experimentais; mantém animais em condições de abrigos mínimos; ou utilizem
animais geneticamente modificados.

e) Relevância e Originalidade

A relevância de uma proposta deve ser muito bem descrita pelo pesquisador,
apresentando os possíveis avanços que sua proposta trará para a ciência, meio
ambiente e saúde humana e/ou animal e deixando claro que os benefícios
potenciais da atividade envolvendo animais superam os custos e o sofrimento
causados a eles (relação custo x benefício), como determina a Resolução Normativa
nº. 52 (CONCEA, 2021c). Para uma análise do custo x benefício adequada, é
importante que os membros da comissão tenham uma boa compreensão sobre os
impactos dos benefícios potenciais e dos danos causados aos animais,
considerando as medidas de refinamento, substituição e redução do número de
sujeitos utilizados. Além disso, devem estar preparados para questionar e/ou rejeitar
projetos mal elaborados e metodologias desatualizadas, certificar que a relevância
da proposta descrita pelo pesquisador está correta e compreender todos os
52

potenciais danos aos animais (National Competent Authorities for the implementation
of Directive 2010/63/EU on the protection of animals used for scientific purposes
Working document on Project Evaluation and Retrospective Assessment, 2013).

f) Justificativa da espécie a ser usada

A Resolução Normativa n.º 52 determina que o docente ou pesquisador deve


justificar a escolha da espécie e garantir que tem validade para abordar as questões
de ensino ou pesquisa que estão sendo estudadas, não devendo ser influenciada
por conveniência ou orçamento. Deve ainda, com base na literatura, explicar porque
não pode ser utilizado uma espécie inferior na escala filogenética (CONCEA, 2021c).

g) Justificativa do número amostral e delineamento experimental

O número de animais necessários em uma proposta de ensino ou pesquisa


deve ser embasado por um planejamento estatístico. Dados prévios do responsável
ou obtidos da literatura também podem ser utilizados para o cálculo formal do
tamanho da amostra nos casos em que não for possível a análise de potência, como
orientado pela Resolução Normativa n.º 52 (CONCEA, 2021c). Existem atualmente
várias calculadoras de tamanho de amostra disponíveis, como por exemplo,
“Experimental Design Assistent", disponível na página do NC3Rs; “G*Power”,
ferramenta desenvolvida pela Universidade Heinrich Heine; e uma página
desenvolvida pela Faculdade de Ciências da UNESP/BAURU, chamada “Cálculo
Amostral”.
Como descrito anteriormente, um tamanho de amostra muito grande pode
usar mais animais do que o necessário e um tamanho de amostra muito pequeno
pode resultar em desperdício de animais e fracasso nos resultados. Imprevistos
também devem ser considerados dentro do cálculo do número amostral, como
mortalidade cirúrgica, etc. O CONCEA orienta, ainda, que sempre que possível o
pesquisador busque orientação de um bioestatístico.
No delineamento experimental, o responsável pelo protocolo deve indicar
como o número amostral está distribuído entre grupos e subgrupos, podendo ser
feito em forma de gráfico, fluxograma ou textual.
53

h) Estudos fora de instalações de instituições de ensino e pesquisa

Propostas de pesquisa com animais de vida livre em seus habitats naturais,


ou estudos de campo, devem ser avaliados pela CEUA já que as atividades podem
impactar os animais ou seu meio ambiente (CONCEA, 2016), mesmo que o objetivo
seja apenas observações, sem qualquer manipulação ou intervenção no manejo dos
animais (CONCEA, 2018a).
Quando realizado fora da instituição, o responsável pelo estudo deve seguir
os mesmos preceitos e padrões éticos para garantir o bem-estar animal.
Procedimentos como captura, bandagem ou tatuagem, e mesmo procedimentos
sem contato direto, como reprodução de sons e manipulação de habitat, podem
afetar os animais de alguma forma. Para avaliar o impacto potencial dos estudos, a
CEUA deve observar também as leis e demais determinações na legislação
nacional, em especial as emanadas do Ministério do Meio Ambiente, Ibama, ICMBio,
MCTIC, Concea, CTNBio e Secretarias de Meio Ambiente estaduais e municipais.

i) Descrição dos procedimentos

Antes de iniciar os experimentos, alguns cuidados são necessários para


garantir a integridade e bem estar dos animais. A aclimatização ao novo local, à
equipe do projeto e aos procedimentos são importantes para a adaptação do animal
e diminuição de estresse. A manipulação e imobilização do animal devem ser feitas
por pessoas treinadas e de forma segura. O responsável pela proposta de ensino ou
pesquisa deve informar e descrever todos os procedimentos a serem realizados nos
animais e os membros da CEUA , por sua vez, capazes de avaliar o impacto dos
experimentos no seu bem-estar. Ressalta-se, mais uma vez, que poucos detalhes
acarretam em devolução do protocolo ou em uma revisão ética inadequada.

Estresse/dor intencional e grau de invasividade

A utilização de animais na pesquisa ou ensino sempre impactará


negativamente no seu bem-estar, pois o estresse causado não fica limitado aos
experimentos, estendo-se a captura, transporte, manuseio, contenção, alojamento,
ambiente social e físico, manipulação genética, entre outras (CONCEA, 2015).
54

Mantê-los em ambientes padronizados, por exemplo, limitam suas necessidades e


adaptações, causando algum tipo de desconforto, mesmo que mínimo. Neste ponto,
o pesquisador deve informar e descrever a que tipo de estresse/dor o animal será
submetido e sua duração para atingir o objetivo do seu estudo. Aqui, a análise da
relação custo x benefício pode ser útil para avaliar procedimentos que causam
estresse/dor intensos.
Como medir sinais de dor é um desafio, docentes e pesquisadores devem
considerar que os animais sofrem de forma similar aos humanos e observar seu
comportamento e fisiologia. Para auxiliá-los, assim como os membros da CEUA, a
identificar o nível de dor apresentado pelos animais, o CONCEA elaborou uma
classificação quanto ao grau de invasividade, indo do Grau 1 ao 4. O G1 refere-se a
procedimentos que causam pouco ou nenhum desconforto ou estresse (por
exemplo: administração oral de medicamentos e eutanásia por métodos aprovados
após anestesia ou sedação); o G2, desconforto, estresse ou dor de leve intensidade
(biópsias sob anestesia); o G3, estresse, desconforto ou dor de intensidade
intermediária (cirurgias invasivass em animais anestesiados); e o G4, dor de alta
intensidade (indução de trauma a animais não sedados).
Em procedimentos que causam dor de média a alta intensidade a relação
custo x benefício deve ser levada em consideração, visto que não há como ter
ganhos científicos válidos com o sofrimento desses animais. Cabe então ao
responsável acompanhar e estar atento às evidências de dor, estresse ou distresse
durante o curso do projeto para identificar precocemente e priorizar o alívio dessas
condições. Mesmo quando ocorre dor não intencional, de qualquer tipo e
intensidade, recomenda-se tratar com anestesia/anestesia.
Em 2018, a Resolução Normativa n.º 39 (CONCEA, 2018) passou a exigir que
os envolvidos na execução de protocolos de ensino ou pesquisa com grau de
invasividade nível 3 ou 4 possuíssem capacitação legal e ética (conhecimento dos
princípios éticos) e capacitação técnica (aptidão de executar o experimento com boa
qualidade técnica, a fim de assegurar a confiabilidade dos dados). No entanto, essa
resolução foi revogada e, em 2021, a Resolução Normativa n.º 49 (CONCEA, 2021b)
passou a ser mais exigente, dispondo sobre a obrigatoriedade das capacitações
ética e prática de todos os envolvidos na manipulação de animais em atividades de
produção, manutenção ou utilização em pesquisa científica (incluindo manejo,
alojamento e procedimentos na espécie e conhecimentos práticos de bem-estar
55

animal), além de treinamento específico nas técnicas e procedimentos


experimentais.

Uso de anestésicos, analgésicos, relaxantes muscular e outros fármacos

Todo e qualquer fármaco que vier a ser necessário no protocolo deve ser
informado: nome, dose e via de administração. Para analgésicos e antibióticos, por
exemplo, informar ainda a frequência. A não utilização de analgésicos deve ser
muito bem justificado, visto que esses fármacos visam evitar ou diminuir a dor e
sofrimento impostos aos animais, uma forma de refinamento dos procedimentos. Já
os relaxantes musculares não podem ser utilizados como substitutos à substâncias
sedativas, analgésicas ou anestésicas.
A CEUA-UFRN exige que antes de submeter a proposta para revisão ética, o
médico veterinário, responsável técnico pelo biotério onde acontecerão os
experimentos, avalie se os fármacos utilizados são os recomendados para a espécie
e tipo de pesquisa a ser realizada. Caso o docente ou pesquisador precise utilizar
um fármaco não previsto na legislação, deve, juntamente com o médico veterinário,
encontrar uma opção que melhor atenda às necessidades específicas do estudo.

Restrição alimentar e hídrica

A restrição alimentar severa e líquida deve ocorrer somente se for realmente


necessária e ser justificada em um contexto científico específico da espécie. O
pesquisador deve informar no protocolo o objetivo e a duração planejada da
restrição alimentar ou hídrica e determinar os métodos usados para avaliar a saúde
e bem-estar do animal antes e durante o experimento, como por exemplo, peso
corporal e estado de hidratação (McGUILL, 2019), cabendo à CEUA avaliar
cuidadosamente o protocolo.
Em roedores e coelhos, a restrição alimentar não é necessária (exceto se for
necessário a redução do volume gastrointestinal), pois devido às características
anatômicas e fisiológicas do estômago, eles não conseguem vomitar. Por outro lado,
em serpentes, recomenda-se um jejum de 7 dias (até 14). Já a restrição de líquidos
pode aumentar o risco de desidratação, uma complicação comum que pode não ser
reconhecida facilmente em seu estágio inicial sem um monitoramento cuidadoso e
56

funcionários capacitados. Roedores, por exemplo, espécie mais utilizada em


pesquisa científica, não podem ser completamente privados de água/fluidos por
mais de 24 horas. (McGUILL, 2019)

Procedimentos cirúrgicos/invasivos

O docente ou pesquisador deve informar se seu protocolo prevê cirurgia, se


única ou múltipla, e, no segundo caso, informar e descrever quais e se serão
realizadas no mesmo ato cirúrgico ou em momentos diferentes. As informações
sobre quem realizará a cirurgia e onde (biotério, médico veterinário responsável
técnico e contato) são descritas no formulário. Deve ser assegurado que somente
animais em boas condições clínicas sejam utilizados e que a escolha correta das
substâncias utilizadas na assepsia e anestesia tenha sido a mais adequada para o
caso em questão.
É importante que o procedimento cirúrgico em si seja descrito, incluindo, por
exemplo, as técnicas assépticas que serão utilizadas, local da incisão e preparação,
duração aproximada do procedimento, medidas de suporte em caso de imprevistos.
Se é previsto que o animal sobreviva para continuação do estudo após a cirurgia,
deve-se descrever os cuidados pós-operatórios (cuidados paliativos, remoção de
sutura, analgesia, monitoramento de dor e angústia durante a recuperação).

Procedimentos pós-cirúrgicos

Após a cirurgia, o animal deve ser acompanhado para avaliação dos sinais
clínicos, como sinais vitais, lesão e alteração de comportamento. Todo e qualquer
cuidado pós-cirurgia, como uso de medicamentos, ambiente aquecido, cama extra,
deve ser descrito. O controle inadequado da dor pós cirurgia pode produzir efeitos
indesejados e afetar os dados da pesquisa, comprometendo a promoção dos
princípios do refinamento e redução.

Outros procedimentos

Alguns protocolos necessitam de extração de material biológico, como


sangue ou tecido, para análise de alterações bioquímicas, metabólicas,
57

toxicológicas, imunológicas e fisiológicas. Seja qual for o material a ser coletado


(mesmo se for feito pós-eutanásia, que não tem nenhum impacto sobre o animal),
deve ser informado contendo a descrição da quantidade, frequência e método de
coleta. Se o responsável tiver a intenção de compartilhar esse material com outro
protocolo, também deve ser informado. A Resolução Normativa nº. 52 define que a
CEUA deve estimular a coleta de maior quantidade de amostras biológicas de um
animal para atender ao princípio de redução, aprimorando seu uso ético (CONCEA,
2021b).
Pesquisas realizadas com animais silvestres devem incluir o número da
solicitação ou autorização do Sistema de Autorização e Informação em
Biodiversidade - SISBio e atender às demais determinações na legislação nacional,
em especial as emanadas do Ministério do Meio Ambiente, Ibama, ICMBio, MCTIC,
Concea, CTNBio e Secretarias de Meio Ambiente estaduais e municipais. Se prevê
captura, o responsável deve descrever detalhadamente os equipamentos utilizados,
assim como estratégias para minimizar o estresse sofrido pelo animal capturado
inclusive durante eventual transporte, manipulação e marcação.(CONCEA, 2018a).
Em casos de ser necessária contenção ou imobilização física do animal,
devem ser descritos o instrumento utilizado e a forma como será feita. Se é previsto
por um tempo prolongado (o que não é recomendado), seja qual for a finalidade, o
responsável deve apresentar uma justificativa científica, avaliar as necessidades
biológicas e comportamentais do animal e incluir medidas para reduzir o sofrimento
do animal, devendo durar o mínimo de tempo necessário para atingir o objetivo do
estudo (CONCEA, 2016).

Pontos finais humanitários

Este tópico está muito bem descrito no Guia Brasileiro de Produção,


Manutenção ou Utilização de Animais para Atividades de Ensino ou Pesquisa
Científica (CONCEA, 2015), pois há a preocupação em se evitar ou minimizar todo e
qualquer tipo de dor/angústia que o animal venha a sofrer.
O ponto final humanitário é uma medida de refinamento a ser aplicada no
animal ao primeiro sinal de dor/desconforto/estresse em um experimento, visando
prevenir, eliminar ou aliviar a aflição imposta, podendo ser necessário eutanasiar
esses animais por razões éticas antes de atingir o ponto final experimental.
58

Ponto final científico ou experimental refere-se ao protocolo experimental, o


momento ou situação em que a intervenção no animal é finalizada, encerrando sua
participação no estudo. A morte do animal como ponto final experimental dificilmente
é aceita, devendo ser muito bem justificada cientificamente e rigorosamente avaliada
pela CEUA, assim como protocolos cujo objetivo científico é avaliar dor ou estresse.
A partir destas definições, o ponto final humanitário nunca deve ir além do
ponto final experimental pois não há como impor sofrimento extremo ao animal para
depois entrar com medidas de alívio, seja tratamento ou eutanásia.
É responsabilidade do pesquisador trabalhar com os membros da sua equipe
diretamente envolvidos no estudo sobre todos os períodos críticos do experimento,
além de estarem cientes sobre outros aspectos, como sua responsabilidade para
com o bem-estar do animal, conhecer o comportamento normal e fisiologia da
espécie escolhida; o momento em que um ponto final humanitário será aplicado; e
estarem atentos a sinais de efeitos adversos.
Os pontos finais humanitários devem estar bem definidos no protocolo,
incluindo: qualquer aspecto crítico e desconforto ao longo do experimento;
observação frequente e registro; os parâmetros para ser aplicado; e o tipo de
tratamento ou eutanásia.

Eutanásia

De acordo com o o Guia Brasileiro de Boas Práticas em Eutanásia em


Animais do Conselho Federal de Medicina Veterinária, eutanásia é induzir a
interrupção da vida do animal por meio de método tecnicamente aceitável e
cientificamente comprovado para eliminar dor ou sofrimento dos animais, devendo a
escolha do método ser apropriada à espécie animal envolvida, idade e estado
fisiológico, aos meios disponíveis para sua contenção dos animais, à capacidade
técnica do executor, ao número de animais e, no caso de experimentação ou ensino,
ao protocolo de estudo. Os procedimentos de eutanásia devem ser supervisionados
pelo médico veterinário responsável técnico pelo biotério, mesmo que de forma não
presencial (CONCEA, 2018b). Se o método de eutanásia não estiver de acordo com
as diretrizes, uma justificativa científica deve ser fornecida e aprovada pela CEUA.
De acordo com a Lei n.º 11.794/08, , os animais submetidos à pesquisa ou
ensino devem ser eutanasiados ao fim do estudo, no entanto, é possível destiná-los
59

a pessoas idôneas ou entidades protetoras de animais (legalizadas), ou ainda


retornar às condições nas quais eram mantidos ou ao seu habitat. De qualquer
forma, o responsável deverá sempre informar o destino dos animais na proposta a
ser aprovada e autorizada pela CEUA.

3.2 Realização de inspeções

É função da CEUA, bem descrita na Resolução Normativa n.º 51 (CONCEA,


2021a), “estabelecer programas preventivos e realizar inspeções, com vistas a
garantir o funcionamento e a adequação das instalações sob sua responsabilidade,
dentro dos padrões e normas definidas pelo Concea”. Se um problema for
identificado durante uma inspeção, é responsabilidade da CEUA determinar a
gravidade do problema, a ação corretiva e dar um prazo para que os coordenadores
das instalações animais façam os ajustes necessários.
A Política do Serviço de Saúde Pública (PHS) sobre Cuidado Humano e Uso
de Animais de Laboratório (Política) e o Guia para o Cuidado e Uso de Animais de
Laboratório (Guia), dos Estados Unidos, informam que as CEUAs devem rever o
programa institucional de cuidado e uso de animais e inspecionar as instalações
animais da instituição pelo menos uma vez a cada seis meses. Deve ser feita uma
inspeção física de todos os edifícios, salas, áreas, recintos e até veículos que são
usados para confinamento, transporte, manutenção, criação ou experimentação.
Nenhum membro que deseje participar de uma inspeção pode ser excluído.
Para Petrie & Wallace (2015), esta é uma das mais difíceis funções da CEUA,
pois ela é também responsável por tudo que possa influenciar a saúde e bem-estar
dos animais e dos humanos que trabalham com esses animais, o que significa
supervisionar o trabalho de outras pessoas, podendo causar certo desconforto. Para
os autores, infelizmente algumas CEUAs ou instituições confundem supervisão com
realmente fazer trabalho e que, por mais desconfortável que possa ser, é papel da
CEUA garantir que todos cumpram sua responsabilidade com o programa de uso de
animais.
60

3.3 Suspensão das atividades

A CEUA tem poder para suspender qualquer atividade que não esteja sendo
conduzida de acordo com o que foi descrito e aprovado pela Comissão. Como
explícito no Inciso XV, Art 7º, da Resolução Normativa n.º 51 (CONCEA, 2021a),
compete à CEUA “determinar a paralisação de qualquer procedimento em
desacordo com a Lei n.º 11.794/08, na execução de atividades de ensino e de
pesquisa científica, até que a irregularidade seja sanada, sem prejuízo da aplicação
de outras sanções cabíveis”.
É relevante destacar as competências e responsabilidades das CEUAs no
que tange ao monitoramento do uso de animais para atividades de ensino ou
pesquisa científica, e quaisquer desvios devem ser prontamente informados ao
CONCEA.
61

4 METODOLOGIA

4.1 Caracterização do trabalho

Este trabalho constituiu-se um estudo de caso, modalidade que “consiste no


estudo profundo e exaustivo de um ou mais objetos, de maneira que permita seu
amplo e detalhado conhecimento” (GIL, 2010, p. 37), permitindo observar, em um
contexto específico, a partir dos pareceres emitidos pela CEUA-UFRN, como
pesquisadores e membros da Comissão estão atendendo às exigências éticas
(Princípio dos 3Rs) e legais quanto ao uso de animais no ensino e na pesquisa na
instituição.
Quanto aos objetivos, trata-se de uma pesquisa exploratória, pois tem a
finalidade de proporcionar informações sobre o funcionamento da Comissão de Ética
no Uso de Animais - CEUA da UFRN. Este tipo de pesquisa permite maior
familiaridade com o problema, possibilitando considerar os mais variados aspectos
relativos ao fato estudado (GIL, 2002).
Tem base bibliográfica, em que efetuou-se uma revisão narrativa, ou seja,
metodologia apropriada para se discutir o desenvolvimento ou “estado da arte” sobre
um assunto, constituindo de análise da literatura publicada em livros, artigos de
revistas impressas e/ou eletrônica, permitindo que o leitor adquira e atualize
conhecimento sobre o tema em curto espaço de tempo (ROTHER, 2007). Dessa
forma, com o objetivo de levantar os tópicos mais relevantes, foram consultados
livros (digitais e impressos), a legislação vigente sobre o tema e artigos obtidos na
base de dados Google Scholar e Capes entre 10 de outubro de 2020 a 30 de
outubro de 2022. Apesar da revisão narrativa não seguir critérios rígidos,
pesquisou-se por palavras-chaves (strings) que pudessem trazer discussões
específicas ao tema estudado: "princípios dos 3R’s”, “comissão de ética no uso de
animais”, “funcionamento da Comissão de Ética”, “atuação da Comissão de Ética”,
“papel da Comissão de Ética”, “pesquisa e experimentação animal”. Os termos foram
pesquisados em língua portuguesa e inglesa, com maior expressividade de
resultados neste último idioma. Refinou-se a busca com a leitura dos resumos dos
trabalhos, permanecendo aqueles que tinham afinidade com o tema desta pesquisa.
É ainda uma pesquisa documental, estratégia que vale-se de materiais que
não recebem ainda um tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados
62

de acordo com os objetos da pesquisa, diferentemente da pesquisa bibliográfica,


cujas fontes são obtidas a partir de material já elaborado, como livros e artigos
científicos (GIL, 2002). Assim, tem como fonte os pareceres consubstanciados
emitidos pela CEUA-UFRN referentes à análise de protocolos de projetos de ensino
e pesquisa com uso de animais, submetidos à apreciação da comissão entre o
período de janeiro de 2009 a dezembro de 2020.
A análise documental será qualitativa, em que serão investigados os
resultados da coleta de dados a fim de verificar se e como os princípios éticos e
legais estão sendo atendidos dentro da UFRN. A pesquisa qualitativa se preocupa
com o nível de realidade que não pode ser quantificado, ou seja, ela trabalha
descrições, comparações e interpretações.

4.2 Coleta e análise de dados

A pesquisa documental é integrada com material produzido pela


CEUA-UFRN, que se limita aos pareceres expedidos no período de janeiro de 2009
a dezembro de 2020. Optou-se pelos pareceres consubstanciados pois permitem
analisar a compreensão dos membros da CEUA-UFRN acerca das propostas
submetidas, além de apresentar os motivos que levaram a considerar o projeto
eticamente aceitável ou não. “O parecer consubstanciado procura comunicar, para
quem não leu o projeto, seus pontos principais, deixar claro os elementos éticos que
aparecem no projeto e permitir um juízo justo sobre os méritos éticos do projeto.”
(BRASIL, 2008). Dessa forma, o parecer contém os elementos essenciais para
análise pretendida por essa pesquisa.
Foram examinados os pareceres referentes à primeira análise de 723
protocolos. Os pareceres e declarações referentes aos protocolos que utilizaram
dados de outros projetos, cadáveres de animais, partes deles ou amostras
biológicas em atividades de ensino ou pesquisa, foram contabilizados à parte para
que fosse possível identificar a aplicação do princípio da substituição. Estes casos
não são contemplados pela Lei Arouca e por isso não precisam ser submetidos à
análise da comissão, mas, devido às exigências editoriais, a CEUA-UFRN passou a
emitir declarações isentando essas propostas de pesquisa de avaliação ética.
Os documentos analisados encontram-se na secretaria da CEUA-UFRN. A
maior parte do material está em formato impresso e armazenado em arquivo físico.
63

Em 2020, devido à pandemia do COVID-19, toda a documentação referente ao uso


de animais no ensino e na pesquisa na UFRN passou a ser armazenada em
“nuvem”. O acesso aos documentos foi autorizado pela CEUA-UFRN, em reunião
realizada em dezembro de 2020, sendo garantido, por declaração escrita, o sigilo
dos títulos dos protocolos, dos responsáveis e dos pareceristas durante a coleta de
dados e divulgação dos resultados.
Os dados obtidos dos pareceres foram:
- finalidade do protocolo submetido (ensino ou pesquisa): a Lei 11.794 determina
que, sempre que possível, as práticas de ensino sejam fotografadas, filmadas ou
gravadas, de forma a permitir sua reprodução para ilustração de práticas futuras,
evitando-se a repetição desnecessária de procedimentos didáticos com animais. Já
a Resolução Normativa n.º 53 (CONCEA, 2021d), restringe o uso de animais em
atividades didáticas que não objetivem desenvolver habilidades psicomotoras e
competências dos discentes envolvidos. Este dado permitirá saber se propostas de
ensino têm sido aprovadas e se estão de acordo com a legislação.
- número de animais: a partir deste dado, poderá ser possível verificar se ao longo
dos anos o uso de animais no ensino e na pesquisa vem diminuindo na instituição,
atendendo ao princípio da Redução.
- modelo animal (espécie): além de conhecer que espécies são mais utilizadas, será
possível saber se modelos animais filogeneticamente inferiores estão sendo
adotados, podendo-se inferir se a Substituição, mesmo que relativa, está sendo
adotada.
- número de projetos aprovados e não aprovados e motivos para não aprovação em
primeira análise: a partir destas informações, pretende-se descobrir se e como os
pesquisadores estão atendendo à legislação, suas dificuldades e quais princípios
éticos não estão sendo cumpridos.
As informações coletadas foram registradas em planilha Excel, recurso que
permite uma boa visualização dos dados e possibilidade de construção de gráficos e
tabelas. Essas informações foram organizadas por ano, para que seja possível
analisar as mudanças ocorridas ao longo do tempo.
O Quadro 3 mostra o resumo das etapas desta pesquisa e suas relações com
os objetivos do estudo.
64

Quadro 3 – Resumo da pesquisa

Objetivo geral:
Diagnosticar o processo de análise ética e legal da CEUA na Universidade Federal
do Rio Grande do Norte

Objetivos específicos Coleta de dados Análise de dados

Compreender o - Análise do funcionamento - Identificação do fluxo


processo de submissão da CEUA-UFRN através do institucional da
e avaliação das Regimento Interno, CEUA-UFRN
propostas de ensino e informações da página - Exigências para
pesquisa com uso de eletrônica, portarias submissão das propostas
animais publicadas pela instituição de ensino e pesquisa

Identificar - Revisão da literatura - Comparação entre os


inconsistências nas - Pareceres emitidos pela resultados obtidos
propostas de ensino e CEUA-UFRN no período (pareceres) e o que está
pesquisa submetidas e de janeiro de 2009 a disposto na legislação (lei,
no processo de revisão dezembro de 2020. normativas, regimento
ética - Legislação sobre o tema interno, etc.) e literatura
- Orientações do CONCEA
obtidas na página oficial do
órgão

Propor medidas de - Dados da pesquisa - Confronto dos


aperfeiçoamento ao derivados das etapas problemas identificados
atual processo, a partir anteriores (se produzir com as boas práticas
dos problemas matéria substancial) sugeridas pela literatura.
identificados
Fonte: autora com base em Anna Emília Costa Carvalho, 2017.

A partir da análise desses dados, acredita-se que será possível observar


como os usuários de animais estão atendendo aos preceitos éticos exigidos pela
legislação no tocante ao uso de animais no ensino e na pesquisa, considerando os
princípios da redução, do refinamento e da substituição e assim, se convier, propor
possíveis melhorias para que esses objetivos sejam alcançados.

4.3 Descrição do cenário da pesquisa

A Comissão de Ética no Uso de Animais da Universidade Federal do Rio


Grande do Norte é uma comissão permanente, de caráter consultivo, deliberativo,
educativo, autônomo, vinculada à Pró-Reitoria de Pesquisa (PROPESQ) da UFRN e
constituída nos termos da Lei n° 11.794, de 08/10/2008, e na Resolução n° 879, de
65

15/02/2008, do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV). Tem por


finalidade cumprir e fazer cumprir, no âmbito da UFRN e nos limites de suas
atribuições, o disposto na legislação aplicável à criação e/ou utilização de animais
para o ensino e a pesquisa, caracterizando-se a sua atuação como educativa,
consultiva, de assessoria e fiscalização nas questões relativas aos termos do seu
regimento.
A CEUA-UFRN é constituída por docentes e pesquisadores, representantes
de departamentos distintos da instituição das áreas biomédica e agrária (Centro de
Ciências da Saúde, Centro de Biociências, Instituto do Cérebro e Escola Agrícola de
Jundiaí). Conta ainda com a participação de médicos veterinários, biólogos e
técnicos, de notório saber, cujo trabalho envolve diretamente os animais de
laboratório, convencionais ou não, e de representantes de uma sociedade protetora
dos animais, legalmente constituída e estabelecida no país. O coordenador e
vice-coordenador são eleitos por seus pares. O mandato de cada gestão é de 2
anos, sendo permitida uma única recondução sucessiva. Os membros de vínculo
efetivo com a instituição são indicados pelos chefes de departamento ou de centros
que tenham relação com atividades de pesquisa, enquanto os membros externos
são indicados pelos membros da CEUA-UFRN. sendo todos designados por ato do
Reitor. As reuniões acontecem uma vez por mês
A CEUA-UFRN conta com uma secretária para atendimento aos usuários de
animais e público em geral, além de possuir sala própria, localizada atualmente no
Centro de Biociências, com computador, impressora, bens consumíveis e arquivo
físico para guarda dos documentos. Não há, no entanto, um sistema automatizado
para aprimorar a submissão das propostas e o controle dos procedimentos nas
pesquisas com animais de laboratório. Os recursos para funcionamento da comissão
são provenientes da Pró-Reitoria de Pesquisa (PROPESQ).
66

5 RESULTADOS

Este capítulo apresenta os resultados a partir da coleta dos dados obtidos dos
pareceres emitidos pela CEUA-UFRN, de 1 de janeiro de 2009 a 31 de dezembro de
2020, resumidos no Quadro 4. Essas informações foram organizadas em figuras,
gráficos e tabelas. A discussão é feita no decorrer da apresentação dos achados.

QUADRO 4 – Dados encontrados separados por objetivo específico


Objetivo específico Seção Resultados/Achados

Compreender o processo de 5.1. A CEUA-UFRN exige três documentos para


submissão e avaliação das submissão: Folha de Rosto, Formulário
propostas de ensino e Unificado (CONCEA) e Projeto. Na reunião, que
pesquisa com uso de acontece uma vez ao mês, o membro relator
animais analisa a proposta e apresenta seu parecer aos
demais. Por votação (maioria simples), o
protocolo pode ser aprovado, aprovado com
recomendação, ficar com pendência e não ser
aprovado. A submissão dos documentos e
envio dos pareceres aos responsáveis é feito
atualmente por e-mail. É exigido que antes da
submissão, a proposta seja revisada pelo
médico veterinário responsável técnico pelo
biotério (princípio do refinamento).

Identificar inconsistências 5.2 Os principais motivos pra não aprovação


nas propostas de ensino e imediata das propostas submetidas referem-se
pesquisa submetidas e no ao cronograma, à metodologia e ao N amostral.
processo de revisão ética O item relacionado à compatibilidade com a
legislação foi marcado como “adequado”
mesmo em pareceres desfavoráveis à
aprovação da proposta. Alguns pareceres
aprovados com recomendação apresentaram
observações semelhantes aos pareceres de
propostas com pendências ou não aprovados.
Foram registrados em pareceres poucos
questionamentos sobre a relevância da
proposta e justificativa do uso de animais
(métodos alternativos).

Propor medidas de 5.3 Propõe-se a reformulação do modelo do


aperfeiçoamento ao atual parecer adotado pela CEUA-UFRN.
processo, a partir dos
problemas identificados
Fonte: dados da pesquisa (2022) com base em Nascimento, 2018.
67

5.1 Do fluxo processual e emissão dos pareceres

O processo se inicia com o pesquisador ou uma equipe desenvolvendo uma


proposta envolvendo animais para submeter a apreciação da CEUA. Cada protocolo
deve possuir um pesquisador principal, a quem cabe a responsabilidade legal,
técnico e científica. Tem ainda por obrigação conhecer a legislação em torno da
pesquisa com animais, cumprir com os requisitos de ética e bem-estar animal, enviar
relatórios e ter vínculo institucional com a UFRN. A lei, resoluções normativas e
orientações técnicas estão disponíveis em páginas oficiais.
Na CEUA-UFRN são exigidos três documentos: a folha de rosto, o Formulário
Unificado de Solicitação de Autorização para Uso de Animais em Experimentação
e/ou em Ensino ou Desenvolvimento de Recursos Didáticos (CONCEA) e o projeto
completo de ensino ou pesquisa.
A Folha de Rosto identifica o projeto, o pesquisador responsável e a
instituição a qual está vinculado. Deve ser assinada pelo pesquisador, pelo
responsável pelo departamento/centro ao qual a proposta está vinculada e pelo
médico veterinário responsável técnico pela instalação animal onde acontecerão as
aulas e/ou experimentos, que deve revisar o protocolo e orientar o pesquisador, se
necessário, quanto aos procedimentos a serem realizados com os animais.
O Formulário Unificado elaborado pelo CONCEA serve de modelo em todo o
território nacional para o envio de informações mínimas pelos responsáveis por
projetos de ensino ou de pesquisa científica que envolvam animais, podendo ser, a
critério de cada CEUA, ampliados.
O projeto de ensino ou pesquisa, de acordo com o Regimento Interno da
CEUA-UFRN, deve ser apresentado com formatação padrão, em língua portuguesa.
Não deve haver discrepâncias entre o projeto e o Formulário Unificado. O projeto
deve compreender os seguintes itens:
V – Projeto de pesquisa, para atividades de pesquisa, compreendendo os
seguintes itens: a) descrição dos objetivos e hipóteses a serem testadas; b)
antecedentes científicos e dados que justifiquem a pesquisa; c) materiais e
métodos do projeto de pesquisa; d) duração total da pesquisa, a partir da
aprovação; e) orçamento financeiro da pesquisa: recurso, fontes e
destinação; f) declaração sobre o uso e destinação do material e/ou dados
coletados.
VI – Projeto de aula prática, para atividades de ensino, compreendendo os
seguintes itens: a) Programa da disciplina, incluindo o cronograma das
aulas teóricas e da(s) aula(s) prática(s); b) Roteiro(s) da(s) aula(s)
68

prática(s); c) Objetivo da(s) aula(s) prática(s); d) Número de alunos/aula,


grupo de alunos x animal e tipo de participação (observação, participação
ativa, etc); e) Descrição detalhada dos procedimentos, principalmente os
invasivos; f) Métodos de eutanásia e destino dos animais; g) Outros dados
que, a juízo do docente, são importantes para a avaliação do projeto de
ensino. (Regimento Interno da CEUA-UFRN, p. 6)

Esses documentos estão disponíveis na página oficial da comissão, assim


como as orientações de como preencher e submeter para análise. Atualmente a
submissão de propostas de ensino e pesquisa é feita exclusivamente por e-mail.
A secretaria da CEUA-UFRN é responsável por receber as propostas de
ensino e pesquisa e realizar uma pré-análise para garantir que todos os documentos
exigidos estão sendo entregues e identificar possíveis falhas no preenchimento dos
campos do formulário. Um número para identificação do protocolo é gerado e então
é distribuído a um membro, responsável por analisar e relatar o protocolo para os
demais em reunião ordinária. Essa distribuição é feita em forma de rodízio, para que
não haja sobrecarga de trabalho para determinados membros, e ainda com o
cuidado de evitar que membros analisem projetos do setor a que pertence.
As reuniões para relato das propostas e discussão do parecer dos relatores
acontecem uma vez ao mês, em data pré-disponibilizada na página oficial da
comissão. Por votação (maioria simples), os membros podem acatar ou alterar o
parecer do relator de forma parcial ou total. Os protocolos analisados são
enquadrados em uma das seguintes modalidades, de acordo com o Regimento
Interno da CEUA-UFRN:
I - Protocolo aprovado;
II – Protocolo aprovado com recomendações, quando houver falha sem
impeditivo ético;
III - Protocolo com pendências, quando houver falha com impeditivo ético;
IV - Protocolo não aprovado.
(Regimento Interno da CEUA-UFRN, p.7)

Os pareceres consubstanciados emitidos pela comissão são encaminhados


para o e-mail do pesquisador responsável declarado no protocolo submetido, sendo
sua responsabilidade o acompanhamento dos resultados e cumprimento dos prazos
para atendimento às solicitações da CEUA-UFRN.
A Figura 1 mostra o fluxo de submissão e análise das propostas de ensino e
pesquisa submetidas à CEUA-UFRN.
69

Figura 1 – Fluxo de submissão e análise dos protocolos pela CEUA-UFRN

Fonte: Elaborado pela autora (2022).


70

5.2 Apresentação e discussão dos dados

O modelo do parecer utilizado e emitido pela CEUA-UFRN (ANEXO II) é o


documento que apresenta o entendimento da comissão acerca das propostas de
ensino e pesquisa submetidas. É, portanto, o principal instrumento que sintetiza a
análise ética e legal no processo de aprovação dessas propostas.
Esse documento é dividido em 3 seções: a primeira contém informações
acerca da identificação da proposta: nome do responsável, número do protocolo,
título, resumo, objetivos e se de ensino ou pesquisa; a segunda seção relaciona-se
aos itens metodológicos e éticos, se estão adequados ou se merecem comentários:
título do projeto, objetivos, introdução e justificativa, cronograma, orçamento e fonte
financiadora e referências bibliográficas. A última seção relaciona-se a informações
relativas aos animais: grau de invasividade, espécie, número amostral, se há
necessidade de redução amostral, substituição ou aprimoramento da metodologia,
se acomodação, manutenção, manipulação dos animais, analgesia, anestesia,
eutanásia e pontos finais humanitários estão adequados ou não. Há ainda um
campo em que deve ser apontado se a proposta está adequada à legislação vigente.
Desde o início das atividades da CEUA-UFRN, em janeiro de 2009, 766
projetos de ensino e pesquisa foram submetidos à Comissão até dezembro de 2020.
Desses, 43 utilizaram como objeto de estudo partes ou cadáveres de animais,
material biológico extraído de outros projetos aprovados e análise de dados obtidos
de outras pesquisas, não necessitando de revisão ética, sendo, assim, isentos de
aprovação. A Tabela 1 apresenta, por ano, o número total de propostas submetidas,
bem como o número das que passaram por revisão ética e o número de isentas de
avaliação pela CEUA-UFRN.

Tabela 1 – Número de propostas submetidas para avaliação ética e isentas de


avaliação por ano
Propostas isentas de Total de propostas
ANO Propostas analisadas
avaliação submetidas

2009 47 0 47

2010 55 0 55

2011 60 0 60

2012 57 2 59
71

2013 61 8 69

2014 69 2 71

2015 73 4 77

2016 54 2 56

2017 82 1 83

2018 72 6 78

2019 68 13 81

2020 25 5 30

Total 723 43 766


Fonte: dados da autora (2022).

Dos protocolos avaliados quanto às questões éticas e legais (723), 674 foram
aprovados, demonstrado na Figura 2. Dentro do número de protocolos aprovados,
considerou-se aqueles aprovados em primeira análise e aprovados após ajustes
(que ficaram com pendências em primeira análise).

Figura 2 – Proporção do número de protocolos aprovados (aprovados em primeira


análise e aprovados após ajustes) e não aprovados entre janeiro de 2009 e
dezembro de 2020

Fonte: dados da autora (2022).


72

Dos 674 protocolos aprovados, mais da metade foi aprovada em primeira


análise, mesmo com recomendações. A Figura 3 apresenta o número e proporção
dos protocolos aprovados e aprovados com recomendação em primeira análise e
aprovados após ajustes.

Figura 3 – Proporção do número de protocolos aprovados na íntegra e aprovados


com recomendação em primeira análise e aprovados após ajustes entre janeiro de
2009 e dezembro de 2020

Fonte: dados da autora (2022).

A seguir, a Figura 4 apresenta a modalidade nas quais os protocolos se


enquadraram após a primeira análise feita pela CEUA-UFRN ao longo dos anos:
quantos foram aprovados, aprovados com recomendação, ficaram com pendências
ou não foram aprovados.
73

Figura 4 – Número de projetos aprovados, aprovados com recomendação, com


pendências e não aprovados em primeira análise por ano

Fonte: dados da autora (2022).

No período analisado, 723 propostas foram analisadas, sendo que, após a


primeira análise, 171 foram aprovadas integralmente, 206 foram aprovadas com
recomendação, 328 ficaram com pendências e 18 não foram aprovadas. Percebe-se
que até 2014 mais da metade dos pareceres indicaram aprovação imediata
(incluindo aqueles aprovados com recomendação), diferentemente do que passou a
acontecer a partir de 2015. Uma possível justificativa para essa mudança é a
participação de membros mais experientes na comissão e com maior familiaridade
com as metodologias propostas. Como uma das condições de formação da CEUA
exigida pela legislação seja de profissionais na área específica, que utilizam animais
no ensino ou pesquisa científica, com reconhecida competência técnica e notório
saber e, no caso da UFRN, como o número de profissionais na instituição com
experiência adequada no uso de animais para fins científicos é restrito, alguns
acabam por participar em mais de uma gestão na comissão, como comprovado nas
portarias de designação dos membros, disponível na página oficial da UFRN. Além
disso, há chances de que os pesquisadores que submetem propostas de ensino e
pesquisa à CEUA-UFRN tenham feito ou venham a fazer parte da comissão.
74

Quanto à finalidade, se de ensino ou pesquisa, dos 723 protocolos


analisados, apenas 8 foram de ensino: 2 tiveram aprovação imediata, sendo 1 com
recomendação; 4 ficaram com pendências (sendo aprovados após ajustes) e 2 não
foram aprovados. Todos os protocolos utilizaram roedores.

Tabela 2 – Número de propostas de ensino e status após primeira análise

Ano de ocorrência Aprovado Pendência Não aprovado

2009 0 3 1

2011 2 0 0

2012 0 1 0

2017 0 0 1
Fonte: dados da autora (2022).

As observações feitas pela CEUA-UFRN nas 04 propostas de ensino que


precisaram de ajustes para serem aprovadas referiram-se ao comprometimento do
pesquisador em realizar a filmagem dos procedimentos para posterior reprodução
(observação presente em todos os protocolos com pendência), à redução do número
de animais (2 protocolos), que o pesquisador demonstrasse “que não há, no âmbito
da UFRN, possibilidade de efetuar a experiência por intermédio de modelos
computacionais (softwares simuladores)” (1 protocolo), e que fosse esclarecido o
método de eutanásia dos animais (1 protocolo).
Quanto às 2 propostas de ensino não aprovadas, os motivos para rejeição
foram: justificativa inadequada para o uso de animais, necessidade de redução do
número amostral, apresentação inadequada dos documentos, ausência de pontos
finais humanitários e de referências bibliográficas que fundamentassem a proposta,
necessidade de esclarecimentos e/ou melhoria da metodologia, incluindo o método
de eutanásia. Fischer et al (2014b), ao levantar os dados históricos de
implementação e as estatísticas de funcionamento da CEUA-PUCPR entre 2004 a
2013. apontaram a descrição muito sucinta da aula como o principal motivo para
devolução da proposta de ensino.
Chama atenção o baixo número de propostas de ensino submetidas,
provavelmente devido ao disposto na Lei n.º 11.794/2008, que incentiva a
substituição de animais nas práticas pedagógicas, e na Resolução Normativa n.º
38/2018, substituída em 2021 pela Resolução Normativa n.º 53, que passou a proibir
75

o uso de animais em “atividades didáticas demonstrativas e observacionais que não


objetivem desenvolver habilidades psicomotoras e competências dos discentes
envolvidos” (CONCEA, 2021d). Não foram identificados neste estudo pareceres
referentes a análise de propostas de ensino/aulas práticas oriundas da Escola
Agrícola de Jundiaí, unidade especializada da UFRN de ensino, pesquisa e
extensão em Ciências Agrárias.
Corrêa-Neto (2012) levanta três suposições para o baixo número de
submissão de protocolos de ensino: o uso de métodos alternativos para as aulas,
como modelos artificiais e vídeos; o encaminhamento de protocolos de ensino a
outras CEUAs (o que não é plausível no caso da UFRN visto que desde a
implementação da Lei n.º 11.794/2008 há apenas uma CEUA em atuação); e o não
reconhecimento da comunidade quanto à pertinência ética da revisão de protocolos
de ensino, que deixam de ser encaminhados à CEUA.
Quanto à espécie e número de animais aprovados para uso no ensino e
pesquisa, os roedores (ratos e camundongos) representam o modelo animal mais
utilizado, como constatado em outras pesquisas (CORRÊA-NETO, 2012; FISCHER;
RODRIGUES, 2018). A Tabela 3 apresenta o número absoluto de animais
aprovados por ano. As espécies de animais foram distribuídas em 8 grupos:
roedores produzidos em laboratório (camundongos, ratos e hamster); animais de
produção, criados para fins de alimentação humana e outros subprodutos (bovinos,
aves, caprinos, ovinos, búfalos, suínos); cães e gatos; répteis e anfíbios (vida livre);
peixes, aves, primatas não-humanos e outros mamíferos (cavalo, morcego, lontra,
mocó, tatu ).

Tabela 3 – Espécies e números de animais utilizados em ensino e pesquisa de


2009 a 2020 aprovados pelo CEUA-UFRN
Espécies 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 TOTAL

roedores
1806 5064 4992 3401 7610 5787 5543 8071 8203 9674 8449 1979 70579
(laboratório)
animais de
0 0 52* 0 185 117 625 541 1172 644 383 624 4343
produção
cães, gatos 0 1000 15 210 165 70 435 0 0 1082 2903 0 5880

peixes 0 50 102 795 118 425 940 * 2258 884 4707 3129 840 14248

pássaros 50 0 0 0 0 0 0 0 920 0 96* 0 1066

répteis e anfíbios 0 0 120 0 240 00 360* * 80 0 * 20 820

primatas 50 80 22 52 28 91 26 5 96 55 131 244 880

outros mamíferos 0 0 0 100 6 28 48 56 138 142 46 0 564


76

TOTAL APROVADO 1906 6194 5303 4558 8352 6518 7977 10931 11493 16304 15137 3707 98380
Fonte: dados da autora (2022).

O total de animais autorizados no período analisado foi de aproximadamente


98.380 animais. Os números apresentados são aproximados, pois, em alguns
protocolos, não foi possível determinar quantos animais realmente seriam utilizados
(na Tabela 3 marcado com *). Se tratavam de estudos feitos em campo, em que o
pesquisador precisaria procurar pela espécie a ser estudada, estudos que envolviam
embriões ou nascimento de filhotes. Nesses casos, são registrados nos pareceres
que o pesquisador deve informar à CEUA o número exato de animais utilizados
através de adendos ou no relatório de conclusão da pesquisa. O ano de 2020
representa o menor número de animais autorizados para uso em pesquisas
científicas devido à pandemia causada pelo Covid-19.
Camundongos, ratos e hamster, nessa ordem, foram as espécies mais
solicitadas durante o período analisado, totalizando cerca de 70.579 animais (72%
do número total de animais). A preferência por camundongos na pesquisa biomédica
e em ensaios biológicos se dá por serem animais pequenos, dóceis, com facilidade
reprodutiva, curto ciclo de vida e de fácil manutenção. Os ratos, com características
semelhantes, são agressivos somente na defesa dos seus filhotes. Por serem
maiores que os camundongos, são utilizados como modelo em estudos como
transplante de órgãos e ósseos, diabetes, distúrbios psiquiátricos, estudos
comportamentais, doenças cardiovasculares e cirurgia. (NEVES, 2013)
Em segundo lugar, os peixes foram os animais mais solicitados e aprovados
durante o período analisado (14.248 animais ou 14,5%), sendo o zebrafish (Danio
rerio), conhecido como paulistinha, a espécie mais utilizada. Os peixes têm se
mostrado um bom modelo biológico, visto que eles exibem enorme diversidade em
sua morfologia e em sua biologia. Aspectos particulares de várias espécies se
prestam a estudos de comportamento, ecologia, evolução, genética, fisiologia e
toxicologia. São usados como indicadores gerais ou bioindicadores da poluição
aquática, em parte pelo benefício direto e importância para os seres humanos.
(CONCEA, 2019)
Segundo dados publicados na página Speaking of Research, que reúne
informações sobre animais utilizados na pesquisa científica, em 2019 os Estados
Unidos utilizaram aproximadamente 12-24 milhões de animais em pesquisa, dos
77

quais apenas menos de 1 milhão não foram ratos, camundongos, pássaros ou


peixes, espécies não contabilizadas por serem criadas e produzidas especificamente
para pesquisa. No Brasil, não foi encontrado em páginas oficiais o número de
animais utilizados no ensino e na pesquisa científica.
Quanto ao uso de primatas não-humanos na UFRN, modelo animal que
dispensa atenção especial pela proximidade anatômica e fisiológica ao ser humano,
880 animais foram autorizados para uso na pesquisa, sendo que menos de 20%
(161 animais) precisaram ser eutanasiados para atingir o objetivo do estudo. Os
saguis (Callitrixus jacchus) foram a espécie mais utilizada. Quanto aos cães, foram
utilizados em protocolos que não previam cirurgia ou eutanásia.
O foco desta pesquisa é identificar quais são as principais inconsistências
apresentadas nos protocolos submetidos à avaliação pela CEUA-UFRN e que
conduziram à rejeição em primeira análise. No entanto, incluímos aqui as
recomendações feitas pela comissão em alguns pareceres que foram aprovados em
primeira análise, a fim de conhecer a sua natureza. As observações feitas pela
comissão nos pareceres foram divididas em três grupos, com base na divisão em
que se apresentam nesses documentos:
- itens metodológicos e éticos;
- compatibilidade com a legislação;
- informações relativas aos animais.
Tentou-se, neste trabalho, resumir os comentários de cada campo a um
termo, como apresentado no modelo do parecer. Por vezes, o mesmo termo era
citado em mais de um campo. Por exemplo: no parecer foi indicado que havia
necessidade de “aprimoramento da metodologia” e na justificativa o parecerista
referiu-se à anestesia. Em seguida, o campo “anestesia” era marcado como
inadequado ou não era marcado. Assim, “anestesia” foi o termo registrado na coleta
dos dados e não “metodologia”. Ainda, mesmo que o termo apareça em mais de um
campo no parecer, foi registrado, nesta pesquisa, apenas uma vez.
Os resultados apontam inconsistências identificadas em todas as seções dos
protocolos, mas que são mais proeminentes em algumas.
As Tabelas 4-6 mostram a frequência das observações feitas pela comissão
nos pareceres “aprovados com recomendação”, “com pendências” e “não
aprovados” em relação aos “itens metodológicos e éticos”.
78

Tabela 4 – Frequência de observações relacionadas aos “itens metodológicos e


éticos” nos pareceres “aprovados com recomendação” por ano
Itens analisados 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 TOTAL

título 0 1 1 0 0 5 0 0 0 0 0 0 7

objetivos 0 0 0 0 3 1 2 0 1 1 0 0 8

introdução 0 0 3 0 0 0 0 0 0 0 0 0 3

justificativa 2 0 3 0 0 0 0 0 0 0 0 0 5

cronograma 3 17 17 4 3 5 2 3 8 7 0 0 68
orçamento/fonte 4 3 3 3 3 1 0 1 5 4 0 0 27

referências 1 2 2 1 2 0 0 0 0 0 0 0 8

TOTAL 124
Fonte: dados da autora (2022).

Tabela 5 – Frequência de observações relacionadas aos “itens metodológicos e


éticos” nos pareceres “com pendência” por ano
Itens analisados 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 TOTAL

título 1 1 1 0 1 3 4 0 5 4 1 0 21

objetivos 3 0 0 0 1 0 3 0 8 2 3 0 20

introdução 0 0 0 0 0 1 4 0 0 0 0 0 5

justificativa 3 2 1 0 3 5 5 1 9 2 0 2 33

cronograma 5 3 3 4 9 7 14 18 32 12 5 9 121
orçamento/fonte 1 3 3 3 2 4 4 4 17 11 7 5 65

referências 2 2 2 1 3 0 7 3 0 1 2 0 23

TOTAL 288
Fonte: dados da autora (2022).

Tabela 6 – Frequência de observações relacionadas aos “itens metodológicos e


éticos” nos pareceres não aprovados por ano
Itens analisados 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 TOTAL

título 0 0 0 0 0 1 0 0 0 1 0 0 2

objetivos 4 0 0 0 2 1 1 0 0 0 0 0 8

introdução 1 0 0 0 0 1 1 0 0 0 0 0 3

justificativa 2 0 0 0 3 0 1 0 0 0 0 0 6

cronograma 0 0 0 0 1 2 1 2 0 1 0 0 7
79

orçamento/fonte 4 0 0 0 3 0 0 0 0 1 0 0 8

referências 0 0 0 0 1 0 1 0 0 0 0 0 2

TOTAL 36
Fonte: dados da autora (2022).

A seção “itens metodológicos e éticos” apresenta 6 campos a serem


observados pela CEUA-UFRN: título, objetivos, introdução e justificativa,
cronograma, orçamento e fonte financiadora e referências. Nesta pesquisa, a
introdução foi separada da justificativa.
Nos pareceres favoráveis à aprovação do protocolo, mas que continham
“recomendações”, o item “cronograma” foi o mais comentado (68 menções), sendo
as observações semelhantes àquelas apresentadas nos pareceres com pendências
e não aprovados.
Nos pareceres “com pendências”, o item “cronograma” também foi o principal
problema observado, sendo mencionado em 121 pareceres. As observações feitas
relacionam-se à incompatibilidade do apresentado no formulário e no projeto, e ao
ajuste do cronograma para início após aprovação da CEUA (possivelmente a
previsão de início do estudo estava indicada em datas próximas às reuniões). Pela
legislação, uma pesquisa só pode ser iniciada após aprovação da CEUA, sendo
assim, a submissão das propostas deve acontecer de 3 a 4 meses antes da reunião,
a fim de que haja tempo suficiente para que o pesquisador responda às pendências
do projeto, se for o caso (propostas que recebem status de pendência devem ser
analisadas novamente em reunião ordinária).
Nos pareceres com resultado “não aprovado” o item “objetivos” foi o mais
questionado, com 8 menções. As falhas apontadas pela comissão nesse item
referem-se à falta de relação de alguns objetivos específicos com a metodologia
proposta.
A ausência da apresentação do “orçamento e fonte financiadora” é apontada
com certa frequência nos pareceres, inclusive naqueles aprovados com
recomendação, podendo-se deduzir que não é fator relevante para rejeição
imediata, mesmo que a página oficial da CEUA-UFRN indique, nas suas orientações
para submissão de propostas, que essa é uma informação que deve ser
apresentada. Nas pesquisas com humanos, o orçamento financeiro e fonte do
projeto de pesquisa é um termo obrigatório para apreciação ética do protocolo,
80

embasado pela Norma Operacional 001/2013, do Conselho Nacional de Saúde,


sendo as principais pendências relacionadas a esse item: orçamento não detalhado,
itens omissos e declaração de que o estudo não terá custos.
O item "justificativa" é questionado ou comentado poucas vezes nos
pareceres com pendências ou não aprovados. De um total de 448 observações
relacionadas à seção “itens metodológicos e éticos”, 44 (cerca de 10%)
relacionavam-se à justificativa, com solicitações de que os pesquisadores
demonstrassem a relevância e/ou originalidade do estudo proposto e observações
quanto à existência de métodos alternativos, incongruência com objetivos e/ou
metodologia e referências bibliográficas para embasar a metodologia.
Em 2011, em 2 pareceres aprovados com recomendação, o item “introdução
e justificativa” tem como observação a seguinte frase “não foram apresentadas”; e
em um terceiro parecer em que esse item também teve observação, foi informado
que não havia introdução no texto e solicitado que o responsável descrevesse os
achados acerca dos efeitos da substância ser estudada que embasasse e desse
consistência ao trabalho. Fica a dúvida sobre o que não foi apresentado e sobre o
porquê de pelo menos uma dessas propostas ter sido considerada aprovada quando
ficou claro que a justificativa não foi bem embasada. Em um parecer, do ano 2017,
foi apontado que o item “introdução e justificativa” merecia comentários, mas
nenhuma observação foi feita, nem no campo “comentários gerais”. Em 3 pareceres,
cujas propostas pretendiam realizar testes in vitro e in vivo, a CEUA-UFRN
recomendou que fossem realizados primeiramente os testes in vitro para somente
após, a depender do resultado obtido, fossem utilizados animais.
Nos pareceres analisados foram feitos alguns questionamentos sobre o
motivo para escolha de determinada espécie, registrados no item “metodologia” ou
em “comentários gerais”. Essa justificativa não está expressa no modelo do parecer,
mas é exigida nos formulários unificados submetidos à comissão.
Uma possível explicação para esse número baixo de observações
relacionadas à justificativa e relevância/originalidade do projeto, itens de extrema
importância ética, é que essas informações têm sido prestadas de forma satisfatória
aos olhos da comissão, dispensando observações.
Essas descobertas assemelham-se às encontradas por Silverman et al
(2015), quando participou de 87 reuniões de 10 CEUAs de diversas instituições. De
5.632 'menções' de códigos relevantes para o protocolo, incluindo aqueles
81

obrigatórios e não obrigatórios para serem considerados pela CEUA, as alternativas


ao uso de animais (0,5%) e a importância da pesquisa proposta (0,8%) foram os
tópicos menos mencionados.
Observações sobre “mérito científico” não foram registradas em nenhum dos
pareceres. Graham (2002) ao entrevistar membros de 3 CEUAs de instituições
americanas, identificou que 76% dos entrevistados acreditam que o mérito científico
deve ser avaliado com mais cuidado quando houver mais do que uma dor leve,
enquanto que 14% acreditam que avaliar o mérito científico não é papel da
comissão.
Kostomitsopoulos e Durasevic (2010) afirmam que a justificativa ética de uma
pesquisa deve indicar claramente os objetivos do projeto e/ou hipóteses a serem
testadas, o motivo da escolha de determinado modelo animal, bem como espécies e
linhagens, a metodologia, uma sólida base bibliográfica e as expectativas em
relação ao projeto e de que forma as novas informações aumentarão o
conhecimento científico existente e/ou beneficiarão a saúde ou o bem-estar de
humanos ou animais. Para os autores, essas medidas podem evitar a duplicação
desnecessária de pesquisas (Princípio da redução).

O item que se refere à compatibilidade da proposta com a legislação poucas


vezes foi marcado como inadequado ao longo dos anos, como demonstra a Tabela
7. As observações feitas nesse campo referem-se a questões de biossegurança
(estudos com uso de parasitas em animais, como Toxiplasmodium) e à aquisição de
licença de outros órgãos, como IBAMA.

Tabela 7 – Frequência de pareceres que apontam as propostas com


“incompatibilidade com a legislação”
Status do
2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 TOTAL
protocolo

Aprovados com
recomendação 0 3 4 3 2 1 0 0 1 0 0 0 14

Com Pendências 3 4 3 4 2 1 11 8 10 5 14 4 69

Não Aprovados 0 0 0 0 0 1 0 1 0 1 0 0 3
Fonte: dados da autora (2022).
82

Mesmo diante de observações feitas nos pareceres que apontavam que os


projetos não seguiam os preceitos éticos e legais no ensino e na pesquisa científica
com uso de animais e sendo o resultado desfavorável à aprovação imediata da
proposta, o campo referente à compatibilidade com a legislação foi marcado como
adequado na maior parte das propostas. De 328 pareceres de protocolos que
ficaram “com pendências” na primeira análise, 69 apontaram incompatibilidade com
a legislação, e dos 18 protocolos “não aprovados” em primeira análise, apenas 3
pareceres apontaram que as propostas não estavam adequadas à legislação. Mas,
o que chama atenção, é que 14 pareceres “aprovados com recomendação” foram
marcados como inadequados quanto à legislação e, mesmo com esse registro,
esses projetos tiveram autorização para iniciar. Outra observação feita é que a partir
de 2015 esse item passou a ser marcado como inadequado com mais frequência.

A última seção do parecer consubstanciado refere-se às “informações sobre


os animais” (Tabelas 8-10). Em relação à metodologia, o modelo do parecer adotado
pela CEUA-UFRN apresenta dois campos: “substituição da metodologia” e
“aprimoramento da metodologia”. Nesta pesquisa, será usado apenas o termo
“metodologia”.

Tabela 8 – Frequência de observações relacionadas à seção “informações relativas


aos animais” em pareceres “aprovados com recomendação” por ano
Itens
2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 TOTAL
analisados

Grau de
invasividade 1 3 3 1 1 2 1 0 0 1 0 0 13

N amostral 0 6 7 7 4 6 0 1 4 3 0 0 38

Redução do N
amostral 3 0 0 1 0 3 0 1 1 0 0 0 9

Metodologia 9 0 5 6 3 5 3 3 8 5 0 0 47

Acomodação e
manutenção 4 1 1 3 1 3 0 3 3 2 0 0 21

Manipulação 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 1

Analgesia 1 1 1 3 3 1 0 1 2 1 0 0 14

Anestesia 3 4 5 3 3 4 0 0 2 0 0 0 24

Pontos finais
humanitários 0 0 0 4 1 0 0 3 2 0 0 0 10
83

Eutanásia 14 9 9 15 6 13 3 1 4 2 0 0 76
Fonte: dados da autora (2022).

Tabela 9 – Frequência de observações relacionadas à seção “informações relativas


aos animais” nos pareceres “com pendência” por ano
Itens
2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 TOTAL
analisados

Grau de
invasividade 0 4 4 1 2 3 7 5 6 6 3 3 44

N amostral 8 3 3 7 8 10 35 18 18 8 18 8 144

Redução do N
amostral 6 0 0 0 2 5 1 1 1 2 1 4 23

Metodologia 11 4 4 9 12 16 27 26 22 14 27 12 184

Acomodação e
manutenção 2 4 4 1 6 4 6 13 22 7 7 1 77

Manipulação 1 4 3 0 0 1 0 0 0 0 5 0 14

Analgesia 0 0 0 2 2 4 3 8 12 6 6 6 43

Anestesia 3 2 2 6 8 5 11 11 12 11 18 4 77

Pontos finais
humanitários 2 0 0 2 1 0 0 14 22 9 20 8 81

Eutanásia 5 6 7 8 8 11 30 11 27 11 17 8 149
Fontes: dados da autora (2022).

Tabela 10 – Frequência de observações relacionadas à seção “informações relativas


aos animais” em pareceres “não aprovados” por ano
Itens
2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 TOTAL
analisados

Grau de
invasividade 0 0 0 0 1 2 0 1 0 0 0 0 4

N amostral 4 0 0 0 2 2 0 4 0 0 0 0 12

Redução do N
amostral 1 0 0 0 1 1 0 0 0 0 0 0 3

Metodologia 5 0 0 0 2 2 0 2 0 1 0 0 12

Acomodação e
manutenção 3 0 0 0 2 2 0 3 0 0 0 0 10

Manipulação 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1

Analgesia 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

Anestesia 0 0 0 0 0 1 0 0 0 1 0 0 2
84

Pontos finais
humanitários 0 0 0 0 0 1 0 1 0 0 0 0 2

Eutanásia 1 0 0 0 1 1 0 2 0 0 0 0 5
Fonte: dados da autora (2022).

Os pareceres favoráveis à aprovação imediata, mas que continham


recomendações, apresentaram a “eutanásia” como o item com mais menções (76),
seguido da “metodologia” (47) e “N amostral” (38). Os registros feitos nesses
pareceres são semelhantes aos apresentados nos pareceres não favoráveis à
aprovação em primeira análise.
Nos pareceres que apresentaram “pendências” (Tabela 9), a “metodologia” foi
o termo com mais menções feitas nesses documentos (184). A “eutanásia” aparece
em segundo lugar como o item mais comentado (mencionado 149 vezes). Em
seguida, a justificativa do “N amostral” é o item mais citado, com 144 menções.
No caso dos 18 pareceres “não aprovados” (Tabela 10), a “metodologia” e o
“N amostral” foram os itens com mais menções (12 cada), seguido da “acomodação
e manutenção” (10). Em 2014, um parecer com resultado “não aprovado” continha
apenas uma observação, a de que não havia relação entre o projeto e o protocolo no
uso de animais.
Em relação ao “N amostral”, um dos itens mais mencionados nesses
pareceres, as observações relacionam-se a esclarecer ou justificar estatisticamente
o número de animais a ser utilizado. Em alguns pareceres em que o campo do “N
amostral” foi apontado como inadequado, na verdade referia-se a uma
incongruência entre a apresentada no formulário e no projeto, sendo solicitada uma
definição exata do número de animais. A “redução do N amostral” foi questionada
em 23 pareceres “com pendência”, em 12 pareceres “não aprovados” e em 9
pareceres “aprovados com recomendação”.
Quanto aos questionamentos feitos no item “metodologia”, as observações,
em geral, são dúvidas referentes aos procedimentos realizados nos animais, como
técnicas cirúrgicas, doses de fármacos (que não anestésicos e analgésicos),
extração de material biológico, necessidade de jejum prolongado em ratos, etc. Em
alguns pareceres, o entendimento do parecerista para “substituição da metodologia”
relaciona-se à impossibilidade de uso de métodos alternativos (“Os pesquisadores
relatam que não há métodos alternativos à utilização de animais”), tendo sido
marcado como adequado. Já as dúvidas referentes à eutanásia relacionam-se às
85

dosagens inadequadas do fármaco e necessidade de esclarecimento quanto ao


método escolhido pelo pesquisador.

A Tabela 11 apresenta outros temas registrados nos pareceres “aprovados


com recomendação”, “com pendências” e “não aprovados”.

Tabela 11 – Outras observações relacionadas à seção “informações relativas aos


animais” nos pareceres “aprovados com recomendação”, “com pendências” e “não
aprovados”
Aprovados Com Não
Observações registradas Total
Recomendação Pendências Aprovado
Delineamento 9 58 9 76
Origem / manutenção dos animais
(informações sobre biotérios, empresas
15 55 2 72
de vendas dos animais, responsável
técnico)
Falta de documentos (programa da
disciplina, questionários, termo de 22 18 4 44
consentimento, programa disciplina)
Apresentação inadequada dos
documentos (formatação, erros
10 24 5 39
gramaticais, ausência de informações,
texto confuso)
Incongruência entre projeto e formulário 9 24 4 37
destino dos animais que não serão
8 26 0 34
eutansaidos
Informações sobre os colaboradores 3 23 5 31
Informações sobre animais 8 13 1 22
justificativa para determinada espécie 1 16 2 19
Biossegurança 5 12 0 17
Licenças 4 10 0 14
Enriquecimento ambiental 0 2 1 3
Fonte: dados da autora (2022).

Os principais motivos para não aprovação imediata dos protocolos


submetidos à CEUA-UFRN assemelham-se aos dados fornecidos pelas CEUAs
participantes de um workshop, realizado em 2013: os representantes das comissões
apontaram a determinação estatística do tamanho da amostra (43%), cronograma
de execução (18%), protocolo de analgesia (24,8%), protocolo de anestesia (23) e
outros motivos, tais como manuseio e manutenção dos animais, justificativa e erro
86

no preenchimento do formulário como principais motivos para rejeição da proposta


(FISCHER et al, 2014a). Já no levantamento feito por Fischer et al (2014b) dos
dados da CEUA da PUCRS entre 2004 e 2013, as razões para não aprovação
imediata do protocolo estão relacionadas principalmente às informações
incompletas, sendo as mais significativas às incongruências entre o projeto e o
formulário de submissão, seguidas pelo protocolo de fármacos.
Por fim, como demonstrado ao longo deste capítulo, boa parte das
recomendações de alguns protocolos aprovados em primeira análise assemelha-se
aos questionamentos feitos em pareceres desfavoráveis à aprovação, demonstrando
uma falta de padronização nas tomadas de decisão ou de entendimento, por parte
da comissão, sobre a diferença entre “recomendações” e “pendências”. Abaixo,
segue um exemplo do que foi exposto:
APROVADO COM RECOMENDAÇÃO: O projeto de pesquisa em questão, ora
avaliado pela CEUA é de relevante importância na elucidação de questões que
estão relacionadas às complicações da Diabetes mellitus, bem como na busca de
respostas relacionadas ao mecanismo de ação da pioglitazona no tratamento da
doença. Contudo, algumas questões precisam ser explicitadas no projeto e
aperfeiçoadas em sua metodologia, quais sejam:
1) número de camundongos que serão utilizados,
2) ausência de justificativa no corpo do projeto,
3) método de eutanásia sugerido e via de administração e
4) concentração da droga.
Reenviar documentos com os ajustes necessários.

No exemplo acima, é informado que o pesquisador não demonstrou a


justificativa da proposta, tópico de importância ética e que, por si só, bastaria para
não ser aprovado. Em tese, uma proposta aprovada com recomendação pode ser
iniciada, contanto que as recomendações não envolvam questões éticas, o que não
aconteceu nesse caso.

5.3 Proposta de intervenção

A partir dos resultados obtidos neste estudo, foi proposta a revisão do modelo
de parecer adotado pela CEUA-UFRN, a fim de contemplar avaliação ética de todos
os itens exigidos no Formulário Unificado elaborado pelo CONCEA e seguindo a
Diretriz Brasileira para o Cuidado e a Utilização de Animais em Atividades de Ensino
ou de Pesquisa Científica, definindo com precisão o que não está em conformidade
87

com os princípios éticos e legais. Acredita-se que este novo modelo contribuirá para
melhoria do processo de revisão ética, facilitando a análise das propostas pelos
membros da comissão e entendimento por parte do pesquisador sobre os
questionamentos feitos pela CEUA-UFRN.
Para elaboração no novo modelo do parecer foi necessária uma revisão dos
Formulários Unificados para ensino e pesquisa elaborados pelo CONCEA, assim
como da Diretriz Brasileira para o Cuidado e a Utilização de Animais em Atividades
de Ensino ou de Pesquisa Científica. O termo “inadequado” foi substituído por
“comentários”, pois nem sempre as observações feitas nos pareceres apontavam
para um procedimento inapropriado, mas a solicitações de esclarecimentos. A
sugestão é que este instrumento seja aprimorado à medida que a legislação se
atualiza a partir de novos questionamentos éticos que surgem ao longo do tempo.
Esse novo modelo foi construído conforme as seguintes sessões:
a) A primeira seção permanece como apresentada atualmente, contendo
informações acerca da identificação da proposta (número do protocolo, nome do
responsável, título, resumo, objetivos e se de ensino ou pesquisa).

1) INFORMAÇÕES SOBRE O PROTOCOLO Nº _______


Pesquisador responsável:
Título:
Resumo do projeto:
Objetivos
Finalidade do projeto: ensino pesquisa

b) A segunda seção, antes apresentada como “Itens metodológicos e éticos”, foi


transformada em DESCRIÇÃO DO PROJETO. Foi acrescentada a esta seção o item
“linguagem” (se o texto é claro, bem redigido e compreensível). Além disso, a
“justificativa” foi substituída por “relevância”, como descrito no formulário, em que o
pesquisador deve demonstrar o impacto para o avanço científico, saúde humana e
animal, além dos potenciais benefícios.
88

2) DESCRIÇÃO DO PROJETO:
Linguagem Adequada Comentários
Introdução Adequada Comentários
Relevância/Originalidade Adequada Comentários
Objetivos Adequados Comentários
Cronograma Adequado Comentários
Orçamento e fonte financiadora Adequada Comentários
Referências bibliográficas Adequada Comentários

c) Na terceira seção, denominada UTILIZAÇÃO DOS ANIMAIS, deve ser observado


se o pesquisador justifica o uso de animais (a real necessidade do uso de animais, o
"estado da arte", ou seja, se projetos similares já foram realizados ou não), se os
objetivos do projeto podem ser alcançados por meio de métodos alternativos e se a
justifica a espécie escolhida com base científica. e para o número de animais. Foi
acrescentado ainda o item “delineamento amostral”, pelo fato de ter sido
mencionado consideravelmente nos pareceres analisados (registrado nos campos
de “redução amostral” ou “metodologia”), além de ser exigido no Formulário
Unificado.

3) UTILIZAÇÃO DOS ANIMAIS


Espécie: Machos
Total:
Linhagem: Fêmeas

Justificativa para o uso de animais/ Adequado Comentários


Métodos alternativos
Justificativa para escolha da espécie Adequado Comentários
Justificativa para o número de animais Adequado Comentários
Delineamento amostral Adequado Comentários
Necessidade de redução amostral? Sim Não

d) a quarta seção concentra com detalhes as questões de manejo, alojamento e


alimentação, antes apresentado apenas como “Acomodação e Manutenção”. Os
itens acrescentados a esse novo modelo de parecer devem ser apropriados à
espécie escolhida e, preferencialmente, promover o bem-estar dos animais.

4) CONDIÇÕES DE MANEJO, ALIMENTAÇÃO E ALOJAMENTO E DOS ANIMAIS


Disponibilidade de água e ração Adequada Comentários
Tipo de ração Adequada Comentários
89

Fonte de água Adequada Comentários


Enriquecimento ambiental Adequada Comentários
Temperatura, Umidade/exaustão do ar/Ciclo claro escuro Adequada Comentários
Alojamento (gaiola, jaula, baia, etc) Adequada Comentários
Lotação (animais/área) Adequada Comentários
Tipo de cama Adequada Comentários

e) A quinta seção são observações referentes aos procedimentos experimentais,


como “capacitação/experiência da equipe” (quem é autorizado e se tem qualificação
para desempenhar procedimentos específicos nos animais), “monitoramento
pós-operatório” (se o pesquisador informa como o impacto ao bem-estar dos animais
será monitorado, avaliado, quantificado e controlado). A conformidade do estudo
proposto com esses itens é uma forma de promover o princípio do Refinamento.

5) PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS
Grau de invasividade: _______ Adequado Comentários
Capacitação/experiência da equipe Adequado Comentários
Metodologia Adequado Comentários
Manipulação dos animais Adequado Comentários
Anestesia Adequado Comentários
Analgesia Adequado Comentários
Monitoramento pós-operatório Adequado Comentários
Eutanásia Adequado Comentários
Pontos Finais Humanitários Adequado Comentários
Minimização do impacto ao bem-estar Adequado Comentários
dos animais

f) por fim, o item relacionado à compatibilidade com a legislação foi transferido para
o final do documento, pois apenas após observar todos os itens é que torna-se
possível afirmar se a proposta está ou não em conformidade com a lei. A esse item
foi acrescentado também a compatibilidade com o Princípio dos 3 Rs.

O projeto desta pesquisa está adequado Adequado Comentários


ao Princípio dos 3Rs e à legislação vigente?
90

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo teve como objetivo geral diagnosticar o processo de análise ética
e legal da CEUA na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, através da
compreensão do processo de submissão e avaliação das propostas de ensino e
pesquisa submetidas e da identificação de inconsistências nos protocolos e no
processo de revisão ética, propondo, ao final, a revisão do modelo de parecer
adotado pela CEUA-UFRN, a fim de contemplar itens exigidos no Formulário
Unificado elaborado pelo CONCEA e seguindo a Diretriz Brasileira para o Cuidado e
a Utilização de Animais em Atividades de Ensino ou de Pesquisa Científica.
Os resultados obtidos a partir dos objetivos específicos indicaram que os
roedores, criados em laboratório, como ratos e camundongos, são as espécies mais
utilizadas para pesquisa na UFRN. Quanto às inconsistências apresentadas nos
protocolos de ensino e pesquisa submetidos, os itens “cronograma”, “metodologia” e
“N amostral” foram os itens mais mencionados nos pareceres que demandaram
ajustes para que os protocolos pudessem ser aprovados. Identificou-se ainda que
houve poucos protocolos de ensino submetidos à comissão.
Apesar de a maioria dos protocolos ter sido aprovada, dos 723 protocolos
considerados nesta pesquisa, 44,1% ficaram com pendências e 2,48% não foram
aprovados em primeira análise. Ou seja, quase metade deles apresentaram
inconsistências. O número aumentaria consideravelmente se fossem consideradas
as orientações nos protocolos aprovados com recomendação (28,4%), de natureza
semelhante às encontradas nos pareceres desfavoráveis à aprovação imediata.
Dessa forma, apenas 23,82% dos protocolos foram aprovados na íntegra em
primeira análise, número que foi caindo ao longo dos anos. Esse dado aponta para a
necessidade de incentivar atividades educativas, desenvolvidas pela CEUA e pela
instituição, junto a pesquisadores e seus colaboradores, visando sensibilizá-los
quanto à importância de se conhecer a legislação e incorporar padrões éticos nas
propostas de ensino e pesquisa com animais.
Detectou-se ainda uma fragilidade na forma como o parecer consubstanciado
está apresentado, com ausência de itens que estão no Formulário Unificado, e como
é preenchido pela Comissão, com inconsistências na padronização de decisões. As
causas dessas lacunas podem estar relacionadas às mudanças de gestão, que
ocorrem a cada 2 anos, geralmente com renovação da maior parte dos membros.
91

O modelo do parecer utilizado pela CEUA-UFRN apresenta-se como um


check-list, em que são listados os principais requisitos a serem analisados em uma
proposta de ensino ou pesquisa com uso de animais para aprovação. As
informações são apresentadas de forma ordenada e sistemática. No entanto,
durante a coleta dos dados, as observações registradas nos pareceres por vezes
eram apontadas em mais de um campo ou os campos marcados como “adequados”,
com os questionamentos e orientações de ajustes feitos ao final do parecer, em
“comentários gerais”, o que pode prejudicar o entendimento eficiente, por parte do
pesquisador, das informações e pendências elencadas no documento. Questões
relacionadas a “manejo” (temperatura, umidade, tipo de alimentação e fornecimento
de água, enriquecimento ambiental), por vezes eram descritas nos campos
“manipulação”, “acomodação e manutenção dos animais” e/ou "aprimoramento da
metodologia”, dificultando o trabalho da pesquisadora no momento da
categorização dos dados.
Quanto à padronização das decisões, além da semelhança das
recomendações feitas em alguns pareceres favoráveis à aprovação imediata com as
observações registradas nos pareceres desfavoráveis à aprovação, mais dois
pontos merecem atenção: o primeiro é que alguns pareceres que indicaram
“pendências” e a “não aprovação” em primeira análise consideraram os protocolos
“adequados à legislação”; e o segundo refere-se a alguns itens marcados como
“inadequados”, quando na verdade foi questionado se procedimento “x” era a melhor
opção, não sendo necessariamente inadequado
A existência de métodos alternativos, capacitação da equipe, assim como
relevância e justificativa do uso de animais foram pouco citados. Estas informações
parecem sugerir que os pesquisadores justificaram de forma adequada esses pontos
ou deixaram de ser registrados por não estarem expressos no modelo do parecer.
Como medida para mitigar, a curto prazo, as fragilidades detectadas,
apresentou-se uma proposta de novo modelo de parecer consubstanciado a ser
adotado pela CEUA-UFRN, mais abrangente, e incluindo, de forma expressa,
tópicos presentes no Formulário Unificado, baseados nas orientações da Diretriz
Brasileira para o Cuidado e a Utilização de Animais em Atividades de Ensino ou de
Pesquisa Científica, como a capacitação dos colaboradores e delineamento
experimental.
92

Acredita-se que este novo modelo de parecer será benéfico para todos os
envolvidos, dentre eles, o pesquisador e os membros da CEUA-UFRN, pois
apresentará de forma mais clara e objetiva os pontos a serem ajustados, se for o
caso; e, especialmente para os animais, pois tópicos de teor ético, como a
justificativa do seu uso (métodos alternativos), relevância (os benefícios que a
pesquisa trará e o impacto sobre os animais) e a minimização dos impactos causado
ao seu bem-estar, estando expressos no parecer, trazem indicativos de que a
CEUA-UFRN e os pesquisadores estão atentos a esses pontos. Vale ressaltar que
as Comissões de Ética em Pesquisa com humanos registram nos pareceres sua
avaliação quanto aos riscos e benefícios da proposta (relevância), além dos
procedimentos para minimização desses riscos.
Ao longo dos anos, observou-se que o número de propostas aprovadas em
primeira análise caiu consideravelmente a partir de 2015, podendo-se inferir que a
comissão tem se tornado mais exigente nas revisões éticas das propostas de ensino
e pesquisa. Além disso, a CEUA-UFRN exige que um médico veterinário revise as
propostas de ensino e pesquisa antes de serem submetidas à comissão, decisão
que visa garantir que os procedimentos a serem realizados nos animais, como
anestesia e cuidados pós-operatórios, são realizados de maneira ética e seguindo o
estabelecido pela legislação.
Outro dado importante refere-se às propostas de pesquisa submetidas que
não envolviam animais vivos: 5% do total utilizaram dados de outras pesquisas,
animais invertebrados (caranguejos e borboletas) e material não senciente, como
animais mortos encontrados nas praias, material biológico adquirido de outros
projetos aprovados pela CEUA e partes de animais obtidos de abatedouros, por
exemplo. Esses casos não são contemplados pela Lei Arouca e, por isso, não
necessitam de revisão ética. No entanto, a CEUA-UFRN emite uma declaração, para
quem desejar, afirmando que esses casos não são contemplados pela lei.
Constata-se, dessa forma, que a substituição absoluta de animais em pesquisa
ainda é tímida na instituição.
Pode-se concluir que a CEUA-UFRN se esforça para garantir o cumprimento
da legislação quanto ao uso de animais no ensino e na pesquisa na UFRN, tendo
se tornado, com o tempo, mais rígida em favorecer a aprovação imediata dos
protocolos. É possível observar que os princípios da redução e do refinamento têm
sido cobrados, como identificado ao longo da terceira seção dos pareceres. Apesar
93

de questionamentos sobre a existência de métodos alternativos para as


metodologias propostas terem sido pouco registrados, não é possível afirmar que o
princípio da substituição não está sendo atendido.
Mesmo com a proposição do novo modelo de parecer, os dados demonstram
que existem outros desafios a serem superados. É importante que a instituição
valorize os membros da CEUA, que participam voluntariamente da comissão,
incentive e financie treinamentos e formação continuada, principalmente para
aqueles que ingressarem pela primeira vez na comissão, para conhecimento da
legislação e discussão dos diversos aspectos éticos das pesquisas científicas,
tornando possível uma melhor apreciação dos protocolos.

6.1 Limitações da pesquisa

Este estudo restringiu-se à análise dos pareceres não favoráveis à aprovação


imediata das propostas, não sendo possível avaliar o retorno dos pesquisadores e
se as orientações, no caso das propostas com pendências, foram acatadas e se
contribuíram efetivamente para melhorar a qualidade das propostas. Por fim,
optou-se por não fazer entrevistas com pesquisadores e membros da CEUA-UFRN
devido ao tempo exíguo para preparação das mesmas.

6.2 Sugestões para estudos futuros

Propõe-se a continuidade dos estudos sobre a atuação e funcionamento da


CEUA-UFRN para melhor compreensão de um trabalho que tem grande significado
para a sociedade, como, por exemplo, a percepção dos membros da CEUA e dos
pesquisadores e demais usuários em relação ao papel da comissão, bem como a
comunicação entre comissão e pesquisadores.
Escutar os pesquisadores sobre sua percepção sobre o papel da CEUA
permitiria saber se as mudanças feitas como resultado de solicitações de mais
informações contribuem para melhorar a qualidade da pesquisa ou promover
bem-estar dos animais. Ouvir os membros da comissão possibilitaria melhorar o
processo de revisão dos protocolos de ensino e pesquisa, pois seria possível
conhecer as dificuldades enfrentadas e então se pensar soluções.
94

O acesso às reuniões e às atas, desde que preservada a identidade dos


participantes, seria interessante para conhecimento das práticas avaliativas e
tomadas de decisão da comissão.
95

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https://www2.ufjf.br/ceua/apresentacao/historico-da-criacao-da-ceua/ Acesso em: 20
set. 2021.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ - UFPR. Comissão de ética no Uso de


Animais: A Comissão. [s.d.]. Disponível em:
https://www2.ufjf.br/ceua/apresentacao/historico-da-criacao-da-ceua/ Acesso em: 20
set. 2021.

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Sci. n. 31, p. 251–267, 2004.

YIN, Robert K. Estudo de caso: planejamento e métodos. Trad. Daniel Grassi. 2.


ed. Porto Alegre: Bookman, 2001.

ZOTZ, Rafael; FISCHER, Marta. Ética em Pesquisa: Experimentação Animal.


Curitiba: PUCPRESS, 2018.

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Disponível em: https://ehp.niehs.nih.gov/doi/10.1289/ehp.96104878. Acesso em: 30
jul. 2022.
105

ANEXO I - Modelo do Formulário Unificado para Solicitação de Autorização para


Uso de Animais em Experimentação e/ou Ensino elaborado pelo CONCEA

USO EXCLUSIVO DA COMISSÃO


PROTOCOLO No
RECEBIDO EM: ____/____/______

FORMULÁRIO UNIFICADO PARA SOLICITAÇÃO DE AUTORIZAÇÃO PARA USO DE


ANIMAIS EM EXPERIMENTAÇÃO E/OU ENSINO

LEIA ANTES DE PREENCHER:

1. Projetos já realizados ou iniciados não podem ser avaliados pela CEUA (Lei 11.794/2008).
2. Informações não compa veis com os dados apresentados no projeto implicam na devolução
automá ca deste formulário.
3. Complete com “N/A” todos os campos que não se apliquem a pesquisa em questão.
4. Leia com atenção a todas as observações e as orientações referentes a cada item do formulário,
elas contribuem muito para a celeridade do processo de avaliação e emissão do parecer.
5. Todos os documentos de apoio ao preenchimento desse formulário podem ser encontrados em
http://www.ceua.propesq.ufrn.br/documento.php?id=163974471.
6. Em caso de dúvida durante o preenchimento deste documento, consulte o formulário explica vo:
http://www.sistemas.ufrn.br/shared/verArquivo?idArquivo=2808233&key=80a593b172d272cb8cbca
00782363f76
7. Após preencher este formulário, por favor, verifique se todos os dados per nentes ao estudo
foram preenchidos e se estão corretos.
8. Este formulário foi aprovado pelo CONCEA (Conselho Nacional de Controle de Experimentação
Animal) por meio da Resolução Norma va nº 04 de 19 de abril de 2012.

1.FINALIDADE
Ensino Início
Pesquisa Término
Treinamento

2. TÍTULO DO PROJETO/AULA PRÁTICA/TREINAMENTO


Em Português:

Em Inglês:
106

Área do conhecimento:

Lista das áreas do conhecimento disponível em: h p://www.cnpq.br/areasconhecimento/index.htm .

3. RESPONSÁVEL
Nome completo
Ins tuição
Unidade/Centro/Ins tuto/Núcleo
Departamento
Telefone
E-mail
Currículo La es (link)
Currículo La es: h p://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/busca.do?metodo=apresentar

Vínculo com a Ins tuição:


Docente/Pesquisador
Técnico de Nível Superior
Jovem pesquisador/Pesquisador visitante
Outro Qual?

Experiência Prévia com a metodologia empregada:


Não
Sim
Quanto tempo?

4. COLABORADORES
Nome completo
Ins tuição
Nível acadêmico
Função no projeto
Experiência prévia na função
(meses/anos)
Treinamento
(especificar; anexar cer ficados, outros)
Telefone
E-mail
Currículo La es
U lize esta tabela para o preenchimento de um colaborador.
COPIE, COLE E PREENCHA A TABELA, QUANTAS VEZES FOREM NECESSÁRIAS, ATÉ QUE TODOS OS COLABORADORES SEJAM
CONTEMPLADOS.
Currículo La es: h p://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/busca.do?metodo=apresentar

5. RESUMO DO PROJETO/AULA (até 300 palavras)

6. OBJETIVOS (Gerais e Específicos)


107

7. JUSTIFICATIVA PARA UTILIZAÇÃO DE ANIMAIS


O responsável deve jus ficar se há métodos alterna vos ao uso de animais no protocolo em questão. Essa jus fica va deve
ser embasada dentro do Princípio dos 3 R’s. Para maiores detalhes, acesse:
h p://www.ceua.propesq.ufrn.br/documento.php?id=163974471 (Anexos 1 e 2)

8. RELEVÂNCIA DO PROJETO
Explicar abaixo a importância e necessidade do estudo, sua originalidade. Caso seja replicação de estudo anterior, jus ficar.

9. MODELO ANIMAL
Espécie (nome popular, se houver):

Jus ficar abaixo o uso dessa espécie animal:

9.1. PROCEDÊNCIA
O não preenchimento deste item implicará na NÃO AVALIÇÃO do projeto. (RESOLUÇÃO NORMATIVA Nº 6, DE 10 DE JULHO DE 2012)

Quem fornecerá os animais?


Biotério de criação, fazenda,
aviário, etc.
Responsável Técnico e nº CRMV
E-mail

Onde os animais ficarão alojados durante a fase experimental?


Biotério, fazenda, aviário, etc.
Responsável Técnico e nº CRMV
E-mail

9.2. TIPO E CARACTERÍSTICA


Quan dade
Espécie Linhagem Idade Peso aprox.
M F Total

Animais u lizados em estudos pilotos também devem ser incluídos no número no número total.

Caso o projeto envolva animais transgênicos, responda o quadro abaixo:

O animal é gene camente modificado? Em caso afirma vo, assinale o po de OGM que será u lizado e a
respec va nomenclatura. Completar com NA os itens não aplicáveis
Transgênico
Knockout
Nomenclatura (completa):
Para auxiliar na busca do nome oficial do animal transgênico, acesse os catálogos h p://www.informa cs.jax.org/ (para
camundongos) e h p://rgd.mcw.edu/ (para ratos).
Ins tuição de origem do transgênico:
Projetos que envolvem Organismos Gene camente Modificados devem ser subme dos a CIBio (Comissão
Interna de Biossegurança). O presente projeto já foi subme do à CIBio-UFRN?
108

Não
Sim
Número de protocolo CIBio (se
houver):

Caso o projeto envolva animais silvestres, responda o quadro abaixo:

Alguns projetos que envolvem Animais Silvestres devem ser autorizados pelo SISBIO (Sistema de
Autorização e Informação em Biodiversidade). O presente projeto já foi subme do ao SISBIO?
Não
Sim
Número de protocolo SISBIO (se aplicável):
Para saber quais são os casos que necessitam autorização do SISBIO, acesse:
h p://www.ceua.propesq.ufrn.br/documento.php?id=163974471 (Anexo 3)

9.3. MÉTODOS DE CAPTURA (No caso de animais silvestres, quando aplicável)

9.4. JUSTIFICATIVA DO NÚMERO DE ANIMAIS


1. O número de animais deve ser esta s camente jus ficado (análise de poder).
2. Quando a jus fica va esta s ca não for possível, explique brevemente porque a mesma não é possível e baseie sua
jus fica va em pesquisas prévias através de citações de trabalhos recentes já publicados em revistas indexadas.
Jus fica vas que não atendam os itens acima resultarão na não aprovação automá ca do processo. Para maiores detalhes
consultar h p://www.ceua.propesq.ufrn.br/documento.php?id=163974471 (Anexo 4)

9.5. DELINEAMENTO EXPERIMENTAL


Cole no quadro abaixo seu desenho experimental (tabela/organograma/fluxograma) ou descreva claramente os grupos
(com o número de animais que serão u lizados em cada grupo).
Exemplos: h p://www.ceua.propesq.ufrn.br/documento.php?id=163974471 (Anexo 5)

9.6. GRAU DE INVASIVIDADE*: _____ (1, 2, 3 ou 4)


Consultar h p://www.ceua.propesq.ufrn.br/documento.php?id=163974471 (Anexo 6).

9.7. CONDIÇÕES DE ALOJAMENTO E ALIMENTAÇÃO DOS ANIMAIS


Comentar obrigatoriamente todos os itens e as demais condições que forem par culares à espécie.
Alimentação:

Fonte de água:

Tipo de alojamento (gaiola, jaula, baia, galpão) e dimensões:


Consultar h p://www.ceua.propesq.ufrn.br/documento.php?id=163974471 (Anexo 7).

Número de animais por área:

Exaustão de ar:
109

Tipo de cama (maravalha, estrado ou outro):

10. PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS DO PROJETO/AULA


10.1. ESTRESSE/DOR INTENCIONAL NOS ANIMAIS
Não
Sim Curta duração
Longa duração
Se SIM, jusi fique:
Estresse
Dor
Outros

10.2. USO DE FÁRMACOS ANESTÉSICOS


Sim
Não

Em caso de NÃO USO, jus fique:

Fármaco
Dose (UI ou mg/kg)
Via de administração
U lize esta tabela para o preenchimento de um fármaco. Copie, cole e preencha a tabela, quantas vezes forem necessárias,
até que todos os fármacos sejam contemplados.
No campo “fármaco”, deve-se informar o(s) nome(s) do(s) princípio(s) a vo(s) com suas respec vas Denominação Comum
Brasileira (DCB) ou Denominação Comum Internacional (DCI).
Disponível em: h p://www.anvisa.gov.br/medicamentos/dcb/lista_dcb_2007.pdf.
As doses anestésicas de alguns fármacos estão disponíveis em:
h p://www.ceua.propesq.ufrn.br/documento.php?id=163974471 (Anexo 8).

10.3. USO DE RELAXANTE MUSCULAR


Sim
Não
Segundo a Lei Arouca (11.794/2008) é vedado o uso de bloqueadores neuromusculares ou de relaxantes musculares em
subs tuição a substâncias seda vas, analgésicas ou anestésicas.
Em caso de USO, jus fique:

Fármaco
Dose (UI ou mg/kg)
Via de administração
U lize esta tabela para o preenchimento de um fármaco. Copie, cole e preencha a tabela, quantas vezes forem necessárias,
até que todos os fármacos sejam contemplados.
No campo “fármaco”, deve-se informar o(s) nome(s) do(s) princípio(s) a vo(s) com suas respec vas Denominação Comum
Brasileira (DCB) ou Denominação Comum Internacional (DCI).
Disponível em: h p://www.anvisa.gov.br/medicamentos/dcb/lista_dcb_2007.pdf.

10.4. USO DE FÁRMACOS ANALGÉSICOS


110

Sim
Não

Em caso de NÃO USO, jus fique:

Fármaco
Dose (UI ou mg/kg)
Via de administração
Frequência
U lize esta tabela para o preenchimento de um fármaco. Copie, cole e preencha a tabela, quantas vezes forem necessárias,
até que todos os fármacos sejam contemplados.
No campo “fármaco”, deve-se informar o(s) nome(s) do(s) princípio(s) a vo(s) com suas respec vas Denominação Comum
Brasileira (DCB) ou Denominação Comum Internacional (DCI).
As doses analgésicas de alguns fármacos estão disponíveis em:
h p://www.ceua.propesq.ufrn.br/documento.php?id=163974471 (Anexo 8).

10.5. IMOBILIZAÇÃO DO ANIMAL


Sim
Não

Em caso de POSITIVO, jus fique:

10.6. CONDIÇÕES ALIMENTARES


JEJUM:
Sim
Não
Duração em horas
Os roedores possuem uma série de caracterís cas anatômicas e fisiológicas que impedem que estes vomitem. Devido a essa
peculiaridade, o jejum pré-cirúrgico nesses animais é altamente dispensável, salvo em procedimentos que necessitem de
redução no volume gastrointes nal.

RESTRIÇÃO HÍDRICA:
Sim
Não
Duração em horas

10.7. CIRURGIA
Não
Sim Única
Dupla

Qual(is) ?

No mesmo ato cirúrgico ou em atos diferentes?

10.8. PÓS-OPERATÓRIO
10.8.1. OBSERVAÇÃO DA RECUPERAÇÃO
111

Sim
Não
Período de observação (em horas):

10.8.2. USO DE ANALGESIA DURANTE O PÓS-OPERATÓRIO


Sim
Não

Em caso de NÃO USO, jus fique:

Fármaco
Dose (UI ou mg/kg)
Via de administração
Frequência
Duração
U lize esta tabela para o preenchimento de um fármaco. Copie, cole e preencha a tabela, quantas vezes forem necessárias,
até que todos os fármacos sejam contemplados.
No campo “fármaco”, deve-se informar o(s) nome(s) do(s) princípio(s) a vo(s) com suas respec vas Denominação Comum
Brasileira (DCB) ou Denominação Comum Internacional (DCI).
As doses analgésicas de alguns fármacos estão disponíveis em:
h p://www.ceua.propesq.ufrn.br/documento.php?id=163974471 (Anexo 8).

10.8.3. OUTROS CUIDADOS PÓS-OPERATÓRIOS


Sim
Não

Descrição:

10.9. EXPOSIÇÃO / INOCULAÇÃO / ADMINISTRAÇÃO


Sim
Não

Fármaco
Dose (UI ou mg/kg)
Via de administração
Frequência
No campo “fármaco”, deve-se informar o(s) nome(s) do(s) princípio(s) a vo(s) com suas respec vas Denominação Comum
Brasileira (DCB) ou Denominação Comum Internacional (DCI).

11. EXTRAÇÃO DE MATERIAIS BIOLÓGICOS


Sim
Não

Material biológico
Quan dade da amostra
Frequência
112

Método de coleta
U lize esta tabela para o preenchimento de um material biológico. Copie, cole e preencha a tabela, quantas vezes forem
necessárias, até que todos os materiais sejam contemplados.

Os materiais biológicos destes exemplares serão usados em outros projetos? Quais? Se já aprovado
pela CEUA, mencionar o número do protocolo.

12. FINALIZAÇÃO
12.1. PONTOS FINAIS HUMANITÁRIOS
O ponto final experimental de um estudo ocorre quando as metas e os obje vos cien ficos forem
alcançados. Por outro lado, o ponto final humanitário é o ponto no qual a dor ou a aflição de um
animal experimental é prevenida, eliminada ou aliviada.
Descreva quais serão os pontos finais humanitários que serão adotados em sua pesquisa e em quais
situações:

12.2. MÉTODO DE EUTANÁSIA


Sim
Não

Para consultar os métodos legalmente aceitáveis: h p://www.ceua.propesq.ufrn.br/documento.php?id=163974471 (Anexo


9)
Descrição
Substância, dose, via

Caso o método seja aceito com restrição, jus fique:

12.3. DESTINO DOS ANIMAIS APÓS O EXPERIMENTO (Caso os animais não sejam eutanasiados)

12.4. FORMA DE DESCARTE DA CARCAÇA

13. REFERÊNCIAS
Coloque aqui as referências que foram citadas no decorrer do preenchimento do formulário.

14. OBSERVAÇÕES COMPLEMENTARES


U lize o espaço abaixo para fazer observações que não foram contempladas nesse formulário,
apontar dificuldades, dúvidas e dar sugestões.
113

ATENÇÃO: PREENCHER E ASSINAR O TERMO DE RESPONSABILIDADE ABAIXO

15. TERMO DE RESPONSABILIDADE


(LEIA CUIDADOSAMENTE ANTES DE ASSINAR)

Eu, ________________________________________ (nome do responsável), cer fico que:


li os “Princípios É cos da Experimentação Animal”, bem como o disposto na Lei Federal 11.794, de 8
de outubro de 2008, e as demais normas aplicáveis à u lização de animais para o ensino e pesquisa,
especialmente as resoluções do Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal –
CONCEA;
este estudo não é desnecessariamente duplica vo, tem mérito cien fico e que a equipe par cipante
deste projeto/aula foi treinada e é competente para executar os procedimentos descritos neste
protocolo;
não existe método subs tu vo que possa ser u lizado como uma alterna va ao projeto.

Assinatura: ___________________________________

Data: _____ /_____ /_____


Quando cabível, anexar o termo de consen mento livre e esclarecido do proprietário ou responsável
pelo animal.

16. RESOLUÇÃO DA COMISSÃO

A Comissão de É ca No Uso de Animais, na sua reunião de _____/____/____, emi u o parecer em


anexo e retorna o Protocolo para sua revisão.

Assinatura: ___________________________________

Coordenador(a) da Comissão

A Comissão de É ca No Uso de Animais, na sua reunião de _____/____/____, emi u o parecer em


anexo e retorna o Protocolo para sua revisão.

Assinatura: ___________________________________

Coordenador(a) da Comissão

A Comissão de É ca no uso de animais, na sua reunião de _____ /_____ /_____ , APROVOU os


procedimentos é cos apresentados neste Protocolo.

Assinatura: ___________________________________

Coordenador(a) da Comissão
114

ANEXO II - Modelo atual de parecer consubstanciado utilizado pela CEUA-UFRN

PARECER CONSUBSTANCIADO DE PROJETO DE PESQUISA

1) PROTOCOLO Nº :

TÍTULO DO PROJETO:

PESQUISADOR RESPONSÁVEL:

2) DATA DA REUNIÃO

3) RESUMO DO PROJETO:

4) OBJETIVOS DO PROJETO:

5) FINALIDADE DO PROJETO: Ensino Pesquisa

6) ITENS METODOLÓGICOS E ÉTICOS:

Título Adequado Comentários

Objetivos Adequados Comentários

Introdução e Justificativa Adequadas Comentários

Cronograma para execução da pesquisa Adequado Comentários

Orçamento e fonte financiadora Adequados Comentários

Referências Bibliográficas Adequadas Comentários

7) O PROJETO DESTA PESQUISA ESTA


ADEQUADO À LEGISLAÇÃO VIGENTE? Adequado Comentários

8) INFORMAÇÕES RELATIVAS AOS ANIMAIS:


Grau de invasividade (1, 2, 3, 4):

Está em conformidade com a RN 49?


Observações:

Espécie: Número Amostral (M / F):


115

Necessita Redução Amostral? Sim Não


Se sim, justificativa:

Substituição de Metodologia: Sim Não


Se sim, justificativa:

Aprimoramento da Metodologia: Sim Não


Se sim, justificativa::

Acomodação e manutenção dos animais: Adequado Inadequado


Se inadequado, justificativa:

Manipulação dos animais: Adequado Inadequado


Se inadequado, justificativa::

Analgesia dos animais (se aplicável): Adequado Inadequado


Se inadequado, justificativa::

Anestesia dos animais (se aplicável): Adequado Inadequado


Se inadequado, justificativa::

Eutanásia dos animais (se aplicável): Adequado Inadequado


Se inadequado, justificativa::

Pontos Finais Humanitários: Adequado Inadequado


Se inadequado, justificativa:

9) PARECER:

Aprovado

Recomendações

Pendência

Não aprovado

Comentários gerais sobre o projeto:


116

APÊNDICE I - Proposta de novo modelo de parecer da CEUA-UFRN

PARECER CONSUBSTANCIADO DE PROJETO DE PESQUISA

1) INFORMAÇÕES SOBRE PROPOSTA DE ENSINO/PESQUISA

PROTOCOLO N.º Data da reunião:

PESQUISADOR RESPONSÁVEL:

TÍTULO DO PROJETO:

RESUMO DO PROJETO:

OBJETIVOS DO PROJETO:

FINALIDADE DO PROJETO: Ensino Pesquisa

2) DESCRIÇÃO DO PROJETO:

Linguagem Adequada Comentários

Título Adequado Comentários

Introdução Adequada Comentários

Relevância/Originalidade Adequadas Comentários

Objetivos Adequados Comentários

Cronograma para execução da pesquisa Adequado Comentários

Orçamento e fonte financiadora Adequados Comentários

Referências Bibliográficas Adequadas Comentários

3) UTILIZAÇÃO DOS ANIMAIS:


Espécie: Machos
Total:
Linhagem: Fêmeas

Justificativa para o uso de animais/Métodos Adequada Comentários


alternativos
117

Justificativa para escolha da espécie Adequada Comentários

Justificativa para o número de animais Adequada Comentários

Delineamento amostral Adequado Comentários

Necessidade de redução amostral? Sim Comentários

4) CONDIÇÕES DE MANEJO, ALIMENTAÇÃO E ALOJAMENTO DOS ANIMAIS


Disponibilidade de água e ração Adequada Comentários

Tipo de ração Adequada Comentários

Fonte de água Adequada Comentários

Enriquecimento ambiental Adequada Comentários

Temperatura, Umidade/exaustão do ar/Ciclo claro escuro Adequada Comentários

Alojamento (gaiola, jaula, baia, etc) Adequada Comentários

Lotação (animais/área) Adequada Comentários

Tipo de cama Adequada Comentários

5) PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS
Grau de invasividade: ________ Adequado Comentários

Capacitação/experiência da equipe Adequada Comentários

Metodologia Adequada Comentários

Manipulação dos animais Adequada Comentários

Anestesia Adequado Comentários

Analgesia Adequada Comentários

Monitoramento pós-operatório Adequada Comentários

Eutanásia Adequada Comentários

Pontos finais humanitários Adequada Comentários


118

6) O projeto desta pesquisa está adequado Adequado Comentários


ao Princípio dos 3Rs e à legislação vigente?

7) PARECER:

Aprovado
Aprovado com Recomendações
Pendência
Não aprovado

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