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AVALIAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSA REFORÇADA

COM TELAS
MECHANICAL EVALUATION OF REINFORCED MORTAR
WITH SCREENS

MUSSE, D. S. (1); CERQUEIRA, M. B. DOS S. (2); LIMA, O. S. (3); BRITO JR., J. A. (4);
GONÇALVES, J. P. (5); SILVA, F. G. S. (6).

(1) Mestranda em Engenharia Ambiental Urbana (MEAU) pela Universidade Federal da Bahia;
(2) Mestranda em Engenharia Civil (PPEC) pela Universidade Federal da Bahia;
(3) Graduando em Engenharia Civil pela Universidade Federal da Bahia;
(4) Graduando em Engenharia Civil pela Universidade Federal da Bahia;
(5) Professor Doutor, Departamento de Construção e Estruturas, Universidade Federal da Bahia;
(6) Professor Doutor, Departamento de Construção e Estruturas, Universidade Federal da Bahia.
Rua Prof. Aristídes Novis, 2 – Federação, Salvador, BA, 40210-630
fgabriel.ufba@gmail.com

Resumo
As manifestações patológicas em revestimento de fachadas podem ser provocadas devido às falhas do
projeto e de execução, tipo de materiais empregados e até mesmo por movimentação térmica do sistema de
revestimento. Para reduzir o aparecimento de fissuras que comprometem a estanqueidade da estrutura,
recomenda-se a utilização de telas com a finalidade de reforçar a camada de revestimento e absorver às
tensões que surgem no sistema devido à variação térmica, incompatibilidade de materiais empregados,
elevada espessura de revestimento ou até mesmo por erros de execução. Apesar das normas brasileiras
NBR 13755:1997 e NBR 13749:2013 recomendarem a utilização de telas no reboco (argamassa armada),
ainda não existe indicação quanto à forma de execução, método de ensaio, assim como, o tipo de tela que
deve ser aplicada. Neste contexto, a utilização de telas na argamassa de revestimento ainda carece de
uma padronização de técnicas de execução e de estudos que analisem o comportamento mecânico
contemplando a variação térmica que o revestimento é submetido e o tipo de material empregado. Sendo
assim, esta pesquisa apresenta o desempenho mecânico de argamassa reforçada com telas, visando
contribuir com o conhecimento da sua aplicação em fachadas. Para tanto, foram estudados três tipos de
telas – sendo uma eletrosoldada galvanizada de malha quadrada de 25x25 mm; outra galvanizada
hexagonal (viveiro) com malha de 12,7 mm e tela hexagonal de PVC com malha de 13,0 mm. Para análise,
as telas foram inseridas com cobrimento de 1 cm em corpos de prova cilíndricos (5cm x 10 cm), nos ensaios
de compressão axial e tração por compressão diametral. Já nos ensaios de flexão e cisalhamento, as telas
foram inseridas a 1/3 e a 1/2 da altura do corpo de prova, respectivamente. Por meio da análise estatística
dos resultados em comparação com as amostras sem telas (referência), constatou-se que não há variação
significativa na avaliação mecânica das argamassas com inserção de telas em corpos de prova.
Palavras-chave: revestimento; argamassa armada; tela.

Abstract
Pathological manifestations in facade cladding can be provoked due to design and execution failures, type of
materials used and even thermal movement of the coating system. To reduce the appearance of cracks that
compromise the structure's tightness, it is recommended to use screens with the purpose of reinforcing the
coating layer and absorbing the stresses that arise in the system due to thermal variation, incompatibility of
materials used, high thickness of Coating or even for errors of execution. Although the Brazilian standards

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NBR 13755: 1997 and NBR 13749: 2013 recommend the use of screens in plaster (reinforced mortar), there
is still no indication as to the form of execution, test method, as well as the type of screen to be applied . In
this context, the use of screens in the coating mortar still lacks a standardization of execution techniques and
studies that analyze the mechanical behavior contemplating the thermal variation that the coating is
submitted and the type of material used. Thus, this research presents the mechanical performance of
reinforced mortar with screens, aiming to contribute with the knowledge of its application in façades. In order
to do so, three types of screens were studied - being a galvanized electroplated with a 25x25 mm square
mesh; Another hexagonal galvanized (nursery) with mesh of 12,7 mm and hexagonal PVC screen with mesh
of 13.0 mm. For the analysis, the screens were inserted with 1 cm cover in cylindrical specimens (5cm
x10cm), in the tests of axial compression and traction by diametral compression. In the flexural and shear
tests, the screens were inserted 1/3 and 1/2 of the height of the specimen, respectively. By means of the
statistical analysis of the results in comparison to the samples without screens (reference), it was verified
that there is no significant variation in the mechanical evaluation of the mortars with insertion of screens in
test pieces.
Keywords: coating; Reinforced mortar; screen.

1 Introdução

O sistema de revestimento em vedações de fachada é muito utilizado, principalmente no


Brasil, por proporcionar aos elementos estruturais proteção contra agentes agressivos,
além de oferecer à edificação isolamento térmico, estanqueidade e valorização da
estética. No entanto, as propriedades físicas e químicas pertencentes a cada material,
forma e execução, localização da edificação e clima da região, possibilitam o
aparecimento de manifestações patológicas no sistema de revestimento. Dentre os
fatores que os revestimentos são mais susceptíveis à degradação, está a variação de
temperatura, que origina tensões térmicas e desencadeiam o aparecimento de trincas e
até mesmo desplacamento do revestimento.
As falhas de execução, a incompatibilização dos materiais e a falta de projeto são os
principais fatores para motivar o aparecimento de patologias nas fachadas. Sendo o
sistema de revestimento argamassado o mais vulnerável a fissurar, recomenda-se muitas
vezes a utilização de telas entre as camadas das argamassas para reduzir os efeitos
causados pelas tensões de movimentação mecânica e térmica (GOMES et al., 2007).
Erros comuns de execução do reboco com espessuras superiores das recomendadas
pela NBR 13749:2013, sem inserção de telas de ancoragem entre as camadas,
possibilitam desplacamentos da camada de revestimento e consequentemente riscos aos
transeuntes.
O desenvolvimento de estudos nesta área é de fundamental importância para a
engenharia, pois segundo Antunes et al. (2014), a incompatibilidade entre as condições
de deformação da base e a capacidade de acomodar deformações do revestimento,
podem ocasionar pequenas fissuras no revestimento e provocar um colapso de todo este
sistema e consequentemente, originar custos adicionais para manutenção, desprestígio
das construtoras e ainda, desconforto ao usuário.
Atualmente, existem poucas pesquisas abordando o uso de telas para reforço em
fachadas. Os que se destacam são os estudos de Gomes et al. (2007) e Antunes et al.
(2014). O trabalho de Gomes et al. (2017) avaliou vários tipos de telas em argamassa
armada em duas posições no corpo de prova (na superfície e dentro da camada)
estudando o comportamento de tração por compressão diametral e tração na flexão.
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Segundo estes autores, o uso de telas no sistema de revestimento é mais eficiente
quando a tela é instalada próxima à superfície externa.
Antunes et al. (2014) avaliaram o desempenho de argamassa armada com tela metálica
eletrossoldada galvanizada, de malha quadrada (25x25) mm de diâmetro, através do
ensaio de tração na flexão de 4 pontos, até a ruptura da argamassa. Os autores
concluíram que este ensaio é eficiente devido à sua facilidade de execução, pequena
amostragem para realização dos ensaios, além de uma reduzida variabilidade dos
resultados.
De acordo com Fiorito (1994), quando o sistema de revestimento é submetido à variação
de temperatura, esforços de tração e também de cisalhamento simples ocorrem durante o
aquecimento e no período do resfriamento, esforços de compressão podem provocar o
deslocamento das placas de revestimento. Vale ressaltar ainda, que cada material que
compõe o sistema de revestimento não possui a mesma deformação, devido aos
diferentes valores de coeficiente de dilatação térmica linear e módulo de deformação
(FIORITO, 1994; THOMAZ, 2006).
Apesar da grande utilização de telas para reforçar as camadas de argamassa dos
revestimentos, ainda se tem pouco conhecimento sobre a eficiência de absorção de
esforços de cada tipo de tela quando utilizadas para reforçar argamassas, assim como o
comportamento quando submetidos a uma variação de temperatura. Deste modo, espera-
se que as telas incrementem a capacidade de resistência das camadas de argamassas,
garantindo a distribuição das tensões e a durabilidade do sistema.
A proposta de avaliação mecânica das argamassas reforçadas em corpos de prova faz
parte de uma pesquisa de mestrado, que estuda o desempenho de revestimentos de
argamassas reforçados com telas. Este estudo tem o objetivo de avaliar o desempenho
mecânico de argamassas armadas com três diferentes tipos de telas, visando em
contribuir para o desenvolvimento de técnicas de sistema de revestimento. Para tanto, os
ensaios mecânicos padronizados pela norma brasileira foram adaptados para avaliação
da capacidade das telas em incrementar a resistência das argamassas, uma vez que o
sistema de revestimentos está submetido a esforços de compressão, tração e
cisalhamento oriundos de fatores extrínsecos relacionados a variadas solicitações.

2 Materiais e métodos

2.1 Materiais
Neste estudo foi utilizada argamassa industrializada para aplicação em revestimentos
externos e três diferentes tipos de telas disponíveis comercialmente para a função de
reforço que são:

 Tela 1- Eletrosoldada galvanizada de malha quadrada de 25x25mm e fio de 1,24 mm,


Figura 1(a);

 Tela 2- Polietileno de malha hexagonal de 13 mm de malha e fio retangular de 1,3x 1,0


mm, Figura 1(b);
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 Tela 3- Galvanizada de malha hexagonal de 12,7 mm de malha e fio de 0,56mm,
Figura 1(c).

(a) (b) (c)


Figura 1- Tipos de telas usadas no estudo. (a) Tela 1 (galvanizada eletrosoldada; (b) Tela de polietileno
hexagonal e (c) Tela galvanizada hexagonal (Os autores, 2017).

2.2 Metodologia
2.2.1 Caracterização dos materiais

As argamassas foram caracterizadas conforme as prescrições da NBR 13281:2005


(Argamassa para assentamento e revestimento de paredes e tetos – Requisitos), que
recomenda a realização de alguns ensaios para aplicação e aceitação.
Se tratando das telas, estas foram ensaiadas de acordo com as técnicas de ensaio de
tração adotado por Antunes & Masuero (2013) e Pozzobon et al. (2014). Desta forma, o
ensaio foi realizado utilizando uma prensa da marca Emic com capacidade de carga de 20
KN utilizando um aparato construído de acordo com o dispositivo criado por Pozzobon et
al. (2014), com objetivo de distribuir uniformemente a tensão de tração. O ensaio de
tração é apresentado na Figura 2.

(a) (b) (c)

Figura 2- Ensaio de tração das telas. (a) Ensaio de tração Tela 1; (b) Ensaio de tração Tela 2 e (c) Ensaio
de tração Tela 3 (Os autores, 2017).

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Para tanto, foram utilizadas seis amostras com dimensões úteis de 29,5 cm x 10 cm
(largura x altura), com velocidade de carregamento de 10 mm/min. A avaliação da
capacidade de ruptura leva em consideração a quantidade de fios longitudinais que
compõem a tela, conforme a Equação 1.

Fm
σR  (Equação 1)
nS

Onde:
σR = Limite de resistência à tração;
Fm = Carga máxima;
n= número de fios longitudinais da amostra;
S = área da seção de cada fio.

2.2.2 Avaliação mecânica das argamassas armadas

Para avaliação da resistência mecânica das argamassas reforçadas, comparando-as com


as propriedades mecânicas das argamassas sem reforço, foram produzidos para cada
ensaio 12 corpos de prova (cp’s), sendo 3 para cada tipo de tela inserida na argamassa e
3 para argamassa de referência (sem tela). As telas foram inseridas de acordo com o
formato do corpo de prova, com intuito de reforçar as argamassas e adaptar o estudo com
os procedimentos normatizados pelas respectivas normas brasileiras de avaliação.
A mistura da argamassa foi realizada de acordo com a ABNT NBR 13276:2005 e a cura
ocorreu em temperatura ambiente até a idade de ensaio de 28 dias. Para tanto, todos os
ensaios foram realizados em uma máquina universal de marca Instron, modelo 1000HDX
com capacidade de carga de 1000KN, com exceção do ensaio de tração na flexão que foi
realizada em uma prensa elétrica servocontrolada, com capacidade de 20 toneladas para
argamassa, da marca Contenco.

2.2.2.1 Resistência à compressão axial.

Os corpos de prova para avaliação da resistência por compressão axial foram ensaiados
conforme as recomendações da norma brasileira ABNT NBR 5739:2007. Os exemplares
foram armados com telas, com armação de formato circular com as mesmas alturas dos
cp’s (10 cm) e diâmetro de 3 cm, inserida de forma a obter um cobrimento de 1 cm (Figura
3). A moldagem foi realizada primeiramente, inserindo as telas nos corpos de prova e em
seguida, preenchendo-os com quatro camadas de argamassa com adensamento manual
de 30 golpes cada uma, conforme a NBR 7215:1997.

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(a) (b)
Figura 3- Detalhe da tela no corpo de prova (a) e cp’s com telas (b) (Os autores, 2017).

2.2.2.2 Resistência à tração por compressão diametral.

Da mesma forma que o ensaio de compressão, as telas foram inseridas em formato


circular nos corpos de prova cilíndricos de dimensões (50 x 100)cm. Estes cp’s foram
ensaiados conforme as recomendações da NBR 7222:2011 com velocidade da carga
aplicada foi 0,05 ± 0,02 MPa/s. O contato entre o corpo de prova e os pratos da máquina
de ensaio deu-se ao longo de duas tiras de chapa dura de fibra de madeira ou
aglomerado (geratrizes), conforme especificado na NBR 10024/2012, dispostas
diametralmente opostas ao corpo de prova (Figura 4).

Figura 4- Ensaio de tração por compressão diametral nas argamassas com telas (Os autores, 2017).

2.2.2.3 Resistência à flexão.

Este ensaio foi realizado conforme as recomendações da NBR 13279: 2005 com
velocidade de carregamento igual a 0,05KN/s. As telas foram inseridas nas mesmas
dimensões do corpo de prova (4x16) cm e a moldagem foi executada em quatro camadas,

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adensando manualmente cada uma delas com 30 golpes através de uma soquete. Após
colocar a primeira camada de argamassa a 1/3 da altura do corpo de prova e adensá-la, a
tela foi inserida e apertada manualmente. Em seguida, as camadas restantes foram
adicionadas e adensadas para engavetar a tela e retirar possíveis bolhas. A Figura 5
apresenta as telas inseridas na camada da argamassa e o ensaio.

(a) (b)
Figura 5- Telas com dimensões (4x16) cm (a) e corpo de prova preenchido com 1/3 de argamassa e tela (b).
(Os autores, 2017).

2.2.2.4 Resistência ao cisalhamento.

Para estudar a ação cisalhante das argamassas contendo as três diferentes telas em
estudo, foi necessário utilizar 2 corpos de prova de dimensões (7,5x7,5x28,5) cm para
cada tipo de tela inserida na argamassa e também para a argamassa de referência (sem
tela). A moldagem seguiu o mesmo procedimento dos corpos de prova do ensaio de
flexão, no entanto, a tela foi introduzida no corpo de prova na segunda camada de
adensamento, ou seja, na metade do corpo de prova (Figura 6), conforme as
recomendações de Gonçalves et al.(2013).
Como não existe norma brasileira para execução do ensaio de cisalhamento, este ensaio
foi realizado conforme a metodologia desenvolvida por Pinto et al. (2016). Desta forma,
após a cura de 28 dias, os corpos de prova foram cortados em um equipamento de
retífica, eliminando os bordos, de modo a obter o total de 4 corpos de prova de 7,5x7,5x10
(cm) para cada tipo de reforço e ensaiá-los em dispositivos de formato de L,
confeccionados para esta finalidade, como mostrado na Figura 6. Estes dispositivos são
acoplados na base metálica e por meio na prensa, o conjunto é submetido a um
carregamento constante de 0,1mm/s.

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(a) (b)
Figura 6- Ensaio de cisalhamento. (a) Posição da tela no ensaio (Gonçalves et al.,2013) e (b)
detalhe do ensaio de cisalhamento (Os autores, 2017).

A tensão cisalhante foi calculada por meio da equação originada pelo ciclo de Mohr,
conforme mostra a Equação 2.
Ρ 2
máx  T  (Equação 2)
2A

Onde:
τ = Tensão cisalhante (MPa);
P = Força aplicada (N);
A = Área da seção cisalhada (m2);

3 Resultados

3.1 Caracterização dos materiais


Com objetivo de conhecer às diferentes características da argamassa utilizada, foram
realizados diferentes ensaios conforme as recomendações da ABNT NBR 13281: 2005,
apresentados na Tabela 1.

Tabela 1- Caracterização das argamassas conforme a NBR 13281:2005 (Os autores, 2017).
NORMA Argamassa
Determinação
(ABNT, 2005) Industrializada
NBR 13276 Índice de consistência 258,9 mm
NBR 13277 Índice de retenção de água 82 %
NBR 13278 Densidade de massa no estado fresco 1524 (Kg/m³)
NBR13279 Resistência à tração na flexão 2,31 MPa
NBR 13279 Resistência à compressão 5,41 MPa
NBR 13280 Densidade no estado endurecido 1711 (kg/m³)
1/2
NBR 15259 Absorção de água por capilaridade 7,5 (g/dm². min )
NBR 15258 Resistência potencial de aderência à tração. 0,31 MPa

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A Tela 1 (galvanizada eletrosoldada ) como esperado, apresentou maior capacidade de
suportar elevadas tensões de tração, com resistência de 405,76 MPa e maior rigidez.
Seguida da Tela 3 (galvanizada hexagonal) com resistência de 163,42 MPa e por fim, a
Tela 2 (polietileno) obteve elevada deformação e capacidade de resistência de apenas
10,63 MPa, devido à junção dos fios. A resistência à tração das telas é apresentada na
Tabela 2.
Tabela 2- Resultados do ensaio de tração das telas (Os autores, 2017).
Tipo de Tela Amostra Carga Máxima (N) Limite de resistência (MPa)
s
Média 5880,08 405,76
Tela 1
DesvPad 301,10 20,78
(12 fios)
CV% 5,12 5,12
Tela 2 Média 276,50 10,63
DesvPad 31,57 1,21
(20 fios)
CV% 11,42 11,42
Tela 3 Média 845,27 163,42
DesvPad 24,72 4,78
(21 fios)
CV% 2,92 2,92

3.2 Avaliação mecânica


3.2.1 Resistência à compressão axial

Observa-se na Figura 7 e a Tabela 3, que as resistências por compressão axial (Fc)


encontradas nas argamassas reforçadas com telas são equivalentes à argamassa de
referência. Os corpos de prova reforçados com telas obtiveram decréscimo em relação às
argamassas não armadas de 8,12%, 9,88% e de 14,95%, para as Telas 1, 2 e 3,
respectivamente.
7,50

6,00
fc (MPa)

4,50

3,00

1,50

0,00
Sem tela Tela 1 Tela 2 Tela 3

Argamassa Armada
Figura 7- Resultados do ensaio de compressão axial das argamassas (Os autores, 2017).

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Tabela 3- Valores individuais das resistências à compressão das argamassas (Os autores, 2017).
Fc (MPa)
Argamassa Argamassa Arm. Argamassa Arm. Argamassa Arm.
CP
S/ Tela Tela 1 Tela 2 Tela 3
1 5,14 5,06 4,91 4,99
2 6,17 5,60 5,66 4,89
3 6,37 5,58 5,36 5,15
Média 5,89 5,41 5,31 5,01
DesvPad 0,14 0,30 0,21 0,13
CV (%) 2,32 5,63 3,93 2,67

Este decréscimo pode está associado à posição da tela no corpo de prova e a falha na
aderência, principalmente nas telas mais maleáveis. Além disso, houve um
encapsulamento da parte interna da argamassa e fragilidade da parte externa a esta
armação, uma vez que as telas foram inseridas nos corpos de prova respeitando um
cobrimento de cinco centímetros.
No entanto, de acordo com as análises estatísticas ANOVA, concluí-se que o reforço
fornecido pelas telas não ofereceu mudanças significativas nas propriedades de
resistência à compressão axial. A análise estatística com nível de significância de 5% (α=
0,05) está apresentada na Tabela 4.

Tabela 4- Análise estatística dos valores de Fc encontrados para as argamassas (Os autores, 2017).
Argamassas Fcal Valor-p Fcrítico Significativo
S/ Tela x Armada -Tela 1 1,30 0,32 7,71 Não
S/ Tela x Armada -Tela 2 1,76 0,26 7,71 Não
S/ Tela x Armada -Tela 3 5,14 0,09 7,71 Não

3.2.2 Resistência à tração por compressão diametral.

Os resultados encontrados para o ensaio de resistência à tração por compressão


diametral (Ftd) são apresentados na Figura 8 e na Tabela 5.

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1,50

1,20

0,90
ftd (MPa)

0,60

0,30

0,00
Sem tela Tela 1 Tela 2 Tela 3
Argamassa Armada

Figura 8- Resistência à tração por compressão diametral das argamassas reforçadas (Os autores, 2017).

Tabela 5- Valores individuais das resistências à tração por compressão diametral das argamassas (Os
autores, 2017).
Ftd (MPa)
Argamassa Argamassa Arm. Argamassa Arm. Argamassa Arm.
CP
S/ Tela Tela 1 Tela 2 Tela 3
1 0,84 0,88 0,83 0,63
2 0,64 0,97 0,78 0,60
3 0,73 0,86 0,82 0,52
Média 0,74 0,90 0,81 0,58
DesvPad 0,07 0,06 0,04 0,06
CV (%) 9,63 6,36 4,56 9,53

Nota-se que a Tela 1 obteve uma resistência à tração por compressão diametral de 0,90
MPa, seguida da Tela 2 com 0,81 MPa. No entanto, houve um decréscimo de 21,25% na
resistência das argamassas armadas com a Tela 3, comparando-a com as não armadas.
Este decréscimo da resistência pode está associado à incompatibilidade dos fios
entrelaçados e menor dimensão da malha com as características da argamassa. As
análises estatísticas considerando 95% de confiança comprovaram que não houve
variação significativa nos resultados encontrados, conforme apresenta a Tabela 6.

Tabela 6- Análise estatística dos valores de Ftd encontrados para as argamassas (Os autores, 2017).
Argamassas Fcal Valor-p Fcrítico Significativo
S/ Tela x Armada -Tela 1 5,86 0,07 7,71 Não
S/ Tela x Armada -Tela 2 1,31 0,32 7,71 Não
S/ Tela x Armada -Tela 3 5,39 0,08 7,71 Não

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3.2.3 Resistência à flexão

A Figura 9 e a Tabela 7 mostram a resistência à tração na flexão (Rt) das argamassas


reforçadas com tela na idade 28 dias. Observa-se que, a resistência média à tração na
flexão das argamassas constituídas de telas no seu interior supera as argamassas de
referência em até 14,63%, no caso da argamassa reforçada com a Tela 1 (tela
eletrossoldada galvanizada de malha quadrada de 25 mm). As argamassas contendo a
Tela 3 (tela galvanizada de malha hexagonal) e a Tela 2 ( tela de polietileno de malha
hexagonal) obtiveram um aumento de 11,70% e de 3,53%, respectivamente, em relação
à argamassa sem tela (referência).

3,50
3,00
2,50
Rt (MPa)

2,00
1,50
1,00
0,50
0,00
Sem tela Tela 1 Tela 2 Tela 3
Argamassa Armada
Figura 9- Resistência à tração na flexão das argamassas reforçadas (Os autores, 2017).

Tabela 7- Valores individuais das resistências à flexão das argamassas (Os autores, 2017).
Rt (MPa)
Argamassa Argamassa Arm. Argamassa Arm. Argamassa Arm.
CP
S/ Tela Tela 1 Tela 2 Tela 3
1 2,29 2,67 2,50 2,81
2 2,33 2,43 2,33 2,34
3 2,34 2,89 2,38 2,65
Média 2,32 2,66 2,41 2,60
DesvPad 0,03 0,23 0,09 0,24
CV (%) 1,14 8,71 3,66 9,44

Este aumento da resistência nas argamassas reforçadas foi bastante nítido visualmente,
uma vez que as argamassas contendo tela não apresentaram ruptura brusca comparadas
com a argamassa de referência. Os valores encontrados para a Tela 1 estão associados
à sua melhor capacidade de aderência em matrizes cimentícias, dimensão da malha e
também ao seu maior módulo de elasticidade. No entanto, considerando um nível de
significância de 5% (α= 0,05) na análise da ANOVA (Tabela 8) percebe-se que não

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existem diferenças significativas na resistência à flexão na comparação das argamassas
de referência (S/ Tela) com argamassas armadas, pois Fcal é inferior ao Fcrítico.

Tabela 8- Análise estatística dos valores de Rt encontrados para as argamassas (Os autores, 2017).
Argamassas Fcal Valor-p Fcrítico Significativo
S/ Tela x Armada -Tela 1 6,35 0,06 7,71 Não
S/ Tela x Armada -Tela 2 2,40 0,20 7,71 Não
S/ Tela x Armada -Tela 3 3,65 0,13 7,71 Não

3.2.4 Resistência ao cisalhamento

De acordo com a Figura 10 e a Tabela 9, é possível observar que a inserção das telas
para reforço promoveu um decréscimo na resistência ao cisalhamento ( ), em relação às
argamassas sem reforço de 3,06 %; 12,53% e 5,29% nas Telas 1, 2 e 3, respectivamente.
As fissuras dos corpos de prova ocorreram a 45º no plano longitudinal interno, e
aproximadamente 2,0 cm nas faces transversais.

4,00

3,00
τ (MPa)

2,00

1,00

0,00
Sem tela Tela 1 Tela 2 Tela 3
Argamassa Armada
Figura 10- Ensaio de cisalhamento das argamassas reforçadas (Os autores, 2017).

Tabela 9- Resultados do ensaio de cisalhamento (Os autores, 2017).


Argamassas (MPa) DesvPad (MPa) CV (%)
Sem tela 3,61 0,09 2,49
Armada – Tela 1 3,50 0,16 4,65
Armada – Tela 2 3,16 0,29 9,32
Armada – Tela 3 3,42 0,21 6,19

A tela quando inserida na argamassa possui a função de absorver uma parcela das
tensões, aumentando a rigidez da seção e consequentemente, a resistência do sistema. A
inserção da tela entre as camadas de argamassa não garantiram a completa junção dos
materiais, uma vez que a tela se comportou como uma espécie de zona de transição,
prejudicando a aderência e diminuindo a área resistente da argamassa. Esta redução da

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resistência foi ainda maior quando o reforço foi realizado com a tela 2 e 3, uma vez que a
incorporação da argamassa nestas telas se torna mais difícil, devido às características da
argamassa e da dimensão das malhas das telas.
Apesar da redução da resistência ao cisalhamento das argamassas reforçadas, os dados
comparativos da ANOVA na Tabela 10 não apresentam variações significativas em
relação à argamassa de referência (S/ Tela).

Tabela 10- Análise estatística das resistências ao cisalhamento das argamassas (Os autores, 2017).
Argamassas Fcal Valor-p Fcrítico Significativo
S/ Tela x Armada -Tela 1 0,96 0,38 7,71 Não
S/ Tela x Armada -Tela 2 6,21 0,07 7,71 Não
S/ Tela x Armada -Tela 3 1,92 0,24 7,71 Não

4 Conclusão

Apesar dos resultados encontrados não alcançarem valores de acréscimo ou decréscimo


significativos, notou-se que existe uma tendência de melhoria da capacidade resistente
nas argamassas reforçadas com a Tela 1 (galvanizada eletrossoldada de malha
quadrada). Apresentando uma maior resistência à tração e segundo a literatura um maior
módulo de elasticidade, a tela galvanizada de malha quadrada quando incorporada na
matriz cimentícia promove uma melhor aderência e consegue distribuir os esforços
gerados no sistema de revestimento.
Neste estudo, as dimensões dos corpos de prova utilizados podem ter influenciado nos
resultados, provocando eventuais falhas no adensamento, principalmente nas telas com
malhas de menores aberturas. Desta maneira, é necessário um maior aprofundamento na
pesquisa a fim de estudar a influência da dimensão dos fios, tamanho das malhas e tipo
de material quando empregados para reforçar o reboco, principalmente quando estão
submetidos a variações de temperatura.

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