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Espiritismo - origens, expansão e linhas

doutrinarias
Em 1848, na cidade de Hydesville (Nova Iorque), EUA, surgiu o primeiro núcleo do
espiritismo moderno. Certa noite, o pastor protestante John Fox, sua esposa e as duas filhas,
Margarida e Catarina, estavam a conversar sobre estranhos fenômenos de assombração. Catarina,
então, produziu estalos com os dedos; notaram todos que alguém os repetia. Por sua vez, Margarida
produziu estalos e encontrou eco. Apavorada, a sra. Fox perguntou “É homem ou mulher que está
batendo?”, mas não obteve resposta. Insistiu então: “É espírito? Se é espírito, bata duas vezes”.
Produziram-se duas breves pancadas. Conclui, assim, que um espírito “desencarnado” estava em
comunicação com a família.
Segundo se diz, os próprios espíritos indicaram às irmãs Fox, em 1850, nova forma de
comunicação: que os interessados se colocassem em torno de uma mesa, em cima da qual poriam as
mãos; às interrogações que fizessem aos espíritos, a mesa responderia com golpes e movimentos
indicadores de letras do alfabeto e de palavras.
As novas práticas se espalharam pelos Estados Unidos, Canadá e México; atravessando o
Atlântico, chegando à Escócia e à Inglaterra. Em 1854, na França, Léon-Hippolyte-Denizart-Rivail
(Allan Kardec) codificou a doutrina espírita em diversas obras muito divulgadas no Brasil.
O espiritismo é entendido como uma restauração da religião de Cristo, e Kardec é colocado
ao lado de Moisés e Cristo como aquele que manifestou, em seus livros, a expressão mais fiel da
terceira revelação.
Allan Kardec (1804-1869) foi enviado, com dez anos, a Yverdon, na Suíça, para estudar no
instituto de educação instalado por Johann Heinrich Pestalozzi, o qual influenciou o pensamento
religioso de Kardec.
Pastalozzi dava à Bíblia um valor apenas relativo e tinha pouco apreço pelas doutrinas
cristãs. Ele defendia um cristianismo racionalista, em que se negava a existência de pecado original,
da graça e da redenção. Nesse contexto, e verdadeira religião não é outra coisa senão a moralidade.
Interessava quase só o ensino moral contido nos Evangelhos. Daí, Kardec construiu a visão que a
parte moral é o terreno no qual as religiões todas podem se reunir. Desde os quinze anos de idade
Kardec desenvolveu a ideia de uma forma religiosa com o propósito de unificar as crenças.
O espiritismo lhe forneceu o elemento indispensável para solucionar isso, o que o levou ao
estudo dessa religião a partir de 1855. Kardec entendeu o espiritismo como terreno neutro no qual
se poderia constituir o ponto de encontro das religiões e gerar progresso moral e progresso da
inteligência.
O espiritismo não era entendido por Kardec como religião constituída, mas a ponte de
ligação entre as religiões constituídas. Todas as crenças são diversas na forma, mas “repousam
realmente sobre um mesmo principio fundamental – Deus e a imortalidade da alma. Se fundirão em
uma grande e vasta unidade, logo que a razão triunfe sobre os preceitos”.
Em suas pesquisas, Kardec analisou o magnetismo animal (também conhecido como
mesmerismo), em voga no final do século XVIII d.C. e no início do século XIX d.C., conheceu os
diagnósticos e prescrições terapêuticos fornecidos por sonâmbulos, clarividência, visão por meio de
corpos opacos, previsão, etc. Kardec iniciou-se no mesmerismo em 1823.
Em 1824, o magnetizador Fortier falou a Kardec pela primeira vez sobre as mesas falantes,
que se tornaram fenômeno importante do espiritismo kardecista.
Kardec falava da graça como algo que se obtém por meio da caridade e humanidade. Para
ir a Deus, existe apenas uma palavra de passe: caridade.
A visão a respeito dos espíritos e da reencarnação é fator que permeia a ética kardecista.
Kardec defendeu que todas as almas, um dia, chegarão à perfeição por meio da passagem por outras
existências, mesmo aqueles que são rebeldes ao progresso. Para ele, “o progresso dos homens
ressalta a justiça da reencarnação”.
Para Kardec, Jesus é o caminho para se chegar ao espiritismo. Assim, o cristianismo abriu
o caminho para o espiritismo, e o espiritismo faz aquilo em que o cristianismo falhou.
Todo ser humano deve ter a liberdade de consciência. Nesse sentido, toda crença, quando
sincera e conduz a prática do bem, deve ser respeitada. Apenas se devem reprimir os atos exteriores
de uma crença quando são prejudiciais a terceiros.
As fatalidades que ocorrem na vida do ser humano não são sinais de falta de igualdade,
pois existem, apenas, devido à escolha feita pelo espírito antes de se encarnar. Ele é que escolheu
suportar esta ou aquela prova, buscando aqueles que melhor sirvam à sua elevação.
No espiritismo, quando fazemos o bem, trabalhamos para nós mesmos. Assim, é sempre
necessário ajudar aos fracos. A caridade está ao alcance de todos e independe de qualquer crença
particular. Os que houverem praticado a máxima: Fora da caridade não há salvação. Logo, a
caridade está acima da fé e fora dela não há salvação.
Na visão de Kardec, é o espiritismo que dá a chave para a compreensão do que foi
revelado, por Moisés, no decálogo e, por Jesus, no Sermão do Monte, em Mateus 5-7.
Também percebemos uma glorificação do espiritismo em todos os escritos de Kardec. É o
espiritismo que destrói o materialismo e deverá marcar o progresso na humanidade no futuro.
O primeiro passo para o ser humano se fixar na moral espirita é aceitar o principio da
doutrina espirita. Não há, portanto, uma prática dissociada da doutrina. Toda ética é revista por meio
dos princípios da reencarnação e visa buscar dos bens, não deste mundo, assim como ao
melhoramento moral que permite ter uma vida mais elevada no além, traduzido por: Eu é que
mereço o que ganho de Deus.
A alma humana é vista como preexistente, e não criada no momento da concepção do ser
humano, senão Deus seria injusto por criar algumas almas mais adiantadas do que outras. Isso seria
uma espécie de acepção de pessoas. O homem tem em si todas as condições para o seu progresso.
Kardec defende que eu é que expio minhas falhas (meu passado) e o que eu faço é que me salva.
Assim, o espiritismo não aceita o sacrifico vicário de Cristo por nós na cruz.
A morte conduz a uma vida melhor, pois livra-nos dos males desta vida. “Aquele que sofre
muito deve dizer que muito tinha a expiar e alegra-se pela cura rápida”.

https://www.youtube.com/watch?v=66iG5em7JU8&t=38s

Referências:

BETTENCOURT, Estêvão Tavares. Crenças, religiões, igrejas & seitas: quem são? Santo
André: Cromoprint, 1995
FLUCK, Marlon Ronald. Diálogo inter-religioso sob a ótica cristã. Curitiba; Intersaberes,
2020
TEIXEIRA, Faustino; MENEZES, Renata. As religiões no Brasil – Cundinuidades e
rupturas. Petrópolis; Vozes, 2006

Astor Fiegenbaum
https://lattes.cnpq.br/2627254096100518

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