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Convento dos Capuchos

2022
I. A Parques de Sintra
- A empresa foi criada no ano 2000, no seguimento da classificação pela Unesco de
Paisagem Cultural – Património da Humanidade (1995).
- Tem como missão assegurar gestão dos mais importantes valores naturais e culturais
situados na zona da Paisagem Cultural de Sintra e em Queluz.
- A gestão destas propriedades envolve a sua recuperação, requalificação,
revitalização, conservação, investigação, divulgação e exploração, abrindo-as à fruição
pública e potenciando a sua valência turística.

II. História do Convento dos Capuchos


- Início do século XIII – Fundação da Ordem de São Francisco, por S. Francisco de Assis
(1181/82? - 1226);
- Século XVI (décadas de 30 e 40) – Reforma das províncias franciscanas feita por São
Pedro de Alcântara (Estrita Observância);
- 1560 – Construção do Convento da Santa Cruz da Serra de Sintra, inserido na
Província da Arrábida;
- 1581 – Visita de D. Filipe I (Filipe II de Espanha) a Portugal;
- 1834 – Extinção das ordens religiosas e abandono do Convento;
- 1873 – Sir Francis Cook compra o Convento;
- 1947 – Saul Sáragga compra o imóvel;
- 1949 – Compra pelo Estado Português;
- 2000 – A gestão do Convento passa para a Parques de Sintra – Monte da Lua.

III. Os princípios da vida franciscana

- “Estrita Observância” da regra de São Francisco;


- Votos: Pobreza, Castidade e Obediência;
- Recusa dos bens materiais (não tinham a propriedade do Convento);
- Assistência à comunidade;
- Irmandade Universal.

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IV. Percurso de visita guiada

1. Terreiro das Cruzes e Pórtico das Fragas


a) Terreiro das Cruzes
- É o local de entrada ao qual chegavam os peregrinos à procura de apoio espiritual ou
de remédios para os males físicos. O Terreiro representa o Gólgota, onde Cristo foi
crucificado. A cruz ao centro é maior, representando Cristo (via divina) e as cruzes
laterais, de menor dimensão, representam os dois homens com ele crucificado (via
humana).
- Para aceder ao Terreiro, pode escolher-se qualquer um dos caminhos que conduz às
duas cruzes que representam a via humana. A possibilidade de decisão do caminho
pode remeter para o conceito de livre-arbítrio.

b) Pórtico das Fragas


- É o acesso ao Convento. Aqui os visitantes ou peregrinos faziam-se anunciar, tocando
o sino, para que o Frade Guardião viesse abrir a porta.

2. Terreiro da Fonte
- Local de acolhimento dos peregrinos que aqui podiam beber água fresca e comer.
- Demonstra bem a integração do edifício na natureza remetendo para a aplicação do
conceito da Irmandade Universal. Segundo S. Francisco (padroeiro dos animais), Deus
era o criador de todos os seres, pelo que todos deveriam ser igualmente respeitados.

3. Alpendre
a) Elementos decorativos em cortiça
- A cortiça é amplamente utilizada no Convento, o que levou a que ficasse conhecido
como Convento da Cortiça no século XIX, altura em que Sir Francis Cook se torna seu
proprietário.
- Trata-se da casca que protege o sobreiro de alguns fatores de risco, nomeadamente
os incêndios, podendo ser retirada sem danificar a árvore. Pode ter vários usos,
nomeadamente o de dotar o edifício de algum conforto.
- No Alpendre são visíveis alguns elementos decorativos, feitos em cortiça, alusivos à
natureza.

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b) Nicho
- O nicho, agora bastante deteriorado, encontra-se decorado fragmentos de porcelana
do século XVII e conchas. Aqui existia uma imagem jacente de Maria Madalena.

c) Cruz e Hospedarias
- Na Cruz é possível distinguir a representação de um homem envergando um hábito
franciscano, com o capuz pontiagudo, o que pode remeter para a figura de S. Francisco
de Assis, como tendo sido um Alter Christus ou um “Outro Cristo”, dada a semelhança
da sua vivência com a de Jesus. Ainda é parcialmente visível, à cintura, o cordão com
três nós, representando os três votos feitos por estes frades: obediência, humildade e
castidade.
- Embora alguns elementos já não sejam visíveis na Cruz, poderá também fazer-se um
paralelismo com a representação semelhante de Frei Martinho de Santa Maria,
representado na casa-mãe, o Convento da Arrábida: os olhos vendados e a boca
cerrada a cadeado, elemento que também surge representado sobre o coração.
- Abaixo dos braços da cruz são visíveis duas portas que seriam Hospedarias para os
peregrinos que aqui necessitassem de pernoitar.

d) Capela da Paixão de Cristo


- A porta do lado direito conduz a uma capela adicionada já no século XVIII, altura da
qual datam os azulejos brancos e azuis (1777) que a decoram, representando o
martírio de Cristo.
- No nicho do altar existia uma figura de roca representando o Senhor do Passos.
- Na parede da Capela, abrem-se para o exterior duas pequenas janelas forradas com
cortiça que funcionariam como confessionários.

e) Portaria
- Do lado esquerdo destaca-se uma porta encimada por uma caveira e duas tíbias
cruzadas. Trata-se da Portaria que dava acesso ao Claustro, o espaço mais reservado
do Convento, por onde os frades entravam quando aqui ingressavam. Esta decoração
remete para uma morte simbólica para a vida material que se deixava para trás, de
modo a renascer numa nova vida espiritual religiosa.

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4. Igreja
- Este espaço assemelha-se a uma gruta, o que remete para a lenda da fundação do
Convento:
Num dia quente de verão, o rei D. João III caçava na serra de Sintra quando, a certa
altura, cansado, procurou abrigo debaixo de uma grande rocha de granito, onde
acabou por adormecer. Aí, ele terá sonhado com os anjos que se ajoelhavam perante a
Santa Cruz, precisamente numa lapa como aquela onde dormia. Ao acordar, o rei terá
ordenado naquele local a fundação de um Convento consagrado à Santa Cruz, que
deveria ser entregue à ordem de São Francisco. O proprietário do terreno era D. João
de Castro, Vice-Rei da Índia que, não tendo conseguido concretizar essa incumbência
em vida, a terá confiado ao seu filho D. Álvaro de Castro, fundador do convento.
- A lápide do lado esquerdo da teia, a estrutura de madeira que separava os fiéis do
espaço sagrado do altar, é a pedra de armas da família Castro, proprietária do
Convento.
- A celebração principal era o dia 3 de maio, dia da Invenção da Santa Cruz, à qual o
convento foi consagrado.
- O altar de embutidos em mármore destaca-se pela sua riqueza. Aí existiam imagens
de alguns santos: São João Evangelista, Santo António, São João Baptista, São
Francisco, Nossa Senhora da Conceição e Santo Ivo.

5. Coro Alto

- Era onde a comunidade de frades assistia à missa durante a qual um dos Irmãos
entoava os cânticos.
- Este espaço também podia ser utilizado como Sacristia, podendo aqui ser recebidos
membros da família Castro ou até os monarcas que visitavam o Convento.
- A porta baixa no tipo das escadas conduz ao Corredor das Celas. A dimensão das
portas neste espaço obrigava os frades a baixar a cabeça ou ajoelhar-se para passar,
mostrando assim humildade perante Deus.

6. Corredor das Celas


- Trata-se de um dos espaços mais privados do Convento, tendo as celas uma
dimensão reduzida.
- O Convento terá sido habitado por 8 a 12 frades.
- No interior, dormiam soabre uma placa de cortiça ou uma esteira de palha, com o
hábito e um cobertor.
- Dentro das celas podiam ter apenas os seguintes bens: Livro da Regra, Breviário,
disciplinas e um rosário.

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7. Refeitório
- Originalmente os frades comiam no chão. No entanto, o Cardeal D. Henrique sabendo
que estes homens não aceitariam uma mesa verdadeira, ofereceu-lhes esta pedra para
que nela pudessem realizar as suas refeições.
- O pequeno assento de pedra junto à porta era destinado ao frade que, fazendo jejum
nesse dia, serviria os restantes irmãos, sentando-se depois a ler textos religiosos,
enquanto os outros comiam em silêncio.

8. Cozinha
- A dieta dos frades era baseada no que produziam nas hortas e dos donativos que
recebiam de queijo, azeite, ovos, peixe e vinho para a celebração da Eucaristia.
- Não consumiam carne, exceto em dias especiais (Natal ou domingo de Páscoa) e
apenas se fosse recebida como donativo.
- A dimensão da cozinha é grande para o grupo de frades que habitava o Convento,
tendo sido possivelmente aumentada num período mais tardio.
- A água utilizada na cozinha era depois reaproveitada nas hortas.

9. Casa das Águas e Necessárias


- A água que abastecia este local vinha de uma mina de água. Era recolhida no
pequeno reservatório em forma de Capela e podia ser distribuída para dois pontos:
para a direita, para o pequeno tanque a partir do qual podia ser utilizada pelos frades,
sendo depois reconduzida para a fonte do Claustro; pela esquerda, servindo para
lavagem das latrinas para as quais confluía também o urinol situado junto à janela.
- Numa época em que as condições de higiene eram poucas, os frades utilizavam
frequentemente este recurso como elemento de purificação.

10. Antiga Cela do Guardião


- A abóbada no teto e a abertura na parede permitiam ouvir o sino junto à porta de
entrada.

11. Biblioteca
- Localiza-se num ponto mais elevado, de modo a permitir melhor a entrada da luz
natural e a minimizar a humidade.
- Com a extinção das Ordens Religiosas em Portugal, em 1834, o recheio foi vendido
em hasta pública.

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12. Enfermaria, Botica e Cela da Penitência
- A Enfermaria é composta por duas divisões para acolher os enfermos que
necessitassem de cuidados. Na Enfermaria do lado direito ainda é visível, na parede, a
cabeceira de uma cama.
- A Botica era a divisão onde se armazenavam os medicamentos. Junto à porta deste
espaço existe um braseiro, utilizado para ferver a água para fazer tisanas medicinais ou
queimar ervas aromáticas para purificar o ar.
- Sendo esta zona do Convento dedicada à cura dos males do corpo e da alma, aqui se
encontra também a Cela da Penitência. Trata-se de uma divisão sem qualquer luz ou
abertura, de modo a favorecer a meditação e a introspeção sem qualquer distração.

13. Quarto Superior


- Trata-se de uma divisão acrescentada, possivelmente um quarto para acomodar
visitantes ilustres, como o rei ou algum elemento da família Castro, proprietária do
Convento.

14. Sala do Capítulo


- Espaço onde se realizavam as reuniões dos frades. O nome advém do facto de cada
sessão ser iniciada pela leitura de um capítulo da Regra da Ordem.
- Era onde se tomavam as principais decisões do Convento, recorrendo à votação com
feijões (brancos para o voto positivo e pretos para o voto negativo), bem como o local
onde os frades faziam as suas confissões.
- No nicho existia uma imagem de Nossa Senhora das Dores.

15. Claustro, Capela do Senhor do Horto, Celeiro e Casa do Fogo / Herbolarium


a) Claustro
- Encontra-se rodeado de vegetação autóctone e só quem passava pela Portaria aqui
podia aceder.

b) Capela do Senhor do Horto


- Na fachada são visíveis dois frescos do século XVII, São Francisco de Assis e Santo
António, da autoria de André Reinoso.
- No altar encontram-se vestígios da representação de Jesus Cristo no Monte das
Oliveiras e do lado direito a marcação de uma porta que outrora ligava esta ermida à
Sacristia.

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c) Celeiro
- Esta construção terá sido motivada pelo aumento de donativos, sendo atualmente
um núcleo museológico que alberga o espólio recolhido durante as intervenções
arqueológicas.

d) Casa do Fogo / Herbolarium


- Neste espaço encontramos vários braseiros, destinados à preparação das ervas
aromáticas e medicinais.

16. Cova de Frei Honório


- Inscrição: “Hic Honorius vitam finivit, ideo cum Deo in Coelo revivit. Obiit anno
Domini 1596” (tradução: “Aqui Honório acabou a vida e, por isso, com Deus revive a
vida. Faleceu no ano de 1596”)
- Local onde Frei Honório se terá recolhido, em alternativa à cela, durante cerca de 30
anos.

17. Ermidas do Ecce Homo e do Senhor Crucificado


a) Ermida do Ecce Homo
- No interior encontra-se uma imagem de Cristo manietado, representando o
momento em que este é apresentado à população por Pôncio Pilatos (“Ecce Homo”-
“Eis o homem.”) O edifício foi reabilitado no século XIX.

b) Ermida do Senhor Crucificado


- A referência mais antiga a este espaço é do século XVIII. Existia neste local uma
imagem do Senhor Crucificado.

18. Horta
- Era o local que os frades cultivavam os produtos que consumiam.

19. Casa de Fresco e Casa dos Alguidares


- Locais abastecidos por água, servindo possivelmente a Casa dos Alguidares para
abluções.

20. A Floresta Relíquia


- O facto de os frades viverem em comunhão com a natureza, observando o princípio
da Irmandade Universal terá contribuído para que neste zona da Serra de Sintra se
tenham preservado várias espécies nativas.

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- Entre as diferentes espécies que se encontram dentro da cerca conventual destacam-
se as seguintes:
a) Árvores e arbustos: Aveleira, Azevinho, Medronheiro, Carrasco, Carvalho alvarinho,
Castanheiro e Loureiro;
b) Plantas aromáticas: Alecrim, Alfazema, Caledónia e Feto folha de hera.

V. A recuperação do Convento dos Capuchos


- O projeto de recuperação do Convento dos Capuchos foi distinguido com o Prémio da
União Europeia para o Património Cultural / Prémios Europa Nostra 2022, na categoria
Conservação e Reutilização Adaptativa.
- Incluiu a recuperação do conjunto edificado e de todos os elementos construídos e
decorativos deste monumento, a melhoria dos equipamentos de apoio à visita, bem
como a valorização do enquadramento paisagístico.
- Ligação para saber mais sobre este projeto de recuperação:
https://www.parquesdesintra.pt/pt/sobre-nos/projetos/restauro-do-convento-dos-
capuchos/.

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