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Bibliografia.
ISBN 978-85-221-2138-0
11-05220 CDD-658.15
José Guilherme
Pinheiro Côrtes
Austrália • Brasil • Japão • Coreia • México • Cingapura • Espanha • Reino Unido • Estados Unidos
Impresso no Brasil.
Printed in Brazil.
1 2 3 4 15 14 13 12
Sumário
Prefácio, VII
Capítulo 1
Introdução à economia da engenharia, 1
Capítulo 2
Valor do dinheiro no tempo, 23
Capítulo3
Projeção do fluxo de caixa de um projeto de investimento, 71
Capítulo 4
Avaliação de projetos isolados de investimento, 157
Capítulo 5
Geração e comparação de alternativas de investimento, 221
Capítulo 6
Manutenção, renovação, substituição e baixa de equipamentos, 267
Capítulo 7
Introdução à análise de projetos sob condições de risco, 299
Capítulo 8
PIR (Post Investment Review), 343
1.1 Apresentação
Escrevi este livro Introdução à economia da engenharia com os seguintes obje
tivos:
1. Responder a uma necessidade pessoal de dispor de um texto didático atua
lizado, conciso, prático e objetivo, que facilitasse ministrar meus cursos
universitários de Economia da Engenharia, bem como programas de trei
namento de profissionais.
2. Compartilhar este produto com muitos colegas, estudantes e profissionais
que devem sentir, assim como eu, a necessidade de alternativas de textos
didáticos brasileiros com as características mencionadas anteriormente. Es
pero poder atender a essa demanda.
Tentando atingir esses objetivos, com base no conhecimento teórico1 e ex
periências docente e profissional, procurei apoiar o engenheiro que enfrenta
problemas no exercício profissional e precisa ter e saber usar uma boa caixa de
determinadas ferramentas de economia da engenharia. As próximas seções,
deste capítulo, são o ponto de partida para o estudo dessa disciplina.
1 O que adquiri foi estudando ótimos autores. Eles, certamente, não têm culpa por meus erros e omissões.
coisas que requeria uma sociedade faminta de progresso material. Isso mudou.
No final do século XIX, Arthur M. Wellington2 advertia seus colegas engenhei
ros civis para o desperdício de recursos na construção de ferrovias nos Estados
Unidos. Hoje, outras considerações relevantes se somam à questão econômica,
como a preservação ambiental. Os desafios tecnológicos continuam presentes
na vida do engenheiro, mas agora se encontram em um contexto de múltiplas
dimensões – econômica, ambiental, política, cultural etc.
As lições de Wellington e outros pioneiros são fundamentais para a forma
ção do engenheiro do futuro, se não do presente. Ele terá de pôr seus projetos
dentro de uma ampla estrutura de objetivos e restrições, buscando eficácia
(fazer a coisa certa) e eficiência (fazer a coisa da maneira certa), considerando
horizontes temporais apropriados.
Reconhecendo essa mudança de paradigma na educação e no exercício
profissional do engenheiro, a Abet (Accreditation Board for Engineering and
Technology) dos Estados Unidos define engenharia3 como “a profissão em que
um conhecimento de matemática e ciências naturais, adquirido por estudo,
experiência e prática, é aplicado com julgamento para desenvolver meios para
utilizar, economicamente, os materiais e as forças da natureza para o benefício
da humanidade”.
A consideração de fatores econômicos é tão importante quanto o respeito
às leis da natureza para determinar o que pode ser alcançado por meio da en
genharia, como se mostra no diagrama da Figura 1.1, a seguir:
Engenharia
Habilidades requeridas para lidar efetivamente com projetos. Cada vez mais, será exigido
do engenheiro um rico perfil de competências intelectuais (técnico‑ científicas e de análise
financeira, por exemplo) e comportamentais (ênfase em comunicação oral e escrita). Estas de‑
verão se apoiar mutuamente: um bom exemplo é a capacidade de falar diferentes “linguagens
organizacionais” – a “linguagem das coisas”, com que se comunicará com os atores do ambiente
físico, e a “linguagem do dinheiro”, demandada pelo ambiente econômico.
4 O general John J. Carty foi um grande executivo da indústria de telefonia nos Estados Unidos no início
do século XX, tendo exercido o cargo de engenheiro chefe da New York Telephone Company.
5 Mas também ofereceram valiosas contribuições para a administração geral, contábil e financeira, como
demonstrado por trabalhos de Taylor e Gantt, ambos precursores das análises de custos e capacidade.
6 DAMODARAN, Aswath. Valuation approaches and metrics: A survey of the theory and evidence. Nov.
2006. Disponível em: <http://www.stern.nyu.edu/~adamodar/pdfiles/papers/valuesurvey.pdf>.
da metade do século XIX, criou uma procura por novos instrumentos que
permitissem a análise de investimentos de longo prazo com significativas saí
das de caixa nos primeiros anos, seguidas por fluxos positivos posteriormente
compensatórios. Um engenheiro civil, A. M. Wellington, observou não apenas
o valor do dinheiro no tempo, como também que o valor presente dos futuros
fluxos de caixa deveria ser comparado ao custo do investimento inicial. E foi
seguido por Walter O. Pennel, engenheiro da Southwestern Bell, que desenvol
veu equações de valor presente para anuidades, para comparar a instalação de
equipamento novo com a retenção de equipamento antigo.
As bases intelectuais para a avaliação de fluxo de caixa descontado foram
criadas por Alfred Marshall e Bohm‑Bawerk, que discutiram o conceito de valor
presente em seus trabalhos no início do século XX. Com efeito, Bohm‑Bawer
(1903) forneceu um exemplo explícito de cálculo de valor presente, usando o
caso da compra de uma casa com 20 prestações anuais. Contudo, os princípios
modernos de avaliação foram desenvolvidos por Irving Fisher em dois livros
que ele publicou – The rate of interest, em 1907, e The theory of interest, em
1930. Nesses livros, sugeriu abordagens alternativas para analisar investimentos,
que, segundo ele, produziriam resultados idênticos. Argumentou que, quando
confrontado com múltiplas alternativas de investimento, você deveria escolher
aquela (a) que tivesse o maior valor presente líquido à taxa de juros do mercado;
(b) cujo valor presente de benefícios excedesse o valor presente dos custos ao
máximo; (c) que tivesse a “taxa de retorno sobre o sacrifício” que mais excedesse
a taxa de juros do mercado; ou (d) que, quando comparada ao próximo mais
caro investimento, gerasse uma taxa de retorno sobre custo que excedesse a
taxa de juros do mercado.
Note que as duas primeiras abordagens representam a regra do valor pre
sente líquido, a terceira é uma variante da TIR (taxa interna de retorno) e a
última é a taxa marginal de retorno. Ainda que Fisher não tenha mergulhado
profundamente na noção de taxa de retorno, outros economistas o fizeram.
Observando um investimento isolado, Boulding (1935) derivou a taxa interna
de retorno para um investimento de seus fluxos esperados de caixa e do investi
mento inicial. Keynes (1936) argumentou que a “eficiência marginal do capital”
poderia ser computada como a taxa de desconto que torna o valor presente dos
rendimentos de um ativo igual a seu preço atual e que isso era equivalente à
taxa de retorno sobre o investimento de Fisher. Samuelson (1937) examinou
as diferenças entre as abordagens da taxa interna de retorno e do valor presen
te líquido e alegou que investidores racionais deveriam maximizar esta e não
aquela. Nos últimos 50 anos temos visto modelos de fluxo de caixa descontado
estenderem seu alcance à avaliação de títulos e empresas, e esse crescimento
tem sido ajudado e encorajado por desenvolvimento em teorias de formação
de carteiras.
1.3.3 Os precursores
A economia da engenharia nasceu nos Estados Unidos, em 1877, com a obra
de um engenheiro civil, Arthur Mellen Wellington, The economic theory of the
location of railways. Seguiram‑se contribuições de engenheiros (civis, sobre
tudo), acadêmicos e/ou profissionais (envolvidos em projetos de obras de in
fraestrutura). Infelizmente, falta um histórico completo e rigoroso de seu de
senvolvimento. Aqui ofereço um levantamento incompleto (e inconcluso), na
esperança de desenhar uma cronologia do processo por meio do qual se formou
tão importante acervo de conhecimentos e experiências. Minha cronologia se
interrompe em 1975; nos últimos 35 anos, a maioria dos livros publicados apu
rou seu aspecto didático, sem maior enriquecimento de conteúdo.
O quadro a seguir mostra alguns dos mais importantes precursores. Note
que essa lista é mais ampla que a proposta por Thuesen e Sullivan (veja o quadro
seguinte), mesmo assim, acredito que seja incompleta. Como disse antes, este
é ainda um trabalho não concluído.
Arthur Mellen Wellington. Engenheiro 6. ed., revisada. Nova York: John Wiley &
civil, especialista em transporte ferroviário. Sons, 1911. Mais de 900 páginas. Primeira
The economic theory of the location of edição de 1877, 200 páginas.
railways.
7 Veja HARTMANN. Engineering economy and the decision‑making process. New Jersey: Pearson Educa
tion, 2007.
8 Veja SCHMAHL, Karen E. et al. “Where is the engineering in engineering economy?”, Proceedings from
the 2000 ASEE Annual Conference and Exposition, St. Louis, Mo., jun. 2000. Disponível no site da ASEE
(procurar Christine D. Noble), faz uma crítica contundente a alguns dos principais livros didáticos.
9 ACKOFF, Russell L. The art of problem solving: Accompanied by ackoff ’s fables. Wiley, 1987.
10 ESCHENBACH, Ted G. Engineering economy: Applying theory to practice. Chicago: Irwin, 1995.
11 Op. cit.
12 Stakeholder é todo ator que, de algum modo, é afetado por um empreendimento. Por exemplo, a constru
ção de uma usina hidroelétrica beneficia usuários de eletricidade, contudo pode prejudicar populações
ribeirinhas.