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XXXVII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“A Engenharia de Produção e as novas tecnologias produtivas: indústria 4.0, manufatura aditiva e outras abordagens
avançadas de produção”
1. Introdução
Seja por causas naturais ou causados pelo homem, os desastres, atualmente, são
desencadeados ou amplificados por conflitos regionais, alterações climáticas e novas doenças,
entre outros fatores que aumentam progressivamente em termos de intensidade e frequência
(NORAN, 2014). Tais desastres vêm causando enormes prejuízos em todo o mundo, o que
aumenta a atenção dada à gestão de situações de emergência (ZHOU et al., 2011).
Estes eventos, segundo a IFRC (International Federation of Red Cross and Red Crescent
Societies), ultrapassam a capacidade de recuperação da sociedade ou comunidade atingida
usando apenas seus próprios recursos (NATARAJARATHINAM et al., 2009). Nestas
situações, faz-se necessário a ajuda de organizações humanitárias que, por meio da logística
humanitária, visa planejar, programar e controlar os estoques de produtos de forma eficiente e
de baixo custo, além de monitorar o fluxo de mercadorias do ponto de origem ao ponto de
consumo, a fim de conhecer e aliviar o sofrimento humano em comunidades vulneráveis
afetadas por desastres naturais e emergências complexas (ZARY et al., 2014).
Assim, o objetivo do presente artigo é explicitar de que forma a combinação dos princípios de
lean (associado à produção enxuta, cujo objetivo central é a redução de custos) e agile
(associado à capacidade de resposta rápida, cujo objetivo central é o aumento do nível de
serviço) nos diferentes estágios do ciclo do desastre (preparação, resposta, recuperação e
mitigação) se dá no contexto da cadeia de suprimentos humanitária. Para tanto, no que tange a
metodologia da pesquisa, lançou-se mão da revisão sistemática da literatura.
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“A Engenharia de Produção e as novas tecnologias produtivas: indústria 4.0, manufatura aditiva e outras abordagens
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suprimentos humanitária deveria ser configurada por fase do desastre, visando o objetivo
global da operação humanitária de aliviar o sofrimento humano frente à uma situação de
desastre. Na conclusão são apresentadas as limitações e recomendações para trabalhos
futuros.
2. Procedimentos metodológicos
O entendimento de operações humanitárias está inserido no contexto da gestão das operações,
que corresponde “a um campo do conhecimento que engloba diferentes disciplinas
acadêmicas e também seus respectivos campos de aplicação” (MIGUEL, 2007), e está
alinhado ao estudo da logística e da gestão da cadeia de suprimentos no contexto de desastre.
Em face à necessidade de posicionar e discutir a pertinência e aplicabilidade dos conceitos de
lean e agile no âmbito da cadeia de suprimentos humanitária, leva-se a adoção da revisão da
literatura como método da presente pesquisa, com o objetivo “localizar, analisar, sintetizar e
interpretar a investigação prévia” (FERRARI, 1982), delimitando o problema de investigação,
procurando novas linhas de investigação, evitando abordagens infrutíferas, ganhando
perspectivas metodológicas e identificar recomendações para investigações futuras (BENTO,
2012).
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Fonte: os autores.
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A partir destes critérios e do consenso entre os autores, foram selecionados 17 artigos que
combinados a demais materiais extraídos revisões não sistemáticas, livros, entre outros,
embasam o arcabouço teórico acerca do tema e subsidiam a discussão proposta.
3. Referencial teórico
De acordo com Farahani et al. (2014), o projeto de rede da cadeia de suprimentos determina a
estrutura de uma cadeia e afeta seus custos e desempenho. Este projeto lida com diversas
decisões como: determinar o número, tamanho e localização das instalações da cadeia de
suprimentos, definir políticas de distribuição, transporte e gerenciamento de estoques, entre
outras.
Seja natural ou causado pelo homem, os desastres sempre tiveram enormes efeitos negativos
sobre a condição humana, infraestruturas críticas locais e estabilidade e planejamento da
sociedades afetada (NIKBAKHSH & FARAHANI, 2011). Para estes autores, por conta da
disponibilidade limitada de recursos e tempo, os desastres tem um vasto impacto indesejável
sobre o desempenho do sistema logístico de um país, de forma que o planejamento proativo
da logística humanitária para tais situações é um passo importante para o reforço dos
mecanismos de minimizar a crise de um país.
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“A Engenharia de Produção e as novas tecnologias produtivas: indústria 4.0, manufatura aditiva e outras abordagens
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Mesmo diante das diversas diferenças entre a cadeia de suprimentos humanitária e comercial
apontadas, por exemplo, na pesquisa de Beamon & Balcik (2008), de acordo com Da Costa et
al. (2012), a eficiência em logística é um fator chave de sucesso que, no contexto humanitário,
garante o fluxo de produtos e serviços em uma cadeia de suprimentos complexa. Somado à
eficiência, a logística humanitária deve ainda ser capaz de ter rápida resposta.
Para Cozzolino et al. (2012), uma abordagem lean na cadeia de suprimentos consiste em
minimizar o inventário de componentes e de trabalho em andamento e em avançar a operação
para um contexto just-in-time. Os autores afirmam ainda que a agilidade da cadeia de
fornecimento é geralmente definida como a capacidade de responder aos imprevistos. Assim,
destacam que os principais objetivos de uma cadeia de suprimentos ágil são responder
rapidamente às mudanças de curto prazo na demanda (ou fornecimento) e lidar sem
dificuldades com perturbações externas. Por fim, os autores concluem que a conjugação
destes princípios nos diferentes estágios da operação humanitária são a chave para a aplicação
de ambos os princípios.
Gligor et al. (2015) prestam uma contribuição fundamental para a literatura acerca de
operações ágeis ao examinarem a associação entre a agilidade da cadeia de suprimento,
eficiência de custo e eficácia ao cliente em diversos contextos (alterações de contexto,
dinamismo e complexidade), concluindo que são adotadas estratégias ágeis ao operar em
ambientes altamente incertos, e são adotadas estratégias lean quando opera-se em ambientes
mais estáveis.
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é aplicado a cinco estruturas da cadeia de suprimentos que são submetidos a diferentes tipos
de rupturas e cujos indicadores são propostos à nível operacional.
De forma geral, Wang (2015) aponta diferenças entre a cadeia de suprimentos que entregam
produtos e serviços e, a partir desta perspectiva, propõe a divisão da literatura acerca de
cadeia de suprimentos em três áreas, a saber: gestão de suprimento de serviços, gestão de
demanda de serviço e a coordenação de cadeias de fornecimento de serviços. Entretanto,
apesar destes três tipos de cadeia aparecerem em operações humanitárias, existem algumas
particularidades que dão contornos singulares ao tema. Como exemplo, Oloruntoba (2010), ao
pesquisar um caso particular (Ciclone Larry), identifica e analisa alguns fatores críticos de
sucesso na cadeia de ajuda de emergência do desastre em questão e propõe discussões
semiestruturadas no que tange ao gerenciamento de desastres.
Em face a estas particularidades que são da própria natureza da operação, Yadav e Barve
(2015) abordam os fatores críticos de sucesso de cadeia de suprimentos humanitários que
emergem durante as fases de preparação para desastres e resposta imediata. Através de uma
revisão de literatura e consulta a um especialista, 12 fatores críticos de sucesso foram
identificados de forma a conduzir cadeias de suprimentos humanitários mais responsivas.
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Recuperação: envolve ações pós desastre que visem trazer a sociedade e o meio
ambiente volta a um estado normal;
Mitigação: abrange atividades para impedir que o desastre aconteça ou reduzir seus
potenciais efeitos.
Atualmente, todas estas fases vem sendo pesquisadas e, abaixo, são apresentadas as sínteses
de algumas destas pesquisas.
Na fase de preparação, pode-se citar a pesquisa Peng et al. (2014) que propõe um modelo de
dinâmico de sistemas para analisar o comportamento do cadeia de suprimentos humanitárias a
partir da simulação de abalos sísmicos. No caso, as incertezas estão associadas à dificuldade
de previsão do estado da rede rodoviária e recebimento incompleto e atrasado de informações.
Na perspectiva do tomador de decisão, a pesquisa propõe uma árvore de decisão para ajudá-lo
a escolher as estratégias de posicionamento de estoques adequadas.
Na fase de recuperação, pode-se citar a pesquisa de Gong (2014) que discute o projeto de
cadeias de suprimentos resistentes à catástrofes naturais ou causadas pelo homem. Para tanto,
o autor propõe um modelo de restauração que leva em conta possíveis interrupções de
infraestruturas, transporte e comunicações através da explicitação das relações lógicas destes
com cadeias de suprimento.
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Na fase de mitigação, a pesquisa Blos et al. (2015) reconhece a dificuldade de antecipar todos
os riscos relacionados com a interrupção da cadeia de suprimentos, mas aponta a centralidade
de algumas normas nesta discussão, argumentando que as mesmas fornecem padrões que
podem estabelecer sistemas e técnicas de modelagem para lidar com interrupções na cadeia de
abastecimento e mitigá-las. Nesta mesma linha, a pesquisa de Da Costa et al. (2012), por
exemplo, propõe algumas diretrizes básicas para o processo de distribuição da cadeia de
suprimentos em operações humanitárias cujo propósito é apoiar o desenvolvimento de
modelos de resposta rápida a outros eventos semelhantes.
4. Discussão
Van Wassenhove (2006) aponta as diferenças entre a cadeia de suprimentos comercial e
humanitária exemplificando, no segundo caso, diversas particularidades que inserem as
operações humanitárias em um ambiente complexo e singular onde a amplitude das incertezas
pode se estender até às condições da operação (métodos a serem adotados). Desta forma, uma
rígida padronização quanto a forma de atuação que subsidia a medição de desempenho para
fins comparativos (eficiência) se mostra pouco aderente ao contexto de operações
humanitárias, pois dificilmente operações distintas estarão submetidas às mesmas condições
de operação.
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Em espectro amplo, Christopher & Towill (2001) discutem os conceitos de cadeia lean e agile
no contexto da logística empresarial (figura 03). Em consonância quanto aos objetivos, mas
explicitando-os de forma diferente, Cozzolino (2012) “adapta” o que seriam nível de serviço e
custo no contexto de logística humanitária (figura 04).
Agile.
Fonte: adaptado de Christopher & Towill (2001).
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Figura 04 – Adaptação dos conceitos e objetivos de nível de serviço e custo no contexto de operações
humanitárias.
De acordo com, Christopher & Towill (2001), estas diferentes configurações de cadeia de
suprimentos seguem condições de premissas distintas (figura 05).
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Tabela 01 – Desdobramentos dos conceitos de Lean e Agile no contexto da cadeia de suprimentos humanitária.
Cadeia de suprimentos Agile Cadeia de suprimentos Lean
1) Comunicação sobre a situação para os 1) Distribuição de alimentos e encorajamento para
parceiros; a reintegração das vítimas do desastre;
2) Criação de rede com fornecedores; 2) Extensão do cuidado: atender refugiados que
3) Projeções (estimativas) e estoques de regressam, pessoas deslocadas internamente, e as
segurança; famílias gravemente desnutridas e vulneráveis;
4) Construção de um sistema logístico confiável, 3) Reestabelecimento das atividades econômicas
através da criação de uma rede estável com da região.
operadores logísticos (3PL`s);
5) Formação de uma equipe para implementar o
plano de emergência.
Fonte: Adaptado de Cozzolino et al. (2012)
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resposta.
Fonte: adaptado de Yadav & Barve (2015).
Assim, conforme proposto por Cozzolino et al. (2012), o entendimento de que fases diferentes
de tipos de desastre presumem cadeias de suprimentos de configurações e premissas distintas
e que a combinação destas é imprescindível para a eficiência e efetividade de aliviar o
sofrimento humano em comunidades vulneráveis afetadas por um desastre (ZARY et al.,
2014) introduz um quadro conceitual que é, posteriormente, redefinido por Gelashvili &
Huxel (2014) conforme figura 07.
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desastre.
Mesmo não sendo formalmente contemplada pelas pesquisas apresentadas anteriormente e tão
pouco encontrada no contexto de operações humanitárias na revisão da literatura, o
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entendimento de que a fase de mitigação abrange atividades para impedir que o desastre
aconteça ou reduzir seus potenciais efeitos (ÇELIKÖZLEM et al., 2012) habilita a discussão
de uma terceira configuração de cadeia de suprimentos humanitária na fase de mitigação: a
resiliente sintetizada na figura 08.
Fonte: os autores.
Ainda que definida genericamente por Carvalho et al. (2011) a partir da pesquisa Christopher
& Peck (2004), o conceito de resiliência no âmbito de cadeia de suprimentos pode ser
entendido como a capacidade do sistema de voltar ao seu estado original ou superior, após
experimentar uma perturbação e evitar novas falhas, a adaptação deste conceito no âmbito da
cadeia de suprimentos humanitária na fase de mitigação pode ser entendida como a
capacidade do sistema de avaliar o risco de desastre impedindo sua ocorrência ou permitindo,
após este evento, a volta do sistema ao seu estado original ou superior.
8. Conclusão
Este artigo teve como objetivo explicitar de que forma os princípios de lean e agile e seus
respectivos desdobramentos na configuração de cadeia de suprimentos com premissas
distintas podem contribuir no contexto da cadeia de suprimentos humanitária. Utilizou-se
como método a revisão sistemática da literatura no intuito de responder a esta questão e foi
constatada a inexistência de pesquisas que: (i) Discutam especificamente a configuração da
cadeia de suprimentos humanitária na fase de mitigação conforme apontado no final da última
seção; e (ii) Discutam indicadores de desempenho conforme o recorte proposto por Cozzolino
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et al. (2012) e complementados, como a presente pesquisa evidenciou, por Gelashvili &
Huxel (2014) e Yadav & Barve (2015).
Para responder a esta pergunta, no âmbito a proposição para trabalhos futuros, recomenda-se a
categorização de indicadores de desempenho associados a cada fase do ciclo do desastre,
tomando como base, por exemplo, a pesquisa recente de Abidi et al. (2014) que, a partir de
uma revisão extensa da literatura de 1970 até 2012, levanta indicadores de desempenho
relacionados ao contexto de operações humanitárias. Esta categorização, por exemplo, pode
subsidiar a formulação de um sistema de medição de desempenho de maior aderência e
aplicabilidade ao contexto de operações humanitárias. A proposta de categorização dos
indicadores de desempenho por fase do desastre se mostra pertinente à medida que nestas
fases é necessário assumir premissas distintas e, por vezes, conflitantes para garantir a
eficiência e eficácia da operação.
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