Você está na página 1de 4

Universidade do Estado de Santa Catarina

Centro de Ciências Tecnológicas


Departamento de Matemática

Variáveis Complexas
Viviane

1. Vizinhanças 2. Limites de Funções Complexas

Seja z0 um número complexo e ε um número real Seja f uma função com domínio S. Desejamos
positivo. Uma ε-vizinhança de z0 é o conjunto dos atribuir significado preciso à expressão
números complexos z tais que
"f tem limite L quando z tende a z0 ."
|z − z0 | < ε.
Denotamos uma ε-vizinhança de z0 por D(z0 , ε). Isto deverá significar que a distância |f (x) − L| en-
tre f (z) e L pode ser feita arbitrariamente pequena
Uma ε-vizinhança de z0 também é chamada de
(< ε), à custa de restringir z a uma vizinhança con-
disco aberto (ou ainda, bola aberta) de raio ε e cen-
veniente de z0 . Mas a variável z apenas aproxima
tro z0 .
z0 , sem nunca assumir este valor. Também z deve
pertencer ao domínio da função e z0 deve ser ponto
de acumulação desse domínio.

Definição 2.1. Seja f uma função complexa


definida em uma vizinhança perfurada de z0
e seja L um número complexo. O limite de
f à medida que z tende a z0 existe e é igual
a L, escrito como
lim f (z) = L,
z→z0
Figura 1. ε-vizinhança de z0 .
se para todo ε > 0, existe um δ > 0 tal que
|f (z) − L| < ε sempre que 0 < |z − z0 | < δ.
Uma ε-vizinhança perfurada (ou um disco aberto
perfurado de raio ε) é uma ε-vizinhança cujo o cen-
tro foi removido. Assim, uma ε-vizinhança perfu- Pela definição acima, se
rada de z0 tem a forma D(z0 , ε) \ {z0 }.
lim f (z) = L
z→z0

e se ε for um número positivo qualquer, existe uma


δ-vizinhança perfurada de z0 com a seguinte pro-
priedade: para todo ponto z nesta vizinhança per-
furada, f (z) está na ε-vizinhança de L. Em outras
palavras, f mapeia a vizinhança perfurada
0 < |z − z0 | < δ
no z-plano na vizinhança
|f (z) − L| < ε
Figura 2. ε-vizinhança perfurada
de z0 no w-plano, como vemos na Figura 3:
1
2

Figura 4. Caminhos.
Figura 3. Limite.

Para que lim f (z) exista e seja igual a L, exigi-


Exemplo 2.2. Usando ε e δ prove que z→z0
mos que f (z) aproxima-se do mesmo número com-
lim (2 + i)z = 1 + 3i. plexo L ao longo de todas as curvas possíveis até
z→1+i
z0 .
Proposição 2.4. (Critério para a não existência
Solução: Para um dado valor de ε, devemos deter- de um limite) Se f se aproximar de dois números
minar um número real positivo δ tal que, complexos L1 6= L2 , ao longo de duas curvas ou
percursos diferentes que passam pelo z0 , então
0 < |z − (1 + i)| < δ ⇒ |(2 + i)z − (1 + 3i)| < ε.
lim f (z)
z→z0
Uma forma de determinar δ > 0 consiste em traba- não existe.
lhar "de traz para frente". Iniciamos da desigual- z
dade: Exemplo 2.5. Mostre que lim não existe.
z→0 z

|(2 + i)z − (1 + 3i)| < ε. Solução: Primeiro faremos z se aproximar de 0 ao


longo do eixo real, ou seja, consideramos z = x + 0i
Temos que
com x tendendo a 0. Neste caso, obtemos:
z x + 0i
 
1 + 3i
|(2+i)z −(1+3i)| < ε ⇐⇒ (2 + i) z − < ε. lim = lim = lim 1 = 1.
2+i z→z0 z x→0 x − 0i x→0

1 + 3i √
Uma vez que = 1 + i e |2 + i| = 5 segue
2+i
que
 
(2 + i) z − 1 + 3i < ε ⇐⇒ |(2 + i)(z − (1 + i))| < ε

2+i
⇐⇒ |(2 + i)||z − (1 + i)| < ε

⇐⇒ 5|z − (1 + i)| < ε
ε
⇐⇒ |z − (1 + i)| < √ .
5
Figura 5. Caminhos que passam
ε
Isto indica que podemos tomar δ = √ . pela origem
5

Proposição 2.3. (Unicidade do limite) Se o limite


de uma função f (z) existir em um ponto z0 , ele é Agora, tomamos z se aproximando de 0 ao longo
único. do eixo imaginário, ou seja, z = 0 + yi com y ten-
dendo a 0. Para estes pontos, temos:
z 0 + yi
Para limites de funções complexas, é permitido lim = lim = lim −1 = −1.
z→z0 z y→0 0 − yi y→0
que z se aproxime de z0 em qualquer direção no
Como os valores não são iguais, concluímos que
plano complexo, isto é, ao longo de qualquer curva z
ou caminho através de z0 . limz→0 não existe.
z
3

Estabelecendo uma relação entre os limites de (a) Mostre que lim = z0 .


z→z0
funções de uma variável complexa e os de funções
reais de duas variáveis reais, podemos acelerar nosso Solução: Pela definição de limite de funções,
tratamento de limites, pois, como esses limites são dado ε > 0 devemos encontrar δ > 0 tal que
estudados no Cálculo (I, II e III), podemos usar
suas definições e propriedades. |z − z0 | < ε sempre que |z − z0 | < δ.

Proposição 2.6. (Parte real e imaginária de um Claramente a condição acima é satisfeita to-
limite) Suponha que mando δ = ε.
f (x, y) = u(x, y) + iv(x, y),
(b) Seja k ∈ N. Mostre lim z k = z0k .
e z→z0
z0 = x0 + iy0 e L = u0 + iv0 .
Solução: Temos que z k = z| ·{z
· · z} . Pela propri-
Então,
k f atores
lim f (z) = L
z→z0 edade do limite (c) e pelo item (a) acima, segue
se, e somente se, que
lim u(x, y) = u0 e lim v(x, y) = v0 .
(x,y)→(x0 ,y0 ) (x,y)→(x0 ,y0 )
lim z k = lim z| ·{z
· · z} = lim z · · · lim z
z→z0 z→z0 z→z0 z→z0
Exemplo 2.7. Calcule lim (|z|2 − iz). k fatores | {z }
z→1−i k fatores

Solução: Fazendo z = x + yi temos = z0 · · · z 0 = z0k .


| {z }
k fatores
f (z) = |z|2 − iz = x2 + y 2 − i(x − yi)
= x2 + y 2 − y − ix. (c) Prove que lim p(z) = p(z0 ).
z→z0
Então, Solução: Pelos itens (a) e (b) acima e pelas pro-
u(x, y) = x2 + y 2 − y e v(x, y) = −x. priedades do limite (b) e (c) temos que:
Como
lim x2 + y 2 − y = 3 e lim −x = −1,
(x,y)→(1,−1) (x,y)→(1,−1) lim p(z) = lim an z n + · · · + a1 z + a0
z→z0 z→z0
segue que
= an lim z n + · · · + a1 lim z + a0 lim 1
z→z0 z→z0 z→z0
lim (|z|2 − iz) = 3 − 1 = 2.
z→1−i = an z0n + · · · + a1 z0 + a0 1 = p(z0 ).

Proposição 2.8. Sejam f e g funções complexas


e c uma constante complexa. Se lim f (z) = L e
z→z0 3. Exercícios - Aula síncrona
lim g(z) = M , então:
z→z0

(1) Calcule os limites.


(1) c lim f (z) = cL
z→z0 (a) lim |z|2 − iz
z→0
(2) lim f (z) ± g(z) = L ± M
z→z0 Im(z 2 )
(b) lim
z→3i z + Re(z)
(3) lim f (z) · g(z) = L · M
z→z0
z4 − 1
f (z) L (c) lim .
z→−i z + i
(4) lim = , desde que M 6= 0.
z→z0 g(z) M  
1
(d) lim z+
Exemplo 2.9. Sejam z0 um número complexo z→eiπ/4 z
qualquer e p(z) = an z n + an−1 z n−1 + · · · + a1 z + a0
um polinômio como coeficientes complexos. Prove z2 − z
(2) Mostre que o limite lim não
que z→z0 Re(z) + Im(z)
lim p(z) = p(z0 ). existe.
z→z0
Para tanto: (3) Prove a unicidade do limite.
4

(2) ZILL, Dennis G. e SHANAHAN, Patrick.


4. Bibliografia
Curso Introdutório à Análise Complexa com
Aplicações. 2.ed. LT. 2011.
(1) CHURCHILL, Ruel V. e BROW, James W.
Variáveis Complexas e Aplicações. Tradu-
ção de Claus Ivo Doering. 9a. ed. Porto
Alegre: AMGH, 2015.

Você também pode gostar