Você está na página 1de 20

Escola do Gás

ANÁLISE DOS IMPACTOS


DA COMERCIALIZAÇÃO
DE GLP EM RECIPIENTES
DE GLP DE OUTRAS
MARCAS (OM.)

NOV-2018

1
Escola do Gás

ÍNDICE

Tema Pág

1 Introdução ..................................................................................................... 3

2 Risco de acidentes envolvendo GLP ......................................................... 3

2.1 Riscos inerentes ao GLP ................................................................................ 3

2.2 Riscos inerentes ao botijão de GLP ............................................................. 5

3 Índice de vazamentos em botijões de GLP .............................................. 6

4 Investimento em qualidade e segurança de botijões de GLP .............. 6

5 Requalificação de recipientes de GLP ..................................................... 7

5.1 Elegibilidade para requalificação .............................................................. 7

5.2 Seleção visual de recipientes transportáveis de GLP ............................... 9

5.3 Processo de Requalificação de recipientes .............................................. 11

6 Histórico de requalificação ......................................................................... 14

7 Correlação entre ocorrências envolvendo GLP e Requalificação ....... 15

8 Cor do botijão como fator decisivo de compra do consumidor .......... 16

9 Rastreabilidade ............................................................................................ 17

10 Responsabilidade Civil e Criminal - Marca Indelével .............................. 18

11 Conclusão ..................................................................................................... 18

2
Escola do Gás

ANÁLISE DOS IMPACTOS DA COMERCIALIZAÇÃO DE GLP EM RECIPIENTES DE GLP


DE OUTRAS MARCAS (OM.)

1. Introdução

O modelo de marca estampada no recipiente de Gás LP com a fidelidade a


bandeira, de modo que cada distribuidora só pode envasar os recipientes que
pertencem a sua marca, é um dos temas da Tomada Pública de Contribuições
Nº 7/18 da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis – ANP,
e a nosso ver o tema central.

A Escola do Gás apresenta neste Estudo Técnico as questões de segurança e


mercadológicas que devem ser consideradas na manutenção do sistema atual
ou em eventual mudança de modelo.

Este estudo está organizado em tópicos, apresentados a seguir.

2. Riscos de acidentes envolvendo GLP

O produto Gás LP, por definição, é um produto inflamável, inflamar e gerar calor
é sua função principal, usado para cocção de alimentos, mas também para
outras nobres funções onde uma chama de qualidade é necessária, gerando
baixo impacto ambiental, ambientes sem fumaça ou outros resíduos
indesejáveis, dentre outras vantagens frente a outros combustíveis.

Quando usado adequadamente, atendendo aos requisitos de segurança, o


produto não oferece risco, neste aspecto o recipiente de Gás LP tem função
principal de se manter na fase liquefeita, sob pressão moderada, voltando ao
estado vaporizado quando o consumidor necessita, otimizando espaço na
cozinha através de uma fonte de energia portátil.

O modelo brasileiro é único porque em poucos países o botijão fica dentro das
casas dos consumidores, geralmente em local sem ventilação, e próximo de
fontes de ignição, visto que o fogão fica a, no máximo, 80cm a 1,20m do botijão,
que é o comprimento máximo da mangueira, por isso requer segurança
adicional da embalagem.

2.1 Riscos inerentes ao Gás LP

O Gás LP é um produto seguro se utilizado dentro dos princípios básicos de


segurança. Se armazenado em local aberto e ventilado e distante de fontes de
ignição a probabilidade de um acidente é reduzida a perto de zero, porém, se
vazar, combinado com o oxigênio do ambiente e uma fonte de ignição dentro

3
Escola do Gás

dos limites de inflamabilidade, pode gerar um incêndio ou uma explosão do


ambiente com danos materiais e eventuais danos graves a pessoas.

Para demonstrar o conceito de limites de inflamabilidade, tomamos como base


a cozinha demonstrada na figura 1 logo abaixo, que possui 2,5m de pé direito
(altura), 2,0m de largura e 4,0m de comprimento, totalizando um volume de
20m³, desconsiderando o volume dos armários e equipamentos domésticos,
para facilitar a conta.

Figura 1 – Ilustração de uma cozinha.

O limite inferior de inflamabilidade do Gás LP é de 1,86% do volume do


ambiente, portanto, 1,86% de 20m³ é igual a 0,372m³, ou seja, se esta
quantidade de gás vazar nesta cozinha a tornará em uma atmosfera explosiva,
necessitando somente uma fonte de ignição para fechar o triângulo do fogo.

O Gás LP se expande 0,271m³ de vapor para cada litro na fase liquefeita, temos
que 0,372m³ se expandem a partir de 1,37 litros na fase liquefeita. Como o Gás
LP possui densidade 0,504, multiplicando este volume pela densidade, temos
que a quantidade de quilos de gás LP é de 0,691kg ou 691g.

Em resumo, a cozinha da figura 1 acima se torna uma atmosfera explosiva se


vazar 691g de Gás LP, necessitando somente uma fonte de ignição, comum na
cozinha, para fechar o triângulo do fogo e causar um incêndio ou explosão com
danos materiais e eventualmente danos a pessoas.

O Gás LP é duas vezes mais pesado que o ar, quando vaza em local sem
ventilação, pode acumular em ralos, canaletas fechadas, caixas de gordura e
outras áreas baixas, onde podem se concentrar dentro dos limites de
inflamabilidade.

4
Escola do Gás

Este é o principal risco do Gás LP, que só vaza na cozinha da dona de casa por
mau uso (instalação indevida ou defeitos nos equipamentos que consomem o
Gás LP), ou por falha no recipiente.

Vamos abordar na sequência os riscos dos recipientes de Gás LP.

2.2 Riscos inerentes ao botijão de Gás LP

Os recipientes de Gás LP, em condições normais de uso, são estanques, ou seja,


não tem vazamentos.

Porém, se não for feita a correta manutenção, inspeção e ensaios, o recipiente


pode chegar até a cozinha do consumidor com vazamento.

Os vazamentos ocorrem no botijão de gás doméstico de 13 quilos nos seguintes


pontos:

• Nas uniões roscadas da válvula e plugue fusível com o botijão,


geralmente são micro-vazamentos, com menos de 5 gramas por hora,
que podem ter origem numa selagem malfeita ou no torque (aperto),
incorreto da válvula ou do plugue fusível;
• No centro da válvula. Causado por um defeito no anel de vedação
interno da válvula;
• No centro do plugue fusível, geralmente causado por microfusão do
centro do plugue fusível que é feito de uma liga metálica
predominantemente de chumbo e bismuto, com ponto de fusão entre
70 e 77ºC. O consumidor coloca o botijão ao lado de fornos com altas
temperaturas, porém não ficou lá o tempo suficiente para que toda o
centro do plugue derretesse, no entanto, causou microvazamentos com
partes do centro do plugue derretido;
• Vazamento na válvula, somente após a conexão do regulador de gás.
Isso ocorre por defeito no anel de vedação externo, e pode ser trocado
por assistência técnica adequada em revendas de gás; e
• Furo no botijão. Causado por desgaste, corrosão ou impacto de partes
pontiagudas ou cortantes no botijão.

Além do risco de vazamento, o recipiente ainda traz o risco do colapso do


botijão, que tem o potencial de dano maior. Geralmente ocorre por falha
estrutural do botijão (corrosão ou desgaste), ou por sobre-enchimento dos
recipientes. Neste tipo de ocorrência, o botijão rompe, causando projeção de
partes, possivelmente em todas as direções, podendo causar danos materiais e
danos a pessoas.

5
Escola do Gás

O transporte dos botijões de gás até a casa do consumidor é feito, em sua


maioria, pela revenda de gás, que entrega, instala e testa quanto a
vazamentos.

3. Índice de Vazamentos em botijões de Gás LP

Os cuidados com o parque de botijões em circulação no Mercado se refletem


no índice de vazamentos identificados e corrigidos dentro das distribuidoras no
processo de enchimento dos botijões, antes de serem entregues ao consumidor.
Este índice é de 0,5% do total de botijões engarrafados no Brasil.

No modelo atual, em que a distribuidora é responsável pelos botijões da sua


marca, o índice de vazamento é nível 6 sigma de qualidade, índice utilizado por
fabricantes de turbinas de aviões a fabricante de automóveis para garantia da
qualidade do produto.

4. Investimento em qualidade e segurança dos botijões de gás

As distribuidoras investem atualmente na qualidade dos botijões da sua marca,


seguem algumas iniciativas realizadas e em desenvolvimento:

• Pintura de melhor qualidade, para evitar a corrosão do botijão e limpeza


dos mesmos;
• Alças com pega ergonômica, para melhorar a experiência do
consumidor com o botijão;
• Base com tratamento contra corrosão, para evitar que o contato com a
umidade corroa o recipiente;
• Botijões de GLP com espessura de chapa de 3mm, quando a
especificação é de 2mm e a média do mercado é de 2,65mm, isso faz
com que a resistência a explosão dos botijões aumente de 85MPa para
105MPa, além de aumentar a resistência a mossas (amassados), corrosão
e furos por objetos perfurantes ou cortantes.
• Tecnologia para reduzir o peso do botijão de gás usando uma chapa de
aço mais leve, porém com maior resistência mecânica, para melhorar a
ergonomia nas bases de distribuição, revendas e também melhorar a
experiência do consumidor;
• Recipientes de capacidades distintas como P-05, P-07 e P-08, dando
alternativa ao consumidor, sendo garantida pelas distribuidoras a
intercambialidade entre estas embalagens, mesmo que a legislação da
ANP não exija.

6
Escola do Gás

A mudança do modelo para que todos os botijões possam ser usados por todas
as distribuidoras trará prejuízo para o consumidor, com o fim dos investimentos
na manutenção do parque de botijões em circulação do mercado.

O botijão não receberá manutenção por parte da empresa que é detentora


dos direitos da marca estampada em seu corpo, assim, se uma distribuidora usar
o botijão de outra, esta não dará manutenção nem a detentora dos direitos
sobre a marca, e a obrigação da requalificação recairá sobre o consumidor
final.

5. Requalificação de recipientes de Gás LP

5.1. Elegibilidade para requalificação

A manutenção e testes dos recipientes para Gás LP são realizados de acordo


com a norma de fabricação e classificação dos recipientes, como demonstra
a tabela 1.

Tabela 1 – Prazos para manutenção de recipientes transportáveis de Gás LP.


Transportáveis trocáveis
Processo Requalificação
Elegibilidade da fabricação 15 anos
Elegibilidade da requalificação 10 anos
Legislação Portaria INMETRO nº 167/96, NBR 8866, NBR
8865, Resolução ANP nº 15/05, NBR 8460.

A previsão de tais normas é que nos prazos estabelecidos ou quando


reprovados na seleção visual, o recipiente deve ser retirado de uso e passar por
processo de Requalificação.

A data de fabricação dos recipientes transportáveis trocáveis é indicada no


corpo do recipiente. Na figura 2, por exemplo, estampa 04 -14, indicando que
foi fabricado em Abril/2014, devendo ser retirado de uso e requalificado até o
final do ano de 2029, uma vez que a NBR 8865 determina que o recipiente deva
ser requalificado no ano em que completa 15 anos.

7
Escola do Gás

Figura 2 – data de fabricação de recipiente transportável.

Recipientes com data de fabricação anterior a 1996 possuem códigos


estampados em alto relevo no seu corpo. Caso encontre algum recipiente com
código no corpo no lugar da data que não tenha sido requalificado antes,
certamente ele deve passar pelo processo de requalificação.

Quando passa pelo processo de requalificação, o recipiente é validado por


mais 10 anos e recebe um selo de requalificação, que pode ser em forma de
medalhão ou ferradura, como mostra a Figura 3.

Figura 3 – Selos de requalificação – medalhão e ferradura.

O medalhão é instalado através de solda pontual no corpo do recipiente,


enquanto que a ferradura é instalada no flange da válvula do recipiente,
também através de solda ou outro processo com confiabilidade semelhante,
conforme mostram as figuras 4 e 5.

8
Escola do Gás

Figuras 4 e 5 – Ferradura e medalhão instalados em botijões.

O selo de requalificação, seja ele medalhão ou ferradura, indica o último ano


em que o recipiente é elegível para requalificação. No máximo nesse ano,
precisa ser retirado novamente de uso e passar por novo processo de
requalificação.

5.2 Seleção visual de recipientes transportáveis de Gás LP.

Devem ser retirados de uso e totalmente destruídos através de prensagem,


amassamento ou outro meio semelhante, os recipientes que:

a) apresentem deformações graves, tais como abolhadura e cavidade que


reduza espessura da chapa para menor que a de projeto, conforme
figura 6;

Figura 6 – Deformações graves em botijão

b) apresentem evidências de danos causados pelo fogo, quais sejam:


pintura queimada ou carbonizada, metal queimado ou descolorido,

9
Escola do Gás

deformações no recipiente, válvula fundida e queimada e plugue-fusível


vazado ou fundido;

c) apresentem corrosão acentuada, entendendo-se como a redução do


metal do recipiente para o mínimo de 2mm para recipientes com
capacidade volumétrica inferior a 250L e 4,3mm para os demais
recipientes (Figura 20);

d) não possuam identificação da Distribuidora em alto-relevo no corpo;

e) tenham capacidade volumétrica inferior a 5,5 litros.

Figura 7 – Exemplos de corrosão acentuada em botijão.

Devem ser retirados de uso e passar pelo processo de Requalificação os


recipientes que:

a) estiverem fora do prazo de utilização contado da data de fabricação ou


da última requalificação;

b) as alças e bases não proporcionam proteção à válvula e aos dispositivos


de segurança, equilíbrio estável ao recipiente em relação ao solo ou
empilhamento, estiverem soltas, com rasgo aberto na junção ou arestas

10
Escola do Gás

cortantes, possuírem deformações que comprometam a segurança do


manuseio ou possuírem diferença ou impossibilidade de identificação
entre gravações do corpo e da alça;

c) após exposição ao fogo, estiverem somente com o plugue-fusível vazado


ou fundido e a pintura descolorida com a camada inferior da tinta ainda
intacta;

d) a inscrição da tara esteja ilegível ou inexistente;

e) não seja possível visualizar e identificar as gravações do corpo e da alça;

f) possuam pés de apoio, para fixação da base;

g) após o enchimento, apresentem vazamentos.

Caso o botijão esteja dentro da validade, os defeitos indicados acima de b) a


g), podem ser corrigidos por processo de manutenção, previsto na NBR 14909,
não sendo necessário passar pelo processo de requalificação completo.

5.3 Processo de requalificação de recipientes transportáveis de Gás LP

Requalificação é o processo periódico de avaliação, recuperação e validação


de um recipiente transportável de Gás LP, determinando sua continuidade em
serviço.

O processo de requalificação é composto das seguintes fases:

a) Decantação e despressurização: É o processo de retirada do gás LP residual


do recipiente, tanto na fase liquefeita quanto gasosa. O recipiente é
colocado em uma bancada ligada a uma tubulação e o gás flui do seu
interior através da gravidade e/ou com auxílio de bombas e compressores.
Este processo é realizado para que o recipiente possa passar pela
manutenção e ensaios previstos.

b) Retirada dos componentes roscados: Retirada de pelo menos um dos


componentes roscados: válvula ou plugue fusível. A etapa seguinte será a
lavagem interna e é necessário um orifício para injetar água, por este
motivo é retirado um dos componentes, em geral a válvula.

11
Escola do Gás

c) Lavagem interna: processo para promover a desgaseificação, de forma


que não tenha a presença de atmosfera explosiva dentro do recipiente. As
próximas etapas do processo de requalificação que serão realizados no
recipiente são corte, solda, abrasão, ou seja, serviços com calor e
centelhas, por este motivo é necessário retirar a atmosfera explosiva de
dentro do recipiente. Este processo é feito, em geral, com água e vapor
d’água.

d) Ensaio de integridade: Deve ser realizado por ensaio de estanqueidade do


corpo com pressão hidráulica de 3,4 MPa ou alternativamente por emissão
acústica. Este é a principal etapa do processo de requalificação para
garantir a continuidade do recipiente em serviço, visto que testa a
aproximadamente duas vezes a pressão máxima de trabalho admissível do
recipiente.

e) Decapagem: processo de limpeza da chapa do recipiente para a


realização de inspeção. Em geral é realizada decapagem mecânica
através da projeção de minúsculas esferas de aço projetadas em alta
velocidade contra o corpo do recipiente retirando a camada de tinta e
eventuais corrosões. Pode ser utilizada, alternativamente, a decapagem
química. A função principal da decapagem é permitir a inspeção de
corrosão e preparar o metal-base para receber nova pintura.

f) Reparos na requalificação são permitidos, exclusivamente os seguintes:


• Reposição ou reparo das peças acessórias (alças e bases);
• Reparos nos cordões de solda;
• Tratamento térmico;
• Acabamento;
• Troca do flange;
• Troca da calota;
• Recuperação das roscas do flange.

g) Instalação da plaqueta de certificação: Existem duas formas de identificar


a requalificação de um recipiente: O medalhão (Figura 8) e a ferradura
(figura 9). A ferradura é instalada no flange do recipiente, quando não for
possível, pode ser instalada em qualquer outra parte que seja visível com o
recipiente na posição de trabalho. Já o medalhão é comumente instalado
no corpo do botijão, nos espaços da alça.

12
Escola do Gás

Figuras 8 e 9– Ferradura e medalhão instalados em botijões.

Tanto o medalhão quanto a ferradura indicam o ano em que a


requalificação do botijão vence, quando isso acontece, o botijão deve ser
enviado para processo de requalificação novamente.

h) Acabamento: O acabamento é feito para garantir a devida proteção


contra corrosão, para isso precisa resistir aos ensaios de pintura previstos na
NBR 8460: abrasão, impacto na pintura, aderência e névoa salina.

Em geral esta proteção é realizada através de pintura, primeiramente


primer e logo em seguida o acabamento final, com consequente cura
através de alta temperatura em estufa.

i) Ensaio de vedação das uniões roscadas: Este ensaio é feito com o


recipiente pronto para uso, com todos os componentes instalados. O
recipiente é submetido à pressão de 0,7MPa e imerso em água para
verificar se há vazamento na conexão da válvula ou do plugue fusível com
o recipiente. Após testado, o ar interno do botijão é retirado.

j) Inscrição da tara: Após a requalificação, o recipiente deve ter uma única


tara legível, que deve ser verificada no final do processo. A tara pode ser
inscrita em alto ou baixo relevo na alça do recipiente.

Embora seja permitida e mais comum a inscrição da tara em baixo relevo


diretamente na alça do botijão, a plaqueta de tara (Figura 10), tem sido
uma boa prática, uma vez que é em alto relevo e com caracteres maiores,
permitindo uma melhor visualização e evitando que as repinturas do
recipiente encubram as inscrições.

13
Escola do Gás

Figura 10 – Inscrições da tara

6. Histórico de requalificação

O processo de requalificação iniciou em 1996 no Brasil através do então


Departamento Nacional de Combustíveis – DNC, adotando normas técnicas do
INMETRO e ABNT.

Desde o início do processo de requalificação até o ano de 2017, dados


disponíveis no site da ANP, foram requalificados e inutilizados mais de 210
milhões de botijões P13, como indica o gráfico seguinte.

14
Escola do Gás

7. Correlação entre ocorrências em residências envolvendo GLP e


Requalificação

Os dados que seguem são fornecidos pelo Corpo de Bombeiros de São Paulo
do ano de 1995 a 2007, logo no início do programa de requalificação de
recipientes de GLP.

Solicitamos ao Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo informações atuais,


mas eles não dispõem destas informações mais recentes.

Mesmo sabendo que neste número constam ocorrências em que o botijão foi
envolvido, mas não deu causa ao acidente, como também casos de mau-uso
do produto, como uso em local sem ventilação, mangueira cruzando por trás
do fogão, botijão encostado em forno de alta temperatura, e outros, vamos
analisar os números comparativamente.

O início do programa de requalificação foi no segundo semestre de 1996, por


isso vamos fazer o comparativo a partir de 1997 com as ocorrências com e sem
fogo envolvendo GLP no Estado de São Paulo, nos gráficos seguintes.

15
Escola do Gás

1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
Compras 5.229.721 4.923.781 3.823.916 4.060.394 3.379.663 2.900.600 1.488.880 757.511 587.758 1.540.824 2.540.081
Universo 85.769.390 89.026.781 91.402.644 94.003.194 96.848.455 98.718.323 99.397.173 99.137.952 98.882.924 99.389.906 100.502.977
Inutilização 1.364.517 1.666.390 1.448.053 1.459.844 534.402 1.030.732 810.030 1.016.732 842.786 1.033.842 1.427.010
Requalificação 2.094.696 4.117.971 6.752.084 6.461.549 6.597.108 6.347.407 5.697.867 6.552.522 5.966.564 6.721.471 7.844.828
Requalificação e inutilização 3.459.213 5.784.361 8.200.137 7.921.393 7.131.510 7.378.139 6.507.897 7.569.254 6.809.350 7.755.313 9.271.838

Coeficiente de correlação de Pearson = - 0,60 Coeficiente de correlação de Pearson = - 0,64

Os dados indicam correlação negativa, ou seja, quando o número de


requalificação subiu, o número de ocorrências com GLP caiu com intensidade
de moderada a forte.

Esta análise demonstra a eficácia do programa de requalificação e a redução


do número de ocorrências com GLP na casa dos consumidores, prevenindo
perdas materiais e danos a pessoas.

8. Cor do botijão como fator decisivo de compra do consumidor

No início do programa de requalificação o então Departamento Nacional de


Combustíveis – DNC, estabeleceu que cada distribuidora deveria escolher uma
cor para que o consumidor pudesse diferenciar as marcas.

As distribuidoras escolheram e registraram as cores dos seus botijões, divulgando


para a população em geral.

A compra de gás e também a rejeição, desde então, passou a ser dirigida pela
cor do botijão em todas as regiões do País. Há regiões com mitos com relação
a cor de determinada marca de botijão, assim como a fidelidade à marca pela
qualidade do produto também é dada pela cor do botijão.

Uma eventual mudança de modelo para que todas as distribuidoras usem todas
as marcas de botijões irá confundir o consumidor: um determinado mês ele
receberá um botijão prata, no outro dourado, no outro cinza, mesmo
comprando sempre na mesma revenda de gás.

16
Escola do Gás

O revendedor vai receber um lote com botijões de todas as cores, o consumidor


pedirá a cor de sua preferência se o revendedor não tiver botijões cheios
daquela cor, perderá a venda.

A mudança do modelo de fidelidade à marca trará enormes prejuízos de


Marketing e Branding realizado pelas marcas de distribuidoras e revendas de
gás em todo o Brasil.

Um eventual retorno para o modelo em que todos os botijões tenham a mesma


cor, pois não haveria mais respeito à marca gravada no recipiente, traria
consigo custos equivalentes a uma requalificação de um botijão, visto que ele
deve ser decantado, despressurizado, desgaseificado para poder passar pela
decapagem mecânica com esferas de aço projetadas nele em alta
velocidade como preparação do metal para receber a tinta, em seguida deve
passar por pintura de base e finalmente pintura de acabamento final, para
posterior cura da tinta para poder retornar para o Mercado. Além disso, seria
necessária uma forte comunicação governamental sobre este processo de
mudança para o consumidor em geral, o que demanda recursos consideráveis.

Isso ainda levanta um outro ponto concorrencial, qual a cor do botijão seria
adotada? Não poderia ser nenhuma cor usada atualmente por alguma
distribuidora sob o risco de beneficiá-la em detrimento das outras.

9. Rastreabilidade

O modelo atual de fidelidade a marca, onde cada distribuidora envasa


exclusivamente os recipientes de sua marca, permite uma ótima rastreabilidade
até o consumidor final, uma vez que a marca é inscrita de forma indelével no
botijão de gás.

A migração para um modelo em que todas as distribuidoras usam todas as


marcas de botijões, a única forma de rastrear o envase seria através da nota
fiscal, rótulo com informações de segurança e lacre, que não são indeléveis e
regularmente se perdem após a instalação do botijão na residência do
consumidor.

Em caso de acidente ou mesmo de vazamento, o consumidor não terá


comprovação de quem foi que envasou aquele determinado botijão de gás.

Além disso, uma grande parcela das vendas para o consumidor final é feita por
revendas clandestinas, que não emitem Nota Fiscal e não obedecem a
legislação para comercializar com rótulo com informações e lacre, o que
perderia totalmente a rastreabilidade, trazendo prejuízos ao consumidor em
caso de acidentes ou vazamentos.

17
Escola do Gás

10. Responsabilidade Civil e Criminal - Marca Indelével

A Marca estampada em alto relevo nos botijões de Gás LP é o que garante a


responsabilidade objetiva administrativa, civil e criminal pelo envase e, por
conseguinte, pela manutenção do recipiente de Gás LP. A marca do envasador
removível, mesmo que seja resistente ao fogo, não garante que, em caso de
acidentes, seja possível rastrear até o responsável pelo envase e pela
manutenção do botijão de Gás LP.

Em caso de acidentes, chegar até quem envasou é fundamental para


determinar a responsabilidade civil e criminal. Sendo a marca removível, a
discussão sobre a responsabilidade não terá fim. O modelo atual, com marca
indelével no botijão, não há dúvida de quem envasou e quem é o responsável
pela manutenção do recipiente de gás LP.

Marcas removíveis, mesmo que indestrutíveis, e outras alternativas podem trazer


consigo uma possibilidade de má fé expressiva em casos de acidentes. É
importante conhecer a mecânica do setor e de como se encontra um
recipiente de Gás após um acidente com fogo na casa do consumidor.

Perder a marca indelével no botijão significa perder a definição de


responsabilidade de modo geral.

11. Conclusão

Diante das informações expostas, concluímos:

• O Gás LP é um produto inflamável que, em determinadas condições,


pode explodir, sendo classificado como produto perigoso;

• Os recipientes de Gás LP normalmente são estanques, porém em


operação diferente da utilizada atualmente podem apresentar
vazamentos, que nas condições de uso dentro de residências, prática
comum no Brasil, pode apresentar risco para o consumidor;

• O índice atual de vazamentos no processo de enchimento nas


distribuidoras é, em média, de 0,5% do total de botijões comercializados,
índice comparável aos melhores processos como automobilístico ou
aeroespacial, no modelo 6 sigma. No entanto, hoje ocorrem em
ambiente controlado, em instalações das distribuidoras localizadas em
áreas industriais;

• As distribuidoras investem atualmente em diferenciação dos botijões da


sua marca, seja em botijões com espessura de chapa maior, resistindo
mais à pressão, pintura com maior resistência a corrosão, melhor pega

18
Escola do Gás

da alça, tratamento anticorrosivo da base, botijões mais leves e


resistentes, seja através de botijões de uso doméstico de diferentes
capacidades como P05, P07 e P08, em benefício do consumidor, numa
eventual mudança de modelo para que todos os botijões possam ser
usadas por todas as distribuidoras, não haverá investimento em melhorias
do botijão, com o risco do sucateamento do parque de botijões
existentes;

• Os testes hidrostático e pneumático, e demais tratamentos realizados


dentro do processo de requalificação, garantem a estanqueidade e a
integridade do botijão de gás;

• Foram requalificados ou inutilizados mais de 466 milhões de botijões P13


desde o início do processo de requalificação em 1996 até o ano de 2017;

• Existe correlação inversa de moderada a forte entre o número de botijões


requalificados e o número de ocorrências com GLP no Estado de São
Paulo, comprovando a eficácia do programa de requalificação entre
1997 e 2007, logo no seu início;

• A eventual mudança para um modelo em que todos os botijões podem


ser usados por todas as distribuidoras, colocará um fim em todos os
benefícios conquistados com o Programa Nacional de Requalificação
de Recipientes de GLP, com graves riscos ao consumidor final, mesmo
que seja criado um sistema alternativo em que cada distribuidora deva
retirar de uso quantidade de recipientes de acordo com sua
participação de Mercado para requalificar, o controle deste processo é
complexo, quase impossível, sob o risco de sucateamento dos botijões e
acidentes graves com os consumidores;

• A cor do botijão é fator decisivo de compra em diversas regiões do Brasil,


assim como a rejeição por marca. Uma eventual mudança de modelo
traria graves prejuízos de Marketing, Branding e Processo de Vendas tanto
para Distribuidoras quanto para revendas de gás; e

• O modelo em que todas as distribuidoras envasam todos os botijões torna


a rastreabilidade do consumidor até a distribuidora que envasou o
recipiente frágil, sendo somente através de documento fiscal, rótulo com
informações e/ou lacre que, normalmente, são perdidos quando o
botijão é instalado na casa do consumidor;

19
Escola do Gás

• A Marca estampada em alto relevo nos botijões de Gás LP é o que


garante a responsabilidade objetiva administrativa, civil e criminal pelo
envase e, por conseguinte, pela manutenção do recipiente de Gás LP.

20

Você também pode gostar