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CONTRA-JUSTIFICAÇÃO PL 987/22

Este projeto de lei visa a abrir o mercado do Gás Liquefeito de Petróleo (GLP), conhecido
coloquialmente como gás de cozinha, aumentando a concorrência do setor.

Consequentemente este projeto mostrará pontos negativos que irão impactar na vida da
população conforme elencado abaixo:

Adulteração/Fraude

Verificando a mídia em geral e consultando dados da ANP (Agencia Nacional do Petróleo)


podemos constatar várias informações veiculadas a respeito de adulteração do botijão de GLP, a
adulteração mais comum é a injeção de água no botijão, porém nenhuma destas adulterações
fiscalizadas pela ANP são provenientes das Distribuidoras (engarrafadoras) de GLP
formalmente constituídas, todas foram atribuídas a revendedores e falsos comerciantes.

Outra possibilidade de fraude que é comumente encontrada em postos de combustíveis é a


entrega de quantidade menor de produto com relação ao que foi pago, muitos postos possuem
bombas que marcam o volume abastecido maior do que foi efetivamente inserido no tanque do
veículo. Este tipo de infração representou 28,6% das interdições realizadas pela ANP em 2023
sendo este o principal motivo de todas interdições realizadas ¹.
No citado PL no parágrafo 9º cita: “O cliente, ao levar o recipiente, poderá ter seu botijão
apreendido por falta de segurança em sua conservação, nos termos do regulamento, que
também disciplinará o descarte dos vencidos e inutilizados.”
Este tipo de proposta cria a possibilidade de apreensão indevida do cilindro, pois a avaliação da
segurança do cilindro será meramente visual e subjetiva, o texto do PL não cita nem mesmo
qual a capacitação ou habilitação deverá ter o frentista para ancorar sua decisão que acarretará a
apreensão de um bem do consumidor, e o PL não cita em nenhum momento se a apreensão do
botijão do consumidor possibilitará o direito a uma indenização. Também não há previsão sobre
o que fazer com o botijão apreendido, se haverá a entrega de um recibo ao consumidor para
justificar a apreensão e nem um controle para garantir a destruição do cilindro com baixo nível
de segurança.

¹ https://www.gov.br/anp/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/boletins-anp/boletins/bfan/
boletim-fiscalizacao-n23.pdf

Segurança

Em breve consulta na internet verificamos que existem vários casos de acidentes com incêndio
e/ou explosão de botijões de GLP, pode haver falha em válvulas ou no próprio botijão, mas no
passado o número de acidentes era maior e diminuiu graças ao programa de requalificação dos
botijões de GLP, a cada recarga dos botijões nas distribuidoras o botijão passa por uma inspeção
e os botijões que não apresentam condições de segurança (enferrujados, amassados, vencimento
do prazo de validade, etc) são enviados para requalificação ou destruição. O programa de
requalificação iniciou em 1995 e após 10 anos do início foi registrado uma diminuição de mais
de 50% do número de acidentes deste tipo no estado de São Paulo, 6510 acidentes em 1995
contra 2749 em 2005 segundo fonte do Corpo de Bombeiros.

Hoje, conforme resolução ANP 15/05 e NBR´s 8865 e 8866, o botijão de GLP de 13 Kgs tem
uma vida útil determinada de até 15 anos podendo, após criteriosa inspeção de requalificação,
durar mais 10 anos, após este tempo o botijão deve ser destruído, todo o custo com a segurança
dos botijões hoje é absorvido nos custos das distribuidoras, segundo associação das empresas
requalificadoras no Brasil, o custo total dispendido com a requalificação distribuído em cada
unidade de GLP 13 Kg vendido é de aproximadamente R$ 1,00.

Um consumidor comum não terá condições de exercer a função de inspecionar rigorosamente o


seu botijão de gás, esta tarefa é crítica e enseja o mínimo de conhecimento, deve ser verificado
amassados, perda de espessura da chapa de metal devido corrosão, condições das válvulas, etc e
a depender da inspeção visual realizada pelo frentista o consumidor pode efetuar a repintura do
botijão escondendo assim sua real condição de conservação.

Ademais o custo e a responsabilidade pela manutenção dos cilindros, mesmo depois de


instalados na residência do consumidor é de responsabilidade das distribuidoras conforme
resolução ANP 49/2016 art 28: “Assistência técnica gratuita aos botijões de sua marca” e Art.
37. “São de responsabilidade do distribuidor de GLP a inspeção visual, a requalificação, as
manutenções preventiva e corretiva e a inutilização de recipientes transportáveis de GLP de
sua marca e de terceiros, desde que possua contrato de direito de uso da marca homologado
pela ANP ou contrato celebrado com outro agente regulado contendo cláusulas de
envasilhamento de recipientes transportáveis de GLP, observados os arts. 26 e 27 desta
Resolução, de acordo com as legislações e normas vigentes”. No PL apresentado estas
responsabilidades e custos serão transferidas para o consumidor sem ampla divulgação dessas
informações.

Uso como combustível automotivo (produto subsidiado)

Conforme resolução ANP 49/2016 art. 33. É vedado o uso de GLP em:

I - motores de qualquer espécie, inclusive com fins automotivos, exceto empilhadeiras


e equipamentos industriais de limpeza movidos a motores de combustão interna;

Nos anos 80 e 90, quando o preço da gasolina sofreu as consequências do segundo choque do
petróleo, virou moda adaptar os carros para usar gás de botijão (GLP, gás liquefeito de
petróleo), principalmente entre os taxistas. Era uma modificação totalmente clandestina e
proibida, era combatida pela polícia à época, alegadamente pela questão de segurança. É claro
que um botijão de gás feito para uso doméstico, com uma adaptação caseira para levar gás ao
carburador e preso precariamente no porta-malas de um veículo pode ter efeitos imprevisíveis e
provavelmente tendentes ao catastrófico no caso de um acidente, mas na época a segurança
veicular não era uma grande preocupação, não se falava sequer em uso do cinto de segurança e
a taxa de mortes por 100.000 veículos era o triplo da atual.

O maior motivo mesmo era o econômico: enquanto a gasolina era aumentada segundo os preços
internacionais do petróleo, o gás de botijão era fortemente subsidiado pelo governo na época,
pois era o “gás de cozinha” de boa parte da população. Em 1982, por exemplo, o litro da
gasolina (com 12% de álcool àquela época, uns 29,5 MJ/l) custava 105 cruzeiros, enquanto que
um botijão de gás de 13 kg custava 385 cruzeiros. Quanto de energia tem no botijão? GLP tem
46,6 MJ/kg, multiplicado por 13, dá 605,8 MJ, o equivalente a 20,5 litros de gasolina da época!
Ou seja, o custo da energia na gasolina era de Cr$ 3,56/MJ, enquanto que no GLP era de Cr$
0,64/MJ, menos de 1/5 do valor. Hoje, como acabou o subsídio ao GLP, esta diferença
praticamente inexiste.

Atualmente, a gasolina custa em média R$ 5,88 por litro, segundo o site da Agência Nacional
do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). E o botijão de gás custa R$ 105. Fazendo as
contas, o custo da gasolina é de 17 centavos por MJ e o do GLP é de 16 centavos por MJ, um
custo quase igual. Caso se pudesse usar GLP nos carros hoje em dia, seria menos indiferente, do
ponto de vista econômico, andar com GLP ou com gasolina, resultado parcialmente explicada
por conta da retirada deste subsídio. E GLP em carros não é uma ideia absurda, ele é usado em
alguns países da Europa.

Porém existe uma falsa ideia de economia com o uso de GLP nos veículos automotores, tanto
que em uma rápida pesquisa no site de vendas online Mercado Livre encontramos kits para
conversão do motor flex para GLP, este aumento do consumo geral de GLP em veículos
automotores, além de aumentar a insegurança no transito, irá provocar o aumento do consumo
deste produto e consequentemente o aumento no preço ao consumidor já que o país não é
autossuficiente na produção de GLP e depende de importações do produto.

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