Você está na página 1de 4

Editoria Música (editorial agosto)

“Respeita”

Você que pensa que pode dizer o que quiser

Respeita aí, eu sou mulher

Quando a palavra desacata, mata, doí

Fala toda errada que nada constrói

Constrangimento, indetrimento de todo discernimento quando ela diz

Não mas eu tô vendo, eu tô sabendo

Eu tô sacando o movimento

É covardia no momento

Quando ele levanta a mão

Ela vai, ela vem

Meu corpo, minha lei

Tô por aí, mas não tô à toa

Respeita, respeita

Respeita as mina porra

Diversão é um conceito diferente


Onde todas as partes envolvidas concem

O silêncio é um grito de socorro escondido

Pela alma, pelo corpo

Pelo o que nunca foi dito

Ninguém viu, ninguém vê, ninguém quer saber

A dor é sua, a culpa não é sua

Mas ninguém vai te dizer

E o cinismo obtuso

Daquele cara confuso

Eu vou esclarecer: abuso

Ela vai, ela vem

Meu corpo, minha lei

Tô por aí, mas não tô à toa

Respeita, respeita

Respeita as mina porra

Violência por todo mundo

A todo minuto, por todas nós

Por essa voz

Que só quer paz

Por todo luto, nunca é demais

Desrespeitada, ignorada

Assediada, explorada

Mutilada, destratada

Reprimida, explorada
Mas a luz não se apaga

Digo que sinto

Ninguém me cala

Ela vai, ela vem

Meu corpo, minha lei

Tô por aí, mas não tô à toa

Respeita, respeita

Respeita as mina porra

Ana Cañas (2018)

A violência contra a mulher é algo multidimensional, que afeta os âmbitos físico, psíquico e
social. Quando se trata de atentados aos corpos femininos, falamos de qualquer conduta, ação de
discriminação, agressão e coerção, ocasionada pelo simples fato de a vítima ser mulher.

A canção de Ana Cañas aborda a violência de gênero e as experiências da própria cantora.


"Respeita" é o nome que a música leva. Esse vocativo se faz necessário para a reivindicação de
algo tão óbvio: nossa liberdade de sermos quem somos.

Poucas vezes as mulheres conseguem evocar de forma clara que sofrem abuso. Muitas vezes,
elas nem têm a real noção de que sofrem violência. Esse silenciamento é reforçado pela
sociedade que culpabiliza as mulheres pelos abusos sofridos.

A proposta de insistir nessa pauta é quebrar o tabu em torno dela. É urgente sair do
conformismo que naturaliza práticas de violência contra as mulheres. A sociedade ainda carrega
uma marca indelével construída pela cultura patriarcal.

A vítima fragilizada, em geral, é ignorada e questionada pelos padrões estabelecidos. Modelo


esse que dita que, se é mulher, precisa se subjugar à normativa instituída por uma conduta
arbitrária. Estilo de roupa, modo de comportamento, a obrigatoriedade do instinto materno,
esses pequenos detalhes ditam como devemos viver nossa feminilidade. Sendo assim, as
mulheres seguem condicionadas ao imperativo vigente, que fere moralmente, socialmente,
economicamente, além de deslegitimar o discurso feminino.
A música, como manifestação popular e forma de catarse de uma categoria, manifesta-se como
uma voz que insiste em ser ouvida.

Portanto, o que fica na mensagem da canção proposta é que se “respeite as mina, "po@a"!! Não
porque ela poderia ser sua mãe, irmã, ou coisa que o valha. O valor que a mulher tem não está
pautado na relação que ela estabelece com um homem, mas sim no valor que ela carrega em si
mesma.

Camila Vieira, agosto de 2023

Você também pode gostar