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Exercı́cio Escolar – 2023.1 – IF967: M.D.

– SI

São trinta afirmações distribuı́das em seis questões. Escolha vinte afirmações para analisar e marcar resposta.
Cada afirmação avaliada corretamente garante meio ponto e uma afirmação avaliada incorretamente reduz a
pontuação total em um décimo de ponto. A nota mı́nima é 0. Comece pelas mais simples para você. Boa prova!

Questão 1. Observe atentamente a tabela dos (F) O número 100! termina com exatamente vinte
primeiros fatoriais abaixo: e cinco zeros no final. Errado. v5 (100) =
n 0 1 2 3 4 5 b100/5c + b100/25c = 24.
n! 1 1 2 6 24 120
n 6 7 8 9 10 11 (V) Temos que vp (n) ≤ n/(p − 1) para qualquer p
n! 720 5040 40320 362880 3628800 39916800 primo e n natural. OK.
Agora, observe abaixo como o 100! ficaria expresso ∞   ∞ ∞
X n X n X 1 n
de acordo com a definição de fatorial: vp (n) = ≤ = n = .
i=1
pi i=1
p i
i=1
p i p − 1
100! = 1 × 2 × 3 × 4 × 5 × 6 × 7 × 8 × 9 × 10 × 11 × 12
× 13 × 14 × 15 × 16 × 17 × 18 × 19 × 20 × 21
(F) 100! é divisı́vel por 350 . Errado. v3 (100) =
× 22 × 23 × 24 × 25 × 26 × 27 × 28 × 29 × 30 × 31
b100/3c + b100/9c + b100/27c + b100/81c =
× 32 × 33 × 34 × 35 × 36 × 37 × 38 × 39 × 40 × 41 33 + 11 + 3 + 1 < 50.
× 42 × 43 × 44 × 45 × 46 × 47 × 48 × 49 × 50 × 51
(F) 100! tem entre 1012 e 1013 divisores. Errado.
× 52 × 53 × 54 × 55 × 56 × 57 × 58 × 59 × 60 × 61 Relembrando do que vimos na aula de dupla
× 62 × 63 × 64 × 65 × 66 × 67 × 68 × 69 × 70 × 71 contagem: o total de divisores de um número é
× 72 × 73 × 74 × 75 × 76 × 77 × 78 × 79 × 80 × 81 o produtório de 1 + o expoente de cada fator
primo desse número. v2 (100) = 97, v3 (100) =
× 82 × 83 × 84 × 85 × 86 × 87 × 88 × 89 × 90 × 91 48, v5 (100) = 24, v7 (100) = 16. Então só até aı́
× 92 × 93 × 94 × 95 × 96 × 97 × 98 × 99 × 100. temos (97 + 1) × (48 + 1) × (24 + 1) × (16 + 1) =
2040850 > 220 divisores. Levando em consi-
Os primeiros números primos até 100 são os seguintes:
deração que vp (100) ≥ 5 até p = 19, conside-
2, 3, 5, 7, 11, 13, 17, 19, 23, 29, 31, 37, 41, 43, 47, 53, 59, 61,
rando a contribuição de 11, 13, 17, 19, ficamos
67, 71, 73, 79, 83, 89, 97. Defina P como sendo o con-
com 64 > 36 × 36 > 32 × 32 > 210 , perfazendo
junto de todos os primos. Repare nos números mos-
pelo menos 220 × 210 divisores. Como ainda
trados, pense um pouco e convença-se de que, se
temos mais de 13 primos até 100 após 19, a
vp : N → N, com p ∈ P, é expresso conforme abaixo
contribuição deles é maior do que 214 , assim
X∞ 
n
 temos > 220 × 210 × 214 = 244 divisores. Como
vp (n) = , 220 > 106 e 24 > 10, temos que 244 > 1013
i=1
pi
divisores.
onde bxc = max{z ∈ Z | z ≤ x}, então vp (n) corres- Questão 2. Marque com V os conjuntos enu-
ponde ao expoente do primo p na fatoração em primos meráveis e com F os conjuntos NÃO enumeráveis:
de n!; este é conhecido como o Teorema de Legendre.
Por exemplo: (V) Conjunto das retas no plano que passam em
pelo menos dois pontos distintos com coorde-
6! = 2v2 (6) × 3v3 (6) × 5v5 (6) = 24 × 32 × 51 , nadas racionais. Enumerável. Vamos chamar
10! = 2v2 (10) ×3v3 (10) ×5v5 (10) ×7v7 (10) = 28 ×34 ×52 ×71 . o conjunto anterior descrito na senteça de R .
Podemos criar uma função que vai do par de
Avalie as afirmativas abaixo, considerando base deci- pares de racionais, o que significa Q4 , e leva a
mal, marcando V nas verdadeiras e F nas falsas: Para uma reta em R. Toda reta que passaria por
essa questão é importante notar que a quantidade de dois pontos racionais, ou seja pertencente a R,
0’s que vai ter em um determinado fatorial corresponde teria que ser contemplado como imagem dessa
exatamente ao expoente do 5 na decomposição em fa- função, caracterizando uma função sobrejetora.
tores primos, já que 10 = 5 × 2 (o expoente do 5 é Assim, cardinalidade(Q4 ) ≥ R. Como Q4
sempre menor que o 2), o que corresponde a v5 (n). é enumerável (como vimos em sala, produto
(V) O número 20! termina com exatamente quatro cartesiano finito de conjuntos enumeráveis é
zeros no final. OK. v5 (20) = b20/5c = 4. enumerável ), R é enumerável.
(V) Conjunto de todos os reais que podem ser escri- vai intervir para corrigir alguma imprecisão/erro do
tos usando quantidade finita de números raci- ponto de vista matemático. Marque V se você NÃO
onais e uma quantidade finita de operações de precisar intervir e F caso contrário.
soma, subtração, multiplicação, divisão, seno,
(V) Interação 1. Juciana: “Tava fazendo um
cosseno, tangente, inversas trigonométricas, ex-
exercı́cio que mandava a gente demonstrar que
ponencial e logaritmo (ambos com base nepe-
n2 ! ≥ (n! )n+1 para n natural positivo. Dei

riana) realizada sobre esses números racionais.
Enumerável. O conjunto de todas as strings fini-
®
uma olhada no YouTube para encontrar al-
tas é enumerável, como visto em sala. Portanto, guma ideia, mas falhei miseravelmente. Você
conjunto de todas as fórmulas descritas por um tem alguma ideia?” Carla Mônica: “O pessoal
conjunto finito de caracteres é enumerável. apresentou na aula invertida a permutação com
repetição e o professor, na outra aula, falou de
(F) Conjunto de todos os cı́rculos no plano que pas- um problema onde agrupávamos 20 polı́ticos
sam por dois pontos com coordenadas inteiras. em 4 bancadas não importando a ordem. Acho
Não enumerável. Basta notar que três pontos que faz sentido nessa situação: se a gente mon-
não-colineares no plano define um cı́rculo. As- tar uma sequência 1, . . . , 1,2, . . . , 2, 3, . . . , 3, . . .,
sim, escolhendo, por exemplo os pontos (−1, 0), | {z } | {z } | {z }
n n n
(1, 0) e qualquer ponto no intervalo (0, 1] das n − 1, . . . , n − 1, n, . . . , n e, depois, fizer todas
ordenadas teremos um cı́rculo com raio dis- | {z } | {z }
n n
tinto (portanto ele próprio distinto). Assim as permutações com repetição, a gente encon-
teremos uma função injetora entre (0, 1] e um tra n2 ! /(n! )n . Pense nisso como sendo n2

subconjunto de todos os cı́rculos que consegui- polı́ticos em n bancadas. Daı́, a gente ainda
mos formar passando por dois pontos com co- divide por n! já que a ordem das bancadas não
ordenadas inteiras. Como o conjunto (0, 1] não importa. Como a gente tem pelo menos uma
é enumerável (já que [0, 1) não é enumerável, possibilidade de distribuição de n2 polı́ticos em
como vimos em sala), este conjunto de cı́rculos n bancadas não importando a ordem, de fato,
também não pode ser enumerável. n2 ! ≥ (n! )n+1 .”’ OK. O argumento combi-


(V) Conjunto de todas as sequências decrescentes natório de Carla Mônica é válido.


de números naturais. Enumerável. Primeira- (V) Interação 2. Romeu: “O professor falou em
mente, não há sequências infinitas decrescentes sala de um problema em aberto que achei fácil
nos naturais. Veja: Suponha que a sequência de entender. É dos primos gêmeos. Diz assim:
infinita decrescente de naturais exista, então, ‘Será que existem infinitos primos p tais que
o primeiro elemento é um natural. Seja n tal
natural, então só restam n − 1 números natu- ®
p + 2 também é primo?’. Tava mexendo no
Reddit e vi por lá que 282589933 − 1 é primo.
rais distintos menores que n. Se a sequência Depois, fui verificar no mersenne.org e de fato
é infinita, então ela possui pelo menos n + 1 é verdade. Em seguida, resolvi dar uma olhada
elementos. Pelo princı́pio da Casa dos Pombos, mais a fundo e acabei provando que 282589933 +1
algum desses 1 + (n − 1) elementos repetirá e 282589933 +3 também são primos. Interessante,
e, portanto, a sequência não será decrescente. não é?” Carol: “Infelizmente, só pode ter ha-
Absurdo. Por outro lado, todas as sequências vido algum erro na tua conta. Além de 3, 5
decrescentes finitas de naturais são um subcon- e 7, não há nenhuma outra tripla de primos
junto de todas as sequências finitas de naturais, com essa propriedade.” OK. O argumento de
que é enumerável como vimos em sala. Carol para corrigir Romeu é válido. Se o p é
(F) O conjunto das partes de algum subconjunto primo > 3, ele ou é da forma 3k + 1 ou 3k + 2.
infinito de N com menor cardinalidade possı́vel. Se for da forma 3k + 1, então p + 2 é divisı́vel
Não enumerável. Qualquer conjunto infinito por 3 e não é primo. Se for da forma 3k + 2,
tem cardinalidade pelo menos igual a dos na- então p + 4 é divisı́vel por 3 e não é primo. Ou
turais, ℵ0 . Basta você começar a associar um seja, tirando 3, 5 e 7 não há como haver outra
natural em ordem para cada elemento que for tripla de números com essa propriedade (isso é
encontrando (enumerando os elementos). Como possı́vel para 3, 5 e 7 porque 3 é o único primo
o conjunto é infinito, você nunca parará de com a forma 3k).
encontrar um novo elemento para associar ao
(F) Interação 3. Clarice: “Leo! Se eu colocar
próximo natural, perfazendo então todos os na-
números de 1 a 100 numa matriz 10 × 10, vai
turais. Ou seja, vai haver uma sobrejeção pros
ter pelo menos uma submatriz 2 × 2 cuja soma
naturais. Assim, qualquer subconjunto dos na-
de seus elementos será de pelo menos 250. Tava
turais também está em ℵ0 . O conjunto das
usando o computador para verificar, botando
partes de um conjunto A, pelo Teorema de Can-
números de 1 a 100 em sequência aleatória e
tor, tem cardinalidade estritamente superior a
sempre tava encontrando alguma submatriz 2×2
A. Ou seja, não vamos ter um conjunto enu-
com essa propriedade. Você teria uma ideia de
merável.
como a gente poderia chegar nessa conclusão?”
Questão 3. Você é monitor da cadeira de Ma- Leonardo: “Veja: Se a gente pegar, por exem-
a a6,7 a7,6 a7,7
temática Discreta e está presenciando cinco interações plo a7,7 , as submatrizes ( a6,6 7,6 a7,7 ), ( a8,6 a8,7 ),
a6,7 a6,8 a7,7 a7,8
diferentes entre estudantes. Você precisa decidir se ( a7,7 a7,8 ) e ( a8,7 a8,8 ) incluem ele. Ou seja,
cada número da matriz é englobado 4 vezes automaticamente tan(2◦ ) tem que ser racional,
pelas submatrizes 2 × 2 da matrizona 10 × 10. já que
Assim, a gente poderia calcular a soma total tan(45◦ ) − tan(43◦ ) 1 − tan(43◦ )
dos elementos de todas as submatrizes 2 × 2 da tan(2◦ ) = = .
1 + tan(45◦ ) tan(43◦ ) 1 + tan(43◦ )
matrizona 10 × 10 fazendo 4 × 100
P
i=1 = 20200
i
2 tan(x)
e, em seguida, levando em conta que temos 81 Agora, aplicando a relação tan(2x) = 1−tan 2 (x)

submatrizes 2 × 2, usando o Princı́pio das Casas várias vezes, temos que tan(4◦ ), tan(8◦ ),
dos Pombos, pelo menos uma casa vai ter que tan(16◦ ), tan(32◦ ) também são racionais. E,
ter 250 como soma. Ou seja, pelo menos uma como
submatriz terá como soma dos elementos 250.” tan(32◦ ) − tan(2◦ )
Errado. Argumento de contagem falho já que tan(30◦ ) = ,
1 + tan(32◦ ) tan(2◦ )
os elementos da matriz que estão na borda (por
temos que tan(30◦ ) também é racional. √ Ora,
exemplo, a1,1 , não vão estar compartilhados
isso é um absurdo já que tan(30◦ ) = 3/3, um
com 4 submatrizes).
irracional.” OK. Argumento com redução ao
(V) Interação 4. Clodoaldo: “Georgia, eu testei absurdo válido. Contas corretas.
várias sequências com 12 inteiros consecutivos e (V) Interação 7. Miguel: “Rapaz... eu estava ten-
em nenhuma delas ocorria um quadrado perfeito tando encontrar argumentos matemáticos para
√ √
(k2 , k ∈ N). Você vê lógica nisso?” Georgia: demonstrar que 2 + 11 é irracional. Mas

“Pensando aqui, se a gente for de n até n + 11, não achei não. Aquela história do 2 que a
somando, ficamos com 12n+ 11×12 2
= 6(2n+11). gente viu na sala não serve para esse aı́. Você
Para esse número ser um quadrado perfeito, o faz alguma ideia de como demonstrar?” André:
número 2n+11 tem que ser igual a 6m2 para “Só um segundo, deixa eu pensar... √ eu√acho
algum m inteiro. Ou seja, 2n + 11 tem que que tenho uma ideia. Pega a = 2 + 11 e
√ √
ser múltiplo de 6, o que não é possı́vel já que b = 2 − 11. Como ab = −9, um número
2n + 11 é ı́mpar e qualquer múltiplo de 6 é par.” racional, só há uma possibilidade das duas: ou
OK. A soma de PA e o argumento lógico estão a e b são racionais;
√ ou a e b são irracionais.
adequados. Como a + b = 2 2, que é irracional, só pode-
(F) Interação 5. Robersval: “Eu estava pensando mos concluir
√ √que a e b são irracionais. Portanto,
no começo da semana sobre os números em base a = 2 + 11 é irracional.” Miguel: “Ah!
decimal escritos como uma sequência de 1’s. Dei Entendi. Valeu, André!--OK. O argumento de
uma estudada e vi que se chamam repunit e André está correto, usando recursos de prova
são, por vezes, denotado como 1n = 111| {z . . . 1}. direta.
n (F) Interação 8. Anjolina: “Tiago! Veja que curi-
Veja que, se o próprio n for primo, isso não oso. Quando eu pego n, n17 + 9 e (n + 1)17 + 9,
garante que 1n também seja primo. Por exem- o divisor comum deles fica sempre dando 1. A
plo: 11111 = 41 × 271. Além disso, se a gente viu que isso significa que são primos entre
gente analisar direitinho, podemos escrever si. Eu fiquei realmente impressionada porque eu
1n = 19 (10n − 1) para n natural positivo. As- testei, usando o SageMath, basicamente, todos
sim, a gente já pode ver de cara que se n for os números para n de 1 a 264 , sempre dão na
um natural par, podemos escrever 19 (102k − 1) mesma coisa.” Tiago: “Poxa, que interessante.
1 Com tantos valores positivos, com certeza isso
como (10k − 1) (10k + 1), com k natural. As-
|9 {z
º
aı́ deve acontecer para todo n natural.” Errado.
º
} | {z }
2 fator
1 fator Não é porque acontece com uma quantidade fi-
sim, para n natural par, 1n não pode ser um nita de número naturais que vai acontecer com
número primo, já que tem pelo menos dois fato- TODOS os naturais. Para n bem grande, por
res.” Adão: “É tenho até outro exemplo sobre exemplo
o que você falou primeiro: se n = 13, temos 1n
n: 8 424 432 925 592 889 329 288 197
divisı́vel por 53. Mais um valor de n que é primo
322 308 900 672 459 420 460 792 433,
cujo 1n não é primo.” Errado. A afirmação
“[...]para n natural par, 1n não pode ser um esses três números não são primos entre si.
número primo.” está errada, já que 11 é primo. (F) Interação 9. Ranieri: “Cláudia, você se lem-
bra que na aula de demonstrações, vimos o
Questão 4. A monitoria continua! Você como
Teorema de Euclides onde ele demonstra por
monitor está presenciando cinco outras interações di-
redução ao absurdo que o conjunto dos primos é
ferentes entre estudantes. Você precisa decidir se vai
infinito. Só relembrando a ideia, você supõe que
intervir para corrigir alguma imprecisão/erro do ponto
existem n primos {p1 , p2 , . . . , pn } e então você
de vista matemático. Marque V se você NÃO precisar
entra numa contradição ao considerar o número
intervir e F caso contrário.
N = p1 × p2 × . . . × pn + 1, que não é divisı́vel
(V) Interação 6. Sofia:“Alguém sabe me dizer se por ninguém além de 1 e ele mesmo. Então,
a tangente de 2023◦ é racional?” Cláudio: “É eu estava pensando que a gente poderia utilizar
não, Sofia. Como tan(x) = tan(x + 180◦ ), te- essa ideia para gerar um número primo bem
mos que tan(2023◦ ) = tan(43◦ ). Vamos supor grande: basta você pegar os k primeiros primos
por absurdo que tan(43◦ ) seja racional, então do seu interesse, multiplicar todos eles e somar
1!” Cláudia: “Sim, interessante! Por exemplo: seu nome é Felix Weber, alemão. Você decide avaliar
2 × 3 × 5 × 7 × 11 + 1 = 2311, que realmente é o conhecimento de Felix em relação a árvores binárias.
primo. No caso, para conseguir um bem maior, Avalie como V as respostas adequadas de Felix e F,
a gente usa a peneira de Eratóstenes que a gente caso contrário.
viu na sala de aula com um array de tamanho Você: “Felix, vamos considerar árvore de busca
10000, por exemplo. Daı́, faz o produto de todos binária (BST) com nós no conjunto {1, 2, . . . , 15}. Gos-
os primos que conseguimos, soma um, tomando taria que você me indicasse qual é a maior e menor
cuidado que nossa aritmética no computador altura da BST que conseguimos usando esses números
comporte números desse tamanho, ficaremos e como seriam essas árvores.”
com um primo enorme!” Errado. O argumento
(V) Felix: “Perfeitamente. Em relação à BST de
tem problema lógico. Euclides assumiu que a
maior altura que conseguimos obter, podemos
quantidade de primos é finita para chegar num
inserir exatamente na ordem 1, . . . , 15. A árvore
absurdo. Em outras palavras, o que Euclides
ficará com altura 14 e basicamente como se fosse
conseguiu negar foi a não existência de infinitos
uma lista, ou seja, com uma direção só. Além
primos e não exatamemte a primalidade de N .
disso, como a ordem de inserção foi de números
Nada impede de haver primos entre pn + 1 e
crescentes, cada nó que não seja folha, terá exa-
p1 ×p2 ×. . .×pn que dividam p1 ×p2 ×. . .×pn +1.
tamente um filho à direita. Já, para a árvore de
Por exemplo, 2 × 3 × 5 × 7 × 11 × 13 × 17 × 19 + 1
menor altura, devemos inserir os nós de maneira
não é primo e tem como fatores primos 347 e
a construir uma árvore perfeitamente balance-
27953.
ada. Como temos 15 nós, isso é possı́vel e a
(F) Interação 10. Maria Eduarda: “Ei, Gerônimo! altura da árvore ficaria em 3.” OK.
Eu tava tentando contar o número total de
triângulos nessa figura abaixo. Você tem al- Você: “Certo, Felix. Agora considere que uma BST
guma ideia de como fazer?” com alguma sequência de inserções, ainda usando esse
conjunto {1, 2, . . . , 15}, foi gerada. Seria possı́vel en-
contrar uma BST cujo percurso pre-order ficaria 1, 3,
5, 7, 9, 11, 13, 15, 2, 4, 6, 8, 10, 12, 14?”
(F) Felix: “Nesse caso, eu teria que dizer que não.
A razão é a seguinte: qualquer BST que use
‘≤’ para comparar inteiros com os nós, acaba
gerando uma sequência ordenada por ‘≤’ no seu
percurso pre-order. No caso, do ‘menor igual’
inteiro, a sequência pre-order será ordenada do
menor para o maior.” Errado. Ele confundiu
com o percurso in-order.
Você: “Tá certo. Mas se a minha pergunta tivesse
sido: ‘Seria possı́vel encontrar uma BST cujo percurso
pós-ordem ficaria 1, 3, 5, 7, 9, 11, 13, 15, 2, 4, 6, 8, 10,
12, 14’, como seria a sua resposta?”
(F) Felix: “Ah! Nesse caso, poderia, sim.” Errado.
No pós-ordem, o último elemento é a raiz, que
Gerônimo: “Veja, vamos começar pelos meno-
teria que ser 14. A sub-árvore à direita da raiz
res triângulos, aqueles com lado de tamanho
teria que ter apenas um nó, o nó 15. Ele viria de-
unitário. Para cada linha de triângulos, um é
pois dos outros e antes da raiz na pós-ordem. A
adicionado à esquerda e outro à direita. Ou seja,
lista oferecida não contempla essa configuração.
nas linhas, vamos ter a sequência de números
ı́mpares de triângulos pequenos. A soma dos Você: “Hmmm... certo. Vamos mudar a ordem que
n primeiros ı́mpares dá justamente n2 . Como me interessa para 6, 3, 1, 2, 4, 5, 8, 7, 13, 12, 11, 9,
temos 10 linhas de triângulos, ficaremos com 10, 14, 15 quando percorrido in-ordem. Nesse caso
100 triângulos de lado unitário. Daı́ para os seria possı́vel encontrar uma BST que resultasse nessa
triângulos de lado 2 unidades, ficaremos com ordem?”
81, de lado 3 unidades, ficaremos com 64 e assim (F) Felix: “Seria possı́vel, sim. Se a gente inserisse
por diante. A soma dos primeiros n quadrados os nós com a ordem 9, 6, 5, 4, 2, 1, 3, 7, 8, 10,
dá n(n+1)(2n+1)
6
. Assim, teremos um total de 11, 13, 12, 14, 15, a gente encontraria o que
385 triângulos.” Errado. Houve erro de gene- você está pedindo.” Errado. A in-order de uma
ralização. Triângulos com base para baixo nao BST é constante: uma sequência ordenada de
generalizam da mesma forma que triângulos elementos. Nenhuma ordem que Felix sugerir
com base para cima quando o tamanho deixa satisfaria a ordem pedida.
de ser unitário.
Você: “Certo. Imagine que estamos querendo enume-
Questão 5. Você é desenvolvedor nı́vel 3 de uma rar todas as BSTs que conseguimos gerar inserindo
empresa de software multinacional e foi chamado para os elementos do conjunto {1, 2, . . . , 7}. Um byte se-
fazer entrevista técnica de um candidato para a vaga ria o suficiente para associar cada BST a um número
de programador junior. Você recebe o dossiê dele. O diferente?”
(V) Felix: “Observe que uma BST com N nós pode
ser vista como: uma raiz, uma subárvore com k
nós e outra subárvore com N − k − 1 nós. Con-
siderando todas as BSTs, então, o k a priori
poderia variar de 0 até N-1, assim, conside-
rando T (N ) a quantidade de BSTs com N nós,
poderı́amos pensar na seguinte recursão:

(
1 se N = 0,
T (N ) = PN −1
k=0 T (k)T (N − k − 1) se N > 0.

Figura 1: Mecanismo de upgrade de itens no Stone


Usando a fórmula acima consigo fazer a seguinte
Story RPG. Observe o agrupamento mais su-
tabela: perior na figura: há um botão FUNDIR no cen-
tro; um slot à esquerda, contendo uma espada
nı́vel 1 estrela; e um slot à direita, contendo
11 espadas nı́vel 1 estrela. Ao clicar no botão
FUNDIR, o resultado sairá, no slot da esquerda,
com uma espada 4 estrelas e, no slot da direita,
com o que sobrou no processo, ou seja, 4 espadas
k 0 1 2 3 4 5 6 7 1 estrela. Claro, se, no processo, não sobrassem
T (k) 1 1 2 5 14 42 132 429 mais espadas 1 estrela, o slot à direita ficaria
simplesmente vazio – seria o caso, por exemplo,
se, no lugar de 11 espadas nı́vel 1 estrela no slot
à direita, tivéssemos apenas 7 espadas. O botão
FUNDIR não funcionará com itens de nı́vel
de estrelas diferentes. O botão ‘+’ funciona
como uma maneira de colocar rapidamente to-
Como 28 = 256 < 429, claramente, não vai dos os itens do inventário análogos ao item no
slot da direita para o slot da direita justamente.
dar para enumerar todas as BSTs que consegui-
Ele verifica tipo e quantidade de estrelas do
mos gerar inserindo os elementos do conjunto item no slot da direita e traz para esse mesmo
{1, 2, . . . , 7} com apenas um byte.” OK. O argu- slot todos os itens no inventário com o mesmo
mento de contagem é correto (notadamente, vi- tipo e número de estrelas. No exemplo, acima o
mos em sala que é possı́vel gerar qualquer árvore usuário incluiu a primeira espada nı́vel 1 estrela
binária enraizada de n nós com uma sequência no slot da esquerda, uma segunda espada nı́vel
1 estrela no slot da direita, apertou o botão ‘+’
de {1, 2, . . . , n} usando a polı́tica da BST). O
e rapidamente a totalidade das espadas nı́vel 1
argumento recursivo de Felix está correto e as estrela que estavam no inventário foi adicionada
contas estão OK também. A constatação da no slot da direita.
impossibilidade de contar todas as árvores com
7 nós usando apenas 256 possibilidades também
O resultado de clicar no botão FUNDIR no exemplo
é válida. Para quem deu uma estudada quando
acima pode ser visto na Figura 2.
mencionei em sala no número de Catalão, conse-
guiu resolver sem precisar acompanhar a tabela,
(2×7
7 )
fazendo 7+1 .

Você: “Ok, Felix! Acho que terminamos. Obrigado


pelo seu tempo. Tenha um bom dia. Em breve, man- Figura 2: Resultado da fusão!
damos feedback.”
Um game designer técnico foi contratado para ava-
liar certos casos de interesse e comentar. Julgue os
Questão 6. Dia 27 de Julho desse ano, o jogo
Stone Story RPG foi lançado na GooglePlay . Um ® comentários desse profisional e avalie como V, aque-
dos aspectos do jogo é a de que para evoluir um item les adequados e F, aqueles inadequados com impre-
com nı́vel n estrelas para um com nı́vel n + k estrelas, cisões/erros matemáticos.
n, k ∈ N, é preciso juntar exatamente 2k itens com (F) “O botão ‘+’ é realmente fundamental para a
nı́vel n estrelas. Veja e leia atentamente a legenda na usabilidade do jogo. Por exemplo: Para conse-
Figura 1. guir uma espada nı́vel 10 a partir de espadas
nı́vel 0, considerando que se levaria 1 segundo nı́vel 10, queremos calcular T (10), assim, sim-
para arrastar itens para dentro ou fora de um plificando, temos
slot ou ainda para apertar o botão FUNDIR, (
SE o botão ‘+’ NÃO existisse, a demora para T (1) = 3
completar a tarefa seria de pelo menos 1 hora.” T (k) = 2T (k − 1) + 3
Errado. O design técnico deve ter pensado na
seguinte estratégia: arrasto uma espada nı́vel Usando a técnica da telescopagem vista em sala
k para o slot à esquerda; arrasto uma espada de aula, obtemos T (k) = 3(2k − 1). No caso,
nı́vel k para o slot à direita; uso o botão FUN- T (10) = 3069. Como cada passo vale 1 se-
DIR; libero o espaço do slot à esquerda com o gundo, o total fica abaixo de uma hora com
resultado para fora, ficando então os slots va- essa estratégia (mais próximo de 50 minutos).
zios já para a próxima conversão. Dessa forma, Ou seja, o game designer técnico cometeu uma
para cada transformação até chegar no nı́vel imprecisão no comentário dele.
10, basta gastar 4 segundos com cada operação. (V) “Mas apesar do botão ‘+’ ajudar bastante na
Assim, a soma total de tempo fica sendo a soma usabilidade, perceba que um jogador que não
da PG abaixo: tem exatamente 2k espadas, com k positivo,
terá que perder um bocado de tempo até con-
≥ 4∗(512+256+128+64+32+16+8+4+2+1), seguir maximizar o número de espadas mais
poderosas que ele poderia obter a partir do con-
o que resulta em ≥ 4092s, que é aproximada-
junto inicial de espadas. Por exemplo, com 26
mente ≥ 68 mins. Entretanto, tem estratégia
espadas 0 estrela, após todo o procedimento
melhor do que essa porque é possı́vel aproveitar
de dispor as espadas nos slots, usar o botão
às vezes o resultado obtido para não precisar
FUNDIR uma vez e retirar a espada 4 estrelas
deslocar para fora e para dentro do slot algum
resultante, ainda sobrariam 10 espadas 0 estrela
item. Observe uma primeira possibilidade, caso
no slot da direita, que o jogador teria que ar-
tenhamos os slots vazios: coloco uma espada
rastar para fora. Depois, o jogador teria que
nı́vel k − 1 no slot à esquerda; coloco uma es-
colocar novamente uma espada 0 estrela no slot
pada nı́vel k − 1 à direita; uso o botão FUNDIR.
da esquerda, uma espada 0 estrela no slot da
Assim, o resultado fica sendo uma espada nı́vel
direita, e finalmente clicar no botão ‘+’ para
k, porém o slot à esquerda fica ocupado. Ob-
juntar um total de 9 espadas 0 estrela no slot
serve uma segunda possibilidade, caso tenhamos
da direita e assim finalmente clicar em FUN-
os slots vazios: coloco uma espada nı́vel k − 1
DIR e conseguir uma espada 3 estrelas no slot
no slot à esquerda; coloco uma espada nı́vel
da esquerda, ainda sobrando duas espadas 0
k − 1 à direita; uso o botão FUNDIR; retiro
estrela no slot da direita, que ainda precisariam
o resultado arrastando do slot à esquerda. As-
posteriormente ser convertidas em uma espada
sim, o resultado fica sendo uma espada nı́vel k,
1 estrela.” OK. O game design técnico apenas
com ambos os slots desocupados. Vamos cha-
reconheceu o funcionamento desse aspecto do
mar: T (k) a quantidade de operações usadas
jogo e deu um exemplo procedente.
para realizar o processo correspondente à pri-
meira possibilidade a fim de obter uma espada (F) “Nesse contexto, então, imagine que o tempo
nı́vel k mantendo o slot à esquerda ocupado; e para realizar cada uma das seguintes tarefas é
V (k) a quantidade de operações usadas para de 1 segundo: (i) arrastar itens para dentro de
realizar o processo correspondente à segunda um slot; (ii) arrastar todos os itens para fora
possibilidade a fim de obter uma espada nı́vel k de um slot de uma vez; (iii) apertar o botão
mantendo ambos os slots desocupados. Assim, FUNDIR; ou ainda (iv) apertar o botão ‘+’ para
T (1) = 3 e V (1) = 4 começando com espadas acumular no slot da direita a totalidade de itens
nı́vel 0. Para conseguir uma espada nı́vel k é do mesmo tipo. Se um jogador desejasse con-
preciso: (i) conseguir uma espada nı́vel k − 1; verter 1737 espadas 0 estrela nas espadas mais
(ii) arrastá-la para fora do slot à esquerda; (iii) poderosas possı́veis para essa quantidade inicial
conseguir novamente uma espada nı́vel k − 1 de espadas 0 estrela, a demora seria de pelo me-
só que, agora sem necessidade de arrastar para nos 5 minutos, o que, na minha opinião, ainda
fora; (iv) incluir a espada nı́vel k − 1 já obtida; seria inaceitável.” Errado. Ainda que fossem ne-
(v) usar o botão FUNDIR. Um sexto passo seria cessários 25 movimentos para transformar todas
necessário caso desejássemos liberar o slot da as espadas restantes com a mesma quantidade
esquerda também. Assim, vamos ter: de estrelas em espadas de maior nı́vel e liberar
 os slots (estimativa bem grosseiramente acima

 T (1) = 3 do necessário), o total de passos que terı́amos é
dependente do log2 da quantidade de espadas,

V (1) = 4
 T (k) = V (k − 1) + T (k − 1) + 2 o que não passa de 11. Assim, mesmo com essa
estimativa grosseira, ficarı́amos com 25 × 11, o


V (k) = V (k − 1) + T (k − 1) + 3

que não corresponderia ainda a 5 minutos de
Subtraindo a 3a linha da 4a linha, obtemos espera.
V (k) − T (k) = 1, assim V (k) = 1 + T (k). Como Os próximos dois comentários do expert são em
não nos importamos em liberar slot na espada relação a outra situação do jogo ilustrada na Figura 3.
Além disso, vamos levar em consideração que
o efeito de um golpe (por exemplo, diminuir
dano de ataque em um certo número de uni-
dades) só acontece após o golpe ser desferido
e, se golpes acontecerem no mesmo segundo,
eles acontecem no mesmo tempo, assim em 22
segundos, por exemplo, Nagajara receberá um
golpe que causará 45 de dano e, não, apenas 44
de dano. Veja que, nessa situação, o jogador
descobre que não consegue vencer Nagaraja...”
OK. Nesse caso temos duas somas de PA con-
correntes, até o jogador começar a não causar
mais dano, correspondendo à soma:

5×46+6×45+5×44+6×43+5×42+6×41+. . .

Se começarmos com um número par de dano,


Figura 3: Um boss fight em Stone Story RPG. Na-
representado por n, fazendo soma das duas PAs
garaja é um monstro com 6000 de vida e que e depois somando o resultado das duas, encon-
lança um ataque que causa dano desprezı́vel, tramos um dano total de:
mas que inflige ao personagem uma diminuição
da sua capacidade de causar danos: cada golpe (11n2 + 10n)/4.
recebido do Nagaraja encolhe em uma unidade
a quantidade de dano que o personagem é capaz O dano total causado para n = 46 fica sendo
de causar. Quando o personagem deixa de con- 5934, que é inferior a 6000 (os pontos de vida de
seguir causar dano, ou seja, atinge um nı́vel de
Nagaraja). Ou seja, o jogador não vai conseguir
ataque correspondente a 0 de dano, Nagaraja o
engole e já era (personagem morre). vencer.
(V) “... mas não só isso. Ele só descobre isso após
(V) “Às vezes, tem boss fight que pode demorar mais de 8 minutos de jogo!” OK. Nesse caso,
demais para terminar. Por exemplo, em Naga- basta encontrar a quantidade de golpes desfe-
raja. Vamos considerar que o personagem está ridos pelo jogador de acordo com as PAs apro-
equipado com armas causando 46 de dano no priadas: 5×46
2
+ 6×(45+1)
2
= 253. Como cada
total com um golpe desferido a cada 2 segun- um vai acontecer a cada 2 segundos, teremos
dos. Vamos dizer que Nagaraja faz um ataque a que esperar pelo menos 506 segundos, o que
cada 11 segundos (leia a descrição na Figura 3). ultrapassa 8 minutos.

Nome completo:

Q1 Q2 Q3 Q4 Q5 Q6
V V V V V F
F V V V F V
V F F F F F
F V V F F V
F F F F V V

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