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doi: 10.5123/S2176-62232016000200003
RESUMO
No Brasil, de acordo com o manual de vigilância Os dados foram obtidos do Sistema de Informação
da esquistossomose do Ministério da Saúde (MS), de Agravos de Notificação (SINAN), Sistema de
entre 2010 e 2012 ocorreram 941 internações por Informação sobre Mortalidade (SIM) e Sistema de
100 mil habitantes e 1.464 óbitos por esquistossomose Informações Hospitalares (SIH) do Sistema Único
no mesmo período de tempo. Essa doença atinge de Saúde (SUS), sem a identificação nominal dos
o maior índice endêmico nos seguintes Estados: pacientes, respeitando-se assim aspectos éticos da
Pernambuco, Bahia, Alagoas e Sergipe, e que Resolução N° 466/12 do Conselho Nacional de Saúde.
atualmente são considerados, ainda, as principais Posteriormente, foram plotados em planilha eletrônica
Unidades da Federação com maior prevalência e do programa Microsoft Office Excel®, analisados de
incidência da esquistossomose mansônica4. forma descritiva e expressos em percentual.
A transmissão da esquistossomose ocorre devido
RESULTADOS
ao contato com águas contaminadas por cercárias,
forma larvar do parasito5. Rotineiramente nos locais A figura 1 mostra a frequência da esquistossomose
endêmicos, as pessoas utilizam rios habitados por mansônica no Estado de Alagoas, de acordo com o
caramujos infectados pelo S. mansoni para banhos, percentual de positividade obtido por meio de exames
pescas, lavagem de roupa e louças, tornando-se parasitológicos pelo PCE, no período de 2010 a 2014.
suscetíveis à doença6. Observou-se pouca variação (7,40-7,27%), exceto
nos anos de 2012 e 2014 com pequeno decréscimo
A esquistossomose pode ser confundida com
(6,22-6,83%).
outras doenças devido às variadas manifestações
clínicas que ocorrem, sendo a forma aguda
comumente observada em pessoas que não vivem
7,50% 7,40%
em áreas endêmicas. O exame parasitológico 7,34% 7,27%
de fezes para diagnóstico dessa parasitose é
realizado principalmente por meio dos métodos de 7,00% 6,83%
sedimentação espontânea, entretanto Kato-Katz é o
Frequência
35,00%
30,00%
25,00%
20,00%
15,00%
10,00%
5,00%
0,00%
Atalaia Cajueiro Capela Feira Grande Igreja Nova Pindoba Rio Largo
2010 17,70% 23,41% 15,99% 15,77% 16,66% 17,23% 30,43%
2011 16,51% 18,60% 12,79% 7,06% 19,40% 13,79% 10,80%
2012 12,30% 11,85% 13,15% 4,50% 9,40% 11,71% 2,05%
2013 12,40% 17,88% 15,04% 15,23% 9,57% 13,45% 1,40%
2014 12,95% 14,58% 11,09% 7,80% 12,06% 11,39% 1,09%
Fonte: SISPCE, 2015.
Figura 2 – Distribuição da esquistossomose mansônica nos municípios do Estado de Alagoas, Brasil, entre 2010 e 2014
Tabela 1 –
Distribuição dos casos de esquistossomose De acordo com os dados de notificações de formas
mansônica, segundo a faixa etária, no Estado graves, internações e óbitos por esquistossomose em
de Alagoas, Brasil, entre 2010 e 2014 Alagoas entre 2010 e 2014, verificou-se importante
redução de notificação de formas graves e de
Faixa etária (anos) Números de casos Frequência (%)
internamento de pacientes. Entretanto, o número de
<1 10 0,02 óbitos aumentou consideravelmente, passando de 29
em 2010 para 51 em 2014 (Tabela 2).
1-4 931 1,57
72% Notificação* 64 64 52 26 22
69,42% 69,44%
70% Óbito† 29 63 52 49 51
68% 66,42%
Internação‡ 10 13 10 05 02
Porcentagem de tratados
66%
Fonte: *SINAN/NET; †SIM; ‡SIH/SUS/DATASUS, 2015.
64%
62%
62,54% Entre os caramujos capturados em alguns municípios
60% do Estado no período de 2010 a 2014, um (1,19%)
59,62% foi da espécie B. straminea e 153 (57,92%) da espécie
58%
B. glabrata, confirmando esta última espécie como
56%
principal vetor do S. mansoni.
54%
2010 2011 2012 2013 2014 DISCUSSÃO
Ano
Fonte: SISPCE, 2015. No Brasil, a esquistossomose é uma doença
Figura 3 –
Porcentagem de indivíduos com esquistossomose endêmica de grande importância na saúde pública,
mansônica tratados no Estado de Alagoas, Brasil, com cerca de 43 milhões de pessoas vivendo em áreas
entre 2010 e 2014 de risco de infecção e 7 milhões infectadas. As Regiões
de maior destaque são Nordeste e Sudeste, onde pelo S. mansoni, houve predominância de indivíduos
existem áreas com prevalência superior a 15%, como do gênero masculino, como observado em uma
nos Estados de Alagoas, Bahia, Pernambuco, Sergipe comunidade periférica do Município de Jequié, no
e Minas Gerais, encontrando ainda formas graves Estado da Bahia, onde os homens foram a maioria
levando a óbitos8,10. (74,6%) dos acometidos com esta infecção14. Essa
O MS classifica as áreas com esquistossomose de predisposição é justificada por variáveis culturais e
acordo com a prevalência observada, considerando: comportamentais, visto que estes indivíduos realizam
áreas de baixa endemicidade, aquelas com atividades de lazer como pesca, banho e práticas
prevalência abaixo de 5%; de média endemicidade, esportivas no ambiente peridomiciliar e tornam-se
onde está maior que 5% e menor que 15%; e de alta mais suscetíveis a adquirir a infecção15.
endemicidade, aquelas cuja prevalência é superior a Com relação à faixa etária, observou-se relação
15%. semelhante na maioria das publicações. Em Mogi
A esquistossomose é considerada endêmica em 69% Guaçu, Estado de São Paulo, predominaram os
dos 102 municípios de Alagoas, com estimativas de que sujeitos na faixa etária entre 10 e 19 anos (32,8%)16.
aproximadamente 2,5 milhões de pessoas vivam sob o Esse fato corrobora a literatura específica, na qual os
risco da doença nestas áreas endêmicas9, uma situação estudos apontam que a média de idade de pessoas do
próxima da realidade do Estado de Sergipe, conforme gênero masculino é entre 10 e 29 anos17,18. Um estudo
mostrado em uma publicação baseada nos dados do realizado em Pindamonhangaba, também em São
PCE de 2005 a 2008 identificando taxas de prevalência Paulo, mostrou um percentual de infecção de 31,6% na
de 13,6%, 11,2%, 11,8% e 10,6%, respectivamente11. faixa etária até 20 anos, ratificando os resultados desse
estudo19.
Neste mesmo contexto, outros estudos apontaram
para Alagoas uma taxa de prevalência geral de 8,54%, Em Alagoas, o tratamento farmacológico da
mas superior a 15% em alguns municípios, a exemplo esquistossomose baseia-se no uso do praziquantel
de Capela, que alcançou taxa de 22,8%, demonstrando (PZQ), conforme recomendações do MS. A
assim a importância epidemiológica desses municípios oxaminiquina, que já foi usada no Brasil, também é
no ciclo de transmissão da esquistossomose no empregada no tratamento dessa parasitose em outros
Estado9. Foi observado também que, nas zonas de países das Américas e da África20. Resultados exitosos
transição rural-urbana, a média de prevalência da têm sido mostrados por vários autores brasileiros com
esquistossomose, entre os anos de 2003 a 2008, tratamento utilizando dose única de PZQ, como em
foi de 13,98%, sendo consideradas áreas de média um estudo realizado por Cardim et al21, no Município
endemicidade12. de Lauro de Freitas, Estado da Bahia, quando 92% dos
pacientes receberam dose única desse medicamento,
Recomenda-se que, em locais endêmicos onde existe demonstrando a importância do tratamento no
um percentual de positividade inferior a 15%, deve-se controle da morbidade do agravo ao reduzir as
utilizar, como estratégia de controle, o tratamento dos possibilidades de evolução para formas graves da
indivíduos com exame parasitológico de fezes positivo doença.
para evitar a dispersão da endemia4.
A esquistossomose é uma infecção helmíntica
Com relação à presença de hospedeiros que está associada a diversos fatores, como: más
intermediários, a quantidade de caramujos capturados condições de tratamento da água, falta de educação
foi elevada nas duas maiores cidades do Estado: em saúde, disseminação dos hospedeiros intermediários
Arapiraca, com 3.530; e a capital Maceió, com 548. e longevidade da doença22. Com isso, continua a se
Estes resultados são semelhantes ao de um estudo feito configurar como uma das doenças parasitárias de maior
em duas mesorregiões do Estado de Alagoas, onde importância em saúde pública no Brasil.
ficou evidenciada a importância epidemiológica do B.
glabrata como o principal hospedeiro intermediário CONCLUSÃO
de S. mansoni nas zonas endêmicas do Estado6. A análise dos casos de esquistossomose no Estado
Essa característica é diferente de outras localidades de Alagoas notificados nos anos de 2010 a 2014
brasileiras como, por exemplo, em Belém, capital mostrou maior número de casos em 2013; e que
do Estado do Pará, onde foi demonstrada a presença neste período predominaram as notificações do gênero
do planorbídeo, vetor da esquistossomose, em masculino, sobretudo na faixa etária entre 15 e 49
35 dos 70 bairros visitados, e em 20 já havia a anos. Em todo o Estado, o hospedeiro intermediário
transmissão ativa da doença, com predominância do de destaque é o B. glabrata. Desse modo, mostra-
B. straminea13. se a importância da adoção de medidas profiláticas e
Do mesmo modo que este estudo, resultados de melhoria nas condições de saneamento básico, assim
outros autores mostraram que, entre os infectados como educação da população.
9 Palmeira DCC, Carvalho AG, Rodrigues K, Couto 16 Camargo EAF, Boaventura JCS. Características
JLA. Prevalência da infecção pelo Schistosoma epidemiológicas da esquistossomose em Mogi
mansoni em dois municípios do Estado de Alagoas. Guaçu, São Paulo. Intercienc Soc. 2014;3(2):
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