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HISTÓRIA E

CULTURA AFRO-
BRASILEIRA
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Sumário
1. INÍCIO DE CONVERSA ................................................................................. 3
1.1. Aspectos da Cultura Africana no Contexto da Escravidão ..................... 10
2. CULTURA E RELIGIOSIDADE AFRO-BRASILEIRA ................................... 14
3. A UMBANDA ............................................................................................. 19
3.1. Espíritos no Ritual de Umbanda............................................................. 21
4. CANDOMBLÉ.............................................................................................. 23
5. REFERÊNCIAS CONSULTADAS E UTILIZADAS ....................................... 27

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1. INÍCIO DE CONVERSA

Um inegável patrimônio cultural, que abrange vários campos, entre eles a


música, a dança, a culinária, o folclore e a capoeira, foi trazido ao Brasil pelos
negros africanos, escravizados. Nesta apostila, abordaremos alguns dos
aspectos concernentes ao legado cultural africano, inclusive o religioso,
transposto para o Brasil junto com as populações africanas e aqui mesclado,
dando origem a um novo tipo de elemento cultural e religioso. O principal objetivo
desta apostila, portanto, é conhecer alguns dos mais importantes aspectos da
cultura afro-brasileira praticados no Brasil. Para tanto, faz-se necessário uma
abordagem, mesmo que introdutória, de alguns elementos culturais intrínsecos
à África, afinal de contas para entendermos um pouco sobre a cultura afro-
brasileira é preciso ter pelo menos uma ideia da carga cultural trazida pelo
africanos.

A primeira observação que devemos fazer é que o continente africano é


múltiplo. É diverso. Na verdade existem várias “Áfricas” no continente. Um dos
primeiros erros que geralmente cometemos ao estudar a história ou a cultura
africana é identificar no continente uma única história ou um único processo
sócio-cultural. Uma palavra capaz de sintetizar a África é “diversidade”. Sua rica
e intensa experiência histórica nos remete aos primórdios da humanidade e
resume a nossa própria diversidade. Vários povos, etnias, línguas, tradições,
religiões, economias, enfim, várias sociedades compõem o mosaico africano e
possuem características próprias que, quando tornadas homogêneas,
empobrecem a compreensão do que é a África.

A África é, também, uma terra de contrastes. Considerada o continente


mais pobre do mundo, possui riquezas naturais e humanas inesgotáveis. Além
da rica diversidade cultural, encontramos na África quase todo tipo de riqueza
mineral, como diamantes, petróleo, ouro, platina, cobre, coltan, urânio e muitos
outros.

Não podemos deixar de considerar, da mesma forma, sua diversidade


religiosa, suas múltiplas formas de expressão artística, suas festas, seus sons,

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suas danças e sabores que tanto impressionaram os conquistadores e estão


hoje presentes no imaginário de todos que se interessam pelo continente.

Nesse texto iniciamos, portanto, com a constatação da diversidade


africana. Diversidade humana, diversidade cultural, diversidade étnica,
diversidade religiosa, diversidade geográfica. Na verdade, existem muitas
“Áfricas”. O nosso objetivo, além de observar essa multiplicidade, é tentar olhar
a História por dentro do continente, ou seja, identificando-a com uma história de
resistências e de lutas, de tentativas quase desesperadoras de resistir aos
processos de dominação que caíram de forma avassaladora sobre os africanos,
principalmente após os contatos iniciais com os europeus. Em termos culturais
esse processo de dominação foi quase catastrófico.

Seja resistindo à escravidão, seja lutando contra a dominação colonial, os


diversos povos africanos foram escrevendo a sua história à sua maneira, de
acordo com as suas possibilidades. De toda jeito, fica evidente a interminável
luta pela superação das suas deficiências e pela direito de uma existência digna
e soberana. Assim também ocorreu com relação aos aspectos culturais. Houve
uma luta surda na tentativa de preservar os aspectos mais elementares das
tradições culturais e religiosas africanas, uma vez que elas foram contrastadas
com a cultura dos dominadores que de tudo fizeram para suprimir as tradições
culturais e religiosas de muitos povos da África.

Para os africanos não foi fácil de conseguir preservar as tradições. A


tarefa que se impôs aos povos da África no período pré-colonial e, mais ainda,
durante o colonialismo, foi resistir, seja coletivamente, seja de forma individual,
contra a imposição da escravidão e da dominação cultural e política,
potencializada e estimulada pelo traficantes europeus, árabes e americanos que
se dirigiam ao continente em busca do trabalho forçado de seus habitantes.
Depois foi a vez de resistir à conquista de suas terras. Essa fase foi inaugurada
com as primeiras iniciativas colonialistas, já iniciado o século XIX. À medida que
os anos avançavam e os europeus se fortaleciam, foi ficando cada vez mais
difícil a resistência. Mas mesmo assim o ímpeto dos africanos em busca da
liberdade não arrefeceu.

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Cercados e acossados pelos mais poderosos Estados do mundo


capitalista, todos europeus, os africanos resistiriam o quanto puderam. Nesse
processo de conquista uma nova e poderosa arma foi utilizada pelos europeus:
a ideia de superioridade racial, supostamente amparada em bases científicas. O
impacto cultural dessa ideia foi devastador.

Dessa forma, gradativamente o sistema colonial sobrepujou impérios e


reinos estabelecidos desde longa data. Utilizando-se de políticas de intimidação
e de racismo explícito, os conquistadores brancos tentaram, o quanto puderam
destruir as crenças religiosas e as culturas africanas, reduzindo-as à condição
de inferiores. Isso sem contar com o fato de que os sistemas políticos autóctones
já haviam sido, em grande parte, suprimidos em nome de uma nova ordem ditada
a partir das metrópoles.

Mas mesmo todo esse processo de dominação, que contou com uma boa
dose de violência, não foi capaz de silenciar as vozes da África, daqueles que,
mesmo inferiorizados há séculos, continuaram a escrever uma história pautada
pela resistência e a manter suas mais diversas e originais tradições.

A África é um continente de grande diversidade cultural que se vê


fortemente ligada à cultura brasileira. Pode-se perceber grandes diferenças em
suas raças, origens, costumes, religiões e outros. Os africanos prezam muito a
moral e acreditam até que esta é bem semelhante à religião. Acreditam também
que o homem precisa respeitar a natureza, a vida e os outros homens para que
não sejam punidos pelos espíritos com secas, enchentes, doenças, pestes,
morte, etc. Não utilizavam textos e nem imagens para se basearem, mas fazem
seus ritos a partir do conhecimento repassado através de gerações antigas.

Seus ritos eram realizados em locais determinados com orações


comunitárias, danças e cantos que podem ser divididos em: a) momentos
importantes da vida; b) integração dos seres vivos e; c) para a passagem da vida
para a morte. Na economia, trabalhavam principalmente na agricultura, mas
também se dedicavam à criação de animais e de instrumentos artesanais. Pode-
se dizer também que neste campo fizeram uma integração muito mais

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harmoniosa com o meio ambiente do que outros povos, sobretudo se


compararmos com a experiência européia.

Sua influência na formação do povo brasileiro é vista até os dias atuais.


Apesar do primeiro contato africano com os brasileiros não ter sido satisfatório,
estes transmitiram vários costumes como:

- A capoeira, que foi criada logo após a chegada ao Brasil na época da


escravização como luta defensiva, já que não tinham acesso a armas de fogo;

- O candomblé, que também marca sua presença no Brasil,


principalmente no território baiano onde os escravos antigamente eram
desembarcados;

- A culinária, que recebeu grandes novidades africanas, como o leite de


coco, óleo de palmeira, azeite de dendê e até a feijoada, que se originou no
período em que os escravos misturavam restos de carne para comerem.

A presença africana no cotidiano histórico e na cultura brasileira é imensa,


e temos limitações em compreendê-la, devido à ausência de história africana
nas escolas, universidades e movimentos políticos. A falta de história africana
nas escolas causa quatro sérias consequências: retira a oportunidade de os
africanos e afro-descendentes construírem uma identidade positiva sobre sua
origem; causa espaços para ideias preconceituosas sobre o povo negro; coloca
a apresentação do continente africano em desvantagem no currículo; propicia
falta de entendimento da nação brasileira quanto às influencias africanas em
nossa cultura.

Da mesma forma, aspectos relevantes relacionados à religiosidade afro-


brasileira são contemplados como elementos relevantes para a formação da
cultura afro-brasileira, bem como as relações “sociais religiosas” que se
estabeleceram a partir dessas práticas, onde estão estabelecidas as “Casas de
Culto”, e também sobre quem deles tomam parte.

Relacionados ao culto afro-brasileiro, a Umbanda e, posteriormente, o


Candomblé, são algumas das denominações religiosas que se estabeleceram

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em vários espaços urbanos, principalmente naqueles onde havia maior


concentração de populações africanas.

Embora exista uma dificuldade em precisar exatamente quando as


práticas religiosas afro-descendentes se estabeleceram efetivamente em muitas
cidades, sobretudo devido a grande repressão empreendida aos terreiros por
parte dos poderes institucionais que tentaram ao máximo reprimir e apagar da
memória a existência dessas práticas religiosas, temos pistas e indicações que
elas são tão antigas quanto a chegada dos escravos africanos na maior parte
das cidades e vilas brasileiras.

Mesmo com a liberdade religiosa, as religiões de matrizes africanas


continuaram por muito tempo sendo discriminadas por se tratar de prática
religiosa exercida basicamente por negros, o que já é o bastante para
desqualifica-la em uma sociedade de elite branca. Macumba, magia negra,
feitiçaria, entre outros adjetivos foram utilizados com o objetivo de desqualificar
as tradições culturais não europeizadas.

Com a inserção de artistas e intelectuais de projeção nacional, como


Jorge Amado, na literatura; Dorival Caimmi, Vinicius de Moraes e Toquinho,
Clara Nunes, entre outros, na música, os deuses africanos, seus ritmos e formas
de culto extrapolaram o espaço físico dos “terreiros” e passaram a dar
visibilidade aos cultos de origem afro-brasileira rompendo preconceitos
estigmatizantes, que no consciente coletivo passam a ser vistos como folclore,
praticado sem culpa por todos os substratos sociais brasileiros.

Como podemos observar nas homenagens estendidas a Iemanjá nas


viradas de ano e nos primeiros dias que se seguem, ocorrência percebida de
norte a sul do país, sem que tais práticas sejam vistas pejorativamente, tanto de
quem dela toma parte, como por quem apenas assiste à distância ou através da
televisão, o desenrolar das oferendas encaminhadas à rainha do mar do panteão
afro-brasileiro.

Percebe-se que determinadas práticas são aceitas, ou ainda toleradas em


nossa sociedade mediante uma série de pormenores que apenas mascaram ou
pervertem os conceitos religiosos, muito diversos no caso brasileiro.

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Por entender a relativa escassez de pesquisas acerca da religiosidade


popular, concernente às religiões de matriz africana estabelecidas no espaço
urbano em muitas das nossa cidades, cujas práticas extrapolam as fronteiras
dos espaços físicos em que se estabelecem e se relacionam em nosso cotidiano,
é que importante pensar no alcance efetivo da religiosidade como elemento
difusor da cultura afro-brasileira.

Diante desta perspectiva, a busca de estudos que deem visibilidade e


recuperem a memória histórica da religiosidade popular praticada por grande
parcela da nossa população é extremamente importante. Há uma predisposição
social evidente na mentalidade coletiva dos brasileiros sobre os cultos afros e
que tem inserido elementos fundamentais na construção cultural e do consciente
coletivo das camadas empobrecidas das periferias das grandes e médias
cidades brasileiras, enquanto praticantes ou mesmo a um eventual elemento que
se agrega ocasionalmente ao cotidiano, pois é relativamente comum, ao transitar
por uma encruzilhada, deparar-se com uma oferenda disposta a Exu, Orixá
mensageiro que detém os caminhos e encruzilhadas. Poucas pessoas, na
verdade, não tiveram essa experiência.

O preconceito, contudo, é por demais marcante no que diz respeito aos


cultos afros. Por exemplo, NASCIMENTO (2001, p, 49) pondera que:

A Igreja Católica deitou falação contrária sobre a magia dos negros,


taxando-a de Magia Negra, isto é, magia praticada com maus propósitos;
bruxaria, enfim. Por oposição e extensão, a magia católica, seria a Magia Branca
(hoje, Espiritualismo e parcialmente a linha da DIREITA ou de “Luz” da
Umbanda). Já falamos da descaracterização, feita pela neste sentido, do orixá
EXU (e seu feminino, a Pomba Gira), originalmente o mensageiro dos deuses na
África Negra (sentido preservado nos Candomblés mais puros) A igreja reforçou
a representação de EXU associado ao DIABO cristão.

Assim, promover uma reflexão sobre o ensino da cultura afro-brasileira e


da história através da pluralidade de olhares no sentido de dinamização
passado-presente é também um dos objetivos do curso. Esta relação de
temporalidade permite-nos reconhecermo-nos em costumes distintos dos

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ditames estabelecidos como oficiais da sociedade brasileira, além das camadas


silenciadas de nossos populares, inseridos ou aceitos como peculiaridades da
identidade cultural afro-descendente.

Entre todas as questões discutidas uma das principais diz respeito a do


afro-descendente inserido nos contextos cultural, religioso e suas relações
sociais enquanto agente/ator que expõe as múltiplas experiências vivenciadas
em seus lugares de culto em seu cotidiano. É importante não perder de vista que
a cultura afro-brasileira, embora oriunda de grupos que vieram do continente
africano, foi gradativamente se enraizando no jeito de ser do brasileiro, sobretudo
pelo esforço que os descendentes dos africanos fizeram e continuam fazendo
para manter viva as suas tradições.

Do mesmo modo nos valemos do rico material acumulado pela tradição


oral, uma prática largamente utilizada na África, como recurso utilizado nas roças
de candomblé a fim de perpetuarem os seus fundamentos, conhecimento
fundamental para a manutenção de toda a dinâmica contida nas religiões de
matrizes africanas.

Quando pensamos em termos de cultura afro-brasileira, consideramos


que seu estudo ajuda a promover a produção de material de caráter didático que
pode colaborar para que a ignorância sobre as tradições africanas e os cultos
afros comece a ser efetivamente combatida, uma vez que quanto mais
conhecermos sobre essas tradições e práticas religiosas mais nos afastamos da
ignorância e do preconceito que de longa data as acompanham.

A relevância social desta abordagem de se faz pertinente no que diz


respeito à contribuição cultural e intelectual do afrodescendente, no intuito de
ampliar o conhecimento histórico sobre as muitas formas de exercício da
religiosidade popular, mais especificamente sobre a participação e a influência
exercida pelos terreiros de Candomblé e Umbanda no cotidiano das periferias,
pois até o momento, poucos estudos têm informado sobre a influência da
religiosidade de origem africana em muitos municípios brasileiros, suas práticas
e representações no cotidiano urbano.

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Com a Lei N 10.639, em vigor desde 2003, que inclui na grade curricular
o ensino de história e cultura africana e afro-brasileira na disciplina de História,
criou-se um clima propício para a discussão de todos os temas relativos às
religiões e cultos de matriz africana. A relativa falta de trabalhos nessa área,
sobretudo no campo da História, nos dá a noção da grande defasagem ou
ausência de pesquisa neste campo. Portanto, a busca da valorização deste
legado se faz imprescindível e urgente, e esta pesquisa busca contemplar esta
vertente.

Os negros, diferentemente dos outros elementos étnicos que contribuíram


na construção cultural no Brasil e fizeram-se representar no contexto social do
país, não se encontram representados dentro dos parâmetros estabelecidos, isto
é, contemplados em uma sociedade que se autodenomina branca, em um Brasil
mestiço e multicultural. Observamos que práticas discriminatórias persistem e
tem o seu alvo preferencial dirigido para a população negra, não escapando ao
preconceito as suas manifestações religiosas. Segunda SIQUEIRA (1998):

O Estado no Brasil se imiscui nos assuntos de “magia” porque era preciso


conhecer, disciplinar e sinalizar essas práticas como de negros e pobres, mas
que todos conheciam “na alucinação da dor ou na ambição”. Magia e poder se
entrelaçam. Magistrados, fiéis e acusados são tocados pelo mesmo sistema de
crença. Que crença é essa que toca pessoas de todos os substratos no Brasil?

Urge, pois, buscar indícios em todas as fontes disponíveis para a


realização de um estudo de caráter histórico com evidências reais a respeito da
religiosidade afrodescendente no Brasil. Para tanto iremos identificar na
produção historiográfica nacional, onde apresente similaridade com a nossa
realidade, na busca de traçar um paralelo pertinente ao tema bastante presente
no cotidiano das religiões afrodescendente, comum em várias partes do Brasil.

1.1. Aspectos da Cultura Africana no Contexto da Escravidão

Para entendermos como se deu o processo de aculturação entre os povos


da África e a sociedade escravagista dos brancos, no Brasil Colonial, precisamos

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remontar-nos a informações sobre etnias, línguas e costumes africanos,


divulgados na Europa, por meio de depoimentos dos viajantes ao Brasil e
estudos dos antropólogos europeus, no século XIX.

Johann Moritz Rugendas, em viagem ao Rio de Janeiro, por volta de 1828,


entrevistou escravos e fotografou fisionomias de negros, revelando distintas
procedências do continente africano. Analisando o vocabulário utilizado por
esses africanos trasladados, pelo tráfico atlântico, pode-se concluir a unidade
linguística da África Central e Austral, cujo tronco cultural foi designado por
“Bantu”, abrangendo, além do ramo idiomático, outras áreas culturais, incluindo
a religião.

Senhores de escravos e o próprio governo, apesar do interesse prático


em controlar as ações dos escravos, não conseguiram transcender os limites da
cultura etnocêntrica europeia, na qual estavam inseridos, ao passo que os
escravos recém- chegados conseguiram apreender o sentido maior desse
contexto escravista.

Essa percepção, possível para os africanos, de entenderem o sentido


geral do que lhes era comunicado, iniciou-se de fins do século XVIII à primeira
metade do século XIX, quando grande número de pessoas era capturado pela
guerra ou sequestrado e essa população levada para sociedades “produtoras de
cativos”, socializada na cultura kongo ou em culturas relacionadas, onde o
kikongo, kimbundu ou umbumdu era falado. Posteriormente, essa população era
conduzida como escrava, do interior para a costa do continente africano, rumo
ao Brasil.

As línguas faladas no Brasil, especialmente no Rio de Janeiro e Minas


Gerais, são: milúa, mina, cassanje, masanja (no interior do Congo) e as utilizadas
pelos habitantes do interior de Moçambique. Transcrevendo o vocabulário e
analisando as tatuagens usadas pelos grupos étnicos moçambicanos, inclusive
os makua e inhambane, foi possível identificar as etnias e localizá-las no mapa
da África.

Vimos, pois, como os europeus descobriram as línguas bantu e como os


escravos, de diversas etnias centro-africanas, comunicaram-se entre si, aqui no

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Brasil. Essa explicação difere, substancialmente, da comumente divulgada em


estudos sobre a escravidão, pela qual os africanos escravizados só conseguiram
se comunicar após o aprendizado de um dos idiomas europeus, ou de uma
linguagem simplificada baseada nesses idiomas, a língua “pidgin” – explicação
semelhante à dada em relação aos índios no Brasil, com a língua Tupi, criada
artificialmente pelos jesuítas, baseada nas estruturas linguísticas indigenistas.

O uso desse linguajar simplificado tem sentido para os escravos oriundos


da África Ocidental (região da Costa da Mina e Bahia de Benin) onde as famílias
linguísticas pouco ou nada se relacionam, não se aplicando à África Central e
Austral, interligadas pela cultura banto.

Historiadores mostram que havia outras afinidades entre os africanos de


diversas regiões, além da língua. Na vasta área do Congo/Zaire, o sistema de
parentesco deriva de um regime bilateral: matrilinear ou patrilinear, cuja
configuração histórica vai-se modificando, de acordo com o contexto.

De fato, existe um conjunto de significados culturais comuns para os


bacongo, povos habitantes da região dos atuais Congo e Angola (falantes do
kikongo), assim como para os falantes de kimbundo e umbundu: a cor branca
simboliza a morte; os homens eram pretos, os espíritos, brancos. Como
consequência desse conjunto de crenças, da associação do oceano como um
espelho que une a terra dos brancos (Portugal ou português) à dos mortos,
acreditavam que os mortos iam para a América. Relacionavam o tráfico de
escravos a uma forma de feitiçaria, cujos barcos eram como veículos para as
almas.

Os bakongos acreditavam também que a abstenção do sal conferia


poderes especiais ao indivíduo, como a capacidade de ir e vir, atravessando o
Oceano, ou transportando-se entre os mundos dos vivos e dos mortos.

Craemer, Vansine e Fox, lembrados por Robert Slennes (1994), mostram,


em estudos recentes, uma África Central mais homogênea culturalmente.
Existem aspectos culturais e religiosos formadores de um núcleo comum. Um
desses aspectos é o “complexo cultural ventura-desventura”, ou seja: o universo

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é caracterizado, normalmente, pela harmonia, bem-estar, saúde, fecundidade,


prosperidade, alcançados por meio de um estado de pureza ritual.

O desequilíbrio, o infortúnio e a doença são consequências da ação


errônea humana ou de espíritos, pela bruxaria ou feitiçaria. Esse estado de
pureza ritual é alcançado por intermédio da dança, da música e dos fetiches,
objetos incorporadores de símbolos religiosos, cujos significados podem ser
reinterpretados, no contato com a cultura estrangeira.

Outra prática comum nas culturas africanas é a valorização e respeito aos


anciãos, tanto que os chamavam de Tata ou Tate, do vocabulário cafundó,
significando “pai”, amplamente difundido da África bantu e encontrados, nos
registros históricos de uma rebelião no Vale do Paraíba, em 1847, referindo-se
aos líderes dos pequenos grupos de conspiradores.

O estudo de alguns jongos, cantos improvisados pelos escravos, no lazer


e no trabalho, incluindo avisos, desafios e enigmas a serem decifrados, revela
termos africanos inseridos no idioma português, como recurso a um código
linguístico não entendido pelos senhores e feitores. Para manter a comunicação
inteligível apenas no grupo de escravos, estes emitiam, pelos cantos,
mensagens resumidas, com vocábulos de origem africana ou mesmo em
expressões metafóricas pertencentes a um sistema de referências e significados
culturais adversos ao sistema dos senhores. A cultura africana nunca foi estática,
como, equivocadamente, se costuma divulgar, pelo senso comum, e até em
níveis escolares.

Se houve um sincretismo religioso no Brasil, foi porque desde o início do


século XVIII, a influência do cristianismo se fez presente na cultura bantu,
especialmente nas linhagens nobres. Além disso, os bantus são, por essência,
monoteístas.

Os africanos se apropriaram do cristianismo porque, ao verem os


portugueses vindos do mar (simbolicamente localizados entre o mundo dos vivos
e o dos mortos), julgaram-nos muito fortes e poderosos. Prova disso constitui-se
o fato de os reis Congo, após conversão, receberem até o nome do rei de

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Portugal. O catolicismo dos negros fere os cânones ortodoxos e é vivenciado,


até hoje, por muitos brasileiros, de uma maneira muito específica.

O africano, portanto, deve ser entendido como um agente social. Os


Estados Africanos entraram na agenda do tráfico negreiro com força e estrutura
organizacional suficientes para cobrar impostos e controlar o tráfico de escravos.

A identidade africana começou a se fazer na diáspora, imprimindo uma


tradição que se redefiniu e se recriou num contexto de plantation. Mesmo a partir
do século XIX, quando os grupos de procedência perderam sua identidade
étnica, ainda hoje, a cultura africana se mantém viva, num processo de
circularidade e mestiçagem com outros elementos.

A violência imputada ao escravo no período colonial não foi maior, nem


mais cruel do que a testemunhada hoje. No mundo colonial, todos tinham seu
lugar. Havia uma hierarquia, mas ninguém ficava marginalizado. Essa violência
se eterniza nas mãos estendidas dos miseráveis, nas distorções e corrupções
fisiológicas das políticas públicas, na má distribuição de renda, nos “sem terra”,
nos “sem teto”, nos “descamisados”, cuja existência real não pode ser banalizada
ou ignorada: ameaça, assusta, reprime e envergonha todo o sistema nacional.

2. CULTURA E RELIGIOSIDADE AFRO-BRASILEIRA

Os negros sequestrados na África chegaram ao Brasil não por opção, ou


seja, não concordaram com esse translado e nem mesmo acordaram com as
condições ao qual foram submetidos em território brasileiro. Já em solo local
criou e desenvolveu uma série de mecanismos e artifícios que lhes possibilitou
conservar elementos originais de sua cultura, consequentemente muitos desses
elementos aqui constituídos foram agregados como expressões culturais
brasileiras de origem africana, que toleradas às vezes, e frequentemente
mascaradas pelo sincretismo religioso, numa simbiose que se caracteriza pela
relação de força, onde de um lado temos as instituições e classes dominantes
da sociedade, que se legitima e se identifica como dominadores nas estruturas

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sociais, enquanto do outro lado temos categorias sociais subjugadas e


estigmatizadas, mas também possuída de uma cultura de resistência.

As religiões de matriz africana e o seu envolvimento social devem ser


entendidos através da dinâmica organizacional ao quais os espaços de culto ao
Orixá, o “Terreiro”, é submetido e vinculando os seus participantes iniciados em
uma relação com o sagrado em torno de todo processo de acumulação de
conhecimento no que concerne aos ritos sagrados.

Esta relação é estabelecida através de processo participativo que envolve


o cotidiano do iniciado em torno da acumulação de conhecimento dos ritos
sagrados, sendo tais práticas em que se estabelecem e se relacionam em nosso
cotidiano. a buscar aporte teórico em outras regiões onde o estudo do tema tem
sido acompanhado de forma mais ampla e reportá-lo para a nossa realidade
local, de forma a minimizar a visão preconceituosa que se tem em relação às
religiões de matriz africanas.

Para realizar uma análise sistemática a respeito das relações que se


estabeleceram entre as religiões de matriz africanas e o cotidiano local, e buscar
entender o contexto no qual tal realidade se apresenta, é preciso levar em conta
uma série de fatores que estão relacionados com a forma de inserção do negro
na sociedade brasileira e de como essa inserção era vista pelos demais grupos
presentes na formação social brasileira.

AMARAL & SILVA (2006), mostram como o sincretismo com aspectos


católicos foi forte no Brasil em várias regiões. Assim, a devoção aos santos
católicos (especialmente aos mais populares, como as Nossas Senhoras, Santa
Bárbara, São Jorge, São João etc.) sincretizados em orixás indica a relação entre
catolicismo e religiões afro-brasileiras. Em Porto Alegre, a festa de Nossa
Senhora dos Navegantes, no dia 2 de fevereiro confunde-se, por seus símbolos,
com a festa de Iemanjá. Na Bahia, no mesmo dia, a festa de Iemanjá torna a
cidade de Salvador um “grande terreiro”. Neste dia, adeptos ou simpatizantes
destas religiões, vestidos com roupas brancas e usando colares de contas,
carregam balaios com presentes preparados nos terreiros para a Casa de
Iemanjá, no bairro do Rio Vermelho, de onde são levados ao mar em procissão.

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Afoxés, blocos afros, grupos de capoeira e outros participam ativamente desta


festa uma vez que grande parte dos seus integrantes faz parte das religiões afro-
brasileiras. Já em São Paulo, no dia 8 de dezembro, dedicado a Nossa Senhora
da Conceição, milhares de adeptos ocupam longas extensões de litoral atraindo
a atenção e participação da população em geral. A presença da religiosidade
afro-brasileira no espaço das praias já se tornou tão legítima que em várias delas
é possível encontrar monumentos a Iemanjá que se tornaram pontos públicos de
culto e de atração turística, incorporados e organizados pela administração
pública.

Mas a religião também esbarra em formas tradicionais de preconceito


racial. O branqueamento de Iemanjá é um exemplo contundente de tal
fenômeno. Com certeza a imagem que os africanos têm da “Rainha do mar”,
representada por nós, fruto de um processo de branqueamento da memória
brasileira, não é a mesma dos africanos. Na mais aguda memória de nosso
passado ancestral africano, dissociando os laços interpessoais articulado pela
ideia do Orixá, sua beleza madura, e pureza maternal não mais podia ser negra,
por ora metamorfoseava-se em diva, para sobreviver mestiçamente em um país
mestiço.

Isso fica evidente quando observamos as representações usuais de


Iemanjá, como uma grande mãe, o oceano que origina tudo. De seu ventre
saíram todos os Orixás, dos seus seios correm os rios que fertilizam a terra.
Como toda matriarca, é benevolente e preocupada com o bem-estar de todos,
mas exerce uma autoridade mais pela astúcia que pela força. Iemanjá é a
imperatriz fecunda e resoluta totalmente aberta a criatividade.

A umbanda, por influência do sincretismo, promoveu Iemanjá como nova


entidade, criação puramente brasileira. Moralizada como mãe de todos os
orixás, foi assimilada com Nossa Senhora, mãe de deus. Nela ficam
condensadas as características das diversas entidades femininas. Para as
pessoas que querem crer em uma mãe extremamente bondosa e puritana como
as colocações de todos os santos da igreja católica, com certeza vai se
decepcionar com a realidade dos orixás A representação de IEMANJÁ que se
tem difundido superou em muito a imagem de sereia ou de grande mãe cujos
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seios descem até o chão. Hoje é uma moça branca a sair do mar, cheia de luz,
santa da igreja católica. É gritante a semelhança imposta pelos católicos mesmo
que apresente traços sedutores, é antes de tudo a mãe boa, desafricanizada.

Roger Bastide (1971), caracteriza os cultos afro-brasileiros como em


estado latente, ou um tipo de mini-África, que traz em seu processo ritualístico a
reivificação dos mitos, manifestas nas celebrações religiosas do candomblé, em
um espaço social sagrado, denominado terreiro, onde a memória africana,
revivendo seus mitos, conserva a memória dos ancestrais africanos, mantidas
nos terreiros cuiabanos, que ao vivenciar a cosmologia dos deuses africanos se
integra ao mundo afro-brasileiro, capaz de reproduzir por meio do transe, danças
gestos e atributos dos Orixás.

Entretanto a multiplicidades religiosa, inserida nos discursos dos sujeitos


históricos envolvidos no debate que privilegiam a relação passado-presente, na
perspectiva de valorizar a multiplicidade das denominações culturais da
religiosidade africana, frequentemente confundida com práticas diabólicas,
feitiçarias, pragas, superstições e folclore, muitas vezes como forma de diminuir-
lhe a importância, que infelizmente por preconceito e desinformação continuam
povoando o imaginário coletivo. NASCIMENTO (2001, p. 50-51) observa que,

Para além das motivações religiosas e não religiosas da igreja romana


com relação ao negro e ao índio, queremos ressaltar que inauguram no período
colonial, a distorção do teor religioso das seitas afro-brasileiras e a sua
depreciação, que se estende posteriormente, chegando até nós como tradição
cultural de forma forte e profunda, a ponto da maioria das pessoas denominarem
as religiões afro de não religiões, ou seja, simples ato de feitiçaria e mais tarde
vulgarmente de macumba (que comentaremos a diante), desrespeitando
tradições religiosas africana milenares.

Mais recentemente as religiões afros tem sido alvo constante das igrejas
evangélicas, com destaque para as Neo-Pentecostais, que observam a estreita
ligação do Candomblé e da Umbanda com o corpo e o prazer, a dança, o ritmo
da música, associando-os facilmente com o diabo, demonizando através do
fundamentalismo mitos de cultos que pertencem a outra ordem de valores.

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Essas religiões geralmente lançam mão principalmente dos meios de


comunicação de massa, aos quais possui livre acesso, facilitando para seus
líderes perverter fatos, subverter a opinião do público em relação a credibilidade
dos cultos afros, muitas vezes atribuindo a eles rituais mágicos ou crimes
hediondos de assassinatos, que não tem absolutamente nenhuma ligação com
as tradições vivenciadas tanto no Candomblé como pela Umbanda. Nenhuma
denominação religiosa pode pretender arrogar-se a si o direito de ser portadora
da verdade total e absoluta, entretanto, é prática comum poder assistir a
programas televisivos, de conteúdo apelativo, de caráter discriminatório
promovido pelos evangélicos fundamentalistas.

Impondo aos cultos religiosos afro-descendentes uma marginalidade


equivocada, que em muitos casos é frequentado pela camada mais pobre de
nossa população, destituída de qualquer assistência do Estado, amontoado de
gente envolvida em suas misérias pessoais e coletivas, os cultos de origem
africana por vezes são severamente perseguidos, assim como os seus adeptos
são socialmente discriminados. Público preferencial de Igrejas como a Universal
do Reino de Deus, entre tantas outras, sempre à cata de fiéis, elegem as
religiões afros alvo prioritário em sua cruzada religiosa pós-moderna.

A persuasão através do medo é dos principais artifícios utilizados pelos


evangélicos, mas não param por aí. A intimidação, interferências violentas e
invasão aos terreiros, com intuito de evangelizar os presentes e até mesmo
lançar boatos desmoralizadores, aos terreiros, aos Pais e Mães-de-santo, está
entre as estratégias empreendidas para aproximar os fiéis às Igrejas, libertando-
os do julgo do “demônio” presente no Candomblé e na Umbanda.

Essa prática nega ao ser humano a busca e o exercício da sua identidade,


riqueza e diversidade cultural. Desrespeita a paixão contida nas manifestações
religiosas populares, expressão de luta e de resistência diante de um poder que
insiste em negar-lhe a existência e a perpetuação de suas tradições, a sua
contribuição na construção do conceito de brasilidade. O direito de expressar-se
enquanto negro e cidadão brasileiro fica, portanto, prejudicado pelos atos
discricionários que verificamos recorrentes ao longo do tempo.

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Como aponta MUNANGA (2003), aceitar a pluralidade religiosa não tem


sido um exercício fácil na sociedade brasileira. Existe muita discriminação contra
os adeptos dos variados cultos afros existentes em nossa sociedade, mesmo
considerando a diversidade étnica e cultural do Brasil. Munanga afirma que:

É esse conjunto coerente de atributos culturais considerados mais


pertinentes que os outros que os antropólogos costumam chamar de sinais
diacríticos. Um mesmo indivíduo, um mesmo ator coletivo pode possuir muitas
identidades. Essa pluralidade de identidades pode engendrar tensões e
contradições, tanto na imagem que o indivíduo tem de si como no seio da
sociedade.

3. A UMBANDA

A Umbanda é uma prática religiosa afro-brasileira fundamentalmente de


ordem sincrética. O seu panteão é composto por um conjunto de entidades da
cosmologia africana, ameríndios, do espiritismo kardecista, contando ainda com
grande influência do sincretismo católico, inseridos devido a proibição imposta
pelos poderes institucionais do seu período inicial. A umbanda é também uma
religião recente. Segundo NEGRÃO (1993, p. 113) a padronização inicial de seus
ritos e seus prenúncios de institucionalização datam da década de 20 do século
XX, quando kardecistas de classe média, atraídos pelos espíritos de caboclos e
pretos-velhos que se incorporavam nos terreiros de macumba do Rio de Janeiro,
neles adentraram e assumiram sua liderança.

Não se pode conferir a Umbanda um padrão único de culto, pois há dentro


dessa religião uma série de variantes que se estabelece de terreiro para terreiro,
estando elas condicionadas de acordo com o entendimento do médium chefe.
Podem até ser percebida em suas denominações, tal a variedade a qual se
apresenta. Umbanda, Quimbanda, Umbanda Branca, Umbanda Esotérica, entre
outras, pois as denominações não param por aí, indo muito além.

Segundo Paredes (1989) a Umbanda e a Quimbanda são difíceis de


serem dissociadas, já que ambas estão estabelecidas no mesmo espaço de
culto, sendo uma dependente da outra no desenrolar dos trabalhos espirituais,
necessários a manutenção da Casa de Culto.
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A umbanda surge coma prática religiosa de maneira informal e


despretensiosa, a principio, e na maioria das vezes se servindo do mesmo
espaço ocupado pela família do pai-de-santo, ou seja, o mesmo espaço que
abriga a família consanguínea do zelador (pai-de-santo), que, nos momentos de
culto, se metamorfosea em templo. Essas estratégias são empreendidas às
vezes pela ausência de um espaço próprio que pudesse abrigar as práticas
religiosas, mas utilizado como cortina de fumaça frente ao preconceito sofrido
pelos praticantes umbandistas. Paredes (1989) destaca que

O terreiro, quanto mais escondido é melhor. Primeira coisa, quando está


na vista, assim, sempre passa aquelas pessoas que não gosta, começa a criticar.
Ele escondido não, ninguém fica sabendo o que tem ali dentro, então não critica
não joga pedra.

As interpretações sociológicas sobre o nascimento da umbanda as-


sentam-se, como não poderia deixar de ser, em sua tríplice condição de religião
nacional, surgida e consolidada no momento da expansão do sistema urbano
industrial do segundo quartel do século, justamente nos centros urbanos mais
importantes das regiões mais desenvolvidas do país. Roger Bastide, em sua
análise que privilegia as relações raciais, considera a macumba como expressão
mágica da marginalidade do negro no período pós Abolição; já a umbanda, seria
expressão ideológica da integração do mesmo à sociedade de classes nascente.
Cândido Procópio Ferreira de Camargo, analisando-a também na mesma
perspectiva integracionista mas tendo o kardecismo como modelo (Camargo,
1961), interpreta-a como forma de adaptação do migrante rural ou de pequenas
cidades à vida nos grandes centros urbanos. Radicalizando a interpretação, em
sua perspectiva estruturalista, Renato Ortiz (1991) a percebe como uma
“exigência” de uma sociedade moderna, racionalizada e moralizada.

Sendo assim, as práticas umbandistas têm o seu funcionamento inicial


operado de maneira familiar e ligada ao médium chefe, garantindo desta forma
a unidade do culto e da doutrina a ser seguida pela família religiosa, a família
consanguínea e a constituída a partir da prática do culto. Em se tratando de

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Umbanda, tal prática se opera a partir da participação do médium em iniciação


ou iniciados nas casas, podendo o mesmo ser iniciado em um terreiro e
posteriormente prestar serviços mediúnicos em outra casa, que neste caso, ao
agregar-se a essa outra casa, assume a sua filiação.

Entretanto estas práticas por vezes se estabelecem em uma ordem que


as mantém à parte do controle das instituições (Igrejas, Estado), promovendo
um fechamento em torno da religião, como forma de burlar os mecanismos
controladores, mas também como sinal de contestação à dominação oficial.
Frequentemente mascarada, numa simbiose que se caracteriza pela relação de
força, onde de um lado temos as instituições e classes dominantes da sociedade,
que se legitima e se identifica como dominadores nas estruturas sociais,
enquanto do outro lado temos categorias sociais subjugadas e estigmatizadas,
mas também possuída de uma cultura de resistência. Como observa CERTEAU
(2001, p. 47)

Muitas práticas cotidianas (falar, ler, circular, fazer compras ou preparar


refeições, etc.) são do tipo tática. E também de modo mais geral, uma grande
parte das “maneiras de fazer”: vitória do “fraco” sobre o mais “forte” (os
poderosos, a doença, a violência das coisas ou de uma ordem etc.), pequenos
sucessos, arte de dar golpes, astúcia de caçadores, mobilidades de mão de obra,
simulações polimorfas, achados que provocam euforia, tanto poéticos quanto
bélicos.

3.1. Espíritos no Ritual de Umbanda

A Umbanda, em todas as suas denominações, opera em seus rituais


através da incorporação de entidades denominados espíritos (eguns), que são
espíritos de pessoas que viveram e morreram e que, portanto, não são
consideradas divindades. Mesmo em se tratando de caboclos, pretos velhos, ou
cosminho (espíritos de crianças), que recebem culto e oferenda de acordo com
a linha de origem a que pertence.

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As linhas na Umbanda são denominações às quais entidades espirituais


se manifestam e subordinam-se, em hierarquia consensual, na cosmologia
umbandista, disposta em sete linhas que são respectivamente as linhas de:
Oxalá, Xangô, Oxissi, Iemanjá, Ogum, Omolu (ou linha das almas) e a linha das
crianças. Encontramos similaridade na literatura, como também na fala dos
sacerdotes, mas longe desta premissa ser unanimidade, pois ainda temos a linha
Exu – Orixá mensageiro, elo de ligação entre o plano físico e o mundo mágico
dos Orixás, algumas vezes negada a sua participação em alguns rituais de
Umbanda, principalmente às mais próximas ao espiritismo Kardecista.

Porém, as expectativas dos consulentes nos terreiros de Umbanda


geralmente não diferem de outras regiões, talvez razão principal de sua grande
difusão, que na observação de Sillos (2001) é a formalização do contato entre o
espírito incorporado em um médium, que revela ao consulente a solução de seus
problemas, atenuando as suas mazelas de toda ordem.

A Umbanda tem uma natureza de liberdade, que permite através da


formalização da divindade em um médium, o contato direto daquela com o
consulente, que independe de classe social, raça, credo, sexo, etc.

Existem terreiros que ao estreitarem vínculos com seus participantes


prestam muito mais que assistência espiritual a aqueles que os procuram,
disponibilizando alguns serviços que podem ser considerados como serviços
sociais, muito comuns também em outras denominações religiosas. Assim, A
questão da caridade é fundamental no contexto das religiões moralizadas. Na
religiosidade ética, a esmola é a parte mais universal da virtude religiosa,
estando presente sua recomendação em todas as religiões mundiais: é um dos
cinco preceitos absolutos de fé no Islã, é a “boa obra” no hinduísmo, no
confucionismo e no judaísmo e no caso do cristianismo primitivo adquiriu a
dignidade de um sacramento. Somente com a expansão do cristianismo tornou-
se possível o universalismo do amor, extensivo inclusive ao inimigo, mas este
caso extremo permaneceu peculiaridade cristã.

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4. CANDOMBLÉ

O candomblé é umas das religiões de origem africana das mais populares


praticadas no Brasil, entretanto é comum encontrarmos pessoas que quase ou
nada sabe a esse respeito, mesmo existindo uma vasta literatura que apresenta
a religião dos Orixás, estudos escritos á seu respeito suas tradições, mesmo em
se tratando de uma religião ágrafa, onde as tradições são transmitidas
oralmente, neste sentido a transmissão oral do conhecimento é o pólo
mantenedor das tradições, apresentando-se em alguns casos como elemento
agregador, sendo fundamental a participação nos rituais praticados nos terreiros,
a fim de que se possa adquirir conhecimento e Axé. Segundo BERKENBROCK
(1998, p. 260):

No processo de troca de Axé, a comunidade do terreiro tem um papel


importante somente na e através da comunidade, uma pessoa tem acesso às
atividades rituais no Candomblé. O terreiro é o lugar que concentra o Axé e a
partir dele o axé é irradiado. Da mesma forma que o contato com os Orixás só é
possível via comunidade. O terreiro não é fonte do axé, mas sim o lugar onde
ele está “plantado”, onde ele está concentrado e a partir do qual ele é partilhado.
O Axé é o maior tesouro e o sentido último de uma casa de culto.

Os orixás para o candomblé são os deuses supremos. Possuem


personalidade e habilidades distintas bem como preferências ritualísticas. Estes
também escolhem as pessoas que utilizam para incorporar no ato do nascimento
podendo compartilhá-lo com outro orixá caso necessário.

Os rituais do candomblé são realizados em templos chamados casas,


roças ou terreiros que podem ser de linhagem matriarcal quando somente as
mulheres podem assumir a liderança, patriarcal quando somente homens podem
assumir a liderança ou mista quando homens e mulheres podem assumir a
liderança do terreiro. A celebração do ritual é feita pelo pai de santo ou mãe de
santo, que inicia o despacho do Exu. Em ritmo de dança o tambor é tocado e os
filhos de santo começam a invocar seus orixás para que os incorporem. O ritual
tem no mínimo duas horas de duração.

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O candomblé não pode ser igualado à umbanda, pois são diferentes. No


candomblé, não há incorporação de espíritos já que os orixás que são
incorporados são divindades da natureza enquanto na umbanda as
incorporações são feitas através de espíritos encarnados ou desencarnados em
médiuns de incorporação. Existem pessoas que praticam o candomblé e a
umbanda, mas o fazem em dias, horários e locais diferentes.

Portanto, o terreiro de candomblé opera neste sentido como espaço


sagrado, fundamental para a conservação dos elementos culturais. Sendo a
oralidade sua única ferramenta de propagação de informações, saberes. Neste
sentido a transmissão oral do conhecimento, não solidifica os saberes, mas sim
os torna flexíveis, promovendo uma série de mutações culturais. Onde a
aculturação e o sincretismo, são aspectos relevantes na composição e
transformação, mesmo estando submetido a uma tradição dominante, o que
neste caso a memória coletiva afrodescendente, que pode ser preservado em
um determinado grupo social e perdido por outros. Ou seja, a memória coletiva
só pode ser preservada segundo Ortiz (1994), enquanto prática vivenciada no
cotidiano dos atores sociais.

Ainda segundo Ortiz, no caso dos fenômenos folclóricos, a argumentação,


é análoga a explicitada no parágrafo anterior, com a ressalva que não
apresentam uma única origem, e caracteriza-se pela pluralidade das
manifestações folclóricas. A memória coletiva se estabelece em grupos que a
suportam e as alimentam sucessivamente através das repetições dos atores
sociais a um único enredo construindo a memória coletiva, observada nos cultos
afro-brasileiros.

O terreiro como espaço sagrado, possibilita ao fiel o contato direto com os


Orixás, onde os mesmos se manifestam através de seus iniciados (Yao). Na
África, o número de Orixás cultuados é superior aos cultuados no Brasil, que
reduzem-se a dezesseis, que devido a dinâmica da oralidade, apresentam
diferenciações de acordo com a nação – nação no Candomblé é a denominação
de origem em África do culto praticado, ou a forma como se apresenta - com
sutis diferenciações mas facilmente perceptíveis, aos seus adeptos. Tais

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diferenciações poder der-se tanto na nomenclatura do Orixá, como em ritmo da


musica no momento da evocação do mesmo.

A nação de Keto, de origem Yorubá, é a tradição do candomblé mais


difundida no Brasil. Os Orixás apresentam-se respectivamente: Exu, Ogum,
Oxossi, Xangô, Logun Edé, Ossain, Oxumaré, Iroko, Iansã, Oxum, Oba, Iemanjá,
Nana Boroku, Erê, Ifá, e Oxalá. Sendo que, desta lista apenas Ifá não se
manifesta através da incorporação, sendo exceção em relação aos demais.

Observando as práticas religiosas afrodescendentes e sua trajetória, seu


estabelecimento no espaço urbano, a sobrevivência ao preconceito a as
perseguições articuladas pelo Estado, o candomblé e a umbanda
estabeleceram-se, munidos de suas práticas, rituais e tradições. Em especial no
que concerne a sua sobrevivência, dinamismo, e diversidade.

Pois podemos encontrar em Cuiabá, algumas das denominações


mencionadas, como é o caso da Umbanda tradicional de Pai Ayrton e Pai
Joãozinho do Alá, ou mesmo nos candomblés de Ketu (tradição Yorubá - Nago)
e de Angola (tradição Banto), onde encontramos representantes com casas
abertas e em plena função de seus afazeres rituais, a manutenção de suas
tradições. Compondo assim, em seu espaço de rito, um lugar social onde os
atores sociais se articulam e se misturam ao seu entorno, nas periferias
cuiabanas.

É, pois, de fundamental importância que se perceba a relevância das


relações sociais estabelecidas a partir destas praticas religiosas, em um quadro
cujo às representações serve como mediadora e ações complementares na
sobreposição social, como podemos observar na mobilidade dos frequentadores
desses espaços de culto.

Resultado de uma sociedade reconhecidamente desigual econômica,


social, más principalmente permeada por diferenças étnicas, que potencializam-
se quando se trata de questões relativas a tradições religiosas diversa das
tradições judaico-cristã, ou seja a discriminação imposta está longe de ser
superada em nossa sociedade, mas nem de longe aleijada de suas tradições.

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Mas de toda maneira fica evidenciado a estreita relação entre as religiões


de matrizes africanas praticadas no Brasil e o que chamamos de cultura afro-
brasileira. Com efeito, essas religiões não se restringem apenas ao sagrado.
Elas também trazem muitos elementos da cultura africana e, em alguns casos,
simbolizam um tipo de síntese entre a África e o Brasil. Outro ponto importante
é que, como elemento cultural, elas não ficaram restritas apenas ao afro-
descendentes, uma vez que pessoas oriundas de outros grupos aprenderam a
respeitar e acreditar nas crenças trazidas do outro lado do Atlântico.

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