Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Mônica Karawejczyk
Muriel Rodrigues de Freitas
ORGANIZADORAS
MULHERES
FAZENDO
HISTÓRIA:
DA INVISIBILIDADE AO PROTAGONISMO
MULHERES
FAZENDO
HISTÓRIA:
DA INVISIBILIDADE AO
PROTAGONISMO
PEMBROKE COLLINS
CONSELHO EDITORIAL
MULHERES
FAZENDO
HISTÓRIA:
DA INVISIBILIDADE AO
PROTAGONISMO
PEMBROKE COLLINS
Rio de Janeiro, 2022
Copyright © 2022 | Débora Karpowicz, Mônica Karawejczyk, Muriel Rodrigues de Freitas (orgs.)
DIREITOS RESERVADOS A
PEMBROKE COLLINS
Rua Pedro Primeiro, 07/606
20060-050 / Rio de Janeiro, RJ
info@pembrokecollins.com
www.pembrokecollins.com
Nenhuma parte deste livro pode ser utilizada ou reproduzida sob quaisquer meios existentes
sem autorização por escrito da Editora.
FINANCIAMENTO
Este livro foi financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro, pelo Conselho
Internacional de Altos Estudos em Direito (CAED-Jus), pelo Conselho Internacional de Altos Estudos em
Educação (CAEduca) e pela Pembroke Collins.
Todas as obras são submetidas ao processo de peer view em formato double blind pela Editora e, no caso de
Coletânea, também pelos Organizadores.
M956
400 p.
ISBN 978-65-89891-38-3
CDD 305.42
5
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO 11
7
GIRLS JUST WANNA HEAVY METAL: MULHERES, HEAVY METAL E
EXCRIÇÃO NA CENA METAL 171
Cristiane Bahy
8
UM MANIFESTO 361
CHORUME 363
Leila Negalaize Lopes
9
APRESENTAÇÃO
DÉBORA KARPOWICZ
M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K
M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
A história das mulheres foi por muito tempo cercada pelo silêncio.
Silêncio das fontes. Silêncio das próprias mulheres, relegadas a um lugar
feito de fronteiras. Fronteiras imaginárias e simbólicas. Fronteiras que as
cerceavam em seus atos, tão reais quanto um muro. Fronteiras concretas
que aniquilaram as forças, sugaram iniciativas, impediram a fala, restrin-
giram o andar. Limites inscritos nas leis e nos costumes. Limites descritos
em tratados e proferidos sem medo por vozes masculinas.
Duas grandes historiadoras, Michele Perrot e Joan Scott, já escre-
veram sobre essa temática. Michele chega a traçar um breve histórico da
invisibilidade e silenciamento das mulheres pelos homens, a partir dos
relatos de figuras importantes na construção dos discursos históricos. Do
pensamento de Aristóteles, que afirmava a superioridade masculina e a
selvageria feminina, passando pelo apóstolo Paulo, que pregava o silên-
cio das mulheres, até Bossuet, Rosseau, Comte e Proudhon, nos quais
encontramos a construção da imagem feminina a partir de um sistema
hierárquico que as colocava em um plano secundário e em lugar de sub-
missão. Michele Perrot, através da análise literária e das artes visuais, de-
monstra como, também neste campo, houve a perpetuação da imagem
feminina como um ser limitado, passional, equivocado e submisso. Joan
Scott partilha de muitas colocações de Perrot, tanto no que diz respeito
ao esquecimento das mulheres na escrita da História, quanto ao lugar
imposto para elas na sociedade. Não podemos negar que o “mundo femi-
nino” foi, por muito tempo, restrito ao mundo doméstico, cerceado por
seu corpo e definido pela maternidade.
Muitas das demandas femininas foram conquistadas ao longo do
último século, tais como o direito à educação mais inclusiva e trabalho
digno, legislações protetivas e o conhecimento do seu corpo. Contudo,
outras demandas ainda são apenas desejos e promessas, mas elas deixa-
ram uma lição importante: as mulheres podem e devem ser protagonistas
de sua história. Estudos localizados principalmente a partir da década de
1970 mudaram a tônica dos escritos e da dialética que se mantinha sobre
o binômio opressão-dominação e trouxeram um necessário aprofunda-
mento das questões teóricas e metodológicas no que se refere à história
das mulheres e dos estudos de gênero. Desde os anos 1980, tais estudos
12
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
13
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
14
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
15
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
16
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
17
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
18
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
ta, e a saudamos com amor e sororidade. Boa leitura e que venham mais
escritos, mais parcerias, mais amizades e mais protagonismo.
REFERÊNCIAS
19
EIXO I
DA INVISIBILIDADE AO
P R O TA G O N I S M O
AS MARCAS DO PATRIARCADO NAS
CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS E NA
VIDA DAS MULHERES
Ana Maria Colling
INTRODUÇÃO
22
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
23
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
3 Para saber mais sobre a construção do corpo feminino ver COLLING, Ana Maria. Tempos
diferentes, discursos iguais. A construção histórica do corpo feminino. Dourados, MS: Ed.
UFGD, 2019.
24
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
25
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
26
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
FEMINISMOS
27
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
28
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
até nas políticas públicas. A maioria das leis, dos discursos e obras cientí-
ficas sempre remeteram a um sujeito que se supõe universal. Às mulheres
sempre um dilema, como contar sua história nesse universalismo, que
negava a diferença entre os sexos; como contar suas experiências se en-
globadas num pretenso sujeito único universal?
Mas desde os movimentos políticos e sociais de mulheres no final
do século XVIII, críticas são feitas a esta linguagem de poder, que nada
mais é do que um reflexo da estrutura patriarcal, presente especialmente,
no caso brasileiro, nas Constituições e nos Códigos. As mulheres não
cansam de denunciar a contradição entre a proclamação da universalidade
dos direitos e sua exclusão.
A história do discurso e da prática jurídica sempre foi um tema pri-
vilegiado na denúncia do silenciamento feminino. Como afirma Pomata,
“em nenhum domínio a distinção entre os sexos é tão forte, e as fontes
não escasseiam”.8 O estudo das leis e de sua materialização é imprescin-
dível para conhecer qualquer sociedade. No que se refere às relações de
gênero, ou à diferença entre eles, é um elemento fundamental para iden-
tificar como a normativa legal afetou a vida das mulheres.
Neste texto, privilegio as Constituições brasileiras de 1824 (primeira
Constituição brasileira), a de 1891 (primeira Constituição republicana) e
a de 1934 (que institui o voto feminino e o silenciamento sobre as mu-
lheres). Elas, as mulheres, não existem para os juristas e políticos que
redigiram estas Cartas, sobre um país descrito somente por homens, ou
melhor, de alguns homens.
Em 1822, quando foi convocada a Assembleia Constituinte brasilei-
ra, aqui predominava uma sociedade agrícola, concentrada especialmente
nas áreas litorâneas. Os “homens bons” que constituíam as câmaras mu-
nicipais vinham da elite agrária ou eram seus porta-vozes. A Assembleia
Constituinte foi convocada por D. Pedro enquanto regente do reino do
Brasil, dois meses antes da Independência. É um fato sui generis a Consti-
tuinte ser convocada anteriormente ao simbólico grito do Ipiranga, que
nos libertou oficialmente de Portugal.
8 Pomata (1995).
29
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
30
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
31
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
32
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
33
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
34
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
35
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
36
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
37
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
38
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
CONCLUSÃO
39
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
Passadas quase duas décadas do século XIX, agora com uma Consti-
tuição Cidadã, um novo Código Civil, Lei Maria da Penha, Lei Antifemi-
nicídio, as mulheres ainda se perguntam: como ser cidadã autônoma se a
violência contra a mulher segue seu trajeto histórico? Como ser cidadã se
o estupro continua instalado na cultura brasileira? Como ser cidadã se os
salários são menores para trabalho igual? Como ser cidadã se uma mulher
não pode vestir a roupa que quiser, suspeitar de quase todos os homens nas
ruas, nos ônibus, nos metrôs? Como ser cidadã se a gravidez e a maternida-
de ainda são utilizadas como signo de inferioridade? Como ser cidadã se o
desrespeito das mulheres na política continua sendo uma prática cotidiana?
REFERÊNCIAS
40
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
41
AS MULHERES E O TRABALHO
INTELECTUAL: UMA LONGA
HISTÓRIA DE INTERDIÇÕES
Natalia Pietra Méndez
42
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
43
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
44
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
45
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
46
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
47
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
48
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
Eu acho uma barra, porque todas as pessoas para quem se fala que
se mora na casa, encaram-nos como prostitutas. Isso sem falar na
discriminação dos moradores que têm atitudes machistas ao ex-
tremo, como, por exemplo, vir até a porta do meu quarto, no
meio da madrugada, e pichar nela – Putas! Também sem falar nas
49
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
50
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
51
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
52
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
53
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
54
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
55
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
56
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
ciplinas que cursam. Essa é uma questão trazida por muitas estudantes,
mas principalmente por mulheres negras. As estudantes comentam que,
mesmo em aulas de estudos feministas, os homens se sentem mais livres
para expor suas reflexões, mesmo que elas sejam pouco significativas para
o debate, ou se limitem a reproduzir aquilo que a professora havia falado
ou o que o autor/a “x” escreveu.38
Essas falas representam, com uma sensibilidade que não pode ser cap-
tada por pesquisas quantitativas e nem mesmo por este texto, as inúmeras
dificuldades que ainda persistem para grupos sociais que, historicamente, vi-
veram à margem das universidades e das profissões ditas intelectuais. Quan-
do as estudantes colocam estes pontos, costumam deflagrar debates intensos.
Não raro, estudantes homens manifestam seu desconforto com a discussão.
Mas esse incômodo inicial, na maioria das vezes, se desdobra em um maior
exercício de escuta por parte dos estudantes em relação às colegas mulheres.
É possível dizer que ocorre alguma reflexão quanto ao fato de que ser homem
(principalmente, branco/cis) confere posições de prestígio em uma sociedade
altamente hierarquizada. Isso se manifesta de diversas formas, sendo a legiti-
midade da fala nos espaços públicos talvez uma das principais.
Trago aqui dois exemplos destas discussões. O primeiro foi em 2015,
em meio a uma aula sobre o texto Pode um subalterno falar?, de Gayatri Spiva-
ck. Um estudante homem, branco/cis, pediu a palavra e se alongou em sua
exposição, realizando algumas análises sobre a autora. Toda a classe o ouviu
atentamente. Foi possível perceber que aquela fala, alongada, quase professo-
ral, causava um mal-estar em boa parte da turma. Era uma aula com várias
mulheres que já haviam cursado outras disciplinas ligadas a estudos feminis-
tas, participavam de coletivos e possuíam inserção no tema. Quando chegou
a vez de uma estudante falar (neste caso, uma mulher, branca, que nos espa-
ços universitários se identificava como lésbica) foi interrompida pelo colega
38 Todas as falas aqui apresentadas foram escritas tendo como base as observações e ano-
tações realizadas por mim durante as aulas. Tenho essa prática de tomar nota (durante a
aula ou logo depois) de situações que considerei relevantes. Por essa razão, não se trata de
uma transcrição fiel ao que as estudantes disseram. Para usar este material sem incorrer
em questões metodológicas mais complexas, optei por preservar o nome de todos/as os/
as envolvidos/as nas experiências relatadas.
57
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
58
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
Sobre este tema, Rebeca Solnit, em seu livro Os homens explicam tudo
para mim, comenta os fatores que levam a esse silêncio feminino:
59
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
60
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
Imagem 1
Da esquerda para a direita: Natalia e Lauri em uma das aulas da disciplina História e Rela-
ções de Gênero, Campus do Vale, UFRGS, Porto Alegre, 201946
45 O trecho da música Mulher, da artista brasileira Linn da Quebrada, diz “(...) Ela é diva da
sarjeta, o seu corpo é uma ocupação. É favela, garagem, esgoto e pro seu desgosto. Está
sempre em desconstrução”
46 Na parte de cima da mesa, tal como uma toalha, encontram-se duas bandeiras lado a
lado, à esquerda a bandeira com as cores do arco-íris (simbolizando o movimento LGBTQI+)
e ao lado a bandeira com listras azul, rosa e branco (simbolizando o orgulho de travestis,
61
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
CONSIDERAÇÕES FINAIS
transexuais e transgêneras/os.
62
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
47 Esta foi uma proposição que teve como principais articuladoras professoras da UFRGS
vinculadas ao movimento Parent in Science, grupo que atua na pesquisa e discussão das
relações entre ciência, maternidade (e paternidade) nas universidades brasileiras.
48 Solnit (2017, p. 27).
49 Evaristo (2016, p. 303).
63
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
64
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
REFERÊNCIAS
66
FEMINISMO E EDUCAÇÃO: UM
DIÁLOGO DE RECONHECIMENTO
DO PENSAMENTO DAS MULHERES
Íris de Carvalho
INTRODUÇÃO
50 A revista Veja publicou o perfil da esposa do vice-presidente, Michel Temer. Com o título “Mar-
cela Temer: bela, recatada e do lar”, o texto apresentou o estilo de vida e as características da
vice-primeira-dama do país, em 18 de abril de 2016. As definições sobre Marcela Temer mostram
o quanto os valores patriarcais estão ativos em nossa sociedade. Na matéria jornalística, a mulher
é retratada como um indivíduo em segundo plano, que deve permanecer no lar, no privado, en-
quanto o homem ocupa o espaço público, que seria seu lugar de direito. À mulher resta os filhos,
não aparecer muito, não querer estar no espaço público, ser limitada e enclausurada. O feminis-
mo existe para dizer basta e reafirmar que não aceitaremos estereótipos de gênero, subjugação e
opressão. Ver link:https://veja.abril.com.br/brasil/marcela-temer-bela-recatada-e-do-lar/ .
67
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
51 O conceito madresposa, cunhado pela autora Marcela Lagarde y de los Ríos em seu livro
“Los cautiverios de las mujeres: madresposas, monjas, putas, presas y locas”, foi mantido
em espanhol pois compreendo que na forma original marca melhor a simultaneidade que
o conceito da autora propõe.
68
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
69
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
56 Saffioti (2015.
57 Pinto (2003).
58 Duarte (2019).
59 Em outro de 2015, um levante de mulheres brasileiras tomou as ruas para barrar o
projeto de Lei 5069/2013, que buscava restringir o direito ao aborto previsto em lei. A
mobilização ficou conhecida como Primavera Feminista e seguiu as tendências mundiais.
Desde então, o movimento feminista se ampliou para além das universidades e organiza-
ções formais, ganhando adeptas ainda mais jovens.
70
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
71
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
63 Rocha (2017).
64 Zirbel (2021).
65 Duarte (2019).
66 Saffioti (2013).
72
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
67 Saffioti (2013).
68 Autorizada em 1827, a Lei Geral do Ensino de 15 de outubro, restringia a instrução das
mulheres ao ensino da escrita, leitura e das quatro operações, bem como das prendas e
economia doméstica. A educação das mulheres só conseguiu romper as últimas barreiras
legais, em 1971, com a Lei de Diretrizes e Bases (LDB), que atribuiu equivalência entre os
cursos secundários. A partir desta diretriz, o curso normal secundário, amplamente fre-
quentado pelas mulheres desde o final do século XIX, não foi mais discriminado por ser
um curso profissionalizante, e passou, também a possibilitar o acesso ao ensino superior.
Assim, inúmeras normalistas puderam ingressar na academia.
69 A Constituição dos Estados Unidos do Brasil de 1891 não proibiu, explicitamente, o voto
feminino, mas revelou quem eram os cidadãos brasileiros dotados de direitos eleitorais:
nascidos no Brasil, maiores de 21 anos e alfabetizados. Neste caso, o substantivo “cida-
dãos” não estava universalizando, homens e mulheres. Pelo contrário, reafirmou exclusi-
vamente os homens. O ato de não nominar as mulheres deriva do pensamento comum da
época em naturalizar a exclusão feminina. Mesmo quando a Constituição explicita quem
não está apto para votar, as mulheres não são mencionadas. Com base nesse “esquecimen-
to”, muitas mulheres realizaram alistamentos eleitorais por mais de 40 anos, período que
73
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
74
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
Lutz, aos poucos, passou a ter sua imagem associada ao ‘bom femi-
nismo’, em contrapartida com o outro feminismo, o ‘mau’, vin-
culado ao lado mais militante do movimento e à figura de Daltro,
que estava sofrendo uma campanha de ridicularização na época.73
75
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
76
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
amor, sexo e compromisso. Esses debates eram feitos através dos chamados
“grupos de reflexão”, que funcionavam como grupos de conscientização.
Nos encontros, eram discutidas questões relativas à condição das mulheres,
questões profissionais, domésticas, políticas e lidos textos trazidos por femi-
nistas que voltavam do exílio. Os livros mais recorrentes eram: O segundo
sexo, de Simone de Beauvoir; A mística feminina, de Betty Friedan; Política
Sexual, de Kate Millet; e A origem da família, da propriedade privada e do estado,
de Friedrich Engels. Esses textos, de grande referência do feminismo inter-
nacional, trouxeram provocações como o “não se nasce mulher, torna-se
mulher”, de Simone de Beauvoir, a polêmica em torno da heroína domés-
tica, de Betty Friedan, e o sexo como categoria política legítima, de Kate
Millet, que geraram a bandeira feminista da época: “o pessoal é político”.
Essas provocações contribuíram para a emergência do pensamento
feminista brasileiro, bem como sua organização como movimento social,
que se nutriu em pleno regime de exceção política e colocou-se como
oposição a ele. Com a criação de núcleos de estudos e pesquisas sobre as
mulheres nas universidades brasileiras, nos anos 1970, e a entrada de no-
vos aspectos epistemológicos na produção do conhecimento, afinou-se o
cruzamento entre prática militante e empenho teórico – era o tempo da
ciência engajada. Segundo Fúlvia Rosemberg,
77
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
75 Em 1975, com outras mulheres funda o Centro da Mulher Brasileira, entidade pioneira
do novo feminismo nacional que tinha no seu foco tratar das questões femininas.
78
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
79
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
res como seres tão capazes quanto os homens, e a ausência feminina nas
cadeiras universitárias como um efeito da violência com que os homens
se sustentam nos lugares de poder. Em concordância com Constância
Duarte, os escritos de Nísia Floresta se constituíram no
80
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
81
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
86 Nasceu, em 1887, no interior de Minas Gerais, e logo mudou-se para a cidade de Bar-
bacena aonde realizou seus estudos primários e a Escola Normal, diplomando-se em 1904.
Em 1908, iniciou sua vida profissional como professora e, em 1912, como jornalista. Atuou
nas campanhas e alfabetização e nas obras de benemerência. Foi influenciada pelas ideias
anarquistas e pelo pai, um livre pensador, espírita e membro da maçonaria. Em 1921, mu-
dou-se para São Paulo aonde permaneceu até 1928, quando foi viver na comunica de anar-
quista de Guararema (interior de São Paulo) até 1937.
87 Leite (2015, p. 17).
82
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
83
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
Essa visão crítica e libertária fez com que Maria Lacerda de Moura
compreendesse a educação como uma força revolucionária e, no seu en-
tender, homens e mulheres deveriam receber uma educação científica,
racional para ambos os sexos, constituindo o perfeito instrumento de li-
berdade. A denúncia de uma educação medíocre para as mulheres segue
atual; Moura acreditava que as mulheres ao exercitarem o pensamento
a partir dos seus argumentos e dos seus corpos produziriam uma outra
forma de se relacionar com o mundo. Ou seja, é possível
[...] dizer que ela percebia que, muito embora as mulheres já hou-
vessem iniciado a conquista do acesso à educação, elas eram captu-
radas por uma lógica sexista que as transformava em um paradoxal
reforço a uma educação aprisionadora.91
84
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
rem o pensamento a partir dos seus argumentos e dos seus corpos produ-
ziriam uma outra forma de se relacionar com o mundo.
Esse pensamento de Maria Lacerda de Moura me parece um dese-
jo comum às feministas do presente. O desejo segue vivo e latente em
permitir que as mulheres possam exercitar livremente seu pensamento a
partir das suas vivências e corporalidades, gerando novas relações media-
das pela autodeterminação criativa. Esse encontro de gerações não para,
assim como as ondas do mar, às vezes, alcança o clímax, às vezes tornam-
-se quase calmaria, mas persiste. Este também pode ser visto como parte
do movimento da história. É preciso estar atenta e forte, ter cuidado e
tempo, persistência quando se tem desejo de mudança.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
85
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
REFERÊNCIAS
86
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
87
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
88
CONHECIMENTO SITUADO, LUGAR
DE FALA E INTERSECCIONALIDADE:
CONTRIBUIÇÕES DO PENSAMENTO
FEMINISTA NEGRO NO ENSINO DE
HISTÓRIA
Carla de Moura
INTRODUÇÃO
89
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
90
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
95 Heymann (2006).
96 Davis (2016, p. 17).
91
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
92
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
99 Crenshaw (2016).
100 Crenshaw (2016).
93
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
[...] ser mulher, não ser branca, habitar países do sul, ser pobre etc.,
são fatores que, num contexto marcado por ideologias produtoras
de iniquidade como racismo, sexismo e outras, produzem as vul-
nerabilidades a que milhões de pessoas estão expostas. A ocorrência
destes fatores e suas intensidades sobre pessoas e grupos populacio-
nais vai impactar de forma simultânea, sincrônica, não sendo pos-
sível separá-los ao longo da experiência concreta de cada indivíduo
ou povo. É a isto que chamamos de interseccionalidade.102
94
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
95
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
96
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
97
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
Cada grupo habla desde su proprio punto de vista y comparte su próprio cono-
cimento parcial, situado. Pero dado que cada grupo percibe por su propia ver-
dad como parcial, su conocimento es inconcluso. Cada grupo se transforma en
el más capacitado para considerar los puntos de vista de otros grupos sin renun-
ciar a la singularidad de su punto de vista o a las perspectivas parciales de otros
grupos. Parcialidad, y no universalidad, es la condición para ser escuchado.113
98
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
99
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
116 No livro Arraial do Parthenon (1999), Cyro Martini identifica diversos proprietários de
terras no Partenon do século XIX utilizando como fontes, escrituras de terras do segundo
tabelionato de notas de Porto Alegre e anúncios de venda de chácaras do jornal A Reforma.
Através destes nomes de proprietários de terras, fiz a busca primeiramente por cartas de
liberdade, localizando quatro proprietários escravistas: José Fernandes dos Santos Pereira
Junior, Manoel Lopes Bittencourt, Antônio Gonçalves Padilha e Nicolau Rainieri. A escolha
por aprofundar a pesquisa sobre Nicolau Rainieri, cujo filho, Jorge Rainieri, tornou-se um
grande negociador de terras na região, se deu pelo grande número de cartas de liberdade
encontradas e pela riqueza das informações nelas contidas. Posteriormente localizei o in-
ventário de Constança Rainieri, esposa de Nicolau Rainieri cujas informações possibilitam
um interessante exercício de análise interseccional.
117 As expressões “crioula”, “preta”, “parda”, “pardinho” e “mulata” são transcritas lite-
ralmente das fontes pesquisadas, assim como todas as outras informações sobre os sujei-
tos citados no texto. As denominações e classificações dos sujeitos negros pelos brancos
escravizadores poderão ser apresentadas às alunas e alunos da perspectiva de como o
Movimento Negro - a partir da noção de que os sujeitos só se descobriram negros no con-
tato com os brancos - se apropria e ressignifica expressões pejorativas por estes cunhadas,
como “negro”, “preta”, “crioula” em atitude de empoderamento. As expressões “parda”,
“pardinho” e “mulata” seguem sendo problematizadas porque são inseparáveis dos estu-
100
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
101
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
F.: “O documento tenta informar que a sinhá era boa, que dava
carta de liberdade, que batizava as filhas das escravas... mas não
podemos esquecer que era um movimento escravista.”
K.: “É realçado que a Constança Rainieri deixou em seu testa-
mento dinheiro para suas afilhadas e cartas de liberdade para elas.
A minha crítica ao documento é que ela fala que deu a carta de
liberdade para a Rita e a Julieta sendo que elas lutaram 40 anos
para poder conquistar.”
AC.: “O documento informa que a sinhá aparenta ser uma boa
pessoa pois ela dá carta de liberdade para as suas escravas e é ma-
drinha de crisma da Malvina da Olímpia e da América e elas sa-
102
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
103
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
e América “trabalharam a vida toda para ela (Constança), mais que justo
serem soltas”, as alunas destacam a agência das mulheres negras escraviza-
das. Luiza Bairros (1995), no mesmo sentido, enfatiza tal agência a partir
da singularidade da perspectiva das mulheres negras sobre a elite branca
compreendida através do lugar ocupado pelas empregadas domésticas:
Na análise das alunas fica ainda explícito que, nos documentos in-
vestigados, eram os donos de escravos que, através do discurso expresso
nas fontes históricas, tinham poder de representar as pessoas escravizadas.
Uma das alunas destaca que nessas representações as pessoas escravizadas
eram reduzidas à condição de escravos definida pela cor da pele. Nova-
mente o documento é por elas colocado em xeque:
104
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
105
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
levantadas pelas alunas e alunos me fizeram refletir sobre essa sociedade aboli-
cionista formada pela intelectualidade branca da cidade de Porto Alegre.
A menina América, de apenas cinco meses de idade, que pertencia à
família de um dos fundadores da associação, teve sua carta de liberdade com-
prada pelo Parthenon Literário por 200 contos de réis. O fato levanta dúvida:
a intenção da associação era a compra da liberdade de pessoas escravizadas
ou garantir a indenização das famílias proprietárias de escravos? Essas tensões
no seio da família escravista, em que alguns de seus membros tinham ideais
abolicionistas, ficaram em aberto e merecem ser mais bem investigadas.
Enquanto professora de História e pessoa preocupada com a construção
de relações étnico-raciais mais justas e igualitárias, me questionei algumas
vezes sobre realizar um trabalho utilizando fontes históricas do período es-
cravista. Abordar a História afro-brasileira a partir da escravização dos corpos
negros pode ser um desserviço, dependendo da maneira com que é feita. É
preciso estar em alerta para manejar estas informações, pois se trata de um
tema sensível para alunas e alunos negros. Por outro lado, não posso, nem
tenho o direito, de ocultar, minimizar ou “varrer para baixo do tapete” que a
História do Brasil é marcada a ferro no que tange à escravização de africanas/
os e suas(eus) descendentes. Entendo que as narrativas históricas situadas po-
dem contribuir na elaboração coletiva destes traumas históricos:
K.: Outra coisa que chamou atenção nossa foi: as mães batalharam
para dar melhores condições de vida para suas filhas.
107
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
CONSIDERAÇÕES FINAIS
108
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
(F.:) (N.:)
Eu sinto orgulho de ser preta A triste realidade
E ninguém tira isso É que o mundo perdido tá
Da minha cabeça Facção com facção
Meu cabelo Black Seria melhor se juntar
Só reforça minha natureza Ao invés de brigar, claro
Sim já fui zoada Por boca de fumo
De cabelo duro e tal Vamos lutar pra conquistar
Mas Deus não dorme O nosso lugar no mundo!
Vão pagar por tudo em real
Por todo sofrimento (A.C.:)
Que nós pretos passamos juntos Novelas e minisséries
Nós vamos superar juntos Dão mal exemplo
Vão aplaudir todos nós juntos Só tem negro em senzala
Na cozinha
(K.:) E limpando a sala
Nas favelas Racismo tá em toda parte
Negros morrem Onde quer que cê vá
Por desacato à autoridade, Comércio, supermercado
Mas se é branco Transporte coletivo e pá
Com dinheiro
Responde (Todas:)
Em liberdade Basta! Chega!
Tô pouco me lixando Preconceito sai pra lá!
Para o que esses brancos falam É os preto no topo
Eles querem o nosso mal E do topo
E o fim da nossa raça! Ninguém vai nos tira
Pode até tentar
Mas no topo
Vamos continuar
É os preto no topo!
109
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
110
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
escola que atuo como professora fica localizada, que me levou à produção
das intelectuais feministas negras. Essa aproximação me exigiu o reco-
nhecimento dos meus privilégios e honestidade intelectual. Denunciou
a insuficiência das categorias de análise fundamentadas em um modelo
eurocêntrico, masculino e branco, assim como a categoria “mulheres”
no Feminismo. Apresentei neste artigo parte desta caminhada que é, ao
mesmo tempo, política, pedagógica e teórico-metodológica.
REFERÊNCIAS
111
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
112
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
113
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
114
LITERATURA, GÊNERO E HISTÓRIA:
REFLEXÕES A PARTIR DA OBRA
LITERÁRIA A GUERRA NÃO TEM
ROSTO DE MULHER139
Fabiane Maria Rizzardo
Nielly da Silva Pastelletto
INTRODUÇÃO
139 Texto originalmente escrito como parte da avaliação da disciplina História e Gênero,
ministrada pelas professoras doutoras Marlise Regina Meyer e Mônica Karawejcyk (PPGH
PUCRS), em 2020/01
115
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
140 Entre os diversos prêmios que a autora conquistou destaca-se: Témoin du Monde
(Paris) de 1999; Melhor Livro sobre Política do Ano de 1998, da Fundação Friedrich Ebert
(Bremen); Andrei Sinyavsky de 1997 (Moscou), além do Nobel de Literatura em 2015.
141 Perrot (2017).
142 Goldmann (2014).
116
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
117
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
sante notar que o texto tem sido analisado por autores como Gonçalves
e Loureiro,143 os quais procuram identificar os limites entre literatura e
jornalismo, destacando a importância do jornalismo literário enquanto
uma proposta contra-hegemônica.
Sobre a voz da autora, pode ser notada em momentos pontuais, na
parte introdutória: “A história relatada por uma testemunha ou por um
participante que ninguém notou. Sim, é isso que me interessa, é isso que
eu gostaria de transformar em literatura [...]”.144 O trecho destacado fun-
ciona como um indício de que a autora manipulou o material reunido
para provocar tensionamentos que não são neutros, já que pensados para
atender a determinado objetivo.
Conforme destacado pelos pesquisadores Emerson Gonçalves e Ro-
bson Loureiro,145 o livro contempla assuntos que são ignorados pelo Oci-
dente, bem como aspectos da história que eram (e ainda são) sensíveis aos
soviéticos. Ao optar por incluir tais relatos, Aleksiévitch nos fornece pis-
tas sobre seus posicionamentos políticos no momento em que elaborou
a obra literária. Nesse sentido, é pertinente que os leitores se perguntem
em que medida a voz da autora se confunde e/ou se sobressai em relação
às vozes das personagens através desse exercício de privilegiar alguns as-
pectos polêmicos e de, possivelmente, suprimir outros.
Entre as entrevistadas contempladas, destacam-se as senhoras que
atuaram na guerra na faixa dos 18 anos. Muitas delas se alistaram ain-
da mais jovens, antes mesmo de terem completado os estudos básicos
e terem a oportunidade de acumular vivências fora do contexto fami-
liar. O recorte selecionado também permite perceber que as mulheres
assumiram diversas funções e cargos, desempenhando desde atividades
tradicionalmente associadas ao universo feminino, tais como lavadeiras,
cozinheiras e enfermeiras, quanto atividades que seriam do universo mas-
culino – atuando, por exemplo, como tanquistas, atiradoras, pilotos de
avião, motoristas, mecânicas e como responsáveis por minas. Todas, con-
forme consta no texto, se alistaram com a intenção de defender a pátria.
118
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
119
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
Que mulher é essa que não só salvava, fazia curativos, mas ela pró-
pria atirava e bombardeava? Matava homens... Estavam interessados
em saber se eu tinha me casado. Tinham certeza que não. De que
era solteira. E eu ria: “Todos trouxeram troféus da guerra, eu trou-
xe um marido. ‘Tenho uma filha. Agora já estou com netos” [...].
Nosso comandante de batalhão se apaixonou por mim no front.147
Ao reunir relatos verídicos, A guerra não tem rosto de mulher pode ser
entendida – após essa discussão prévia – como um documento com po-
tencial para elucidar lacunas historiográficas, bem como para ser com-
plexificado pelas produções historiográficas. Esses são movimentos que
tentaremos realizar na próxima seção. Antes, contudo, cabe ressaltar que,
por tratar de questões ainda vigentes nas sociedades patriarcais, a produ-
ção literária permite que mulheres de diferentes culturas da atualidade se
identifiquem com ele.
120
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
121
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
122
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
123
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
1 24
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
125
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
CONSIDERAÇÕES FINAIS
126
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
127
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
Dizem que o instinto materno é mais forte do que tudo. Não, uma
ideia é mais forte! E a fé também é mais forte! Eu acho... Até estou
convencida de que, se não existisse essa mãe, essa menina, e se elas
não tivessem levado essa mina, não teríamos vencido. Sim, a vida é
uma coisa boa. Maravilhosa! Mas há coisas mais preciosas...163
REFERÊNCIAS
128
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
129
DONA GUIDINHA DO POÇO – UMA
VISÃO ALÉM DO CÂNONE SOBRE
PAPÉIS DE GÊNERO E RELAÇÕES
CONJUGAIS NO BRASIL DO
SÉCULO XIX
Marcia Kern
“Deus te livre, leitor, de uma ideia fixa; antes um argueiro, antes uma
trave no olho” já anunciava Machado de Assis,166 dando voz a Brás Cubas.
Quase um século e meio depois, essa continua sendo, cada vez mais, re-
gra e tormenta que assola qualquer abordagem acadêmica que se pretenda
séria. Essa sensação perturbadora e incômoda de manutenção do foco e
estreitamento do olhar, numa careta míope, que mais uma vez remete ao
Bruxo do Cosme Velho, é e sempre será familiar ao ambiente da pesqui-
sa. A inesgotável gama de acesso à informação, marca deste nosso tempo,
impõe a fixação de parâmetros definidos nas mais diversas áreas de estu-
do. Assim, o foco deste artigo situa-se na análise dos papéis de gênero no
contexto das relações conjugais no momento histórico conhecido como
século do romance.
Para a abordagem que aqui se pretende fazer, vale lembrar que esse
período foi marcado pela edição do Decreto Legislativo nº 181/1990, pri-
meira legislação civil a respeito do casamento, que passou a ser visto sob
uma perspectiva privada e considerado “não só uma instituição moral e
130
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
social, mas também um contrato que deve cercar-se das maiores garantias
para a sua eficácia”.167 Esse momento, em que as mulheres passam a ter
mais acesso à leitura e, timidamente, passam também a produzir escritos,
é marcado pela produção de inúmeros clássicos da literatura nacional. Há,
nesse ambiente, um leque de infinitas possibilidades de estudo e obser-
vação relativamente à construção da literatura nacional, representações
sociais e culturais. E, nesse sentido, o distanciamento cronológico pro-
porciona uma visão inigualável a respeito das representações de gênero,
claramente presentes nos romances da época. A escolha por obras aptas a
expressar o pensamento em um dado momento histórico, ou sobre algum
tema o qual se pretenda estudar, passa, inevitavelmente, pelos clássicos, na
medida em que estes
[...] são aqueles livros que chegam até nós trazendo consigo as
marcas das leituras que precederam a nossa e atrás de si os tra-
ços que deixaram na cultura ou nas culturas que atravessaram (ou
mais simplesmente na linguagem ou nos costumes).168
131
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
132
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
133
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
134
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
135
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
[...] sem dúvida por causa da moça, por via de ser ela de muitas
liberdades, muito amiga de agradar, não poupando nem mesmo as
pequenas carícias que uma donzela, senhora de si, pode conceder
sem prejuízo da sua física inteireza. Aconteceu a uns dois se lhe
apegarem de rijo, porém as respectivas famílias, com a imposição
136
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
137
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
138
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
139
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
140
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
141
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
142
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
– Temporário?
143
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
parecia petulância, e por vê-la açoitar o cavalo, diziam que ela ace-
nava com o chicote para eles...188
REFERÊNCIAS
CALVINO, Ítalo. Por que ler os clássicos. São Paulo: Companhia das
Letras, 2007.
144
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
145
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
146
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
147
OS ESTEREÓTIPOS DE GÊNERO NAS
PINTURAS MURALISTAS MEXICANAS
Michele T. Philomena Bohnenberger
INTRODUÇÃO
148
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
191 Fabris, Annateresa. O estranho caso de Propérzia de Rossi. Disponível em: http://abca.
art.br/httpdocs/o-estranho-caso-de-properzia-de-rossi-annateresa-fabris/ Acesso em 12
de novembro de 2020.
192 Vicente (2012).
193 Vicente (2012, p. 187).
149
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
150
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
151
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
152
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
153
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
154
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
155
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
204 Excélsior foi um jornal de publicação diária mexicana fundado em 1917, sendo o se-
gundo mais antigo, depois de El Universal, e um dos mais importantes na Cidade do Méxi-
co. Foi fundado por Rafael Alducin e relançado em 2006. Atualmente pertence ao empre-
sário Olegario Vázquez Raña e ao diretor editorial Pascal Beltrán del Río.
205 Naranjo (2011).
156
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
Fonte: https://media.timeout.com/images/
157
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
206 Pathosformel é um conceito cunhado por Aby Warburg que “[...] permite explicar a
adoção de formas artísticas a partir da afinidade de necessidade expressiva. Assim, todos
os detalhes da figuração de um quadro, que até então o haviam sido vistos sob termos
formais, se apresentam em ensaios e acréscimos posteriores como figurações repletas de
conteúdo que devem sua sobrevivência ao conjunto do legado cultural nelas preservados”.
(BING, p. XLV in WARBURG, 2013)
207 Lerner (2019, p. 46).
158
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
159
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
160
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
Figura 2. David Alfaro Siqueiros, Madre Proletária (1931). Óleo sobre yute ixtle. Museu
Nacional de Arte, INBA Cidade do México
Fonte: http://munal.emuseum.com/
As referidas obras apresentam também o rebozo mexicano e o aspec-
to da mulher sofredora, carregando o peso dos filhos e, na leitura feita
por Naranjo,208 trata-se de uma crítica maniqueísta ao capitalismo e não
ao sistema patriarcal. Ao criar Madonas proletárias, Siqueiros denunciou
por obras móveis algo que já fazia também em murais. Mostrou como
vivia boa parte da população: com baixas condições financeiras corro-
boradas pelos ambientes áridos e opressores, ainda que representando
as figuras com aspecto monumental; o artista retrata o aspecto daquelas
mulheres que estavam fora da modernização e que foram vitimadas por
ela. Nas obras as mulheres aparecem como incapazes de sair do ambien-
te que as oprime.
O estereótipo de mulher mãe e, consequentemente, educadora, era
reforçado pelas profissões pelas quais a população feminina tinha maior
aceitação na formação da nação mexicana pós-revolucionária e entre
elas estava a de professora. Frequentemente, são encontradas essas re-
presentações nos murais de Diego Rivera, construído pelas instâncias
161
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
Fonte: https://chilangomex.wordpress.com/
162
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
163
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
Figura 4. Aurora Reyes, El ataque a la maestra rural (1936), 1.90 x 2.80 m 2, Centro Esco-
lar Revolución. Cidade do México
Fonte: https://mujermexico.com/heroinas/quien-es-aurora-reyes-pionera-feminista-del-
-muralismo-mexicano/
164
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
O mural faz parte de uma série produzida por artistas que pertenciam
à Liga de Escritores y Artistas Revolucionários (1933-1938), sob orientação de
Diego Rivera, na época que que se reforma o artigo 3º da Constituição
Mexicana, acerca do sistema público de educação, que deveria promover,
além de todas as faculdades do ser humano, "a consciência da solidarie-
dade internacional”. A artista foi líder do grupo feminista Las Pavorosas,
militante do Partido Comunista de México, foi amiga da pintora Frida Kahlo
(1907-1954), do compositor Silvestre Revueltas (1899-1940), e do poeta
e jornalista Renato Leduc (1897-1986), entre outros. Portanto, sendo
ativa nos círculos intelectuais, elimina-se qualquer suposta ingenuidade
165
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
166
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
CONSIDERAÇÕES FINAIS
167
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
REFERÊNCIAS
168
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
GEIS, Terri. The struggles of modernizing Mexico and the mural of Au-
rora Reyes at the Centro Escolar Revolución. In: BROWN, Karen.
Women's Contributions to visual culture, 1918-1939. Hamp-
shire: Ashgate, 2008. p. 157-171.
169
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
170
GIRLS JUST WANNA HEAVY METAL:
MULHERES, HEAVY METAL E
EXCRIÇÃO NA CENA METAL
Cristiane Bahy
INTRODUÇÃO
Things don't seem the same/ Given time to change/ Sometimes I'm so
strange/ And now they're left behind/ Because I need some time/ I'm
back to start.213
(Girlschool, 1981).
O ano é 1915. Muito antes do heavy metal, e até mesmo do rock and roll
existir, nasceu uma mulher chamada Rosetta Tharpe.214 Negra, do estado
de Arkansas nos Estados Unidos da América, Tharpe – que posterior-
mente acrescentou “Sister” ao seu nome – é conhecida como a madrinha
do rock and roll. O motivo de ser a madrinha do rock é que, antes de Elvis
Presley ser conhecido como “Elvis, the Pelvis”, Sister Rosetta Tharpe
combinava blues e jazz na sua guitarra elétrica, invadindo espaços tidos
como masculinos e influenciando aqueles e aquelas que se aventuraram a
cantar e compor o rock and roll.
213 "As coisas não parecem as mesmas/Me dê tempo para mudar/Às vezes sou tão estranha,/E
agora eles são deixados para trás/Porque preciso de algum tempo/Estou de volta ao começo".
214 Wald (2008, p. 19).
171
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
172
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
(Girlschool, 2004).
É dito que o heavy metal e a música erudita são os únicos estilos de música
que fazem o diafragma humano vibrar na mesma frequência que a música que
está sendo tocada. Se for verdade, ele reforça para as e os fãs de heavy metal, co-
nhecidas e conhecidos como “headbangers”217 o poder deste estilo. Visto como
um tipo de música distorcida e gritada para aquelas e aqueles que não o conhe-
cem, o heavy metal tem milhões de fãs devotas e devotos ao redor do mundo.
Sendo um dos vários estilos nascidos após o rock and roll, o heavy me-
tal nasceu por acaso no Reino Unido. Em 1965, Tony Iommi, o futuro
guitarrista da banda Black Sabbath, em seu último dia de trabalho em
uma fábrica em Birmingham, Inglaterra, teve que substituir seu colega
ausente. Obrigado a trabalhar em um maquinário desconhecido por ele,
Iommi fez o movimento errado e teve as pontas dos dedos médio e anular
arrancadas. Já guitarrista, e encorajado a seguir tocando por um amigo,
ele encontrou dificuldades no manejo da guitarra devido à lesão por sentir
ainda muita dor.218 Devido a esta condição, Iommi passou a tocar a gui-
tarra dois tons mais baixos, uma vez que seus dedos doíam muito com a
afinação normal, o que a tornou mais grave. Esta forma de tocar deu à sua
173
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
1 74
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
175
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
dos artigos encontrados na obra, discute-se a atual base de fãs do metal que
costumava ser composta predominantemente por homens brancos da clas-
se trabalhadora, tendo mudado e hoje atraindo pessoas de origens diversas.
Apesar do grande número de pesquisas sobre o tema, ainda não há
consenso de como o nome “heavy metal” surgiu. Alguns historiadores da
Música atribuem o nome ao crítico musical Lester Bangs que, após ler
o livro Nova Express, de William S. Burroughs, decidiu dar o nome de
heavy metal ao estilo, devido ao personagem “Uranium William, the Hea-
vy Metal Kid”.229 230 Também é dito que a música "Born to Be Wild", de
Steppenwolf, e sua letra "I like smoke and lightning / heavy metal thunder"231
influenciaram o nome. O fato é que ao ser questionado sobre o heavy
metal em uma entrevista, Jimi Hendrix proclamou que era “a música do
futuro”.232 Para seus fiéis fãs, é a música do presente, sendo mantida viva
pelas e pelos headbangers e por músicos dedicados.
Breaking all the rules/ Who's to say what's wrong or right/ To say we never
care/ Who's to say what's black or white233
(Girlschool, 1983).
176
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
177
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
178
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
179
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
A lot of people telling you what to do/ Kick down the door still I
gotta prove to you/ I got the safe on my own, but I must get off my
pride/ You must keep on going to reach the other side/ Tell you what
I'm going to 242
(Girlschool, 1981)
242 "Muita gente me dizendo o que fazer / Derrubar a porta ainda tenho que provar / Eu
tenho a segurança comigo, mas preciso me livrar do meu orgulho / Você deve seguir para
chegar ao outro lado / Vou contar a você o que vou fazer".
243 “Excrição” em seu original em inglês “exscription”. Optou-se por utilizar a tradução
“excrição” ao exemplo de Inês Rôlo Martins em sua dissertação de mestrado “Entre o Som
e o Silêncio: Imagens e Representações das Artistas de Metal na Loud!”, para aproximar o
conceito à língua portuguesa.
244 “Negação das ansiedades através da articulação de um mundo fantástico sem mulhe-
res.” (WALSER, 1993, p. 114 - tradução nossa).
180
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
181
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
homens serem altamente respeitados e ganharem esse respeito sendo agressivos e pouco
femininos.” (SHAFER et al., 2018, p. 45).
248 Aubrey & Frisby (2011, p. 478).
249 Riches (2015, p. 268).
250 Strong (2011, p. 402).
182
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
Who cares what anyone says?/ I will do it anyway/ Nothing to lose, every-
thing to gain251
(Girlschool, 1980)
251 “Quem se importa com o que todos dizem/Eu vou fazer de qualquer forma/Nada a
perder, tudo a ganhar.” (tradução nossa).
252 Roccor (2000, p. 84, apud BARNARD, 2020).
183
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
184
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
CONSIDERAÇÕES FINAIS
It's not easy when you're breaking the rules/The children always cry hard/
You know I'm nobody's fool254
(Girlschool, 1986)
254 “Não é fácil quando você está quebrando as regras / As crianças sempre choram muito
/ Você sabe que não sou tola.” (tradução nossa).
255 Para prestigiar bandas de Heavy Metal com mulheres na formação procure conhecer:
185
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
REFERÊNCIAS
Arandu Arakua, Cauterization, Ecliptyka, Hellarise, Luxúria de Lillith, Nervosa, No Way, Si-
naya, Valhalla, Vandroya, Volkanae.
186
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
______. Breaking All The Rules Londres: Bronze Records: 1983. Dis-
ponível em: Spotify. Acesso em: 10 maio 2021.
GUITAR World’s 100 Greatest Heavy Metal Guitarists of All Time. In:
Blabbermouth. Disponível em: <https://www.blabbermouth.net/
news/guitar-world-s-100-greatest-heavy-metal-guitarists-of-all-ti-
me/> Acesso em: 26 abr. 2020.
187
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
HILL, Rosemary Lucy. Gender, Metal and the Media: Woman Fans
and the Gendered Experience of Music. London: Macmillan
Publishers, 2016.
PRATO, Greg. Britain's answer to the Runaways, the all-girl heavy met-
al band brought ferocious hard rock with a hint of glam. All Music.
Disponível em: Girlschool | Biography & History. Acesso em: 29
abr. 2021.
188
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
______. Playing with gender in the key of metal. In: Heavy Metal,
Gender and Sexuality. Oxfordshire: Routledge, 2016.
189
OS DESAFIOS DA
SUB-REPRESENTAÇÃO
FEMININA NA POLÍTICA
Débora do Carmo Vicente
INTRODUÇÃO
190
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
191
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
192
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
193
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
é a “falta de apoio dos partidos políticos”. E o mais revelador: para 83% dos
entrevistados, o sexo do candidato não importa na hora de votar.262
Vinte e seis anos após a estipulação de uma meta de atingir no mí-
nimo 30% de mulheres nos parlamentos ao redor do mundo, apenas 50
dos 193 países que fazem parte da ONU atingiram esse percentual, isto
é, apenas um quarto das nações. A verdade é que, mundialmente, o com-
portamento masculino é tido como uma “normalidade” política, e os
comportamentos femininos, como um desvio desta normalidade. Então
as mulheres não participam da política, porque de uma maneira ou de
outra a política não está aberta para elas.
Quando as mulheres realizam tarefas consideradas masculinas, exi-
ge-se delas extremar características associadas ao seu gênero feminino,
como uma forma de compensação dessa atividade considerada masculina
ou as mulheres que ascendem para as elites políticas acabam tendo que se
aproximar mais do perfil associado aos homens.263
O fato é que as mulheres são discriminadas no campo político,
tanto pela mídia, como pelos partidos e pela própria sociedade. Em
regra, são julgadas com mais rigor do que seus companheiros, e isso
também acaba por dificultar sua carreira política. Surge ainda a ques-
tão do tempo que as mulheres se dedicam à política e o estereótipo de
mulher que consegue fazer parte dela. A questão do tempo é eviden-
te, porque das mulheres são exigidos outros deveres como o cuidado
com a família e maiores responsabilidades domésticas. Isto reduz con-
sideravelmente o tempo disponível para dedicar-se exclusivamente à
política, prejudicando-as em momentos-chave como na indicação de
cargos e candidaturas. Sabe-se que, em regra, essas reuniões são reali-
zadas em locais e horários mais propícios ao público masculino, como
bares e horários noturnos.
Michelle Bachelet, quando presidente do Chile, como medida de
governo e cumprindo um compromisso com a igualdade de gênero, no-
meou 10 ministras mulheres e proibiu reuniões de trabalho após as 18h,
194
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
sabendo que para a maioria das funcionárias seria muito mais difícil par-
ticipar (informação verbal264).
Arranjos sociais conservadores exigem uma abordagem transversal,
de cunho cultural e educacional, para garantir a eliminação de estereóti-
pos associados aos papéis tradicionais das mulheres e meninas na família,
no trabalho e na sociedade em geral. A Plataforma de Ação de Pequim265
prevê a educação, a família e os meios de comunicação como agentes in-
dispensáveis para incidir no imaginário coletivo, nas representações e nas
identidades culturais, para estabelecer sistemas não discriminatórios no
país, em busca da igualdade de gênero e eliminação da violência contra
as mulheres.
A representação recorrente de imagens negativas ou degradantes de
mulheres na mídia, seja ela eletrônica, impressa, visual ou auditiva, tem
contribuído para reforçar os papéis tradicionalmente desempenhados pe-
las mulheres de forma inferior ou pejorativa. Cabe ao Estado promover
o desenvolvimento de padrões culturais democráticos, por meio de po-
líticas sociais públicas de ação conjunta com os meios de comunicação,
visando construir novos papéis e valores sociais que promovam uma cul-
tura não discriminatória, estimulando a desnaturalização das desigualda-
des fundadas em gênero.
Nesse contexto, torna-se comum ouvir que “mulheres não votam
em mulheres”. Mas os fatos comprovam o oposto. Além da pesquisa rea-
lizada pelo DataSenado, já referida, basta relembrar que o Brasil já teve
uma mulher eleita presidente, e no primeiro turno da eleição presidencial
de 2010, as candidatas Dilma Rousseff e Marina Silva angariaram juntas
62,91% dos votos válidos daquela eleição, somando quase 66 milhões de
votos. Ou seja, quase 63% da população do Brasil votou em uma mu-
lher para ser presidente do Brasil, evidenciando que o problema não é o
preconceito contra as candidatas mulheres, mas sim a baixa visibilidade
destinada, em regra, pelos partidos políticos às candidatas.
264 Fala da Profa. Flávia Biroli no debate promovido pela Escola Judiciária do TSE, em
30 de Março de 2017, sobre: A participação das Mulheres na Política. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=g_liXp4mP5w>. Acesso em: 17 maio 2021.
265 ONU (1995).
195
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
Ademais, basta citar que, em 2020, mulheres estão entre as mais vo-
tadas em 13 capitais – Porto Alegre foi uma delas. O mesmo ocorreu em
2016, quando mulheres foram as mais bem votadas em quatro capitais:
Porto Alegre, Belém, Recife e Belo Horizonte. Em todos os casos, as
mulheres eleitas tiveram votação tão expressiva que atuaram como “pu-
xadora de votos” em seus partidos e coligações.
Vale pontuar que Porto Alegre superou a marca de 30% de mulhe-
res eleitas para o Legislativo municipal pela primeira vez em 2020. Os
resultados podem ter estreita relação com a decisão do Tribunal Superior
Eleitoral (TSE), de maio de 2018, entendendo que os partidos devem
repassar 30% dos recursos do Fundo Especial de Financiamento de Cam-
panha (FEFC) para candidaturas femininas. Além disso, o TSE também
considerou que o patamar de 30% valia para a propaganda eleitoral no
rádio e na televisão. Os patamares de 30% de eleitas na capital gaúcha não
parecem ser mera coincidência, mas efeito da força econômica e midiática
para uma candidatura eleitoral.
Outro mito a ser combatido é o de que as mulheres não se interes-
sam ou não querem participar da política, e por isso não se candidatam e,
portanto, não são eleitas. O fato é que as mulheres já representam mais
de 44% das filiações nos partidos políticos brasileiros conforme dados do
sistema do TSE, chamado filiaweb. Ora, ninguém se filia a um partido
político por falta de interesse ou de vontade de participar da política.
O que se percebe é que as mulheres não chegam aos cargos eletivos
por diversos obstáculos que se apresentam em sua trajetória política. São
obstáculos sociais, culturais e econômicos. No ranking mundial sobre de-
sigualdade de gênero266, publicado anualmente pelo Fórum Econômico
Mundial, em que são avaliados 156 países, em quatro dimensões – Saú-
de, Educação, Empoderamento Político e Oportunidades Econômicas
–, o Brasil ocupa a posição geral de número 93; no entanto, ao se avaliar
unicamente a participação de mulheres no parlamento, o Brasil cai para
a 122a posição.
A pior classificação brasileira está relacionada ao quesito igualdade
salarial: dentre os 156 países avaliados, o Brasil classificou-se na posição
196
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
197
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
198
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
199
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
200
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
201
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
202
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
203
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
204
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
205
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
claro. A lei eleitoral não define o que são candidaturas fictícias, tampouco
quais são as sanções aplicáveis. Ademais, não existe uma definição juris-
prudencial clara e uniforme para o conceito de candidaturas fraudulentas,
nem dos elementos que a compõem. Não havendo consenso jurispru-
dencial, cria-se um cenário de imprevisibilidade judicial, isto é, a depen-
der de quem julga, os critérios e as consequências podem ser diversas.286
Este cenário de indefinição prejudica as candidatas e beneficia os partidos
que arriscam apostando na impunidade e na falta de clareza normativa.
Para evitar este alto grau de descumprimento normativo, é impor-
tante o estabelecimento de critérios mais precisos sobre a política de cotas
e sobre as regras de financiamento dos partidos políticos e campanhas
eleitorais. Deve-se exigir dos partidos e dos parlamentares brasileiros
comprometimento com o melhor funcionamento da dinâmica demo-
crática brasileira, baseados nos fundamentos da República Federativa do
Brasil de cidadania e pluralismo político, dentre outros.
Em análise sobre o efeito das cotas de gênero na América Latina,
Susan Franceschet demonstra que, embora as cotas de gênero não sig-
nifiquem, por si só, uma maior defesa das pautas políticas relacionadas à
igualdade de gênero pelas parlamentares eleitas, o aumento da participa-
ção feminina provoca efeitos positivos na representação descritiva, subs-
tantiva e simbólica das mulheres.287
Uma sociedade que tenta funcionar com apenas metade de sua po-
pulação e capacidade, sem conceder participação e liderança econômica e
política às mulheres, resta estagnada.288
CONSIDERAÇÕES FINAIS
206
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
207
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
208
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
fesa dos direitos das mulheres: “é de justiça, não caridade que nosso
mundo necessita”.290
REFERÊNCIAS
209
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
210
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
-disponibiliza-dados-sobre-filiados-a-partidos-politicos-no-brasil
>. Acesso em: 10 maio 2021.
211
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
212
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
COS-DAS-MULHERES-Polianna-Pereira-dos-Santos-e-Júlia-
-Rocha-de-Barcelos.pdf>. Acesso em: 12 abr. 2021.
SAVE THE CHILDREN. Every Last Girl. Free to live, free to learn,
free from harm. London: Save the Children, 2016. Disponível
em: <http://www.savethechildren.org/atf/cf/%7B9def2ebe10ae-
432c9bd0df91d2eba74a%7D/EVERY%20LAST%20GIRL%20
REPORT%20FINAL.PDF>.Acesso em: 22 fev. 2021
213
REVISITANDO A HISTÓRIA DAS
MULHERES NUM ESPAÇO DE
COLONIZAÇÃO ALEMÃ DO RIO
GRANDE DO SUL: VINTE ANOS
DEPOIS
Marlise Regina Meyrer
INTRODUÇÃO
214
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
215
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
216
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
entrevistas coletadas no início dos anos 1990, na região do Vale dos Sinos,
sobre as atividades econômicas desenvolvidas pelas mulheres na região.
O segundo trata da vivência nesse espaço, que possibilitou uma troca de
conhecimentos, seja através das histórias me foram contadas, quanto pela
observação empírica e sua relação com o processo de formação acadêmica
no campo da História.
As narrativas que servem de fonte para pensar as relações de gênero
foram coletadas antes mesmo de esse conceito ser amplamente conhecido
e difundido na academia. Somente em 1990, foi traduzido no Brasil o
texto seminal de Joan Scott, Gênero: uma categoria útil para análise histórica,
a partir do qual muitas historiadoras brasileiras se basearam para desen-
volvimento posterior de suas pesquisas.292 A história das mulheres estava
começando a entrar na academia decorrente, em parte, do aumento dos
cursos de pós-graduação no país.
O avanço da história social das mulheres e estudos de gênero, sobre-
tudo partir da década de 1980, consolidou-se como um novo campo de
estudos.293 Além disso, esses estudos se tornaram fundamentais para pen-
sar também o campo da política, sendo impossível hoje discutir a teoria
política ignorando ou relegando às margens a teoria feminista, que, nesse
sentido, é um pensamento que parte das questões de gênero, mais vai
além delas, reorientando todos os nossos valores e critérios de análise.294
Assim, ao retomar esses relatos, o desenvolvimento tanto da História
das mulheres, como dos estudos de gênero, está presente na percepção
e problematização do tema, enquanto sujeito historiadora, cuja relação
com as fontes sempre é entrecruzada com o contexto histórico, sua pró-
pria experiência e as discussões teóricas do seu tempo. Segundo Scott,
“experiência é uma história do sujeito. A linguagem é o local onde a
história é encenada. A explicação histórica não pode, portanto, separar
as duas”.295 Nesse sentido, a autora discute o significado de determinadas
categorias para estudar o passado pelos historiadores, chamando atenção
217
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
218
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
luta, por um itinerário coeso, mas sim o registro de uma versão particular
de sentimentos e acontecimentos históricos narrados por uma determi-
nada pessoa”.300 Também seguimos Meihy na sua definição de História
Oral.301 Para o autor, ela não é só uma metodologia, mas um recurso de
conhecimento e de transformação, não apenas como fonte ou acesso ao
conteúdo. Segundo o mesmo autor, a História Oral tem como objetivo
compreender para explicar e explicar para transformar – “compreender
é transformar”.302 Dessa forma, defende o “compromisso com o social
como princípio, meio e fim da História Oral”.303
Desataca-se, nessa perspectiva, o fato de que a história oral se liga
diretamente à questão da memória. Interessa, aqui, a elaboração da me-
mória coletiva do grupo, que fundamenta sua identidade. Nesse sentido,
o conjunto de depoimentos e seu significado são entendidos na medida
em que se referem à mesma realidade, ou seja, uma realidade comungada
por todo o grupo social, adquirindo dessa forma um significado coletivo.
Assim, a articulação entre as narrativas individuais permite vislumbrar
a perspectiva histórica do grupo, ou seja, um mesmo olhar do presente
sobre o passado, revelando reflexões sobre si e a história do grupo, enfa-
tizando o caráter reflexivo dos processos de memória, que nos remete à
ideia de identidade.
As histórias de vida, assim, acabam por criar uma identidade entre as
pessoas, na medida em que partilham diferentes estratégias e saberes dian-
te de uma mesma realidade. Nesse sentido, recorro ao conceito de me-
mória coletiva de Halbwachs, que se refere ao caráter social da memória
partilhada entre os indivíduos do grupo.304 A partir desses pressupostos
teórico-metodológicos, busco caracterizar as realidades do cotidiano do
trabalho do grupo formado pelas mulheres na zona de imigração alemã
no início do século XX.
219
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
220
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
221
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
222
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
223
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
2 24
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
225
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
Eu cuidava dos meus irmão pequeno porque a mãe tinha que tra-
balha na roça319.
A roça, por sua vez, estabelecia uma relação direta com o espaço ur-
bano, que se desenvolvia com os primeiros estabelecimentos industriais
do setor coureiro-calçadista, na medida em que a produção da roça era
responsável pelo abastecimento de alimentos da cidade. Matos e Borelli
descrevem essa dinâmica, que ligava o rural e o urbano, mostrando que a
atividade da roça era desenvolvida, na maioria das vezes, pelos imigrantes
e seus descendentes – como é o caso da área de imigração alemã – que
produziam e vendiam seus produtos na cidade.320 Assim, a cidade era
abastecida cotidianamente de produtos como o leite, que era entregue, na
maioria das vezes, pelas mulheres, que guiavam suas carroças e charretes.
Também fazia parte desse comércio, um vasto cardápio produzido arte-
sanalmente pelas mulheres da roca, como compotas de frutas, de geleias,
de pães e a tradicional cuca.321
Na medida em que as cidades se desenvolveram com a indústria, ob-
servou-se também a diversificação das atividades econômicas da região,
o que levou as mulheres a ocuparem outros espaços, sendo um deles a
fábrica, que seguiu a lógica da expansão industrial do Brasil como um
todo, que ao incorporar mulheres e crianças no setor industrial leva a
contradições ao nível do capital que
319 Entrevista com a Sra. Gabriela, realizada em 04 de abril de 1992, então com 82 anos.
O sobrenome foi preservado a pedido da entrevistada.
320 Matos e Borelli (2012).
321 Celemento da gastronomia teuto-brasileira, que consiste em uma espécie de massa de
pão, recheada com frutas e coberta com uma mistura de açúcar e banha de porco, assada
em forno à lenha.
226
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
227
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
mulher não podiam fazer esse serviço [...]. Sim, os home sempre
ganhava mais [...].324
324 Entrevista com a Sra. Erica, realizada em 10 de março de 1992, então com 74 anos. O
sobrenome foi preservado a pedido da entrevistada.
325 Entrevista com a Sr. Germano, realizada em 28 de abril de 1992, então com 97 anos.
“ Adams” refere-se a fábrica de calçados pioneira na região, pertencente a Pedro Adams
Filho, fundada em 1898. O sobrenome foi preservado a pedido do entrevistado.
228
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
montava sapato de homem [...]. A minha irmã mais velha não tra-
balhava nisto, ela muito tempo lavava roupa pros padre. A minha
mãe já fazia isto. Sabe, naquele tempo a gente pegava o que dava
pra ganhá um pouco de dinheiro[...] a gente tinha muito serviço,
eu fazia roupinha pras vizinha [...]. Ainda tinha dois terreno, eu
cuidava, plantava aipim, tudo quanto era verdura, batata doce, um
pouco de amendoim. Em sábado o marido ajudava, dia de semana
eu fazia mesmo [...].326
326 Entrevista com a Sra. Elza, realizada em 12 de maio de 1992, então com 91 anos. O
sobrenome foi preservado a pedido da entrevistada.
327 Matos & Borelli (2012, p. 128).
328 Matos e Borelli (2012).
229
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
230
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
231
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
232
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
Sua função de mãe também está representada pela presença de seu filho
menor, Adão Adolfo, brincando no chão do estabelecimento.
233
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
337 Kerb é uma festa difundida no contexto da Colônia Alemā e que comemora a data de
fundação da primeira igreja da comunidade, ou seja, cada localidade tem sua própria data
festiva, apresentando características bastante próprias em cada lugar no qual é celebrada,
ainda hoje.
338 Sperb (1983).
339 Sperb (1983, p. 26).
234
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
235
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
Minha avó, D. Rosa Saenger Adams, ela ajudou muito meu avô
na fundação da fábrica [...] que foi uma das pioneiras de calçados
de Novo Hamburgo. Ela ajudava na fábrica, costurava os sapatos.
[...] além de ter que manter as pessoas que trabalhavam em casa,
porque todo mundo morava longe, não tinha condução, ela tinha
que cozinhar para toda aquela gente e, além disso trabalhava na
fábrica. Minha avó era muito dinâmica, autoritária. Tinha mais
uma mulher que a auxiliava na costura. A fábrica e a casa eram
quase a mesma coisa, era ao lado.342
342 Entrevista com a Sr. Pedro, realizada em 10 de junho de 1992. O sobrenome foi preser-
vado a pedido do entrevistado.
236
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
alemãs, o que lhe rendeu grande prestígio na empresa alemã, sendo con-
vidada para as convenções internacionais da empresa.
Ella Einsfield foi casada com Germann Gerstdl, e embora tenha
adotado o sobrenome do marido, ninguém a conhecia por esse sobre-
nome, mas pelo de solteira. Essa atuação de Ella a tornou uma figura
folclórica e muito conhecida na cidade. Ao perguntar sobre ela para al-
gumas pessoas, as lembranças vinham associadas a exemplos de alguma
atividade considerada masculina e a excepcionalidade dessas práticas:
“[...] ela tinha auto, né, eu diversas vezes passei lá, ela deitada debaixo
do auto trabalhando”. “[...] ela trabalhava que nem um homem [...] ela
mexia na graxa [...]”. “[...] a D. Ella foi uma das mulheres que se desta-
caram como trabalhando para fora”.
Em 1984, o Jornal Exclusivo, de Novo Hamburgo, publicou uma ma-
téria relatando a referência a Ella Einsfield feita pela revista da Pfaff alemã
em 1958:
Ela própria pensava-se como uma mulher que fazia trabalho de ho-
mem, conforme relato do Sr. Pedro sobre uma conversa que teve com ela:
A última vez que eu falei com ela [...] encontrei a Dna. Ella numa
FENAC e conversando [...] tirei um cigarro do bolso e disse:
Fuma? Ela disse: não eu não posso fumar. Ué, não pode por quê?
Porque eu sou uma mulher, eu dirijo, eu sou mecânica e agora
ainda fumar, aí eu vou ficar muito masculina344.
237
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por ocasião da coleta dos relatos aqui apresentados, o intento era res-
gatar a presença feminina nos acontecimentos históricos – neste caso, da
região de imigração alemã do Rio Grande do Sul. Esse intento vinha no
rastro das primeiras produções acadêmicas das mulheres a partir do final
dos anos 1970. O alargamento das fontes, metodologias e temas da histo-
riografia levou ao questionamento do sujeito universal masculino em que
as mulheres apareciam somente nas margens ou como excepcionalidade.
Todo discurso sobre temas clássicos como a abolição da escravatura,
a imigração europeia para o Brasil, a industrialização ou o movimento
operário, evocava imagens da participação de homens robustos, brancos
ou negros, e jamais de mulheres capazes de merecer maior atenção. Mes-
mo ainda distante dos estudos feministas que passaram a problematizar as
relações hierárquicas e de poder entre os gêneros, já estava presente “uma
238
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
REFERÊNCIAS
239
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
GILL, Lorena Almeida. A luta de Olga por seus direitos: imigração, saú-
de e trabalho de mulheres em Pelotas, RS (década de 1940). Histó-
ria. Assis/Franca, v. 38, e2019003, p. 1-20, 2019.
MEIHY, José Carlos Sebe Bom. Os novos rumos da história oral: o caso
brasileiro. Revista de História. São Paulo, n. 155, p. 191-203,
2006.
24 0
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
24 1
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
SCOTT, Joan. Experiência. In: SILVA, Alcione Leite da; LAGO, Mara
Coelho de Souza; RAMOS, Tânia Regina Oliveira (Orgs.) Falas
de Gênero. Florianópolis: Editora Mulheres, 1999 p. 21-55.
ENTREVISTAS
24 2
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
24 3
EIXO II
P R O TA G O N I S M O S E
(RE)EXISTÊNCIAS
IGUALDADE DE GÊNERO PARA
CRIANÇAS ATRAVÉS DA LITERATURA
Ana Prestes
INTRODUÇÃO
24 6
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
24 7
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
O 8 de março nasceu
também para ser bonito
Mas não vamos deixar as flores
esconderem o conflito
[...]
Metade do mundo são homens
A outra metade, mulheres
Dividimos tudo no globo
Menos os afazeres
Outro desafio grande para escrever o livro foi montá-lo para que
servisse de fonte de informação fidedigna e não caísse em uma réplica
24 8
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
24 9
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
Outra estudiosa que trouxe contribuições para esse debate foi a histo-
riadora espanhola Ana Isabel Álvarez Gonzáles, com o livro As origens e a
comemoração do Dia Internacional das Mulheres, publicado no Brasil pela SOF
(Sempre Viva Organização Feminista) e a Editora Expressão Popular no
ano de 2010. Isabel recupera toda a história de um incêndio que realmente
ocorreu na fábrica Triangle Shirtwaist Company, em Nova Iorque, mas
não em 1857 e sim em 1911, sem nenhuma relação com o Dia das Mulhe-
res ou Women’s Day, como se convencionou chamar nos EUA. Infelizmen-
te, segundo a autora, os incêndios desse tipo eram muito comuns no país
no início do século XX. Naquele dia 25 de março de 1911 morreram 146
trabalhadores, sendo 123 mulheres e 13 homens; a maioria dessas mulheres
eram jovens entre 16 e 25 anos, e migrantes. Ainda assim, não há relação
entre esse fato e o surgimento do 8 de Março, como mostra Isabel em seu
250
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
livro. Surgiu, sim, em decorrência dos debates que se faziam do outro lado
do mundo, especialmente por Clara Zetkin e Alexandra Kollontai, no âm-
bito do movimento socialista internacional. Mas, curiosamente, e aqui está
o nó que bagunça a cabeça de qualquer historiadora, Zetkin usa em seu
discurso de 1910 no Congresso da Segunda Internacional Socialista, a me-
mória da suposta greve de 8 de março de 1857 em Nova Iorque para que se
aceitasse e proclamasse a data como o Dia Internacional das Mulheres. Na
verdade, Zetkin estava inspirada no Women’s Day que as socialistas ameri-
canas já comemoravam desde 1908, com foco na reivindicação pelo direito
ao voto. Por um capricho da história, o 8 de Março russo, com a greve
puxada especialmente por mulheres em Petrogrado, é que de fato vai levar
à escolha da data para comemorar o Dia Internacional da Mulher, como a
autora prova em seu livro.
Em nosso livro, todo esse emaranhado histórico foi tratado assim por
nossa personagem Mirela:
O 8 de março nasceu
De uma luta desigual
Há muitos anos travada
Entre o trabalho e o capital
251
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
252
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
253
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
254
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
- Vó, o que você faria se a gente voltasse a viver nesse Brasil gover-
nado por mandões? Ela olha pra mim com a doçura e serenidade
de sempre e, sorrindo me responde:
- Faria o que fiz tantas vezes ao logo da vida: começaria a luta toda
de novo.
255
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
256
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
CONSIDERAÇÕES FINAIS
257
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
258
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
REFERÊNCIAS
259
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
260
ENTRE FEMOCRACIA E
FEMINISMO: TRANSFORMAÇÕES
E ATUAÇÃO DOS MOVIMENTOS/
ORGANIZAÇÕES DE MULHERES
AFRICANAS DO PERÍODO DE
TRANSIÇÃO DE PODERES AO FIM
DOS PRINCIPAIS CONFLITOS CIVIS
(ANOS 1970-2000)
Thuila Farias Ferreira
INTRODUÇÃO
351 Formato de governo onde, estando homem e mulher na mesma posição hierárquica,
cada um se encarregava de questões específicas. Ver mais em AMADIUME, Ifi. Reinventing
Africa: Matriarchy, religion and culture. London; New York: Zed Books, 1997 (p. 110).
261
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
262
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
263
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
264
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
Foi nesse contexto que surgiu o fenômeno que mais tarde foi alcu-
nhado por Amina Mama (1995) de femocracia (femocracy), também como
parte das estratégias governamentais de controle dos movimentos e or-
ganizações de mulheres. Femocracia diz respeito à prática de alguns go-
vernos de empossar primeiras-damas e/ou familiares de chefes de Estado
como presidentes das principais organizações de mulheres e/ou a organi-
zação guarda-chuva do país. Alguns exemplos vêm do Mali, onde Ma-
riam Traoré, primeira-dama entre 1968 e 1991, foi presidente da Union
Nationale des Femmes du Mali (União Nacional das Mulheres do Mali), e
de Zâmbia, onde a também primeira-dama – entre 1964 e 1991 – Betty
Kaunda, foi membro da Women’s League (Liga das Mulheres).357
Em Gana, o Provisional National Defence Council (Conselho de Defesa
Nacional Provisório – PNCDC), surgido a partir do golpe de estado de
1979 e liderado pelo então militar Jerry John Rawlings (presidente de
Gana entre 1981 e 2001, tendo sido democraticamente eleito para seus
dois últimos mandatos, em 1992 e 1996) fundou, em 1981, o 31st Decem-
ber Women’s Movement (Movimento das Mulheres de 31 de dezembro –
31DWM), presidenciado pela primeira-dama, Nana Konadu Agyeman
Rawlings. De acordo com Aili Tripp et al.,358 com o patrocínio do Na-
tional Democratic Congress (Congresso Nacional Democrático – NDC), o
31DWM espalhou-se pelo país expandindo seu eleitorado feminino, ao
passo em que absorvia organizações de mulheres de base, impedidas de
desafiar a liderança de Gana em seu desempenho nas áreas de bem-estar e
265
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
266
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
267
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
268
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
269
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
270
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
371 O termo, bastante utilizado em estudos pós-coloniais e decoloniais, refere-se aos paí-
ses em desenvolvimento, ou às regiões mais pobres do mundo (que em geral se situam
ao sul, enquanto os países ricos e desenvolvidos se situam, em geral, ao norte do globo).
372 Tripp et al. (2009, p. 64). Tradução nossa.
271
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
373 “Terceiro Mundo” tem a ver com a separação dos países segundo critérios de eco-
nomia e desenvolvimento, surgido durante a Guerra Fria (1947-1991) e atualmente em
desuso. O Primeiro Mundo diz respeito aos países desenvolvidos (em geral europeus); o
Segundo Mundo àqueles em desenvolvimento (como o Brasil), mas já designou países
ex-socialistas como os que formavam a União Soviética; o Terceiro Mundo designaria os
países subdesenvolvidos. Ver mais em: <https://mundoeducacao.uol.com.br/geografia/
primeiro-segundo-terceiro-mundo>. Acesso em: 13 set 2020.
374 Tripp et al. (2009, p. 64). Tradução nossa.
375 Tripp et al. (2009, p. 65). Tradução nossa.
272
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
273
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
2 74
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
275
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
276
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
277
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
278
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
279
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
280
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
281
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
282
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
404 Tripp et al. (2009, p. 204); Rehn & Sirleaf (2002, p. 77-78).
405 Tripp et al. (2009, p. 206). Tradução nossa.
406 Tripp et al. (2009, p. 208).
283
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
No Burundi, abatido por uma severa guerra civil entre tutsis e hutus
de 1993 a 2005, o Collectif des Associations et ONGs Féminines du Burundi
(Coletivo das Associações e ONGs Femininas do Burundi – CAFOB)
foi formado como uma organização guarda-chuva para as sete, que ra-
pidamente se tornaram 15, organizações de mulheres burundianas em
1996.407 Essas organizações treinaram mulheres para liderar, atuar na
construção da paz (peace-building) e ocupar posições de tomada de decisão.
Embora nem mesmo as mulheres filiadas aos partidos das partes envolvi-
das tenham sido consultadas sobre as negociações ocorridas em Arusha
(Tanzânia) em 1998, as organizações de mulheres estavam determinadas
a serem incluídas no processo, e o fizeram apelando para o lóbi junto a
doadores internacionais, lideranças regionais e organizações de mulheres
africanas, entre outras táticas como promover grupos de orações junto a
outras lideranças.408
Em 2000, ocorreu a All-Party Burundi Women’s Conference (Con-
ferência de Mulheres de Todos os Partidos do Burundi), que resultou
na Women’s Proposals to Engender the Draft Arusha Peace and Reconciliation
(Propostas de Mulheres para Elaborar o Projeto de Acordo de Paz e Re-
conciliação de Arusha), um documento que inspirou a redação de ainda
outros, forneceu um roteiro de como as preocupações das mulheres pre-
cisavam ser tratadas no processo de construção da paz, destacando
284
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
285
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
CONSIDERAÇÕES FINAIS
286
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
REFERÊNCIAS
287
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
288
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
289
PESQUISA CIENTÍFICA E FEMINISMO
NA EDUCAÇÃO BÁSICA
Caroline Pereira Leal
INTRODUÇÃO
290
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
291
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
292
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
293
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
294
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
295
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
296
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
297
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
[...] nos meus 11, 12 eu já tinha uma noção do que era o feminis-
mo, mas não tinha com quem compartilhar porque a maioria da
minha sala nem sabia o que era ainda, então quando eu encon-
trei as meninas pra montar o grupo eu fiquei muito feliz porque
finalmente ia ter com quem compartilhar meus pensamentos e
também aprenderia mais (GARCIA, 2021).
298
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
299
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
300
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
respeitar mais, e que nem tudo é certo e nem errado, assim consigo aju-
dar”.444 Uma identidade feminista precisa, portanto, ser compartilhada
por homens e mulheres, a fim de que se promova uma consciência coleti-
va de que os direitos de meninas e mulheres não são apenas um problema
para que as mulheres resolvam, mas uma questão moral, social e econô-
mica imperativa para toda a humanidade.445
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
301
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
t=sci_arttext&pid=S0104-026X2008000100020&lng=en&nrm=-
iso>. Acesso em: 09 mar. 2021. https://doi.org/10.1590/S0104-
026X2008000100020.
302
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
303
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
304
EXPERIÊNCIAS E ESTRATÉGIAS
SOBRE O ENSINO DE GÊNERO
E SEXUALIDADE NA EDUCAÇÃO
BÁSICA EM RONDÔNIA
Lauri Miranda Silva
INTRODUÇÃO
305
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
306
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
448 Já presenciei e fui alvo enquanto aluna trans de alguns desses termos preconceituo-
sos, e também os ouvi nas escolas onde trabalhei.
307
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
Concordo com Batista quando ele fala que tratar sobre gênero e se-
xualidade numa perspectiva dos direitos humanos e políticas públicas nos
cursos de graduação (em especial nos de licenciatura) e nas escolas de
ensino básico se tornou uma missão necessária de professoras/es devido
ao aumento da LGBTfobia e da violência contra mulheres no Brasil.449
O Brasil está entre os cincos piores países para as mulheres viverem.
O debate em torno das diversas formas de opressões consolidadas contra
as mulheres é recente e as políticas públicas que existem ainda são ine-
ficazes. Mesmo com a Lei Maria da Penha (2006), a mudança na lei de
estupro (2009), a lei do feminicídio (2015) e a mais atual lei de importu-
nação sexual (2018), a onda de violência contra as mulheres só aumenta.
Diariamente, vemos relatos de agressões e feminicídios nas redes sociais e
na mídia.450 O Brasil é o país que mais mata LGBT+ no mundo. Em mar-
308
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
309
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
310
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
311
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
tos, que, para 59,7% delas/es, é inadmissível que uma pessoa tenha rela-
ções homoafetivas e que 21,2% deles tampouco gostariam de ter vizinhos
LGBT+. O autor ainda cita outra pesquisa pela mesma instituição, em
13 capitais brasileiras e no Distrito Federal, que forneceram certa com-
preensão do alcance da LGBTfobia no ambiente escolar. Detectou-se que
o percentual de professores/as que declaram não saber como abordar os
temas relativos à homossexualidade em sala de aula vai de 30,5% em Be-
lém a 47,9% em Vitória. Os que acreditam ser a homossexualidade uma
doença são cerca de 12% de professoras/es em Belém, Recife e Salvador;
entre 14 e 17% em Brasília, Maceió, Porto Alegre, Rio de Janeiro e Goiâ-
nia; e mais de 20% em Manaus e Fortaleza.456
Seguindo os ensinamentos de bell hooks, quando encontramos sa-
las de aulas com estudantes diversos em termos étnicos, religiosos e/ou
sexuais, a/o docente precisa se preparar ou estar preparada/o, buscar (in)
formações e se capacitar para trabalhar com esses sujeitos de forma in-
clusiva, (re)pensando estratégias alternativas para sua prática pedagógica
no ensino. Conforme a autora, “os professores devem ter o compromis-
so ativo com um processo de autoatualização que promova seu próprio
bem-estar. Só assim poderão ensinar de modo a fortalecer e capacitar”.457
Ainda de acordo com ela:
312
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
313
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
459 Os Planos de Cursos das escolas estaduais em Rondônia são feitos no início do ano
letivo.
460 VAINFAS, Ronaldo; FARIA, Sheila de Castro; FERREIRA, Jorge; CALAINHO, Daniela Buo-
no (orgs.). Historia doc. 9º ano. São Paulo: Saraiva, 2015.
314
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
315
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
316
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
317
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
Eu sei que agressão não se resolve com violência, não deveria exis-
tir em nosso mundo, todos nós somos iguais, o que muda é a nossa
sexualidade, não devemos se importar se é homem ou mulher,
não importa, nós devemos respeitar, todos reagem de uma forma
quando vê um homem beijando outro homem, ou uma mulher
beijando outra mulher, nós devemos mostrar para o mundo inteiro
uma coisa que eles não vê direito o amor ao próximo... devemos
falar para toda a escola, que a violência, preconceito e agressão não
chega a lugar nenhum, devemos mostrar que a violência da cadeia,
que o preconceito é a pior coisa...(Estudante 3).
318
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
319
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
320
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
CONSIDERAÇÕES FINAIS
321
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
REFERÊNCIAS
322
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
323
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
3 24
INTELECTUALIDADE FEMININA
E IDEOLOGIA ESTADONOVISTA:
A REVISTA CULTURA POLÍTICA
(1941-1945)
Eliane Goulart MacGinity
INTRODUÇÃO
325
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
326
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
327
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
328
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
329
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
471 As pesquisas referentes à biografia e à carreira das intelectuais realizaram-se via in-
ternet e não in loco. Portanto, isso pode responder ao porquê de tão poucas informações
encontradas a seu respeito.
472 Por exemplo, a partir dos estudos foucaultianos das relações de poder ou do feminis-
mo decolonial.
473 Sirinelli (2003, p. 242).
474 Sirinelli (2003, p. 243).
330
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
331
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
481 Segundo o DOU de 22 de julho de 1941, a autora é assistente social (p. 73).
482 CP (1941, n. 2, p. 91-101).
483 CP (1944, n. 44, p. 59-70).
484 Bomilcar (1931).
332
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
333
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
334
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
335
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
336
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
337
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
338
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
339
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
340
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
341
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
CONSIDERAÇÕES FINAIS
342
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
REFERÊNCIAS
343
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
FAUSTO, Boris. História do Brasil. 12ª ed. São Paulo: Edusp, 2006.
344
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
SILVA, Daniela Teles da. Eugenia, saúde e trabalho durante a Era Var-
gas. Em tempo de histórias, n. 33. Disponível em: <https://doi.
org/10.26512/emtempos.v1i33.23679>. Acesso em: 12 abr. 2021.
345
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
346
ESTUDOS FEMINISTAS, DIREITOS
HUMANOS E EDUCAÇÃO: RELATO
DE EXPERIÊNCIA DE/EM CURSO NA
PANDEMIA DE COVID-19 (2020)
Katharine Trajano
Emanuelle Ferreira
Janaína Guimarães
INTRODUÇÃO
347
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
348
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
Amarela
3.2%
Prefiro não responder
3.2% Branco
29.7%
Preto
25.8%
Pardo
36.8%
527 Adotamos uma linguagem neutra de gênero para a escrita deste trabalho, evitando
artigos ou pronomes que determinem gêneros binários. Nesta e nas generalizações que se
prosseguirão, estamos nos referindo às pessoas inscritas, nossas colaboradoras.
349
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
350
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
351
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
352
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
353
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
Satisfeito
93.5%
354
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
CONSIDERAÇÕES FINAIS
536 Ver: GODOY, M. Lives de Acadêmicos viram alvo de hackers. O estado de São Paulo -
Estadão, São Paulo, 13 de Setembro de 2020. Seção Política. Disponível em: https://politica.
estadao.com.br/noticias/geral,lives-de-academicos-viram-alvo-de-hackers,70003435480.
Acesso em: 15 maio 2021.
537 Mbembe (2019).
538 A esse respeito, ver: FERREIRA, N. Os desafios do tempo presente e a colonialidade da
355
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
356
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
357
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
REFERÊNCIAS
358
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
359
UM MANIFESTO
CHORUME
Leila Negalaize Lopes
Audrey Lorde e Lélia Gonzalez, dissertaram bem esta minha frase desabafo.
Tenho pensado que nosso discurso de mulheres negras no movimento feminista parece
ser sempre o mesmo, porque os comportamentos das feministas brancas, por mais que algumas
tentem se solidarizar, entender, continuam sendo os mesmos, ou seja, atropelar as negras com
suas falas e, na maioria das vezes, taxando nossas pautas como “mimizentas” ou dizendo que
somos treteiras e sempre tentando nos colocar em nossos lugares, a senzala do movimento.
“Na medida em que nós negras e negros estamos na lata do lixo da sociedade brasileira,
pois assim determina a lógica da dominação…
o risco que assumimos aqui é o do ato de falar com todas as implicações.
Exatamente porque temos sido faladas, infantilizadas…
que neste trabalho assumimos nossa própria fala.
Ou seja, o lixo vai falar, e numa boa.” (GONZALEZ, 1980)
Sim, porque é na senzala do movimento, onde temos que ficar concordando com
absurdos estudados nas academias em sua maioria teóricas seculares também brancas, algumas
distorcidas nas suas leituras, outras em suas escritas, mas não tão mais verdadeiras no que eram
suas realidades, assim, como é a realidade destas que aí estão agora.
O dito feminismo não nos pertence enquanto mulheres negras,
nossa forma de coletividade é diferente do que as feministas chamam de sororidade,
pois para nós negras que sobrevivemos e acreditamos na filosofia da e de vida chamada
Ubuntu, que também de alguma forma está transformada hoje no seio do movimento de
mulheres negras em uma palavra solta, distorcida pela colonização no nosso processo de agir e
363
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
364
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
Nos dias de hoje o próprio movimento negro, para alguns, está despedaçado e as mulheres
negras ativistas fragmentadas; mas enganam-se, ou tentam nesta narrativa da tal fragmetação,
omitir para não admitir que somos um povo e, portanto, diverso em pensamento e na busca de
ações que unifiquem nossa agenda comum, que é o combate ao RACISMO ESTRUTURAL.
Porém, nesta diversidade e humanidade, os egos estabelecidos de empoderamento estão muitas
que seguem o modelo feminista euro centrado, onde muitas ativistas negras sentem-se banidas
de qualquer aconchego para expressarem suas lutas e formas de lutar e de sobreviver, seja na
academia, seja nas favelas. E este é um debate interno do movimento de mulheres negras que
está sendo restabelecido, repactuado e principalmente,sendo reestruturado, vide a Marcha
Nacional das Mulheres Negras e o seu silenciamento pelo movimento Feminista.
365
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
366
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
367
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
“Aquelas de nós
que estão fora do círculo da definição
desta sociedade de mulheres aceitáveis,
aquelas de nós
que foram forjadas no calvário da diferença
— aquelas de nós que são pobres, que são lésbicas, que são negras, que são mais velhas —
sabem que sobrevivência não é uma habilidade acadêmica.
É aprender como estar sozinha, impopular e às vezes injuriada,
e como criar causa comum com aquelas outras que se identificam
como fora das estruturas a fim de definir e buscar
um mundo no qual todas nós possamos florescer.
É aprender como pegar nossas diferenças e transformá-las em forças.
Pois as ferramentas do mestre não irão desmantelar a casa do mestre.
Elas podem nos permitir temporariamente a ganhar dele em seu jogo,
mas elas nunca vão nos possibilitar a causar mudança genuína.
E este fato é somente
ameaçador
àquelas mulheres
que ainda definem a casa do mestre
como a única fonte de apoio delas”.
(LORDE, 1979)
368
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
369
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
Gostamos de estudar com o som alto, tomamos uma caipirinha no meio da dissertação e
sim, meu cabelo vai ficar crespo, trançado ou de dred
e vou usar esta calcinha furada porque é confortável.
Beijos.
Trocaremos, ok!
Mas não peça para que meu debate feminista seja igual ao teu em alguma reunião;
peraí, meu amor!
370
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
371
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
372
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
REFERÊNCIAS
373
ENTREVISTA COM
LOLA ARONOVICH
( D O LO R E S A R O N O V I C H
AGUERO)
ENTREVISTA COM LOLA
ARONOVICH
Mônica Karawejczyk
Débora Karpowicz
Muriel Rodrigues de Freitas
377
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
378
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
pesquisar, ele propôs falar sobre as bruxas de Macbeth, mas eu não quis
(não tenho nenhum lado místico). Durante o doutorado, publiquei
um artigo feminista que analisava como grande parte do público culpa
Lady Macbeth pelos atos hediondos cometidos pelo marido, e tam-
bém apresentei trabalhos com temas feministas em congressos. Mas só
passei a efetivamente trabalhar com gênero quando comecei a dar aula
na UFC, em março de 2010. Nessa época, dois anos depois de ter ini-
ciado o blog, eu já me sentia mais preparada para lidar com feminismo
mais academicamente.
tarina, UFSC, Brasil, com período sanduíche em Wayne State University (Orientador: Arthur
Marotti). Título: "Strange Images of death": Violence and the Uncanny in Five Productions
of Macbeth. Ano de obtenção: 2009.
545 Endereço do Blog: https://escrevalolaescreva.blogspot.com/
546 Filme alemão do ano de 1998, cujo título original é “Lola Rennt”. Direção e roteiro de
Tom Tykwer, elenco Franka Potente, Moritz Bleibtreu, Herbert Knaup.
379
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
blog. Meu perfil no Twitter tem mais de 160 mil seguidores. No blog, eu
parei de adotar um contador de visualizações há muitos anos. Mas supo-
nho que o auge do meu blog tenha sido em 2013. Os blogs infelizmente
foram perdendo sua importância, os comentários migraram para o Face-
book, o termo “textão” virou algo pejorativo. Mas eu persisto porque o
blog é um lugar pra eu me expressar, denunciar injustiças, e também me
defender de ataques. É também uma forma de eu registrar um pouco
da minha vida. Tem coisas que eu publico, como fotos de viagens – na
época pré-pandemia em que a gente viajava –, que funcionam mais como
registro pessoal. Ao mesmo tempo, é um canal. Muita gente me pede pra
publicar um determinado alerta ou denúncia, e desde o início do blog eu
publico muitos guest posts, textos de pessoas convidadas, o que permite
que meu blog trate de temas que são bastante desconhecidos pra mim, no
sentido de eu não ter experiência pessoal com eles, como poliamorismo,
veganismo, feminismo cristão, violência obstétrica, e até mesmo mater-
nidade, já que não sou mãe. Nos últimos anos, desde o golpe de 2016,
o blog também tem falado muito de política partidária. Nós, feministas,
estamos na linha de frente contra os reacionários, e eles sabem disso.
547 O Mito da Beleza: como as imagens de beleza são usadas contra as mulheres foi o
primeiro livro da estadunidense Naomi Wolf, publicado em 1991 e relançado no Brasil em
380
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
Como as pessoas leem cada vez menos blogs, e assistem mais vídeos,
quis tentar fazer um canal. Mas me falta a disciplina que tenho no blog.
Não consigo ter vontade de gravar vídeos toda semana. É melhor nem
381
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
382
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
383
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
384
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
385
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
550 Considerada uma das vozes mais importantes do feminismo negro contemporâneo.
Hibisco roxo foi indicado para o Orange Prize (2004) e conquistou o Prêmio Commonweal-
th Writers (2005), na categoria Melhor Primeiro Livro. Sua segunda publicação, Meio sol
amarelo, venceu o Orange Prize, em 2007 e Americanah foi publicado em 2014 no Brasil
e eleito um dos 10 melhores livros do ano pela NYT Book Review. Todos os livros citados
foram publicados pela editora Companhia das Letras.
551 Um trecho do texto de “Todos nós deveríamos ser feministas” foi incorporado à canção
***Flawless, da cantora norte-americana.
386
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
552 Escritora, cordelista e poeta, é autora de Redemoinho em dia quente (Alfaguara, 2019),
vencedor do prêmio APCA na categoria contos/ crônicas; Um buraco com meu nome (Fe-
rina, 2018) e As lendas de Dandara (Editora de Cultura, 2016). Tem mais de 70 títulos pu-
blicados em literatura de cordel, incluindo a coleção Heroínas Negras na História do Brasil.
553 Publicado no Brasil com o título: Garota, mulher, em 2020, pela editora Companhia
das Letras.
387
SOBRE AS
ORGANIZADORAS
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
MÔNICA KARAWEJCZYK
390
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
391
SOBRE AS AUTORAS
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
ANA PRESTES
CARLA DE MOURA
CAROLINE LEAL
CRISTIANE BAHY
394
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
ÍRIS DE CARVALHO
395
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
KATHARINE TRAJANO
396
D É B O R A K A R P O W I C Z , M Ô N I C A K A R AW E J C Z Y K , M U R I E L R O D R I G U E S D E F R E I TA S ( O R G S. )
MARCIA KERN
397
M U L H E R E S FA Z E N D O H I S TÓ R I A
398
MULHERES FAZENDO HISTÓRIA:
DA INVISIBILIDADE AO PROTAGONISMO
Débora Karpowicz
Mônica Karawejczyk
Muriel Rodrigues de Freitas
ORGANIZADORAS
Tipografias utilizadas:
Família Museo Sans (títulos e subtítulos)
Adobe Garamond Pro (corpo de texto)
Papel: Offset 75 g/m2
Impresso na gráfica Trio Studio
Janeiro de 2022
A história das mulheres foi por muito tempo cercada pelo silêncio. Silêncio
das fontes. Silêncio das próprias mulheres, relegadas a um lugar feito de
fronteiras. Fronteiras imaginárias e simbólicas. Fronteiras que as cerceavam
em seus atos, tão reais quanto um muro. Fronteiras concretas que aniqui-
laram as forças, sugaram iniciativas, impediram a fala, restringiram o andar.
Limites inscritos nas leis e nos costumes. Limites descritos em tratados e
proferidos sem medo por vozes masculinas.
Esta coletânea reúne 16 artigos, um manifesto e uma entrevista. Todos os
textos abordam de alguma forma o fazer histórico das mulheres, trazendo re-
flexões e apontamentos que vão da invisibilidade ao protagonismo. Trata-se
de um conjunto de textos escritos por pesquisadoras, ativistas e professoras
que, através de suas pesquisas, relatos de experiências e estudo aprofunda-
do sobre a temática, desvelam contextos, histórias e experiências.
O livro foi dividido em dois eixos. No primeiro, intitulado “Da invisibilidade
ao protagonismo”, estão reunidos dez textos que fazem reflexões e análises
de contextos históricos diversos nos quais as mulheres passaram de invi-
sibilizadas a protagonistas. No segundo eixo, intitulado “Protagonismos e
(re)existências”, reunimos seis textos, um manifesto e uma entrevista, todos
destacando o protagonismo feminino em atos concretos e atuais, em ações
em prol da divulgação da história das mulheres e dos estudos de gênero.
Além dos belíssimos textos escritos por nossas autoras, que trazem luz a
tantos pontos obscurecidos da nossa história, presenteamos nossos leito-
res e nossas leitoras com dois textos diversos. Um manifesto que corta a
carne e expõe a alma de Leila Negalaize Lopes, ao abordar seu lugar de
fala no movimento feminista atual. E, encerrando nosso livro, trazemos as
palavras de Lola, simplesmente Lola, inspiração de tantas mulheres neste
Brasil atual, militante Lola, escritora Lola, feminista Lola, a quem agrade-
cemos pela generosidade e disponibilidade de nos conceder a entrevista,
e a saudamos com amor e sororidade. Boa leitura e que venham mais
escritos, mais parcerias, mais amizades e mais protagonismo.
ISBN 978-65-89891-38-3