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Resenha crítica

Dados do texto resenhado: McEwan, Ian, 2015, “Autoritarismo e liberdade de expressão”,


56-61.

1. Resumo
O texto resenhado corresponde às páginas 56-61 do texto do escritor inglês Ian
McEwan, de 2015: “Autoritarismo e liberdade de expressão”. O texto dá
justificativas em defesa da liberdade de expressão no sistema político da
democracia. Totalmente dentro do contexto do receptor, o texto é direcionado
para formandos de uma faculdade, que estão acabando de sair de uma esfera
teórica e que passarão a colocar em prática tudo o que aprenderam na sociedade.
Dessa forma, o foco do texto está em combater uma potencial intolerância
ideológica contra os princípios da liberdade de expressão.
Para Ian McEwan (2015), liberdade de expressão é “a força vital, a condição
essencial da educação liberal”, e está incluído nesta definição a leitura, a escrita,
a escuta e o pensar. Liberdade de expressão é o direito de um indivíduo
expressar suas ideias/pensamentos sem ser reprimido ou censurado. No entanto,
esse direito de reflexão, debate e escrita livre, que a liberdade de expressão
garante, não dá carta livre para ninguém desrespeitar outra pessoa, como diz um
ditado popular: o seu direito termina onde começa o do outro. Se é direito de um
se expressar livremente sobre uma pessoa, também deve ser direito dela
condenar essa expressão.
Todos possuem o direito da liberdade de expressão e que até o péssimo
uso dela é necessário para reafirmar o bom uso dela, como cita o Ian McEwan
(2015) quando aponta uma citação atribuída ao filósofo iluminista Voltaire, que
diz sobre o ato de desaprovar a fala do outro e mesmo assim defender com unhas
e dentes o direito dele possuir essa fala, pois é um direito garantido pela
democracia.
O sistema político democrático é um dos poucos (ou até o único) que garante
o respeito às liberdades existentes, mas não é uma liberdade absoluta, há
restrições, limites diante das leis constitucionais que incriminam, em resumo, o
discurso de ódio e qualquer forma de preconceito. Muitos observam essas leis
como um insulto ao conceito de liberdade, mas discurso de ódio não pode ser
enquadrado no conceito de liberdade, como foi supracitado, a difamação não é
questão de opinião.

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A liberdade de expressão protege as opiniões, crenças, ideias e
pensamentos de um indivíduo. Crenças aqui refere-se a forma de acreditar em
algo como verdade sem que estejam diretamente relacionados com a realidade.
A crença da pós-verdade está relacionada com a tradição, os pensamentos
religiosos, autoritários e imaginários, pois são coisas que constantemente
questionam fatos científicos em nome das próprias opiniões.

Número de palavras: 408

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2. Comentários pessoais
O texto, por ser um discurso, é de fácil compreensão, justamente por tratar de
um tema que é frequentemente debatido por possuir diferentes interpretações
sobre o que se trata a liberdade de expressão no contexto do sistema político da
democracia. Além do mais, a ameaça que essa liberdade possui em diversos
lugares, como cita o autor Ian McEwan (2015), em determinados lugares a
situação da liberdade de expressão está preocupante, há consequências graves
em exercer esse direito, correndo o risco de punições desumanas e até mesmo à
morte, isso pode vir “por parte de governos, de multidões nas ruas ou de
indivíduos com causas próprias” (MCEWAN, 2015, p. 57).
A liberdade de expressão possui características que passam pelos atos de
leitura, escrita, escuta e pensamento, no sentido de que todos podem ser
expressados livremente, isso no atual regime democrático. Assim, para
contextualizar o autor cita a Primeira Emenda Constitucional Norte-Americana,
promulgada em 15 de dezembro de 1791 (MCEWAN, 2015, p. 56), marcando o
início de leis sobre a liberdade de expressão. No entanto, o ataque à liberdade de
expressão acontece até hoje, exemplo da invasão do Capitólio no dia 6 de
janeiro de 2021, nos Estados Unidos da América. Apoiadores do até então
presidente estadunidense Donald Trump invadiram o prédio do Congresso do
país alegando fraudes nas eleições presidenciais de 2020. Esse é um belo
exemplo de uma má interpretação da liberdade de expressão, uma ação que
destrói o patrimônio público não é considerada liberdade de expressão.
Não indo muito longe, é possível fazer um paralelo com a invasão dos
terroristas em Brasília no dia 8 de janeiro deste ano. Invadiram e depredaram o
Congresso Nacional, o Palácio do Planalto e a sede do Supremo Tribunal
Federal. De motivação semelhante, os eleitores extremistas do ex-presidente
Bolsonaro, também não aceitaram o resultado das eleições do ano passado, além
de pedir constantemente um golpe para tomar o poder das Forças Armadas. O
surpreendente é que todas essas ações foram em nome da liberdade de
expressão, uma errônea utilização desse termo, onde não deve caber violência, a
liberdade de expressão implica sobretudo respeito.
Nesse sentido, as crenças religiosas são utilizadas como justificativa para tais
ações. No Brasil, a frase de efeito utilizada durante o governo bolsonarista
“Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”, era uma marca do fim do Estado
laico de direito. As crenças organizadas são uma ameaça à liberdade de
expressão quando não possui um limite, pode ocorrer de um atentado a uma
revista satírica, caso não seja algo de agrado deles. O fanatismo religioso faz
vítimas em todos os cantos, mas no Oriente Médio encontra-se em situação
ainda ultrapassada para o século atual, as vítimas desses fanáticos:
“São majoritariamente muçulmanas —muçulmanos gays e feministas,
muçulmanos reformistas, blogueiros, ativistas dos direitos humanos, dissidentes,
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apóstatas, romancistas e cidadãos comuns, incluindo crianças, que são
assassinadas ou sequestradas em suas escolas” (McEwan, 2015, p. 58)
Na cultura islâmica, há uma ação de mutilação da genitália feminina
externa, por razões diversas que passam pelos conceitos de aceitação social,
crença religiosa é um requisito que a mulher adquire para o casamento. A
tentativa de barrar essa violação do corpo feminino, de usar a liberdade de
expressão para evidenciar como isso é um pensamento ultrapassado, é visto com
uma ameaça à cultura local. Isso acontece em diversos outros exemplos e países,
um bem conhecido é o caso da ativista Malala Yousafzai, que lutava pelo direito
de educação das mulheres do Paquistão e sofreu um atentado violento que quase
tirou a sua vida.
No entanto, não é preciso ir tão longe para falar de fanáticos religiosos. O
Brasil bolsonarista transformou cultos em campanha política, crianças vítimas
de violência sexual tiveram dados divulgados e quase obrigadas a manter uma
gestão indesejada, entre outros e diversos exemplos que foram legitimados e
ditos serem em nome de Deus. Assim como no Oriente Médio, muitos
brasileiros sentiram-se livres para atacar a comunidade LGBTQI+, as mulheres,
os ditos comunistas, críticos do governo ou qualquer um que não se enquadra
nas características de um cristão bolsonarista.
Não havia indícios de respeito a qualquer oposição ao governo. Nesse sentido,
é possível definir melhor nas palavras de McEwan “mas a religião e o ateísmo, e
todos os sistemas de pensamento, todas as grandes reivindicações de verdade,
devem estar abertos a críticas, sátiras e até mesmo, às vezes, ao escárnio” (2015.
p. 59). A essencial liberdade de expressão no sistema democrático infere
oposição, no entanto, uma oposição pacífica e respeitosa, e não uma oposição
que invada os prédios legislativos por não aceitar a decisão da maioria.
Além do mais, o autor do texto cita a internet como um fator de abertura
para a liberdade de expressão. Todavia, as redes sociais por tempo se tornaram
uma terra sem lei, onde todos podem expor suas opiniões, ofensas ou até mesmo
cometer um crime de difamação, em perfis falsos. Além do mais, as famosas
fakenews surgiram através da internet. Diversas notícias falsas são disseminadas
diariamente. Um exemplo pertinente relacionado com às fakenews, vistas como
direito da liberdade de expressão, foi nas eleições presidenciais de 2018, quando
a candidata a vice-presidente Manuela D’Ávila sofreu vários ataques de
montagem, com discursos de ódio e ataques direitos a imagem da candidata, ela
precisou recorrer ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que determinou a retirada
de 33 fakenews da rede social Facebook.
Outro exemplo de como as redes sociais são utilizadas de forma errônea da
liberdade de expressão, é de quando houve um aumento nos combustíveis no
governo da presidenta Dilma Rousseff, em 2016, e surgiram discursos de ódio,
nomeados de “memes” e capas de revistas que reforçaram o desprezo pelo
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aumento de R$ 3,755 da gasolina. Houve diversas montagens difamando a
imagem da presidente, uma inesquecível foi um adesivo em um carro de forma
sexualmente pejorativa e foi vista como um ato de liberdade de expressão.
“De maneira mais ampla, a internet tem, é claro, fornecido possibilidades
extraordinárias para a liberdade de expressão. Ao mesmo tempo, tem nos
colocado em um terreno um pouco complicado e inesperado. Levou a um lento
declínio dos jornais locais, e então removeu uma voz cética e bem-informada das
políticas locais. A privacidade é um elemento essencial da liberdade de
expressão.” (MCEWAN, 2015, p. 59)
Isto é, a facilidade de informação que foi alcançada com a era da internet,
também tornou-se um problema de excesso no que se entende por liberdade de
expressão. Assim, para a democracia acontecer em plena execução, não deve
haver espaço para “pedófilos proselitistas, racistas ou àqueles que desejam 60
incitar a violência contra os outros” (MCEWAN, 2015, p. 59).
Por fim, a liberdade de expressão é tratada pelo autor como um elemento
primordial da democracia, mas que não deve ser utilizada para legitimar
discursos de ódio ou ações semelhantes.

Número de palavras: 1.127

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3. Bibliografia

MCEWAN, Ian, Autoritarismo e liberdade de expressão, Nova York: Times, 2015.

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