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DECRETO Nº 10.

502, DE 30 DE SETEMBRO DE 2020

Institui a Política Nacional de Educação


Especial: Equitativa, Inclusiva e com
Aprendizado ao Longo da Vida.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA​, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, ​caput​,
inciso IV, da Constituição, e tendo em vista o disposto no art. 8º, § 1º, da Lei nº 9.394, de 20 de
dezembro de 1996,

DECRETA​:

CAPÍTULO I

DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 1º Fica instituída a Política Nacional de Educação Especial: Equitativa, Inclusiva e com
Aprendizado ao Longo da Vida, por meio da qual a União, em colaboração com os Estados, o Distrito
Federal e os Municípios, implementará programas e ações com vistas à garantia dos direitos à
educação e ao atendimento educacional especializado aos educandos com deficiência, transtornos
globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação.

Art. 2º Para fins do disposto neste Decreto, considera-se:

I - educação especial - modalidade de educação escolar oferecida, preferencialmente, na rede


regular de ensino aos educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas
habilidades ou superdotação;

II - educação bilíngue de surdos - modalidade de educação escolar que promove a


especificidade linguística e cultural dos educandos surdos, deficientes auditivos e surdocegos que
optam pelo uso da Língua Brasileira de Sinais - Libras, por meio de recursos e de serviços
educacionais especializados, disponíveis em escolas bilíngues de surdos e em classes bilíngues de
surdos nas escolas regulares inclusivas, a partir da adoção da Libras como primeira língua e como
língua de instrução, comunicação, interação e ensino, e da língua portuguesa na modalidade escrita
como segunda língua;

III - política educacional equitativa - conjunto de medidas planejadas e implementadas com


vistas a orientar as práticas necessárias e diferenciadas para que todos tenham oportunidades iguais
e alcancem os seus melhores resultados, de modo a valorizar ao máximo cada potencialidade, e
eliminar ou minimizar as barreiras que possam obstruir a participação plena e efetiva do educando na
sociedade;

IV - política educacional inclusiva - conjunto de medidas planejadas e implementadas com


vistas a orientar as práticas necessárias para desenvolver, facilitar o desenvolvimento, supervisionar
a efetividade e reorientar, sempre que necessário, as estratégias, os procedimentos, as ações, os
recursos e os serviços que promovem a inclusão social, intelectual, profissional, política e os demais
aspectos da vida humana, da cidadania e da cultura, o que envolve não apenas as demandas do
educando, mas, igualmente, suas potencialidades, suas habilidades e seus talentos, e resulta em
benefício para a sociedade como um todo;
V - política de educação com aprendizado ao longo da vida - conjunto de medidas planejadas
e implementadas para garantir oportunidades de desenvolvimento e aprendizado ao longo da
existência do educando, com a percepção de que a educação não acontece apenas no âmbito
escolar, e de que o aprendizado pode ocorrer em outros momentos e contextos, formais ou informais,
planejados ou casuais, em um processo ininterrupto;

VI - escolas especializadas - instituições de ensino planejadas para o atendimento educacional


aos educandos da educação especial que não se beneficiam, em seu desenvolvimento, quando
incluídos em escolas regulares inclusivas e que apresentam demanda por apoios múltiplos e
contínuos;

VII - classes especializadas - classes organizadas em escolas regulares inclusivas, com


acessibilidade de arquitetura, equipamentos, mobiliário, projeto pedagógico e material didático,
planejados com vistas ao atendimento das especificidades do público ao qual são destinadas, e que
devem ser regidas por profissionais qualificados para o cumprimento de sua finalidade;

VIII - escolas bilíngues de surdos - instituições de ensino da rede regular nas quais a
comunicação, a instrução, a interação e o ensino são realizados em Libras como primeira língua e
em língua portuguesa na modalidade escrita como segunda língua, destinadas a educandos surdos,
que optam pelo uso da Libras, com deficiência auditiva, surdocegos, surdos com outras deficiências
associadas e surdos com altas habilidades ou superdotação;

IX - classes bilíngues de surdos - classes com enturmação de educandos surdos, com


deficiência auditiva e surdocegos, que optam pelo uso da Libras, organizadas em escolas regulares
inclusivas, em que a Libras é reconhecida como primeira língua e utilizada como língua de
comunicação, interação, instrução e ensino, em todo o processo educativo, e a língua portuguesa na
modalidade escrita é ensinada como segunda língua;

X - escolas regulares inclusivas - instituições de ensino que oferecem atendimento


educacional especializado aos educandos da educação especial em classes regulares, classes
especializadas ou salas de recursos; e

XI - planos de desenvolvimento individual e escolar - instrumentos de planejamento e de


organização de ações, cuja elaboração, acompanhamento e avaliação envolvam a escola, a família,
os profissionais do serviço de atendimento educacional especializado, e que possam contar com
outros profissionais que atendam educandos com deficiência, transtornos globais do
desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação.

CAPÍTULO II

DOS PRINCÍPIOS E DOS OBJETIVOS

Art. 3º São princípios da Política Nacional de Educação Especial: Equitativa, Inclusiva e com
Aprendizado ao Longo da Vida:

I - educação como direito para todos em um sistema educacional equitativo e inclusivo;

II - aprendizado ao longo da vida;

III - ambiente escolar acolhedor e inclusivo;

IV - desenvolvimento pleno das potencialidades do educando;

V - acessibilidade ao currículo e aos espaços escolares;


VI - participação de equipe multidisciplinar no processo de decisão da família ou do educando
quanto à alternativa educacional mais adequada;

VII - garantia de implementação de escolas bilíngues de surdos e surdocegos;

VIII - atendimento aos educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e


altas habilidades ou superdotação no território nacional, incluída a garantia da oferta de serviços e de
recursos da educação especial aos educandos indígenas, quilombolas e do campo; e

IX - qualificação para professores e demais profissionais da educação.

Art. 4º São objetivos da Política Nacional de Educação Especial: Equitativa, Inclusiva e com
Aprendizado ao Longo da Vida:

I - garantir os direitos constitucionais de educação e de atendimento educacional especializado


aos educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou
superdotação;

II - promover ensino de excelência aos educandos da educação especial, em todas as etapas,


níveis e modalidades de educação, em um sistema educacional equitativo, inclusivo e com
aprendizado ao longo da vida, sem a prática de qualquer forma de discriminação ou preconceito;

III - assegurar o atendimento educacional especializado como diretriz constitucional, para além
da institucionalização de tempos e espaços reservados para atividade complementar ou suplementar;

IV - assegurar aos educandos da educação especial acessibilidade a sistemas de apoio


adequados, consideradas as suas singularidades e especificidades;

V - assegurar aos profissionais da educação a formação profissional de orientação equitativa,


inclusiva e com aprendizado ao longo da vida, com vistas à atuação efetiva em espaços comuns ou
especializados;

VI - valorizar a educação especial como processo que contribui para a autonomia e o


desenvolvimento da pessoa e também para a sua participação efetiva no desenvolvimento da
sociedade, no âmbito da cultura, das ciências, das artes e das demais áreas da vida; e

VII - assegurar aos educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas
habilidades ou superdotação oportunidades de educação e aprendizado ao longo da vida, de modo
sustentável e compatível com as diversidades locais e culturais.

CAPÍTULO III

DO PÚBLICO-ALVO

Art. 5º A Política Nacional de Educação Especial: Equitativa, Inclusiva e com Aprendizado ao


Longo da Vida tem como público-alvo os educandos que, nas diferentes etapas, níveis e
modalidades de educação, em contextos diversos, nos espaços urbanos e rurais, demandem a oferta
de serviços e recursos da educação especial.

Parágrafo único. São considerados público-alvo da Política Nacional de Educação Especial:


Equitativa, Inclusiva e com Aprendizado ao Longo da Vida:

I - educandos com deficiência, conforme definido pela ​Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015 -
Estatuto da Pessoa com Deficiência​;
II - educandos com transtornos globais do desenvolvimento, incluídos os educados com
transtorno do espectro autista, conforme definido pela ​Lei nº 12.764, de 27 de dezembro de 2012​; e

III - educandos com altas habilidades ou superdotação que apresentem desenvolvimento ou


potencial elevado em qualquer área de domínio, isolada ou combinada, criatividade e envolvimento
com as atividades escolares.

CAPÍTULO IV

DAS DIRETRIZES

Art. 6º São diretrizes para a implementação da Política Nacional de Educação Especial:


Equitativa, Inclusiva e com Aprendizado ao Longo da Vida:

I - oferecer atendimento educacional especializado e de qualidade, em classes e escolas


regulares inclusivas, classes e escolas especializadas ou classes e escolas bilíngues de surdos a
todos que demandarem esse tipo de serviço, para que lhes seja assegurada a inclusão social,
cultural, acadêmica e profissional, de forma equitativa e com a possibilidade de aprendizado ao longo
da vida;

II - garantir a viabilização da oferta de escolas ou classes bilíngues de surdos aos educandos


surdos, surdocegos, com deficiência auditiva, outras deficiências ou altas habilidades e superdotação
associadas;

III - garantir, nas escolas ou classes bilíngues de surdos, a Libras como parte do currículo
formal em todos os níveis e etapas de ensino e a organização do trabalho pedagógico para o ensino
da língua portuguesa na modalidade escrita como segunda língua; e

IV - priorizar a participação do educando e de sua família no processo de decisão sobre os


serviços e os recursos do atendimento educacional especializado, considerados o impedimento de
longo prazo e as barreiras a serem eliminadas ou minimizadas para que ele tenha as melhores
condições de participação na sociedade, em igualdade de condições com as demais pessoas.

CAPÍTULO V

DOS SERVIÇOS E DOS RECURSOS DA EDUCAÇÃO ESPECIAL

Art. 7º São considerados serviços e recursos da educação especial:

I - centros de apoio às pessoas com deficiência visual;

II - centros de atendimento educacional especializado aos educandos com deficiência


intelectual, mental e transtornos globais do desenvolvimento;

III - centros de atendimento educacional especializado aos educandos com deficiência


físico-motora;

IV - centros de atendimento educacional especializado;

V - centros de atividades de altas habilidades e superdotação;

VI - centros de capacitação de profissionais da educação e de atendimento às pessoas com


surdez;

VII - classes bilíngues de surdos;


VIII - classes especializadas;

IX - escolas bilíngues de surdos;

X - escolas especializadas;

XI - escolas-polo de atendimento educacional especializado;

XII - materiais didático-pedagógicos adequados e acessíveis ao público-alvo desta Política


Nacional de Educação Especial;

XIII - núcleos de acessibilidade;

XIV - salas de recursos;

XV - serviços de atendimento educacional especializado para crianças de zero a três anos;

XVI - serviços de atendimento educacional especializado; e

XVII - tecnologia assistiva.

Parágrafo único. Poderão ser constituídos outros serviços e recursos para atender os
educandos da educação especial, ainda que sejam utilizados de forma temporária ou para finalidade
específica.

CAPÍTULO VI

DOS ATORES

Art. 8º Atuarão, de forma colaborativa, na prestação de serviços da educação especial:

I - equipes multiprofissionais e interdisciplinares de educação especial;

II - guias-intérpretes;

III - professores bilíngues em Libras e língua portuguesa;

IV - professores da educação especial;

V - profissionais de apoio escolar ou acompanhantes especializados, de que tratam o ​inciso


XIII do ​caput do art. 3º da Lei nº 13.146, de 2015 - Estatuto da Pessoa com Deficiência​, e o
parágrafo único do art. 2º da Lei nº 12.764, de 2012;​ e

VI - tradutores-intérpretes de Libras e língua portuguesa.

CAPÍTULO VII

DA IMPLEMENTAÇÃO

Art. 9º A Política Nacional de Educação Especial: Equitativa, Inclusiva e com Aprendizado ao


Longo da Vida será implementada por meio das seguintes ações:

I - elaboração de estratégias de gestão dos sistemas de ensino para as escolas regulares


inclusivas, as escolas especializadas e as escolas bilíngues de surdos, que contemplarão também a
orientação sobre o papel da família, do educando, da escola, dos profissionais especializados e da
comunidade, e a normatização dos procedimentos de elaboração de material didático especializado;
II - definição de estratégias para a implementação de escolas e classes bilíngues de surdos e
o fortalecimento das escolas e classes bilíngues de surdos já existentes;

III - definição de critérios de identificação, acolhimento e acompanhamento dos educandos que


não se beneficiam das escolas regulares inclusivas, de modo a proporcionar o atendimento
educacional mais adequado, em ambiente o menos restritivo possível, com vistas à inclusão social,
acadêmica, cultural e profissional, de forma equitativa, inclusiva e com aprendizado ao longo da vida;

IV - definição de diretrizes da educação especial para o estabelecimento dos serviços e dos


recursos de atendimento educacional especializado aos educandos público-alvo desta Política
Nacional de Educação Especial;

V - definição de estratégias e de orientações para as instituições de ensino superior com vistas


a garantir a prestação de serviços ao público-alvo desta Política Nacional de Educação Especial,
para incentivar projetos de ensino, pesquisa e extensão destinados à temática da educação especial
e estruturar a formação de profissionais especializados para cumprir os objetivos da Política Nacional
de Educação Especial: Equitativa, Inclusiva e com Aprendizado ao Longo da Vida; e

VI - definição de critérios objetivos, operacionalizáveis e mensuráveis, a serem cumpridos


pelos entes federativos, com vistas à obtenção de apoio técnico e financeiro da União na
implementação de ações e programas relacionados à Política Nacional de Educação Especial:
Equitativa, Inclusiva e com Aprendizado ao Longo da Vida.

CAPÍTULO VIII

DA AVALIAÇÃO E DO MONITORAMENTO

Art. 10. São mecanismos de avaliação e de monitoramento da Política Nacional de Educação


Especial: Equitativa, Inclusiva e com Aprendizado ao Longo da Vida:

I - Censo Escolar;

II - Exame Nacional do Ensino Médio;

III - indicadores que permitam identificar os pontos estratégicos na execução da Política


Nacional de Educação Especial: Equitativa, Inclusiva e com Aprendizado ao Longo da Vida e os seus
resultados esperados e alcançados;

IV - planos de desenvolvimento individual e escolar;

V - Prova Brasil; e

VI - Sistema de Avaliação da Educação Básica.

Art. 11. Serão incorporados aos mecanismos de avaliação e de monitoramento de que tratam
os incisos II ao V do ​caput ​do art. 10 indicadores que permitam identificar resultados obtidos com a
implementação da Política Nacional de Educação Equitativa, Inclusiva e com Aprendizado ao Longo
da Vida.

CAPÍTULO IX

DISPOSIÇÕES FINAIS
Art. 12. Compete ao Ministério da Educação a coordenação estratégica dos programas e das
ações decorrentes da Política Nacional de Educação Especial: Equitativa, Inclusiva e com
Aprendizado ao Longo da Vida.

Art. 13. A colaboração dos entes federativos na Política Nacional de Educação Especial:
Equitativa, Inclusiva e com Aprendizado ao Longo da Vida ocorrerá por meio de adesão voluntária,
na forma a ser definida em instrumentos específicos dos respectivos programas e ações do
Ministério da Educação e de suas entidades vinculadas.

Art. 14. Para fins de implementação da Política Nacional de Educação Especial: Equitativa,
Inclusiva e com Aprendizado ao Longo da Vida, a União poderá prestar aos entes federativos apoio
técnico e assistência financeira, na forma a ser definida em instrumento específico de cada programa
ou ação.

Art. 15. A assistência financeira da União de que trata o art. 14 ocorrerá por meio de dotações
orçamentárias consignadas na Lei Orçamentária Anual ao Ministério da Educação e às suas
entidades vinculadas, respeitada a sua área de atuação, observados a disponibilidade financeira e os
limites de movimentação e empenho.

Art. 16. Compete ao Conselho Nacional de Educação elaborar as diretrizes nacionais da


educação especial, em conformidade com o disposto na Política Nacional de Educação Especial:
Equitativa, Inclusiva e com Aprendizado ao Longo da Vida.

Parágrafo único. As diretrizes nacionais da educação especial serão homologadas em ato do


Ministro de Estado da Educação.

Art. 17. A Política Nacional de Educação Especial: Equitativa, Inclusiva e com Aprendizado ao
Longo da Vida deverá ser utilizada, também, como referência para a Base Nacional Comum
Curricular, de que trata o ​art. 26 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996​.

Art. 18. Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 30 de setembro de 2020; 199º da Independência e 132º da República.

JAIR MESSIAS BOLSONARO


Milton Ribeiro
Damares Regina Alves

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