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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E DA SAÚDE


CURSO DE PSICOLOGIA

MARIA DA GRAÇA MARCHINA GONÇALVES


MÔNICA HELENA TIEPPO ALVES GIANFALDONI
SANDRA GAGLIARDI SANCHEZ
SANDRA MACEDO BETTOI

ETAPAS DO PROCESSO DE PESQUISA

SÃO PAULO
2021
MARIA DA GRAÇA MARCHINA GONÇALVES
MÔNICA HELENA TIEPPO ALVES GIANFALDONI
SANDRA GAGLIARDI SANCHEZ
SANDRA MACEDO BETTOI

ETAPAS DO PROCESSO DE PESQUISA

Texto elaborado para uso na disciplina


Modelos de Investigação do curso de
Psicologia da Faculdade de Ciências Humanas
e da Saúde da Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo.

SÃO PAULO
2021
Apresentação

A parte prática da disciplina Modelos de Investigação consiste no planejamento e


realização, em grupo, de uma pesquisa em psicologia. O trabalho do grupo está subdividido em
atividades especialmente elaboradas para a execução das várias etapas da pesquisa.
Informações e instruções, revistas em 2021, foram selecionadas e preparadas para
subsidiar o grupo neste trabalho.
O presente caderno de informações, que denominamos Etapas do processo de
pesquisa, contém o conjunto de informações elaboradas pelos professores desta disciplina,
necessárias para que você e seu grupo realizem as atividades práticas de ‘Modelos de
Investigação’ referentes às etapas do processo de pesquisa: escolha do tema, revisão de
literatura, colocação do problema, planejamento da pesquisa, coleta de informações, análise e
interpretação dos dados e comunicação.
É muito importante que o grupo se organize de maneira eficiente de modo que as
tarefas planejadas para acompanhar as informações deste caderno estejam claras para cada
aluno, que o trabalho realizado por cada um seja adequadamente partilhado por todos e que o
grupo tenha sempre clareza em relação à continuidade do trabalho, já que o pesquisar envolve
decisões que são tomadas em função de etapas já realizadas e de etapas a realizar. O caderno
foi elaborado para que vocês tenham as informações básicas para esse trabalho à disposição.
Alguns cuidados facilitam a organização do grupo: manter uma pasta completa com
todo o material que o grupo vai produzindo em relação a sua pesquisa; ter acesso a essa pasta
para a aula todas as semanas (mesmo que o aluno que ficou com a pasta tenha que faltar...);
garantir que todo o material estará à disposição de vocês em meio digital todas as vezes que o
grupo se reunir; garantir que os trabalhos individuais estejam de posse do grupo todas as vezes
que este se reunir (mesmo que alguém tenha que faltar...).

Bom trabalho!

Professoras e Professores de ‘Modelos de Investigação’


SUMÁRIO
1 O processo de pesquisa ................................................................................................. 4

2 Do tema ao problema ................................................................................................... 5


2.1 O contato com a pesquisa em Psicologia .................................................................... 5
2.2 A revisão de literatura como condição indispensável para colocação do problema ...
2.3 Como começar a revisão da literatura de um tema? ................................................... 7
2.4 Como ler ...................................................................................................................... 11
2.5 Como sistematizar as leituras ...................................................................................... 13
2.6 A utilização de citações ............................................................................................... 14
2.7 A elaboração de referências ........................................................................................ 16
2.8 A sistematização das referências lidas ........................................................................ 17
2.9 A colocação do problema de pesquisa ........................................................................ 18

3 Planejamento de pesquisa ............................................................................................ 23


3.1 Previsão de análise ....................................................................................................... 23
3.2 Elaboração do plano de coleta ...................................................................................... 25
3.3 A escolha dos sujeitos ................................................................................................... 27
3.4 Construção do instrumento de coleta de informações ................................................... 28
3.5 Pré-teste ........................................................................................................................ 29

4 Coleta de informações .................................................................................................... 31

5 Análise de dados ............................................................................................................. 32


5.1Rever categorias já previstas e/ou criar novas categorias ............................................ 32
5.2 Classificar informações em categorias (Recortar) ........................................................ 33
5.3 Agrupar informações .................................................................................................... 34
5.4 Representar ou sintetizar os dados ............................................................................... 34
5.5 Descrição dos resultados obtidos e estabelecimento de relações ................................. 35

6 Interpretação ................................................................................................................. 36

37
7 A Comunicação da pesquisa ..........................................................................................
38
7.1 Aspectos formais do relatório.........................................................................................

43
Referências
4

1 O Processo de pesquisa
Fazer pesquisa é um processo por meio do qual passamos do contato com o que ocorre
em nosso mundo e caminhamos para descrições ou conclusões a respeito de fenômenos.
Problematizar a realidade que nos cerca está na base de todo o conhecimento científico.
Diferentemente do que se passa com outros conhecimentos, o cientista deve explicitar o caminho
percorrido para chegar às suas conclusões, bem como estar aberto para submeter seu trabalho a
críticas e sugestões. Sagan (1998) indica que um dos critérios mais importantes para decidir se
um conhecimento é produto da ciência é o fato de ele ter um mecanismo de autocorreção
contínuo.
Como um processo em aberto, as suas etapas podem ser assim representadas:

QUESTÕES SOBRE O MUNDO


Fase I

COMUNICAÇÃO
PROBLEMA

Fase VI

CONCLUSÕES/RELAÇÕES Fase II

PLANO
Fase V

DADOS
Fase IV
Fase III

INFORMAÇÕES

Fase I – Fazer revisão da literatura sobre o assunto, visando explicitar o problema de pesquisa.
Articular aos estudos anteriormente realizados, justificando-o.
Fase II – Elaborar o plano de coleta e de análise: dispor as condições para coleta de informações
e antecipar a tarefa futura de análise e interpretação.
Fase III – Coletar as informações relativas ao plano elaborado. Realizar entrevistas, aplicar
questionários, testes, realizar observações, coletar informações de material escrito e
iconográfico etc.
Fase IV – Analisar as informações obtidas; transformar informações em “dados”.
Fase V – Interpretar os dados: explorar relações e extrair conclusões. Reunir as observações de
forma a fornecer respostas às questões focalizadas pela pesquisa; procurar
sentido mais amplo dessas respostas, articulando-as com outros conhecimentos.
Fase VI –Tornar públicos os resultados que a pesquisa possibilitou e como a pesquisa foi
realizada (método), possibilitando levantamento de implicações para pesquisas
futuras, bem como para a prática relativa ao tema.
Este texto tem por objetivo indicar o modo de executar cada uma dessas etapas do
processo de pesquisa que vocês realizarão durante o ano. Vamos a ele!
5

2 Do tema ao problema1

2. 1 O contato com a pesquisa em psicologia

Nas aulas de Modelos você terá oportunidade de entrar em contato com alguns relatos
de pesquisa, publicados em periódicos, revistas científicas da área da Psicologia, e áreas afins.
Esta é uma das formas possíveis de tornar público o conhecimento produzido pelo pesquisador.
Há outras formas de divulgação que variam em termos de extensão, periodicidade e natureza.
Anais com resumos de trabalhos apresentados em congressos, sessões de pôsteres, seminários e
encontros científicos constituem uma forma sintética e ágil de acesso a um conjunto atualizado
de investigações numa determinada área. Livros, trabalhos de conclusão de curso, monografias,
dissertações, teses e relatórios apresentados às agencias financiadoras2 são relatos mais longos
contendo, em geral na íntegra, a descrição do trabalho realizado pelo pesquisador.
Você aprenderá, igualmente, que a ciência é um fazer coletivo que necessita de
determinadas regras de produção e de apresentação dos resultados encontrados, de modo a
facilitar a difusão do conhecimento, parte integrante do processo de pesquisa. A Associação
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) é uma entidade sem fins lucrativos, criada em 1940, que
normatiza diversos processos tecnológicos, industriais, de produção de serviços, entre muitos
outros; sua função é contribuir para torná-los reprodutíveis e inteligíveis. Os trabalhos
acadêmicos seguem, em seu formato, normas da ABNT ou de outras entidades com igual função
(APA, Vancouver...)
Diferentes veículos de exposição podem ser usados para a publicação dos trabalhos de
pesquisa desenvolvidos e o cuidado, redobrado, deve ser dado à informação confiável, já que
ninguém quererá/deverá fazer seu trabalho de pesquisa baseado em fake news. Além dos
materiais explicitados anteriormente, a Rede Mundial de Computadores (Internet) tem se tornado
um caminho rápido para conhecer o que tem sido pesquisado em Psicologia. Sítios, com acesso
livre, de busca de diversos materiais, como o Google Acadêmico; uma biblioteca eletrônica como
o Scientific Electronic Library Online – SciELO, que reúne uma coleção selecionada de
periódicos científicos; uma base de dados como portal de periódicos da Coordenadoria de
Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior (CAPES); também uma base de dados - BDTD,
desenvolvida pelo IBICT ((Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia, que
reúne as teses e dissertações brasileiras (http://bdtd.ibict.br/vufind/); as bibliotecas virtuais
ligadas a universidades, tal como a Biblioteca Virtual da Saúde-Psi, são alguns dos muitos
exemplos de fontes ricas e confiáveis, algo muito importante para a construção da ciência, para
levantamento de estudos de nossa área.

1
A versão anterior deste material contou com a colaboração das professoras Denize Rosana Rubano e Maria de
Lourdes Bara Zanotto. A revisão deste material contou com as sugestões dos professores da disciplina: Cecília
Pescatore, Fabíola Freire S. Melo, Marcelo Sodelli e Paulo José Carvalho da Silva.

2
Agências financiadoras ou de fomento à pesquisa são entidades públicas ou privadas que fornecem recursos para a
realização de pesquisas. Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Coordenadoria de Aperfeiçoamento do Pessoal do Ensino
Superior (CAPES) são algumas destas entidades públicas.
6

Em um primeiro contato com a literatura da Psicologia ficará evidente que existem


inúmeras possibilidades de pesquisa, de diferentes naturezas, realizadas a partir de diferentes
temas, com uma diversidade de sujeitos, instituições e abordagens teóricas.
Todo pesquisador está inserido em um contexto, de onde derivam questões que instigam
a pesquisa. Esse contexto inclui campos de conhecimentos já existentes, desde aquele que mais
diretamente interessa ao pesquisador ou lhe diz respeito, até outros que estão a ele relacionados.
Inclui ainda campos de práticas articuladas a esses conhecimentos ou que deles necessitam. E
inclui ainda problemas sociais gerais que de alguma forma podem estar relacionadas aos
conhecimentos de que se trata. Desse contexto derivam grandes questões ou temas de pesquisa
que situam o pesquisador no processo de produção de conhecimento.
Como delimitar e conduzir um processo de pesquisa a partir da eleição de um tema? O
primeiro momento da pesquisa é a definição da pergunta que será respondida, de um aspecto bem
delimitado que será investigado. Como partir de um tema de interesse, de uma curiosidade
científica sobre um determinado aspecto de nossa área para uma pergunta de pesquisa? O desafio,
a primeira etapa, em outras palavras, é esta: a Colocação do Problema de Pesquisa.

2.2 A revisão de literatura como condição indispensável para a colocação do problema

A dificuldade de colocar um problema de pesquisa, muitas vezes, está relacionada à


confusão que se faz entre tema, área, sujeito e instituição em que se realiza a pesquisa e o
problema a ser investigado. Sobre isso, Luna (1996) afirma que:

O ponto de partida de uma pesquisa pode constituir-se de uma intenção


ainda imprecisa. O pesquisador pode ter decidido trabalhar com
deficientes mentais ou estudar a escola de primeiro grau. É possível
que tenha se associado a um grupo que vem estudando a psicologia das
organizações ou, mais especificamente, as relações sociais dentro de
empresas. Nenhuma dessas especificações delimita um problema de
pesquisa, embora o pesquisador esteja um ou mais passos adiante de
quem não tenha ainda ideia do que pretende estudar.
De fato, “deficientes mentais” delimita um tipo de sujeito (embora a
deficiência mental seja mais bem caracterizada como um tema). A
escola de primeiro grau (ou qualquer outra) circunscreve uma
instituição dentro da qual se pretende trabalhar. A psicologia social ou
das organizações configura uma área de pesquisa e a especificação de
que se pretende tratar das relações sociais dentro das empresas já
implica a seleção de um tema dentro de uma área, mas não ainda um
problema de pesquisa.
Da mesma forma, por mais informativo que seja o título de um trabalho
(e ele deveria sê-lo), raramente ele se constitui em uma boa formulação
de problema de pesquisa (até porque títulos não deveriam ser longos).
“Estado, Sociedade e Marginalidade” pode ser um ótimo título para um
trabalho, mas certamente não constitui uma boa formulação para um
problema. Em qualquer das situações acima, o pesquisador estará
apenas em uma fase preliminar do processo de pesquisar, que pode ser
uma etapa inevitável do pesquisar, especialmente se o pesquisador
estiver entrando em uma área nova para ele (aliás, condição comum
entre os pesquisadores iniciantes).
7

O risco dela está no fato de uma formulação tão inicial ser tomada
como um problema de pesquisa, gerando o desencadeamento das
demais decisões (escolha de procedimentos, das características dos
participantes da pesquisa etc.). (p. 28-29)
De qualquer forma, escolhido um tema, uma questão ampla de pesquisa, o pesquisador
deve mergulhar no conhecimento já existente em relação a ele. Ou seja, ele realiza a revisão de
literatura3 , etapa indispensável para a posterior formulação de um problema de pesquisa. Há
dois níveis de razões que justificam a importância dessa revisão como etapa do processo de
pesquisa.
O primeiro nível se refere à natureza social da atividade científica e sobre este aspecto
Alves (1992) afirma que:

A produção de conhecimento não é um empreendimento isolado. É


uma construção coletiva da comunidade científica, um processo
continuado de busca, no qual cada nova investigação se insere,
complementando ou contestando contribuições anteriormente dadas ao
estudo do tema. A proposição adequada de um problema de pesquisa
exige, portanto, que o pesquisador se situe nesse processo, analisando
criticamente o estado atual do conhecimento em sua área de interesse,
comparando e contrastando abordagens teórico-metodológicas
utilizadas e avaliando o peso e a confiabilidade de resultados de
pesquisa, de modo a identificar pontos de consenso, bem como
controvérsias, regiões de sombra e lacunas que merecem ser
esclarecidas. (p. 54)
O segundo nível diz respeito à relação entre a revisão de literatura e as demais etapas
do processo de pesquisa. Segundo Alves (1992), a revisão da literatura “não se constitui em uma
seção isolada mas, ao contrário, tem por objetivo iluminar o caminho a ser trilhado pelo
pesquisador, desde a definição do problema até a interpretação dos resultados”. (p. 54)
Por isso, o caminho a ser percorrido entre a escolha de um tema de pesquisa e a
explicitação de um problema a ser pesquisado passa pela elaboração cuidadosa de uma seleção
de trabalhos que sejam relevantes para o assunto que se pretende estudar. Como afirma Alves
(1992):

[...] é a familiaridade com o estado do conhecimento na área que torna


o pesquisador capaz de problematizar um tema, indicando a
contribuição que seu estudo pretende trazer à expansão desse
conhecimento, quer procurando esclarecer questões controvertidas ou
inconsistências, quer preenchendo lacunas. (p. 55)

2.3 Como começar a revisão da literatura sobre um tema?

Há dois modos possíveis de iniciar uma revisão: em certos casos o pesquisador pode
precisar “garimpar” as referências, em outros casos o pesquisador pode dispor de materiais em
que conjuntos de referências sobre um tema de seu interesse já aparecem organizados. Em
bibliotecas físicas especializadas há inúmeros materiais que podem ser localizados; aprender a

3
Antes da ampla adoção de materiais on-line como fontes de pesquisa utilizava-se o termo Referências Bibliográficas
para a lista de documentos impressos buscados, utilizados e citados no trabalho. Atualmente tem sido preferida apenas
a indicação de Referências para mencionar este processo e item do relatório (como veremos a seguir).
8

explorar o acervo de uma biblioteca é então um primeiro passo na direção de uma revisão de
literatura. Vamos ver alguns desses possíveis “caminhos”.
Arquivos em bibliotecas físicas:
Nas bibliotecas físicas os materiais encontram-se organizados segundo diversos critérios
que nos fornecem diferentes “entradas”: por autor, assunto, por tipo de publicação – livros, teses
de doutorado, dissertações de mestrado, trabalhos de conclusão de curso (TCC), periódicos
(revistas científicas especializadas, publicadas com regularidade, que contém material
constantemente atualizado).

É nos periódicos, essas revistas especializadas, que boa parte dos trabalhos relevantes
pode ser encontrada; aí estão os relatos das pesquisas atuais e de anos passados, trabalhos de
revisão da literatura sobre temas de interesse em diferentes momentos da história de produção do
conhecimento, além de discussões sobre temas vários em Psicologia. Você vai notar que existem
revistas mais gerais – que cobrem temas e abordagens teóricas as mais diversas, e revistas que
contém trabalhos sobre áreas, assuntos ou abordagens mais específicas. Aprender a encontrar as
revistas que contém trabalhos relevantes à sua pesquisa e aprender a encontrar tais trabalhos nas
tais revistas é parte imprescindível do processo de pesquisa. Ainda que não seja imprescindível,
nos dias de hoje, ir a uma biblioteca física, uma visita a ela, no mínimo, nos ensina muito sobre
a vastidão de temas, interesses, áreas.

Referências citadas em artigo ou em livro já encontrado:


A leitura de trabalhos já publicados nos possibilita não só conhecer os conceitos
envolvidos, as discussões teóricas e as questões-chave sobre o assunto abordado, mas também
localizar artigos relevantes ou descobrir quem anda estudando a área. Como escreve Luna (1996):

Cada pesquisador realiza seu próprio levantamento da literatura e faz


referência aos artigos utilizados no trabalho. Mesmo que um artigo
encontrado acabe não sendo exatamente aquilo que se pensava que ele
fosse, vale a pena consultar suas referências. A melhor fonte,
obviamente, são os artigos de revisão. (p.90)
Existem algumas publicações elaboradas com o objetivo de reunir informações sobre um
conjunto determinado de trabalhos a respeito de um tema. Existem, também, textos que
apresentam análise de uma determinada área de pesquisa, com relação às linhas de investigação
desenvolvidas em certo período e os principais trabalhos em cada uma delas. Em todos os casos
são obras úteis para o início da revisão de literatura porque fornecem uma visão geral inicial,
permitindo um “mapeamento” da pesquisa em uma área ou sobre um tema.
Neste momento do curso não cabe aprofundar as informações a respeito desses “artigos
de revisão” a que se refere Luna (1996); basta que você, convencido sobre a importância que um
texto dessa natureza representa para o trabalho do pesquisador, esteja atento para o fato de que o
autor que empreendeu a revisão da literatura sobre um tema certamente tinha um propósito mais
específico que o levou a ter um foco, selecionando assim os trabalhos que cita no seu texto. Luna
(1996) descreve quatro diferentes tipos de revisão de literatura: determinação do “estado da arte”,
revisão teórica, revisão de pesquisa empírica e revisão histórica. (p. 82-87).
Teses e dissertações podem ser fontes valiosas de trabalhos relevantes e atuais. Tem-se
acesso a essas teses na biblioteca da escola em que foram defendidos e de modo virtual,
especialmente, a partir do BDTD (http://bdtd.ibict.br/vufind/).
9

Pessoas que conhecem a área:


Uma pessoa que estude o assunto que nos interessa pesquisar pode ser um interlocutor,
não apenas para sugerir questões relevantes sobre o assunto, mas também para indicar autores,
trabalhos e fontes desses trabalhos. Em geral um professor ou um pesquisador especialista no
assunto é receptivo a conversar com pesquisadores iniciantes; principalmente quando percebe
que estes já deram seus primeiros passos na literatura acessível.
Fontes informatizadas:
As bases de dados eletrônicas são grandes coleções de revistas científicas disponíveis
online. Como qualquer sítio veiculado pela Internet é necessário certo cuidado, uma vez que pode
não ter havido rigor na discussão ou controle sobre o que publicar. Pode-se verificar de algum
modo sua qualidade, observando se o sítio está vinculado a alguma instituição de ensino superior
ou se há a discriminação de um Conselho Técnico-Científico que analise os artigos publicados.
É possível, também, realizar uma busca por meio de sítios de busca padrão, como o
Google Acadêmico que, por ser uma plataforma de pesquisa bem ampla, traz um grande número
de publicações. Por exemplo, em 3 de março de 2021, utilizando-se como palavra-chave
‘juventude psicologia’ foi possível recolher 15.400 resultados, com a limitação de serem
materiais a partir de 2016.
É possível, ainda, usando os sítios de busca mais direcionados para nossa área, localizar
alguns periódicos já tradicionais em Psicologia, como, por exemplo: Psicologia: Teoria e
Pesquisa (publicada pela Universidade de Brasília); Psicologia: Reflexão e Crítica (publicada
pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul); Psicologia – Ciência e Profissão (publicada
pelo Conselho Federal de Psicologia) e outros mais.
Para a localização da literatura na área da Psicologia sugerimos, atualmente, algumas
bases de dados para serem exploradas: http://www.bvs-psi.org.br/php/index.php (BVS
Psicologia ULAPSI Brasil); http://www.scielo.org/php/index.php (Scientific Eletronic Library
Online); http://biblio.pucsp.br/ (portal da biblioteca da PUC-SP); http://www.ip.usp.br/portal/
(portal do Instituto de Psicologia da USP) e outros portais ligados às diferentes universidades
com cursos de Psicologia.
Como já dissemos, arquivos virtuais de bibliotecas universitárias são boas fontes de
materiais. A PUC-SP mantém o sítio https://www.pucsp.br/biblioteca/biblioteca-digital-minha-
biblioteca, com acesso a cerca de 10.000 e-books de várias áreas de conhecimento. Está
disponível a estudantes e docentes dos cursos da universidade, com acesso remoto, inclusive.
Embora os programas de busca diferenciem-se na maneira de funcionar, muitos têm
características semelhantes. O primeiro passo é localizar palavras-chave (termos de busca, ou
descritores), que são palavras ou frases que descrevem o conteúdo do trabalho (nome de autor
também pode ser incluído aí). Como o resultado de uma busca depende em grande parte de terem
sido usados descritores adequados, este primeiro passo revela-se menos simples do que parece à
primeira vista. Quer seja porque os pesquisadores não utilizam os mesmos termos (jargões) para
descrever aquilo que estudam, ou porque as palavras-chave escolhidas ressaltam apenas parte do
trabalho, é necessário ampliar, num primeiro momento, sua busca, considerando um conjunto de
palavras-chave em torno do tema.
Um bom recurso é buscar nos artigos sobre o assunto quais são as palavras consideradas
chaves pelos seus autores e pelos periódicos que os publicaram. Uma dica de trabalho é sempre
anotar tais termos e, à medida que o tema for ficando mais familiar, a busca pela literatura atinente
deve se tornar mais fácil. No sítio da BVS Psicologia ULAPSI Brasil há um rol de palavras-
chaves no item Terminologias que pode contribuir para o sucesso dessa atividade.
Existem alguns caracteres (operadores booleanos) que restringem ou ampliam as buscas
informatizadas. Gastar um tempo entendendo de que forma esses sítios de busca empregam esses
10

‘operadores’ para refinar os artigos recolhidos pode ser uma boa ideia que facilita o trabalho
futuro. Por exemplo, o Google Acadêmico informa que se pode procurar determinado autor que
tenha escrito sobre um assunto de interesse escrevendo na caixa de pesquisa (ou na pesquisa
avançada) o termo de interesse e o sobrenome do autor. Exemplo: <direitos humanos Bicalho>4
retornará os trabalhos que citem o pesquisador da UFRJ, Pedro Paulo Gastalho Bicalho e outras
pessoas com nome Bicalho que possam existir.
Outros operadores funcionais:
1. Aspas. É um grande limitador de buscas, no geral. Servem para indicar a expressão
que se tem interesse. Por exemplo, pode-se ter interesse em trabalhos do filósofo
Mario Sérgio Cortella. Colocar na caixa de busca apenas <cortella>, no dia 3 de
março de 2021, obtivemos 11.400 resultados; <ms cortella>, 3.640 e <”ms cortella”,
184. Com uma palavra de busca, apenas, as aspas não têm qualquer função.
2. Os operadores E (AND), OU (OR), NÃO (NOT) são também muito usados nas
plataformas de busca. Devem ser grafados em caixa alta para não serem confundidos
com palavras a serem recolhidas.
3. Normalmente as palavras presentes no título de um artigo são indicadores mais fortes
de que o assunto de seu interesse está realmente sendo tratado. Se o interesse for por
artigos que tenham no título determinadas palavras, por exemplo juventude e
violência, a busca deve ser feita assim: (allintitle: violência juventude).
4. Operador curinga para frases ou palavras incompletas. No lugar de uma palavra ou de
partes dela, o sinal (*) gera mais sugestões. Exemplo: (afiliados de * online) trará frases com essa
estrutura, mas com muitas variações: afiliados de jogos online; afiliados de compras online;
afiliados de apostas online. No caso de palavras, pode-se usar infan* quando queremos recolher
publicações com infância ou infantil, por exemplo.
É preciso ter claro que a busca informatizada depende, também, da extensão abrangida
pela base de dados: o número de anos de publicação já informatizado e o número e o tipo de
fontes de dados que são cobertos pela base são aspectos limitantes, entre outros. Alguns portais
têm uma ampla gama de trabalhos e não apenas aqueles relacionados à Psicologia. É importante
explorá-los, também, já que cada vez mais os trabalhos são multidisciplinares e essas referências
bibliográficas podem ajudar a especificar o tema. A Psicologia está inserida no campo das
Ciências Humanas, mas o tema escolhido pode ter interface com as Ciências da Saúde (por
exemplo, discutindo a saúde coletiva) ou com as Ciências Sociais Aplicadas (planejamento
urbano), etc. Por exemplo, o portal da CAPES (Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal
do Ensino Superior) - http://periodicos.capes.gov.br/portugues/index.jsp - reúne periódicos,
muitos com acesso livre, das diversas áreas de conhecimento, inclusive as com interface com a
Psicologia. No sítio da nossa biblioteca, dentro das informações da Base de dados da CAPES, há
instruções para conectar-se à Comunidade Acadêmica Federada (CAFe) que permite acesso
remoto a esses artigos.
É bom lembrar, ainda, que alguns sítios oferecem a versão completa do artigo, de forma
gratuita ou não, enquanto outros apresentam apenas um resumo ou mesmo só a referência. Nos
computadores de universidades é possível conseguir abrir alguns artigos que precisariam ser
pagos, já que a própria instituição faz uma assinatura para que todos os pesquisadores possam
acessá-los. Na PUC-SP vocês têm essa possibilidade, inclusive por acesso remoto. No sítio da
nossa biblioteca, também, é possível abrir os e-books citados no início deste Caderno
(https://www.pucsp.br/biblioteca/biblioteca-digital-minha-biblioteca).

4
Os símbolos < e > estão indicando apenas o que deve ser escrito e não é necessário usá-los na busca a ser feita.
11

Esperamos que a apresentação de várias possibilidades de acesso à literatura da nossa


área tenha deixado claro que se, após uma busca pela fonte de dados, não tiver sido localizado
nenhum trabalho, é preciso muito cuidado para se afirmar que “nenhuma pesquisa foi feita sobre
o tema”. É possível, e muito provável, que a busca correta não tenha sido feita ainda e que a
pergunta que vocês se fazem, bem como as palavras-chave, deve ser aprimorada.
No processo de revisão de possíveis fontes de informação, algumas habilidades são
importantes para possibilitar o registro e o aproveitamento das consultas/leituras que o
pesquisador realiza. Uma delas se refere a como ler os trabalhos selecionados a partir das buscas
que empreendeu. Outra - decorrente da anterior - diz respeito a como registrar as leituras feitas.
Tanto uma como outra precisa levar em conta que, ao final do processo, o que resultará dessa
pesquisa não é apenas um amontoado de anotações e/ou páginas de textos copiados e/ou links
selecionados. Muito diferentemente disso, você irá produzir um texto que apresente o problema
que será pesquisado, fundamentando-o e justificando-o com base nos trabalhos já realizados e
publicados. Deve ficar claro que a atividade de revisão de literatura tem como objetivo principal
permitir que o pesquisador aprenda sobre o tema da investigação e conheça o que tem sido
pesquisado sobre ele. A análise das produções existentes contribuirá fortemente para a definição
da pergunta específica que se pretende responder no processo de pesquisa. Ou seja, contribuirá e
será fundamental para a Colocação do Problema
No relato de uma pesquisa esse texto com a revisão de literatura, que permite
contextualizar, fundamentar e justificar o problema de pesquisa é o capítulo introdutório.
Essa pesquisa feita no levantamento bibliográfico resultará também na secção que
encerra o relato do trabalho: a lista das “Referências”. Essa lista dos trabalhos consultados e
citados pelo autor é em si mesma uma fonte valiosa de consulta para outros pesquisadores que se
interessem pelo tema explorado e deve ser elaborada de acordo com normas técnicas.
Nos tópicos seguintes procuraremos apresentar esses aspectos da realização de uma
pesquisa, sugerindo alguns procedimentos que podem facilitar seu trabalho.

2. 4 Como ler

Ao localizar material sobre o tema de interesse para investigação, uma leitura primeira
deve ter como objetivo a familiarização com o trabalho realizado, de forma global. Deve-se
observar:
. o título do trabalho - informa de maneira geral o tema tratado ou, mais especificamente,
aspectos de determinado tema. Por exemplo: “Significados de família”, trata-se de expressões de
família; “Explicações das desigualdades sociais: um estudo com meninos em situação de rua de
João Pessoa”, identificamos que se trata de um estudo sobre razões da desigualdade social e ainda
que o estudo foi realizado com meninos em situação de rua.
. as palavras-chave - termos fundamentais que expressam do que trata o trabalho. De maneira
geral, encontramos indicação de palavras-chave em artigos publicados em periódicos,
dissertações, teses, trabalhos de conclusão de curso. No primeiro exemplo citado a autora indica
as seguintes palavras: família, significado, vivido e pensado. Para o segundo exemplo os autores
indicam as palavras: meninos de rua, desigualdades socioeconômicas, movimentos sociais. Nos
dois exemplos nota-se que as palavras-chave acrescentam mais alguma informação sobre o
trabalho.
. o resumo - síntese do trabalho que permite uma visão global do mesmo. Resumos são
frequentemente encontrados nos artigos publicados em periódicos, em dissertações, teses,
trabalhos de conclusão de curso.
12

A leitura do resumo possibilita a identificação do tipo de trabalho em questão, que pode


ser: um relato de investigação teórica ou empírica; relato de reflexões sobre aspectos de uma
teoria, reflexões sobre uma temática. A identificação do tipo de trabalho fornece ao leitor
elementos para avaliar as contribuições que esse material pode fornecer para seu trabalho.
Tratando-se de uma investigação teórica você poderá identificar: qual é a questão
central? Qual ou quais teorias são enfocadas no trabalho? Quais são os conceitos trabalhados?
Tratando-se de uma investigação empírica: qual é a questão central do pesquisador? É
explicitado o referencial teórico? Quem são os informantes? Qual foi o procedimento para a
obtenção das informações? Quais os principais resultados?
Tratando-se de reflexão teórica ou temática você poderá identificar: qual é o foco do
trabalho ou qual é o objetivo do autor? São mencionados autores? Quais?
A leitura do resumo permite ao leitor avaliar se o trabalho está relacionado com seu tema
e quais aspectos são comuns.
Após essa avaliação, deve-se proceder à leitura cuidadosa do material, agora com o
objetivo de extrair as contribuições que tal material contém. Quando as informações contidas no
resumo não são suficientes para se ter clareza quanto ao conteúdo do trabalho, essa leitura pode
evitar que se descarte precipitadamente um material que se revela importante.
A leitura cuidadosa e sistemática:
A leitura com o objetivo de buscar contribuições para o levantamento de uma questão a
ser investigada ou para construir a pesquisa propriamente dita, deve ser sistematizada. Ou seja:
deve seguir critérios, ser organizada e resultar em um produto confiável e utilizável.
É fundamental o registro da referência completa do material (ver tópico “Referência”),
pois mais adiante no seu trabalho você poderá vir a citar esse material consultado ou então fazer
referência a ele a fim de explicitar a questão a ser investigada, a fim de justificá-la e
contextualizá-la no conjunto de trabalhos da área. Muito possivelmente essas informações para
identificação da obra consultada serão necessárias também no corpo do trabalho que será
produzido.
Ao realizar as primeiras leituras você provavelmente não terá condições de concluir
exatamente o quê e o quanto cada uma das leituras contribuirá para sua investigação. Por essa
razão recomenda-se cautela, isto é, registre a referência completa do material e não abandone
uma referência se a questão a ser investigada ainda não está clara.
Na primeira leitura de um material que aparentemente será útil para sua investigação
você deve estar atento aos aspectos indicados pelas seguintes questões:
§ Qual é a proposta do autor?
§ Como ele justifica sua proposta?
§ Como o autor desenvolve o raciocínio que sustenta sua proposta? Cita outros autores?
Quais?
§ Expõe as ideias dos autores mencionados? Relaciona essas ideias?
§ Quais são os conceitos sobre os quais trabalha?
§ Adota procedimento de investigação? Como é esse procedimento?
§ Descreve seus achados? Quais são?
§ Relaciona seus achados a outros trabalhos?
§ Conclui o trabalho retomando sua proposta inicial?
13

Os aspectos apontados pelas questões acima, apesar de não esgotarem todos os aspectos
de um trabalho (mesmo porque os trabalhos podem ser bastante diferentes com relação aos seus
conteúdos e estilos) permitirão a sistematização do material que deverá sempre ter em vista a
investigação que se pretende.
As leituras dos materiais que o pesquisador vai encontrando ao longo do processo de sua
pesquisa terão pouca utilidade se não forem acompanhadas de anotações organizadas e
completas. Moroz e Gianfaldoni (2006) alertam:

De nada adianta proceder à leitura de várias obras de interesse sem a


anotação sistemática da contribuição de cada uma delas, para o
objetivo a que se propõe o leitor. Para isso, a leitura de cada obra deve
ser acompanhada da elaboração de uma ficha de leitura. As fichas de
leitura constituem uma espécie de ‘banco de dados’, muito úteis nas
várias etapas de um trabalho, bem como na realização de trabalhos
posteriores. Por esta razão devem ser cuidadosa e organizadamente
elaboradas e arquivadas pelo investigador. (p.45).

2. 5 Como sistematizar a leitura: as fichas de leitura

Para organizar e sistematizar as leituras, um modo é por meio de “fichas de leitura”. Apesar
do fato de que cada leitor acaba desenvolvendo um sistema de fichamento que esteja de acordo
com suas características pessoais, uma ficha de leitura útil é composta de três partes: a referência
completa do trabalho lido, o resumo das ideias principais apresentadas pelo autor e comentários
do leitor sobre o texto.
Para anotar, de maneira completa e correta, a “referência” do trabalho encontrado, deve-
se seguir as normas da ABNT, ou daquela que estiver usando. Mais adiante vamos explorar um
pouco esse tópico.
Fazer um “resumo” significa elaborar um texto que constitua uma reprodução pessoal
sintética do texto original. Reprodução no sentido de que o conteúdo do texto original deve ser
respeitado; ou seja, um resumo deve ser fiel ao conteúdo do texto lido. Além disso, não deve
conter, indiferenciadamente, análises, avaliações, opiniões pessoais de quem está resumindo o
texto, mas apenas as ideias expostas pelo autor do texto original. O resumo deve ser pessoal no
sentido de que deve haver elaboração própria de quem está resumindo o texto; não deve ser
simples cópia do texto original.
Isto não significa que trechos, frases ou expressões utilizadas pelo autor lido devam ser
suprimidas do fichamento. Ao contrário, muito possivelmente você irá aproveitar muito desse
material quando for construir seu próprio texto, incluindo-o como citações na argumentação que
irá desenvolver. Para isso, ao fazer o fichamento do que é lido deve-se identificar bastante
claramente os trechos originais. Anote-os entre aspas, indique precisamente os números das
páginas em que os trechos são encontrados. Eco (1977, p.97) alerta: “cuidado para não confundir
citação com paráfrase!”
Resumindo esse aspecto: se houver trechos no texto original que sejam considerados a
melhor forma de expressar certa ideia, pode-se usá-los na forma de citação (ver, a seguir, como
e quando se usa uma citação).
O resumo deve ser sintético, no sentido em que deve ser um texto “enxuto”, isto é, deve
conter apenas as ideias centrais do texto original e o encadeamento que o autor do texto faz entre
as ideias, eliminando-se tudo o mais: exemplos, repetições que o autor faz para tornar mais claras
certas ideias, ideias secundárias, etc.
14

Diferente de um esquema, um resumo deve compor um texto, isto é, deve conter frases,
com um encadeamento entre elas.
“Comentários” referem-se a apreciações do leitor sobre o trabalho lido. Podem abarcar
vários aspectos tais como: relações do material lido com o tema de interesse para investigação,
relações com outras leituras, relações com sua experiência de vida, características do trabalho
que tenham chamado a atenção, questões suscitadas pela leitura, dúvidas, críticas. Pode também
ser interessante anotar dicas para serem consideradas quando se estiver aproveitando esse
material lido na construção do nosso próprio trabalho. Lembre-se de deixar bem claramente
identificados esses trechos (use parênteses, cores, grifos ou qualquer outro recurso).

2. 6 A utilização de citações

Citação é uma “Menção extraída de alguma outra fonte” (NBR 10520:20025, p. 1). A
norma técnica indica que há a citação indireta – “Texto baseado na obra do autor consultado.”
(NBR 10520:2002, p.2); a citação direta – “Transcrição textual de parte da obra do autor
consultado.” (NBR 10520:2002, p.2); e a citação de citação – “Citação direta ou indireta de um
texto em que não se teve acesso ao original.” (NBR 10520:2002, p.1).
Citações indiretas
No caso das citações indiretas, a referência a autores lidos, bem como a suas ideias, algo
necessário para se apresentar o resultado da revisão de literatura que fundamenta a colocação do
problema, também há normas a serem seguidas. Quando se apresentam ideias de um autor, o que
deve ser mencionado no corpo do texto é o sobrenome do autor lido e o ano de publicação da
obra utilizada. Nunca deve ser colocado o título da obra (título do livro, capítulo, artigo etc.), a
menos que seja importante para explicar alguma questão específica. A norma é colocar o
sobrenome do autor e o ano de publicação da obra. Se essa informação fizer parte da frase
construída, o nome do autor tem apenas a primeira letra maiúscula e o ano da publicação deve
ser colocado entre parêntesis. Se a informação não for parte da frase, deve aparecer ao final,
sendo que tanto o sobrenome do autor, como a data, deve estar entre parêntesis. Nesse caso, o
nome do autor é todo em letras maiúsculas. Veja os exemplos:
(1) Sawaia (1999) contribui com o conceito de sofrimento ético-político, dando visibilidade e
particularidade a aspectos da subjetividade que se produzem e manifestam em situações de
exclusão social.
(2) A própria desigualdade social é tema de discussão da autora (SAWAIA, 2009), que indica a
importância e a necessidade de se considerar as emoções e sua possibilidade emancipadora
para o enfrentamento e superação da questão.
Vale lembrar que todas as obras e autores mencionados devem constar da lista de
referências, elaborada de acordo com as normas, ao final do texto.
Citações diretas
As citações diretas são recursos de que o pesquisador lança mão para expor de forma
mais clara e fundamentada o pensamento de autores com os quais ele dialoga na construção de
seu trabalho. Deve ser utilizado de forma criteriosa para fundamentar suas colocações, como
apoio ao desenvolvimento de suas ideias, como esclarecimento das noções trabalhadas, seja em
acordo ou desacordo com os autores considerados. O uso de citações diretas, portanto, justifica-

5
Este é o modo de se referir às Normas da ABNT: Normas Brasileiras, de número 10520, com última versão em 2002.
15

se como forma de enriquecer a elaboração de um texto que apresenta as ideias desenvolvidas


pelo pesquisador.
Apesar de serem um importante recurso, as citações diretas não devem ser usadas
indiscriminadamente. Há casos em que são necessárias: a) quando se está trabalhando com a
análise de um texto, de um livro ou mesmo da obra de um determinado autor; b) quando se está
fazendo uso das ideias, de análises ou interpretações que são centrais no trabalho e que são
inequivocamente de outro autor; c) quando se quer referendar uma ideia, análise ou interpretação,
mostrando que são aceitas por outros autores.
As citações diretas devem ser claramente identificadas, sem o que se acaba por apresentar
como sua uma ideia que é de outro ou por confundir o leitor, sem deixar claro a quem pertence a
ideia citada. Para identificar uma citação, antes de tudo é necessário, então, deixar patente qual é
o texto citado e quem é o seu autor. Para indicar a autoria pode-se proceder de duas maneiras.
Na primeira delas, a alternativa menos usada, insere-se, ao final da citação, uma nota de
rodapé. Nesta referência indica-se o nome do autor em ordem direta (seguido de vírgula), título
da obra (sublinhado ou em itálicos), o volume ou seu equivalente (quando for a caso) e o número
da(s) página(s) citada(s). Este recurso não exime autor de colocar a mesma referência na sessão
específica.
Na segunda maneira, coloca-se, ao final da citação, entre parênteses, o sobrenome do(s)
autor(es) em letra maiúscula, a data da publicação da obra citada e o número da(s) página(s)
citada(s). É possível colocar o sobrenome do autor e ano antes da citação se ela estiver no corpo
de seu texto, completando com o número da página citada depois do trecho. Então, indicar o
sobrenome do autor, ano de publicação e página de onde foi retirada são as informações que não
podem faltar. Quando o texto é de autoria de mais de três autores tem sido usual fazer a referência
a todos apenas na primeira citação e nas seguintes escrever o sobrenome do primeiro autor
seguido da expressão et al (preferencialmente) ou e outros, além do ano de publicação.
Neste nosso texto você encontra vários exemplos desta maneira de se fazer citações.
Importante: em quaisquer dos casos, fica-se obrigado a fornecer a referência completa
no final do trabalho.
Além de indicar de quem é a citação, é preciso indicar claramente qual é o trecho que
está sendo citado, sinalizando isto no texto do trabalho. Para isso, há algumas regras. Vejamos
as mais importantes:
Toda citação deve ser sinalizada:
Quando o trecho citado não ultrapassar três linhas deve ser incorporado ao parágrafo,
entre aspas duplas e deve vir a indicação da fonte, ano de publicação e da(s) página(s) em que o
trecho se encontra. Por exemplo, um autor que esteja escrevendo sobre as distinções entre
pesquisa e prestação de serviço, em um determinado ponto do texto, pode expressar assim sua
concordância com um trabalho já publicado:
Concordando com Luna (2000), “[...] a distinção pode ser melhor caracterizada
retomando-se um dos critérios para definir a pesquisa: a produção de conhecimento novo.” (p.
23).
Quando o trecho citado é mais longo (mais de três linhas, segundo a norma NBR
10520:2002 da ABNT) ele deve vir em parágrafo à parte, em espaço simples, com um tipo de
letra menor do que o que se está usando, com margens maiores do que o restante do texto (a
norma indica um recuo de 4 cm. da margem esquerda) e espaçamento um pouco maior entre os
parágrafos. Sem aspas. Um exemplo desse procedimento você pode ver no segundo parágrafo
deste tópico.
16

Além disso, como o exemplo mostra, todas as vezes em que o(s) sobrenome(s) do(s)
autor(es) aparecer entre parênteses, ele(s) deve(m) estar escrito(s) com letras maiúsculas.
As citações devem reproduzir fielmente o trecho do texto citado:
Qualquer alteração que se faça necessária precisa ser claramente sinalizada. Algumas
normas regem tais casos. Quando se subtrai um trecho ou palavra do texto citado, isto deve ser
indicado por reticências entre colchetes [...] no lugar do trecho ou palavra retirada. Da mesma
forma, quando se acrescenta palavra ou frase que não é do texto original, deve-se colocá-las entre
colchetes [ ]. Quando, por alguma razão, para destacar ou palavra ou trecho da citação, introduz-
se um grifo, deve-se sinalizar ao final da citação, entre parênteses, ou na nota de rodapé, que o
grifo não é do autor citado, usando-se a expressão grifo nosso. Quando no trecho citado há
palavras, expressões ou frases entre aspas, estas devem ser indicadas com as aspas simples (‘),
para não serem confundidas com as aspas da citação.
Citação de citação
Há outra situação, que é a citação (literal ou não) de um autor que não foi consultado
diretamente, mas a partir de outro, que o citou ou mencionou suas ideias. Neste caso, deve-se
indicar também o autor consultado, por meio da palavra latina “apud” (preferencialmente) ou da
expressão “citado por”.
Por exemplo: sobre o conceito de morte em crianças, você consultou o trabalho de Nunes
et al, de 1998, e estas autoras citam um trabalho de Piaget de 1967. Se você, no seu trabalho,
fizer referência a esse texto de Piaget ou se citar o trecho de Piaget que já foi citado por Nunes
et al, você deve deixar claro no seu texto que não leu o próprio Piaget, mas sim Nunes et al
citando Piaget. Você, então, deve escrever:
“[...] Para Piaget o equilíbrio refere-se à forma [...]” (PIAGET, 1967, apud NUNES et aI,
1998, p.580).
Na lista de “Referências” ao final do seu trabalho é apresentado apenas o trabalho
efetivamente consultado, no caso o de Nunes et al.
Um lembrete a respeito dessas citações de segunda mão: deve-se sempre procurar ler o
trabalho original e não a leitura e interpretação que outro autor fez daquela obra que é importante
para nosso trabalho. No caso do exemplo, é evidente que um pesquisador que se proponha a
investigar “conceito de morte em crianças” deva ler Piaget no original. E fazer as citações de
forma direta.

2. 7 A elaboração de referências

Durante o curso de Psicologia vocês já devem ter tido oportunidades para constatar o
sentido e a importância da elaboração padronizada das referências, recurso fundamental para
facilitar o acesso ao material utilizado como fonte ou à bibliografia existente e a comunicação
entre pesquisadores.
Qualquer trabalho científico deve apresentar, ao final do texto, uma lista com as
referências de todas as obras citadas no corpo do trabalho, com o título REFERÊNCIAS. A
indicação da normalização de referências segue as determinações da ABNT (NBR 6023:2020 -
Informação e documentação — Referências — Elaboração).
Existem alguns elementos que são essenciais de uma referência e que são indispensáveis
à identificação de quaisquer publicações. Por exemplo, no caso de monografias (livros, folhetos,
separatas, dissertações, etc.) consideradas como um todo se faz indispensável apresentar: autor,
título, edição e imprenta (local, editora e ano de publicação). Quaisquer outros elementos
17

agregados são chamados de complementares e podem ou não ser acrescentados a depender da


conveniência do autor do trabalho. Ainda no caso de monografias, seriam elementos
complementares: indicação de responsabilidade (quem fez a revisão, tradução...), descrição física
(número de páginas ou volumes, ilustração, dimensão), série ou coleção, notas especiais, número
de registro de ISBN (International Standard Book Numbering) ou ISSN (International Standard
Serial Number).
As normas são atualizadas de tempos em tempos e consultá-las diretamente é importante
para tornar o trabalho preciso. A biblioteca da PUC-SP tem um catálogo dessas Normas, possível
de ser acessada on-line, por meio deste link: https://www.pucsp.br/biblioteca/target-gedweb.

2.8 A sistematização das referências lidas

Existem variadas maneiras de sistematizar a literatura consultada em função dos


objetivos e características da pesquisa, do material encontrado (textos teóricos, relatos de
pesquisas, informações eletrônicas) e até do estilo do pesquisador. Entretanto, algumas
características podem ser identificadas no material lido e orientar o pesquisador na elaboração de
sua sistematização. A seguir, são apresentados alguns exemplos dessas características.
a) tipo de texto: geral ou específico
– pode ser considerado geral, dentro de um tema como adolescência, um texto que apresente uma
concepção de adolescência: o que é, suas características, etc.; dentro do mesmo tema, um texto
que discuta a sexualidade do adolescente ou o comportamento contestador do adolescente na
família, pode ser considerado um texto mais específico.
b) como o tema ou subtema é abordado
– como diferentes autores explicam o tema, qual visão a respeito eles explicitam ao abordá-lo;
por exemplo, se o tema fosse fracasso escolar, poder-se-ia identificar autores que atribuem o
fracasso escolar à própria escola, outros que o atribuem a características do aluno, etc;
– se e como diferentes autores utilizam conceitos de alguma teoria da psicologia; por exemplo,
ao discutir violência, alguns autores podem se remeter aos instintos de vida e de morte da teoria
psicanalítica, outros podem considerar a violência como um fenômeno social decorrente das
diferentes condições materiais de vida.
c) se se trata de discussão teórica ou relato de pesquisa
– é importante lembrar que um relato de pesquisa é um texto que descreve todas as etapas do
processo de pesquisa, desde o tema e problema, até as conclusões, passando pela revisão de
literatura, descrição dos procedimentos de levantamento e análise de informações e interpretação;
– muitos textos se referem a dados de pesquisa para fundamentar as ideias apresentadas, mas não
relatam detalhadamente um processo de pesquisa; são ensaios, discussões de determinado tema
com a apresentação de diferentes pontos de vista, não são relatos de pesquisa;
d) quais os aspectos abordados
– dentro de um mesmo tema, diferentes enfoques podem ser encontrados, vários aspectos podem
ser considerados; nesse sentido, é importante agrupar as obras consultadas quanto aos aspectos
de que trata; por exemplo, se o tema fosse a atuação do psicólogo, poderiam ser encontrados
textos que abordam a atuação em diferentes instituições (judiciário, hospital, postos de saúde,
etc.); ou poderiam ser discutidas diferentes formas de atuação (trabalho interdisciplinar, trabalho
junto à comunidade, etc.); ou poderiam, ainda, abordar a atuação do psicólogo junto a um
determinado grupo social (mulher, criança de rua, alcoólatras, etc.).
18

Referindo-se aos cuidados que devem orientar o pesquisador na sistematização da


bibliografia consultada, Alves (1992) afirma que:

[...] se uma certa quantidade de leitura é necessária ao investigador na


abordagem de um tema, isto não quer dizer que o leitor da tese ou
dissertação tenha que acompanhá-lo nesta longa e penosa caminhada.
A visão abrangente da área por parte do pesquisador deve servir
justamente para capacitá-lo a identificar as questões relevantes e a
selecionar os estudos mais significativos para a construção do
problema a ser investigado. A identificação das questões relevantes dá
organicidade à revisão, evitando a descrição monótona de estudo por
estudo. Em torno de cada questão são apontadas áreas de consenso,
indicando autores que defendem a referida posição ou estudos que
fornecem evidências da proposição apresentada. O mesmo deve ser
feito para áreas de controvérsia. Em outras palavras, não tem sentido
apresentar vários autores ou pesquisas, individualmente, para sustentar
um mesmo ponto. Análises individuais se justificam quando a pesquisa
ou reflexão, por seu papel seminal na construção do conhecimento
sobre o tema, ou por sua contribuição original a esse processo,
merecem destaque. (p.55)
A apresentação da revisão realizada já requer um trabalho do pesquisador que vai além de
arrolar as obras consultadas e as principais ideias nelas contidas. Ele deve fazer uma análise do
que leu, apresentando as informações obtidas de acordo com algum eixo de discussão que tenha
sido considerado importante.
O produto da revisão é apresentado em um texto que constitui o primeiro item de um
relatório de pesquisa e que, segundo Alves-Mazzotti e Gewandsznajder (1998)

[...] é a parte em que o pesquisador “constrói o seu problema”, isto é,


coloca a pesquisa proposta no contexto da discussão acadêmica sobre
o tema, indicando qual a lacuna ou inconsistência no conhecimento
anterior que buscará esclarecer, demonstrando assim que o que está
planejando fazer é necessário e original. É na Introdução que o
pesquisador fornece o “pano de fundo” para que o leitor possa
entender, com clareza, a proposta e como esta se relaciona com as
questões atuais da área temática a que se refere. É aí também que o
pesquisador procura despertar o interesse do leitor para seu trabalho.
(p.152)
Adotando a comparação proposta por esses autores, “uma Introdução bem feita deve
lembrar a imagem de um funil” (p.153). O pesquisador começa apresentando um tema amplo e,
explorando as informações relevantes encontradas na literatura e as lacunas e controvérsias
existentes no conhecimento já produzido sobre o tema, vai desenvolvendo uma argumentação
que explicita os aspectos diretamente relacionados à questão focalizada, de modo a explicitar
para o leitor a relevância do estudo proposto. Um pouco adiante, nas páginas seguintes é
apresentado um bom exemplo.

2.9 A colocação do problema de pesquisa

A colocação de um problema de pesquisa envolve a formulação de uma questão concreta,


específica e clara a partir de um tema ou subtema. Essa questão deve ser levantada pelo
pesquisador a partir da revisão bibliográfica que está realizando. O contato com o conhecimento
19

produzido deve permitir que se identifiquem lacunas, questões sugeridas por estudos já
realizados, questões não abordadas ou sobre as quais existem poucos trabalhos realizados. São
esses aspectos que deverão orientar a formulação de um problema de pesquisa e sobre ele o
pesquisador deve se debruçar até formular uma questão clara e delimitada.
Como meio para chegar a uma formulação adequada do problema o pesquisador deve ter
claro o que espera como resultado da investigação, ou seja, onde imagina chegar, como, porque
e para que pretende fazê-lo. O quanto o tema deve ser especificado, a fim de se transformar em
uma pergunta clara, é algo a que se chega por meio das leituras, reflexões e eventuais discussões
que o pesquisador realiza.
A partir da constatação das dificuldades de se passar de um tema a um problema de
pesquisa, Luna (1996) sugere um recurso útil ao detalhamento do problema a partir da
delimitação de um tema de pesquisa.

Um dos recursos úteis no detalhamento do problema de pesquisa é o


destrinchar da formulação inicial, buscando destacar as respostas que
o pesquisador gostaria de obter ou, pelo menos, indicar que aspectos
do fenômeno a estudar ele julga necessário cercar.
Considerem-se as formulações abaixo:
- Que transformações ocorreram no conceito de deficiência mental
desde que ele foi cunhado e quais as possíveis implicações delas para
as práticas de cuidado com o deficiente mental?
- Quais os efeitos de diferentes procedimentos de preenchimento de
cargos de chefia sobre a produtividade da empresa?
- Há diferenças entre o relato de um professor sobre as dificuldades
de um aluno e as dificuldades constatadas a partir do desempenho
efetivo do aluno?
- Há coerência entre os conceitos X, Y e Z que embasam a teoria T?
Dois aspectos marcam claramente a diferença entre as proposições
iniciais que acabamos de discutir e as formulações acima. Em primeiro
lugar, quanto às perguntas formuladas acima, representam uma
delimitação mais clara na intenção do pesquisador, em oposição a
temas e áreas genéricos abrangentes. Em segundo lugar, por causa
dessa maior clareza, começam a servir de guia para a tomada de
decisões importantes na condução da pesquisa; de fato, em cada uma
delas já há claras indicações do caminho a ser trilhado na pesquisa (um
dos efeitos mais simples, mas certamente importante, é permitir ao
pesquisador selecionar que tipo de literatura poderá vir a interessá-lo
no embasamento da pesquisa e na discussão dos resultados) (p. 28-31).
O problema deve ser colocado na forma de uma pergunta sempre que possível, pois isso
garante maior clareza na especificação do que se pretende com a pesquisa.
Quando se fala em relevância de um problema de pesquisa dois parâmetros estão
envolvidos: o científico ou teórico e o social.
A relevância social não pode ser esquecida, pois a produção de um dado conhecimento
se inter-relaciona com o contexto social no qual é produzido e para o qual é produzido.
A relevância científica ou teórica dá suporte à aceitação deste conhecimento pela
comunidade científica. Para demonstrar a relevância, do ponto de vista científico, é preciso fazer
um relato que faça referência a estudos relacionados à questão que se pretende responder; mostre
20

que a questão está parcial ou completamente não respondida e demonstre que a resposta a esta
questão é importante para a área de conhecimento na qual está inserida.
Isso significa que o pesquisador, ao construir um problema a ser investigado, toma
decisões que decorrem do que a comunidade científica já conhece sobre o assunto, do que o
pesquisador pode/consegue explorar desse conhecimento já produzido e dos compromissos desse
pesquisador com os fatos e questões do mundo em que vive.
O trecho reproduzido a seguir de Alves-Mazzotti (1994) é a seção introdutória do relato
da pesquisa “Do trabalho à rua: uma análise das representações produzidas por meninos
trabalhadores e meninos de rua”. Observem que, mesmo sendo um texto sintético, ele exemplifica
alguns dos pontos que devem caracterizar um texto de revisão de literatura e colocação do
problema da pesquisa.

Durante a década de 80, a população das grandes cidades brasileiras


viu, entre assustada e perplexa, os espaços urbanos serem ocupados por
um crescente contingente de crianças e adolescentes que buscavam,
nas ruas, meios de sobrevivência. Embora o problema da "infância
desvalida” não seja novo nem circunscrito aos países pobres,
constituía-se aí um novo objeto social, uma vez que, por seu número e
modos de agir, aqueles que passaram a ser chamados genericamente de
"meninos de rua" representavam um fenômeno ainda desconhecido.
A gravidade do problema deu origem a um número significativo de
pesquisas sobre essas crianças e adolescentes no decorrer da última
década (Alvim & Valladares, 1988). Essas pesquisas, realizadas em
diversas cidades, apresentam entre si um alto grau de consistência no
que se refere ao perfil e às ‘estratégias de sobrevivência’ utilizadas
pelos ‘meninos de rua’, as quais incluem uma séria de ocupações
ligadas ao mercado informal e também, embora em número
significativamente menor, atividades ilegais tais como roubo, furto,
mendicância, consumo de drogas e prostituição. As pesquisas
indicaram ainda que, ao contrário do que se pensava até então, ao lado
de um pequeno grupo que, tendo rompido parcial ou totalmente os
laços familiares, mora efetivamente na rua, encontra-se uma grande
maioria que, ao término de suas jornadas de trabalho, volta ao convívio
familiar (Rizzini e Rizzini, 1992).
O fato de que a identificação dessas duas subpopulações não se deu
senão muito recentemente faz com que a quase totalidade das
caracterizações existentes trate os ‘meninos de rua’ como uma
população homogênea na qual aqueles mais propriamente chamados
‘de rua’ estão sub-representados, além de impedir comparações entre
os grupos. A não diferenciação entre os grupos parece ser também, em
parte, responsável pela ampla prevalência, nesses estudos, das
interpretações de natureza sociológica sobre os motivos que levariam
os meninos à rua. Podemos resumi-las no seguinte esquema:
migraçãoà desemprego à desagregação familiar e necessidade de
gerar renda à menino de rua.
Tais explicações, porém, deixam de lado uma questão crucial para a
compreensão do problema dos meninos e meninas de rua, e que
procuramos investigar em estudo anterior: ‘o que faz com que,
aparentemente enfrentando condições sócio-econômicas igualmente
desfavoráveis, algumas crianças permaneçam ligadas a suas famílias
21

enquanto outras trocam a casa pela rua?’ (Alves, 1992, p. 119). Os


resultados desse estudo, que distinguiu e comparou famílias de
meninos trabalhadores e de meninos de rua - aqueles que romperam os
vínculos familiares e moram na rua - indicaram que os rendimentos
desses dois grupos eram equivalentes, não constituindo, portanto, fator
relevante na distinção entre eles. Mais ainda, a investigação de fatores
socioeconômicos, familiares e individuais nos permitiu concluir que
somente a análise da interação entre esses fatores seria capaz de levar
a uma compreensão mais acurada do problema. Em outras palavras,
uma abordagem psicossocial fazia-se necessária.
Cabe assinalar que, paralelamente às tentativas de ampliar o
conhecimento sobre esses grupos, realizadas no âmbito da pesquisa,
um número crescente de atores sociais vem se mobilizando com o
intuito de lhes oferecer alguma forma de ajuda. Valladares e
Impelizieri (1991), em minucioso levantamento da ação não-
governamental voltada para as crianças carentes, localizaram, apenas
no Município do Rio de Janeiro, 619 iniciativas de natureza e filiações
diversas, das quais 39 dirigidas exclusivamente aos meninos e meninas
de rua. A quase totalidade desses projetos data, igualmente, da década
de 80, em consequência da agudização do problema. Considerando-se
que as autoras trabalharam com dados disponíveis até maio de 1991, e
que aí não estão incluídas as ações governamentais, pode-se concluir
que o número de iniciativas é hoje muito maior.
Face à magnitude desses esforços e aos modestos resultados até agora
obtidos, torna-se urgente a produção de conhecimentos que possam
orientar as práticas e políticas públicas dirigidas à ressocializacão dos
meninos e meninas de rua.
A presente pesquisa, realizada no Município do Rio de Janeiro, teve
por objetivo investigar, junto a meninos e meninas de rua e a meninos
e meninas trabalhadores, as seguintes representações consideradas
relevantes para os processos de socialização e ressocialização: família,
rua, turma, criança, adulto, escola, trabalho, futuro e autoimagem.
Entre os quadros teórico-metodológicos disponíveis, o das
representações sociais (Moscovici, 1978) nos parece o mais adequado
a esses propósitos por ser aquele que permite abordar, de forma
articulada, aspectos de natureza psicológica e sociológica. (s.p.)
Por fim, cabe ainda lembrar que a explicitação cuidadosa do problema de pesquisa –
tornando claros quais aspectos do fenômeno de interesse são importantes de se
verificar/compreender/buscar – é condição indispensável para a etapa seguinte do processo de
pesquisa: o planejamento. De acordo com Luna (1996),

Se o problema formulado constitui um conjunto de perguntas às quais


o pesquisador pretende responder ao final do trabalho, o passo seguinte
deveria ser a determinação de um conjunto de informações a serem
obtidas e que, uma vez analisadas, encaminhariam as respostas
pretendidas [...] (p. 31)
Por outro lado, o desenvolvimento da etapa de planejamento pode ainda contribuir para
que o pesquisador reveja e reformule o problema de pesquisa, tornando cada vez mais claro o
que ele quer saber e quais respostas pretende obter com sua pesquisa. Ou, de outra forma, é só
ao tomar as decisões envolvidas no planejamento da pesquisa que o pesquisador tem condições
22

de avaliar a clareza e a adequação do problema, tal como ele o formulou. Se houver alguma
dúvida deve-se voltar para explicitá-lo de modo cada vez mais claro e completo.
23

3 Planejamento da pesquisa

A partir da delimitação e explicitação clara do problema de pesquisa, de modo a indicar


o tipo de informação necessária para respondê-lo, a etapa seguinte é a elaboração do
Planejamento da pesquisa6.
Para responder ao problema de pesquisa o pesquisador precisa ter dados organizados. A
etapa do processo de pesquisa na qual o pesquisador organiza e resume os dados é a etapa de
análise de dados, a partir da qual o pesquisador é capaz de interpretar os dados de modo a
completar sua resposta ao problema de pesquisa. Por sua vez, a análise de dados só pode ser feita
após a coleta de informações adequadas. Para que o pesquisador determine quais as informações
mais importantes a serem coletadas, é importante que a análise seja planejada antes da própria
coleta, de modo que informações relevantes não sejam excluídas ou que se coletem apenas
informações necessárias.
Assim, o Planejamento ou Delineamento da pesquisa consiste na realização das seguintes
sub-etapas:
. previsão de análise
. plano de coleta de informações
É importante lembrar que todo o Planejamento da pesquisa é dirigido pelo problema
colocado.

3.1 Previsão de análise

Na previsão de análise o pesquisador precisa planejar quais são os aspectos que pretende
levar em conta para responder ao problema de pesquisa, especificar as dimensões envolvidas em
cada um destes aspectos e decidir quais as relações que pretende estabelecer entre eles. Este
conjunto de decisões determina quais informações ele deve obter na etapa de coleta de dados.
Uma forma de elencar os aspectos mais relevantes é buscar na literatura consultada
quais têm sido estudados e como têm sido definidos. Um exemplo pode ser identificado na
pesquisa de Carvalho e Carvalho (1990). Os autores realizam a pesquisa com o objetivo de
descrever formas pelas quais a criança aborda os parceiros e obtém acesso à participação na
brincadeira e de analisar possíveis relações entre estas estratégias e algumas variáveis
presentes na situação. A partir da literatura consultada e do problema de pesquisa colocado, os
pesquisadores optaram por analisar os seguintes aspectos gerais:
. sujeitos (quem é e como é a criança que inicia a interação),
. contexto em que a interação ocorre (ou não ocorre),
. características da estratégia de abordagem utilizada
. desenlace.

6 Nesse momento do curso, você já tem condições de saber, a partir das discussões teóricas, que as diferentes
abordagens em psicologia entendem a pesquisa de maneira peculiar e conduzem-na de acordo com esse entendimento.
Assim, o planejamento de uma pesquisa pode ser mais ou menos estruturado, em função, dentre outras coisas, do
referencial teórico adotado. Autores como Alves-Mazzotti e Gewandsznajder (1998) e Luna (1996) consideram que o
planejamento não pode ser uma camisa-de-força, mas deve se constituir como um guia que oriente as ações do
pesquisador e que ganha maior importância quando se trata de pesquisadores iniciantes.
24

Tendo elencado os aspectos importantes a serem analisados para responder ao problema


de pesquisa, o pesquisador passa a delimitá-los e defini-los, de forma que fique claro,
exatamente, a que se referem. Esta é a segunda atividade do pesquisador na etapa de previsão de
análise.
Retomando o exemplo da pesquisa de Carvalho e Carvalho (1990), os autores
delimitaram como relevante na caracterização dos sujeitos: sexo, idade e familiaridade com o
grupo de crianças. Para a caracterização do contexto, estes autores consideraram como aspectos
importantes a analisar: composição do grupo abordado, configuração espacial, atividade do grupo
e tipo de relação entre os membros do grupo. Analogamente, os outros dois aspectos elencados
como relevantes seriam mais delimitados e definidos.
Num outro exemplo, em uma pesquisa que aborde o consumo de drogas na adolescência
é importante definir o que será identificado como consumidor: usuário ocasional e dependente?
Haverá diferenciação entre um e outro? Ou não há necessidade? Como será, enfim, definido este
aspecto, tendo como parâmetro o problema de pesquisa?
Cada um destes aspectos pode assumir diferentes dimensões e o pesquisador deve decidir
segundo quais critérios agrupará as diferentes dimensões de cada um dos aspectos
estudados, construindo assim classes ou categorias de análise. Esta é a terceira atividade do
pesquisador na etapa de previsão de análise.
Uma categoria é uma das divisões possíveis de um aspecto enfocado. Ou, dito de outra
forma, é um dos agrupamentos de informações possível para um determinado aspecto ou fator
que se pretende analisar. A decisão sobre como agrupar as informações, quais categorias
estabelecer, deve seguir algum critério, claramente explicitado. Esse critério, por sua vez, é
definido em função do problema de pesquisa e sua contextualização e em função, também, da
forma como cada aspecto foi definido.
No exemplo anterior sobre consumo de drogas, a definição de consumidor como todo
indivíduo que alguma vez já utilizou drogas, leva, basicamente, a duas categorias: consumidor e
não consumidor. De outra forma, se essa definição indica a necessidade de se diferenciar a
frequência do uso de drogas, as categorias poderiam ser, por exemplo: não é consumidor, é
consumidor eventual, é consumidor frequente, é dependente.
Retomando o exemplo anterior sobre relacionamento entre crianças, para caracterizar o
sujeito da interação é relevante identificar o sexo e a idade dele (dentre outras características
possivelmente de interesse para a pesquisa). Para sexo são duas as categorias: masculino e
feminino; já, para idade dos sujeitos, algum critério deve ser estabelecido para definir as
categorias. Vejam como os autores mencionados se referem ao critério que adotaram:

Em termos de idade, [os sujeitos] foram agrupados em três classes: 21


a 36 meses; 37 a 48 meses e mais de 48 meses. Esse sub-grupamento
foi guiado pela suposição, corrente na literatura (Phinney, 1979;
Hartup, 1983), de que a idade de três anos constitui um marco no
desenvolvimento da sociabilidade em relação a parceiros não adultos
(CARVALHO; CARVALHO, 1990, p. 119).
Ou seja, os autores se basearam na literatura consultada para definir o critério de
categorização da idade.
Dentre os aspectos considerados pelos autores desta pesquisa que estamos usando como
exemplo, vimos que contexto em que ocorre a interação foi destacado como um aspecto
relevante; deste contexto, ‘atividade do grupo’ é um dos aspectos. Para classificar estas
atividades, os autores trabalharam com as seguintes dimensões: motora e imaginativa. Assim
eles as definiram:
25

[..] [atividade] motora (toda atividade em que ocorre ‘movimento pelo


movimento’; as condutas implicam predominantemente a utilização
das capacidades sensório-motoras das crianças) ou imaginativa (aquela
em que a criança se utiliza do símbolo para representar aquilo que ‘não
está’; ela assume papéis, finge, realiza desejos). Esta subdivisão foi
adotada considerando-se que, dada a variação etária das crianças
focalizadas, poderiam emergir diferenças interessantes, passíveis de
serem relacionadas com a evolução da criança a partir do período
sensório-motor. (CARVALHO; CARVALHO, 1990, p. 119).
Neste caso, foi o referencial teórico que forneceu critérios para a categorização.
Além de relacionar-se ao problema da pesquisa, as categorias devem ser: exaustivas, ou
seja, devem ser formuladas de maneira a abranger todos os dados a serem coletados; e
mutuamente exclusivas, ou seja, um certo dado só pode ser colocado em uma única categoria.
A categorização dos dados é um dos momentos mais importantes para revelar a visão que
o pesquisador tem da problemática que está estudando e de como deve investigá-la. Isso porque
as categorias, de certa forma, concretizam a organização dos dados que o pesquisador está
planejando realizar. São as categorias que aparecem no lugar dos dados brutos; neste sentido, as
categorias representam os dados. Se as categorias forem boas representantes dos dados colhidos,
o pesquisador poderá fazer uma boa discussão dos resultados. Se forem muito gerais, pouco
descritivas, o pesquisador terá dificuldade em analisar os dados e precisará reformulá-las e até
construir novas categorias durante a análise.
As decisões sobre como categorizar, ou seja, sobre o que deve ser salientado na análise
dos dados, são decisões que envolvem um posicionamento do pesquisador a respeito de seu
objeto de estudo e a respeito do próprio pesquisar. Ou seja, novamente devemos lembrar que as
formas de entender a categorização e de realizá-la estão diretamente relacionadas à abordagem
que o pesquisador adota. Em alguns casos, não é o referencial teórico que orienta a formulação
de categorias; estas se originam de leituras sucessivas do material coletado; pesquisadores se
referem a esse procedimento com a expressão “fazer emergir” as categorias de análise.
A categorização pode ser feita já na previsão de análise ou pode ser feita após a coleta, a
partir dos dados obtidos. De qualquer forma, mesmo quando estabelecidas previamente, as
categorias devem ser revistas em função dos dados obtidos.
Na etapa de previsão de análise, ainda dependendo da abordagem adotada pelo
pesquisador, este pode decidir se pretende estabelecer relações entre os dados. Na pesquisa de
Carvalho e Carvalho (1990), que estamos tomando como exemplo, os autores buscam estabelecer
relações entre a aproximação social de crianças e um conjunto de quatro aspectos relativos: à
própria criança, ao contexto, às estratégias de abordagem e ao desenlace.

3.2 Elaboração do Plano de Coleta

Nesta sub-etapa do Planejamento da pesquisa deve-se elaborar o(s) instrumento(s) de


coleta de informações, assim como planejar a situação de coleta. Para isso, o pesquisador deve
identificar a(s) fonte(s) de informações possíveis, considerando a previsão de análise que fez.
Há três grandes fontes de informações para o pesquisador:
1ª. a situação em que ocorre(m) o(s) fenômeno(s) que está(ão) sendo investigado(s);
2ª. pessoas que detêm a informação referente ao objeto da pesquisa; e
3ª. registros já existentes que contêm as informações procuradas.
26

Quando a fonte de informação escolhida é a situação natural, a técnica de coleta de dados


é a observação; quando a fonte são pessoas, a técnica é a de questionamento – entrevistas,
formulários eletrônicos, questionários mais ou menos estruturados, grupos focais, entre outros; e
quando são registros já existentes, a técnica é a de análise de documentos. Cada uma dessas
técnicas pode ser utilizada de várias maneiras; assim, para cada uma delas, há vários tipos de
instrumentos de coleta de informações possíveis.
Cabe ao pesquisador tomar decisões a respeito de qual(is) técnica(s) de coleta de
informações será(ão) utilizada(s), tendo como base a previsão de análise elaborada e o problema
de pesquisa.
Evidentemente, é em função do tipo de informação que o pesquisador considerou
importante obter para atingir os objetivos da pesquisa que se dará a decisão de qual(is) a(s)
melhor(es) fonte(s) de informação e, em decorrência, a decisão sobre a técnica de coleta mais
adequada. Também têm bastante peso e relevância aspectos de “ordem prática”, como tempo e
prazo para a realização da pesquisa, recursos disponíveis, experiência e possibilidade de treino
dos pesquisadores, dentre outros.
Ao decidir a forma de coleta de informações, o pesquisador deve considerar os seguintes
aspectos:
• onde as informações serão buscadas
• como as informações serão registradas
• se há necessidade de condições especiais (de local, de material ou outras) para a coleta
de informações
• quantos pesquisadores serão necessários para a coleta de informações
• como o(s) pesquisador(es) se apresentará(rão) na situação (ou aos informantes) para a
obtenção das informações de que necessita(m)
• que cuidados éticos vão ser tomados em relação à coleta de informações.
Em relação a este último ponto, para pesquisas com seres humanos, há regulamentações do
Conselho Nacional de Saúde que devem ser seguidas: especialmente as Resoluções 466/12 e
510/2016, e o Ofício circular Nº 2/2021/CONEP/SECNS/MS (TCLE on-line)
Reproduzimos aqui uma parte da Resolução 466/12 para que vocês possam, se forem
coletar informações com pessoas, se organizar para produzir um bom Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (TCLE).

[...] Entende-se por Processo de Consentimento Livre e Esclarecido


todas as etapas a serem necessariamente observadas para que o
convidado a participar de uma pesquisa possa se manifestar, de forma
autônoma, consciente, livre e esclarecida. IV.1 - A etapa inicial do
Processo de Consentimento Livre e Esclarecido é a do esclarecimento
ao convidado a participar da pesquisa, ocasião em que o pesquisador,
ou pessoa por ele delegada e sob sua responsabilidade, deverá: a)
buscar o momento, condição e local mais adequados para que o
esclarecimento seja efetuado, considerando, para isso, as
peculiaridades do convidado a participar da pesquisa e sua privacidade;
b) prestar informações em linguagem clara e acessível, utilizando-se
das estratégias mais apropriadas à cultura, faixa etária, condição
socioeconômica e autonomia dos convidados a participar da pesquisa;
e c) conceder o tempo adequado para que o convidado a participar da
pesquisa possa refletir, consultando, se necessário, seus familiares ou
27

outras pessoas que possam ajudá-los na tomada de decisão livre e


esclarecida. IV.2 - Superada a etapa inicial de esclarecimento, o
pesquisador responsável, ou pessoa por ele delegada, deverá
apresentar, ao convidado para participar da pesquisa, ou a seu
representante legal, o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
para que seja lido e compreendido, antes da concessão do seu
consentimento livre e esclarecido. IV.3 - O Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido deverá conter, obrigatoriamente: a) justificativa, os
objetivos e os procedimentos que serão utilizados na pesquisa, com o
detalhamento dos métodos a serem utilizados, informando a
possibilidade de inclusão em grupo controle ou experimental, quando
aplicável; b) explicitação dos possíveis desconfortos e riscos
decorrentes da participação na pesquisa, além dos benefícios esperados
dessa participação e apresentação das providências e cautelas a serem
empregadas para evitar e/ou reduzir efeitos e condições adversas que
possam causar dano, considerando características e contexto do
participante da pesquisa; c) esclarecimento sobre a forma de
acompanhamento e assistência a que terão direito os participantes da
pesquisa, inclusive considerando benefícios e acompanhamentos
posteriores ao encerramento e/ ou a interrupção da pesquisa; d) garantia
de plena liberdade ao participante da pesquisa, de recusar-se a
participar ou retirar seu consentimento, em qualquer fase da pesquisa,
sem penalização alguma; e) garantia de manutenção do sigilo e da
privacidade dos participantes da pesquisa durante todas as fases da
pesquisa; f) garantia de que o participante da pesquisa receberá uma
via do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido; g) explicitação
da garantia de ressarcimento e como serão cobertas as despesas tidas
pelos participantes da pesquisa e dela decorrentes; e h) explicitação da
garantia de indenização diante de eventuais danos decorrentes da
pesquisa. [...] (Conselho Nacional de Saúde, 2012, inciso IV)

3.3 A escolha dos sujeitos

É o problema de pesquisa que direciona a definição da população a ser estudada e


estabelece critérios para a escolha dos sujeitos (participantes) da pesquisa. A população alvo é
composta pelo conjunto de todos os indivíduos que possuem as características de interesse para
o pesquisador, definidas na previsão de análise, sendo, em geral, muito grande para ser estudada
em sua totalidade. Isso coloca para os pesquisadores um problema que vem sendo enfrentado de
duas maneiras diversas.
Por um lado, há aqueles que trabalham numa perspectiva em que a generalização dos
resultados é fundamental, sendo realizada com base na estatística. Nesse caso, o pesquisador
precisa estabelecer uma amostra que represente um subconjunto da população alvo.
Há dois tipos de amostras: as probabilísticas e as não-probabilísticas. Segundo
Contandriopoulos et al. (1997):

As primeiras se baseiam nas leis do acaso, enquanto as outras tentam


reproduzir o mais fielmente possível a população alvo, levando em
conta características conhecidas desta última. No entanto, somente as
28

amostras probabilísticas podem, por definição, originar uma


generalização estatística, apoiada nos princípios do cálculo das
probabilidades e permitir a utilização da potente ferramenta que é a
inferência estatística (p.60)
Existem várias técnicas de amostragem probabilística (a amostra aleatória simples, a
amostra sistemática, a amostragem por conglomerados e a amostragem estratificada), cuja
principal característica é, por meio do acaso, garantir que cada elemento da população alvo tenha
uma probabilidade conhecida e diferente de zero de ser escolhido em um sorteio.
Já as técnicas de amostragem não probabilística não recorrem ao acaso e nem à estatística,
mas a critérios lógicos estabelecidos a partir de características conhecidas da população alvo. São
alguns exemplos dessas técnicas:
• amostras acidentais: os sujeitos da amostra são selecionados em função de sua presença
num lugar preciso em um momento preciso;
• amostras intencionais: os sujeitos da amostra são selecionados em função do interesse
do pesquisador em indivíduos específicos da população, não necessariamente
representativos;
• amostras por quotas: a partir da identificação de estratos na população alvo, o
pesquisador seleciona, acidentalmente, indivíduos representativos de todos os estratos;
• amostras de voluntários.
Por outro lado, há pesquisadores cuja compreensão da generalização dos resultados não
passa pelo uso da estatística. Para esses, a “amostra” é escolhida de maneira proposital, levando
em conta os objetivos e condições gerais de realização da pesquisa. Mesmo nesses casos, alguns
procedimentos podem ser adotados para a seleção dos sujeitos da pesquisa: selecionar sujeitos
que tenham um amplo conhecimento do contexto estudado; selecionar sujeitos indicados por
outros que conheçam a situação em estudo; incluir novos sujeitos que possam complementar
informações já obtidas; incluir sujeitos de modo a proporcionar variação máxima de
participantes, são alguns desses procedimentos.

3.4 Construção do instrumento de coleta de informações

A decisão sobre o instrumento de coleta de informações a ser utilizado também deve


levar em conta os objetivos da pesquisa e a previsão de análise, os recursos e tempo disponíveis,
além das características dos sujeitos da pesquisa. Cada tipo de instrumento tem suas vantagens e
restrições, algumas intrínsecas ao próprio instrumento, outras devidas à sua relação com o
problema a ser investigado.
Após escolher o instrumento de coleta, a tarefa seguinte do pesquisador é construí-lo.
Assim, por exemplo, se o pesquisador se decidiu pelo uso de questionário deverá elaborar as
questões que o constituirão. Se o instrumento for uma determinada forma de observação, deve
elaborar o roteiro de observação. Em qualquer caso, é a partir da previsão de análise que se dá a
construção do instrumento de coleta de informações, já que ele deve garantir a obtenção dos
dados considerados importantes para responder ao problema de pesquisa.
Alguns exemplos, apresentados a seguir, ilustram mais claramente a importância da
previsão de análise e sua relação com o planejamento da coleta. Na pesquisa a que nos referimos
anteriormente sobre quais variáveis das situações influenciam as estratégias de aproximação de
companheiros, adotadas por crianças, a técnica de coleta seria observação e o instrumento seria,
por exemplo, observação direta cursiva.
29

Um roteiro de observação deveria, então, ser elaborado a partir dos aspectos levantados
na previsão de análise. Em relação ao aspecto atividade do grupo esse roteiro deveria listar o que
esse observador precisaria notar e registrar nessas ocasiões que tais atividades ocorrem, de
maneira que ele obtivesse as informações relevantes para poder analisar o que ele pretende.
Lembre-se que, ao fazer a “previsão de análise”, esse pesquisador já havia explicitado o que
pretendia enfocar e já havia definido o que considera relevante sobre “atividade do grupo”.
Entretanto, a situação que está sendo observada pode apresentar fatos não previstos pelo
pesquisador (e frequentemente apresenta); este deve adequar seu plano à situação com a qual se
depara.
Assim, em relação a cada aspecto e à forma como foi definido na previsão de análise,
levantam-se os itens do roteiro. As possibilidades de itens são muitas; a seleção dos realmente
necessários é orientada pelo problema e pela previsão de análise.
Em outro exemplo de pesquisa, sobre consumo de drogas entre adolescentes, a técnica
de coleta de informações seria questionamento e o instrumento poderia ser questionário
estruturado. Um aspecto levantado na previsão de análise, sobre se o adolescente é consumidor
ou não, definido pela frequência no uso de drogas, poderia levar à elaboração de, pelo menos,
duas questões do questionário:
1) Você já utilizou drogas alguma vez?
a) sim ( )
b) não ( )
2) Caso tenha respondido sim na questão anterior, responda agora: quantas vezes você já
utilizou drogas?
a) uma vez ( )
b) várias vezes, a última há mais de um ano ( )
c) várias vezes, a última há menos de um ano ( )
d) muitas vezes, a última há mais de um ano ( )
e) muitas vezes, a última há menos de um ano ( )
f) utilizava sempre, mas não utilizo mais ( )
g) utilizo sempre ( )
Dependendo do interesse do pesquisador e de como esses aspectos foram definidos na
previsão de análise, poderia haver outras questões, por exemplo, para precisar a frequência do
uso e detectar dependência. As questões estão relacionadas não só com aspectos levantados na
previsão de análise, mas com as categorias previstas, quando for o caso. As questões do exemplo
acima têm por objetivo levantar informações para se caracterizar os sujeitos de acordo com as
categorias: não consumidor; foi ou é consumidor eventual; foi ou é consumidor frequente; foi ou
é dependente.

3.5 Pré-teste

Qualquer que seja o instrumento de coleta de informações elaborado e construído, ele


deverá ser testado antes de ser utilizado na pesquisa, a não ser que se trate de instrumento
padronizado e/ou exaustivamente testado e validado em estudos anteriores. O pré-teste permite
30

ao pesquisador verificar se o instrumento atende aos objetivos da investigação, conforme o que


foi planejado.
A situação de pré-teste é útil, também, para preparar o pesquisador para a situação de
coleta propriamente dita: contato com o(s) sujeito(s), manuseio do instrumento, clareza em
relação às instruções, etc.
Considerando os resultados do pré-teste, cabe ao pesquisador avaliar:
a) a adequação da técnica e do instrumento de coleta de informações aos objetivos da
pesquisa, à situação e aos sujeitos;
b) a adequação de cada item do instrumento;
• no caso de questionário ou entrevista, adequação da linguagem utilizada e da
sequência de questões;
• no caso de observação, adequação dos itens levantados à situação encontrada;
c) a adequação da forma de registro das informações;
d) a adequação das instruções aos sujeitos, quando for o caso;
e) a adequação da forma de apresentação dos pesquisadores e abordagem dos sujeitos.
Essa avaliação começa pelo instrumento e situação de coleta e pode ficar limitada a isso.
Mas, dependendo dos problemas encontrados, pode ser necessário rever a previsão de análise,
para esclarecer aspectos que, por não estarem suficientemente claros, impediram uma decisão
adequada sobre o instrumento ou uma boa elaboração de seus itens. Por exemplo, um aspecto da
previsão de análise mal definido pode ter dificultado a elaboração de questões para uma
entrevista, já que não se tinha clareza daquilo que se queria saber e, consequentemente, de como
perguntar.
Apenas após realizar as alterações que a situação de pré-teste revelou necessárias é que
o pesquisador está apto a iniciar a etapa seguinte da pesquisa: a coleta de informações.
31

4 Coleta de informações

A etapa de coleta de informações consiste fundamentalmente na execução do que foi


previsto no plano de coleta. Quanto mais detalhado e cuidadoso o planejamento, maiores são as
chances de o pesquisador conseguir as informações que interessam à pesquisa.
Lembrem-se de entrar em contato com os participantes ou com a instituição previamente
a esta etapa, além de se prepararem para o modo como apresentarão a pesquisa e os
pesquisadores. Mesmo que a coleta se dê por meios eletrônicos, Google Forms por exemplo, esse
aspecto deve ser considerado. Não devem esquecer os instrumentos de coleta (questionários,
folhas de registro, filmadora, cadernos de campo, lápis e caneta para si e para os participantes,
entre outros) e os termos de consentimento livre e esclarecido para serem assinados.
Entretanto, podem ocorrer imprevistos ou dificuldades nessa etapa, apesar de todos os
cuidados tomados. Cabe ao pesquisador nesse momento ter sempre presente as decisões
anteriores, referentes à colocação do problema e, principalmente, aquelas tomadas no
planejamento, de forma a contornar as dificuldades encontradas sempre que possível. De
qualquer forma, os problemas encontrados na realização da coleta devem ser registrados, a fim
de possibilitar a avaliação de possíveis implicações desses problemas para os resultados obtidos.
Ao final da coleta, o pesquisador dispõe, então, de um conjunto de informações e de um
registro da situação e dos procedimentos de coleta como efetivamente ocorreram.
Todos os aspectos referentes às etapas de planejamento da pesquisa e de coleta de
informações são sistematizados em um texto que compõe a seção MÉTODO do relatório de
pesquisa. Esse texto contém a descrição das decisões tomadas pelo pesquisador em relação às
etapas de planejamento da pesquisa e de coleta de informações tais como foram efetivamente
realizadas. Devem ser descritos, na seção Método, os sujeitos da pesquisa, a situação de coleta,
o material utilizado e o procedimento realizado, devendo o pesquisador, ao descrevê-los,
mencionar os aspectos necessários à compreensão e justificativa do que foi realizado para obter
os dados.
32

5 Análise de dados

A próxima etapa da pesquisa, após a coleta de informações, é denominada ANÁLISE


DE DADOS e se caracteriza, conforme afirmam Lüdke e André (1986), por ser um momento
da pesquisa em que o pesquisador "[...] parte então ‘para ‘trabalhar’ o material acumulado,
buscando destacar os principais achados da pesquisa. "(p.48).
A variedade de métodos e de instrumentos de coleta disponíveis aos pesquisadores pode
ter produzido vários tipos de informações. De acordo com Luna (1996),

[...] elas podem consistir, por exemplo, em transcrições de entrevistas


gravadas, trechos de documentos lidos, fitas gravadas em vídeo,
protocolos de observação. Em qualquer caso, porém, não passam de
informação obtida e, como tal, aguardam um tratamento, uma
organização que permita o encaminhamento das possíveis respostas
que se pretendia obter. Informações tratadas resultam em dados [...]
(p.63 e 64).
Esse trabalho de tratar, de depurar a massa de informações é que produz os dados da
pesquisa, os quais são, então, analisados de modo a produzir os resultados da pesquisa. É, pois,
a ANÁLISE que permite verificar que respostas foram obtidas para o problema de pesquisa.
Antes de iniciar esse trabalho, no entanto, é necessário que o pesquisador organize o
material gerado pela coleta de informações. Assim, por exemplo, se o pesquisador aplicou um
conjunto de questionários, cuidados como identificar as páginas de cada um deles com uma letra
ou número facilitam seu manuseio e evitam erros no processo de tratamento das informações.
Se, por outro lado, o instrumento utilizado foi entrevista, cuidados como digitar a transcrição
deixando margens e espaços grandes entre as linhas facilitam a posterior ANÁLISE.
De posse do material organizado, outros passos são ainda necessários. "Recortar" as
informações segundo algum critério, agrupá-las, representá-las, descrevê-las e compará-las são
operações que o pesquisador faz, desfaz e refaz ..., sempre visando encontrar a melhor forma de
“destacar os achados da pesquisa".
O pesquisador deve executar algumas operações que permitem submeter à prova as
possíveis relações hipotetizadas na PREVISÃO DE ANÁLISE e encaminhar respostas ao
problema de pesquisa. Essas operações não são as mesmas e nem se processam da mesma forma
para todas as pesquisas. Variam de acordo com o problema, o método, o tipo de informações a
serem analisadas e a natureza da pesquisa - desde aquelas com orientação mais qualitativa até
aquelas com orientação mais quantitativa. (Cabe lembrar que essas diferentes orientações não
precisam ser excludentes).

5.1 Rever categorias já previstas e/ou criar novas categorias

A tarefa de estabelecer categorias para as variáveis investigadas pode já ter sido realizada
pelo pesquisador na etapa de PREVISÃO DE ANÁLISE.
No caso de o pesquisador já ter estabelecido categorias e definições para as variáveis
com as quais pretendia trabalhar, é necessário um trabalho inicial de revisão dessas categorias
em função da situação de coleta e das informações obtidas. Se, em função delas, alguma definição
proposta puder tornar-se mais apurada, se alguma categoria proposta não ocorreu ou se havia
dúvida em relação a como defini-la, este o momento de corrigir o que parece não se adequar às
informações obtidas. O produto final aqui esperado é a manutenção das categorias adequadas, a
33

alteração das que apresentam algum problema, a elaboração de novas categorias e a eliminação
daquelas que se revelam desnecessárias frente à inexistência de informações a elas relacionadas,
desde que a ausência daquelas informações não tenha um significado especial para a resposta ao
problema de pesquisa. Cabe lembrar que as categorias devem ser derivadas de um único princípio
de classificação, devem ser mutuamente exclusivas e exaustivas.
No caso de o pesquisador ter decidido elaborar categorias e definições "a posteriori" (a
partir das informações obtidas) em relação a alguns dos aspectos ou algumas das variáveis
relacionadas ao problema, este é o momento de, a partir de uma leitura cuidadosa e reiterada das
informações obtidas, elaborar as categorias (e suas definições) segundo as quais essas
informações serão analisadas/organizadas.
Em qualquer dos casos, a familiaridade por parte do pesquisador com todo o material
coletado é condição indispensável para iniciar a análise do mesmo. Há autores que afirmam que
é fundamental que o pesquisador leia e releia inúmeras vezes o material coletado até chegar a
uma espécie de "impregnação" do seu conteúdo. Quanto mais estruturado o instrumento de coleta
de dados, menos essa "etapa exploratória” será necessária. Por exemplo, nos casos em que o
material coletado consiste em respostas fechadas a um questionário, essa "exploração inicial"
torna-se menos necessária, uma vez que os critérios segundo os quais as informações serão
trabalhadas já foram estabelecidos quando da construção do instrumento, bastando, então rever
e reformular as categorias já construídas. Já nos casos em que o material coletado consiste em
respostas abertas ou registros de observação cursiva, a leitura reiterada do material é que
possibilitará a emergência de categorias de análise.
Em todos os casos, no entanto, é importante que o pesquisador consiga fazer a
decomposição, “a divisão do material em seus elementos componentes, sem contudo perder de
vista a relação desses elementos com todos os outros componentes” (LÜDKE e ANDRÉ, 1986,
p.48).
O caráter dinâmico e o produto dessa etapa do trabalho analítico são bem ilustrados na
seguinte afirmação dessas mesmas autoras:

Esse trabalho deverá resultar num conjunto inicial de categorias que


provavelmente serão reexaminadas e modificadas num momento
subsequente. É quando, por exemplo, categorias relacionadas são
combinadas para formar conceitos mais abrangentes ou ideias muito
amplas são subdivididas em componentes menores para facilitar a
composição e apresentação dos dados. (LÜDKE; ANDRÉ, 1986, p.49)

5. 2 Classificar informações em categorias (Recortar)

Tendo revisto e/ou construído o sistema de categorias, o pesquisador tem disponível a


estrutura (‘esqueleto’) do trabalho de análise dos dados. É como se se tivesse construído uma
estante com diversas divisórias e compartimentos na qual um grande conjunto de materiais vai
ser arrumado visando chegar a uma organização que faça algum sentido, que tenha alguma lógica.
O que se faz, então, é organizar o material na estante de acordo com os critérios previstos (por
ex.: separar livros de apostilas e de revistas; dentre os livros, separar os romances policiais dos
livros de poesia e dentre esses, separar os poetas nacionais dos estrangeiros).
No caso da pesquisa, trata-se de classificar as informações nas categorias previamente
estabelecidas ou naquelas que emergiram da leitura exploratória.
Para facilitar esse trabalho de classificação, o pesquisador deve manusear os registros
das informações fazendo neles anotações (códigos, letras, números, cores...), de modo a dar
34

visibilidade aos elementos a serem destacados na análise. Voltando à analogia com a estante, este
é o momento em que, tendo estabelecido que haveria um lugar próprio para as poesias, os livros
são separados em nacionais e estrangeiros, identificando-os com etiquetas de diferentes cores
para facilitar sua posterior alocação, remoção e manuseio.

5.3 Agrupar informações

Como produto resultante da classificação do material o pesquisador vai ter em mãos uma
variedade de elementos, de componentes de um todo que precisam ser juntados/agrupados de
modo a começar a adquirir sentido.
Juntar significa colocar junto, agregar, reunir. Dependendo da natureza da pesquisa, do
problema e da análise prevista, a junção dos elementos pode ser feita visando quantificar as
informações coletadas e/ou visando destacar dimensões, tendências, padrões e conteúdos,
sempre buscando encontrar algum sentido nas informações obtidas. A seguir são apresentadas e
exemplificadas essas duas maneiras de tratar informações, transformando-as em dados da
pesquisa.
A atividade de quantificar as informações coletadas é denominada tabulação e consiste
em verificar quantas vezes o dado apareceu numa determinada categoria. A tabulação pode ser
simples (na qual se contam as ocorrências de um dado numa certa categoria) ou cruzada (na qual
se contam as ocorrências de um dado numa certa relação entre categorias de mais de uma
variável, verificando, assim, se as relações propostas na PREVISÃO DE ANÁLISE, são ou não
relevantes para responder ao problema de pesquisa).
Para proceder à tabulação o pesquisador elabora quadros que indicam as variáveis e as
categorias que estão sendo consideradas.
No caso de o pesquisador estar interessado em extrair das informações coletadas outros
dados, além dos quantitativos, uma possível forma de proceder é juntar elementos que são
semelhantes para poder destacar o que diferencia esses elementos de outros que não fazem parte
desse agrupamento, sem que isso signifique uma seleção apenas dos elementos que se repetem
ou que aparecem mais frequentemente. Nesse caso, a tarefa do pesquisador é um pouco mais
difícil, pois não há procedimentos previamente estabelecidos. Referindo-se à dificuldade de
tratamento de informações de natureza não quantitativa, Luna (1996) afirma que "na fase final
de análise, o tratamento dado a essas informações precisa apresentar um mínimo de
compatibilidade, sob risco de estas não permitirem integração e, consequentemente, não se
prestarem à obtenção das respostas esperadas." (p.67 e 68).

5.4 Representar ou sintetizar os dados

Considerando que os dados produzidos pelas operações feitas pelo pesquisador precisam
ser tornados públicos, é necessário criar uma forma de apresentá-los.
No caso de o pesquisador ter optado por tabular as informações produzindo dados
quantitativos, cabe escolher a melhor maneira de representá-los. As formas mais usuais de
representação são: tabela, gráfico em curva (ou polígono de frequência), histograma, diagrama
em coluna e gráfico setorial. Enquanto nas tabelas, nos gráficos em curva, histograma e diagrama
em coluna sempre está representada uma relação entre variáveis, o gráfico setorial constitui forma
de representar dados que não expressam relações.
35

Decidir por uma ou mais destas maneiras de representação significa escolher a(s)
forma(s) mais adequada(s) de visualizar/sintetizar os dados obtidos para o tipo de variável com
o qual se está trabalhando.
Se o problema e o tipo de dado obtido não permitir o uso destas formas de representação,
é necessário que o pesquisador construa uma forma alternativa de sintetizar e apresentar os dados
de sua pesquisa no relatório final.

5.5 Descrição dos resultados obtidos e estabelecimento de relações

Esse momento do trabalho analítico é feito com o objetivo de se obter uma visão
compreensiva do fenômeno estudado ou de relações existentes entre as variáveis ou aspectos
envolvidos em um problema. A apresentação organizada/resumida dos dados (por exemplo, por
meio de tabelas e/ou figuras) facilita esta compreensão. É somente a partir do produto obtido
com a construção e organização dos dados que o pesquisador tem condições de identificar e
descrever os resultados obtidos em sua pesquisa, isto é, as respostas a que chegou em relação ao
problema de pesquisa.
Se o pesquisador optou por sintetizar os dados em tabelas e/ou figuras é o momento de
descrevê-las (mesmo considerando que tabelas e/ou figuras devam ser claras o suficiente para
que o leitor não necessite de um "texto" para conseguir "lê-las" e entendê-las!), ressaltando nessa
descrição os resultados mais importantes tendo em vista o problema de pesquisa. Todas as figuras
e/ou tabelas devem ser descritas.
Se o pesquisador optou por outras formas de agrupar e sintetizar os dados, esses
agrupamentos também precisam ser descritos de modo a ressaltar os resultados mais relevantes
da pesquisa. Nesse caso, podem-se usar informações coletadas (ou trechos delas) como
visualização/ilustração do resultado descrito.
Em qualquer dos casos, a descrição de resultados deve ser feita tendo como referência o
problema de pesquisa.
Além de destacar e descrever os principais resultados da pesquisa, o pesquisador articula-
os, compara-os e os integra, estabelecendo relações entre eles. Quando descreve
comparativamente resultados (por exemplo, quando compara duas ou mais tabelas e/ou figuras
ou quando integra a descrição de agrupamentos de dados), o pesquisador realiza um nível mais
aprofundado de ANÁLISE que encaminha a INTERPRETAÇÃO DOS DADOS.
A apresentação e a descrição dos resultados da pesquisa devem ser redigidas de forma
clara, correta e articulada e comporão a seção RESULTADOS do relatório final da pesquisa.
36

6 Interpretação de dados

A penúltima etapa do processo de pesquisa é a INTERPRETAÇÃO DE DADOS. Este é


o momento em que o pesquisador procura um sentido mais amplo para os resultados obtidos e
identifica a contribuição que a pesquisa traz para a compreensão do fenômeno estudado.
Segundo Lüdke e André (1986) este é o momento em que o pesquisador faz “[...] um
esforço de abstração, ultrapassando os dados, tentando estabelecer conexões e relações que
possibilitem a proposição de novas explicações e interpretações. É preciso dar o salto como se
diz vulgarmente, acrescentar algo ao já conhecido.” (p.49)
É nesta etapa que o pesquisador constrói as conclusões da pesquisa, encaminhando
respostas ao problema. Tais conclusões, frequentemente, consistem em novas indagações e
questionamentos que poderão ser explorados em pesquisas posteriores.
É nesta etapa, também, que o pesquisador relaciona os resultados obtidos em sua
investigação com o contexto teórico do qual partiu, buscando explicá-los à luz da teoria que deu
origem à pesquisa. Ainda nesta etapa, o pesquisador compara e relaciona os resultados de seu
trabalho com resultados e conclusões de outras pesquisas na área. Ao elaborar esta comparação
talvez ele se depare com limites de sua investigação - quer em decorrência da metodologia
empregada, quer da quantidade de dados disponíveis ou aos quais pôde ter acesso, dentre outros
- limites estes que devem ser discutidos para situar as conclusões da pesquisa dentro de
parâmetros segundo os quais ela possa ser avaliada e considerada.
É possível, ainda, que os resultados permitam derivar implicações (consequências) das
conclusões obtidas para o estudo futuro do fenômeno ou para a atuação/intervenção sobre ele.
Neste caso cabe, na etapa de INTERPRETAÇÃO DE DADOS, identificar e explicitar tais
implicações, sugerindo, inclusive, futuros estudos a serem realizados sobre o problema em
questão.
A INTERPRETAÇÃO DOS DADOS deve ser feita na forma de um texto claro e
articulado, o qual constituirá a seção DISCUSSÃO do relatório final. Terminada esta atividade
o pesquisador estará pronto para a última etapa da pesquisa: a COMUNICAÇÃO.
37

7 A comunicação da pesquisa

Duas atividades compõem a etapa de comunicação de uma pesquisa: a elaboração de um


relatório e a ‘publicação’ do trabalho realizado.
Encontros científicos, congressos, revistas especializadas são veículos usuais de
divulgação dos trabalhos científicos. No caso da pesquisa realizada nas disciplinas Modelos I e
II, esses canais não estão excluídos (desde que os autores e o professor considerem pertinente
utilizá-los...), mas pelo menos em um encontro mais “doméstico” os trabalhos serão
apresentados. Esta atividade será combinada oportunamente.
No entanto, antes de trazer a público o trabalho desenvolvido o pesquisador precisa
elaborar o relatório da pesquisa.
As informações sobre esse relatório, apresentadas a seguir, foram adaptadas de material,
não publicado, produzido por Moroz e Gianfaldoni (2006).
Mesmo não espelhando completamente a dinâmica do processo, a comunicação deve
cuidar para apresentar um mínimo que permita a discussão e a crítica do que foi feito.
Normalmente, pode-se identificar no relato de uma pesquisa empírica as seguintes seções:
introdução, método, resultados, discussão e referências. [...]
Na Introdução, o autor apresenta o problema de pesquisa que pretendeu investigar e/ou
os objetivos da pesquisa. Esta apresentação é fundamentada, apresentando o percurso de leitura
de trabalhos anteriormente realizados, procurando-se demonstrar a relevância social e científica
do tema e do problema em questão. Nesta apresentação são articulados os trabalhos relevantes,
citando-os de acordo com as normas.
Depois de ler o capítulo introdutório o leitor deve ter claro porque o autor decidiu fazer
a pesquisa.
No Método, o autor descreve como o planejamento proposto foi de fato executado,
abordando os seguintes itens: sujeito (ou participante), situação, material e procedimento. Cada
um desses aspectos constitui um subtítulo da seção Método. No subtítulo Sujeito(s) ou
Participante(s)7 deve-se explicitar quem são, quantos, como foram selecionados: quanto à
Situação, descrevem-se as características do local em que se desenvolveu a coleta de
informações. No subtítulo Material descreve-se o equipamento utilizado e as características do
instrumento de coleta. Em geral, é útil apresentar ao leitor um exemplar do instrumento utilizado
e isso é feito sob a forma de anexo, e não no corpo do texto. No subtítulo Procedimento o
pesquisador deve descrever como foi feita a coleta e “[...] oferecer ao seu leitor todos os passos
que seguiu na transformação do material (procedimento de análise) e, no mínimo, exemplificar
abundantemente as transformações feitas com o material original coletado.” (LUNA, 1996,
p.68).
Na seção Resultados o autor apresenta, de forma ordenada, os dados analisados, quer
sejam os que confirmem as hipóteses que tinha ao propor a pesquisa quer sejam os que não as
confirmem. O autor descreve os dados e estabelece comparações entre eles no sentido de
responder ao problema proposto, comentando ainda qualquer imprevisto que possa ter ocorrido
no desenvolvimento da pesquisa.
No item final do relatório, Discussão, o pesquisador apresenta a interpretação dos dados
que já foram coletados e analisados; responde ao problema que foi colocado (ou aponta o que

7
Atualmente o termo participante, ao invés de sujeito, tem sido utilizado com maior freqüência em relação às pessoas
com quem se coleta as informações.
38

ocorreu, se isto não foi possível), relaciona os resultados obtidos com outras pesquisas ou teorias
da área e levanta novas questões.
As Referências aparecem após a discussão (segundo as normas que vocês já
conhecem...) e devem se limitar àquelas que foram efetivamente citadas no corpo do trabalho.
Outros trabalhos que o pesquisador desejar mencionar, mas que não aparecem como citação no
corpo do trabalho, podem ser listados em um item posterior chamado Bibliografia Consultada
(seguindo, para isto, as mesmas normas usadas para a elaboração das referências bibliográficas).

7.1 Aspectos formais do relatório

Até aqui foi discutido o que contém o núcleo de um relatório científico. Mas a própria
apresentação do trabalho requer outros quesitos que auxiliam a consecução do objetivo que é
proposto: a comunicação da pesquisa, passo fundamental para o desenvolvimento de novas
investigações e de aprofundamento dos conhecimentos já obtidos.
A apresentação de um relato de pesquisa é composta dos seguintes itens na sequência em
que aparecem: capa, folha de rosto, resumo, sumário (elementos pré-textuais), núcleo do trabalho
– introdução, método, resultados e discussão (elementos textuais) – referências, apêndices e/ou
anexos (elementos pós-textuais). Cada um desses itens deve ser iniciado em uma nova página.

7.1.1 Capa

A capa, segundo a NBR:15287:2011, contém no alto da página, centralizado, o nome da


entidade para a qual o trabalho deve ser submetido (quando for solicitado), o nome completo do
autor (ou autores) com letras maiúsculas; no centro, o título completo do trabalho; na porção
inferior da página, centralizado, o nome da cidade e abaixo o ano em que o trabalho foi entregue.
A maneira mais comum é ilustrada pelo exemplo abaixo, que está reduzido, uma vez que a Capa
deve ocupar toda uma página. A respeito do título, cabe ressaltar que ele deve explicitar de
maneira clara os objetivos da pesquisa e, se for o caso, a população estudada.

7.1.2 Folha de rosto

A folha de rosto, segundo a NBR: 15287:2011, apresenta, na parte superior, o nome


completo do autor (ou autores); no centro, o título completo do trabalho; mais abaixo, à direita,
explica-se a natureza do trabalho, objetivo acadêmico, o curso e a instituição a que se destina e
o nome do orientador; embaixo, cidade e ano. A diferença entre a folha de rosto e a capa é que
nesta última não se apresenta a natureza do trabalho.
A maneira mais comum é ilustrada pelos exemplos abaixo, que está reduzido, uma vez
que Capa e Folha de Rosto devem ocupar toda uma página.
39

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E DA SAÚDE

CURSO DE PSICOLOGIA

ANA LAURA ARAUJO LOZATO


ISABELLA CROCCIA D’ONOFRIO
ISABELLA PERPETUO CORNACCHIONI
MARIA EDUARDA FRANQUINI

A GÊNESE DO SOFRIMENTO PSÍQUICO DAS JUVENTUDES INDÍGENAS E A


CONSTRUÇÃO DE RESISTÊNCIAS E IDENTIDADES

SÃO PAULO
2020

Exemplo de capa.
40

ANA LAURA ARAUJO LOZATO


ISABELLA CROCCIA D’ONOFRIO
ISABELLA PERPETUO CORNACCHIONI
MARIA EDUARDA FRANQUINI

A GÊNESE DO SOFRIMENTO PSÍQUICO DAS JUVENTUDES INDÍGENAS E A


CONSTRUÇÃO DE RESISTÊNCIAS E IDENTIDADES

Trabalho realizado como exigência parcial da


disciplina Modelos de Investigação do curso de
Psicologia da Faculdade de Ciências Humanas e
da Saúde, da Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo.
Orientador:

SÃO PAULO
2020

Exemplo de folha de rosto

7.1.3 Resumo

Constitui um texto que coloca as características gerais da pesquisa, sintetizando o núcleo


do trabalho (com resultados, inclusive); o objetivo é o de introduzir o leitor na pesquisa para que
ele possa, até, decidir se lhe interessa ou não lê-la na íntegra. A NBR 6028:2003 normatiza a
estrutura dos Resumos e sugere um número de palavras, a depender do tipo de trabalho. No final
indicam-se de três a quatro palavras-chave que melhor representam o conteúdo estudado e que,
de certa forma, explicita o público que o lera. A NBR 6028:2003 normatiza os Resumos.

7.1.4 Sumário

A norma da ABNT que trata de Sumário é a NBR 6027:2012. Lá está esclarecido uma
confusão comum: Sumário não é Índice.
Diz a norma:

Para os efeitos desta Norma, aplicam-se as seguintes definições:


41

3.1 índice: Lista de palavras ou frases, ordenadas segundo determinado


critério, que localiza e remete para as informações contidas no texto.
[…]

3.3 sumário: Enumeração das divisões, seções e outras partes de uma


publicação, na mesma ordem e grafia em que a matéria nele se sucede.
(p. 1).
Utiliza-se a mesma fonte do restante do trabalho e o título Sumário deve ser centralizado
na página. Os elementos pré-textuais não devem ser mencionados no Sumário.

7.1.5 Núcleo do trabalho

É relatado na seguinte sequência: Introdução, Método, Resultados e Discussão.

7.1.6 Referências

São colocadas ao final do trabalho, em ordem alfabética da letra inicial do sobrenome


do(s) autor(es).

7.1.7 Apêndices e anexos

A distinção entre Apêndices e Anexos é, também, indicada pela ABNT, na NBR


15287:2011. Apêndices são, normalmente, trabalhos desenvolvidos pelo próprio autor e que
servem para completar seu raciocínio; por exemplo, um modelo do questionário desenvolvido
pelos pesquisadores vai para o Apêndice. Anexos são documentos que completam o trabalho e
estão citados no decorrer da apresentação, mas não foram elaborados pelo autor para o
desenvolvimento da pesquisa; por exemplo, se eu estiver trabalhando com leis educacionais e
tiver citado as Diretrizes Curriculares da Psicologia, posso incluí-las como Anexo para ajudar o
leitor a entender melhor o meu trabalho.
Apêndices e anexos são elementos pós-textuais e devem ser acrescentados, apenas se
tiverem sido citados durante o trabalho. Devem ser colocados após a seção de Referências
Bibliográficas (primeiro o Apêndice e depois o Anexo) e sua sequência é indicada por letras. Por
exemplo: APÊNDICE A: Modelo de questionário aplicado às alunas de Psicologia. Só se inclui
uma folha com o título Apêndices (ou Anexos) no meio de uma página em branco se existir mais
de um.

A numeração progressiva das seções de um documento é normatizada pela NBR


6024:2012. Quanto à numeração do trabalho, a NBR 15287:2011 indica que as folhas devem ser
contadas a partir da folha de rosto, mas não numeradas:

A numeração deve figurar, a partir da primeira folha da parte textual


[início da introdução], em algarismos arábicos, no canto superior
direito da folha, a 2 cm da borda superior, ficando o último algarismo
a 2 cm da borda direita da folha. (p. 7)
42

Finalmente, uma observação: os itens descritos anteriormente referem-se à sequência


formal da apresentação: no entanto, no corpo do trabalho alguns títulos não são colocados (tais
como “capa”, “página de rosto”, “introdução”). Por exemplo, no caso da introdução, o relato
inicia com o próprio texto sem o título “introdução”, via de regra.
Deve-se lembrar, ainda, que o relatório de uma pesquisa significa uma sequência
cronológica de comunicação e não, necessariamente, a sequência cronológica da consecução. As
informações que foram dadas em relação ao que contém cada item de um relatório científico são,
portanto, de caráter geral, comumente usadas e não esgotam o todo da produção científica.
43

Referências
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inesquecíveis. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n. 81, p. 53-60, 1992.
ALVES-MAZZOTTI, Alda Judith. Uma análise das representações produzidas por meninos
trabalhadores e meninos de rua. In: FAUSTO NETO, A.M.G. (Org.). Tecendo Saberes. Rio de
Janeiro: Diadorim – UFRJ/CFCH. 1994.
ALVES-MAZZOTTI, Alda Judith; GEWANDSZNAJDER, Fernando. 0 método nas ciências
naturais e sociais: pesquisa quantitativa e qualitativa. São Paulo: Pioneira, 1998.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6028:2003 - Informação e
documentação - Resumo – Apresentação. Rio de Janeiro, nov. 2003.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6027:2012 – Informação e
documentação – Sumário – Apresentação. Rio de Janeiro, dez, 2012.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6024:2012 – Informação e
documentação - Numeração progressiva das seções de um documento. Rio de Janeiro, fev. 2012.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6023:2020 – Informação e
documentação – Referências – Elaboração. Rio de Janeiro, set. 2020.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15287:2011 – Informação e
documentação – Projetos de Pesquisa – Apresentação. Rio de Janeiro, mar. 2011.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 14724:2011 – Informação e
documentação – Trabalhos acadêmicos – Apresentação. Rio de Janeiro, mar. 2011
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10520:2002 – Informação e
documentação – Citações. Rio de Janeiro, ago. 2002.
CARVALHO, Ana Maria de Almeida; CARVALHO, João Eduardo Coin. Estratégias de
aproximação social em crianças de dois a seis anos. Psicologia – USP, São Paulo, v.1, n. 2,
p.117-126, 1990.
CONTANDRIOPOULOS, André-Pierre et al. Saber preparar uma pesquisa. 2. ed. São Paulo -
Rio de Janeiro: Hucitec – Abrasco, 1997.
ECO, Umberto. Como se faz uma tese. São Paulo: Perspectiva, 1977.
LÜDKE, Menga e ANDRÉ, Marli E. D. A. Pesquisa em Educação: abordagens qualitativas. São
Paulo: EPU, 1986.
LUNA, Sergio V. de. Planejamento de pesquisa: uma introdução. São Paulo: EDUC, 1996.
LUNA, Sergio V. de. Análise crítica de instrumentos para coleta de informações em Psicologia:
Entrevista e questionários. [Apresentado no 8. Encontro da Associação Brasileira de Psicoterapia
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MOROZ, Melania; GIANFALDONI, Mônica Helena Tieppo Alves. O Processo de pesquisa:
iniciação. 2. ed. rev. ampl. Brasília: Líber livros, 2006.
SAGAN, Carl. O mundo assombrado pelos demônios. São Paulo: Cia das Letras, 1998.

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