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ROBÓTICA

Paulo Antonio Pasqual Júnior


Introdução aos sistemas
microprocessados e
microcontrolados
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Caracterizar os microprocessadores e os microcontroladores.


„„ Relacionar as diferenças entre microprocessador e microcontrolador.
„„ Analisar as limitações de sistemas microcontrolados.

Introdução
Com o crescimento da tecnologia, diversos recursos digitais hoje estão
presentes na vida cotidiana. Com o tempo, os pequenos computadores,
que, por muito tempo, estiveram apenas no imaginário da ficção científica,
passaram a integrar uma infinidade de dispositivos do nosso dia a dia.
Sejam carros, sejam brinquedos, computadores ou eletrodomésticos,
esses sistemas buscam garantir processamento e controle para diversas
funções que facilitam a vida das pessoas. Com a evolução da computação,
os sistemas microcontrolados e microprocessados se tornaram mais
eficientes e também mais baratos.
Neste capítulo, você vai estudar os microprocessadores e microcon-
troladores. Você vai ver quais são as principais características de cada
um deles e as principais diferenças entre eles, como arquitetura, fun-
cionamento e especificações. Além disso, vai analisar as limitações dos
sistemas microcontrolados.
2 Introdução aos sistemas microprocessados e microcontrolados

Microprocessadores e microcontroladores
Hoje os computadores estão presentes em quase tudo o que imaginamos.
Nos eletrodomésticos, celulares, automóveis e em vários outros dispositivos
que às vezes nem se quer imaginamos. Quem diria que em tão pouco tempo,
desde o surgimento da computação moderna, as pessoas poderiam encontrar
sistemas completos em quase tudo dentro de uma cozinha? Ou pensar que
os automóveis são controlados por uma série de pequenos sistemas, desde
sistemas que controlam estabilidade e pressão até sistemas mais complexos,
que garantem painéis de navegação interativos com GPS e outros recursos
avançados de computadores de bordo?
Esses dispositivos dotados de inúmeras capacidades são capazes de realizar
tantas tarefas porque utilizam microprocessadores e microcontroladores.
Vejamos sobre cada um deles.

Microprocessador
Certamente você já ouviu a célebre frase “O processador é o cérebro do compu-
tador”, e talvez tenha se perguntado o que realmente significa isso. Relacionar
o processador com o cérebro humano significa dizer que ele é responsável pelo
controle das operações que acontecem no computador. Essa analogia com o
cérebro não tem qualquer relação com a capacidade mental humana, apenas
serve para demostrar a importância do processador no âmbito de um sistema.
Um microprocessador, ou, simplesmente, processador, é responsável por
todas as operações matemáticas e lógicas que um computador pode realizar.
Ele consiste em um circuito integrado que contempla uma unidade lógica e
aritmética (ULA), uma unidade de controle (UC), registradores e uma
unidade de gerenciamento de memória (MMU). Veja a Figura 1.
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Unidade lógica e aritmética


Registrador

Barramento interno da CPU


de estado Registradores

Deslocador

Complementador

Lógica
booleana e
aritmética
Unidade
de controle

Sinais de
controle
Figura 1. Modelo de processador.
Fonte: Adaptada de Stallings (2002, p. 428).

Apesar de sabermos que eles são praticamente o computador em si, os


microprocessadores não são capazes de funcionar de maneira independente.
Eles normalmente integram um computador convencional ou um dispositivo
computacional, como um smartphone, no qual podem utilizar a memória do
dispositivo e outros recursos necessários para realizar as suas funções.
Muitas vezes, em computadores pessoais, chamamos o gabinete do com-
putador de CPU (Central Processing Unit), quando, na verdade, a CPU é a
unidade central de processamento, ou seja, o microprocessador que integra o
hardware interno do computador.
4 Introdução aos sistemas microprocessados e microcontrolados

Microcontrolador
Os microcontroladores estão por toda a parte. Neste momento, é provável
que você, enquanto lê este texto, esteja próximo de algum dispositivo que
contenha um microcontrolador, seja na sua casa, escritório ou sala de aula. Um
microcontrolador consiste em uma espécie de computador pequeno presente
em um circuito integrado. Ele tem uma unidade de processamento, memória
e pinos de entrada e saída.
Os microcontroladores são altamente utilizados em dispositivos eletrônicos.
Eles consistem em um tipo de tecnologia embarcada, ou seja, são praticamente
um minicomputador disponível exclusivamente para o dispositivo para o qual
foram concebidos. Por exemplo, os eletrodomésticos são microcontrolados por
meio de sistemas embarcados, seja um micro-ondas, seja uma geladeira ou uma
máquina de lavar ou secar roupas. Esses dispositivos têm pequenos sistemas
que nos permitem configurar o equipamento para fazer o que precisamos.
Por exemplo, quando você digita 30 segundos em um micro-ondas ou pro-
grama uma máquina de secar para a secagem rápida, um microcontrolador irá
garantir que a programação que você escolheu seja executada e pare assim que
terminar. Além dos eletrodomésticos, os microcontroladores estão presentes
nos brinquedos eletrônicos, controles remotos e em uma série de tecnologias
envolvendo robótica, tanto em nível de robótica educativa quanto industrial.
Os microcontroladores são extremamente úteis para o mundo digital e
trouxeram grande inovação. Se pensarmos que em meados dos anos 1940 era
necessário um computador de dimensões monumentais para fazer cálculos
que hoje são feitos por uma simples calculadora, devemos essa evolução à
capacidade de os microcontroladores realizarem essas funções de uma forma
muito eficiente e, além de tudo, muito compacta.
Um microcontrolador possui, dentro de um único chip, todos os componen-
tes dos primeiros computadores (MONK, 2017). É como se o microcontrolador
fosse um “minicomputador” contendo o sistema de processamento, a memória
volátil e não volátil e periféricos. Um microcontrolador pode ter uma série de
periféricos, os mais comuns são painel de LED, display LCD e dispositivo
de entrada de dados.
Existem diversos tipos de microcontroladores; por exemplo, o microcon-
trolador ATmega328 é utilizado em placas Arduino Uno (MONK, 2017). A
Figura 2 mostra como é organizada a estrutura desse microcontrolador.
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UART (interface serial de dados)

2 KB RAM 32 KB flash
(memória memória
de trabalho) flash

1 KB
EEPROM CPU
(não volátil)

Portas de entrada/saída

Figura 2. Modelo de microcontrolador: ATmega328.


Fonte: Adaptada de Monk (2017).

O centro do microcontrolador, ou o cérebro, se você preferir, também é


a CPU — esse núcleo é responsável pelo processamento das informações e
do controle das atividades do microcontrolador. A CPU acessa os dados de
programas que se encontram na memória flash, processa e armazena tempo-
rariamente as informações necessárias para o processamento. Ela também vai
ser responsável pela manipulação da memória definitiva, ou não volátil, que,
no caso do microcontrolador, é um tipo de memória EEPROM.
Como o microcontrolador possui memória não volátil, isso significa que o
dispositivo é capaz de armazenar pequenas informações que permaneceram
armazenadas mesmo que o microcontrolador seja desligado.
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Diferenças entre microprocessador e


microcontrolador
Existem várias diferenças entre microcontroladores e microprocessadores,
tanto no âmbito da arquitetura quanto para as funções que esses dispositivos
vão desempenhar. Os microprocessadores geralmente estão presentes em
dispositivos como notebooks, desktops e smartphones, já que são reservados
para produtos que exigem melhor desempenho.
Os processadores funcionam por meio da comunicação com outros dis-
positivos de entrada e saída que permitem o acesso à memória e aos outros
periféricos que compõem um computador (PAIXÃO, 2014). Nas palavras
de Delgado e Ribeiro (2017, p. 138), “É tentador dizer que o processador é o
módulo mais importante de um computador. O fato é que, sem memória, um
computador pouco ou nada faz e, sem periféricos, nem sequer se consegue
comunicar com ele para programá-lo”.
Quer dizer, é comum a afirmação de que o processador é o cérebro, ou o
coração, do computador, mas apenas ele não é suficiente para o funcionamento
de um computador. Em termos técnicos, isso significa que o microprocessa-
dor é, na verdade, o hardware mais complexo que compõe um computador
(DELGADO; RIBEIRO, 2017).
Enquanto os microprocessadores são voltados para computadores, os
microcontroladores foram desenvolvidos para sistemas embarcados. Isso
significa que a maneira que os softwares são executados em um processador
e um microcontrolador também são diferentes.
Enquanto um microprocessador executa as instruções de um software que é
instalado em um sistema operacional e armazenado na memória definitiva, em
um microcontrolador o software roda diretamente no hardware. Isso porque
não há um intermediário entre o software e o processador, como no caso dos
microprocessadores para computadores convencionais.
Apesar de o microcontrolador geralmente não possuir um sistema operacio-
nal ele tem um software que já vem instalado de fábrica, que será responsável
pela interpretação e comando do dispositivo. Gimenez (2010) explica que este
software é chamado de firmware, um programa armazenado em memória não
volátil que tem a finalidade de programar a forma de operação do hardware.
Os microprocessadores recebem instruções do sistema operacional em
diversas linguagens de alto nível; já um microcontrolador é geralmente pro-
gramado em linguagem C ou Assembly.
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A linguagem C é uma das linguagens mais usadas no mundo e, principalmente, no


âmbito da eletrônica. Ela é uma linguagem procedural de alto nível capaz de manipular
a memória do computador. A linguagem C é muito utilizada para a programação de
sistemas embarcados e se constituiu como uma alternativa muito mais simples, se
compararmos à linguagem Assembly. Apesar de a linguagem C ter surgido por volta
de 1970, ela está em constante atualização até os dias de hoje.

Diferentemente dos microprocessadores, que estão presentes nos compu-


tadores e outros dispositivos similares, os microcontroladores estão presentes
em sistemas mais simples e geralmente são responsáveis por realizar tarefas
específicas — como já exemplificado, nos eletrodomésticos, carros e brin-
quedos eletrônicos.
Do ponto de vista da arquitetura, os microcontroladores são bastante
limitados, se comparados à capacidade de processamento de um micropro-
cessador; contudo, os microcontroladores são totalmente autossuficientes e
podem ser adicionados a dispositivos de automatização residencial e industrial
com facilidade (GIMENEZ, 2010).
Em outras palavras, o microprocessador é um circuito integrado encar-
regado do processamento de informações, contendo uma unidade lógica e
aritmética e registradores, que precisa de componentes externos para realizar
as suas tarefas. Já o microcontrolador é um circuito integrado que engloba um
microprocessador, memórias, portas seriais, conversores de entrada e saída de
dados, consistindo em um computador organizado em um único chip.
Tanto os microprocessadores quanto os microcontroladores desempe-
nham funções fundamentais nos dispositivos eletrônicos, cada um em uma
área específica. Sem os microcontroladores não teríamos uma infinidade
de produtos eletrônicos programáveis que facilitam a nossa vida; já sem os
microprocessadores não teríamos todos os recursos que usamos diariamente,
como os smartphones que usamos a todo momento no nosso cotidiano.
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Sistemas microcontrolados e suas limitações


Como você já viu, um microcontrolador consiste em um pequeno computador
completo em um único chip e normalmente faz parte de sistemas embarcados.
De acordo com Oliveira e Andrade (2010), um sistema embarcado consiste
em uma unidade de processamento fixado a um circuito impresso. Dentro
desse sistema, um software é responsável por controlar todas as ações. Em
outras palavras, o software está embarcado na unidade de processamento.
Um sistema embarcado nada mais é que um computador embutido em um
sistema programado para realizar uma tarefa específica, que geralmente não
exige grandes proporções de processamento ou espaço de armazenamento para
o programa que ele irá executar. Esse tipo de sistema é muito útil, pois traz
em uma pequena placa todas as funções básicas de um pequeno computador
com um baixo custo. É por esse motivo que os microcontroladores são tão
populares nos dispositivos eletrônicos do nosso cotidiano.
Sem dúvida a utilização de sistemas embarcados tem suas vantagens,
como a redução de custos de componentes externos e a redução de pinos do
encapsulamento, simplificação do circuito e diminuição das dimensões de
montagem. Contudo, esses sistemas também têm limitações. Veja a seguir
algumas delas.

„„ Capacidade de processamento limitada: a CPU de um microcontrola-


dor é muito mais simples, lenta e menos potente se comparada à de um
microprocessador — embora essa limitação não seja propriamente um
problema, já que os sistemas embarcados são destinados a aplicações
que não costumam exigir grande capacidade de processamento de
informações. Dessa forma, assim como as características do hardware
são limitadas, o software que pode ser gravado e executado por um
microcontrolador em um sistema embarcado é bastante limitado, se
comparado aos softwares que podem rodar em um sistema comum.
Basta analisar as especificações técnicas de um microcontrolador e
compará-las com as de um processador.
„„ Manutenção limitada: por ser um sistema embarcado, todos os compo-
nentes estão conectados a uma única placa. Isso significa que, normal-
mente, qualquer falha que ocorrer na placa acarretará na substituição
completa do sistema, já que não há como substituir apenas a unidade
de processamento ou a unidade de memória.
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Imagine que todas as placas internas do seu computador estão grudadas e não podem
ser removidas individualmente. Então você descobre que precisa substituir a memória
RAM do seu computador, mas, como todos os dispositivos são integrados, você
precisará substituir o computador inteiro. Isso causaria um grande prejuízo. Felizmente,
no caso dos computadores, até certo ponto, alguns itens de hardware podem ser
substituídos individualmente.

Apesar de sistemas microprocessados terem certas limitações, é certo que


a utilidade desses recursos não é menor, uma vez que eles atendem às funções
para as quais foram desenvolvidos. Entretanto, os profissionais que trabalham
com esse tipo de sistema precisam saber conviver com essas limitações.
Imagine que você precisa escrever um programa em C para que determinado
microcontrolador seja capaz de ligar todos os dias em uma hora específica,
além de realizar outros controles simples, como emitir sons, ou acender LEDS
em outros horários.
Quando o programador desenvolver um programa para o microcontrolador,
ele deverá considerar, em primeiro lugar, a linguagem correta (que normal-
mente é C) e, em segundo lugar, que haverá pouco espaço para armazenar o
programa e, além disso, pouca capacidade de memória e de processamento
para executar esse programa. Nesse sentido, a limitação do ponto de vista do
software cria uma situação bem diferente da que programadores para softwares
que rodam em computadores convencionais, já que tanto o espaço quanto a
capacidade de processamento são elementos extremamente importantes a
serem considerados durante o processo de desenvolvimento de sistemas que
envolvam tecnologias embarcadas.

DELGADO, J.; RIBEIRO, C. Arquitetura de computadores 5. ed. atual. Rio de Janeiro: LTC, 2017.
GIMENEZ, S. P. Microcontroladores 8051: teoria e prática. São Paulo: Érica, 2010.
MONK, S. Programação com Arduino: começando com sketches. 2. ed. Porto Alegre:
Bookman, 2017. (Série Tekne).
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OLIVEIRA, A. S. de; ANDRADE, F. S. de. Sistemas embarcados: hardware e firmware. 2.


ed. São Paulo: Érica, 2010.
PAIXÃO, R. R. Arquitetura de computadores. São Paulo: Érica, 2014.
STALLINGS, W. Arquitetura e organização de computadores. São Paulo: Prentice Hall, 2002.

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