Você está na página 1de 3

ORWELL, George. 1984. 17.e. São Paulo: Ed. Nacional, 1984.

Tradução: Wilson
Velloso.

[...] as patrulhas não tinham importância. Só importava a Polícia do Pensamento. Pág.


08

Tinha-se que viver – e vivia-se por hábito transformado em instinto – na suposição de


que cada som era ouvido e cada movimento examinado, salvo quando feito no escuro. –
pág. 08

O Ministério da Verdade – ou Miniver, em Novalíngua – era completamente diferente


de qualquer outro objeto visível. Era uma enorme pirâmide de alvíssimo cimento
branco, erguendo-se, terraço por terraço, trezentos metros sobre o solo. De onde estava
Winston conseguia ler, em letras elegantes colocadas na fachada, os três lemas do
Partido:
Guerra é Paz
Liberdade é Escravidão
Ignorância é Força. – pág. 09

A Polícia do Pensamento o apanharia do mesmo modo. Cometera – e teria cometido,


nem que não levasse a pena ao papel – o crime essencial, que em si continha todos os
outros. Crimidéia, chamava-se. O crimidéia não era coisa que pudesse ocultar. – pág. 22

E era sempre à noite – as prisões eram sempre à noite. O súbito arranco do sono, a mão
rude sacudindo o ombro, as luzes ferindo os olhos, o círculo de caras implacáveis em
torno da cama. Na vasta maioria dos casos não havia julgamento, nem notícia da prisão.
As pessoas simplesmente desapareciam, sempre durante a noite. O nome do cidadão era
removido dos registros, suprida toda menção dele, negada sua existência anterior, e
depois esquecido. Era-se abolido, aniquilado, vaporizado era o termo corriqueiro. – pág.
22.

“Sra”. era termo um tanto antipatizado pelo partido – o correto era chamar todo mundo
de “camarada” – mas com certas mulheres era usado instintivamente. – pág. 23.

Lá embaixo, na rua, o vento ainda fustigava o cartaz rasgado, e a palavra INGSOC ora
aprecia ora desaparecia. Ingsoc. Os princípios sagrados do Ingsoc. Novilíngua,
duplipensar, a mutabilidade do passado. Sentiu-se como quem vagueia nas florestas do
fundo do mar, perdido num mundo monstruoso onde ele próprio era o monstro. Estava
só. O passado morto, o futuro inimaginável. – pág. 28.

Nada pertencia ao indivíduo, com exceção de alguns centímetros cúbicos dentro do


crânio. – pág. 29.

“Quem controla o passado”, dizia o lema do Partido, “controla o futuro; quem controla
o presente, controlada o passado”. – pág. 36

Seu espírito mergulhou no mundo labiríntico do duplipensar. Saber e não saber, ter
consciência de completa veracidade ao exprimir mentiras cuidadosamente arquitetadas,
defender simultaneamente duas opiniões opostas, sabendo-as contraditórias e ainda
assim acreditando em ambas; usar a lógica contra a lógica, repudiar a moralidade em
nome da moralidade, crer na impossibilidade da democracia e que o Partido era o
guardião da democracia; esquecer tudo quanto dosse necessário esquecer, trazê-lo à
memória prontamente no momento preciso, e depois torná-lo a esquecer; e acima de
tudo, aplicar o próprio processo ao processo. Essa era a sutileza derradeira: induzir
conscientemente a inconsciência, e então, tornar-se inconsciente do ato de hipnose que
acabava de realizar. Até para compreender a palavra “duplipensar” era necessário usar o
duplipensar. – pág. 36.

Tenho a impressão de que imaginas que o nosso trabalho consiste principalmente em


inventar novas palavras. Nada disso! Estamos é destruindo palavras – às dezenas, às
centenas, todos os dias. Estamos reduzindo a língua à expressão mais simples. A
Décima Primeira edição não conterá uma única palavra que possa se tornar absoleta
antes de 2050. – pág. 51 (Syme para Winston).

É lindo destruir palavras. Naturalmente, o maior desperdício é nos verbos e adjetivos,


mas há centenas de substantivos que podem perfeitamente ser eliminados. Não apenas
os sinônimos; os antônimos também. – pág. 52(Syme para Winston).

No fim, tornaremos a crimidéia literalmente impossível, porque não haverá palavras


para expressá-la. Todos os conceitos necessários serão expressos exatamente por uma
palavra, de sentido rigidamente definido, e cada significado subsidiário eliminado,
esquecido. – pág. 52 e 53 (Syme para Winston).

O objetivo do Partido não era simplesmente impedir que homens e mulheres criassem
lealdades difíceis de controlar. Seu propósito real, não declarado, era roubar todo o
prazer ao ato sexual. Não tanto o amor como erotismo era o inimigo, tanto dentro como
fora do casamento. Todos os casamentos entre membros do Partido tinham de ser
aprovados por um comitê nomeado para esse fim e - a permissão era sempre recusada se
o casal desse a impressão de haver qualquer atração física. O único fim reconhecido do
casamento era procriar filhos para o serviço do Partido. - pág. 65

O bom senso era heresia das heresias. E o que mais aterrorizava não era que matassem o
cidadão por pensar diferente, mas a possibilidade de terem razão. - pág. 78

Na verdade, pouquíssima gente escrevia cartas. Quando, ocasionalmente, havia


necessidade de se mandar uma comunicação, existiam cartões postais impressos com
longas listas de frases, e o cidadão riscava as que não se aplicavam. - pág. 104

- Odeio a pureza, odeio a virtude. Não quero que exista virtude alguma, em parte
nenhuma. Quero que todos sejam corruptos até os ossos. - pág. 118 - Winston
reclamando da sociedade idealizada.

... as crianças eram sistematicamente atiradas contra seus pais, e ensinadas a espioná-los
e a denunciar os seus desvios. Dessa forma a família se tornara uma extensão da Polícia
do Pensamento. Era um meio pelo qual todo mundo podia ser cercado, noite ou dia, por
delatores que o conheciam intimamente. - pág. 126.

Espera-se que até mesmo o mais humilde membro do Partido seja competente,
industrioso e inteligente, dentro de estreitos limites, porém é também necessário que
seja um fanático crédulo e ginorante, cujas reaçoes principais sejam medo, ódio,
adulação e triunfo orgiástico. Em outras palavras, é necessário que ternha mentalidade
apropriada ao estado de guerra. Não importa que de fato haja uma guerra e, como não é
possível uma vitória decisiva, pouco importa que a guerra vá bem ou mal. – pág. 180.
Em Novilíngua não existe palavra para “ciência”. O método empírico de raciocínio, no
qual se basearam todos os desenvolvimentos passados, se opõe aos principios
fundamentais do Ingsoc. – pág. 181.

Na Oceania, a filosofia dominante é chamada Ingsoc, na Eurásia é chamada


Neobolchevismo, e na Lestásia é conhecida por uma palavra chinesa em geral traduzida
por Adoração da Morte, mas que poderia melhor chamar Obliteração do Ego. (...) Na
verdade as três filosofias maçl se distinguem umas das outras, e os sistemas sociais de
que são base não se distinguem de modo algum. Por toda parte há a mesma estrutura
piramidal, a mesma adoração de um chefe semidivino, a mesma economia que existe
para a guerra contínua. – pág. 184 e 185

Na filosofia, religião, ética ou política, dois e dois podem ser cinco, mas quando se
desenha um canhão ou um aeroplano, somam quatro. – pág. 185

O objetivo desse strês grupos são inteiramente irreconciliáveis. O objetivo da Alta é


ficar onde está. O da Média é trocar de lugar com a Alta. E o bjetivo da Baixa, quando
se tem objetivo – pois é caracterpistica constante da Baixa viver tão esmagada pela
monotomia do trabalho cotidiano que só intemritentemente tem consciência do que
existe fora de sua vida – é abolir todas as distinções e criar uma sociedade em que todos
sejam iguais. – pág. 189

O socialismo teoria aparecida no início do século dezenove e o último elo duma cadeia
de pensamento que se iniciava nas rebeliões dos escravos antigos, ainda estava
profundamente infeccionado pelo Utopismo do passado. Mas em cada variante de
Socialismo que apareceu de 1900 para cá, o propósito de estabelecer a liberdade e a
igualdade ia sendo abandonado cada vez mais abertamente. – pág. 190
Ninguém nunca viu o Grande Irmão. É uma cara nos tapumes, uma vez nas teletelas.
Podemos ter razoável certeza de que nunca morrerá, e já existe considerável incerteza
da fata em que nasceu. O Grande Irmão é a forma em que o Partido resolveu se
apresentar ao mundo. – pág, 195

O Ministério da Paz ocupa-se da guerra, o da Verdade, com mentiras, o do Amor com a


tortura e o da Fartura com a fome. Essas condições não são acidentais, nem resultam de
hipocrisia ordinária: são exercícos constantes do duplipensar. Pois é só reconciliando
contradições que se pode ter reter infinitamente o poder. – pág. 202

Não tem liberdade de escolha em direção alguma. Por outro lado, seus atos não são
regulados pela lei nem por nenhum código legal, claramento formulado. (...) Os
membros do Partido não só deve ter as opiniões certas, como os instintos certos. – pág.
197

A ordem dos antigos despostismos era “tu não farás”. Os totalitários mudaram para “tu
farás”. Nossa ordem é “tu és”. – páqg. 237.

Você também pode gostar