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CAPÍTULO III

POPULAÇÃO E SOCIEDADE
(SÉCULOS XIII-XV)

A ausência de registos quantificados sobre a população


portuguesa na Idade Média inviabiliza o cálculo
rigoroso dos seus números, distribuição no território ou
variações ao longo do tempo. Qualquer estimativa dos
montantes populacionais do reino depende de fontes
que, de forma indirecta, apenas permitem avaliações
mais qualitativas do que quantitativas dos fenómenos
demográficos. Além disso, a pouca documentação
disponível e com dados susceptíveis de aproveitamento
para iluminar este assunto levanta vários problemas de
crítica histórica, pois os documentos não se referem a
habitantes nem, sequer, a fogos (entendido o fogo como
unidade habitacional, como sucederá no século XVI com
o chamado Numeramento de 1527-153276), têm lacunas
para várias regiões do país e apresentam elementos a
que não é possível fazer corresponder directamente um
qualquer número de habitantes.

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A população e a sua distribuição pelo território
Só a partir de finais do século XIII surgem registos
que, pelo objectivo que pretendiam atingir e pelo
âmbito territorial coberto, permitem construir uma
imagem hipotética do que seria a distribuição
populacional no reino, dos tipos de povoamento em
presença e da importância relativa dos principais
núcleos urbanos. São os documentos de natureza militar
ou fiscal, elaborados por iniciativa da Coroa, os que nos
fornecem melhores, mais completas e fidedignas
indicações acerca da população, embora sempre de
forma indirecta. É, nomeadamente, o caso dos
chamados róis de besteiros do conto, que consistiam em
listas contendo o número de combatentes armados de
bestas (uma arma portátil para o arremesso de setas)
que cada concelho deveria fornecer em situação de
guerra, ou ainda o caso do registo relativo ao imposto
geral sobre os tabeliães do reino, lançado por D. Dinis
cerca de 1287-1290, embora sem dados relativos ao
Algarve, ou finalmente da chamada lista das igrejas de
1320-1321 (cf. Mapa I.6), na qual se fixava a
importância que o mesmo monarca deveria recolher das
rendas eclesiásticas para fins militares, de acordo com a
concessão que lhe fizera o papa João XXII. Assim, tal
como o número de besteiros a fornecer por cada
município permite avaliar da sua importância e da sua
dimensão populacional relativa, também o número de
tabeliães estabelecidos em cada concelho e o montante

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do imposto a pagar por eles possibilita entrever quais os
de maior dimensão e de mais intenso dinamismo socio-
económico; quanto à distribuição espacial das igrejas
constantes da referida lista, ela permite fazer uma
extrapolação para o tipo de povoamento e para a maior
ou menor concentração populacional existente numa
dada região77.
Da análise conjunta dos documentos com informação
relevante para o conhecimento da população portuguesa
entre os séculos XIII e XV (cf. Mapa I.7) é possível
concluir que a região mais povoada era a de Entre-
Douro-e-Minho, onde seria maior a densidade
populacional e mais disperso o povoamento. Seguia-se
parte das actuais Beira Alta e Beira Litoral, abarcando
os actuais distritos de Aveiro, Viseu, Guarda e
Coimbra. As regiões menos povoadas situavam-se em
Trás-os-Montes, sobretudo na sua parte ocidental,
correspondente às serranias do Marão e do Barroso, nas
serras da Estrela e da Lousã e a sul do Tejo, em certas
zonas dos actuais distritos de Portalegre e de Évora e,
sobretudo, no Baixo Alentejo e na serra algarvia. Na
actual Beira Baixa e, sobretudo, a sul do Tejo o
povoamento era concentrado, com as povoações a
interromperem de longe em longe a solidão de uma
paisagem desabitada e quase sem intervenção humana.
Até ao final do século XIII e embora existissem já
importantes cidades situadas no litoral, como eram os
casos de Lisboa e do Porto, a população portuguesa não
se concentrava na orla costeira, como tenderá a suceder

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mais tarde, distribuindo-se também pelo interior, nas
zonas mais férteis de planícies ou vales de rios, bem
como nas regiões fronteiriças do Alto Minho, da Beira e
até do Alto Alentejo, aproveitando as rotas comerciais
terrestres com a Galiza e com Castela. A principal
cidade era Lisboa, de longe a maior e mais populosa,
tendência que se irá acentuando ao longo do tempo.
Entre os finais do século XII e o termo do seguinte
Lisboa terá duplicado a sua população, passando para
cerca de 10 mil habitantes78; no fim do século XIV
contaria com cerca de 35 mil79. Os outros centros
urbanos ficariam muito aquém daquela que cedo se
tornou «cabeça do reino»: o Porto teria pouco mais de 4
mil habitantes por volta de 140080, Santarém, Évora
(esta, a par do Porto, provavelmente a segunda ou
terceira cidade portuguesa no final da Idade Média),
Braga, Guimarães, Viseu, Coimbra, Leiria, mas também
Bragança, Chaves, Ponte de Lima, Guarda, Trancoso,
Lamego, Elvas, Silves constituíam os núcleos urbanos
de maior dimensão no Portugal da época81.
Em função da tendência geral verificada no Ocidente
europeu, de crescimento demográfico entre os séculos X
e XIII, tendência essa confirmada por indícios também
detectáveis na Península Ibérica e na sua parte ocidental
(fundação de novas povoações, concessão de cartas de
foral, desbravamento e arroteamento de terras, aumento
do número de casais por freguesia, deslocação de
povoadores no sentido norte-sul), a população do reino

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português terá aumentado ou, no mínimo, ter-se-á
mantido constante até cerca de 1300. Por conjectura e
para o princípio do século XIV, considera-se geralmente
que o montante global da população do reino se situaria
entre um milhão e um milhão e meio de habitantes,
sendo mais provável um número próximo do primeiro
destes valores ou que nem sequer o atingisse. Mesmo
tomando o valor máximo de um milhão e meio,
teríamos uma densidade populacional inferior a 17
habitantes por quilómetro quadrado82, embora com
consideráveis variações regionais, particularmente
contrastantes, por exemplo, no que respeitava ao Entre-
Douro-e-Minho e ao Alentejo.
No século XIV e sobretudo depois da Peste Negra, que
se difundiu pelo território português a partir da
Primavera ou do Outono de 1348, a população
diminuiu, embora também não seja possível avaliar com
precisão a quebra provocada por este flagelo. De facto,
não existem dados empíricos para elaborar qualquer
espécie de cálculo, sabendo-se apenas que em certas
pequenas comunidades de alguns centros urbanos os
efeitos foram absolutamente devastadores. Há, de resto,
inúmeras referências a lugares de norte a sul do reino
que se despovoaram ou que viram diminuir o número
dos seus habitantes. Ainda ao longo do século XV, o
número de besteiros do conto de cada concelho tendeu a
diminuir, em função da alegada quebra do número de
habitantes e da sua capacidade económica.
De facto, mesmo depois de 1348 a peste manter-se-ia

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a nível endémico, registando-se repetidos surtos na
segunda metade do século XIV e ao longo do seguinte. A
fragilidade do sistema imunitário das populações,
relacionada com um tipo de alimentação com carência
de vitaminas, com a subnutrição crónica devida à
sucessão de maus anos agrícolas e à escassez de cereais,
a par das profundas deficiências da higiene pública que
facilitavam o contágio e a progressão das doenças, bem
como a inexistência de medicamentos e de tratamentos
adequados, tudo contribuiu para que novas ocorrências
de peste provocassem um considerável número de
vítimas, dificultando, deste modo, o aumento da
população. Importa sublinhar que a esperança média de
vida, ao longo da Época Medieval, não ia muito além
dos 40 anos e que era pouco frequente atingir-se os 60
ou 70.
As diferenças regionais, quer na distribuição
populacional quer no tipo e na data do povoamento, ter-
se-ão também reflectido na respectiva evolução
demográfica. Assim, para as regiões a sul do Tejo, entre
1320 e 1422, a população terá passado de cerca de 15
por cento para cerca de 30 por cento do total do reino,
para se cifrar em cerca de 24 por cento em 1462. Estes
valores apontariam para uma tendência de crescimento
na referida região até ao início do século XV (ou de
declínio menos acentuado do que noutros locais, a partir
de 1348), o que se pode compreender em função do
facto de o Sul ser de colonização mais recente e,
portanto, o seu peso demográfico estar a progredir no

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conjunto do reino. Esta tendência seria, no entanto,
seguida de um declínio relativo ao longo do século XV,
o que, numa conjuntura de recuperação demográfica
geral como a que se viveu a partir de 1450, pode ser
interpretado como sinal de uma estagnação regional ou
de uma retoma menos acentuada83.
Quanto aos mais importantes centros urbanos, tanto
do ponto de vista demográfico como do ponto de vista
das actividades económicas, a sua capacidade de
atracção das populações fez-se sentir com grande
intensidade sobretudo nos séculos finais da Idade
Média, o que constituiu, aliás, uma tendência não
exclusivamente portuguesa. O afluxo populacional às
cidades e vilas fará com que as principais urbes
cresçam, mesmo numa conjuntura de quebra
demográfica geral como a que caracterizou o século XIV
e a primeira metade do XV. Este fenómeno terá sido
particularmente intenso em Lisboa, como o demonstram
as recorrentes dificuldades de abastecimento da cidade,
principalmente em cereais, e o considerável
alargamento da cerca que a defendia, nomeadamente
com a construção da chamada Muralha Fernandina, ou
ainda o aumento da superfície urbana de cerca de
16 hectares na altura da conquista cristã para cerca de
60 hectares no final do século XIII e para cerca de 103
hectares em 1375, já no reinado de D. Fernando84.
Além de se ter tornado o centro político do reino,
onde a corte régia permanecia por mais tempo e em

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cujo castelo se guardava o arquivo da Coroa e uma
parte substancial do tesouro, Lisboa possuía um peso
económico e uma dinâmica social que explicam a
crescente importância que foi assumindo ainda nos
tempos medievos. A sua localização numa região fértil,
junto à foz do Tejo, dispondo de um porto fluvial-
marítimo a meio-caminho entre a Europa do Norte e o
mundo mediterrânico, conferia à cidade um conjunto de
características que marcaram de forma indelével a sua
evolução e a sua especificidade. E se isso foi nítido para
os naturais do reino, também não passou despercebido
aos oriundos de outras paragens, nomeadamente
àqueles que desenvolviam actividades comerciais a
distância, por via marítima. Daí que sobretudo a partir
do século XIV e, em maior medida, na centúria seguinte
se tenham fixado em Portugal, e principalmente em
Lisboa, várias colónias de estrangeiros ligados ao
comércio marítimo. Entre eles destacavam-se os
italianos (sobretudo genoveses, placentinos e
milaneses), catalães e, em menor medida, ingleses,
flamengos, alemães e franceses. Se bem que em escasso
número e, portanto, sem significado demográfico digno
de nota, pois limitavam-se às respectivas famílias e aos
seus servidores, a sua presença revestiu-se de
importante significado económico, contribuindo para
incrementar os laços entre Portugal e outras paragens da
Europa, ao mesmo tempo que se iam tecendo as
ligações que haveriam de contribuir para acentuar a
vertente marítima e atlântica do reino.

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Além da população cristã, que constituía a grande
maioria dos habitantes, existiam desde os primórdios do
reino duas importantes minorias étnico-religiosas. Os
mouros, membros das populações muçulmanas
submetidas após a Reconquista cristã, estavam
sobretudo presentes nos núcleos urbanos do Centro e do
Sul do reino, organizando-se com relativa autonomia e
habitando nas mourarias, comunas ou «bairros»
próprios85 que se podiam encontrar em Leiria,
Santarém, Lisboa, Sintra, Almada, Elvas, Évora,
Alcácer do Sal, Beja, Loulé, Silves, Tavira e em muitos
outros lugares. Trabalhavam na agricultura ou em
determinados mesteres nos quais demonstravam uma
certa especialização (como a olaria, por exemplo). O
seu estatuto social e o seu peso político eram muito
reduzidos, embora lhes fosse reconhecida e geralmente
tolerada uma identidade cultural e religiosa própria.
Não sendo possível fazer uma estimativa dos seus
efectivos ao longo do tempo, a tendência terá sido para
a sua progressiva integração e assimilação pela restante
sociedade, ao longo da Idade Média.
A outra minoria que, tal como a primeira, estava
sujeita a tributos especiais era constituída pelos judeus,
cujas comunidades sociais e residenciais, as judiarias,
se encontravam espalhadas pelos centros urbanos, de
norte a sul do reino. Estando mais de trinta
documentadas para o século XIV, as judiarias
ultrapassariam as 140 no século XV. No final desta
centúria os judeus seriam, em Portugal, cerca de 30 mil,

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correspondendo a 3 por cento de uma população de um
milhão de habitantes86. Trabalhavam em actividades
artesanais ou mercantis, dispondo, em geral, de maior
peso económico e importância social do que os mouros.
Vários foram os judeus que, por exemplo, exerceram
medicina junto da corte régia, sendo mesmo designados
como «físicos do rei», ou a quem os monarcas
concederam a recolha de rendas da Coroa, mediante o
pagamento de um determinado montante.

Actividades económicas e grupos sociais


A sociedade cristã da Reconquista ibérica era
essencialmente rural e guerreira. Sobretudo nas regiões
mais próximas das zonas fronteiriças entre os reinos do
Norte e os domínios islâmicos, a dimensão militar foi
muito importante até ao século XIII, independentemente
de não se viver num estado permanente de beligerância
aberta. Se a primeira vocação da nobreza era a
actividade guerreira e se a própria monarquia
portuguesa se impusera devido a essa «marca genética»,
as consequências de uma sociedade organizada para a
guerra faziam-se sentir também na hierarquização social
existente nos concelhos. Como vimos anteriormente87,
a classificação dos seus habitantes em peões e
cavaleiros vilãos remetia para uma organização da
sociedade concelhia estruturada em função da guerra. A
distinção entre peões (combatentes apeados) e
cavaleiros (aqueles que combatiam a cavalo e, portanto,

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dispunham dos meios materiais para manter a
respectiva montada e o equipamento bélico que lhe
estava associado) marcava a diferença de estatuto socio-
jurídico e a consequente estratificação social. Estas
designações, presentes nos forais ou na legislação,
permaneceriam muito para além das situações de
guerra, esvaziando-se progressivamente o seu sentido
literal.
É claro que a estrutura material e as condições sociais
do reino não se mantiveram inalteradas ao longo deste
período. Além da situação periférica, o território do
reino de Portugal revelava uma inegável pobreza em
termos de recursos naturais e as suas populações
sofreram por isso uma crónica escassez de géneros e
produtos essenciais. Quer as várias medidas legislativas
proibindo a saída do reino de metais preciosos ou
mesmo de outros metais (neste caso, necessários para o
fabrico de armas, por exemplo), quer ainda uma
produção cerealífera que desde cedo se revelou
deficitária para satisfazer as necessidades de consumo e
que assim se manteria ao longo dos tempos, ilustram
bem as carências estruturais de um reino que surgiu e se
consolidou essencialmente como uma construção
política. De facto, nada na geografia física ou humana,
na economia ou na tradição das regiões que o vieram a
compor determinava que se destacasse da restante
Península o rectângulo que veio a constituir-se como o
reino mais ocidental da Europa. E não obstante o atraso
tantas vezes ditado pela distância e pelas dificuldades

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de comunicação com os centros europeus de maior
dinamismo, a Portugal haviam de chegar também os
efeitos das profundas alterações técnicas e das
inovações nas actividades económicas, sociais e mesmo
culturais que o Ocidente conheceu sobretudo a partir de
finais do século XI88.
O ciclo longo de expansão demográfica e económica
pelo qual o Ocidente europeu passou desde aquela
época e até ao final do século XIII assentou num
aumento da produção e num desenvolvimento do
comércio que acarretaram grandes transformações a
todos os níveis da sociedade. Muitos factores
concorreram para aumentar e diversificar a produção
agrícola, nomeadamente as novas técnicas e processos
de exploração agrária, entre os quais se destacaram, por
exemplo, o arroteamento de novas terras conquistadas
para a agricultura, o afolhamento trienal dos terrenos
cultivados, a introdução de novas culturas,
nomeadamente leguminosas, que aumentavam a
fertilidade da terra, uma melhor e mais frequente
utilização de fertilizantes naturais, o incremento do
cultivo da vinha, a maior utilização de componentes de
ferro nos utensílios agrícolas, os novos sistemas de
atrelagem de animais aplicados aos transportes ou aos
trabalhos do campo, ou ainda a difusão da charrua para
lavrar mais rápida e profundamente a terra. Por outro
lado, a multiplicação dos moinhos de água, primeiro, e
de vento, depois, o aperfeiçoamento de instrumentos de
produção, como os teares ou os fornos para a fundição

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de metais, ou ainda os progressos verificados na
exploração das minas contribuíam também para o
incremento da produtividade e para o crescimento
global das actividades económicas. É claro que todas
estas transformações não tiveram lugar ao mesmo
tempo e que os seus efeitos não se fizeram sentir de um
momento para o outro. Pelo contrário, embora muitas
destas inovações viessem já do século XI nas regiões
europeias em que fora mais precoce o arranque deste
ciclo de crescimento, muitas delas só chegaram ao
extremo ocidental da Península Ibérica e só se terão
difundido aqui durante o século XIII ou mesmo no
seguinte89. E a sua introdução e difusão terão variado
consideravelmente conforme as regiões, sendo provável
que para a aplicação das novas técnicas e dos novos
processos tenham contribuído de modo decisivo as
casas monásticas possuidoras de grandes domínios.
Pelas suas ligações a casas homólogas também elas
detentoras de importantes patrimónios fundiários e
situadas nas regiões europeias onde aquelas
transformações tinham tido lugar há mais tempo e
haviam produzido bons resultados, certos mosteiros
portugueses terão desempenhado um papel de
vanguarda na forma de exploração e rentabilização da
terra, como sucedeu com os da Ordem de Cister,
sobretudo com o Mosteiro de Alcobaça, fundado em
1153 por iniciativa de D. Afonso Henriques e que se
transformou num importante centro de produção e de

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povoamento na sua extensa zona de influência, na área
do litoral entre o Mondego e o Tejo.
Embora com os atrasos inerentes à sua posição
periférica, Portugal recebia e acolhia as inovações
técnicas e as novas ideias oriundas da Europa
transpirenaica. O desenvolvimento das relações
comerciais, associadas ao surto de crescimento referido
e à regular produção de excedentes que podiam ser
colocados no mercado, multiplicava também os
contactos entre regiões da Europa, mesmo que muito
distantes entre si. Primeiro de forma esporádica, mas
intensificando-se a partir de meados do século XIII,
Portugal, através de cidades como Lisboa e o Porto,
integrou-se de forma activa nas rotas do comércio
marítimo, quer para a Europa Setentrional, quer para a
mediterrânica.
É verdade que o comércio nunca desaparecera por
completo, mesmo nos séculos mais recuados da
medievalidade. Mas, nessa época, as trocas a longa
distância tinham tido um carácter excepcional e
reduziam-se a uma curta lista, que integrava certos
produtos de luxo, metais preciosos, tecidos de
qualidade, algumas armas e pouco mais. Na Península
Ibérica e no caso português, só depois da conquista
definitiva de cidades como Santarém e Lisboa (1147)
ou Évora (1165) e, mais tarde, com a incorporação do
Algarve, se estabilizariam as condições para a prática
regular de um comércio a longa distância. No caso
daquela última cidade, ela permaneceu nas mãos dos

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portugueses mesmo depois da investida almóada de
1190 que praticamente fez recuar a fronteira com os
mouros até à linha do Tejo. A excepção de Évora, uma
espécie de enclave no meio de territórios novamente
dominados pelo Islão, poderá ter ficado a dever-se ao
interesse dos muçulmanos em assim manterem uma
espécie de entreposto para as trocas com os cristãos.
Durante a fase da Reconquista, as investidas militares
e as pilhagens que lhes estavam associadas tiveram,
também, uma dimensão de actividade económica. De
facto, o saque e a pilhagem constituíram meios
fundamentais para adquirir produtos de que não se
dispunha ou para acumular outros, desde o gado aos
cereais, passando pelos objectos de luxo e pelos metais
preciosos, amoedados ou sob a forma de objectos de
culto ou decorativos. Este figurino manteve-se ao longo
de séculos, com mútuas incursões dos dois campos em
confronto, mas com os cristãos a tirarem proveito da
maior riqueza e requinte da civilização islâmica e das
intensas ligações comerciais mantidas entre as cidades
do Garb e diferentes regiões do mundo muçulmano.
Com o fim da Reconquista portuguesa, em 1249,
deixou praticamente de ser possível adquirir produtos e
riquezas através da pilhagem das cidades islâmicas. É
verdade que elas ainda existiam na Andaluzia, mas essa
era uma área de conquista reservada a Castela. Para
Portugal, terminava, assim, um ciclo de economia
guerreira que correspondera, simultaneamente, a uma
economia essencialmente de autoconsumo à escala

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local. Um novo ciclo económico iria abrir-se, baseado
na produção e na troca comercial. Também aqui, e
depois da especificidade incutida pela Reconquista
peninsular, a tendência era para o alinhamento com o
que se passava na Europa de além-Pirenéus.
Ainda a este respeito, a moeda, que durante a Alta
Idade Média fora sobretudo objecto de entesouramento
por parte de reis e grandes senhores, e que começara a
circular quase apenas nos centros urbanos e nas regiões
onde se realizavam feiras, alastrou daí posteriormente
para os meios rurais. Num processo que, embora
variando de região para região, se terá intensificado a
partir de meados do século XII, a moeda assumiu um
papel cada vez mais importante no quadro da economia
de produção e de troca. Progressivamente, foi-se
impondo como um equivalente geral para o intercâmbio
de produtos, mas também para a transacção de bens (e,
nomeadamente, da terra), para o pagamento de rendas,
para a cobrança de direitos por parte do rei ou dos
senhores – enfim, para a avaliação do rendimento, da
riqueza e do poder dos indivíduos90.
Estas novas realidades reflectiram-se em múltiplas
vertentes da vida social. Os membros das elites
concelhias, até então genericamente integrados no
grupo dos cavaleiros vilãos, passaram a ser designados
por homens-bons. Como vimos, a primeira designação
era própria de uma sociedade organizada para a guerra,
na qual a supremacia social em meio urbano advinha do
estatuto inerente à posse de montada e de equipamento

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para o combate a cavalo. Com o fim do ciclo da
economia guerreira e com a transição para o novo ciclo
de uma economia baseada essencialmente na produção
e na troca, a lógica da hierarquização social passou a ser
outra. Havia que rentabilizar a terra como principal
fonte de riqueza, produzir não apenas para o
autoconsumo da comunidade local, mas também para
que fosse possível colocar excedentes nos mercados e,
assim, obter moeda, o equivalente geral que permitia
adquirir todos os produtos e bens e que fornecia novas
possibilidades de acumulação de riqueza. A actividade
bélica e os seus valores perdiam importância relativa
face às actividades económicas relacionadas com a
exploração da terra, a produção de gado e a
comercialização de produtos agro-pecuários ou
artesanais. Também em meio urbano, a posse e uma
eficaz exploração da terra constituíam a principal base
da riqueza e da distinção social que ela acarretava. Os
homens-bons eram, pois e sobretudo, esses habitantes
de cidades e vilas detentores de terra nos termos
concelhios e que dela retiravam os proventos em que
assentava uma condição económica favorecida face à
generalidade dos moradores do concelho. O seu peso
económico e o seu estatuto social tornavam-nos os
detentores dos cargos da administração e da
representação concelhia, nomeadamente nas Cortes, em
que passaram a ter assento regular em meados do
século XIII (seguramente, a partir das Cortes de Leiria de
1254).

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As transformações referidas e, nomeadamente, a
penetração da moeda em zonas rurais não se faziam
sentir apenas na imediação dos concelhos. Mesmo nas
áreas de mais forte presença senhorial assistia-se à
difusão da moeda, com os seus inevitáveis efeitos. Se a
moeda de ouro ou de prata escasseava e se destinava
mais ao entesouramento por parte dos poderosos do que
à circulação fiduciária, as moedas de ligas pobres (com
baixo teor de prata) ou de cobre chegavam também às
mãos dos camponeses, assim os integrando em circuitos
económicos mais amplos do que os que eram próprios
de uma produção meramente local. Apesar das
dificuldades impostas pela condição do campesinato e
das múltiplas formas de os senhores fazerem reverter
para si próprios a melhoria das capacidades produtivas
dos seus dependentes, a obtenção de moeda por parte
dos pequenos produtores agrícolas, nomeadamente
através da venda de excedentes ou de certos produtos
manufacturados, permitia a alguns deles a aquisição de
melhores instrumentos de trabalho, de uma ou outra
cabeça de gado ou, em casos mais felizes, até mesmo a
compra de terra.
Também os senhores tiveram de se adaptar aos novos
tempos e à necessidade de encontrarem formas
regulares de acesso à moeda. Esta era um meio
indispensável para adquirirem vários produtos, como
tecidos de qualidade, cavalos ou armas, por exemplo,
ou ainda para pagarem a assalariados; e era também,
cada vez mais, a principal forma de manterem ou

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aumentarem a sua riqueza. Daí que muitos senhores
tenham promovido a transformação das rendas que lhes
eram pagas em géneros ou serviços para rendas
cobradas em dinheiro. Este processo de monetarização
das rendas agrícolas, também ele comum ao Ocidente
europeu, sobretudo a partir de meados do século XIII, foi
lento e teve grandes variações regionais, mesmo no
espaço português; tanto mais que ao longo dos
séculos XIV e XV se fez sentir uma forte tendência para a
desvalorização da moeda e, portanto, para a diminuição
do valor real das rendas monetárias cujo montante fosse
fixo. Apesar das medidas tomadas pelos reis visando
contrariar esta depreciação, nomeadamente o
estabelecimento de uma equivalência ao que na
documentação portuguesa destas centúrias surge
designado como a «boa moeda antiga», a verdade é que
a redução das rendas a montantes irrisórios fez com que
por vezes se regressasse aos pagamentos em géneros,
expressos em fracções da produção (geralmente um
terço, um quarto ou um quinto) ou em quantidades fixas
do género em causa (determinado número de alqueires
de trigo, por exemplo).
Para multiplicarem os rendimentos e as suas
disponibilidades monetárias, os senhores tinham duas
vias. Ou aumentavam a pressão sobre os seus
dependentes a fim de lhes cobrarem rendas e direitos
mais elevados, ou melhoravam os processos de
exploração agrícola com vista a fazer crescer a
produção para poderem colocar excedentes no mercado.

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Os dois caminhos foram seguidos, o primeiro sobretudo
na segunda metade do século XIII. Todas as
transformações ocorridas e a maior ou menor
capacidade de adaptação a elas geraram diferenciações
nos vários grupos sociais, com alguns nobres a
investirem na rentabilização das suas terras, sobretudo
através da exploração indirecta, com a cedência de
parcelas a cultivadores que lhes pagavam rendas. Mas
também houve outros que, incapazes de se adaptarem
aos novos tempos, viram degradar-se a sua condição
económica e o seu prestígio social, sendo motivo de
chacota em canções de escárnio e de maldizer, como
sucedeu relativamente a um cavaleiro acusado de se
dispor a servir quem mais lhe pagasse e que assim «se
vendeu» «como asno no mercado»91.
Com o desenvolvimento da economia de produção e
de troca assistiu-se também, e como já foi dito, ao
incremento do comércio. Os seus agentes principais, os
mercadores de longa distância, mas também os
almocreves e bufarinheiros que se movimentavam num
âmbito regional ou, quando muito, deslocando-se entre
regiões do reino92, desempenharam um papel de
primeira grandeza na ligação entre vários espaços
económicos e na articulação entre regiões que assim se
complementavam do ponto de vista produtivo. As
relações que deste modo se estabeleciam e iam
consolidando foram fundamentais para a composição do
reino. Levando géneros e produtos de um lugar para o

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outro, abastecendo vilas e cidades, fornecendo as
matérias-primas aos mesteirais dos diversos ofícios, os
protagonistas do comércio, ainda que pouco numerosos
e sem nunca atingirem a dimensão dos grandes
mercadores de outras paragens europeias, ganharam
uma importância social digna de registo. A própria
Coroa desde cedo apoiou as actividades comerciais,
através da fundação de feiras e dos privilégios que lhes
foram concedidos, nomeadamente por D. Afonso III e
D. Dinis. (cf. Mapa I.10)
Sublinhe-se, no entanto, que o comércio não era a
actividade dominante na estrutura económica. Muitas
vezes as trocas eram feitas directamente pelos próprios
produtores, sem a intervenção dos comerciantes ou de
qualquer tipo de intermediários, sobretudo nas zonas
rurais. Por outro lado, o que em geral se comercializava
eram excedentes da produção, principalmente no que
respeitava a produtos agrícolas. A lógica e o objectivo
último do que se produzia não se orientavam para uma
sistemática obtenção de lucro; as actividades
especulativas eram marginais e socialmente
condenadas. Salvo raras excepções, e mesmo essas já
do final deste período (casos, por exemplo, do sal
produzido em vários locais da orla marítima continental
ou do açúcar da Madeira), a produção não se fazia em
larga escala para colocação no mercado e não visava
primordialmente a obtenção de lucros. Não obstante
uma ou outra situação excepcional, um ou outro caso
isolado de um grande mercador ou até de um senhorio

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monástico como Alcobaça ou Santa Cruz de Coimbra,
tanto ao nível da produção como do comércio estava-se,
pois, longe de uma qualquer forma de sistema mercantil
em larga escala ou, muito menos, de um «sistema
capitalista». Mesmo para os séculos finais da Idade
Média será anacrónico falar da constituição de um
espaço económico nacional ou, tão-pouco, de um
mercado nacional. Mas as comunicações e os elos entre
regiões de características diferenciadas e de tradições
diversas, integradas no território português em tempos
distintos, foram sendo estabelecidos e fomentados com
crescente regularidade. Lentamente, gradualmente, o
reino ia-se compondo. As diferenciações preexistentes,
as oposições que permaneciam, as complementaridades
manifestadas, as solidariedades entretanto construídas
acabavam por convergir no espaço político que era
Portugal. E assim, depois de se haver constituído como
entidade política autónoma, também no campo
económico e social o reino foi ganhando coesão e
tecendo o pano de fundo da sua identidade.
Apesar das intensas e profundas relações entre o
mundo rural e o mundo urbano e da cada vez maior
preponderância deste sobre aquele, nem por isso deixam
de ser detectáveis fortes diferenças na estrutura social
do campo e da cidade93. No primeiro caso, e fora das
áreas de influência concelhias, continuava a dominar o
regime senhorial. A grande distinção, a este nível, era
ainda a que separava os senhores da terra, com um
estatuto privilegiado, do campesinato, dependente dos

167
anteriores, embora em diferentes graus. De facto, entre
aqueles que trabalhavam a terra existiam diversos
grupos, com condições socio-económicas bem distintas.
Alguns, como os escravos, tinham uma existência
residual e tenderam mesmo a extinguir-se; a sua origem
remontava ao período da Reconquista, em geral
descendiam dos mouros e foram desaparecendo
naturalmente ou os seus descendentes foram sendo
progressivamente assimilados, passando a integrar
outras categorias sociais, embora sempre de baixa
condição. Os proprietários alodiais, donos e
cultivadores das suas próprias terras (alódios),
dispunham de pequenas propriedades e constituíam a
camada superior dos que trabalhavam o campo. As suas
dificuldades de manutenção em zonas senhoriais foram-
se agravando ao longo da segunda metade do
século XIII, uma vez que eram alvo da pressão dos
senhores, os quais lhes foram exigindo o pagamento de
certos tributos cuja origem era do âmbito do direito
público, mas das quais os senhores se haviam
apropriado, como era o caso da fossadeira (pagamento
que substituía a participação nas acções militares
ofensivas, denominadas fossado, e que remontava ao
período da Reconquista) ou da voz e coima (imposto
que recaía sobre aquele que cometera crimes de
homicídio, roubo, rapto, danos provocados em casa
alheia, etc.). Do mesmo modo, foram-lhes igualmente
exigidos direitos senhoriais como diversos tipos de
serviços, o que acentuou a sua dependência face aos

168
senhores e pôs em causa o estatuto de plena liberdade
destes proprietários livres que, em princípio, não
deveriam estar sujeitos às peias do regime senhorial.
A partir da segunda metade do século XIII e até ao
final da Idade Média, a tendência foi para o aumento do
número dos chamados foreiros, cultivadores por
contrato de aforamento (cuja duração era perpétua), de
emprazamento (com a duração geralmente estabelecida
em duas, três ou mais vidas, sendo sucessivamente
passado de geração em geração, dos primitivos
concessionários aos seus descendentes) ou, mais
raramente, de arrendamento (com a duração expressa
num determinado número de anos). Estes contratos de
tipo enfitêutico, pelos quais o senhorio mantinha a
propriedade mas cedia a posse e a exploração de
parcelas de terra por períodos relativamente longos,
mediante o pagamento de um foro, de um prazo ou de
uma renda, estabelecidos no contrato e pagos
anualmente em data certa, permitiam um
desdobramento da posse da terra, possibilitando o
usufruto da mesma por parte de indivíduos e grupos
sociais que não detinham propriedade fundiária. E, de
facto, a vastíssima proliferação destes contratos
demonstra a sua generalização em todas as regiões do
reino, enquadrando as situações correntes daqueles que
trabalhavam a terra, tanto em áreas senhoriais como
mesmo fora delas.
Um aspecto extremamente importante dos referidos
contratos e que se difundirá igualmente nos séculos

169
finais da Idade Média, em Portugal, reside no facto de
eles serem escritos. O seu teor identificava o tipo de
prédios em causa (rústicos, mas também urbanos),
localizava-os, definia o tipo e o montante da renda (fixa
ou parciária, em géneros ou em moeda) e fixava a data
anual do seu pagamento. Os contratos eram validados
por um tabelião, que os elaborava, e comprometiam
assim quem cedia a terra e quem a recebia para
exploração. Neste sentido, e pelo menos teoricamente,
defendiam os concessionários da arbitrariedade dos
senhores, por vezes muito poderosos proprietários
laicos ou eclesiásticos. A escrita, mesmo nos meios
rurais e entre aqueles que não a dominavam, começou
assim a servir para intermediar as relações sociais.
Fixando as obrigações das partes e definindo as
condições do acordado entre elas, a escrita aplicada a
estes actos da prática passou das cidades para os
campos, sobrepondo-se à tradição da oralidade e
fazendo lei para o presente e para o futuro. A condição
dos foreiros, pelo menos no que respeitava à sua
situação jurídica e aos laços que os ligavam aos
senhores, melhorou, portanto, face a anteriores quadros
de servidão ou de grande dependência e submissão.
Sobretudo nos contratos de longa duração ou quando a
presença do proprietário não era próxima e constante, a
tendência terá sido para uma certa impessoalização das
relações entre os senhores e os foreiros, fazendo com
que a situação de facto destes se aproximasse da dos
proprietários alodiais. Tal tendência seria acentuada

170
com a profunda desvalorização das rendas monetárias
ao longo dos séculos XIV e XV, levando-as, nalguns
casos, a atingir valores insignificantes que praticamente
transformavam os foreiros em plenos proprietários das
parcelas que lhes haviam sido cedidas. Os direitos
reconhecidos aos concessionários pelos contratos de
cedência de terrenos agrícolas ou de outros bens
imóveis visavam garantir o trabalho e a contínua
exploração da terra, mas também evitar o abandono dos
campos ou dos lugares em que aqueles exerciam a sua
actividade. Esta forma de exploração indirecta da terra
por parte dos senhores fazia com que eles, mais do que
agentes produtivos, fossem essencialmente entidades
que cediam o acesso a meios e instrumentos de
produção (além da terra, também os moinhos, os fornos
ou os lagares, por exemplo) e agissem sobretudo como
perceptores de rendas. De facto, raros terão sido os
senhores laicos que, em Portugal e ao longo da Idade
Média, exploraram directamente as terras de que eram
proprietários.
No desempenho de certos trabalhos como, por
exemplo, o pastoreio, ou em determinadas tarefas
agrícolas de carácter sazonal encontravam-se também
assalariados, cujas remunerações subiram
consideravelmente na conjuntura de crise e de falta de
mão-de-obra do século XIV. É possível que muitos deles
fossem foreiros ou pequenos proprietários alodiais que
temporariamente vendessem a sua força de trabalho
para, através do salário, obterem moeda que

171
complementasse os seus rendimentos. A avaliar pelas
queixas contra as elevadas quantias que exigiam,
apresentadas em Cortes pelos procuradores dos
concelhos na segunda metade do século XIV, a
importância destes assalariados terá crescido tanto na
agricultura como na pastorícia, sobretudo no Centro e
no Sul de Portugal.
Entre os senhores, as principais designações que lhes
eram aplicadas incluíam a de rico-homem, referente ao
estrato mais elevado da nobreza, a seguir à família real.
O termo vinha já do período anterior, mas ao contrário
do que acontecera no século XII, época em que se referia
a um indivíduo que detinha uma autoridade e poderes
públicos, encontrando-se à frente de uma grande
circunscrição administrativa e militar, geralmente por
delegação régia, agora esta designação punha a tónica
mais nas posses do que nas funções desempenhadas,
embora aqueles que eram designados como ricos-
homens no século XIV fossem, em geral, membros da
mais alta nobreza de corte e, portanto, próximos do
monarca. O termo genérico que designava qualquer
senhor laico ou qualquer membro da nobreza que não
os ricos-homens era cavaleiro, se bem que por trás
desta mesma designação pudessem estar indivíduos de
muito desigual posição hierárquica e de não menos
diverso prestígio nobiliárquico94.
Mas o termo mais utilizado em textos jurídicos,
literários, cronísticos ou similares, a partir do
século XIV, para indicar a pertença à nobreza era, sem

172
dúvida, fidalgo. Literalmente significa «filho d’algo»,
assim sublinhando que a condição nobre era adquirida
por nascimento, ou seja, por via hereditária, por uma
espécie de carisma próprio do sangue. O estatuto
privilegiado da nobreza era, pois, independente do que
os seus membros viessem a fazer ao longo da vida, uma
vez que pela sua origem eram depositários e
concentravam em si a herança dos actos e das tradições
de antepassados ilustres sobretudo pelos seus feitos de
armas, pelo seu prestígio e pelo respectivo capital
simbólico, assim preservados e transmitidos de geração
em geração.
Apesar da sua primazia social e da sua auto-
representação como grupo privilegiado e coeso, a
nobreza não era homogénea. Além dos ricos-homens e
dos cavaleiros, que em textos jurídicos correspondiam
já a diferentes níveis, havia ainda os escudeiros,
referentes a um escalão inferior da hierarquia
nobiliárquica na segunda metade do século XIII e nos
seguintes. Mas a palavra «escudeiro» podia designar
também um nobre que se encontrava numa situação
transitória, prestando serviços militares de apoio a um
cavaleiro, na juventude e como forma de aprendizagem,
mas com a perspectiva de atingir o nível de cavaleiro.
Acrescente-se que existiam também indivíduos
designados como escudeiros mas que não pertenciam à
nobreza, estando a designação, nestes casos,
relacionada com o apoio serviçal a um senhor,

173
respeitando, desta forma, a um estatuto intermédio entre
privilegiados e não-privilegiados.
No entanto, aquela hierarquização da nobreza
presente em peças legislativas do século XIV não nos dá
conta da realidade concreta de cada nobre, dos
privilégios de que usufruía pessoalmente nem,
sobretudo, dos poderes efectivos de que dispunha e que
exercia na prática. De facto, era muito diferente ter o
domínio de dois ou três casais (o casal era uma
pequena unidade de habitação e de exploração agrícola
de uma família de camponeses), ou ser detentor de um
vasto conjunto de terras imunes, geralmente designadas
coutos e honras, e aí fazer valer o poder de «mando»
que incluía o exercício de poderes de origem pública,
apropriados pelos senhores. Devido à atracção exercida
pelas cidades, às múltiplas iniciativas régias que a partir
do século XIII visaram limitar e contrariar os abusos
senhoriais, aos problemas demográficos do século XIV e
ao conjunto de fenómenos com eles relacionados
(escassez de mão-de-obra, abandono dos campos…), a
pressão senhorial sobre as populações rurais deverá ter
tendencialmente abrandado a partir do final do
século XIII e sobretudo no seguinte. Mas a matriz do
regime senhorial manteve-se e manter-se-ia sem
alterações essenciais.
Os privilégios e a condição de supremacia social da
nobreza medieval portuguesa não podem esconder as
suas debilidades estruturais e as suas fragilidades. O seu
património fundiário era, em geral, pouco extenso e

174
disperso, mesmo quando constituído por várias honras e
casais. E, apesar disso, ainda na primeira metade do
século XIV este património era dividido pelos vários
herdeiros quando morria o chefe da linhagem95. Mesmo
quando existia uma substancial acumulação de terras
por parte de um senhor, elas acabavam por ser
distribuídas na segunda ou na terceira geração, assim se
fragmentando e dispersando o que fora anteriormente
concentrado96. Só no final do século XIII e sobretudo ao
longo do XIV se irá afirmando paulatinamente o
morgadio, instituto jurídico que consagrava os
princípios da primogenitura, da varonia e do
afastamento das linhas secundárias na transmissão do
património linhagístico97. Através da instituição do
morgadio, pretendia-se evitar a alienação e a
fragmentação do património familiar, privilegiando-se o
filho primogénito varão que deveria receber,
administrar e transmitir nas mesmas condições tudo
aquilo que herdara. De facto, até ao final do século XIV
nunca se constituíram duradouramente em Portugal
grandes potentados laicos de âmbito regional. Por outro
lado, várias foram as linhagens nobres que se
extinguiram biologicamente durante o século XIII, ou
que apenas sobreviveram por via feminina ou através de
ramos secundários. Estes aspectos, a par de uma
crescente dependência face à Coroa e do papel desta na
estruturação e na hierarquização da nobreza, permitem
compreender por que não surgiram, até ao início do

175
século XV, verdadeiras Casas senhoriais, dotadas de um
sólido e estável património fundiário e de uma
enraizada e duradoura implantação local ou regional.
Mesmo quando se constituíram, as grandes Casas
senhoriais portuguesas foram directamente criadas pela
Coroa e encabeçadas por membros da família real,
como ocorreu com a que viria a ser a Casa de
Bragança98 ou com os ducados de Viseu e de Coimbra.
Apesar das diferenças e até dos contrastes entre as
sociedades urbanas e as rurais, elas não formavam
mundos estanques. A tendência terá sido mesmo para
uma mútua influência e, até, para o que poderemos
designar por «contaminação» entre zonas de
predominância senhorial e de predominância concelhia.
Embora a sociedade, no seu conjunto, continuasse a ser
maioritariamente rural, este processo de recíprocas
interferências era conduzido pelo mundo urbano, onde a
especialização (dos mesteres, do comércio, das
actividades intelectuais…) e a divisão social do trabalho
iam progredindo, de onde partiam as grandes inovações,
onde se fixavam cada vez mais os centros de decisão,
de onde irradiavam a moeda, a escrita, os mercadores
ou os oficiais da Coroa que veiculavam e davam
expressão às transformações em curso.
Após 1250, com o termo da Reconquista, os monarcas
portugueses não voltaram a repetir as doações que
haviam sido feitas a sul da linha do rio Mondego, ao
longo da segunda metade do século XII e da primeira do
XIII, a grandes instituições eclesiásticas como os

176
mosteiros de Santa Cruz de Coimbra e de Alcobaça, a
Sé de Lisboa e, sobretudo, as ordens religioso-militares,
para as recompensar pela sua activa participação na
reconquista do Alentejo e do Algarve. A Coroa não
queria, de modo nenhum, aumentar o poder dos
senhorios, fossem eles eclesiásticos ou laicos, e até em
zonas do Centro e do Sul do reino, onde se haviam
constituído vastos domínios das ordens do Hospital, do
Templo, de Avis ou de Santiago, mantiveram-se
concelhos dotados de certa autonomia, alguns deles
recebendo mesmo as respectivas cartas de foral da parte
dos senhores da sua área de implantação, como foi o
caso de alguns municípios do Alentejo que tiveram
foral concedido por uma ordem militar. Embora menos
expressivos pelo seu número e pela sua dimensão,
houve também senhorios laicos estabelecidos na Beira,
na Estremadura e no Alentejo (de que o caso de Portel,
com D. João de Aboim, mordomo-mor de Afonso III, é
o mais emblemático99), regiões estas de forte
implantação e tradição concelhias. Sem que
desaparecessem por completo, as diferenças entre o
«país senhorial» e o «país concelhio» tenderam a
esbater-se ou, pelo menos, a deixar de se confinar a uma
separação de base regional. O próprio regime senhorial
expandiu-se do Entre-Douro-e-Minho primordial para
certas áreas de Trás-os-Montes, das Beiras, até do
Alentejo; por outro lado, a adopção de práticas
senhoriais por parte da Coroa contribuiu igualmente
para essa expansão.

177
A atracção exercida pelas vilas e cidades não deixou
de se fazer sentir também sobre os próprios senhores. É
frequente encontrar nobres nas áreas concelhias, mesmo
que os forais e a tradição procurassem fazer valer a
autonomia e as liberdades da comunidade, pondo as
populações a salvo das exigências e dos abusos
senhoriais. De acordo com a letra e o espírito dos forais,
os nobres não poderiam beneficiar das prerrogativas
inerentes ao seu estatuto de privilegiados, nem nas vilas
nem nos termos concelhios. Mas entre esta posição, que
as autoridades municipais sempre procuraram preservar,
e as tentações dos senhores havia um amplo espaço de
conflito. A demonstrá-lo estão as inúmeras queixas de
procuradores dos concelhos apresentadas em Cortes,
reclamando contra a actuação de nobres, quer por estes
cometerem abusos nas vilas ou nos respectivos termos,
quer por pretenderem imiscuir-se na própria
administração municipal. O monarca era a instância de
recurso dos concelhos, que preferiam ser «do rei» a
estarem sujeitos à arbitrariedade senhorial.
Um outro grupo social de grande importância era o
clero, também ele heterogéneo e distribuindo-se tanto
pelas zonas rurais como pelo mundo urbano. No campo,
o clero paroquial, geralmente de condição idêntica à da
generalidade da população, coexistia com as
comunidades monásticas de há muito implantadas. Mas
era realmente nas cidades que, também no respeitante à
acção da Igreja, se tinham operado as mais
significativas inovações. A partir do início do século XIII

178
instalaram-se em Portugal comunidades de franciscanos
e dominicanos. Estas ordens mendicantes, surgidas
havia poucos anos, orientavam-se especialmente para as
cidades, aí pregando e aí instalando os seus conventos e
as suas igrejas num estilo gótico de grande austeridade.
A prática religiosa e a espiritualidade que difundiram
estavam viradas para as novas realidades citadinas, indo
ao encontro de um público numeroso e muito activo a
quem se dirigiam pela palavra e pelo exemplo,
apoiando a constituição de confrarias e de ordens
terceiras (compostas por leigos). A rápida e extensa
disseminação das casas de mendicantes pelas principais
vilas e cidades portuguesas demonstra bem a eficácia da
acção destas ordens e a grande receptividade que
encontraram. Depois de uma fase que remontava à Alta
Idade Média, em que os mosteiros rurais tinham sido os
principais centros de evangelização, a partir do
século XIII o sector mais dinâmico do clero e cuja acção
pastoral alcançou maior impacto voltou-se claramente
para as cidades e para as suas populações em constante
crescimento.
Este aspecto não impediu os mendicantes de se
distinguirem pelo nível intelectual da sua formação e de
terem visto o seu prestígio reconhecido pelos mais
elevados sectores das elites urbanas, da nobreza e
mesmo da família real. É, pois, frequente encontrar
dominicanos e franciscanos na corte, como confessores
e esmoleres dos monarcas e das rainhas, o que
aumentava o prestígio social de que dispunham. Sinal

179
do impacto da espiritualidade proposta pelos
mendicantes é o facto de vários membros da família
real se terem feito sepultar com o hábito franciscano100,
mesmo sem terem ingressado na ordem, num acto
simbólico de despojamento face aos bens materiais e
seguindo, à hora da morte, o modelo de vida proposto
por São Francisco de Assis.
Também o clero diocesano se concentrava nas
cidades. Aliás, na época só recebiam verdadeiramente
esta designação os núcleos urbanos que eram sedes
episcopais (Braga, Porto, Lamego, Viseu, Guarda,
Coimbra, Lisboa, Évora e Silves), sendo os restantes
nomeados como vilas, independentemente da sua
dimensão. Entre o clero secular (o que vivia «no
século»), destacavam-se os bispos, que ocupavam o
topo da respectiva hierarquia. Muitos deles eram de
origem nobre, e se houve, ao longo dos tempos,
conflitos vários entre prelados e monarcas, não deixa de
ser verdade que também não foram poucos os
eclesiásticos que começaram as suas carreiras como
clérigos de reis e que, por essa via, atingiram a cátedra
episcopal. Acrescente-se os cónegos das respectivas sés,
os arcediagos, nalguns casos os cónegos regrantes que
dispunham de uma organização efectivamente
monástica, embora as suas casas se localizassem em
meio urbano, como se passava com Santa Cruz de
Coimbra e São Vicente de Fora, em Lisboa, ou outras

180
comunidades de cónegos regulares, como as de
Guimarães, Santarém, Torres Vedras101…
Todos os que recebiam ordens sacras dispunham de
um conjunto de privilégios fixados pelo Direito
Canónico e que se concretizavam na isenção de prestar
serviço militar, na isenção fiscal e na chamada isenção
de foro, ou seja, de não se submeterem aos juízes régios
ou concelhios, mas apenas à justiça eclesiástica em
matérias relacionadas com o seu estatuto e com o seu
múnus. Tais privilégios, reconhecidos formalmente
pelas autoridades municipais depois de muitas
resistências, não deixaram de levantar frequentes
problemas, uma vez que o clero procurava estender a
isenção de foro aos assuntos de âmbito não eclesiástico.
Idênticos conflitos tiveram lugar entre clérigos e as
justiças régias, com os primeiros a quererem eximir-se à
actuação das segundas em matérias cíveis, e estas a
pretenderem contrariar o que consideravam ser a
impunidade do clero em assuntos que extravasavam os
limites da actividade religiosa. Particularmente grave, a
este respeito, foi o conflito em torno da generalização
do dízimo, esse verdadeiro imposto eclesiástico que só
acabou por ser aceite na Concordata celebrada por
D. Dinis, em 1289. No quadro de uma «sociedade de
ordens» com estatutos jurídicos diferenciados e em que
os grupos privilegiados tudo faziam para manter e
alargar as suas prerrogativas, a harmonização dos
interesses respectivos era frequentemente uma ficção,
como o atestavam os protestos que cada «corpo»

181
apresentava em Cortes, denunciando as alegadas
infracções de que se considerava vítima e procurando
sensibilizar o soberano para a reposição dos seus
direitos (nobreza, clero) ou para a defesa da sua
autonomia e das suas liberdades (concelhos). Neste
âmbito, mais do que factores de complementaridade ou
de integração, eram várias formas de poderes
concorrentes que coexistiam e se ajustavam ou
desajustavam entre si. Ao rei caberia regulá-los e, do
ponto de vista da Coroa, subordiná-los à sua própria
autoridade, progressivamente construída e apresentada
como o poder supremo no mundo dos homens.

76. Veja-se Júlia Galego e Suzanne Daveau, O Numeramento de 1527-


1532. Tratamento Cartográfico, Lisboa, 1986, e João Alves Dias, Gentes e
Espaços (Em Torno da População Portuguesa na Primeira Metade do
Século XVI), I, Lisboa, 1996.
77. Cf. A. H. de Oliveira Marques, Portugal na Crise dos Séculos XIV
e XV, vol. IV da Nova História de Portugal, dir. por Joel Serrão e A. H. de
Oliveira Marques, Lisboa, 1987, pp. 15-33.
78. G. Pradalié, Lisboa da Reconquista ao Fim do Século XIII, Lisboa,
1975, p. 78.
79. Este valor hipotético é avançado por A. H. de Oliveira Marques,
Portugal na Crise dos Séculos XIV e XV, vol. IV da Nova História de
Portugal, dir. por Joel Serrão e A. H. de Oliveira Marques, Lisboa, 1987,
p. 183.
80. Idem, ibidem, p. 186.
81. Sobre o mundo urbano em Portugal, no final da Idade Média, veja-
se Iria Gonçalves, Um Olhar sobre a Cidade Medieval, Cascais, 1996, e
Maria Ângelo Beirante, O Ar da Cidade. Ensaios de História Medieval e
Moderna, Lisboa, 2008.
82. A. H. de Oliveira Marques, Portugal na Crise dos Séculos XIV e XV,
cit., p. 16.

182
83. Os cálculos e a sua interpretação podem ser vistos em Stéphane
Boissellier, Le peuplement médiéval dans le Sud du Portugal. Constitution
et fonctionnement d’un réseau d’habitats et de territoires. XIIe-XVe siècles,
Paris, 2003, pp. 133-138.
84. A. H. de Oliveira Marques, «Lisboa», in Atlas de Cidades Medievais
Portuguesas (séculos XII-XV), I, coord. de A. H. de Oliveira Marques, Iria
Gonçalves e Amélia Andrade, Lisboa, 1990, p. 55.
85. A título de exemplo, veja-se Maria Filomena Lopes de Barros, A
Comuna Muçulmana de Lisboa. Sécs. XIV e XV, Lisboa, 1998.
86. Maria José Ferro Tavares, Os Judeus em Portugal no Século XV, I,
Lisboa, 1982, p. 74.
87. Vd. capítulo II, na parte relativa ao mundo concelhio.
88. Cf. José Mattoso, «Os fundamentos da formação social», in História
de Portugal, dir. por José Hermano Saraiva, vol. 2, Lisboa, 1983,
sobretudo pp. 157-166.
89. José Mattoso, «Rumos novos», in ibidem, vol. 3, 1983, pp. 137-142.
90. Idem, ibidem, p. 139.
91. Cantigas d’Escarnho e de Mal Dizer dos Cancioneiros Medievais
Galego-Portugueses, ed. de Manuel Rodrigues Lapa, 2.ª ed., s.l., 1970,
n.º 198, p. 303.
92. Cf. Humberto Baquero Moreno, A Acção dos Almocreves no
Desenvolvimento das Comunicações Inter-Regionais Portuguesas nos
Fins da Idade Média, Porto, 1979.
93. Cf. José Mattoso, «O contraste entre a cidade e o campo», in
História de Portugal, dir. por José Hermano Saraiva, vol. 3, Lisboa, 1983,
pp. 161 e ss.
94. Idem, ibidem, pp. 163-165.
95. Cf. José Augusto de Sotto Mayor Pizarro, Linhagens Medievais
Portuguesas. Genealogias e Estratégias (1279-1325), vol. 2, Porto, 1999,
pp. 565-581.
96. Foi o que sucedeu com os Pimentéis, por exemplo; cf. Bernardo
Vasconcelos e Sousa, Os Pimentéis…, pp. 255-259.
97. Maria de Lurdes Rosa, O Morgadio em Portugal, Sécs. XIV-XV.
Modelos e Práticas de Comportamento Linhagístico, Lisboa, 1995.
98. Mafalda Soares da Cunha, Linhagem, Parentesco e Poder. A Casa
de Bragança (1384-1483), Lisboa, 1990.
99. Sobre o percurso social deste senhor, veja-se Leontina Ventura,
«João Peres de Aboim. Da Terra da Nóbrega à Corte de Afonso III»,

183
Revista de História Económica e Social, n.º 18, Julho-Dezembro de 1986,
pp. 57-73.
100. Foi o caso, por exemplo, da rainha D. Beatriz, mulher de
Afonso IV; cf. Bernardo Vasconcelos e Sousa, D. Afonso IV (1291-1357),
Lisboa, 2005, p. 259.
101. Sobre as ordens religiosas e a forma de vida canónica, veja-se
Bernardo Vasconcelos e Sousa (dir.), Isabel Castro Pina, Maria Filomena
Andrade e Maria Leonor Ferraz de Oliveira Silva Santos, Ordens
Religiosas em Portugal. Das Origens a Trento – Guia Histórico, 2.ª ed.,
Lisboa, 2006.

184

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