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Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”

Universidade de São Paulo


Departamento de Ciência do Solo
International Plant Nutrition Institute

Dinâmica de nutrientes no sistema solo-planta visando BPUFs

Prof. Dr. Godofredo Cesar Vitti


Ac. Cristina Fonseca Domeniconi

Piracicaba - SP
2

DEDICAMOS, este capítulo, ao mestre dos mestres em química do solo, Dr.


TOSHIAKI KINJO, professor aposentado do Depto. de Ciência do solo ESALQ/USP,
nascido em OKINAWA-JP, pela sua capacidade e humildade.

Piracicaba, 15 de Janeiro de 2010.


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SUMÁRIO

I. INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 4

II. O SOLO COMO UM SISTEMA HETEROGÊNEO .................................................. 5


2.1. CONCEITO DE SOLO ..................................................................................................................................... 5
2.2. FASES E COMPONENTES DO SOLO ................................................................................................................ 5
III. CARGAS ELÉTRICAS DO SOLO ....................................................................... 13
3.1. CARGAS NEGATIVAS PERMANENTE ........................................................................................................... 13
3.2. CARGA NEGATIVA DEPENDENTE DE PH .................................................................................................... 14
3.3. CARGAS POSITIVAS .................................................................................................................................... 18
3.3.1. Cargas positivas em minerais de argila 1:1 ........................................................................................ 18
3.3.2. Cargas positivas em óxidos de Fe e Al ................................................................................................ 18
IV. RELAÇÕES SOLO E PLANTA ........................................................................... 21
4.1. PROPRIEDADES QUÍMICAS QUE AFETAM AS RELAÇÕES ENTRE OS ELEMENTOS NA FASE SÓLIDA E NA
SOLUÇÃO DO SOLO ............................................................................................................................................ 22
4.2. TROCA DE CÁTIONS E DE ÂNIONS .............................................................................................................. 23
4.2.1. Dupla camada difusa ........................................................................................................................... 23
4.2.2. Troca de cátions (CTC) ....................................................................................................................... 24
4.2.3. Troca de ânions (CTA) ou absorção não específica ............................................................................ 30
4.3. ADSORÇÃO QUÍMICA (ADSORÇÃO ESPECÍFICA OU NÃO TROCÁVEL) ........................................................ 33
4.4. REAÇÕES DE PRECIPITAÇÃO E INSOLUBILIZAÇÃO DE ELEMENTOS ......................................................... 37
4.5. REAÇÕES DE OXIREDUÇÃO ........................................................................................................................ 43
4.6. ATIVIDADE MICROBIANA E REAÇÃO DO SOLO .......................................................................................... 50
V. PROPRIEDADES QUÍMICAS QUE AFETAM O MOVIMENTO DOS
NUTRIENTES ATÉ A SUPERFÍCIE DAS RAÍZES................................................... 51
5.1. MECANISMOS DE ABSORÇÃO ..................................................................................................................... 51
5.1.1 Interceptação radicular ........................................................................................................................ 52
5.1.2. Fluxo de massa .................................................................................................................................... 52
5.1.3. Difusão ................................................................................................................................................ 53
5.2. HABILIDADE RADICULAR DE ABSORÇÃO ................................................................................................... 54
5.3. DINÂMICA DO NUTRIENTE NO SOLO E LOCALIZAÇÃO DO FERTILIZANTE ................................................ 55
VI. MANEJO QUÍMICO DO SOLO ........................................................................... 59
6.1. CONSIDERAÇÕES SOBRE ADUBAÇÃO ......................................................................................................... 59
6.2. USO EFICIENTE DO FERTILIZANTE ............................................................................................................ 60
VII. CONCLUSÃO ..................................................................................................... 61

VIII. BIBLIOGRAFIA BÁSICA .................................................................................. 62


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DINÂMICA DE NUTRIENTES NO SISTEMA SOLO-PLANTA VISANDO BPUFs

Godofredo Cesar Vitti1


Ac. Cristina Fonseca Domeniconi2
I. INTRODUÇÃO

O conhecimento das propriedades do solo que afetam a disponibilidade


dos elementos (nutrientes e não nutrientes) para as plantas, permite elaborar
critérios valiosos para a sua classificação e especialmente para a interpretação das
relações solo-planta, visando avaliação correta da fertilidade do solo.
Avaliar significa medir, comparar e determinar o valor de alguma coisa.
Assim, a avaliação da fertilidade do solo, significa medir sua fertilidade, compará-la
com um padrão e determinar o seu valor.
Quando se avalia a fertilidade do solo usando-se para tal, a definida
conceituação, nós realmente abrangemos duas etapas bem distintas. A primeira
etapa é a mensuração físicoquímica de atributos do solo, e a segunda, bem mais
difícil e complexa, é a utilização dos parâmetros obtidos na primeira etapa.
A avaliação de outros parâmetros de um modo geral tem um significado
específico e uniforme para qualquer profissional da área, em qualquer país. Assim, a
análise do teor de fósforo de um minério, ou de uma determinação de álcool no
sangue, representa o teor total do elemento ou composto presente na amostra.
Com relação à fertilidade do solo, sabe-se que as plantas absorvem os
nutrientes da solução do solo e, que há um equilíbrio no solo entre as formas
solúveis e insolúveis dos mesmos, sendo que a determinação de seu teor total, não
indica a disponibilidade para as plantas. Deve-se então, determinar a quantidade de
nutriente solúvel na solução do solo em determinado momento, e a velocidade com
que esses nutrientes passam da forma insolúvel para a forma solúvel, a medida que
as plantas absorvem os íons da solução do solo. A parte mais solúvel do nutriente
(M-lábil) mais a parte (M-solução) denominados de “forma ou teor disponível” são
quem determinam a fertilidade do solo.
Dessa forma o presente capítulo irá procurar estudar os fatores
envolvidos com essa dinâmica, para melhor manejo químico, físico e biológico do
solo, visando altas produtividades no sistema agropecuário.
1 Engenheiro Agrônomo; Professor Titular, Departamento de Ciência do Solo ESALQ/USP. gcvitti@esalq.usp.br
2 Acadêmica em Engenharia Agronômica, membro do GAPE. gape@esalq.usp.br
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II. O SOLO COMO UM SISTEMA HETEROGÊNEO

2.1. Conceito de solo

O solo pode ser resumido conforme a expressão a seguir:

SOLO = BIOSFERA X HIDROSFERA X ATMOSFERA X LITOSFERA

Dessa expressão observa-se que solos tropicais pela maior ação dessa
interação são mais intemperizados (maior erosão, lixiviação e evapotranspiração) e
consequentemente menos férteis, do que os de clima temperado.

2.2. Fases e componentes do solo

O solo é constituído das seguintes fases: sólida, líqüida e gasosa, sendo


que na Figura 1 está apresentada o equilíbrio adequado entre as mesmas:

M.O
5%
Ar
25%
Mineral
45%
Água
25%

Figura 1. Equilíbrio adequado entre as fases do solo.

Analisando a Figura 1, observa-se que 50% do volume do solo é


constituído por poros (sendo 25% poros de aeração = macroporos e 25% poros de
solução = microporos) e 50% fase sólida (45% mineral e 5% matéria orgânica).
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a) Fase gasosa

A composição da fase gasosa está apresentada na Tabela 1.

Tabela 1. Composição aproximada da fase gasosa do solo (%).


Ar O2 CO2 N2
Atmosférico 21 0,03 78
Solo 19 0,90 79

Analisando a Tabela 1, observa-se que a fase gasosa do solo é mais rica


em CO2 do que a fase gasosa da atmosfera, sendo essa fase fundamental para a
respiração das raízes e dos microorganismos e para a mineralização da matéria
orgânica.
Há falta de O2 para as plantas quando:
- Teor nos poros de O2 for menor do que 15%;
- Velocidade de difusão de O2 for menor do que 0,3 µg/cm3/minuto.

A importância dessa fase, do ponto de vista de nutrição de plantas, é que


a mesma fornece O2 para a respiração das raízes e posteriormente para a absorção
de nutrientes, além de fornecer N2 para a fixação biológica.

b) Fase líqüida (solução do solo)

Essa fase é constituída por íons e sais dissolvidos, sendo o meio principal
em que ocorre a maioria dos processos químicos e biológicos e o movimento de
minerais no solo, representando o fator intensidade (I) no fornecimento de nutrientes
para as plantas.
Na Tabela 2 está apresentada a forma de ocorrência e da absorção de
nutrientes da solução do solo.
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Tabela 2. Formas em que os nutrientes são absorvidos em condições de solo.

Nutriente Formas Nutrientes Formas


Nitrogênio NO3- e NH4+ Boro H3BO3 ou B(OH)3
Fósforo H2PO4- Cloro Cl-
Potássio K+ Cobre Cu++
Cálcio Ca++ Ferro Fe++
Magnésio Mg++ Manganês Mn++
Enxofre SO4= Molibdênio MoO4=
Silício H4SiO4 ou Si(OH)4 Zinco Zn++
Níquel Ni++

Analisando os dados da Tabela 2, observa-se que os nutrientes


absorvidos pelas raízes das plantas, segundo o seu comportamento, se dividem em
cátions (+) e ânions (-):
Cátions: NH4+, K+, Mg++ e Ca++
Cu++, Fe++, Mn++, Zn++, Co++ e Ni++

Ânions: H3BO3 ou B (OH)3


H4SiO4 ou Si(OH)4
NO3-, H2PO4-, SO4= e MoO4=

Essa diferença de comportamento é fundamental para o estudo dos


fatores que influenciam na disponibilidade desses elementos (Fator Intensidade = I).
É evidente que ao adicionarmos um fertilizante mineral no solo, o mesmo
irá se solubilizar em solução (hidrólise), liberando o cátion (+) e o ânion (-), conforme
exemplos a seguir:

KCl ⇔ K+ + Cl-
NH4NO3 ⇔ NH4+ + NO3-
MAP ⇔ NH4+ + H2PO4-

Os íons liberados em solução poderão ser absorvidos pelas raízes,


adsorvidos na troca iônica, lixiviados ou sofrerem outros processos.
A composição da solução do solo pode ser observada nas Tabelas 3 e 4.
8

Tabela 3. Composição da solução do solo (moles/l x 103).


Elementos Solos Ácidos 1/ Solos com Calcário 1/ Latossolo (Brasil) 2/
Ca 3,4 14 0,019
Mg 1,9 7 0,012
K 0,7 1 0,027
Na 1,0 29 -
N 12,1 13 -
P 0,007 0,03 0,0008
S 0,5 24 -
Cl 1,1 20 -
1/ Segundo FRIED & SHARIDO (Fried & Broeshart, 1967)
2/ Segundo FASSBENDER (1975) – 50 g de terra e 50 ml de água

Tabela 4. Composição da solução do solo (moles/l x 103).


Elemento(*) Todos os solos Solos ácidos
Ca (Ca+2) 0,5 – 38 3,4
Mg (Mg+2) 0,7 – 100 1,9
K (K+) 0,2 – 10 0,7
+
Na (Na ) 0,4 – 150 1,0
N (NO3-) 0,16 – 55 12,1
P (H2PO4-) 0,001 – 1 0,007
S (SO4-2) 0,1 – 150 0,5
Cl (Cl-) 0,2 – 250 1,1
(*) Entre parênteses é dada a forma iônica presente na solução do solo.

Analisando os dados das Tabelas 3 e 4 observam-se menores teores de


nutrientes em solução em solos ácidos, particularmente em Latossolos (oxissolos)
do Brasil, principalmente pela composição mineralógica desses solos (argilas
sesquioxídicas e argila 1:1-caulinita), e alta acidez, além de baixos teores de matéria
orgânica.
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c) Fase sólida do solo

Do ponto de vista de nutrição de plantas, a fase sólida do solo pode ser


dividida em:
(1) Parte inativa, constituída por partículas maiores do que
0,002mm (>2u), correspondente à: Pedras, Cascalhos,
Areia e Silte;
(2) Parte ativa, constituída por partículas menores do que
0,002mm (<2u), correspondente á Argila e Matéria
Orgânica (Humus).

A Tabela 5 apresenta o tamanho e a superfície das partículas minerais do


solo.

Tabela 5. Tamanho e superfície das partículas do solo (*).


Classificação Diâmetro (mm) Número (g) Área (cm2/g)
Areia Muito Grossa 2–1 112 15,4
Areia Grossa 1 – 0,5 895 30,8
Areia Média 0,5 – 0,25 7,1 x 103 61,6
Areia Fina 0,25 – 0,1 7,0 x 104 132,0
5
Areia Muito Fina 0,1 – 0,05 89 x 10 308,0
Silte 0,05 – 0,002 2 x 107 888,0
Argila 2:1 0,002 4 x 1011 8 x 106
Argila 1:1 0,002 4 x 1011 4 x 105
(*) BARBER (1984).

Analisando os dados da Tabela 5, observa-se que a fração argila por


possuir elevada superfície, assim como a fração orgânica, é denominada de fração
ativa ou coloidal, apresentando propriedades básicas para a fertilidade do solo,
como:
(1) Fonte de nutrientes;
(2) Sede de reatividade do solo
- Reação do solo
- Troca iônica
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Assim, solos com maiores teores de argila e de matéria orgânica são


potencialmente os mais férteis (maior teor de nutrientes e maior troca iônica), bem
como em climas tropicais, até certo ponto, mais ácidos, necessitando maiores doses
de calcário para sua correção, conforme será discutido mais adiante.
Para melhor entendimento da fase fração ativa do solo vamos dividi-la em
fração inorgânica (mineral) e fração orgânica.

(1) Fração argila: a fração argila do solo é classificada em:


a) Minerais de argila ou argilas silicatadas
a1) Argilas 1:1 – tipo caulinita
a2) Argilas 2:1 – tipo montmorilonita

b) Argilas sesquioxídicas ou óxidos de Fe e Al


b1) Óxidos de Fe: Goetita: Fe2O3.H2O; Hematita: Fe2O3;
b2) Óxidos de Al: Gibsita: Al2O3.3H2O; Boemita: Al2O3.H2O

Na Tabela 6 está apresentada a composição química de solos minerais.

Tabela 6. Composição química dos solos minerais (%).


Óxidos Clima temperado 2/ Clima PVA-ORTO 3/ LR 3/
tropical 2/ (54-95 cm) (40-90 cm)
SiO2 60 – 95 3 – 30 48,3 14,0
Al2O3 2 – 20 10 – 40 28,8 32,7
Fe2O3 0,5 – 10 10 – 70 7,2 31,6
MnO2 0,005 – 0,5 0,1 – 1,5 0,06 0,2
TiO2 0,3 – 2 0,5 – 15 0,9 6,0
CaO 0,3 – 2 0,05 – 0,5 0,2 0,5
MgO 0,05 – 1 0,1 – 3 0,4 0,3
K2O 0,1 – 4 0,01 – 1 0,9 0,05
Na2O 0,1 – 2 0,01 – 0,5 0,06 0,05
P2O5 0,03 – 0,3 0,01 – 1,5 0,14 0,40
1/ Os teores de elementos expressos em forma de óxidos.
2/ Fried & Broehart (1967)
3/ Verdade (1972)
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Analisando os dados da Tabela 6, observa-se que os solos de clima


temperado apresentam maiores teores de SiO2 (maior teor de argilas silicatadas) em
relação aos solos de clima tropical, os quais apresentam maiores teores de Al2O3 e
Fe2O3 (maior teor de argilas sesquioxídicas), bem como maiores teores de MnO2
(maior acidez). Esse fato leva os solos tropicais a terem sofrido uma dessilicatização
(perda de SiO2), sendo normalmente avaliada pelos índices: Ki e Kr

Ki = SiO2 Kr = SiO2
Al2O3 Al2O3 + Fe2O3

Normalmente o valor de Ki é menor do que 2,0 em solos tropicais, pela


ocorrência de argilas 1:1 (caulinita) mais Al-amorfo e mais Gibsita. Na Tabela 7
estão apresentados os valores de Ki e Kr de alguns solos tropicais (VERDADE,
1972).

Tabela 7. Valores aproximados de Ki e Kr de solos tropicais.


Solos Ki Kr

LR 0,9 0,5
LVA 2,2 1,7
PVA 2,9 1,8
TR 2,1 1,2
Fonte: VERDADE, 1972.

Dentro da escala de intemperização, levando em consideração os dados das


Tabelas 6 e 7, pode-se afirmar também que os Latossolos (oxissolos) são mais
intemperizados do que os Podzólios, hoje denominados de Argissolos (Alfissolos ou
Utissolos), os quais apresentam maiores teores de SiO2, e conseqüentemente
maiores Ki e Kr.
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(2) Fração orgânica (Humus): A fração orgânica é formada basicamente pelos:

a) Radicais carboxílios
R – COOH

b) Radicais fenólicos
R- OH
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III. CARGAS ELÉTRICAS DO SOLO

Para melhor entendimento das propriedades químicas do solo ligadas à


constituição da fração coloidal ou ativa (argila e matéria orgânica) é fundamental o
entendimento da origem das cargas elétricas dos colóides do solo e sua variações
com o pH da solução do solo.
As cargas elétricas dos colóides do solo podem ser classificadas:
a) Quanto ao sinal: positiva e negativa;
b) Quanto ao pH: permanente e dependente (variável).

3.1. Cargas negativas permanente

A carga negativa permanente ocorre nas argilas silicatadas – Tipo


Montmorilonita (2:1) através do mecanismo de substituição isomórfica, em que
cátions de menor valência tomam lugares de cátions que pertencem à estrutura,
resultando em excesso de carga negativa, que se manifesta na estrutura planar.
A estrutura básica das argilas 2:1 é formada por duas lâminas de Si e
uma de Al. Para entendermos essa substituição, vamos tomar como base a estrutura
do mineral primário pirofilita, o qual apresenta a seguinte célula unitária:

[Si8]IV [Al4]VI 020 (OH)4

Ao fazermos o balanço de cargas na pirofilita (antes da substituição


isomórfica) temos:
Cargas positivas (+): 8 x 4 = 32 (Si8)
+
4 x 3 = 12 (Al4)
Total: 44 (+)
Cargas negativas (-): 20 x (-2) = - 40 (020)
4 x (-1) = - 4 (OH4)
Total: 44 (-)

Logo, a carga líqüida da pirofilita é zero, sendo: (+44) = (-44) = zero


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Na célula unitária da montmorilonita ocorreu substituição no tetraedro do


Si (IV), do Si4+ por Al3+ e no octaedro de Al (VI) ocorreu substituição do Al3+ por Fe2+
e Mg2+, conforme fórmula a seguir:

[Si7,7 Al0,3]IV [Al2,6 Fe0,9 Mg0,5]VI 020 (OH)4

Ao fazermos balanço de carga da montmorilonita tem-se que:


Cargas positivas (+): 7,7 x 4 = 30,8 (Si7,7)
0,3 x 3 = 0,9 (Al0,3)
2,6 x 3 = 7,8 (Al2,6)
0,9 x 3 = 2,7 (Fe0,9)
0,5 x 2 = 1,0 (Mg0,5)
Total: 42,3 (+)

Logo, a carga líqüida da montmorilonita é de (-44) – (+42,3) = - 0,8g em


excesso/mol.
Transformando por 100g da argila montmorilonita, tem-se:

CTC = 107,4 meq/100g de argila ou 107,4 mmolc.dm-3

3.2. Carga negativa dependente de pH

A carga negativa dependente de pH ocorre nas arestas quebradas das


argilas 1:1, nos óxidos de Fe e Al e na matéria orgânica.
a) Argilas 1:1 – Tipo caulinita
A caulinita possui um tetraedro de (Si)IV e um octaedro de (Al)VI. A célula
unitária dessa argila está apresentada a seguir:

[Si4]IV [Al4]VI O10 (OH)8

Ao se proceder o balanço de carga da caulinita, tem-se:


Carga positiva (+): 4 x 4 = +16 (Si4)
4 x 3 = +12 (Al4)
Total: (+) 28
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Cargas negativas (-): 10 x (-2) = -20 (O10)


8 x (-1) = -8 (OH) 8
Total: (-28)

Logo, o balanço líqüido de cargas é (-28) + (+28) = zero, não ocorrendo,


portanto, carga permanente na caulinita (argila 1:1) de clima tropical.
O mecanismo gerador de carga na caulinita é a dissociação do H+, de
acordo com a mudança de pH do meio, isto é, carga negativa dependente do pH,
conforme mecanismo abaixo:

 pKd
 SiOH Si O- + H+ 7,0

 AlOH Al O- + H+ 5,0
sem carga carga negativa
pH + ácido pH - ácido

A dissociação do H+ do SiOH (tetraedro de Si) é muito baixa. A pH = 7,0


tem-se uma parte de SiO- (dissociada) e mil partes de SiOH (não dissociada).
Portanto, a contribuição dessa parte da caulinita é praticamente nula para a CTC do
solo, isto é, a pH = 7,0, apenas 0,1% está dissociada.
Com relação ao radical AlOH, tem-se que em um pH = 5,0, a dissociação
é praticamente 50%, revelando que essa parte da caulinita contribui mais do que a
SiOH no aumento da CTC do solo.

b) Óxidos de ferro e de alumínio


A formação de carga negativa na superfície dos óxidos de Fe e Al é
atribuída à dissociação do grupo OH dos óxidos já referidos, conforme esquema
abaixo:
Fe OH ⇔ FeOH- + H+
AlOH ⇔ AlO- + H+
pH + ácido pH - ácido
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A formação de cargas negativas (pH menos ácido) ocorre acima do


denominado PCZ (Ponto de Carga Zero).
Vamos então, abrir um parêntese, para podermos entender o que significa
PCZ. O PCZ pode ser definido como o pH da solução em equilíbrio com o solo, no
qual o número de cargas negativas é igual ao número de cargas positivas,
resultando em carga líquida da superfície dos óxidos de Fe e Al igual a zero, ou seja,
acima do PCZ, os óxidos de Fe e Al (argilas resquióxidicas) apresentam cargas
negativas (CTC = capacidade de troca catiônica) e abaixo do PCZ, apresentam
cargas positivas (CTA = capacidade de troca aniônica).
A Figura 2 esquematiza óxidos de Fe e Al no PCZ, isto é, as cargas
negativas do oxigênio estão ocupadas por H0, enquanto que à esquerda do
equilíbrio, os óxidos com carga positiva (protonação do H+) e à direita, os óxidos com
carga negativa (neutralização do H+ pelo OH- formando H2O.

-
 AlOH+ AlOH OH AlO-
   + H2O
 FeOH+ +
FeOH FeO-
H
CTA PCZ CTC
pH + ácido pH - ácido

Figura 2. Esquema simplificado de óxidos de Fe e Al sem carga (PCZ), acima do PCZ


(CTC) e abaixo do PCZ (CTA).

Na Tabela 8 está apresentada o PCZ de alguns óxidos de Al e Fe.

Tabela 8. Ponto de carga zero (PCZ) de alguns óxidos de Al e Fe.


Óxidos de Al e Fe PCZ
Al(OH)3 Gibsita 5,0 a 5,2
Boemita 8,8
FeOOH Lepidocrocita 7,4
*FeO3.3H2O Goetita 6,7
* Fe2O3 Hematita 5,4
(*) Comum em Latossolos Roxos.
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Analisando os dados da Tabela 8, observa-se que o PCZ dos óxidos de


Fe e Al, comum em solos tropicais, principalmente nos Latossolos (oxissolos) são
muito elevados, isto é, baixa CTC (cargas negativas), pois somente em valores de
pH acima de 5,0 a 5,2 para a Gibsita e acima de 6,7 para a Goetita, por exemplo,
esses óxidos apresentam carga líqüida negativa, isto é, retenção de cátions, como é
o caso dos Latossolos Roxos, ricos em óxidos de Fe.

c) Matéria orgânica (Humus)


O humus adquire as cargas negativas através da dissociação do H+, dos
seguintes grupos funcionais:

c1) Grupos carboxílicos


R – COOH ⇔ R – COO- + H+ pK = 4,0 a 5,0

c2) Grupos fenólicos


R- OH ⇔ R - O- + H+ pK = 7,0

Analisando esses esquemas, observa-se que a matéria orgânica é a


principal responsável pela formação de cargas negativas em solos tropicais,
principalmente os grupos carboxilicos, pois num pH relativamente ácido (pKa = 4,0 a
5,0) já apresenta-se 50% dissociada, isto é, metade na forma de R - COOH (PCZ =
sem carga) e metade na forma de R – COO- (CTC = carga negativa).
A contribuição dessas cargas negativas (permanente em argilas 2:1 e
dependente de pH em argilas 1:1, óxidos de Fe e Al e matéria orgânica) está
apresentada na Tabela 9.

Tabela 9. Capacidade de troca catiônica determinada a pH = 7,0.


Material Coloidal CTC (mg/100g)
Matéria orgânica 250 – 400
Caulinita 5 – 15
Óxidos de Fe e Al 2 – 25
Haloisita.2H2O 5 – 10
Montmorilonita 80 – 120
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Analisando os dados da Tabela 9, observa-se a baixa contribuição da


caulinita e de óxido de Fe e Al na formação da CTC dos solos tropicais, enquanto
que a M.O. é realmente o grande responsável por essa contribuição, daí a
importância da manutenção ou aumento do húmus do solo, principalmente pelo
plantio direto (culturas em geral) e cultivo mínimo (cana-de-açúcar, batata e
algodão).

3.3. Cargas positivas

Não há conhecimento de que existam cargas positivas permanentes.


Todas as cargas positivas existentes nos colóides do solo parecem ser dependentes
de pH.
As cargas positivas ocorrem nos minerais de argila e óxidos de ferro e
alumínio, lembrando que não há evidências de que ocorram cargas positivas nos
ácidos húmicos do solo.

3.3.1. Cargas positivas em minerais de argila 1:1

O mecanismo de ocorrência de cargas positivas nos minerais de argila 1:1 se


deve a protonação nas arestas quebradas, conforme exemplificado a seguir:
pKa
- SiOH + H+ ⇔ SiOH2+ 3,5
- AlOH + H+ ⇔ AlOH2+ 5,0

Isto é, as cargas positivas são mais importantes no octaedro de Al, pois num
pH = 5,0, 50% dos radicais estão na forma de AlOH2+.

3.3.2. Cargas positivas em óxidos de Fe e Al

A protonação (adição de H+) ocorre na superfície dos colóides, conforme


abaixo esquematizado:

- FeOH + H+ ⇔ FeOH2+
- AlOH + H+ ⇔ AlOH2+
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Os valores de pH da solução do solo para protonação variam entre os


valores de Fe e Al, sendo que as cargas positivas aumentam abaixo do PCZ,
conforme já apresentado na Tabela 7. Assim, em termos da Gibsita, por exemplo,
num pH do solo abaixo de 5,0, já ocorre a formação de cargas positivas, responsável
principalmente pela fixação de P (H2PO4-) e lixiviação de bases (K+, NH4+, Ca++ e
Mg++) em solos tropicais.
Pode-se generalizar que a incorporação de substâncias que contribuem
com cargas negativas, como a matéria orgânica, é a única alternativa para deslocar
o PCZ do solo para pH mais baixo, contribuindo de forma eficaz para ocorrência de
CTC (cargas negativas) a um pH mais ácido (maior retenção de cátions e menor
fixação de H2PO4-).
Na Tabela 10 está apresentado o PCZ de alguns solos do Brasil.

Tabela 10. PCZ de alguns solos do Brasil. Os dados são extraídos dos trabalhos de Raij e
Peech (1972) e de MORAIS, et alli (1976).
PCZ
Solos Horizonte A Horizonte B
Podzólico Vermelho Amarelo 1,6 4,0
Podzólico Vermelho Amarelo 2,6 3,7
Terra Roxa Estruturada 1,9 2,7
Latossolo Vermelho Amarelo Humico 2,1 4,4
Latossolo Vermelho Amarelo 3,3 5,5
Latossolo Amarelo 3,1 6,3
Latossolo Roxo 3,5 6,0

Analisando os dados da Tabela 10 podem ser retiradas duas observações


importantes:

a) Os Latossolos (oxissolos) são mais intemperizados do que os


Podzólicos, hoje denominadas de Argilosos (Altissolos e Ultissolos), por
apresentarem maior PCZ;
20

b) O Horizonte A apresenta menor PCZ do que o Horizonte B, pelo


efeito da matéria orgânica, a qual aumenta a CTC do solo (cargas negativas). Assim,
por exemplo, tomando como base o Latossolo Roxo, o mesmo começa a apresentar
carga negativa no Horizonte A já em um pH acima de 3,5, enquanto que no
Horizonte B, somente num pH em água acima de 6,0, resultando em maior fixação
de H2PO4- e lixiviação de bases nesse horizonte.
21

IV. RELAÇÕES SOLO E PLANTA

Os elementos estão presentes no solo em sua quase totalidade, na fase


sólida, adsorvidos ou fazendo parte do complexo coloidal do solo (matéria orgânica
+ fração argila). Da fase sólida uma diminuta proporção é liberada para a solução do
solo, originando-se então um “equilíbrio”, geralmente complexo, entre M-sólidos e M-
solução. Na solução do solo os elementos movimentam-se em direção a superfície
das raízes (ou vice-versa), onde são transportados para o interior da planta. Estas
relações podem ser esquematizadas, de modo simplificado como abaixo.

M-sólido ⇔ M-solução ⇔ M-raiz → M-parte aérea

Onde, M = nutriente

O processo de liberação de elementos da fase sólida para a solução e


posterior absorção pelas plantas, é dinâmico e qualquer fator que o afete, mesmo
em parte, necessariamente afetará a absorção dos elementos, ou a sua
disponibilidade para as plantas.
No diagrama abaixo está apresentado esquema simplificado do equilíbrio
dos elementos no solo quando da adição de um fertilizante:

M Fertilizante
22

Analisando o diagrama observa-se que ao adicionar um fertilizante


mineral ao solo o mesmo se solubiliza na solução do solo na forma iônica (cátions
e/ou ânion) podendo:
a) Permanecer na solução do solo (Fator Intensidade = I), sendo
posteriormente absorvido pelas raízes das plantas (M-raiz) e daí transportado para a
parte aérea (M-parte aérea) ou lixiviado (M-lixiviação);

b) Ser adsorvido pela fração coloidal (matéria orgânica + argila),


denominado de M-sólido, caracterizando o Fator Quantidade = Q.

A relação Q/I é denominada poder tampão de um determinado elemento


como será discutido posteriormente.

4.1. Propriedades químicas que afetam as relações entre os elementos


na fase sólida e na solução do solo

M-sólido ⇔ M-solução

As relações mantidas entre os elementos na fase sólida e na solução do


solo são resultantes da maior ou menor tendência dos elementos passarem da fase
sólida para a solução e vice-versa. Essa tendência depende basicamente da força
das ligações dos elementos nos compostos sólidos e de sua composição na solução
do solo.
Na maior parte dos casos, apenas uma pequena fração da quantidade
total de um elemento na fase sólida está em contato e, portanto, em equilíbrio com a
solução do solo.
Os fatores que afetam as relações, entre M-sólido e M-solução podem ser
melhor visualizados se estas forem tratadas, pelo menos como uma aproximação,
de acordo com as leis do equilíbrio químico. Para isso é necessário considerar-se:
(1) troca de cátions e ânions; (2) reações de precipitação e solubilização; (3)
adsorção química e (4) oxiredução. A atividade dos microorganismos deve ser
também levada em consideração, devido ao seu papel em reações de oxiredução,
na mineralização da matéria orgânica e na disponibilidade de nitrogênio e enxofre. É
23

óbvio também que a reação do solo, que define as condições de acidez ou


alcalinidade apresenta papel fundamental nestes processos.

4.2. Troca de cátions e de ânions

4.2.1. Dupla camada difusa

Na solução do solo, os cátions e os ânions hidratados cercam as


partículas coloidais do solo chamados “trocadores”, compensando as cargas
eletrostáticas das partículas principalmente negativas formando uma dupla camada
difusa, conforme esquematizado na Figura 3.

Figura 3. Esquema da dupla camada difusa.

Analisando a Figura 3 observa-se que os contra-íons (cátions) são


atraídos (força de atração) para a superfície dos colóides (carga negativa), ao
mesmo tempo que apresentam uma força de difusão, caminhando de local de maior
(superfície dos colóides) concentração para local de menor concentração (solução
do solo). Os co-íons (ânions) apresentam força de repulsão da superfície dos
colóides (mesmo sinal de carga, isto é, negativa) para a solução do solo e ao mesmo
tempo força de difusão, caminhando de local de maior concentração (solução do
solo) para a superfície dos colóides, gerando conforma já comentado a dupla
camada difusa, conforme Figura 3, ou seja:
24

Colóide Solução
Força de atração
Contra-íons (cátions)
Força de difusão

Força de difusão
Co-íons (ânions)
Força de repulsão

Em função do exposto fica evidenciado que os ânions (NO3-, SO4= e Cl-,


por exemplo), são mais susceptíveis à lixiviação do que os cátions (cargas positivas)
por apresentarem maior concentração na solução externa (n+ < n-) conforme
esquema da Figura 3, isto é, mais distantes da superfície dos coloides.

4.2.2. Troca de cátions (CTC)

Conforme já discutido anteriormente, as cargas negativas ocorrem nos


minerais de argila, óxidos de Fe e Al e húmus.
De modo bem resumido, a troca de cátions é regida pela Lei da Raiz
Quadrada de Schofield conforme esquematizado a seguir, utilizando um cátion
monovalente (K+) e um divalente (Ca++).

X – Ca2+1/2 + K+ ⇔ X – K+ + ½ Ca2+

Onde, X = superfície do colóide apresentando carga negativa.

Aplicando-se a Lei da Raiz Quadrada de Schofield, tem-se:

(K+)i (K+)e
=
(Ca2+)i 1/2 (Ca2+)e 1/2

Trocáveis Solução do solo


25

Esta equação indica que no estado do equilíbrio, as proporções das


atividades (concentração efetiva) da solução interna (i) e da solução externa (e) são
iguais para todos os íons. Se isto for verdade, a relação das atividades de dois íons
diferentes na solução interna (i), deve ser igual a relação das atividades destes íons
na solução externa (e). Assim, pela equação acima discutida, observa-se que o Ca++
(cátion divalente) é adsorvido mais fortemente que o K+ (cátion monovalente), pois a
raiz quadrada do Ca (Ca1/2) desloca o potássio em sua razão direta (K+). Se for
introduzido o Al+++ nesse mecanismo, tem-se que a raiz cúbica do (Al3+)1/3 desloca o
(Ca2+)1/2 e este o K+.
Em função do exposto pode-se discriminar os fatores que influem na troca
catiônica, ou sejam:

- Seletividade dos materiais coloidais;


- Valência dos cátions;
- Grau de hidratação;
- Efeito diluição;
- pH do meio;
- Adsorção específica de ânions.

a) Seletividade dos materiais coloidais

Analisando os dados da Tabela 9, observa-se a seguinte ordem


decrescente de retenção de cátions em função do tipo e dos teores do material
coloidal:

Matéria orgânica > argila 2:1 > argila 1:1 > óxidos de Fe e Al

Assim, solos de clima temperados por apresentarem de modo geral,


maiores teores de M.O. (menor oxidação) e de argilas 2:1 apresentam maior CTC,
maior fertilidade, menor lixiviação de cátions, do que solos tropicais com menores
teores de M.O. (maior oxidação) e predominância de argilas 1:1 e óxidos de Fe e Al.
Logo a adoção de plantio direto e/ou cultivo mínimo é uma questão de sobrevivência
da fertilidade do solo em climas tropicais.
26

b) Valência dos cátions

A força de atração ou força de retenção é maior, quanto maior for a


valência de um cátion, ou seja:

Monovalente < divalente < trivalente


Força de atração

Esta ordem está de acordo com a teoria de Donnam, ou seja, os íons


divalentes se encontram na formulação de troca catiônica sob sua raiz quadrada, e
os trivalentes sob sua raiz cúbica, conforme esquematizado a seguir:

(K+)e (Ca++)e1/2
=
++
(Ca )e1/2 (Al+++)e 1/3

c) Grau de hidratação
Os íons presentes no meio aquoso atraem moléculas de água que são
dipolares, atravès do seu campo de cargas elétricas.
A força de atração dos dipolos de água pelos íons, diminui com o
aumento do tamanho dos íons, conforme Tabela 11.

Tabela 11. Raio iônico e grau de hidratação.


Cátion ØÅ nº moles H2O/íon
Na+ 1,96 4
K+ 2,66 2,5
NH4+ 2,86 1,0
Mg2+ 1,56 9,0 a 13,0
Ca2+ 2,12 8,0 a 10,0

Entre os cátions de mesma valência, a força de retenção pelas cargas


eletronegativas dos colóides do solo diminui com o aumento do grau de hidratação
dos cátions.
27

Existe uma seqüência de efeitos iônicos no fenômeno físico-químico


chamado série liotrópica ou série de Hotmeister, conforme abaixo esquematizado:

Aumenta adsorção (floculação)


Al > Ca2+ > Mg2+ > NH4+ > K+ > Na+
3+

Aumenta lixiviação (dispersão, compactação)

Do ponto de vista prático pode-se inferir que solos tropicais normalmente


ácidos e com altos teores de Al3+ e H0 (retenção muito mais forte, não sendo
inclusive trocável) apresentam boa estruturação (alta floculação) com boa infiltração
de água (alta permeabilidade), com menor erosão, ocorrendo em relevo plano, como
os latossolos em locais denominados chapadões. Como do ponto de vista químico é
necessária a correção do solo pela prática da calagem, visando eliminação do Al3+ e
diminuição no H0, aumentando os teores de Ca++ e de Mg++. Neste contexto, embora
o Ca++ seja aparentemente menos efetivo do que o Al3+ na agregação do solo, seus
efeitos na formação das raízes e da parte aérea das plantas cultivadas
conseqüentemente, elevando os teores de matéria orgânica, passa a ser o elemento
fundamental para a boa estruturação do solo.

d) Efeito diluição

Quando se dilui a solução externa ou de equilíbrio contendo dois cátions


de valência diferentes, a adsorção do cátion de maior valência diminui.
O efeito da diluição é explicado pela teoria de Donnan ou pela lei da raiz
quadrada de Schofield;

(K+)i (K+)e
=
(Ca++)i 1/2 (Ca++)e 1/2

Para que não seja perturbado o equilíbrio entre os cátions de solução e os


cátions adsorvidos, se a concentração de um cátion for alterada, a concentração do
outro cátion deverá ser alterada na seguinte maneira: os divalentes numa razão
quadrática e os trivalentes, numa razão cúbica.
28

Numa solução de equilíbrio contendo K+ e Ca++, quando duplica a


concentração do K+, a do Ca++ deverá ser 22 ou 4 vezes a concentração original.
Para a redução a metade da concentração dos K+, a do Ca++ deverá ser reduzida de
(1/2)2, ou seja, ¼ da concentração original para que não se altere o equilíbrio.
Este efeito de diluição tem grande importância agronômica. A diluição da
solução do solo pela água de chuva ou de irrigação favorece a adsorção de Ca++
sobre K+ e a adsorção de Al3+ sobre Ca++ e Mg++.
Na Figura 4 é apresentado de modo esquemático a relação entre os
teores de K+, Mg++ e Ca++ na solução do solo após a ocorrência de precipitação
pluvial.

Precipitação Pluvial

Figura 4. Variação nos teores de bases da solução do solo com a variação da


umidade.

Como conseqüência, pelo aumento da K+ na solução do solo irá ocorrer maior


lixiviação e/ou maior absorção radicular.

e) pH do meio

O aumento do pH da solução do solo ocasiona aumento da CTC pelo


aumento das cargas negativas dependentes do pH de ocorrência principalmente na
matéria orgânica nas argilas 1:1 e nos óxidos de Fe e Al.
29

Na Figura 5 está apresentada a relação entre o pH do solo e a CTC da


matéria orgânica.

Figura 5. Relação entre pH dos solos e a capacidade de troca de cátions da matéria


orgânica (RAIJ, 1969).

A CTC da matéria orgânica do solo ao pH= 7,0 varia de cerca de 350 a


400 cmolc/dm3. Portanto, 1,0% de matéria orgânica do solo contribui na CTC do solo
em 3,5 a 4,0 meq. Em média, a contribuição da matéria orgânica na CTC do solo é
de 74% para os horizontes superficiais.

f) CTC do solo em relação a adsorção específica de ânions

A adsorção específica dos ânions de ácidos politrópicos como fosfato e


silicatos resulta na formação de cargas negativas.
Na Figura 6 é apresentada esquema de cargas negativas oriundas da
adsorção específica de ânions.

Figura 6. Cargas negativas formadas pela adsorção específica do fosfato (HINGSTON et al,
1967).
30

Analisando a Figura 6, observa-se que um óxido de Fe no PCZ (íons Hº


ocupando as cargas negativas do oxigênio) adsorve o ânion fosfato na forma de
PO3H- gerando uma carga negativa e podendo reter, por exemplo, o K+.
Na Tabela 12 está apresentada os valores de CTC determinada com
soluções diferentes a pH= 6,0.

Tabela 12. CTC determinada com duas diferentes soluções ao pH= 6,0.
Solos NaNO3 NaH2PO4
----------------------------- meq/100g -----------------------------
Andosol 14 175
Terra roxa estruturada 6 28
Latossolo roxo 2 12

A CTC do solo determinada com NaH2PO4 1M foi de 4,6 a 12,5 vezes


maior do que a determinada com NaNO3 1M. Este aumento da CTC é explicado pelo
aumento de cargas negativas devido à adsorção de fosfato.
Segundo MEKARU & UEHARA (1972), a cada mol de fosfato adsorvido
aumenta a CTC do solo em 0,8 meq ou 8,0 mmolc/dm-3.
Esse fato é particularmente importante no manejo químico de solos
ácricos (baixa retenção de cátions < 25 mmolc/dm-3), pela prática da fosfatagem
utilizando fosfatos reativos (30% P2O5 Total), a qual irá aumentar a CTC do solo pela
fixação do H2PO4- em cargas positivas ou em cargas zero, conforme já ilustrado na
Figura 6, bem como pela prática da silicatagem.

4.2.3. Troca de ânions (CTA) ou absorção não específica

a) Conceito: trata-se da atração dos ânions pelas cargas positivas que


ocorrem nos óxidos de Fe e Al (abaixo do PCZ) e nos minerais de argila 1:1.
Esse tipo de mecanismo envolve os ânions trocáveis (CTA), como o SO4=,
NO3-, Cl- e H3BO3, conforme mecanismo exemplificado na Figura 7.
31

Figura 7. Mecanismo da troca aniônica.

Analisando o mecanismo da Figura 7 observa-se, assim como no caso da


troca de cátions, as seguintes equações de troca, segundo a valência dos ânions.

(Cl-)e = (NO3-)e = (SO4-)1/2e


(Cl-)i (NO3-)i (SO4-)1/2e

b) Fatores que influem na troca aniônica (CTA)


- Natureza dos colóides do solo;
- Reação do solo;
- Concentração na solução;
- Outros ânions;
- Cátions associados.

- Natureza dos colóides do solo


Existe uma correlação linear entre a ocorrência de óxidos de Al e Fe do solo
com a adsorção não específica conforme Figura 8.

Adsorção (CTA)

Al2O3 e Fe2O3 solúvel em NaOH 0,5 N

Figura 8. Correlação entre adsorção de ânions e conteúdo de óxidos de Fe e Al.


32

Assim, solos de cerrado ricos em argilas sesquioxídicas, apresentam


significativa retenção de ânions, em relação aos solos de clima temperado.
- Reação do solo
A elevação da acidez do solo, isto é, abaixamento do pH, aumenta as
cargas positivas na superfície dos coloides do solo e, consequentemente aumenta a
adsorção de ânions, conforme esquematizado na Figura 9.

Adsorção (Trocável)

pH

Figura 9. Relação entre o pH do solo e a adsorção de ânions.

No esquema abaixo esse efeito é facilmente evidenciável:

M – OH + HCl ⇔ M – OH2+ - Cl
PCZ acidez CTA
Onde, M = Fe, Al ou Si.

- Concentração da solução de equilíbrio


A elevação da concentração da solução pela aplicação, por exemplo, de
fertilizantes minerais contendo ânions, aumenta cargas positivas nas superfícies
(força de difusão) e, conseqüentemente, aumenta a adsorção de ânions.

- Valência dos ânions


Em termos dos ânions trocáveis ocorre a seguinte ordem decrescente de
adsorção:
Adsorção
MoO4= > SO4= > NO3- > H3BO3 ≥ Cl-
Lixiviação
33

Essa ordem de força de adsorção explica porque os oceanos são ricos


em Cl e H2BO3- ou H3BO30, bem como a preocupação com o NO3- na contaminação
-

do lençol freático, e porque o SO4= do gesso agrícola age mais em subsuperfície.

- Cátions associados
Os cátions associados a ânions, isto é, retidos na CTC, também tem
influência sobre a adsorção, com a seguinte seqüência, para o SO4=, por exemplo:

CaSO4 > K2SO4 > (NH4)2SO4 > NaSO4

Essa seqüência está relacionada à força com que um cátion neutraliza as


cargas negativas superficiais, diminuindo assim, sua força de repulsão.
Assim, do ponto de manejo químico do solo, observa-se que o sulfato
adicionado na forma de gesso agrícola (CaSO4 2H2O), por exemplo, fica mais
próximo do alcance das raízes, em relação por exemplo à adição do mesmo na
forma de sulfato de amônio (NH4)2SO4.

4.3. Adsorção química (adsorção específica ou não trocável)

a) Conceito
A adsorção química (fixação) ocorre tanto para ânions (H2PO4- e H4SiO4)
como para cátions (Zn++, Cu++, Fe++, Mn++ e Co++).

b) Adsorção específica de ânions


É a adsorção dos ânions (doadores de elétrons) de ácidos polipróticos
(ácidos com mais de um e dois hidrogênio, como H3PO4 e H4SiO4), através do
deslocamento do íon de ligação covalente, ligando-se principalmente ao Al e Fe das
superfícies dos minerais do solo conforme esquematizado na Tabela 12.
No esquema apresentado a seguir, está apresentado a ordem de
retenção e de lixiviação dos ânions nutrientes de plantas.

H2PO4- > MoO4= > SO4= > NO3- > H3BO3 ≥ Cl-
34

c) Adsorção química dos micronutrientes metálicos (Zn, Cu, Fe,


Mn e Co)
Estes elementos são adsorvidos na forma de cátions (receptores de
életrons), ligando-se aos oxigênios coordenados com Al e Fe das superfícies dos
minerais e às carboxilas e outros grupos da matéria orgânica (Tabela 13).
P,Se
Em todos os casos (ânions ou cátions), um certo equilíbrio é mantido
entre os elementos adsorvidos e em solução. A adição de qualquer desses
elementos, em forma solúvel, aumenta a sua concentração na solução e a
quantidade adsorvida. Dos ânions, o mais fortemente adsorvido pelo solo é o P
(H2PO4-) e dos cátions, o Cu. Mais de 99% do P adicionado ao solo em forma
solúvel (superfosfatos) é normalmente retido pela fase sólida, porém esta não
significa que todo P está perdido para as plantas, pois, pelo menos parte dele, fica
em equilíbrio com a solução, reabastecendo-o à medida que as plantas o absorvam.

Tabela 13. Reações adsorção química de alguns elementos no solo.

P,Se

Si

Zn, Cu, Co,


Mn, Fe

As reações da Tabela 13 mostram que o aumento do pH do solo provoca


aumento da concentração de P e Se na solução do solo, ao passo que a
concentração de Si, Zn, Cu, Co, Mn e Fe na solução diminuem com o aumento do
pH.
Em um dado pH a adsorção química é tanto maior quanto maior o teor de
óxidos e hidróxidos de Fe e Al, de argilas 1:1 e de matéria orgânica (esta apenas
para os cátions metálicos), devido ao maior número de “sitios” de adsorção. Em
conseqüência, após a adição de fertilizantes, a concentração na solução dos
elementos, que são adsorvidos quimicamente, será maior nos solos de textura leve e
35

no caso dos cátions, também com baixo teor de matéria orgânica. Contudo, nestes
solos, com a adsorção pelas plantas, há um decréscimo maior na concentração dos
elementos na solução, do que em solos de textura mais argilosa (e maior teor de
matéria orgânica). No primeiro caso, diz-se que os solos tem um baixo poder tampão
e no segundo um alto poder tampão.
Solos com alto poder tampão necessitam em geral, de adubações mais
pesadas, porém, esgotam-se mais lentamente que nos solos de baixo poder tampão.
Esse fato é extremamente importante principalmente no manejo químico
do solo com micronutrientes. Assim, em relação aos micronutrientes metálicos (Zn++,
Cu++, Fe++, Mn++ e Co++) e mesmo o boro, são adicionados em doses maiores em
solos potencialmente mais férteis (mais argilosos) para um mesmo efeito na nutrição
das plantas em relação a um solo arenoso (menos férteis). Esse fato é
particularmente mais importante para o boro em que doses similares aplicadas em
solos arenosos e argilosos, podem causar toxidez as plantas em solos arenosos,
causando danos irreversíveis no desenvolvimento das culturas.
Também é importante ressaltar quanto aos micronutrientes metálicos que
a sua aplicação no solo deve ser feita de forma localizada, no sulco de plantio,
menor contato com o solo. Em culturas perenes, por exemplo, a recomendação
desses nutrientes é exclusivamente no sulco de plantio, sendo que em pomares já
instalados a aplicação mais eficiente é via foliar.
Na Figura 10, a seguir, está apresentada o esquema de adsorção química
do ânion fosfato, enquanto que na Figura 11 está apresentada a adsorção dos
micronutrientes metálicos.

Figura 10. Adsorção química do ânion fosfato.

Analisando o esquema da Figura 10, observa-se fixação do H2PO4- em pH


mais ácido em cargas positivas (à direita), enquanto que a elevação do pH (adição
de OH) promove o deslocamento da reação para a esquerda (maior pH) liberando
H2PO4- em solução (maior disponibilidade).
36

Figura 11. Fixação: Adsorção específica de micronutrientes metálicos na fração coloidal do


solo.

Analisando o esquema da Figura 11, observa-se à esquerda que o Zn++


está em solução (maior disponibilidade), porém com o aumento do pH o Zn fica
fixado na CTC do solo (não trocável, menor disponibilidade), pela liberação das
cargas ocupadas por H+, pela adição de calcário (adição de OH-) formando H2O.
Dentre os fatores que influenciam na adsorção específica, principalmente
a reação do solo, textura do solo (teores de argila e de matéria orgânica), tem-se
também a ordem (força de retenção dos elementos na superfície dos colóides) e a
influência da adubação fosfatada, principalmente na disponibilidade do Zn++.

- Ordem de retenção dos elementos

Cátions
Lixiviação
Cu++ > Mn++ ≥ Zn++ ≥ Fe++
Adsorção
Ânions
Lixiviação
H4SiO4 > HPO4= > H2PO4-
Adsorção (fixação)

Analisando os esquemas apresentados tem-se que dos cátions, o Cu++ é


o mais retido pelo solo, ocorrendo deficiência do mesmo, principalmente em solos
37

com alto teor de matéria orgânica (Ex.: solos de várzea) ou solos em plantio direto já
estabelecido.

- Adubação fosfatada

Doses elevadas de H2PO4- promovem possibilidade de deficiência de Zn,


principalmente em gramíneas tropicais devido à inibição não competitiva com o
H2PO4-, pela precipitação do Zn++ na raiz (menor absorção), ou pela diminuição no
transporte do Zn++ da raiz para a parte aérea.
Assim, nessas culturas, e outras com uso de altas doses de P2O5, é
fundamental a utilização de Zn na adubação, principalmente agregado ao grânulo do
Superfosfato Simples ou a todos os grânulos de NPK, para prevenção dessa
inibição.

4.4. Reações de precipitação e insolubilização de elementos

Na passagem do nutriente (M) da fase sólida para a solução do solo


podem ocorrer reações indesejáveis de precipitação e insolubilização dos mesmos
afetando a nutrição das plantas.
Na Tabela 14 está apresentada as reações de solubilização de alguns
minerais do solo.
38

Tabela 14. Reações de solubilização de alguns minerais.

As reações da Tabela 14 mostram que o pH é um importante fator na


solubilidade dos minerais. As reações de dissolução de calcário (1), Gibsita (2),
Goetita (3) e Hidroxiapatita (4), tendem para a direita (maior dissolução) em
condições de baixo pH (baixa atividade de OH-). Em conseqüência quanto menor o
pH, maior a concentração de Al3+, Fe++, Ca++ e fosfato mantido por esses minerais
na solução do solo.
Assim, observa-se evidentemente do ponto de vista positivo, que a adição de
calcário (1) e de fosfato natural do Brasil (Hidroxiapatita, 2) tem maior efetividade em
solos ácidos, enquanto do ponto de vista negativo, a Gibsita (2) e Goetita (3),
apresentam liberação de Al3+ e Fe3+, elementos que promovem a fixação de fósforo
em solos mais ácidos, isto é

Al(OH)3 ⇔ Al3+ + 3OH-

Al3+ + H2PO4 - Al H2PO4


P-fixado
Variscita

Ou,

FeOOH + H2O ⇔ Fe3+ + 3OH-

Fe3+ + H2PO4- → Fe H2PO4


P-fixado
Strengita
39

Por outro lado, a Strengita (5) e a Variscita (6) tendem a se dissolver


mais, a medida que aumenta o pH. Isto resulta do fato de que os íons Al3+ e Fe3+
tem grande afinidade por OH-, e à medida que sua concentração aumenta (aumento
de pH), formam-se hidróxidos desses metais. Em conseqüência, diminui a atividade
dos íons Al3+ e Fe3+ na solução, o que provoca deslocamento das reações para a
direita, aumentando portanto a dissolução dos materiais.

Esse mecanismo pode ser melhor visualizado no esquema da Figura 12.

I-

II -

Figura 12. Precipitação do P em solução e (I) e efeito da calagem na precipitação de Fe, Al


e Mn (II).

O fósforo da solução do solo precipita com o Al, o Fe e o Mn (pH baixo).


Quando o pH é corrigido, esses elementos se precipitam e o fósforo fica disponível
Assim a prática da calagem é a primeira medida a ser adotada no manejo
químico de solos tropicais ácidos, pois o Fe+++, Al+++ e Mn+++ solúveis (disponíveis)
da solução do solo serão imobilizados pela ação do OH-, isto é, formando hidróxidos
ou óxidos insolúveis, ao invés de reagirem (fixarem) o H2PO4-.
40

Na Figura 13 é apresentada também as reações de insobulização de


micronutrientes metálicos pela prática da calagem, enquanto que na Figura 14, o
gráfico da disponibilidade de micronutrientes em função do pH (H2O) da solução do
solo.

Figura 13. Precipitação / insolubilização.

Figura 14. Relação entre o pH (H2O) e a disponibilidade dos micronutrientes (micro em


solução = fator intensidade).
Analisando a Figura 14, observa-se 3 (três) tipos de comportamento em
relação aos micronutrientes:

a) Micronutrientes metálicos (cátions)


Fe, Cu, Mn, Zn e Co: a disponibilidade diminui cerca de 100 vezes em
solução pelo aumento de 1 (uma) unidade do pH, devido a dois efeitos já discutidos:
adsorção não específica e precipitação em solução.
b) Molibdênio e Cloro
41

A disponibilidade do MoO4= aumenta com a elevação do pH, através do


aumento das cargas negativas (repulsão do MoO4= da superfície dos colóides para a
solução do solo, conforme mecanismo apresentado na Figura 15.

(disponível em solução)

Adsorção

Figura 15. Disponibilidade do molibdênio em função do pH.

Logo a primeira prática para a correção da deficiência de MoO4= é a


calagem, principalmente em solos de cerrado (argilas sesquioxídicas) e ácidos
(CTA).

c) Boro
A reação do solo tem efeito quadrático na disponibilidade do boro, isto é,
em pH ácido há deficiência devido a não mineralização da M.O. principal fonte de
boro no solo, enquanto que em pH elevado há aumento na lixiviação de boro pelo
aumento na CTC efetiva do solo, bem como pelo aumento na relação Ca/B,
conforme mecanismos apresentados a seguir:

pH ácido pH + elevado
Micro
CHONPSB + O2 H3BO3
M.O. Heterotrófico

H3BO30 + OH- H2BO3-


Lixiviação
42

Assim em termos de calagem a mesma deve ser realizada de maneira


técnica visando manter o pH de solução por volta de 5,5 a 6,5 em água, onde há
equilíbrio na disponibilidade de todos os micronutrientes.
43

4.5. Reações de oxiredução

As condições de oxidação e redução do solo estão também relacionadas


com a disponibilidade de certos elementos nutrientes. Em solos com excesso de
água o ar dos poros é substituído pela água. Nestas condições há falta de oxigênio
livre para a respiração de microrganismos aeróbicos se estabelecer. Estes, para
oxidar e decompor a matéria orgânica, reduzem os elementos que podem existir em
mais de um estado de valência nas condições normais de potencial de oxiredução,
encontrados no solo. De maior importância neste caso são os elementos N, Mn, Fe e
S cujas reações de oxiredução são mostradas na Tabela 15.

Tabela 15. Reações de oxiredução de alguns elementos.

Cu(OH)2 + 2H+ + e- ⇔ Cu1+ + 2 H2O

Através da análise dessa Tabela observa-se o seguinte:

a) Nitrogênio
A adição de fontes nítricas (NO3-) de nitrogênio em condições de solos
inundados com a cultura arroz pode provocar a denitrificação do NO3-, originando
perda do N na forma de gases voláteis como N2 (elementar) e NO (óxido nítrico) e
NO2 (óxido nitroso), conforme apresentado na Tabela 14 e no esquema simplificado
a seguir:
44

H2N2O2 → N2O → N2
M.O. + NO3- NO2- Hiponitrito Óxido Elementar
Nitrato Nitrito Nitroso

2NO

Óxido Nítrico

Logo em arroz inundado nunca utilizar fontes nítricas, como o nitrato de


amônio (50% NH4+ e 50% NO3-), a qual perderá praticamente metade de seu
nitrogênio para a atmosfera.

b) Enxofre
Em condições drásticas de redução, como as proporcionadas por solos
com altos teores de matéria orgânica facilmente decomponível, podem conduzir à
redução do SO42- a H2S, que é tóxico para as plantas conforme esquematizado na
Tabela 15.
O maior problema dessa toxidez é em solos arenosos ou deficientes em
ferro, pois até certo ponto esse elemento pode atenuar essa toxidez pela seguinte
equação:

H2S + Fe++ FeS ↓


Ácido Sulfídrico Pirita

Assim não usar sulfato de amônio, como fonte de N nessas condições


devido a ocorrência da redução do SO4- conforme abaixo resumido:
4+
e-
SO4= + M.O. H2S2-
Desulfovíbrio
Desulfuricans

Efeitos negativos da adição de sulfato de amônio em arroz irrigado no


RGS podem ser observado na Tabela 16.
45

Tabela 16. Adubação de arroz irrigado (Município de Rio Grande/RS).


kg/ha arroz em casca
Testemunha 2783
30 kg/ha N (NH4)2 SO4 2656
90 kg/ha N (NH4)2 SO4 1534

Testemunha 2941
90 – 60 – 90 (uréia) 3741
90 – 60 – 90 (sulfato) 2295 IPEAS.

c) Manganês e ferro
Em condições de encharcamento de solos que possuem altos teores de
óxidos-hidróxidos de Mn e Fe e também de M.O. segue-se a redução do Mn3+ e
Mn4+ a Mn2+ e do Fe3+ a Fe2+, os quais como íons divalentes formam compostos
bastante solúveis.
Na Tabela 17 está apresentado de modo mais detalhado a redução do
Mn2+ em solos encharcados.

Tabela 17. Redução do Mn em solos encharcados.

Mn2O3 MnO + MnO2


MnO + H2O Mn(OH)2
Mn(OH)2 Mn+2 + 2 OH-
MnO2 + 4H+ + 2e- Mn+2 + 2 H2O

O encharcamento cria condições favoráveis para a solubilização redutiva


do MnO2.
Depois da redução do Mn, vem a redução dos hidróxidos férrico
hidratados:
A seguir está apresentada a redução do Fe em solos mal drenados.

Fe(OH)3 + e- → Fe+2 + 3OH-


46

A formação de Fe+2 significa aumento na disponibilidade, pois a forma


trivalente (Fe+3) normalmente encontrada no solo é pouco solúvel.
O arroz pode tolerar concentração de Fe2+ da ordem de 200 – 300 ppm.
Níveis mais altos podem ser tóxicos, afetando o sistema radicular e causando o
“bronzeamento”.
Na Figura 15 está apresentada a influência do encharcamento nos teores
de Mn++ e Fe++ disponíveis na do solo.

Figura 15. Influência do encharcamento nos teores de Fe e Mn disponíveis.

Analisando os dados da Tabela 17 e Figura 15, podem-se tirar


informações fundamentais para o manejo químico de solos mal drenados, como:
- A redução do Fe++ e do Mn++ promove uma autocalagem em solos
inundados, pois nesse mecanismo há geração de OH-, responsável pela elevação
de pH nesses solos.
- Há possibilidade de excesso (toxidez) de Fe++ e Mn++ para as culturas
nesses solos, devido aumento nos teores solúveis dos mesmos.
Entretanto, essa toxidez é dependente do tipo de cultura. Assim, em
culturas anuais a toxidez de Fe++ suplanta a de Mn++, causando inclusive deficiência
de Mn++, conforme observado por VITTI & LUZ (2002) na cultura da soja (Figuras 16,
17 e 18).
47

Resultados das Análises de Tecido Vegetal Total


Local Cu Fe Mn Zn Fe/Mn
-1
mg.kg

Dentro da Reboleira 6,3 364,9 29,2 24,8 12,5


Fora da Reboleira 8,6 294,4 47,8 30,0 6,2

Teor de Cu em Tecido Vegetal Total e


Relação Fe / Mn

Teor de Cu Fe / Mn

Dentro da 6,2
Reboleira 8,6

Fora da 12,5
Reboleira 6,3

0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 12,0 14,0

Figura 16. Teores e relações Fe e Mn na parte aérea de soja dentro da reboleira (má
drenagem) e fora da reboleira (boa drenagem).
Fonte: Vitti e Luz - Safra 2001/2002

Fe/Mn = 1/1

Fe = 218 mg.kg-1
Fe/Mn = 2/1
Mn = 109 mg. kg-1

Figura 17. Relações Fe/Mn na folha diagnóstico de soja, dentro (a esquerda) e fora da
reboleira (a direita.
48

Figura 18. Deficiência de Mn sob condições de excesso de umidade na cultura da soja.

Em relação a Figura 16, observa-se que dentro da reboleira de plantas


com clorose (excesso de H2O) os teores de Fe e Mn na parte aérea de plantas de
soja foram respectivamente de 365 e 29 mg.dm3 correspondente a uma relação
Fe/Mn de 12,5/1,0, enquanto que fora da reboleira (plantas normais e sem acúmulo
de H2O) os teores respectivos foram de 294 e 48 mg.dm3 correspondente a uma
relação Fe/Mn de 6,0/1,0, praticamente a metade das plantas com clorose.
Em relação à Figura 17, observa-se nas folhas diagnóstico (3º trifólio)
uma relação Fe/Mn de 2,0/1,0 nas folhas com clorose, enquanto que nas folhas de
plantas normais a relação foi de 1,0/1,0, evidenciando mais uma vez a deficiência de
Mn, provocado pelo excesso de Fe.
Na Figura 19, está apresentado detalhes de folhas de soja com
deficiência de Mn próxima a cursos de água (área de baixada com acúmulo de H2O).
Nesses casos, a pulverização foliar com uma fonte solúvel de Mn eliminou esse
problema, voltando as plantas a apresentarem folhas verdes e normais.
No caso das culturas perenes como café, citros e mesmo abacaxi, tem-se
observado o inverso, isto é, em condições de excesso de umidade mais comumente
deficiência de ferro. Na cultura do abacaxi cultivada em solos normais, tem-se
observado deficiência de ferro, pelo plantio em solos ácidos, com altos teores
disponíveis de Mn2+, revelando inibição competitiva entre Mn x Fe.
49

d) Cobre
O cobre tem comportamento inverso em relação ao Fe e Mn, tendo sua
disponibilidade diminuída por 2 (dois) mecanismos.
- Em condições de excesso de água ocorre insolubilização do Cu, enquanto
que em condições de boa drenagem há maior disponibilidade, conforme esquema
simplificado a seguir:

Cu+ ⇔ Cu++ + e-
Insolúvel Solúvel
(excesso de H2O) (boa drenagem)

Esse fato pode ser observado na cultura da soja (Figura 16), em que
dentro da reboleira (excesso de H2O) o teor de Cu na planta for de 6,3 mg.dm3,
enquanto que fora da reboleira clorótica (boa drenagem) o teor foi de 8,6 mg.dm3,
isto é, cerca de 30% maior.

e) Altos teores de matéria orgânica


Conforme já comentado o Cu++ é um dos elementos mais retidos no solo,
sendo que em plantio direto estabilizado há formação de complexos estáveis com a
M.O. (quelatilização), diminuindo a sua disponibilidade como o observado por VITTI
& LUZ (2005) na cultura da soja nessas condições (Figura 19).

Figura 19. Deficiência de Cu em plantio direto estabilizado.

Em relação ao apresentado na Figura 19 a deficiência do Cu causa na


folha uma assimetria, originando um lado como se fosse uma protuberância em
relação à nervura central. Pode-se inclusive afirmar, quando da ocorrência de
deficiência visual de Cu é porque o solo está com alto teor de M.O. (plantio direto
estabilizado).
50

Juntando-se os dois itens, excesso de água mais alta M.O., como os


solos de várzea, conclui-se que o Cu é o nutriente que mais limita a produção de
culturas anuais. Assim, nessas condições LONERAN (2005), observou aumento de
até 100% na cultura do milho pela aplicação foliar desse elemento na dosagem de
400 g.ha-1 de Cu parcelada em 4 vezes, no estado do Paraná.

4.6. Atividade microbiana e reação do solo

Os microorganismos, especificamente as bactérias, têm entre outros, um


papel fundamental na disponibilidade de N para as plantas, seja fixando-o
diretamente do ar ou mineralizando-o através da decomposição de compostos
nitrogenados orgânicos.
O pH é uma propriedade do solo que afeta sobremaneira a atividade e
tipo da flora microbiana. De modo geral a atividade é muito baixa em solos muito
ácidos (pH 4 a 5), sendo bastante aumentada com a calagem destes a pH 6 a 7.
Em conseqüência, a calagem de solos ácidos aumenta a disponibilidade
de N para as plantas, ou devido à maior mineralização do N orgânico e/ou à maior
fixação do N do ar por bactérias fixadoras livres ou simbióticas. Maior e mais
eficiente nodulação é em geral observada em leguminosas, quando faz-se a
calagem de solos ácidos.
Além do N, a disponibilidade de S, P e até certo ponto do B, é
estreitamente dependente da ação microbiana na matéria orgânica, isto é, a
mineralização da matéria orgânica aumenta a disponibilidade de ânions para as
plantas.
51

V. PROPRIEDADES QUÍMICAS QUE AFETAM O MOVIMENTO DOS


NUTRIENTES ATÉ A SUPERFÍCIE DAS RAÍZES

M solução ⇔ M-raízes

5.1. Mecanismos de absorção

As raízes absorvem da solução do solo os elementos que entram em


contato direto com as suas superfícies. Para suprir a absorção continua pelas raízes,
estas se alongam para explorar novas regiões da solução e também os elementos
de regiões mais distantes deslocam-se até as superfícies radiculares. Três
mecanismos podem ser responsáveis pela movimentação dos elementos até a
superfície das raízes: intercepção radicular, fluxo de massa e difusão (Figura 21). A
habilidade das raízes em absorver os elementos na solução juntos às suas
superfícies pode ser dificultada por certas condições adversas do solo.

Figura 21. Absorção: contato íon-raiz.


52

5.1.1 Interceptação radicular

Dados obtidos com a cultura do milho em solo bastante fértil, indicam que
apenas as necessidades de Ca poderiam ser completamente supridas por esse
mecanismo, muito embora parte significativa das necessidades de planta em Mg, Mn
e Zn pode também ser provida por intercepção radicular. A contribuição deste
mecanismo é tanto maior quanto maior for a concentração dos elementos na solução
e maior o sistema radicular.
O volume de raízes é muito baixo em relação ao volume de solos,
podendo ser expressa conforme a seguinte razão:

Superfície da raiz = 2 x 10-5


Superfície do solo

Assim, a quantidade de nutrientes que atinge a raiz por intercepção


radicular (QIR) pode ser expressa segundo a equação:

QIR = Qt x 2 x 10-5

Onde, Qt = Quantidade total de nutrientes absorvidos pelas raízes.

5.1.2. Fluxo de massa

Esse mecanismo é importante para os nutrientes que apresentam maior


mobilidade no solo, de modo geral, os ânions trocáveis: NO3-, Cl-, SO4=, H3BO3º e
MoO4= e também os cátions trocáveis: Ca++, Mg++, NH4+ e K+.
Os nutrientes são absorvidos (QFM) com a mesma velocidade da água,
conforme a seguinte equação:

QFM = V x [M]

Onde:
V = Volume de água absorvido pela cultura;
[M] = Concentração do íon na solução do solo.
53

Analisando esse mecanismo tem-se que principalmente o N(NO3-) o B


(H3BO3) e parte do K(K+) por caminharem junto com a água, ou são lixiviados ou
são, absorvidos pelas raízes das plantas, necessitando portanto de reposições
anuais (adubação de manutenção) seja em culturas anuais ou como perenes.
O NO3- e o H3BO3 por serem altamente móveis, a ocorrência de jazidas
naturais desses elementos se dá em regiões desérticas como no Norte do Chile e da
Argentina e no Sudoeste da Bolívia.
O SO4= e o Ca++ e Mg++ por serem utilizados em práticas corretivas, gesso
e calcário respectivamente, apresentam efeito residual no solo, sendo que no caso
do SO4= principalmente em camadas sub-superficiais do solo.

5.1.3. Difusão

Este mecanismo é indispensável para uma conveniente nutrição das


plantas em P e K. Na solução junto à superfície das raízes, a concentração de P e K
é mais baixa que na solução mais afastada.
Em vista deste gradiente de concentração, os íons fosfato e K+ movem-se
difusamente em direção às superfícies radiculares. Este movimento difusivo pode
ser representado pela equação:

DQ/Dt = A D H (Cs – Cr)


L

Onde:
DQ/Dt = Taxa de difusão no tempo;
A = Área radicular.

Fatores que afetam o desenvolvimento das raízes, como compactação,


excesso de Al3+ ou deficiência de Ca, diminuem o valor A e consequentemente a
difusão.
54

Coeficiente de Difusão (D)


D=cm2/s
NO3- = 0,3 x 1,3.10-5
NH4+ = 1,4 x 10-6
H2PO4- = 10-7 a 10-14
K+ = 10-8 a 10-12
H = Volume do solo ocupado por água, isto é, solos
argilosos e com maiores teores de M.O., apresentam maiores valores de H e
consequentemente maior difusão.
Cs = Concentração de nutrientes no solo (CTC).
Cr = Concentração de nutrientes próximos às raízes.
Plantas mais adaptadas a solos de menor fertilidade conseguem manter um Cr
menor e consequentemente maior difusão conforme a ser discutido no item 5.2.
L = Distância do elemento do solo até a raiz.

Com relação a fatores químicos que afetam essa equação, temos:


Alta concentração de elementos na solução do solo (Cs) a uma distância L da
superfície da raiz, é um fator que aumenta a absorção de P e K pelas plantas. Solos
com alto poder tampão de P e K têm maior capacidade de manter Cr constante que
solos com baixo poder tampão e, em conseqüência o valor L tende a ser menor
naqueles solos, resultando numa maior absorção de P e K.

5.2. Habilidade radicular de absorção

A maior ou menor habilidade das raízes de absorver elementos é


característica de espécie ou variedade. Porém algumas propriedades do solo podem
afetar esta habilidade. Assim, plantas com maior habilidade de absorção,
apresentam maior difusão, pois o Cr (concentração do elemento próximo à raiz) é
menor.
A presença na solução do solo de substâncias ou elementos que
interferem no metabolismo das plantas tem efeitos tóxicos sobre as mesmas e
consequentemente afetam a absorção dos elementos. Os casos mais comuns de
toxidez nos solos ácidos da América Latina são devidos a altas concentrações de
Al3+ e Mn2+ na solução.
55

As raízes de planta adaptadas a solos não encharcados, necessitam de


oxigênio no ar do solo para a sua respiração. Em solos com arejamento deficiente, a
absorção de maior parte dos elementos pelas raízes destas plantas é bastante
prejudicada.
O processo de absorção de elementos, sendo relacionado à atividade
metabólica, é afetado pela temperatura do solo. De um modo geral em solos frios a
absorção é mais lenta.
Além de quantidades suficientes de elementos nutrientes é necessário
que estes guardem na solução do solo proporções adequadas entre si ou estejam
apropriadamente balanceados. Se isto não se verificar, podem acontecer efeitos
antagonísticos que provocam a diminuição da absorção de um ou mais elementos.
Um caso bastante conhecido é o efeito antagonístico do K sobre a absorção de Mg:
um aumento na concentração de K na solução ocasiona um decréscimo na
absorção e mesmo uma possível deficiência de Mg.

5.3. Dinâmica do nutriente no solo e localização do fertilizante

Na Tabela 18 está apresentada uma comparação entre os mecanismos


de absorção por fluxo de massa e os por difusão.

Tabela 18. Comparação entre fluxo de massa e difusão.


Fluxo de massa (lixiviação)
Cl- ≥ H3BO3 > NO3- > SO4= > MoO4=
Na+ > K+ > NH4+ > Mg++ > Ca++
Difusão (Fixação no solo)
H2PO4- > Cu++ > Mn++ > Zn++ > Fe++

Analisando os dados da Tabela 18, podem ser tiradas informações


importantes para o manejo químico adequado do solo:
- Os nutrientes que entram em contato com as raízes por fluxo de massa
exigem maiores cuidados na adubação, pois podem provocar toxidez (absorção de
luxo) ou serem perdidos por lixiviação (contaminação no lençol freático),
56

principalmente o Cl- adicionado através do KCl, o NO3- e o H3BO3º para os ânions, e


o K+ para os cátions, em solos arenosos com baixo PTK (Poder Tampão em K);
- Os nutrientes que entram em contato com as raízes por difusão, apresentam
também, efeito residual no solo, principalmente o H2PO4- e os micronutrientes
matálicos (Zn, Cu, Mn e Fe), devendo ser aplicados localizados no sulco de
semeadura;
- Para o caso do potássio que apresenta alto índice salino, recomenda-se em
culturas anuais a aplicação no máximo de 60 Kg/ ha de K2O no sulco de plantio e
parte em pré-plantio em solos argilosos (CTC ≥ 6,0 cmolc.dm-3), enquanto que em
solos arenosos o restante em cobertura pós plantio.
Na Tabela 19 é apresentada a relação entre o processo de contato e a
localização dos fertilizantes.

Tabela 19. Relação entre o processo de contato e a localização dos fertilizantes.


Processo de contato Aplicação dos Fertilizantes
Interceptação Fluxo de Difusão
Elem.
massa
(% do total)
N 1 99 0 Distante, em cobertura (parte)
P 2 4 94 Próximo das raízes
K 3 25 72 Próximo das raízes, em cobertura

Ca 27 73 0 A lanço
Mg 13 87 0 A lanço
S 5 95 0 Distante, em cobertura (parte)
B 3 97 0 Distante, em cobertura (parte)
Cu * 15 5 80 Próximo das raízes
Fe * 40 10 50 Próximo das raízes
Mn * 15 5 80 Próximo das raízes
Zn * 20 20 60 Próximo das raízes
Mo** 05 95 0 Em cobertura (parte)
Fonte: Modificado de MALAVOLTA et al., 1981.* Aplicação foliar/ via mudas;**
Semente/folha/solo.
Analisando as informações da Tabela 19 para o manejo químico
adequado do solo, observa-se conforme já discutido anteriormente o seguinte:
57

- Elementos absorvidos tipicamente por difusão devem ser colocados


próximos às raízes como o P, Cu, Fe, Mn e Zn, por ocasião do plantio;
- Elementos absorvidos por fluxo de massa devem ser aplicados parte em
cobertura como o N, K, S e B;
- Em culturas perenes já instaladas, bem como em culturas anuais em fases
de maior exigência nutricional, há necessidade de aplicação também dos
micrometálicos (Zn, Mn e Cu) via foliar, devido a alta reatividade com o solo;
- No caso da cultura da cana-de-açúcar e mandioca, por exemplo, os
micronutrientes podem ser aplicados via tolete ou maniva respectivamente;
- Pelas baixas doses aplicadas (15 a 20 g.ha-1 de Mo e 2 a 5 g.ha-1 de Co) os
mesmos podem ser aplicados via semente, como no caso das leguminosas.
- O Boro pela sua alta mobilidade no solo (fluxo de massa) e baixa mobilidade
no floema, pode ser aplicado via herbicida, utilizando-se fontes mais solúveis, como
o ácido bórico ou octaboratos.
É importante ressaltar o caso do nutriente Potássio, o qual conforme
apresentado na tabela 19, apresenta maior contribuição do mecanismo de contato
com as raízes por fluxo de massa. Entretanto em solos tropicais, de argilas de baixa
atividade e com baixos teores de matéria orgânica, bem como, a fonte de K2O ser
basicamente o Cloreto de Potássio (KCl) com altos teores de cloro (44%) refletindo
em alta solubilidade, alto efeito salino e alta mobilidade no solo, o mesmo, em
culturas anuais deve ser aplicado no sulco do plantio em doses máximas de 60kg.ha-
1
, sendo o restante, caso necessário, aplicado em pré plantio em solos argilosos
(maior poder tampão em potássio: PTK) e pós plantio em solos arenosos (menor
PTK). Em culturas perenes não se recomenda Potássio em sulcos ou covas de
plantio, devendo ser aplicado preferencialmente em cobertura, de acordo com as
fases fenológicas e consequentemente maior exigência nutricional desse elemento
pelas plantas.
Na tabela 20, está apresentado de modo simplificado o manejo de adubação
de formação e de manutenção de cultura anuais e perenes.
58

Tabela 20. Manejo de adubação de formação e manutenção em culturas anuais e perenes.


59

VI. MANEJO QUÍMICO DO SOLO

6.1. Considerações sobre adubação

A adubação, de maneira geral, pode ser definida pela necessidade da


cultura, subtraído os nutrientes fornecidos pelo solo, multiplicado por um fator de
eficiência de absorção (f), ou seja:

ADUBAÇÃO = (PLANTA-SOLO) x f

O fator (f) é decorrente da “competição” entre o sistema (solo-plata-


atmosfera) com a planta (cultura) pelo fertilizante aplicado.
Essa competição, traduzida em perdas pode ocorrer por:
(1) Erosão: processo de arraste que ocorre para todos os nutrientes;
(2) Lixiviação: percolação de nutrientes no perfil do solo, ocorrendo
principalmente para os ânios (NO3-, H3BO3 e SO42-) e cátions trocáveis
(K+, NH4+, Mg2+ e Ca2+);
(3) Fixação: adsorção ou precipitação do ânion (H2PO4-) e de cátions
metálicos (Zn2+, Cu2+, Fe2+ e Mn2+);
(4) Volatilização: perda do nutriente aplicado via solo para a atmosfera,
podendo ser:
(4.1) Volatilização do amônio (NH3) da uréia, principalmente quando
aplicado em superfície sobre restos culturais;
(4.2) Volatilização provocada pela queimada de palhada de nitrogênio
(N2, N2O), enxofre (SO2) e boro (H3BO3);
(4.3) Desnitrificação biologia do NO3-, provocada pela aplicação do
nitrato de amônio sobre os restos culturais em condições de excesso
de umidade (redução), resultando em formas voláteis de N (N2, NO e
N2O).
(5) Imobilização – Competição pelo nutriente mineral entre os
microorganismos e o vegetal, em condições de material orgânico com
altas relações C/N, C/S ou C/P.
60

6.2. Uso eficiente do fertilizante

Analisando a equação:

ADUBAÇÃO = (PLANTA-SOLO) x f

Observa-se que o manejo químico do solo inicia-se com práticas que


visam aumentar a absorção dos nutrientes, via radicular, existentes no solo ou pela
aplicação do fertilizante mineral, ou seja, práticas que diminuam as perdas dos
fertilizantes (valor f), principalmente:

(1) Sistemas de plantio – adotar sistemas conservacionistas,


fundamentalmente como plantio direto e, em alguns casos,
cultivo mínimo ou preparo reduzido.
(2) Práticas conservacionistas – plantio em nível; construção
de terraços; manter o solo coberto em épocas de maior
precipitação, como por exemplo, através da adubação
verde.
(3) Fontes e parcelamento de nutrientes – evitar a aplicação
de uréia em superfície, principalmente em sistemas de
plantio direto, utilizando uréia protegida como com
inibidores da uréase ou de produtos que retardem sua
liberação; parcelar, principalmente, o potássio em solos
arenosos.
(4) Aplicação de corretivos e fertilizantes à taxa variável
(agricultura de precisão).
(5) Realizar as práticas corretivas na seguinte ordem
seqüencial: calagem, gessagem e fosfatagem.

As práticas acima citadas irão resultar em maior aproveitamento da


adubação mineral de manutenção, seja por menores perdas de nutrientes
no sistema, maior reciclagem dos nutrientes e também pela maior
absorção pela plantas, devido ao maior desenvolvimento do sistema
61

radicular, ocasionando maior absorção de água e nutrientes pelas


plantas.

VII. CONCLUSÃO

Através dos os tópicos discutidos conclui-se que a adubação mineral das


culturas inicia-se pela amostragem e análise no solo, continua com as práticas
corretivas (calagem, gessagem e fosfatagem) em sistemas de plantio direto e/ou
cultivo mínimo e termina com a aplicação do fertilizante mineral de manutenção.
62

VIII. BIBLIOGRAFIA BÁSICA

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adubações. ANDA. São Paulo. 1991. 35p. Boletim Técnico 3.

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