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CONSERVAÇÃO E TURISMO
NO BRASIL
Volume 2
PRÁTICAS EM ENSINO,
CONSERVAÇÃO E
TURISMO NO BRASIL –
VOLUME 2
ISBN: 978-65-85105-10-1
PDF
Bibliografia.
ISBN 978-65-85105-10-1
23-168880 CDD-610.3
Conselho Editorial:
Editor-chefe: Profa. Me. Eliza Carminatti Wenceslau
Corpo editorial consultivo: Profa. Dr. Ana Carolina dos Santos Gauy;
Profa. MSc. Gabriela de Sousa Martins; Prof. Dr. Maxwell Luiz da Ponte;
Prof. Dr. Suédio Alves Meira; Profa. Dra. Tatiane Pereira Scarpelli. Prof.
Dr. Tiago Amaral Sales
Os textos divulgados são de inteira responsabilidades de seus autores, nos
termos do edital de trabalhos do congresso, disponíveis na página da Editora.
APRESENTAÇÃO
Narla Sathler Musse de Oliveira, Artur Basílio de Freitas, Pedro Luiz de Medeiros
Silva, Gabriel Dantas Neto
Brasil: volume
© Este© trabalho 2.integra
São
Este trabalho José
integra do Rio
a aobra:
obra: E.Preto,
E. C. SP: Reconecta
C.Wenceslau
Wenceslau (Org.).
& M. Soluções,
Práticas
L. Ponte 2023.
em ensino,
(eds.). Saberes conservação
e práticas - integrandoe turismo no
ensino, conservação e turismo. São José do Rio Preto, SP: Reconecta Soluções, 2023.
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INTRODUÇÃO
Nosso planeta Terra, desde sua formação, tem passado por constantes modificações
internas e externas que se refletem na paisagem que observamos em nosso entorno.
Algumas paisagens estão associadas ao processo histórico de formação das primeiras
ocupações humanas como os abrigos e as cavernas. Outras são marcadores importantes
de processos geológicos associados a eventos como o vulcanismo, por exemplo, que
deixam registrados na paisagem imponentes geoformas.
Atualmente no Brasil não há atividade vulcânica, mas, os registros geológicos
evidenciam inúmeras manifestações vulcânicas que deixaram seus registros em diferentes
partes do Brasil. Porém, são raros aqueles com beleza cênica e que ficam destacados na
paisagem como é o caso do Pico do Cabugi.
A presença deste elemento geomorfológico no território do Estado do Rio Grande
do Norte, possui enorme relevância para a região, devido a sua importância geoturística,
histórica e geológica.
O Pico do Cabugi, localizado entre os municípios de Fernando Pedrosa e
Angicos/RN, possui altitude aproximada de 590m em comparação ao nível da Depressão
Sertaneja, destacando-se por suas características geomorfológicas e geológicas e
localização próxima a BR 304, que é uma rodovia asfaltada, com grande circulação de
veículos, por ser o elo entre as capitais Natal (RN) e Fortaleza (CE), passando pela Cidade
de Mossoró (RN). Além disto, o acesso ao Pico do Cabugi é aberto, sem qualquer
controle, o que o torna vulnerável à degradação ambiental
Ferreira e Sial (2002), alertam para o processo da extração dos materiais oriundos
do Pico do Cabugi para utilização como material de construção, podendo ocasionar
desprendimento das rochas, mudando seu formato original de cone. Mesmo o local sendo
uma Unidade de Conservação - UC, ainda existe risco de extração de material, uma vez
que não há fiscalização no local.
Diante disto, o objetivo desta pesquisa é compreender a visão que os visitantes e
moradores do entorno do Pico do Cabugi tem a respeito das atividades turísticas que são
desenvolvidas no local.
Por se tratar de um ponto geoturístico de grande valor para o RN e para o Brasil,
devido ser um neck vulcânico que mantém seu formato original, além de permanecer com
sua estrutura geológica bem conservada, os estudos sobre o turismo no local são
inversamente proporcionais a sua importância. A maioria das pesquisas se referem aos
aspectos geológicos do local. Outro ponto extremamente importante é sua referência em
termos geomorfológicos para o RN, pois preserva o seu formato de cone bem definido,
proveniente da suíte basáltica alcalina Terciária (SIAL, 1976).
Por suas características peculiares, fica evidente a necessidade da preservação
ambiental do Pico do Cabugi/RN, onde é possível identificar sinais iminentes da
fragilidade geológica da estrutura devido aos processos naturais de erosão (SZILAGYI,
2007) e devido a ação antrópica.
A preservação ocorre quando a população conhece a importância do local, não
somente em níveis locais, mas também a nível regional. E a melhor forma de conhecer é
por meio da realização de trilhas com guias capacitados, preferencialmente os moradores
locais que podem transmitir aos visitantes os conhecimentos necessários para possibilitar
a sensibilização dos visitantes para a preservação do local.
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Oliveira et al.
REFERENCIAL TEÓRICO
Como boa parte da cultura brasileira, oriunda da cultura indígena, o nome Pico do Cabugi
significa “peito de moça”, em tupi-guarani, também foi atribuído o nome de “Serrote da
Itaretama” ou “serra de muitas pedras” traduzida do mesmo idioma indígena
(FERREIRA, SIAL, 2002; ROCHA; NASCIMENTO, 2007). Por sua importância como
patrimônio cultural-ecológico, foi transformado em parque ecológico
Alguns historiadores locais, afirmam que o Pico do Cabugi teria sido avistado
pelas embarcações vindas de Portugal, configurando a descoberta do Brasil, por volta de
1500 (SOARES, 2019). Importante ressaltar que, nos documentos oficiais brasileiros, a
chegada dos portugueses em terras brasileiras, teria sido no Estado da Bahia, onde teriam
avistado o Monte Pascoal.
O Parque Ecológico Pico do Cabugi possui extensão de 2.164 hectares,
regularizado desde março de 2000, pelo Decreto Estadual número 14.813 (RIO
GRANDE DO NORTE, 2000), que regulariza a Lei n° 5.823 de 07 de dezembro de 1988
(RIO GRANDE DO NORTE, 1988), possuindo a finalidade de preservar um dos grandes
monumentos da atividade vulcânica no Brasil. Além de ter o objetivo de manter parte da
caatinga dos arredores da formação geológica e incentivar o movimento turístico sem
causar danos ao meio ambiente.
Algumas fontes, a maioria não científicas, como blogs de viagens, aventuras e em
reportagens de jornais nacionais, apresentam o Pico do Cabugi como sendo o único
vulcão brasileiro extinto, com forma original preservada. Existem algumas referências
cientificas que fazem alusão a esta condição, como afirmam Ferreira e Sial (2002, p. 394)
“Uma das primeiras citações sobre a existência do Pico do Cabugi foi feita por Moraes
(1924), que reconheceu o pico como um vulcão extinto”.
Posteriormente, os trabalhos científicos realizados na área classificam o Pico do
Cabugi como sendo um neck vulcânico e não um vulcão extinto (ROLF, 1947; SOUZA,
PAIVA, SILVEIRA, 2002). Nesta linha Akihisa Motoki et al (2012, p. 201) afirmam que,
para ser considerado um vulcão extinto, seriam necessárias a presença de materiais
eruptivos como fluxo de lava e depósitos piroclásticos, além de parte erodida do edifício
vulcânico, o que não é observado na área do Pico do Cabugi.
De acordo com Rocha e Nascimento (2007), as rochas do entorno do pico, mais
precisamente as rochas encaixantes, são gnaisses, granitos e pegmatitos, que são
relacionados ao embasamento cristalino. Ainda de acordo com os autores “as rochas que
formam o Pico do Cabugi possuem em torno de 25 milhões de anos, essas são conhecidas
como basaltos e foram formadas a uma temperatura de aproximadamente 1200°C a uma
profundidade de 50 km abaixo da superfície terrestre”. Em relação as rochas que formam
o Pico do Cabugi, Ferreira e Sial (2002, p. 394), afirmam que:
Para Rocha e Nascimento (2007, p. 16), esta formação geológica ocorreu em dois
momentos: “no primeiro o magma oriundo de uma profundidade entre 50-60 km se
desloca até a superfície ocupando fendas e condutos abertos na crosta terrestre, se
depositando nas câmaras magmáticas”. Posteriormente seguiram-se processos erosivos
dando destaque ao elemento geomorfológico.
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Por ser um neck vulcânico ou, para os leigos, um vulcão inativo, esse monumento
geomorfológico, remanescente de atividade vulcânica no Brasil, atrai muitos visitantes
não só dos brasileiros, mas de todas as partes do mundo, configurando-se como um
elemento da geodiversidade, com diferentes tipos de rochas, minerais e geomorfologia
peculiar (FIGURA 1).
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ASPECTOS METODOLÓGICOS
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Figura 2 - Mapa com a delimitação do Parque Ecológico do Cabugi e área do Pico do
Cabugi.
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Figura 4 - Momento da realização da roda de conversa para dar voz aos alunos e
facilitar a interação da equipe com a comunidade.
A roda de conversa é utilizada para dar voz aos participantes da pesquisa, que
muitas vezes só respondem a questionários e entrevistas pré-estabelecidas, sem a
oportunidade de expressarem suas necessidades. Melo et. al. (2016, p. 302) alertam que
“A comunidade, em algumas situações, ainda continua sendo tratada como um objeto de
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estudo e não enquanto sujeito coletivo”. Esta ideia é compartilhada por Moura e Lima
(2014, p. 28) quando afirma que “as rodas de conversa, quando utilizada como
instrumento de pesquisa, uma conversa em um ambiente propício para o diálogo, em que
todos possam se sentir à vontade para partilhar e para escutar”.
Assim, a partir de uma questão inicial: em qual disciplina vocês ouviram falar
sobre o Pico do Cabugi e o que os professores falaram? A maioria dos alunos que se
pronunciaram disseram ter ouvido falar do assunto nas aulas de Geografia e os dados se
referiam aos aspectos geomorfológicos e geográficos do local. Além disto, os alunos
trouxeram várias informações acerca da fauna e flora, das trilhas e das atividades que já
desenvolveram no local.
As demais informações foram obtidas por meio dos formulários eletrônicos. As
questões iniciais se referiam a dados sobre os entrevistados. Em relação a idade, 66,3%
com idade acima de 19 anos, 12,5% com idade entre 16 e 18 anos e 21,2% com idades
entre 13 e 15 anos. Este dado é compatível com a idade dos alunos dos cursos técnicos e
tecnológicos do IFRN, sendo 59,7% alunos do Campus Natal Central. Em relação ao
gênero, 61,3% se identificaram como mulheres; 37,5% como homens e o restante como
não binários.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
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topo, todas as transformações que ocorrem no local ao longo dos anos é facilmente
percebido por quem passa pela movimentada estrada que liga a capital Natal até a cidade
de Mossoró/RN e a Fortaleza, capital do Estado do Ceará.
Assim, é possível observar uma pichação nas rochas, bem próximo ao topo, com
as letras J e A, em maiúsculas feitas há mais de duas décadas. Há indícios de serem as
iniciais do nome de um importante político potiguar. Neste sentido, foram realizadas duas
questões para os entrevistados relacionadas a esta pichação. A primeira era se as pessoas
já haviam observado a pichação. Somente 43,8% tinham observado as letras.
Posteriormente foi questionado aos que já haviam observado as letras, o que elas
significavam. 70,6% associaram as letras ao nome do político que pichou suas iniciais
nas rochas do pico.
Lamentavelmente é impossível eliminar as letras gravadas nas rochas que foram
feitas em uma época em que a legislação ambiental ainda era incipiente e quando o Pico
Cabugi ainda não era um Parque Ecológico. Porém, somente 27, 8% sabem que o Pico do
Cabugi, foi tombado pela Fundação José Augusto por sua importância natural para o
Estado do Rio Grande do Norte.
As questões seguintes referiam-se aos aspectos geológicos e geomorfológicos do
Pico do Cabugi. O Pico possui uma altitude de 590m. Ao serem perguntados sobre este
dado, 45,6% acertaram a resposta. E sobre o Pico do Cabugi ser ou não um elemento do
vulcanismo, 66,3% afirmaram ter este conhecimento. Aos que tinham este conhecimento,
foi perguntado o tipo de rocha que era encontrado no Pico do Cabugi. As respostas podem
ser observadas na figura 6.
Pela figura 6 podemos observar que 57% associam o Pico do Cabugi com os
basaltos, 31,6% não souberam responder e 11,4% o associaram a outros tipos de rocha.
Vale ressaltar que as rochas predominantes no pico são os basaltos, que são rochas ígneas
extrusivas encaixados em rochas metamórficas denominadas de gnaisses. Questionados
sobre a possibilidade de o Pico Cabugi entrar em erupção, 68,8% afirmam que ele não
pode entrar em erupção, 27,8% acham que talvez e somente 3,4% acreditam na
possibilidade de o Pico do Cabugi entrar em erupção. Este dado é importante pois
demonstra que um número pequeno de pessoas acredita na possibilidade de erupção do
Pico do Cabugi, mostrando conhecimento acerca de suas características geológicas. Sobre
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o tipo de vegetação encontrada no local, 54,4% afirmam ser a caatinga, acertando a
resposta; 12,7% restinga, 11,4% de mata atlântica e 21,5% não souberam responder.
Figura 6 - Dados sobre o tipo de rocha que pode ser encontrada no Pico do Cabugi.
Em relação a fatos históricos, foi perguntado aos entrevistados se eles sabiam que
um pesquisador potiguar teria afirmado que o Pico do Cabugi seria o ponto onde as
embarcações vindas de Portugal teriam avistado terra firme, ao invés de ser o Monte
Pascoal, na Bahia. Somente 43,6% sabiam deste fato. Este não é um fato muito conhecido
e está restrito aos trabalhos técnicos, ainda não sendo muito discutidos nas escolas.
Finalmente foi perguntado aos participantes qual era a importância do Pico do
Cabugi como um geossítio da diversidade. A questão era aberta e não obrigatória. Dos 80
participantes, 40 pessoas responderam e algumas destas respostas podem ser observadas
abaixo.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Entende-se que o Parque Ecológico Estadual do Pico do Cabugi ainda está mantendo seu
formato original, preservando as suas principais características geomorfológicas. Por
outro lado, ainda se percebe o descaso por parte dos órgãos de governo, devido ao
abandono dessa Unidade de Conservação que abriga tão importante elemento da
geodiversidade. Os perigos são iminentes não só para as pessoas que se dispõem a praticar
a escalada, mas também para a formação geológica.
Os dados da pesquisa revelam a necessidade do investimento em divulgação sobre
os aspectos geológicos, geomorfológicos, históricos e culturais da área de estudo, tanto
em escolas quanto junto aos visitantes do local.
Para diminuição dos impactos sobre essa formação rochosa é de grande
importância a proibição da retirada do material, como o basalto e os nódulos, pois há
perigo que estes sejam utilizados na construção civil, destruindo assim a morfologia
original de cone que é uma característica dessa serra.
É primordial que seja inserida a sinalização das trilhas e placas informativas, com
dados de tipos de rochas encontradas, suas idades, vegetação, altitude etc. As informações
para os visitantes são vistas como ação educativa e sendo uma forma de sensibilizá-los
acerca de qualquer intervenção negativa que eles possam realizar sobre o local.
Embora tenhamos uma legislação que rege a conservação ambiental, os órgãos
ambientais deveriam realizar formas de disseminar informações e sensibilizar a
população por meio de panfletos, ações educativas em escolas da região e principalmente
pela internet, que se tornou uma ferramenta importante de divulgação para que população
do entorno e visitantes sejam agentes de preservação.
Adicionalmente, é imprescindível um planejamento turístico com guias
capacitados, equipamentos de segurança que envolvam profissionais de várias áreas com
o mesmo objetivo que é preservar o ambiente natural, fazendo com as visitas ocorram de
forma consciente preservando o meio ambiente e possibilitando segurança para todos.
REFERÊNCIAS
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Oliveira et al.
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