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CAD ERNO

REFLEXÕES SOBRE
EFICIÊNCIA ENERGÉTICA
Ficha catalográfica elaborada pelas Bibliotecárias, Caroline Santos de Cisne CRB14/1109, Gyance Carpes CRB14/843 e Vanessa Aline
Schveitzer Souza CRB14/1283
CADERNO

REFLEXÕES SOBRE
EFICIÊNCIA ENERGÉTICA
FLORIANÓPOLIS - SANTA CATARINA
2022
S231 Santa Catarina. Governo do Estado. Secretaria de Estado da Educação.
Caderno reflexões sobre eficiência energética / Governo de Santa
Catarina, Secretaria de Estado da Educação.  Florianópolis : Secretaria
de Estado da Educação, 2022.
110 p. : color.

Publicação digital (e-book) no formato PDF.


A obra é resultado de reflexões de pesquisadores de diferentes
Faculdades e Universidades.

ISBN 978-65-996330-4-1

1. Educação Ambiental. 2. Educação para o Consumo. 3.


Eficiência Energética. I. Santa Catarina (Estado). Secretaria de Estado
da Educação II. Título.

CDD 372.357

Ficha catalográfica elaborada pelas Bibliotecárias, Caroline Santos de Cisne CRB14/1109,


Gyance Carpes CRB14/843 e Vanessa Aline Schveitzer Souza CRB14/1283
FICHA TÉCNICA
Governador do Estado de Santa Catarina
Carlos Moisés da Silva

Vice- gov erna dora do Estado de Santa Catarina


Daniela Cristina Reinehr

Secretário de Estado da Educação


Vitor Fungaro Balthazar

Secretária Adjunta
Maria Tereza Paulo Hermes Cobra

Consultor Exec utivo


Rodrigo de Souza Comin

Consultora Jurídica
Jéssica Campos Savi

Assessor de Comunicaçã o
Gabriel Duwe de Lima

Diretor de Administração Financeira


Pedrinho Luiz Pfeifer

Diretor de Gestão de Pessoas


Marcos Vieira

Diretor de Planejamento e Politicas Educacionais


Marcos Roberto Rosa

Diretora de Infraestrutura
Vivian da Silva Freitas

Diretora de Ensino
Letícia Vieira

EQUIPE CELESC
Diretor Presidente da CELESC
Clesio Poleto Martins

Diretor de Distribuição da CELESC


Sandro Ricardo Levan doski

Gerente do Departamento de Engenharia e Planejamento do


Sistema Elétrico da CELESC
André Leonardo König

Gerente da Divisão de P& D e Eficiência Ene rgética da CELESC


Thiago Jeremias

Gerente de Projetos da Divisão de P& D e Eficiência Ene rgética da CELESC


Rodrigo José Hoffmann
EQUIPE SED/ SC
Equipe da Educação Profissional da SED/ SC
Arnaldo Haas Junior
Letícia Vieira
Li l ian Maia Rod rigues
Luis Duarte Vieira
Michely Salum Pontes
Priscila de Souza Godoi de Andrade
Estagiário Marco Antônio Garcia Gava

Equipe do Projeto
André Fabiano Bertozzo
Camila de O liveira Galvagni
Letícia Vieira
Luis Duarte Vieira
Marise Souza Conceição

Revisão de Conteúdo
André Fabiano Bertozzo
Arnaldo Haas Junior
Li l ian Maia Rod rigues
Luis Duarte Veira
Marilete Gasparin
Michely Salum Pontes
Priscila de Souza Godoi de Andrade
Rodrigo José Hoffmann

Diagramação
Marco Antônio Garcia Gava
SUMÁRIO

01 05
ENERGIA EÓLICA: UMA
VISÃO GERAL E SUA
APRESENTAÇÃO
APLICAÇÃO NO ENSINO
PÁGINA 08
PÁGINA 56

02 06
TRAJETÓRIA DO CAPITAL ENERGIA FOTOVOLTAICA
E DO SUJEITO NO ESTADO DO MATO
CAPITALISTA DIANTE DO GROSSO: SEQUÊNCIA
DESAFIO DA ALTERIDADE DIDÁTICA PARA UM
ESTUDO DA REALIDADE
PÁGINA 12
PÁGINA 76

03 07
EFICIÊNCIA ENERGÉTICA: UM PANORAMA DA MATRIZ
UMA POSSÍVEL SOLUÇÃO ENERGÉTICA NUCLEAR
PARA A REDUÇÃO DO BRASILEIRA
EFEITO ESTUFA NO
CONTEXTO DA PANDEMIA PÁGINA 94

PÁGINA 28

04
AS CORRENTES DA
EDUCAÇÃO AMBIENTAL
COMO SUBSÍDIO
EPISTEMOLÓGICO PARA A
PRÁTICA DOCENTE SOBRE
EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

PÁGINA 40
01 APRESENTAÇÃO

O Novo Ensino Médio (NEM) tem, em sua essência, o propósito de trazer o


estudante e seus interesses para o centro do processo educativo, garantindo que as

unidades escolares se constituam como espaços de cidadania, capazes de colocar em


prática uma educação “voltada para a compreensão da realidade social e dos direitos e

responsabilidades em relação à vida pessoal, coletiva e ambiental” (BRASIL, 1997, p. 15).


A nova arquitetura curricular proposta para esta etapa da educação básica pelo
advento da Lei 13.415/2017, pela Base Nacional Comum Curricular e pelos dispositivos

legais a ela vinculados, tem por princípio a flexibilização curricular, definida a partir de
uma divisão da matriz curricular em uma parte de Formação Geral Básica e uma parte

flexível, denominada Itinerários Formativos. Esta flexibilização curricular toma forma no


Currículo Base do Ensino Médio do Território Catarinense, que, define, para o Território

de Santa Catarina, a composição dos Itinerários Formativos por quatro principais partes:
Projeto de Vida, uma Segunda Língua Estrangeira, Trilhas de Aprofundamento e os

Componentes Curriculares Eletivos.


Cabe ressaltar, ainda, que, a Base Nacional Comum Curricular ancora a educação

básica nos chamados Temas Contemporâneos Transversais, dos quais fazem parte duas
temáticas ligadas ao meio ambiente: Educação Ambiental e Educação para o Consumo.

De forma bastante resumida, é neste contexto que o material ora apresentado se


insere.

O presente documento conta textos e artigos que tratam de temáticas ligadas à


eficiência energética. Temática aderente aos Temas Contemporâneos Transversais e

central para os desafios vivenciados no mundo contemporâneo, no qual, cada vez mais,
busca-se um desenvolvimento social compatível com a sustentabilidade ambiental.

Nesta direção, a eficiência energética é compreendida, ao longo deste documento, não


só como modo de consumir energia, mas como postura de vida.

8|Página
O trabalho aqui apresentado é resultado das reflexões de pesquisadores de

diferentes Faculdades e Universidades, representando a posição destes. Tem-se por

intuito que as reflexões aqui contidas permitam contribuir para a promoção, junto aos
estudantes da Rede Estadual, do desenvolvimento de habilidades voltadas ao uso

consciente e eficiente da energia, para que possam apreender e aplicar conhecimento


científico e tecnológico, realizando intervenções e propondo soluções sustentáveis a

partir das demandas locais, para que, finalmente, se alcance uma mudança cultural por
meio do uso eficiente de energia.

Letícia Vieira
Diretora de Ensino

9|P ágina
TRAJETÓRIA DO CAPITAL E DO SUJEITO

02 CAPITALISTA
ALTERIDADE
DIANTE DO DESAFIO DA

Lauro Roberto Lostada, Dr.1


Albio Fabian Melchioretto, Me.2

INTRODUÇÃO
Desde os tempos mais remotos da nossa história, as relações se constituíram em
torno das tecnologias e de seus impactos na vida humana, o que determinou a
constituição das relações de trabalho e a iminência de um modelo de sociedade baseado

no capital e no progresso das ciências, difundindo a concepção de que o homem é o


dono de seu próprio destino e, consequentemente, também do destino da sociedade e,

de certa maneira, do destino da natureza. As consequências desse pensamento têm sido


trágicas, apontando para uma profunda crise ecológica, com sérias implicações para a

subsistência humana no planeta. Mudanças urgentes tornaram-se necessárias para que a


vida humana ainda seja possível e, neste sentido, a alteridade se impõe como um

caminho possível para a instituição de uma ecologia integral, que vise ao cuidado com o
outro e com a natureza, inclusive com práticas conscientes para o uso dos recursos

disponíveis na natureza, o que seguiremos discutindo neste trabalho através de uma


reflexão que procura aproximar a filosofia com o debate sobre a eficiência energética.

Palavras-chave: Capitalismo. Alteridade. Ecosofia. Ecologia Integral. Eficiência

Energética.

1
Mestre e Doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Educação do Centro de Ciências da Educação
(PPGE/CED) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), especialista em Mídias na Educação pela
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), especialista em Práticas Pedagógicas
Interdisciplinares pelo Centro Universitário (FACVEST), licenciado em Filosofia pela Universidade Federal de
Santa Catariana (UFSC). Assistente Técnico na Secretaria de Estado da Educação. E-mail:
laurorl@sed.sc.gov.br.
2
Doutorando em Desenvolvimento, pelo Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional pela
Universidade Regional de Blumenau, (FURB); Mestre em Educação pela Universidade Regional de
Blumenau (FURB), especialista em Mídias e Educação pela Universidade Federal do Rio Grande (FURG),
Filosofia pela Universidade Regional de Blumenau (FURB) e Gestão Escolar pelo Serviço Nacional de
Aprendizagem Comercial (SENAC); Graduado em Filosofia pelo Centro Universitário de Brusque (Unifebe).
Bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES), 2019-2023. E-
mail: albio.melchioretto@gmail.com.

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REFLEXÕES SOBRE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

AS CONSEQUÊNCIAS DA EXPANSÃO DAS TECNOLOGIAS SOBRE O


CONCEITO DO HUMANO

De acordo com as teorias contratualistas, a passagem do estado natural para o

civil operou-se por meio de uma espécie de pacto social estabelecido com a finalidade
de possibilitar um convívio pacífico entre os membros de um determinado

agrupamento geográfico. Para tanto, foi necessária a criação de todo um conjunto de


leis, moral e costumes, que passariam a reger as relações, originando e tecendo o

conceito de sociedade. De forma geral, no entanto, o que se buscava resguardar com


esse pacto social e suas decorrentes leis, moral e costumes seria a propriedade privada;

e somente um Estado forte e grande poderia alcançar tal empreendimento. Para John
Locke (1994), por exemplo, a propriedade privada é concebida como toda espécie de

bens adquiridos, mas também como nosso próprio corpo, propriedade natural e
primaz, e, desta maneira, submeter a vontade e a liberdade natural às definições do

Estado tornar-se-ia a única maneira de, naquele momento, garantir a existência e a


segurança contra qualquer tipo de riscos, sejam eles provenientes das relações sociais

estabelecidas entre os membros do Estado ou entre Estados – o que demandaria a


criação de organismos que teriam a função de regulamentar as leis (legislativo) e que as

fizessem cumprir, como no caso do poder executivo e judiciário (MONTESQUIEU, 2007).


Tal noção teria regido, de forma geral, a organização das sociedades ao longo

da história. Mas com o desenvolvimento e expansão das tecnologias, a sociedade


deparou-se com grandes transformações, já que as novas ferramentas passaram a

determinar os rumos da história, configurando novos cenários à humanidade. Assim,


vimos surgir a Revolução Industrial, onde observamos o advento da indústria e da

produção mecanizada. Esse marco histórico ocorreu na Inglaterra do século XVIII, a


partir, principalmente, da invenção da máquina a vapor por James Watt, em 1760,

expandindo-se rapidamente por todo o mundo, impondo um sistema fabril


mecanizado que acabou suplantando a consagrada produção manufaturada e
substituindo a mão-de-obra dos artífices pela realizada com o uso das máquinas, agora

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TRAJETÓRIA DO CAPITAL E DO SUJEITO CAPITALISTA
DIANTE DO DESAFIO DA ALTERIDADE

produzidas em larga escala. No mesmo compasso, assistimos a um crescimento


exponencial da demanda de matéria-prima, trabalhadores especializados e mercado
consumidor, além da necessidade de uma rede de transporte cada vez mais complexa e

eficiente para o escoamento dos produtos e pessoas por todos os cantos possíveis.
Esse cenário promoveu a consolidação de uma nova relação baseada

fundamentalmente no capital, com inserções crescentes de novas técnicas de produção


e venda de mercadorias e, consecutivamente, também novas formas de divisão do

trabalho e imperativos financeiros. Embora tanto a questão comercial quanto a


industrial sejam fenômenos históricos distintos, há que se avaliar que ainda assim são

fenômenos interdependentes, afinal, as bases que foram lançadas com a ascensão


financeira do novo modelo comercial deram subsídios para que, mais tarde, os

detentores do capital, outrora conhecidos como burgueses, com os recursos que

dispunham graças a mais-valia, e diante das duras condições de vida da época,

especialmente em relação à grande oferta de mão-de-obra, pudessem investir na

modernização do modelo de produção, com a progressiva divisão do trabalho (MARX,


1980). Na prática, o que acontece neste processo é que durante a Idade Média

prevaleciam as corporações de ofício, onde os artesãos, sob a supervisão dos mestres-


artesãos, em posse das ferramentas e matérias-primas, realizavam seus trabalhos; mas,

com o final da Idade Média, as corporações de ofício acabaram sendo substituídas


pelas manufaturas, onde os mestres-artesãos passam a deter a propriedade sobre os

meios de produção, convertendo os artesãos em meros trabalhadores assalariados que,


pela divisão do trabalho, passam a desconhecer as múltiplas faces do processo de

produção de mercadorias (SANTIAGO, 2017).


Esse cenário acabou consolidando a modernidade como um modelo de
organização social baseado fundamentalmente no capital e, por sua vez, também no
poder de manipulação das massas. Um fato de grande impacto, neste sentido, foi a

invenção da imprensa. O feito de Gutenberg acabou gerando uma verdadeira


revolução cultural ao oferecer acesso democratizado ao conhecimento e à

interpretação literária. É o que podemos constatar através da Reforma Protestante de


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REFLEXÕES SOBRE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

Martinho Lutero, cuja principal contribuição foi a de tornar livre a interpretação das
sagradas escrituras. O feito acaba rompendo radicalmente com a exegese cristã
medieval, permitindo uma ruptura com o pensamento da época e, desta forma,

estabelecendo uma nova relação de forças. Este é, em resumo, o ambiente do


Iluminismo, cuja característica mais marcante foi a de oferecer um solo fértil no qual

iriam brotar severas críticas à dominação religiosa, ao estado absolutista e aos


privilégios das elites. A razão passou a ser o principal instrumento para a promoção do

progresso da humanidade, fundamentando tanto às concepções liberalistas quanto as


positivistas que passaram a reger a modernidade.

Como a razão era considerada necessária para a conquista da justiça, da


felicidade e da igualdade, a educação passou a se organizar em torno dos princípios da
universalidade e da autonomia. Da mesma forma, em vista do movimento de ilustração,
muitos pensadores importantes como Jan Amos Komensky (Comênio), Jean-Jacques
Rousseau e Erasmo de Roterdã, por exemplo, passaram a defender um modelo de
educação que fosse gratuita, obrigatória e laica, o que fez com que as elites tivessem
menos influência sobre a formação do povo, que alcançou acesso a muitos direitos
nunca antes conquistados. É do movimento estabelecido em razão do iluminismo, aliás,

a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão3, importante documento que

norteia o direito internacional.

Na prática, apesar do ideal de liberdade, igualdade e fraternidade pregado no

Iluminismo, a Revolução Industrial exigiu a formação de trabalhadores cada vez mais


especializados, nutrindo a oferta e expansão de um modelo educacional com fins

utilitaristas, profissionalizantes, por assim dizer, disciplinadores. Como nos diz Foucault
(2008, p. 196), “o hospital, primeiro, depois a escola, mais tarde a oficina (...) foram

aparelhos e instrumentos de sujeição”. Ao contrário de antes, quando a educação era


somente para as elites, as lutas travadas em torno do Iluminismo permitiram o acesso

da população às escolas, contudo, a educação oferecida era de baixa qualidade. As


escolas passaram a exercer um papel de grande importância no novo cenário para a

3 https://www.unicef.org/brazil/declaracao-universal-dos-direitos-humanos

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TRAJETÓRIA DO CAPITAL E DO SUJEITO CAPITALISTA
DIANTE DO DESAFIO DA ALTERIDADE

conformação das massas aos interesses das elites. Assim, devido aos movimentos
persistentes em defesa do trabalhador, assistimos ao desenvolvimento de instrumentos

cada vez mais complexos para a manutenção das relações de dominação até então
constituídas. É o que podemos verificar com a configuração de instituições como a

família, a escola e a igreja, por exemplo, enquanto instrumentais responsáveis pela


formação/conformação dos sujeitos na era moderna – as chamadas instituições de

sequestro (FOUCAULT, 2008). Trata-se, portanto, de um movimento cujas nuances


passam a definir o liberalismo moderno, que pode ser retratado através da metáfora do

Leviatã, de Thomas Hobbes (1983). O Leviatã representa o poder que, através de um


contrato social, organiza a sociedade. A ilustração, quando vista de perto, é composta

por um agrupamento de pessoas, para lembrar que o poder foi fundado pelo próprio
povo, com vistas à sua segurança e à de sua propriedade. Na mão direita o Leviatã

segura uma espada, como símbolo de força. Na mão esquerda, por sua vez, podemos
ver um cetro, que simboliza o poder soberano, inclusive aquele relacionado ao controle

social.
O homem, preterido na Idade Média por Deus, passa a ser o centro das

atenções dos pensadores e intelectuais, o que caracteriza o humanismo e o conceito do


antropoceno (CRUTZEN, 2002), fornecendo os subsídios para o individualismo e para a

ideia de que o homem se faz por si mesmo e para si mesmo: “Deus é excluído do
destino do homem e as ações humanas deixam de ser explicadas em função de uma

finalidade divina; o homem passa a ser o dono do seu destino e, como tal, criador da
própria sociedade” (ALVARENGA, et al, 2011, p. 11). O homem passa a ser medido,

então, não apenas pela influência de seu sangue ou família, como antes, mas também

pelos frutos de seu trabalho, fazendo com que o espírito humano não tenha mais o
ímpeto de apenas contemplar a natureza, mas intervir radicalmente sobre ela, surgindo,

assim, deste cenário, as grandes inovações da história humana.

Enquanto a ciência antiga baseava-se profundamente num modelo teórico e


contemplativo de conhecimento, sem o ímpeto da intervenção, a ciência moderna

passa a dedicar-se à aplicação prática ou técnica do conhecimento com o objetivo claro


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REFLEXÕES SOBRE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

de intervir sobre a natureza para apropriar-se dela, controlá-la e dominá-la. O


investimento em tecnologia que produza cada vez mais a um custo cada vez menor
tornou-se um elemento crucial nessa nova constituição.

A nova ciência passou a ser uma lei evolutiva que suplanta as etapas anteriores
do progresso humano (COMTE, 1988) e, desta forma, Deus é excluído do destino do

homem e as ações da humanidade passam a ser explicadas e mensuradas pela


concepção de que o homem é o dono de seu próprio destino e, por extensão, também

do destino da sociedade e, de certa maneira, do destino da própria natureza. Assim,


segundo Fernandes (2008, p. 10), “a tecnologia e todo o desenvolvimento da ciência

tornaram-se um remédio sem a bula moral e ética que regule o seu uso e previna seus
efeitos colaterais”.

A ALTERIDADE COMO UM CAMINHO DE TRANSFORMAÇÃO

O que observamos com o todo o processo descrito até o momento é a

transformação dos bens naturais e, inclusive, das pessoas em verdadeiras mercadorias,


passíveis de serem comercializadas e, eventualmente, descartadas, segundo o que

melhor convir às tramas do capital. Acontece que, sem uma bula moral e ética
(FERNANDES, 2008) que oriente as relações sociais e destes com a natureza, a

exploração exacerbada dos recursos naturais, o ritmo acelerado da produção industrial,


os hábitos de consumo e a quantidade de resíduos produzidos, acabaram provocando

e agravando graves problemas ambientais, percebidos em cada região do planeta,


distintamente, causando uma verdadeira crise, cuja ruptura parece cada dia mais

irreversível (ALTVATER, 1993). Essa crise caracteriza-se por uma ruptura entre a
humanidade e a natureza, distanciando os humanos dos processos ecológicos em vista

de um futuro incerto e talvez nada promissor.


Com o crescimento da demanda por pastagens, terras agrícolas, áreas urbanas e

insumos, presenciamos a expansão das fronteiras de exploração, principalmente nos


países com abundância de recursos naturais, como no caso do Brasil. Nos sete estados

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TRAJETÓRIA DO CAPITAL E DO SUJEITO CAPITALISTA
DIANTE DO DESAFIO DA ALTERIDADE

da Amazônia Legal, por exemplo, a taxa consolidada de desmatamento por corte raso
em 2020 foi de 10.851 quilômetros quadrados, o que resulta em inegáveis impactos ao
ecossistema não somente local, mas também global, causando toda uma preocupação

mundial com as práticas extrativistas e de proteção aplicadas na região. Como


consequência direta do desmatamento da Amazônia podemos citar, por exemplo, a

diminuição do regime de chuvas, pois o desmatamento afeta os níveis de


evapotranspiração da floresta. A Floresta Amazônica tem a função de injetar umidade

na atmosfera e, com menos floresta, menos umidade é emitida para o ar e,


consequentemente, menor é a intensidade das massas de ar úmido, responsáveis por

boa parte das chuvas no país (AMORIM, et al, 2019). O resultado dessa mudança é o
aumento do nível de precipitação em algumas regiões, enquanto que em outras têm-se

esse nível reduzido, impactando diretamente nas atividades tradicionais das regiões,
exigindo grande adaptação das populações locais que veem seus meios de subsistência

serem cada vez mais suprimidos, aprofundando as desigualdades sociais e étnicas.


Naturalmente afortunado com um privilegiado ecossistema, com grande

biodiversidade, o Brasil baseou sua produção energética nas hidrelétricas, fazendo com
que atualmente 68% de toda energia utilizada no país seja proveniente de fontes

hidráulicas. Devido ao fato dos reservatórios estarem cada vez mais baixos, a
capacidade de produção vem diminuindo gradativamente. Segundo o Operador

Nacional do Sistema Elétrico (ONS, 2021), a escassez de chuvas no país para a geração
de energia é a pior em 91 anos. Em 2021, as hidrelétricas diminuíram sua participação

na produção de energia brasileira em cerca de 20%. A capacidade do principal


reservatório do sistema, o Sudeste/Centro-Oeste, passou de 42,3% em 2020, para

22,7% em 2021. No mesmo período observamos um aumento de 50% no uso de fontes


como a eólica e a solar, mas a aposta para a superação da crise hídrica no país tem sido

a ativação de usinas termelétricas, modal que teve uma participação aumentada no país
de 10,6% em 2020 para 28,5% em 2021 (ONS, 2021).

O Brasil tem optado por avançar com a instalação e operação de termelétricas


fósseis, que usam carvão e derivados do petróleo para produzir energia. Ilustra a
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REFLEXÕES SOBRE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

situação o fato de que os últimos leilões de energia elétrica realizados em 2021


permitiram, pela primeira vez na história do país, o funcionamento em tempo integral
das termelétricas contratadas. Ao mesmo tempo, a Lei nº 14.182/2021, que diz respeito

a privatização da Eletrobras, determina a inserção de 8 GW de termelétricas a gás


natural operando em tempo integral aos 15,7 GW já em operação no país - uma

inserção que projeta um acúmulo de 260,3 MtCO2 em 15 anos.


Das termelétricas cadastradas nos leilões de energia realizados em 2021, 23 deles

propõem a utilização de água doce em seus sistemas de resfriamento, sendo destas


nove instaladas em bacias com quadro hídrico preocupante, crítico ou muito crítico.

Paralelamente, somente 18 das 57 usinas licenciadas participantes dos leilões estão


localizadas em municípios detentores de, ao menos, uma estação de monitoramento da

qualidade do ar, cujo funcionamento é necessário para avaliar a concentração de


poluentes no ar respirado pela população local.

O que verificamos, portanto, é que nosso modelo de desenvolvimento é


preponderantemente dominado pela lógica de mercado, alavancando uma série de

impactos negativos sobre os ecossistemas. O processo de diversificação da matriz


energética deveria priorizar as energias renováveis variáveis, apoiando a

descarbonização da matriz e uma mudança na lógica dos relacionamentos da


humanidade com o meio natural:

Diante da exploração e utilização insustentável dos recursos finitos do planeta,


originando a eclosão crônica de problemas sociais, conceitos como
sustentabilidade e desenvolvimento sustentável passaram a ter uso
generalizado e inespecífico. Servindo a várias finalidades e justificativas, a
expressão desenvolvimento sustentável tem sido utilizada como um guarda-
chuva para discursos que se pretendem apolíticos e ambientalmente corretos,
embora impulsionem a homogeneização da cultura e da educação ambiental
globalizada (GONZAGA, et al, 2021, p. 377).

O antropoceno resultou numa consciência tal que tornou-se cada vez mais difícil
conciliar os interesses diversos em torno de um ideal de sustentabilidade, baseado no
conceito de que todo o ser humano interage e é interdependente do outro (alteridade)

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TRAJETÓRIA DO CAPITAL E DO SUJEITO CAPITALISTA
DIANTE DO DESAFIO DA ALTERIDADE

e do ambiente natural no qual se insere (ecologia integral), o que nos direciona para a
necessidade de um novo contrato social, alicerçado na ética do cuidado, que vise não
somente a sobrevivência das espécies, inclusive, a humana, como também a proposição

de um modelo de desenvolvimento sustentável.


Mecanismos legais de incentivo à conservação de energia apresentam-se como

meios empregados por vários países para reduzir o consumo de energia e as emissões
de gases de efeito estufa. O Brasil, por exemplo, teve suas primeiras legislações de

incentivo à eficiência energética datadas da década de 1980, com a criação, em 1981, do


Programa Conserve, que visava promover a conservação de energia na indústria, o

desenvolvimento de produtos eficientes e a substituição de energéticos importados por


fontes nacionais. Em 1982 foi lançado o Programa de Mobilização Energética (PME), com

ações que objetivavam a conservação de energia, substituindo o petróleo por fontes


renováveis de energia. Ainda em 1985 foi instituído o Programa Nacional de Conservação

de Energia Elétrica (Procel), cuja missão seria promover o uso racional de energia elétrica
em todo país. Em 1990 surgiu o Programa Nacional da Racionalização do Uso de

Derivados do Petróleo e do Gás Natural (Conpet), com a finalidade de estimular o uso


racional de recursos energéticos no país, mas focado em fontes de energia não

renováveis. Em 1997 foi lançada a Política Energética Nacional (PEN) e criados o Conselho
Nacional de Política Energética (CNPE) e a Agência Nacional de Petróleo (ANP). Em 2000

foi publicada a lei n. 10.295/2001, lançando a Política Nacional de Conservação e Uso


Racional de Energia, o principal marco legal na área da eficiência energética no país. A Lei

n. 10.295/2001 instituiu que o Poder Executivo ficaria responsável em desenvolver


mecanismos que promovam a eficiência energética de máquinas e equipamentos

fabricados e comercializados e das edificações construídas no país. Nos anos seguintes os


avanços se deram no âmbito do Programa Brasileiro de Etiquetagem (PBE), com políticas

de certificação de eficiência energética, inclusive com relação à compensação de energia


elétrica por substitutos de fonte hidráulica, solar, eólica, biomassa ou cogeração
qualificada. Neste caso, se a produção de energia for maior que o consumo, são gerados
créditos que podem ser utilizados pelo usuário (Resolução Aneel n. 482/2012). Enquanto
20 | P á g i n a
REFLEXÕES SOBRE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

ação complementar, foi instituído o Plano Nacional de Energia 2030 e o Plano Nacional
de Eficiência Energética, que constituem importantes instrumentos para a aplicação de
medidas de eficiência energética em todo o país ao longo da próxima década.

Em conjunto, esses importantes marcos regulatórios são instrumentos para a


promoção de um projeto de desenvolvimento sustentável que incentiva uma relação

mais saudável entre o homem e o meio natural, embora visualizamos a necessidade da


promoção de ações educativas que visem a promoção de uma ecosofia, com o incentivo

de projetos de vida que caminhem lado a lado com os meios naturais, para além da
antigo modelo de sociedade baseado no capital e no progresso das ciências, em que é

difundida a concepção de que o homem é o dono de seu próprio destino e,


consequentemente, também do destino da sociedade e do destino da natureza e das

demais espécies do planeta.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Falar em produção de energia e condições mais eficientes para tal é pôr o

desenvolvimento em debate. Via de regra, é comum encontrar discursos que reduzem


a ideia do desenvolvimento à perspectiva econômica, como se houvesse um único tipo

de desenvolvimento. A palavra desenvolvimento, porém, sugere um “des-envolto”. O


envolto é aquilo que encobre ou abriga determinadas certezas, que muitas vezes,

impede o desdobramento de possibilidades. Desenvolver é retirar o véu que cobre as


coisas, desvelando possibilidades e, no caso desta reflexão, apresentar uma relação que

transcende a perspectiva de consumo do capital para um olhar de uso e apropriação

que considere a manutenção da aventura humana na Terra, tendo como premissa o


cuidado.

O cuidado sobre a Terra conduz a uma reflexão que supere o fetiche econômico.
O desenvolvimento econômico resultante da Revolução Industrial produziu formas de

desigualdades. Há desigualdades produtivas, há países dominantes e países com


dificuldades de crescimento econômico, há o bilionário e há aqueles que morrem de

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TRAJETÓRIA DO CAPITAL E DO SUJEITO CAPITALISTA
DIANTE DO DESAFIO DA ALTERIDADE

fome. Estas condições de desenvolvimento produzem vários problemas, mas aqui


destaca-se pelo menos três: os problemas de natureza social, onde há a concentração
de riqueza bilionária nas mãos de poucos e milhões que vivem em condições de

miséria à margem do desenvolvimento econômico; as formas predatórias de consumo


que não provocam crises ambientais e as condições de desigualdade que se

retroalimentam, formando um ciclo desigual que põe em xeque a própria humanidade.


Para superar esses problemas se faz urgente a superação dos paradigmas que a

produzem. Poder-se-ia pensar em três possibilidades que se interligam: a ecosofia; a


ecologia integral e a ética do cuidado. Estas três variáveis refletem sobre um tipo de

desenvolvimento que ameniza as condições de desigualdade.


A Ecosofia é um neologismo que propõe a interconexão de atitudes ecológicas

com o pensamento abstrato humano, vislumbrando alternativas ao fetiche econômico.


É uma abordagem pluralista que prevê pelo menos três possibilidades: a primeira a

ecologia social, a segunda a ecologia mental e a terceira a ecologia ambiental. Não se


trata de propor um modelo de sociedade pronto para usar, mas um conjunto reflexivo

que permita olhar a possibilidade de um outro paradigma.


A ecologia social trabalha as relações humanas reconstruindo as relações que

foram fragmentadas pelas separações de ordem econômica, classistas e até mesmo


ideológicas. É uma sociedade que acessa os recursos sem causar uma separação

gritante entre os humanos. A ecologia mental reinventa a relação do sujeito com o


corpo, propondo o cuidado de si como uma condição primeira para o exercício do

cuidado do outro. As condições sociais se dão a partir do momento que há uma ética
do cuidado, primeiro para consigo e depois para com o outro. E por último a ecologia

ambiental, que se une com as outras variáveis para regular as intervenções humanas, a
fim de evitar desequilíbrios ambientais. A ecosofia propõe um paradigma de geração e

uso eficiente dos recursos naturais, e do consumo energético, superando a redução de


uma prática instrumental. Passa pela revisão de um paradigma comportamental,
assumindo um olhar ecosófico para que as futuras gerações retirem o envolto das
resistências produzidas pelo sistema econômico-político adotado.
22 | P á g i n a
REFLEXÕES SOBRE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

A segunda possibilidade é a ecologia integral. O desenvolvimento econômico é


uma ideia que está ligada à lógica do capital e das ações do Estado que, em certa
medida, regulam ou afrouxam as condições de exercício do mercado. A ecologia

integral dialoga com a ecosofia na medida em que se propõe outro paradigma


vivencial. As desigualdades provocadas pelo desenvolvimentismo econômico atacam

diferentes setores da humanidade. Uma outra economia surge como necessidade para
se repensar a manutenção dos espaços verdes. A isto soma-se a criação de uma

agenda de políticas públicas de ordem social, com o combate a pobreza, a fome, com
condições melhores de acesso à saúde e à educação. Na junção, forma-se uma agenda

integral com as necessidades econômicas e elas têm como fundo epistemológico a


superação de uma razão instrumental em favor de uma organização menos

tecnocrática. Uma razão integral que valorize a humanidade na relação que ela
estabelece com o ambiente. Não é uma discussão antropocêntrica, nem mesmo

biocêntrica, mas um olhar que perceba o humano e a natureza como entes dotados de
direitos, onde o primeiro deles é a vida. A condição de manutenção da vida no planeta

é a superação da razão instrumental em favor de abordagens integrais.


A última possibilidade que se apresenta é a perspectiva da ética do cuidado.

Tanto a ecosofia, que aborda a perspectiva de rede, quanto a ecologia integral que
aborda a ideia do comum como superação da instrumentalização da técnica,

convergem para uma perspectiva da ética do cuidado. Mas, qual é a condição


ontológica do cuidado? O cuidado não é uma resposta puramente humana, os animais

cuidam, em certo grau, das crias. Por exemplo, é fácil observar os pássaros alimentarem
seus filhotes no ninho, ou a reação ríspida de uma gata que defende a ninhada quando

outro ser se aproxima deles. Sem o cuidado a vida não desabrocha. Os gregos antigos
defendiam o cuidado como prerrogativa necessária para a administração da pólis.

Pensar alternativas ao modo de vida, numa sociedade pós-capitalista, é exercer a


prática de cuidado. A ética do cuidado é a reflexão sobre a proteção da vida em todas
as instâncias. É o cultivar das possibilidades do ser a fim de superar as condições de
desigualdade que gera a morte. O cuidado é premissa da vida enquanto a morte é a
23 | P á g i n a
TRAJETÓRIA DO CAPITAL E DO SUJEITO CAPITALISTA
DIANTE DO DESAFIO DA ALTERIDADE

limitação do projeto de vida. O cuidado está como garantia de prolongarmos a vida a


fim de evitar as possibilidades de promoção da morte.
Então, pensar os desafios da alteridade é propor a construção de um outro paradigma

que possibilite formas de desenvolvimento para além do econômico. Ao reduzir a


produção de desigualdades, a humanidade caminhará para um estado de maior

eficiência da vida. A construção dessas condições passa necessariamente pela


superação da mentalidade instrumental, que é dada pela financeirização do capitalismo,

e pelas formas de consumo no qual a sociedade hodierna se estabelece. A busca por


formas energéticas mais eficientes retrata uma saída pelo viés do cuidado, observando

a pluralidade das formas, não apenas dos animais humanos, mas da totalidade
planetária como um espaço integral, interconectado em rede. O que revela um novo

paradigma comportamental. Estamos prontos para isto?

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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REFLEXÕES SOBRE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

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25 | P á g i n a
EFICIÊNCIA ENERGÉTICA: uma possível solução

03 para a redução do efeito estufa no contexto da


pandemia

4
Emanuel de Oliveira Dias
5
Erica da Silva Schardosim
6
Maria Carla dos Santos Nogueira
7
Aline Locatelli

INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas a humanidade tem enfrentado inúmeros problemas

resultantes da interação antrópica. Questões como desmatamento, queimadas,


destruição da biodiversidade, produção de lixo e aquecimento global são algumas das

consequências atreladas a essa ação.


Por outro lado, nos deparamos com um mundo cada vez mais tecnológico, no

qual serviços manuais são substituídos pelo uso de plataformas e tecnologias digitais.
Além disso, o acesso aos recursos digitais foi intensificado entre os anos de 2020 e

2021 em razão do contexto pandêmico, o que ocasionou uma série de mudanças


globais.
Diante desse cenário, mais uma vez caminhamos em uma direção contrária à

preservação dos recursos naturais, pois a produção de energia elétrica está


intimamente associada à emissão de gases do efeito estufa, o que nos faz pensar que,
mesmo vivendo em uma sociedade que consome grande volume de energia elétrica,
ainda é preciso fazer muito para reverter esse quadro.

4
Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática na Universidade de
Passo Fundo. E-mail: 190467@upf.br.
5
Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática na Universidade de Passo
Fundo. E-mail: 190450@upf.br
6
Mestre em Ciências das Religiões pela Faculdade Unida. E-mail: 190716@upf.br.
7
Doutora em Química Inorgânica. Professora permanente no Programa de Pós-Graduação em Ensino de
Ciências e Matemática. E-mail: alinelocatelli@upf.br.

28 | P á g i n a
REFLEXÕES SOBRE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

Destarte, faz-se pertinente refletir sobre esses novos desafios e ativar hábitos
que busquem a preservação dos recursos naturais, ou teremos que responder ao
seguinte questionamento: qual será o legado deixado pela maior crise sanitária vivida

por nossa geração?


Mediante o exposto, buscamos discutir as consequências da liberação dos gases

do efeito estufa na atmosfera e quais serão os próximos passos para manter um


ambiente minimamente sustentável, semelhante ao que existia antes da intensa

circulação de veículos, escolas, empresas e comércio.


Assim, o objetivo deste texto é analisar dados estatísticos acerca do impacto

ambiental ocasionado no período de isolamento social, refletindo quanto aos


desdobramentos da quantidade de gases que deixaram ou não de ser liberados na

atmosfera. Também apresentamos ações atuais capazes de promover a eficiência


energética em vários âmbitos.

EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

Em um estudo publicado em 2020 pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE),

foi constatado que o consumo de energia por equipamentos eletrônicos aumentou 15%
comparando o ano de 2005 com o ano de 2019. Esse é um valor expressivo e pode ser

justificado pelo avanço tecnológico e o fácil acesso a equipamentos como celulares,


notebooks e outros derivados em geral.

Essa preocupação não é recente, em 1984, o Inmetro iniciou uma discussão

sobre conservação de energia com a finalidade de contribuir para a racionalização


desse recurso. Na década seguinte, em 1991, o Governo Federal, com o objetivo de

reduzir a emissão de gases poluentes na atmosfera, promoveu uma cultura


antidesperdício, e, visando racionalizar o consumo dos derivados do petróleo e do gás

natural, criou o CONPET, Selo Procel de Eficiência Energética (MME, 2007).


Buscando ações mais efetivas e observando o agravamento das questões
ambientais e o aumento da industrialização, em outubro de 2001 foi promulgada a lei

29 | P á g i n a
EFICIÊNCIA ENERGÉTICA: UMA POSSÍVEL SOLUÇÃO PARA A REDUÇÃO DO
EFEITO ESTUFA NO CONTEXTO DA PANDEMIA

nº. 10.295, Lei de Eficiência Energética. Nesse momento, o Inmetro passa a ser
responsável por avaliar o desempenho energético dos aparelhos elétricos e a emitir um
selo oficial pautado nessa avaliação. Dessa forma, inicia, aqui no Brasil, a era da

eficiência energética (HADDAD, 2005).


Atualmente, é comum observarmos, nos pontos de comércio, equipamentos

etiquetados como refrigeradores, congeladores, máquinas de lavar roupa, motores


elétricos, lâmpadas fluorescentes e até aquecedores de água. De acordo com o

Ministério de Minas e Energia, só no período de 2006 a 2013 a etiquetagem de


lâmpadas foi responsável por uma economia de cerca de R$ 23 bilhões.

Considerando-se a Lei de Eficiência Energética, percebe-se que, somente no ano


de 2013, foram registrados mais de 3 mil projetos de eficiência energética, alguns

desses permitiram a substituição de mais de 800 mil refrigeradores antigos e obsoletos


por modelos novos e eficientes.

Mas o que é eficiência energética? Onde e como pode ser aplicada? Segundo a
EPE (2010), a expressão eficiência energética se dá a partir da relação entre a

quantidade de energia final utilizada e de um bem produzido ou serviço realizado, de


modo que a eficiência esteja associada à quantidade efetiva de energia utilizada e não

à quantidade necessária para realizar um dado serviço. Essa expressão ainda se remete
à capacidade de equipamentos que operam em ciclos ou processos produzirem os

resultados almejados.
Dessa forma, o objetivo da eficiência energética é otimizar o consumo e reduzir

os custos operacionais, sendo a sustentabilidade um dos maiores benefícios


promovidos ao meio ambiente. As ações de eficiência energética envolvem o exercício

do consumo consciente, considerando que o uso inteligente de energia ajuda a reduzir


a emissão de CO2, um dos poluentes que mais contribuem para o aquecimento global.

O Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (PROCEL), criado por


meio da Eletrobrás, foi criado a fim de promover o uso consciente de racionamento de
energia, prospectando combater o desperdício e tendo como principal símbolo o selo
PROCEL. Como é sabido, no Brasil a maior parte de energia elétrica é gerada por meio
30 | P á g i n a
REFLEXÕES SOBRE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

de água de rios. Nesse sentido, ao preservar e economizar os recursos naturais,


estamos contribuindo para a redução da conta de energia, que passa a ser consumida
de modo mais consciente.

Quanto ao desenvolvimento econômico, sabe-se que esse contribui


expressivamente para o aumento de consumo de energia no atual cenário, sendo

resultado de setores em crescimento que visam maximizar lucros, tais como: o


industrial, comercial, residencial, entre outros. Entretanto, é fundamental enfatizar que o

setor industrial é o que mais consome energia, utilizando a eletricidade como principal
fonte energética.

Nesse setor, muitas são as estratégias aplicadas para que a energia seja utilizada
de modo eficiente (ABDELAZIZ et al., 2011). Uma delas se dá por meio de um programa

de gerenciamento de energia que inclui auditoria energética, a conscientização e o


treinamento do pessoal. Outra forma é a adoção de tecnologias energeticamente

eficientes. Do viés das políticas governamentais, múltiplas alternativas têm sido


adotadas com vistas a incentivar o uso eficiente de energia, dentre as quais é possível

citar: acordos com indústrias com metas de eficiência energética; alcance de índices
mínimos de eficiência energética; incentivos fiscais e crédito para financiamento;

programas de auditoria energética e orientação às indústrias para adoção de melhores


práticas.

Apesar dos constantes avanços tecnológicos, muitas são as limitações que


comprometem o desempenho da eficiência energética. Dentre essas barreiras

organizacionais, a disparidade ou ausência de informações é um dos problemas mais


gritantes. Uma vez que ocorre quando um ou outro setor tem informações relevantes

mas não compartilha. Um sinal de que não prioriza as questões energéticas e


demonstra nítida falta de compromisso (WEBER, 1997).

Nas organizações, é perceptível como o comportamento humano é dotado de


perfis peculiares, em especial se considerarmos o processo de hierarquização, a
necessidade de comando e o poder de coerção (DEJOURS, 1987). Sendo assim, a
decisão pelo correto gerenciamento desse recurso está atrelada ao nível de informação
31 | P á g i n a
EFICIÊNCIA ENERGÉTICA: UMA POSSÍVEL SOLUÇÃO PARA A REDUÇÃO DO
EFEITO ESTUFA NO CONTEXTO DA PANDEMIA

e à posição hierárquica do decisor, o que faz com que o processo de conscientização e


informação sobre uso eficiente de energia se desenvolva em todos os níveis
hierárquicos da organização.

A IMPORTÂNCIA DA EFICIÊNCIA ENERGÉTICA PARA REDUÇÃO


DO EFEITO ESTUFA

A temperatura média da Terra está associada à concentração de gases de efeito

estufa que são capazes de reter a radiação proveniente do sol. Embora existam
emissões desses gases por vias naturais, como ocorre nos vulcões, sabemos que as

ações humanas têm intensificado esse fenômeno, o que é incompatível com o


desenvolvimento sustentável (WEART, 2021).

De acordo com Instituto Nacional de Eficiência Energética (2017), a emissão de


gás carbônico (CO2) do Brasil é uma das mais baixas do mundo. No entanto, no campo
da preservação dos recursos naturais e manutenção da temperatura global, estamos

longe do ideal. No Brasil, as emissões vêm crescendo nos últimos anos, e tendem a
acelerar no futuro.

Ainda é possível frear ou minimizar o efeito desse exponencial crescimento, e um


caminho para isso é o desenvolvimento de ações de conservação de energia. Nesse

universo, é fundamental enfatizar que no cenário energético brasileiro – associado à


emissão de CO2, são preocupantes o setor industrial, o setor de transportes e a queima

de combustíveis fósseis de modo geral, para obter energia. Em uma análise mais

profunda, é possível compreender que o crescimento de um desses setores já traz


consigo o aumento da emissão de gases poluentes, por causa do maior consumo de

energia.
No entanto, reduzir os avanços de um setor isolado não tem sido visto como

uma solução viável atualmente. A proposta é adotar mecanismos capazes de produzir o


mesmo com menos, e ainda com baixa emissão de CO2. No setor industrial, por
exemplo, um caso de destaque é a substituição de motores elétricos antigos por

32 | P á g i n a
REFLEXÕES SOBRE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

equipamentos de alta eficiência. Esses modelos novos, além de altos níveis de eficiência,
também apresentam maior vida útil em comparação aos demais equipamentos (WEG,
2015).

Independentemente do setor, a eficiência energética traz inúmeros caminhos


que permitem aumentar a eficiência nos usos de energia e por conseguinte reduzir as

emissões de CO2. Contudo, essas medidas não ocorrerão espontaneamente sem uma
política estruturada e na ausência de recursos financeiros que alavanquem essas

iniciativas.

É necessário também que gestores dos diferentes setores industriais acreditem e

apoiem inovações que buscam reduzir o consumo de energia. Não é admissível, por
exemplo, que equipamentos projetados em décadas passadas não sofram nenhuma

reformulação e/ou revisão no quesito eficiência.

A REDUÇÃO DA EMISSÃO DE CO2 E CONSEQUENTEMENTE DO EFEITO


ESTUFA EM TEMPOS DE PANDEMIA

É notório que a eficiência energética é de extrema importância para a redução


de emissão dos gases na atmosfera e consequentemente para a diminuição do efeito
estufa e do aquecimento global. Em favor disso, temos, nos anos de 2020 e 2021, uma
possível redução na emissão de gases do efeito estufa e principalmente do CO 2 em

virtude das medidas adotadas contra o Covid-19.


O mundo moderno conheceu recentemente uma face sombria cuja existência

não se imaginava. No primeiro trimestre de 2020, fomos pegos de surpresa por um


vírus que, desde então, preocupa o mundo. Visto por muitos como apenas uma gripe

no começo, o vírus rapidamente avançou de maneira devastadora, sem escolher vítimas


e não somente trazendo consigo um expressivo número de mortes, mas também

causando sequelas. A pandemia causada pelo Covid-19, além disso, trouxe uma
sensação ainda não experimentada pela atual geração, o medo na sua mais cruel

demonstração. Primeiramente diagnosticado como epidemia, o vírus começou na


33 | P á g i n a
EFICIÊNCIA ENERGÉTICA: UMA POSSÍVEL SOLUÇÃO PARA A REDUÇÃO DO
EFEITO ESTUFA NO CONTEXTO DA PANDEMIA

China, na província de Wuhan, em dezembro de 2019, e rapidamente se espalhou por


aquele país (INSTITUTO BUTANTAN, 2020). Porém, o reflexo do vírus está indo além de
trazer caos e pânico, uma legião de depressivos, desempregados e pessoas ansiosas.

Vivemos também algo que seria impensável nessa era, uma desaceleração
progressiva no consumo de produtos, e, nesse cenário, por um lado, alguns serviços

antes essenciais passam a ser considerados supérfluos, e, por outro, algumas empresas
precisaram se reinventar e, com isso, firmaram seu lugar no mercado, inclusive

aumentando seus lucros. O investimento em vendas de produtos e serviços pela


internet disparou, pois, tão logo se começou a estudar o vírus, os órgãos competentes

anunciaram que ainda não havia mecanismos para se combater de maneira direta a
propagação. Contudo, havia algo que não necessitava de investimento financeiro

algum, muito menos estudo, já que o comércio eletrônico era conhecido por todos.
Segundo o 42º relatório da Ebit/Nielsen (2020), as vendas pela internet no Brasil no

primeiro semestre de 2020 aumentaram em 47%.


Deflagrou-se que o agente infeccioso era transmitido através da presença e de

contato humanos, o que levava à óbvia percepção deque seria necessário diminuir a
circulação de pessoas o máximo possível. Instaurou-se, então, o isolamento social,

reduzindo drasticamente a movimentação de gente em comércios, escolas, empresas e


onde mais pudesse haver seres humanos aglomerados.

Com o passar dos dias e com as medidas de isolamento sendo implementadas,


foi possível acompanhar nas redes sociais e jornais imagens de lugares antes super

lotados, como grandes pontos turísticos, agora vazios. Na sequência, devido a não
circulação de pessoas, foi possível notar uma diminuição sistemática de fumaça e

fuligem nas cidades. Uma imagem bastante emblemática é a da cordilheira dos


Himalaias, que não era vista da Índia havia trinta anos (PINHEIRO; FARIAS; SOUZA,

2020).
Estava declarada a abertura de novos tempos. Sem as indústrias, o comércio e os
serviços em geral estarem a “plenos pulmões”, o planeta experimentou uma diminuição

violenta na emissão de gases poluentes e pôde dar uma breve e significativa respirada.
34 | P á g i n a
REFLEXÕES SOBRE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

Estimativas de órgãos conceituados, consolidadas pelo Carbon Brief, trazem uma


projeção de queda global de 6% das emissões em 2020, o que seria a maior queda já
registrada desde os anos 1990, quando se iniciaram as pesquisas (OBSERVATÓRIO DO

CLIMA, 2020).
Conforme o ClimateWatch, a ordem dos seis primeiros países que mais emitem

dióxido de carbono são: China, Estados Unidos, Índia, Rússia, Indonésia e Brasil.
Trazendo a problemática para o Brasil, o Observatório do Clima (2020, p. 2) afirma que

o país “é o sexto maior emissor de gases de efeito estufa no planeta, mas com um perfil
diferente, no qual o uso da terra responde por mais de dois terços das emissões”.

O país emite poluentes direta e indiretamente através de suas indústrias,


veículos, resíduos e também principalmente através do desmatamento, que se revela

como o maior vilão nesse cenário. Até seria possível o Brasil seguir a tendência global
de diminuição na emissão de gases e consequentemente do efeito estufa, não fosse

pelo crescimento exponencial do desmatamento nos dois biomas: a Amazônia e o


Cerrado, já que a tendência é que as emissões aumentem em relação a 2019

(OBSERVATÓRIO DO CLIMA, 2020).


Estamos seguindo o fluxo mundial, que tem reduzido muito a poluição por não
haver mais tantos veículos rodando devido à grande parte da população adotar o
home office e também em razão da adoção de transportes alternativos à base de

eletricidade ou até mesmo propulsão humana. De acordo com Le Quéréet al. (2020),

durante o confinamento, as emissões de CO2 e a poluição do ar reduziram quase pela


metade porque o transporte de superfície foi adaptado para caminhadas, ciclismo ou
para a utilização de e-bikes, ao invés da circulação de carros, ônibus e aviões.

Com a redução dos congestionamentos na hora do rush no período de

lockdown, foi possível observar, nas grandes cidades, uma queda nas concentrações de
gás NO2, principal componente na emissão oriunda de veículos automotores. Conforme
dados, em Milão, a presença desse gás na atmosfera foi cerca de 17% mais baixa
durante as duas primeiras semanas do confinamento (AGÊNCIA INTERNACIONAL DE
ENERGIA, 2020).
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EFICIÊNCIA ENERGÉTICA: UMA POSSÍVEL SOLUÇÃO PARA A REDUÇÃO DO
EFEITO ESTUFA NO CONTEXTO DA PANDEMIA

Em virtude de grande parte das pessoas não poderem sair para trabalhar, ou
passear, observou-se uma queda no volume da comercialização de combustíveis
utilizados no transporte, com exceção do óleo diesel, que teve aumento de 3% nas

vendas (OBSERVATÓRIO DO CLIMA, 2020). Diretamente ligado a esse aumento do


consumo de diesel, deve ser realçado o fato de que a comercialização de produtos

passou a ser feita por meio de entregas a domicílio, o que facilita a circulação de
veículos de grande porte como caminhões e também utilitários. Por comportarem

maior volume de carga, essas vendas on-line fomentaram a circulação de veículos


movidos a diesel, o que justifica o aumento nas vendas desse combustível.

A desaceleração provocada pelas medidas de contenção trouxe muita


preocupação para pais e mães de família, tanto no que refere a aspectos da economia

quanto da saúde, e também trouxe muita insegurança em relação ao futuro. Porém, a


crise do Coronavírus pôde desencadear a maior queda anual de emissão de CO 2, mais

do que durante qualquer crise econômica anterior ou período de guerra, o que pode
ser visto com bons olhos pelos especialistas. Porém, de acordo com Evans (2020, [s.p.]),

“as emissões globais precisariam cair cerca de 7,6% a cada ano nesta década, para
limitar o aquecimento a menos de 1,5º C acima das temperaturas pré industriais”

(tradução nossa).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo deste texto foi analisar dados estatísticos acerca do impacto

ambiental ocasionado no período de isolamento social, refletindo quanto aos


desdobramentos da quantidade de gases que deixaram ou não de ser liberados na

atmosfera. Além disso, o texto propôs-se a apresentar algumas ações atuais que são
capazes de promover a eficiência energética em vários âmbitos.

Foi possível perceber uma redução nas emissões dos gases durante o isolamento
social, porém, essa redução tende a ser temporária, já que, à medida que as contenções
causadas pelo isolamento forem sendo reduzidas, é de se esperar que as indústrias

36 | P á g i n a
REFLEXÕES SOBRE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

retomem a sua produção em um maior ritmo para tentar suprir o tempo que ficaram

impedidas de trabalhar. Segundo Le Quéré et al. (2020), nos anos de 2008-2009, houve

uma redução em 1,4% na queda de emissões de CO2 devido a uma crise financeira
global, no entanto, após a restauração do mercado financeiro em 2010, se constatou
um aumento de 5,1% acima da média do que era esperado a longo prazo.

Por fim, ficou claro que as emissões dos gases hoje reduzidas tendem a
apresentar uma recuperação em maior escala ao passo em que as medidas de

segurança comecem a ser afrouxadas e a economia se recupere. Para cumprir os


protocolos estipulados pelos governos, é necessário o uso da eficiência energética

como recurso no objetivo principal: alcançar as metas climáticas.

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38 | P á g i n a
AS CORRENTES DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

04 COMO SUBSÍDIO EPISTEMOLÓGICO PARA A


PRÁTICA
ENERGÉTICA
DOCENTE SOBRE EFICIÊNCIA

8
Diego Andrade de Jesus Lelis
Daniela Gureski Rodrigues9
Daniele Saheb Pedroso10

INTRODUÇÃO

O crescimento das cidades, das indústrias, a evolução do meio técnico-


científico-informacional, associado ao aumento populacional e a má

distribuição dos recursos naturais pelo planeta, bem como a exploração desmedida
desses recursos em níveis nacionais e internacionais, tem gerado demandas sociais e

econômicas como nunca vistas pela sociedade (MORIN, 2015). O advento da primeira,

segunda, terceira e quarta Revolução Industrial foi responsável pela transformação dos
modos de produção, de concepção organizacional das cidades. Com isso transformou-

se também a forma de conceber a função da natureza e a extração de seus recursos em


vista de suprir as necessidades das crescentes cidades, indústrias e tecnologias(LELIS;

EYNG, 2020). Paulatinamente cresce também, em campos específicos, como nas


academias, nas Organizações Não Governamentais-ONG’s, nos setores ligados à

produção de ciência e tecnologia e nas escolas, a percepção de que resolver as


demandas que emergem desses setores são urgências mundiais. Essa percepção está

associada a compreensão do mundo como uma “grande aldeia global” (SANTOS, 2018).

8 Mestre em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Pontifícia Universidade


Católica do Paraná (PUCPR), Doutorando em Educação no Programa de Pós-Graduação em
Educação (PUCPR), Curitiba – Paraná, Brasil. E-mail: diegolellis09@hotmail.com.
9 Doutoranda em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Pontifícia Universidade

Católica do Paraná (PUCPR), Curitiba – Paraná, Brasil. E-mail: dany_gureski@yahoo.com.br.


10 Professora Titular da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Doutora em Educação

pela Universidade Federal do Paraná, (UFPR), Curitiba – Paraná, Brasil. E-mail:


danisaheb@yahoo.com.br.

40 | P á g i n a
REFLEXÕES SOBRE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

Essa realidade global tem levado ao questionamento sobre os modos de vida e de

consumo. Uma das problemáticas que desponta no cenário diz respeito à produção,
distribuição e consumo de energia. A produção de energia em suas diversas formas,

eólica, hidrelétrica, solar, geotérmica, nuclear e de biomassa, é um assunto que diz


respeito não apenas aos especialistas dessas áreas, antes, é uma realidade na qual todas

as pessoas estão envolvidas, seja pela forma de acesso ou não a elas, seja pelo preço que
é pago, seja ainda pela garantia de que a sua produção e fornecimento esteja sendo

realizado de modo a não degradar ainda mais o planeta, a grande casa comum.
No Brasil, o Plano Nacional de Eficiência Energética enfatiza a necessidade de

trabalhar o tema eficiência energética na educação, nos diferentes níveis de ensino


(BRASIL, 2011). Nele são apresentados planos para a efetivação de ações que integrem as

escolas e as comunidades no combate ao desperdício de energia. Esse documento


apregoa a necessidade de produzir conhecimento sobre a temática em sala de aula e

fomentar nos educandos o compromisso e responsabilidade de propagá-lo em suas


casas e na comunidade na qual eles e a escola estão inseridos.

Diante desse cenário, a escola assume o papel de auxiliar na formação de


cidadãos capazes de compreender a problemática mundial em vistas de buscar soluções

em escalas locais e globais para as problemáticas do tempo presente.


A Base Nacional Comum Curricular apregoa que o aluno deve ser capaz de

identificar e analisar as cadeias industriais e de inovação e as consequências dos usos de

recursos naturais e das diferentes fontes de energia (tais como termoelétrica, hidrelétrica,
eólica e nuclear) em diferentes países (BRASIL, 2018).

Reconhece-se que um dos caminhos possíveis de realização da formação que


contemple essa realidade em vista de sua compreensão e resolução não pode ser

responsabilidade de uma única disciplina, antes, trata-se de que a escola como espaço de
formação assuma o compromisso de, a partir das mais diversas áreas do conhecimento,

promover uma educação que leve em consideração a importância dessa temática.


Nesse aspecto, a Educação Ambiental-EA, a partir de seu caráter transversal e
interdisciplinar aparece como um contributo aos educadores no desenvolvimento de
41 | P á g i n a
AS CORRENTES DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO SUBSÍDIO EPISTEMOLÓGICO
PARA A PRÁTICA DOCENTE SOBRE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

uma educação pautada no compromisso com a formação integral do educando, atento


as realidades do tempo presente e disposto a contribuir com a transformação social.

Compreende-se que

A Educação Ambiental é uma dimensão da educação, é atividade intencional


da prática social, que deve imprimir ao desenvolvimento individual um caráter
social em sua relação com a natureza e com os outros seres humanos, visando
potencializar essa atividade humana com a finalidade de torná-la plena de
prática social e de ética ambiental (BRASIL, 2012).

Ao amparar-se nessa definição, concebe-se que a EA visa à construção de


conhecimentos e a promoção de atitudes e valores sociais, com enfoque no cuidado

com a comunidade de vida, a justiça e a equidade socioambiental, e a proteção do


meio ambiente natural e construído. Isso implica a compreensão e assunção do

desenvolvimento ético e da responsabilidade cidadã, na reciprocidade das relações dos


seres humanos entre si e com a natureza.

Assume-se a ideia de que a EA não é atividade neutra, pois envolve valores,

interesses, visões de mundo. Assim, a sua promoção deve ser realizada a partir de
abordagens que “considerem a interface entre a natureza, a sociocultura, a produção, o

trabalho, o consumo, superando a visão despolitizada, acrítica, ingênua e naturalista


ainda muito presente na prática pedagógica das instituições de ensino” (BRASIL, 2012).

A EA ao longo do seu processo de desenvolvimento foi sendo constituída a


partir de diversos arcabouços teóricos e metodológicos os quais carregam consigo

objetivos e características específicas e outras comuns.


Dentre as várias possibilidades de classificações da EA para o desenvolvimento

desta pesquisa, optou-se pela realizada por Sauvé (2005), em virtude de que essa
classificação corrobora com a ideia de que a prática docente pode estar permeada e

amparada por diversas dessas correntes, visto que elas não se anulam e nem se
excluem. Neste trabalho optou-se por centrar a reflexão nas correntes: naturalista,

conservacionista, resolutiva, sistêmica, científica, moral/ética, crítica e de ecoeducação.


Diante disso, traz-se como objetivo para este capítulo, discutir a contribuição das

correntes da Educação Ambiental como subsídio epistemológico para a prática docente


42 | P á g i n a
REFLEXÕES SOBRE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

sobre a eficiência energética. Embora essas correntes sejam apresentadas ao longo do


texto de modo separado, elas possuem características de relações e inter-relações, não
se anulam entre si, antes, são capazes de demonstrar a diversidade de possibilidades

para a sua promoção na prática docente.


Ao serem apresentadas de modo sistematizadas e separadas, o faz-se por

questões didáticas de apresentação e reflexão do estatuto epistemológico de cada uma


das visões. Destaca-se ainda que, a depender da prática de cada educador e da

realidade geográfica de onde elas estão sendo desenvolvidas, as correntes podem


assumir outras características, inclusive, a partir de suas mútuas inter-relações entre si e

entre as áreas do conhecimento.

DESENVOLVIMENTO

A EA se apresenta como um campo marcado por desafios a serem enfrentados, a

julgar pelo contínuo agravamento das problemáticas socioambientais, além do


surgimento de problemas inéditos. Essa amplitude do campo e das concepções leva a

perceber que mesmo com divergências e convergências nessa área do saber, importa
que existem questões comuns e fundamentais em quaisquer que sejam as tendências e

correntes adotadas (CARVALHO; SAHEB; CAMPOS, 2018).


No trabalho realizado por Sauvé (2005) foram identificadas 15 correntes, o que

não fecha a possibilidade de que existem outras. “A noção de corrente se refere aqui a
uma maneira geral de conceber e de praticar a educação ambiental” (SAUVÉ, 2005, p. 17).

Essas correntes abrigam proposições que as identificam. Sem fechar em grupos

incomunicáveis, podem estar presentes em outras correntes. “Embora cada uma das
correntes apresente um conjunto de características específicas que a distingue das outras,

as correntes não são, no entanto, mutuamente excludentes em todos os planos” (SAUVÉ,


2005, p. 17).

Com isso a autora busca seguir a essência da EA, nela cabem as diversas
metodologias e formas de conceber as problemáticas ambientais e a relação ser humano

43 | P á g i n a
AS CORRENTES DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO SUBSÍDIO EPISTEMOLÓGICO
PARA A PRÁTICA DOCENTE SOBRE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

e meio ambiente. Essas correntes foram divididas em dois grupos, a sistematização


realizada e aqui apresentada, possui caráter didático.

Ao primeiro pertencem as denominadas: naturalista, conservacionista/recursista,


resolutiva, sistêmica, científica, humanista e moral/ética. Ao segundo grupo pertencem as

correntes que surgiram mais recentemente, denominadas de: holística, biorregionalista,


práxica, crítica, feminista, etnográfica, da ecoeducação e da sustentabilidade.

A partir do campo de abrangência dessas correntes, das suas relações e inter-


relações os educadores possuem estatutos epistemológicos sob os quais podem basear

as suas discussões, atividades e concepções. Compreende-se que elas, dado o caráter


transversal e interdisciplinar, podem estar inseridas no cotidiano escolar, nos mais

diversos conteúdos e áreas do conhecimento.


A corrente naturalista possui como uma das principais características a

preocupação com a natureza, segundo a qual é percebida como morada do ser humano.
No âmbito educacional ela possui enfoque cognitivo, experiencial, afetivo, espiritual ou

artístico. (LELIS; PEDROSO, 2021, p. 04). Nesse aspecto, no campo do enfoque cognitivo
“pode se resumir à transmissão de conhecimentos sobre a natureza, levando à

construção de uma representação de meio ambiente naturalista, concebendo o ser

humano como observador externo” (SAHEB, 2008, p. 07).


Por meio dessa compreensão, a temática da eficiência energética pode ser

desenvolvida sob a égide de que a produção de energia em suas diversas formas deve
levar em consideração o cuidado com a grande morada do ser humano que é o planeta.

Nessa epistemologia, disciplinas como Geografia, História, Biologia, Física e Ciências, a


partir de cada realidade escolar, podem desenvolver trabalhos de campo, visando

observar no concreto aquilo que é visto em sala de aula.


Nesse enfoque há que estar atento a uma possibilidade de dualismo entre o ser

humano e o meio, entre o natural e o criado pelo ser humano. No campo da EA, espera-

se que a formação do educando leve em consideração a complexidade da vida e esteja


aberta a romper as gaiolas epistemológicas que separam, segregam e antagonizam a

vida (CARVALHO, 2012).


44 | P á g i n a
REFLEXÕES SOBRE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

Destaca-se que na EA “deve-se considerar que os conteúdos das diferentes áreas


do conhecimento será o ponto de partida para proceder se a reelaboração com vistas à
produção de novos conhecimentos, aplicados a realidade no sentido de transformá-la”

(GUIMARÃES, 2015, p. 60).


Outra possibilidade é a aproximação das novas tecnologias à essa realidade.

Muitas ferramentas digitais possibilitam a visitação a espaços de usinas e aos locais mais
distantes do mundo através da rede mundial de computadores. Outro fator a ser levado

em consideração é o campo simbólico que essa corrente defende. Trabalhar o lugar de


vivência dos educandos é um meio de os auxiliar na religação com a natureza nas mais

diversas formas de manifestação, seja nas paisagens mais naturais ou ainda nas já
modificadas pelo ser humano.

Em relação à corrente conservacionista ou recursista, baseiam-se nela os trabalhos


que concebem que o valor da natureza está em garantir a vida humana. “As

características principais do conservacionismo advêm da sobrecarga imposta à natureza e


o modo de se organizar à sociedade, ou seja, é a maneira como a sociedade utiliza os

recursos naturais” (BRITO; BRITO; SOUZA, 2015, p. 146).


Esse modelo foi propagado, sobretudo, com a ideia mercadológica de

desenvolvimento sustentável. No qual traz a ideia de desenvolver sem esgotar os


recursos naturais para garantir a manutenção da vida humana no planeta. Nessa corrente

se amparam “os programas de educação ambiental centrados nos três “R” já clássicos, os
da Redução, da Reutilização e da Reciclagem, ou aqueles centrados em preocupações de

gestão ambiental” (SAUVÉ, 2005, p. 20).


Essa corrente epistemológica serve de sustentação aos trabalhos e práticas que

buscam discutir a presença, utilização e escassez dos recursos naturais. Compreende-se

que ela oferece subsídios para que os educadores possam discutir com seus educandos
as fontes de energia renováveis e não renováveis, o modo de distribuição das usinas no

mundo e a sua relação com o capital, bem como a gestão dos recursos, ou a
concentração deles no poderio de um determinado grupo.

45 | P á g i n a
AS CORRENTES DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO SUBSÍDIO EPISTEMOLÓGICO
PARA A PRÁTICA DOCENTE SOBRE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

Ainda oferece a possibilidade de os educadores inserirem em suas práticas


questionamentos sobre o aprofundamento da reflexão que gira em torno da utilização

dos recursos, sobretudo por países ricos em detrimento dos países pobres que não
dispõem de acesso a esses recursos.

Possibilita ainda a discussão sobre comparativos de gastos energéticos entre os


países desenvolvidos, subdesenvolvidos e em desenvolvimento. Ainda nesse âmbito,

assegura-se a necessidade de reflexão sobre a utilização de energia entre os bairros mais


ricos e mais pobres da cidade e do Estado. Contudo, essa reflexão deve ser conduzida de

modo que educandos e educadores estejam atentos aos conflitos e divisões econômicas
que constituem o espaço.

A corrente resolutiva surgiu na “década de 1970 [...] considera a crise ambiental


como um conjunto de problemas e procura informar ou estimular as pessoas a [...]

desenvolver habilidades voltadas para a resolução relacionados a natureza”


(ALENCASTRO; SOUZA-LIMA, 2015, p. 31).

Essa corrente concebe que a EA deve ser desenvolvida em vistas à resolução dos
problemas, nesse caso específico, os trabalhos podem ser encaminhados com o intuito

de desenvolver nos educandos o senso de responsabilidade em buscar soluções frente à

problemática energética.
O trabalho com projetos, a discussão a partir de situações problemas, o

desenvolvimento de ações para a transformação da realidade comunitária, pessoal e


escolar deve ser incentivado nesse campo. Ações como, por exemplo, a economia de

energia elétrica na escola, a possibilidade de instalação de painéis solares ou até mesmo


protótipos dessas ações devem ser incentivadas.

A contextualização dos problemas em escala local e global aparece como um


ponto de partida que pode favorecer o desenvolvimento da EA que se ampare nessa
corrente. A aprendizagem deve valorizar a aplicação dos conhecimentos na vida

individual, nos projetos de vida, no mundo do trabalho, favorecendo o protagonismo dos


estudantes no enfrentamento de questões sobre consumo, energia, segurança, ambiente,

saúde, entre outras (BRASIL, 2018).


46 | P á g i n a
REFLEXÕES SOBRE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

A corrente sistêmica “se apoia, entre outras, nas contribuições da ecologia e tem
como objetivo a superação da visão fragmentada de meio ambiente em prol da
sistêmica” (SAHEB, 2013, p. 16). Amparados nessa corrente os educadores dispõem da

possibilidade de desenvolver reflexões que favoreçam a compreensão de que a realidade


do mundo está interligada.

As formas de vida nessa corrente são vistas como interdependentes, assim como
as problemáticas são compartilhadas de algum modo por todos. A percepção de que a

construção de usinas hidrelétricas desabriga centenas de pessoas, bem como modificam


o ecossistema daquele entorno e repercute de algum modo na vida e no andamento do

planeta, fazem parte do modo como essa corrente concebe a promoção da EA.
Essa pode ser uma base epistemológica para a reflexão de como o aquecimento

global e o derretimento das geleiras alteram os mais diversos e complexos campos dos
ecossistemas e formas de vida no planeta. Ademais, compreende que tudo está

interligado e por isso a necessidade da corresponsabilidade em todos os campos da vida,


seja no cuidado com o planeta, seja nas relações entre os seres humanos e destes com as

demais formas de vida. Esse enfoque estimula a promoção de ações pautadas na


interdisciplinaridade, na multidisciplinaridade, na transversalidade e na

transdisciplinaridade.
Destaca-se ainda a corrente cientifica da EA. Nessa epistemologia o enfoque das

discussões está no campo da ciência. A natureza é concebida como um objeto de


estudos a ser desvendado. Método que está baseado na observação e na

experimentação. Esse método se vale de três elementos fundamentais: “observação dos


fenômenos, descoberta da relação entre eles e generalização da relação” (MARCONI;

LAKATOS, 2011, p.53).

EA que se pauta por essa corrente está fortemente associada ao desenvolvimento


de conhecimentos e habilidades relativos às ciências da natureza. Na escola essa corrente

enfatiza os projetos que inserem os alunos no campo de observação e experimentação e


a partir dele propõem mudanças.

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AS CORRENTES DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO SUBSÍDIO EPISTEMOLÓGICO
PARA A PRÁTICA DOCENTE SOBRE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

Urge fomentar nas escolas e universidades o apreço pela cientificidade em busca


da resolução de problemas e para a melhoria da qualidade de vida no planeta. Através

dessa concepção os educadores podem estimular os seus educandos a desenvolver


projetos, elaborar e validar teorias na busca dos problemas perceptíveis em suas casas,

na escola, na comunidade e até mesmo na cidade. A junção entre ciência, tecnologia e


criatividade deve fazer parte do cotidiano escolar.

A valorização da cientificidade faz-se cada vez mais urgente frente ao crescente


negacionismo teórico e prático. As problemáticas ambientais vêm sofrendo ações de

negacionismo cada vez mais severas, seja dos representantes, seja daqueles que,
desprovido de informações ou mal-intencionados, buscam descredibilizar a ciência e

aqueles que a produz. Frente a essa realidade à escola deve assumir o compromisso de
formar cidadãos comprometidos com a ciência, em prol do bem comum.

A corrente moral/ética concebe que os problemas ambientais decorrem da


formação de uma ética antropocêntrica na qual o ser humano é percebido como senhor

e detentor do direito de dominar o meio ambiente. Uma das principais causas da


degradação ambiental tem sido identificada no fato de vivermos sob a égide de uma

ética antropocêntrica (GRÜN, 2012, p. 23).

Compreendendo que os problemas ambientais são de ordem ética, as resoluções


devem partir da mesma fonte, por isso a EA pautada nessa concepção, enfatiza a

formação ética dos indivíduos em vista de transformar o seu modo de agir pensar e agir
em relação ao meio ambiente. Segundo Saheb (2013, p. 16) “considerando que o

fundamento da relação com o meio ambiente é de ordem ética, a corrente moral/ética


propõe que é neste nível que se deve intervir de maneira prioritária, ou seja, uma EA

voltada à construção de valores ambientais”.


Ao enfatizar a formação ética do ser humano, pautada em valores morais e civis,

essa corrente dá maior enfoque às dimensões cognitiva, afetiva e moral. As ações

promovidas no campo escolar objetivam o desenvolvimento do ecocivismo e dos valores


sociais.

48 | P á g i n a
REFLEXÕES SOBRE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

A transformação de uma ética pautada numa visão antropocêntrica de dominação


da natureza para uma ética do cuidado perpassa pelo modo como concebe-se as
relações (BOFF, 2017). Fomentar ações de cuidado com a vida em suas diversas formas, a

revitalização das nascentes, a manutenção e despoluição dos rios é um caminho para a


construção de uma nova ética. Contudo, as ações não podem ser pontuais, fragmentadas

ou focadas unicamente nisso.


A construção da nova ética baseia-se e perpassa o modo de conceber e

relacionar-se com todas as formas de vida. Inclusive, com a defesa da vida e do direito de
igualdade perante seus semelhantes.

Ao plantear, na escola, a reflexão sobre a eficiência energética o educador que se


paute nessa corrente deve levantar o questionamento sobre o acesso dos seus educados

à luz elétrica e utensílios domésticos que funcionem adequadamente e sejam capazes de


reduzir o consumo de energia elétrica e, além disto, levantar o questionamento sobre os

motivos pelos quais o acesso à luz elétrica, a utensílios de qualidade ainda não ser uma
realidade para todos.

Nesse campo a reflexão pode amparar-se na epistemologia crítica da EA. Essa


corrente busca desconstruir as realidades socioambientais que excluem, exploram e

segregam, visando compreendê-las para transformá-las. “Eis o desafio para todos os


educadores ambientais: atuar criticamente na superação das relações sociais vigentes, na

conformação de uma ética que possa se afirmar como “ecológica”(LOUREIRO; CUNHA,


2008, p. 242).

Essa corrente sugere que as práticas escolares estejam voltadas para a tomada de
consciência sobre os problemas locais e globais, compreendendo quem são os

responsáveis e o que é possível ser feito para resolvê-los. Nessa perspectiva, a crítica

ganha sentido de transformação, enfatizando o protagonismo de cada pessoa no


processo histórico, político e social.

O desenvolvimento do senso crítico deve estar associado à tomada de


posicionamento diante das realidades que necessitam de transformação. A escola tem a

missão de auxiliar seus educandos nesse processo. Nesse sentido, a corrente da


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AS CORRENTES DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO SUBSÍDIO EPISTEMOLÓGICO
PARA A PRÁTICA DOCENTE SOBRE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

ecoeducação se vale da relação estabelecida entre o ser humano e o meio ambiente,


ressaltando o desenvolvimento pessoal do indivíduo, para fundamentar o modo

responsável de atuação do ser humano no meio em que vive.


No âmbito do desenvolvimento escolar ela se insere como proposta fundamental

para a promoção de uma educação que leve em consideração a completude do ser


humano em suas relações. “Ecoeducação não é um apêndice para a educação. É a

própria educação em seu sentido amplo e elevado. Inexistem processos educativos


plenos se prescindem, na formação, da sua dimensão ecológica”(ROCHA, 2012, p. 53).

Compreendendo o planeta como lugar de habitação, pertença e realização de


todos os seres vivos, a educação pautada nesses valores deve orientar suas ações de

modo a auxiliar seus educandos na construção de relações com o mundo em todas as


manifestações de vida.

Nessa perspectiva compreendemos que o trabalho a ser desenvolvido com as


energias renováveis pode ir além de aspectos conservacionista e naturalista, mas deve

englobar o pensamento crítico, o olhar cidadão, ou seja trazer percepções da vida


cotidiana com os impactos reais e visíveis a respeito da temática.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao pensar em práticas de Educação Ambiental fundamentadas nas correntes

propostas por Sauvé, principalmente quando o enfoque se dá nas correntes com


características mais conservacionistas, na maioria das vezes, pensa-se em trabalhos

estanques, aqueles “dentro da caixinha” fechados em um dia de projeto na escola ou


reservado às disciplinas como Geografia e Ciências.

Essa proposição pode levar os educadores a crerem que a sua prática tenha
que estar amparada unicamente nas correntes conservacionista ou de

sustentabilidade. A ideia não está de toda equivocada, dado que o enfoque dessas
correntes possibilita um maior arcabouço reflexivo sobre a temática. Contudo, como

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REFLEXÕES SOBRE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

apresentado, essas correntes não se anulam, isso possibilita aos educadores


promoverem também a reflexão, socioambiental, humanista e até mesmo holista da
EA.

O que se pretende demonstrar aos educadores, a partir das reflexões


realizadas, é que uma prática pedagógica não precisa e nem deve limitar-se a uma

corrente, antes, deve abranger quais sejam possíveis visando ampliar as experiências
realizadas, bem como as reflexões. Como mencionado já no início deste capítulo, as

correntes se complementam, pensar práticas de EA pautadas nas correntes pode ser


um grande aliado no processo pedagógico.

Especificamente em se tratando de eficiência energética e a utilização de

energias renováveis, é possível perceber a contribuição que cada corrente apresenta,


além de abrir um leque de possibilidades a serem desenvolvidas em sala de aula. É

possível pensar em práticas conservadoras, que abordem apenas a necessidade de


cuidar da energia, mas faz-se necessário problematizar a situação energética no

âmbito político e social, por exemplo. Levantando problemáticas para que os alunos
reflitam e busquem possíveis soluções. Além disso, percebe-se a possibilidade de

enfatizar os aspectos científicos das questões energéticas, trazendo para o rol de

reflexões disciplinas como física e química. A promoção da EA não deve estar distante
do fazer ciência. Ela deve amparar-se na ciência, sobretudo em tempos de tantos

questionamentos e tentativa de descredibilização da escola, das universidades e da


própria ciência.

As práticas de EA não devem se limitar à um momento pontual na escola ou a


uma disciplina. Elas devem ir além, perpassando as disciplinas necessárias para

abordar o assunto, inserida na realidade local e na vida dos educandos, fomentando


as relações entre as escalas locais e globais. Esse é um caminho a ser percorrido e

construído paulatinamente.

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AS CORRENTES DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO SUBSÍDIO EPISTEMOLÓGICO
PARA A PRÁTICA DOCENTE SOBRE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

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52 | P á g i n a
REFLEXÕES SOBRE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

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53 | P á g i n a
05 ENERGIA EÓLICA: uma visão geral e sua aplicação
no ensino

Ângela Camila Brustolin11


Cássia de Andrade Gomes Ribeiro 12
Emanueli Decezaro Gonçalves13
Clóvia Marozzin Mistura14

INTRODUÇÃO:
Matriz Energética e Elétrica Mundial e do Brasil

A energia é um subsídio fundamental para as atividades humanas e utilizada em

diferentes territórios e espacialidades geográficas. Cada país possui uma matriz


energética específica que está diretamente associada com a disponibilidade dos

recursos energéticos em seu território (RAMPINELLI e ROSA JUNIR, 2012).


As fontes fósseis de energia predominam até hoje na matriz energética mundial.

A principal delas é o petróleo (35% do total), depois o carvão (23%), o gás natural (22%)
e com cerca de 7% a energia nuclear. As fontes renováveis contribuem com os 13%

restantes. Apenas 4% da matriz energética mundial foi suprida com a energia


hidrelétrica (2%) e com as outras opções (2%), como eólica, solar e biocombustíveis
(GOLDEMBERG e LUCON, 2007).
A matriz energética do Brasil é diferente da mundial, ou seja, usam-se mais

fontes renováveis que os demais países. Somando lenha e carvão vegetal, hidráulica,

derivados de cana e outras renováveis, as fontes renováveis totalizam 46,2%, quase


metade da matriz energética (Figura 1).

11
Doutoranda no PPGECM, Universidade de Passo Fundo/RS–Técnica de laboratório na Universidade Federal
da Fronteira Sul. E-mail: cami.deffaci@gmail.com
12
Doutoranda no PPGECM, Universidade de Passo Fundo/RS - Bolsista CNPq. E-mail: 145643@upf.br
13
Mestranda no PPGECM, Universidade de Passo Fundo/RS – Professora da Rede Estadual e Privada do RS. E-
mail: 99699@upf.br
14
Doutora em Engenharia, UFRGS-USC, Universidade de Santiago de Compostela, Espanha – Professora
Universidade de Passo Fundo/RS. E-mail: clovia@upf.br
56 | P á g i n a
REFLEXÕES SOBRE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

Figura 1: Matriz Energética Brasileira, 2019

Fonte: BEN, 2020.

Já a matriz elétrica é formada pelo conjunto de fontes disponíveis apenas para a

geração de energia elétrica em um país (Figura 2), estado ou no mundo. A geração de


energia elétrica no mundo é caracterizada, principalmente, pelo uso de combustíveis

fósseis como carvão, óleo e gás natural, em termelétricas (BEN, 2020).

Figura 2: Matriz Elétrica Brasileira, 2021

Fonte: ABSOLAR, 2021.

Neste sentido, a matriz elétrica brasileira é ainda mais renovável do que a


energética, isso porque grande parte da energia elétrica gerada no Brasil é proveniente

57 | P á g i n a
ENERGIA EÓLICA: UMA VISÃO GERAL E SUA APLICAÇÃO NO ENSINO

de usinas hidrelétricas. A energia eólica também vem crescendo bastante, contribuindo


para que a matriz elétrica brasileira continue sendo, em sua maior parte, renovável.
Levando-se em consideração o padrão apresentado da matriz energética

e elétrica mundial, e dentre as inúmeras possibilidades de energias renováveis que


produzem reduzidos impactos ambientais e não emitem gases de efeito estufa, as

fontes eólicas têm despontado como uma das mais interessantes em termos de
produção, segurança de fornecimento e sustentabilidade ambiental (EWEA, 2010).

ENERGIA EÓLICA E SEU CONTEXTO HISTÓRICO

Com o avanço da agricultura, o homem necessitava cada vez mais de

ferramentas que o auxiliassem nas diversas etapas do trabalho. Tarefas como a


moagem dos grãos e o bombeamento de água exigiam cada vez mais esforço braçal e

animal. Isso levou ao desenvolvimento de uma forma primitiva de moinho de vento,


utilizada no beneficiamento dos produtos agrícolas, que constava de um eixo vertical

acionado por uma longa haste presa a ela, movida por homens ou animais caminhando
numa gaiola circular (CRESESB, 2008).

Esse sistema foi aperfeiçoado com a utilização de cursos d’água como força
motriz surgindo, assim, as rodas d’água. Porém, como não se dispunha de rios em

todos os lugares para o aproveitamento em rodas d’água, a percepção do vento como


fonte natural de energia possibilitou o surgimento de moinhos de ventos substituindo a

força motriz humana ou animal nas atividades agrícolas (CRESESB, 2008).


O primeiro registro histórico da utilização da energia eólica para bombeamento

de água e moagem de grãos através de cata-ventos é proveniente da Pérsia, por volta


de 200 A.E.C. (Antes da Era Comum). Esse tipo de moinho de eixo vertical veio a se

espalhar pelo mundo islâmico sendo utilizado por vários séculos. China (por volta de
2000 A.E.C.) e o Império Babilônico (por volta 1700 A.E.C.) também utilizavam cata-

ventos rústicos para irrigação (CHESF-BRASCEP, 1987).

58 | P á g i n a
REFLEXÕES SOBRE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

O início da adaptação dos cata-ventos para geração de energia elétrica teve


início no final do século XIX, quando Charles F. Bruch ergueu na cidade de Cleveland,
Ohio, o primeiro cata-vento destinado à geração de energia elétrica. Tratava-se de um

cata-vento que fornecia 12Kw (quilowatt) em corrente contínua para carregamento de


baterias, as quais eram destinadas, sobretudo, para o fornecimento de energia para 350

lâmpadas incandescentes (SHEFHERD,1994). Esse sistema esteve em operação por 20


anos, e sem dúvidas foi um marco na utilização dos cata-ventos para a geração de

energia elétrica.
Um dos primeiros passos para o desenvolvimento de turbinas eólicas de grande

porte para aplicações elétricas foi dado na Rússia em 1931. O aerogerador Balaclava era

um modelo avançado de 100Kw conectado, por uma linha de transmissão de 6,3Kv de


30km, a uma usina termelétrica de 20MW. Essa foi a primeira tentativa bem-sucedida
de se conectar um aerogerador de corrente alternada com uma usina termelétrica
(SHEFHERD, 1994).
No período da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) os Estados Unidos da
América desenvolveram um projeto de construção do maior aerogerador até então

projetado. Tratava-se do aerogerador Smith-Putnam cujo modelo apresentava 53,3m

de diâmetro, uma torre de 33,5m de altura e duas pás de aço com 16 toneladas. Esse
aerogerador iniciou seu funcionamento em 10 de outubro de 1941 com o término de
uso em março de 1945 (SHEFHERD, 1994).
Na Europa, alguns países se destacaram, como a Dinamarca, no período inicial
da 2ª Guerra Mundial, apresentou um dos mais significativos crescimentos em energia
eólica em toda Europa. A França também se empenhou nas pesquisas de

aerogeradores conectados à rede elétrica. Entre os principais estavam três protótipos


com a possibilidade de se conectar aerogeradores à rede de distribuição de energia

elétrica (DIVONE, 1994). Já a Alemanha, no período entre 1955 e 1968 construiu e


operouum aerogerador com o maior número de inovações tecnológicas na época
(Figura 3). Os avanços tecnológicos desse modelo persistem até hoje na concepção dos
modelos atuais, mostrando o seu sucesso de operação (DIVONE, 1994).
59 | P á g i n a
ENERGIA EÓLICA: UMA VISÃO GERAL E SUA APLICAÇÃO NO ENSINO

Figura 3: Uso da Energia Eólica ao Longo do Tempo

Fonte: Autoras.

No Brasil, os primeiros anemógrafos e sensores especiais para energia eólica

foram instalados no Ceará e em Fernando de Noronha (PE), no início dos anos 1990.
Isso possibilitou a determinação do potencial eólico local e a instalação das primeiras

turbinas eólicas do Brasil (IBICT, 2021), sendo a primeira turbina instalada em junho de
1992, com um gerador assíncrono de 75 kW, rotor de 17 m de diâmetro e torre de 23 m

de altura. Na época da instalação, a geração de eletricidade dessa turbina correspondia


a cerca de 10% da energia gerada na Ilha, proporcionando uma economia de cerca de
70.000 litros de óleo diesel por ano. A segunda turbina foi instalada em maio de 2000 e

entrou em operação em 2001. Juntas, as duas turbinas geram até 25% da eletricidade
consumida na ilha (IBICT, 2021).

PRODUÇÃO E CAPTAÇÃO DA ENERGIA EÓLICA

A energia eólica surge da movimentação das massas de ar na atmosfera, ou seja,

surge da captação de energia cinética dos ventos. A geração dos ventos ocorre,
principalmente, devido ao aquecimento irregular da superfície da Terra. De forma a

estimar a quantidade da energia total disponível dos ventos. No planeta Terra, pode-se
fazer uma hipótese que, aproximadamente, 2% da energia solar absorvida pela Terra é

60 | P á g i n a
REFLEXÕES SOBRE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

convertida em energia cinética dos ventos. Apesar deste percentual parecer pequeno,
ele representa centenas de vezes a potência instalada nas centrais elétricas do mundo
(CRESESB, 2014).

Devido à grande quantidade desse recurso renovável, a utilização dos ventos


vem sendo visada para utilização na produção de energia elétrica, visto que a

transformação da energia eólica em energia elétrica consiste, basicamente, na


conversão da energia cinética de translação em energia cinética de rotação, com o

emprego de turbinas eólicas, os chamados aerogeradores (RIBEIRO, 2013). Sendo o


vento o principal recurso para a geração de energia eólica, a seguir será abordado de

forma sucinta como ocorrem a geração e o regime dos ventos.

REGIME DE VENTOS

Nas regiões tropicais, os raios incidem de forma quase perpendicular, fazendo

com que essas regiões se tornem mais quentes que as regiões polares. Sabendo que o
ar é um fluido e que está sujeito às variações de pressão e temperatura, estando nas

regiões tropicais, tende a se expandir, tornando-se menos denso que o ar das regiões
polares. Consequentemente, nas superfícies geladas circula dos polos para o Equador,

para substituir o ar quente que sobe nos trópicos e se move pela atmosfera até os
polos (RIBEIRO, 2013). Assim, o deslocamento das massas de ar indica o modelo da

formação dos ventos. Conforme representado na Figura 4:

Figura 4: Formação dos Ventos Devido o Deslocamento das Massas de Ar

Fonte: CRESESB, 2014.

61 | P á g i n a
ENERGIA EÓLICA: UMA VISÃO GERAL E SUA APLICAÇÃO NO ENSINO

Os ventos que ocorrem devido ao aquecimento da Terra são os planetários ou


constantes e podem ser classificados em: alísios, contra-alísios, do oeste e polares. Além
destes, e devido a inclinação da Terra em relação ao plano de sua órbita, ocorrem as

estações do ano, que geram variações sazonais na intensidade e duração dos ventos.
Como resultado, surgem os ventos continentais ou periódicos que compreendem as

monções e as brisas (CRESESB, 2014). Têm-se também os ventos locais, aqueles que
são originados por outras características específicas. Esses ventos sopram em

determinadas regiões e são resultados das condições locais, como um exemplo, pode
se citar os ventos que ocorrem nos vales e montanhas.

Reconhecer os locais onde ocorrem a formação dos ventos, bem como a sua
velocidade, é fundamental para a instalação de um parque eólico ou de um

aerogerador, visto que o regime de ventos é influenciado por fatores como: variação da
velocidade com a altura; rugosidade do terreno, presença de obstáculos no local e o

relevo. Esses dados podem ser levantados através de mapas topográficos, de uma visita
ao local para se avaliar e modelar a rugosidade e os obstáculos, da análise de imagens

aéreas e dos dados de satélites do local em que se pretende fazer a instalação


(CRESESB, 2014).

Deste modo, é perceptível que o regime é sensível a diversos fatores, sendo


necessário um estudo muito complexo da área de instalação de uma usina eólica, bem

como o levantamento de dados através de medições e de outras medidas realizadas


nos locais, visto que, qualquer erro pode acarretar prejuízos para a produção de

energia (RIBEIRO, 2013).

1.1.1 Energia e Potência extraída do vento

Pode-se determinar a energia de uma massa de ar m a uma determinada


velocidade por:
1
E mv2
2

62 | P á g i n a
REFLEXÕES SOBRE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

Considerando a mesma massa m em movimento a uma velocidade v,


perpendicular a uma sessão transversal de um cilindro imaginário, podemos
demonstrar a potência disponível do vento que passa pela sessão A, por:

1
Pd   Av 3
2
Segundo Ribeiro (2013), pela equação descrita, podemos notar que a potência
disponível depende dos seguintes fatores: 1) A área de captação da turbina, ou seja, a

área varrida pela hélice; 2) A densidade do ar loc al; e 3) Ao cubo da velocidade.


A equação da potência disponível pode ser descrita por unidade de área ( Pd A ),

deste modo definindo a unidade de potência ou fluxo de potência.

A potência disponível no vento não pode ser totalmente aproveitada pelo


aerogerador na conversão de energia elétrica, a fim de levar em conta essa

característica, é introduzido um coeficiente de potência c p , que pode ser definido

como a fração da potência eólica disponível que é extraída pelas pás do rotor

(CRESESB, 2014).

O coeficiente aerodinâmico de potência é determinado pela soma do

rendimento aerodinâmico  A  e da eficiência teórica de Betz  B  , que pode ser

definida como a porcentagem de vento de fato aproveitada pela turbina. Assim,


considerando os fatores de rendimento do multiplicador de velocidade, do rotor e do

gerador, como um só   , tem-se a equação para determinar a potência elétrica

disponível (RIBEIRO, 2013).

P   Av3c 
el p

A potência extraída por um aerogerador depende de vários fatores, mas quando


se trata dos estudos elétricos, pode-se apresentar a potência elétrica com a equação
acima descrita.

63 | P á g i n a
ENERGIA EÓLICA: UMA VISÃO GERAL E SUA APLICAÇÃO NO ENSINO

1.1.2 Modelos de Aerogeradores

01. Rotores de Eixo Vertical


Os rotores de eixo vertical possuem vantagens de não necessitarem de
mecanismos de acompanhamento para a variação do vento, o que reduz a

complexidade dos projetos e os esforços devido à força de Coriolis. Esses rotores

podem ser movidos por forças de sustentação (lift) ou por forças de arrasto (drag)

(CRESESB, 2014). Os principais rotores de eixo vertical são a turbina de Darrieus, turbina
de Savonius e turbinas com torre de vórtices.

02. Rotores de Eixo Horizontal


Os rotores de eixo horizontal são os mais utilizados, principalmente nas
instalações de larga escala, visando a maior produção de energia, como nos parques

eólicos. Esses rotores são movidos por forças aerodinâmicas e sustentação (lift) e forças
de arrasto (drag). As turbinas de eixo horizontal precisam se manter perpendiculares a

direção do vento, a fim de captar o máximo de energia possível (CHAVES, 2018).

Os rotores giram predominantemente sobre o de forças de sustentação, o que

permitem liberar muito mais potência do que os que giram sob efeito de forças de
arrasto. Tais rotores podem ser construídos de uma pá e contrapeso, duas, três ou

múltiplas pás. Essas pás podem ser construídas de diferentes materiais (CRESESB, 2014).
Quanto à posição do rotor em relação à torre, temos que o disco varrido pelas

pás pode estar à jusante do vento (downwind) ou a montante do vento (upwind).


Quando está à jusante do vento, a sombra da torre provoca vibrações nas pás e

quando está à montante do vento, a sombra das pás provoca esforços vibratórios na
torre (CHAVES, 2018; CRESESB, 2014). “Sistemas a montante do vento necessitam de

mecanismos de orientação do rotor com o fluxo de vento, enquanto nos sistemas a


jusante do vento, a orientação realiza-se automaticamente” (CRESESB, 2014).

64 | P á g i n a
REFLEXÕES SOBRE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

Componentes de um Aerogerador de Eixo Horizontal


Os principais componentes de um aerogerador de eixo horizontal podem ser
vistos na Figura 5:

Figura 5: Principais Componentes de um Aerogerador de Eixo Horizontal

Fonte: CRESESB, 2014.

Existem outros componentes que integram um aerogerador. Deste modo,

descreveremos de forma sucinta os principais (CRESESB, 2014; VITORINO, 2012):

- Nacele: é a carcaça montada sobre a torre, onde estão o gerador, a caixa de


engrenagens, o sistema de controle, medição do vento e motores para rotação do
sistema.

- Pás do rotor: são perfis aerodinâmicos responsáveis, pela interação com o


vento, convertendo parte da sua energia cinética em energia cinética de rotação do

eixo.

- Rotor: é constituído pelas pás e pelo cubo, onde são fixadas.

- Eixo: O eixo da turbina eólica é conectado ao cubo do rotor. Assim, quando o


rotor gira, o eixo gira junto. Esse processo faz com que o rotor transfira sua energia
mecânica rotacional para o eixo, que está conectado a um gerador elétrico na outra
extremidade.

65 | P á g i n a
ENERGIA EÓLICA: UMA VISÃO GERAL E SUA APLICAÇÃO NO ENSINO

- Caixa multiplicadora: É responsável por transmitir a energia mecânica entregue


pelo rotor até o gerador.

- Gerador: Responsável pela conversão de energia mecânica em energia elétrica.

O modelo de gerador utilizado varia de acordo com o tipo de instalação (CRESESB,


2014).

- Torre: Servem para posicionar e sustentar os rotores a uma altura conveniente

para o funcionamento.

- Anemômetro: É responsável por medir a velocidade e intensidade do vento.


- Biruta: Sensor de direção, também conhecido por windvane, que mede a

direção do vento.
- Mecanismos de controle: São responsáveis pela direção do rotor, controle de
velocidade, controle de carga etc. Os aerogeradores mais modernos utilizam diferentes
princípios de controle aerodinâmico, como o controle stol (Stall) e o controle de passo

(Pitch).

Classificação dos sistemas eólicos


Os sistemas eólicos podem ser classificados conforme a potência instalada
(potência nominal), conforme as suas aplicações e o local de instalação.
- Conforme potência instalada: os aerogeradores podem ser classificados como

de pequeno, médio e grande porte. Os de pequeno porte, são aqueles que sua
potência de instalação está em até 80kW, os de médio porte possuem uma potência de

instalação de 81 a 500kW e os de grande porte, possuem uma potência maior que


500kW (RIBEIRO, 2013).

- Conforme as suas aplicações:


Podem ser de três tipos:

66 | P á g i n a
REFLEXÕES SOBRE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

a) Sistemas isolados: esses utilizam alguma fonte de armazenamento de


energia, o qual, pode ser feito por meio de baterias. As baterias, precisam de um
dispositivo para controlar a carga e a descarga, e quando o sistema é conectado a

aparelhos que operam em corrente alternada, é necessário a utilização de um inversor


(CRESESB, 2014).

b) Sistemas híbridos: são os desconectados da rede convencional, e


apresentam várias fontes de geração de energia, como: turbinas eólicas, geração diesel,

módulos fotovoltaicos, entre outras. Em geral, esses sistemas são empregados em


sistemas de médio a grande porte destinados a atender um número maior de usuários.

Esses sistemas são de grande complexidade, necessitando de estudos particulares


(CRESESB, 2014).

c) Sistemas interligados a rede: esses sistemas utilizam muitos geradores e


não necessitam de sistemas de armazenamento de energia, pois podem ser ligados

diretamente à rede de distribuição por meio de geradores síncronos ou assíncronos ou


por meio de inversores acoplados ao gerador de corrente contínua (RIBEIRO, 2013).

- Conforme o local de aplicação: uma usina eólica pode ser instalada em terra
quanto no mar. Os sistemas eólicos instalados em terra são chamados de Usina eólica
Onshore, e os sistemas eólicos instalados no mar são chamados de Energia Eólica
Offshore. Apesar das instalações offshore serem de maior custo de transporte,
instalação e manutenção, esse tipo de instalação tem crescido a cada ano, devido ao
esgotamento de áreas de grande potencial eólico em terra (CRESESB, 2014).

ENERGIA EÓLICA E SEUS IMPACTOS NO MEIO AMBIENTE

Em um estudo realizado por Araújo e Moura (2017) onde analisaram um total de


33 artigos, sendo que 23 mencionam as vantagens trazidas com as instalações de
Parques Eólicos, como alternativa de energia, são elas: Não polui; Empreendimento

67 | P á g i n a
ENERGIA EÓLICA: UMA VISÃO GERAL E SUA APLICAÇÃO NO ENSINO

Sustentável; Atração de Turistas e consequente geração de renda nos locais; Evita a


emissão de gás carbônico (CO2(g)) e outros gases que provocam o efeito estufa;
Geração de empregos; Gera menos impactos ao meio ambiente, quando comparados a

outros meios de geração de energia; Substitui combustíveis fósseis; É economicamente


viável; Cria receitas alternativas para agricultores que arrendam suas terras, dentre

outros menos citados.


Em contrapartida, os impactos negativos não passaram despercebidos pela

comunidade científica. Dos 33 artigos registrados e analisados, 26 enfatizam os


impactos negativos decorrentes da instalação de Parques Eólicos, indicando expressiva

relevância nociva nos meios social, físico e faunístico (ARAUJO e MOURA, 2017).
Dentre os impactos negativos têm-se: a emissão de ruídos e o impacto visual,

que segundo Peres e Bered (2003) a geração de ruído, sombra e impacto visual podem
vir a ser problemáticos para os moradores que residem próximos aos

empreendimentos. Quanto aos ruídos, estes estão presentes desde a fase de


construção, com as escavações e terraplanagens feitas por grandes maquinários,

circulação de veículos, transporte de materiais, assim como durante a fase de operação,


onde o ruído aerodinâmico é um fator influenciado diretamente pela velocidade do

vento incidente sobre a turbina eólica (MEYER et al., 2014). Esse problema tem sido um
dos impactos ambientais mais estudados na área de geração eólica.

Têm-se também as interferências eletromagnéticas (EMI), ou seja, se as turbinas


eólicas estiverem localizadas entre dispositivos emissores de ondas eletromagnéticas e

o receptor do sinal, podem interferir em vários sinais importantes para as atividades


humanas, como televisão, rádio, sistemas de transmissão por micro-ondas, telefones

celulares e radar (MANWELL; MCGOWAN; ROGERS, 2009).

Já as desigualdades socioespaciais se dão pela maneira e intensidade de como o


setor se desenvolve, especialmente nas comunidades onde estão sendo

implantados/instalados os parques eólicos. No estudo de Araújo e Moura (2017), a


restrição de uso dos recursos naturais foi citada como um dos problemas causados

pelos parques eólicos.


68 | P á g i n a
REFLEXÕES SOBRE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

Quanto aos danos à fauna, as aves e os morcegos sofrem muito com a


implementação de um parque eólico. Devido à boa altitude e diâmetro da
circunferência dos aerogeradores o acidente com aves migratórias das mais diversas

espécies também é uma desvantagem, pois caso não haja um estudo minucioso das
rotas de migração os acidentes serão inevitáveis (BARBOSA, 2008; MEDEIROS et al.,

2009).
Também têm-se a perda de habitat, de reprodução e alimentação, que segundo

Moura-Fé e Pinheiro (2013) a retirada da vegetação, para a construção de um parque


eólico, além da diminuição do potencial ecológico e da carga genética da flora local,

ocorre estresse e fuga da fauna.

UTILIZANDO OBJETOS DE APRENDIZAGEM NO ENSINO DE ENERGIA EÓLICA

Observando o cenário atual, o professor está inserido em uma era digital, na

qual precisa acrescentar em suas práticas pedagógicas metodologias que usem de


recursos dinâmicos e eficientes para aprimorar o processo de ensino e aprendizagem.

Para isso, existem ferramentas capazes de deixar uma aula atrativa e criativa, como, por
exemplo, o uso de Objetos de Aprendizagem, conhecidos como OAs.

Os OAs foram criados com o objetivo de auxiliar e completar o planejamento do


professor, podendo assim envolver diversos conteúdos e componentes curriculares.

Audino e Nascimento (2010), apontam que os OAs podem ser encarados como
materiais importantes no processo de ensino e aprendizagem, pois fornecem a

capacidade de simular e animar fenômenos, entre outras características [...]. Desta


forma, fazer uso de Objetos de Aprendizagem torna uma aula atrativa, dinâmica e

interativa. Tarouco et al. (2003, p. 02), definem os OAs, como:

Qualquer recurso, suplementar ao processo de aprendizagem, que pode ser


reusado para apoiar a aprendizagem. O termo objeto educacional
(learningobjects) geralmente aplica-se a materiais educacionais projetados e
construídos em pequenos conjuntos com vistas a maximizar as situações de
aprendizagem onde o recurso pode ser reutilizado. A ideia básica é a de que
os objetos sejam como blocos com os quais será construído o contexto de
aprendizagem.
69 | P á g i n a
ENERGIA EÓLICA: UMA VISÃO GERAL E SUA APLICAÇÃO NO ENSINO

Pode ser destacado alguns exemplos como: a criação de aplicativos; infográficos;


software; websites dinâmicos; vídeos educativos; animações; imagens; entre outros.

Com esta ideia, foi pensado em criar um elo entre o conteúdo de Energia Eólica
e o uso dos OAs, através da criação de um aplicativo do tipo game. Este foi criado pelas

autoras, tendo como objetivo auxiliar o ensino do conteúdo.


O aplicativo conta com uma tela principal, na qual ao apertar o botão “ Play” dar-

se-á início ao jogo. Na segunda tela apresenta-se o “Menu” dividido em 7 botões, que
direcionam o usuário à parte do conteúdo que gostaria de revisar, como: o conceito de
energia eólica, dados sobre a produção de energia eólica no Brasil e no Mundo,
vantagens e desvantagens dessa energia etc.

Após as telas de conteúdo, precisamente na tela 12, iniciará o “quiz” com

perguntas, nas quais os usuários deverão caracterizar as afirmações como verdadeiras


ou falsas, se acertar a resposta, segundo o aplicativo, recebe uma mensagem de
incentivo. Caso erre, deverá rever seus conceitos. Abaixo, na Figura 6, algumas das telas
do aplicativo:

Figura 6: Telas do aplicativo sobre o tema energia eólica

Fonte: Autoras.

Sabe-se que existem diversos recursos digitais disponíveis na web, aqui foi

apresentado um exemplo. Contudo, o propósito de apresentar este OA é de tornar a


prática do professor um momento agradável e de qualidade, com dinamismo e
interação.
70 | P á g i n a
REFLEXÕES SOBRE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Entende-se que é necessário que se pense em toda a estrutura que envolve a

implantação de um parque eólico, pois a deficiência em processar informações


importantes pode diminuir as chances de êxito da produção (GOMES e HENKES, 2015).

De acordo com Moura-Fé e Pinheiro (2013) o desenvolvimento é um passo necessário


para o futuro que a sociedade busca, mudando a matriz energética, por exemplo,

passando pelo desenvolvimento da energia eólica. Contudo esse, não pode acontecer
de forma desordenada, é necessário considerar o estudo e a análise locacional e

tecnológica de cada um dos projetos dos parques eólicos, seus aspectos particulares e
seus impactos ambientais associados ao serem postos em prática.

O tema energia eólica pode ser desenvolvido em sala de aula de maneira

interdisciplinar, pois muitos assuntos podem ser abordados. Para facilitar a aplicação, e
tornar o aprendizado mais dinâmico, o uso de objetos de aprendizagem podem

colaborar e complementar o planejamento do professor.

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73 | P á g i n a
ENERGIA FOTOVOLTAICA NO ESTADO DO

06 MATO GROSSO: sequência didática para um estudo


da realidade

Adriana Tenir Egéa De Oliveira15


Andréia Vaz Gomes16
Carlos Ariel Samudio Pérez17

INTRODUÇÃO

O estudo de temáticas voltadas para o desenvolvimento sustentável tem sido

alvo de muitas pesquisas no campo da ciência, e, nas últimas décadas, a questão


energética despontou um alto consumo impulsionado pela ampliação e universalização

do acesso a esse serviço, acentuando a crise energética devido ao descontrole climático


e hídrico.

O Brasil possui um excelente potencial para a produção de energia elétrica a


partir da radiação do sol pois além de ser uma das maiores fontes de silício do mundo,

matéria prima principal para a produção dos painéis solares utilizados para a
transformação da energia da radiação em eletricidade, a sua localização geográfica e o

clima, propiciam uma radiação solar diária, que na prática possibilitaria uma grande
geração de energia elétrica desta fonte. Em se tratando do estado de Mato Grosso

(MT), a possibilidade de geração de energia fotovoltaica é potencializada devido ao seu


clima tropical que possibilita uma irradiação regular durante a maior parte do ano,

fazendo que hoje esteja na quarta posição entre os estados do país, na produção deste

tipo de energia.
Nesta perspectiva é primordial inserir essa temática nos currículos escolares, para

permitir que o conhecimento científico se produza em contextos reais e que a


aprendizagem permeie por ações significativas. Diante disso, elaboramos uma
15
Doutoranda em Ensino de Ciências e Matemática/Universidade de Passo Fundo/PPGECM/190462@upf.br.
16
Doutoranda em Ensino de Ciências e Matemática/Universidade de Passo Fundo/PPGECM/50393@upf.br.
17
Doutor em Física/Professor permanente no Programa de Pós-graduação em Ensino de Ciências e
Matemática e no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade de Passo Fundo/PPGECM/
samudio@upf.br.

76 | P á g i n a
REFLEXÕES SOBRE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

sequência didática (SD) de atividades aliadas a metodologias ativas, com objetivo de

trabalhar com os alunos do terceiro ano do ensino médio, de uma escola estadual do
interior do MT. A sequência propõe o envolvimento dos alunos nos processos que se

destinam a pesquisa e análise de dados sobre as energias renováveis, em especial a


fotovoltaica e sua contribuição com as questões ambientais.

ENERGIA SOLAR NO BRASIL

Contexto Histórico da Energia Solar no Brasil


A importância do comprometimento dos países com as soluções dos problemas
ambientais e socioambientais têm promovido reflexões sobre os grandes desafios que
demandam o uso consciente dos recursos naturais e novas alternativas de convívio para
o bem coletivo de todo o planeta. E claro, diante do aumento contínuo da população

mundial, do consumo de alimentos, da água e uso da energia, a sustentabilidade tem


sido tema de debate como forma de conscientização para os cuidados com o meio

ambiente. Isto requer da ciência a realização de pesquisas direcionadas ao


desenvolvimento de meios alternativos e sustentáveis para uma revolução renovável.

Dentre os recursos energéticos renováveis, a energia solar oferece uma fonte limpa para
geração de energia elétrica com emissão zero de gases de efeito estufa para a atmosfera

(Wilberforce et al., 2019; Abdelsalam et al., 2020; Ashok et al., 2017 apud TAWALBEH,
2021; et.al.).

Os raios solares, além de trazerem luz e calor, essenciais para a vida na Terra,
podem ser aproveitados para a geração de energia tanto na forma de calor quanto na de

eletricidade. Essa energia elétrica gerada a partir da luz solar é chamada de energia
fotovoltaica. O termo, fotovoltaica, é formado a partir de duas palavras: foto, que em

grego significa “luz”, e voltaica, que vem da palavra “volt”, unidade de medida do
potencial elétrico. Segundo Dantas e Pompermayer (2018), a energia fotovoltaica consiste

na geração de energia elétrica por meio de materiais semicondutores que apresentam o


efeito fotovoltaico, e “apesar do enorme potencial de geração fotovoltaica no Brasil, a

77 | P á g i n a
ENERGIA FOTOVOLTAICA NO ESTADO DO MATO GROSSO:
SEQUÊNCIA DIDÁTICA PARA UM ESTUDO DA REALIDADE

quantidade de energia produzida dessa forma ainda não é significativa. O país conta com
cerca de 176 MW de potência centralizada instalada, totalizando 0,1% da potência total”

(DANTAS e POMPERMAYER, 2018, p. 9). No Brasil, a Agência Nacional de Energia Elétrica


(Aneel) aponta que as usinas solares de grande porte, correspondem a 2% da capacidade

da matriz elétrica instalada atualmente. Os dados indicam a necessidade de sensibilização


e o incentivo para o uso desta energia limpa, e a escola pode ser um espaço no qual se

iniciem os diálogos e a introdução à pesquisa, voltadas para o desenvolvimento


sustentável (América do Sol, 2021).

Para atingir o desenvolvimento sustentável a população brasileira deve conhecer


as potencialidades que o país tem para o uso de energias renováveis tais como a energia

solar. De fato, o Brasil possui uma das maiores reservas de silício do mundo. Como
divulgado num relatório da Agência de Mapeamento Geológico dos Estados Unidos, o

Brasil concentra uma das maiores reservas desse material, dispersos por toda a crosta
terrestre (VICENTIN). Riqueza que, se bem explorada, pode colocar o país, de vez, na

cadeia de produção tecnológica. Palz (2002) ressalta que, o silício é o semicondutor mais
importante para a conversão da energia solar fotovoltaica e, assim, cerca de 95% de

todas as células fotovoltaicas são fabricadas a partir dele. Isso faz com que o país seja um

local privilegiado para desenvolver pesquisas científicas e até mesmo contribuir na


formação de profissionais que se interessem em explorar este campo.

Uma outra potencialidade que o Brasil tem para incentivar o uso da energia solar
é que é um país de localização privilegiada. Conforme o Atlas Brasileiro de Energia Solar

(2017), as regiões menos ensolaradas do país ainda apresentam irradiação maior que na
Alemanha, um dos países que possui um dos maiores investimentos em energia

proveniente do sol. O Brasil possui uma irradiação solar diária de 4.444 Wh/m² a 5.483

Wh/m2, que na prática possibilitaria consumirmos grande parte de nossa energia elétrica
desta fonte de produção. Mas, como pontua Dantas e Pompermayer (2018), uma questão

pertinente é quanto à sazonalidade da produção da energia fotovoltaica em nosso país,

cuja média de incidência solar diária nos municípios do Brasil é de 5,26 kWh/m2.

78 | P á g i n a
REFLEXÕES SOBRE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

O registro da primeira usina solar no Brasil foi em 2011, na cidade de Tauá no


Ceará, com capacidade inicial de 1 MW, expressiva para época. A partir de 2012, com a
promulgação da resolução RN/482 da Aneel, que possibilitou aos consumidores a troca

de energia gerada por instalações fotovoltaicos, incluindo nas residências, o uso da


energia solar despontou, e desde então permanece em um processo crescente com um

salto da 27° posição em 2017 no mundo para a 16° em 2020 (RBE, p. 21, 2021).Atualmente
o boletim de geração de energia fotovoltaicado Operador Nacional do Sistema

Elétrico(NOS), evidencia um grande aumento da potência instalada. Os dados apontam


um recorde de geração diária conforme a figura 1.

Figura 1: Evolução da potência instalada e geração de usinas


solares

Fonte: Boletim Mensal de Geração Solar Fotovoltaica

Crise energética
Com o descontrole climático que o planeta vem sofrendo devido a ação

humana, o Brasil, segundo o estudo realizado em 2020 pelo MapBiomas, tem sofrido os
impactos da crise hídrica. Várias regiões do país que forneciam umidade e possuíam

grandes reservas de água passam por períodos de seca e estiagem, e da década de


1990 para a atualidade estima-se que em torno de 15,7% da superfície de água se

perdeu e há impactos diretos na produção de energia que trazem o risco de apagões


como os ocorridos em 1999. Ressalte-se que devido a esses inúmeros problemas o
aumento sucessivo na conta de energia elétrica tem se tornado realidade nos últimos
anos, já que a grande parte da produção de energia elétrica no Brasil é da fonte hídrica.
79 | P á g i n a
ENERGIA FOTOVOLTAICA NO ESTADO DO MATO GROSSO:
SEQUÊNCIA DIDÁTICA PARA UM ESTUDO DA REALIDADE

Segundo o balanço energético 2021 (RBE,p.16,2021) ano base 2020, a energia


com maior aumento na sua produção foi a solar, que apresentou um aumento de 61,5%

em relação a 2019, atingindo 10,7 TWh, fazendo que a participação das energias
renováveis na matriz energética tenha chegado em 2020 a 84,8%. Em decorrência da

pandemia do Covid-19 o consumo geral de eletricidade diminuiu em 2020 em 1%, pois


vários setores como a indústria e comércio tiveram de parar suas atividades, porém nas

residências houve aumento no consumo já que as pessoas precisaram em função do


isolamento social ficar em casa. Desta forma, fatores como a necessidade de um maior

consumo e aumento da conta de energia fez com que as pessoas passassem a ver a
energia solar como um investimento que a curto prazo dá retorno e traz benefícios não

só financeiro, mas também contribui com a conservação do planeta auxiliando no uso


adequado dos recursos naturais e ainda a não emissão resíduos tóxicos na atmosfera.

Potencial energético da energia solar no MT 3


Localizado na região centro-oeste do país, o estado de MT possui uma

população de 3.567.234 pessoas, segundo a estimativa do IBGE (2021), com uma das
menores densidades demográficas e principal atividade econômica o agronegócio. A

sua temperatura média anual é de 25,6°C, e tem um período de seca no inverno e


úmido no verão, com uma localização geográfica e clima tropical, que apresenta um

excelente potencial energético tratando-se de energia solar. Segundo a Associação


Brasileira de Energia Solar é o quarto maior produtor de energia solar no país, com um

aumento de 200% nos pedidos de projetos de inclusão de energia solar de 2020 para
2021 na companhia de energia do estado. (ABSOLAR, 2021)

Em 2019 o INPE, por meio do laboratório de pesquisa do instituto o LABREN,

lançou um sistema que possibilita fazer uma consulta sobre os índices de irradiação
solar com níveis mensais de todos municípios brasileiros. A figura 2 mostra os níveis da

radiação mensal do município de Nova Mutum, no interior do MT.

80 | P á g i n a
REFLEXÕES SOBRE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

Figura 2: Média total de irradiação no plano inclinado para o município de Nova Mutum/MT (
Wh/m².dia)

Fonte: LABREN

Na figura 2 observa-se que a média anual no plano inclinado de irradiação no

município é de 5.154 KWh/m², o que possibilitaria uma excelente produção energética


durante o ano inteiro, e isso ocorre de modo geral em todo estado, que apresenta um

grande potencial energético fotovoltaico.

DESENVOLVIMENTO

Nos espaços escolares o uso de estratégias de ensino que tragam situações

reais, pode proporcionar maior interação e mobilização dos alunos para a pesquisa, e
sobretudo na formação do espírito investigativo e científico. Desta forma, o trabalho

interdisciplinar que envolva as diversas áreas do conhecimento pode potencializar


dinâmicas que instiguem e construam debates a fim de compreender a ciência nos

processos globais. Com esta ideia, trabalhar a ciência na escola e promover uma
aprendizagem significativa com temáticas que estão amplamente sendo alvos de

pesquisas e descobertas, tais como os sistemas fotovoltaicos e a crise energética no


Brasil, faz emergir percepções que integram a análise de fenômenos físicos e

matemáticos, num contexto real.


Assim, a partir de um tema gerador sobre a crise energética e energias

renováveis é possível envolver os alunos em atividades de pesquisa científica e de

conscientização para a sustentabilidade, além de compreender sobre a geração de


energia limpa como uma alternativa para minimizar os efeitos do impacto ambiental.

Aplicações em contextos de vivência que possibilitam e promovem aprendizagens


81 | P á g i n a
ENERGIA FOTOVOLTAICA NO ESTADO DO MATO GROSSO:
SEQUÊNCIA DIDÁTICA PARA UM ESTUDO DA REALIDADE

significativas, como um “processo pelo qual uma nova informação se relaciona, de


maneira substantiva e não arbitrária, a um aspecto relevante da estrutura cognitiva do

aprendiz” (MOREIRA, 2012, p.1), estabelece conexões com aprendizagens que são
estruturadas.

E, em se tratando do ensino médio, a BNCC (2018) aponta que devem ser


analisados fenômenos naturais e processos tecnológicos, com base nas relações entre

matéria e energia, propondo ações individuais e coletivas que aperfeiçoam processos


produtivos. Com esta abordagem pretende-se minimizar os impactos socioambientais e

melhorar as condições de vida em âmbito local, regional e/ou global.


Em virtude do exposto, com a intenção de buscar investigar uma situação de um

contexto real, fazendo uso de processos científicos realizamos a pesquisa descrita neste
texto. Para tal propomos uma abordagem de ensino com metodologias ativas com

alternativas pedagógicas para a construção da criticidade e da reflexão, com o foco no


processo de ensino e de aprendizagem por meio da investigação. A perspectiva

adotada para o desenvolvimento desta pesquisa é apoiada em uma SD com um


“conjunto de atividades, estratégias e intervenções planejadas etapa por etapa para que

o entendimento do conteúdo ou tema proposto seja alcançado pelos discentes”

(KOBASHIGAWA, et. al, 2008).


Neste viés, norteamos a pesquisa por meio de uma questão problema: Quais são

os resultados obtidos com a aplicação de uma SD nas perspectivas da metodologia da


rotação por estações?

A SD proposta foi aplicada a um grupo de alunos do 3º ano do ensino médio,


com a seguinte problemática: O que a crise energética impacta em nossa vida? Com a

proposta de trabalhar a temática energias renováveis, impacto ambiental e


sustentabilidade, o objetivo geral desta SD é de proporcionar a construção de

conhecimentos numa perspectiva de reflexão para a tomada de decisões, em específico


sobre o reconhecimento da sua contribuição para a melhoria da qualidade de vida e do
meio ambiente. Com a organização da SD e a metodologia de rotação por estações, as
atividades propostas pretendem fomentar a pesquisa científica promovendo o
82 | P á g i n a
REFLEXÕES SOBRE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

envolvimento e participação ativa dos alunos no seu aprendizado. Bacich e Moran


(2018), conceituam que a rotação por estações se define em uma abordagem que
envolve contextos e estabelece a organização de uma atividade que oportuniza aos

alunos a realização de uma tarefa com objetivos definidos para a aula.


As estações foram articuladas para despertar o interesse e propor uma dinâmica

na SD orientada, a fim de organizar o tempo para as trocas e rotação nos trabalhos. Em


um processo didático, na concepção de SD, como afirma Kobashigawa (2008), não se

trata de um plano de aula, pois admite várias estratégias de ensino e aprendizagem e


uma sequência pode ser destinada a vários dias. Neste sentido, considerando que a

rotação por estações potencializa realizar atividades interdisciplinares, a SD proposta


traz uma abordagem nas disciplinas de física e de matemática em um contexto de

investigação quanto à crise energética no Brasil e no estado do MT. Na Tabela 01 são


descritas as atividades desenvolvidas e executadas em quatro momentos pedagógicos.

Tabela 01: Temas Abordados e Roteiros das Atividades na SD


Sequência Didática
Série/Ano: 3º ano Ensino Médio
Tema O que a crise energética impacta em nossa vida?

Conteúdo Energias renováveis, sistema fotovoltaico e crise energética.


Habilidade BNCC EM13CNT102, que trata sobre realizar previsões, avaliar intervenções e/ou
construir protótipos de sistemas térmicos que visem à sustentabilidade, com
base na análise dos efeitos das variáveis termodinâmicas e da composição dos
sistemas naturais e tecnológicos.
Objetivo Proporcionar a construção de conhecimentos numa perspectiva de reflexão
para a tomada de decisões, em específico sobre o reconhecimento da sua
contribuição para a melhoria da qualidade de vida e do meio ambiente;

Objetivo Identificar e diferenciar o uso de energia solar e discutir sobre o impacto


específico ambiental, com base em leituras pesquisas e análises de gráficos,
dados e tabelas.
Metodologia Modelo - Rotação por estações (ensino híbrido)

Pré-aula (on-line): O professor solicita aos alunos uma pesquisa sobre a crise energética no Brasil e as
fontes renováveis de energia. Solicita que tragam para a aula uma fatura de energia elétrica de sua
residência. Esta proposta é encaminhada via aplicativo de mensagem para o grupo dos alunos da
turma.
1º Momento - 1 hora
Inicialmente, levanta-se o conhecimento prévio dos alunos por meio de uma pesquisa, aplicada de
forma remota, utilizando o aplicativo – mentimeter. Em seguida, explana-se os objetivos das atividades
que seriam realizadas, além dos combinados sobre o tempo de duração de cada uma das rodadas
da estação (20 minutos). Cada grupo passou por no
83 | P á g i n a
ENERGIA FOTOVOLTAICA NO ESTADO DO MATO GROSSO:
SEQUÊNCIA DIDÁTICA PARA UM ESTUDO DA REALIDADE

mínimo 3 estações durante a aula, sob a orientação do professor sobre cada atividade que seria
realizada. Nestas atividades devem ser priorizadas o diálogo, e a troca de experiências visando a
resolução dos problemas. Os espaços devem disponibilizar os seguintes materiais: régua, canetão,
post-it, notebook ou celular e conexão com a internet.
2º Momento – 2 horas
Roteiro das estações de aprendizagem
01. Estação Sistematização do grupo para apresentação: Criação de um Portfólio;
Portfólio-
Facilitação O grupo dialoga e propõe a criação de um portfólio que pode ser utilizado na
Gráfica perspectiva de sensibilizar as pessoas sobre a necessidade dos cuidados, o que
fazer para minimizar o desperdício de energia, a importância da
sustentabilidade e a prevenção da crise energética.

Pesquisa: https://americadosol.org/potencial-solar-no-brasil/
02. Estação Sistematização do grupo para apresentação: Criação de um Podcast;
Podcast O grupo ouve e analisa o Podcast, pesquisa sobre o apagão no Brasil no ano
de 2000/2001 e reflete sobre o panorama no Brasil e no MT a respeito da
situação das energias renováveis.
Desafio: que história o grupo pode contar?

Pesquisa: Podcast https://www.r7.com/eMo2


03. Estação Sistematização do grupo para apresentação: Criação de um Jogo;
Jogos
O grupo cria um jogo, no qual, os jogadores compreendam a eficiência da
energia solar e os benefícios de sua implantação em um sistema que vise a
sustentabilidade, e promova a mudança de atitudes em relação ao meio
ambiente.

Sugestão: Jogo da memória, trilha, cartas, com o sem auxílio de aplicativos,


como por exemplo, wordwall.

Pesquisa: https://youtu.be/ZqaZx2UIMB8
04. Estação Sistematização do grupo para apresentação: Construção de um Post noCanva;
Canva
O grupo conversa sobre os índices de radiação solar no Brasil, especificamente
no MT, buscando compreender a importância da eficiência energética em
nosso país. Reflete sobre as impressões do vídeo e analisa as energias
disponíveis e utilizadas no MT além da emissão de gases de efeito estufa e o
impacto ambiental.

Pesquisa: https://youtu.be/2C13sZNBIDA

05. Estação Sistematização do grupo para apresentação: Construção de um Fluxograma;


Fluxograma
O grupo identifica por meio de separação o funcionamento das diversas fontes
de energia. Analisa, especificamente, o custo e benefício da energia solar.

Pesquisa: https://youtu.be/JTqz_xzozl0

84 | P á g i n a
REFLEXÕES SOBRE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

3º Momento- 1 hora
Alunos: Apresentação das suas produções e apontamentos das aprendizagens.

4º Momento – 1 hora
Realiza-se a avaliação da aprendizagem pelo aplicativo digital kahoot, por meio de um questionário
contendo 10 questões com alternativas, e posteriormente realiza-se o feedback com os alunos.
Em seguida, o professor explana os conceitos relacionando os assuntos com o contexto e esclarece as
dúvidas e curiosidades após as apresentações (Roda de Conversa). Para finalizar as atividades, aplica-
se uma questão pelo aplicativo mentimeter, para identificar o conhecimento construído pelos alunos
após a sistematização das estações de
aprendizagem.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A SD foi aplicada numa escola do município de Nova Mutum, localizado


no interior de MT, para uma turma do 3° ano do ensino médio. Esta turma é composta
por 25 alunos, 17 meninas e 8 meninos com idade média de 17 anos. Trabalharam para
a aplicação da SD duas professoras da turma, uma que ministra a disciplina de Física e a
outra a de Matemática. Inicialmente, com o propósito de levantar informações sobre os
conhecimentos prévios dos estudantes, foi solicitado que respondessem a seguinte
pergunta: O que você pensa quando ouve falar sobre: crise energética e o uso de

energias renováveis? As respostas foram agrupadas usando o aplicativo mentimetero

que gerou a nuvem de palavras, descrita na figura 3, e serviu de base para


compreendermos qual a concepção dos alunos sobre o assunto. Observou-se que as
palavras “energia solar” e “sustentabilidade”, em seguida “apagão” e “problema”
emergiram em destaque na pesquisa, pois aparecem com fonte maior.

85 | P á g i n a
ENERGIA FOTOVOLTAICA NO ESTADO DO MATO GROSSO:
SEQUÊNCIA DIDÁTICA PARA UM ESTUDO DA REALIDADE

Figura 3: Nuvem de Palavras sobre: Energias Renováveis e Crise Energética.

Fonte: Elaborado pelos autores.

A partir do resultado anterior, houve uma conversa com os alunos explicando a


intenção ao aplicar a SD, para que todos os alunos realizassem as atividades descritas

na mesma, inclusive a abordagem sobre as palavras de maior destaque.


A turma foi organizada em grupos, de 5 alunos cada, e, após a orientação do

professor, deram início aos trabalhos, seguindo a descrição disposta na estação de

aprendizagem. A estação apresentou um link de vídeo de breve abordagem para situar


a temática a ser dialogada, além da sugestão sobre pesquisas e coleta de dados, na

intenção de levar os alunos à compreensão e reflexão dos objetivos do desafio


proposto. Os alunos tiveram a mediação do professor durante o decorrer de suas

pesquisas, na organização das estratégias e ações, na instigação quanto as curiosidades


e interesses relevantes neste processo, integrando assim como apontam Bacich e

Moran (2018, p. 191), “aspectos relacionados ao ensinar e ao aprender”, refletir sobre o


que faz. Após as rodadas nas estações, os alunos apresentaram as suas produções, e

fizeram apontamentos sobre a importância da sustentabilidade como meio de garantir


para as futuras gerações um planeta sem danos e preservado, além de discutirem sobre

as atitudes e práticas que correspondem ao uso de energias renováveis.

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REFLEXÕES SOBRE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

Destacamos que a estação podcast, proporcionou uma dinâmica que envolveu


os alunos para além da pesquisa, com debates e uma roda de conversa para estruturar
o próprio podcast. Eles pesquisaram e aprenderam também sobre os aplicativos de

produção de áudio, se reconhecendo como produtores de conhecimento no


cumprimento de uma atividade em sala de aula. A estação jogos teve como resultado a

produção de jogos on-line com aplicativos digitais, e jogos usando tabuleiros em uma
abordagem com questões e alternativas. A construção do portfólio, facilitação gráfica,

canva e fluxograma abordaram: a sensibilização sobre os recursos naturais, o


funcionamento de placas solares, índices de radiação solar, matriz energética e

contemplaram benefícios do uso das energias renováveis em detrimento à crise


energética, trazendo a sustentabilidade como um compromisso social. Durante a

realização da tarefa e busca por estratégias para solucionar o desafio, os alunos


mostraram uma participação ativa e dinâmica com o grupo, e como o assunto é de

relevância social, debateram estratégias e apontaram questionamentos do contexto


real. Nas estações, os desafios e pesquisas emergiram curiosidades sobre o consumo

de energia elétrica da escola, esboçando interesses sobre a contribuição na redução do


uso de recursos naturais e a criação de estratégias em cálculos e valores das faturas de

energia elétrica, despontando ideias para a construção futura de trabalhos pedagógicos


com os alunos.

Após as apresentações, foi aplicado um questionário por meio do aplicativo

digital kahoot, contendo 10 questões com alternativas verdadeiro ou falso, para o

levantamento das aprendizagens após a aplicação da SD. Os resultados mostraram


que a maioria dos alunos compreenderam os conceitos e propostas trabalhadas na
temática, sendo que 18 alunos acertaram de 8 a 10 questões, e 5 alunos acertaram de 6
a 7 questões, e 2 alunos acertaram de 5 a 6 questões, o que indica que a estratégia
abordada com a SD oportunizou conquistas e aprendizagens positivas. O que leva a
pontuar que quando é proposto aos alunos a oportunidade de pesquisas e construções
coletivas, com desafios para a solução de problemáticas de contextos reais há
envolvimento e dedicação na realização, fazendo com que o conhecimento deixe de
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ENERGIA FOTOVOLTAICA NO ESTADO DO MATO GROSSO:
SEQUÊNCIA DIDÁTICA PARA UM ESTUDO DA REALIDADE

ser algo abstrato, descontextualizado passando a ser uma “aprendizagem mais próxima
da realidade com sentido às informações” (BACICH E MORAN, 2018, p. 364).

A nova BNCC orienta ofertar aos educandos possibilidades de analisar, observar


e compreender os sistemas de energia, e neste contexto a atividade por rotações de

estações serviu como facilitador da aprendizagem. Como assinala Moreira (2012),


permite-se com essas ações que os alunos construam e ampliem o conhecimento, e se

tratando da temática energias renováveis em específico a fotovoltaica no contexto do


estado de Mato Grosso, oportunizou que esses conhecimentos fossem analisados junto

a realidade onde estão inseridos.


No 4º momento, foram explicados os conceitos voltados para as questões com
menor número de acertos, e ao final do feedback propôs-se como sondagem final em
que eles responderam a pergunta aplicada no início das atividades: O que você pensa
quando ouve falar sobre: crise energética e o uso de energias renováveis? Agrupou-se

as palavras usando o aplicativo mentimeter, gerando a nuvem de palavras,

representada na figura 4, que forneceu os resultados da compreensão dos alunos sobre


o tema trabalhado, revelando palavras com maior destaque “energia solar”,
“sustentabilidade” e “energia limpa” e todas as demais se adequam ao contexto das
energias renováveis e crise energética.

88 | P á g i n a
REFLEXÕES SOBRE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

Figura 4: Nuvem de Palavras: Energias Renováveis e Crise Energética após aplicação da SD

Fonte: Elaborado pelos autores

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O esboço de práticas pedagógicas, incluindo a estratégia com uma SD, é

propícia ao ensino de física e matemática, sendo perceptível a aprendizagem do aluno


em suas ações e envolvimento com a problemática lançada, rompendo com os espaços

de aulas tradicionais. Nessa pesquisa, ficou evidente que o ensino híbrido poderá
contribuir para a aprendizagem quando não limitado ao uso de recursos e até mesmo

da internet, pois quando os alunos se sentem desafiados, navegam por diversos links
comparando e organizando as informações para sua aprendizagem. Os pontos

positivos do uso desta metodologia é o envolvimento e a criatividade do aluno quanto


ao uso de ferramentas digitais, que conhece ou mesmo as que aprende em espaços

mais dinâmicos e desafiadores com problemáticas que instiguem a partilhas e


aprendizagens.

A aula neste contexto aborda um currículo com oportunidades de construção do


conhecimento científico e de reflexão, bem como a importância de compreender os
fatos que podem provocar mudanças na qualidade de vida, como o uso e investimento

89 | P á g i n a
ENERGIA FOTOVOLTAICA NO ESTADO DO MATO GROSSO:
SEQUÊNCIA DIDÁTICA PARA UM ESTUDO DA REALIDADE

nas energias renováveis para a sustentabilidade. Ressalta-se que o professor pode


adaptar as estações conforme a disponibilidade de materiais e recursos com a realidade

em que se encontra o ambiente escolar. Reconhecer a potência energética do nosso


país, e em nosso estado provocou uma variedade de ideias e sugestões feitas pelos

alunos para uma prática mais econômica e sustentável, e o que se espera com esta
ação inicial é que surjam muitos outros estudos para a mobilização do conhecimento

científico e de sensibilização que possa contribuir com a formação dos alunos.

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REFLEXÕES SOBRE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

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91 | P á g i n a
07 UM PANORAMA
NUCLEAR BRASILEIRA
DA MATRIZ ENERGÉTICA

Manoel Aguiar Neto Filho18


Viviane Zanuzzo19
Aline Locatelli20

INTRODUÇÃO

Cada vez mais a energia elétrica é fundamental na organização da sociedade e


na qualidade de vida das pessoas, uma vez que proporciona conforto e praticidade aos
indivíduos, que, no cenário cotidiano, fazem constante uso de equipamentos e
dispositivos elétricos ou eletrônicos.

De acordo com o Relatório Síntese do Balanço Energético Nacional - BEN (2021),


a matriz elétrica brasileira em 2020 foi similar à de 2019, com aumento em praticamente

todas as fontes, havendo uma redução das fontes de carvão e derivados, gás natural e

nuclear (EPE, 2021). Os dados desse relatório evidenciam que a redução na oferta de
eletricidade pela fonte de energia nuclear foi ocasionada por períodos em que
permaneceu em manutenção. Nesse sentido, importante observar que a eclosão da
pandemia do Coronavírus em 2020 contribuiu para que houvesse uma renovabilidade

da matriz energética brasileira (EPE, 2021).


Atualmente, a energia nuclear é uma fonte de energia pouco explorada no país

se comparada às demais fontes, entretanto, ela vem recebendo mais atenção pelos
governantes e pelo Ministério de Minas e Energia, com a viabilidade de expansão na

matriz energética brasileira, o que leva a diversas aplicações em prol da sociedade


(BRASIL, 2021). Diante disso, surgem alguns questionamentos que guiaram este

18
Mestre em Agroquímica. Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática
da UPF. E-mail: manuel-aguiar@hotmail.com.
19
Mestre em Ensino de Ciências e Matemática. Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Ensino de
Ciências e Matemática da UPF. E-mail: 128321@upf.br.
20
Doutora em Química Inorgânica. Professora permanente no Programa de Pós-Graduação em Ensino de
Ciências e Matemática. E-mail: alinelocatelli@upf.br.
94 | P á g i n a
REFLEXÕES SOBRE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

trabalho: Quando foi que a energia nuclear começou a ganhar espaço no Brasil? E por
que é importante falar sobre esse tipo de fonte de energia?
Energia nuclear é um assunto sempre atual e sua inserção na educação básica é

essencial. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) cita exemplos da presença da


Ciência e da Tecnologia e sua influência no modo como os sujeitos vivem na sociedade

contemporânea. Vale aqui destacar que o documento ainda reforça o envolvimento da


Ciência e da Tecnologia em questões globais e locais, especificamente a energia

nuclear (BRASIL, 2017).


Partindo do pressuposto de que a energia nuclear é uma fonte de energia não

renovável e de que ao ser tratada com os estudantes essa temática acaba suscitando
questões muitas vezes polêmicas e controversas, revela-se de grande valia a sua

abordagem. Do mesmo modo, revela-se apropriado ensinar os conceitos científicos e


proceder à apresentação do histórico dessa fonte de energia em nosso país.

Tendo em vista o crescente número de ligações elétricas residenciais


(consumidores) no Brasil – com tendência de crescimento ainda maior para os próximos
anos –, se instaura a demanda de fontes energéticas, ou seja, é necessário buscar

outras fontes alternativas de geração de energia (BAÚ et al., 2019). Dentre as diversas

fontes de energia renovável e não renovável na matriz elétrica brasileira, neste trabalho,
dar-se-á destaque à energia nuclear.

O CONTEXTO HISTÓRICO DA MATRIZ ENERGÉTICA NUCLEAR BRASILEIRA

A tecnologia nuclear, apesar de suas diversas aplicações no campo civil, nasceu

ligada a interesses militares. As pesquisas iniciaram em meados da década de 1930,


mas foi a partir do ano de 1942, com o envolvimento do Brasil no Projeto Manhattan,

e em 1945, com o ataque nuclear sobre Hiroshima, que o país passou a criar interesse
sistemático com a energia atômica (NUNES, 2017). Ainda, no ano de 1945, os Estados

Unidos têm o primeiro acordo nuclear assinado com o Brasil. O documento previa a

95 | P á g i n a
UM PANORAMA DA MATRIZ ENERGÉTICA NUCLEAR BRASILEIRA

exportação de areia monazítica (a qual contém tório, um elemento utilizado em


processos nucleares) da região do Espírito Santo (KURAMOTO; APPOLONI, 2002).
A importância estratégica da tecnologia nuclear na década de 1950 – quando

os Estados Unidos exerciam toda supremacia no setor dessa tecnologia – fez com que
os militares brasileiros (em especial o almirante Álvaro Alberto da Mota e Silva)

tivessem a iniciativa de criar uma política científica e tecnológica autônoma no campo


nuclear. Nessa mesma década, o Brasil já se destacava no uso da energia nuclear nas

aplicações biomédicas de radioisótopos.


Entretanto, em 1951, foi criado o Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq), sob

presidência do almirante Mota e Silva, o qual propunha sua política no princípio da


autonomia no desenvolvimento de técnicas, conhecimentos e pesquisa em energia

nuclear, mesmo sabendo da potência ala pró-americana existente nos meios


científicos e governamentais da oposição (COSTA, 2021). Em 1953, Álvaro Mota e Silva

negociou secretamente um acordo de cooperação nuclear com a Alemanha,


utilizando tecnologia nuclear e de ultracentrífugas desenvolvida pelos nazistas. Tal

negociação, contudo, acaba em fracasso, uma vez que os Estados Unidos descobriram
a artimanha e ordenaram a apreensão das ultracentrífugas (NUNES, 2017).

Em 1955, o almirante renunciou à presidência do CNPq (KURAMOTO;


APPOLONI, 2002) e, no ano seguinte (1956), nasceu o programa nuclear brasileiro,

com a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), que passou a assumir o


comando da política nuclear brasileira, porém, sem o conhecimento científico e

tecnológico nessa área (COSTA, 2020). Foi no âmbito do programa internacional


Átomos para a Paz – do qual o Brasil era beneficiário – que, em 1955, o Brasil assina,

com os Estados Unidos, o Acordo de Cooperação para o Desenvolvimento da Energia


Atômica. Nesse acordo, ficou estabelecido que os brasileiros comprariam dos

americanos reatores de pesquisa baseados na utilização da tecnologia do urânio


enriquecido, para fins pacíficos (COSTA, 2020).

Mais tarde, em 1959, o governo brasileiro, que tinha Jânio Quadros como
presidente, decidiu ingressar na geração termonuclear com pretensões tecnológicas
96 | P á g i n a
REFLEXÕES SOBRE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

futuras, cogitando-se a instalação de um reator nuclear em Mambucaba (Vila histórica


pertencente ao município de Angra dos Reis, no estado do Rio de Janeiro). A maior
parcela da tecnologia aplicada nessa instalação seria nacional, já visando ao

desenvolvimento de uma indústria nuclear brasileira e ao suprimento de eletricidade no


mesmo estado (KURAMOTO; APPOLONI, 2002).

Foi então que, em 1972, deu-se início a construção de Angra I, em Angra dos
Reis -RJ, a qual foi concluída dez anos depois (CABRAL,2011). Um ano após o início da

construção da usina, aconteceu a crise do petróleo, ocasionando a expansão do


mercado internacional de reatores nucleares, o que levou os Estados Unidos a

suspender, em 1974, o fornecimento do urânio enriquecido para novas usinas. Diante


desse cenário, o Brasil, que agora tinha Ernesto Geisel na presidência, assina um acordo

com a Alemanha em 1978, prevendo que, além da construção dos reatores nucleares,
fosse possibilitada a instalação no país de uma indústria capaz de fabricar os

componentes e o combustível para os reatores, por um prazo de quinze anos. O


acordo, entretanto, apresentava irregularidades, e, por isso, não tinha apoio nem da

sociedade, nem da comunidade científica. Um dos itens polêmicos, por exemplo, era
referente ao destino a ser dado ao lixo atômico que resultaria da produção dos reatores

(COSTA, 2020).
A conclusão da obra de construção de Angra I, em 1982, fez com que o Brasil

entrasse no seleto grupo de países que geram energia a partir da fissão nuclear e
permitiu que fosse conectada ao sistema elétrico com a primeira reação em cadeia,

ocorrida em abril do mesmo ano. Porém, a operação comercial não foi possível no
mesmo ano, visto que houve problemas técnicos relacionados ao projeto e que

resultaram na interrupção de suas atividades (CABRAL, 2011). Em meados da década de


1990, as interrupções foram menos frequentes, o que fez com que Angra I passasse a

operar regularmente com desempenhos compatíveis com a prática internacional (CCEE,


2019).

No ano de 1976, foram iniciadas as obras de Angra II, mas foi somente em 2000
que essa usina entrou em operação comercial (CABRAL, 2011). A exemplo do ocorrido
97 | P á g i n a
UM PANORAMA DA MATRIZ ENERGÉTICA NUCLEAR BRASILEIRA

com Angra I, o atraso no início da atividade de Angra II repercutiu na importância social


e econômica da energia nuclear. O Brasil tem essas duas usinas nucleares em atividade
e conta também com uma terceira, a Angra III, cuja construção iniciou em 1984, mas,

devido à crise político-econômica, os trabalhos encontram-se interrompidos, com


previsão de entrada em operação no fim de 2026 (GANDRA, 2021). A Figura 1 apresenta

a Central Nuclear onde se encontram as usinas de Angra I, II e III.

Figura 1: Vista da Central Nuclear onde se encontram as usinas nucleares


brasileiras em Angra dos Reis-RJ

Fonte: Eletronuclear.

O programa nuclear brasileiro vem sofrendo há mais de sessenta anos, pois, ao

longo desse tempo, foram muitos os questionamentos levantados por diferentes


grupos de interesses – tais como os militares, os cientistas e os governantes – em

relação à instalação de usinas nucleares de potência no país. A análise do contexto


histórico da construção das usinas nucleares no Brasil gera algumas controvérsias e

polêmicas, visto que o país tem todo o potencial para conquistar a autonomia na
geração de energia nuclear, porém, ainda não foi capaz de desenvolver sua própria

tecnologia, como na criação de reatores.

98 | P á g i n a
REFLEXÕES SOBRE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

O COMBUSTÍVEL NUCLEAR URÂNIO: DA EXTRAÇÃO AO ENRIQUECIMENTO

O urânio é um elemento químico encontrado em muitos lugares da crosta

terrestre, sendo geralmente encontrado na forma de uraninita, composta por uma


mistura de UO2 e U3O8. A maior parte das reservas mundiais de urânio encontra-se nas

minas de Leopldville, no Congo, África. No contexto brasileiro, a extração de urânio


iniciou-se em 1982, no município de Caldas, em Minas Gerais. As minas desse município

foram utilizadas para abastecer Angra I durante 13 anos, e, em 1995, a unidade encerrou
a extração do minério.

As reservas de U3O8 no Brasil chegam a 245.188 toneladas e estão distribuídas em


estados como Bahia, Paraná e Minas Gerais, entre outros. As reservas de urânio
brasileiras podem ser muito maiores do que o que se sabe atualmente, haja visto que se
acredita que apenas 33% do território nacional foi explorado com o objetivo de se obter

esse combustível (SANTOS JÚNIOR et al., 2021).

Atualmente, no Brasil, existe apenas uma jazida de urânio em

operação/exploração. Localizada próximo aos municípios de Caetité e Lagoa Real, no


sudoeste da Bahia, essa jazida é denominada Província Uranífera, devido à grande

concentração desse elemento encontrada no local. Estima-se que suas reservas girem em
torno de 100 mil toneladas de urânio (INB, 2020).

A exploração do urânio no Brasil é realizada pelas Indústrias Nucleares Brasileiras


(INB). Antes de ser utilizado como produção de energia, o urânio necessita ser extraído
como minério e ser convertido em compostos que possam ser utilizados como
combustível nuclear. Para esse fim, há dois principais tratamentos: o processamento de
minério de urânio nas jazidas convencionais como subproduto da extração de cobre e o
processamento de fosfatos de urânio. Neste, esse minério é obtido como um subproduto
da produção de fosfato. O processo de extração do urânio ocorre em várias etapas:

mineração subterrânea; mineração a céu aberto; lixiviação in situ (LIS); e como

subproduto da exploração de cobre e ouro.

99 | P á g i n a
UM PANORAMA DA MATRIZ ENERGÉTICA NUCLEAR BRASILEIRA

No processo de mineração subterrânea, o minério é explorado bem abaixo da


superfície terrestre, com eixos afundados na terra para acessá-lo. Esse é o método
tradicional de extração. Já na mineração a céu aberto, são extraídos minérios localizados

próximos à superfície terrestre. Ambos os processos necessitam de transporte para uma


instalação de processamento, de modo que o urânio seja separado do minério.

O processo de mineração por lixiviação in-situ ocorre por meio do

bombardeamento de uma solução lixiviadora no corpo do minério por meio de um furo.


Essa solução circula pelos poros da rocha e o minério dissolvido é extraído para um poço
subsequente.
Após o processo de mineração, há uma etapa de beneficiamento do urânio

chamada de yellowcake, utilizada para se obter o concentrado de urânio (U3O8). Em

termos gerais, as etapas de extração de urânio são: britagem e moagem, para reduzir o
minério em partículas menores; lixiviação, em que uma solução ácida ou alcalina é
utilizada para dissolver o urânio; separação da solução de urânio por sólidos lixiviados;
extração, em que o urânio dissolvido é separado por métodos de trocas iônicas ou
extração de solventes; precipitação ou secagem, em que o urânio é precipitado com o
uso de vários produtos químicos. Em seguida, são realizadas etapas de desidratação,
filtração e secagem para completar o processo, que gera como produto final um sólido

de coloração amarelada (daí o nome yellowcake) (LIMA; SILVA FILHO, 2021).

De acordo com o INB, o urânio diretamente extraído não pode ser utilizado como

fonte de energia. A principal dificuldade na produção da matéria-prima para se obter a


energia nuclear é a etapa de enriquecimento, que encontra, no Brasil, uma restrição

orçamentária que vem se alastrando a partir do Decreto 9.018, de março de 2017, que
estabeleceu um corte de 44% no limite orçamentário, afetando, assim, o planejamento

estratégico para o período de 2017 a 2026 (SILVA; MIOTTO; CLEMENTE, 2018).


O processo de enriquecimento do urânio é realizado com o propósito de

aumentar a concentração de um dos isótopos do urânio que sofre um processo de fissão


nuclear nos reatores. O enriquecimento visa produzir até 5% em peso do isótopo urânio-

235 para a fabricação dos combustíveis que abastecem Angra 1 e Angra 2 e, futuramente,
100 | P á g i n a
REFLEXÕES SOBRE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

abastecerão Angra 3. No processo de enriquecimento, é utilizada uma ultracentrifugação


e a usina de enriquecimento ainda está em fase implantação no Brasil. Nesse processo,
em 2019, foi inaugurada a cascata 8, pertencente ao módulo 3 da Usina de

Enriquecimento de Urânio, que está sendo implementada por etapas na Fábrica de


Combustível Nuclear (FCN), localizada em Resende, no Rio de Janeiro. Em novembro

desse mesmo ano, com a inauguração da cascata 8, a FCN atingiu a capacidade para
produzir 60% da quantidade média anual de urânio enriquecido necessária para

abastecer a central nuclear de Angra 1 (LIMA; SILVA FILHO, 2021).


O processo de enriquecimento do urânio consiste na difusão gasosa,

ultracentrifugação, jato centrífugo ou laser. Os países que detêm a tecnologia necessária


para o enriquecimento dessa matéria-prima dificultam o acesso à informação, sendo

assim, a descrição concisa das etapas desse processo em trabalhos científicos é escassa.
No Brasil, o processo utilizado para o enriquecimento do urânio é a ultracentrifugação,

porém, grande parte do combustível necessário para o funcionamento das usinas


nucleares brasileiras é enriquecida na Inglaterra e na França. O método brasileiro

(ultracentrifugação) é caracterizado por um fator de enriquecimento baixíssimo. Nesse


processo, há uma etapa denominada cascata, na qual é utilizado um conjunto de

centrífugas. Os danos ambientais provenientes de tal método são considerados


pequenos e o produto final do processo encontra-se na forma gasosa. Para se utilizar o

combustível produzido, é necessário que o urânio se encontre na forma sólida (no


formato de pastilhas, com aproximadamente um centímetro de comprimento). Uma

única pastilha produz energia suficiente para abastecer uma casa de quatro pessoas por
um mês. Sendo assim, uma etapa adicional no processo de enriquecimento do urânio é

denominada reconversão, de modo que o material gasoso produzido no enriquecimento


volta a ser sólido e pronto para ser utilizado como combustível nuclear nas usinas

(SOUZA; MOREIRA; LUCIANO, 2011).

101 | P á g i n a
UM PANORAMA DA MATRIZ ENERGÉTICA NUCLEAR BRASILEIRA

VANTAGENS E DESVANTAGENS NO USO DA ENERGIA NUCLEAR

A sociedade moderna faz uso da energia em todas as suas esferas. Nesse

cenário, principalmente devido ao grande crescimento populacional ocorrido nos


últimos tempos, a demanda por energia elétrica tem aumentado a cada dia, e os

recursos naturais são cada vez mais explorados para garantir uma melhoria na
qualidade de vida e conforto ao ser humano. Com isso, o aumento desenfreado no

uso de energia pelo mundo tem desencadeado crises energéticas e impactos


ambientais, de modo que fica perceptível a necessidade de se repensar os meios

adotados para se gerar energia. Nesse contexto, a energia nuclear se tornou um meio
alternativo, apresentando vantagens e desvantagens, sejam elas sociais ou

econômicas.
Uma das vantagens no uso de energia nuclear é seu alto potencial de geração

de eletricidade, sendo que, por meio de uma administração eficiente, a energia extra
produzida em horários de baixo pico de consumo pode ser armazenada para

posterior utilização em horários de pico. Outra vantagem desse tipo de energia é que
ela libera um nível baixo de CO2 para a atmosfera, sendo inclusive considerada por

alguns estudiosos como uma fonte limpa de geração de energia. Em situações


normais de funcionamento, os níveis de poluentes gerados por uma usina nuclear não

devem gerar danos à saúde ou degradar o meio ambiente, sendo assim, a emissão
desses poluentes deve estar abaixo dos níveis aceitáveis.

A crescente utilização da energia nuclear justifica-se nas abundantes reservas


de urânio encontradas em todo o planeta, assegurando assim matéria-prima por um

longo período de tempo. O mesmo ocorre com as reservas de urânio no Brasil, sendo
que outra vantagem é que, para produzir esse tipo de energia, não é necessária a

desapropriação de grandes áreas, como na instalação de usinas hidrelétricas, contexto


que possibilita a preservação da fauna e da flora, evitando desequilíbrios no

ecossistema. Se refletirmos sobre o custo de produção desse tipo de energia,

102 | P á g i n a
REFLEXÕES SOBRE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

encontramos uma nova vantagem, qual seja a de que o custo da energia proveniente
do urânio é mínimo se comparado com as termoelétricas, que necessitam de
biomassa ou de combustíveis fósseis em seu processo de produção.

Entre as desvantagens desse tipo de geração de energia, estão as situações de


autoestresse. Nesse cenário, a tendência é de que se estabeleça um contexto de

sobrecarga para os funcionários, decorrente de um baixo investimento em


infraestrutura. Isso ocasionaria um aumento da necessidade de esforço humano,

implicando um poder de decisão menos preciso por ocasião de uma eventual


situação anormal.

O maior efeito negativo nesse tipo de produção de energia é a geração de


resíduos radioativos, pois, em um ano, essa geração alcança volumes que se
aproximam de 30 toneladas. Esse fator pode gerar dificuldades futuras inerentes ao
seu descarte, tendo-se em vista que, hoje, aproximadamente 13% da energia global
provêm de fontes nucleares e que os resíduos gerados podem emitir radiação por
pelo menos 100 mil anos, o que acarreta, dentre outros, riscos de vazamento e

exposição (OLIVEIRA et al., 2016).

Deve-se levar em consideração que existem prós e contras para o uso de

qualquer tipo de fonte de energia, seja ela renovável ou não renovável. Isso se
justifica em razão de que nenhuma delas está totalmente isenta de impactos

ambientais negativos, contudo, faz-se necessário apresentar aos estudantes, além das
desvantagens, as vantagens do ponto de vista dos aspectos e impactos ambientais

que a geração de eletricidade por fonte nuclear proporciona para a sociedade. Nesse
sentido, mostra-se relevante que os estudantes aprendam que essa energia e seus

processos são relativamente menos impactantes por produzirem menor volume de


rejeitos por serem caracterizados por um extremo cuidado na manipulação e no

armazenamento desses rejeitos radioativos.


No que tange aos rejeitos nucleares radioativos produzidos e gerados pelas
usinas nucleares de Angra, estes são armazenados em piscinas revestidas e cobertas
por camadas de aço, concreto e chumbo contendo água para resfriamento junto com
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UM PANORAMA DA MATRIZ ENERGÉTICA NUCLEAR BRASILEIRA

os reatores. Porém, o prazo de eficiência desse tipo de armazenamento é curto se


comparado ao tempo de duração dos reatores, que chega a até vinte anos (GOMES,
2017).

Além disso, é importante mencionar que a Eletronuclear, que opera desde 1997
as usinas nucleares no Brasil, destaca que, ainda em 2021, a capacidade das piscinas

de combustível usado em Angra I e em Angra II irá se esgotar. Em razão disso, já se


deu início à construção de uma nova unidade de armazenamento. O processo de

implementação da nova unidade complementar de armazenamento será uma


inovação tecnológica para o Brasil, pois, diferentemente do método de

armazenamento que já existe, a nova tecnologia já é utilizada há mais de 30 anos em


outros países.

A tecnologia escolhida de armazenamento complementar a seco (UAS) de

combustíveis irradiados é segura e de fácil implantação em dispositivos especialmente


projetados, construídos e licenciados para essa medida.

Todo esse contexto evidencia, portanto, que esses resíduos apresentam perigo

para praticamente todos os seres vivos e ao meio ambiente, e, por isso, é preciso
encontrar uma maneira correta de realizar o descarte desses materiais, e se mostra

necessária a realização de estudos e investimentos para que já se saiba o que fazer


depois da desativação dos reatores.

Outro aspecto a ser considerado é o de que os rejeitos são classificados pelo


seu teor de radioatividade. Os rejeitos das usinas nucleares pertencem à classificação

de alta radioatividade, sendo armazenados nas próprias usinas, que possuem um local
adequado para armazenar todo o volume produzido em sua vida útil, até que surja

solução definitiva para o problema. Porém, nas usinas de Angra, além dos rejeitos
classificados como de alta radioatividade, os materiais utilizados na operação das

usinas – como luvas e roupas especiais, dentre outros – são classificados como
rejeitos de baixa radioatividade e passam por um processo de descontaminação para
diminuir seus níveis de radioatividade.

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REFLEXÕES SOBRE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

Do mesmo modo, para que o volume de rejeito gerado seja o menor possível,
alguns dos materiais são triturados e prensados, facilitando, assim, o
acondicionamento em recipientes que bloqueiam a passagem da radiação. Em

relação aos resíduos classificados como de média radioatividade, esses são colocados
em uma matriz de cimento e mantidos dentro de apropriados recipientes de aço

(ELETRONUCLEAR).
As usinas nucleares, assim como os demais tipos de geração de energia,

apresentam as suas vantagens e desvantagens. Todavia, a oferta de energia nuclear


não depende de questões climáticas, como por exemplo luz do sol, para se produzir

energia na capacidade necessária para consumo. Além do mais, os rejeitos


armazenados são diariamente monitorados, a fim de garantir que nenhum acidente

ocorra a nível ambiental e social.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Apresentamos aqui um panorama brasileiro da matriz energética nuclear. Este

texto foi desenvolvido no intuito de auxiliar o professor a despertar a curiosidade


científica dos estudantes, a fim de promover a mobilização dos saberes para as

questões que envolvem a temática da energia nuclear como fonte de energia.


Acreditamos que abranger a temática da energia nuclear, de maneira

contextualizada, poderá proporcionar a desmistificação da temática, bem como pode


levar os estudantes – cidadãos em formação – a um posicionamento mais crítico no

que refere aos cuidados, aos riscos e aos benefícios do uso dessa fonte de energia.
Por fim, registra-se que o tema abordado no presente texto apresenta respaldo

na BNCC, com vistas a significar os conceitos científicos envolvidos nesse contexto, a


fim de formar sujeitos críticos que consigam refletir sobre as questões aqui

apresentadas e sejam protagonistas na construção do seu conhecimento.

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UM PANORAMA DA MATRIZ ENERGÉTICA NUCLEAR BRASILEIRA

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