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Expediente

Universidade do Estado de Minas Gerais


UEMG
José Antônio dos Reis
Reitor

Campus da Fundação Educacional de Divinópolis


FUNEDI
Gilson Soares
Presidente

Centro de Extensão
Lúcia Maria da Silva Arruda
Coordenadora

Coordenação do Núcleo de Meio Ambiente


Francisco de Assis Braga

Coordenação da Educação Ambiental


Maria Antonieta Teixeira

Elaboração
Andreia Maria Pinto
Flávia Lemos Mota Azevedo
Francisco de Assis Braga
Márcia Helena Batista
Maria Antonieta Teixeira
Renata Bernardes Faria Campos

Pesquisa Histórica e Levantamento de Dados


Cristiane Margarete Rios
Elaine Cristina Rodrigues Luiz
Elaine Cristina Pivoto
Hélcia Maria da Silva Veriato Teixeira
Iva Alves Ribeiro Ferreira
Luciana Vieira Lopes
Maria Vicentina Machado de Oliveira
Maria Aparecida Silva
Renata Bernardes Faria Campos

Coordenação de Comunicação
Gilson Soares Raslan Filho
Janaína Visibeli Barros

Diagramação e Projeto Gráfico


Insira Jr. Comunicação Abrangente
Alisson Fernando Rocha Amaral

Ilustração
Vinicius de Moura

Revisão
Miriam Diniz Sousa Fonseca
Apresentação
Observado o cenário nacional, e mesmo os acontecimentos que se que demanda ações educacionais e técnicas, a se desenvolverem em curto, médio
desenrolam no nível municipal, no tocante a ações e reflexões sobre o assunto e longo prazo, e apresenta subsídios relevantes para o entendimento dessas ações
MEIO AMBIENTE, podemos dizer que o presente documento foi produzido em que se desenvolverão em curto, médio e longo prazo. A recuperação gradativa do
momento de efervescência. Itapecerica é tratada à luz da legislação pertinente às questões ambientais, e fica
Em Divinópolis essa efervescência se revela mais concreta pela recente explícita a convicção de que somente com mudanças de ordem cultural pode-se
instalação, em nossa cidade, da sede da Unidade Regional Colegiada do COPAM atingir o objetivo de “salvar” este rio.
– Alto São Francisco, ocorrida no último mês, o que certamente será valioso tanto Aproveitamos a oportunidade do lançamento de trabalho de tal relevância,
no avanço da discussão de políticas ambientais na região Centro Oeste, quanto para apresentar nossos cumprimentos à comunidade acadêmica envolvida com as
pela criação de condições favoráveis para a população no que diz respeito à questões ambientais e, de modo muito particular, parabenizamos a equipe que
agilização nos processos de licenciamentos ambientais de natureza diversa. Outro coordenou a elaboração deste documento educativo.
acontecimento recente e significativo em Divinópolis é a parceria entre a FUNEDI/ Gilson Soares
UEMG e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, firmada por Presidente da FUNEDI/UEMG
meio de Termo de Cooperação Técnica assinado no dia 22 de março, e que visa à
criação de Centro de Estudos Ambientais para pesquisa, ensino e educação
ambiental nas áreas da agricultura e meio ambiente, a instalar-se ainda neste ano
no Parque do Gafanhoto.
O presente documento integra um projeto que se desenvolve há seis meses:
o Projeto Nova Margem – Vida Nova ao Rio Itapecerica. Trata-se de conteúdo
organizado didaticamente e destinado em primeira instância aos professores que
atuam na Educação Básica. Todavia o trabalho, além de atingir este que é seu
alvo específico, pode ser endereçado à comunidade em geral, uma vez que, do
ponto de vista conceitual, faz uma abordagem em que se espera superar, pela
reflexão, a dicotomia NATUREZA x DESENVOLVIMENTO. Com efeito,
espera-se conduzir o leitor a um novo olhar sobre a questão do meio ambiente,
estabelecendo as bases que lhe permitam o entendimento do que chamamos
DESENVOLVIMENTO SUSTENTADO. Nessa perspectiva o trabalho revela
sua riqueza quando aborda a recuperação do rio Itapecerica como um problema
Indice

NOVA MARGEM – VIDA NOVA AO RIO ITAPECERICA


I - INTRODUÇÃO
Professores e Professoras 06
Prefácio 07

?
II - O SIGNIFICADO DE UMA NOVA MARGEM
O projeto Nova Margem – Vida Nova ao Itapecerica 09

?
III - TRABALHANDO A NOVA MARGEM NA ESCOLA
Educação Ambiental - Considerações Gerais 12
Fazendo Educação Ambiental 15
Conceitos em Educação Ambiental 16
O processo de Ocupação Urbana de Divinópolis 28
O Vale do Itapecerica, Área de Preservação Permanente 32
Florestas Urbanas 44

IV – A ESCOLA DÁ VIDA NOVA AO RIO


Gestão Ambiental 48
Outras Iniciativas 54
NOVA MA RG EM –
VIDA NOVA AO ITA
TAPECERICA
INTRODUÇÃO - Nova Margem - Vida Nova ao Itapecerica

Professores e Professoras
É com imensa alegria que entregamos o material de apoio conceitual e de gestão ambiental, enfatizando-se a importância da mobilização e participação de
metodológico do Projeto de Educação Ambiental aplicada à Recuperação da Mata cidadãos, ONGs, empresas, voluntários e instituições. Assim, espera-se contar com
Ciliar do Rio Itapecerica, que tem como objetivo subsidiar as ações a serem o comprometimento da Escola no desenvolvimento das ações previstas e,
implementadas nas escolas do ensino fundamental de Divinópolis. principalmente, com a indicação de uma “ação concreta” que contribua com a
O curso de Capacitação de Agentes Ambientais propõe a aprendizagem construção de um projeto político-pedagógico de educação ambiental.
compartilhada e a reflexão de atitudes e procedimentos, oferecendo suporte para a A FUNEDI/UEMG, instituição técnico-científica de vanguarda regional, no
compreensão de conteúdos sobre a temática ambiental e a participação de professores âmbito das ciências ambientais, espera, com o projeto de educação ambiental Nova
e professoras na construção de uma cidade socialmente melhor. Para tanto, três Margem – Vida Nova ao Itapecerica, contribuir com o desenvolvimento pessoal e
momentos guiarão nosso encontro: I - O Significado de uma Nova Margem; II – profissional dos participantes.
Trabalhando a Nova Margem na Escola e III – A Escola dá Vida Nova ao Itapecerica Bom trabalho!
O Significado de uma Nova Margem indica a recuperação da mata ciliar do Rio Maria Antonieta Teixeira
Itapecerica como a alternativa factível de intervenção para a revitalização do rio, Coordendora da Educação Ambiental
dentre os diversos problemas presentes atualmente no cenário ambiental do município.
Além disso, espera, sobretudo, disseminar uma mudança de atitudes e de postura,
pessoais e institucionais, necessárias ao enfrentamento das questões ambientais.
Trabalhando a Nova Margem na Escola compreende vários estudos temáticos, de
caráter interdisciplinar, relevantes ao entendimento do projeto. Esses estudos se
inserem numa discussão mais ampla sobre a produção da ciência moderna, que
culminou na especialização e na fragmentação do conhecimento e que, em nome de
uma racionalidade, provocou o dualismo sociedade x natureza, causando uma
verdadeira mutilação do ser humano, que vem, a todo custo, tentando costurar os
retalhos recortados (Laplantine,1998). O projeto busca promover um entendimento
da questão ambiental de forma holística e sistêmica, sem reduzi-la ao domínio de
algumas disciplinas, favorecendo a compreensão de que a recuperação da mata ciliar
do rio local estará necessariamente recuperando nosso planeta Terra. Espera-se
ainda orientar sobre a importância de se trabalhar com projetos, buscando relacionar
o conhecimento prévio com a problematização da realidade.
Finalmente, em A Escola dá Vida Nova ao Itapecerica pretende-se vivenciar o processo
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INTRODUÇÃO - Nova Margem - Vida Nova ao Itapecerica

Prefácio
A Fundação Educacional de Divinópolis – FUNEDI, Campus da UEMG, BRANDÃO (1999), a cidadania social depende, em certa medida, de um sentimento
entendendo que a função da Universidade é a de gerar conhecimento e, como resultado de identidade e obrigações comuns entre os
desse processo, promover a melhoria das condições de vida da população, vem indivíduos.
desenvolvendo projetos de intervenção e instrumentalizando as políticas públicas A intervenção não desconsidera o conjunto
sociais de educação, do meio ambiente, do planejamento urbano, de saúde, do de fatores que contribuem para a
trabalho, dentre outras. degradação do Rio Itapecerica, mas
Em atendimento a solicitação do Ministério Público do Estado de Minas opta pela recuperação da mata
Gerais, especificamente por meio da Coordenadoria das Promotorias de Justiça de ciliar em função da
Defesa do Meio Ambiente das Comarcas Integrantes da Bacia do Alto São Francisco, factibilidade da
foi elaborado o Projeto de Recuperação da Mata Ciliar do Rio Itapecerica no Perímetro alternativa,
Urbano de Divinópolis, que constitui uma Área de Preservação Permanente – APP, estabelecendo como
A implementação do projeto
importante para preservar os recursos hídricos, a paisagem, a biodiversidade, a flora meta futura sua
contempla três etapas simultâneas:
e a fauna, o solo e o bem-estar das populações humanas. c o m p l e t a
O Nova Margem - Vida Nova ao Rio Itapecerica é um projeto de educação revitalização.
1) plantio de mudas às margens do rio,
ambiental que busca promover ações no âmbito escolar formal - junto às escolas Assim, ciente do
2) educação ambiental e
municipais e estaduais de ensino fundamental - e não-formal – junto à população caráter holístico e
transversal da 3) divulgação e mobilização social.
que vive às margens do Rio, representando um dos três pilares de implementação
do Projeto de Recuperação da Mata Ciliar do Rio Itapecerica no Perímetro Urbano E d u c a ç ã o
de Divinópolis. Ambiental, acredita
Esse projeto propõe a capacitação de agentes que o trabalho está apenas começando, que novas demandas surgirão, que novos
ambientais que possam intervir em seu contexto, apoios serão necessários, que outros saberes e práticas serão indispensáveis. É um
resgatando seus referenciais sócio-culturais, processo de construção coletiva, de embates e de ajustes.
possibilitando-lhes o acesso à informação
e aos fatos que subsidiem a Se a educação sozinha
não transforma a sociedade,sem
compreensão da realidade atual, ela tampouco
oferecendo suporte para uma a sociedade muda ...
postura mais crítica, que conduza à mudança de Paulo Freire

mentalidade e de comportamento. Segundo


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O SIGNIFICADO DE UMA
NOVA MARGEM
O SIGNIFICADO DE UMA NOVA MARGEM - Nova Margem - Vida Nova ao Itapecerica

O Projeto Nova Margem – Vida Nova ao Itapecerica


Divinópolis iniciou seu processo de crescimento a partir da instalação de indicada para implantação de extensa “floresta urbana”, a partir da demarcação e
ramal da Rede Mineira de Viação e posteriormente de suas oficinas. Em seguida, recuperação de sua mata ciliar, que consiste na vegetação às margens dos cursos
surgiram as atividades de metalurgia, do setor têxtil e outras indústrias. Atualmente, d’água, possuindo tal nome, por conferir proteção às águas tal como os cílios
representa o principal pólo urbano da região centro-oeste de Minas Gerais, com protegem os olhos. A “floresta urbana”, massa contínua de árvores, contribui
atividades comerciais e de prestação de serviços, além de expressivo parque efetivamente para o meio ambiente urbano, na amenização climática, no controle
industrial. Entretanto, o crescimento da cidade trouxe também impactos ambientais de poluição, na regularização de cheias, na proteção de solos, no abrigo e alimento
negativos, a saber: contaminação de mananciais hídricos; inundações urbanas, para fauna, dentre outros.
devido à ocupação de áreas de risco; impermeabilização do solo e sistema de Atualmente, a questão ambiental tem contado mais ativamente com
drenagem ineficaz; disposição final incorreta de resíduos sólidos; falta de espaços ordenamentos e instrumentos legais, possibilitando uma orientação e uma adequação
verdes para lazer e recreação; temperaturas elevadas e poluição atmosférica. de condutas para a melhoria do meio ambiente.
Historicamente, o Rio Itapecerica tem sido objeto de preocupação da O Artigo 225 da Constituição Federal reiterou a Declaração sobre o Ambiente
comunidade divinopolitana. Em 1982, com o Pró-cultura, foi realizado um concurso Humano, instituida em Estocolmo, na Suécia, durante a Conferência da ONU, em
de fotografia para denunciar o seu estado de degradação. Na década de 1990, por junho de 1972, segundo a qual todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente
iniciativa do poder público municipal, uma expressiva campanha – “Pela qualidade equilibrado, bem do uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida,
do ar e da água” - em comemoração à Semana do Meio Ambiente, evidenciou os impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo,
problemas ambientais que a cidade já vivia, especialmente os que afetavam o Rio para as presentes e futuras gerações.
Itapecerica. E em 1999, o ambientalista Jairo Vilela fundou a ONG “SOS Rio Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público, dentre
Itapecerica” com o objetivo de preservar as águas e animais silvestres do Rio. outras atividades, definir espaços territoriais e seus componentes a serem
O Vale do Rio Itapecerica, por sua importância geográfica e ambiental para especialmente protegidos, bem como proteger a fauna e a flora, conforme § 1º,
Divinópolis, constitui-se incisos III e VII do dispositivo constitucional mencionado.
numa área potencialmente Não polua o Rio Itapecerica.
O Código Florestal, Lei 4771/65, em seu Artigo 1º, define que as florestas
Não jogue entulho, lixo ou animais e demais formas de vegetação, reconhecidas de utilidade pública às terras que
Pró-cultura foi um projeto de mortos em suas águas.
pesquisa, financiado pelo Não desmate sua vegetação revestem, são de interesse comum a todos os habitantes do País, exercendo-se o
ribeirinha. A vida do Itapecerica
Ministério da Cultura, no direito de propriedade com as limitações impostas pela Lei, ressaltando a sua função
não pode ser jogada
período de 1982 a 1985, que
identificou e estimulou as
por água abaixo. social. A Área de Preservação Permanente, artigo 1º, § 2º, inciso II, é definida
diversas formas de “O Rio Itapecerica não nasce em Divinópolis. como sendo a área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função
manifestação artística de É nossa responsabilidade que ele não morra aqui.”
Divinópolis.
ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a
Inspirado no Cartaz da Semana do Meio Ambiente – Junho/1995

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O SIGNIFICADO DE UMA NOVA MARGEM - Nova Margem - Vida Nova ao Itapecerica

biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem Projeto de Recuperação da Mata Ciliar do Rio Itapecerica
estar das populações humanas. no Perímetro Urbano de Divinópolis
As formas de vegetação natural situadas ao longo dos rios ou de qualquer Etapas Local Período
curso d’água definidas pelo Artigo 2º, inciso a do Código Florestal são consideradas
1ª Ponte da Rua Goiás no Porto Velho à Ponte do Danilo Passos 2003 – 2004
áreas de preservação permanente, o que é reiterado pela Lei Estadual 14.309/02 e
2ª Danilo Passos, Anel Rodoviário, Eldorado 2004 – 2005
pela legislação municipal. Especificamente quanto ao Rio Itapecerica, a faixa
marginal de preservação permanente possui largura mínima de 50 metros, podendo 3ª Região Km 48 à Ponte da Rua Goiás 2005 – 2006

estender-se a até 100 metros, dependendo da largura do leito do rio. Denominado Nova Margem – Vida Nova ao Itapecerica, o projeto teve sua
Por determinação do Ministério Público, a GERDAU S/A, em compromisso logomarca criada pela INSIRA, Empresa Júnior do Curso de Comunicação Social da
de ajustamento de conduta, além de recuperar dano ambiental, custeou estudo FUNEDI, cuja expressão e imagem reforçam a interdependência entre a vegetação
para a recuperação da mata ciliar do rio Itapecerica, realizado no 2º semestre de ciliar e o Rio.
2002, por uma equipe técnica da FUNEDI/UEMG e com o apoio logístico da
Polícia Militar do Meio Ambiente. Segundo o volume 9 dos Parâmetros Curriculares Nacionais - Meio Ambiente e Saúde, “(...)
empregam-se termos que indicam formas cuidadosas de se lidar com o meio ambiente
Em outubro de 2002, todos aqueles que trabalham, direta ou indiretamente como proteção, preservação, conservação, recuperação e reabilitação. Em oposição a es-
com a questão ambiental no município foram convocados pelo Ministério Público tes, emprega-se especialmente o termo degradação ambiental que engloba uma ou várias
formas de destruição, poluição ou contaminação do meio ambiente. O que querem dizer?
para debater o projeto: Município de Divinópolis (Prefeito, Procurador Municipal, Qual a diferença entre eles?”
Fundação Municipal do Meio Ambiente, Secretário de Planejamento, Secretário de Proteção – significa o ato de proteger. É a dedicação pessoal àquele ou àquilo que
dela precisa; é a defesa daquele ou daquilo que é ameaçado. O termo “proteção” tem sido
Obras, Diretor de Cadastro Municipal), Associação Regional de Proteção Ambiental utilizado por vários especialistas para englobar os demais: conservação, recuperação etc.
– ARPA, Agenda 21, FUNEDI, Câmara Municipal, Instituto Estadual de Florestas, Para eles, essas são formas de proteção.
Preservação – é a ação de proteger contra a destruição e qualquer forma de dano ou
SOS Itapecerica e Grupo AR. degradação um ecossistema, uma área geográfica ou espécies animais e vegetais
Em fevereiro de 2003, a equipe da FUNEDI apresentou proposta de ameaçadas de extinção, adotando-se as medidas preventivas legalmente necessárias e as
medidas de vigilância adequadas.
intervenção que contempla a demarcação e recuperação da mata ciliar em trecho Conservação – é a utilização racional de um recurso qualquer, de modo a se obter um
de aproximadamente 20Km com plantio e manutenção de 84 mil mudas, abrangendo rendimento considerado bom, garantindo-se entretanto sua renovação ou sua auto-susten-
tação. Analogamente, conservação ambiental refere-se ao uso apropriado do meio ambien-
todo o perímetro urbano de Divinópolis, bem como ações de educação ambiental te dentro dos limites capazes de manter sua qualidade e seu equilíbrio em níveis aceitáveis.
junto às escolas e comunidade ribeirinha. Recuperação – comumente, significa o ato de recobrar o perdido, de adquiri-lo nova-
mente. O termo “recuperação ambiental” aplicado a uma área degradada pressupõe que
O projeto contempla, no período de 2003 a 2006, três etapas territoriais, nela se restabeleçam as características do ambiente original, o que nem sempre é viável,
definidas pelo plantio de mudas, conforme demonstra o quadro: podendo ser, então, reabilitada.

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TRABALHAN DO A
NOVA MARGEM N A ESCOLA
LA
TRABALHANDO A NOVA MARGEM NA ESCOLA - Nova Margem - Vida Nova ao Itapecerica

Educação Ambiental – Considerações Gerais


A questão ambiental começou a se apresentar, a partir do final de 1960, com com a preocupação de definir sua inserção no contexto internacional.
a crise do modelo de desenvolvimento econômico capitalista, baseado na A década de 1980 caracteriza-se por uma profunda crise econômica, seguida
industrialização acelerada, que explorava violentamente recursos naturais e humanos por um processo de reestruturação produtiva e políticas de ajuste macroeconômico,
e cujo ideário neoliberal pregava a melhoria das condições de vida da população bem como o agravamento dos problemas ambientais.
como conseqüência direta e inevitável do crescimento econômico. No Brasil, a Lei 6.983/81, da Política Nacional do Meio Ambiente, situa a
O paradigma instrumental da ciência já não conseguia responder os problemas Educação Ambiental como um dos princípios para garantir a “a preservação, melhoria e
complexos decorrentes desse modelo. A educação e as teorias tecnicistas formadoras recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar no país condições ao
de trabalhadores eficientes e eficazes sofriam críticas. A irracionalidade do modelo desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da
econômico, em nome do desenvolvimento, deflagra a questão ambiental. vida humana.” Define ainda que a Educação Ambiental deve ser oferecida em todos
Nesse período, o avanço científico, notadamente da ecologia, também os níveis de ensino e para a comunidade, preparando o cidadão para a participação
demonstrou a globalidade da questão ambiental – e de seus problemas – e da nas questões ambientais.
necessidade de uma nova relação entre o homem e o ambiente em que ele vive. A Na década de 1990, culmina o processo de exploração capitalista e de exclusão
relação devastadora com os recursos naturais, denunciada pelos movimentos social que se instala em nível mundial. Fatores globais adquirem cada vez mais
ambientalistas, ameaçava a própria humanidade. importância na definição de políticas nacionais. É nesse contexto que acontece a
Em 1972, na Conferência de Estocolmo e, em 1974, com a conferência Conferência Rio-92, quando a preocupação centra-se nos problemas ambientais globais
promovida pela UNESCO, em Tammi, na Finlândia, a educação ambiental surge e nas questões do desenvolvimento sustentável.
como estratégia para alcançar os objetivos de proteção reivindicados pelos movimentos Na Conferência define-se um plano de ação para os próximos anos, a Agenda
ambientalistas, não se constituindo uma ciência separada, mas como uma 21, que estabelece, dentre várias recomendações, promover todo tipo de educação de
forma de educação integral. adultos para incentivar a educação per manente sobre meio ambiente e
Em 1975, é instituído o Programa Internacional de Educação desenvolvimento.
Ambiental, pelas Nações Unidas, em resposta à recomendação 96 Em relação à Educação Ambiental, dois outros
da Conferência de Estocolmo, quando foram definidos princípios documentos foram elaborados:
norteadores para elaboração de um programa internacional e para Tratado de Educação Ambiental para sociedades sustentáveis, do
realização de uma conferência, dois anos mais tarde, em Tbilisi, na fórum das ONG´s, que define o compromisso da sociedade civil
URSS. A educação ambiental é considerada um elemento essencial para a construção de um modelo mais justo de desenvolvimento,
para a formação dos educandos, orientada para a participação e para a em que se reconhecem os direitos humanos da terceira idade, a
resolução de problemas, tanto no âmbito formal quanto não-formal. perspectiva de gênero, o direito à vida e à diferença;
O Brasil cria, em 1973, a Secretaria Especial do Meio Ambiente, Carta Brasileira de Educação Ambiental, da Coordenação de
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TRABALHANDO A NOVA MARGEM NA ESCOLA - Nova Margem - Vida Nova ao Itapecerica

Educação Ambiental no Brasil, quando se estabelecem recomendações para devem ser considerados e respeitados na formulação, execução e avaliação da prática
a capacitação de recursos humanos. da EA.
Em cumprimento às recomendações da Agenda 21 e à Constituição Federal, é Continuidade do processo educativo e sua permanente avaliação.
aprovado o Programa Nacional de Educação Ambiental, que prevê ações nos âmbitos Multi, inter e transdisciplinaridade.
de Educação formal e não-formal e que reconhece a educação ambiental como * Multidisciplinaridade. A educação ambiental é, por trabalhar com
instrumento indispensável para compatibilizar desenvolvimento com proteção o meio ambiente, um direito e um dever de todas as ciências e de todos. Portanto,
ambiental, justiça social e melhoria da qualidade de vida. um processo de educação ambiental só se constrói quando se obtém o engajamento
das várias disciplinas presentes no currículo.
Os princípios norteadores do Programa Nacional de Educação * Interdisciplinaridade. A compreensão da complexidade ambiental
Ambiental são: exige, sem dispensar o conhecimento técnico especializado, uma abordagem
metodológica que supere a fragmentação das diversas áreas do conhecimento.
Enfoque humanista, holístico, democrático e participativo. Implica superar a compartimentação do ato de conhecer, provocada pela
A gestão ambiental é um processo de mediação de interesses e especialização do trabalho científico.
conflitos entre atores sociais que atuam sobre o meio ambiente e a * Transdisciplinaridade. É necessário se apropriar da contribuição
educação ambiental vai propiciar e orientar a participação dos diversos das várias disciplinas e das várias representações sociais envolvidas e agregar os
segmentos sociais interessados na formulação, execução e avaliação conhecimentos das populações envolvidas, para se construir uma base comum de
das políticas públicas. compreensão e atuação sobre o problema identificado.
Descentralização. As ações da educação ambiental devem ser concebidas Enfoque sistêmico. A visão sistêmica permite a compreensão do conjunto
e executadas de forma descentralizada pela União, Estados e Municípios, sob o das inter-relações entre os aspectos naturais, culturais, históricos, sociais, econômicos
controle e participação da sociedade. e políticos. A educação ambiental deve favorecer a compreensão da múltipla e
Integração e estabelecimento de parcerias local, nacional e internacional. dinâmica complexidade ambiental contemporânea.
O estabelecimento de parcerias deve ser entendido como prática interinstitucional, Construção social de novos valores éticos. O desafio que se coloca para
voltada para o trabalho conjunto, com definição de responsabilidades, permitindo a educação ambiental é o de criar condições para a participação dos diferentes
uma melhor utilização dos recursos financeiros e humanos existentes. segmentos sociais nas decisões do meio ambiente, estimulando princípios
Respeito à pluralidade e diversidade cultural do país. A prática de EA tem fundamentais que são: dignidade, cidadania, democracia, justiça, igualdade, auto-
como pressuposto o respeito aos processos sociais, culturais, étnicos característicos estima, diálogo e solidariedade.
de cada região ou comunidade. Isto significa reconhecer que há diferentes formas A Política Nacional de Educação Ambiental, Lei nº 9.795, de 27 de abril de
de relacionamento entre as sociedades locais e sua base de recursos naturais, que 1999, dispôs sobre a Educação Ambiental tanto no espaço de atuação da escola
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TRABALHANDO A NOVA MARGEM NA ESCOLA - Nova Margem - Vida Nova ao Itapecerica

quanto na comunidade. Parâmetros Curriculares Nacionais, que introduziram o Meio Ambiente como
Em seu Artigo 1º define Educação Ambiental como “os processos por meio dos tema transversal nos currículos do ensino fundamental e médio. Os temas
quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes transversais buscam trazer, para a discussão das diversas áreas do conhecimento, as
e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem do uso comum do povo, questões sociais contemporâneas como questões sociais e não como novos conteúdos
essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade.” e buscam propiciar o posicionamento frente a essas questões divergentes. Foram
No Artigo 2º: “A Educação Ambiental é um componente essencial e permanente da adotados pela urgência social, abrangência nacional, possibilidade de ensino e
educação nacional, devendo estar presente de forma articulada, em todos os níveis e modalidades aprendizagem no ensino fundamental e favorecimento da compreensão da realidade
do processo educativo em caráter formal e não formal.” e a participação social. Tratam de processos que estão sendo vividos pelas pessoas
Finalmente, é importante pontuar a reorientação apresentada pelo MEC, os em seu cotidiano.

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TRABALHANDO A NOVA MARGEM NA ESCOLA - Nova Margem - Vida Nova ao Itapecerica

Fazendo Educação Ambiental


Acordos internacionais vêm, desde o início dos anos 1960, quando se capitalista vem visando o conhecimento para a competição, para a exclusão social.
apresentou a questão ambiental, avaliando o modelo econômico vigente e O que queremos é a sustentabilidade, categoria que vem da Biologia, da Ecologia e
recomendando outras posturas, novos valores, novas escolhas. Para isso, a educação das Ciências da Terra. Todos os seres são interdependentes, cooperativos e co-
surge como estratégia para alcançar tais objetivos, pois está diretamente envolvida evoluem de forma a criar um equilíbrio dinâmico na realidade (Boff, 1999).
com a socialização dos indivíduos. A educação ambiental passa a ser considerada A educação ambiental emancipatória propõe uma leitura política dos
um elemento essencial para a formação de uma nova consciência, tanto no âmbito problemas ambientais (Lima, 2001). Politizar significa entender que os recursos
formal – nas escolas, quanto não-formal. naturais não são simplesmente naturais, mas bens coletivos e o acesso a esses recursos
Contudo, a educação é uma construção social, permeada por valores, constituem um direito público. Os problemas ambientais têm sua origem no conflito
interesses, escolhas e vontades políticas. O processo educativo não é neutro, entre interesses privados e públicos. “Quem se apropria?” “Quem tem acesso?”
especialmente o formal. Nesse sentido, a educação pode assumir um papel tanto Politizar significa ainda relacionar na origem desses conflitos os principais agentes
conservador, quanto emancipador. degradadores ambientais.
Por um lado, a educação transmite valores e interesses socialmente Geralmente, a educação e os meios de comunicação apresentam os recursos
dominantes, reproduzindo e fortalecendo desigualdades. Mas, por outro lado, esse naturais apenas como geradores de deveres, dando ênfase ao cuidado e à conservação
processo não é homogêneo e linear, sem conflitos e contradições. Ele é extremamente da natureza.
dinâmico e possuidor de brechas, onde, se não o ideal, o possível pode ser feito. Finalmente, a educação ambiental emancipatória estimula e qualifica a
Neste contexto, a educação ambiental também é um processo valorativo e conflitivo. participação para a resolução dos problemas. Conhecer para participar. Pertencer
Suas práticas refletem posturas tanto conservadoras quanto emancipatórias. para participar. Estar consciente e influir nas escolhas e nas decisões de sua
A educação ambiental conservadora faz uma leitura individualista e comunidade. Vivenciar o processo de gestão ambiental local.
comportamentalista da educação e dos problemas ambientais. Parte de uma O projeto NOVA MARGEM – VIDA NOVA AO ITAPECERICA nasce
concepção ambiental fragmentada, onde homem e natureza são elementos estranhos, exatamente nesse processo de gestão local, na busca de soluções para o (nosso) Rio
sem uma relação de pertencimento. Assim, a postura crítica é limitada. Itapecerica. Seus (ou nossos!) problemas são muitos: o uso e a ocupação irregular
A busca de entendimento da questão ambiental não pode ser reduzida ao das margens, o esgoto, a extração de areia, o desmatamento, o assoreamento, o
domínio de determinadas disciplinas e muito menos ser concebida em meio a lançamento de lixo pela população e o lançamento de produtos químicos por empresas
dualismos (Corgosinho, 2003). A educação ambiental emancipatória fundamenta- da cidade.
se no enfoque holístico, interdisciplinar e sistêmico, favorecendo a compreensão da A partir da recuperação da mata ciliar, a intervenção no rio pretende ser um
crise ambiental como uma crise civilizatória. O homem, no uso de uma razão espaço de construção de uma proposta político-pedagógica de educação ambiental.
instrumental, tem-se esquecido de que, no processo de acumulação de riquezas, Conteúdos sobre meio ambiente, florestas urbanas, história ambiental de Divinópolis,
vem comprometendo seu ambiente e a si mesmo. dentre outros, serão apropriados, gerando conceitos como qualidade de vida, justiça
A busca por uma nova ética urge. A ética da sociedade hoje é utilitarista e social e democracia. As brechas estão aí. Cabe a nós, educadores e educadoras,
antropocêntrica. A nova ética deve encontrar outra centralidade. A sociedade ocupá-las!
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TRABALHANDO A NOVA MARGEM NA ESCOLA - Nova Margem - Vida Nova ao Itapecerica

Conceitos em Educação Ambiental


O volume “Meio Ambiente e Saúde” dos Parâmetros Curriculares Nacionais, consciência é um conhecimento (das coisas e de si) e um conhecimento desse
instrumento de referência curricular para a educação em nosso país desde 1997, conhecimento (reflexão). Portanto, a consciência ambiental é a capacidade humana
afirma que para conhecer, para saber que conhece e para saber o que sabe que conhece sobre
“a principal função do trabalho com o tema Meio Ambiente é contribuir
a relação do homem e o ambiente em que ele vive. É uma postura baseada na
para a formação de cidadãos conscientes, aptos para decidirem e atuarem razão, em que o pensamento passa a ser objeto do pensamento.
na realidade socioambiental de um modo comprometido com a vida, com
Contudo, não é sempre que estamos refletindo sobre as implicações advindas
o bem-estar de cada um e da sociedade local e global...
Para isso é importante o professor conhecer o assunto e, em geral, buscar desta relação. Aliás, é bastante recente essa postura. A leitura que comumente
junto com seus alunos mais informações em publicações ou com fazemos encontra-se ao nível do vivido, dos fatos e das idéias da experiência
especialistas.”
cotidiana. É uma atitude pré-reflexiva. É o senso comum, que frente à necessidade
Entendemos, portanto, que a discussão de conceitos, ainda que em elaboração, de viver melhor, busca uma compreensão do mundo. E que, na maior parte da
é importante para aqueles que pretendam lidar com questões ambientais. existência humana, tem conseguido responder satisfatoriamente os problemas
Reafirmamos que a base conceitual referente às questões ambientais está em surgidos.
elaboração, uma vez que esta é uma área cuja discussão é relativamente recente. E quando os problemas não são resolvidos? Algumas situações o senso
Possivelmente não é importante ou adequado que existam conceitos acabados, que comum não tem conseguido entender para resolvê-las. Os problemas ambientais
sejam adotados por todos, sendo mais produtiva a sua discussão e constante representam um desses problemas. E, ironicamente, são provocados pela pretensa
construção. Embora não existam conceitos já definidos, os PCN’s propõem pelo racionalidade humana, que acreditou em sua capacidade de controle e dominação
menos três noções básicas para o entendimento da questão ambiental: Meio suprema da natureza. Ora, “o que não é problemático, não é pensado”. A gente pensa
Ambiente, Sustentabilidade e Diversidade. quando as coisas não vão bem. O pensamento é uma tomada de consciência de
Este texto tem o objetivo de tratar, em linhas gerais, de alguns conceitos que a ação foi interrompida: este é o problema. (ALVES, 1985) Assim, a própria
que podem nos aproximar das noções centrais propostas pelos PCN’s, bem como razão pode representar a saída.
daqueles relacionados a questões ambientais, que acreditamos serem importantes Foi dito que nós pensamos quando as coisas não vão bem e que o ato de
para sua compreensão, por permitirem tomadas de decisões mais acertadas, pensar é uma tomada de consciência frente a um problema. A partir daí, inicia-se
especialmente no que se refere ao entendimento da crise ambiental. um processo de investigação, quando se impõe a atitude de questionamento e de
Como já mencionado, todas as recomendações e tratados internacionais sobre pesquisa; pergunta-se o que são os fatos, as idéias e por que são assim e não de
as questões relacionadas ao meio ambiente evidenciam a importância, atribuída por outra maneira. Essa necessidade de explicar e resolver problemas é que provocou
lideranças de todo o mundo, da Educação, como meio indispensável para a o aperfeiçoamento do conhecimento – e da ciência.
transformação da consciência ambiental. (PCN Meio Ambiente, 1997)
“A aprendizagem da ciência é um processo de desenvolvimento
Mas o que se entende por consciência ambiental? Segundo CHAUÍ (2000), progressivo do senso comum”. (ALVES, 1985)
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Na busca de tornar a realidade compreensível, o referem ao conjunto de práticas sociais pelas quais os homens garantem sua
homem ocidental utiliza sua capacidade intelectual para sobrevivência por meio do trabalho e da troca de produtos do trabalho. A alienação
pensar e dizer as coisas de forma organizada, ou seja, utiliza é o desconhecimento das condições históricas concretas em que vivemos e se expressa
sua razão. pela noção da ideologia, que, por sua vez, se expressa no senso comum, ou seja, nas
O conhecimento racional obedece a regras ou A ciência está tão presente
explicações da realidade como ela é percebida. (MARX apud CHAUÍ, 2000)
leis fundamentais, que respeitamos até mesmo quando em nossa vida que não nos Então, por que ainda falamos em razão?
imaginamos sem ela.
não conhecemos diretamente quais são e o que são. Nós A razão representa o ideal do conhecimento. Por mais que esse conhecimento
Entretanto, a ciência surgiu
as respeitamos porque somos seres racionais e porque há cerca de quatro séculos. seja aproximado, é essa a condição que dá sentido à realidade em que vivemos e que
são princípios que garantem que a realidade é racional. Você já pensou podemos conhecer; ele é objetivo. Além disso, a razão constitui uma referência para
Essa é a idéia de racionalidade criada pela sociedade nisto? avaliarmos a coerência ou incoerência (baseada em princípios) de determinada teoria.
européia ocidental. (CHAUÍ, 2000) Finalmente, a razão constitui um instrumento crítico para compreendermos
Contudo, esse ideal racional sofreu abalos desde o início do século XX. O as circunstâncias em que vivemos e se determinado conhecimento vem para alterar
aperfeiçoamento do conhecimento apontou problemas nunca imaginados. Na Física, situações que os homens e mulheres julguem necessário mudar. Assim, a razão
a teoria da relatividade mostrou que as leis da natureza dependem da posição ocupada representa o potencial crítico e transformador da capacidade humana, não se
pelo observador; que o que é o tempo e o espaço para nós poderá não ser para resignando diante do mito do conhecimento científico, que é perigoso, porque induz
outros seres da galáxia, se estes existirem. E a Antropologia mostrou que outras o comportamento e inibe o próprio pensamento.
culturas oferecem uma concepção diferente daquela em que acreditamos e que Historicamente, o que podemos constatar é a apropriação e
vivemos, não sendo nem inferior, nem irracional. Apenas “outra” razão. utilização da razão – e do conhecimento – pelo capital, que manipula
Além disso, outros dois abalos atingiram a razão ocidental. O primeiro, os recursos científicos com suas verbas. Como lidar com isso? Outra
provocado por Marx, com a noção de ideologia, que revelou que a ciência, razão é possível? Como modificar esse quadro mundialmente
aparentemente verdadeira, escondia a realidade social, econômica e política, e que a contrastante de crescente pobreza e crescimento econômico?
razão pode ser o instrumento de dissimulação da realidade, a serviço da exploração Que outros valores precisamos encontrar para conseguirmos
de homens sobre seus semelhantes. O segundo, com o conceito de inconsciente, um mundo diferente deste?
introduzido por Freud, que mostrou que nossa consciência é, em grande parte, dirigida Nas controversas discussões sobre a questão ambiental
e controlada por forças profundas e desconhecidas que permanecem inconscientes e sua condução, está o conceito de sustentabilidade, que, nas duas
e jamais se tornarão conscientes e racionais. últimas décadas, ganhou força e passou a ser defendido por diferentes
Outro aspecto importante a ser considerado também é o caráter histórico da atores sociais. Essa difusão parece demonstrar um certo consenso
razão, determinada pelas condições materiais da vida social e política, porque se quanto ao assunto, o que não é verdade.
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A sustentabilidade, ou desenvolvimento sustentável, está presente no discurso ambiental e participação social. Perseguia, com especial atenção, meios de superar a
hegemônico, sendo difundido nas Conferências e documentos da UNESCO, na marginalização e a dependência política, cultural e tecnológica das populações
Agenda 21, nas políticas educacionais de diversos governos, na produção acadêmica, envolvidas nos processos de mudança social . São, portanto, marcantes em seus
no discurso de empresas e ONGs. trabalhos o compromisso com os direitos e desigualdades sociais e com a autonomia
Tamanha é a força deste discurso que ele passou a substituir, como tentativa dos povos e países menos favorecidos na ordem internacional”. (LIMA apud SACHS;
de superar alguns problemas apresentados, o próprio termo “educação ambiental” : 1986; BRUSEKE, 1995; LIMA, 1997).
O Relatório Brundtland, embora estivesse apoiado em idéias do
A partir de uma crítica e de um diagnóstico da educação ambiental Ecodesenvolvimento, não representando uma crítica às bases da sociedade capitalista,
experimentada em muitas escolas européias, ao longo das últimas
incorporou alguns elementos de Sachs e relegou outros, mais críticos e emancipadores.
décadas, chegou-se a nova proposta de educação para a sustentabilidade
ou para o desenvolvimento sustentável. (...) Dada a diversidade de sentidos
atribuíveis a esta noção e a incompatibilidade entre algumas de suas “(...) antes que as estratégias de Ecodesenvolvimento conseguissem
premissas, educar para a sustentabilidade converte-se numa expressão romper as barreiras da gestão setorializada de desenvolvimento... as
vazia e duvidosa. (Lima, 2003 ) próprias estratégias de resistência à mudança da ordem econômica foram
dissolvendo o potencial crítico e transformador das práticas de
Ecodesenvolvimento. Daí surge a busca de um conceito capaz de
Neste sentido, é necessária uma compreensão crítica da crise socioambiental
ecologizar a economia, eliminando a contradição entre crescimento
e da diversidade de concepções de sustentabilidade existentes, para que o educador econômico e preservação da natureza... Começa então naquele momento
possa, em seu projeto e prática educativa, escolher conscientemente que caminhos a cair em desuso o discurso do Ecodesenvolvimento, suplantado pelo
discurso de Desenvolvimento Sustentável” ( LIMA apud LEFF, 2001:18).
seguir. Conhecer historicamente a construção deste conceito, em suas diferentes
concepções, nos auxilia neste processo de escolha.
Do Ecodesenvolvimento permaneceu a idéia de articular crescimento econô-
As expressões mais recentes do discurso da sustentabilidade podem ser
mico, preservação ambiental e equidade social, ressaltando, contudo, uma ênfase
identificadas no início da década de 1970 e encontravam-se presentes nos movimentos
econômica, tecnológica e conciliadora, despolitizando a proposta de Sachs.
sociais, nas conferências internacionais sobre o meio ambiente e relatórios entre
outros. “No passado nos preocupamos com o impacto do crescimento econômico
Contudo, referências explícitas à noção de desenvolvimento sustentável são sobre o meio ambiente; somos agora forçados, conclui o Relatório
Brundtland, a nos preocuparmos com o impacto do stresse ecológico –
encontradas nos trabalhos do economista Ignacy Sachs, que desenvolveu a noção
degradação do solo, tratamento da água, atmosfera e florestas - sobre
de “Ecodesenvolvimento” e nas propostas da Comissão Brundtland (1983), que nossos projetos econômicos.”( Sachs apud Relatório Brundtland)
projetaram mundialmente o termo.
A noção de Ecodesenvolvimento propunha “uma estratégia multidimensional A idéia de desenvolvimento se sobressai, renovada. Segundo Wolfgang Sachs
e alternativa de desenvolvimento que articulava promoção econômica, preservação (2000), os últimos quarenta anos poderiam ser chamados da era do desenvolvimento.
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O farol do desenvolvimento foi construído pouco depois da Segunda Guerra Apoiadas em uma ou outra posição (biocentrismo ou antropocentrismo), duas
Mundial. Através de uma rede de conceitos (pobreza, produção, noção de estado ou matrizes interpretativas se sobressaem. A primeira matriz corresponde ao discurso
igualdade) os países foram convocados a entrarem na corrida pelo crescimento oficial da sustentabilidade já mencionado. Compreende o desdobramento do
econômico. A partir dos anos de 1970, o discurso desenvolvimentista revelou seus relatório Brundtland e é reproduzida nas grandes conferências internacionais e nos
limites através de uma crise, que embora tivesse maior visibilidade econômica, era programas governamentais, também assimilada por setores não-governamentais e
também social, ambiental e ético-cultural. empresariais. Discurso pragmático, que enfatiza a dimensão econômica e tecnológica
A associação entre a idéia de pobreza e degradação ambiental foi um dos da sustentabilidade e entende que a economia de mercado é capaz de liderar o
elementos que, segundo Sachs (2000), proporcionou o “casamento” entre meio processo de transição para o desenvolvimento sustentável, através da introdução
ambiente e desenvolvimento. Já que o crescimento elimina a pobreza, o meio ambiente de tecnologias limpas, da contenção do crescimento populacional e do incentivo a
só poderia ser protegido com mais crescimento/desenvolvimento. processos de produção e consumo ecologicamente orientados. Tende a secundarizar
Assim o Relatório Brundtland define desenvolvimento sustentável como considerações éticas e políticas associadas a valores biocêntricos, de participação
“aquele que responde às necessidades das gerações presentes sem comprometer a política e de justiça social. De forma geral é o discurso da Modernização Ecológica.
capacidade das gerações futuras atenderem suas próprias necessidades”. (LIMA apud A segunda matriz representa o contradiscurso. Privilegia uma concepção
Brundtland, 1991) complexa e multidimensional de sustentabilidade, que tenta integrar o conjunto de
Esta noção de sustentabilidade faz parte do discurso hegemônico e pode ser dimensões da vida individual e social. Tende a se identificar com os princípios da
resumida pela preocupação quanto à sustentabilidade do desenvolvimento. democracia participativa e a considerar que a sociedade civil organizada deve ter
Entretanto, discursos convivem e se inter-relacionam com outros contradiscursos, o um papel predominante na transição para a sustentabilidade social. Prioriza o
que nos possibilita compará-los criticamente, conhecer suas potencialidades e preceito de equidade social e desconfia da capacidade do mercado como alocador
vulnerabilidades. Lima (1997) fundamenta este entendimento ao indicar duas grandes de recursos.
tendências no que se refere à dimensão ecológica da sustentabilidade. Observa que Politicamente, com
existe uma diversidade de posições que oscilam entre visões mais ou menos relação ao papel do Estado,
antropocêntricas ou biocêntricas, embora com predomínio das primeiras. essa segunda matriz se
subdivide em duas
“O antropocentrismo pode ser resumido como a tendência ético-filosófica
tendências: uma que
que percebe o ser humano como centro e senhor da existência, num
sentido em que todo o resto dos seres e processos orgânicos e inorgânicos suspeita da ação política
adquirem valor comparativamente ao homem e à utilidade que possam estatal e defende a
lhe proporcionar. O biocentrismo, contrariamente, nega o antropocentrismo
subordinação do Estado à
e defende uma relação igualitária entre os seres e um valor intrínseco à
natureza, desvinculado de conotações utilitárias.” (LIMA, 1997). sociedade civil; outra que
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defende a intervenção estatal como o melhor caminho de transição para a superficiais, apoiadas na idéia de que desenvolvimento econômico e preservação
sustentabilidade. Advoga a democratização do Estado e sua articulação às forças do meio ambiente podem conviver apenas com mudanças tecnológicas (tecnologias
da sociedade civil. limpas, reciclagem), esconde contradições.
Para evitar o economicismo e o universalismo implícitos na proposta de Para se atingir uma sustentabilidade complexa e multidimensional é preciso
desenvolvimento sustentável, essa matriz prefere utilizar a expressão “sociedade questionar o modelo de sociedade atual, que possui como centro o capital e sujeita
sustentável” para salientar as idéias de autonomia política e singularidade cultural a natureza e as pessoas à sua lógica. Este modelo se estrutura a partir da criação de
de cada país tidas como necessárias à realização de uma sustentabilidade complexa. falsas necessidades e estimula o consumismo. Atribui a desigualdade social à falta
de desenvolvimento, quando ela é, ao contrário, produto desse desenvolvimento
que concentra riquezas e oportunidades. Estas contradições, criadas pelo próprio
Matrizes interpretativas do conceito de sustentabilidade
sistema, não podem por ele ser solucionadas. Pensar a relação entre os homens e
Desenvolvimento sustentável,
destes com a natureza sem privilegiar o capital deve ser o ponto de partida.
1ª Matriz Discurso oficial, hegemônico
mercado, tecnologias limpas, É importante ressaltar que, diante da magnitude da crise que vivemos,
contenção do crescimento
ambiental, civilizatória, da irracionalidade da razão moderna (Lima, 2002) e não
populacional, produção e consumo
ecologicamente orientados meramente uma crise ecológica, a discussão da sustentabilidade é atual, mas ainda
controversa. Vivemos diante de opções por modelos de sustentabilidade e de
2ª Matriz Discurso contra-hegemônico Sociedade sustentável,
multimensionalidade, democracia educação mais reprodutivistas ou mais emancipatórios.
participativa, sustentabilidade social, Para Lima (2002) é esse o motivo que o leva a “qualificar e defender uma
justiça social, questionamento dos
padrões de consumo sustentabilidade e educação emancipatórias que nos imunizem das propostas
neoconservadoras, impostas pelo império do mercado e da mercadoria e pela
instrumentalidade da razão, e sirvam como instrumento de resistência à invenção
de novas formas de vida mais justas, solidárias e sustentáveis.”
Pode-se falar, então, não de “discurso da sustentabilidade”, mas de “discursos”. Um dos poucos pontos de consenso no debate sobre as alternativas de
Cabe salientar, neste contexto, os limites de uma proposta de sustentabilidade liderada sustentabilidade é a idéia de multidimensionalidade (política, cultural, étnica,
pelo mercado. ecológica, econômica). Nesta perspectiva, uma multidimensionalidade que não
Para se pensar em sustentabilidade é preciso reconhecer que o planeta tem priorize o econômico, mas que o perceba inserido num espaço sociocultural, que
uma capacidade de suporte limitada, ou seja, existem limites para os impactos que por sua vez está imerso no espaço físico-biológico que lhe dá suporte.
os ecossistemas e a biosfera como um todo podem suportar a intervenção humana. Não existem receitas para implementação de um projeto de sustentabilidade.
Entretanto, uma proposta de sustentabilidade que proponha mudanças Entretanto, o entendimento da crise da racionalidade instrumental e uma visão
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integrada dos diversos espaços que constituem o ambiente fornecem elementos éticos, econômicos e culturais, ampliando a noção de questão ambiental.
compreensivos para essa proposta. Alimentados pela discussão teórica, os educadores Concluindo,
comprometidos com uma educação emancipatória podem se utilizar de alguns
“(...) a necessidade que a problemática ambiental coloca de se buscar
indicativos em sua atuação: um outro modo de conhecer, que supere o olhar fragmentado sobre o
O tema da sustentabilidade deve ser apresentado e discutido com os alunos, mundo real, coloca também o desafio de se organizar um processo de
ensino-aprendizagem, onde o ato pedagógico seja um ato de construção
de uma forma que permita-os: conhecer os argumentos favoráveis e contrários ao
de conhecimento sobre este mundo, fundamentado na unidade dialética
discurso, avaliar o conjunto da argumentação e participar deste debate. A discussão entre teoria e prática. Portanto, o reconhecimento da complexidade do
visa revelar a diversidade de visões de mundo envolvidos no debate, de modo que conhecer implica em se assumir a complexidade do aprender”. (QUINTAS,
2002).
os alunos não sejam “educados para a sustentabilidade”, mas capacitados a comparar,
debater e julgar por si próprios as diversas posições manifestas no debate e aquelas Outro conceito importante em educação ambiental é o de Meio Ambiente,
que lhe parecem mais sensatas. Segundo ele, essa é uma abordagem educacional que segundo os próprios PCN’s, não deve ser estabelecido de forma rígida ou
enquanto a outra – que visa “educar para algo” – não; (LIMA apud JICKLING, definitiva, seria mais relevante estabelecê-lo como uma representação social, ou
1992). seja o modo como um grupo percebe seu ambiente. Independente desta forma de se
É preciso exercitar a capacidade de aprender, de criar novas concepções e pensar o conceito de ambiente poderíamos imaginar o ambiente como o “espaço”
práticas de vida, de educação e convivência – individual, social e ambiental – capazes em que se vive e se desenvolve, interagindo com ele. Poderíamos imaginar um espaço
de substituir os velhos modelos em esgotamento; (LIMA, 2003) fìsico (que obedece às leis da física e da química), um espaço biológico (que além das leis
É importante pesquisar, relacionar, selecionar e multiplicar o potencial da química e física também é regido por leis biológicas), se
positivo de experiências já existentes como iniciativas alternativas; pensarmos também no homem como constituinte do ambinete
Valorizar tanto a necessidade de mudança de atitudes e comportamentos também podemos imaginar que há um espaço sociocultural (que
individuais quanto mudanças que envolvem processos políticos e econômicos; obedece às leis anteriores e também às leis feitas pelos homens).
Trabalhar noções de ambiente e sustentabilidade numa perspectiva de Para entender melhor estes “espaços” podemos fazer
multidimensionalidade complexa (inter-relação entre os ecossistemas nos espaços o uso de conceitos que fazem parte da ciência que
físico, biológico e sociocultural); estuda as relações entre os seres vivos e o ambiente
Adotar como pressupostos de trabalho metodologia participativas que onde vivem: a Ecologia. Para nos referirmos ao
valorizem a criatividade e a interdisciplinaridade; conjunto de todas as regiões da Terra onde existe vida
Privilegiar, para a discussão com os educandos, materiais próximos à sua (espaços biológicos) usamos o termo Biosfera. Embora este
realidade e que não sejam apenas informativos, mas que incluam temas sociais, termo sugira um camada contínua em torno da Terra,

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existem regiões que dificultam ou impedem o desenvolvimento da maioria dos As relações dos seres vivos que compõem a biota de um ambiente não
seres vivos, portanto a biosfera é uma camada irregular na superfície de nosso acontecem somente entre os seres vivos, mas com os fatores não vivos (abióticos):
planeta. Se pensarmos em regiões, em vez de considerarmos todo o planeta, teremos físicos e químicos, que variam conforme o local. No cerrado por exemplo, a
comunidades biológicas, chamadas biotas ou biocenoses. Desta forma, temos um composição do solo, disponibilidade de água, luz e calor interfere no desenvolvimento
conjunto maior composto por todos os seres vivos (biosfera) e este seria composto de plantas e animais. Por outro lado, a presença de vegetais modifica a umidade do
por subconjuntos onde os organismos interagem entre si e com o ambiente físico ar e a temperatura de uma região. Estas interações são como vias de mão dupla e
de forma mais estreita. Poderíamos dizer que a comunidade do cerrado, compõe-se são responsáveis pela formação, manutenção e/ou modificações do “ambientes
de arbustos, gramíneas, formigas, microorganismos etc. que convivem e se naturais”.
relacionam. O homem também afeta e é afetado pelo ambiente sendo parte integrante e
agente de transformações do mundo em que vive. O ser humano altera a paisagem
natural de diversas maneiras, desde a pré-história, seja domesticando animais,
Biosfera
cultivando plantas ou utilizando recursos para a produção de objetos, desta forma
Ecossistemas o homem produz o que conhecemos como “ambientes construídos”. É importante
notar que as modificações realizadas pelo homem são limitadas pelo próprio ambiente
são formados por:
natural, ou seja o ambiente não é algo estático sobre o qual o homem tem total
que vive no:
controle, porque é justamente do ambiente que o homem obtém recursos para
comunidade de seres vivos: meio físico
realizar suas atividades e são recursos naturais como a água, fontes de energia e
se divide em: cujos elementos matéria que determinam a existência do próprio homem, em um processo interativo.
são:

produtores calor umidade Deste modo, os elementos que constituem o ambiente


(vegetais)
estão em constante interação, mais do que isso eles estão
constantemente passando por transformações: a matéria
consumidores luminosidade nutrientes não pode ser criada ou destruída, e sim transformada.
(herbí voros,
carn ívoros Estas transformações são contínuas e alimentadas
e onívoros)
pela energia da Terra e do Sol. Os elementos
decompositores necessários à vida passam por transformações
(bactérias
e fungos) cíclicas que mantêm sua pureza e capacidade de
serem aproveitados. Estas transformações
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cíclicas são chamadas de ciclos biogeoquímicos. O entendimento destes ciclos nos serão reaproveitados por outros seres vivos ou seja, os elementos químicos circulam
possibilita perceber o ambiente como um todo e não apenas como uma fonte de entre os seres vivos e a Terra. Se não houvesse essa reciclagem, permitindo
recursos, através do estudo destes ciclos podemos perceber a importância de diversos reaproveitamento de materiais de geração em geração, em pouco tempo se esgotariam
procedimentos, sendo este um dos pontos principais de estudo para que haja uma os elementos para constituir novos seres vivos. Portanto, podemos perceber a
real conscientização e eficiência na tomada de atitudes para a resolução de problemas importância dos organismos decompositores, como fungos e bactérias, que
ambientais. apresentam papel fundamental no processo de reciclagem. É através destes ciclos
que o nitrogênio retirado do solo pelas plantas, pode fazer com que solo volte a
produzir, independente da fertilização por adubos comerciais. Da mesma forma
podemos pensar na reposição do oxigênio que retiramos do ar em nossa respiração
e do constante fornecimento de água nas nascentes.
Embora exista uma constante renovação da matéria na natureza é importante
notar que os processos físicos, biológicos e socioculturais operam em escalas de
tempo muito diferentes. Mudanças físicas em um ambiente ( como o surgimento de
um rio ou montanha) pode levar milhões de anos, fenômenos biológicos (como o
surgimento ou extinção de uma espécie) pode levar milhares de anos ou bem menos
que isso, entretanto o homem pode construir uma estrada ou uma represa em questão
de meses. É justamente por apenas ver em uma escala de tempo humana, que temos
modificado a dinâmica de vários ecossistemas. Portanto, o estudo dos ciclos de
elementos como a água, oxigênio, gás carbônico e nitrogênio não pode ser encarado
como um amontoado de nomes que devem ser memorizados em uma ordem
específica, mas como processos cujo estudo deve permitir percebermos que a
natureza tem um funcionamento complexo e que cada organismo tem um importante
papel na manutenção dos ecossistemas.

Um importante componente dos seres vivos é o nitrogênio, este elemento entra


na composição das proteínas e ácidos nucleicos (DNA e RNA), essenciais à vida.
Após a morte dos organismos, a matéria que os compões é degradada e os elementos
químicos que dela fazem parte, como o nitrogênio, retornam ao ambiente, onde
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Tudo está conectado com tudo: o agrotóxico lançado nas plantações, lavado
pela chuva e posteriormente pode ser ingerido por animais gerando câncer décadas
mais tardes. Podemos imaginar o mundo como um sistema organizado, ou seja um
conjunto de elementos interconectados que juntos contribuem para a realização de
determinados processos.
Para entender melhor o que é o funcionamento de um sistema podemos imaginar
o nosso corpo como um sistema: uma série de elementos interconectados (que se
relacionam), realizando processos metabólicos. Com o exemplo do corpo humano
podemos perceber que um sistema é mais que, simplesmente, a soma de suas partes:
existem as relações entre as partes. Caso algo não esteja bem com o funcionamento
do corpo podemos até substituir alguma parte, mas normalmente o problema não é
totalmente resolvido a menos que se trate o corpo como um todo, para a cura, em
muitos casos, o indivíduo deve mudar todo o seu modo de viver.
É interessante notar que a ausência ou mau funcionamento de qualquer parte
do corpo compromete o todo, e afeta diferentes partes com intensidades diferentes.
Por exemplo a fratura de um osso de um dedo do pé vai se refletir diretamente nos
músculos e nervos que rodeiam tal osso, causando dor e impossibilitando o
movimento. Possivelmente esta pessoa deverá passar um tempo de repouso: o sistema
todo! A dor levará o indivíduo a um mal estar geral e posteriormente a pessoa terá
No começo este texto foi dito que existem três aspectos do ambiente (físico, dificuldade de executar uma série de atividades até que a fratura seja completamente
biológico e sociocultural),entretanto não é possível imaginá-los de forma estanque. restabelecida. Algumas partes terão seu funcionamento mais ou menos afetados,
É preciso perceber que o espaço físico influencia e é influenciado pelo espaço por exemplo: tarefas como escrever serão realizadas sem dificuldades, a digestão
biológico. Imagine que a água é parte do espaço físico, assim como o ar: ambos são também deverá ser pouco modificada embora haja um mal estar geral. Por outro
constantemente modificados pelos seres vivos que fazem parte do espaço biológico. lado, encostar o calcanhar no chão poderá ser muito difícil por algum tempo, mesmo
Da mesma forma o ar e a água são determinantes da existência de vida. Como já foi sendo um osso do dedo que esteja quebrado e não um osso do calcanhar.
dito, o espaço sociocultural também afeta e é afetado pelos componentes físicos e Podemos notar que embora tudo seja conectado, em muitos casos os sistemas
biológicos do ambiente. Desta forma podemos concluir que mesmo percebendo são organizados em subsistemas, parcialmente independestes uns dos outros. As
aspectos distintos o ambiente não está dividido em partes: ele é um todo único. conexões entre as partes dos subsistemas não têm a mesma intensidade.
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O planeta funciona como um sistema, para isso podemos pensar nas relações Outro ponto importante para que um sistema funcione é a existência de uma
entre organismos de um ecossistema. Imagine uma fazenda onde existam cobras coordenação. Assim, é necessário que a coordenação central tenha uma certa
que se alimentam de ratos, os ratos por sua vez se alimentam de milho, o milho tira autoridade, dando uma visão geral ao sistema para que estes seja um todo. Também
nutrientes do solo e assim sucessivamente. O dono da fazenda preocupado com a é necessário que cada parte, ou cada subsistema tenha uma quantidade exata de
presença de cobras introduziu seriemas que se alimentam das tais cobras. Tempos autonomia, ou seja possam responder às condições locais e lidar com problemas
depois ele teve prejuízos na produção de milho, uma vez que o número de ratos menores a seu modo. Podemos pensar pensar em um time de basquete, vôlei ou
aumentou por falta de seus predadores. Para resolver o “problema” das cobras não futebol, onde o técnico é a coordenação e cada jogador é uma parte relativamente
bastaria então acabar com elas, afinal o ecossitema é um todo! autônoma do sistema.
De forma semelhante podemos imaginar nossa sociedade, onde uma questão É interessante notar que as interações existentes na natureza não nos permitem
que tem sido discutida freqüentemente é o consumo de água. Mesmo sendo o Brasil fazer separações nítidas entre as partes de um sistema ou mesmo onde começa ou
um dos países com as maiores reservas de água doce do mundo podemos ver nos termina um sistema: estas divisões são úteis apenas para facilitar nossa compreensão
jornais notícias de falta de água em diferentes regiões. Como o país é um sistema, Para muitos cientistas a própria Terra pode ser realmente comparada a um imenso
podemos imaginar cada cidadão como uma parte que afeta e é afetada pelas decisões ser vivo (um só sistema), do qual todos nós fazemos parte: essa hipótese é conhecida
e atitudes dos outros. Podemos supor que para que todos tenham acesso à água uma do hipótese de Gaia (nome que os antigos gregos empregavam para denominar a
medida importante seria o seu uso racional, evitando o esperdício e zelando por sua Terra). Todos os ambientes apresentam elementos em comum (por exemplo: luz,
limpeza antes que seja devolvida à fonte. Entretanto não basta aconselhar uma solo, ar, seres vivos) entretanto, podem existir grandes variações entre eles. Deste
pessoa a economizar água, é preciso dar-lhe condições de modo tanto na floresta amazônica, quanto na
modificar seu consumo o que implica em mudanças em caatinga ou no cerrado existem seres vivos,

Vida Nova ao
suas relações enquanto parte de um sistema. Para que tal entretanto as espécies não são as mesmas. Também
mudança aconteça uma poderosa ferramenta é a podemos perceber que tanto em um lago como em

Itap ecerica
informação. um pasto é preciso luz para que as plantas realizem
fotossíntese, mas as plantas aquáticas diferem muito
“Saber como os ambientes naturais das plantas encontradas em um pasto, também a
funcionam e como a vida se mantém e se quantidade de luz em cada um destes ambientes não
renova contribui para a formação da
cidadania. Afinal, o saber biológico pode é a mesma. Quanto mais observarmos os ambientes
mudar nossa atitude em relação ao modo perceberemos semelhanças e diferenças entre eles. É importante que a
pelo qual as pessoas e instituições utilizam
educação ambiental enfatize as semelhanças básicas, embora respeite os diferentes
os recursos naturais e tecnológicos disponíveis
em nossa sociedade” (APEC, 2003). ecossistemas e culturas da Terra. Cada sistema tem certa tolerância e flexibilidade,
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ou seja consegue se manter estável em uma capacidade de auto regulação. Para pensarmos em sustentabilidade é preciso considerar todos os pontos
comentados neste texto, afinal algo sustentável é algo que permita às gerações futuras
“Usualmente, quando mais complexo e diversificado for uma sistema, suprirem suas necessidades. É preciso lembrar que a natureza não é algo estático ela
mais amplo será o seu leque de estabilidade, existirá uma maior variedade
é um todo dinâmico, em um processo complexo que se modifica a todo momento e
de tipos de elementos, aumentarão os seus inter-relacionamentos e
mecanismos de controle e passarão a existir mais formas para lutar contra que estas modificações normalmente ocorrem em um ritmo e forma mais ou menos
estresses externos. É mais flexível. Ao contrário, quando reduz-se a constante, por isso diz-se que há um equilíbrio. Alterações ambientais que afetem
diversidade, reduz-se também a flexibilidade do sistema, que se torna
uma espécie podem trazer consequências para todo o ecossistema, uma vez que
mais vulnerável”(São Paulo, 1997).
todas as espécies estão intimamente relacionadas entre si. Então é preciso que
Tanto a diversidade biológica, quanto a diversidade sociocultural devem ser pensemos no uso que fazemos dos recursos, na forma que interferimos no equilíbrio
consideradas essenciais para a sustentabilidade ambiental, afinal tornam possíveis dinâmico que existe entre os diversos elementos do ambiente.
soluções diferentes para a resolução de problemas. Tanto a preservação das espécies,
com a preservação de diferentes culturas seriam então, estratégicas para a qualidade Muito importante, é notar que, para a formação de
de vida.
“cidadãos conscientes, aptos a decidirem e atuarem na realidade
Não podemos deixar de discutir neste texto a relação entre o crescimento das socioambiental de um modo comprometido com a vida, com o bem-estar
populações (dos diferentes organismos) e sua relação com os recursos necessários de cada um e da sociedade local e global... é necessário que, mais do que
informações e conceitos, a escola se proponha a trabalhar com atitudes,
para sua sobrevivência. As populações têm potencial para crescerem indefinidamente com formação de valores, com o ensino e a aprendizagem de habilidades
e em taxas cada vez maiores, entretanto os recursos para que estas populações e procedimentos” (PCN vol.9, 1997).
realizem seus potencial estão disponíveis na natureza em quantidades limitadas. A
quantidade disponível dos recursos necessários para que uma população exista em Portanto, é preciso que os professores estejam cientes da importância do
uma determinada área e ali se mantenha determina o que chamamos capacidade conhecimento de conceitos fundamentais para o trabalho com Educação Ambiental,
suporte. Se uma determinada população de aves necessita de alimento, água e entretanto não podemos nos ater apenas a eles deixando de lado a construção de
árvores para a construção de ninhos, ainda que haja alimento e água em quantidade valores. É fundamental que os alunos “desenvolvam um espírito crítico em relação às induções
para suportar uma grande população, se não houverem árvores apropriadas a ao consumismo e senso de responsabilidade e solidariedade no uso dos bens comuns e recursos
sobrevivência daquela população não ocorrerá no local em questão. Se houver naturais, de modo a respeitar o ambiente e as pessoas de sua comunidade” (PCN vol9, 1997).
árvores para apenas um casal, ainda que haja alimento e água em quantidade para Finalmente, não se pode deixar de dizer que valores e compreensão não são
suportar uma grande população, somente um casal poderá sobreviver ali. Portanto suficientes se as pessoas não souberem como atuar. É indispensável que se
a capacidade suporte de um ambiente é determinada pelo recurso disponível em desenvolvam capacididades ligadas à participação, à co-responsabilidade e à
menor quantidade: o recurso limitante. solidariedade ou seja, que as pessoas saibam adequar sua prática a seus valores.
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Desta forma, podemos notar que apenas o domínio de conceitos não é suficiente
para se fazer educação ambiental, mas sem dúvida é um fator imprescindível para
que isso aconteça.

Nova Margem é vida


nova ao Itapecerica

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PROCESSO DE OCUPAÇÃO URBANA DE DIVINÓPOLIS


No mundo atual, assistimos a uma concentração populacional nas áreas urbanas. produção - fazem com as cidades, que já ocupavam um importante papel para as
Sabemos que a cidade, em todos os períodos da história, desempenhou um papel sociedades, tenham as suas funções distendidas. A industrialização tanto modificou
importante na organização da sociedade. Desde a antiguidade até os nossos dias, a as relações de produção e de trabalho, como também transformou e incrementou o
cidade exerceu a função de elemento aglutinador e dinamizador das sociedades e ambiente urbano. Sua característica de ambiente aglutinador e dinamizador foi
civilizações. Era e ainda é nas cidades que se organiza a administração da comunidade, dilatado, pois agora, além de seu aspecto comercial, passou a ser também um
é nas cidades que se reúnem as assembléias, os órgãos jurídicos e do Estado. Algumas importante centro produtor.
cidades destacam-se igualmente pelo seu papel de centro religioso e educacional. A Revolução Industrial trouxe inúmeras transformações e inovações técnicas
Além das funções administrativas, deliberativas e disciplinares, a cidade também se para a nossa sociedade. Dentre elas, é preciso destacar as importantes modificações
destacou como centro comercial, financeiro e produtor. Era nas cidades que se nos setores de transporte e comunicação. Com o aumento da produção, o mercado
realizava o comércio, pois, exercendo a sua vocação de centro aglutinador, conseguia local já não era suficiente para consumir tudo o que se produzia. Portanto, fazia-se
reunir tanto as pessoas que ali estabeleciam sua moradia, como viajantes e também necessário o escoamento dessas mercadorias. Contudo, o transporte ainda era feito
as pessoas que moravam nas suas redondezas. de forma rudimentar, através da tração animal, que aparecia como um empecilho
Assim, a cidade era local privilegiado para o comércio e para o estabelecimento para a produção em larga escala. Assim, o desenvolvimento do transporte ferroviário
dos artesãos e artífices que podiam vender suas mercadorias para um número maior pode ser entendido como uma necessidade das transformações na produção. Este
de pessoas. É evidente que esse papel da cidade não invalida ou diminui a função tipo de transporte foi introduzido na Inglaterra em 1825 e no Brasil, em 1854.
das áreas rurais, que eram e continuam sendo importantes para O trem-de-ferro, assim como a
as comunidades. Afinal, são os produtos do campo que industrialização, modificou sensivelmente a
alimentam a cidade e sem estes, ela não poderia paisagem do mundo moderno, pois reduziu as
sobreviver, estabelecendo-se assim uma relação de distâncias e o tempo para percorrê-las. Além
dependência mútua, pois da mesma forma que a cidade da ferrovia, as transformações nos meios de
precisa do campo, o que é produzido nos campos comunicação - com a invenção do telégrafo,
é, em sua grande maioria, comercializado nas sendo inaugurada a primeira linha nos Estados
cidades. Unidos em 1844 - significaram também uma importante
A Revolução Industrial, no século XVIII, na mudança nas relações no comércio, na produção, nas cidades. O
Inglaterra e as conseqüentes transformações ocorridas mundo - pois todas as regiões foram afetadas por esses inventos,
no campo - a introdução de técnicas que aumentam uns mais cedo, outros mais tarde - a partir de todas essas transformações
a produção agrícola e que também diminuem o modificou sensivelmente suas feições. O contato e o deslocamento entre
número de camponeses necessários para a regiões distantes foi extremamente facilitado.
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Com todas essas transformações, a fisionomia das cidades começou a mudar. dizer, a chegada da Estrada de Ferro em Divinópolis significou uma profunda
Mas esse fato pode ser melhor observado nas cidades que estavam na rota das transformação e fez com que ela passasse a participar do processo, já vivenciado em
ferrovias, pois a chegada do trem-de-ferro, na maior parte dos casos, desestabilizou outras regiões, de modernização e modernidade da sua sociedade e da cidade. Como
tanto a cultura como as relações tradicionais que até então vigoravam. Significou o afirma CORGOZINHO (2003):
estabelecimento de pessoas estranhas àquele local e a mudança em sua paisagem. A
construção de oficinas, fábricas e armazéns, além das estradas de ferro que cortavam “Ao longo do processo de construção urbana, desencadeado pela
a cidade, modificou o ambiente urbano. A fumaça, a poluição passaram a fazer parte instalação da ferrovia e desenvolvimento das atividades ferroviárias,
Divinópolis vivenciou também uma intensa diversificação econômica,
da paisagem, tornando-se características do mundo urbano. A chegada da ferrovia e estabelecendo ligações com outras localidades da região e do país.
das fábricas trouxe também um grande número de novos moradores, necessários Firmou-se assim como um pólo de referência regional do ponto de vista
sócio-econômico, político e cultural” Corgozinho (2003)
tanto à instalação, quanto ao funcionamento destas. O número de pessoas que passou
a viver nas cidades aumentou consideravelmente e essa concentração da população
Divinópolis encontra-se numa posição de destaque no centro-oeste mineiro.Tal
nas regiões urbanas, trouxe também inúmeros e novos problemas de saúde, habitação
fato deveu-se em grande parte por sua localização às margens do Itapecerica, num
e saneamento, pois a maior parte das cidades não estava preparada para absorver
ponto que permitia a travessia do rio pelos bandeirantes e tropeiros, além do contato
esse novo contingente populacional. Além disso, é possível observar a expansão
entre alguns importantes núcleos de povoamentos de Minas Gerais.Essa característica
territorial passando a ocupar as regiões de cultivo ao seu redor.
geográfica irá marcar a formação e a ocupação dessa região, impulsionando o seu
Mas, afinal, como tudo isso se relaciona com o processo de ocupação urbana
desenvolvimento ulterior, como demonstram a chegada da Estrada de Ferro Oeste
da antiga ‘Passagem do Itapecerica’?
de Minas (EFOM), que teve inaugurada a primeira estação ferroviária em 1890 e a
Divinópolis, desde muito cedo,
sua ligação com o ramal ferroviário de Belo Horizonte
mostrou a sua vocação de centro
em 1910.
aglutinador e dinamizador. Além
Foi a partir de sua vocação de rota
disso, sua história é exemplar no que
de passagem que a atual cidade de
diz respeito às transfor mações
Divinópolis começou a sua história.
acarretadas pela introdução do
Contudo, apesar deste ter sido um fator
transporte ferroviário e essas
importante para o seu crescimento, outras
transfor mações podem ser
atividades como o comércio e a indústria
observados tanto nos aspectos
foram e ainda são elementos importantes
urbanos como nos econômicos,
para compreender o seu
políticos, sociais e culturais. Quer
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desenvolvimento. surgindo. Com o novo contexto da atividade econômica desenvolvida no Brasil, a


De acordo com os estudos sobre a história de Divinópolis, o primeiro morador Coroa portuguesa ampliou seu domínio sobre a produção e a sociedade, pois, devido
civilizado dessa região, Tomás Teixeira, batedor da bandeira de cel. Matias Barbosa a peculiaridades dessa atividade - a facilidade de desvios, sonegação - um maior
da Silva, provavelmente estabeleceu-se por volta de 1737 e permaneceu no local controle tornou-se um imperativo. Para que esse controle mais estreito da Coroa se
em que se fundaria, em 1770, o arraial do Divino Espírito Santo de Itapecerica, efetivasse, novos instrumentos tornam-se essenciais, como, por exemplo, uma maior
região que já era habitada pelos índios Candidés e provavelmente, pois existem agilidade no contato com as regiões produtoras e as áreas administrativas da colônia.
evidências históricas para atestar tal fato, por fugitivos da Guerra dos Emboabas. Para tanto, era necessário a abertura de estradas, ‘caminhos’ entre o interior e o
De qualquer forma, a formação oficial do povoado é datada de 1770 com a escritura litoral.
de doação do terreno para a construção da capela destinada ao Divino Espírito
Santo e São Francisco de Paula passada no cartório da cidade de Mariana. Evidencia- A ‘Passagem do Itapecerica’ surge deste contexto do Brasil colonial. A
se assim, a partir desse fato, que o povoamento já era anterior. Dessa forma, nascia necessidade de um caminho que ligasse o interior, centros regionais como Barbacena,
então o arraial do Espírito Santo da Itapecerica. O desenvolvimento e povoamento São João Del-Rei e Pitangui e o Rio de Janeiro propiciou o surgimento de inúmeras
da região podem ser explicados pela posição privilegiada em que se desenvolveu, povoações no interior, dentre as quais se insere o arraial do Espírito Santo do
próximo a grande cachoeira, onde existiam pedras que possibilitavam a travessia do Itapecerica. O antigo arraial foi fundado neste antigo caminho para importantes
rio. As denominações antigas da cidade como ‘Passagem do Itapecerica’ ou ‘Paragens centros regionais mineiros e também fazia parte da rota da Picada do Goyas. Desta
do Itapecerica’ demonstram a importância de sua posição geográfica. forma, era um elo de ligação tanto da capitania de Minas Gerais com o litoral, como
O estabelecimento dessa nova povoação, que posteriormente virá a se chamar da região centro-oeste brasileira, a capitania de Goiás criada em 1744.
Divinópolis, pode ser compreendido a partir do desenvolvimento da atividade
A abertura da Picada de Goiás, cujo primeiro percurso passava pela
mineradora em Minas Gerais, no século XVIII. A descoberta do ouro e pedras
transposição do rio Itapecirica, essa região ficou pontilhada de novos
preciosas no centro-sul do Brasil modificou sensivelmente essas regiões, moradores definitivos e ocasionais, que atendiam aos objetivos maiores
principalmente Minas Gerais e Goiás. Inicialmente podemos constatar a criação da da Bandeira: povoar as terras ainda desconhecidas da província de Minas,
produzir alimentos e abrir caminho para a exploração do ouro em outras
Capitania de Minas Gerais, em 1720. A mineração, a descoberta do ouro e as regiões. A Prova nº 9, p.25.
possibilidades criadas por elas povoaram o imaginário popular da época. Houve, a
partir desse momento, um afluxo de pessoas para essas regiões que antes não se Contudo, o arraial do Espírito Santo do Itapecerica mostrou, desde cedo, que
verificara. Assim, o número de pessoas que passaram a se aventurar e a se estabelecer a sua vocação não se restringia ao fato de ser um local apropriado para o pouso de
nessa região modificou tanto a paisagem como o processo de ocupação vivido até tropas que vinham de outras regiões. Também sua localização favoreceu a
então. constituição de uma região de destaque no que se refere a contatos e trocas comerciais
Com o desenvolvimento da atividade mineradora, novas necessidades foram entre o interior e a corte. Aí se estabeleceram negociantes que mantinham contatos
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freqüentes com o Rio de Janeiro. O arraial não era um núcleo abastecedor da corte, de qualquer núcleo urbano, para logo identificarmos o rio ou ribeirão que o
mas um centro de trocas e ligação do “sertão” com importantes centros urbanos, acompanha. Assim, no caso de Divinópolis, podemos dizer que, desde os seus
tanto que a maior parte do dinheiro que aí circulava decorria das atividades primórdios, o rio Itapecerica desempenhou uma dupla função: a de fonte de
comerciais. Devido à mineração, ao grande número de pessoas que essa atividade abastecimento de água e também o de rota de passagem devido às suas características
atraiu para o interior do país, da precária capacidade que essas regiões tinham de se naturais – as pedras da Cachoeira Grande que possibilitavam a travessia para a
abastecer e visto que a maior parte das suas provisões vinham de outras áreas, o outra margem.
comércio interno no Brasil colônia foi significativamente ampliado. Assim, a formação Assim como para o estabelecimento da antiga povoação do Espírito Santo de
e o desenvolvimento do arraial do Espírito Santo do Itapecerica deve ser Itapecerica foi fundamental a sua localização geográfica e a travessia peculiar
compreendido no contexto de povoamento do interior do país largamente oferecida no ponto da Cachoeira Grande, a chegada da Ferrovia à cidade também
impulsionado pela atividade mineradora e as necessidades dela decorridas. pode ser creditada a tal fato.
Como então era imprescindível o contato entre as regiões administrativas e A construção da Estrada de Ferro Oeste de Minas – também chamada de
abastecedoras e o interior - o ‘sertão’ - com o desenvolvimento de um mercado Trem do Sertão – foi idealizada pelo Governo Imperial com o intento de ser uma
interno no Brasil, os locais que se mostraram propícios para a passagem das tropas e ramificação que ligasse a Estação da Central do Brasil aos limites da Província de
dos viajantes conheceram um grande impulso de crescimento a partir do final do Minas Gerais, abrangendo a região oeste. O primeiro trecho que fez a ligação com
século XVIII. a cidade de São João Del-Rey foi inaugurado em agosto de 1881. O ramal que fez a
união dessa estrada com a atual Divinópolis foi inaugurado em 30 de abril de 1890.
A posição geográfica do arraial do Espírito Santo do Itapecerica era
A primeira estação ferroviária foi batizada de Henrique Galvão.
privilegiada, pois situava-se numa das rotas do comércio regional. Esse
privilégio refere-se ao fato de a povoação ter surgido nas proximidades da É interessante notar que, apesar da demarcação do trajeto da
Cachoeira Grande, em um ponto do rio Itapecerica onde as pedras construção da EFOM ter adotado, em sua maior parte, critérios
facilitavam a travessia daqueles que viajavam em direção à vila de Pitangui
políticos, a construção do ramal que passou por Divinópolis não
ou rumo a São Bento do Tamanduá. A própria denominação antiga –
Passagem do Itapecerica – atesta a sua importância estratégica natural, seguiu tal juízo. A definição da passagem pelo arraial do Espírito
favorável ao transito de forasteiros ou tropeiros. Corgozinho (2003) Santo do Itapecerica deveu-se exclusivamente à sua estratégica
localização geográfica; a facilidade para a travessia do rio
O crescimento inicial do antigo arraial deveu-se à sua posição geográfica Itapecerica foi determinante para que o povoado passasse a
estratégica como local propício para a travessia do rio Itapecerica. Para o fazer parte do percurso da EFOM. Assim, mais uma vez
estabelecimento de um povoamento em qualquer região, a existência de um rio é ajudada pelas condições favoráveis que a travessia do rio oferecia,
imprescindível. Sem a existência de uma fonte de abastecimento de água, nenhuma Divinópolis se vê assaz beneficiada e o seu crescimento e
povoação pode subsistir. Este fato é facilmente verificável: basta que nos recordemos desenvolvimento extremamente intensificado e impulsionado.
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O Vale do Itapecerica, Área de Preservação Permanente


A restauração da vegetação – matas ciliares - das Áreas de Preservação indicada para implantação de extensa “floresta urbana”, a partir da demarcação e
Permanente – APP’s, especialmente ao longo dos cursos d’água e de nascentes é de recuperação de sua mata ciliar.
extrema importância. Esses locais caracterizam-se pela sua fragilidade ambiental,
Áreas de preservação permanente em uma microbacia
em função de sua posição no relevo e pela sua importância na proteção ao solo,
fauna e flora e formam os chamados corredores ecológicos. Cláudio de Souza Magalhães
Como dito anteriormente, o Vale do Rio Itapecerica, por sua importância Rose Myrian Alves Ferreira 1

geográfica e ambiental para Divinópolis, constitui-se numa área potencialmente Resumo - A expansão da fronteira agrícola, bem como o crescimento urbano
desordenado, tem interferido nos recursos naturais, notadamente nos recursos
hídricos. Neste contexto, grandes áreas consideradas de preservação permanente,
reconhecidamente protetoras destes recursos naturais, são dizimadas em prol do
desenvolvimento. Apresenta-se, de forma sintetizada, uma parcela da história e do
histórico sobre a compreensão e reconhecimento da função ambiental das Áreas de
Preservação Permanente - APPs para uma sub-bacia, bem como o resumo da
legislação pertinente, em que, são apresentados direitos e deveres para com a
permanente proteção das APPs, consideradas vitais aos seus ecossistemas, portanto,
a todos os seres de uma sub-bacia.

Palavras-chave: Conservação; Educação; Legislação; Ocupação do solo; Sub-


bacia hidrográfica; Bacia hidrográfica.

INTRODUÇÃO
Os problemas ecológicos, geomorfológicos e hidrológicos, originados a partir
da ação do homem sobre o meio, têm merecido constantes reflexões e discussões
sobre os objetivos que as nações necessitam traçar na planificação e ordenação de
suas reservas vitais de água, solo, fauna e flora.

1
FERREIRA, Rose Myrian Alves; MAGALHÃES, Cláudia de Souza. Revista Informe Agropecuário. BH:
EPAMIG, V21, N207, nov/dez 2000, P33 a 39.

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Um dos grandes desafios do homem para a conservação ambiental é concentrar diverentes ecossistemas com suas biodiversidades, responsáveis pelo sentido mais
esforços e recursos para a preservação e recuperação de áreas naturais consideradas permanente dos recursos naturais tão necessários a nossa existência.
estratégicas, pois delas vários ecossistemas são dependentes.
Dentre estas áreas, consideradas estratégicas, destacam-se as Áreas de HISTÓRICO
Preservação Permanente (APPs), que têm papel vital dentro de uma microbacia, Os primeiros sinais de degradação ambiental e, principalmente, a metodologia
pois são responsáveis pela manutenção, preservação e conservação dos ecossistemas de ocupação irracional, segundo o histórico da Legislação Florestal Ambiental do
ali existentes, notadamente dos aquáticos. Brasil, de Siqueira (1993), tiveram início a partir do descobrimento do Brasil, com as
As APPs foram criadas pelo Código Florestal brasileiro (lei no 4.771/65, alterada fundações de vilas, cidades e portos ao longo da costa, que irá perdurar por mais de
pela lei no 7.803), em que os direitos de propriedade são exercidos, porém com quatro séculos. Segundo Milaré (2000), a própria colonização do Brasil foi feita,
limitações. A APP consiste em uma faixa de preservação estabelecida em um razão dentre outras, por pessoas que foram degredadas definitivamente para o país, com
do relevo, geralmente ao longo de cursos d’água, nascentes, em topos e encostas de pena máxima para o dano ambiental de corte de árvores de fruto, estipulada pelas
morros, destinados à manutenção da qualidade do solo, das águas e também para ordenações de Filipinas?.
funcionar como “corredores de fauna” (Milaré, 2000). Segundo Siqueira (1993), o modelo de colonização adotado buscava manter o
Um dos problemas mais relevantes observados nas APPs tem sido o domínio territorial e desenvolver a agricultura, o que levou inexoravelmente à
histórico e contínuo desrespeito aos ecossistemas que as compõem, onde os devastação florestal com a conseqüente degradação ambiental.
recursos naturais são utilizados, quase sempre, sem a adoção de critérios A competição entre as florestas naturais e a agricultura dessa época
técnicos/científicos, respeito à legislação pertinente e, muito menos, foi particularmente representada pela cultura da cana-de-açúcar, a qual
respeito ao saber popular. se situava nas áreas mais férteis próximas da costa brasileira.
Assim, numa microbacia hidrográfica, a utilização Esse tipo de cultivo perdurou por quase três séculos,
de práticas inadequadas e degradantes, em áreas que até 1797, quando o Reino de Portugal disciplina o corte de
deveriam permanecer inalteradas, como as APPs, madeiras nas matas e arvoredos à borda da costa e rios
Um esforço efetivo, visando à proteção dos
acarreta sérios danos ao meio ambiente e, principalmente, recursos hídricos, deve começar pelo entendi-
navegáveis. Esse primeiro instrumento legal visava
aos cursos d’água. Estes ficam vulneráveis pelos efeitos mento, através de um processo de educação, do salvaguardar uma reserva de florestas para atender às
maléficos da erosão, dentre os quais o assoreamento, papel das APPs numa sub-bacia, para a preser- necessidades da Coroa.
vação/conservação dos ecossistemas, de forma Em 1831, é extinto o monopólio do império sobre o
eutrofização e diminuição das espessuras da lâmina
que garanta o fornecimento regular e permanente
d’água. pau-brasil e os proprietários de áreas florestais devem
da água potável dos mananciais hoje explorados.
Fica evidenciado o importante e vital papel das conservar as madeiras utilizadas pela Coroa numa faixa de
APPs dentro de uma sub-bacia, pois elas preservam os dez léguas da costa. Nestas proteções descritas prevalece o
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princípio econômico, do que o conservacionista, propriamente dito. plantadas e nativas, vinculando o consumo à reposição florestal para as grandes
A partir de 1850, iniciaram-se as pressões por parte dos proprietários de consumidoras e, finalmente pelo incentivo ao Reflorestamento através de deduções
terras, para acabar com as restrições de conservação de madeiras de interesse da fiscais.
Coroa. Assim, em 1876, terminaram as restrições a exploração das madeiras de lei, Somente no final da década de 60 e início da de 70 é que se instituiu através
as quais permanecem somente para as terras públicas, ou seja, àquelas pertencentes do Instituto Brasileiro do Café (IBC), hoje extinto, o Plano de Renovação Cafeeira,
à Coroa. quando as práticas conservacionistas começaram a ser implementadas, porém, a
Com o fim do ciclo da cana, iniciou-se, no final do século XVIII e principio visão preservacionista não aconteceu e a ocupação desordenada das áreas de
do século XIX, o ciclo do café, quando grandes áreas protegidas por florestas nativas, preservação permanente continuaram.
na sua maioria em topo de morro, foram dizimadas, e com elas muitas nascentes A partir daí, o cerrado brasileiro quase foi exterminado, por incentivo do
também desapareceram. Outro fator determinante, para a degradação destas áreas próprio governo brasileiro. Florestas nativas eram erradicadas para formação de
utilizadas para o plantio de café, refere-se à falta de práticas conservacionistas, pois florestas homogêneas e, mais uma vez, as APPs em torno de nascentes, topo de
é sabido que tais plantios foram feitos morro abaixo, sem construção de terraços e morro, faixas marginais de cursos d’água e até mesmo veredas, não foram respeitadas
curva de nível, daí surgindo outra forma de degradação de cursos d’água, conseqüente e hoje, as conseqüências desta irresponsabilidade são sentidas por todos.
da formação de processos erosivos causando assoreamento daqueles Não podemos esquecer de que o cerrado e outros ecossistemas também foram
corpos d’água adjacentes as áreas degradadas. utilizados da mesma forma para a expansão agrícola e pecuária, quando as APPs
Finalmente, em 1934, com o Decreto nº 23.793/34, não foram respeitadas.
foi estabelecido o primeiro Código Florestal Brasileiro, o qual Hoje, o cerrado é tido como um dos ecossistemas ameaçados de extinção,
com características preservacionistas, previa o limite de uso juntamente com a mata Atlântica e a sua recuperação deve começar pelas APPs,
da propriedade de acordo com o tipo florestal existente, criava principalmente porque estas áreas são responsáveis pela proteção, preservação e
as florestas protetoras, as remanescentes e as de rendimento, manutenção de um dos recursos naturais mais importantes para a sobrevivência de
definia os modelos de exploração das florestas públicas e várias espécies, que são os recursos hídricos.
privadas, a estrutura do serviço de fiscalização das atividades
florestais, as penas, infrações e respectivos processos aos FUNÇÃO AMBIENTAL DAS APPs
infratores (Siqueira, 1993). A recente alteração da Lei no 4.771/65, através da reedição da Medida
Em 1965, instituiu-se o novo Código Florestal, pela Lei Provisória n0 1.956-56, de 16/11/00 (Brasil, 2000b) estabelece um conceito da
nº 4.77l/65 (Pinto, 1996), que vigora até os dias de hoje com função ambiental das APPs e redefine as condições em que estas podem ser utilizadas.
algumas alterações, quando são estabelecidas, dentre outras, as Os benefícios proporcionados pelos ecossistemas estão relacionados com o
florestas de preservação permanente, a exploração das florestas conceito de funções ambientais, isto é, a capacidade de eles fornecerem bens e
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serviços que satisfaçam, direta ou indiretamente, as necessidades humanas (Constanja Assim, todas matas ou coberturas vegetais são importantes para a proteção
et alí., 1997, citados por Santos et aí., 1999), categorizado de modo geral em Funções das áreas onde elas se localizam. Porem, nas áreas consideradas de preservação
de Regulação, de Suporte e de informação (Groot, 1992, citado por Santos et aí., permanente a cobertura vegetal é imprescindível, pois estes locais são caracterizados
1999). Esta proposta ambiental, segundo Santos et aí. (1999), baseiam-se na pela sua fragilidade em função da sua posição no relevo e pela importância na proteção
perspectiva ambiental em que a manutenção dos processos ecológicos essenciais que conferem não só ao solo, mas à fauna e à flora.
(funções de regulação) e espaço de vida adequado (funções de suporte), proporcionam Portanto, a manutenção da vegetação florestal destas áreas numa sub-bacia
os requisitos para as funções de produção e de informação. tem grande influência em fatores importantes relacionados com a sua função
As perdas dessas funções podem-se determinar danos irreversíveis aos ambiental, e porque não dizer socioambiental, como escoamento das águas de chuva;
ecossistemas (Ehrlich & Mooney, 1983, citados por Santos et aí., 1999), tornando- dissipação de energia do escoamento superficial; estabilidade de encostas; proteção
se necessária a aplicação de energia e de dinheiro para restaurar, mitigar ou substituir das margens de rios e demais cursos d’água; estabilização e manutenção de nascentes;
as funções afetadas, para o não comprometimento efetivo da qualidade de vida. impedimento do assoreamento dos corpos d’água; abastecimento do lençol freático
A função ambiental das APPs, cobertas ou não por vegetação nativa, é promovendo o aumento da água armazenada e permitindo o equilíbrio no seu
entendida na forma da lei, como sendo a de preservar os recursos hídricos, a fornecimento, durante todas as estações do ano. Estes fatores são vitais para
paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de flora e fauna, manutenção principalmente do ciclo hidrológico de uma sub-bacia, bem como na
além de proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas (Brasil, ciclagem dos nutrientes, refletindo na qualidade de vida de todos os seres.
2000b). Destacamos a seguir outras funções ambientais das APPs dentro de uma sub-
bacia (Santos et aí., 1999):
a) controle biológico, manutenção da biodiversidade, armazenamento
e reciclagem de matéria orgânica, nutrientes, resíduos orgânicos e
industriais, corredores da fauna;
b) produção de recursos genéticos e medicinais;
c) funções de informação como científica, educacional e a estética,
pois os ambientes naturais fornecem infinitas oportunidades de
enriquecimento espiritual, desenvolvimento cognitivo e de recreação,
como o turismo no espaço natural.
Outras funções ambientais das APPs são as referentes à estética, pois com ela
valoriza-se sobremaneira uma propriedade rural, quando entendemos e relacionamos
a paisagem com atrativo turístico, científico e educacional.
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Há de se considerar ainda, em relação a sua função ambiental, que a atender sua exploração pelo homem.
recuperação, conservação e a efetiva proteção das APPs devam ser pressupostos Milaré (2000) ainda comenta que, os Estados, assistem omissos, entregando
básicos nas ações voltadas a qualquer plano de manejo integrado para bacias e sub- a tutela do meio ambiente ‘a responsabilidade exclusiva do próprio indivíduo ou
bacias hidrográficas. Há, por exemplo, sub-bacias em regiões de relevo muito cidadão que se sentisse incomodado com atitudes lesivas a sua saúde. Segundo esse
acidentado com predomínio na ocupação de pequenos produtores rurais fixados sistema, por óbvio, a irresponsabilidade era a regra, a responsabilidade a exceção.
nas baixadas fluviais que, para conseguirem a sua subsistência, necessitam utilizar- Pelo fato de o particular ofendido não se apresentar normalmente, em condições de
se das terras mais próximas aos cursos d’água e, para tanto, usam áreas consideradas assumir e desenvolver ação eficaz contra o agressor, quase sempre se apresentavam
de preservação permanente, ou seja, aquelas cobertas com vegetação ciliar. Nesse poderosos grupos econômicos, quando não o próprio Estado.
caso, a proteção dos morros, encostas, nascentes e parte dos seus cursos poderiam
A partir da Lei 6.938/81 (Pinto, 1996) e da Constituição Federal de 1988
ser práticas compensatórias, recomendadas e exigidas, que, além de repararem o (Brasil, 1992), a questão ambiental passa a ser tratada legalmente de
dano, poderiam atenuar o conflito entre preservar e produzir. uma forma mais ampla. Mas, segundo Milaré (2000), infelizmente a
proteção ao meio ambiente no país não recebe do Poder Público a atenção
Não é absurdo afirmar que, para realmente se estabelecer e promover medidas
proposta pela Constituição de 1988. Se no plano mais amplo, a legislação
que visem ao saneamento rural de uma sub-bacia, obrigatoriamente, teremos de ambiental é festejada, espanta verificar, então, que no terreno da realidade,
realizar a integração da defesa das APPs às outras práticas já utilizadas ou mesmo isto é, das atividades degradadoras, as normas ambientais não tenham
sido capazes de alcançar os objetivos que justificam sua existência, o
preconizadas, sendo ainda necessária a efetivação de uma política educacional de principal deles sendo a compatibilização entre o crescimento econômico
base, sem a qual, todas e quaisquer medidas tomadas não passarão de meros paliativos. e a preocupação com o meio ambiente. E por quê?

Desta forma, proteger APPs é garantir e conferir pilar fundamental para


conservação dos nossos recursos hídricos, fauna e ecossistemas florestais. O Poder Público justifica-se com prioridades mais urgentes, geralmente de
cunho econômico, e a coletividade, igualmente, tem suas dificuldades em
LEGISLAÇÃO compreender, reivindicar e agir efetivamente na proteção do meio ambiente. O
A devastação/degradação do meio ambiente é um problema que afeta todas resultado dessa omissão é a degradação ambiental nas mais diversificadas formas.
as formas de vida do globo. Sua proteção é prioridade de todas as nações do mundo, O descumprimento da Constituição Federal e da legislação ambiental é flagrante.
sobretudo, das nações economicamente mais desenvolvidas, que são, A legislação ambiental brasileira dispõe de alguns instrumentos à disposição
comprovadamente, as que mais degradam o planeta. A proteção do meio ambiente do Poder Público e da sociedade na proteção do meio ambiente.
tem-se tornado uma questão de sobrevivência. O primeiro instrumento jurídico a normatizar a proteção das matas ciliares
No Brasil, conforme Milaré (2000), até 1980, o conjunto de leis ambientais de APPs foi o Decreto 23.793, de 23 de janeiro de 1934 — antigo Código Florestal
existentes não se preocupava em proteger o meio ambiente de forma específica e — que no seu artigo 40 classificava as matas ciliares como florestas protetoras,
global, dele cuidando de maneira diluída, e mesmo casual, e na exata medida de visando à conservação do regime das águas e evitando a erosão das terras pela ação
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dos agentes naturais. Nessa classificação eram consideradas de conservação perene “Consideram-se de preservação permanente, só pelo efeito desta
e inalienáveis, a menos que os eventuais adquirentes se obrigassem por si, seus Lei, as florestas e demais formas de vegetação natural situadas:
herdeiros ou sucessores, a mantê-las sob o regime legal de florestas protetoras.
Competia ao Ministério da Agricultura a classificação das matas ciliares nesse regime, a) ao longo dos rios ou de qualquer curso d’água desde o seu
sendo que esse regime especial ainda determinava a isenção de qualquer tributação nível mais alto em faixa marginal cuja largura mínima seja:
(Wiedmann & Dornelies, 1999). 1) de 30m para os cursos d’água de menos de 10 m de largura;
Assim, considerando insuficiente a proteção às matas ciliares, a Lei no 4.771/ 2) de 50m para os cursos d’água que tenham de 10 a 50m de
65 garantiu-lhes um regime de preservação propriamente dito, incluindo-as como largura;
uma das hipótese de Preservação Permanente. Posteriormente, a Lei no 6.938/81, 3) de 100 m para os cursos d’água que tenham de 50 a 200m de
no seu artigo 18 deu a essas áreas o status de reservas ou estações ecológicas, largura;
conforme a dominialidade seja privada ou pública (Wiedmann & Dornelles, 1999). 4) de 200m para os cursos d’água que tenham de 200 a 600m de largura;
No entanto, este status foi extinto com a revogação do supracitado artigo 18 através 5) de 500m para os cursos d’água que tenham a largura superior a 600m;
da Lei 9.985/00 (Brasil, 2000a) que instituiu o Sistema Nacional de Unidade de b) ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios de água naturais ou artificiais;
Conservação da Natureza (SNUC). c) nas nascentes ainda que intermitentes e nos chamados olhos d’água, qualquer
Por outro lado, a Lei 9.433 de 8 de janeiro de 1997, que instituiu a Política que seja a sua situação topográfica, num raio mínimo de 50m de largura;
Nacional de Recursos Hídricos, segundo Wiedmann & Dornelles (1999), reforça e d) no topo de morros, montes, montanhas e serras;
reafirma a necessidade jurídica da proteção das APPs, à medida que a referida lei e) nas encostas ou parte destas com declividade superior a 450, equivalente a 100%
tem como fundamentos o fato de que a água, embora seja recurso natural renovável, na linha de maior declive;
é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico e um bem de domínio f) nas restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues;
público. Sua disponibilidade deve ser assegurada à atual e às futuras gerações, em g) nas bordas dos tabuleiros ou chapadas, a partir da linha de ruptura do relevo, em
padrões adequados de qualidade aos respectivos usos e faixa nunca inferior a 100m em projeções horizontais;
à prevenção e defesa contra eventos decorrentes do uso h) em altitudes superiores a 1 .800m, qualquer que seja a vegetação.
inadequado dos recursos naturais. Parágrafo Único. No caso de áreas urbanas, entendidas como aquelas compreendidas
A Lei no 4.771/65 estabelece no seu artigo 2o nos perímetros urbanos definidos por lei municipal, e nas regiões metropolitanas e
(alterado pela Lei nº 7.803/89) as dimensões mínimas aglomerações urbanas, em todo o território, abrangido, observar-se-á o disposto nos
de faixa marginal a serem preservadas para os rios, respectivos planos diretores e leis de uso do solo, respeitando os princípios e limites
nascentes, lagos, lagoas e reservatórios, exercendo-se os a que se refere este 2o artigo.
direitos parciais de propriedade, em que:
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No art 3o da Lei no 4.771/65 dágua com até 20/há de superfície, cuja faixa máxima marginal será de
“Consideram-se, ainda, de preservação permanente, quando assimdeclaradas por 50m.
ato do Poder Público, as florestas e demais formas de vegetação natural destinadas: -100m para as represas hidreelétricas.”
a) a atenuar a erosão das terras;
b) afixaras dunas; A proteção às veredas também está incluída na Resolução Conama no 04/85,
c) a formar faixas de proteção ao longo de rodovias e ferrovias; observando que essa faixa mínima deve garantir a proteção da bacia de drenagem
d) a auxiliar a defesa do território nacional, a critério das autoridades contribuinte.
militares; A supressão de vegetação em APPs, segundo Brasil (2000b), somente poderá
e) a proteger sítios de excepcional beleza ou de valor científico ou histórico; ser autorizada em caso de utilidade pública ou de interesse social, devidamente
f) a asilar exemplares da fauna ou flora ameaçados de extinção; caracterizada e motivada em procedimento administrativo próprio, quando inexistir
g) a manter o ambiente necessário à vida das populações silvícolas; alternativa técnica e locacional ao empreendimento proposto. Esta autorização
h) a assegurar condições de bem-estar público. dependerá do órgão ambiental competente — Instituto Estadual de Florestas (IEF),
10. A supressão total ou parcial de florestas de preservação permanente só em Minas Gerais, com anuência prévia, quando couber, do órgão federal ou municipal
será admitida com prévia autorização do Poder Executivo Federal, quando do meio ambiente. No caso de vegetação com APPs situadas em área urbana, o
for necessária à execução de obras, planos, atividades ou projetos de município é competente para a referida autorização, desde que este possua conselho
utilidade pública ou interesse social. de meio ambiente com caráter deliberativo e plano diretor mediante anuência prévia
20. As florestas que integram o patrimônio indígena ficam sujeitas ao regime do órgão ambiental estadual competente, fundamentada em parecer técnico.
de preservação permanente (letra g) só pelo efeito desta lei”. Para o caso de supressão de vegetação nativa protetora de nascentes, ou de
dunas e mangues, a autorização somente poderá ser concedida se o caso for de
Quanto às lagoas, lagos ou reservatórios d’água naturais ou artificiais, a Lei utilidade pública (Brasil, 2000b).
nº4.771/65 não estabeleceu os limites mínimos para o regime especial de proteção, E, ainda, para a implantação de reservatório artificial é obrigatória a
o que foi feito pela Resolução Conama no 04/85 que no seu art. 3º, item II (Conama, desapropriação e aquisição, pelo empreendedor, também das APPs criadas no seu
1992), instituiu: entorno (Brasil, 2000b).
“ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios d’água naturais ou artificiais, A resolução Conama no 04/85 traz ainda definições muito importantes que
desde o seu nível mais alto medido horizontalmente, em faixa marginal, contribuem para melhor identificação das APPs, quais sejam:
cuja largura mínima será: a) pouso de aves - local onde as aves se alimentam, ou se reproduzem,
- de 30m para os que estejam situados em áreas urbanas pernoitam ou descansam;
- de 100m para os que estejam situados em áreas urbanas, execeto os corpos b) aves de arribação - qualquer espécie de ave que migre periodicamente;
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c) leito maior sazonal - calha alargada ou maior de um rio, ocupada nos forma geralmente alogada, produzinda por sedimentos transportados pelo
períodos anuais de cheia; mar, onde se encontram associações vegetais mistas características ,
d) olho d’água, nascente - local onde se verifica o aparecimento de água comumente conhecidas como “vegetação de restingas”;
por aforamento do lençol freático; n) manguesal - ecossistema litorâneo que ocorre em terrenos baixos sujeitos
e) vereda - nome dado no Brasil Central para caracterizar todo espaço à ação das marés localizadas em áreas relativamente abrigadas e formado
brejoso ou encharcado que contém nascentes ou cabeceiras de cursos d’água por vasas lodosas recentes, às quais se associam comunidades vegetais
de rede de drenagem, onde há ocorrência de solos hidromórficos com características;
renques buritis e outras formas de vegetação típica; o) duna - formação arenosa produzida pela ação dos ventos no todo, ou
f) cume ou topo - parte mais alta do morro, monte, montanha ou serra; em parte, estabilizada ou fixada pela vegetação;
g) morro ou monte - elevação do terreno com cota do topo em relação à p) tabuleiro ou chapada - formas topográficas que se assemelham a planaltos,
base entre 50m e 300m e encostas com declive superior a 30% com declividade média inferior a 10% (aproximadamente 60) e extensão
(aproximadamente 17v) na linha de maior declividade; o termo “monte” superior a 10 ha, terminadas de forma abrupta; a “chapada” caracteriza-se
aplica-se de ordinário à elevação isolada na paisagem; por grandes superfícies a mais de 600m de altitude;
h) serra - vocabulário usado de maneira ampla para terrenos acidentados q) borda de tabuleiro ou chapada -locais onde tais formações topográficas
com fortes desníveis, freqüentemente aplicados a escarpas assimétricas com terminam por declive abrupto, com inclinação superior a 100% ou 450
vertente abrupta e outra menos inclinada; graus.”
i) montanha - grande elevação do terreno, com cota em relação à base A Lei n0 4.771/65 estabeleceu também, no seu art. 14 que, além dos preceitos
superior a 300m e frequentemente formada por agrupamentos de morros; gerais a que está sujeita a utilização destas florestas, “o Poder Público Federal ou
j) base de morro, monte ou montanha - plano horizontal definido por planície
ou superfície de lençol d’água adjacente ou nos relevos ondulados, pela
cota da depressão mais baixa ao seu redor;
k) depressão - forma de relevo que se apresenta em posição altimétrica
mais baixa do que porções contíguas;
l) linha de cumeada - interseção dos planos das vertentes, definindo uma
linha simples ou ramificada, determinada pelos pontos mais altos a partir
dos quais divergem os declives das vertentes, também conhecida como
“crista”, “linha de crista” ou ‘cumeada”
m) restingas acumulação arenosa litorçanea, paralela á linha da costa, de
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Estadual poderá prescrever outras normas que atendam às peculiaridades locais, o


que foi reforçado pela Constituição Federal de 1988, (au. 24, VI). Entende-se,
assim, que havendo legislação estadual, que obedeça a norma geral, aos limites da
Lei n0 4.771/65, esta poderá ser aplicada. Na sua falta, aplica-se de forma subsidiária
a Resolução Conama n0 04/85. FIGURA 1- REPRESENTAÇÃO DO RELEVO
E, ainda, considerando a necessidade do florestamento e reflorestamento APÓS A INTERVENÇÃO DO HOMEM
de APPs nas terras privadas, o Poder Público, conforme art. 18 da Lei n 4.771165,
o

poderá fazê-lo sem desapropriá-las, se o proprietário não o fizer.


A lei n o 7754/89(Pinto/96)reafirma a necessidade de protenção para
florestas nas nascentes dos rios, estabelecendo a obrigatoriedade de reflorestamento
com espécies nativas nos locais degradados.
No Domínio de Mata Atlântica , as APPs têm uma proteção especial, pois
sua utilização é proibida pelo Decreto nº 750/93 (Pinto, 1996).
As agressões às APPs eram punidas como contravenções penais (art. 26,
Lei nº 4.771/65). Em 1998 com o advento da Lei de Crimes Ambientais - Lei no
9.6O5/98 (Brasil, 1999) — essas agressões passaram a ser consideradas como crime,
com penas de até três anos, conforme o crime cometido.
A lei, ao estabelecer as APPs, fez com limitações de formas genéricas,
atingindo propriedades indeterminadas, porém não inviabilizou totalmente o direito
de propriedade. Em decorrência disso, Wiedmann & Dornelles (1999) mencionam
A-Topo de Morro degradado - B-Nascentes sem proteção - C- Curso dágua formado pela
que as restrições de uso das APPs não demandam desapropriação, ou seja, são
nascente B sem proteção - D-Largura do Rio - E-Largura da Faixa Marginal
gratuitas (ônus social), no entanto, estas autoras admitem que as APPs acarretam
um ônus real à propriedade. No entanto estas áreas não são consideradas para
avaliação do grau de produtividade das propriedades privadas. Sendo isentas de
tributação e do pagamento do Imposto Territorial Rural, segundo a Lei no 8.171191
de Política Agrícola em seu art. 104 § único (Pinto, 1999).
Para ilustrar o referencial da legislação sobre APPs são apresentadas a seguir
as Figuras 1 e 2:
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FIGURA 2 - REPRESENTAÇÃO DO RELEVO COMO DEVERIAM poderão ser beneficiadas ou prejudicadas, de acordo ou em função das atitudes
PERMANECER COM TODAS AS APPs PROTEGIDAS COM tomadas, sejam preservacionistas/conservacionistas ou somente predadoras.
Quanto à importância da função ambiental e mesmo sócio-ambiental destas
VEGETAÇÃO MARGINALCONCLUSÃO
áreas de preservação permanente, principalmente quando nos referimos ao meio
rural e, por conseguinte, aos produtores rurais com suas propriedades, é nosso
entendimento que estes, após anos de uso sem o devido respeito aos recursos nelas
existentes, notadamente dos hídricos, deveriam entendê-las como benfeitorias rurais
e como tal protegê-las e conservá-las valorizando, assim, suas propriedades. Este
seria um grande incentivo.
É imprescindível que o proprietário rural não visualizasse as APPs como
áreas perdidas ou inaproveitáveis de uma propriedade e sim áreas que estão
produzindo água, carbono, umidade do ar etc., em condições de gerar um microclima
favorável as outras produções, na mesma propriedade.
Finalmente, devemos entender o meio ambiente como patrimônio universal
da humanidade e que somente com a participação democrática da população
conseguiremos entendê-lo e respeitá-lo, garantindo assim melhor qualidade de vida
para a presente e futuras gerações.
A constatação e o reconhecimento da importância vital das APPs em uma
sub-bacia, principalmente em função da sua influência direta sobre valores qualitativos REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
e quantitativos, para os diversos recursos naturais como a flora, fauna e, em especial,
os recursos hídricos, nos levam a repensar as atitudes protecionistas ao homem, muitas BRASIL. Constituição. Constituição da República Federativa do Brasil: 1988.
das vezes por motivos políticos e/ou econômicos, em detrimento da real proteção São Paulo: Saraiva, 1992. l68p.
necessária. BRASIL. Lei no 9985, de 18 de julho de 2000. Institui o Sistema Nacional de
É nossa função como técnico/cidadãos potencializarmos para a sociedade a Unidades de Conservação - SNUC e dá outras providências. Disponível site
sua própria participação e envolvimento através da mobilização, motivação e educação, Planalto (2000). URL:
no processo de mudança do comportamento em relação à compreensão da função http://www.planalto.gov.br Consultado em 6 nov. 2000a.
ambiental das APPs para a permanente vida de todos os seres de uma sub-bacia. A BRASIL. Medida Provisória nu 1956-56, de 16 de novembro de 2000. Altera
consciência precisa ser levada tanto àsociedade urbana quanto à rural, pois ambas os arts. lo, 4o, 14, 16 e 44, e acresce dispositivos à Lei no 4771, de 15 de setembro
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de 1965, que institui o Código Florestal, bem como altera o art. 10 da Lei procedimentos e ferramentas. Brasília: IBAMA, 1995. l32p.
9393, de 19 de dezembro de 1996, que dispõe sobre o Imposto Territorial BRASIL. Decreto no 3179, de 22 de setembro de 1999. Dispõe sobre a
Rural, e dá outras providências. Disponível site Planalto (2000). URL: http:/ especificação das sanções aplicáveis às condutas e atividades lesivas ao meio
/www.planalto.gov.br Consultado em 28 nov. 2000b. ambiente e dá outras providências. Diário Oficial [da República Federativa do
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Lei da vida: a Lei dos Crimes Brasil], Brasília, n.182, p.l-S, 22 set. 1999.
Ambientais - Lei no 9605/98 e Decreto nº 3 179/99. Brasília, 1999. Seção 1.
CONAMA (Brasília, DF). Resoluções do CONAMA 1984/91. 4.ed.rev.aum. CONAMA (Brasília, DF). Resolução no 237, de 19 de dezembro de 1997.
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MILARÉ, E. Direito do ambiente: doutrina- prática- jurisprudência- glossários. FÓRUM GEO-BIO-HIDROLOGIA, 1, 1998. Anais... Estudo em vertentes
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PINTO, W. de D. Legislação federal de meio ambiente. Brasília: IBAMA, GRANZIERA, M.L.M. Direito de águas e meio ambiente. São Paulo: Icone,
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SANTOS, J.E.; NOGUEIRA, E; PIRES, J.S.R.; OBARA, A.T.; PIRES, INFORME AGROPECUÁRIO. Agropecuária e ambiente. Belo Horizonte:
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estudo de caso - Estação Ecológica de Jatai. In: SIMPOSIO INFORME AGROPECUARIO. Conservação do solos. Belo Horizonte:
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Legislação ambiental aplicada à mata ciliar. In: sobre a Política Florestal do estado de Minas Gerais. Belo Horizonte: IEF,
SIMPÓSIO MATA CILIAR, 1999, 1995. 26p.
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UFLA/CEMIG, 1999. agroambiental: perspectivas, problemas, prioridades. São
Paulo Edgard Blucher 1999.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

AGUIAR, R.A.R. de. Direito do meio ambiente e


participação popular. Brasília: IBAMA, 1994. llOp.
AVALIAÇÃO de impacto ambiental: agentes sociais,

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QUANTO CUSTA NÃO PRESERVAR A LEI


ÁREAS DE PRESERVAÇÃO
Crimes contra florestas de preservação permanente:
PERMANENTE
Lei de Crimes Ambientais no. 9.605 de 12/02/1998 e Decreto no. 3.179 de 21/
09/1999.
O QUE VOCÊ DEVE SABER
INFRAÇÕES PENALIDADE
São áreas de preservação permanente, não podendo ser desmatadas, as flo- Destruir ou danificar florestas de Detenção de um a três anos e/ou mul-
restas e demais formas de vegetação natural situadas: preservação permanente ou des- ta de R$1.500,00 (um mil e quinhentos
respeitar as normas de sua utiliza- reais) a R$50.000,00 (cinquenta mil re-
ð ao longo dos rios ou qualquer curso d’água; ção ais) por hectare.

ð ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios d’água natu Cortar árvores em florestas de pre- multa de R$1.500,00 (um mil e qui-
servação permanente sem licença nhentos reais) a R$5.000,00 (cinco mil
rais ou artificiais;
da autoridade competente. reais), por hectare ou fração ou
ð nas nascentes e nos chamados olhos d’água; R$500,00 (quinhentos reais), por metro
Detenção de um a três anos e/ou cúbico.
ð no topo de morros, montes, montanhas e serras;

ð nas encostas; Extrair, sem permissão da autorida- Multa de R$1.500,00 (um mil e qui-
de competente, pedra, areia, cal, ou nhentos reais), por hectare ou fração.
ð nas restingas; qualquer espécie de minerais, em flo-
restas de preservação permanente.
ð nas bordas dos tabuleiros ou chapadas.

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FLORESTAS URBANAS Wantuelfer Gonçalves 1

A população urbana vem crescendo de forma assustadora, pois cerca de dois de certa forma, as paisagens bucólicas trocadas por aquelas indústrias urbanas.
terços da população mundial estão vivendo em cidades. Mais que crescer, as cidades Hoje, o plantio de árvores no espaço urbano já não pode ser realizado de
“incham”, uma vez que as condições urbanas não conseguem acompanhar esse forma amadorística e as necessidades urbanas a serem mitigadas passam, além do
crescimento. Observa-se que o homem vem, cada vez mais, procurando as estético, pelos fatores psicológico, econômico, social e político. Essa visão mais
comodidades da cidade. globalizante e essa necessidade técnica de amenizar problemas tão variados fazem
A esterilidade da vida citadina, apesar das comodidades, tem de ser resolvida com que seja procurado um termo mais abrangente: floresta urbana. Hoje, árvores
com melhoria de qualidade, através de um ambiente mais saudável e de uma paisagem enfileiradas já não são suficientes para a melhoria da qualidade de vida e, desde o
mais bonita para influências psicológicas favoráveis. Para isso, as florestas urbanas século passado, já por imposição da industrialização, o homem vem procurando
são o elemento primordial. aumentar a massa arbórea no tecido urbano com a criação dos parques municipais e
Repensando a arborização metropolitanos. Assim, a diferença básica entre a arborização urbana e a
A necessidade de introduzir a vegetação no espaço urbano se deve, floresta urbana está na mudança de visão do elemento árvore, de individual
sem dúvida, ao advento da industrialização, seja pelo fator psicológico, seja para coletivo.
pelo fator fisiológico, em razão da precariedade das condições de vida Nesse contexto, ganha importância todo o espaço urbano onde
urbana quando da primeira revolução industrial. Enquanto a maioria se puder agrupar o elemento árvore na formação de massa vegetal
das cidades se preocupava com ajardinamento de espaços mais abertos que consiga um efeito ecológico melhor que uma árvore isolada.
e criação de praças públicas, muitas vezes sem vegetação, Paris, Assim, as praças, os quintais, os fundos de vale, as encostas e
por obra de seu administrador, o Barão Hausmann, recebeu os terrenos provisoriamente vazios passam a ser objetos
um plano urbanístico que concebia a abertura das ruas de uma política florestal dentro do perímetro
na criação de avenidas e bulevares, que, com urbano. Consequentemente, essa massa arbórea
plantio de árvores enfileiradas, marca o estilo de Segundo o professor Darcy Ribeiro, no seu livro “O Povo Brasilei- está sujeita a um manejo adequado como outros
arborização como é conhecido hoje, denominado ro”, são duas as causas do crescimento urbano: o monopólio da ecossistemas florestais, acrescida, naturalmente,
terra e a monocultura. Na verdade, existe uma terceira, ou uma
arborização urbana. Naquela época, o conceito de do grande desafio de conciliação com a presença
decorrência dessas duas, que é a legislação trabalhista. Antes,
arborização de ruas contemplava apenas a mesmo não sendo proprietário, o agricultor vivia na terra por con- do homem e de toda a rede a seu serviço.
preocupação estética e a mitigação psicológica, cessão. Hoje, por força da lei, o proprietário rural já não se arrisca Essa nova visão ou essas novas
a ter o trabalhador morando em suas terras. Isto vale dizer que,
com a intenção de trazer para os moradores recém- antes, o trabalhador urbano vivia nas cidades e o trabalhador rural
necessidades, além da estética, exigem um
saídos da área rural uma paisagem que lembrasse, vivia no campo. Hoje, ambos vivem nas cidades e isso reforça a comportamento holístico e conhecimentos
assertiva do professor Darcy, já que cada vez mais se afiguram o
técnicos mais apurados. Em outras palavras, o
1
GONÇALVES, Wantuelfer. Revista Ação Ambiental. Viçosa: monopólio e a monocultura.
UFV, A2, N9, Dez, 1999, p17 a 19. plantio de árvores no meio urbano deixa de ser
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uma tarefa espontânea para ser uma tarefa intencional, realizada não por um como elementos de planejamento urbano. Para tanto, sugere-se que cidades obrigadas
profissional, mas por vários profissionais, uma tarefa multidisciplinar. Essa a possuir plano diretor incluam em seu planejamento urbano um projeto de
dificuldade e essa necessidade levam a proposição de uma árvore urbana equivalente arborização.
a 15 árvores rurais. Essa obrigatoriedade leva a outro ponto crucial da concepção da árvore como
Nos Estados Unidos, para 100 milhões de árvores urbanas, há a equivalência bem urbano: o da legislação. A árvore urbana isolada ou a floresta urbana tem de ser
de 1.500.000 árvores no meio rural. Só esses números já justificam o termo “flores- objeto de uma legislação específica federal, estadual e municipal. Na federal, assuntos
ta urbana”. Além disso, o plantio linear, apesar de tão importante, principalmente genéricos aplicáveis a qualquer parte; na estadual, assuntos regionais, característicos
em termos estéticos, já é questionado pela própria população: em Curitiba, uma das condições ambientais, culturais e políticas de cada região; na municipal, assuntos
pesquisa mostrou que a árvore é considerada importante pela maioria, mas a rua já específicos de cada município como parcelamento de solo, largura de ruas, comércio
não é o local mais indicado, ficando em quarto lugar na opinião dos entrevistados, local etc. É importante pensar também que o elemento árvore ou as florestas urbanas
depois dos quintais, praças e parques. devem ser indenizáveis pelos danos a elas causados pelos processos de urbanização.
Esse conceito, por ser novo, não foi ainda devidamente assimilado e, por essa
razão, ao se falar em floresta urbana ainda se reporta muito à tradicional visão do A mudança de concepção
plantio linear com função estética.
Assim, destacam-se dois pontos de vital importância: a concepção da árvore
Como dito anteriormente, esse é um conceito novo, ainda não completamente
como bem urbano e a mudança de concepção de arborização urbana para floresta
assimilado. A nova concepção parte de três princípios básicos: primeiro, que
urbana.
o elemento árvore dentro do perímetro urbano tem outras funções a
cumprir além do fator estético; segundo, que a massa arbórea em
A árvore como bem urbano termos ecológicos passa a ter mais relevância que o indivíduo
árvore e terceiro, que esses agrupamentos são objeto de manejo
A antiga preocupação sobre quem interfere com que como o são os diferentes povoamentos florestais em termos
já não faz sentido. A árvore tem de ser vista como um bem ambientais, sociais, econômicos e políticos. Este manejo é,
urbano, como o é um poste de iluminação, um meio-fio ou naturalmente, dificultado pela convivência do vegetal com o
uma rua. Dentro desse espírito, a floresta urbana é objeto de homem e com as redes de serviços no dia-a-dia da cidade. Mas é
pesquisa e planejamento e precisa, naturalmente, do aporte bem verdade também que a árvore ajuda a solucionar diversos
de recursos financeiros para desenvolvimento de experimentações que problemas específicos da urbanização e que merece, portanto, toda
gerem novas tecnologias. É preciso incluir as florestas urbanas e a árvore a preocupação.

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TRABALHANDO A NOVA MARGEM NA ESCOLA - Nova Margem - Vida Nova ao Itapecerica

FLORESTAS QUANTO CUSTA NÃO RESPEITAR A LEI

- Lei nº 4.771 de 15/09/1965 institui o novo Código Florestal. Crimes contra florestas e outras formas de vegetação:
Lei de Crimes Ambientais no. 9.605 de 12/02/1998 e Decreto no. 3.179 de 21/
As florestas existentes no território nacional e as demais formas de vegetação 09/1999 e Lei Florestal de Minas Gerais no. 10.561 de 27/12/1991
são bens de interesse comum a todos os habitantes do País.

INFRAÇÕES PENALIDADE
O QUE VOCÊ DEVE SABER.
As florestas são importantes para: Provocar incêndio em mata ou flo- Multa de R$1.500,00 (mil e qui-
- o controle do clima; resta. nhentos reais) por hectare ou fra-
- a proteção do solo; ção queimada e reclusão de dois a
- a conservação da água; e quatro anos.
- como abrigo dos animais silvestres.
Impedir ou dificultar a regeneração Multa de R$300,00 (trezentos reais)
LEMBRE-SE natural de florestas e demais formas por hectare e detenção de seis meses
As florestas, além de fornecerem abrigo e alimento aos animais silvestres, tam- de vegetação. a um ano.
bém cedem remédios, alimentos e combustíveis à população humana.
Quem faz desmatamento está agredindo a natureza, causando rupturas nos equi- Explorar, desmatar, estocar, etc. flo- Multa de R$50,00 (cinquenta reais) a
líbrios locais e negando abrigo e alimento aos animais. Além disso, astá expon- restas e demais formas de vegetação, R$5.000,00 (cinco mil reais) por hec-
do o solo à ação dos ventos e das chuvas, facilitando a erosão e comprometen- sem prévia autorização de órgão com- tare.
do nossa qualidade de vida. petente.

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A ESCOLLAA DÁ VIDA
NOVA A O ITA
TAPECERICA
A ESCOLA DÁ VIDA NOVA AO ITAPECERICA - Nova Margem - Vida Nova ao Itapecerica

Gestão Ambiental
Os diferentes modos pelos quais a sociedade, em diferentes culturas e através contribuíram para a formação de uma nova Contaminação da Baía de
dos tempos, se relaciona com o meio físico-natural e com o próprio homem é o que sensibilidade; entre eles se destacou, não pelos Minamata: Neste desastre
ambiental a baía foi contaminada
chamamos de questão ambiental. aspectos trágicos, mas também pelo exemplo de
com um elemento derivado do
O meio natural e o meio social são faces de uma mesma moeda e assim reação popular, o caso da contaminação da Baía mercúrio – o metilmercúrio –
indissociáveis. O homem é parte da natureza, e portanto, quando falamos em de Minamata, no Japão. levando à morte e à doença do
sistema nervoso central milhares
destruição desta natureza falamos também em auto-destruição. Esse homem, ser de pessoas ao longo de mais de
natural e social, detentor de conhecimentos e valores socialmente produzidos ao No Brasil, a crise do milagre econômico ao uma geração.

longo do processo histórico, tem o poder de atuar permanentemente sobre o meio, final da década de 1970 e início de 1980, deu origem
Sociedade civil é o domínio da
alterando suas propriedades e modificando sua dinâmica. Podemos entender assim a uma conjuntura sócioeconômica favorável ao vida social organizada que é vo-
o meio ambiente como uma contínua interação do homem com seu meio. movimento da sociedade em direção à luntária, auto-sustentável, autôno-
A gestão ambiental é um processo de mediação de interesses e conflitos redemocratização e, junto com ele, à reorganização ma com relação ao estado, cujos
integrantes compartilham um con-
entre atores sociais que agem/interagem neste meio ambiente. “Este processo de da sociedade civil, através de diversos junto de regras ou ordem legal. En-
mediação define e redefine, continuamente, o modo como os diferentes atores movimentos sociais. Já no final da década de 80, volve cidadãos agindo coletiva-
mente na esfera pública visando
sociais, através de suas práticas, alteram a qualidade do meio ambiente e também esses movimentos asseguram, na promulgação da
expressar seus interesses, pai-
como distribuem na sociedade os custos e os benefícios decorrentes da ação destes Constituição de 1988, a criação de vários xões e ideais, trocar informações,
agentes.” (Anais do Seminário sobre Formação do Educador para Atuar no Processo mecanismos para a implantação no Brasil de uma atingir objetivos mútuos, levar rei-
vindicações ao estado, entre ou-
de Gestão Ambiental .Brasília, 1995) gestão social democrática. tras coisas. (RODRIGUES apud
A atuação dos movimentos foi no sentido de DIAMOND)

Conhecer para fazer valer inscrever na Constituição direitos que pudessem ser
A gestão social deve ser entendi-
da como uma “ação gerencial que
A Constituição de 1988 define, em
Na segunda metade do século XX, reações se desenvolve por meio da
seu artigo 225, que “Todos têm
A década de 1960 é um marco im- interação negociada entre o setor
da sociedade em nível mundial contra as várias direito ao meio ambiente ecologi-
portante na história do movimento público e a sociedade civil” (CUNHA
formas de degradação ambiental se acentuaram camente equilibrado, bem de uso
ambientalista mundial. Em espe- apud TENÓRIO, 1996), ou seja,
comum do povo e essencial à sa-
e ganharam prestígio. Organizadas em torno desta cial, é citada como deste período dia qualidade de vida impondo-se agregando a participação dos diver-
a publicação do livro Primavera Si- sos grupos sociais nas decisões
causa, as sociedades obrigaram os Estados a ao Poder Público e à coletividade
lenciosa, de Rachel Carson que o dever de defendê-lo para as pre- de seu interesse através de conse-
assumirem compromissos de ações mais racionais lhos, audiências públicas, confe-
trata da perda da qualidade de vida sentes e futuras gerações”.
em relação ao meio ambiente. produzida pelo uso indiscriminado
rências, ações civis públicas etc.

Muitos casos de desastres ambientais e excessivo de produtos químicos.


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As políticas públicas têm sido cri- traduzidos em deveres do Estado, através de


adas como resposta do Estado às
políticas públicas.
demandas que emergem da soci-
“Historicamente, a principal origem da SISNAMA - Sistema Nacional de Meio Ambiente
edade e do seu próprio interior, sen-
legislação ambiental brasileira está,
do expressão do compromisso pú-
sobretudo, nos movimentos populares, nas
blico de atuação numa determina-
universidades, nas organizações não
da área, a longo prazo. Dentre as
governamentais, reclamando instrumentos
diversas políticas públicas como a
de controle mais eficazes na proteção do Órgão MMA
econômica, a social, a de ciência e
meio ambiente natural e da qualidade de Central
tecnologia e outras, a política
vida.” (Silva Filho,2003)
ambiental é um tipo de política cuja
expressão se dá através de um Uma nova reorganização social e crescente
conjunto de princípios, diretrizes, preocupação da sociedade com as questões
objetivos e normas, de caráter per-
ambientais culminaram na instituição da Política
manente e abrangente, que orien-
tam a atuação do poder público. Nacional do Meio Ambiente, que juntamente Órgãos
Consultivo CONAMA CNRH
com a Agenda 21 Brasileira, norteiam a ação
Política Nacional do Meio Ambi- e
ente Lei 6938 de 31 de agosto de ambiental no Brasil. Deliberativo
Comitês Bacia
1981, com alterações introduzidas As diretrizes constitucionais introduziram um
pelas leis 7804 de 1989 e 8028
modelo de gestão apoiado nos princípios de
de 1990. Dispõe sobre a política, ANA
seus fins e mecanismos de for- descentralização político-administrativa e na
mulação e aplicação. participação da população na formulação e no Órgão
controle das ações. No que diz respeito ao meio Executivo IBAMA
Agenda 21 Brasileira: Documento
assinado por 178 países que par- ambiente, a estrutura descentralizada do sistema
ticiparam da Conferencia das Na- de gestão ambiental é organizada, ao nível federal,
ções Unidas para o Meio Ambiente
através do SISNAMA (Sistema Nacional de Meio
e Desenvolvimento – Eco 92 - rea-
lizada no Rio de Janeiro em 1992. Ambiente), como se segue:
A Agenda 21 é um instrumento de
interferência nas políticas median-
te planejamento estratégico, com Para o seu funcionamento, além da criação e
o envolvimento da sociedade civil, estruturação dos órgãos, é preciso fazer a
das instituições públicas e priva-
das e das organizações não gover- informação circular. O Sistema Nacional de
namentais. Informação sobre o Meio Ambiente (SINIMA) foi
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SISEMA - Sistema Estadual de Meio Ambiente


criado com o intuito de estabelecer uma base
de dados e gerenciar as informações do sistema.
Secretaria de Estado de Meio Ambiente e
O SISNAMA prevê também a Agenda Desenvolvimento Sustentável – SEMAD
Nacional do Meio Ambiente, em que devem
constar temas, programas e projetos Órgãos Superintendência de
considerados prioritários para melhoria da Subordinados Política Ambiental
Colegiados Superintendência de
qualidade ambiental, indicando os objetivos a Planejamento Gestão e Superintendência de
O SISNAMA se organiza através da serem alcançados no período de dois anos. Finanças Apoio Técnico
constituição do fundo (FNMA) e arti-
Espera-se que o processo de construção da
culação entre gestor (MMA) e conse- Órgãos Conselho Estadual de Conselho Estadual de
lho (CONAMA). Primeira Conferência Nacional de Meio Executivos Política Ambiental – Recursos Hídricos –
Fundo – forma de gestão dos recur- Ambiente em 2003 possibilite o Vinculados COPAM CERH
sos públicos e outros, destinados ao
aperfeiçoamento do sistema e elaboração da
financiamento da política ambiental.
Busca tornar transparente e demo- agenda. Fundação Estadual Instituto Mineiro de
Instituto Estadual
crática a destinação e utilização dos Articulado ao SISNAMA, tem-se, em de Meio Ambiente – Gestão Ambiental –
de Florestas – IEF
recursos. Órgãos FEAM IGAM
nível estadual, a estrutura do SISEMA (Sistema (Agenda Verde)
Gestor – órgão da administração res- Associados (Agenda Marrom) (Agenda Azul)
ponsável pela coordenação, articu- Estadual de Meio Ambiente):
lação e execução da política
Conselho – órgão deliberativo de Núcleos de Meio Ambiente
composição paritária que normatiza, nas Secretarias integrantes do
COPAM (Planejamento, Polícia Militar de Minas
acompanha e avalia a política. Defi-
Órgãos Agricultura, Cultura, Minas e Gerais – PMMG –
ne as agendas públicas que repre- Energia, Saúde, Educação,
Regionais Meio Ambiente
sentam interesses coletivos. Um dos problemas que o sistema de Transportes e Obras Públicas,
Indústrias e Comércio).
gestão apresenta é a falta de capilaridade. Foram
criadas instâncias municipais de meio ambiente
em apenas cerca de 10% dos municípios Comitês de Bacia
brasileiros (dados do Ministério do Meio Órgãos
Locais
Secretarias / Departamentos Municipais de Meio Ambiente
Conselhos Municipais de Desenvolvimento Ambiental – CODEMAS

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Ambiente,2003), ocorrendo na ausência dessas o repasse das atribuições para o âmbito Todo esse Sistema de Gestão opera com base em uma legislação.
estadual e federal. Um dos aspectos centrais do sistema de gestão é a descentralização. “A resolução dos problemas ambientais exige uma convergência de ações e
Neste sentido, a estruturação do sistema ao nível municipal - com criação de órgãos atitudes que devem se inscrever no cotidiano das sociedades. Isso significa que um
e conselhos, envolvendo equipes interdisciplinares e articulação com outras políticas dos elementos chave na construção de um meio ambiente com melhor qualidade e
do setor público e com a sociedade - é de grande importância. de relações racionais das sociedades com o meio ambiente é a participação do
cidadão. Mas o cidadão, para agir, necessita de
referências. Entre elas, uma das mais importantes Legislação - Conjunto de regras
que regulam o uso e as trans-
são as regras que constituem o conjunto de cuidados formações do meio ambiente.
e restrições que se deve ter ao se relacionar com o
Cidadão - É a pessoa capaz de
meio ambiente. Essas regras podem derivar do criar ou transformar, com os ou-
conhecimento (científico, da prática, de culturas tros, a ordem social, a quem
cabe cumprir e proteger as leis
tradicionais etc.), ou estar já institucionalizadas no
que ele mesmo ajudou a criar”.
Estado, por meio da legislação.” (Parâmetros em (TORO, 1996)
Ação: Meio Ambiente na Escola. Ministério da
Educação, 2001)
Apenas o sistema não garante uma gestão democrática. Nem tampouco a
legislação ambiental pode promover essa regulação por si só e garantir o direito dos
cidadãos a um meio ambiente ecologicamente equilibrado. A obrigatoriedade de
obedecê-la pode ser, eventualmente, imposta pela fiscalização governamental.
“Entretanto, como todo nosso cotidiano e o conjunto geral das ações sociais
implicam quase sempre em relações com o meio ambiente, seria impossível que a
observância total das regras da legislação ambiental dependesse da presença constante
do Estado, e em todos os pontos, como força fiscalizadora e coercitiva. Por isso,
outra força precisa entrar em cena: a força do cidadão, que deve estar sempre
diagnosticando e avaliando a qualidade do seu meio ambiente, e pressionando com
os recursos que tiver para defender seus interesses. De nada adianta possuir uma
legislação ambiental boa (como é o caso da brasileira) se não houver força social
(cidadania vigilante) para fazê-la cumprir.” (Parâmetros em Ação: Meio Ambiente
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O termo interesse público deve na Escola. Ministério da Educação, 2001) “É preciso ampliar e fortalecer os espaços de
ser aqui entendido como “pro- O voluntariado na sociedade
É neste sentido que se pode questionar: se a debate, de negociação e de deliberação das políticas
cesso de acomodação de inte- brasileira passa por mudanças
resses de diferentes públicos
gestão ambiental é estruturada através de um ambientais para o país, buscando incluir os novos e revalorização. É entendido
representados no processo sistema com possibilidades de favorecer um atores” (Documento Base da Conferência Nacional como participação cidadã, pois
decisório de formulação e de o exercício da cidadania não se
processo negociado de interação dos homens com do Meio Ambiente. Ministério Meio Ambiente,
implementação de políticas limita ao voto, mas estende-se
públicas” . Este processo (...) seu meio, por que esta gestão nem sempre favorece 2003). ao compromisso na participa-
“deve favorecer a participação o interesse público? Isto porque são muitos os segmentos sociais a ção por melhor qualidade de
de todos os grupos em disputa vida. Voluntário é aquele que
na ação, propor uma solução
Isto porque a prática da gestão ambiental não participar deste processo: sociedade civil organizada,
doa espontaneamente tempo,
aceitável para a maioria e obter é neutra. Dela participam grupos sociais com por meio das ONGs e movimentos sociais, trabalho, entusiasmo e
o comprometimento e o apoio percepções e interesses diferentes sobre as questões voluntários, empresas, poder público e todos os criatividade para causas de in-
dos grupos para a decisão re- teresse social e comunitário.
sultante.” (SILVA et al, 1987)ambientais, mediados por posicionamento segmentos que incorporam a variável ambiental em
Não substitui o Estado nem se
econômico, político, ideológico e social, que, suas práticas e prioridades - como comunidades contrapõe ao trabalho remune-
conforme o jogo de negociações e poder, consegue ou não fazer valer seus interesses. tradicionais, povos indígenas, cooperativas, clubes rado, mas expressa a capaci-
dade latente da sociedade de
A gestão democrática exige uma mudança na cultura das instituições públicas de serviço, entre outros.
contribuir para as questões de
e seus agentes e capacidade propositiva da sociedade civil, características que Como escreve o educador Bernardo Toro interesse coletivo.
precisam ser mais desenvolvidas, enfrentando as marcas deixadas em nossa sociedade (1996), a mobilização social é um modo de construir
Responsabilidade social se
pelas práticas clientelistas e paternalistas. a democracia e a participação, para concretizar na
refere à atuação de empresas
prática o projeto ético proposto na constituição em questões socioambientais.
Mobilizar para fazer acontecer brasileira: soberania, cidadania, dignidade da pessoa Pode ser definida normalmen-
te em torno de quatro fatores: a
humana, como também o direito dos cidadãos ao
preocupação da empresa com
Um dos princípios da Política Nacional de Meio Ambiente estabelece que as meio ambiente. a qualidade de seus produtos
ações na área ambiental devem ser concebidas e executadas de forma descentralizada “A mobilização social é muitas vezes e relação com o consumidor; o
zelo pela relação com seus co-
pela União, Estados e Municípios, sob o controle e participação da sociedade. confundida com manifestações públicas, com a
laboradores, funcionários e for-
Para tanto, é preciso reconhecer as diferenças sociais existentes e estimular os presença de pessoas numa praça, passeata, necedores; preocupação com
diversos grupos a atuarem no processo de gestão ambiental de forma mais crítica e concentração. Mas isso não caracteriza uma os danos ambientais e com
ações voluntárias junto à comu-
consciente, participando da formulação, execução e avaliação das políticas públicas. mobilização. A mobilização ocorre quando um grupo
nidade.
O aumento da base de sustentação social das políticas ambientais é de pessoas, uma comunidade ou uma sociedade
fundamental. decide e age com um objetivo comum, buscando
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quotidianamente, resultados decididos e desejados por todos. Mobilizar é convocar Entretanto, Bernardo Toro resgata uma dimensão importante para o
vontades.”(Toro,1996 ) entendimento da mobilização social e participação nos processos de gestão ambiental.
A participação em um processo de mobilização social é, ao mesmo tempo, “Toda ordem de convivência é construída e por isso é possível falar em mudança. A
meta e meio. A luta pela participação social envolve ela mesma processos formação de uma nova mentalidade na sociedade civil, que se perceba a si mesma
participativos. como fonte criadora da ordem social, pressupõe compreender que os males da
Mas o que significa participar? De que participação está se falando? sociedade são o resultado da ordem social que nós mesmos criamos e que, por isso
Para entender esta idéia, recorremos a Bordenave (1983). Na origem da palavra mesmo, podemos modificar. A democracia é uma ordem auto-fundada.”
encontra-se que participação é “fazer parte”, “tomar parte”, “ter parte”, expressões O exercício da cidadania ambiental pressupõe valorizar, mobilizar e fomentar
com significados diferentes. É possível “fazer parte” sem “tomar parte”, sendo que ações em nível local, especialmente da sociedade civil, que repensem as práticas
“tomar parte” representa um nível mais intenso de participação. Pode-se falar em ambientais e articulem a micro e a macro-participação.
participação passiva e participação ativa, conforme a qualidade desta participação.
A democracia participativa seria então aquela em que os cidadãos sentem
que, por “fazerem parte” da nação, “têm parte” real na sua condução e por isso
“tomam parte”- cada qual em seu ambiente – na construção de uma nova sociedade
da qual se “sentem parte”.
Pode-se falar também de micro e macroparticipação:
Macroparticipação, ou participação macrossocial, compreende a intervenção
das pessoas nos processos dinâmicos que constituem ou modificam a sociedade.
Microparticipação é a associação voluntária de duas ou mais pessoas numa
atividade comum da qual elas não pretendem unicamente tirar benefícios pessoais
e imediatos.
Segundo Bordenave(1983) apud Safira Bezzerra Amman, “participação social
é o processo mediante o qual as diversas camadas sociais têm parte na produção, na
gestão e no usufruto dos bens de uma sociedade historicamente determinada”.
Este conceito reforça que a participação política e a participação social não se dão
nas mesmas condições para todos os grupos sociais, uma vez que estes “têm parte”
diferenciadas na produção, gestão e usufruto dos bens sociais, o que também se
aplica ao exercício da gestão ambiental.
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Você conhece a atuação da sociedade civil


pelo meio ambiente em Divinópolis?
SOS Rio Itapecerica
Veja algumas iniciativas:
ONG criada, em 1999, com o objetivo de contribuir para a preservação das águas
e animais silvestres do Rio Itapecerica. Atua ativamente em campanhas educativas
e de fiscalização, recolhimento de lixo junto às margens do rio, denúncias junto à
ASCADI – Associação dos Catadores de Papel, Papelão e Materiais Reaproveitáveis de Divinópolis
Polícia Florestal e Ministério Público.

É uma entidade que visa organizar os trabalhadores da reciclagem, especialmente


do lixão. Iniciou seus trabalhos em 1997 e, em 2000, teve o apoio do Projeto
Espelhos D´água. O projeto atuou na assessoria técnica a organização dos
catadores, na mobilização social e educação ambiental, contribuindo para o
Fórum Municipal Lixo e Cidadania
fortalecimento da entidade e a criação do Fórum Municipal Lixo e Cidadania.
Hoje a ASCADI possui 30 associados e pretende ampliar-se através da educação
O fórum integra cerca de trinta entidades e cidadãos, desde o ano de 2000, quando
ambiental junto a escolas, empresas e comunidade promovendo a implantação
foi instituído em audiência pública. Tem caráter permanente e atua na discussão,
da coleta seletiva para o resgate social dos catadores e eliminação do trabalho
proposição, sensibilização, capacitação e apoio técnico para a gestão integrada
infantil.
de resíduos sólidos no município, em consonância com os Fóruns Estadual e
Nacional Lixo e Cidadania.
Seus esforços têm se concentrado especialmente na implantação da coleta seletiva,
apoio à ASCADI e eliminação do trabalho no lixão.

Grupo AR – Ação Renovadora

O Grupo AR é uma ONG que atua desde 1988 na formação da consciência Horta Comunitária
ambiental, pela preservação e conservação do patrimônio natural e cultural,
visando garantir o equilíbrio ambiental e bem-estar social . Trabalha em O professor Geraldo Eustáquio, morador do bairro Padre Eustáquio, como cidadão
campanhas educativas, cursos, exposições, pesquisas, publicações e preocupado com o meio ambiente criou uma horta comunitária, que recebe
seminários. materiais recicláveis em troca de verduras e legumes. Com este trabalho voluntário,
Realizou em 1998, a primeira denúncia, junto aos órgãos competentes sobre ele conseguiu diminuir o lixo que antes ficava espalhado no bairro e em mais
a situação do lixão em Divinópolis. Participa ativamente na discussão das outros cinco – Dona Rosa, Davanuze, Santa Lúcia, Conjunto Novo Paraíso e Santa
questões ambientais no Codema (Conselho Municipal de Conservação e Rosa.
Defesa do Meio Ambiente) e FUMED (Fundação Municipal do Meio Ambiente e A cada dois meses são recolhidos 500Kg de material reciclável que são doados
Desenvolvimento Sustentável) para a ASCADI.

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O que a Escola tem a ver com isso? Partimos do pressuposto de que a educação deve ser um instrumento de
A educação no processo de gestão ambiental construção da cidadania ambiental e de uma cultura democrática participativa, que
questione o discurso oficial e o modelo de cidadania formal, articulando individual
Diante da presente crise ético-cultural e não meramente uma crise ecológica, e coletivo.
a educação tem sido apontada como um dos instrumentos capazes de intervir nesta Resgatar a discussão sobre a relação entre o individual e o coletivo são
questão. Entretanto, esta intervenção pode se dar através de uma prática elementos que contribuem para a compreensão crítica da questão ambiental e apontam
reprodutivista ou emancipatória refletindo na qualidade da resposta aos múltiplos e a necessidade de, como afirma LIMA ( 2002 ), se politizar a questão ambiental:
cada vez mais freqüentes problemas socioambientais.
No campo conceitual, a educação, mais especificamente a educação ambiental, “Politizar a questão ambiental, significa, em primeiro lugar, compreender e
tratar os recursos naturais como bens coletivos indispensáveis à vida e
apresenta várias tendências político-ideológicas. Estas tendências perpassam a prática sua reprodutibilidade e o acesso a esses recursos como um direito público
educativa, sem a garantia de que, contudo, o debate crítico possa chegar ao professor. e universal. Significa reconhecer o meio ambiente como a base de
sustentação para as sociedades humanas e não humanas.”
Como se deve orientar a prática da Educação Ambiental? Ela deve privilegiar
a mudança de comportamento do indivíduo ou devemos assumir que a questão
O fomento ao pensamento crítico e à participação são alguns dos desafios
ambiental exige mais do que posturas pessoais bem intencionadas?
centrais de uma educação ambiental emancipatória, que objetive criar condições
Segundo Carvalho :
“É preciso recolocar os objetivos da prática educativa, situando-os para para a gestão do meio ambiente como bem público e direito de cidadania.
além da esfera comportamental. Se a educação quer realmente transformar É preciso tornar a escola um espaço de aprendizagem da participação ativa,
a realidade não basta intervir na mudança dos comportamentos sem intervir
nutrir as práticas escolares, que se iniciam dentro da sala de aula e podem romper
nas condições do mundo em que as pessoas habitam. (...) Neste sentido,
podemos redefinir a prática educativa como aquela que, juntamente com este espaço de uma intencionalidade crítica e emancipatória.
outras práticas sociais, está implicada no fazer histórico, é produtora de Nesta perspectiva, podemos (re)significar o conceito de Gestão Ambiental:
saberes e valores e, por excelência constitutiva da esfera pública e da
política, onde se exerce a ação humana (LIMA apud CARVALHO, 1992:33)”. não a mera gestão dos escassos recursos para a sustentabilidade do desenvolvimento,
O modo como um determinado tema é abordado em um projeto de educação mas uma gestão que convide os indivíduos para construção da resistência e invenção
ambiental, define tanto a concepção pedagógica quanto o entendimento sobre a de novas formas de vida mais justas, solidárias e sustentáveis.
questão ambiental que estão sendo assumidos na proposta. Que tipo de educação
ambiental está se praticando na escola? Uma educação que se limita ao “cada um
fazer a sua parte” ou a postura de que somente isto não garante, por si só, a prevenção
e solução dos problemas ambientais?

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