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Tradução, prefácio, notas e glossário de Paulo Bezerra. São Paulo: Editora 34, 2018.
1. O ROMANCE GREGO
2. APULEIO E PETRÔNIO
Dedica-se um capítulo sobre três figuras folclóricas que, embora tenham existido
desde a Antiguidade, assumem funções especiais na literatura da Idade Média e assim
entram em destaque na época: o pícaro, o bufão e o bobo. De acordo com Bakhtin, esses
três arquétipos criam cronotopos especiais ao seu redor, trazendo à literatura 1) um
vínculo essencial com os palcos teatrais e as mascaradas da praça pública; 2) aparências
figuradas que não podem ser interpretadas literalmente; e 3) o ser dessas figuras como
reflexo de algum outro ser, sua essência correspondente a e dependente de seu papel
como ator da vida. (2018, p. 110)
Em seguida, Bakhtin ilustra as figuras do pícaro, do bufão e do bobo porque elas
“influenciaram a colocação do próprio autor no romance (e da sua imagem, caso ela se
desvelasse de algum modo no romance), influenciando o ponto de vista dele.” (2018, p.
111).
Bakhtin elabora: “O romancista precisa de alguma máscara essencial da forma
do gênero, que determine tanto a sua posição para produzir uma visão da vida como de
uma posição para dar publicidade a essa vida. E é justo aí que as máscaras [...], claro
que transformadas de diversos modos, vêm em socorro do romancista.” (2018, p. 112).
Ademais, as imagens do bufão e do bobo são importantes para a primeira porque
“elas dão o direito de não compreender, de confundir, de arremedar, de hiperbolizar a
vida; direito de falar parodiando, de não ser literal, de o indivíduo não ser ele mesmo; o
direito de conduzir a vida pelo cronotopo intermediário dos palcos teatrais, de
representar a vida como uma comédia e as pessoas como atores; o direito de dar
publicidade à vida privada com todos os seus esconderijos mais secretos.” (2018, p.
114).
Finalmente, “é característico que o homem interior – pura subjetividade
“natural” – só tenha podido ser revelado com a ajuda das imagens do bufão e do bobo,
porquanto não foi possível encontrar para ele uma forma de vida adequada, direta (não
alegórica do ponto de vista da vida prática).” (2018, p. 115)
“A unidade da vida das gerações (em gera, da vida dos homens) é no idílio
determinada essencialmente pela unidade do lugar, pela fixação secular das gerações a
um lugar, do qual essa vida é inseparável em todos os seus acontecimentos. A unidade
do lugar da vida das gerações debilita e atenua todos os limites temporais entre as vidas
individuais e entre as diferentes fases da mesma vida. A unidade do lugar aproxima e
funde o berço e o túmulo (o mesmo microcosmo, a mesma terra), a infância e a velhice
(a mesma mata, o mesmo riacho, a mesma casa), a vida das diversas gerações que
habitaram o mesmo lugar, nas mesmas condições, que viram essas mesmas coisas. Essa
atenuação de todos os limites do tempo, determinada pela unidade do lugar, contribui de
modo substancial também para a criação do ritmo cíclico do tempo, característico do
idílio.” (2018, p. 194).
O autor então prossegue: “Tudo o que tem valor cotidiano quando relacionado a
acontecimentos biográficos e históricos essenciais e singulares, tem aqui, neste caso,
justamente o valor mais substancial de uma vida.” (2018, p. 194-195).
Mais uma vez, “o trabalho agrícola transfigura todos os elementos do cotidiano,
priva-os do caráter privado e mesquinho, voltado meramente para o consumo,
transforma-os em acontecimentos essenciais da vida.” (2018, p. 196).
Aqui falamos apenas dos cronotopos grandes e essenciais que tudo arangem. Contudo,
cada um desses cronotopos pode incorporar números ilimitados de pequenos
cronotopos: pois cada motivo pode ter o seu próprio cronotopo, sobre o que já falamos.
(p. 229)
“O conteúdo e a forma são dois conceitos intrínsecos á obra literária.” (p. 252)
O significado de FTC:
“A análise dos vários cronotopos, empreendida por Mikhail Bakhtin à luz de sua
poética histórica, mostra como as formas da cultura que sedimentam a literatura mudam,
ou se alternam, sob o efeito das mudanças das coordenadas do tempo num espaço
determinado, ou no vasto espaço em que se desenvolve a ação da literatura universal.”
(p. 261)