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DIVINIS MAGISTRIS

Todas as teorias, congressos, reformas, programas e investimentos


educacionais serão infrutíferos enquanto não se reconhecer essa verdade
fundamental da natureza humana, moldada à imagem de Deus, caída em
miséria, restaurada à graça por Jesus Cristo. Como a boa educação forma a
pessoa inteira em relação às coisas que de fato a realizarão, culminando na
visão de Deus, “não pode dar-se educação adequada e perfeita senão a
cristã” (7; cf. 58) [i], cujo objetivo é “cooperar com a graça divina na formação
do verdadeiro e perfeito cristão, isto é, formar o mesmo Cristo nos
regenerados pelo Batismo” (94) [ii].

A educação cristã diz respeito, pois, não só ao conteúdo transmitido, mas


também aos métodos de transmiti-lo, aos meios sobrenaturais utilizados para
auxiliar [sua transmissão] e à intenção por trás da atividade [educacional] (cf.
93ss). O devoto educador cristão imita Cristo, que amou as crianças com
carinho especial e desejou conduzi-las com segurança para o seu reino (cf. 1,
9, 88).

Pio XI aborda o tema por meio de questões específicas:

Quem tem a missão de educar (11–57); quem são os sujeitos a serem


educados (58-69); quais são as circunstâncias [ambiente] de
acompanhamento necessárias (70-92); qual é o fim e o objetivo próprio da
educação cristã, de acordo com a ordem estabelecida por Deus na economia
da divina Providência (93-100) (10).
A doutrina cristalina do documento sobre a relação entre família, sociedade
civil e Igreja é especialmente valiosa, pois ilustra de modo concreto a
harmonia entre natureza e graça, razão e fé, como definido solenemente no
Concílio Vaticano I (11ss; 51ss).

Duas verdades da ordem social, acima de tudo, ocupam a atenção do Papa.

Em primeiro lugar, a encíclica afirma e defende em toda a sua extensão o


direito fundamental e inviolável dos pais a educar os próprios filhos (cf.
31ss) e o da Igreja a educar toda a humanidade, especialmente os que já
são filhos seus pela graça [batismal] (15ss). Esse direito cabe naturalmente
aos pais e sobrenaturalmente à Igreja; ao Estado e a seus funcionários, só
com a permissão parental ou eclesiástica [iii].

Políticas de educação pública compulsória que não consideram a


vontade dos pais ou prejudiquem a família são contrárias à lei
natural, constituindo graves violações da justiça (48; o Estado deve
apoiar financeiramente as escolas escolhidas pelos pais: 81-83). O
Papa tem em mente as violações aos direitos dos pais típicas do
liberalismo em suas diversas formas: os regimes maçônicos e
anticlericais, remanescentes da Revolução Francesa, assim como o
regime do comunismo ateu na Rússia, que comumente endossam o
controle totalitário, explícito ou implícito, sobre todos os aspectos da
vida civil, inclusive a educação das crianças (cf. 35ss).

Um regime laicista favorável a uma formação estritamente “laica” dos


filhos está, nesse sentido, agindo tiranicamente. O Estado, pelo
contrário, deve fazer tudo o que estiver ao seu alcance para
apoiar os pais e a Igreja Católica em sua tarefa de educar os
jovens (46; 53-54; os Estados pluralistas não estão de forma alguma
isentos disso: cf. 81).
Isso leva o Papa a um segundo ponto importante. Trata-se da ênfase que a
encíclica dá à natureza invariavelmente religiosa de toda educação e ao
dever do professor de incutir moral e piedade nos alunos. Uma educação sem
referência a verdades religiosas e a padrões morais imutáveis nada mais é do
que um treinamento em impiedade e laxismo, combustível para as inclinações
da natureza caída (cf. 24; 57ss).

Uma educação puramente secular, ou neutra, é impossível em princípio, e um


educador que “calasse” os problemas mais importantes estaria, na verdade,
habituando os alunos a pensar e a viver como se as questões sobre o que é
verdade e o que é falsidade, o que é bom e o que é mau, não importassem
nem tivessem significado algum ou não pudessem ser respondidas (cf.
79). Uma tal educação é, no fundo, má formação; o aluno termina pior do
que se nunca fora educado.

Pais católicos e seus pastores têm, pois, o grave dever de zelar para
que os filhos recebam uma sólida formação na fé e na moral, quer
em casa, quer em sala de aula ou na paróquia (34, 74; podemos
saber quão velha é uma encíclica pela confiança com que recomenda
a educação paroquial!).

É indispensável que todo o ensino e toda a organização da escola,


mestres, programas, livros, em todas as disciplinas, sejam regidos
pelo espírito cristão sob a direção e a vigilância materna da Igreja
Católica, de modo que a religião seja verdadeiramente fundamento e
coroa de toda a instrução (80).

Divini Illius Magistri é um documento oportuno como nenhum outro


para o exército de homeschoolers (pais que educam seus filhos em
casa), assim como para um número felizmente crescente de escolas
privadas e independentes autenticamente católicas. Que seus
esforços floresçam pela graça de Jesus Cristo, o Mestre supremo.

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