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Faculdade de Direito Canônico São Paulo Apóstolo

- Do Múnus de Ensinar da Igreja -

TÍTULO III

- DA EDUCAÇÃO CATÓLICA –

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Faculdade de Direito Canônico São Paulo Apóstolo
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INTRODUÇÃO

O mundo moderno com a sua cultura atual está permeado por várias problemáticas
que provocam uma difusa emergência educativa. Com esta expressão, nos referimos à
dificuldade em estabelecer relações educativas que, para serem autênticas, devem
transmitir às jovens gerações, valores e princípios vitais, que visam não somente no
crescimento e no amadurecimento do indivíduo, mas, também para contribuir na
construção do bem comum.
O tema da educação católica insere-se no Livro III do CIC (Codex Iuris Canonici):
Ecclesiae Munere Docendi. Em relação ao Código de 1917, não se trata simplesmente de
uma mudança de ordem sistemática, mas antes, de uma maneira nova de encarar esta
realidade tão importante. A razão de ser da mudança está na Declaração Gravissimum
Educationis do Concílio Vaticano II, documento inspirados dos cânones 793-821 do
Código vigente.
O título III da educação católica divide-se em: Cânones introdutórios (cc. 793-
795), Escolas (capítulo I, cc. 796-806), Universidades católicas e outros Institutos de
estudos superiores (cc. 807-814), Universidades e Faculdades eclesiásticas (cc. 815-821).
A verdadeira educação deve promover a formação integral da pessoa humana, seja
em vista do seu fim último, seja para o bem das várias sociedades das quais o homem é
membro e em que é chamado a ser parte ativa.
O que veremos mais à frente, é a escola dentro do panorama da escola católica,
englobada dentro do contexto da educação; a opção pelas escolas católicas; a definição e
natureza das escolas católicas; a revisão do Código de Direito Canônico (aspectos
canônicos); as fontes pré-conciliares, conciliares e pós-concílio; a natureza das
Universidades e Faculdades.
A educação católica, com as suas numerosas escolas e universidades espalhadas
pelo mundo, dá um contributo relevante às comunidades eclesiais comprometidas na nova
evangelização, e contribui também para que as pessoas e a cultura assimilem os valores
antropológicos e éticos, que são necessários para construir uma sociedade solidária e
fraterna.
Diante das problemáticas na área da educação vividas no passado e crescendo no
atual contexto de modernidade, a Igreja tem se mostrado preocupada e através de
documentos, diretrizes e orientações, vem despertando nos batizados para redescobrirem
os valores e os princípios da educação cristã em todos os ambientes da sociedade. É
preciso entender que os documentos conciliares não vem trazer uma resposta definitiva
para todos os problemas da educação.
No decorrer do curso, iremos analisar teologicamente e canonicamente, tendo
como base os documentos da Igreja, para entendermos como o Legislador no Código
vigente, estabeleceu as leis canônicas a respeito da educação católica.

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I. Da Educação Católica1
Há um princípio, que toda pessoa humana tem direito de receber uma educação
correspondente ao próprio fim e conveniente a própria índole. A Declaração
Gravissimum Educationis afirma que é próprio das escolas católicas, no espírito
evangélico de liberdade e de caridade, ajudar os adolescentes para que, ao mesmo tempo
que desenvolvem a sua personalidade, cresçam segundo a nova criatura, que são, em
razão do Batismo, e ordenar finalmente toda a cultura humana à mensagem da salvação,
de tal modo que seja iluminado pela fé o conhecimento que os alunos adquirem
gradualmente a respeito do mundo, da vida e do homem.
A Educação Católica é um tema muito atual e que permanece sempre novo com o
passar dos séculos, pois trata a respeito da formação e do crescimento do ser humano no
mundo tendo como base os princípios cristãos.
Haja visto que, a Igreja no que é concernente à educação, vê como um momento
importante para o crescimento do homem e da sociedade, assim como na fundamentação
do próprio ser cristão.
A Declaração Gravissimum Educationis, sobre a educação cristã da juventude, é
o documento conciliar onde se trata especificamente do tema da educação católica.
Esta Declaração aborda matérias sobre a educação católica, nos seguintes pontos:
o direito de todo homem a educação e a natureza da educação; os responsáveis e os meios
para a educação cristã; a importância da escola e a vocação docente; a necessidade e a
obrigação da educação moral e religiosa em todas as escolas; o perfil e a classificação das
escolas católicas; as faculdades e universidades católicas e as faculdades de ciências
sagradas.
O texto conciliar assinala como fim da educação, a formação da pessoa e supõe
uma formação que atende ao fim último do ser humano, que lhe abra ao sentido da vida,
que o desperte e o avive à realidade de transcendência do educando, onde está incluído a
formação moral e religiosa, formação que deve ser transmitida em todas as escolas,
sempre respeitando a liberdade religiosa.
O tema da educação católica insere-se no Livro III do Código de Direito Canônico:
Ecclesiae Munere Docendi. Em relação ao Código de 1917, não se trata simplesmente
de uma mudança de ordem sistemática, mas antes de uma maneira nova de encarar esta
realidade tão importante nos tempos atuais.
Assim como citamos na Introdução, o documento conciliar que foi inspiração dos
cânones 793-821, foi a Declaração Gravissimum Educationis (28 de Outubro de 1965 –
Paulo VI PP.). O documento conciliar destaca como se passou de um conceito de
educação em que o homem era considerado de modo abstrato e passivo, a um conceito de
educação que põe no centro a pessoa humana, sujeito ativo do processo educativo. Esta

1
Cânones 793-795. Primeiramente, a saber, que estes cânones são introdutórios e é uma novidade na
legislação canônica vigente, tem o seu fundamento na Declaração Gravissimum Educationis do Concílio
Vaticano II.

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centralidade faz realçar não só os direitos que são reconhecidos pelo homem no setor da
educação, mas também a dimensão concreta histórico-cultural da pessoa humana, fonte
primordial do direito. A verdadeira educação deve promover a formação integral da
pessoa humana seja em vista do seu fim último seja para o bem das várias sociedades das
quais o homem é membro e em que é chamado a ser parte ativa. A escola é analisada não
tanto do ponto de vista jurídico, mas sim no panorama da escola católica englobada dentro
do contexto da educação.

1. Evolução da legislação do CIC/1917 ao CIC/1983


Para entendermos esta evolução da legislação canônica, partiremos das seguintes
fontes: pré-conciliares e conciliar.

1.1. Fontes pré-conciliares: Código de Direito Canônico 1917 (cc. 1372-1383), Carta
Encíclica Divini Illius Magistri (31 de Dezembro de 1929 – Pio IX) e a Constituição
Apostólica Deus Scientiarum Dominus (24 de Maio de 1931 – Pio XI).

A Carta Encíclica Divini Illius Magistri tem como tema a educação cristã e as
problemáticas apresentadas na aplicabilidade desta educação na vida da sociedade, por
isso o foco pelo qual da publicação desta encíclica tem o seu direcionamento aos jovens,
aos educadores, aos pais e mães de família, orientando, exortando e animando sobre esta
temática.
Trata a encíclica que é de máxima importância não errar na educação, como não
errar na direção para o fim último com o qual está conexa íntima e necessariamente toda
a obra da educação. A educação consiste essencialmente na formação do homem, como
ele deve ser e portar-se nesta vida terrena, em ordem a alcançar o fim sublime para que
foi criado. Não pode dar-se educação adequada e perfeita senão a cristã.
Porém, o documento quer evidenciar a importância da educação cristã, não só para
cada indivíduo, mas também para as famílias e para toda a sociedade humana, visto que
a perfeição desta, resulta necessariamente da perfeição dos elementos que a compõem.
Vamos estabelecer uma divisão e o que a Encíclica traz de subsídios na
aplicabilidade da educação cristã na formação do homem.

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a) A quem compete a missão de educar


A educação é obra necessariamente social e não singular, isto significa que toda a
sociedade deve estar comprometida com a educação e não uma pessoa isoladamente ou
uma organização ou instituição, seja ela qual for. São três as sociedades necessárias,
distintas e, também, unidas harmonicamente por Deus, no meio das quais nasce o homem:
duas sociedades de ordem natural, que são a família e a sociedade civil e, a terceira que é
a Igreja, de ordem sobrenatural.
Destacamos aqui, a primeira delas, que é a família2, instituída imediatamente por
Deus para o seu fim próprio que é a procriação e a educação da prole, a qual por isso tem
a prioridade de natureza, e, portanto, uma prioridade de direitos relativamente à sociedade
civil.
O dever de educar mergulha as raízes na vocação primordial dos cônjuges à
participação na obra criadora de Deus: gerando no amor e por amor uma nova pessoa,
que traz em si a vocação ao crescimento e ao desenvolvimento, os pais assumem, por isso
mesmo, o dever de ajudar eficazmente a viver uma vida plenamente humana. Como
recorda a Declaração sobre a educação cristã Gravissimum educationis: “Os pais, que
transmitiram a vida aos filhos, têm uma gravíssima obrigação de educar a prole e, por
isso, devem ser reconhecidos como seus primeiros e principais educadores. Esta função
educativa é de tanto peso que, onde não existir, dificilmente poderá ser suprida. Com
efeito, é dever dos pais criar um ambiente de tal modo animado pelo amor e pela piedade
para com Deus e para com os homens que favoreça a completa educação pessoal e social
dos filhos. A família é, portanto, a primeira escola das virtudes sociais de que as
sociedades têm necessidade”.
O elemento mais radical que qualifica o dever de educar dos pais é o amor paterno
e materno, o qual encontra na obra educativa o seu cumprimento ao tornar pleno e perfeito
o serviço à vida: o amor dos pais, de fonte torna-se alma e, portanto, norma, que inspira
e guia toda a ação educativa concreta, enriquecendo-a com aqueles valores de docilidade,
constância, bondade, serviço, desinteresse, espírito de sacrifício, que são o fruto mais
precioso do amor.

2
Cân. 793 §1 do CIC/1983: “Os pais e os que fazem suas vezes têm a obrigação e o direito de educar sua
prole; os pais católicos têm também o dever e o direito de escolher os meios e instituições com que possam,
de acordo com as circunstâncias locais, prover do modo mais adequado à educação católica dos filhos”.

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A terceira sociedade em que nasce o homem, mediante o Sacramento do Batismo,


para a vida divina da graça, é a Igreja, sociedade de ordem sobrenatural e universal,
sociedade perfeita, porque reúne em si todos os meios para o seu fim que é a salvação
eterna dos homens, e, portanto, suprema na sua ordem.
Santo Agostinho afirma que, não terá Deus como Pai quem se tiver recusado a ter
a Igreja como Mãe. Portanto, no próprio objeto da sua missão educativa, isto é, na fé e na
instituição dos costumes3, o próprio Deus fez a Igreja participante do magistério divino
e, por benefício seu, imune de erro; por isso é ela mestra suprema e seguríssima dos
homens, e lhe é natural o inviolável direito à liberdade de magistério. É por necessária
consequência, a Igreja é independente de qualquer autoridade terrena, tanto na origem
como no exercício da sua missão educativa, não só relativamente ao seu próprio objeto,
mas também acerca dos meios necessários e convenientes para dela se desempenhar. Por
isso em relação a qualquer outra disciplina, e ensino humano, que considerado em si, é
patrimônio de todos, indivíduos e sociedades, a Igreja tem direito independente de usar
dele, e sobretudo de julgar em que possa ser favorável ou contrário à educação cristã. E
isto, já porque a Igreja, como sociedade perfeita, tem direito aos meios para o seu fim, já
porque todo o ensino, como toda a ação humana, tem necessária relação de dependência
do fim último do homem, e, por isso, não pode subtrair-se às normas da lei divina, da qual
a Igreja é guarda, intérprete e mestra infalível.
É direito inalienável da Igreja e simultaneamente o seu dever indispensável de
vigiar por toda a educação de seus filhos, os fiéis, em qualquer instituição, quer pública
quer particular, não só no atinente ao ensino aí ministrado, mas em qualquer outra
disciplina ou disposição, enquanto estão relacionadas com a religião e a moral4.
A Igreja no exercício deste direito, não pode considerar-se ingerência indevida,
antes é preciosa providência maternal da Igreja, tutelando os seus filhos contra os graves
perigos de todo o veneno doutrinal e moral.

3
Cân. 24 §1 do CIC/1983: “Nenhum costume contrário ao direito divino pode alcançar força de lei”.
4
Cânones 1381 e 1382 do CIC/1917: “§1. La formación religiosa de la juventud en cualesquiera escuelas
está sujeta a la autoridad e inspección de la Iglesia. §2. Los Ordinarios locales tienen el derecho y el deber
de vigilar para que en ninguna escuela de su territorio se enseñe o se haga nada contra la fe o las buenas
costumbres. §3. Igualmente compete a los mismos el derecho de aprobar los profesores y los libros de
religión; y también el de exigir que, por motivos de religión y costumbres, sean retirados tanto los profesores
como los libros”.
“Los Ordinarios de lugar pueden también visitar, por sí mismos o por medio de otros, cualesquiera escuelas,
oratorios, recreatorios, patronatos, etc., en lo concerniente a la formación religiosa y moral; y de esta visita
no se exime ninguna escuela de religiosos, a no ser que se trate de escuelas internas para los profesos de
religión exenta”.

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Com a missão educativa da Igreja está relacionada com a missão educativa da


família, porque de Deus procedem ambas, de maneira muito semelhante. A família recebe
imediatamente do Criador, a missão e consequentemente o direito de educar a prole5,
direito inalienável, porque inseparavelmente unido com a obrigação rigorosa, direito
anterior a qualquer direito da sociedade civil e do Estado, e, por isso, inviolável da parte
de todo e qualquer poder terreno. O poder dos pais é de tal natureza, que não pode ser
nem suprimido nem absorvido pelo Estado6.
O Estado em sua relação à educação dos cidadãos, tem o dever de promover o
bem comum de ordem temporal, isto consiste na paz e segurança de que as famílias e os
cidadãos gozam no exercício dos seus direitos, e simultaneamente no maior bem-estar
espiritual e material de que seja capaz a vida presente mediante a união dos esforços de
todos.
No que tange à educação, é direito, ou melhor, dever também do Estado proteger
com as suas leis o direito anterior da família sobre a educação cristã da prole e respeitar
o direito sobrenatural da Igreja a tal educação cristã. Dum modo semelhante, pertence ao
Estado proteger o mesmo direito na prole, quando viesse a faltar, física ou moralmente, a
ação dos pais, por defeito, incapacidade ou indignidade, visto que o seu direito de
educadores, não é absoluto, mas dependente da lei natural e divina, e, por isso, sujeito à
autoridade e juízo da Igreja, e outrossim à vigilância e tutela jurídica do Estado em ordem
ao bem comum, tanto mais que a família não é sociedade perfeita que tenha em si todos
os meios necessários ao seu aperfeiçoamento. Em tal caso, excepcional de resto, o Estado
não se substitui já à família, mas supre as deficiências e providência com os meios
apropriados, sempre de harmonia com os direitos naturais da prole e com os sobrenaturais
da Igreja.
Em ordem ao bem comum, pertence ao Estado, promover por muitos modos a
mesma instrução e educação da juventude.

5
Cân. 226 §§ 1 e 2 do CIC/1983: “Os que vivem no estado conjugal, segundo a própria vocação, têm o
dever peculiar de trabalhar pelo matrimônio e pela família, na construção do povo de Deus. Os pais, tendo
dado a vida aos filhos, têm a gravíssima obrigação e gozam do direito de educa-los; por isso, é obrigação
primordial dos pais cristãos cuidar da educação cristã dos filhos, segundo a doutrina transmitida pela
Igreja”.
6
Leão XIII PP., Carta Encíclica Rerum Novarum, 15.05.1891, n. 6: “ (...) A autoridade paterna não pode
ser abolida, nem absorvida pelo Estado, porque ela tem uma origem comum com a vida humana. ‘ os filhos
são alguma coisa de seu pai’; são de certa forma uma extensão da sua pessoa, e, para falar com justiça, não
é imediatamente por si que eles se agregam e se incorporam na sociedade civil, mas por intermédio da
sociedade doméstica em que nasceram”.

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O Estado deve favorecer e ajudar as iniciativas e esforços da Igreja e das famílias


no âmbito da educação. Quando estes esforços e iniciativas, não atingem com perfeição
a sua meta, é também dever do Estado promover esta formação, através de escolas e
instituições, pois ela possui os meios de que pode dispor para as necessidades de todos.
No dever que cabe também ao Estado de promover a formação dos cidadãos em
geral, pode exigir e procurar que todos os cidadãos tenham o necessário conhecimento
dos próprios deveres cívicos e nacionais, e um certo grau de cultura intelectual, moral e
física, que dadas as condições dos nossos tempos, seja verdadeiramente reclamada pelo
bem comum.
Um esclarecedor pensamento da Igreja, em sua missão de formar e educar os fiéis,
é preciso entender que o Estado, em sua promoção e aplicabilidade da educação e
instrução pública e privada, deve respeitar os direitos da Igreja e da família sobre a
educação cristã. Tal afirmativa é verdadeira que, é injusto e ilícito todo o monopólio
educativo, quer física ou moralmente, constranger as famílias a frequentar as escolas do
Estado, contra as obrigações da consciência cristã ou mesmo contra as suas legítimas
preferências.

b) Relações entre a Igreja e o Estado


O que até agora vimos a respeito da atuação do Estado na educação dos cidadãos,
tem o seu fundamento na doutrina católica, de modo especial na Carta Encíclica
Immortale Dei: sobre a Constituição Cristã dos Estados (1 de Novembro de 1885 – Papa
Leão XIII). Vejamos:

“Deus dividiu, pois, o governo do gênero humano entre dois poderes: o poder
eclesiástico e o poder civil; àquele preposto às coisas divinas, este às coisas
humanas. Cada uma delas no seu gênero é soberana; cada uma está encerrada
em limites perfeitamente determinados, e traçados em conformidade com a
sua natureza e com o seu fim especial. Há, pois, como que uma esfera
circunscrita em que cada uma exerce a sua ação iure proprio. Todavia,
exercendo-se a coisa, posto que a título diferente, mas, no entanto, uma só e
mesma coisa, incida na jurisdição e no juízo de um e de outro poder. Foi a

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Providência de Deus, que estabeleceu ambas, traçar-lhes a sua trilha e a sua


relação entre si. Os poderes que existem foram dispostos por Deus7”.

Devemos ter a consciência que a educação da juventude, é precisamente uma das


ações que pertencem à Igreja e ao Estado, embora sendo diverso. O Papa Leão XIII, diz
que deve reinar entre os dois poderes uma ordenada harmonia. É preciso levar em conta
a natureza de ambas, onde uma procura o útil das coisas mortais e o outro, para procurar
os bens celestiais.
Portanto, tudo o que há, de algum modo sagrado nas realidades humanas, tudo o
que se refere à salvação das almas e ao culto de Deus, quer seja tal, por sua natureza, quer
se considere em razão do fim a que tende, tudo isso está sujeito ao poder e às disposições
da Igreja, e todo a outra parte que fica na ordem civil e política, é justo que dependa da
autoridade civil, tendo Jesus Cristo mandado que se dê a Cesar o que é de Cesar e a Deus
o que é de Deus8.
A Carta Encíclica Divini Illius magistri diz que, se alguém recusasse admitir os
princípios acima mencionados e consequentemente aplica-los à educação, chegaria
necessariamente a negar que Cristo fundou a sua Igreja para a eterna salvação dos
homens, e a sustentar que a sociedade civil e o Estado não estão sujeitos a Deus e à sua
lei natural e divina. Ora, isto é evidentemente ímpio, contrário à sua razão e,
principalmente em matéria de educação, extremamente pernicioso à reta formação da
juventude e seguramente ruinoso para a mesma sociedade civil e para o bem-estar social.
E, ao contrário, da aplicação destes princípios, não pode deixar de resultar o máximo
auxílio para a reta formação dos cidadãos.

7
Bíblia de Jerusalém, Editora Paulus, 2ª impressão, 2003, Rm 13, 1: “Cada um se submeta às autoridades
constituídas, pois não há autoridade que não venha de Deus, e as que existem foram estabelecidas por
Deus”.
8
Carta Encíclica Immortale Dei sobre a Constituição cristã dos Estados, 1885, n. 22: “Com efeito, na
constituição do Estado, (...), o divino e o humano são delimitados numa ordem conveniente; os direitos dos
cidadãos são assegurados e colocados sob a proteção das mesmas leis divinas, naturais e humanas; os
deveres de cada um são tão sabiamente traçados quão prudentemente salvaguardada lhes é a observância.
Todos os homens, nesse encaminhamento incerto e penoso para a cidade eterna, sabem que tem a seu
serviço, guias seguros para conduzi-los à meta, e auxiliares para atingi-la. Sabem do mesmo modo, que
outros chefes lhes foram dados para obter e conservar a segurança, os bens e as outras vantagens dessa
vida”.

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c) O sujeito da educação
Nunca podemos esquecer e nem perder de vista, que o sujeito da educação cristã
é o homem, o homem todo. Na natureza humana permanecem os efeitos do pecado
original, particularmente o enfraquecimento da vontade e as tendências desordenadas. Por
este motivo é que, devem-se corrigir as inclinações desordenadas, excitar e ordenar as
boas, desde a mais tenra infância, e, sobretudo, deve iluminar-se a inteligência e
fortalecer-se a vontade com as verdades sobrenaturais e os auxílios da graça, sem a qual
não se pode, nem dominar as inclinações perversas, nem conseguir a devida perfeição
educativa da Igreja, perfeita e completamente dotada por Cristo com a divina doutrina e
os Sacramentos, meios eficazes da graça.

d) O ambiente da Educação
Para obter uma educação perfeita, é de suma importância, cuidar em que as
condições de tudo o que rodeia o educando, no período de sua formação, corresponda
bem ao fim em vista.

- Família cristã
O primeiro ambiente natural e necessário da educação é a família. Podemos dizer
que, a educação mais eficaz e duradoura é aquela que se recebe numa família cristã bem
ordenada e disciplinada. Tanto mais eficaz e mais clara o bom exemplo dos pais e a sua
formação, melhor teremos grandes e bem formados filhos.
Há muitos ambientes familiares em que a educação é algo que se concentra na
busca de saciar os filhos com os bens materiais deste mundo, por isso, estamos
contemplando uma juventude que está se afastando do ambiente familiar. Vemos que há
uma crescente, no índice de jovens que querem viver uma vida sem o ambiente familiar,
a partir disso, as ideologias, filosofias e conceitos errados sobre a família, vão sendo
inculcados na consciência dos jovens.
Com esta problemática, o que podemos traçar de estratégias para beneficiar um
bom ambiente familiar, onde acontece uma boa educação?
Os Pastores de almas devem se empenhar nas instruções e catequeses, pela
palavra, por escritos e outros meios que sejam empregados para recordar aos pais cristãos,
as suas gravíssimas obrigações relativas à educação religiosa, moral e civil dos filhos,

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utilizando-se de métodos mais apropriados para atuá-la eficazmente, além do exemplo de


vida.
Os pais e com eles os educadores, devem usar retamente da autoridade a eles dada
por Deus, não para vantagem própria, mas para a reta educação dos filhos no santo e filial
temor de Deus.

- A Igreja e suas obras educativas


Olhando a fraqueza das forças da natureza humana decaída, a Divina Bondade
providenciou, com o auxílio da graça, a Igreja, que é a grande família de Cristo.
A missão própria que Cristo confiou à Igreja por certo não é de ordem política,
econômica ou social. Pois a finalidade que Cristo lhe prefixou é de ordem religiosa. Mas,
na verdade, desta mesma missão religiosa decorrem benefícios, luzes e forças que podem
auxiliar a organização e o fortalecimento da comunidade humana segundo a Lei de Deus.
Do mesmo modo, onde for necessário, de acordo com as circunstâncias de tempo e lugar,
a Igreja pode e deve promover atividades destinadas ao serviço de todos, sobretudo dos
indigentes, como são as obras de misericórdia e outras semelhantes.
Além do ambiente educativo que é a Igreja, também encontramos a grande
multiplicidade e variedade de escolas, associações e todo o gênero de instituições
tendentes a formar a juventude na piedade religiosa.
Em uma escola católica é indispensável que todo o ensino e toda a organização da
escola: mestres, programas, livros, em todas as disciplinas, sejam regidos pelo espírito
cristão, sob a direção e vigilância maternal da Igreja Católica, de modo que a religião seja
verdadeiramente fundamento e coroa de toda a instrução, em todos os graus, não só
elementar, mas também média e superior.

e) A finalidade da Educação Cristã


O fim próprio e imediato da educação cristã é cooperar com a graça divina na
formação do verdadeiro e perfeito cristão, isto é, formar o mesmo Cristo nos regenerados
pelo Batismo.
A educação cristã abraça toda a extensão da vida humana, sensível, espiritual,
intelectual e moral, individual, doméstica e social, não para diminui-la, mas para elevar,
regular e aperfeiçoar segundo os exemplos e doutrina de Cristo. Por isso, o verdadeiro
cristão, que é fruto da verdadeira educação cristã, é o homem sobrenatural que pensa,

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julga e opera constantemente e coerentemente, segundo a sã razão iluminada pela luz


sobrenatural dos exemplos e doutrina de Jesus Cristo.
O verdadeiro cristão, que passou pela educação cristã, em vez de renunciar às
obras da vida terrena ou diminuir as suas faculdades naturais, antes as desenvolve e
aperfeiçoa, coordenando-as com a vida sobrenatural, de modo a enobrecer a mesma vida
natural, e a procurar-lhe utilidade mais eficaz, não só de ordem espiritual e eterna, mas
também material e temporal.
Isto é provado por toda a história do cristianismo e das suas instituições, a qual se
identifica com a história da verdadeira civilização e do genuíno progresso até os nossos
dias; e particularmente, pelos santos, de que é fecundíssima a Igreja, e só ela, os quais
conseguiram em grau perfeitíssimo, o fim ou escopo da educação cristã, e enobreceram e
elevaram a convivência humana em toda a espécie de bens. De fato, os santos foram, são
e serão sempre os maiores benfeitores da sociedade humana, como também os modelos
mais perfeitos em todas as classes e profissões, em todos os estados e condições de vida,
desde o camponês mais simples até as rainhas.

f) Conclusão
Qual foi o contributo que esta Encíclica trouxe e como torná-la aplicável também
nos dias de hoje?

 O primeiro eco que a Encíclica trouxe na sua época foi de dar orientações aos
educadores, jovens, pais e mães de família acerca dos vários problemas da
educação cristã. As discussões, naquele período era sobre o problema escolar e
pedagógico nos diversos países; dedicar-se em formar bem os jovens;
 Dedicar-se na formação de novos mestres, pois, os mesmos assumem uma missão
na educação dos cidadãos da Terra que estão a caminho da Cidade Celestial; os
novos mestres dão a sua contribuição para criar uma nova educação de infalível
eficácia, que possa preparar as novas gerações para a suspirada felicidade terrena;
 Mostrar aos cidadãos que a essência da educação é a formação do homem, como
ele deve ser e portar-se nesta vida terrena, em ordem a alcançar o fim sublime para
o qual foi criado. Por isso, a importância suprema da educação cristã, não só para
cada indivíduo, mas também para as famílias e para toda a sociedade humana;

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 Ter em mente que são três as sociedades necessárias, distintas e também unidas
harmonicamente por Deus: duas sociedades de ordem natural, que são a família e
a sociedade civil; e a terceira, a Igreja, de ordem sobrenatural;
 A aplicabilidade desta encíclica podemos dizer que passa pelo direito inalienável
da Igreja, e simultaneamente seu dever, vigiar por toda a educação de seus filhos,
os fiéis, em qualquer instituição, quer pública quer particular, não só no atinente
ao ensino aí ministrado, mas em qualquer outra disciplina ou disposição, enquanto
estão relacionadas com a religião e a moral.

1.2. A Constituição Deus Scientiarum Dominus e o Código de Direito Canônico de


1917
Este documento trata sobre a relação da Igreja com os estudos acadêmicos,
trazendo normativas para o bom andamento de todos os ensinos eclesiásticos dados em
Universidade e Faculdades Católicas e como devem ser instituídas. Como é um
documento extenso e com várias normas e disposições, vale a pena fazer uma leitura
pessoal deste documento. Iremos nos deter ao essencial que veremos mais a frente sobre
a natureza e a finalidade das Universidades e Faculdades.
O Código Pio-Beneditino nos seus cânones 1372 à 1383 trata sobre as escolas.
Dentro destes cânones encontramos os seguintes pontos:
 Todos os fiéis devem ser educados desde a infância, ocupando-se esta educação
nas instruções religiosa e moral; as instruções religiosas e morais serão adequadas
a cada faixa etária.
 A Igreja tem o direito de fundar escolas de qualquer disciplina, não só as
elementares, mas também médias e superiores.
 Está reservada à Santa Sé a constituição canônica das Universidades e Faculdades
católicas.
 Os graus acadêmicos, para obter o efeito canônico, é obrigatório que a Faculdade
tenha reconhecimento da Santa Sé.
 A formação religiosa da juventude, em qualquer escola, está sujeita a autoridade
e a inspeção da Igreja.

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 Os Ordinários locais têm o direito e o dever de vigiar para que nenhuma escola do
seu território, que ensine algo contra os bons costumes. Isto serve para os
professores e os livros adotados.
 Os Ordinários do local, podem visitar, por si mesmos ou por outros, quaisquer
escolas, oratórios, patronatos, etc., concernentes a formação religiosa e moral.

Podemos perceber que a mudança ocorrida sobre o tema da Educação Católica entre
os dois Códigos de Direito Canônico, não é apenas de ordem sistemática, mas antes de
tudo, uma maneira nova de encarar a realidade do mundo atual com relação a Educação.

1.3. Fonte Conciliar: a Declaração Gravissimum Educationis

Como bem sabemos, foi este documento que inspirou diretamente os cânones 793-
821 do CIC/1983. Temas como a educação, o direito de educar, a escola, a escola católica,
as instituições de ensino superior, são abordados de forma clara e sucinta neste documento
conciliar. Veremos abaixo, um pouco sobre esta Declaração Gravissimum Educationis.
Neste documento conciliar devemos fazer a seguinte pergunta: Qual é o elemento
característico da Escola Católica?
As Escolas, de um modo geral, têm como fim a educação cultural e a formação
humana da juventude. As Escolas Católicas, no espírito evangélico de liberdade e
caridade, ajudar os adolescentes para que, ao mesmo tempo que desenvolvem a sua
personalidade, cresçam segundo a nova criatura que é a razão do Batismo, e ordenar
finalmente toda a cultura humana à mensagem da salvação, de tal modo que seja
iluminado pela fé o conhecimento que os alunos adquirem gradualmente a respeito do
mundo, da vida e do homem. Por isso, podemos chegar a seguinte conclusão, partindo do
que a Declaração Gravissimum Educationis vem nos trazer, que o elemento específico
da escola católica é a dimensão religiosa, que se dará: no ambiente educativo; no
desenvolvimento da personalidade juvenil; na coordenação entre a cultura e o evangelho,
de modo que tudo seja iluminado pela fé.
Passaram mais de vinte anos desta Declaração Conciliar e diante das
problemáticas apresentadas com a evolução do mundo e sobre os problemas das escolas,
a Congregação para a Educação Católica interveio com dois textos bases, sendo um A
Escola Católica, onde trata sobre a identidade e a missão da escola no mundo de hoje e
um chamado O leigo católico, testemunha da fé na escola, teve como intenção valorizar
a atuação dos fiéis leigos.
Portanto, temos a partir daqui um caminho de evolução do Código de 1917 até o
Código de Direito Canônico vigente.

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2. Fundamento do direito da Igreja de criar e dirigir escolas católicas


A codificação canônica vigente é peremptório na defesa do direito da Igreja em
fundar e orientar escolas9.
O cânon repete a doutrina da Declaração Gravissimum Educationis10 e do cânon
1375 do Código de 191711.
Na Carta encíclica Divini Illius Magistri do Romano Pontífice Pio XI, nos
apresenta que a educação é um componente da missão da Igreja, ou seja, o documento
defende o direito da Igreja em difundir a sua mensagem, pois ela é chamada a educar na
fé, pois a educação pode favorecer ou prejudicar a educação cristã.
A Declaração GE e os documentos posteriores afirmam que as escolas católicas
desempenham uma função pública, contribuem para a liberdade escolar e para o ambiente
cultural da sociedade. O direito da Igreja neste campo deve ser visto na perspectiva dos
direitos da pessoa e da família12.
Os Bispos diocesanos devem procurar estabelecer escolas em que a educação
esteja imbuída do espírito cristão, ou se criem escolas profissionais ou técnicas donde
convirjam13.

9
Cân. 800 §§ 1 e 2 do CIC/1983: “ §1. É direito da Igreja criar e dirigir escolas de qualquer disciplina,
ordem e grau.
§2. Os fiéis incentivem a criação e manutenção das escolas católicas, colaborando com sua ajuda, na medida
do possível”.
10
Declaração Gravissimum Educationis n. 8 e 9: “Um grande número de escolas católicas encontram-se
naquelas partes do mundo onde estão realizando profundas mudanças de mentalidade e de vida. Trata-se
de grandes áreas urbanizadas, industrializadas, que progridem na chamada economia terciária.
Caracterizam-se por uma larga disponibilidade de bens de consumo, por múltiplas oportunidades de estudo,
por complexos sistemas de comunicação. Os jovens entram em contato com os mass media desde os
primeiros anos de vida. Ouvem opiniões de todo o gênero, são informados precocemente acerca de tudo.
Através de todos os canais possíveis, entre os quais a escola, são colocados em contato com informações
muito divergentes sem terem capacidade para as ordenar e para realizar a síntese. Não têm ainda ou nem
sempre têm, com efeito, a capacidade crítica para distinguir o que é verdadeiro e bom daquilo que o não é,
nem sempre dispõem de pontos de referência religiosa e moral, para assumir uma posição independente e
justa, perante as mentalidades e os costumes dominantes. O perfil do verdadeiro, do bem e do belo é
apresentado dum modo tão vago, que os jovens não sabem para que direção voltar; e, se ainda acreditam
em alguns valores, são, todavia, incapazes de lhes dar uma sistematização e muitas vezes são inclinados a
seguir a própria filosofia, segundo o gosto dominante”.
11
Cân. 1375 do CIC/1917: “A Igreja tem o direito de fundar escolas de qualquer disciplina, não somente
elementares, mas também médias e superiores”.
12
Congregação para a Educação Católica, La scuola cattolica alle soglie del terzo millennio, 28.12.1997,
n. 17: “Nesta perspectiva, a escola católica estabelece um diálogo sereno e construtivo com os Estados e a
comunidade civil. O diálogo e a colaboração devem ser baseados no respeito mútuo, no reconhecimento
mútuo do próprio papel e no serviço comum ao homem. Para tanto, a escola católica se insere de bom grado
nos sistemas educacionais das várias nações e nas legislações dos diversos Estados, quando estes respeitam
os direitos fundamentais da pessoa, a começar pelo respeito à vida e à liberdade religiosa. A correta relação
entre Estado e escola, não só católica, decorre não tanto das relações institucionais, mas do direito da pessoa
a receber uma educação adequada, segundo a livre escolha”.
13
Cân. 802 §§ 1 e 2 do CIC/1983: “§1. Se faltarem escolas onde se ministre educação imbuída de espírito
cristão, compete ao Bispo diocesano cuidar que sejam fundadas.
§2. Onde for oportuno, o Bispo diocesano providencie que sejam fundadas também escolas profissionais e
técnicas, e ainda outras requeridas por necessidades especiais”.

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Os Institutos de Vida Consagrada que tem como missão própria a educação,


devem manter com fidelidade sua missão, esforçando-se por atualizar permanentemente
o carisma em suas escolas, recordando que há a necessidade do consentimento do Bispo
diocesano para o estabelecimento de uma escola em seu território, algo que não se exigia
no Código anterior14.

3. Cânones introdutórios (cc. 793-795)


Como já sabemos que os cânones introdutórios foram inspirados na Declaração
Gravissimum Educationis.
Por isso é importante analisarmos este documento, e percebermos como o
Legislador tornou como lei na Igreja para sua aplicabilidade.
- os responsáveis pela educação.
O princípio fundamental na educação é que os pais e os que fazem as suas vezes,
“têm a obrigação e gozam do direito de educar os filhos” (cân. 793 §1 do CIC/1983).
A obrigação está ligada intrinsecamente à sua condição de pais, estes têm a
primeira obrigação de educar os filhos, precedendo qualquer instituição ou pessoa.
Deste dever-direito dos pais brota também o seu dever-direito de “escolher os
meios e as instituições com que, segundo as circunstâncias dos lugares, possam
providenciar melhor à educação católica dos filhos” (cân. 793 §1 do CIC/1983). Eles têm
também o direito de usufruir das ajudas que a sociedade civil deve oferecer para alcançar
o seu objetivo. Ao direito dos pais, corresponde o dever do Estado em prestar essas ajudas
(cân. 793 §2 do CIC/1983).
Portanto, os pais católicos têm o dever-direito de educar catolicamente os filhos,
de escolher os meios e as instituições idôneas para transmitir-lhes a educação católica,
usufruir das ajudas necessárias para obter a educação católica dos filhos (cân. 793 §2 do
CIC/1983).
Os pais têm o dever gravíssimo e o direito primário de, na medida das suas forças,
darem aos filhos educação tanto física, social e cultural, como moral e religiosa15.
Este direito-dever é antecedente à própria Igreja e à sociedade civil. Ao dever dos
pais corresponde o direito dos filhos batizados a receber a educação cristã16. Em virtude
do sacramento do matrimônio, o pai e a mãe recebem a graça e o ministério da educação
cristã dos filhos17.

14
Cân. 801 do CIC/1983: “Os Institutos religiosos, que têm a educação como missão própria, conservando
fielmente esta sua missão, procurem dedicar-se à educação católica, também por suas escolas fundadas com
o consentimento do Bispo”.
15
Cân. 1136 do CIC/1983.
16
Cân. 217 do CIC/1983: Os fiéis, já que são chamados pelo batismo a levar uma vida de acordo com a
doutrina evangélica, têm o direito à educação cristã, pela qual sejam devidamente instruídos para a
consecução da maturidade da pessoa humana e, ao mesmo tempo, para o conhecimento e a vivência do
mistério da salvação”.
17
Ioannes Paulus PP. II, Exortação Apostólica Christifideles laici, 30.12.1988, n. 62.

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As autoridades públicas devem providenciar no sentido de concederem às


famílias, todos os subsídios necessários de modo a facilitar a função dos pais, os quais
devem gozar da liberdade na sua missão18.
Específico e singular é o direito-dever da Igreja em educar19. Em primeiro lugar,
porque é uma sociedade humana capaz de ministrar conteúdos de educação; em segundo
lugar, porque recebeu de Deus a missão de anunciar a todos os homens a salvação20. Daí
que “os pastores de almas têm o dever de tudo dispor para que todos os fiéis desfrutem
de educação católica”21.
A finalidade da educação é a íntegra formação da pessoa humana. Os seus
objetivos são: a evolução física, moral e intelectual harmônica; a aquisição do sentido de
responsabilidade; a aquisição do reto uso da liberdade; e a formação para uma
participação ativa na vida social22.

4. Direitos humanos e liberdades fundamentais em relação à educação


a) Liberdade na educação. Direito de receber educação.
O fundamento do direito à liberdade de educação é o direito à liberdade religiosa,
visto que implica o direito de receber educação religiosa, de acordo com as próprias
convicções e o direito de confissões religiosas a transmiti-las. Atividade de ensino e
aprendizagem que o Estado deve promover, como as demais manifestações dos direitos
da liberdade, e cuja promoção pode atingir o grau de prover suas instalações e seu sistema
escolar para efetivar esses direitos, incluindo o respeito e o apoio dos centros
denominados confessionais.
Isto exigiria, desde um ponto de vista negativo, o respeito pelas próprias crenças
em todas as atividades escolares, banindo toda a discriminação por razão de religião e
tudo quanto possa ferir os sentimentos religiosos dos alunos. Além disso, exige, do ponto
de vista positivo, o direito de escolher o tipo de educação religiosa e moral que os pais
desejam para seus filhos, também na esfera da escola pública. O Direito Internacional
incluiu amplamente essas garantias jurídicas. No entanto, é lamentável que nem em todos
os países do mundo foram implementados.
O Código de Direito Canônico vigente estabelece alguns princípios sobre o tema
da educação católica, vejamos:

18
Declaração Gravissimum Educationis, n. 3b.
19
Cân. 794 §1 do CIC/1983: “Por especial razão, o dever e o direito de educar competem à Igreja, a quem
Deus confiou a missão de ajudar os homens a atingir a plenitude da vida cristã”.
20
Ibidem.
21
Cân. 794 §2 do CIC/1983: “É dever dos pastores de almas tudo dispor para que todos os fiéis possam
receber educação católica”.
22
Cân. 795 do CIC/1983: “Sendo que a verdadeira educação deve promover a formação integral da pessoa
humana, em vista de seu fim último e, ao mesmo tempo, do bem comum da sociedade, as crianças e jovens
sejam educados de tal modo que possam desenvolver harmonicamente seus dotes físicos, morais e
intelectuais, adquirir senso de responsabilidade mais perfeito e correto uso da liberdade, e sejam formados
para uma participação ativa na vida social”.

17
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 Todos os pais de família têm o direito e a obrigação de educar os seus filhos. Aqui
se trata de educação no sentido geral, pois ao transmitir a vida humana, é urgente
a educação de seus filhos para que tenham uma verdadeira paternidade humana23.
 Todos os pais católicos têm o direito e a obrigação de assegurar a educação
católica de seus filhos, escolhendo os meios e as instituições para tal. Por sua
vocação ao matrimônio cristão, este ofício e direito é como um ministério, que
também exercem escolhendo o tipo de ensino que melhor defenda os valores
cristãos.
 É um dever e um direito anterior ao do Estado, pelo que o Estado não pode
substituí-lo, mas tem o dever de protegê-lo, proporcionando os meios necessários
para que o estabelecimento desse direito não seja apenas formal, mas real. O
princípio da ação subsidiária do Estado deve ser defendido quando os esforços
dos pais não bastam, distribuindo subsídios públicos para que os pais possam
escolher com absoluta liberdade. Isto excluiria, por um lado, o monopólio estatal
das escolas, que viola os direitos dos pais, e, por outro, a negação de subsídios
alegando o princípio da separação entre Igreja e Estado.
 Além disso, esta obrigação e direito dos pais é anterior à própria Igreja, visto que
são os pais que engendram a pessoa humana24. Este ofício da Igreja não é
subsidiário no sentido em que falamos do Estado; certamente não é anterior aos
direitos dos pais, mas independente de seus direitos, por causa da missão que
recebeu de Cristo. Quando o cânone diz “de maneira singular”, está se referindo
à missão divina, que é exclusiva da Igreja e diferente da dos pais. Além disso, a
Igreja como mãe tem a obrigação de educar seus filhos como a paternidade natural
se impõe aos pais, e como sociedade no mundo pode ser subsidiária do direito dos
pais, capazes de educar25.

O ofício dos pastores é garantir que todos tenham uma educação católica26.
Obviamente é uma afirmação muito genérica, pois na prática é impossível fazer todos os
fiéis recebam essa educação. Note-se, que não se trata apenas de uma exortação, mas sim
de uma lei, de um chamado para que os pastores usem todos os meios à sua disposição
para tornar este mandato sempre e constantemente possível. O que é dito e enviado aos
pastores, deve ser estendido também a toda a comunidade eclesial.

23
Cân. 793 §1 do CIC/1983: “Os pais e os que fazem suas vezes têm a obrigação e o direito de educar sua
prole; os pais católicos têm também o dever e o direito de escolher os meios e instituições com que possam,
de acordo com as circunstâncias locais, prover de modo mais adequado à educação católica dos filhos”.
24
Cân. 747 §1 do CIC/1983: “À Igreja, a quem Cristo Senhor confiou o depósito da fé, para que, com a
assistência do Espírito Santo, ela guardasse santamente a verdade revelada, a perscrutasse mais
profundamente, a anunciasse e expusesse fielmente, compete o dever e o direito nativo independente de
qualquer poder humano, usando também de seus próprios meios de comunicação social, de pregar o
Evangelho a todos os povos”.
25
Cân. 794 §§ 1 e 2 do CIC/1983: “§1. Por especial razão, o dever e o direito de educar competem à Igreja,
a quem Deus confiou a missão de ajudar os homens a atingir a plenitude da vida cristã.
§2. É dever dos pastores de almas tudo dispor para que todos os fiéis possam receber educação católica.”
26
Cân. 794 §2 do CIC/1983: “É dever dos pastores de almas tudo dispor para que todos os fiéis possam
receber educação católica”.

18
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b) Direito de educar. Deveres e direitos dos pais, do Estado e da Igreja.


Se a educação é a principal tarefa dos pais, também é evidente que devem ser
livres para escolher a escola que consideram mais adequada para os seus filhos. Este
princípio fundamental foi reconhecido por vários organismos internacionais e tem graves
consequências para as autoridades civis. A Declaração Universal dos Direitos Humanos
afirma que os pais têm o direito de prioridade na escolha do tipo de educação que quer
dar aos seus filhos. Assumindo a validade do direito parental, a autoridade civil deve
reconhecer essa liberdade, não só afirmando sua existência em teoria, mas também, na
prática, oferecendo os meios morais e materiais para torná-la efetiva. Essa disponibilidade
nem sempre é encontrada por parte das autoridades civis. Por isso, o cânone impõe aos
fiéis trabalhar com o compromisso de obter da sociedade civil o reconhecimento desse
direito paternal, por meio de leis justas e eficazes.
Outro dever fundamental dos pais, divide-se em duas partes:
1º. Os pais têm o dever-direito de confiar seus filhos a quaisquer escolas, desde que haja
a educação católica. Não se trata necessariamente de escolas católicas, mas de escolas em
geral, nas quais, porém, também é possível receber formação religiosa católica. Isso pode
acontecer: * seja porque o Estado ou o gestor da escola garantem que a religião católica
seja ensinada em suas escolas, como matéria incluída no currículo regular, deixando os
alunos livres para frequentá-los ou não, financiando professores próprios; * ou
simplesmente permitindo que professores católicos ensinem religião aos alunos de suas
escolas, mas sem compensação financeira do gerente da escola.
É dever dos fiéis exigir do Estado leis justas sobre as escolas. Como consequência
do compromisso de toda a Igreja de ajudar os pais na educação católica de seus filhos, o
Código de Direito Canônico vigente apresenta outro dever em que os fiéis se esforcem
para que, na sociedade civil, as leis que regulam a formação dos jovens tenham nas
escolas a devida consideração também pela educação religiosa e moral deles, de acordo
com a consciência dos pais27.
Devem comprometer-se também na questão civil, promovendo ou favorecendo a
promulgação das leis escolares, que contemplem também a educação religiosa e moral
dos jovens nas escolas.
Às vezes, nos estados modernos, para uma compreensão um tanto parcial do
conceito de pluralismo, tenta-se eliminar a dimensão religiosa da educação das crianças,
relegando-a à esfera privada e ao campo puramente pessoal. Assim, sob o pretexto de não
querer violentar as consciências ou condicioná-las de qualquer forma, as crianças são
privadas de um elemento essencial para a própria formação da consciência humana. Para
os fiéis católicos, existe um dever fortemente vinculativo de exercer pressão sobre as

27
Cân. 799 do CIC/1983: “Os fiéis se esforcem para que, na sociedade civil, as leis que regulam a formação
dos jovens tenham nas escolas a devida consideração também pela educação religiosa e moral deles, de
acordo com a consciência dos pais”.

19
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autoridades públicas para que, com as suas leis sobre a educação, os pais recebam a ajuda
de que necessitam nesta área.

5. As escolas católicas (cc. 796-806)


a) Noção de educação católica e sua fundamentação jurídica.
A escola é um dos mais importantes instrumentos educacionais e formativos. Ao
mesmo tempo que cuida das faculdades intelectuais com atenção constante, desenvolve a
capacidade de julgamento, promove o sentido dos valores, prepara para vida profissional,
favorece a mútua compreensão dos alunos. É, por isso, que o cân. 796 §§1 e 2 do
CIC/198328, exorta os fiéis a terem grande consideração pelas escolas. Porém, esse
instrumento também é visto como um auxílio aos pais em seu trabalho educacional com
os seus filhos.
Houve uma evolução importante do conceito, desde que o Código de 1917 definiu
a escola católica como aquela em que se dá a educação religiosa católica, sendo fundada
pela Igreja ou pelo Estado (CIC/1917: cc. 1373 e 1379 §1). Pouco depois, Pio XI na Carta
Encíclica Divini Illius Magistri, restringe referindo-se somente aquelas escolas que se
ordenam segundo a doutrina católica e onde se ensina a fé católica, definição esta que
assumirá a Declaração GE. A Sagrada Congregação para a Educação Católica se inclinará
sobre este conceito real, embora também se refira à necessidade do reconhecimento da
hierarquia para que leve o nome de católica.
O Código vigente, como aparece no cân. 803, reúne as duas definições: do ponto
de vista jurídico, escola católica é aquela que dirige a autoridade eclesiástica diretamente,
ou por meio de uma pessoa jurídica eclesiástica pública, ou aquela que é criada por
iniciativa dos fiéis e reconhecida pela autoridade eclesiástica por meio de um documento
escrito. Não seriam, portanto, escolas católicas, mesmo que acomodassem a doutrina
católica em seus ensinamentos, aquelas fundadas pelo Estado, por empresas públicas ou
particulares, ainda que sejam católicos, se não tiverem o reconhecimento. Mas, só o será
de fato, quando for verdadeiramente sustentado pelos princípios católicos, para que todo
o ensino e toda a ação educativa estejam de acordo com a doutrina do Magistério da
Igreja, tanto no que se refere à fé como à religião, moralidade e vida cristã, endossando a
doutrina e as decisões pastorais da hierarquia eclesiástica, principalmente no que diz
respeito ao ensino e à formação religiosa (cf. Cân. 803 §2 e Cân. 806 §1), um ensino que
deve ser incluído entre as disciplinas principais da grade de disciplinas e currículos da
escola católica.
Os professores de uma escola católica serão pessoas que se destaquem por sua
correta doutrina, integridade de vida e qualidades pedagógicas, para que possam realizar
um verdadeiro e frutuoso serviço à Igreja, principalmente se serão nomeados professores

28
Cân. 796 §§ 1 e 2 do CIC/1983: “§1. Entre os meios para aprimorar a educação, tenham os fiéis em
grande estima as escolas, que são realmente a principal ajuda aos pais no cumprimento do seu dever de
educar.
§2. É necessário que os pais cooperem estreitamente com os professores, a quem confiam a educação de
seus filhos; os professores, por sua vez, no cumprimento do dever, colaborem intimamente com os pais,
que devem ser ouvidos com atenção, e suas associações ou reuniões sejam criadas e valorizadas”.

20
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de religião. Também deve se tomar grande cuidado na concepção de programas de


educação religiosa e na aprovação de livros e materiais de ensino.
Daí a necessidade dos pais cooperarem com os professores e não delegarem
inteiramente a eles uma tarefa que é dos pais.
O Cân. 796 sublinha três requisitos decorrentes do princípio acima enunciado:
1º. Os pais, confiando os filhos à escola, devem oferecer aos professores a sua
colaboração ativa e estreita.
2º. Os professores devem aceitar de boa vontade a colaboração dos pais.
3º. Para que a ação dos pais seja efetiva, eles devem se organizar em associações ou
através da celebração de conferências, a fim de apresentar aos professores os frutos de
um trabalho associativo em favor dos filhos.
Tudo isso sublinha o papel primário e essencial dos pais, também na educação
escolar. Isso é verdade para os fiéis, não apenas como pais, mas também como cidadãos
comuns.
A Igreja tem consciência da importante missão das escolas, por isso, a escola é
uma ajuda primordial para os pais no cumprimento do seu dever de educar, um meio
totalmente necessário. Recordamos que ainda existem sociedades subdesenvolvidas onde
isso ainda não é realidade, por isso, deve se buscar uma cooperação entre pais e
professores, para que nem o modelo escolar, nem, portanto, os professores contrariem o
tipo de formação que os pais julgam mais valioso. Isto não significa que corresponda aos
pais a direção das atividades escolares, pois isto necessita de uma preparação profissional
específica.
Para que esta cooperação, de fato aconteça, podemos estabelecer algumas
sugestões para sua aplicabilidade:
1º. Convocar encontros de informação;
2º. Partilhar experiências;
3º. Ouvir os pais e os profissionais da educação.
Todas essas sugestões visam melhorar a qualidade da formação dos mais jovens
no quesito educação. Isso requer um trabalho de capacitação com os pais, que, às vezes,
não tem tempo ou desconhecem seus direitos e deveres29.

29
Cân. 796 §§1 e 2 do CIC/1983: “§1. Entre os meios para aprimorar a educação, tenham os fiéis em grande
estima as escolas, que são realmente a principal ajuda aos pais no cumprimento do seu dever de educar.
§2. É necessário que os pais cooperem estreitamente com os professores, a quem confiam a educação de
seus filhos; os professores, por sua vez, no cumprimento do dever, colaborem intimamente com os pais,
que devem ser ouvidos com atenção, e suas associações ou reuniões sejam criadas e valorizadas”.

21
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Além disso, o Código reafirma a liberdade de escolha da escola tanto ad extra –


implica a possibilidade de escolher entre diferentes opções dentro da sociedade civil – e
ad intra – que há uma variedade de opções também dentro da mesma Igreja30.
Este dever dos pais implica a obrigação de mandar os filhos às escolas, caso
contrário, prever que esta educação seja ministrada fora da escola31.
Os fiéis devem ser solícitos para que este direito seja reconhecido na sociedade
civil, trabalhando por uma mudança de mentalidade32.
Sobre esse assunto é difícil, porque em muitas escolas, ou as horas não são
concedidas dentro do programa de instrução religiosa, ou é colocado como uma matéria
gratuita. Muito dependerá da formação religiosa que os pais tenham.
Vale a pena enfatizar um aspecto muito importante a considerar, tratado pelo
Concílio Vaticano II, na Declaração Gravissimum Educationis que apresenta uma
decisiva mudança na história da escola católica, a passagem da escola como instituição à
escola como comunidade. Vamos entender esta visão da escola como comunidade.
As Escolas Católicas devem apresentar-se como lugares de encontro daqueles que
querem testemunhar os valores cristãos em toda a educação. As Escolas Católicas, mais
do que nenhuma outra, deve constituir-se em comunidade que tem por fim a transmissão
dos valores da vida.
A dimensão comunitária da Escola Católica é, portanto, exigida não só pela
natureza do homem e pela natureza do processo educativo, mas pela própria natureza da
fé. Reconhecendo-se impotente para cumprir os deveres que derivam do próprio projeto
educativo, a Escola Católica é consciente de que a comunidade que ela constitui deve
alimentar-se continuamente e confrontar-se com as fontes donde dimana a razão da sua
existência: a palavra salvífica de Cristo, como se exprime na Sagrada Escritura, na
Tradição, sobretudo litúrgica e sacramental, e na existência daquelas que dela viveram e
vivem33.
A GE n. 8 vê a educação numa perspectiva mais integral e global da pessoa,
abandonando a ótica da societas perfecta.
Precisamos entender que a Escola Católica não é um fenômeno marginal à missão
da Igreja, entra sim na sua especificidade e no campo da educação para a fé:
A Escola Católica insere-se na missão salvífica da Igreja e especialmente na
exigência da educação na fé. Tendo presente que a consciência moral e a consciência
psicológica são chamadas por Cristo a uma plenitude simultânea, como condição para

30
Cân. 797 do CIC/1983: “É necessário que os pais tenham verdadeira liberdade na escolha das escolas;
por isso, os fiéis devem ser solícitos para que a sociedade civil reconheça aos pais essa liberdade e a
garantam também com subsídios, respeitada a justiça distributiva”.
31
Cân. 798 do CIC/1983: “Os pais confiem seus filhos às escolas em que se cuide de uma educação católica;
e, se não o conseguirem, têm obrigação de cuidar que a educação católica deles se faça fora das escolas”.
32
Cân. 799 do CIC/1983: “Os fiéis se esforcem para que, na sociedade civil, as leis que regulam a formação
dos jovens tenham nas escolas a devida consideração também pela educação religiosa e moral deles, de
acordo com a consciência dos pais”.
33
Sagrada Congregação para a Educação Católica, A Escola Católica, 19.03.1977, n. 54.

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recebermos, como convém ao homem, os dons divinos da verdade e da graça, a Igreja


sente-se obrigada a promover nos seus filhos a consciência plena da sua regeneração a
uma vida nova. O projeto educativo da Escola Católica, que deve ter em conta os atuais
condicionamentos culturais, define-se precisamente pela referência explícita ao
Evangelho de Jesus Cristo, que deve radicar-se na vida e na consciência dos fiéis.
A Escola Católica está ligada, por sua própria e intrínseca natureza à Pessoa de
Jesus Cristo:
No projeto educativo, Cristo é o fundamento. Ele revela e promove o sentido novo
da existência e transforma-a, habilitando o homem a viver de da Escola Católica maneira
divina, isto é, a pensar, querer e agir segundo o Evangelho, fazendo das bem-aventuranças
a norma da vida. É precisamente pela referência explícita e condividida por todos os
membros da comunidade escolar – embora em grau diverso – à visão cristã, que a escola
é católica, porquanto os princípios evangélicos tornam-se nela normas educativas,
motivações interiores e ao mesmo tempo metas finais.
Desta maneira a Escola Católica é consciente de estar comprometida na promoção
do homem integral, porque em Cristo, o Homem perfeito, todos os valores humanos
encontram a sua realização plena e, portanto, a sua humanidade. Nisto consiste o caráter
católico, especificamente seu e aqui se radica o seu dever de cultivar os valores humanos
no respeito pela sua legítima autonomia, na fidelidade à missão peculiar de pôr-se ao
serviço de todos os homens. Jesus Cristo, com efeito, eleva e nobilita o homem, valoriza
a sua existência, constitui o paradigma e o exemplo de vida proposto aos jovens pela
Escola Católica.
Porque a concessão do título de “escola católica”? É uma garantia de
conformidade com a linha educativa da Igreja, protegendo também os pais contra
eventuais conteúdos que não estejam de acordo com os seus ideais. Além do mais, os
professores devem primar pela reta doutrina e pela probidade de vida34.

b) Educação material e formalmente católica.


Por escola católica entende-se a que é dirigida pela autoridade eclesiástica
competente ou por uma pessoa jurídica eclesiástica pública, ou que a autoridade
eclesiástica, por meio de documento escrito, como tal reconheça (cf. cân. 803 §1 do
CIC/1983).
A educação materialmente católica, podemos dizer que é dirigida e tem
reconhecimento da autoridade eclesiástica competente. O CIC não especifica quem é a
autoridade eclesiástica prevista no cân. 803 §1 para a fundação ou reconhecimento das
escolas católicas. Contudo, o Bispo diocesano tem todo o poder do seu múnus pastoral
(cf. cân. 381 §1) e a coordenação do apostolado e a sua inserção na comunidade eclesial
está previsto para as associações e escolas, como para todas as obras apostólicas.

34
Cân. 803 §2 do CIC/1983: “A instrução e educação na escola católica deve fundamentar-se nos princípios
da doutrina católica; os mestres devem distinguir-se pela retidão de doutrina e probidade de vida”.

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Podemos aqui distinguir quatro categorias de escolas:


1ª. Aquelas nas quais não é dada nenhuma educação religiosa (cân. 798 do CIC/1983:
“Os pais confiem seus filhos às escolas em que se cuide de uma educação católica; e, se
não o conseguirem, têm obrigação de cuidar que a educação católica deles se faça fora
das escolas).
2ª. Aquelas que, embora não administradas por instituições eclesiásticas ou aprovadas
pela autoridade eclesiástica, no entanto dão uma educação católica (cân. 799 do
CIC/1983: “Os fiéis se esforcem para que, na sociedade civil, as leis que regulam a
formação dos jovens tenham nas escolas a devida consideração também pela educação
religiosa e moral deles, de acordo com a consciência dos pais”).
3ª. Aquelas que são católicas de fato, mas não de direito (cân. 803 §3 do CIC/1983:
“Nenhuma escola, embora realmente católica, use o título de escola católica, a não ser
com o consentimento da autoridade eclesiástica competente”; cân. 802 §1 do CIC/1983:
“se faltarem escolas onde se ministre educação imbuída de espírito cristão, compete ao
Bispo diocesano cuidar que sejam fundadas”).
4ª. Aquelas que são católicas em sentido estrito, para as quais se exige a direção da parte
da autoridade eclesiástica competente ou de uma pessoa jurídica pública eclesiástica, ou
então a aprovação escrita por parte da autoridade competente (c. 803 §1 do CIC/1983);
pelo que nenhuma escola, ainda que católica de fato, pode ter o nome de escola católica,
sem esses elementos (§3): trata-se de uma noção jurídica, por intervenção hierárquica;
essa qualificação de caráter jurídico comporta a obrigação dessas escolas de basear a
instrução e a educação que ministram sobre os princípios da doutrina católica e de assumir
professores que se distingam pela doutrina correta e por uma fé comprovada (cân. 803 §2
do CIC/1983: “A instrução e educação na escola católica deve fundamentar-se nos
princípios da doutrina católica; os mestres devem distinguir-se pela retidão de doutrina e
probidade de vida”.
Formalmente católica, entendemos que o estatuto jurídico da escola católica, deve
corresponder a uma realidade substancial da comunidade educativa cristã. É o que
estabelece o cân. 803 §2 do CIC/1983, no qual se estabelecem os requisitos essenciais
relativos à orientação educacional básica – nas duas dimensões: instrução e da formação
– e às qualidades pessoais dos alunos. Os professores devem ser distinguidos por sua
correta doutrina e integridade de vida.

c) Escolas católicas e sua relação com a autoridade (cf. cc. 804 – 806 do CIC/1983).
A educação religiosa faz parte do “depósito da fé” e da missão confiada à Igreja.
Eles estão, portanto, sujeitos à autoridade eclesiástica, em qualquer escola e por qualquer
meio de comunicação social que ela for conferida.
Vários são os cargos de autoridade hierárquica em relação à escola católica. Em
primeiro lugar, deve assegurar que a instrução e a educação religiosa católica sejam
ministradas de forma adequada em qualquer escola do seu território – pública ou privada,
e isto não como uma sugestão, mas como um verdadeiro mandato.

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As conferências episcopais assegurarão o fornecimento de normas para todas as


escolas em que se ensina a educação católica, também em colaboração e de acordo com
as autoridades responsáveis; o bispo diocesano, que ordena toda a atividade pastoral da
sua Igreja particular, zelando pela aplicação fiel das normas da Conferência Episcopal.
No caso das escolas católicas, o bispo também tem o direito não só de vigiar, mas também
de visitar as edificadas no seu território, como verdadeiro ato de jurisdição, bem como de
organizar a distribuição das escolas no território diocesano, a cooperação das escolas entre
si e a pastoral escolar inserida em toda a pastoral diocesana.
O Ordinário do lugar – não necessariamente o próprio Bispo – tem o direito de
aprovar ou nomear os professores de religião. Este direito aplica-se especialmente às
escolas católicas, mas estende-se àquelas que, não estando sob a autoridade da Igreja,
ministram a educação católica se houver acordo com o Estado. Da mesma forma, tem o
direito de destituir ou exigir o afastamento de professores que não reúnam as condições
de idoneidade acima indicadas, como meio absolutamente necessário para preservar a
identidade cristã do ensino da religião.
O Legislador é claro quanto ao papel da autoridade eclesiástica nesta área da
educação, conforme dita o cân. 804 §1 do CIC/1983: “Está sujeita à autoridade da Igreja
a formação e educação religiosa católica que se ministra em quaisquer escolas, ou que se
promove pelos diversos meios de comunicação social; compete à Conferência dos Bispos
traçar normas gerais nesse campo de ação, e ao Bispo diocesano compete organizá-lo e
supervisioná-lo”.
A pergunta que podemos fazer: Quem é a autoridade da Igreja?
Em resposta a esta pergunta, podemos afirmar que é a conferência episcopal, o
bispo diocesano, o Ordinário do lugar, o diretor da escola católica, cada qual com
competências próprias.
As competências de cada um:
1º. A Conferência episcopal, compete-lhe emanar normas gerais sobre este campo de
ação (cf. cân. 804 §1 do CIC/1983).
2º. Bispo diocesano, compete-lhe:
- regulamentar a instrução e a educação religiosa católica, também em conformidade às
normas emanadas da Conferência episcopal, e vigiar sobre a sua observância em todas as
escolas, católicas e não católicas (cf. cân. 804 §1 do CIC/1983).
- vigiar e visitar as escolas católicas no seu território, mesmo aquelas fundadas e dirigidas
por membros de institutos religiosos (cf. cân. 806 §1 do CIC/1983).
- dar orientações acerca do funcionamento geral da escola católica (cf. cân. 806 §1 do
CIC/1983).
3º. Ordinário do lugar, compete-lhe:
- providenciar a fim de que os professores do ensino religioso nas escolas, católicas e
outras, sejam exímios na doutrina, no testemunho de vida cristã e nas qualidades
pedagógicas (cf. cân. 804 §2 do CIC/1983).

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- nomear ou aprovar os professores de religião para a sua diocese, e, ainda, se motivos de


religião ou de costumes o reclamarem, o direito de os remover ou de exigir que sejam
removidos (cf. cân. 805 do CIC/1983)
- vigiar para que o ensino ministrado nas escolas católicas seja notável no aspecto
científico, ao menos do mesmo nível que o das outras escolas da região (cf. cân. 806 §2
do CIC/1983).
4º. Diretores das escolas católicas, compete-lhes vigiar pela qualidade científica do
ensino, a fim de que este não seja inferior ao das outras escolas da localidade (cf. cân.
806 §2 do CIC/1983).

d) Nomeação e aprovação de professores de religião (cân. 805 do CIC/1983).


Na diocese, de acordo com o caráter da escola, o ordinário local tem direito de
nomear, aprovar e, também remover ou exigir que os professores de religião sejam
removidos se falharem em sua tarefa doutrinal ou moral.
A lei é legítima, mas na prática nem sempre é aplicável quando se depara com a
oposição das autoridades civis. Alguns acreditam que se trata apenas de escolas católicas
e que as sobre as escolas não católicas o ordinário do lugar35, não teria competência na
prática.
O ordinário local deve cuidar que os professores de religião das escolas, mesmo
não católicas, se distingam por reta doutrina, por testemunho de vida e por capacidade
pedagógica36. Por isso o ordinário local tem o direito, para a sua diocese, de nomear ou
de aprovar os professores de religião e, se o exigirem razões de fé e de costumes, de
destituí-los ou de o exigir que sejam destituídos37.
Este cânon 805 é consequência do §1 do cânone anterior. Uma vez que o ensino
religioso católico está sujeito à autoridade da Igreja, a Igreja tem o direito – reivindicável
perante qualquer autoridade humana, uma vez que é uma parte essencial do direito à
liberdade religiosa – de intervir também na nomeação de professores de religião bem
como para exigir a remoção, quando exigido por razões religiosas ou de costumes. Parte
da doutrina sustenta que o cânone só é diretamente aplicável às escolas que dependem da
autoridade eclesiástica, pois do contrário, inevitavelmente colidirá com o Direito dos
Estados que, por um lado, não admitem ingerência pela Igreja, pela Igreja nas escolas
públicas e que defendem, por outro lado, a livre autonomia de quem dirige as escolas
privadas face a eventuais pressões ou coações de entidades externas. Embora isso possa
ser verdade com base nos fatos, não se deve esquecer que a competência e, portanto, o
direito que a Igreja invoca com relação ao ensino da religião católica é natureza da matéria

35
Cân. 134 §2 do CIC/1983: “Com o nome de Ordinário local se entendem todos os mencionados no §1,
exceto os Superiores dos institutos religiosos e das sociedades de vida apostólica”.
36
Cân. 804 §2 do CIC/1983: “O ordinário local seja cuidadoso para que os indicados como professores
para a formação religiosa nas escolas, mesmo não católicas, se distingam pela reta doutrina, pelo
testemunho de vida cristã e pela capacidade pedagógica”.
37
Cân. 805 do CIC/1983: “É direito do Ordinário local, em sua diocese, nomear ou aprovar os professores
de religião, como também afastá-los ou exigir seu afastamento, caso o requeira algum motivo de religião
ou moral”.

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e, não em virtude do local onde é ministrado. Por isso, este direito é plenamente válido,
tanto para as escolas católicas ou de inspiração cristã, como para as escolas não católicas,
públicas ou privadas. Quanto ao direito de intervenção da Igreja – no que tange a
idoneidade da fé ou aos costumes – pode ser negado a nomeação ou destituição de um
professor de religião católica.

Regras adicionais
Cân. 806 §§ 1 e 2 do CIC/1983 diz:
§1. “Compete ao Bispo diocesano o direito de supervisionar e visitar as escolas católicas
situadas em seu território, mesmo quando fundadas ou dirigidas por membros de
institutos religiosos; compete ainda a ele dar prescrições referentes à organização geral
das escolas católicas; tais prescrições têm valor também para as escolas dirigidas por esses
membros de institutos religiosos, salva, porém a autonomia dessas escolas quanto a seu
governo interno”.
§2. “Os dirigentes das escolas, sob a supervisão do Ordinário local, cuidem que a
formação nelas dada atinja pelo menos o nível científico das outras escolas da região”.
No §1 deste cânon, são determinadas as atribuições do Bispo diocesano sobre as
escolas católicas existentes em sua diocese. É acima de tudo, um poder normativo, na
medida em que ele pode emitir disposições relativas à organização geral dessas escolas.
É também um poder de vigilância e visitação canônica – por si ou através de delegados –
que inclui todas as escolas católicas localizadas no território, mesmo aquelas fundadas ou
dirigidas por membros de institutos religiosos.
No §2 deste cânon diz que nas escolas católicas, é dever dos moderadores,
trabalhar arduamente para que o prestígio da escola não falhe e que a instrução que é
oferecida se destaque também sob o aspecto científico, mantendo-se pelo menos no
mesmo nível das demais escolas da região.

e) Questões jurídicas atuais sobre o ensino confessional no Brasil.


Todas as Constituições que se sucederam no Brasil nos últimos quase 80 anos,
desde a Constituição de 1934, incluem um dispositivo que prevê o ensino religioso no
currículo escolar de ensino fundamental. Atualmente, o ensino religioso é garantido e
disciplinado pelo art. 210 da Constituição Federal de 1988, o qual, em seu primeiro
parágrafo, assim determina: “O ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá
disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental”.
Este claro enunciado da Carta Constitucional encontrou mais pontual
regulamentação – ainda em nível federal – no art. 33 da Lei de Diretrizes e Bases da
Educação (Lei n. 9394, de 20 de dezembro de 1996), que depois foi modificado pela Lei
n. 9475, de 22 de julho de 1997. Ele prescreve o seguinte:
“O ensino religioso, de matrícula facultativa, é parte integrante da formação básica do
cidadão e constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino

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fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas


quaisquer formas de proselitismo. §1º. Os sistemas de ensino regulamentarão os
procedimentos para a definição dos conteúdos do ensino religioso e estabelecerão as
normas para a habilitação e admissão dos professores. §2º. Os sistemas de ensino ouvirão
entidade civil, constituída pelas diferentes denominações religiosas, para a definição dos
conteúdos do ensino religioso”.

É interessante notar que a primeira redação do citado artigo impunha que o ensino
em questão fosse ministrado sem ônus para os cofres públicos. Isto foi alterado pela citada
Lei de julho de 1997, a qual suprimiu a frase agora citada, reafirmando com clareza que
o sistema público escolar assume entre os próprios deveres institucionais, com os
relativos ônus financeiros, a obrigação de oferecer o ensino religioso aos alunos que,
facultativamente, queiram recebê-lo.

Acréscimos:
A educação religiosa e moral de acordo com a consciência dos pais deve ser garantida a
todos os jovens e crianças. Este é um princípio sancionado em muitos tratados e
declarações internacionais. Está garantido no ACORDO BRASIL SANTA SÉ. Porém,
falta a regulamentação desta garantia. Mas essas declarações permanecem meras
afirmações legais, se uma lei jurídica formal não responder a elas nos Estados individuais.
Portanto, é uma grave obrigação para os católicos se comprometerem politicamente, de
modo que a legislação escolar de seu país preveja adequadamente isso, de modo que nas
mesmas escolas públicas os alunos recebam a educação religiosa e moral necessária.

É preciso consultar a Legislação de cada Estado sobre o Ensino Religioso.

6. Procedimento para a ereção de uma escola católica.


Como já sabemos, é direito da Igreja criar e dirigir escolas de qualquer disciplina,
ordem e grau (cân. 800 §1 do CIC/1983: “é direito da Igreja criar e dirigir escolas de
qualquer disciplina, ordem e grau. §2: Os fiéis incentivem a criação e manutenção das
escolas católicas, colaborando com sua ajuda, na medida do possível”.
Quais os procedimentos jurídicos- canônicos para ereção de uma escola católica:
1º. Uma escola católica em sua natureza deve ser dirigida pela autoridade eclesiástica
competente ou por pessoa jurídica eclesiástica pública, ou que a autoridade eclesiástica
reconhece como tal, mediante um documento escrito (cf. cân. 803 §1 do CIC/1983);
2º. A escola realmente católica, que utiliza o título de escola católica, deve ter o
consentimento da autoridade eclesiástica competente, isto significa que, este
consentimento deve ser dado por escrito (documento) (cf. cân. 803 §3 do CIC/1983);

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3º. Toda a formação e educação religiosa católica deve estar sujeita à autoridade da Igreja,
ou seja, o Ordinário do local deve ser cuidadoso para que os indicados como professores
para a formação religiosa, se distingam pela retidão de doutrina, pelo testemunho de vida
cristã e pela capacidade pedagógica (cf. cân. 804 §§1 e 2 do CIC/1983);
4º. Compete ao Bispo diocesano o direito de supervisionar e visitar as escolas católicas
situadas em seu território, mesmo quando fundadas ou dirigidas por membros de
institutos religiosos (cf. cân. 806 §1 do CIC/1983). Esta supervisão procede-se da
seguinte forma:
a) O Bispo diocesano dará prescrições referente à organização geral das escolas católicas,
tal prescrição valerá também para as escolas dirigidas pelos membros de Institutos
Religiosos, salvo, porém, a autonomia dessas escolas (cf. cân. 806 §1 do CIC/1983);
b) O Bispo diocesano anime e cuide para que os dirigentes dessas escolas católicas,
prezem pela formação dada nessas escolas, a fim de alcance o bom nível científico para
o crescimento e amadurecimento da pessoa (cf. cân. 806 §2 do CIC/1983).

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II. Universidades católicas e outros Institutos de estudos superiores (cc.


807 – 821).
Vale a pena destacar que quando falamos das Universidades católicas e
Faculdades eclesiásticas, estamos tratando de instituições de ensino superior.
Foi a Constituição Apostólica Deus Scientiarum Domini que distinguiu
universidades católicas e universidades e faculdades eclesiásticas.
Esta constituição apostólica diz que o objetivo entre elas é o de ouvir disciplinas
que estão vinculadas ao sagrado, segundo o ensino superior católico (cf. Título I, art. 2).
Os três graus acadêmicos são: bacharelado, licenciatura e doutorado (cf. Título I, art. 7).
Quanto a estruturação de um estatuto jurídico-canônico para as Universidades e
Faculdades deve se recorrer a este Constituição Apostólica supracitado.

1. Fundamento do direito da Igreja de fundar e dirigir universidades.


1.1. contexto histórico da universidade católica e o direito da Igreja de
fundá-la e dirigi-la.
A origem das universidades encontra-se nos estudos gerias da Idade Média, quase
todos eles erigidos e dirigidos pela Igreja, nos quais se ensinavam disciplinas sagradas e
profanas.
O ensino superior na Idade Média era ministrado por iniciativa da Igreja.
Posteriormente, foram chamadas de “universidades”, termo que antigamente
significava corporações. Até o século XVI, praticamente todas as universidades podiam
ser consideradas católicas. No século XIX, a Igreja foi expulsa das universidades, tanto
pelo estatismo anticlerical-maçônico quanto pelo estatismo protestante. No entanto, não
perdeu o direito de erigir universidades.
Por volta do ano de 1100, surge pelas mãos da Igreja o ensino superior, as
Universidades.
As universidades trouxeram como contribuição para a sociedade da época:
 Lugar de pesquisa;
 Intercâmbios culturais;
 E a formação dos futuros líderes das nações.
E toda esta contribuição tem em sua origem de maneira clara e inequívoca a fé
cristã.
O cân. 807 do CIC/1983 afirma que a Igreja tem o direito de fundar e dirigir
universidades e neste direito traz três objetivos fundamentais:
 Contribuir para uma cultura mais profunda entre os homens;

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 A promoção mais completa da pessoa humana;


 O cumprimento da missão de ensinar da Igreja.
Do ponto de vista estritamente jurídico, o direito da Igreja de estabelecer e dirigir
universidades, é uma aplicação concreta da lei estabelecida no cân. 800 do CIC/1983, a
respeito das escolas, e a ela se aplicam as mesmas considerações. Por outro lado, sua
justificativa teórica é mais complexa, pois incorpora mais diretamente a delicada
problemática das relações entre fé e cultura.
No caso das escolas, a mesma tem uma função principalmente educativa, de
formação da personalidade. Já a Universidade, por outro lado, sem deixar de incluir uma
finalidade pedagógica, é, antes, uma comunidade acadêmica que contribui de forma
rigorosa e crítica para a proteção e o desenvolvimento da dignidade humana e do
patrimônio cultural, através da pesquisa, da educação e dos diversos serviços.
Do fundamento do direito da Igreja de fundar e dirigir as Universidades Católicas
podemos afirmar que as Conferências episcopais traçam algumas normativas, tais como:
 Devem assegurar que existam tais universidades católicas no seu território;
 Juntamente com os Bispos diocesanos, as Conferências episcopais têm o direito e
o dever de zelar para que os princípios da doutrina católica sejam fielmente
observados;
 Deve ser garantido que nas universidades católicas, mesmo nas privadas, exista
uma cátedra de Teologia, onde se lecione também para estudantes leigos. A
Teologia, neste caso, deve ser ministrada adaptando aos destinatários, para que as
compreendam a partir da própria vocação. A partir delas podem ser programadas
e ministradas aulas teológicas relacionadas com as diferentes disciplinas das
demais faculdades da universidade. É uma boa prescrição, pois, ao relacionar as
questões de forma interdisciplinar, melhora-se a educação. Alguns cursos
interessantes a esse respeito seriam: bioética, liberdade religiosa, doutrina social
da Igreja, moral sexual e outros.

2. As universidades Católicas (cc. 807 – 814).


Alguns pontos que encontraremos nestes cânones. Cito abaixo:
1º. A Igreja tem o direito de fundar e dirigir universidades católicas, promovendo
a promoção da pessoa humana e o cumprimento do múnus de ensinar da Igreja;
2º. Toda universidade católica deve ter o consentimento da autoridade eclesiástica
competente;
3º. As conferências episcopais procurem para que existam universidades ou
faculdades, harmoniosamente distribuídas pelo respectivo território, nas quais
investiguem e se ensinem várias disciplinas;
4º. A autoridade que seja competente, segundo os estatutos, tem o dever de
providenciar que nas universidades católicas sejam nomeados docentes que
apresentem idoneidade científica e pedagógica, se distingam pela integridade da
doutrina e pela probidade de vida. E que as conferências episcopais e os Bispos

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diocesanos têm o dever e o direito de vigiar que nessas universidades se observem


fielmente os princípios da doutrina católica;
5º. Que a autoridade eclesiástica competente procure para que nas universidades
católicas se erija a faculdade ou instituto em que se ministrem aulas de teologia
até mesmos para os fiéis leigos;
6º. Os que ensinam disciplinas teológicas necessitam de mandato da autoridade
eclesiástica competente;
7º. O Bispo diocesano exerça intenso cuidado pastoral sobre os estudos provendo
auxílios, sobretudo espiritual aos jovens;
8º. As prescrições relativas às universidades aplicam-se, de igual modo, aos outros
institutos de estudos superiores.

a) Origem, natureza e finalidade.


Quando tratamos sobre a origem e a natureza das universidades e faculdades
católicas, nós estamos falando da sua identidade.
O documento normativo fundamental é a Carta Apostólica Ex Corde Ecclesiae
de São João Paulo II, de 15 de Agosto de 1990. Esta Constituição constitui o primeiro
documento pontifício específico de natureza legislativa sobre as Universidades católicas.
O seu conceito:
 É um centro de estudos superiores com um objetivo claro: a promoção de uma
cultura superior que ao mesmo tempo ajude a elevação da pessoa humana, a
formação da personalidade, firmemente apoiada nos valores do cristão. Isto
através da investigação e do ensino de qualquer disciplina, respeitando a
autonomia entre elas e a sua própria metodologia, mas sempre tendo em conta a
doutrina católica, agindo à luz da fé;
 É uma comunidade de estudos que ensina e investiga em vários campos, partindo
da inspiração do ideal católica e que, por isso, recebe a influência do Magistério
e da doutrina católica.
A universidade enquanto católica, deve ter algumas características essenciais:
1º. Uma inspiração cristã não só dos indivíduos, mas também da comunidade
universitária enquanto tal;
2º. Uma reflexão incessante, à luz da fé católica, sobre o tesouro crescente do
conhecimento humano, ao qual procura dar um contributo mediante as próprias
investigações;
3º. A fidelidade à mensagem cristã tal como é apresentada pela Igreja;
4º. O empenho institucional ao serviço do Povo de Deus e da família humana no
seu itinerário rumo àquele objetivo transcendente que dá significado à vida.
Uma universidade católica pode ser erigida ou aprovada pela Santa Sé, pela
Conferência dos bispos ou por um outro Conselho da hierarquia católica, ou pelo Bispo
diocesano. Em todos esses casos, a competente autoridade eclesiástica deve aprovar os
estatutos da universidade.

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A Constituição Apostólica Ex Corde Ecclesiae, constitui o primeiro documento


pontifício sobre as universidades católicas e foi promulgado por São João Paulo II em 15
de agosto de 1990.
As finalidades das universidades católicas são:
 Contribuir para uma formação cultural mais profunda dos homens;
 Para uma promoção mais plena da pessoa humana;
 Realizar a função de ensinar da Igreja (c. 807 do CIC/1983).
O reconhecimento como universidade católica, deve ser incluído os seguintes pontos:
1º. Que seja realizado o que a Igreja pede e ensina, de modo que também a cultura
“profana” seja imbuída pelo pensamento católico (cf. c. 809 do CIC/1983);
2º. O que foi dito acima seja aplicado também nas escolas católicas (cf. c. 803 §2 do
CIC/1983).
Alguns princípios básicos que fazem parte da natureza de uma Universidade Católica,
citamos abaixo:
- toda universidade católica deve manter a comunhão com a Igreja Universal e com a
Santa Sé. Deve estar em estreita comunhão com a Igreja particular, com os Bispos
diocesanos da região.
- todo bispo tem a responsabilidade de promover o bom progresso das universidades
católicas em sua diocese e tem o direito e o dever de zelar pela preservação e
fortalecimento de seu caráter católico.
- uma universidade católica, como qualquer Universidade, é uma comunidade de
estudiosos, representada por vários campos do saber humano. Ela dedica-se à
investigação, ao ensino e às várias formas de serviço, compatíveis com a sua missão
cultural.
- cada universidade católica, deve enviar periodicamente à autoridade eclesiástica
competente um relatório específico sobre a universidade e suas atividades.

b) Uso do nome “católica”.


O aspecto mais importante onde uma Universidade se destaque com a
nomenclatura de “católica”, de direito, é que tenha o consentimento da autoridade
eclesiástica competente.
O reconhecimento como universidade católica deve se levar em conta o que foi
supracitado nas finalidades das mesmas, e aqui podemos reafirmar que seja procurada
com muito mais empenho a realização da função de ensinar da Igreja; que a cultura
“profana” seja imbuída pelo pensamento católico (cf. cân. 809); e que seja aplicado o que
está previsto no cân. 803 §2 sobre as escolas católicas. É interessante notar que quando
se trata da expressão católica para as universidades católicas, vem trazido do cân. 803 §2
do CIC/1983, a diferença aqui é que os elementos materiais a respeito das universidades

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católicas se destacam na tarefa de pesquisa científica e do ensino iluminada pela luz do


Evangelho.
Uma universidade católica pode ser erigida ou aprovada pela Santa Sé, pela
Conferência dos bispos ou por um outro Conselho da hierarquia católica, ou pelo Bispo
diocesano. Com o consentimento do Bispo diocesano, também pode ser erigida por um
Instituto Religioso ou outra pessoa jurídica pública. Em todos esses casos a competente
autoridade eclesiástica deve aprovar os estatutos da universidade.
A presença dessas características supracitadas, confere a identidade que compõe
uma universidade verdadeiramente católica, ou seja, uma instituição universitária com o
caráter católico.

c) Autoridade competente para erigi-las e para supervisioná-las.


Segundo o artigo 3 nos §§ 1 à 4 da Constituição Apostólica Ex Corde Ecclesiae
diz que:
§1. Uma universidade católica pode ser instituída ou aprovada pela Santa Sé, por uma
Conferência Episcopal ou outra Assembleia da hierarquia católica, por um Bispo
diocesano.
§2. Com o consentimento do Bispo diocesano uma Universidade Católica pode também
ser criada por um Instituto Religioso ou por outra pessoa jurídica pública.
§3. Uma Universidade Católica pode ser fundada por outras pessoas eclesiásticas ou
leigas. Tal Universidade só poderá considerar-se Universidade Católica com o
consentimento da Autoridade eclesiástica competente, segundo as condições que forem
concordadas pelas partes.
§4. Nos casos mencionados nos §§1 e 2 os Estatutos deverão ser aprovados pela
autoridade eclesiástica competente.

d) Nomeação e aprovação de professores: critérios, requisitos e


autoridade competente.
A autoridade competente segundo os estatutos da universidade (essa autoridade
também pode ser a autoridade acadêmica interna) deve providenciar que sejam nomeados
professores idôneos científica e pedagogicamente, excelentes pela integridade de doutrina
e probidade de vida; além disso, se faltarem esses requisitos, observado o procedimento
dos estatutos, fazer com que os professores sejam afastados (cf. c. 810 §1 do CIC/1983).
Essas diretrizes devem ser levadas em conta na redação dos estatutos. De fato, quanto à
reta doutrina, deve-se prever a possibilidade do afastamento dos professores, porque os
estatutos não só devem assegurar que não sejam lesados os direitos adquiridos dos
professores, mas também que não seja prejudicado o caráter de uma instituição católica.
Cabe às Conferências dos bispos e aos bispos diocesanos em nível de Igreja particular a
vigilância sobre a coerência entre a atividade acadêmica e o caráter de instituição católica

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das universidades em geral, portanto também sobre a atividade dos professores católicos
enquanto tais (cf. c. 810 §2 do CIC/1983).
Primeiramente a saber, cada universidade terá um estatuto próprio, que deverá ser
aprovado pela autoridade eclesiástica.
A autoridade eclesiástica desempenha um papel particular na escolha dos
docentes, devendo, de fato, assegurar que, nos termos dos estatutos, sejam contratados
como docentes, pessoas que se distingam pela idoneidade científica e pedagógica; pela
integridade da doutrina, conforme a doutrina do Magistério da Igreja; pela probidade de
vida (cf. c. 810 §1 do CIC/1983). Portanto, de acordo com o cânone, um professor pode
(ou deve) ser destituído quanto parece que lhe falta adequação científica e pedagógica ou
integridade de doutrina ou integridade de vida. Daí a importância desses estatutos serem
formulados de forma clara e completa, para poder proteger tanto a autonomia da
universidade como o seu caráter de universidade verdadeiramente católica.
A autoridade eclesiástica competente deve, sempre de acordo com os estatutos,
prever o afastamento dos professores, quando se verifique a falta de um desses requisitos.
A autoridade eclesiástica, especificamente a Conferência Episcopal e o Bispo diocesano,
exerce uma função de controle neste sentido e para verificar se os princípios da doutrina
católica são fielmente seguidos nas universidades. Com efeito, a qualificação que possui
de universidade católica, recebida da autoridade eclesiástica, deve ter uma confirmação
na vida da universidade.
No caso de se tratar do ensino de disciplinas teológicas, tanto nas universidades
como em outros institutos de estudos superiores, para além dos requisitos supracitados,
os professores necessitam também do mandato da autoridade eclesiástica competente (cf.
c. 812 do CIC/1983), isto é, o encargo formal de ensinar teologia naquele instituto de
estudos particular. Como o cânon fala de mandatum, o encargo deve ser dado por escrito.
De fato, quem o recebe contribui para o cumprimento da função de ensinar da Igreja (cf.
cân. 807 do CIC/1983), e isso em questões teológicas, isto é, dogma, moral, Sagrada
Escritura, etc.

3. As Universidades e Faculdades eclesiásticas (cc. 815 – 821).


a) Origem, natureza e finalidade.
O documento fundamental é a Carta Apostólica Sapientia Christiana de São João
Paulo II de 15 Abril 1979, com as normas aplicativas da Congregação para a Educação
Católica, de 29 Abril 1979.
Quem são as Universidades e Faculdades eclesiásticas?
São as que se ocupam particularmente da Revelação cristã e daquelas disciplinas que lhe
estão conexas, e que, de forma mais estreita se ligam à missão evangelizadora da Igreja,
como a teologia, a filosofia cristã, o direito canônico, a história da Igreja, etc.
Delas se ocupam o Código de Direito Canônico (cc. 815-821) e o Código dos
Cânones das Igrejas Orientais (cc. 646-650).

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- Do Múnus de Ensinar da Igreja -

- Um pouco de história.
A partir da Constituição Apostólica Deus Scientiarum Dominus encontramos um
pouco desta história sobre o surgimento das universidades e faculdades. Surgiram, desde
os primeiros tempos, os centros de ensino, com o fim de ensinar a sabedoria cristã, pela
qual a vida e os costumes dos homens deveriam ser imbuídos. Foi nestes centros de ensino
que foram haurir da ciência, os mais eminentes Padres e Doutores da Igreja, os Mestres e
os Escritores eclesiásticos.
Com o decorrer dos séculos, realmente, graças sobretudo à hábil ação dos Bispos
e dos Monges, foram fundadas, junto das Catedrais e dos Mosteiros, as escolas, as quais
promoviam quer a doutrina eclesiástica, quer a cultura profana, como que a formarem um
todo único. De tais escolas se originaram as Universidades.
O Concílio Vaticano II não teve dúvidas em afirmar que a Igreja acompanha com
zelosa solicitude estas instituições de nível superior e prosseguia, exortando vivamente a
que as Universidades Católicas sejam desenvolvidas e convenientemente distribuídas
pelas diversas partes do mundo, e a que nelas se dê aquela formação, capaz de fazer dos
alunos, homens verdadeiramente eminentes pela doutrina e preparados para se
desempenharem dos mais exigentes cargos na sociedade e para darem testemunho da
própria fé perante o mundo.
Dentre as Universidades Católicas, a Igreja promoveu as Faculdades e
Universidades eclesiásticas, ou seja, aquelas que ocupariam de um modo especial da
Revelação cristã e de tudo aquilo que com esta anda relacionado.
Foi a estas Faculdades que a Igreja confiou, antes de mais nada, o encargo de
preparar com cuidados particulares os próprios alunos para o ministério sacerdotal e para
exercerem o magistério das ciências sagradas e, ainda, para se desempenharem das mais
árduas tarefas do apostolado.
Por Universidades e Faculdades eclesiásticas, são designadas aquelas que,
canonicamente erigidas ou aprovadas pela Sé Apostólica, cultivam e ensinam a doutrina
sagrada e as ciências que com ela estão correlacionadas, com o direito de conferir graus
acadêmicos por autoridade da Santa Sé.
A tarefa principal é preparar com especial atenção os aspirantes ao ministério
sacerdotal, ao ensino das ciências sagradas, às várias e mais exigentes tarefas do
apostolado.
Uma categoria importante das Universidades eclesiásticas é a das Universidades
pontifícias, diretamente erigidas e dirigidas pela Santa Sé.
As Universidades eclesiásticas existem atualmente somente em Roma, e são sete:
A Pontifícia Universidade Gregoriana (com o Pontifício Instituto Bíblico e o Pontifício
Instituto Oriental), a Pontifícia Universidade Lateranense, a Pontifícia Universidade
Urbaniana, a Pontifícia Universidade São Tomás de Aquino, a Pontifícia Universidade
Salesiana, a Pontifícia Universidade de Santa Cruz, a Pontifícia Universidade
“Antonianum”.

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- Finalidades das Universidades e Faculdades eclesiásticas.


São três as finalidades: investigação científica, ensino e serviço eclesial.
1º. Investigação científica
Vem em primeiro lugar, o que lhe dá grande relevo. A investigação faz parte da
vida dos docentes; sem esta não é possível nenhum progresso no conhecimento e no
aprofundamento da verdade.
A Sapientia Christiana elenca sumariamente as finalidades dessa investigação:
aprofundamento da Revelação cristã; síntese sistemática das verdades incluídas na
Revelação cristã; conhecimento das novas situações culturais; síntese adequada com as
diversas culturas.
2º. Ensino
O ensino, a partir do qual os alunos são formados a um nível de alta qualificação
nas próprias disciplinas; preparação dos mesmos, para as suas futuras responsabilidades;
formação permanente dos ministros eclesiásticos; ensinar segundo a doutrina católica;
rigor científico.
3º. Serviço eclesial ou colaboração na evangelização
No ministério da evangelização confiado às Igrejas particulares e à universal,
devem participar, segundo a própria natureza e em estreita colaboração com a hierarquia
também as Universidades e Faculdades eclesiásticas. Participação segundo a própria
natureza significa que, enquanto nas Faculdades eclesiásticas, que se ocupam da
Revelação cristã e daquelas disciplinas com ela relacionadas, há uma ligação mais estreita
na missão evangelizadora, nas Faculdades daquelas ciências que não têm uma particular
ligação com a Revelação cristã, uma conexão com a missão evangelizadora é possível,
enquanto podem beneficiá-las muito: é precisamente sob este aspecto são consideradas e
erigidas como Faculdades eclesiásticas, que têm uma relação especial com a sagrada
hierarquia.

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b) Condições para o reconhecimento eclesiástico.


Algumas normas devem ser observadas para que se garantam a verdadeira
natureza e o reconhecimento de uma Universidade e Faculdade eclesiástica e, as diretrizes
para constituição dos Estatutos, observando as indicações da Congregação para a
Educação Católica.

1º. Para que assumam tal identidade, são necessárias três condições:
a) que sejam erigidas e aprovadas pela Sé Apostólica;
b) que cultivem e ensinem a doutrina sagrada e as ciências que com ela estão
correlacionadas;
c) o direito de conferir graus acadêmicos por autoridade da Santa Sé.
2º. Que obedeçam às três finalidades, tais como:
a) cultivar, promover e aprofundar o conhecimento da Revelação cristã e das matérias
que estão em conexão;
b) formar os alunos, a nível superior de alta qualificação, nas próprias disciplinas,
segundo a doutrina católica e para promover a formação permanente dos ministros da
Igreja;
c) a colaboração com a Igreja Universal e Particular e sempre em comunhão com a
Hierarquia.
3º. Devem ser erigidas e aprovadas pela Santa Sé, do qual é emanado o Decreto para
estabelecer e dirigir tais Universidades e Faculdades.
4º. Somente as Universidades e Faculdades eclesiásticas canonicamente erigidas e
aprovadas pela Sé Apostólica recebem o direito de conferir os graus acadêmicos que
tenham valor canônico.
5º. O Grão Chanceler é o Prelado Ordinário de que dependem juridicamente as
Universidades ou Faculdades. Ele deve velar pela conservação e promover o progresso
da instituição, e, favorecer a comunhão desta com a Igreja, tanto universal como
particular.
6º. Deve ser constituído as autoridades acadêmicas que são pessoais ou colegiais. São
autoridades acadêmicas pessoais, em primeiro lugar, o Reitor ou o Diretor, e o Decano.
As autoridades acadêmicas colegiais são os vários órgãos diretivos, ou os Conselhos quer
da Universidade quer da Faculdade eclesiástica.
7º. Os Estatutos da Universidade e da Faculdade eclesiástica devem determinar os nomes
e as funções das Autoridades acadêmicas, isto significa, de que modo hão de ser
designadas e por quanto tempo permanecerão no cargo.

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8º. Quando as Faculdades fizerem parte de uma Universidade eclesiástica, nos Estatutos
deve estar previsto a coadunação em seu governo com o governo da Universidade, de tal
maneira que seja convenientemente promovido o bem de cada uma delas e seja também
favorecida a cooperação entre si.
9º. No Estatuto deve estar previsto o número de professores, sobretudo os que são
ordinários e os que são extraordinários, o que significa que deve haver os professores que
serão contratados por um tempo determinado e outros por tempo indeterminado, até que
mande o contrário.
10º. Deve especificar as várias categorias de professores, ou seja, o grau de preparação,
de estabilidade e de responsabilidade dos mesmos na Faculdade.
11º. Para que alguém possa ser legitimamente contratado entre os professores ordinários
e os extraordinários em uma Universidade e Faculdade eclesiástica, deve obedecer aos
seguintes critérios:
a. se distinga por riqueza de doutrina, pelo testemunho de vida exemplar e pelo sentido
de responsabilidade;
b. esteja munido do título de doutorado ou de um título equivalente, ou de méritos
científicos realmente excepcionais;
c. tenha comprovado com documentos seguros, nomeadamente com as dissertações
publicadas, ser idôneo para a investigação;
c. demonstre ter as reais aptidões pedagógicas para ensinar.
12º. Os professores que ensinam matérias concernentes a fé e aos costumes, é necessário
que estejam conscientes de que este múnus deve ser exercido em plena comunhão com o
Magistério autêntico da Igreja e, sobretudo, do Romano Pontífice. Devem fazer a
profissão de fé, receber a missio canonica do Grão Chanceler ou de um seu delegado;
eles, de fato, não ensinam por sua própria autoridade, mas em virtude da missão recebida
da Igreja. Os demais professores, por sua vez, deverão receber do Grão Chanceler ou de
um seu delegado a licença para ensinar.
13º. Todos os professores devem receber a Declaração Nihil obstat da Santa Sé.
14º. As Faculdades eclesiásticas estão abertas a todos aqueles, clérigos ou leigos, que
munidos de um regular atestado em que constem o seu comportamento moral e os estudos
prévios feitos, se apresentem como idôneos para serem inscritos na Faculdade.
15º. Os Estatutos devem estabelecer o modo e porque causas graves os alunos poderão
ser suspensos de alguns direitos ou destes ser privados, ou mesmo ser excluídos da
Faculdade, de tal maneira que se proveja a que fiquem convenientemente tutelados os
direitos, tanto dos alunos como da Faculdade ou Universidade.

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16º. No governo e na administração da Universidade e da Faculdade eclesiástica, sejam


as autoridades auxiliadas por outras pessoas habilitadas como o Secretário, o
Bibliotecário e o Ecônomo. Também que haja outras pessoas que auxiliarão nas tarefas
de vigilância, de manter a ordem e os demais encargos, conforme as necessidades da
Universidade ou da Faculdade eclesiástica.
17º. O Reitor e o Diretor serão nomeados, ou pela menos confirmados, pela Congregação
para a Educação Católica.
18º. Quanto a ordenação dos estudos, sejam determinadas aquelas disciplinas que se
requerem como necessárias para se alcançarem as finalidades próprias da Faculdade; ao
mesmo tempo, assinalem-se também aquelas outras que, de diverso modo, ajudam na
consecução de tais finalidades; e isto de maneira a ver-se a distinção entre elas, como
convém;
19º. Devem ser feitos trabalhos práticos e seminários de estudo, com assiduidade, sob a
orientação dos professores, principalmente durante o ciclo de especialização; tais
atividades devem ser continuamente integradas pelo estudo privado e pelos colóquios
frequentes com os professores;
20º. Quanto aos graus acadêmicos, deve estar previsto nos Estatutos de cada Universidade
e da Faculdade eclesiástica, todos os graus acadêmicos que se conferem e com que
condições. Alguns critérios a serem observados:
a. Os graus acadêmicos, que se conferem são: bacharelado, licenciatura e doutorado.
b. Ninguém poderá alcançar um grau acadêmico se não estiver regularmente inscrito na
Faculdade, nem antes de ter completado o curso dos estudos prescrito nos Estatutos, nem
ainda, sem ter sido aprovado nos exames ou provas acadêmicas.
21º. Para se poderem alcançar as finalidades específicas, sobretudo para que se façam as
investigações científicas, em cada Universidade ou Faculdade eclesiástica, deve haver
uma biblioteca adequada, em boa ordem, com livros antigos e atuais, também das
principais revistas periódicas, que possa servir para o aprofundamento e ensino das
disciplinas, para os trabalhos práticos e para os seminários de estudo.
22º. Deve estar previsto nos Estatutos as atribuições e funções do Ecônomo, assim como
a competência do Reitor ou Diretor e dos Conselhos, pelo que se refere a gestão
econômica. Todos os meios econômicos devem estar previstos nos Estatutos.

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c) Nomeação e aprovação de professores: critérios, requisitos e


autoridade competente.
Os professores que ensinam disciplinas sobre a fé e a moral devem receber, após
a emissão da profissão de fé, a “missio canonica” do Grão Chanceler ou de um seu
delegado. Missão canônica significa que não ensinam com autoridade própria, mas por
força da missão recebida da Igreja.
Qual o valor do mandato conferido pela autoridade eclesiástica? É um simples ato
administrativo ou um serviço de responsabilidade eclesial?
O mandato certifica que a autoridade eclesiástica competente assegura a idoneidade
científica do docente no ensino, e que ele, em referência a esse ensino, está em comunhão
com a Igreja. Compete ao docente comportar-se como teólogo católico ou trabalhar em
comunhão. Ele será removido quando, no seu ensino ou no seu comportamento, faltar a
integridade da verdade da fé católica e, portanto, não poderá ser considerado um teólogo
católico.
Este mandato deve ser entendido em sentido estrito de missão canônica, isto é,
não só como atestado público da reta doutrina ensinada pelo professor em plena
comunhão com a Igreja, mas também que este ensina em nome da autoridade eclesiástica,
de modo oficial, participando em um grau maior do poder magisterial.
Ao assumirem sua função, os professores devem fazer a profissão de fé de acordo
com o c. 833 n. 7 do CIC/1983.
Como já foi tratado anteriormente, vale a pena repetir que os professores devem
distinguir-se pela honestidade de vida, integridade de doutrina e dedicação ao dever.
Salientamos que existem diferentes ordens de professores que podem ser
reduzidas as duas categorias básicas: a de professores permanentes e professores não
permanentes.

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d) Sobre a colaboração recíproca entre as Universidades e Faculdades,


mesmo não católicas (cân. 820 do CIC/1983).
A Constituição Apostólica Sapientia Christiana no art. 64 diz que:
“Deve ser procurada com diligência a colaboração mútua das Faculdades entre si, quer
da mesma Universidade, quer da mesma região, ou até mesmo em maior amplitude. Tal
colaboração, de fato, poderá ser muito proveitosa para promover a investigação científica
dos professores e a melhor formação dos alunos; como também, para favorecer aquela
relação que se vai chamando ‘relação interdisciplinar’ e cada vez mais se apresenta como
necessária; de igual modo, para estimular a chamada ‘complementaridade’ entre as várias
Faculdades; e, ainda, duma maneira geral, para que a sabedoria cristã adentre em toda a
cultura”.
O cân. 820 insiste na necessidade de colaboração entre Faculdades de uma mesma
Universidade, da mesma região ou território mais amplo. Esta colaboração deve ser
estendida também a outras Universidades e Faculdades não eclesiásticas. O objetivo aqui
é favorecer o desenvolvimento da ciência. A própria Constituição supracitada é mais
explícita quando afirma que esta colaboração é de grande utilidade para promover a
investigação científica dos professores; para encorajar uma melhor educação dos alunos;
desenvolver a interdisciplinaridade; implementar a complementaridade entre os diversos
institutos; e para que a sabedoria cristã seja penetrada em toda cultura humana.
As Universidades eclesiásticas existem atualmente em Roma e são sete: a
Pontifícia Universidade Gregoriana (com o Pontifício Instituto Bíblico e o Pontifício
Instituto Oriental), a Pontifícia Universidade Lateranense, a Pontifícia Universidade
Urbaniana, a Pontifícia Universidade S. Tomás de Aquino, a Pontifícia Universidade
Salesiana, a Pontifícia Universidade da Santa Cruz, a Pontifícia Universidade
“Antonianum”.
Há possibilidade de existir Faculdades eclesiásticas que estão inseridas em
Universidades Católicas ou nas Universidades estatais.

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4. Institutos de estudos superiores.


a) Origem, natureza e finalidade.
As Universidades Católicas e outros Institutos de estudos superiores são regidos
pelo Ordenamento Jurídico-Canônico em vigência nos cânones 807 – 814 e pela
Codificação dos Cânones das Igrejas Orientais cânon 404 n. 2). Podemos incluir também
o cânon 821 do CIC/1983.
Os Institutos Superiores de Ciências Religiosas ou Institutos de estudos superiores
são centros acadêmicos onde são ensinadas disciplinas teológicas e outras pertencentes à
cultura cristã.
Os Institutos de estudos superiores católicos, quanto a natureza e finalidade, tem
algumas características comuns com as Universidades Católicas, seja através da
investigação, da educação e da preparação profissional. Estão regidos pela Constituição
Apostólica Ex Corde Ecclesiae.
Esses Institutos de estudos superiores concedem diplomas, de acordo com as
autoridades civis dos países em que atuam.
Os ISCRs têm por objetivos oferecer o conhecimento dos elementos principais da
Teologia e dos seus necessários pressupostos filosóficos e complementares das ciências
humanas. Este percurso de estudo, tem a finalidade de:
 Promover a formação religiosa dos leigos e das pessoas consagradas, para uma
participação mais consciente e ativa nas tarefas de evangelização no mundo
contemporâneo, favorecendo também a assunção de empregos profissionais na
vida eclesial e na animação cristã da sociedade;
 Preparar os candidatos para os vários ministérios laicais e serviços eclesiais;
 Qualificar os professores de religião nas escolas.

Estes Institutos de estudos superiores propõem uma abordagem sistemáticas, com


o seu próprio método científico, da doutrina católica, tirada da Revelação cristã,
interpretada autenticamente pelo Magistério da Igreja. Também promove a busca das
respostas às interrogações humanas, numa perspectiva teológica e com a ajuda das
ciências filosóficas, das ciências humanas e de outros âmbitos disciplinares que se
ocupam dos estudos religiosos.
A responsabilidade da promoção e do desenvolvimento dos Institutos de estudos
superiores cabe:
1º. Aos Bispos e aos eparcas, particularmente do que diz respeito a salvaguarda e
da promoção da fé católica;

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2º. À Conferência Episcopal Nacional ou às demais Assembleias da Hierarquia


católica a propósito das Igrejas Orientais, em harmonia com a Congregação para a
Educação Católica e em estreita colaboração com ela, no que se refere à averiguação
e à supervisão acerca da realização das finalidades pastorais;
3º. À Faculdade de Teologia, à qual o Instituto singularmente está vinculado e da
qual se faz, garante junto da Congregação para a Educação Católica, no que diz
respeito ao nível acadêmico e à idoneidade para a consecução das suas finalidades.

b) Condições para o reconhecimento eclesiástico e consequências.


Para o reconhecimento de tal Instituto é preciso elaborar o Estatuto de forma
sistemática. Vejamos os procedimentos canônicos para tal reconhecimento:
1º. Os Institutos de estudos superiores é governado por autoridades comuns e por
autoridades próprias. Quem são essas autoridades?
a) autoridades comuns: o Grão-Chanceler, o Reitor e o Conselho de Faculdade.
b) autoridades próprias: o Moderador, o Diretor e o Conselho do Instituto. Pode
acrescentar também o Vice-Diretor.
2º. Caberá ao Grão-Chanceler da Faculdade de Teologia as seguintes atribuições:
a) pedir à Congregação para a Educação Católica a ereção canônica de cada um dos
Institutos Superiores de Ciências Religiosas, depois de ter obtido o parecer positivo da
Conferência Episcopal;
b) apresentar à Congregação para a Educação Católica o plano de estudos e o texto do
Estatuto do ISCR para a devida aprovação;
c) informar a Congregação para a Educação Católica acerca das questões mais
importantes e enviar à mesma, de cinco em cinco anos, um relatório pormenorizado
relativo à vida e à atividade da ISCR;
d) nomear o Diretor, que deve ser escolhido entre três docentes estáveis, designados pelo
Conselho do Instituto, depois de ter obtido o parecer favorável do Conselho da Faculdade
de Teologia;
3º. Ao Reitor da Faculdade de Teologia compete:
a) convocar e presidir ao Conselho de Faculdade e ao Colégio dos docentes da Faculdade,
no que diz respeito as questões relativas ao ISCR;
b) regular, juntamente com os Diretores dos ISCR as questões comuns;
c) presidir, pessoalmente ou através de um dos seus delegados, as sessões em vista dos
exames de grau;

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d) fornecer anualmente ao Conselho de Faculdade informações sobre o desenvolvimento


do ISCR;
e) apresentar ao Conselho da Faculdade, de cinco em cinco anos, o relatório sobre a vida
e a atividade do ISCR, preparada pelo Diretor, para a aprovação, e enviá-la ao Grão-
Chanceler que depois a transmitirá à Congregação para a Educação Católica;
f) assinar os diplomas dos graus acadêmicos do ISCR.
4º. Ao Conselho da Faculdade cabe:
a) examinar e aprovar, de modo preliminar, os planos de estudo, o Estatuto e o
Regulamento do ISCR;
b) expressar o seu parecer acerca da idoneidade dos docentes do ISCR, em vista da sua
agregação e da sua promoção a estáveis;
c) examinar e aprovar as informações que o Reitor (Decano) deve anualmente oferecer
acerca do desenvolvimento do ISCR;
d) averiguar a consistência e a funcionalidade das estruturas do ISCR e das contribuições
do ISCR, de modo particular da biblioteca;
e) aprovar o relatório quinquenal sobre a vida e a atividade do ISCR, preparada pelo
Diretor;
f) dar a aprovação para a nomeação do Diretor do ISCR;
g) propor ao Grão-Chanceler que se solicite à Congregação para a Educação Católica a
suspensão do ISCR, se ele for inobservante.
5º. O Moderador do ISCR é, geralmente, o Bispo ou o Eparca do lugar onde o
Instituto tem a sede. Se ele se encontra no interior de uma Universidade eclesiástica,
o papel do Moderador é desempenhado pelo Reitor Magnífico. Ao Moderador
compete:
a) procurar fazer com que a doutrina católica seja integralmente conservada e transmitida
com fidelidade;
b) nomear os professores estáveis depois de ter obtido o parecer favorável da Faculdade
de Teologia e os demais docentes do ISCR, concedendo a missio canonica àqueles que
ensinam disciplinas relativas à fé e à moral, depois de ter emitido a profissão de fé. Caso
a tarefa do Moderador seja desempenhada pelo Reitor da Universidade, é o Grão-
Chanceler ou o seu delegado que concede a missio canonica ou a venia docendi;

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c) revogar a missio canonica ou a venia docendi, se caso for necessário. Caso a tarefa do
Moderador seja desempenhada pelo Reitor da Universidade, esta tarefa cabe ao Grão-
Chanceler;
d) dar a aprovação para a nomeação do Diretor;
e) velar sobre o desenvolvimento doutrinal e disciplinar do ISCR, referindo-o ao Grão-
Chanceler;
f) nomear o Vice-Diretor, o Ecônomo e o Secretário do ISCR, se as circunstâncias o
sugerirem, depois de ter ouvido a este propósito o parecer do Diretor;
g) aprovar os balanços e os orçamentos anuais e as atas administração extraordinária do
ISCR;
h) assinar os diplomas dos graus acadêmicos do ISCR, juntamente com o Reitor (Decano)
da Faculdade de Teologia e com o Diretor do Instituto.
6º. O Diretor do ISCR permanece no seu cargo durante cinco anos e pode ser
confirmado no seu ofício uma só vez consecutivamente. Cabe a ele:
a) representar o ISCR diante do Moderador, das autoridades acadêmicas da Faculdade de
Teologia e das autoridades civis;
b) dirigir e coordenar a atividade do Instituto, particularmente no que diz respeito aos
aspectos disciplinar, doutrinal e econômico;
c) convocar e presidir às várias sessões do Conselho do Instituto;
d) participar nas assembleias dos estudantes, pessoalmente ou mediante um dos seus
Delegados;
e) redigir o relatório quinquenal sobre a vida e a atividade do ISCR;
f) assinar os diplomas dos graus acadêmicos do ISCR, juntamente com o Reitor (Decano)
da Faculdade de Teologia e com o Moderador;
g) examinar os pedidos e os recursos dos professores e dos estudantes apresentando, nos
casos mais graves, não resolvidos pelo Conselho do Instituto, a solução ao juízo da
Faculdade de Teologia.
7º. O Conselho do Instituto é formado pelo Diretor, pelo Vice-Diretor, caso exista, por
todos os docentes estáveis e por dois representantes dos docentes não estáveis eleitos
pelos seus colegas, pelo Reitor (Decano) da Faculdade de Teologia ou por um dos seus
delegados, por um delegado do Moderador, por dois estudantes ordinários eleitos pela
assembleia dos estudantes e pelo Secretário. Todos são membros de direito.
8º. Quando se tratar de questões inerentes ao corpo docente, os representantes dos
estudantes não participam no debate, nem na relativa votação.
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9º. O Conselho do Instituto é convocado pelo Diretor pelo menos duas vezes por ano e,
de forma extraordinária, a pedido da maioria do próprio Conselho.

Vejamos a competência do Conselho do ISCR:

a. Definir o plano de estudos, o texto do Estatuto e do Regulamento do ISCR a submeter


à aprovação do Conselho da Faculdade;
b. designar os três docentes estabelecidos, que serão propostos ao Moderador para a
nomeação do Diretor;
c. propor ao Moderador as nomeações dos professores;
d. aprovar o relatório quinquenal sobre a vida e a atividade do ISCR, preparada pelo
Diretor.

10º. Podem pedir a ereção canônica os ISCR, que possuem os requisitos previstos pela
presente Instrução e são capazes de oferecer garantias adequadas também para o futuro.
11º. Compete à Conferência Episcopal Nacional para a planificação dos ISCR no
território, dar a sua aprovação para a ereção de cada um dos ISCRs.
12º. A proposta de ereção de um ISCR deve ser formulada pelo Bispo ou Eparca do lugar
onde o Instituto tem a sede, que deve dirigir-se a uma Faculdade Eclesiástica de Teologia,
que assuma a responsabilidade acadêmica do próprio Instituto. A ligação estabelece-se
mediante uma especial convenção.
13º. A Faculdade de Teologia, depois de ter averiguado a idoneidade dos docentes e a
existência dos requisitos previstos pela presente Instrução, apresentará ao Grão-Chanceler
o pedido de ereção do Instituto, juntamente com a seguinte documentação:
a. o parecer positivo da Conferência Episcopal Nacional ou de outra Assembleia
competente da hierarquia católica;
b. o seu parecer motivado a respeito da ligação do ISCR;
c. o texto da convenção proposta;
d. o texto do Estatuto adequado à presente Instrução;
e. o plano de estudos nas suas subdivisões, com a indicação dos créditos atribuídos a cada
uma das disciplinas;
f. o elenco dos professores com a indicação, para cada um deles, dos títulos acadêmicos,
das publicações, das disciplinas de ensino;

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g. a descrição pormenorizada da sede, da biblioteca, das principais contribuições didáticas


e do plano de funcionamento;
h. o número previsto de estudantes, assim como a proveniência e o estado de vida
(religiosos, religiosas, leigos e leigas).
14º. O Grão-Chanceler, depois de ter examinado os motivos do pedido e a integridade do
procedimento, e tendo averiguado que a mencionada documentação está em sintonia com
quanto prescreve a presente Instrução, fará enviar todo o material à Congregação para a
Educação Católica, juntamente com o seu parecer, pedindo o exame e aprovação do
mesmo e, se as condições forem satisfeitas, a ereção canônica do Instituto e a sua ligação
à Faculdade de Teologia.
15º. A Congregação para a Educação Católica emana os Decretos relativos à ereção do
ISCR e a sua ligação à Faculdade de Teologia, bem como a aprovação do Estatuto ad
tempus et ad experimentum.

Consequências:
 Se um ISCR fosse gravemente inobservante naquilo que diz respeito
à observância dos requisitos, o reconhecimento poderá ser suspendido
ad tempus e, se for o caso, revogado pela Congregação para a
Educação Católica.
 Eventuais modificações ao texto do Estatuto do ISCR devem ser
submetidas pelo Grão-Chanceler da Faculdade de Teologia à
Congregação para a Educação Católica para a sua devida aprovação.

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c) Graus de vinculação com Universidades ou Faculdades


(católicas/eclesiásticas): Afiliação – Agregação – Incorporação.

Estas três instruções baseiam-se na Constituição Apostólica Veritatis Gaudium –


sobre as Universidades e Faculdades eclesiásticas promulgada pelo Santo Padre Francisco
de 08 de Dezembro de 2017.
Este documento estabelece os critérios fundamentais para a renovação e
relançamento da contribuição dos estudos eclesiásticos para uma Igreja em saída.
O critério fundamental é a necessidade urgente de “criar redes” entre as diferentes
instituições que, em qualquer parte do mundo, cultivem e promovam os estudos
eclesiásticos.
Esta expressão “criar redes” significa, em primeiro lugar, trabalhar juntos, em
segundo lugar, ter uma melhor coordenação dos estudos dentro da instituição e, portanto,
o discurso da transdisciplinaridade, para que as disciplinas não sejam autorreferenciais e
propostas em termos fragmentados, mas dialoguem entre si e, em terceiro lugar, fazer
com que esta rede, não se multipliquem em instituições inúteis. Neste sentido, o
instrumento de afiliações, agregações e incorporações é muito importante para consolidar
as relações entre as instituições, mantendo a autonomia de cada instituição.

I. Instrução sobre a Afiliação de Institutos de Estudos Superiores.


As afiliações surgiram no ano de 1936, pela Sagrada Congregatio de Seminaris et
studiorum Universitatibus. A partir dos anos 60, eles se espalharam pela África, Ásia e
Europa.
Com a Constituição Apostólica Sapientia Christiana, São João Paulo II, quis
promovê-los, afirmando que é inegável que os centros teológicos, sejam dioceses ou
institutos religiosos, estejam filiados a alguma Faculdade de Teologia.
Com o desenvolvimento da educação superior em todo o mundo e para promover
o reconhecimento das habilitações e diplomas obtidos nas instituições eclesiásticas
acadêmicas pelo clero, leigos e religiosos, foi necessário atualizar o atual regulamento de
filiação.
Após a promulgação da Constituição Apostólica Veritatis Gaudium, a
Congregação para a Educação Católica para promover com ponderada e determinação
profética, em todos os níveis, um relançamento dos estudos eclesiásticos no contexto da
nova etapa da missão da Igreja, promulga esta Instrução sobre a afiliação dos Institutos
de Estudos Superiores às Faculdades eclesiásticas, a fim de prover tanto para o progresso

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desses Institutos, quanto para sua distribuição conveniente nas diferentes partes do
mundo.

Ordenamento canônico para a Afiliação de um Instituto de Estudos Superiores, está no


Art. 63 da Veritatis Gaudium:
“A afiliação de um Instituto a alguma Faculdade para a consecução do Bacharelado
será decretada pela Congregação para a Educação Católica, depois de terem sido
satisfeitas as condições por ela estabelecida para isso.
É sumamente desejável que os Centros de estudos teológicos, tanto das Dioceses como
dos Institutos Religiosos, sejam afiliados a alguma Faculdade de Teologia”.

Noção de Afiliação.
A afiliação a um Instituto, que se distingue da agregação e incorporação, é a união
com uma Faculdade eclesiástica, com o objetivo de alcançar, por meio da Faculdade, o
grau acadêmico correspondente ao primeiro ciclo, isto é, o bacharelado.
O Instituto afiliado, a menos que se disponha o contrário em seus Estatutos, está
aberto a eclesiásticos ou leigos que, apresentando um certificado válido de boa conduta e
haver realizado os estudos prévios, são idôneos para inscrever-se no primeiro ciclo de
uma Faculdade eclesiástica.
É dever da Faculdade que afilia, assistir e vigiar diligentemente o Instituto afiliado
para que sua vida acadêmica seja realizada de maneira completa e regular. Para que isso
aconteça mais facilmente, a filiação deve ser estabelecida na mesma região.
Os estudos do Instituto afiliado devem ser adequados com as normas da
Constituição Apostólica Veritatis Gaudium, no que se refere ao primeiro ciclo da
Faculdade a que se afilia.

Condições canônicas do Instituto Afiliado.


A afiliação não pode ser concedida, se o Instituto não cumprir os requisitos
necessários para a obtenção do grau acadêmico do primeiro ciclo. Deste modo, existe uma
esperança fundada de que, através da ligação com a Faculdade, o objetivo pretendido seja
efetivamente alcançado.
Neste sentido, devem ser observados os seguintes pontos:
1º. É necessário refletir cuidadosamente sobre a necessidade ou, pelo menos, sobre a real
utilidade da ereção do Instituto, ao qual não se pode prover de outra maneira.
2º. O número e a qualidade dos docentes do Instituto, devem ser tais, que cumpram as
condições do primeiro ciclo institucional.

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3º. É necessário que todos os docentes tenham obtido o doutorado ou, pelo menos, o
Mestrado e que estejam isentos de outras responsabilidades incompatíveis.
4º. Se requer um número suficiente de estudantes.
5º. O Instituto deve dispor de subsídios científicos, informáticos e audiovisuais
adequados, principalmente uma biblioteca, que satisfaça as necessidades acadêmicas do
primeiro ciclo.
A modalidade de governo do Instituto afiliado deve ser determinada nos Estatutos
particulares, aprovados pelo Conselho da Faculdade e, em seguida, pela Congregação
para a Educação Católica, atentando para que não contrariem o que está prescrito nos
Estatutos da Faculdade ou da Universidade. As autoridades acadêmicas da Faculdade,
pessoais e colegiais, são ipso iure autoridades do Instituto afiliado. As tarefas e os deveres
de todas estas autoridades devem ser definidos nos Estatutos.
Para ser Diretor, requer ser eleito entre os docentes estáveis.
Se o Instituto afiliado está unido a um Seminário Maior, salvaguardando a devida
colaboração em todos os assuntos que digam respeito ao bem dos alunos, os Estatutos
devem garantir de forma clara e eficaz que a direção acadêmica e a administração do
Instituto, está devidamente separado do governo e da administração do Seminário Maior.

Concessão de afiliação e grau acadêmico.


1º. A afiliação se concede mediante um decreto da Congregação para a Educação
Católica.
2º. O mesmo decreto deverá conceder expressamente ao Instituto afiliado a personalidade
jurídica canônica pública.
3º. Compete à Congregação para a Educação Católica conceder, por decreto,
personalidade jurídica a um Instituto afiliado pertencente a uma Universidade civil.
4º. A afiliação poderá ser concedida aos Institutos, que se comprovarem idôneos por um
período de tempo, havendo recebido o parecer favorável tanto do Ordinário, do Hierarca
do lugar, como da Conferência episcopal e da estrutura hierárquica.
5º. O pedido deve ser apresentado à Congregação para a Educação Católica pelo Grão-
Chanceler da Faculdade que afilia, após o Conselho da Faculdade e da Universidade,
verificou e aprovou todos os requisitos com diligência.
6º. O grau acadêmico de primeiro ciclo é conferido pela Faculdade que afilia, cujo nome
(é o da Universidade, se a Faculdade fizer parte de uma Universidade) deve aparecer
escrito no diploma.

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Passos para a obtenção ou renovação da afiliação.


a. A proposta de ereção de um Instituto afiliado deve ser formulada pelo Ordinário, pelo
hierarca ou Superior Maior do lugar onde tem sede o Instituto, o qual deve dirigir-se a
uma Faculdade eclesiástica para que assuma a responsabilidade acadêmica do referido
Instituto.
b. A Faculdade que afilia, através do seu delegado ou da Comissão para Afiliação, deve
em primeiro lugar verificar se o Instituto que será afiliado cumpra com as condições
acadêmicas prescritas.
c. Se o resultado for positivo, o Grão-Chanceler da Faculdade, certificada a existência dos
requisitos previstos pela presente Instrução, transmitirá à Congregação para a Educação
Católica, junto ao seu parecer, o seguinte:
* uma relação, com o juízo da Faculdade, sobre o estado acadêmico existente no Instituto
por afiliar;
* os Estatutos do Instituto a ser afiliado, redigidos em modo análogo aos da Faculdade;
* O Plano de estudo do primeiro ciclo do Instituto, distribuído por anos, com os créditos
para cada uma das disciplinas;
* O currículo de todos os professores, estáveis ou não, do Instituto;
* a previsão do número dos estudantes, distribuídos por anos.

Competência da Congregação para a Educação Católica.


1º. A Afiliação se concede normalmente ad quinquennium experimenti gratia. Passados
esse período com êxito, se renova ad alterum quinquennium. Posteriormente, se for
positivo, se concede ad aliud quinquennium. As renovações sucessivas serão ad aliud
quinquennium. Se caso, as condições acadêmicas do Instituto, em particular com
referência ao número de estudantes e de professores, também a qualidade científica, não
cumprem com os requisitos necessários, a afiliação poderá ser suspendida ou revogada
pela Congregação para a Educação Católica.
2º. Para que a Congregação para a Educação Católica possa conceder a afiliação, é
necessário que as autoridades competentes da Faculdade que afilia, apresentem o seu
parecer sobre cada um dos candidatos para ensinar.
3º. Aqueles que ensinam disciplinas concernentes a fé e a moral devem receber, depois
de haver feito a profissão de fé, a missio canonica por parte do Grão-Chanceler ou do seu
delegado, o qual pode conferi-la ou revogá-la, segundo as normas da Constituição
Apostólica Veritatis gaudium.
4º. Para a renovação da afiliação é necessária a solicitude do Grão-Chanceler da
Faculdade que afilia.

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II. Instrução sobre a Agregação de Institutos de Estudos Superiores.


Ordenamento canônico para a agregação de um Instituto.
A agregação e a incorporação de um Instituto em uma Faculdade, para a
consecução também dos graus acadêmicos superiores, serão igualmente decretadas pela
Congregação para a Educação Católica, depois de terem sido satisfeitas as condições por
ela estabelecidas para isso.
Noção e particularidades da Agregação.
A Agregação de um Instituto, que se distingue da Afiliação e da Incorporação, é
a união com uma Faculdade eclesiástica com o objetivo de conseguir, mediante a
Faculdade, os graus acadêmicos correspondentes ao primeiro e segundo ciclo, quer dizer,
o bacharelado e a licenciatura.
O Instituto agregado está aberto a eclesiásticos ou leigos que, apresentando o
certificado válido de boa conduta e tendo realizado os estudos prévios, são idôneos para
inscrever-se ao correspondente ciclo de uma Faculdade eclesiástica.
É tarefa e dever da Faculdade que agrega, assistir e vigiar diligentemente o
Instituto agregado para que sua vida acadêmica se tenha êxito de maneira completa e
regular. Para que isto aconteça facilmente, a agregação geralmente deve estabelecer-se na
mesma região.
Os estudos do Instituto agregado devem adequar-se às normas da Constituição
Apostólica Veritatis gaudium, no que se refere ao primeiro e segundo ciclo da Faculdade
que agrega.
Condições canônicas do Instituto Agregado.
1ª. Não se pode conceder a Agregação se o Instituto não cumprir com os requisitos
necessários para a consecução dos graus acadêmicos do primeiro e do segundo ciclo.
Desta maneira, deve haver uma esperança fundada de que através da conexão com a
Faculdade, o objetivo desejado se alcance realmente. A este respeito se devem observar
os seguintes pontos:
a) é necessário refletir cuidadosamente sobre a necessidade ou ao menos, sobre a real
utilidade da ereção do Instituto, ao qual não se pode proceder de outra maneira.
b) o número e a qualidade dos professores do Instituto devem ser tais, que podem cumprir
as condições tanto do primeiro ciclo institucional como do segundo ciclo de
especialização.
c) é necessário que todos os professores tenham obtido o doutorado, que tenham
demonstrado idoneidade para investigação científica, com documentos comprovados,
com dissertações publicadas.
2ª. Se requer um número suficiente de estudantes.

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3ª. O Instituto deve dispor de subsídios científicos, informáticos e técnicos audiovisuais


adequados, principalmente uma biblioteca que satisfaça as necessidades acadêmicas do
segundo ciclo.
4ª. As horas semanais de aulas, exercícios e seminários, complementadas com o estudo e
o trabalho pessoal, devem ser suficientes para alcançar um número adequado de créditos
formativos correspondentes a um ano de estudos universitários em tempo completo.
5ª. A modalidade de governo do Instituto agregado deve ser determinada nos Estatutos
particulares aprovados pelo Conselho da Faculdade e logo pela Congregação para a
Educação Católica, prestando atenção a que não estão em contraste com aquilo que está
previsto nos Estatutos da Faculdade ou da Universidade. As autoridades acadêmicas da
Faculdade, pessoal e colegial, são ipso iure autoridades do Instituto agregado. As tarefas
e os deveres de todas estas autoridades devem ser definidos pelos Estatutos.
6ª. Para ser Diretor, se requer a confirmação da Congregação para a Educação Católica.
É necessário também em caso de renovação do mandato.
7ª. Se o Instituto agregado está unido a um Seminário Maior, os Estatutos devem garantir
de maneira clara e eficaz que a direção acadêmica e a administração do Instituto estejam
devidamente separadas do governo e da administração do Seminário Maior.

Concessão da agregação e dos graus acadêmicos.


1º. A agregação se concede mediante um decreto emitido pela Congregação para a
Educação Católica;
2º. O mesmo decreto deverá outorgar ao Instituto agregado a personalidade jurídica
canônica pública, em caso de haver sido solicitada expressamente;
3º. Compete a Congregação para a Educação Católica conceder com o decreto a
personalidade jurídica canônica a um Instituto agregado pertencente a uma Universidade
civil;
4º. A agregação pode ser concedida àqueles Institutos que tenham demonstrado idôneos
durante um período de tempo, havendo recebido o parecer favorável tanto do Ordinário,
do hierarca do lugar, como da Conferência episcopal e da estrutura hierárquica oriental;
5º. A solicitação deve ser apresentada a Congregação para a Educação Católica por parte
do Grão-Chanceler da Faculdade que agrega, depois que o Conselho da Faculdade – e da
Universidade se a Faculdade for parte de uma Universidade – tenha sido constatado e
aprovado todos os requisitos com diligência;
6º. Os graus acadêmicos de primeiro e segundo ciclo são conferidos por uma Faculdade
que agrega, cujo nome (e da Universidade, se a Faculdade formar parte de uma
Universidade) deve aparecer escrito sobre o diploma.

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Passos para a obtenção ou a renovação da agregação.


1º. A proposta de ereção de um Instituto agregado deve ser formulada pelo Ordinário,
hierarca ou o Superior Maior do lugar onde tem sede o Instituto, ao qual deve dirigir-se a
uma Faculdade eclesiástica para que assuma a responsabilidade acadêmica deste Instituto.
2º. A Faculdade que agrega, através de seu delegado ou da comissão para agregação, deve
em primeiro lugar verificar se o Instituto que será agregado, cumpra com as condições
acadêmicas prescritas, também através de visitas in loco.
3º. Se o resultado for positivo, o Grão Chanceler da Faculdade (ou da Universidade, se a
Faculdade formar parte de uma Universidade), certificada a existência dos requisitos
previstos pela presente Instrução, transmitirá a Congregação para a Educação Católica,
junto ao seu parecer, o seguinte:
a. uma relação, a juízo da Faculdade, sobre o estado acadêmico existente no Instituto para
agregar;
b. os Estatutos do Instituto para agregar redigidos de modo análogo aos da Faculdade;
c. o Plano de estudos, tanto do primeiro como do segundo ciclo do Instituto, distribuído
por anos, com o número de créditos para cada uma das disciplinas.
4º. Os currículos dos professores estáveis ou não, do Instituto agregado.
5º. A previsão do número dos estudantes, distribuídos por anos.

Competência da Congregação para a Educação Católica.


Agregação se concede normalmente por cinco anos ad experimentum. Passados
este período com êxito, a Congregação concede a renovação por mais cinco anos. Se as
condições acadêmicas do Instituto, em particular ao número de estudantes e dos
professores, ademais da qualidade científica, não cumprirem com os requisitos
necessários, a agregação poderá ser suspendida ou revogada pela Congregação para a
Educação Católica.
Aqueles que ensinarão disciplinas concernentes à fé e a moral devem receber,
depois de haver feito a profissão de fé, a missio canonica por parte do Grão Chanceler
(ou do seu delegado), ao qual pode conferi-la ou revogá-la, segundo as normas contidas
na Constituição Apostólica Veritatis Gaudium.
Antes de se conceder, mediante decreto, a agregação, é necessário que se solicite
o nihil obstat ad docendum a Congregação para a Educação Católica para os professores
do Instituto por agregar.

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III. Instrução sobre a Incorporação de Institutos de Estudos Superiores.

Noção e particularidade da Incorporação.


A Incorporação de um Instituto, que se distingue da afiliação e da agregação, é a
união com uma Faculdade eclesiástica com o objetivo de conseguir, mediante a
Faculdade, os graus acadêmicos correspondentes o segundo e o terceiro ciclo, ou seja, a
licenciatura e o doutorado.
O Instituto incorporado, está aberto aos eclesiásticos ou aos leigos que,
apresentando o certificado válido de boa conduta e tenha realizado os estudos prévios,
serão idôneos para inscrever-se ao correspondente ciclo de uma Faculdade eclesiástica.
É tarefa e dever da Faculdade que incorpora, assistir e vigiar diligentemente o
Instituto incorporado para que sua vida acadêmica seja aplicada de maneira completa e
regular. Para que isto tenha êxito facilmente, a incorporação se estabeleça na mesma
região.
Os estudos do Instituto incorporado devem adequar-se as normas da Constituição
Apostólica Veritatis gaudium, no que se refere ao segundo e ao terceiro ciclo da
Faculdade que incorpora.

Condições canônicas do Instituto incorporado.


1ª. Não se pode conceder a incorporação, se o Instituto não cumprir com os requisitos
necessários para a consecução dos graus acadêmicos do segundo e terceiro ciclo.
2ª. É necessário refletir cuidadosamente sobre a necessidade ou, ao menos, sobre a real
utilidade da ereção do Instituto, ao qual não se possa prover de outra maneira.
3ª. O número e a qualidade dos professores do Instituto devem ser tais, que possam
cumprir as condições tanto do segundo ciclo de especialização como do terceiro ciclo do
doutorado.
4ª. É necessário que todos os professores tenham obtido o título de Doutorado, que
tenham demonstrado idoneidade na investigação científica com documentos
comprovados e publicados.
5ª. Se requer que tenham um número suficiente de estudantes.
6ª. O Instituto deve dispor de subsídios científicos, informáticos e técnicos audiovisuais
adequados, principalmente uma biblioteca que satisfaça as necessidades acadêmicas do
terceiro ciclo.

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7ª. As horas semanais de aulas, exercícios e seminários, complementados com o estudo e


o trabalho pessoal, devem ser suficientes para computar um número adequado de créditos.
8ª. A modalidade de governo do Instituto incorporado deve ser determinada pelos
Estatutos aprovados pelo Conselho da Faculdade que incorpora e logo pela Congregação
para a Educação Católica. As autoridades acadêmicas da Faculdade, pessoal e colegial,
são ipso iure autoridades do Instituto incorporado.
9ª. Para ser Diretor do Instituto incorporado, se requer a confirmação da Congregação
para a Educação Católica. Necessário também no caso de renovação do mandato.

Concessão da Incorporação e dos graus acadêmicos.


a. A incorporação se concede mediante um decreto emanado pela Congregação para a
Educação Católica.
b. O mesmo decreto deverá outorgar expressamente ao Instituto incorporado a
personalidade jurídica canônica pública, em caso de ter feito a solicitação.
c. A incorporação pode ser concedida àqueles Institutos que tenham demonstrado
idôneos, durante um período de tempo, havendo recebido o parecer favorável tanto do
Ordinário, do hierarca do lugar, como da Conferência episcopal, da estrutura hierárquica
oriental.
d. A solicitação deve ser apresentada a Congregação para a Educação Católica por parte
do Grão Chanceler da Faculdade que incorpora, depois que o Conselho da Faculdade – e
da Universidade, se a Faculdade formar parte de uma Universidade – tenha constatado e
aprovado todos os requisitos com diligência.
e. Os graus acadêmicos de segundo e terceiro ciclo são conferidos pela Faculdade que
incorpora, cujo nome deve aparecer escrito sobre o diploma.
f. Os graus conferidos são os mesmos que são conferidos na Faculdade que incorpora ao
terminar o segundo e o terceiro ciclo.
g. Para ser admitido ao doutorado se requer haver conseguido a licenciatura.
h. Para conseguir o doutorado se requer uma dissertação doutoral que contribua
efetivamente ao progresso da ciência e seja publicada.
i. Publicar a dissertação em forma eletrônica é admissível, se caso o plano de estudos
prevê e se determina as condições, de modo que se garantem sua acessibilidade
permanente.
j. Um exemplar, em forma impressa da dissertação publicada deve ser enviado à
Congregação para a Educação Católica. Se aconselha enviar uma cópia também para as
Faculdades eclesiásticas, ao menos da mesma região, que se ocupam das mesmas
ciências.

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Passos para a obtenção ou a renovação da Incorporação.


1º. A proposta de ereção de um Instituto incorporado deve ser formulada pelo Ordinário,
hierarca ou o Superior Maior do lugar onde tem a sede o Instituto.
2º. A Faculdade que incorpora, através de seu delegado ou da comissão para a
incorporação, deve em primeiro lugar verificar se o Instituto que será incorporado
cumprirá com as condições acadêmicas prescritas, também através de visitas in loco.
3º. Se o resultado for positivo, o Grão Chanceler da Faculdade (ou da Universidade, se a
Faculdade formar parte de uma Universidade), certificada a existência dos requisitos
previstos pela presente Instrução, transmitirá à Congregação para a Educação Católica,
junto com o seu parecer, o seguinte:
a. uma relação, com o parecer da Faculdade, sobre o estado acadêmico existente no
Instituto a ser incorporado;
b. os Estatutos do Instituto a ser incorporado devem ser redigidos em modo análogo aos
da Faculdade;
c. o Plano de estudos tanto do segundo como do terceiro ciclo do Instituto, distribuído por
anos, com o número de créditos, tanto para cada uma das disciplinas, como para a
especialização elegida do segundo ciclo.
d. os currículos de todos os professores, tanto os estáveis e os não estáveis do Instituto;
e. a previsão do número dos estudantes, distribuídos por anos.

Competência da Congregação para a Educação Católica.


Incorporação se concede normalmente por cinco anos ad experimentum.
Passados este período com êxito, a Congregação concede a renovação por mais cinco
anos. Se as condições acadêmicas do Instituto, em particular ao número de estudantes e
dos professores, ademais da qualidade científica, não cumprirem com os requisitos
necessários, a incorporação poderá ser suspendida ou revogada pela Congregação para a
Educação Católica.
Aqueles que ensinarão disciplinas concernentes à fé e a moral devem receber,
depois de haver feito a profissão de fé, a missio canonica por parte do Grão Chanceler
(ou do seu delegado), ao qual pode conferi-la ou revogá-la, segundo as normas contidas
na Constituição Apostólica Veritatis Gaudium.
Antes de se conceder, mediante decreto, a agregação, é necessário que se solicite
o nihil obstat ad docendum a Congregação para a Educação Católica para os professores
do Instituto por incorporar

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d. Nomeação e aprovação de professores: critérios, requisitos e


autoridade competente.
A respeito dos professores que lecionam em Institutos de Estudos Superiores é importante
destacar que poderão ser designados de maneira estável ou não; dar-se-á pelo nome de
ordinário e extraordinário. Com o nome de ordinário, dizemos que são aqueles
professores com título pleno, ou seja, que tenha o doutorado; pelo nome de extraordinário,
entendemos que são aqueles que não tendo o título pleno, se enquadrarão neste requisito.
Além dos professores estáveis, há também os professores convidados de outras
Faculdades.
O número mínimo de professores para os Institutos, são de cinco ou quatro, dependendo
da necessidade.
Os Estatutos devem indicar quando é conferido o cargo de professor ordinário ou estável,
isto em referência à declaração de nihil obstat, ou seja, “nada obsta”.
O “nada obsta” da Santa Sé é a declaração de que, segundo as normas da Constituição e
dos Estatutos particulares, não existe impedimento algum à nomeação proposta, mas que
por si só não confere nenhum direito a ensinar. Se depois suceder que exista um
impedimento qualquer, isso deve ser comunicado ao Grão-Chanceler, o qual ouvirá o
professor a tal respeito.
Os professores, e em primeiro lugar os professores estáveis, procurem colaborar
assiduamente entre si; aconselha-se também a cooperação com professores de outras
Faculdades, sobretudo quando tratam matérias afins ou correlacionadas.
Não se pode ser ao mesmo tempo professor estável em diferentes Faculdades.
Nos Estatutos há de ser acuradamente definido o modo de proceder nos casos de
suspensão ou de remoção do cargo de um professor, especialmente por motivos
respeitantes à doutrina.
Deve-se procurar, primeiramente, resolver a questão de modo privado entre o Reitor, ou
o Diretor/Presidente, ou o Decano, e o mesmo professor. Se não se conseguir chegar a
um acordo, então o assunto seja tratado pelo competente Conselho ou Comissão, de tal
sorte que o primeiro exame do caso se faça dentro da Universidade ou da Faculdade. Se
isso não for suficiente ainda, o problema seja remetido para o Grão-Chanceler, o qual,
juntamente com pessoas peritas da Universidade, ou da Faculdade, ou mesmo a pessoas
externas a esta, examinará a questão a fim de prover de maneira adequada. Deve-se
sempre assegurar ao professor o direito de conhecer a causa e as provas, bem como de
expor e defender a própria causa. Permanecerá em aberto o direito ao recurso à Santa Sé
para uma solução definitiva do caso.

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No entanto, nos casos mais graves ou urgentes, a fim de se prover ao bem dos alunos e
eventualmente dos fiéis, o Grão-Chanceler suspenda das funções ad tempus o professor,
enquanto se não concluir o procedimento ordinário.
Os membros do clero diocesano e os religiosos e equiparados, para poderem tornar-se
professores em uma Faculdade e para aí permanecerem como tais, devem ter o
consentimento do próprio Ordinário, do Hierarca ou do Superior religioso, em
conformidade com as normas estabelecidas quanto a este ponto pela competente
autoridade eclesiástica.
Os professores que lecionam disciplinas sagradas devem apresentar boa conduta, reta
doutrina e fidelidade no que ensinam.

7. Congregação para a Educação Católica.


Foi a Constituição Apostólica Pastor Bonus, de 28 de Junho de 1988, que mudou
o nome da Congregação em Congregação para a Educação Católica.
A competência desse Dicastério é expressa em duas áreas:
 Em todas as universidades, faculdades, institutos e escolas de ensino médio de
estudos eclesiásticos ou civis dependentes de pessoas naturais ou morais
eclesiásticas, bem como de instituições e associações para fins científicos;
 Em todas as escolas e institutos de educação e educação de qualquer ordem e grau
pré-universitário dependentes da Autoridade Eclesiástica, direcionada à formação
de jovens seculares, excluindo aqueles dependentes das Congregações para as
Igrejas Orientais e para a Evangelização dos Povos.
A estrutura desse Dicastério possui dois escritórios:
1. O escritório universitário que trata das disciplinas relativas à Educação Superior.
2. O escritório de Escolas que trata de assuntos relacionados as escolas católicas.

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TÍTULO IV

- DOS MEIOS DE
COMUNICAÇÃO
SOCIAL EM ESPECIAL
DOS LIVROS -

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III. Instrumentos de comunicação social e publicações (cc. 822-832).

Introdução
Temos os seguintes documentos que tratam sobre os instrumentos de
comunicação social e publicações, são eles: a Carta Apostólica Motu Proprio In Fructibus
Multis de São Paulo VI de 02 de Abril de 1964, onde foi instituída a Pontifícia Comissão
para as Comunicações Sociais; o Decreto Inter mirifica de São Paulo VI, 04 de Dezembro
de 1963, trata sobre os meios de comunicação social; a Instrução Pastoral Communio et
Progressio, de São Paulo VI, de 1971, trata sobre os meios de comunicação social.
O Código vigente e o Código Oriental ampliou o objeto do título paralelo do
Código Pio Beneditino (De praevia censura librorum eorumque prohibitione = Censura
preliminar de livros, sua proibição), que somente se referia aos livros e demais escritos
destinados a divulgar-se publicamente.
Com efeito, o atual título se refere aos instrumentos de comunicação social em
geral, incluindo entre eles os livros. Desta forma, a legislação canônica acolhe este
conceito utilizado pelo Magistério da Igreja a partir do Decreto Inter Mirifica do Concílio
Vaticano II.
A inclusão dos livros entre os instrumentos de comunicação social havia sido
criticada por alguns especialistas nesta temática, sobretudo, por via de regra, os livros não
se inserem no âmbito dos meios de comunicação modernos. Porém, é inquestionável que
atualmente, o mundo editorial se torna cada vez mais massivo e acelerado, e opera em
contato crescente com o mundo da imprensa e dos meios audiovisuais.
No entanto, a menção de outros instrumentos de comunicação social é verificada
apenas em três cânones deste título: os cânones introdutórios (cc. 822 e 823) e o cân. 831
§2.
O tema mudou em relação à legislação anterior, que se concentrava especialmente
na censura prévia de livros e sua proibição. Lembremo-nos disso, por meio de uma
notificação do Índice Sagrado de livros proibidos; a mesma Congregação por decreto
aboliu a Congregação para a Doutrina da Fé (14/06/1966) e revogou os cânones referentes
aos livros proibidos pela Lei e às penas contra os leitores e editores (CIC/1917).
A mentalidade também mudou: os meios de comunicação de massa são
importantes, têm uma grande influência na sociedade e são necessários para a
evangelização. A nova legislação não se apresenta suspeita e incentiva a responsabilidade
pessoal, embora não negligencie a função da hierarquia de assegurar o seu uso adequado
e a correta transmissão da doutrina:
“A Igreja Católica [...] considera parte de sua missão de usar os instrumentos de
comunicação social para pregar a mensagem de salvação aos homens e ensinar-lhes o uso
correto desses meios. Corresponde à Igreja o direito natural de usar e possuir todos os
instrumentos desta ordem na medida em que sejam necessários ou úteis para a educação

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cristã e corresponde aos sagrados pastores o dever de instruir e governar os fiéis de modo
que estes, servindo-se destes instrumentos, atendam a sua própria perfeição e salvação,
bem como a de toda a raça humana. De resto, corresponde principalmente aos leigos
penetrar neste tipo de meios, a fim de que respondam à grande esperança do gênero
humano e aos desígnios divinos”. (Decreto Inter mirifica).
Vamos analisar dois documentos importantes que acenam sobre os Meios de
Comunicação Social: O Decreto Inter mirifica e a Instrução Pastoral Communio et
Progressio.
O Decreto Inter Mirifica é o segundo dos dezesseis documentos publicados pelo
Concílio Vaticano II. Podemos vislumbrar através deste documento, que a Igreja assegura
a obrigação e o direito de utilizar os meios de comunicação social. O referido documento
propõe orientações para o clero e os leigos sobre o emprego dos meios de comunicação
social.
O Decreto faz menção aos vários instrumentos de comunicação, tais como: a
imprensa, cinema, rádio, televisão e outros meios semelhantes, que também podem ser
propriamente classificados como meios de comunicação social. Tanto o clero quanto o
laicado foram convidados a empregar os instrumentos de comunicação social nos
trabalhos pastorais.
Em resposta a este Decreto, surgiu a Instrução Pastoral Communio et Progressio.
Esta Instrução tem caráter pastoral. Esta Instrução traz como característica a ação pastoral
que pode utilizar-se dos meios de comunicação.

1. Direito e dever dos fiéis de fazer uso dos Meios de Comunicação


Social, segundo finalidade própria da Igreja.
O trabalho dos fiéis, especialmente dos leigos, na área das comunicações sociais
é atualmente um dos campos mais relevantes e intensivos de apostolado de animação
cristã das realidades temporais. Perante o Ordenamento jurídico-canônico, esta atividade
aparece como exercício do direito dos fiéis de legítima liberdade no tempo38 - canal do
direito de anunciar o Evangelho - , e ao mesmo tempo como campo no qual deve ser
vivido o dever jurídico fundamental da comunhão, especialmente no que se refere ao
vínculo da profissão de fé. Captar e viver a profunda harmonia entre essa liberdade e essa
comunhão é provavelmente um dos grandes desafios que encontra a Igreja nesta etapa de
implantação da doutrina do Concílio Vaticano II.
O anterior vale não só para a participação individual dos fiéis na comunicação
social, senão também para as iniciativas comuns que podem promover este campo. De
acordo com o caráter abrangente da vocação cristã, tais iniciativas – se forem vividas de

38
Cân. 227 do CIC/1983: “Os fiéis leigos têm o direito de que, nas coisas da cidade terrena, lhes seja
reconhecida a liberdade que compete a todos os cidadãos; ao utilizarem esta liberdade, procurem que a sua
atuação seja imbuída do espírito evangélico, e atendam à doutrina proposta pelo magistério da Igreja, tendo,
porém o cuidado de, nas matérias opináveis, não apresentarem a sua opinião como doutrina da Igreja”.

63
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acordo com a própria condição de cristão – não podem ser consideradas à parte de uma
finalidade apostólica.
Compete aos leigos vivificar com espírito humano e cristão estes meios, a fim de
que correspondam à grande esperança do gênero humano e aos desígnios divinos.
Os fiéis leigos para que possam aplicar-se no reto uso destes meios, é
absolutamente necessário que todos os que se servem deles conheçam e ponham fielmente
em prática, neste campo, as normas da ordem moral. Considerem, pois, as matérias que
se difundem através destes meios, segundo a natureza peculiar de cada um; tenham, ao
mesmo tempo, em conta todas as circunstâncias ou condições, isto é, o fim, as pessoas, o
lugar, o tempo e outros fatores, mediante os quais a comunicação se realiza e que podem
mudar ou alterar inteiramente a sua bondade moral; entre estas circunstâncias, conta-se o
caráter específico com que atua cada meio, nomeadamente a sua própria força, que pode
ser tão grande que os homens, sobretudo se não estão prevenidos, dificilmente serão
capazes de a descobrir, dominar e, se se der o caso, a pôr de lado.
É necessário, sobretudo, que todos os interessados na utilização destes meios de
comunicação formem retamente a consciência acerca de tal uso, em especial no que se
refere a algumas questões debatidas em nossos dias.
A primeira questão refere-se à chamada informação, ou obtenção e divulgação das
notícias. É evidente que tal informação, em virtude do progresso atual da sociedade
humana e dos vínculos mais estreitos entre os seus membros, resulta muito útil e, na
maioria das vezes, necessária, pois a comunicação pública e oportuna de notícias sobre
acontecimentos e coisas, facilita aos homens um conhecimento mais amplo e contínuo
dos fatos, de tal modo que pode contribuir eficazmente para o bem comum e maior
progresso de toda a sociedade humana.

2. A autoridade da Igreja perante os Meios de Comunicação Social.


a. A Igreja tem o direito de possuir Meios de Comunicação Social.
A Igreja Católica tem a missão de levar a salvação de Jesus a todos os homens, e,
por isso mesmo, é obrigada a evangelizar, considera seu dever pregar a mensagem da
salvação, servindo-se dos meios de comunicação social, e ensina aos homens a usar
retamente estes meios.
À Igreja, pois, compete o direito nativo de usar e de possuir toda a espécie destes
meios, enquanto são necessários ou úteis à educação cristã e a toda a sua obra de salvação
das almas; compete, porém, aos sagrados pastores o dever de instruir e de dirigir os fiéis
de modo que estes, servindo-se dos ditos meios, alcancem a sua própria salvação e
perfeição, assim como a de todo o gênero humano.
A utilização dos instrumentos de comunicação social, possuem uma dimensão
jurídica dentro da Igreja, dimensão que constitui o fundamento do exercício do poder de
regime neste campo. Tal dimensão se conecta, antes de tudo, com a tutela da doutrina da
fé.

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Citamos aqui alguns aspectos jurídicos-canônicos sobre o cuidado da Igreja na


transmissão da Revelação divina e do Sagrado Magistério, através dos meios de
comunicação social:
1º. A função de conservação da Palavra de Deus na Igreja;
2º. O respeito aos direitos e deveres dos fiéis quanto ao anúncio da Palavra de Deus e a
comunhão na profissão de fé;
3º. A distinção hierárquica dentro do Povo de Deus (o direito-dever do magistério dos
sagrados Pastores, garantia visível da comunhão na fé, e o correlativo dever de obediência
de todos os membros da Igreja a esse magistério (cf. cân. 823 §1 do CIC/1983);
4º. A efetiva realização da missão evangelizadora da Igreja através destes meios de
comunicação social;
5º. Criar organismos pastorais especializados nesta área, para promover o anúncio da
Palavra de Deus, obedecendo as normas canônicas.

b. Serviço da autoridade para a mídia.


A vigilância é uma missão que se baseia no Direito Divino, e cujo propósito é que
as verdades da fé e dos costumes não sejam mal interpretadas ou obscurecidas (cf. cân.
823 §§ 1 e 2 do CIC/1983). Os pastores que têm esta obrigação e direito são cada um dos
bispos diocesanos individualmente, reunindo-se em conselhos particulares ou também em
conferências episcopais, e, também a autoridade suprema da Igreja, seja o Romano
Pontífice ou o Conselho Ecumênico. A Congregação para a Doutrina da Fé exerce uma
direção suprema em nome do Romano Pontífice, e é a referência em assuntos que vão
além da competência episcopal e âmbito de consulta para as questões mais relevantes em
matéria doutrinal.
É parte essencial do seu ministério, exigir que sejam submetidos a seu juízo os
livros que se referem à fé ou aos costumes de serem publicados ou proibir a publicação
dos que são considerados prejudiciais.
Não é incomum, encontrar opiniões na atualidade, contrárias ao exercício desta
função por parte dos pastores, interpretando como uma disposição contrária a liberdade
de expressão salvaguardada nos cc. 212 §3 e 218. Devemos responder afirmando que o
direito da liberdade de expressão não se pode interpretar do mesmo modo na sociedade
civil e na comunidade eclesial, pois a participação na comunidade eclesial implica a
assunção de alguns direitos e de algumas obrigações dentro dela, entre os quais está a
necessidade de manter sempre a comunhão: a afirmação ilimitada da liberdade de
expressão, nos faria cair no subjetivismo e na interpretação pessoal das realidades da fé,
o que certamente causaria a ruptura daquela comunhão que deve ser protegida (cf. cc.
208-209).
A reprovação a que se refere o cân. 823 §1 é de direito eclesiástico, é um
instrumento para proteger o direito divino de vigilância, é um aviso para as consciências
sobre a periculosidade de um livro que vá contra a fé e os costumes. Na legislação anterior

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(CIC/1917: cân. 1398), proibia editar, ler, conservar, vender, traduzir ou até comunicar a
outras pessoas livros proibidos que tinham que ser destruídos.
Deve ser de grande utilidade a criação de comissões doutrinais em nível diocesano
ou em nível da Conferência episcopal ou a colaboração de instituições como
universidades ou faculdades eclesiásticas para tal vigilância.
O dever da autoridade sobre os meios de comunicação social é o de vigilância
doutrinal e moral: o direito-dever de exigir a revisão prévia dos escritos relacionados com
a fé e os costumes e o direito-dever de reprovar os escritos nocivos contra a fé e os bons
costumes.

c. Relacionamento do fiel com a autoridade, em razão do uso dos Meios de


Comunicação Social.
O Ordenamento jurídico-canônico atual traz algumas normativas sobre a relação
dos fiéis no uso dos meios de comunicação social, são eles:
1º. Os fiéis devem conservar sempre, também no seu modo de agir, a comunhão com a
Igreja (cf. cc. 205; 209 §1 do CIC/1983);
2º. Observar com obediência cristã o que os Sagrados Pastores, enquanto representantes
de Cristo, declaram como mestres da fé ou determinam como guias da Igreja (cf. c. 212
§1 do CIC/1983);
3º. Conservar, no caso de se dedicarem ao estudo das ciências sagradas, o devido obséquio
ao magistério da Igreja, ainda que gozem da justa liberdade de investigar e de manifestar
com prudência o próprio pensamento sobre aquilo em que são peritos (cf. c. 218 do
CIC/1983);
4º. Cooperar para que o uso dos meios de comunicação social seja vivificado pelo espírito
humano e cristã (cf. c. 822 §2 do CIC/1983), de maneira que a Igreja possa exercer com
eficácia o seu múnus, também através desses instrumentos (cf. c. 822 §3 do CIC/1983).

- Quanto a responsabilidade de instruir os fiéis:


Os Bispos, enquanto Mestres autênticos da fé (cf. cc. 375 e 753 do CIC/1983),
devem ter a solicitude de instruir os fiéis sobre o direito e o dever que possuem de:
a. trabalhar, a fim de que o anúncio divino da salvação chegue sempre mais a todos os
homens de todos os tempos e de todo o mundo (cf. c. 211 do CIC/1983);
b. manifestar aos Pastores as próprias necessidades, sobretudo espirituais, e os próprios
anseios (cf. c. 212 §2 do CIC/1983);

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c. manifestar aos Pastores sua opinião sobre o que se relaciona com o bem da Igreja (cf.
c. 212 §3 do CIC/1983);
d. dar a conhecer aos outros fiéis a própria opinião sobre o que se relaciona com o bem
da Igreja, ressalvando a integridade da fé e dos costumes e a reverência para com os
Pastores, e tendo em conta a utilidade comum e a dignidade das pessoas (cf. c. 212 §3 do
CIC/1983).

d. Importância da comunicação institucional.


Os meios de comunicação social, mesmo quando são dirigidos apenas aos simples
indivíduos enquanto tais, não deixam de atingir e afetar toda a sociedade humana.
A Igreja tem a tarefa de anunciar o Evangelho de Cristo e este anúncio deve ser
feito de várias maneiras e, nestes tempos modernos, um dos grandes meios de pregar a
Palavra de Deus, são os meios de comunicação social.
Os Bispos, sacerdotes, religiosos, leigos e todos os que têm responsabilidades no
seio do Povo de Deus são convidados insistentemente a escrever na imprensa, a participar
dos programas de rádios e televisivos.
A Igreja considera hoje como uma das tarefas mais importantes prover a que os
leitores ou espectadores recebam uma formação segundo os princípios cristãos, o que
também é um serviço à comunicação social. As escolas e organizações católicas não
podem esquecer o dever que têm neste campo, especialmente o de ensinar os jovens, não
só a comportar-se como verdadeiros cristãos, quando leitores, ouvintes ou espectadores,
mas também a saber utilizar as possibilidades de expressão desta linguagem que os meios
de comunicação põem ao seu alcance.
Toda a problemática dos meios de comunicação deve estar presente nas diversas
disciplinas teológicas e, dum modo especial, na moral, pastoral e catequética.
Os pais e educadores, sacerdotes e associações católicas não hesitem em orientar
para as profissões respeitantes à comunicação social, os jovens que lhes parece terem
gosto e qualidades para este campo.
Os Bispos, Sacerdotes, Religiosos e Religiosas, assim como os leigos, devem dar
o seu contributo na educação cristã que se refere a este campo, tendo em conta a
perspectiva social.
Durante o período de formação, os futuros sacerdotes, religiosos e religiosas,
devem conhecer a incidência dos meios de comunicação na sociedade, bem como a sua
técnica e uso, para que não permaneçam alheios à realidade, e não cheguem
desprevenidos ao ministério apostólico que lhes será entregue. Tal conhecimento faz parte
integrante da sua formação; é condição sem a qual não é possível exercer um apostolado
eficaz na sociedade de hoje, caracterizada, como está, pelos meios de comunicação. Por
isso, é necessário que sacerdotes, religiosos e religiosas conheçam de que modo se geram
opiniões e mentalidades na sociedade atual, e assim se adaptem às condições do mundo

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em que vivem, uma vez que é aos homens de hoje que a Palavra de Deus deve ser
anunciada, e que precisamente os meios de comunicação podem prestar valioso auxílio.
As Universidades e Institutos Católicos criarão e desenvolverão cursos de
comunicação social, cujos trabalhos e investigações devem ser dirigidos
competentemente. Publicarão trabalhos e sínteses dessas investigações para maior
desenvolvimento do ensino cristão.

3. Outros princípios jurídicos de orientação no uso dos MCS pela Igreja:


rádio, TV, dentre outros.
3.1. A Rádio e a Televisão.
Os meios de comunicação, rádio e a televisão, inauguram um novo estilo de vida,
pois as suas transmissões atingem a cada dia, novas regiões, entram em tantos lares e
absorvem a atenção de um público imenso.
Estes meios de comunicação influenciam cada vez o homem moderno, que o atrai
e o faz inserir-se dentro de uma realidade, às vezes, distante que parece estar próximo de
si.
Onde entra a missão da Igreja com estes meios de comunicação social? Quais são
os princípios canônicos que devem orientar os fiéis da Igreja quanto ao uso desses
instrumentos?
Assim como a rádio e a TV são meios que informam descobertas, problemáticas,
anúncios, artes, culturas, aspectos religiosos também devem estar inseridos nesses
instrumentos de comunicação. Por isso, a Instrução Pastoral Communio et Progressio
traz algumas orientações sobre o uso desses meios para comunicar aspectos religiosos.
Quais são os benefícios trazidos por esses meios de comunicação para que a Igreja
possa utilizar-se deles:
a. os programas religiosos criam novas relações entre os cristãos e o enriquecimento da
vida religiosa.
b. contribuem para a educação cristã e para o empenho da Igreja chegando a tantos
lugares.
c. estabelecem um elo de relação com todas as pessoas, mesmo que não fazendo parte da
Igreja, buscam e recebem o alimento espiritual.
d. o anúncio do Evangelho chega às regiões onde a Igreja ainda não existe.

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Os princípios canônicos que podem nortear o bom no uso da Rádio e Televisão


pela Igreja:
1. A Missa e outros ofícios litúrgicos deveriam ser incluídos no número das transmissões
religiosas. É, necessário, porém, que tais programas sejam devidamente preparados, do
ponto de vista técnico e litúrgico.
2. Levem-se em conta a grande diversidade de público, por isso, deve-se prestar atenção
que, se os programas se destinam a outros países, que seja respeitado a sua religião e
costumes.
3. As homilias e alocuções devem conformar-se com a natureza do programa. Quem for
chamado a desempenhar esta função, deve ser cuidadosamente escolhido e possuir o
devido conhecimento prático das técnicas de rádio e televisão.
4. Os programas religiosos, como noticiários, comentários, debates televisivos ou
radiofônicos dão um válido contributo à instrução e ao diálogo. Devem-se obedecer às
normas dadas sobre imprensa católica.
5. Quando um católico conhecido, seja clérigo ou leigo, fala na Televisão ou na Rádio, é
imediatamente considerado, pela opinião pública, como intérprete dos pontos de vista da
Igreja. Portanto, ele deve estar ciente desta situação e procurar por todos os meios ao seu
alcance evitar qualquer equívoco possível. A responsabilidade da sua missão diz respeito
não só ao conteúdo das suas declarações, mas também à maneira de falar e de se
comportar. Procure consultar as autoridades eclesiásticas, quando neste caso for possível.
6. Os ouvintes e espectadores, podem manifestar o seu juízo sobre os programas
religiosos, para contribuir para um melhor aperfeiçoamento.
7. Nos países em que a Igreja não pode usar os meios de comunicação social, o único
processo que os fiéis têm para acompanhar a vida da Igreja e ouvirem a Palavra de Deus,
é através de programas religiosos de emissoras estrangeiras. A solidariedade cristã impõe,
a este respeito, grave obrigação aos pastores e fiéis das outras regiões.
8. Os pais têm o grave dever de ajudar os próprios filhos a aprenderem a avaliar e usar os
mass media, formando a própria consciência de maneira correta e desenvolvendo as suas
faculdades críticas.
9. As instituições e programas da Igreja têm outras responsabilidades importantes no que
concerne à comunicação social. Primeiro e sobretudo, a prática eclesial da comunicação
deve ser exemplar, refletindo os padrões mais elevados de verdade, credibilidade e
sensibilidade aos direitos humanos e a outros importantes princípios e normas. Além
disso, os mass media da própria Igreja devem comprometer-se em comunicar a plenitude
da verdade, acerca do significado da vida e história humanas, especialmente enquanto
contida na Palavra de Deus revelada e expressa pelo ensinamento do Magistério. Os
Pastores devem encorajar o uso dos mass media para propagar o Evangelho (cf. cân. 822
§1 do CIC).

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3.2. Alguns princípios éticos com relação ao uso dos meios de comunicação social
pela Igreja.
Partimos do princípio que, as normas éticas relevantes nos outros campos,
também se aplicam à comunicação social.
A comunicação deve ser sempre sincera, dado que a verdade é essencial para a
liberdade individual e para a autêntica comunidade entre as pessoas.
A dimensão ética está relacionada não só ao conteúdo da comunicação (a
mensagem) e o processo de comunicação (o modo de comunicar), mas nas questões
fundamentais das estruturas e sistemas, que com frequência incluem grandes problemas
de política que dependem da distribuição de tecnologia e produtos sofisticados.
Nestas três áreas – mensagem, processo e problemas de estrutura e de sistema – o
princípio ético é este: a pessoa e a comunidade humanas são a finalidade e a medida do
uso dos meios de comunicação social.
Um aspecto ético entre os meios de comunicação é a liberdade de expressão, pois
a Communio et Progressio diz: “sempre portanto que os homens, segundo a tendência da
sua natureza, comunicam entre si opiniões ou conhecimentos, não exercem apenas um
direito pessoal, mas um dever para com toda a sociedade”. Esta não é uma norma
absoluta. Existem instâncias óbvias – por exemplo, a calúnia e a difamação, mensagens
que procuram fomentar o ódio e o conflito entre indivíduos e grupos, a obscenidade e a
pornografia, a descrição mórbida da violência – onde não existe o direito à comunicação.
Naturalmente, também a livre expressão deveria observar princípios como a verdade, a
justiça e o respeito pela privacidade.
O direito à expressão deve ser exercido com deferência à verdade revelada e ao
ensinamento da Igreja, e no respeito pelos direitos eclesiais dos outros (cf. cân. 212 §§ 1
– 3; cân. 220). Assim como outras comunidades e instituições, a Igreja às vezes tem
necessidade – na realidade, por vezes é obrigada – de praticar o sigilo e a
confidencialidade. Mas isto não se deve fazer em vista da manipulação e do controle.
Os comunicadores profissionais deveriam estar ativamente comprometidos no
desenvolvimento e no revigoramento de códigos éticos de comportamento para a sua
profissão, em cooperação com os representantes públicos. Os organismos religiosos e
outros grupos merecem igualmente ser parte integrante deste esforço contínuo.
Através das suas escolas e programas de formação, a Igreja deve oferecer uma
educação midiática.

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4. Os livros enquanto meios de evangelização:


a) A importância dos livros na evangelização.
O zelo pela integridade da fé e dos costumes é e sempre foi uma grande
preocupação da Igreja e remonta-se a ação apostólica, e se mantêm até o presente, quer
quanto ao teor dos livros quer quanto à sua leitura.
A Igreja tendo sido constituída por Cristo, a fim de levar a salvação a todos os
homens e, por isso, impelida pela necessidade de evangelizar, considera como sua
obrigação pregar a mensagem de salvação através de todos os instrumentos de
comunicação e, aqui deve destacar a importância dos livros sagrados, litúrgicos e outros.
Compete à Igreja o direito nativo de empregar e possuir toda sorte desses
instrumentos, pois os mesmos são úteis à educação cristã e a toda sua obra de salvação
das almas.
Sobre os instrumentos de comunicação social em especial os escritos, o novo
Ordenamento jurídico-canônico confia aos seus Pastores o cuidado e a vigilância.
Incluindo também os Superiores Maiores.
Diante de algumas ideias errôneas que são difundidas cada vez mais pelos meios
de comunicação social e através dos livros, é de suma importância esse cuidado e essa
vigilância por parte dos Pastores da Igreja.
Por que deve haver uma normativa canônica sobre o uso desses meios para a
transmissão da fé?
Primeiramente, as normas canônicas constituem uma garantia para a liberdade de todos
e, em segundo lugar, os fiéis têm o direito de receber a mensagem do Evangelho na sua
pureza e integridade.

b) Regulamentos atuais sobre licenciamento e aprovação de escritos sobre a fé e


costumes, livros litúrgicos e livros da Sagrada Escritura etc., a serem publicados
pelos fiéis.

A codificação canônica vigente regulamenta o seguinte que, os livros que tratam


de matérias que dizem respeito à Sagrada Escritura, teologia, direito canônico, história
eclesiástica e disciplinas religiosas ou morais, ainda que não sejam utilizados como textos
de ensino, assim como os escritos nos quais existem elementos que se referem de maneira
peculiar à religião e à honestidade dos costumes, sejam submetidos ao juízo do Ordinário
local (cf. cân. 827 §3 do CIC/1983).
O Cân. 823 §1 do CIC/1983, dá direito aos Pastores de exigir que sejam
submetidos ao seu juízo os escritos sobre fé e costumes a serem publicados pelos fiéis,
para que seja garantida a integridade das verdades da fé e dos bons costumes.
Sobre a licença nestes casos acima, tem o significado de uma declaração oficial
que garante que o escrito não contém nada de contrário à integridade da fé e dos costumes.
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Podemos fazer a seguinte consideração, o fato de que o escrito poderia conter


opiniões ou questões próprias de especialistas ou pertencentes a certos ambientes, e que
poderia ser causa de escândalo ou confusão em alguns meios ou para determinadas
pessoas, a licença então, poderia ser concedida sob condições definidas, que podem ser
concernentes ao meio de publicação ou à língua, contanto que de qualquer forma se
evitem os perigos indicados.
A aprovação ou licença para uma publicação vale para o original; não é extensível
às edições seguintes, nem às traduções (cf. cân. 829 do CIC/1983). As meras reimpressões
não são consideradas novas edições.
A licença constitui uma garantia, seja jurídica, seja moral, para os autores, editores
e leitores, aquele que a pede, quer ela seja obrigatória quer recomendada, tem direito a
uma resposta da autoridade competente.
No exame prévio para a licença, são necessárias a máxima diligência e seriedade,
tendo em consideração seja o direito dos autores (cf. cân. 218 do CIC/1983), seja os de
todos os fiéis (cf. cân. 213; 217 do CIC/1983).

c) Distinção entre licença e aprovação.


A licença é a permissão que certas categorias de pessoas têm o dever de pedir à
autoridade competente para poder publicar certos tipos de escritos (cân. 827 §4 do
CIC/1983); para poder escrever em determinado periódicos ou revistas ou outras
publicações semelhantes (cân. 831 §1 do CIC/1983); ser capaz de escrever sobre assuntos
específicos (cân. 832 do CIC/1983). A licença diz respeito diretamente, não à escrita, mas
à pessoa que escreve.
A aprovação prévia, necessária para certas categorias de livros, significa que não
há nada no livro que possa prejudicar a fé ou a moral. A aprovação não é, no sentido
positivo, uma recomendação para publicar ou ler o livro, mas sim um julgamento que o
Bispo pronuncia para informar os fiéis e o autor de que o escrito em questão não contém
nada de prejudicial à fé e à moral da Igreja. Portanto, a aprovação diz respeito diretamente
à escrita: esta é aprovada ou não.

d) Regulamentos sobre a responsabilidade dos Superiores Religiosos sobre o


licenciamento dos escritos sobre a fé e os costumes.
Os Superiores religiosos, ainda que não sejam, em sentido próprio, Mestres
autênticos da fé e Pastores, no entanto, possuem uma potestade que vem de Deus,
mediante o ministério da Igreja (cf. cân. 618 do CIC/1983).
A ação apostólica dos Institutos religiosos deve ser exercida em nome e por
mandato da Igreja, e é conduzida em comunhão com ela (cf. cân. 675 §3 do CIC/1983).
Para eles, vale particularmente o prescrito no cân. 209 §1 do CIC/1983, sobre a
necessidade de que todos os fiéis na sua atividade conservem sempre a comunhão com a
Igreja. O cân. 590 do CIC/1983, recorda aos Institutos de Vida Consagrada a sua peculiar

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relação de submissão à suprema autoridade eclesiástica da Igreja e o vínculo de


obediência que liga cada um dos membros ao Romano Pontífice.
Os Superiores religiosos possuem também a responsabilidade, juntamente com o
Ordinário local, de conceder a licença aos membros dos seus Institutos para publicar
escritos concernentes a questões de religião e de costumes (cf. cc. 824 e 832 do
CIC/1983).
Todos os Superiores, em especial os que são Ordinários (cf. cân. 134 §1 do
CIC/1983), têm o dever de vigiar para que no âmbito de seus Institutos seja respeitada a
disciplina eclesiástica, também em matéria de instrumentos de comunicação social, e de
urgir a sua aplicação quando se revelarem abusos.
Os Superiores religiosos, especialmente aqueles cujos Institutos têm como
finalidade primária o apostolado da imprensa e dos meios de comunicação social, devem
empenhar-se para que os membros respeitem fielmente as normas canônicas neste campo,
e terão especial cuidado das casas editoras, livrarias, etc. ligadas ao Instituto, para que
sejam um eficaz instrumento apostólico e fiel à Igreja e ao seu Magistério.
Os Superiores religiosos agirão em colaboração com os Bispos diocesanos (cf.
cân. 678 §3 do CIC/1983), eventualmente mesmo através de convenções apropriadas (cf.
cân. 681 §§ 1-2 do CIC/1983).
O Superior religioso, ao qual, nos termos do cân. 832 do CIC/1983, compete dar
aos próprios religiosos a licença para a publicação de escritos que tratam de questões de
religião e de costumes, não deve concedê-la senão depois de se ter certificado, através do
juízo de pelo menos um censor da sua confiança, que a publicação no contém nada que
possa trazer dano à doutrina da fé e dos costumes.
O Superior pode exigir que a licença preceda a do Ordinário local; e que dela se
faça menção explícita na publicação.
Essa licença pode ser concedida de maneira geral, quando se trata de uma
colaboração habitual em publicações periódicas.
Também neste setor é importante a mútua colaboração entre o Ordinário local e
os Superiores religiosos (cf. cân. 678 §3 do CIC/1983).
Aplica-se às casas editoras dependentes dos Institutos religiosos quanto foi
afirmado a respeito das casas editoras dependentes das instituições católicas em geral.
Tais iniciativas editoriais devem sempre ser vistas como obras apostólicas que são
exercidas por mandato da Igreja e conduzidas em comunhão com ela, na fidelidade ao
carisma do próprio Instituto e na submissão ao Bispo diocesano (cf. cân. 678 §1 do
CIC/1983).

e) Regulamentos sobre os lugares para publicação dos escritos.


É proibido escrever absolutamente qualquer coisa em folhetos de jornais que
atentem manifestamente contra a religião ou os bons costumes. Essa peculiaridade não
existia no Código anterior, e é muito oportuno evitar escândalos e certos equívocos, como

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pensar que esta publicação não é tão prejudicial e que não é importante colaborar com
ela; embora seja uma proibição relativa, a menos que haja uma causa justa e razoável.
Clérigos e religiosos precisam da autorização do Ordinário local (cf. cân. 831 §1
do CIC/1983).
Os fiéis que trabalham no campo editorial, compreendidas a distribuição e a venda
de livros, têm, cada qual segundo a específica função desenvolvida, uma responsabilidade
própria e peculiar na promoção da sã doutrina e dos bons costumes. Eles, portanto, não
somente têm o dever de evitar a cooperação na difusão de obras contrárias à fé e à moral,
mas devem positivamente empenhar-se na difusão dos escritos que contribuem para o
bem humano e cristão dos leitores (cf. cân. 822 §§ 2-3 do CIC/1983).
A atividade editorial que depende de instituições católicas (dioceses, institutos
religiosos, associações católicas, etc.) possui uma responsabilidade peculiar neste setor.
A sua atividade deve se desenvolver em sintonia com a doutrina da Igreja e em comunhão
com os Pastores, na obediência às leis canônicas, tendo igualmente em consideração o
especial vínculo que a une à autoridade eclesiástica. Os editores católicos não publiquem
escritos que não possuam a autorização eclesiástica, quando for prescrita.
As casas editoras que dependem de instituições católicas devem ser objeto de
particular solicitude por parte dos Ordinários locais, para que as suas publicações sejam
sempre conformes à doutrina da Igreja e contribuam eficazmente para o bem das almas.
Os Bispos têm o dever de impedir que sejam expostas ou vendidas nas Igrejas,
publicações, concernentes a questões de religião e de costumes, que não tenham recebido
a licença ou aprovação da autoridade eclesiástica (cf. cân. 827 §4 do CIC/1983).

f) Regulamento atual sobre a censura (exigida ou apropriada) de escritos e, objetivos


e justificativas das avaliações, e censura de livros.
Os seguintes pontos devem ser levados em consideração em relação à censura dos
livros:
- extensão da censura;
- qualidade dos censores;
- lista dos censores;
- critérios que os censores devem seguir, decisão do Ordinário local.

1. Extensão da censura.
A censura prévia e a licença concedida para publicação de uma obra valem apenas
para o texto original e, logicamente, para reimpressões simples. Em vez disso, devem ser
solicitados novamente para traduções em outras línguas e para novas edições (cf. cân. 829
do CIC/1983). Tanto o Ordinário local como a Conferência episcopal realizam

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geralmente a censura prévia dos livros com a colaboração de pessoas designadas para este
fim, que são precisamente chamados de censores.
2. Qualidades exigidas nos censores.
Os censores devem ser pessoas confiantes, ou seja, eminentes em vários aspectos:
 para as ciências: mesmo que não tenham qualificação acadêmica, devem possuir
a ciência necessária para poder compreender o livro em questão e ser capazes de
julgar a ortodoxia da doutrina contida, pelo menos de forma negativa, no sentido
de que exclui a presença de qualquer erro de fé e de moral. A competência deve
dizer respeito às várias disciplinas teológicas e afins;
 pela reta doutrina: deve ser um fiel defensor da doutrina do Magistério da Igreja;
 pela prudência: não é fácil ditar um julgamento negativo ou muito absoluto, mas
tem a capacidade de refletir e julgar com serenidade, nem de tornar publicamente
disponível qualquer julgamento negativo sobre ele. Na verdade, não é seu trabalho
divulgar sua opinião. Ele tem apenas o dever de examinar cuidadosamente a
escrita e relatar seu pensamento objetivo ao Ordinário. Ao fazer isso, tanto a
rigidez quanto o laxismo devem ser evitados (cf. cân. 830 do CIC/1983).
3. Lista dos censores.
A Conferência episcopal tem o direito, mas não é obrigada a fazê-lo, de preparar
uma lista dos censores à disposição de cada cúria diocesana. A própria Conferência
episcopal poderia constituir uma comissão de censores, talvez composta por
especialistas em vários assuntos, de modo poder examinar, a pedido do Ordinário, o
trabalho que lhes é apresentado também sob vários aspectos.
Tal exame, por exemplo, poderia ser necessário no caso de um livro de catequese
ou teologia para uso nas escolas, que, embora contivesse a doutrina genuína da Igreja,
talvez pudesse criar problemas sob o aspecto pedagógico ou didático. No entanto, o
direito do Ordinário local individual de solicitar julgamento sobre uma certa obra,
também a outras pessoas de sua confiança, não incluídas na lista elaborada pela
Conferência episcopal, tanto em casos individuais como de forma habitual,
permanece firmemente estabelecido, nomear censores em seu nome.
Na verdade, sua tarefa principal e pessoal é proteger a integridade da fé e da moral
em sua diocese.
4. Critérios que os censores devem seguir.
O censor, ao formular seu julgamento sobre uma obra específica, deve seguir os
seguintes critérios:
a. colocar à parte todas as preferências das pessoas. Ele é obrigado a julgar, não o
autor do livro, mas a doutrina que parece estar contida no livro. A leitura deve,
portanto, ser feita de forma objetiva, sem abrir mão de interpretações favoráveis ou
desfavoráveis, sugeridas por fontes externas, ou seja, ele deve se colocar no lugar do
leitor sério, que lê a obra sem conhecer pessoalmente o autor (cf. cân. 830 §2 do
CIC/1983).

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b. ter em mente apenas a doutrina da Igreja sobre a fé e a moral. Na verdade, o


Ordinário não é chamado para julgar disciplinas profanas, nem se pede ao censor. A
doutrina da Igreja deve ser entendida como proposta pelo seu magistério. Portanto, o
censor não deve se deixar guiar pelas opiniões ou interpretações de autores individuais
ou escolas teológicas particulares, mas apenas pela doutrina tal como é apresentada
com certeza pelo magistério extraordinário e ordinário. Não é dever do censor, indicar
se, por circunstâncias externas, procede ou não à publicação do escrito.
c. Opinar por escrito (cf. cân. 830 §3 do CIC/1983). Um julgamento sobre uma
questão tão importante deve ficar documentado, para que possa ser melhor examinado
pelo Ordinário. Consequentemente, este julgamento deverá permanecer no arquivo.
Por outro lado, não é necessário que o nome do censor seja escrito no livro. O
essencial é que para a segurança dos fiéis, seja dado o imprimatur, uma garantia que
a publicação recebeu a aprovação do Ordinário local. O uso da fórmula “com
aprovação eclesiástica” ou semelhante não é suficiente.

4.1. Decisão do Ordinário local.


Uma vez que o julgamento do censor foi dado ao Ordinário local, ele tem duas
opções:
1ª. Se o julgamento do censor foi favorável, o Ordinário local não é automaticamente
obrigado a conceder permissão para a publicação da obra, mas deve julgar com
prudência sobre a adequação, também ditada por circunstâncias externas e
independentes do conteúdo da escrita, proceda-se ou não à publicação. Portanto, a
responsabilidade definitiva recai sobre o Ordinário local, por isso sua licença deve ser
expressa no início do livro, geralmente com a expressão imprimatur, seu nome ou do
Vigário geral, o lugar e a data da concessão da licença.
2ª. Se não conceder a permissão, seja qual for o motivo, o Ordinário deve comunicar
ao autor do escrito os motivos da recusa. Com efeito, um dos direitos dos fiéis « que
se dedicam às ciências sagradas » (cân. 218 do CIC/1983) é gozar da liberdade de
investigar e manifestar o seu pensamento com prudência. A limitação deste direito
deve ser motivada e, no nosso caso, o autor deve ter a oportunidade de saber o porquê,
para que possa eventualmente esclarecer ou modificar o seu pensamento.

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5. Os Procedimentos da Congregação para a Doutrina da Fé para o


exame das doutrinas nos escritos.
5.1. Introdução.

A Congregação para a Doutrina da Fé tem a missão de promover e de tutelar a


doutrina sobre a fé e a moral em todo o mundo católico.
Procurando realizar tal finalidade, a Congregação presta um serviço à verdade,
enquanto defende o direito do Povo de Deus a receber a mensagem do Evangelho na
sua pureza e na sua integridade. Por isso, para que a fé e a moral não sofram prejuízo
por efeito de erros de qualquer forma divulgados, a mesma Congregação tem o dever
de examinar os escritos e as opiniões que se apresentam como contrários à fé
autêntica, ou como perigosos para ela.
Esta preocupação pastoral fundamental é própria de todos os Pastores da Igreja,
os quais têm o dever e o direito de velar, quer singularmente, quer reunidos em
Sínodos particulares ou nas Conferências Episcopais, para que não se provoque
qualquer dano à fé e à moral dos fiéis confiados aos seus cuidados. A tal fim, os
Pastores podem servir-se também das Comissões Doutrinais, que constituem um
órgão consultivo institucionalizado de auxílio às Conferências Episcopais e a cada
Bispo em particular, na sua solicitude pela doutrina da fé. Mantém-se claramente
firme o princípio que a Santa Sé pode sempre intervir, e normalmente intervém
quando a influência duma publicação ultrapassa os confins duma Conferência
Episcopal, ou quando o perigo para a fé assume particular gravidade.
A responsabilidade primária da Congregação não é condenar aqueles que não são
fiéis à doutrina correta, mas prestar um serviço à verdade, protegendo o direito dos
fiéis de receber a mensagem do Evangelho em sua pureza e em sua totalidade.

5.2. O desenvolvimento do respectivo regulamento.


Assim como vimos na introdução acima, nós podemos entender que quando a fé
e a moral sofrem qualquer prejuízo na sua comunicação e erros que foram divulgados,
a Congregação para a Doutrina da Fé tem o dever de examinar os escritos e as opiniões
que se apresentam como contrários à fé autêntica ou sejam perigosos para ela.
Tendo em vista que os Pastores da Igreja, quer reunidos em Sínodos particulares
ou nas Conferências Episcopais, têm o dever e o direito de velar, para que não se
provoque qualquer dano à fé e à moral dos fiéis confiados aos seus cuidados.

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Partindo do pressuposto supracitado temos o seguinte procedimento a ser seguido:


1º. Os Pastores podem servir-se das Comissões Doutrinais, que são auxílios às
Conferências Episcopais e a cada Bispo em particular, na sua solicitude pela doutrina
da fé.
Quem são essas Comissões Doutrinais? Quais são as suas finalidades?
Com a Instrução promulgada pela Congregação para a Doutrina da Fé, de 23 de
Novembro de 1967, foi solicitado que as Conferências Episcopais constituíssem uma
Comissão Doutrinal.
As Comissões Doutrinais agem por encargo e mandato das Conferências
Episcopais, e constituem um órgão consultivo institucionalizado de auxílio às mesmas
Conferências episcopais e a cada Bispo em particular na sua solicitude pela doutrina
da fé.
Dentro dessas Comissões Doutrinais servem também para tratar os problemas
doutrinais. São membros da Comissão Doutrinal, os Bispos eleitos pela Conferência
episcopal. Especialistas podem ser consultados uma vez ou outra, mas o seu papel
deve ser distinto daquele dos Bispos, que são os únicos responsáveis por eventuais
pronunciamentos da Comissão, posto que se trata de uma Comissão Episcopal.
As suas finalidades são:
1. Favorecer a difusão da doutrina da fé.
2. Elas prestam auxílio às Conferências episcopais, particularmente divulgando e
comentando, de forma adequada às necessidades e urgências de cada território, os
documentos emanados pelo Magistério Pontifício.
3. São chamadas a favorecer o trabalho teológico científico, a mútua relação com os
teólogos e professores das Universidades e Seminários, bem como com todos os
especialistas nas ciências eclesiásticas.
4. É um auxílio oferecido a cada Bispo na missão de seguir e discernir a produção
teológica (livros e revistas) do próprio território, para que não seja prejudicada a reta
doutrina, à qual os fiéis têm direito.
5. A Comissão doutrinal manterá o diálogo e a mútua relação e comunhão com a
Conferência episcopal que, por sua vez, transmitirá à Congregação para a Doutrina
da Fé.

A Congregação para a Doutrina da Fé poderá intervir em quaisquer circunstâncias


sobre os exames das doutrinas, principalmente quando a influência duma publicação
ultrapassar os confins duma Conferência Episcopal, ou quando o perigo para a fé
assumir particular gravidade.

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Em tal caso, como a Congregação para a Doutrina da Fé procederá?


1º. Através de um exame preliminar. Os escritos ou doutrinas assinaladas, de qualquer
maneira divulgadas, tornar-se-ão objeto de atenção por parte de um officium
competente, que os submete ao exame do Congresso.
2º. Concluída a autenticidade dos escritos, deve ser submetido cuidadosamente ao
exame, com a colaboração de um ou mais consultores ou de outros peritos na matéria.
3º. O resultado do exame é apresentado ao Congresso, o qual decide se tal exame é
suficiente para intervir junto das Autoridades locais ou se deve levar a fundo o exame,
através do exame ordinário ou exame com modo de proceder urgente.
4º. Os critérios a serem seguidos dependerá da natureza dos erros eventualmente
encontrados, ponderando a sua evidência, a sua gravidade, a sua difusão, o influxo
exercitado e o perigo de prejuízo para os fiéis.
5º. O Congresso, caso tenha julgado suficiente o estudo feito, pode confiar a questão
diretamente ao Ordinário e por intermédio deste, informar o Autor acerca dos
problemas doutrinais presentes no seu escrito. O Ordinário é convidado a aprofundar
o problema e a pedir ao Autor os necessários esclarecimentos, que devem ser
submetidos sucessivamente ao juízo da Congregação.

Há dois modos de proceder da Congregação para a Doutrina da Fé: o modo de


proceder ordinário e o modo de proceder urgente.

IV. A profissão de fé e o juramento de fidelidade (Título V – cân.


833).

1. A profissão de fé.
A profissão de fé é um ato religioso, e, de certa forma, está relacionado com o
ofício de ensinar, que se realiza sempre que se vai desempenhar uma função de
autoridade na Igreja, certos ofícios, dignidades ou cargos. Todos aqueles fiéis que
assumem um ofício eclesiástico na Igreja, deve fazer a profissão de fé, o que significa
um juramento especial de fidelidade pessoal, razão pela qual não pode ser delegado e
nem fazê-lo por procuração.
Deve ser feito lendo a fórmula perante a pessoa indicada pelo cân. 833 do
CIC/1983, fórmula que deve ser aprovada pela Santa Sé.
Com relação a quem deve emiti-la, o cânone estabelece:

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1º. Perante o presidente ou seu delegado, todos os que tomam parte, com voto
deliberativo ou consultivo, em um Concílio Ecumênico ou particular, Sínodo dos
Bispos e Sínodo diocesano; e o Presidente, perante o Concílio ou Sínodo;
2º. Os promovidos à dignidade cardinalícia, segundo os estatutos do Sagrado Colégio;
3º. Perante o delegado pela Sé Apostólica, todos os que forem promovidos ao
episcopado e também os que são equiparados ao Bispo diocesano;
4º. O administrador diocesano, perante o Colégio dos Consultores;
5º. Os vigários gerais, vigários episcopais e vigários judiciais, perante o Bispo
diocesano ou seu delegado;
6º. Os párocos, o reitor e os professores de teologia e filosofia dos seminários, quando
começam a exercer as suas funções, perante o Ordinário local ou o seu delegado;
também aqueles que vão receber a Ordem do diaconato;
7º. O reitor da Universidade eclesiástica ou católica, quando começa a exercer o seu
cargo, perante o Grão Chanceler, ou na sua falta, perante o Ordinário do lugar ou
perante os seus delegados; os professores que dão aulas sobre assuntos relacionados
com a fé ou os costumes em quaisquer universidades, quando começam a exercer o
cargo, perante o Reitor, se é sacerdote, ou perante o Ordinário do lugar ou perante
seus delegados;
8º. Os Superiores nos Institutos Religiosos e Sociedades de Vida Apostólica clerical,
segundo as normas das Constituições.
A profissão de fé está unida ao juramento de fidelidade nos casos que vão dos nn.
5º ao 8º.

Nos textos vigentes do Ordenamento jurídico-canônico em vigência e no Código


dos Cânones das Igrejas Orientais, foram acrescentadas normas, pelas quais se
imponha o dever de observar as verdades propostas de modo definitivo pelo
Magistério da Igreja. Estas normas visam defender a fé da Igreja Católica Apostólica
Romana contra os erros que se levantam da parte de alguns fiéis, sobretudo daqueles
que se dedicam propositadamente às disciplinas teológicas.
Desde os primórdios até os dias de hoje, a Igreja professa as verdades sobre a fé
em Cristo e sobre o mistério da sua redenção, que depois foram recolhidas nos
Símbolos da fé.
Atualmente, elas são comumente conhecidas e proclamadas pelos fiéis na
celebração solene e festiva das Missas como Símbolo dos Apóstolos ou Símbolo
Niceno-Constantinopolitano.
O Símbolo Niceno-Constantinopolitano, está contido na Profissão de Fé,
recentemente elaborada pela Congregação para a Doutrina da Fé, e cuja enunciação é
imposta de modo especial a determinados fiéis, quando estes assumem um ofício que
diz respeito, direta ou indiretamente, à investigação mais profunda no âmbito das

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verdades acerca da fé e dos costumes, ou que tem a ver com um poder peculiar no
governo da Igreja.

2. Conteúdos canônicos da Profissão de Fé.


A Profissão de Fé, devidamente precedida pelo Símbolo Niceno-
Constantinopolitano, tem além disso três parágrafos que pretendem explicitar as
verdades da fé católica.
Cân. 750 §§ 1 e 2 do CIC/1983:

§1: “Deve-se crer com fé divina e católica em tudo o que se contém na palavra de
Deus escrita ou transmitida por Tradição, ou seja, no único depósito da fé contido à
Igreja, quando ao mesmo tempo é proposto como divinamente revelado quer pelo
Magistério solene da Igreja, quer pelo seu Magistério ordinário e universal; isto é, o
que se manifesta na adesão comum dos fiéis sob a condição do sagrado magistério;
por conseguinte, todos têm a obrigação de evitar quaisquer doutrinas contrárias”.
§2: “Deve-se ainda firmemente aceitar e acreditar também em tudo o que é proposto
de maneira definitiva pelo magistério da Igreja em matéria de fé e costumes, isto é,
tudo o que se requer para conservar santamente e expor fielmente o depósito da fé;
opõe-se, portanto, à doutrina da Igreja Católica quem rejeitar tais proposições
consideradas definitivas”.
No cân. 1371 §1 do CIC/1983, o Legislador prevê que seja punido com justa pena:
1º. Quem, fora do caso previsto no cân. 1364 §1, ensinar uma doutrina condenada
pelo Romano Pontífice ou pelo Concílio Ecumênico, ou rejeitar com pertinácia a
doutrina referida no cân. 750 §2, ou no cân. 752, e, admoestado pela Sé Apostólica
ou pelo Ordinário, não se retratar;
2º. Quem, por outra forma, não obedecer à Sé Apostólica, ao Ordinário ou ao Superior
quando legitimamente mandam ou proíbem alguma coisa, e, depois de avisado,
persistir na desobediência.

No Código dos Cânones das Igrejas Orientais no cân. 598:


§1: Deve-se crer com fé divina e católica em tudo o que se contém na palavra de Deus,
escrita ou transmitida por Tradição, ou seja, no único depósito da fé confiado à Igreja,
quando ao mesmo tempo é proposto como divinamente revelado, quer pelo magistério
solene da Igreja, quer pelo seu magistério ordinário e universal; isto é, o que se
manifesta na adesão comum dos fiéis sob a condução do sagrado magistério; por
conseguinte, todos os fiéis cuidem de evitar quaisquer doutrinas que lhe não
correspondam.
§2: Deve-se ainda firmemente aceitar e acreditar também em tudo o que é proposto
de maneira definitiva pelo magistério da Igreja em matéria de fé e costumes, isto é,
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tudo o que se requer para conservar santamente e expor fielmente o depósito da fé;
opõe-se, portanto, à doutrina da Igreja Católica quem rejeitar tais proposições
consideradas definitivas.

No cân. 1436 do Código dos Cânones das Igrejas Orientais traz alguns acréscimos
e nos ajuda a entender a punição anexa ao cân. 598 do Código das Igrejas Orientais.
Fica assim:
Cân. 1436
§1: Quem negar uma verdade que deve ser acreditada com fé divina e católica ou a
puser em dúvida ou repudiar totalmente a fé cristã e, legitimamente admoestado, não
se corrigir, seja punido como herético ou como apóstata com a excomunhão maior; o
clérigo pode, além disso, ser punido com outras penas, não excluídas a deposição.
§2: Fora destes casos, quem rejeitar com pertinácia uma doutrina proposta como
definitiva, ou defender uma doutrina condenada como errônea pelo Romano Pontífice
ou pelo Colégio dos Bispos no exercício do magistério autêntico e, legitimamente
admoestado, não se corrigir, seja punido com uma pena adequada.

Notas explicativas sobre as três proposições

A respeito da primeira proposição a Santa Sé quer nos fazer compreender que,


essas doutrinas comportam da parte de todos os fiéis, o assentimento de fé teologal.
Assim, quem obstinadamente as pusesse em dúvida ou negasse, cairia na censura de
heresia.
Sobre a segunda proposição, podemos interpretar que, o objeto ensinado nesta
fórmula abrange todas as doutrinas relacionadas com o campo dogmático ou moral,
que são necessárias para guardar e expor fielmente o depósito da fé. Todos os fiéis
estão obrigados, a dar a essas verdades o seu assentimento firme e definitivo, baseado
na fé da assistência dada pelo Espírito Santo ao Magistério da Igreja e na doutrina
católica da infalibilidade do Magistério em tais matérias.
A terceira proposição nos faz entender que tais ensinamentos são expressão
autêntica do magistério ordinário do Romano Pontífice ou do Colégio Episcopal,
exigindo, portanto, o religioso obséquio da vontade e do intelecto.

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3. O juramento de fidelidade.
A profissão de fé se une a obrigação de prestar o juramento de fidelidade.
Este juramento consiste na manifestação e compromisso público, colocando Deus
como testemunha, para assumir e desenvolver o ofício a que se acede em comunhão
com os Pastores e segundo as normas da Igreja. Com este juramento, além da
obrigação moral que se assume, pretende-se dar a conhecer aos fiéis que o devem
cumprir e publicamente comprometê-los, das obrigações que adquirem.
Tendo em conta as mesmas expressões que constam do juramento, pode-se dizer
que as obrigações que se contraem são as seguintes:
1º. O cumprimento com diligência e fidelidade das obrigações do cargo ou função;
2º. Manutenção, anúncio e exposição fiel do depósito da fé;
3º. Subordinação, isto é, respeito e obediência aos Pastores e suas legítimas
prescrições.
Os Bispos, segundo o cân. 380 do CIC/1983, bem como aqueles que são
equiparados, também devem fazer um juramento de fidelidade, antes de tomar posse
canônica de seu cargo.
Tanto a profissão de fé como o juramento de fidelidade não podem ser
considerados meros atos externos formais. A Igreja não pretende que se cumpra um
mero formalismo, mas pretende que a obrigação legal de fazer a profissão de fé se
baseie numa verdadeira comunhão e identidade na fé.
Por esse motivo, não podem ser aceitos a profissão ou juramento de quem está
manifestamente agindo contra o que neles está contido, ou seja, não podem ser aceitos
se a simulação o for de alguma forma.
A profissão de fé e o juramento são laços positivos que asseguram a comunhão e
a fidelidade à Igreja.

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