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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA

CENTRO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL, LETRAS E ARTES


COORDENAÇÃO DO CURSO DE LETRAS

PAPÉIS SOCIAIS DE GÊNERO NO LIVRO


MULHERZINHAS
DE LOUISA MAY ALCOTT
ALUNA: ALINE DE JESUS MAGALLANEZ ARAÚJO
ORIENTADORA: PROFª. DRª. MARTHA JULIA MARTINS DE SOUZA
INTRODUÇÃO
 Contextualização: Literatura – Mulherzinhas, de Louisa May Alcott
 Objetivo: Analisar os papéis sociais de gênero no livro Mulherzinhas, de Louisa May Alcott,
analisando as expectativas de gênero que giram em torno da personagem Josephine March.
 Metodologia: Apresentação e análise das personagens principais do livro, desde a figura
paterna e materna, as irmãs e amigo de Josephine March. Para análise do tema, foram
mencionados acontecimentos importantes na narrativa do livro a fim de mostrar em quais
aspectos os papéis de gênero são apresentados.
Primeira edição do livro publicado em 1868.
LOUISA MAY ALCOTT
A relutância de Alcott para escrever
Mulherzinhas

Alcott não estava entusiasmada ao escrever o livro que a colocou em ascensão, pois em 28 de
fevereiro de 1868:
 “Alcott deixou seu cargo como editora do Merry's Museum e foi para casa em Concord para
escrever um livro que ela não queria escrever em um lugar que ela não queria escrever”.
(CHEEVER, 2010, p. 160, tradução nossa).
Os reflexos de sua vida pessoal na obra
 As personagens principais de Little Women são um reflexo, até certo ponto, das irmãs de Louisa.
 Na história, Anna seria a linda e dedicada Meg
 Elizabeth a quieta e perfeita Beth
 A obstinada e detestável May se tornaria Amy.
 Abby se tornou a irresistível Marmee, e o pai de Alcott, na verdade um homem emocionalmente
ausente por causa da depressão, se tornou um pai fisicamente ausente por estar servindo na Guerra
Civil.
 Mulherzinhas, é um romance leve e juvenil sobre amor entre irmãs e paz doméstica, o que era o
oposto de sua vida. Segundo Cheever, “a família March é claramente modelada nos Alcotts, mas ao
escrever este livro, Alcott se permitiu criar, em vez de sua família real, a família que ela sempre
sonhou em ter”. (CHEEVER, 2010, p. 163)
MULHERZINHAS, DE LOUISA MAY

ALCOTT
No auge da Guerra Civil Americana, o senhor March se junta às frentes da batalha. Em casa,
suas filhas Margaret, Josephine, Elizabeth e Amy, devem conviver com as dificuldades
econômicas e a busca pela realização de seus sonhos, tendo como guardiã, Marmee, a mãe.
 No livro, as irmãs March estavam acostumadas a uma vida diferente, melhor financeiramente,
principalmente Margaret, conhecida como “Meg” por todos, que por ser a irmã mais velha
ainda possuía memória dos bons tempos.
 Amy é de longe a filha mais vaidosa da família. De certo modo, apresenta aversão às ideias
das outras irmãs sobre a vida.
 Já Beth, é uma menina extremamente talentosa, doce, gentil e tem na música do seu piano, o
maior aliado.
TRANSGREDINDO O PAPEL SOCIAL DE
GÊNERO, A VIDA DE JO MARCH
 No início do romance, Jo é uma menina muito jovem. Alcott descreve Jo desta forma: “ombros
redondos [...], mãos e pés grandes, um visual despojado nas roupas e a aparência desconfortável de uma
menina que estava rapidamente se transformando em mulher, e não gostou” (Alcott, 2020, p. 6).
 Em muitas situações, isso já no início do livro, ela é repreendida e criticada por suas irmãs,
principalmente por Meg e Amy por não se portar "adequadamente" como uma moça. Vemos
que Amy demonstra aborrecimento com pequenas atitudes consideradas masculinas por parte
de Jo.
– Jo realmente usa essas palavras vulgares – observou Amy com um olhar de
reprovação à menina esguia esticada no tapete. Jo de imediato se sentou, enfiou as
mãos nos bolsos do avental e começou a assobiar.
– Pare com isso Jo, é tão masculino.
– É por isso que eu faço.
– Detesto meninas grosseiras e pouco femininas. (Alcott, 2020, p. 10)
 Em outra situação vemos Meg reprovando tanto as atitudes quanto a aparência de Jo.
– [...] Você já está na idade de deixar esses trejeitos de menino e se comportar melhor,
Josephine. Isso não importava tanto quando você era pequena, mas agora você está tão
crescida! E ajeite seu cabelo; lembre-se de que é uma mocinha. (Alcott, 2020, p. 11)
 Ainda que por diversas vezes Jo fosse inferiorizada por suas irmãs, ela encontrava em Beth
carinho e apoio.
– Pobre Jo! [...] você precisa se contentar com seu apelido masculino e ser o irmão que
não temos (Alcott, 2020, p. 11)
 Ao conhecer Laurie, houve uma conexão puramente fortalecida pois “a timidez de Laurie
logo passou, o jeito de menino de Jo o divertia [...] e Jo logo voltou a sua personalidade
alegre de sempre porque havia esquecido o vestido e não havia ninguém para erguer as
sobrancelhas para ela.” (Alcott, 2020, p. 33). A autora não esconde o fato de que essa
amizade seria importante para a história de Jo.
 Os encontros de conversa entre Jo e Laurie são repletos de sinceridade e
liberdade, Jo sempre demonstra para Laurie, de forma aberta e sem medir as palavras, suas
ideias e pensamentos sem sentir que seria julgada.
 Algo que Jo dizia invejar em Laurie é que este podia estudar, por ser menino e ter
condições.
– Você gosta da sua escola – perguntou o menino mudando de assunto.
– Eu não vou à escola. Sou um homem de negócios, ou melhor, uma menina.
Sou dama de companhia da minha tia, que é uma boa alma mas uma velhota
bem rabugenta também. (Alcott, 2020, p. 53)
 Jo possui uma paixão pela escrita, algo que desenvolve desde pequena e não mede esforços
para se dedicar no aprimoramento da escrita diária.
 Ao longo da narrativa, seus conflitos internos começam a surgir a partir do choque de
realidade que Jo se depara ao ter que se adaptar com as mudanças familiares e perspectivas
em relação ao seu futuro.
 Jo também é uma filha muito esforçada. Constantemente está buscando soluções para os
problemas de sua família, e sempre está ao lado de Marmee, a auxiliando e dando apoio
quando ela precisava.
– É um grande conforto, Jo, Sempre me sinto forte quando você está em
casa, agora que Meg se foi. Beth está muito fraca, e Amy é muito jovem,
então eu não posso contar com elas. Você, por outro lado, está sempre
pronta para momentos de aperto. (Alcott, 2020, p, 301)
 Cartas descritivas e saudosas que Jo envia para a mãe e irmãs, se encontram repletas de
elogios ao homem tão interessante. Logo o leitor percebe algo florescendo no coração da
jovem.
A senhora K. me disse que ele é de Berlim, que é um homem culto e
generoso, mas pobre como um rato de igreja, e que dá aulas para sustentar
a si mesmo e dois pequenos órfãos que ele está educando aqui [...] (Alcott,
2020, p, 313)
 O professor e marido de Jo nunca existiu na vida real. Louisa permaneceu a escritora
solteirona que sua heroína idealizava ser, honrando todas as crenças que construiu para si.
Mesmo após sua morte, seu espírito permanece vivo por meio de suas palavras, servindo
de incentivo para milhares de meninas a questionarem todo e qualquer padrão.
 Jo se torna uma inspiração necessária a todas as leitoras que se encontram presas ao que
não anseiam.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
 Neste trabalho, em nossa análise da obra Mulherzinhas de Louisa May Alcott, vemos através do
contexto que o amadurecimento das quatro jovens irmãs March é construído de forma em que a
leitura se torna agradável e leve. Louisa May Alcott tinha uma maneira impressionante de
retratar os acontecimentos na vida das irmãs March.
 Integram a história principal, além das protagonistas, os pais das meninas, a tia-avó, os vizinhos
e amigos. Cada personagem é completo e descrito com grande riqueza de detalhes, os tornando
reais e cativantes.
 Era permitido às meninas almejarem algo além do que era imposto às meninas e mulheres na
época. Cada uma das irmãs possui temperamento distinto mas de certa forma, complementares.
O que cativa na história é justamente que elas encaram as perspectivas de vida completamente
diferentes.
 Vemos em Jo essa aspiração de se permitir sonhar com algo mais, o que parecia ser algo
rebelde já que ia contrário ao que uma garota apropriada deveria ser ou se portar, fazendo dela a
personagem mais interessante da história.
 Na segunda parte do livro a autora aborda vários nuances, desde casamentos, vida pessoal e
profissional, nascimento de filhos e até mesmo a morte.
 A história não termina somente com o casamento, sendo o objetivo do casamento estabelecer a
comunhão de vida entre os cônjuges, constituindo família, a narrativa vai incluir as
dificuldades, as crises e os meios de enfrentar tais adversidades.
 Logicamente, o papel social da mulher, da família e das relações mudaram muito desde o tempo
que o livro foi escrito.
 Mas os dramas, problemas e angústias enfrentados pelas quatro irmãs permanecem reais e
atuais.
 As mulheres eram, e ainda são, em grande medida, educadas, ao longo de toda a vida, para
ocupar o espaço privado/doméstico e deixar o mundo público/político a cargo dos homens.
Com essa divisão, os homens são prioritariamente associados à esfera produtiva – isto é, o
mundo do trabalho remunerado - e as mulheres à esfera reprodutiva – todo o trabalho de
reprodução humana, de cuidado, de afeto, alimentação, limpeza e as demais atividades
domésticas necessárias para que as pessoas se mantenham vivas e possam participar das
outras esferas sociais: a educação, o trabalho, a política, etc.
 Por amor à família, Alcott estava condicionada aos trabalhos domésticos e cuidados da
casa, porém, ela não se limitou, “a vida de Alcott foi o que ela fez, o que ela escolheu.”
(CHEEVER 2010, p. 200). Ela esperava sustentar sua família; conseguiu, pretendia ter
uma voz no mundo e foi bem sucedida. Experimentou uma vida que lhe permitiu manter a
liberdade de viajar, de traçar seu próprio rumo, de dizer o que quisesse. “Talvez esta não
seja a nossa versão de felicidade, que muitas vezes ainda está atolada em ideais de contos
de fadas, de casamentos românticos e filhos adoráveis ​– mas era a felicidade dela.”
(CHEEVER 2010, p. 200).
REFERÊNCIAS
 ALCOTT, Louisa May. Mulherzinhas. São Paulo. Edição integral; tradução de Giu Alonson e Daniel
Moreira Miranda, 2020.
 CHEEVER, Susan. Louisa May Alcott – A personal biography. Nova York, EUA. Editora Simon &
Schuster. 2011.
 BLENDER, Claire. Gender Stereotyping in Little Women: “Let Us Be Elegant or Die!” University of
Northwestern – St. Paul. 2017.
 PLAIN, Gill and SELLERS, Susan. A history of feminist literary criticism. Cambridge, UK. Cambridge
University Press. 2007.
 O’GORMAN, Francis. A Concise Companion to the Victorian Novel. Oxford, UK. Blackwell
Publishing Ltd. 2005.
 FREEDMAN, Jean R. Louisa May Alcott, a spinster hero for single women of all eras. College in
Rockville. April 23, 2015.
 PEREIRA, Joseane Como as cores afetam a emoção e a razão. São Paulo. Editora Gustavo Gili. 2012.
OBRIGADA!

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