1) Janus viaja no tempo para encontrar sua irmã Sindala e encontra Dener, que diz ter informações sobre seu paradeiro.
2) Dener pede detalhes sobre como Janus viaja no tempo em troca da informação.
3) À medida que conversam, Janus começa a se sentir tonto e revela sem querer detalhes sobre sua longevidade, colocando-se em perigo.
1) Janus viaja no tempo para encontrar sua irmã Sindala e encontra Dener, que diz ter informações sobre seu paradeiro.
2) Dener pede detalhes sobre como Janus viaja no tempo em troca da informação.
3) À medida que conversam, Janus começa a se sentir tonto e revela sem querer detalhes sobre sua longevidade, colocando-se em perigo.
1) Janus viaja no tempo para encontrar sua irmã Sindala e encontra Dener, que diz ter informações sobre seu paradeiro.
2) Dener pede detalhes sobre como Janus viaja no tempo em troca da informação.
3) À medida que conversam, Janus começa a se sentir tonto e revela sem querer detalhes sobre sua longevidade, colocando-se em perigo.
Seus olhos custaram a acostumar com a escuridão do
beco imundo onde se encontrava. Com sorte, ninguém teria ouvido o estalo que seguia o salto temporal. Sentia o frio tocar seu rosto, enquanto a pressão do ar normalizava ao seu redor. Agora só precisava estabelecer se estava na data e local combinados. Olhou o bilhete, guardado junto ao relógio de bolso. Logo tratou de sair para a calçada de pedras irregulares e cobertas de neve à sua frente, guiado pela fraca luz dos postes nas proximidades. Antes que pudesse se certificar de quando e onde estava, um bater ritmado de botas contra pedras quebrou sua concentração. Das trevas da noite surgiu outra pessoa, trajando vestes similares. – Sieg Heil! – cumprimentou-lhe, estendendo a mão direita ao ar. – Noite perfeita para um chopp, não é? – continuou, em alemão. – Até mesmo dois – respondeu com a contra-senha. – Pode me dizer as horas? – Coçou o pescoço onde o colarinho o circundava. O uniforme verde-musgo e cheio de adornos brancos e vermelhos o incomodava tanto quanto a falta de conhecimento sobre o aspecto que devia esperar das construções da época. – Estamos na noite de dezesseis de dezembro de mil novecentos e quarenta, nove horas e sete minutos. – Consultava um dispositivo, que emitia luz esverdeada. – Acredito que seja Janus, correto? Preparei um lugar mais adequado para conversarmos do que aqui no meio da neve, onde estamos muito vulneráveis, apesar do disfarce de oficiais do Reich. As roupas que te mandei pelo Mensageiro serviram corretamente? Assentindo com a cabeça, o garoto seguiu o homem por alguns metros, ajustando os botões do uniforme e perguntou: – Seu nome é realmente Dener? – No presente, sim, e estou contando os minutos para ir embora dessa época maldita antes que alguma merda aconteça. Pararam em frente a uma porta com um cartaz desbotado de propaganda. Ouviram vozes e gargalhadas vindas de dentro. – Está cheio de alemães lá dentro! Tem certeza que é uma boa ideia conversarmos aqui? – Janus segurou Dener, impedindo-o de entrar. – É irrelevante. Saiba que estamos vestidos como tenentes, então, porte-se como tal. Acreditei que você estaria pronto para uma simples conversa num bar francês, com meia dúzia de soldados comemorando alguma coisa que não vem ao caso. – Se o que o Mensageiro me passou é correto, só precisamos de uns poucos minutos e já seguiremos nossos caminhos. Acredito que os costumes militares não tenham mudado tanto desde a Grande Guerra, correto? – questionou Janus, alinhando seu uniforme. – Isso não mudou, mas o que acontece nos bastidores dessa Segunda Guerra, deixariam você enjoado. Experiência própria – concluiu Dener abrindo a porta e conduzindo o viajante para dentro. Canecas e pratos se espatifaram no chão, enquanto os soldados batiam continência para os dois indivíduos que adentravam ao bar. – Lá se foi o elemento discrição – cochichou Janus para Dener, retribuindo com a saudação oficial do Reich. Ignorando os soldados, trataram de sentar ao redor de uma das mesas mais reservadas, num canto próximo à lareira crepitante. Foram atendidos por um homem corpulento, que já vinha trazendo dois quartilhos de chopp em cada mão. – Boa noite e bem-vindos, oficiais – arranhou um alemão bastante carregado para o francês – aceitam chopp ou gostariam de algo mais forte? – Chopp está perfeito. Pode deixar dois para mim. – Eu quero só um – disse Dener, acendendo um cachimbo que retirara do bolso do casaco. – Está tentando aplacar a sede ou a acabar com a ansiedade? – Ambos! – respondeu, bebendo o primeiro quartilho num único fôlego. – Viajar me deixa com sede e a situação me deixa ansioso. Nunca conheci outro viajante do tempo antes também. – Não é diferente de conhecer qualquer outra pessoa, então, quando sua ansiedade passar, vamos ao cerne do assunto – afirmou Dener, chamando uma moça que também atendia no bar. – Gostaríamos de uma refeição, deixe-me pensar… Einsbein. Joelho de porco com batatas. – Certamente – a garota respondeu, em francês. – Obrigado – disse Dener, no mesmo idioma. – Sejamos objetivos, então. O Mensageiro te disse que tenho o item que você procura. – afirmou Dener, retirando do bolso interno do uniforme algo embrulhado em um lenço de seda rosa. – Verdade, mas também preciso saber o que você quer em troca disso. Das várias coisas escritas no bilhete do Mensageiro, a única informação omitida é o que eu terei que fornecer para obter o que você trouxe. O broche prateado reluziu à fraca luz do ambiente, mostrando detalhes de um passado perdido nas entranhas do tempo e do espaço. Janus sentiu um calafrio ao ver as manchas rubras maculando o item, imaginando que seriam de sua irmã, que portava o broche até então, acreditava ele. – As marcas… por acaso… – Sua irmã e eu derramamos muito sangue durante o tempo que passamos juntos. Mesmo sendo uma criança, ela tem habilidades que eu jamais tinha presenciado antes. Suas preocupações podem ser aplacadas, pois ela está segura, mas não está na mesma época que nós. Essa informação eu te forneço sem custos. A algazarra dos soldados abafava qualquer reação de Janus. Sentiu o peso que carregava sair de seus ombros, com alívio por saber da atual situação da irmã. Ao mesmo tempo, pairava uma frustração por ainda não compartilhar o momento certo de encontrá-la. A francesa trouxe a comida dos falsos oficiais e a serviu na mesa. Janus solicitou: – Mais dois quartilhos, por gentileza. Ainda estou enjoado por conta do salto. Ou talvez essa bebida esteja mais forte do que eu pensava. — Esse é o melhor chopp da frança. Nem Paris tem algo parecido — disse Dener. — Beba mais! Aí está ela com mais uns canecos. — Deu uns tapas nas costas de Janus, já se virando para a atendente e completando em francês: — Continue trazendo, mon cherie. – Então, Sindala está no futuro – falou Janus, olhando nos olhos do outro homem, enquanto pegava seu relógio de bolso. – A questão agora é onde… – Aí que entra a primeira parte da minha barganha. Quero entender como funciona o seu mecanismo de viagem no tempo. Pelo que o Mensageiro disse, você só pode viajar para o futuro, estou certo? – questionou Dener, devorando suas batatas. – É isso mesmo. Você já possui a informação que precisa. – Errado. Veja só – iniciou Dener, mostrado o seu dispositivo de luz verde. Aqui eu tenho todo o relatório das suas viagens e os tempos passados em estadias muito longas para serem consideradas numa vida normal humana. – Você esteve me espionando? – Mais ou menos, meu caro. Veja bem, viajantes do tempo possuem frequências de radiação H, e a sua tem uma ressonância bem particular. Diferente de muitas outras que nós costumamos detectar – continuou Dener, reclinando-se na cadeira com seu quartilho. – Eu sei disso, afinal foi Leonardo da Vinci, com a minha ajuda, que batizou essa radiação em homenagem a Hórus, quando criamos os meios de detectá-la – informou Janus. – Deixe-me ver… correto. Essa informação consta nos meus relatórios. Consta também que você esteve presente em seu funeral, e também que já estava em Florença por volta do ano de 1452, quando ele nasceu. A indignação tomava conta de Janus, que já estava começando a se questionar sobre qual realmente seria o preço que o outro viajante cobraria. – Deixe que eu te contextualize um pouco mais sobre o que eu quis dizer quando mencionei nosso coletivo. Somos uma das agências temporais clandestinas do futuro remoto. Você ficaria impressionado com tudo o que conseguimos fazer, mesmo que os Acordos Temporais de 2030 proíbam expressamente o uso de tecnologia de deslocamento no espaço-tempo, a partir de então. – O que me interessa é saber quando e onde encontrar minha irmã. Por acaso você tem mesmo essa informação ou está apenas tentando obter alguma coisa às custas da minha busca? – questionou Janus, secando mais uma caneca de chopp, enquanto ajustava seu dispositivo, sob a mesa. O chopp parecia mais atraente do que costumava e Janus voltou a ingeri-lo com avidez. Sentia-se tonto, mas, ao mesmo tempo, muito sedento e cada vez mais ansioso. – O que diabos vocês querem comigo então? Não tenho nada a oferecer com minha tecnologia arcaica. Só posso me deslocar para o meu atual futuro. Ademais, isso requer uma abundante quantidade de energia – disse Janus, tropeçando pelas palavras enquanto falava. – Esse seu método de viajar é meio interessante também, mas não é meu foco. Estamos usando anti-matéria, o que é raro até mesmo no futuro. Você não deve fazer ideia do que seja isso, então ignore os detalhes. Eu precisei te encontrar nessa época devido às nossas limitações energéticas – explicou Dener, acendendo um cigarro. – Agora, o que me traz aqui, é uma coisa mais importante do que isso tudo que foi dito. Quero saber como vocês se mantém vivos por tanto tempo. Janus sentiu um calafrio e olhou para a lareira, que parecia arder mais forte do que quando chegaram. Suas palavras soaram lentas e sentia que não poderia mentir. Não conseguia, mesmo que tentasse. – Acredito que explosão da máquina de Atalântica causou… minha condição… – relatou, impressionado com sua mente por revelar o nome da sua origem e informações tão particulares, já que nunca havia o feito antes. – Então é por isso? Você será um bom objeto de estudo nos laboratórios do Reich! – exclamou Dener, trabalhando em seu dispositivo. – Meus superiores ficarão felizes em saber disso. *** Janus ouviu um estalo conhecido, seguido pelo silêncio de todos os presentes. Todos se voltaram para o meio do salão, onde um homem trajando um uniforme todo preto, com diversos adornos, surgiu. O ar ao seu redor, formava pequenas ondulações, como a água de um lago ao ser tocada por uma pedra. Dener levantou-se e estendeu a mão ao ar, juntando-se ao coro coletivo. Gritaram por três vezes, num idioma que Janus não ouvia há muitos séculos. Seu língua nativa: – Viva à Alma do Dragão!
Silêncio novamente.
– Obrigado, Dener – agradeceu o homem, ainda na língua
materna de Janus. O garoto apenas observava, enquanto o velho sentava-se a sua frente. Palavras tocaram os seus ouvidos, ainda incrédulos. – Não é nenhuma coincidência nos encontramos aqui hoje, principezinho. O tolo do Mensageiro não sabe o favor que me fez ao te entregar o bilhete e o uniforme que Dener te mandou. Janus estava com o pensamento arrastado pela bebida, mas, nesse ponto, sabia que havia mais do que simples álcool naqueles quartilhos. Queria ouvir mais do que o homem tinha a dizer, pois tinha perguntas que precisavam de respostas. Tratou de colocar a mente em ordem e questionou: – Pai… no acidente você estava na máquina, tentando tirar a minha mãe de lá. Como não morreu junto a ela? – Isso é irrelevante, garoto. O assunto aqui é outro. Foco! Sua irmã escapou dos nossos Caçadores Temporais no futuro enquanto você caiu direitinho na nossa armadilha, sem a ajuda deles. Vendo por esse lado, acredito que ela seja bem mais inteligente que você – riu o velho. – Mesmo com todos os anos de experiência que te foram concedidos pelo destino. – Major Wilhelm, podemos proceder com a extração? – questionou Dener. O pai de Janus assentiu e Dener levantou-se, ordenando aos soldados: – Cerquem o bar e sinalizem para que tragam o veículo. Vamos levar o espécime em poucos minutos. Janus cambaleou para o meio do salão. Seu relógio de bolso, configurado para a viagem, em suas mãos. A mente do garoto estava muito turva e a única coisa que conseguiu exclamar foi: – Não será dessa vez! – Agarrem-no! – gritou Dener, para os soldados ao redor. Em meio ao estalo, pôde ouvir as palavras do pai ecoando: – Te vejo no futuro, garoto.