Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Rodulfo
novo:
de
psicanálise
da
psicanálise
tradicional
A
'd iscuVo
editora
Copyright 2008: Ricardo Rodulfo
Rodulfo, Ricardo
A psicanálise de novo : elementos para a
descontrução da psicanálise tradicional /
Ricardo Rodulfo ; tradução Paulo Gleich.
são Leopoldo, RS : Editora Discurso, 2023.
23-164384 CDD-150.195
Interrogação
referência habitual a obstáculos no trabalho analítico
A pesquisar em um
pesquisa do que não se pode
e seus fins - a duplo sentido: o alívio do
protocolo de pesquisa, a cura em seu
sofrimento, a preocupação pela subjetividade pode limitar-se
rapidamente,
a considerações exclusivamente clínicas, ou seja, rapidamente a
técnicas (sem uma pitada de teoria, a clínica deriva
esse plano nofundo burocrático-institucional); em segundo lugar,
pode cegar-se em uma apelação automática ao sistema dos con
ceitos,com seu imediato deslizamento àatitude dogmática (tipi
Camente,despachar toda questão invocando "a falta" ou a rocha"
do complexo de castração, sem abrir verdadeiramente nenhum
Esclarecimentos
Parênteses
3. Evidentemente, ao nomear
sua invenção por Derrida. Para "desconstrucão", refiro-me àsua procedenc e
uma consulta r¥pida sobre o funcionamento
termo, ver "Cartaa um amigo japonês", na Revista a0
Anthropos.
4.Por exemplo, em De volta por Winnicott", Diarios
extensamente no seminário "Elnoño el hiio". ministradoClinicos, n. 6. Muito
Estudios Clínicos em em 1993 na Fundaçdo
Psicoanálisis, ainda inédito.
124
da teoria - conforme assinalado por Roudincsco, a falta de uma
referência institucional fálicamonopolizadora sc compcnsa tem com
oidez catequética no plano teórico, dado quc o significante
ainidade mais espontânea como slogan publicitário do que com
critico. 0 que no fundo mais prcocupa não tanto
oprineipio de inércia quanto a inércia dos principios. A doença
ndinica da psIcanålise parece ser uma obsessão de seus prati
cantes por suaidentidade, um pouco à maneira em que, clinica
mente, é encontrada em certos impasses narcísicos adolescentes.
Essa atitude subjetiva enquanto tal, "pré teorica - traz conse
quências mais sérias do que qualquer peripécia de um conteúdo
semântico em particular. Os analistas, como um todo, estão recua
dos de antemão diante de qualquer questionamento daquilo que
faz tempo Lacan jå assinalara como cascas significantes vazias,
somente úteis para reconhecimento entre si. O caminho torna-se
um atoleiro que não permitepassar.
De acordocom minhas ideias,tanto ritualismo deve esconder
econduzir a um fundamento föbico sob a espécie, aqui, da agora
fobia. Sem as balizas de sempre, enunciadas tranquilizadoramente
como sempre: "o recalque", "a transferência', "o (complexode)
Edipo etc. (as distintas correntes e grupelhos só introduzem
variantes na acentuação relativa de tal ou qual termo), o colega
parece sentir-se perdido ou em risco de se perder. Qualquer in
cursão mais além do habitual costuma suscitar o apressado alívio
de voltar para casa. A ideologia fQbica do Q =zero como ideal, ou
como dizia um paciente agorafQbico, a opção entre estar vivo ou
estar tranquilo resolvida a favor do segundo termo, brota de um
extremo ao outro da psicanálise. Mais que outra coisa, seus prati
cantes querem estar tranquilos. E essa atitude éomais problemático
diante de qualquer tentativa de se inquietar com "os novos para
digmas" ou comoque quer que seja.
Opior: o princípio de identidade (a psicanálise idêntica a si
mesma como umna formação não metamorfoseável) éo princípio
Estrutura
Dobraduras
Reprises
Convénm retornar, dadas as complexidades do tema, à se
quência das hipóteses que venho seguindo.
1. Aprimeira que enunciei éa de que, tomados como conjunto,
os praticantes da psicanálise sofrem
(sintomaticamente)
do (complexo de) Edipo. O conceito, assim
antecipa, em sua cunhagem histórica, umvistas as coisas,
decimento neurótico dos psicanalistas. E comprofundo pa
a semiologia
mais clássica em seu conteúdo manifesto: não poder se
liberar do peso do paternal patriarcal. O conteúdo latente
éalgo mais complicado. Inclui a crença no pai e em
como um "gênio" que seria "o pai", o fundador", "o inFreud
ventor, da psicanálise. Em umn mundo onde reinavam as
pesadas trevas da época "vitoriana", teria chegado este
homemn providencial para fazer para nós um corte com
esse passado de ignorância e repressão. Alguém pode se
surpreender com a pregnância de semelhante narrativa,
digna do pior Hollywood quando se obceca em narrar a
vida de um "grande criador", mas ocerto éque funciona
no imaginário do praticante médio, às vezes matizado
com a tranquilizadora noção de "corte" na episteme (claro
que simplificada, como um Althusser "traduzido" nos
códigos dos mass media).
2. Asegunda hipótese deriva e prolonga um pouco a anterior.
Os psicanalistas creem na pureza dos conceitos psicanalíti
cos, eles os concebem dependendo por inteiro e somente
da psicanálise, depurados de toda infiltração mitopolitica
eideológica, protegidos pela mão santa de Freud, que teria
133
traçado m cirulo de giz protetor emtorno deles,onde n.
penctraria nenhunm indescjávcl influxo cxtra c,c, sobretudo,
&
pre-analítico. Por isso mesmo, a ideia de "corte" étão
tranquilizadora na vulgata profissional: garante uma sóli
da linbadivisória entre o"pré-analítico" eo "analitico"
transformando em diacronia relações de contaminacão
perfeitamente sincrônicas,
3. Como terceira hipótese, já em pleno trabalho desconstru
tivo, expus, seguindo Jessica Benjamin (e, em outro plano,
Sarah Kofiman),2 como a desmontagem por dentro do
conceito do (complexo de) Edipo nos faz descobrir n·o
apré-história da criança nem nenhum sujeito originário,
mas sim uma antiga porém ativa rede mítica onde a imago
da mulher mãe é assimilada a uma Natureza devoradora
e perigosamente arcaica, puxando para si os filhos com
seu desejo, destino de morte e psicose se não intervém
VIIRegimento paterno salvador (o mitema, diga-se de
passagem, não toma muitos cuidados pela hiperbolizada
diferença entre "o simbólico" e oimaginário": muda o
léxico sem modificar a montagem). Essa rede mítica, que
justifica religiosamente - ou seja, no político adomi
nação e a exploração exercida sobre o gênero feminino,
étotalmente prévia ao (complexo de) Edipo, mas não é
"pré"-edípica. Ela dissemina o conceito e he impõe seus
modos de leitura da diferença sexual. Preso aesse esquema
binário, o conceito do (complexo de) Edipo não pode pro
cessar a diferença senão fazendo-se cúmplice do falocen
trismo mais habitual, o de sempre, o de "todo mundo""
14.A expressão lacaniana étípica daquela oscilação entre uma posição de crítica,
desmitificadora, e uma cumplicidade recobridora.
135