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Avaliação formativa dos domínios: Leitura e gramática

Leitura
1. Lê o excerto de As Pequenas Memórias, de José Saramago.

Já não existe a casa em que nasci, mas


esse facto é-me indiferente porque não
guardo qualquer lembrança de ter vivido
nela. Também desapareceu num montão de
5 escombros1 a outra, aquela que durante dez
ou doze anos foi o lar supremo, o mais ín-
timo e profundo, a pobríssima morada dos
meus avós maternos, Josefa e Jerónimo se
chamavam, esse mágico casulo onde sei que
10 se geraram as metamorfoses2 decisivas da
criança e do adolescente. Essa perda, porém,
há muito tempo que deixou de me causar
sofrimento porque, pelo poder reconstrutor
da memória, posso levantar em cada ins-
15 tante as suas paredes brancas, plantar a oli-
veira que dava sombra à entrada, abrir e fe-
char o postigo3 da porta e a cancela4 do quintal onde um dia vi uma pequena cobra enroscada, entrar nas
pocilgas para ver mamar os bácoros, ir à cozinha e deitar do cântaro para o púcaro de esmalte esborcelado 5
a água que pela milésima vez me matará a sede daquele verão. Então digo à minha avó: “Avó, vou dar por aí
20 uma volta.” Ela diz “Vai, vai”, mas não me recomenda que tenha cuidado, nesse tempo os adultos tinham
mais confiança nos pequenos a quem educavam. Meto um bocado de pão de milho e um punhado de azei-
tonas e figos secos no alforge 6, pego num pau para o caso de ter de me defender de um mau encontro ca-
nino, e saio para o campo. Não tenho muito por onde escolher: ou o rio, e a quase inextricável 7 vegetação
que lhe cobre e protege as margens, ou os olivais e os duros restolhos 8 do trigo já ceifado, ou a densa mata
25 de tramagueiras9, faias, freixos e choupos que ladeia o Tejo para jusante, depois do ponto de confluência
com o Almonda, ou, enfim, na direção do norte, a uns cinco ou seis quilómetros da aldeia, o Paul do Boqui-
lobo, um lago, um pântano, uma alverca que o criador das paisagens se tinha esquecido de levar para o
paraíso.
SARAMAGO, José (2014). As Pequenas Memórias. Porto: Porto Editora, pp. 15-16.

1. escombros: ruínas; destroços. 2. metamorfoses: mudanças. 3. postigo: pequena abertura ou janela. 4. cancela: porta
gradeada, geralmente de madeira. 5. esborcelado: com as beiras quebradas. 6. alforge: saco fechado nas extremidades e
aberto ao meio, formando dois compartimentos, que se traz ao ombro ou sobre um cavalo ou burro. 7. inextricável: muito
densa. 8. restolhos: cereais que ficam presos aos terrenos de cultura depois da colheita. 9. tramagueiras: planta que dá frutos
vermelhos nas regiões elevadas de Portugal.

2. Assinala com X a opção correta, de acordo com a informação do texto.


2.1. A casa que o autor sentiu como um verdadeiro lar foi
(A) a casa dos avós paternos.
(B) a casa onde nasceu.
(C) a casa de Josefa e de Jerónimo.
(D) a casa que tem no quintal um casulo.
2.2. A perda dessa casa deixou de causar sofrimento ao autor porque ele
(A) deixou de pensar no assunto.
(B) cresceu e perdeu as memórias da casa.
(C) nunca foi feliz nessa casa.
(D) se lembra de muitos pormenores acerca da casa e do que lá passou.

2.3. Quando o autor diz “ir à cozinha e deitar do cântaro para o púcaro de esmalte esborcelado a
água que pela milésima vez me matará a sede daquele verão.” (ll. 18-19), foca-se
(A) um acontecimento que ainda não ocorreu.
(B) um acontecimento que já ocorreu há muito tempo, apenas uma vez.
(C) um acontecimento que ocorreu muitas vezes no passado e que continua a ocorrer no
presente.
(D) um acontecimento que ocorreu muitas vezes no passado.

2.4. Quando a avó lhe diz “Vai, vai” (l. 20), demonstra que
(A) não se preocupa com o neto.
(B) confia no neto.
(C) quer ficar sozinha, nas tarefas domésticas.
(D) quer que o neto saia, pois ele está sempre fechado em casa.

2.5. A expressão “um mau encontro canino” (ll. 22-23) significa


(A) um encontro com um cão feroz.
(B) uma ida a um canavial, onde o autor se magoa.
(C) a necessidade de desbravar caminho com um pau.
(D) um encontro com um animal pequeno.

2.6. O texto é marcado pela narratividade porque se baseia


(A) no relato de acontecimentos passados.
(B) na descrição de locais e de objetos.
(C) na apresentação da rota das brincadeiras do autor.
(D) na apresentação de acontecimentos históricos.

2.7. O texto pertence ao género memorialista porque apresenta


(A) narratividade, ordenação cronológica dos factos e discurso na primeira pessoa.
(B) ligação ao quotidiano, ordenação cronológica dos factos e caráter demonstrativo.
(C) caráter demonstrativo, narratividade e discurso pessoal.
(D) discurso retrospetivo, prevalência da primeira pessoa e formas de expressão do tempo.

2.8. O discurso pessoal presente no texto é marcado


(A) pelo pretérito perfeito e pelo pretérito imperfeito.
(B) por expressões e advérbios que exprimem tempo e lugar.
(C) pelas formas de 1.ª pessoa do singular.
(D) pelos adjetivos e pelos recursos expressivos.
Gramática

1. Assinala com X a opção correta, de acordo com a informação do texto de José Saramago.

1.1. O vocábulo sublinhado em “Já não existe a casa em que nasci, mas esse facto…” (ll.1-2)
contribui para a coesão
(A) gramatical frásica.
(B) gramatical interfrásica.
(C) gramatical referencial.
(D) lexical por substituição.

1.2. O pronome “aquela” (l.5) tem valor deítico


(A) pessoal.
(B) temporal.
(C) espacial.
(D) espacial e pessoal.

1.3. A oração subordinada sublinhada em “Mas não me recomenda que tenha cuidado” (l.20)
classifica-se como
(A) substantiva completiva.
(B) substantiva relativa.
(C) adjetiva relativa restritiva.
(D) adjetiva relativa explicativa.

1.4. O referente do pronome sublinhado em “vegetação que lhe cobre e…” (l.24) é
(A) “o campo”.
(B) “o trigo”.
(C) “a vegetação”.
(D) ”o rio”.

1.5. A forma verbal sublinhada na frase “Os adultos tinham mais confiança” (ll.20-21) está conjugada
no
(A) pretérito imperfeito do indicativo.
(B) pretérito perfeito do indicativo.
(C) pretérito imperfeito do conjuntivo.
(D) presente do conjuntivo.

1.6. A expressão sublinhada em “(…) posso levantar em cada instante as suas paredes brancas
“(ll.14-15) desempenha a função sintática de
(A) sujeito.
(B) complemento direto.
(C) complemento indireto.
(D).complemento oblíquo.

1.7. O sujeito da frase “não guardo qualquer lembrança de ter vivido nela” (ll.2-3) classifica-se como
(A) simples.
(B) composto.
(C) nulo subentendido.
(D) nulo indeterminado.

2. Responde às questões seguintes:

3.1. Indica a função sintática desempenhada pelo segmento sublinhado em “Avó, vou dar por aí uma
volta” (ll.19-20).

2.2. Classifica a oração sublinhada em “plantar a oliveira que dava sombra à entrada” (ll.15-16).

2.3. Indica a classe gramatical a que pertence o vocábulo sublinhado em “esse mágico casulo” (l.9)

Bom trabalho!

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