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https://www.youtube.com/watch?v=wwzwDzTw0_g
Autobiografia
“ Já não existe a casa em que nasci, mas esse facto é-me indiferente porque não
guardo qualquer lembrança de ter vivido nela. Também desapareceu num montão
de escombros a outra, aquela que durante dez ou doze anos foi o lar supremo, o
mais íntimo e profundo, a pobríssima morada dos meus avós maternos, Josefa e
Jerónimo se chamavam, esse mágico casulo onde sei que se geraram as
metamorfoses decisivas da criança e do adolescente. Essa perda, porém, há muito
tempo que deixou de me causar sofrimento porque, pelo poder reconstrutor da
memória, posso levantar em cada instante as suas paredes brancas, plantar
a oliveira que dava sombra à entrada, abrir e fechar o postigo da porta e a cancela do quintal onde um
dia vi uma pequena cobra enroscada, entrar nas pocilgas para ver mamar os bácoros, ir à cozinha e
deitar do cântaro para o púcaro de esmalte esborcelado a água que pela milésima vez me matará a sede
daquele Verão. Então digo à minha avó: «Avó, vou dar por aí uma volta.» Ela diz «Vai, vai», mas não
me recomenda que tenha cuidado, nesse tempo os adultos tinham mais confiança nos pequenos a
quem educavam. Meto um bocado de pão de milho e um punhado de azeitonas e figos secos no
alforge, pego num pau para o caso de ter de me defender de um mau encontro canino, e saio para o
campo. (…)”
Compreensão:
1- No excerto acima transcrito, o narrador faz referência a um espaço que o marcou na sua infância.
1.1- Identifica esse espaço.
2- Centra-te na figura do narrador. Classifica-o quanto à presença e justifica a tua resposta com dados
textuais.
Expressão Escrita:
1) 2)
3) 4) 5)
_MANUAL DE APOIO À
6) 7)
9–
1.2- Descreve as imagens das diferentes edições da obraTodos osnomes e faz uma previsão sobre o
assunto da mesma (figuras 3,4 e 5);
1.3- Identifica as formas de expressão artística presentes nas figuras 6 e 7.
D. João, quinto do nome na tabela real, irá esta noite ao quarto de sua mulher, D.
Maria Ana Josefa, que chegou há mais de dois anos da Áustria para dar infantes
à coroa portuguesa e até hoje ainda não emprenhou. Já se murmura na corte,
dentro e fora do palácio, que a rainha, provavelmente, tem a madre seca,
insinuação muito resguardada de orelhas e bocas delatoras e que só entre íntimos
se confia. Que caiba a culpa ao rei, nem pensar, primeiro porque a esterilidade
não é mal dos homens, das mulheres sim, por isso são repudiadas tantas vezes, e
segundo, material prova, se necessária ela fosse, porque abundam no reino
bastardos da real semente e ainda agora a procissão vai na praça.
Além disso, quem se extenua a implorar ao céu um filho não é o rei, mas a
rainha, e também por duas razões. A primeira razão é que um rei, e ainda mais se
de Portugal for, não pede o que unicamente está em seu poder dar, a segunda
razão porque sendo a mulher, naturalmente, vaso de receber, há-de ser
naturalmente suplicante, tanto em novenas organizadas como em orações
ocasionais. Mas nem a persistência do rei, que, salvo dificultação canónica ou
impedimento fisiológico, duas vezes por semana cumpre vigorosamente o seu
dever real e conjugal, nem a paciência e humildade da rainha que, a mais das
preces, se sacrifica a uma imobilidade total.
Depois de retirar-se de si e da cama o esposo, para que se não perturbem em seu
gerativo acomodamento os líquidos comuns, escassos os seus por falta de
estímulo e tempo, e cristianíssima retenção moral, pródigos os do soberano,
como se espera de um homem que ainda não fez vinte e dois anos, nem isto nem
aquilo fizeram inchar até hoje a barriga de D. Maria Ana. Mas Deus é grande.
Quase tão grande como Deus é a basílica de S. Pedro de Roma que el-rei
está a levantar.