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Conselho Editorial

Gutemberg Guerra

José Alves de Souza Júnior

Paulo Maués Corrêa

Paulo Nunes

Alfredo Garcia

José Maia Bezerra Neto

Ernani Chaves

Aldrin Figueiredo
José Maia Bezerra Neto

Segunda edição, revisada e ampliada

Belém • 2012
Copyright © 2014 by José Maia Bezerra Neto

Capa
Luciano Silva
(RL|2 Comunicação e Design)

Ilustração da Capa
Sobre Seringal, xilogravura com desenho de Casanova
e gravação de Armando Pedroso, 1883.

Revisão de texto
Tânia Rejane Gonçalves Alves

Projeto de Livro Digital


Editora Paka-Tatu
RL|2 Propaganda e Publicidade

Todos os direitos desta edição reservados


à Editora Paka-Tatu Ltda.
Rua Oliveira Belo, 386, salas 08 e 09 - Umarizal
Cep: 66050-380, Belém - Pará - Brasil
Telefone: (91) 3242-5403
e-mail: contato@paka-tatu.com.br
www.editorapakatatu.com.br
Para José Roberto e Paula Franssinetti, amados pais;
para Vicente Salles, com grata admiração.
Prefácio
1ª edição

Há mais de um século, por volta de 1878, José Veríssimo, um dos mais respeitados intelectuais brasileiros,
enfatizava que a Amazônia, sua terra natal, era uma região “das menos povoadas por negros”. Para o literato,
“raríssimo” também era encontrar africanos em todo o extremo norte, “principalmente fora das capitais”,
enfatizando ainda que, dentre estes poucos escravos existentes, era certo encontrar “um crescido número de
mestiços da raça indígena”. Esta afirmativa categórica pode parecer absurda para quem – ainda hoje – vive em
cidades como Belém, Macapá ou Manaus. Nestes espaços, a cultura negra e a força de sua tradição estão bem
vivas no próprio uso da língua ou em festas, devoções, crenças e tantas outras manifestações cotidianas. No
entanto, o público brasileiro distante desta área – ou mesmo o estrangeiro – de longa data foi levado a crer que a
Amazônia era lugar de índios, com suas tabas, penas e maracás. Muitos ainda acabaram acreditando na existência
de um território onde imperava o vazio demográfico. Terra de escassa população, parece senso comum perceber a
Amazônia como uma floresta, cujos habitantes ocupam-se da simples coleta de produtos de origem vegetal, animal
ou mineral. Em meio a este imaginário da selva, sobressaem percepções muitas vezes preconceituosas, como se
este espaço semivirgem fosse lugar do não trabalho, do atraso político, econômico e cultural.

E do presente saltamos para o passado. Assim, não é de hoje que muitos estudos interpretam o que, à
primeira vista, parece lógico: que o processo de ocupação do vasto território amazônico seria muito distante
daquele forjado em locais como Bahia, Pernambuco, São Paulo, ou Rio de Janeiro, onde a colonização
caracterizava-se pelo trabalho escravo, africano, edificado em grandes lavouras agroexportadoras. Desta forma,
mais uma vez, a Amazônia ressurgia como uma terra distanciada e tardiamente integrada ao modelo econômico e
agroexportador brasileiro. Entre os anos de 1960 e 1970, este tipo de explicação ganhou relevo.

Estava na ordem do dia a chamada “integração” da Amazônia ao Brasil. Em pleno regime ditatorial, a
maioria dos estudos da chamada “história regional” – e o termo região aqui é muito relevante – partiam de uma
ideia modelar para a compreensão desta “integração”. Dentro desta dicotomia, elaborada em uma junção
enganadora entre centro e periferia, havia pouco espaço para trabalhos inovadores e contestadores como os de
Vicente Salles ou o de Anaíza Vergolino-Henry, que – de longa data – anunciavam a falácia de uma Amazônia
apenas indígena, ressaltando a presença africana como fundante da cultura e história deste enorme território. É
nesta nova-velha-linhagem de estudos que podemos compreender o que agora é lançado.

O livro de José Maia Bezerra Neto nasceu dentro de uma perspectiva de história que procura recolocar o
território amazônico, e em especial o antigo espaço do Grão-Pará, em lugar de destaque dentro da colonização
portuguesa e da formação da nação brasileira. O autor iniciou seu estudo contestando o modelo agroexportador e
monocultor como o determinante na explicação das relações de escravidão no Brasil. Contestou também a
obrigatoriedade da integração da Amazônia e este modelo. No entanto, diferentemente do que ocorre em muitos
estudos contemporâneos, Bezerra Neto não partiu para um estudo de caso, ou mesmo para a micro-história no
intuito de dialogar e criticar os modelos preestabelecidos. Ele foi à luta no terreno inimigo: a história econômica.

Neste livro, irá o leitor deparar-se com alguns pontos de vista inovadores. Seu autor destacou a ação
escrava e dos negros e mestiços da Amazônia e do Pará como específica e, simultaneamente, fundamental para a
compreensão mais geral das relações sociais da escravidão no Brasil. Partindo da ideia de que a presença africana,
embora tardia, foi essencial em alguns pontos centrais do antigo Estado do Grão-Pará e Maranhão, Bezerra Neto
relativizou a questão numérica do diminuto volume absoluto de negros transpostos para a Amazônia nos séculos
XVIII e XIX. Concentrada em algumas regiões amazônicas, a escravidão criou pela redondeza ares muito
específicos. Assim, se nas antigas zonas escravistas a continuidade e o aumento do tráfico atlântico foi condição
essencial ao bom funcionamento da ordem e da manutenção da escravidão, na Amazônia inauguraram-se outras
formas de sustento desta ordem. Nascia uma escravidão que, desde a época pombalina, caracterizou-se por ser
mais crioula, miscigenada e pautada por um tipo de paternalismo muito mais próprio a outras zonas como o sul dos
EUA do que ao Brasil. Ainda nas primeiras décadas do século XIX, ganharam relevância questões como o tráfico
interprovincial e a junção do trabalho escravo africano com o de indígenas e homens livres pobres de diversas
etnias. Na Amazônia, também surgiu mais precocemente uma sociedade multicultural e miscigenada, que se
tornou a característica essencial da sociedade brasileira do pós-1888. Desta forma, o estudo de Bezerra Neto liga-
se ao que de mais novo vem sendo produzido sobre as relações sociais da escravidão no Brasil, a saber, estudos
que demonstram a diversidade e a multiplicidade de organização do trabalho e de práticas sociais e culturais no
mundo da escravidão.

Caminhando do mundo dos brancos para o dos negros, das questões econômicas para as culturais, este livro
faz um percurso conhecido do grande público. Ele justifica a relevância econômica e social do negro na
colonização local. Não chega a debater a especificidade da cultura africana local dentro do contexto brasileiro, mas
isto já seria cobrar demais de um ensaio como o proposto agora. Esta é uma tarefa que cabe ser efetivada em outro
momento. No entanto, também este é mais um mérito do livro em pauta: ele certamente levará muitos autores e
pesquisadores a buscar estudar e revisar o tema, suscitando novos trabalhos.

Belém, março de 2001.

Magda Ricci
Apresentação
2ª edição

Há dez anos, em 2001, saiu a primeira edição desta obra, mas desde alguns anos já esgotado, sendo
possível apenas seu encontro em algumas bibliotecas. Muitas foram então as indagações sobre uma nova edição do
livro, para a grata satisfação de seu autor. Pois, apesar de considerado uma leitura cheia de números por alguns
leitores, ou até mesmo uma obra incompreendida por outros que não conseguiram perceber sua contribuição à
historiografia, tal expectativa pela reedição do presente trabalho era uma boa evidência de que havia não somente
agradado de um modo geral, mas, principalmente, havia conseguido cumprir seu papel informativo e formativo,
sendo seu conteúdo hodiernamente ainda válido e atual no contexto historiográfico brasileiro. Daí, portanto, as
razões para uma segunda edição revisada e ampliada, até porque, passada uma década, não caberia tão somente
uma reimpressão do livro em tela. Afinal, como já previsto por Magda Ricci, em sua apresentação da primeira
edição, muitos autores e pesquisadores, ao longo desse período, igualmente estudaram e revisaram o tema,
suscitando novos trabalhos, cujos resultados e contribuições não poderiam ficar ausentes, particularmente no que
se refere aos números e à dinâmica do tráfico de africanos escravizados para a Amazônia, em especial o Grão-
Pará. Aliás, o capítulo primeiro, acerca da “rota negra” entre a África e o Grão-Pará, foi modificado em grande
medida no sentido de incorporar os dados mais recentes. Da mesma forma que sofreram mudanças importantes os
capítulos terceiro e quarto sobre o tráfico interno de escravos e o Pará e as origens étnicas, mestiçagem e
demografia da escravidão, respectivamente. Pouco, é verdade, foi alterado no último capítulo, havendo aqui e ali
alguma atualização bibliográfica. Mas, como se diz, se for para reescrever um livro, melhor fazer outro, e de certa
forma foi o que acabou acontecendo.

Quero, contudo, enfatizar que o recorte que havia dado origem ao livro se mantém fiel ao seu contorno, até
porque, não o sendo, seria o caso de abandoná-lo e escrever outro. Assim, em conformidade com os propósitos
originais deste livro, desde sua primeira edição, continua não sendo seu objetivo, tal como bem percebeu Magda
Ricci, “debater a especificidade da cultura africana local dentro do contexto brasileiro”, nem fazer necessariamente
uma história da resistência escrava ao regime escravocrata, o que já faço em outros trabalhos [1], mas compreender
a relevância econômica e social do escravo negro e/ou africano na colonização e na formação da sociedade
amazônica, em especial a paraense. Eis justamente a importância desta obra e, portanto, a razão de sua reedição.

Aproveito, ainda, para relembrar que a primeira edição deste livro foi resultado parcial dos estudos e
pesquisas realizadas dentro do projeto de pesquisa intitulado “Abolicionismo e escravidão urbana: conflitos e
controle social em Belém do Pará (1860-1888)”, desenvolvido ao longo da década de 1990 sob aprovação e
patrocínio da Universidade Federal do Pará/UFPA e do Centro de Estudos Afro-Asiáticos da Universidade
Cândido Mendes, do Rio de Janeiro, em parceria com a Fundação Ford. A essas instituições renovo meus votos de
gratidão, embora reconhecendo que tanto a primeira quanto a segunda edição tenham sido produzidas por conta e
risco da Editora Paka-Tatu que, acreditando uma primeira vez na importância da publicação deste trabalho, outra
vez assume a sua nova edição, confiante na oportunidade da mesma. Agradeço, ainda, aos amigos e colegas da
Faculdade de História da UFPA, bem como a outros pesquisadores, professores e estudantes que, em algum
momento leitores desta obra em sua primeira edição, externaram críticas, comentários e sugestões, na medida do
possível aqui incorporados. Fico particularmente grato a Rafael Chambouleyron, Fernando Neves, Pere Petit,
Didier Lahon, Oscar de la Torre, Patrícia Sampaio, Franciane Lacerda, Sidiana Ferreira e a Magda Ricci, por
reconhecerem, no presente estudo, alguma contribuição ou importância para a historiografia, de certa forma,
portanto, animando sua reedição. A Robert Slenes, que já havia me dito que este trabalho, originalmente proposto
como primeira parte de minha dissertação de mestrado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), sob sua
orientação, poderia ser publicado como livro, também aproveito para agradecer pela “dica” precisa a qual, aliás,
animou o autor que, no entanto, continua, nesta segunda edição, sendo o único responsável pelo que sai publicado.

Belém, nos idos de março de 2011.


José Maia Bezerra Neto
Sumário
1. Conselho Editorial
2. Folha de Rosto
3. Ficha Catalográfica
4. Ficha Técnica
5. Dedicatória
6. Prefácio
7. Apresentação
8. Sumário de Tabelas e Gráficos
9. Sumário de Mapas
10. À guisa de introdução
11. A “rota negra” entre o Grão-Pará e a África:um mar de incertezas e de muitas histórias
12. A economia escravista do Grão-Paráe o tráfico interno brasileiro:alguns comentários
13. Etnia e população escrava no Grão-Pará:origens africanas, mestiçagem e demografia
14. A economia escravista na província paraense:uma caracterização
15. À guisa de conclusão
16. Fontes e referências bibliográficas
17. Referências bibliográficas
18. Tabelas e Gráficos
19. Mapas
20. Notas de Rodapé
Tabelas & Gráficos
1. Tabela I:
Cativos africanos ingressados no Grão-Pará (1680-1841), ao longo dos anos

3. Tabela II:
Cativos africanos ingressados no Grão-Pará (1680-1841)

5. Tabela III a:
Quantidade de embarcações que chegaram ao Estado do Maranhão e Grão-Pará (1708-1750)

7. Tabela III b:
Quantidade de embarcações que não chegaram ou com chegada incerta ao Estado do Maranhão e Grão-Pará
(1708-1750)

9. Tabela IV a:
Principais gêneros exportados do Porto do Pará, conforme Livros da Alfândega desta cidade, durante o
período de 1730 e 1750, em quantidades e valores totais

11. Tabela IV b:
Principais gêneros exportados do Porto do Pará, conforme Livros da Alfândega desta cidade, durante o
período de 1730 e 1750, em quantidades e valores totais

13. Tabela V:
Cativos africanos ingressados no Grão-Pará, ao longo dos anos, com base nos dados do Slaves Voyages
(período: 1741-1755 e 1778-1799)

15. Tabela VI:


Cativos africanos ingressados no Grão-Pará (1756-1778), ao longo dos anos, durante o período da Companhia
Geral do Grão-Pará e Maranhão (CGGPM)

17. Tabela VII:


Cativos africanos ingressados no Grão-Pará, ao longo dos anos, com base nos dados do Slaves Voyages
(período: 1800-1841)

19. Tabela VIII:


Principais gêneros exportados do Porto do Pará, durante o período de 1778 e 1818, em quantidades (em
arrobas)

21. Tabela IX:


Principais gêneros exportados do Porto do Pará, durante o período de 1780 e 1818, em valores (em mil réis)

23. Tabela X:
Mocambos na Amazônia Colonial: localização, tipo e quantidade

25. Tabela XI:


Comércio de escravos entre Belém e demais municípios ou regiões da Província do Grão-Pará (1867/1873 e
1881)

27. Tabela XII:


O tráfico interprovincial e o Grão-Pará, através do Porto de Belém (1867/1873 e 1881)

29. Tabela XIII:


O tráfico interprovincial e o Grão-Pará, números de entradas e saídas (1872-1885)
31. Tabela XIV:
População total e escrava no Grão-Pará (século XIX)

33. Tabela XV:


Número de escravos alforriados na Província do Grão-Pará (1871-1885)

35. Tabela XVI:


Composição sexual da população escrava do Grão-Pará (1849-1888)

37. Tabela XVII:


População da Província do Grão-Pará em 1822 (parte oriental)

39. Tabela XVIII:


População da Província do Grão-Pará em 1822 (parte oriental)

41. Tabela XIX:


População livre e escrava de Belém (1787-1888)

43. Tabela XX:


População escrava da Província do Pará e do Município de Belém (1872/1888)

45. Tabela XXI:


Plantações e escravos no Baixo Tocantins

47. Tabela XXII:


Ocupações dos escravos no Baixo Amazonas – século XIX

49. Tabela XXIII:


Plantéis de escravos no Baixo Amazonas – século XIX

51. Tabela XXIV:


População escrava da Província do Grão-Pará, por regiões (1822-1888)

53. Gráfico I:
Índice de preços de escravos nas províncias brasileiras e direção do tráfico interno de escravos brasileiro
durante a década de 1870
Mapas
1. Mapa I:
Prováveis rotas marítimas entre Lisboa/Portugal – África Ocidental/Alta Guiné e Costa da Mina –
Belém/Grão-Pará

3. Mapa II:
Prováveis rotas marítimas entre Lisboa/Portugal – África Centro-Ocidental/Congo-Angola – Belém/Grão-
Pará

5. Mapa III:
Prováveis rotas marítimas entre Lisboa/Portugal – África Centro-Oriental/Moçambique – Belém/Grão-Pará;
portos do Brasil – África Centro-Oriental/Moçambique – Belém/Grão-Pará

7. Mapa IV:
Provável rota terrestre-fluvial São Luís-Belém-São Luís

9. Mapa V:
Áreas de origem dos africanos escravizados desembarcados na Amazônia: África Ocidental (Guiné: Cacheu e
Bissau) e Centro-Ocidental (Angola)

11. Mapa VI:


Áreas de origem dos africanos escravizados desembarcados na Amazônia: África Ocidental (Cabo Verde;
Alta Guiné: Cacheu e Bissau; Costa da Mina); África Centro-Ocidental (Congo-Angola) e África Centro-
Oriental (Moçambique e Mombaça)

13. Mapa VII:


Localização dos principais mocambos da Província do Grão-Pará

15. Mapa VIII:


Principais áreas de localização dos mocambos da Amazônia Colonial (1732-1807)

17. Mapa IX:


Principais áreas de concentração da população escrava na Amazônia Colonial

19. Mapa X:
Principais regiões da Província do Grão-Pará, nas quais se encontrava concentrada a população escrava
1
À guisa de introdução

Tornou-se bastante comum, na historiografia brasileira, associar o processo de conquista e colonização


portuguesa da região amazônica ao estabelecimento de uma economia extrativista, assentada na exploração da mão
de obra indígena [1]. De fato, ao longo dos séculos XVII, XVIII e XIX, no vale amazônico, houve a estruturação
das condições necessárias ao desenvolvimento das atividades de apresamento dos indígenas, ao lado da coleta e da
comercialização das chamadas “drogas do sertão”, inclusive, a partir da fundação de missões ou aldeamentos e das
fortificações militares. Todavia, restringir a compreensão do processo de ocupação portuguesa da dita região
unicamente em função de uma economia extrativista baseada na exploração do trabalho dos índios tende a ser uma
leitura empobrecida desta mesma realidade, uma vez que a mesma não dá conta de que o processo de colonização
lusa na Amazônia implicou igualmente o estabelecimento de uma economia e sociedade lastreadas em atividades
agrícolas e criatórias voltadas para o mercado interno ou externo, explorando igualmente o trabalho cativo dos
índios, mas, sobretudo, o trabalho escravo de origem africana.

Reconhecer, todavia, que a sociedade colonial existente na Amazônia portuguesa ia além das atividades
coletoras e de comercialização das “drogas do sertão”, envolvendo outras formas de exploração do trabalho
indígena, ao lado do uso do trabalho do escravo negro, através do estabelecimento de uma agricultura e pecuária
de cunho comercial, não basta. É preciso também perceber as especificidades do mundo colonial português
existente na região amazônica, por si mesmo distante e distinto, bem como diferenciado do restante da América
portuguesa, seja o Nordeste, seja o Centro-Sul. Na verdade, deve-se evitar a leitura sobre a Amazônia portuguesa
enquanto área periférica da América colonial portuguesa, uma vez que não se deve buscar nas experiências das
sociedades coloniais existentes em parte do mundo colonial lusitano a compreensão para o tipo de sociedade
colonial surgida na região amazônica. Assim sendo, evitando-se as tentações das análises dicotômicas em torno do
eixo centro-periferia, o estudo da economia e da sociedade colonial portuguesa no vale amazônico torna-se mais
sugestivo, levando-se em conta suas especificidades, ainda que pesem as igualdades entre os Estados do Grão-Pará
e Maranhão e o do Brasil [2]. Na Amazônia colonial portuguesa, por exemplo, o imbricamento das relações sociais
envolvendo o estabelecimento do extrativismo das “drogas do sertão”, o apresamento de índios e a existência de
uma agropecuária voltada para o mercado, com a consequente utilização do trabalho escravo africano ao lado do
trabalhador indígena, constituíram um dos pilares de sua especificidade. Assim sendo, no tocante à Amazônia deve
ser pensada a estruturação da agricultura comercial e das fazendas de gado voltadas para o mercado, não em
função das plantations, existentes em Pernambuco ou na Bahia, mas considerando-se as condições e formas que
assumem na região amazônica a partir das experiências inerentes ao processo de ocupação portuguesa na e da
mesma.

Foi, de certa forma, imbuído destas inquietações que o presente livro surgiu. Todavia, enquanto livro que
tem por objetivo fazer uma contextualização histórica da escravidão de origem africana na Amazônia, em especial
no Grão-Pará, o mesmo deve antes de tudo limitar-se à descrição do processo de estabelecimento da escravidão
negra na região. Porém, o seu objetivo somente terá sido alcançado caso se tenha conseguido compreender a
presença escrava negra na Amazônia enquanto parte integrante de uma sociedade que deve ser compreendida a
partir de si mesma, evitando-se sua explicação em decorrência da sua adequação a modelos de sociedades
escravistas existentes em outras partes da América portuguesa e/ou Brasil. Ou seja, levando-se em conta as formas
e condições em que se estruturou a economia escravista nos territórios da antiga Província do Grão-Pará, buscou-
se cumprir o objetivo deste livro abordando os temas relativos ao tráfico negreiro e ao tráfico interprovincial, bem
como os que dizem respeito às origens, composição étnica e evolução demográfica da população escrava no Grão-
Pará. Finalmente, far-se-á uma breve caracterização da economia escravista paraense, enfocando-se as suas
principais áreas de desenvolvimento, segundo os limites territoriais da província a partir da década de 1850, época
em que houve a criação da província amazonense, compreendendo a região ocidental do território do Grão-Pará,
bem como a definição dos limites de fronteira com o Maranhão, com a perda das terras entre os rios Gurupi e
Turiaçu para a província maranhense [3].
2
A “rota negra” entre o Grão-Pará e a África:
um mar de incertezas e de muitas histórias

No século XVII, os primeiros escravos africanos haviam sido introduzidos na Amazônia pelos ingleses
que, pretendendo “realizar um empreendimento agrário de vulto, constante, principalmente do plantio de cana para
a fabricação de açúcar e rum”, haviam fundado suas feitorias na região situada entre a costa do Amapá e a zona
dos estreitos [1]. Todavia, os ingleses e os demais conquistadores holandeses, franceses e irlandeses acabaram
sendo expulsos da região amazônica pelo avanço luso a serviço da Coroa espanhola. Ainda que motivados pela
exploração das chamadas“drogas do sertão”, os colonos e as autoridades metropolitanas portuguesas, em suas
conquistas do vale amazônico, não haviam descuidado do fomento da colonização através do cultivo dos diversos
tipos de lavouras e fazendas, particularmente em terras situadas na capitania paraense [2]. Inclusive, mesmo que
recorrendo ao uso generalizado dos trabalhadores indígenas aldeados e escravizados, já desde os primeiros
momentos os colonos e as autoridades coloniais reclamavam à Coroa pela introdução de escravos africanos na
parte setentrional da América portuguesa [3]. Em 1692, por exemplo, a Câmara de Vereadores de Belém solicitava
a El-Rei medidas relativas ao fornecimento de escravos africanos, uma vez que “seus moradores estavam
interessados na introdução de negros para o serviço de suas roças e lavouras” [4]. Para além dos apelos dos
moradores do Pará e Maranhão por escravos africanos, estudos recentes sobre o tráfico e sua dinâmica no tocante
às últimas décadas do século XVII e à primeira metade do século XVIII já permitem que se tenha um melhor
conhecimento dos números de escravos africanos inseridos na região amazônica durante essa primeira fase (1662-
1755), marcada pela introdução de africanos escravizados por meio de assentos negociados mediante contratos da
Coroa portuguesa com particulares ou sob a forma de estanques ou estancos, isto é, monopólios atribuídos pela
metrópole às companhias de comércio – no caso, a Companhia de Estanco do Maranhão ou Companhia de
Comércio do Maranhão (1676-1685) e a Companhia de Cachéu e Cabo Verde (1690-1706). Lembra-se, também,
que houve tentativas de iniciativas particulares isoladas de envio de escravos africanos para a região amazônica,
quando não era objeto de monopólio das companhias mercantilistas, ainda que a possibilidade do contrabando
sempre fosse algo possível, mesmo que de difícil de verificação. Portanto, antes da criação e atuação da
Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão (1755-1778), existira tráfico de africanos escravizados para a
Amazônia, bem como o uso dessa mão de obra escrava, ainda que incipiente [5].

Durante essa primeira fase (1662-1755), segundo estudo recente de Rafael Chambouleyron, o “tráfico para
o Maranhão e Pará definitivamente organizava-se a partir da Coroa [portuguesa]”, sendo caracterizado pela
triangulação Metrópole X África X Amazônia (Pará e Maranhão), ou seja, contratados pela Coroa, comerciantes
enviavam seus navios para negociar escravos na costa africana e vendê-los nas cidades de São Luís (Maranhão) e
Belém (Pará), nas quais se abasteciam de produtos locais para venda em Portugal. Tal tráfico, organizado a partir
da Coroa, era responsável não apenas por suprir parcialmente as demandas dos moradores da região amazônica por
africanos escravizados, mas, também, a partir da realização desse comércio no Pará e Maranhão, bem como de
outros produtos como fazendas ou panos, gerar receitas ou rendas para a Coroa portuguesa fazer frente às despesas
da conquista da própria região [6]. Aliás, o caráter triangular do tráfico negreiro persistiria em períodos
posteriores, da mesma forma que as rendas geradas pelo comércio marítimo, inclusive de escravos africanos,
quando do monopólio da Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão na segunda metade do século XVIII,
sustentara as demandas da conquista portuguesa [7].

Daniel Domingues da Silva, estudando o tráfico negreiro para o Maranhão, ao longo do período de 1680-
1846, informou que não menos que 65% de todos os escravos desembarcados em território maranhense vieram em
navios que tinham sua base operacional localizada na Europa, no caso Lisboa, informando que, durante todo esse
período, Lisboa era o porto de origem do maior número de navios carregando escravos africanos para o Maranhão.
Vale dizer que, entre 1680-1755, 70.3% dos escravos desembarcados vieram em navios cujo porto de partida era
Lisboa e 29.7% eram provenientes de navios despachados da Bahia. Quando do período da Companhia de
Comércio do Grão-Pará, em função do monopólio, 100% dos escravos desembarcados vieram em navios
originalmente despachados de Lisboa; enquanto que, entre 1778-1846, 66.7% foram trazidos por embarcações
provenientes de Lisboa; 23.5% de outros portos brasileiros (Pernambuco, Bahia e Rio de Janeiro); 2% de portos
africanos (Cabo Verde e São Tomé e Príncipe); 0.3% de Havana (Cuba); e 7.4% oriundas do próprio Maranhão, o
que já denotava, neste último período, a configuração de rota de tráfico direta entre Maranhão e África ou entre
portos brasileiros e africanos no tocante ao envio de escravos para o Maranhão, ainda que persistisse o comércio
negreiro triangular. Note-se ainda que, limitando-se esse período aos anos de 1788 a 1815, decurso de tempo em
que o comércio ao norte da linha do Equador ficara proibido, o percentual de africanos escravizados carregados e
desembarcados no Maranhão por navios originalmente despachados de Lisboa foi de 82%.

Enfim, conforme exposto por Domingues da Silva, o tráfico triangular de escravos para o Maranhão tinha
uma estrutura similar ao tráfico negreiro para as ilhas do Caribe e a América do Norte, distinto então do sistema
bilateral do comércio de africanos escravizados operante na maior parte dos portos brasileiros, desde o período
colonial, caracterizado pela saída de navios de portos brasileiros, como Salvador ou Rio de Janeiro, para a África,
adquirindo escravos, retornando aos portos dos quais haviam saído. Além disso, após o fim do monopólio da
Companhia de Comércio do Grão-Pará e Maranhão, em 1777, e particularmente após 1815, com a proibição e o
declínio do comércio de escravos oriundos da Alta Guiné, é que a participação dos mercadores de Lisboa tendeu a
diminuir no tráfico negreiro para o Maranhão, havendo então uma maior participação de comerciantes residentes
em São Luís, capital maranhense, ou de outros portos brasileiros, no fornecimento de escravos africanos para o
Maranhão, contribuindo, portanto, para que, no período situado entre as décadas de 1820 e 1830, o comércio de
escravos africanos para o Maranhão estivesse então efetivamente integrado ao circuito do tráfico de escravos do
Atlântico Sul [8].

Durante muito tempo, então, o tráfico de africanos escravizados para o Maranhão esteve ligado ao circuito
do tráfico negreiro do Atlântico Norte, tal qual o comércio negreiro para as ilhas do Caribe e a América do Norte,
havendo, como parte deste circuito, o predomínio da importação de africanos escravizados da Alta Guiné ou região
da Senegâmbia e, ainda, um número significativo oriundo da Costa da Mina, na África Ocidental; distinto,
portanto, do restante do tráfico de africanos para outros portos brasileiros, onde predominava a importação de
cativos da Costa da Mina, na África Ocidental, no caso de Bahia e Pernambuco, ou de Angola, na África Centro-
Ocidental, no caso do Rio de Janeiro e, portanto, demais regiões do atual Sudeste e Sul brasileiros. Embora,
Domingues da Silva tenha tratado especificamente da realidade e dinâmica do tráfico negreiro para o Maranhão,
suas conclusões iluminaram aspectos importantes acerca dos volumes, rotas e organização do tráfico de africanos
escravizados para o Grão-Pará, dados os imbricamentos entre os tráficos para o Maranhão e o Pará. Rafael
Chambouleyron, por exemplo, já enfatizara justamente que o tráfico de cativos africanos para o Maranhão e o Pará
era de base triangular durante as últimas décadas do século XVII e a primeira metade do século XVIII, sendo
verdadeiro pensar a dinâmica deste comércio dentro do circuito do Atlântico Norte, que Chambouleyron
denominou como Atlântico Equatorial, portanto, distinto das rotas do tráfico negreiro existente para o Atlântico
Sul. Também segundo Chambouleyron, houve fundamentalmente a predominância dos escravos africanos oriundos
da Costa da Alta Guiné e da Costa da Mina, ao longo dos anos entre 1670 e 1755 [9]. Enfim, é plenamente correto
pensar também que, durante as últimas décadas do século XVII e primeira metade do século XVIII, o tráfico
triangular de escravos africanos para o Grão-Pará, tal como para o Maranhão, fosse dominado pelos mercadores de
Lisboa, saindo deste porto os navios que iam negociar cativos na África e levá-los para São Luís e Belém. Afinal,
grande parte, senão a totalidade, dos nomes dos contratantes e dos navios envolvidos com tal comércio para o
Maranhão e o Pará coincidiam, sendo obviamente os mesmos, quando dos assentos firmados com particulares ou
quando realizado sob o monopólio de alguma companhia mercantilista. Salienta-se que se tratava dos mesmos os
portos de origem das embarcações, considerando ainda serem igualmente os mesmos os locais de embarque de
cativos na costa africana e seu desembarque na região amazônica. Enfim, tanto os comerciantes contratados pela
Coroa quanto as companhias de comércio monopolistas, com as quais parte desses comerciantes estava envolvida
como acionistas, geralmente tinham por obrigação fornecer escravos africanos ao Maranhão e ao Pará, pelo menos
em tese, em partes iguais. Daí, não ser lógico, muito menos verossímil, pensar-se que, inserido em uma mesma
rede de comércio de africanos escravizados, o tráfico para o Grão-Pará guardasse diferenças significativas para
com o do Maranhão. Semelhança presente também no tocante a concentração do comércio de cativos africanos em
torno de alguns mercadores, alguns deles comerciantes abastados de Lisboa, demonstrando que, ainda que
comércio negreiro irregular e incipiente, alguns comerciantes podiam ter interesse em investir no tráfico de
africanos cativos para a região amazônica, individualmente ou em grupos, formando ou tomando parte em
companhias mercantilistas, quando a conjuntura lhes fosse favorável ou fossem instados pela Coroa por meio de
privilégios fiscais ou outras vantagens [10].
Resta saber, então, desde quando e quantos africanos escravizados foram introduzidos no Grão-Pará ao
longo da segunda metade do século XVII e primeira metade do século XVIII. Data de 18 de março de 1662
provisão régia determinando isenção de pagamento de metade dos direitos ou impostos sobre escravos importados
de Angola e desembarcados no Maranhão e Pará, o que já denotava algum interesse de moradores e autoridades na
introdução de escravos africanos na região, sendo talvez a primeira de uma série de provisões régias sobre a
matéria. Embora uma provisão sem efeito prático no tocante à entrada de africanos escravizados no Pará, ao que
parece poderia ter motivado a introdução de cativos africanos oriundos de Angola no Maranhão, quando, em 1671,
o Governador Pedro César de Menezes trouxe tais cativos para construir um engenho de anil, que acabou não
dando certo. Aliás, Rafael Chambouleyron indicou que, ainda na década de 1670, por volta de 1673, a nau “Nossa
Senhora do Rosário e Almas”, capitaneada por Domingos Lourenço, procedente da Guiné, na costa africana
ocidental, havia aportado no Maranhão, sem, contudo, ser informado qualquer número de cativos. Antes, porém,
em 1671, haviam chegado até São Luís duas naus holandesas com 400 escravos de Angola, mas que foram
proibidas pelo governador de comerciar tais africanos com a população [11].

Mas, se para o Maranhão havia, desde a década de 1670, informações ou indícios de algum tráfico de
cativos africanos, para o Grão-Pará, não se pode dizer o mesmo. Isto porque, conforme informações contidas em
Berredo e Baena, somente em 1682 houve o primeiro e mais antigo registro da introdução de grupos africanos
escravizados pelos portugueses no Pará, com que Anaíza Vergolino estaria de acordo. Já Vicente Salles situou
entre os anos de 1682 e 1684 a chegada dos primeiros carregamentos de cativos africanos no Maranhão e Pará, a
maior parte ficando na primeira em detrimento da segunda, “onde já havia uma lavoura capaz de absorver a mão
de obra africana”, por conta da Companhia de Comércio do Maranhão que, justamente, em 1682 iniciara tráfico
sob sua responsabilidade [12]. Chambouleyron, por sua vez, informou a chegada no Maranhão de quatro navios
trazendo escravos da Guiné, por conta do referido estanco, ao longo dos anos de 1682 e 1685: em 1682, o navio do
contratante Pascual ou Pascoal Pereira Jansen, vinculado ao dito estanco, aportou, não sendo informado, no
entanto, o número de escravos; em 1684, durante a famosa “Revolta de Beckman”, chegara navio em São Luís,
com 200 escravos; entre 1684 e 1685, outro navio ancorou em São Luís com “poucos escravos”; e, por fim, em
1685, já abolida a Companhia ou o estanco, mas por força contratual, o navio do Capitão Silvestre da Silva chegou
ao Estado, não sendo informado o número de cativos [13].

Não há, portanto, nenhuma margem de segurança para se saber quantos cativos africanos efetivamente
desembarcados, apenas que não seriam menos que duzentos e poucos escravos, nem quantos ficaram no Maranhão
e quantos foram despachados ao Pará, ainda que em menor número, sendo claro que a Companhia de Comércio do
Maranhão não havia conseguido levar adiante seu objetivo de introduzir 500 escravos por ano, durante o prazo de
20 anos, totalizando 10 mil africanos. Existe, contudo, a possibilidade de estimativa sobre o volume de africanos
ingressados durante esse estanco, considerando que Chambouleyron revelou acreditar que o número de africanos
importados durante os anos de 1670 e 1705 tenha sido superior a “pouco menos de mil” ou 881 cativos arrolados
nos documentos consultados, “já que, para alguns carregamentos seguros, como os do estanco de 1682 e alguns
dos assentos, não há qualquer referência à quantidade de escravos”, e, assim sendo, considere-se provável que esse
“número total não passe de 1.500 escravos” [14]. Toma-se, então, o número estimado de 1,5 mil, subtraindo-se 881
dos carregamentos cujos volumes são conhecidos, ficam 619, dos quais subtraindo-se 200 escravos que possam ter
vindo da Guiné, por volta de 1673, na nau “Nossa Senhora do Rosário e Almas”, capitaneada por Domingos
Lourenço, os 419 restantes provavelmente podem ter chegado ao longo dos anos de 1682, 1684 e 1685, quando do
estanco da Companhia de Comércio do Maranhão [15]. Sendo isto possível, haveria então 419 cativos somados
aos 200 sabidamente introduzidos em 1684, totalizando uma estimativa de 619 africanos escravizados inseridos na
Amazônia portuguesa, sendo que deste volume indicado somente uma menor parte teria alcançado o Grão-Pará,
como afirmou Vicente Salles, o que tornou crível estimar que talvez não menos que 10% houvessem
desembarcado em Belém, perfazendo algo em torno de 62 escravos, enquanto 357 poderiam ter ficado no
Maranhão, seguramente não menos que duzentos e poucos escravos (ver, a respeito, a Tabela I).

Por outro lado, entre os anos de 1682 e 1692, a partir de levantamento documental no Arquivo Público do
Pará, Anaíza Vergolino afirmou que não ter encontrado indícios da introdução de escravos negros no Grão-Pará,
ainda que considerasse a possibilidade da chegada dos primeiros cativos africanos em 1682, tomando por base o
conhecimento fundado na tradição historiográfica. Domingues da Silva, por sua vez, negou que tenha existido
tráfico de cativos africanos para o Maranhão e o Pará, sob o monopólio da Companhia de Comércio do Maranhão,
ao longo dos anos de 1682 a 1685, sendo a ausência desse comércio, segundo o próprio Domingues da Silva, razão
para rebelião dos colonos de São Luís contra o monopólio da referida Companhia, no caso a chamada “Revolta de
Beckman”. Para tanto, é crível dizer que Domingues da Silva cotejou as informações existentes ou arroladas pela
tradição historiográfica. Já foi observado, no entanto, que Salles, tomando por base a tradição historiográfica,
mesmo sem indicar números, considerava a existência de algum tráfico de africanos escravizados para a região
amazônica durante a vigência do monopólio da Companhia do Estanco do Maranhão. Chambouleyron, por sua
vez, concorde com Salles, mas fazendo uso de fontes constantes do Arquivo Nacional/Torre do Tombo e do
Arquivo Histórico Ultramarino, para além da tradição historiográfica, indicou que, sabidamente, não menos de
duzentos e pouco escravos da Guiné haviam sido introduzidos na Amazônia portuguesa quando do estanco ao
longo dos anos de 1682 e 1685, número este que, em exercício estimativo, pode ter sido superior a 600 cativos
divididos desigualmente entre o Maranhão e o Pará.

Fica posto, então, que a questão depende das fontes consultadas e de seu cotejo com as informações
prestadas pela tradição historiográfica, sendo, no caso do estudo do tráfico no século XVII, para além da
importância do conhecimento existente na referida tradição, fundamental haver a consulta de documentos de vários
arquivos, dentre eles os do Arquivo Nacional/Torre do Tombo e do Arquivo Histórico Ultramarino. Por outro lado,
Domingues da Silva afirmou que, se não houve desembarques de escravos africanos durante 1682-1685 na região
amazônica, isto não quer dizer que não tenham ingressado no Maranhão e no Pará africanos escravizados via
tráfico. Segundo ele, baseado na “secondary literature” ou tradição historiográfica, em 1680, o contratante José
Ardevicus ou Hardevicus ou ainda Erdovico, “an industrious slave trader”, recebeu da Coroa portuguesa o direito
de introduzir 350 escravos no Pará e 250 cativos africanos no Maranhão, vendendo-os com o preço fixado em 80
mil réis por escravo. Domingues da Silva aceitou que José Ardevicus tenha então efetivamente cumprido os temos
de seu contrato, enquanto Chambouleyron considerou o dito contrato para introdução de 600 escravos de Angola
no prazo de 20 meses como não implementado pelo contratante [16]. Lembra-se aqui, no entanto, que
eventualmente alguns escravos africanos podiam ter ingressado no Maranhão e no Pará sem que fosse
necessariamente via tráfico. Neste sentido, por exemplo, Salles, baseando-se em Bentendorf, informou que, em
1680, o padre jesuíta Pero Poderoso chegara ao Brasil com alguns tapanhunos, isto é africanos, “comprados com o
dinheiro da missão [jesuítica]”, sendo eles repartidos entre “os dois colégios [dos padres jesuítas:] Maranhão e
Pará” [17].

Considerando-se as incertezas e contradições já apontadas, ainda existe dificuldade em se dizer se, antes da
década de 1690, houve efetivamente algum tráfico de escravos para o Grão-Pará, embora já existisse para o
Maranhão; mas, sendo crível que tenha ocorrido, seu volume, ainda que pequeno, é igualmente difícil de ser
conhecido com alguma exatidão. Enfim, em 1684, com a extinção da Companhia de Comércio do Maranhão, que
não havia conseguido atender suficientemente aos reclamos dos súditos de El-Rei por cativos importados da
África, a Coroa resolveu, em consideração às petições das Câmaras de Belém e São Luís, ambas datadas de 1692,
ajustar contrato com a Companhia de Cachêu e Cabo Verde, para que ficasse encarregada da introdução anual de
145 negros, os quais deveriam ser repartidos entre as capitanias do Maranhão e do Grão-Pará, evitando-se, desta
forma, o prejuízo desta em favor daquela. Segundo informou Domingues da Silva, a dita Companhia, fundada em
1690 e extinta em 1706, deteve o monopólio do comércio de cativos africanos na região amazônica ao longo dos
anos de 1691 e 1696, traficando escravos no decorrer desses anos, à exceção de 1694, sendo pequeno o número de
africanos introduzidos no Maranhão e no Pará. Conforme Domingues da Silva, durante os anos de 1691, 1692,
1693, 1695 e 1696, a referida Companhia introduziu na região amazônica escravos que, em tese, deveriam ser
divididos entre o Maranhão e o Grão-Pará, já que o carregamento de 1694 não houve em virtude de naufrágio do
navio despachado de Cabo Verde. Considerando-se ainda que, entre os cativos africanos destinados à Amazônia
portuguesa, Domingues da Silva estimou que, anualmente, 73 desembarcaram em São Luís, entre 1691-1693 e
1695-1696, perfazendo um total de 365 escravos, quantos teriam sido destinados ao Grão-Pará?

À resposta precede uma explicação. Partindo do pressuposto de que cabia à Companhia desembarcar, por
força de contrato, 145 cativos africanos por ano na região amazônica, para os anos de 1691 e 1692, Domingues da
Silva estimou que foi introduzida metade deles no Maranhão, apresentando o número de 73, ainda que não tenha
informado o número total de africanos de fato despachados para a região amazônica. Para os anos de 1693, 1695 e
1696, já é possível saber quantos foram embarcados na Senegâmbia e adjacências, na África Ocidental, e
desembarcados na Amazônia, segundo dados do Voyages: The Trans-Atlantic slave trade database. Em 1693,
embarcados 159, desembarcados 140; em 1695, embarcados 116, desembarcados 102; e, por fim, em 1696,
embarcados 179 e desembarcados 158. Rafael Chambouleyron, por sua vez, apresentou números aproximados para
os anos de 1693, 139 africanos desembarcados, e 1695, 103 cativos desembarcados; não registrando, todavia, para
o ano de 1696, desembarque de escravos pela Companhia, mas apenas 18 africanos vendidos aos lavradores e
senhores de engenho, provavelmente, segundo juízo de Chambouleyron, objeto de assento contratado com Antônio
de Ocanha e Manuel Vilar. Considerando-se, enfim, que, em 1693, vieram 140; em 1695, 102 e em 1696, 158;
considerando-se ainda que a estimativa de Rodrigues da Silva, de que, em cada carregamento, 73 escravos
africanos desembarcaram no Maranhão seja crível, haveria, então, 181 cativos africanos desembarcados em Belém,
sendo 67 em 1693; 29 em 1695; e 85 em 1696. Considerando-se, por outro lado, que Rodrigues da Silva estimou
em 73 o número de africanos desembarcados no Maranhão, respectivamente em 1691 e 1692, considerando-se
razoável que tenham sido introduzidos em cada um desse anos 145 escravos, é possível ser estimado que, no Pará,
tenha havido o ingresso de 72 escravos em 1691 e 1692, respectivamente. Lembra-se que Kátia Mattoso, ainda que
levasse em conta tão somente os números de africanos cativos previstos nos contratos, o que não corresponde
necessariamente ao volume efetivo de escravos desembarcados, disse que os escravos africanos importados e
desembarcados no Maranhão, através do assento, durante os anos de 1692 e 1693, foram da ordem de 145 em cada
um desses anos, portanto, algo considerado possível pela autora [18]. Assim sendo, haveria, então, ao longo dos
anos de 1691 e 1696, excetuando-se 1694, 325 escravos ingressados no Pará, volume próximo daquele estimado
para o Maranhão, no mesmo período, isto é, 365 escravos africanos (ver a respeito a Tabela I).

É verdade que os moradores de Belém haviam se queixado ao rei, conforme resposta dada pelo soberano
aos queixosos em carta de 10 de dezembro de 1695, de que os escravos destinados ao Pará, nos termos do estanco
firmado com a Companhia do Cachéu e Cabo Verde, houvessem ficado somente no Maranhão [19]. Tal queixa,
certamente, lança dúvida sobre a efetiva entrada de africanos no Grão-Pará ao longo dos anos de 1691 a 1695,
mas, considerando-se, por um lado, que a introdução de cativos africanos correspondia não somente aos anseios
dos moradores, sendo igualmente parte da política colonial metropolitana para a região, tanto que o rei na referida
carta reconhecia que era necessária a introdução de cativos africanos para haver a “multiplicação de engenhos de
açúcar” na capitania paraense, além das receitas que o tráfico podia gerar aos cofres do reino, é possível crer,
apesar do lamento dos queixosos, que certo número de escravos africanos tenha desembarcado no Pará. Até
porque, no contexto da década de 1690, se havia o interesse de “se resolver o estado das rendas reais, por meio do
capital obtido com a venda de africanos”, ao mesmo tempo que era esperado o “aumento dos dízimos, decorrente
de um desejado aumento da produção agrícola com a chegada dos escravos”, outro processo importante para se
entender a relevância e a necessidade do tráfico de africanos escravizados para a Amazônia fora “a irrupção de
uma terrível epidemia de bexigas (varíola)”, a qual, no juízo de David Sweet, causou uma “séria crise para o
sistema produtivo, devastando a força de trabalho [indígena]”, ainda que o surto epidemiológico tenha sido
causado muito provavelmente pelo tráfico de cativos africanos [20]. Tal momento crítico para a conquista
portuguesa no vale amazônico, na década de 1690, não somente criava as condições que tornavam necessário o
tráfico, mas acentuava a disputa entre o Maranhão e o Pará pela introdução de africanos escravizados, sendo a
queixa dos moradores de Belém parte deste processo.

Extinto o monopólio da Companhia de Comércio do Cacheu e Cabo Verde, em 1696, o tráfico se fez por
meio de assentos com mercadores, destacando-se Antônio Francisco de Ucanha ou Antônio de Ocanha, que, ainda,
acredita-se ser o mesmo que aparece com o nome de Antônio Freire da Cunha, o qual, em sociedade com Manuel
Vilar ou Manuel Francisco Vilar, no período de 1696 a 1705, foi responsável pelo desembarque, na região
amazônica, de 389 cativos africanos oriundos da Guiné e Mina, sob responsabilidade do Capitão Diogo da Costa.
Em razão dos assentos, os referidos contratantes assumiram a obrigação de introduzir 218 africanos em 1698, mas
trouxeram 108, visto que uma das naus queimou na costa da Mina; 200 em 1702, mas entregaram 110; e, ao que
tudo indica, 200 em 1705, mas desembarcaram 153, conforme números apresentados por Chambouleyron.
Domingues da Silva divulgou algarismos próximos aos já citados, dando conta de 109 escravos desembarcados em
1698 e cem em 1702, embora desconhecendo qualquer desembarque em 1705 ou assento relativo ao mesmo. A
diferença reside no fato de que Domingues da Silva supôs que o total dos cativos africanos estabelecidos nos
assentos de 1698 (218) e 1702 (200), conforme determinações contratuais, fora dividido pelos contratantes meio a
meio entre Maranhão e Pará, enquanto Chambouleyron, ao que parece, não considerou os números de escravos
efetivamente desembarcados em Maranhão e Grão-Pará. Outrossim, Domingues da Silva informou ainda que, sob
a forma de assento, para os anos de 1707-1708, por meio de contrato com João Monteiro de Azevedo ou José de
Azevedo, deveriam ser introduzidos nas regiões do Maranhão e do Grão-Pará 200 escravos d’África por ano; em
1718, por meio de contrato com Manuel de Almeida e Silva, e em 1721, segundo contrato firmado com Diogo
Moreno Franco, deveriam ser entregues em cada um desses anos 150 escravos africanos. Considerou, então, este
autor que os “contratantes geralmente dividiam os escravos igualmente entre Pará e Maranhão (contractors
generally divided the slaves equally between Pará and Maranhão)”, estimando que metade deles, nos anos já
citados, ingressou no Maranhão, sendo crível supor que a outra metade fora desembarcada no Pará. Kátia Mattoso,
por sua vez, informou que os escravos africanos importados e desembarcados na Amazônia, através do assento,
foram 218, em 1698, e 200, em 1702; 200 em 1708; 150 em 1718 e 150 em 1721, considerando, portanto, como
cativos desembarcados na região os números previstos nos contratos [21]. Assim sendo, senão metade do número
de escravos previstos nos contratos, ao menos a diferença entre aqueles entregues no Maranhão e o previsto nos
assentos podem muito bem ter ingressado no Pará, apresentando a seguinte estimativa de cativos africanos
introduzidos para os seguintes anos: em 1698, 110; em 1702, 90; em 1705, 47; em 1707, cem; em 1708, cem; em
1718, 75; em 1721, 75 cativos, totalizando uma estimativa de 597 escravos introduzidos por meio dos assentos
celebrados entre 1698 e 1721 (ver Tabela I).

No cômputo acima, é verdade que não foi contabilizado nem estimado nenhum dado relativo ao ano de
1706, quando, segundo informação de Domingues da Silva, foram introduzidos no Maranhão 113 africanos cativos
em razão de a Coroa portuguesa ter contratado navio para traficar 200 escravos para o Maranhão, sendo suposto
por esse autor que os 87 africanos restantes foram despachados somente depois, em 1709. Não há, portanto,
margem segura para inferir quantos desses escravos haviam sido entregues no Pará, se é que chegaram a sê-lo.
Dúvidas e incertezas que, aliás, se fazem presentes no tocante aos demais dados relativos ao ingresso de africanos
escravizados na região amazônica, ao longo da segunda metade do século XVIII, que não haviam sido resultado de
ação mercantil do estanco ou assento, não sendo possível afirmar, com algum grau de certeza, mesmo
estimativamente, quantos cativos ficaram em Maranhão e quantos ingressaram no Pará.

Daí, a historiografia já produzida recentemente sobre o assunto apenas informar os números desse tráfico
para o Maranhão, supondo que também atendia ao Grão-Pará, mas sem inferir de forma alguma o que acabou
ficando numa ou noutra capitânia, quando não considera tão somente tais números para o Maranhão. Assim sendo,
para além dos 113 africanos desembarcados em 1706, já citados, com base nos dados do Slaves Voyages,
Domingues da Silva informou que, em 1701, 115 africanos cativos foram entregues; em 1703, 170; em 1714, 356;
em 1715, 85; em 1740, 69; em 1741, 7; em 1743, 92; em 1752, 282; em 1755, 150. Houve, então, o ingresso de
1.439 africanos escravizados no Maranhão, sem ser possível saber, contudo, se lá ficaram todos, ou quantos
ficaram e quantos vieram para o Grão-Pará, se é que vieram para Belém. Certeza mesmo somente é possível haver
no tocante à chegada de navios com africanos escravizados em Belém, para os anos de 1752, 1753 e 1755, quando,
respectivamente, foram desembarcados 150, 427 e 284 cativos (ver Tabelas I e V).

Enfim, ao longo da primeira metade do século XVIII, o tráfico continuaria para o Maranhão e o Grão-Pará,
ainda que modesto e irregularmente, não havendo notícia da entrada de africanos cativos para a grande maioria dos
anos. Lembra-se, por exemplo, que, entre os anos de 1709 e 1713 ou no período de tempo de 1722 a 1739, ou,
ainda, entre 1744 e 1751, não houve a entrada de escravos africanos, pelo menos diretamente da África, sendo
crível supor que, nesses lapsos de tempo, e em outros anos isolados, não houve efetivamente tráfico de escravos
para o Maranhão e o Pará, lembrando ainda que, nessa época, o tráfico, segundo Benedito Barbosa, “não se limitou
aos assentos”, inclusive sobrevivendo “ao longo dos anos, com a participação de particulares que introduziram
alguns escravos na região, após o período dos assentos”. Tanto que, para os demais anos em que há registros da
entrada de africanos na Amazônia, já citados, ao que parece, predominou a ação particular ocasional de
mercadores [22].

A ocasionalidade do tráfico de cativos africanos para a região amazônica, ao longo das décadas entre 1680
e 1755, é compreensível, uma vez que o Maranhão e o Grão-Pará, embora integrados à dinâmica do circuito do
tráfico no Atlântico Norte ou Equatorial, não se constituíam em mercados vantajosos para os traficantes
comparativamente aos mercados importadores de cativos africanos do restante da América portuguesa que,
envolvidos com os negócios açucareiros ou a mineração, se tornavam, dentro do circuito do tráfico no Atlântico
Sul, praças comerciais mais lucrativas para a venda de escravos, ainda que o Grão-Pará fosse rota possível de
abastecimento das regiões do Brasil Central (Goiás e Mato Grosso), no tocante ao fornecimento de cativos para
tais áreas mineradoras. Não obstante seja verdade que fez parte e foi resultado dos esforços da política
metropolitana lusa de ocupação e exploração econômica da Amazônia, o tráfico para essa região, quer sob a forma
de estanco, quer de assento ou iniciativa de particulares, ainda que modesto como atividade, foi fomento e
consequência do crescimento econômico das atividades produtivas, inclusive de lavouras e criatórias, que, desde
fins do século XVII, mas, principalmente, a partir da década de 1730, ganhavam alguma relevância no Grão-Pará,
não sendo diferente no Maranhão, pelo contrário.

Sinal disto está no fato de que, entre 1708 e 1750, com poucos anos sem a entrada de nenhuma
embarcação, 46 navios chegaram ao Estado do Maranhão e Grão-Pará, alguns deles desembarcando cativos
africanos, sendo que, a partir dos anos 1730, houve aumento do número de navios ingressados, totalizando 21
embarcações entre 1731 e 1739, e 11 embarcações entre 1740 e 1750, perfazendo 32 navios, enquanto, no período
de 1708 a 1715, aportaram seis e, de 1721 a 1729, o número foi de oito, somando 14 navios; houve ainda pelo
menos outros quatro navios que não chegaram, naufragando, dois deles no período de maior concentração da
chegada das embarcações, um em 1738, outro em 1744; bem como 13 navios de um total de 17, sobre os quais não
existe certeza se aportaram na região amazônica, mas que o fazendo teriam chegado entre os anos de 1731 e 1750
(ver Tabelas III a e III b). Para além da entrada desses navios, mas razão de ser desse tráfico marítimo, no caso do
Pará, que aqui importa comentar, segundo dados dos mapas dos produtos exportados pelo porto de Belém, entre
1730 e 1750, constantes dos livros da Alfândega do Pará, se percebe que os principais produtos negociados que
apareciam constantemente ao longo desses anos eram o cacau, a salsa, o cravo fino, o cravo grosso e o açúcar,
sendo que o café e couros passaram a constar desde 1734 e 1741, respectivamente; enquanto o anil somente
constou em 1732, ao que tudo indica de forma muito pequena. No caso de produtos nitidamente agrícolas, como o
açúcar e o café, sua presença e sua participação se tornaram, no decorrer desses anos, bastante significativas, sendo
que, no cômputo geral para todo o período, o açúcar ocupava a quarta posição e o café, a quinta, enquanto a
exportação de couros vinha depois, em oitava posição, sendo este produto de atividade criatória (ver Tabelas IV a e
IV b) [23]. O tráfico, como política metropolitana, visava justamente ao aumento dessas atividades, dentre elas a
açucareira, que, passando a existir e ter alguma relevância contextual para a região, alimentava a expectativa de
que, para além do aumento das rendas geradas pelos dízimos devidos à Coroa, tais atividades econômicas
pudessem favorecer o próprio tráfico [24].

Por outro lado, ainda que modesto, até mesmo “ínfimo”, no juízo de Chambouleyron, comparativamente
aos números do tráfico para o restante da América portuguesa, o volume de africanos escravizados traficados para
a Amazônia portuguesa teve a sua importância demográfica revelada quando situada no contexto colonial da
região, como bem salientou Chambouleyron. Para tanto, este autor explicou que, sendo a população portuguesa
pequena na região, o diminuto número de africanos importados ganhava certa importância no conjunto
populacional, exemplificando que

(...) se levarmos em consideração o ano de 1693, quando, de acordo com o texto do padre
João de Sousa Ferreira, a população do Estado chegava a 1.300 [considerando-se somente
a população adulta masculina portuguesa], a vinda de um navio carregado de escravos [no
caso 139 cativos] podia chegar a representar em torno de dez por cento dos homens
portugueses [25].

Daí que, entre poucos, um pouco a mais podia fazer alguma diferença. Enfim, embora os dados existentes
sobre o tráfico de escravos africanos na Amazônia, entre fins do século XVII e a primeira metade do século XVIII,
sejam bastante escassos ou fragmentados, é possível elencar alguns algarismos. Kátia Mattoso, por exemplo, disse
que os escravos africanos importados e desembarcados no Maranhão, através do assento, durante o período
compreendido entre os anos de 1692 e 1721, totalizavam 1.208 negros. Já se sabe que esse volume foi maior e
existiu, mesmo irregularmente, durante um período de tempo mais largo, entre 1670-1755, somando 5.748
africanos escravizados. Destes, 2.395 introduzidos entre 1670 e 1698, principalmente a partir da década de 1680; e
3.353 introduzidos entre os anos de 1701 e 1755, com um longo intervalo de tempo (1722-1739) sem nenhum
registro, além de outros lapsos de tempo menores, podendo ser dito ainda que, deste universo de 5.748 cativos,
2.157 foram provavelmente desembarcados no Grão-Pará, sendo estimados 846 entre 1680 e 1698, e 1.311 entre
1701-1755. Deve ser observado ainda que o volume de escravos traficados para a primeira metade do século XVIII
foi superior àquele para as duas últimas décadas do século XVII, considerando-se a maior importância econômica
do Grão-Pará neste período, particularmente a partir da década de 1730, como já indicado. Tanto que, entre 1680-
1698, os 846 cativos africanos ingressados, aqui estimados, perfazem 1,47% do total de africanos escravizados
introduzidos no Grão-Pará; enquanto que, no período de 1702 a 1755, os 1.311 escravos desembarcados perfazem
o percentual de 2.23% daquela totalidade, lembrando-se ainda que, entre os anos de 1752 e 1755, foram
introduzidos 861 africanos, quase o dobro de escravos ingressados entre 1702 e 1721, isto é, 450 (ver Tabelas I e
II) [26].

Não resta dúvida, portanto, de que as cifras de cativos traficados entre a África e a Amazônia portuguesa
foram bastante modestas, constituindo-se o próprio tráfico em atividade irregular e pouco constante até a criação
da Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão (1755-1778) [27]. Tanto que a média anual estimada de africanos
escravizados desembarcados no Grão-Pará entre 1680 e 1698 foi de 47 cativos; entre 1702 e 1755, de menos de 25
cativos por ano, enquanto que, no período da Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão, 1756-1778, a média
anual situou-se em pouco mais de 801 escravos introduzidos (ver Tabela II). Deve ainda ser considerado que, na
primeira metade do século XVIII, o desequilíbrio entre as quantidades de africanos ingressados nas capitanias
paraense e maranhense, em prejuízo dos colonos residentes na primeira, acentuava ainda mais a carência dos
proprietários de terras no Grão-Pará por escravos diante do baixo número de negros importados das praças
africanas. Esta situação fazia com que o sustento das lavouras iniciadas na Colônia fosse dependente do trabalho
escravo indígena, apesar de uma legislação metropolitana muitas vezes contrária à escravização dos índios [28].
Em 1709, por exemplo, José da Cunha Deça, em face da morte de boa parte de seus escravos africanos, quando
não fugiam pelas matas, havia requerido à Coroa e obtido a devida autorização régia para “resgatar” 120 cativos
índios nos sertões da Amazônia, além da preferência na aquisição de 20 negros que viessem no primeiro navio,
que os trouxesse por conta da fazenda real, caso contrário seus “copiosos canaviais”, em seu engenho no distrito de
Belém, haviam de ficar inaproveitáveis [29].

Não era à toa, portanto, que ainda fossem enviados apelos dos moradores abastados e proprietários de
terras da Capitania do Grão-Pará à Coroa, por meio de seus representantes nas Câmaras de Belém e demais vilas
paraenses, pela introdução de cativos negros. Em 1752, por exemplo, o Senado da Câmara de Belém, atendendo à
reivindicação dos moradores, dirigiu-se ao governador, solicitando a introdução de escravos, haja vista a “grande
falta e necessidade” em que se achava a Colônia de “operários para a fábrica de culturas” [30], embora seja
verdade que o estabelecimento da regularidade do tráfico negreiro, com a criação da Companhia Geral de
Comércio do Grão-Pará e Maranhão, não conseguiu dar conta totalmente da carência por trabalhadores escravos na
Amazônia portuguesa. Em 1760, por exemplo, o Governador Manuel Bernardo de Melo e Castro, em carta datada
de 23 de janeiro de 1760, narrava que, logo que um navio com 140 negros de Cachêu havia aportado em Belém,
foram vendidos em uma só tarde todos os cativos com pagamento à vista. Nesta ocasião, relatava Melo de Castro à
Coroa, havia sido:

(...) tanto o concurso da gente a fazer aquelas compras que os administradores da


companhia se viram sumamente perturbados, e me disseram que na primeira ocasião em
que vier outro navio me haviam requerer alguns soldados para evitarem a confusão de
tanto povo, de cujo fato poderá V. Exa. compreender a necessidade e o desejo em que
estes moradores se acham de que se lhes introduza maior número de pretos para poderem
suprir o tráfico de suas lavouras [31].

Considerando-se os efeitos da lei de 6 de julho de 1755, que determinava a irrestrita liberdade da população
indígena da região amazônica, cuja aplicação havia sido regulada pelo ato de 3 de maio de 1757, ordenado pelo
Governador Mendonça Furtado, ou seja, o “Directorio que se deve observar nos povoados dos Índios do Pará, e
Maranhão em quanto Sua Majestade não mandar o contrário”, é possível compreender a carência por trabalhadores
escravos que existia entre os súditos de El-Rei, levando-os à aquisição dos mesmos logo que desembarcados na
cidade de Belém pelos navios da Companhia, ainda mais quando se sabe que a adoção do “Directorio” acabou
significando o esvaziamento dos antigos aldeamentos com a dispersão de boa parte da população indígena aldeada
[32]. Nesta época, por exemplo, houve um aumento bastante significativo do movimento de fugas de índios
domiciliados nas vilas, sob o regime do “Directorio”, com a formação de mocambos compostos por índios, quando
não se aquilombavam com cativos africanos igualmente fugidos (ver Tabela X) [33]. Além do que, entre 1743 e
1750, já havia “uma severa escassez de mão de obra causada por uma epidemia de varíola que açoitou a parte mais
baixa do Amazonas” com a morte de cerca de 40 mil pessoas, particularmente a população indígena [34].

Por outro lado, a partir da segunda metade do século XVIII, em determinados setores da economia colonial
amazônica, caracterizados pela agricultura comercial e por fazendas de gado, já havia se iniciado um lento
processo de substituição parcial dos trabalhadores indígenas pelos africanos, com o uso de trabalhadores livres
indígenas ou não concomitantemente ao recurso mais frequente de escravos negros de origem africana, sob o
fomento dado pelos incentivos fiscais da Coroa ao tráfico entre as praças africanas e a região amazônica. Desta
forma, criava-se uma demanda interna no mercado de trabalho paraense por cativos importados da África, ainda
que a carência de recursos financeiros por parte dos colonos paraenses fosse tida pelas autoridades metropolitanas
coloniais como o principal empecilho ao fornecimento, em proporções mais significativas, de cativos africanos
para o Grão-Pará [35].

A própria fundação da Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão, aliás, visou ao estabelecimento da


política pombalina de fomento das atividades agrícolas comerciais na Amazônia portuguesa, lastreada na mão de
obra escrava negra, para além do uso do trabalhador indígena, através do subsídio fiscal ao tráfico negreiro, com a
isenção de impostos sobre o comércio de africanos realizado pelos navios da companhia. Não é à toa que os
estatutos da companhia, de 6 de junho de 1755, segundo observação de Dauril Alden, “tenham a mesma data do
Decreto Real que aboliu, definitivamente, a escravidão indígena na Amazônia” [36]. Nas palavras de Manuel
Nunes Dias, em seu importante estudo sobre a dita companhia, a “introdução de mão de obra africana no Estado do
Grão-Pará e Maranhão era a razão principal da existência da Companhia”, uma vez que “o tráfico de escravos seria
encarado pela empresa pombalina como um negócio vital” [37]. De fato, a constituição de um tráfico negreiro
regular entre as praças africanas e a Amazônia portuguesa somente ocorreu a partir da criação da companhia, firma
detentora da exclusividade do comércio de africanos no Estado do Grão-Pará e Maranhão, havendo, durante a sua
existência (1755-1778), o emprego de significativa frota de navios a serviço da “rota negra”, composta de 18
embarcações, com a realização de quatro, cinco ou até seis viagens anuais entre as praças africanas e os portos de
São Luís e Belém. Os números anuais destas viagens entre os dois lados do Atlântico, na época da Companhia
Geral, são significativos do incremento das atividades mercantis na Amazônia portuguesa quando se atenta para o
fato de que, segundo Alden, apenas alguns anos antes, no primeiro quartel do século XVIII (1700-1725), “muitas
vezes se passava um ano ou mais, antes que um ou dois navios aportassem em Belém”, ainda que o mesmo já não
possa ser dito para as décadas de 1730 e 1740 [38].

Segundo estudo realizado por Dauril Alden, Mendonça Furtado, responsável pela efetiva aplicação da
política pombalina no Estado do Grão-Pará e Maranhão, “estava vivamente interessado no desenvolvimento
econômico da Amazônia, especialmente no crescimento contínuo de seu mais importante produto de exportação”,
ou seja, o cacau [39]. Este produto, desde 1730, havia se tornado o principal item das exportações da Amazônia
portuguesa, representando em média 90,6% dos bens exportados entre os anos de 1730-1744; 61% nos períodos de
1745-1753 e 1755-1778 (período sob monopólio da companhia); e 50,39% entre os anos finais do século XVIII até
1822 [40]. Inclusive, durante a década de 1740, comentou Alden, “os preços do cacau, que tinham sido muitas
vezes maiores, por unidade, do que os do açúcar branco baiano de primeira qualidade, se estabilizou a um nível
mais baixo do que o produto da Bahia” [41]. Não seria estranho, portanto, que Mendonça Furtado houvesse,
através do estabelecimento da Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão, procurado “resolver dois antigos
problemas da produção do cacau”: a deficiência de mão de obra, com a introdução de escravos africanos; e a
deficiência do transporte marítimo entre a Colônia e Portugal, com a regularidade do referido trânsito,
caracterizado por uma média anual de 6,7 navios entre Belém e Lisboa, durante o período de 1756-1777 [42].

Na Amazônia portuguesa, já havia então uma economia comercial lastreada na exploração do cacau
silvestre, em larga escala, e do cacau cultivado, em menor importância, que sustentava as ligações econômicas com
a metrópole quando da criação da Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão, em 1755. Igualmente se
desenvolviam na Colônia outras atividades relativas ao cultivo de cana-de-açúcar, tabaco, café, algodão, arroz,
bem como a criação de gado bovino, como já indicado antes, que seriam em maior ou menor grau beneficiadas
pela política pombalina, com o estabelecimento da Companhia Geral de Comércio, haja vista que os antigos
problemas da produção cacaueira no tocante à falta de trabalhadores e ao transporte marítimo regular,
razoavelmente resolvido por Mendonça Furtado, também afligiam os demais setores da economia colonial da
região amazônica sob domínio português. Afinal, na Amazônia portuguesa não se vivia apenas do extrativismo das
“drogas do sertão”. A seguir, será visto, portanto, em que sentido a criação da referida companhia atendia aos
apelos da Colônia, no caso específico da demanda por escravos africanos.

Durante a vigência do monopólio comercial do tráfico pela Companhia Geral, entre os anos de 1756-1778,
foi introduzido na Amazônia portuguesa um número de escravos possivelmente superior aos 28.852 africanos
desembarcados nos portos de São Luís e Belém pelos navios da Companhia. Destes, 16.852 escravos negros foram
enviados para o Grão-Pará, enquanto o Maranhão havia recebido em torno de 12 mil cativos, ainda que cerca de
um terço do total de africanos ingressos no porto da capital paraense fossem vendidos para Goiás e Mato Grosso,
tornando-se Belém não somente um centro receptor de trabalhadores escravos negros, mas também polo de
redistribuição na região amazônica e capitanias limítrofes. Os números aqui apresentados estão baseados nos dados
fornecidos por Antônio Carreira, Manuel Nunes Dias, Anaíza Vergolino e Silva, Colin M. MacLachlan, Daniel
Domingues da Silva, bem como no Slaves Voyages, que, cotejados, informam que a quantidade de escravos
introduzidos pela dita Companhia pombalina foram superiores aos números até então usualmente indicados pelos
pesquisadores citados. Assim é que Dias bem como Vergolino e Silva já haviam indicado um total de 25.365
escravos introduzidos, dos quais 14.749 no Pará e 10.616 no Maranhão. Carreira, por sua vez, inicialmente
informara o algarismo de 26.997, repartido entre Grão-Pará, com 14.760 (número próximo ao indicado por Dias e
Vergolino e Silva), Maranhão, com 11.747, e Rio de Janeiro, com 490 cativos. No entanto, Carreira corrigiu tais
valores, informando um novo total de 28.556 cativos, distribuídos da seguinte forma: 16.077 destinados ao Grão-
Pará; 12 mil ao Maranhão; e 479 ao Rio de Janeiro. MacLachlan, por sua vez, indicou o valor de 23.588 cativos
importados pela Companhia, sendo 12.972 com destino ao Pará e 10.616 destinados ao Maranhão. Domingues da
Silva, tratando apenas do tráfico da Companhia para o Maranhão, indicou o número de 10.880 cativos. Assim,
cotejando tais autores, bem como considerando os dados do Slaves Voyages relativos ao Grão-Pará, apontamos os
números já arrolados, aqui repetidos: 28.852 cativos africanos introduzidos na região amazônica, sendo 16.852 no
Grão-Pará e 12 mil no Maranhão, havendo ainda o envio de 479 africanos escravizados para o Rio de Janeiro.
Também deve ser lembrado que, segundo dados do Slaves Voyages, durante o período da Companhia pombalina,
entre 1756 e 1778, o número de escravos ingressos no Grão-Pará foi maior do que os 16.852 trazidos pela
Companhia, havendo 775 cativos introduzidos por outros navios, inclusive dois de bandeira britânica, perfazendo,
portanto, o total de 17.627 escravos desembarcados em Belém (ver Tabela VI) [43].

Por outro lado, como já dito antes, havendo a redução de cerca de um terço (5.637) dos africanos
desembarcados pela Companhia em Belém, que foram reexportados para o Brasil Central, através do território
paraense, 11.235 africanos haviam efetivamente permanecido no Grão-Pará, constituindo número próximo do total
de escravos negros vendidos no Maranhão. Aliás, levando-se em conta estes algarismos, é possível refletir que, no
período em curso, o Grão-Pará sobressaía-se em relação ao Maranhão no tocante ao volume dos negócios em torno
do tráfico negreiro, uma vez que recebia a maior parte dos escravos importados diretamente do continente
africano, enquanto centro consumidor e de redistribuição da “mercadoria negra”. Tanto que, entre 1757 e 1777, da
importância total de 1.736:208$526, relativo ao montante e valor dos escravos vendidos no Pará e Maranhão pela
Companhia, 974:912$061 foram negociados no Pará e 761:296$465 no Maranhão [44]. Enfim, mesmo
desconsiderando-se a terça parte dos cativos vendidos para o Brasil Central, havia um relativo equilíbrio entre as
cifras de escravos negociados nos portos de Belém e São Luís enquanto o tráfico esteve sob monopólio da
Companhia Geral. Somente na década de 1770, época marcada pela extinção do monopólio da referida
Companhia, o aumento da exportação do algodão cultivado no Maranhão possibilitaria efetivamente que houvesse
o crescimento significativo da população escrava negra em seu território, via tráfico negreiro, levando ao
desequilíbrio os contingentes escravos existentes no Grão-Pará e Maranhão. Colin Maclachlan, por exemplo,
informou que, ao final do século XVIII, no Maranhão, com uma população de 78.860, existiam 36.880 escravos,
46% da população total, enquanto no Grão-Pará, com uma população de 80 mil, havia 18.944 cativos,
aproximadamente 23% de sua população, com os indígenas somando algo em torno de 20% e os restantes 57%
formados por brancos, negros e mestiços livres, sendo os brancos um segmento minoritário [45].

Enfim, quando do período da Companhia Geral, entre 1756 e 1778, foram introduzidos 17.627 cativos
africanos, representando 29.93% da totalidade de escravos importados com uma média anual de pouco mais de
801 escravos, enquanto na primeira metade do século XVIII a média de importação anual de cativos não chegara a
25 sujeitos, configurando 2.23% de todos os cativos africanos (ver Tabela II). Tais números, portanto, são
reveladores da importância adquirida pelo tráfico a partir de meados da década de 1750. Terminado o período
compreendido pelo regime de monopólio comercial imposto pela criação da Companhia Geral do Grão-Pará e
Maranhão, ainda que esta Companhia tenha exercido suas atividades no tocante o tráfico negreiro até 1788 sem
monopólio (ver Tabela V) [46], as atividades relativas ao tráfico negreiro na região amazônica ficavam novamente
sob os encargos de empreendimentos particulares que, levando a cabo o comércio de escravos com a África, não
perdiam de vista as possibilidades de bons negócios com a venda de escravos no Maranhão, em face do aumento
da exportação do algodão produzido em suas terras, ainda que a isenção do pagamento de impostos de entrada no
Porto de Belém, relativamente à venda de cativos negros, ainda fosse adotada pela Coroa como política de fomento
do tráfico direcionado ao Grão-Pará. Segundo Colin MacLachlan, a média anual de escravos introduzidos pela
Companhia em Belém, 581 cativos por ano, no período subsequente de 1779-1790 caiu para 547 ao ano, enquanto,
no Maranhão, “a tendência crescente [do tráfico] iniciada pela companhia continuou”, sendo que, no mesmo
período (1799-1790), a média anual de importação de africanos escravizados era de 1.605, uma diferença de três
para um na comparação entre as médias de importação do Grão-Pará e Maranhão, “refletindo a continuidade da
capacidade do Maranhão para financiar o [comércio de] escravos africanos” [47]. Para além dos dados de
MacLachlan, Vicente Salles, procurando compreender a queda do volume do tráfico dirigido ao Pará, afirmou que,
durante a vigência do tráfico realizado pelos navios da Companhia Geral, a média anual de africanos ingressados
no Porto de Belém foi de 629 (MacLachlan informou 581 ao ano), sendo que, no período subsequente, entre os
anos de 1778-1792 (MacLachlan trabalhou com os anos de 1779-1790), a média por ano caiu para 545 cativos
(MacLachlan apontou a média de 547), indicando, portanto, uma queda nos índices de escravos africanos
importados [48].

É possível, no entanto, com base nos dados já arrolados pela historiografia e pelo Slaves Voyages,
entendimento completamente distinto de MacLachlan e Salles acerca da redução do volume de escravos africanos
importados nos anos subsequentes ao fim da Companhia pombalina, ainda que tráfico menor que aquele destinado
ao Maranhão. Conforme números apresentados na Tabela I, entre parte do ano de 1788 até 1800, portanto um
período de 22 anos, mesmo lapso de tempo de vigência do tráfico feito pela Companhia Geral, foram introduzidos
no Grão-Pará 17.970 cativos africanos, número, portanto, ligeiramente superior ao de escravos trazidos na época
da dita Companhia, isto é, 17.627. Na Tabela II, por sua vez, entre 1778 e 1800, os 17.970 escravos desembarcados
perfazem 30.50% de todos os cativos africanos importados, com uma média anual de ingresso estimada em pouco
mais de 816 africanos escravizados ao ano; portanto, valores superiores ao do período do tráfico quando da
Companhia Geral. O que não quer dizer, porém, que o tráfico fosse capaz de abastecer as demandas da economia
paraense por trabalhadores cativos.

De fato, mesmo o estabelecimento do tráfico regular de escravos africanos pela Companhia Geral não
havia conseguido atender às demandas dos colonos paraenses por escravos. As queixas relativas ao número
insuficiente de negros introduzidos no Porto de Belém, na época, já havia se tornado constante [49]. Extinta a
Companhia, o temor da retração de fornecimento de africanos e o conseqeente aumento dos preços dos cativos
aumentavam sem dúvida as apreensões dos colonos quanto à sua carência por escravos, ainda mais considerando o
“ritmo de crescimento orgânico da agricultura comercial” na Colônia [50]. Basta lembrar que, entre 1773 e 1818,
na economia colonial amazônica portuguesa, destacava-se a produção de algodão, arroz, café e cacau. Na pauta de
exportações, compreendendo o período de 1796 até 1811, os referidos produtos constavam entre os cinco
primeiros, na seguinte ordem: (1o) cacau; (2o) algodão; (3o) arroz; (4o) cravo fino; e (5o) café [51]. O cacau
sobressaía-se, como já se fez notar, representando 50,39% dos bens exportados entre os anos finais do século
XVIII até 1822. Note-se ainda, comparando-se os dados sobre os principais produtos exportados na primeira
metade do século XVIII e fins dessa centúria e primeiros 11 anos do século XIX, que a exceção do cacau, do cravo
fino e do café, o primeiro parcialmente cultivado, o segundo oriundo do extrativismo e o terceiro totalmente
agrícola, aparecem na lista dois outros produtos agrícolas: o algodão e o arroz, embora já não conste entre os cinco
primeiros o açúcar, mas, da mesma forma, já não constavam o cravo grosso e a salsa, estes últimos vinculados ao
extrativismo. Isto não quer dizer, obviamente, que tenham deixado de ser negociados com a metrópole, mas que
não figuravam entre os cinco principais produtos. Por sua vez, o aumento da importância do arroz e algodão, bem
mais significativos na economia maranhense, eram igualmente produtos que passavam também a ter algum
destaque naquele momento na economia grão-paraense. Os valores reproduzidos nas Tabelas VIII e IX
demonstram justamente essa realidade, notando-se o arroz descascado, o cacau, o algodão em rama e o café entre
os principais produtos exportados ao longo dos anos de 1778/1779 a 1818. Enfim, dentre os cinco principais
produtos, ao longo dos anos de 1778 e 1818, três (café, arroz e algodão) eram agrícolas, um (cacau) parcialmente
cultivado, e somente um (cravo fino) totalmente oriundo do extrativismo, demonstrando a importância das
atividades agrícolas e, seria possível dizer das criatórias também, ainda que não arrolada a exportação de couros,
realidade econômica que ajuda a entender a continuidade do tráfico para a região amazônica, particularmente o
Grão-Pará, mesmo após o término do estanco da Companhia pombalina, quando o tráfico para a região parece ter
mantido senão ganhado novo impulso. Até porque as exportações do Grão-Pará para Portugal ao longo do período
de 1800 a 1818 sempre foram superiores aos valores gastos com produtos importados da metrópole, havendo
superávit, o que poderia ser indicativo de capacidade de pagamento para aquisição de escravos africanos, apesar
das observações do governador de Luanda, em fins do século XVIII, de que a economia colonial paraense não
conseguia financiar o trabalho africano, observações que talvez levassem em conta unicamente as possibilidades
de lucro advindo com o tráfico no Maranhão, sendo ainda mais rentável o tráfico com outras partes do América
portuguesa, sem considerar as demandas dos colonos paraenses que, portanto, não foram totalmente
negligenciadas pelo tráfico de escravos após término da companhia [52].

É crível duvidar, portanto, que tenha efetivamente ocorrido uma retração da importação de escravos
africanos para o Grão-Pará, mesmo nos anos que seguem mais de perto o fim da Companhia pombalina,
justamente quando os setores dependentes desta mão de obra pareciam passar por um momento de “crescimento
orgânico”, segundo palavras de Manuel Nunes Dias. Isto porque se tornou lugar-comum na historiografia relativa
ao tema a aceitação da ideia de que, findo o tráfico sob monopólio praticado pela Companhia, houve um acentuado
incremento do escravismo no Maranhão via tráfico, por razões já elencadas acima, enquanto o tráfico para atender
à economia paraense parecia aos poucos definhar, haja vista a sua incapacidade financeira de sustento do tráfico e,
consequentemente, do trabalho escravo africano na Amazônia, tal como fora diagnosticado pelo governante
português de Luanda [53].

Havendo, então, o ingresso de 17.970 cativos no Grão-Pará, entre 1778 e 1800, também já se sabe que, ao
contrário do que já dito antes, inclusive na primeira edição deste livro, com base em alguns autores, que, nos anos
de 1792, 1794-1796 e 1798-1800, constam evidências da entrada de escravos no Porto de Belém, conforme
números arrolados nas Tabelas I, V e VII [54]. Da mesma forma que, embora Vicente Salles não tenha encontrado
dados sobre a entrada de escravos no Porto de Belém para o período compreendido entre 1792-1810 [55], sabe-se
que há registro deles, incorporando-os nesta segunda edição. Enfim, mesmo que a documentação levantada por
Anaíza Vergolino-Henry, à época de sua pesquisa no acervo do Arquivo Público do Pará, relativa ao tráfico de
escravos entre as praças africanas e a Amazônia [56], tenha apontado para a ausência de evidências desse tráfico
para quase toda a década de 1790 e os primeiros dez anos do século XIX, novas pesquisas junto ao Arquivo
Público do Pará, às vezes consultando documentação nem sempre disponibilizada num determinado tempo ou
época, bem como junto ao acervo do Arquivo Histórico Ultramarino, que se tornou disponível a um maior número
de pesquisadores graças ao Projeto Resgate, por meio de cópias de documentos gravados em CD-ROM, para além
dos dados arrolados em Slaves Voyages, apontam justamente para o fato de que não houve desestruturação da “rota
negreira” entre a Amazônia portuguesa e o continente africano neste lapso de tempo. Assim sendo, bem como
revisitando alguns trabalhos mais antigos da historiografia da escravidão brasileira, ao longo da década de 1790 e
primeiros dez anos do século XIX, houve efetivamente tráfico para o Grão-Pará (ver Tabela I) [57]. Salles, aliás,
mesmo sem “notícias sobre a introdução de escravos” relativamente ao período de 1792-1810, estimou em nove
mil escravos o número de cativos importados, supondo uma média anual de 500 cativos ingressados [58].

Deixando o século XVIII, já na primeira década do século XIX, entre 1801 e 1810, com base nos dados já
indicados pela historiografia e, principalmente, nos números informados pelo Slaves Voyages (ver Tabela VII), o
volume de cativos africanos importados somou 10.927 escravos, perfazendo uma média anual de importação da
ordem de pouco mais de 1.092 cativos, representando 18.55% de todos os escravos importados (ver Tabelas I e II).
No tocante ao período de dez anos seguintes, entre 1811 e 1820, cotejando os dados informados por Goulart e
Barata, juntamente com os fornecidos pelo Slaves Voyages (ver Tabela VII), é possível estimar, evitando-se
possíveis sobreposições de números de cativos ingressados, que houve a importação de 6.175 escravos,
representando uma média ao ano em torno de 618 cativos, o que configura 10.48% da totalidade dos escravos
importados, conforme pode ser observado nas Tabelas I e II [59]. Salles, por sua vez, afirmou que, entre 1792 e
1820, 30.717 escravos ingressaram no Grão-Pará, perfazendo uma média anual de 1.097 cativos. Portanto, nesse
período, nas palavras de Salles, “houve notável incremento do tráfico” [60]. Mas, caso se busque uma base em
Baena, citado tanto por Vergolino e Silva como por Salles, desde o fim da Companhia Geral do Grão-Pará e
Maranhão, em 1778, até 1820, ingressaram no Pará 38.323 escravos [61], perfazendo uma média anual em torno
de 891 cativos. Valores estes indicados por Baena, inclusive, superiores ao arrolados até aqui para o mesmo
período, uma vez que foram anotados até então 35.072 cativos importados, com média anual estimada em pouco
mais de 815 cativos, havendo uma diferença da ordem de 3.251. Aliás, de qualquer forma, tanto a média anual
estimada a partir dos dados de Baena (891) quanto a estimada neste livro (815) encontram-se acima da média
anual estimada para o período da Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão (em torno de 801 cativos),
considerando-se que o período de 1778 a 1820 é quase o dobro de tempo do período de 1756 a 1778. Esses dados
demonstram, portanto, que o tráfico para o Grão-Pará após fim da Companhia pombalina não somente continuara,
mas ganhara envergadura ainda maior, ainda que menor comparativamente ao Maranhão, que, nesse mesmo
período de 1778 a 1820, conhecera a introdução de 73.388 cativos, e, principalmente, em relação ao restante do
Brasil [62].

Passando para a década de 1821 a 1830, chega-se a 3.412 cativos ingressos, perfazendo uma média anual
estimada em torno de 341 escravos, bem como 5.79% do total de escravos ingressados. Nesta década, Goulart
apontou os seguintes dados: em 1823, foram importados 2.048 cativos e, em 1824, 498, totalizando 2.546.
Complementaram-se, então, os referidos dados, cotejando-os com os números do Slaves Voyages, o que levou a se
alcançar o universo de 3.412 escravos (ver Tabelas I, II e VII) [63], sendo possível, portanto, reconsiderar a
afirmação feita na primeira edição deste livro, quando foi dito que faltavam os dados estatísticos acerca da
importação de escravos a partir de 1820. Finalmente, segundo as informações disponíveis em Slaves Voyages (ver
Tabela VII), já se sabe que, em 1835, ingressaram 507 cativos e, em 1841, foram desembarcados 120 cativos,
totalizando, então, para esses anos, a soma de 627 escravos, o que representa 1.05% do total de ingressados no
Grão-Pará, com média anual estimada em quase 105 cativos ao ano, conforme Tabelas I e II. Não foram
encontrados, é verdade, dados sobre a introdução de africanos escravizados em 1834, data durante muito tempo
consagrada na historiografia como aquela em que ocorreu o último desembarque de escravos africanos na
Amazônia, diretamente despachados da África para Belém, através da rota negreira entre esta região e a África,
segundo indicou Salles [64]. No entanto, como já indicado, sabe-se que o último carregamento direto de africanos
cativos não ocorreu em 1834, mas em 1841, sendo que, para o Maranhão, o fora em 1846. Isto é, após o término
definitivo da Cabanagem, em 1840, ainda houve reinício do tráfico, ao que parece interrompido em 1834, às
vésperas do movimento cabano, por conta do estado de guerra que assolou a província paraense, mas, mesmo que
retomado em 1841, ao que tudo indica não conseguiu se restabelecer. Já na década de 1850, no contexto da
repressão ao tráfico brasileiro de escravos por conta da Lei Eusébio de Queiroz, houve indícios de desembarque de
africanos escravizados na costa da província paraense, visando, primordialmente, ao seu reenvio para as províncias
açucareiras nordestinas ou cafeeiras do Sudeste brasileiro via tráfico interprovincial de escravos, mas era
definitivamente “o canto de cisne” de uma atividade que findava [65].

Por outro lado, deve ser lembrado que o ingresso de escravos africanos na região amazônica, ainda que em
grande parte trazidos diretamente da África para Maranhão ou Grão-Pará, também foi feito a partir de outros
portos brasileiros com navios vindos de Pernambuco, Bahia ou Rio de Janeiro, sendo que esse comércio de
africanos escravizados ganhara destaque principalmente no período após término da Companhia Geral do Grão-
Pará e Maranhão. Daí que, por exemplo, segundo dados de Anaíza Vergolino, entre 1778 e 1791, no tocante aos
7.606 escravos que conseguiu apurar, foi informado que 4.507 vieram diretamente do continente africano,
enquanto outros cativos africanos vieram despachados ou reexportados de outros portos brasileiros, somando 3.099
indivíduos, não sendo possível, no entanto, afirmar sem erro que eram todos africanos. Ainda segundo a autora,
foram trazidos 159 de Pernambuco; 19 da Parnaíba; 526 da Bahia; 384 somente do Maranhão e 1.722 do
Maranhão e demais portos; além de 239 oriundos de Angola, na África Centro-Ocidental, bem como de
Pernambuco e Maranhão. Já para a segunda década do século XIX, Mário Barata indicou escravos reexportados de
outros portos brasileiros para Belém, embora não seja possível precisar se africanos ou não, além daqueles
importados diretamente da África. Conforme dados de Barata, em 1813, chegaram 85 cativos oriundos de diversos
portos do Brasil; em 1814, vieram trazidos 268; em 1815, 119 escravos; bem como, em 1816, havia sido informada
a chegada de 934 cativos, que dizia apenas serem de “procedência africana e brasileira”, o que dá para supor que
pelo menos parte deles viera de outras partes do Brasil [66]. Mas, no próximo capítulo, tal comércio interno,
inclusive de africanos escravizados, assim como daqueles descendentes de africanos já nascidos cativos no Brasil,
será tratado mais amiúde. Da mesma forma que, no tocante às origens nacionais, étnicas ou geográficas dos
africanos aqui introduzidos, o terceiro capítulo deste livro há de tratar acerca do assunto, bem como acerca do
coeficiente de homens, mulheres e crianças introduzidas via tráfico no Grão-Pará.

Finalizando este capítulo, pode-se afirmar que, entre 1680-1841, houve o ingresso de 58.895 cativos,
ampliando, nesta segunda edição, não só o período de tempo, sendo na primeira considerados então os anos entre
1755 e 1820, mas a quantidade de escravos ingressados, uma vez que na edição anterior havia sido apontado o
valor de 53.072 escravos negros introduzidos no Grão-Pará, através do Porto de Belém, não discriminando a
entrada ano a ano, o que se faz agora (ver Tabela I). Contudo, o volume de 58.895 escravos importados não
compreende certamente a totalidade de cativos introduzidos no Grão-Pará, bastando lembrar que podem ser
somados a este valor mais 3.251 cativos, considerando-se a diferença já apontada entre os números indicados por
Baena e apurados durante a elaboração deste trabalho, no tocante ao volume de escravos ingressados entre 1778 e
1820. Feita essa adição, para o período de 1680 a 1841, é possível chegar, então, a 62.146 escravos ingressos via
tráfico, a maior parte diretamente do continente africano [67]. Número que, é crível supor, possa ter alcançado
algarismo ainda maior, em torno de 65 mil almas, mas não muito mais, não indo além, com certeza, da casa dos 70
mil sujeitos. Não se deve esquecer, ainda, que uma parte menor desses africanos foi reexportada para o Brasil
Central, com certeza na época da Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão, porém não mais que um terço,
conforme já comentado aqui.
3
A economia escravista do Grão-Pará
e o tráfico interno brasileiro:
alguns comentários

O término do tráfico negreiro transatlântico direto entre o Grão-Pará e as praças africanas, em 1841, não
representou a interrupção da atividade de importação de cativos africanos ou nascidos em outras partes do Brasil,
uma vez que eram trazidos de outros portos brasileiros para Belém. Desde o período colonial, álias, como já
indicado no capítulo anterior, havia o comércio de escravos negros entre os portos do Estado do Brasil e os do
Grão-Pará e Maranhão. Pelo aviso de 16 de abril de 1798, por exemplo, foi ordenada ao Conde de Rezende, José
de Castro, a “saída dos escravos bons e robustos para a Capitania do Pará, ficando livres de pagar direitos de
entrada no Rio de Janeiro todos aqueles que houverem de ser exportados para o Pará, aonde é preciso dar
incremento à povoação e com ela à cultura, trabalhos e indústria”, conforme havia sido solicitado à Coroa por
Francisco de Souza Coutinho, capitão-general do Pará [1]. Assim, ainda no período colonial, segundo dados de
Anaíza Vergolino, entre 1778 e 1791, 3.099 cativos africanos (ou não) vieram despachados ou reexportados de
outros portos brasileiros. De acordo com a referida autora, foram trazidos 159 de Pernambuco; 19 da Parnaíba; 526
da Bahia; 384 somente do Maranhão e 1.722 do Maranhão e demais portos; além de 239, sem haver precisão a
respeito de quantos eram oriundos de Angola, na África Centro-Ocidental, bem como de Pernambuco e Maranhão.
Aliás, Vergolino já havia indicado, em 1756, época da Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão, a entrada de 16
escravos oriundos do Maranhão. Outros autores, tais como Mário Barata, Vicente Salles e Colin MacLachlan,
igualmente trataram do tráfico interno de escravos de origem africana para o Grão-Pará, indicando a sua
importância para o abastecimento de cativos destinados à economia paraense desde, pelo menos, as décadas finais
do século XVIII [2].

Já adentrando a segunda década do século XIX, Mário Barata indicou escravos reexportados de outros
portos brasileiros para Belém, embora não seja possível precisar se africanos ou não, além daqueles importados
diretamente da África. Segundo dados de Barata, em 1813, chegaram 85 cativos oriundos de diversos portos do
Brasil; em 1814, vieram trazidos 268; em 1815, 119 escravos; bem como, em 1816, havia sido notificada a
chegada de 934 cativos, com a informação de apenas serem de “procedência africana e brasileira”, o que dá para
supor que, pelo menos, parte deles viera de outras partes do Brasil [3]. Após a independência, em 1822-1823,
novas isenções de direitos visavam a facilitar o ingresso de escravos negros no Grão-Pará, comercializados a partir
de outras províncias do Império brasileiro. Na província paraense, segundo Salles:

Levas sucessivas, embora pouco numerosas, aí chegaram, procedentes do Rio de Janeiro,


Bahia, Pernambuco, Ceará e, sobretudo, do Maranhão. Via de regra, o transporte pelos
sertões se encaminhava diretamente ao Maranhão. Daquela praça, também pelos sertões,
o negro era conduzido para o Pará. No caminho entre as duas capitanias, depois
províncias, a povoação de Ourém floresceu como entreposto ou estância [4].

Embora Salles tenha realçado o tráfico via terrestre até o Maranhão e daí até o Pará, através do sertão,
destacando a importância de Ourém, no Nordeste paraense, como entreposto (ver Mapa VI a), o mesmo se fazia
fundamentalmente via navegação de cabotagem entre as praças mercantis de Rio de Janeiro, Bahia, Pernambuco,
Maranhão e Pará (ver Mapa VI b). De uma forma ou de outra, no entanto, a partir da década de 1840, é certo que a
demanda da economia amazônica por escravos seria atendida pelo tráfico interno. Tráfico interno que, em curso
com alguma importância desde pelo menos as últimas décadas do século XVIII, até o início da década de 1850,
enquanto houve o tráfico transatlântico entre o Brasil e a África, não deixava de ser parte do tráfico internacional
ou atlântico de escravos ou ligado subsidiariamente ao mesmo.
Somente com a proibição efetiva do comércio atlântico brasileiro de africanos escravizados, na década de
1850, o tráfico interno de escravos entre as diversas parte do Brasil passou a ganhar dimensão própria, ficando
então usualmente conhecido como tráfico interprovincial dentro da história do Império, ainda que, é verdade, não
tenha ocorrido somente tráfico entre as províncias, mas igualmente tráfico intermunicipal ou entre regiões de uma
mesma província, havendo, por exemplo, a venda de escravos urbanos para as áreas rurais em expansão econômica
ou dos municípios com economia em declínio ou menos dinâmicas para aqueles com economias mais vibrantes ou
em expansão. Assim, por exemplo, ocorreu inicialmente entre áreas urbanas e rurais, ou ainda entre municípios do
Sudeste cafeeiro. Aliás, era frequente que o tráfico entre regiões ou municípios de uma mesma província viesse a
ocorrer antes ou ao mesmo tempo que o tráfico interprovincial ou inter-regional. Havia também o tráfico
intrarregional, ou seja, aquele entre províncias de uma mesma região, tal qual o comércio de escravos entre as
províncias da região Sudeste ou entre aquelas da região Nordeste. Enfim, essas diversas variantes do tráfico
interno brasileiro de escravos, que guardava algumas semelhanças com o tráfico atlântico de escravos, bem como
com o tráfico interno de escravos ocorrido nos Estados Unidos na primeira metade do século XIX, não se excluem,
mas, se sobrepondo, criavam rotas de comércio intermunicipais ou intraprovinciais, interprovinciais ou inter-
regionais ou, ainda, intrarregionais que, muitas vezes, existiam em disputa pela mão de obra escrava, sendo
exemplo disto, porém não o único, as disputas em determinado momento entre as áreas açucareiras do Nordeste e
o distante Sul cafeeiro por escravos urbanos de cidades nordestinas, incluindo aí as capitais. Enfim, o tráfico
interprovincial de escravos, embora fazendo parte constitutiva e constituinte de um mercado nacional de escravos,
não possuía uma só direção no sentido Norte/Nordeste → Sudeste, em larga medida, e Sul → Sudeste, em menor
medida, visando ao abastecimento com trabalhadores escravos da economia cafeeira das províncias de Rio de
Janeiro, São Paulo, Espírito Santo e Minas Gerais, principalmente das duas primeiras. Robert Slenes, inclusive,
apontou como característica do tráfico interno de escravos brasileiro a existência de pelo menos dois importantes
eixos de transferência de mão de obra cativa: uma, intrarregional, entre províncias nordestinas em função da
economia açucareira, e outro em torno da economia do café no Centro-Sul. Havia ainda uma terceira via interna de
comércio de escravos, ainda que menos importante, como ficou demonstrado no Gráfico I, reproduzido aqui de
Slenes, entre as províncias nordestinas e o Grão-Pará, sobre o que se tratará mais adiante. O que não quer dizer
que, havendo rotas internas de escravos sobrepostas e/ou conflitantes, não tenha ocorrido, no plano nacional, uma
maior importância do tráfico interprovincial no sentido Norte/Nordeste → Sudeste e Sul → Sudeste [5]

Durante a segunda metade do século XIX, mais precisamente entre 1850 e 1881, Robert Slenes calculou
que, via tráfico inter-regional ou interprovincial, cerca de 222,5 mil escravos, com média anual de 7,2 mil cativos,
foram transferidos no tráfico interno com destino ao Centro-Sul, sendo que 65 mil ou cinco mil por ano entre
1850-1863; 67,5 mil ou 7,5 mil por ano entre 1863-1872; e 90 mil ou nove mil ao ano entre 1872 e 1881.
Algarismos que poderiam alcançar uma cifra em torno de 400 mil escravos negociados ou transferidos, na sua
totalidade, se considerado igualmente o número daqueles negociados via tráfico intraprovincial ou entre
municípios, bem como entre províncias de uma mesma região ou intrarregional, uma vez que os números
apontados acima, da ordem de 222,5 mil escravos, tratam somente do comércio entre províncias nortistas,
nordestinas e sulistas com o Centro-Sul cafeeiro que, embora a mais importante modalidade de tráfico interno, não
era a única. O próprio Slenes, aliás, admitiu algo em torno de 400 mil escravos em termos mais globais, cifra que
Robert Conrad considerou igualmente mais próxima da realidade. Conrad, inclusive, citando relatório do
Ministério da Agricultura de abril de 1885, afirmou que, ao longo dos 11 anos em meio seguintes a 30 de setembro
de 1873, “não menos que 383.996 escravos eram dados como transferidos de fora para os municípios da nação, e
329.392 foram registrados como tendo deixado esses municípios”. Isto é, um volume significativamente alto de
cativos havia sido transacionado e, portanto, transferido ao longo de boa parte da década de 1870 e primeira
metade da década de 1880. Foi aproximadamente durante essa época, entre 1872 e 1881, que, aliás, Slenes apontou
o maior volume de tráfico de escravos para o Centro-Sul cafeeiro, favorecido pela expansão da economia cafeeira
que demandava maior número de trabalhadores cativos, ao mesmo tempo que o declínio dos preços do açúcar e do
algodão afetava as economias escravistas nordestinas, diminuindo sua capacidade de disputar escravos com as
plantações de café do Sudeste, bem como o declínio do preço do charque afetava a economia escravista sulista,
tornando-a menos resistente à perda de seus escravos [6]. No tocante à economia amazônica, em particular a
economia escravista paraense e sua relação com o comércio interno de escravos brasileiro, isto será comentado
agora.

Durante grande parte do século XIX, particularmente entre 1850 e 1881, período, por um lado, inaugurado
pela Lei Eusébio de Queiroz, que coibiu efetivamente o tráfico transatlântico de escravos entre o Brasil e a África,
determinando o tráfico interno como única modalidade possível, e, por outro, por várias leis provinciais aprovadas
entre 1880 e 1881, taxando pesadamente os escravos importados de outras províncias, o que inviabilizava então o
tráfico para as regiões cafeeiras, as estatísticas sobre o volume do tráfico interno dentro do Grão-Pará ou entre este
e as demais províncias brasileiras ainda não existem em larga medida disponíveis, uma vez que, até agora, faltam
pesquisas mais detalhadas [7].

No entanto, considerando os dados já existentes para as últimas décadas da escravidão, é possível indicar
alguns pontos relativos ao tráfico interno de escravos, através do principal porto de entrada da região amazônica,
ou seja, a cidade do Pará ou Belém. Através desta, o tráfico interno de trabalhadores escravos abastecia as
necessidades do mercado de trabalho dos diversos pontos da Amazônia, continuando a ser interprovincial quando
realizado entre o Grão-Pará e o Amazonas a partir da década de 1850, época em que foi criada a província
amazonense, ou se tornando intermunicipal ou intraprovincial quando realizado entre Belém e demais municípios
paraenses. Podem ser citados alguns exemplos: somente no ano de 1869, o vapor brasileiro “Arary” levou de
Belém para Manaus e escalas cinco escravos [8]; da mesma forma que o vapor “Belém” havia levado para a capital
amazonense uma escrava, como parte dos cativos negociados entre essas províncias [9]. Ainda neste ano, já como
parte do tráfico interno intraprovincial paraense, o vapor brasileiro “Inca” levou de Belém para Cametá uma
escrava [10]; o vapor brasileiro “Óbidos” levou de Belém para Óbidos duas escravas [11]; e o vapor “Guamá”
levou de Belém para Portel e escalas um escravo [12].

Vale observar que, ao longo da segunda metade do século XIX, o tráfico interno brasileiro de escravos era
realizado em navios de linhas de vapores regulares que ligavam as diversas e principais capitais brasileiras, dentre
elas Belém, Recife, Salvador e Rio de Janeiro, tocando ainda capitais ou cidades como São Luís e Santos. Apesar
do volume de escravos negociados ao longo de 1850 a 1881, cerca de 400 mil cativos, não havia navios negreiros
especializados, conhecidos como “tumbeiros”, fazendo ou realizando o tráfico interno brasileiro de escravos,
embora houvesse firmas comerciais ou agentes particulares comissionados encarregados desse comércio com
ramificações pelo Império brasileiro. Contou Conrad que, em 1880, na Câmara dos Deputados, na Corte (Rio de
Janeiro), o abolicionista Joaquim Nabuco afirmou que “não se podia viajar nos paquetes da Companhia Brasileira
de Vapores sem estar na companhia de escravos destinados à venda no sul” [13]. Mas não deve ser esquecido que,
embora parte importante do comércio interno de escravos brasileiro fosse realizada via navegação marítima, parte
dele foi conduzido por comboios em terra, principalmente em regiões em que a via terrestre era sempre uma opção
vantajosa.

No caso da região amazônica, em que pese o comércio de cativos via terrestre entre o Pará e as demais
províncias, passando por Ourém, para além daquele feito dentro da própria província, boa parte dele fora feito
através dos navios que aportavam em Belém, oriundos de outros lugares do Brasil, quando não ligavam o Porto de
Belém ao de Manaus e escalas ou aos diversos pontos da província paraense. Aliás, a introdução da navegação a
vapor no Rio Amazonas e em seus principais afluentes, em 1853, tornou-se fator importante para incremento ou
fomento, bem como a dinamização das atividades comerciais nas províncias amazônicas, entre elas, dentro delas e
com as demais partes do Império do Brasil.

O comércio interno brasileiro de escravos na região amazônica, realizado em grande medida por intermédio
de seus caminhos fluviais, como quase toda atividade mercantil de importância na região, obviamente fora
favorecido pela introdução da navegação a vapor nos rios amazônicos, sendo através dos navios das linhas
regulares de empresas proprietárias de embarcações a vapor, ou “vapores”, como ficaram conhecidas tais
embarcações, que se transportavam os escravos negociados por meio do tráfico interno.

Observando-se os dados subtraídos da seção “passageiros”, publicada com regularidade no jornal Diário do
Gram-Pará, referente aos anos de 1867/1873 e 1881, ainda que bastante precários e incompletos, é possível
vislumbrar o papel da capital paraense como receptora e distribuidora da mão de obra escrava na província, não
apenas fornecendo trabalhadores como importando os mesmos das demais regiões interioranas. Neste sentido,
inclusive, os números elencados indicam uma ligeira maioria de cativos destinados às diversas localidades do
território do Pará em relação àqueles importados pelo mercado urbano de Belém, tal como se apresentam na Tabela
XI. Para os anos entre 1867 e 1873 e de 1881, foram despachados 119 cativos de Belém para as seguintes regiões:
Marajó, com maior número (75); Baixo Tocantins (27); Médio Amazonas (15); e Amapá/Mazagão (dois);
enquanto vieram 92 escravos para Belém, sendo 49 despachados do Marajó; 17 do Médio Amazonas; 13 do Baixo
Tocantins; nove do Nordeste do Pará; e quatro do Amapá/Mazagão, sendo que as regiões do Baixo Tocantins e
Marajó possuíam saldos positivos, isto é, ganharam mais do que perderam no comércio de escravos com Belém, ao
passo que as demais regiões do Médio Amazonas, nordeste paraense e Amapá/Mazagão tiveram saldos negativos,
perdendo mais do que ganhando, ou apenas perdendo, no caso do nordeste do Pará, em relação ao comércio de
cativos com Belém.

As regiões indicadas nesta tabela, por sua vez, constituíam-se nas principais áreas de concentração da
população escrava na província paraense, além da região Guajarina e cercanias de Belém, caracterizadas como
zonas de engenhos de açúcar, fazendas de diversos cultivos, dentre eles o cacau, além das de criação de gado [14].
Assim sendo, não é nada estranho que a circulação de trabalhadores escravos haja ocorrido com maior frequência
por entre as mesmas, através de linhas regulares de vapores que navegavam no Rio Amazonas e seus afluentes,
conforme os registros de saída e entrada de “passageiros” obtidos nas páginas do Diário do Gram-Pará.

Levando-se em consideração que, espacialmente, a maior parte da população cativa da província paraense
se encontrava localizada em áreas rurais, tanto que, pelos dados do censo de 1872, 85% dos escravos aí viviam e
somente 15% nas áreas urbanas, não é estranho, portanto, que, segundo o mesmo censo de 1872, o número de
cativos dados como trabalhadores agrícolas ou lavradores representasse pouco mais de um terço (10.956 sujeitos)
do universo populacional de 27.458 escravos recenseados, havendo ainda a possibilidade de outros cativos que,
não identificados como lavradores, pudessem ter alguma relação de trabalho com o mundo rural, como no caso
daqueles sem profissão definida (8.897 sujeitos), totalizando pouco menos de um terço da referida população [15].
Levando-se ainda em conta que as atividades agrícolas e criatórias, existentes nas regiões paraenses com maior
concentração de escravos, com o desenvolvimento da economia da borracha ao longo da segunda metade do século
XIX, foram favorecidas com a expansão do mercado provincial, bem como mantiveram a capacidade de
exportação de seus produtos apesar do agigantamento dos negócios da borracha, o que garantia sua capacidade
econômica de retenção de boa parte de seus cativos, mas, também, de importação de escravos de outras áreas da
província ou de fora dela, compreendem-se as razões que explicam por que algumas áreas, como o Baixo
Tocantins, tradicional área de lavoura açucareira, além de outros plantios como o cacau, ser região com ganho
líquido em suas transações relativas ao tráfico interno de escravos, conforme a tendência apontada pelos dados da
Tabela XI [16].

Entretanto, outros escravos enviados de outras províncias para o Norte do País pareciam terminar sua
viagem na capital paraense ou no Município de Belém. Neste sentido, há algumas indicações: no vapor “Odorico
Mendes”, vieram dois escravos do Maranhão [17]; no “Tocantins”, chegavam sete escravos do Rio de Janeiro [18].
No escritório do agente comercial Almeida, por exemplo, nos idos da década de 1860, os negócios envolvendo
trabalhadores cativos importados de outras províncias eram fechados. Certa vez, em 1869, Almeida anunciou o
leilão de “uma escrava vinda de fora” [19]; em outro momento, ainda em 1869, leiloou “duas escravas, pretas,
moças, vindas do Maranhão, uma delas cozinha bem, lava e engoma” [20]. Outros sujeitos, no entanto, também se
dedicaram, ao longo das décadas de 1850 a 1880, ao comércio de venda e de compra, inclusive consignada, de
escravos vindos de outros lugares e desembarcados em Belém. Tal comércio era feito em suas lojas ou armazéns
situados na cidade, em cujos estabelecimentos, embora alugassem, vendessem ou comprassem cativos, também era
comum a negociação de outros produtos por parte de tais agentes mercantis [21].

Ainda sobre o comércio interno de escravos, utilizando os dados constantes da seção “passageiros”, pode-
se parcialmente conhecer alguns números relativos ao tráfico interprovincial envolvendo as províncias do Pará,
Amazonas, Maranhão e Rio de Janeiro, dentre outras. Os dados disponíveis indicam uma supremacia da
importação de escravos sobre a sua exportação, constituindo-se o porto da capital paraense em mercado atraente
aos negociantes da mão de obra escrava, que nem sempre procuravam vender a sua mercadoria humana aos ávidos
cafeicultores do Sudeste do País.

Segundo os dados da Tabela XII, a província paraense aparece como importadora de escravos, visto que
havia vendido 185 cativos para outras províncias e importado delas 262, ao longo dos anos de 1867 a 1873 e de
1881, ainda mais quando havia legislação provincial coibindo a prática de exportação dos mesmos, através da
taxação de impostos sobre a saída de cativos [22]. Nesta perspectiva, existe a possibilidade da relativização da
historiografia tradicional, cujos argumentos acerca do tráfico interprovincial sustentam tratar-se de trânsito de mão
única, no sentido norte-sul, ou periferia-centro, rumo às fazendas de café. Na verdade, não se pode negar o
processo de transferência de expressivos contingentes de trabalhadores escravos das regiões nortistas ou
nordestinas e sulistas em direção ao Centro-Sul. Porém, os números, mesmo que provisórios, no caso do Pará,
permitem pensar a existência de outras rotas, ainda que houvesse perda de trabalhadores cativos do Pará rumo ao
Sudeste cafeeiro. Segundo dados da Tabela XII, à exceção do Amazonas (Manaus e escalas) e do Maranhão, que
receberam de Belém 55 e 26 escravos respectivamente, mas enviaram para a capital paraense 51 e dez cativos
também respectivamente, os dados sobre os negócios envolvendo o tráfico de escravos entre a província paraense
com as demais localidades, no caso os portos do Sul e nordestinos (Rio de Janeiro e escalas), demonstram uma
tendência favorável à praça comercial de Belém. Ou seja, enquanto o porto da capital paraense expediu 97
escravos na direção do Centro-Sul, recebeu dessa região e demais escalas intermediárias quase o dobro de cativos,
exatamente 172. Assim sendo, o tráfico interprovincial possuía alguma importância no processo de alimentação da
força de trabalho escrava na Amazônia.

É verdade que, fazendo uso de forma tão preliminar dos dados obtidos na seção “passageiros”, publicada
pela imprensa, as análises indicadas revelam-se apenas como tendências do volume e dos movimentos dos
negócios envolvendo o tráfico interno de escravos entre o Grão-Pará e as demais unidades políticas do Império.
Todavia, é possível crer que tais tendências possam efetivamente ter demonstrada a validade de suas assertivas. Em
primeiro lugar, o uso do registro de entrada e saída das embarcações com as suas respectivas listagens de
“passageiros”, publicado pelos jornais com certa regularidade, constitui-se como fonte documental importante para
revelar senão o volume aproximado dos escravos envolvidos no tráfico, pelo menos delinear suas tendências.
Emília Viotti da Costa, por exemplo, em sua importante obra Da senzala à Colônia, já havia indicado esta
possibilidade quando tratou do estudo do tráfico interprovincial no tocante às províncias do Centro-Sul, tomando
como referência o ano de 1879 [23]. Em segundo lugar, à medida que diversas províncias, particularmente as
cafeicultoras, adotavam medidas restritivas ao tráfico interno, taxando pesadamente os escravos ingressos nas
mesmas, o Grão-Pará tornava-se cada vez mais um mercado bastante promissor aos traficantes de escravos, tanto
em face da ausência de leis provinciais restritivas à entrada de escravos na província paraense, somente aprovadas
em 1883, quanto em razão dos bons preços obtidos pelos cativos no mercado de Belém. Esta situação, já indicada
por Robert Conrad em Os últimos anos da escravatura no Brasil [24], também pode ser confirmada pelos estudos
realizados por Robert Slenes, em sua tese The demography and economics of Brazilian slavery: 1850-1888. Neste
trabalho, Slenes demonstrou que, entre 1871 e 1885, os preços pagos em média pelo trabalhador escravo a ser
libertado pelo fundo de emancipação na província paraense representavam 77% do valor pago aos cativos
alforriados pelo referido fundo em São Paulo [25]. Assim sendo, em face de um mercado cada vez mais restrito
para os negócios envolvendo o tráfico interno, tornava-se o Grão-Pará um espaço proporcionalmente mais atraente
aos traficantes, particularmente durante os primeiros anos da década de 1880.

Neste contexto, desde 1881, o Diário de Notícias publicava uma pequena e sugestiva coluna chamada
“Pelle Negra”, dedicada à denúncia do comércio de escravos na cidade de Belém. Dizia o jornal abolicionista:
“Nos consta que são esperados no próximo vapor nacional, á entrar do sul, cento e tantos escravos, para aqui serem
vendidos. E viva a assembléa!”. [26] Em outra oportunidade alardeava: “O vapor ‘Bahia’ trouxe 13 escravos para
serem vendidos n’esta província, graças à protecção facultada pela assembléa aos especuladores d’essa torpíssima
indústria” [27]. Na verdade, o jornal, que havia fechado as suas páginas aos anúncios de comércio e fuga de
escravos [28], não cansava de criticar a Assembleia Provincial, por não coibir os negócios do tráfico
interprovincial: “O vapor ‘Pará’ trouxe para esta província 12 infelizes escravos, que serão vendidos a quem mais
der, graças à nossa patriotica assembléa [29]. O periódico abolicionista também não poupava os mercadores de
escravos. Desta forma, denunciava os comerciantes de escravos: “Nos consta que, no vapor ‘Pernambuco’, vieram
do Maranhão 4 escravos à consignação de um sr. Martins, actualmente o principal importador d’essa mercadoria”
[30]. Baseado nos números publicados na coluna “Pelle Negra”, durante os meses de julho/novembro de 1881,
nota-se que houve a entrada de 74 escravos na cidade de Belém, sem que o Diário de Notícias tenha se preocupado
em registrar ou, até mesmo, denunciar aos leitores a saída de escravos para outros portos do Império. Talvez o
problema fosse a importação da “Pelle Negra”, que viesse comprometer o almejado progresso da província, ao
invés de sua evasão. De qualquer forma, os dados publicados nas páginas do referido jornal abolicionista indicam,
mais uma vez, a situação do Porto de Belém como zona importadora de trabalhadores escravos, atraindo os
negócios da escravidão.

De fato, trabalhando com os dados constantes nas matrículas especiais de escravos, que foram realizadas
por conta das leis emancipadoras de 28 de setembro de 1871 e de 28 de setembro de 1885, Robert Slenes
demonstrou que a economia escravista da província do Grão-Pará não foi afetada pela evasão de cativos em
direção ao Centro-Sul, por meio do tráfico interprovincial, da mesma forma que havia sido outras províncias do
Nordeste ou do extremo Sul. Segundo dados auferidos por Slenes, entre 1873 e 1885, o total de entradas de cativos
nos municípios paraenses havia sido de 5.502 indivíduos, enquanto a saída fora de 4.593 pessoas, sendo esta
última cifra ajustada por Slenes para 5.027. Assim sendo, subtraindo-se o número de saídas em relação à
quantidade de escravos ingressados, em vez de perda, havia uma entrada de cativos na província paraense na
ordem de 475 indivíduos, através do tráfico negreiro interno, no período em questão.

Durante os anos de 1870, Slenes também demonstrou que, se de um modo geral as províncias do Norte,
Nordeste e Sul abasteciam as demandas por escravos das províncias do Centro-Sul via tráfico, o Grão-Pará, ao
lado de Maranhão, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia, também havia se tornado polo de mercado escravista
intrarregional, abastecido pelas exportações de cativos oriundas de Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba,
sendo que, entre tais províncias importadoras de escravos em nível intrarregional, a paraense destacava-se como a
que possuía a maior média de preços pagos por cativo. O Grão-Pará, inclusive, como demonstrado no Gráfico I,
também importava escravos do Maranhão [31]. Ou seja, os dados arrolados e analisados em Slenes permitem que
seja possível pensar que as tendências aqui indicadas realmente possam ser validadas no tocante à percepção de
que o tráfico interprovincial de escravos pode suprir, mesmo que insatisfatoriamente, as demandas da economia
paraense por trabalhadores cativos, inclusive não havendo perda significativa destes quando do tráfico em favor
das províncias cafeicultoras.

Robert Conrad, por sua vez, em sua obra denominada Tumbeiros. O tráfico de escravos para o Brasil, já
citada, corroborou a assertiva de que a província paraense, da mesma forma que a amazonense, ambas beneficiadas
pelos negócios da borracha, registrara ganho líquido de cativos quando do comércio interno brasileiro de escravos.
Baseado em dados dos relatórios do Ministério da Agricultura, datados de 1884 e de 1885, Conrad demonstrou
que, durante aproximadamente os 11 anos subsequentes a 30 de setembro de 1873, enquanto a província do
Amazonas registrou a entrada de 602 cativos e a saída de 258, com ganho líquido de 344 escravos, a província
paraense assinalou a entrada de 5.207 cativos e a saída de 4.758, com ganho líquido de 449 escravos, número este,
portanto, próximo ao apontado por Slenes, que indicou a entrada de 5.502 escravos, a saída de 5.027, com ganho
de 475. É verdade, no entanto, que Conrad, em seu livro Os últimos anos da escravatura no Brasil, apontou, no
caso paraense, para 1874-1884, com base no relatório do Ministério da Agricultura de 1884, saldo líquido de 663
cativos. Todavia, considerando que os dados apresentados em seu outro livro (Tumbeiros. O tráfico de escravos
para o Brasil) estão corrigidos pelo autor, deu-se preferência a esses, isto é, ao valor de ganho de 449 escravos.
Lembra-se, ainda, que, havendo a entrada e a saída de centenas ou milhares de cativos em cada uma das províncias
brasileiras, com algumas delas sofrendo perdas significativas em valores absolutos ou proporcionais, enquanto
outras conheciam perdas menores ou, até mesmo, ganhos líquidos de cativos, tais como Mato Grosso e Goiás,
segundo Conrad, para além obviamente das províncias cafeeiras do Centro-Sul, é possível compreender a
dimensão e a importância do tráfico interno brasileiro de escravos e o quanto ele afetou quantidade expressiva de
trabalhadores cativos. Afinal, durante cerca de 11 anos, somente para ficar no caso do Grão-Pará, nesta província
ingressaram 5.207 cativos, com uma média de pouco mais de 473 escravos ao ano, e saíram 4.758, com média
pouco acima de 432 escravos ao ano. Por outro lado, de acordo com Conrad, dentre as províncias não cafeeiras
com ganho líquido de escravos, o Grão-Pará foi a que recebeu número mais significativo de cativos, até porque,
como observou esse historiador, no mercado de Belém do Pará, “a procura de escravos continuava forte mesmo
depois de o comércio ter terminado em outros portos do norte e para o qual todos os vapores ainda transportavam
escravos até 1882” [32]. Já segundo dados de Slenes, para além da província paraense, somente Pernambuco, em
razão da economia açucareira, com saldo de 1.772 cativos; Espírito Santo, com saldo de 3.161 escravos; Rio de
Janeiro, com saldo de 26.373 cativos; e São Paulo, com saldo de 30.806 cativos, por conta da economia cafeeira; e
a Corte ou cidade do Rio de Janeiro, com saldo de 6.539, porto de entrada para áreas do café e capital do Império,
foram as províncias que obtiveram ganhos líquidos de escravos entre 1873 e 1885, obviamente maiores que o
Grão-Pará, quando do tráfico interno de escravos [33].

Sobre o assunto, ainda pode ser dito que, entre 1872 e 1885, período de maior envergadura do tráfico
interno brasileiro de escravos, conforme dados da Tabela XIII, entre os anos de 1872 a 1876, houve perda líquida
de 50 cativos pela província grão-paraense, com a saída de 647 cativos e a entrada de 597. Entretanto, já no
período de fins de 1876 até final de 1878, ao longo de dois anos, portanto, o número de escravos ingressados
somou 1.819 indivíduos, enquanto o volume de saídos fora da ordem de 1.445, havendo, então, ganho líquido de
374 cativos, revertendo e superando, assim, o período de perdas iniciais da década de 1870.

A partir do início de 1879 até 30 de junho de 1885, o volume de cativos ingressados cresceu de forma
significativa, sendo da ordem de 3.086 indivíduos, embora também tenha ocorrido o aumento de cativos saídos,
sendo o seu número da não menos de 2.501 e não mais que 2.935 escravos, ainda que, de qualquer forma, valores
inferiores ao de ingressados na província grão-paraense, havendo, portanto, saldo líquido positivo de não menos de
151 ou não mais que 585 cativos. É válido observar que este último período foi marcado pela retomada do
movimento abolicionista e sua pressão sobre o tráfico interno de escravos, como já dito aqui, visando ao seu
término, sendo igualmente período marcado pela aprovação, em várias províncias, como já comentado, de leis
orçamentárias taxando pesadamente a importação de cativos de outras províncias, o que tornou proibitivo esse
comércio. Ainda observando os dados da Tabela XIII, verifica-se que, de 1872 até meados de 1885, ingressaram
no Grão-Pará 5.502 cativos, saíram não menos que 4.593 e não mais que 5.027, havendo, no geral, saldo líquido de
ganho de 909 ou 475 cativos, dependendo da estimativa considerada.

Enfim, como a diferença entre a entrada e a saída de escravos na província paraense, ao longo dos anos de
1873 e 1885, com ganho líquido de 475 cativos, segundo Slenes, ou 449, de acordo com Conrad, não foi grande,
qual a sua importância? Em primeiro lugar, reconhecer que a economia paraense, favorecida pela expansão dos
negócios da borracha, foi capaz não apenas de reverter suas perdas de cativos para outras províncias brasileiras,
mas de reter parte de sua escravatura, se constituindo em mercado, ainda que secundário ou residual, em escala
intrarregional de atração de trabalhadores cativos, ao que tudo indica principalmente oriundos, em larga medida,
das províncias nordestinas, em momento conjuntural desfavorável à economia açucareira ou algodoeira. Embora
seja válido enfatizar que maior parte dos cativos despachados pelas províncias nordestinas tivesse como destino
privilegiado o Centro-Sul cafeeiro, da mesma forma que os escravos despachados pelo Porto de Belém para fora
da província paraense, ainda que o Grão-Pará tenha sido um fornecedor secundário ou de menor importância no
tocante ao envio de cativos para as províncias cafeicultoras, destacam-se nesse movimentado comércio as
províncias do Ceará, da Bahia, de Pernambuco e do Rio Grande do Sul, dentre outras, além da própria Corte ou
cidade do Rio de Janeiro.

Em segundo lugar, perceber que seu pequeno ganho líquido, permitindo apenas repor com pequena
vantagem as perdas sofridas, se constituíra em condição importante para que, ao menos nos anos entre 1872 e
meados de 1885, o tráfico interno não tenha se constituído em fator de diminuição da população escrava existente
na província grão-paraense, sendo então as principais causas de suas perdas os falecimentos e as alforrias,
principalmente estas à medida que se avançava a década de 1880, como será comentado no capítulo seguinte.

Da mesma forma que favoreceu, em terceiro lugar, ao longo da segunda metade do século XIX, para que
houvesse uma proporção mais equilibrada entre homens e mulheres escravos na província paraense, com vantagem
do segmento feminino, uma vez que grande parte do volume de escravos negociados no tráfico interprovincial era
constituída de homens adultos jovens. Isto é, caso houvesse uma grande diferença entre cativos egressos e
ingressados na província, no caso de ganho líquido, tenderia a haver desequilíbrio entre homens e mulheres, em
favor daqueles; e, no caso de perda, um número bem maior de mulheres cativas do que homens na província.

Algo similar seria possível ainda pensar, em quarto lugar, no tocante à preservação do equilíbrio no seio da
população escrava de sua distribuição ao longo das faixas etárias, considerando-se que a maior parte dos escravos
transferidos pelo comércio interno brasileiro de cativos situava-se entre dez e 40 anos, embora seja forçoso admitir
que, neste caso, análises mais refinadas e precisas ainda carecem ser construídas para alguma conclusão mais
definitiva [34]. No momento, portanto, cabe encerrar este capítulo em busca do seguinte.
4
Etnia e população escrava no Grão-Pará:
origens africanas, mestiçagem e demografia

Nas últimas décadas do século XVII, quando se iniciou o tráfico de africanos escravizados direto entre a
África e a região amazônica, o território da Senegâmbia ou Alta Guiné, na África Ocidental, já havia deixado de
ser área fornecedora de escravos para o restante da América portuguesa, predominando então as rotas com destino
à Costa da Mina, na África Ocidental, e para as regiões do Congo-Angola, na África Centro-Ocidental. No entanto,
houve o restabelecimento da rota de importação de cativos africanos da Senegâmbia quando do tráfico para o
Maranhão e Grão-Pará, constituindo singularidade do tráfico para a região amazônica a importação de africanos
escravizados dessa região da África Ocidental, predominando o mesmo até a segunda metade do século XVIII.
Saíam, então, os navios de Lisboa, alcançavam a costa da Senegâmbia ou da Alta Guiné, negociavam escravos a
partir das feitorias, dirigiam-se para a região amazônica portuguesa, favorecidos pelas rotas marítimas, vendiam
em São Luís e/ou Belém os cativos e, abastecidos com cargas locais, retornavam para Portugal (ver Mapa I) [1].
Assim sendo, desde os fins do século XVII e o início do XVIII, os primeiros africanos oriundos da região da Guiné
Bissau, do Cachêu e das Ilhas do Cabo Verde já haviam sido introduzidos pelos portugueses no antigo Estado do
Maranhão e Grão-Pará. Daí que, entre 1682 e 1698, vieram trazidos para o Grão-Pará 496 cativos da Senegâmbia;
ao passo que, entre 1702 e 1755, chegaram outros 1.311 africanos escravizados dessa mesma região, ainda que o
primeiro registro de ingresso de escravos africanos para o Grão-Pará, datado de 1680, desse como procedência dos
350 cativos a região de Angola, na África Centro-Ocidental. Mesmo assim, havia de ser nesse momento
experiência única, sendo a mesma compreensível no período em que a região da Angola era importante área de
fornecimento de cativos para o Brasil, de modo que havia, desde então, claramente o predomínio da importação de
escravos da Senegâmbia, na África Ocidental, quando do restabelecimento dessa rota de importação de africanos
escravizados.

A partir da segunda metade do século XVIII, no período compreendido pela atuação da Companhia Geral
do Grão-Pará e Maranhão, entre os anos de 1755 e 1778, Manuel Nunes Dias informou que a “Guiné (Cachêu e
Bissau) e Angola, respectivamente acima e abaixo do Equador, eram os grandes mananciais de trabalhadores para
as terras agricultadas do norte do Brasil”, com predominância dos cativos oriundos das praças da Guiné [2].
Segundo Dias, desde a organização de forma efetiva da “rota negra”, em 1757, até o ano de 1777, ingressaram no
então Estado do Grão-Pará e Maranhão 9.229 escravos oriundos do Porto Bissau; 8.362 exportados por Cachêu; e,
por último, 7.774 cativos despachados em Angola [3]. Revendo esses números, considerando-se somente os
cativos africanos ingressos no Grão-Pará, conforme dados da Tabela VI, entre os 17.627 escravos trazidos pela
Companhia pombalina, somente sobre 300 não há informação a respeito do local de origem, sendo que 10.026
foram trazidos da região da Senegâmbia, na África Ocidental, enquanto 7.301 vieram despachados de Benguela ou
Luanda, na África Centro-Ocidental, sendo que o primeiro carregamento dessa área ocorreu ainda em 1757.

A partir, portanto, da segunda metade do século XVIII, ainda que houvesse o predomínio da rota triangular
Lisboa → Senegâmbia/África Ocidental → Grão-Pará → Lisboa, já se inaugurava efetivamente a rota igualmente
marcada pela triangularidade no sentido Lisboa → Congo-Angola/África Centro-Ocidental → Estado do Brasil →
Grão-Pará → Lisboa (ver Mapa II), obedecendo, nesse caso, ao curso das rotas marítimas, cujo conhecimento
aconselhava, saindo de Lisboa, descer a costa africana até o Congo-Angola, depois navegar mais ao sul em direção
ao litoral do Estado do Brasil para, então, ao longo de seu litoral, alcançar o norte do Atlântico rumo ao litoral do
Maranhão e Grão-Pará.

Anaíza Vergolino, aliás, já havia sugerido que, entre os anos de 1753 e 1775, houve a predominância da
importação de cativos de Bissau e Cachêu. Posteriormente, por volta de 1775 até cerca de 1795, diminuiu a
referida importação da Guiné com aumento do volume de africanos oriundos da região de Angola. Além disso, a
partir de 1795 até os primeiros anos do século XIX, houve o predomínio dos negros importados de Angola e
Moçambique [4]. Ou seja, somente em fins do século XVIII e início do XIX, ocorreu o fornecimento de escravos
africanos dos portos da costa oriental africana para a Amazônia portuguesa, segundo havia suposto Anaíza
Vergolino. Tomando-se como referência os dados constantes no Slavery Voyages, é possível constatar que, no
período de 1778 a 1799, após fim do monopólio da Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão, houve ainda o
predomínio dos cativos oriundos da costa ocidental africana, ainda que com número em declive comparativamente
ao período anterior, totalizando 4.219 cativos, sendo que 3.891 da Senegâmbia e 328 vindos da Costa da Mina;
enquanto o número de africanos escravizados originários da África Centro-Ocidental (Loango, Luanda, Benguela)
somavam 3.582, neste momento, valor mais próximo dos cativos importados da África Ocidental (4.219) do que
em relação ao período anterior (ver Tabela V) [5]. Inclusive, se for feito o corte temporal sugerido por Vergolino,
compreendendo o período de 1795 até o início do século XIX, de fato houve o predomínio dos escravos
importados de Angola ou da África Centro-Ocidental, já configurando tendência que viria a ser consolidada ao
longo da primeira metade do século XIX.

Por outro lado, segundo dados do Slaves Voyages, somente há um único registro de escravos oriundos de
Moçambique, na África Centro-Oriental, em 1806, quando foram desembarcados 272 africanos escravizados em
Belém [6]. Ou seja, os escravos oriundos de portos africanos da costa oriental que entraram nessa região, ainda que
fossem mais numerosos, não foram significativos, até porque se tratava de viagem mais distante e demorada, visto
que era necessário contornar o Cabo da Boa esperança, ao sul do continente africano, para alcançar os portos do
outro lado da África (ver Mapa III). Enfim, segundo Anaíza Vergolino, a maior parte da procedência dos escravos
desembarcados no porto de Belém, entre 1753 a 1801, eram as praças africanas de Bissau e Cachêu, na atual
República de Guiné-Bissau; das ilhas de Cabo Verde, atual República do Cabo Verde, na costa ocidental africana;
Luanda, Benguela e Cabinda, na atual República Popular de Angola, na costa centro-ocidental da África (ver
Mapas IV e V); bem como o Porto de Mombaça, na atual República do Quênia; e as regiões ao norte e ao sul do
Rio Rovuna, nas atuais repúblicas da Tanzânia e de Moçambique, localizados na costa oriental africana [7].

Já para o período de 1800 a 1841, ainda segundo dados dos Slaves Voyages, excluindo-se 160 cativos
africanos cuja área de origem é desconhecida, já se sabe que 272 vieram trazidos da África Centro-Oriental,
especificamente de Moçambique, enquanto 2.940 vieram despachados da África Ocidental, região da Senegâmbia,
sendo a grande maioria oriunda da África Centro-Ocidental: 11.320 africanos escravizados. Dentre estes, 10.896
embarcados em Luanda, Benguela e Cabinda; e, da região da Baía de Biafra, Golfo das Ilhas da Guiné, Ilhas de
São Tomé e Príncipe e terras do Gabão, vieram 424 cativos [8]. Número este que, levando-se em conta outras
fontes, foi maior, tanto que, apenas para os períodos de 1804-1806, de 1809-1810, de 1812-1813, 1815-1819, de
1823 a 1824, Maurício Goulart apontou a entrada no Pará de 12.817 cativos oriundos dos portos de Angola [9].
Portanto, no século XIX, a África Centro-Ocidental já havia suplantado em larga medida a África Ocidental como
principal área fornecedora de africanos escravizados para a região amazônica. Além do mais, deve ser considerado
que, desde 1815, o tráfico de escravos português, bem como de outras nações signatárias do Congresso de Viena
(1815), havia ficado proibido acima da Linha do Equador, portanto atingindo o fornecimento de cativos pela
África Ocidental. Tanto que, na primeira metade do século XIX, a maioria dos escravos oriundos dessa região,
2.282 indivíduos, veio no período de 1800 a 1815, sendo carregados ao Grão-Pará, após 1815 e até 1841, 658
escravos na condição de contrabando, uma vez que se tornara atividade ilegal o referido tráfico acima da Linha do
Equador, como já dito. Exemplo disto, em 1822, foi a apreensão, pela marinha de guerra inglesa, do navio negreiro
denominado “Conde de Vila Flor”, certamente em homenagem ao governador português que, à época, dirigia o
Grão-Pará, portador do referido título, já que o dito navio havia embarcado 192 cativos em Bissau e Serra Leoa, na
África Ocidental, com a intenção de levá-los ao Grão-Pará, o que já havia feito com sucesso em anos anteriores,
em 1820 e 1821, quando desembarcara 162 e 159 cativos, respectivamente, oriundos de Bissau.

Lembra-se ainda que, desde 7 de novembro de 1831, o tráfico de escravos brasileiro fora proibido em sua
totalidade, tornando-se atividade de pirataria, o que fazia a prática cair na ilegalidade, embora continuasse a existir
até a década de 1850 como contrabando, quando foi efetivamente combatido pela Lei Eusébio de Queiroz. No caso
da província paraense, persistiu o dito tráfico ilegal até 1841, havendo, então, segundo registros do Slaves Voyages,
dois desembarques conhecidos de escravos africanos contrabandeados diretamente da África para Belém. Um, em
1835, trazendo 507 cativos de Luanda, na África Centro-Ocidental; e, outro, em 1841, trazendo 120 africanos
escravizados das Ilhas de Cabo Verde, na África Ocidental, eventos que totalizaram, então, 627 escravos
desembarcados (ver Tabela VII). Dados estes que, por seu turno, contrastam com a informação prestada no
Parlamento nacional, na sessão de 22 de fevereiro de 1850, pelo deputado liberal Bernardo de Souza Franco, ex-
presidente da província paraense, portanto alguém relativamente bem informado, quando o mesmo dissera, em
discurso no plenário, que no Grão-Pará não havia ingressado desde 1834 um só escravos boçal (africano), visto
que, segundo seu juízo e conhecimento, “em 1834 appareceu lá [no Pará] a última carregação de negros novos, que
achou muita difficuldades em vendê-los” [10]. Teria, então, se enganado duplamente o político paraense: primeiro,
ao confundir o desembarque de 1834 com o de 1835; e, segundo, ignorando o desembarque de 1841? Ou
ignorando os desembarques de 1835 e de 1841, com o pressuposto desembarque de 1834 sendo diferente do de
1835, Souza Franco apenas conhecia o suposto desembarque de 1834? Não se sabe responder.

Sabe-se, no entanto, que nações do grupo banto, representadas pelos escravos embarcados em Angola,
Congo, Benguela, Cabinda e em Moçambique, bem como pelos cativos descritos etnicamente como muxicongos,
maúas ou macuas e caçanjes; nações do grupo sudanês, representada pelos cativos oriundos da Costa da Mina, bem
como pelos fânti-axântis, malis ou maís ou mandingas, fulas, fulupes ou fulupos e bijagós ou bixagôs; e nações do
grupo guineo-sudanês, representadas pelos calabares ou carabás e peuls; além de algumas indicações étnicas
consideradas duvidosas, tais como os barenas ou baranas, lalus ou lalores, pabanas ou babanas, formavam o
universo de etnias africanas compulsoriamente desembarcadas na Amazônia portuguesa, desde fins do século
XVII, ao longo do século XVIII e na primeira metade do XIX [11], havendo, portanto, uma diversidade
significativa de etnias e nações africanas em solo amazônico.

Ressalte-se que, entre fins do século XVII até o início da segunda metade do século XVIII, houve a
presença tão somente dos africanos oriundos da costa ocidental, principalmente da Senegâmbia ou Alta Guiné,
acima identificados como pertencentes ao grupo sudanês e guineo-sudanês, constituindo-se, portanto, nas
primeiras gerações de escravos africanos introduzidos e viventes na região amazônica. A partir da segunda metade
do século XVIII, durante o período de monopólio da Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão (1756-1778),
ainda que houvesse o predomínio de cativos desembarcados da África Ocidental, se iniciou a chegada de novas
etnias do grupo banto oriundas da costa centro-ocidental africana, havendo então mudanças na conformação das
etnias e nações africanas escravizadas no Grão-Pará, o que propiciou o surgimento, de forma significativa, das
primeiras gerações de cativos bantos. Após o fim da Companhia, bem como ao longo das últimas décadas do
século XVIII e o início do XIX, os africanos escravizados oriundos da África Centro-Ocidental se tornavam
maioria, diminuindo, desde então, a quantidade de cativos importados da costa ocidental, que perdeu a sua
importância.

Ao longo da primeira metade do século XIX, ainda que houvesse cativos oriundos da costa oriental
africana, também do chamado grupo banto, sendo reduzido o número de escravos importados da África Ocidental,
já havia um predomínio quase que absoluto dos africanos escravizados importados da costa centro-ocidental do
continente africano, havendo, então, a consolidação da mudança iniciada na segunda metade do século XVIII no
que tange à composição étnica da população escrava africana na Amazônia, com gerações de cativos
predominantemente bantos já adentrando o século XIX.

Os dados constantes em alguns inventários para a primeira metade do século XIX, no tocante ao plantel de
escravos relacionados, são importantes para um melhor conhecimento dessa população africana, corroborando
aquilo que já foi apontado aqui. Em 1837, por exemplo, há o inventário da viúva Inocência Roza de Oliveira,
detentora em vida de alguns bens, dentre eles 40 escravos, sendo 30 africanos e dez nascidos no Brasil,
denominados crioulos. Os cativos africanos constituíam a maioria dos homens, sendo 19 de um total de 25, bem
como a maioria das mulheres, sendo 11 de 15 cativas. Também os africanos eram maioria entre os escravos de
Dona Inocência com idade entre 12 anos e menos de 40, período de maior produtividade do trabalhador cativo, não
havendo então registro de crianças cativas africanas, sendo 16 africanos entre 12 e 34 anos e três acima de 40 anos;
e, por sua vez, nove africanas entre 18 e 31 anos e duas acima de 40 anos. As únicas crianças cativas eram
crioulas: um menino de três anos e duas meninas com quatro e oito anos, respectivamente. A importância dos
cativos africanos na constituição desse plantel, como provavelmente na de outros, também se observa pelos valores
atribuídos aos escravos. Estes representavam 75.13% dos bens deixados pela falecida viúva, no valor total de sete
contos e 220 mil réis, dos quais os cativos africanos somavam mais da metade: quatro contos e 650 mil réis. É
possível observar também que, entre os cativos africanos, 26 indivíduos eram oriundos de lugares ou pertenciam a
etnias da África Centro-Ocidental, assim discriminados: 11 cativos, oito homens e três mulheres, congos; oito, seis
homens e duas mulheres, benguelas; dois escravos angolas; três escravas cabindas; uma cativa caçanje e uma
escrava rebolo. Da África Ocidental, constavam apenas três cativos: um mina; um de Cabo Verde e outro
mandinga. Restava ainda um africano de identificação duvidosa. Os cativos oriundos da costa ocidental africana
perfaziam, portanto, 10% dos africanos pertencentes ao espólio de Dona Inocência, revelando, dessa forma, ao
longo das primeiras décadas do século XIX, o predomínio cada vez maior dos escravos importados da costa
centro-ocidental africana. Tais números são igualmente ilustrativos da presença ainda importante de cativos
africanos na composição da escravaria existente na província grão-paraense desse período [12].

Pode ser dito ainda que, durante o período colonial, particularmente no século XVIII, a população escrava
negra da Amazônia portuguesa era composta por uma maioria de africanos, sendo ainda muito reduzida a
percentagem de escravos nascidos na dita região, até porque, em fins do período colonial, ainda era razoavelmente
recente o estabelecimento regular do tráfico entre a África e o Estado do Grão-Pará e Maranhão. Ou seja, as
primeiras gerações de cativos crioulos na região amazônica devem ter começado a aparecer com maior destaque
durante as últimas décadas do século XVIII, mesmo assim ainda bastante próximas das primeiras gerações de
escravos africanos, com as quais ainda conviveriam enquanto novas levas de africanos eram desembarcadas em
território paraense. Não é à toa, portanto, que somente à medida que se adentrava o século XIX houvesse uma
diminuição cada vez maior dos contingentes africanos no interior da população escrava, inclusive acarretando a
perda de sua importância econômica como mão de obra cativa em comparação com a maior importância atribuída
aos escravos crioulos. Neste sentido, analisando-se a presença de 359 escravos em 31 inventários relativos ao
período de 1850 a 1855, Luciana Batista indicou que a grande maioria desses cativos era constituída de crioulos
(94%), sendo somente 6% africanos, ou seja, não mais que 22 indivíduos. Batista também notou que nenhum
desses africanos tinha menos de 40 anos, sendo que aqueles com mais de 45 anos eram maioria, somando 14 de
um total de 22 cativos. Isto é, uma população pequena e envelhecida; portanto, já sem maior importância produtiva
[13].

Já na segunda metade do século XIX, a diminuição da presença africana entre os escravos na província
paraense avançou significativamente. Segundo os dados do censo de 1872, por exemplo, entre o contingente
populacional escravo no Grão-Pará, formado por 27.458 indivíduos, somente 2% eram africanos, ou seja, 550
pessoas. Na Província do Amazonas, antiga Capitania de Rio Negro adjunta à província paraense, nesse mesmo
ano o coeficiente de escravos nascidos na África também era reduzido, perfazendo 1,3% do total de 966 cativos
então existentes [14]. Analisando-se os dados do censo de 1872, só que apontando número maior de escravos na
província paraense, 31.537 cativos, Conrad indicou o número de 552 escravos africanos, perfazendo pouco mais de
1.75% da população escrava grão-paraense. Ainda segundo Conrad, nesse mesmo ano, no Brasil, a grande maioria
dos cativos africanos existia nas províncias cafeeiras do Centro-Sul, 110,7 mil indivíduos, sobressaindo o Rio de
Janeiro com 56.262, mais da metade desse contingente. Depois, mais distante, em segundo lugar, vinham as
províncias nordestinas, principalmente em função da lavoura açucareira, reunindo 18.084 cativos africanos, com
destaque para a Bahia, que detinha a maior parte deles: 10.281. No Maranhão, província vizinha do Grão-Pará,
dentre seus 74.598 escravos, 1.741 eram africanos. Ou seja, comparativamente a outras áreas importantes de
lavoura, nas quais o tráfico perdurou mais tempo e teve maior volume de cativos ingressos, obviamente que o
número da população escrava africana existente na província grão-paraense seria bem menor, tanto que, em 1872,
havendo no Brasil ainda 138.560 cativos africanos, somente 552 viviam no Pará, isto é, menos de 0,4% [15],
enquanto cerca de 80% deles viviam no Centro-Sul [16]. Tomando-se ainda como referência os dados do censo de
1872, dentro do universo de 27.403 pessoas arroladas, embora os cativos identificados como pretos fossem a
maioria, 15.819 indivíduos (8.101 homens e 7.718 mulheres), os cativos discriminados como pardos já atingiam
quantitativo considerável, somando 11.584 indivíduos (5.747 homens e 5.837 mulheres). Portanto, a população
escrava na Amazônia, que desde meados do século XVII tomava parte do “viver em colônia”, já em meados do
século XIX acabou tornando-se predominantemente crioula, resultando que, nas últimas décadas da escravidão, os
cativos paraenses fossem em grande parte mestiços.

Na Amazônia, o processo de mestiçagem ocorreu envolvendo os grupos indígenas em suas diversas formas
de contato com os conquistadores europeus e com os seus escravos africanos compulsoriamente introduzidos na
região, seja enquanto resultado da política metropolitana de ocupação do vale amazônico, que, durante o período
pombalino, tornara-se ação oficial, visando ao casamento entre índios e portugueses, seja enquanto resultado do
“viver em colônia” que, à revelia das políticas metropolitanas, fazia da mistura de índios, europeus e africanos
parte significativa da constituição do mundo colonial amazônico, a mestiçagem envolvia diversos segmentos
sociais e étnicos da Colônia. A constituição de mocambos formados por índios, africanos e colonos brancos e
mestiços de todos os tons constituiu-se em exemplo desta realidade (ver Tabela X) [17]. No decorrer do século
XIX, em suas andanças pela região amazônica, certos viajantes naturalistas impressionavam-se com a “confusa
mistura das três raças [branca, amarela e negra]” entre a população paraense, segundo as palavras de Henry Bates
[18]. Avé-Lamellant, por sua vez, afirmava que, entre a dita população desde “o negro azeviche, do tapuio pardo-
escuro até o mameluco quase branco, todas as cores, todas as formas estão ali representadas” [19]. Todavia, a
mestiçagem registrada pelos relatos de viajantes estrangeiros também despertava o interesse dos intelectuais
nativos, ainda que, geralmente, os enfoques sobre o assunto não fossem necessariamente opostos, uma vez que as
premissas teóricas do racismo científico europeu também informavam, em certo sentido, as compreensões destes
brasileiros sobre seus conterrâneos. Por exemplo, José Veríssimo, em seus estudos sobre as raças mestiças, havia
afirmado ser a Amazônia um “vasto laboratório de mestiçagem”, uma vez que o “povo paraense” seria “por duas
terças partes mestiço” [20]. Veríssimo baseava-se nos dados arrolados pelo censo de 1890 que, “não obstante seus
vícios e deficiências”, quando realizado, havia apurado 328.455 habitantes no Pará, sendo 128.813 brancos;
111.958 mestiços; 65.945 caboclos; e 22.193 negros. Ou seja, o contingente populacional considerado branco
representava um pouco mais que um terço do total, enquanto mestiços e caboclos juntos perfaziam a maioria com
177.903 indivíduos e a população denominada negra (22.193 indivíduos), pouco mais de 6.75% dessa população
[21].

José Veríssimo, propugnando pela construção científica de um saber etnográfico no e sobre o Brasil, havia
proposto determinada tipologia visando à exata compreensão das “raças mestiças” na região amazônica, mesmo
que reconhecendo as dificuldades em termos da precisão de sua aplicabilidade [22]. De acordo com Veríssimo, os
mestiços haviam de ser: “o mulato, por cruzamento de branco e negro; o mameluco, por branco e índio; o
curiboca, por negro e índio; o cafuz ou cafuzo por mameluco e negro, por mulato e índio, por curiboca e índio, ou
curiboca e negro ou ainda talvez curiboca e branco”. Ainda segundo Veríssimo, “além destes mestiços
propriamente ditos, resultados de cruzamentos de raças e variedades diversas, há os mestiços por acção physica e
social do meio, se mestiços podemos chamar-lhes”; ou seja, o crioulo “nascido de pai e mãe negros” e o tapuio
“como produto de pai e mãe índios”. O tapuio seria originado a partir do índio aldeado que, por conta do contato
com os europeus, quando da conquista portuguesa do vale amazônico, havia se distanciado dos demais grupos
indígenas [23]. Na verdade, os tipos mestiços propostos por Veríssimo já constavam do imaginário social
construído na Amazônia, em torno das relações existentes entre os diversos segmentos da sua população, uma vez
que as diversas categorias de mestiços, inclusive crioulos e tapuios, já estavam largamente presentes nas definições
e identificações dos lugares de cada um dos sujeitos integrantes desta sociedade. Por exemplo, os escravos seriam
caracterizados como negros, crioulos, cafuzos, até mesmo como curibocas e tapuios, nos anúncios de fugas
publicados nos jornais pelos senhores, porém, jamais descritos como brancos.

Sobre os escravos, aliás, faz-se importante, dentro dos propósitos deste trabalho, conhecer um pouco
melhor o seu coeficiente dentro da população da região amazônica. Há muitas linhas atrás, já foram citados os
dados apresentados por Colin MacLachlan. Ao final do século XVIII, informou MacLachlan, o Grão-Pará, com
uma população de 80 mil indivíduos, possuiria 18.944 cativos [24]. Flávio Gomes, segundo dados obtidos em
trabalhos de Ciro Cardoso e Vicente Salles, também indicou determinados números relativos à população colonial
do Grão-Pará, no decorrer das últimas décadas do século XVIII e no primeiro quartel do XIX. Segundo Gomes,
havia, em 1765, 33.565 indivíduos; em 1782, 55.315; em 1801, 80 mil; e, em 1816, 94.120 [25]. Observe-se,
portanto, que os algarismos apresentados por Gomes revelam certa afinidade com a cifra proposta por Maclachlan
para fins do século XVIII, particularmente no que diz respeito ao último ano desta centúria. Todavia, havendo
maior clareza quanto aos números aproximados da referida população como um todo, ou seja, compreendendo
livres e cativos, persistem as dúvidas relativas à quantidade de escravos que faziam parte da mesma. Ao final do
século XVIII, por exemplo, os 18.844 escravos indicados por MacLachlan ficam abaixo da cifra de 30 mil
indivíduos estimada por Souza Coutinho, governador do Grão-Pará, em documento datado de 1797. Ainda na dita
documentação, Souza Coutinho informava que, em 1796, na Capitania do Rio Negro, a população cativa era
representada por 592 pessoas [26].

Considerando-se o volume de escravos africanos ingressos na região amazônica até fins do século XVIII,
desde a efetiva regularidade do tráfico negreiro em 1756, os cativos totalizavam 35.597 indivíduos, sendo 17.627
entre 1756 e 1778, e 17.790 entre 1778 e 1800 (ver Tabela I), a menos que tivessem ocorrido taxas de mortalidade
elevadas no seio da população escrava ingressa, principalmente entre aqueles introduzidos há mais tempo,
associado a uma baixa capacidade reprodutiva da população cativa, o número da população escrava na ordem de
30 mil pessoas, em 1797, tal como indicado por Souza Coutinho, ainda que possa ser considerada estimativa
elevada, sem dúvida trata-se de algarismo possível, cuja representatividade ainda não foi possível ser revelada
pelas demais fontes consultadas até então pela historiografia.

Por sua vez, o coeficiente de 18.844 cativos, em fins do século XVIII, apresentado por MacLachlan, fica
bastante próximo do volume de africanos desembarcados no Porto de Belém entre os anos de 1778 e 1800 que,
segundo os dados aqui apresentados, seria da ordem de 17.790 indivíduos. Ou seja, o coeficiente de 18.844
escravos, apontado por MacLachlan, sugere uma significativa incapacidade de crescimento da população de
cativos negros no Grão-Pará, associada a elevadas taxas de mortalidade, uma vez que poucos escravos ingressados
entre 1757 e 1778 teriam sobrevivido até fins do século XVIII, deixando quase nenhum descendente, o que fez
com que, ao longo das últimas décadas do século XVIII, fosse reservada ao tráfico a função de reposição quase
integral desta população. Não há dúvida de que cabia ao tráfico papel importante na reconstituição da população
cativa, mas não é possível ignorar que, para além da substituição de cativos falecidos por novos recém-
introduzidos via tráfico negreiro, havia de alguma forma o aumento dessa população com novos carregamentos de
africanos escravizados, por menor que fosse. E, mesmo que assim não ocorresse, seria preciso haver pesadas taxas
de mortalidade para que a entrada de escravos, ao longo do período de 1778 a 1800, com média anual de entrada
de pouco mais de 816 cativos ao ano, fosse praticamente anulada no que tange ao seu impacto no crescimento da
população escrava, o que é difícil conceber como crível. Ainda mais se for considerado que, embora o número de
africanos escravizados introduzido pelo tráfico fosse de homens adultos na maior parte, o quantitativo de mulheres
africanas não seria desprezível, havendo ainda uma parcela menor de adolescentes. Carreira, analisando dados de
cativos importados pela Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão durante os anos de 1756 e 1788, no período
em que perdurou e após o fim de seu monopólio desse comércio, informou que, sendo possível identificar o sexo
para 71,8% dos cativos importados, 12.569 (62,4%) seriam homens e 7.572 mulheres (37,6%), perfazendo
aproximadamente 1,7 homens para cada mulher. Caso seja possível pensar que esse padrão se manteve para os
demais africanos desembarcados entre 1778 e 1800, mesmo com alguma oscilação em favor do segmento
masculino, a desproporção entre homens e mulheres não seria tão acentuada a ponto de comprometer qualquer
crescimento dessa população, o que seria bem mais difícil havendo uma maior quantidade de homens do que
mulheres africanas – afinal, do ventre da escrava nasciam os escravos crioulos. Levando-se em conta ainda que,
segundo Carreira, entre os 12.569 cativos, havia 3.045 adolescentes e, entre as 7.572 mulheres, 2.465 jovens, é
possível supor que sua perspectiva de vida e taxas de fecundidade maiores poderiam de alguma forma contribuir
para que a população escrava no Grão-Pará fosse algo maior que os 18.844 cativos, número indicado pela fonte
consultada por MacLachlan, desde que, obviamente, adicionados aos escravos ingressos pelo tráfico nas últimas
décadas do século XVIII [27].

Enfim, é possível pensar dessa forma, mesmo que essa população africana fosse, “em geral, incapaz de
reproduzir-se, de modo que a população escrava total só podia ser mantida por meios de importações constantes”,
dadas as taxas desiguais de importação de homens e mulheres cativos, conforme juízo de Herbert Klein, que,
analisando os dados de Carreira, indicava em relação aos escravos introduzidos pela Companhia pombalina uma
razão de masculinidade de 166 homens para cem mulheres, sem contar as crias de peito em número de 99, razão
que aumentava de 179 homens para cem mulheres se considerados somente os adultos, mas tornava-se menor entre
os jovens ou adolescentes, perfazendo a razão de 124 para cem [28].

A repercussão de uma razão de masculinidade menor entre os mais jovens, portanto, podia ser distinta em
relação aos africanos adultos no que toca à possibilidade de reprodução dessa população, ainda que residual e
restrita. Da mesma forma que o desequilíbrio entre os sexos de africanos introduzidos, taxas de mortalidade mais
altas entre os cativos africanos e maiores índices de alforria de mulheres e crianças cativas do que em relação aos
escravos, ainda que inegavelmente fatores que comprometiam o crescimento da população escrava para além dos
números de cativos introduzidos durante a vigência do tráfico, não implicam necessariamente a conformação de
contingente populacional menor que a capacidade de reposição do próprio tráfico. Afinal, havendo então ao longo
dos anos de 1778 a 1800 a introdução de 17.970 cativos, para além daqueles que já existiam, fica difícil crer que,
em fins do século XVIII e início do XIX, a população escrava do Grão-Pará fosse da ordem de 18.844.

Por outro lado, considerando-se a entrada de 17.102 cativos (ver Tabela I) entre os anos de 1801 e 1820,
sendo 10.927 entre 1801 e 1810, e 6.175 entre 1811 e 1820, bem como o número de 28.051 escravos arrolados em
1822, segundo dados constantes do “Ensaio corográfico sobre a Província do Pará”, escrito por Baena [29], ainda
que passíveis de erros e incompletudes, no Grão-Pará haveria, então, ao longo das duas primeiras décadas do
século XIX, uma população cativa próxima dos 30 mil escravos negros no Grão-Pará arrolados em 1797, muito
provavelmente um valor arredondado em termos estimativos. Caberia, então, ao tráfico, como já dito antes, papel
importante na reprodução e manutenção dessa população escrava, embora essa taxa de crescimento possa ser
considerada negativa, desde que se leve em consideração o volume da importação de escravos para os anos entre
1801 e 1820, ou seja, 17.102 cativos introduzidos. Enfim, somente uma análise mais refinada poderia dirimir tais
questões, restando, por enquanto, a certeza de que esses dados parecem pouco reveladores da demografia escrava
do Grão-Pará em fins do século XVIII e no início do século XIX.

Na verdade, as conjecturas sobre os dados arrolados acima também estão longe de ser definitivas. Sem
dúvida, as mesmas constituem muito mais problematizações que possíveis respostas, as quais exigiriam reflexões e
pesquisas documentais além do proposto neste capítulo, dentro deste livro. Fica a dificuldade em trabalhar com os
números do contingente populacional escravo, ao findar o século XVIII e iniciar-se o século XIX, na certeza de
que, em fins do período colonial português da região amazônica, a população escrava existente no Grão-Pará não
seria menos de 20 mil habitantes, ainda que não chegasse talvez a ser de 30 mil almas, fazendo-se necessário um
avanço em direção ao século XIX, conforme os dados constantes da Tabela XIVI.

No tocante ao século XIX, a debilidade dos dados estatísticos acerca da população da província paraense,
arregimentados por sucessivas administrações provinciais, também deixa dúvidas acerca da demografia escrava no
Grão-Pará sob o regime imperial. Mesmo assim, ciente da natureza deficiente dos dados, é possível um
conhecimento aproximado sobre a população escrava, bem como seu coeficiente dentro da totalidade de habitantes
da referida província. Em 1823, por exemplo, observa-se uma das primeiras referências acerca da questão.
Segundo Baena, neste ano, entre 128.127 indivíduos, havia 28.051 escravos que, portanto, perfaziam 22% daquela
população [30]. Após uma década, em 1833, informou Domingos Antônio Raiol, “calculava-se a população livre
do Pará em 119.877 habitantes, inclusive 32.751 índios; e a escrava em 29.977” [31]. Portanto, uma defasagem
negativa entre os livres, talvez resultado do caráter impreciso dos dados, enquanto havia certo equilíbrio entre os
cativos. Já na segunda metade da década de 1830, a ocorrência de diversas epidemias de varíola e, particularmente,
da Cabanagem causariam a perda de 30 mil vidas, fazendo com que pelo menos os dez anos seguintes ao término
do movimento cabano, em 1840, fossem caracterizados por processo de recomposição demográfica dos
coeficientes da população livre e escrava da província paraense [32].

No ano de 1850, Fausto Augusto d’Aguiar, presidente da Província, informava existirem 209.213
habitantes, sendo pessoas livres 175.140 e escravas 34.073 [33]. Por sua vez, em sua Pequena chorografia da
Província do Pará, Cyriaco Alves da Cunha indicava uma população cativa de 33.323 indivíduos [34]. Devido à
pequena diferença entre os números indicados por Fausto Aguiar e Cyriaco Alves, no tocante aos escravos, é
possível crer que, efetivamente, este segmento populacional estivesse em torno de 33 mil a 34 mil pessoas. Alguns
anos depois, em 1854, a população livre compreendia 167.909 pessoas e a escrava, 30.847, conforme dados
constantes em Tavares Bastos. Ainda considerando-se os dados informados por este autor, em 1862, havia 185,3
mil livres e 30.623 cativos no Grão-Pará, embora este último número fosse considerado exagerado por Tavares
Bastos [35].

Na década de 1850, é verdade, a ocorrência das epidemias de febre amarela (1850) e cólera (1855) podem
explicar a diminuição do coeficiente de escravos, bem como a redução do contingente populacional composto
pelas pessoas livres, ainda que uma e outra epidemia possuíssem maior ou menor incidência em determinados
estratos sociais. Também devido à criação da Província do Amazonas, desmembrada do território paraense em
1850, e à incorporação da região compreendida entre os rios Turiaçu e Gurupi pelo Maranhão, em 1854, área até
então pertencente ao Pará, houve naturalmente uma diminuição da população paraense. De qualquer forma,
enquanto se verificou uma retomada de crescimento demográfico da população livre capaz de favorecer o seu
processo de recomposição e expansão, entre os anos finais da década de 1850 e 1862, parece que a população
escrava da província ficou praticamente estabilizada em torno de 30 mil indivíduos (ver Tabela XIV).

Já em 1872, segundo as “Informações sobre as Comarcas da Província do Pará”, redigidas por Manoel
Baena, existiam 23.090 escravos [36]. Todavia, considerando-se os dados constantes do censo deste ano, nota-se
um contingente populacional cativo maior, 27.458 indivíduos, enquanto o segmento livre compreendia 247.779
pessoas [37]. Já em 1874, dois anos após, com base em dados da Diretoria Geral de Estatística e do Relatório do
Ministério da Agricultura, Conrad informou que a população livre do Pará era da ordem de 232.662 indivíduos,
portanto menor que a indicada em 1872, enquanto a população escrava seria de 31.537 pessoas, representando,
aproximadamente, 11,9% da população total, número maior que o indicado em 1872 [38].

Segundo dados do Ministério da Agricultura, desde a aprovação da Lei do Ventre Livre, em 28 de setembro
de 1871, até 31 de dezembro de 1878, a população escrava no Pará fora reduzida de 32.801 para 28.716 cativos,
em razão dos escravos falecidos (2.110 óbitos) e alforriados (2.299 libertos), uma vez que não havia sofrido perdas
para o tráfico interprovincial, mas, até então, ganho líquido de 324 cativos. Também a partir da aprovação da Lei
do Ventre Livre, a população escrava tendia a diminuir, uma vez que não haveria mais nascimentos de novos
cativos, tanto que, entre 1871 e 31 de dezembro de 1878, houvera 7.108 crianças nascidas, sobrevivendo 6.296 que
deixaram de ser escravas [39]. Após alguns anos, em 1882, entre os 274.883 habitantes da província paraense,
havia 24.763 cativos [40]. Em 1884, mantendo-se aqui os números para a população livre de dois anos antes,
existiam 20.849 cativos na província paraense, representando, então, aproximadamente, 7,58% de toda a
população provincial. Entre os anos de 1885 e 1888, a população escrava na província em referência oscilou entre
20.218 e 10.535 indivíduos, enquanto, no último ano da escravidão, havia aproximadamente 280.676 habitantes
livres no Pará (ver Tabela XIV) [41]. Conrad, inclusive, ao comparar a população cativa no Pará entre os anos de
1874 e 1884, tomando como referência 31.537 e 20.849 indivíduos, respectivamente, informou que o percentual de
declínio dessa população fora da ordem de 33,5%, sendo o quinto entre as províncias brasileiras, com exceção do
Amazonas e do Ceará que, em 1884, haviam “abolido” a escravidão em seus territórios. O Grão-Pará tinha uma
taxa percentual de declínio bastante próxima à do Maranhão (33,6%), ficando ainda atrás do Rio Grande do Norte
(47,1%), de Santa Catarina (44,9%) e do Rio Grande do Sul (38,9%). Já nos últimos anos do regime servil, entre
junho de 1885 e maio de 1887, a taxa de declínio da população cativa no Grão-Pará alcançou 47,9%, diminuindo
de 20.218 para 10.535 cativos, sendo então a quinta maior do Império, atrás do Município Neutro (cidade do Rio
de Janeiro) com 74,9%; e as províncias do Rio Grande do Sul (69%), da Paraíba (49,8%) e do Paraná (49,9%).
Essas elevadas taxas de declínio podem ser explicadas como resultado de falecimentos, pela aplicação da
legislação emancipadora ou pelo avanço do abolicionismo nessas localidades nos anos finais da escravidão, tanto
que, entre 1871 até meados de 1885, 3.962 escravos haviam falecido. Além disso, o número de ingênuos ou filhos
de mulheres escravas libertos pela Lei do Ventre Livre, de 28 de setembro de 1871, até 30 de junho de 1885, na
província paraense, era da ordem de 10.685 crianças (5.364 meninos e 5.321 meninas); o número das libertações
dos escravos sexagenários no Pará, da ordem de 919 pessoas entre 1885 e 1887; enquanto, ao longo de 17 anos
(1871-1888), o número de cativos libertos pelo Fundo de Emancipação no Pará fora da ordem de 687 indivíduos,
cabendo às alforrias pagas pelos escravos, em grande medida, e às concedidas sem nenhum ônus pelos senhores,
em menor medida, entre 1871 até 30 de junho de 1885, a libertação de 7.258 cativos, ainda que, nesse mesmo
período, tenha ocorrido ganho líquido de escravos da ordem de 909 cativos, com a entrada de 5.502 e a saída de
4.593 pelo tráfico interprovincial. No entanto, estes últimos números podem ser corrigidos, ficando o ganho
líquido na ordem de 475 cativos ingressados, sendo 5.502, e cativos saídos somando 5.027, conforme correções
apontadas por Slenes, que não alteram o que vai dito aqui. Não sendo crível, aliás, que, nos anos posteriores, entre
1885 e 1888, o volume de alforrias tenha sido menor, pelo contrário [42].

Observando-se os dados da Tabela XV, nos quatro anos seguintes à aprovação da Lei do Ventre Livre, de
28 de setembro de 1871, foram alforriados 1.228 cativos na província grão-paraense, boa parte deles com alforrias
pagas de alguma forma pelos escravos, seja por meio de prestação de serviços, portanto alforrias condicionais, seja
em espécie ou dinheiro. Já ao longo de quase o ano todo de 1876, é possível saber que houve o registro de 403
alforrias, índice anual maior do que no período anterior, compreendido entre 28 de setembro de 1871 e 31 de
dezembro de 1875. No entanto, no espaço de tempo de 01 de dezembro de 1876 até 31 de dezembro de 1878, por
conseguinte pouco mais de dois anos, o índice anual voltou a diminuir, havendo então o registro de 668 alforrias
ou média anual de 334 por ano. Mas, se entre 28 de setembro de 1871 e 31 de dezembro de 1878, portanto pouco
mais de sete anos, foram contabilizadas cerca de 2,3 mil alforrias (2.299), nos seis anos e meio seguintes, entre 01
de janeiro de 1879 e 30 de junho de 1885, período marcado pela retomada do movimento abolicionista, o número
de alforrias registradas foi quase três vezes mais que nos sete anos anteriores, somando 5.646 alforrias, dado que
revela crescimento significativo do número de escravos libertados. Também deve ser considerado que, neste
momento, em 1883, houve a pior crise da economia da borracha, com queda dos preços do produto no mercado
internacional, antes da grande crise de 1912, afetando a liquidez da economia paraense, o que causou séria crise de
crédito e, portanto, favoreceu a venda dos escravos para a liberdade, isto é, as alforrias pagas pelos cativos – afinal,
o escravo era uma propriedade que, sempre que possível, podendo ser vendida, representava receita ao seu
proprietário [43].

Sobre o índice de escravos alforriados na província paraense, entre 1873 e 1887, Slenes informou que
28.5% da população escrava matriculada em 1873 no Grão-Pará, ou seja, 30.989 indivíduos, fora alforriada ao
longo dos 15 anos já citados (1873-1887), representando então, aproximadamente, 8.832 cativos. Observa-se que o
referido percentual ficava bem acima da média nacional (13.3%), sendo menor apenas que os percentuais da
província do Rio Grande do Sul (58.8%), na qual havia a expectativa de vir a ser a terceira província brasileira a
“abolir” em seu território a escravidão, após o Ceará e o Amazonas; da Corte ou cidade do Rio de Janeiro, com
36.1%, onde havia o avanço de um abolicionismo forte, bem como abaixo das províncias sulistas de Santa
Catarina (27.4%) e do Paraná (22.8%) [44].

Por outro lado, essa diminuição da população escrava na província paraense também se traduzia na
diminuição de sua presença entre os bens inventariados ao longo da década de 1880. Segundo dados da pesquisa
de Cancela, na década de 1870, 54% dos inventários trabalhados em sua pesquisa arrolavam escravos; já na década
de 1880, esse percentual havia caído para 34% dos inventários, sendo que, entre os documentos que relacionavam
os bens de pessoas falecidas pesquisados por Cancela, na década de 1880, somente os inventários dos anos de
1880 e 1881 tinham entre seus bens listados escravos [45]. Obviamente, como os inventários somente são feitos
após a morte do proprietário, isto não quer dizer que, entre 1882 e 1888, não houvesse escravos ou propriedade
escrava na província paraense, mas que, entre aqueles proprietários falecidos que tinham bens a inventariar,
conforme mandava a lei, em seus inventários arrolados por Cancela a partir de 1882 já não apareciam escravos. De
qualquer forma, o que importa aqui é perceber que essa diminuição da propriedade escrava em tais inventários
pode ser um reflexo explicado não só pelos falecimentos dos cativos, mas, principalmente, pelas suas alforrias.
Afinal, também é possível pensar que alguns dos proprietários falecidos com inventários abertos entre 1882 e 1888
não tenham deixado escravos a ser inventariados, embora os pudessem ter tido em algum momento antes de seu
falecimento.

Ainda no tocante à evolução da demografia escrava na província paraense, ao longo do século XIX, Funes
observou que “a população escrava no Pará, no século XIX, não superou os 25% dos habitantes, ficando no
período de 1850 a 1876 em torno de 13,14%, caindo na década de 1880 para 5%, e, em 1888, chegou a
aproximadamente 4%, semelhante a outras províncias, onde a escravidão teve relativa importância, do ponto de
vista quantitativo” [46]. Os coeficientes apresentados por Funes guardam semelhança com os que foram
apresentados na Tabela XIV. A partir da década de 1880, portanto, acentuou-se o processo de decrescimento do
contingente populacional composto pelos cativos, ainda mais se comparado ao crescimento cada vez maior dos
segmentos livres da população paraense, cujo aumento beneficiava-se pelo ingresso significativo de imigrantes
nordestinos, particularmente desde 1878 [47].

Importa, ainda, frisar que, após o processo de composição e estabelecimento da escravidão negra na região
amazônica e, posteriormente, a sua estabilização demográfica em torno da década de 1850, havia, entre a
população cativa paraense, um relativo equilíbrio entre homens e mulheres. Em 1851, por exemplo, entre os
34.073 escravos, 16.950 eram homens e 17.123 mulheres. Nas décadas de 1870 e 1880, à exceção de 1885, o
coeficiente feminino continuaria sendo superior em relação ao masculino. A seguir, alguns algarismos tornam mais
clara a questão: em 1872, havia, na província paraense, 15.062 homens e 15.927 mulheres escravas; em 1876,
13.798 homens e 14.686 mulheres escravas; em 1885, 10.550 homens e 9.668 escravas; em 1888, 5.196 homens e
5.339 mulheres cativas (ver Tabela XVI) [48]. Assim sendo, é possível acreditar que, pelo menos nas últimas
décadas da escravidão no Pará, havia um relativo equilíbrio entre os contingentes masculino e feminino,
caracterizado por uma leve predominância deste último, ainda que a proporção de homens e mulheres entre os
escravos não fosse necessariamente a mesma em todas as regiões escravistas paraenses. Essas regiões serão
tratadas no capítulo que segue.
5
A economia escravista na província paraense:
uma caracterização

Segundo Vicente Salles, desde o século XVIII, “o negro entra no Pará em escala considerável e se destina
para as lavouras de gêneros exportáveis: cana-de-açúcar, arroz, tabaco, algodão e cacau” [1]. Por sua vez,
lembraram Vergolino & Figueiredo, os serviços relativos à construção de fortificações militares também
constituíram importante rol de atividades em que se encontravam envolvidos os escravos negros e indígenas ao
longo dos Setecentos [2]. De fato, estabelecida a regularidade do tráfico negreiro entre as praças africanas e a
cidade de Belém, quando do período de atuação da Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão (1756-1778), a
disputa pela aquisição dos escravos introduzidos pelos navios da companhia, sempre aquém das demandas dos
colonos, fez com que a Coroa determinasse à companhia que, “na venda dos sobreditos pretos devem preferir os
lavradores, e senhores de engenho, a todos os que os compram para os ter ociosos, e os sustentão por grandeza”
[3], uma vez que cabia ao tráfico, levado a cabo pela dita Companhia, favorecer o desenvolvimento de uma
agricultura comercial em terras da Amazônia portuguesa.

Na verdade, desde o século XVII, os primeiros ensaios de fixação dos conquistadores europeus em solo
amazônico, na época realizados pelos ingleses e holandeses, já visavam ao estabelecimento de núcleos coloniais
associados ao cultivo da cana-de-açúcar, inclusive, sendo os sobreditos conquistadores os responsáveis pela
introdução dos primeiros escravos africanos na região [4]. Neste contexto, concomitantemente à tarefa de expulsão
dos demais conquistadores europeus, os portugueses também iniciaram a ocupação mais efetiva do território,
principiando pelo estuário do Rio Amazonas e áreas adjacentes, objetivando o estabelecimento da lavoura
canavieira, dentre outras culturas agrícolas. Em 14 de abril de 1655, por exemplo, o regimento dado por El-Rey a
André Vidal de Negreiros, governador do Estado do Maranhão e Grão-Pará, em seu capítulo 18, rezava: “O Grão-
Pará que também fica debaixo da jurisdição de Vosso Governo, se tem por conquista de grandes esperanças, assim
pela grandeza da Capitania, como pela bondade das terras, e acomodadas para engenhos de açúcar e criações de
gado vacum” [5]. Assim desejava El-Rey, assim o queriam igualmente os conquistadores e primeiros colonos
portugueses em terras da Amazônia. No final do século XVII, por exemplo, Sebastião Gomes de Souza, “com o
intuito de montar engenho e cultivar o solo”, instalou-se em terras atualmente situadas no distrito de Icoaraci,
derrubando a mata e iniciando a “construção de casa de moradia, feita de taipa e pilão”. Pouco tempo depois, em
1701, Gomes de Souza “pediu e obteve do Tenente-General Fernão Carrilho, governador do Estado do Maranhão,
a Carta de Data e Sesmaria daquela légua de terras, chamada do Paracuri, que se prolongava do igarapé do
mesmo nome até a Ponta do Melo ou Mel” [6].

Entre os anos de 1665 e 1705, segundo Rafael Chambouleyron, “93 sesmarias foram distribuídas pelos
governadores e confirmadas pelos reis” [7]. Ainda em conformidade com esse mesmo autor, a distribuição dessas
sesmarias era reveladora de “uma lógica particular de ocupação do território pela agricultura”, assim sendo feito a
“partir do sistema fluvial composto pelos rios Acará, Moju, Capim e Guamá, na Capitania do Pará: e
principalmente na Ilha de São Luís e fronteira oriental do Maranhão”, sendo que, nas palavras de Chambouleyron,
“as sesmarias têm uma distribuição que se avoluma no final do século XVII. Significativamente, o século XVIII
vai assistir a uma verdadeira explosão da concessão de terras, tanto no Maranhão como no Pará e na nova
Capitania do Piauí” [8]. Durante as primeiras décadas do século XVIII, informou Ernesto Cruz, diversos títulos de
sesmarias e cartas de datas foram concedidos pela Coroa portuguesa aos súditos que, desta forma, deviam dedicar-
se ao desenvolvimento do cultivo de produtos comerciais, particularmente o açúcar, nas áreas localizadas nas
proximidades de Belém. Na região do Guamá, por exemplo, Manoel Monteiro de Carvalho, em 1739, requereu ao
Governador José Serra a concessão de três léguas, no Rio Guamá, sendo pleiteado com duas léguas. Nesta mesma
região, Antônio da Costa Fernandes, em 9 de junho de 1733; Antônio Luís Coutinho, em 29 de novembro de 1737;
Antônio Pacheco, em 16 de junho de 1734; e Agostinho Domingues de Siqueira, em 1o de junho de 1743, também
foram alguns personagens beneficiados pela distribuição de sesmarias. Na área em torno do Rio Capim, “que faz
junção com o [rio] Guamá quando ambas as águas se misturam e se lançam no Guajará”, Agostinho Monteiro
parece ter sido um dos primeiros sesmeiros, com sua carta de data de 18 de fevereiro de 1735. Logo depois, em 8
de maio de 1738, André Corrêa Albernaz tornava-se igualmente detentor de título de sesmaria nas referidas terras
do Rio Capim. Um pouco mais distante, no Rio Gurupá, em 20 de março de 1728, aí fixou estabelecimento
Antônio da Costa Tavares, “senhor de muitos haveres e possuidor de outras sesmarias no Guamá e no Capim” [9].

Nestas terras, particularmente aquelas banhadas pelas águas dos rios Guamá e Capim, desenvolveram-se
alguns importantes engenhos, dentre os que haviam surgido nesta época. No Guamá, por exemplo, Lourenço
Malheiro Corrêa havia sido “o abastado proprietário da Fazenda Pernambuco”, da qual fez doação aos Carmelitas
[10]. No século XIX, esta fazenda já era conhecida pelo desassossego da sua escravaria que, vez por outra, não
somente se lançava abertamente na luta pelos seus “direitos”, como dava acolhida a escravos fugidos de outros
senhores. Todavia, entre as propriedades agrícolas situadas nas proximidades da cidade de Belém, “distante légua e
meia”, restou somente a memória acerca daquela que, tendo atualmente suas ruínas localizadas dentro dos
subúrbios da capital paraense, denominava-se “Engenho Murutucu”. Suas terras se iniciavam no igarapé do
Tucunduba até o igarapé Uriboca, em cuja área fazia limites com a Fazenda “Utinga”. Entre suas diversas
construções, tornou-se comum o destaque dado à sua capela dedicada a N. S. da Conceição que, construída em
1711, foi restaurada pelo arquiteto José Landi em 1762. No decorrer do século XIX, quando o Engenho “Murtucu”
ou “Murutucu” passou por vários proprietários, pode-se constatar que o mesmo possuía pelo menos entre 40 a 50
escravos [11].

Na verdade, considerando-se que o setor extrativista da economia amazônica, assentado na exploração do


trabalho indígena aldeado, dependia principalmente do controle da mão de obra, mais do que da propriedade da
terra, compreende-se por que não havia, por parte dos colonos envolvidos com a exploração das “drogas do
sertão”, coletadas nas florestas situadas em terras da Coroa, maior interesse em pleitear o título destas possessões,
uma vez que as ditas florestas eram “acessíveis a quem quer que se dispusesse a pagar e equipar uma turma de
trabalhadores”. Daí que, fazendo uso das palavras de Bárbara Weinstein, “as sesmarias, generosamente concedidas
pela Coroa portuguesa para estimular a colonização da Amazônia, não eram nessas áreas longínquas de floresta,
mas em terras apropriadas para a agricultura ou a pecuária, localizadas nas vizinhanças dos centros comerciais de
Belém e Santarém”, ainda que na distante Capitania do Rio Negro, na região de Barcelos, também houvesse o
desenvolvimento de plantações lastreadas no trabalho escravo [12]. Na sequência, poderá ser visto, então, como se
configurava a economia escravista nestas áreas, na medida em que “a maior parte dos fazendeiros dependia dos
escravos africanos ou do trabalho forçado dos índios”, sendo as referidas áreas compreendidas pelas terras em
torno de Belém, pela região do Baixo Tocantins, pelo território do Amapá, pelo arquipélago do Marajó, pelas terras
do Baixo Amazonas e pelo nordeste paraense, na zona fronteiriça com o Maranhão [13].

∗∗

Nas terras da antiga Capitania do Grão-Pará, conquistada em 1615 por Francisco Caldeira Castelo Branco,
situada entre os rios Acoty-Perú e Tocantins, surgiu a primeira povoação portuguesa da Amazônia, ou seja, a
cidade de Santa Maria de Belém do Gram-Pará. Nas áreas em torno deste núcleo, localizado na região denominada
Zona Guajarina, formada pelas bacias dos rios Acará, Capim e Guamá, foram edificados diversos engenhos, como
o citado “Murtucu”, com 40 a 50 escravos; ou, então, o “Madre de Deus”, de Eduardo Angelim, que chegara a
possuir 72 cativos [14]. Na verdade, desde o período colonial, na região de Belém, tanto em seu espaço urbano
quanto em suas cercanias, concentrava-se boa parte da população escrava da província grão-paraense [15]. Em
1787, por exemplo, dados referentes somente à população da freguesia urbana da Sé, “a mais antiga e mais
populosa da cidade de Belém”, mostram que, entre seus 5.276 habitantes, havia 2.733 escravos, ou seja, mais de
50% do referido contingente populacional. Alguns anos depois, em 1793, o quantitativo de escravos continuava
expressivo, uma vez que, na referida cidade do Pará, viviam 8.573 habitantes, sendo 4.423 brancos (51,6 %), 3.051
cativos negros (35,6%) e 1.099 pretos, índios e mestiços livres (12,8%). Já nas primeiras décadas do século XIX,
Vicente Salles, pela leitura dos dados constantes em Baena, apontou que, em 1822, existia nas duas freguesias
urbanas de Belém, ou seja, Sé e Campinas, uma população de 12.471 viventes, compreendendo 5.643 brancos
(45,9%), 5.719 escravos africanos ou crioulos (45,2%) e 1.109 pretos, índios e mestiços livres (8,9%) [16]. Assim
sendo, quando do processo de independência no Grão-Pará, o espaço urbano de Belém comportava uma população
escrava negra e de homens livres mestiços, pretos e índios de número superior ao de brancos, destacando-se o
coeficiente de cativos.
Por sua vez, Rosa Acevedo Marin, também recorrendo aos algarismos sugeridos por Baena acerca do
mencionado ano de 1822, mesmo indicando uma população escrava de 5.715 almas nas duas freguesias urbanas,
ou seja, número bastante próximo daquele apontado por Salles, em seu estudo não fez nenhum registro quanto à
presença da população preta, índia e mestiça livre no referido espaço citadino. Ainda segundo Rosa Acevedo
Marin, mantendo o mesmo coeficiente de brancos arrolado por Salles, existia na área urbana de Belém uma
população de 12.467, portanto uma quantidade um pouco menor da que foi apresentada por este último. Acontece
que, aceitando-se as cifras apresentadas por Acevedo Marin, ou seja, 5.715 escravos e 5.643 brancos, chega-se a
uma população citadina de 11.358 indivíduos; portanto, abaixo do algarismo de 12.467 habitantes indicado pela
mesma autora, cuja diferença resulta em exatos 1.109 indivíduos não identificados que, coincidentemente, Salles
referenciou como índios, pretos e mestiços livres [17]. Mesmo assim, a autora em tela apresentou um quadro mais
completo acerca da população livre e escrava da região de Belém, quando referenciou em Baena determinados
algarismos relativos não somente ao espaço urbano da capital paraense, mas também acerca das áreas rurais, o que
não consta em Salles. Desta forma, reutilizando os dados arrolados por Acevedo, torna-se possível dizer que, nas
áreas rurais, existia aproximadamente uma população de 9.259 habitantes, sendo 5.125 livres e 4.134 escravos.
Havia, então, na dita região de Belém um total de 21.726 indivíduos, sendo 9.849 escravos e 11.877 livres, dentre
os quais 5.643 brancos, 5.125 indivíduos não identificados e 1.109 índios, pretos e mestiços.

Na verdade, a abrangência dos dados sugeridos pelo trabalho de Rosa Acevedo Marin, relativos à região de
Belém, rearfima a densidade da população escrava nesta área, como já havia sido apontado por Salles. Neste
sentido, ao findar o período colonial, Rosa Acevedo Marin indicou a forte presença de escravos nas regiões rurais
de Belém, nas quais existia o cultivo da cana-de-açúcar, do arroz e do café, dentre outros produtos agrícolas,
destacando-se o primeiro. Em São Domingos da Boa Vista, por exemplo, 1.047 indivíduos, ou 53% de seus 1.929
habitantes, eram escravos; na bacia do Rio Capim, havia 663 cativos, ou seja, 40,1% de seus 1.655 moradores; no
Rio Bujaru, os 915 escravos ali existentes perfaziam 53,4% de sua população, estimada em 1.714 pessoas; no Rio
Acará, 1.437 escravos ou 54,7% dos seus 2.976 habitantes. Já na localidade de Benfica, em cuja área parecia não
haver uma atividade agrícola semelhante às demais, observou-se uma pequena população escrava em torno de 72
sujeitos ou 7,3% dos 985 habitantes da mesma [18] (ver Tabelas XVII e XVIII). Ernesto Cruz, por sua vez, relatou
que, durante os séculos XVII ao XIX, na faixa litorânea de Belém, entre a Travessa de S. Matheus, divisa da
freguesia da Campina, e o Convento de São Boaventura, atual Arsenal da Marinha, tendo ao centro o Forte do
Castelo, “estavam localizados os Engenhos Reais, dos senhores abastados, cuja prosperidade era avaliada pela
quantidade de negros da Guiné, e dos índios de aldeias missionadas, empregados na fabricação do açúcar e no
cultivo dos canaviais” [19].

João Lúcio de Azevedo também relatou que os “estabelecimentos agrícolas, com seus engenhos,
espalhavam-se em grandes lotes de terras, sempre à beira d’água, alongando os limites da posse efetiva do solo, em
benefício do conquistador”, a partir do núcleo urbano de Belém, desde o século XVII [20]. De fato, nas
proximidades de Belém, desde a primeira metade desta centúria, já se estruturavam os engenhos de grande porte da
propriedade de determinadas ordens religiosas. Em 1627, por exemplo, os carmelitas levantaram na margem
esquerda do Rio Bujaru um engenho de moer cana, nominado “Santa Teresa de Monte Alegre”, em terras que lhes
foram doadas por Baltazar de Fortes e sua mulher Maria de Mendonça. Alguns anos depois, em 1669, os jesuítas
também construíram o “Engenho de Jaguarary”, na bacia do Rio Moju, o qual “viria a ser um dos mais importantes
da capitania” [21]. Quase cem anos depois, em 1751, os ditos engenhos pertencentes aos religiosos constavam do
rol dos 24 engenhos reais existentes no Grão-Pará, “ambos afamados pela muita quantidade de gente que
conservam” [22]. Após a expulsão das ordens religiosas, quando da segunda metade do século XVIII, estas e
outras propriedades fundiárias, em sua maior parte, foram transferidas pela Coroa para a posse de particulares.
Assim sendo, o “Engenho de Jaguarary” tornou-se parte dos bens de Ambrósio Henriques da Silva Pombo que,
filho do Desembargador Joaquim Clemente da Silva Pombo, “amealhou vasta fortuna e foi o capitalista mais
opulento de seu tempo no Pará”. Em 1819, inclusive, Ambrósio Henriques, considerado o “mais abonado senhor
de engenho e fazendeiro da época”, havia hospedado os viajantes Spix e Martius em Jaguarary [23]. Sobre o dito
engenho, os referidos naturalistas chegaram a relatar que “aproveita(va) a cana plantada nas vizinhanças para
açúcar e principalmente aguardente”, uma vez que a “produção de aguardente do engenho era nesse tempo de
1.500 pipas por ano” [24]. Mas, da mesma forma que outros proprietários da região, Ambrósio Henriques vivia na
cidade de Belém, na qual possuía igualmente propriedade que “tinha nos fundos senzalas para diversas famílias de
pretos” [25].
Conclui-se, portanto, que a área mais antiga e tradicional da lavoura canavieira em território paraense
situava-se tanto nas bacias dos rios Acará, Guamá e Capim quanto nas dos rios Moju e Tocantins, respectivamente
localizadas nas regiões denominadas de Zona Guajarina, em torno de Belém, e Baixo Tocantins, em torno de
Cametá. No Acará, por exemplo, além do “Engenho Real do Acará”, pertencente a João Valente Furtado de
Mendonça, havia o “Engenho de Juassu”, construído por Manoel de Morais, pai do Coronel Hilário de Morais
Bitencourt, este último também importante proprietário de terras em fins do século XVIII. No Guamá, havia o
“Engenho Real de Mocajuba”, que, em 1789, foi vendido pelo Capitão João Pedro de Oliveira Furtado de
Mendonça a Feliciano José Gonçalves, contendo 39 escravos. Nesta região também existiam o já citado “Engenho
de Murutucu” e o “Engenho Utinga”, ambos da propriedade de João Antônio Rodrigues Martins. No Capim, havia
o “Engenho São José”, pertencente ao Sr. Calisto [26]. Segundo o relato deixado pelo naturalista Alfred Russel
Wallace, em 1848, nesta propriedade havia em torno de 50 escravos negros e outros tantos trabalhadores indígenas
que labutavam juntos nas “lavouras de cana e de arroz, nos moinhos e a bordo das canoas”. Embora havendo o
cultivo e o beneficiamento do arroz e do açúcar, informou ainda o viajante inglês, dava-se preferência ao fabrico
da cachaça porque tal produto oferecia uma maior margem de lucro. No relato detalhado sobre a vida no referido
engenho, Wallace também precisou que, entre seus trabalhadores, existiam “sapateiros, alfaiates, carpinteiros,
ferreiros, construtores de canoa, pedreiros, quer escravos, quer índios, alguns dos quais sabiam mesmo fabricar
boas fechaduras para portas, malas e caixas e vários utensílios de folhas de flandres e de cobre” [27].

Na região das ilhas defronte da cidade de Belém, ou espalhadas pela Baía de Guajará, por sua vez, havia
também algumas propriedades agrícolas sustentadas pelo trabalho escravo, sem que fossem necessariamente
lavouras de cultivo de cana-de-açúcar. Na Ilha de Ara-Pitanga, situada entre a Ilha das Onças e a de Joanes ou
Marajó, em 1859, o viajante francês François Biard ficou hospedado em “vasta fazenda” pertencente a certo
português não identificado. Relatou Biard, em sua bem-humorada narrativa, que nesta “fazenda cerca de cinquenta
escravos trabalhavam em cerâmica”, produzindo “magníficos vasos de vários formatos” [28]. Na Ilha das Onças,
por sua vez, o Sr. Noguez igualmente empregava escravos alugados no artesanato de cerâmica [29]. Aliás, em
1883, na Ilha das Onças havia 124 cativos, segundo o número de matriculados pela Junta de Classificação de
Escravos do Município de Belém [30]. Na verdade, mesmo em terras de engenhos, era comum o cultivo de outras
culturas, tais como o arroz, o tabaco ou o café. Também havia engenhos em que os cativos dedicavam-se a diversas
outras atividades artesanais, como se pode observar em relação ao “Engenho São José”, no Rio Capim, quando não
eram empregados na extração de madeiras e coleta de produtos das florestas situadas dentro da propriedade ou em
áreas adjacentes. No “Engenho de Murutucu”, por exemplo, existia “para mais de seis estradas de borracha e 8.000
pés de cacau e alguma madeira real para construção” [31].

Observa-se, então, que, desde os primeiros passos da conquista portuguesa da região amazônica, ainda no
século XVII, principiada pela foz do Amazonas, as terras ao redor da cidade de Belém acabaram constituindo-se
em sua mais antiga região agrícola. Portanto, em torno da capital paraense, nas diversas bacias fluviais que
compõem a Zona Guajarina, houve o estabelecimento de fazendas e engenhos caracterizados por uma significativa
presença da mão de obra escrava de origem africana que, ao longo do século XIX, havia de permanecer,
trabalhando lado a lado com uma população pobre e livre, em boa medida de origem indígena, senão índia.

Neste sentido, basta lembrar que diversos engenhos foram visitados por um ou outro viajante estrangeiro
que, legando suas impressões acerca dos mesmos, hospedava-se usualmente por certos períodos em uma ou outra
propriedade agrícola. Por outro lado, é verdade, determinados viajantes haviam igualmente testemunhado o
declínio de certas fazendas nas proximidades da cidade de Belém. Todavia, é importante frisar que, “durante o
período que se seguiu imediatamente à independência, parecia afinal que o setor agrário assumia posição
predominante na economia amazônica”, uma vez que, nesta época, ocorreu a decadência do comércio do cacau
silvestre, principal produto de exportação. Ou seja, ficando o setor extrativo da economia paraense sem um
produto de peso passível de exportação, como até então havia sido o cacau, houve condições favoráveis para que
“todo o pequeno capital disponível na região” fosse voltado “cada vez mais para as culturas de açúcar, arroz e
algodão, para as fazendas de gado e para outros empreendimentos rurais”, os quais, em sua maior parte,
localizavam-se nas terras próximas de Belém, segundo juízo da historiadora Bárbara Weistein [32]. Na verdade,
como já notado, os setores agrícola e pecuário sempre estiveram presentes com maior ou menor grau de
importância dentro da economia amazônica, tanto que, dentre os produtos exportados, no período de 1796 a 1811,
o algodão, o arroz, o café, os couros, a aguardente e os couros secos situavam-se entre os dez mais importantes,
enquanto que, dentre os produtos oriundos do extrativismo, destacava-se fundamentalmente o cacau, ocupando a
primazia, ao lado de outros produtos extraídos das florestas de menor importância comercial, tais como o cravo
fino, a salsaparrilha e o óleo de copaíba (ver, a respeito, as Tabelas VIII e IX; para período anterior, as Tabelas IV a
e IV b).

Entrementes, no próprio espaço urbano da capital paraense existia significativa presença de trabalhadores
escravos negros, pelo menos desde as duas últimas décadas do século XVIII, como já foi citado anteriormente. Da
mesma forma, em 1823, quando ocorreu a dita “adesão” paraense à independência brasileira, observou-se que, em
Belém, a população cativa representava aproximadamente 45,2% dos 12.471 habitantes, enquanto os brancos
somavam 45,9% e os pretos, índios e mestiços livres perfaziam juntos 8,9% [33]. Alguns anos depois, em 1839,
Bernardo de Souza Franco estimava a população escrava de Belém em torno de 4.580 indivíduos, já indicando
uma diminuição da mesma. Em 1848, todavia, Jerônimo Francisco Coelho apontava coeficiente escravo um pouco
maior, ou seja, 5.085 cativos entre os 16.092 habitantes da cidade, perfazendo 31,6% do total de habitantes da
região [34]. Em meados do século XIX, portanto, nas freguesias urbanas da capital, nesta época em número de
três, a população escrava da capital ainda era bastante significativa. Mas, desde então, já havia sido iniciado o
processo de diminuição do contingente populacional composto pelos escravos, na capital paraense, enquanto
aumentava o coeficiente representado pelas pessoas livres (ver Tabela XIX).

De fato, a partir da segunda metade do século XIX, não somente em razão dos melhoramentos ocorridos no
espaço urbano da capital paraense, mas o crescimento da população citadina havia despertado a atenção do
viajante Henry Bates, após seu retorno a Belém depois de sete anos e meio de viagens pelos sertões da Amazônia.
Bates relatou:

Encontrei a cidade do Pará grandemente mudada, para melhor. Já não tinha mais aquele
aspecto de arraial, com ruas cheias de mato e casas desmanteladas, que eu ficara
conhecendo em 1848. A população tinha aumentado para 20.000, devido ao influxo de
imigrantes portugueses, madeirenses e alemães, e fazia alguns anos que o governo
provincial vinha despendendo os excedentes de suas rendas, que eram consideráveis, no
embelezamento da cidade [35].

Inclusive, no período de 1850 a 1872, Robin Anderson indicou que a taxa média de crescimento
demográfico da cidade de Belém foi de 3,65% ao ano, ao mesmo tempo que quase duplicava a população da
Província [36]. Já nos anos iniciais da década de 1870, o Almanach do Diário de Belém indicava que, nos quatro
distritos da capital, compreendendo as paróquias da Sé (primeiro distrito), de Sant’Anna da Campina (segundo
distrito), da Santíssima Trindade (terceiro distrito) e de Nossa Senhora de Nazareth do Desterro (quarto distrito),
viviam 34.464 habitantes [37]. Em 1882, segundo dados publicados no jornal Diário de Notícias, já havia em torno
de 40 mil pessoas vivendo no dito espaço [38], embora possa ser provável que o crescimento da população de
Belém estivesse subestimado por parte do periódico, uma vez que os dados estatísticos arrolados pelo
recenseamento para o ano de 1896 apontavam uma população de 91.993 viventes em Belém, não obstante um
número menor que o estimado pelo Barão de Marajó, em 1894, quando falava em mais de 100 mil pessoas [39].

À medida que ocorria o crescimento demográfico do segmento livre da população citadina da capital
paraense, em muito favorecido pelo processo de entrada dos imigrantes nordestinos desde os anos de 1870,
diminuía-se a percentagem do coeficiente escravo entre os habitantes de Belém, ainda que, no começo da década
de 1870, fosse mantido de certa forma o mesmo volume de escravos negros existentes há mais ou menos 20 anos.
Em 1872, por exemplo, havia 5.087 cativos em Belém do Pará, embora seja verdade que 1.034 houvessem sido
arrolados pelo censo como lavradores, o que, todavia, não os excluía a priori da vida urbana, considerando-se as
diversas “rocinhas” existentes no perímetro do quarto distrito. Aliás, quanto à ocupação dos demais trabalhadores
escravos, segundo o censo de 1872, os mesmos também foram classificados como serviços domésticos (1.130);
criados e jornaleiros (767); marítimos (62); pescadores (37); outros exercendo diversas atividades manuais ou
mecânicas (873); além de uma parcela significativa sem uma qualificação mais definida (1.184) [40]. Mas,
levando-se em conta a população de 34.464 habitantes existente na cidade do Pará, em 1872, constata-se que,
naquele momento, os cativos perfaziam 14.76% da totalidade de seus moradores, ou seja, um contingente
populacional já bastante reduzido em comparação aos percentuais da população escrava urbana da capital paraense
nas primeiras décadas do século XIX. Em 1888, por sua vez, haviam sido classificados 2.196 cativos como
residentes nos quatro distritos da capital (Sé, Sant’Anna, Trindade e Nazareth), que, desta forma, representariam
um pouco mais que 5% da população belenense, estimada pelo menos em 40 mil pessoas, sendo que, informaram
os dados da Junta Classificadora, entre os 2.196 escravos da capital, 751 pertenciam ao sexo masculino e 1.445 ao
feminino, enquanto os cativos de ambos os sexos situados na faixa etária de 50 a 80 anos compreendiam 87
indivíduos (ver Tabela XIX) [41].

Por outro lado, a crescente diminuição do coeficiente escravo no espaço urbano da capital paraense,
particularmente nos anos finais da escravidão, parece não ter afetado a preponderância do trabalho escravo no
Município de Belém em relação às demais cidades, vilas e regiões da província, uma vez que ainda reunia
contingente significativo dos escravos existentes na província paraense. Em 1872, por exemplo, considerando-se
somente os 5.087 cativos existentes na cidade do Pará, os mesmos representavam 18,52% da população escrava da
referida província. Já em 1882, segundo o Barão de Maracaju, todos os escravos do município da capital, que
compreendia as localidades de Belém, Barcarena, S. Domingos da Boa Vista, Capim, Boa Vista, Mosqueiro,
Benfica, Pinheiro, Bujaru, Guajará-Assu, Ilha das Onças, Inhangapy, Carapuru e Paiassuhy, somavam 7.662 –
portanto, 30.94% da população escrava paraense [42], embora, em 1883, a Junta de Classificação dos Escravos
indicasse um número pouco menor, ou seja, 4.082 pessoas. Mas tal junta fazia menção apenas aos escravos
matriculados aptos para a alforria. Em 1885, por sua vez, Tristão de Alencar Araripe dizia que, no dito município,
viviam 6.235 cativos ou 32.83% dos escravos existentes no Grão-Pará [43]; em 1888, último ano da escravidão,
Francisco José Cardoso Júnior informava um número já reduzido de 2.541 escravos que, mesmo assim,
representava 24.12% dos 10.535 cativos libertados pela Lei de Treze de Maio [44], como demonstra a Tabela XX.

∗∗

Em terras do Baixo Tocantins, situava-se a Capitania de Camutá que, em 1633, foi entregue a Feliciano
Coelho de Carvalho, filho de Francisco Coelho de Carvalho, capitão-general do Maranhão e Grão-Pará. Sua
primeira povoação, fundada oficialmente em 24 de dezembro de 1635, foi justamente a Vila Viçosa de Santa Cruz
de Cametá que, situada às margens do Rio Tocantins, surgiu a partir do trabalho missionário da Ordem dos
Franciscanos da Casa de Santo Antônio de Portugal, na aldeia dos índios camutás. Desta vila, em 1637, partiu a
famosa expedição comandada pelo conquistador português Pedro Teixeira que, subindo o Rio Amazonas, muito
contribuiu para a expansão da conquista portuguesa pelo vale amazônico além do Tapajós. Em 1637, também, a
referida capitania reverteu ao domínio da Coroa, talvez por abandono do donatário, pois não se sabe o destino que
teve Feliciano Carvalho. Entretanto, a Vila de Camutá, elevada à condição de cidade por decreto de 24 de outubro
de 1848, desde o século XVII já havia se constituído na segunda mais importante povoação portuguesa na região
amazônica, durante o período colonial [45].

De fato, na região do Baixo Tocantins, em torno de Cametá, compreendendo as terras de Igarapé-Miri,


Moju, Baião, Oeiras, Abaetetuba e Barcarena, constituiu-se igualmente uma antiga e tradicional área de cultivo
agrícola, destacadamente a lavoura da cana-de-açúcar, além da coleta do cacau silvestre e cultivado, sendo o cacau
cultivado em menor escala. Em Igarapé-Miri, por exemplo, no início do século XVIII, quando João de Melo
Gusmão obteve do governador do Maranhão e Grão-Pará, Cristovão da Costa Teive, uma sesmaria com duas
léguas de extensão, estas terras eram “já exploradas e plantadas por colonos que ali se haviam estabelecido muitos
anos antes”, o que acarretou diversos protestos por parte dos posseiros prejudicados. Por sua vez, a sesmaria
concedida a Gusmão não havia sido a única, fazendo divisa com a pertencente ao Capitão-Mor Luís de Morais
Bittencourt, no Igarapé Cataiandeua. Inclusive, nas terras concedidas a João de Melo Gusmão, sob título de
sesmaria, já existia até mesmo uma serraria, cujo proprietário, chamado Jorge Valério Monteiro, que adquiriu por
compra a maior parte da sesmaria de Gusmão, tornou-se “bastante rico”, possuindo “terras e casas de engenho,
moradia, serraria, capela e roçados” quando, em 1730, passou adiante seus negócios e propriedades, retornando a
Portugal. João Paulo Sarges de Barros, o novo proprietário, igualmente próspero, mandou reconstruir a capela que
fazia parte de seu patrimônio, originalmente erigida pelo antigo dono. Alguns anos depois, na primeira metade do
século XIX, Alfred Wallace ficou impressionado com o referido templo religioso que, segundo as suas palavras,
apresentava “o pitoresco estilo italiano, usual no Pará”. Aliás, em torno da dita capela, construída em louvor de
Nossa Senhora de Santana, originou-se a povoação de N. S. de Santana de Igarapé-Miri que, em 1843, tornou-se
município [46].

De fato, Arlene Kelly-Normand, em seu estudo demográfico sobre as populações escravas existentes em
plantações situadas nas paróquias do Baixo Tocantins, cuja análise foi baseada em recenseamento do século XVIII,
relativo ao ano de 1788, demonstrou a importância econômica da atividade agrícola na região tocantina desde pelo
menos a segunda metade do século XVIII. Esta autora, por exemplo, afirmou que a região tocantina “foi o
primeiro alvo da colonização portuguesa na Amazônia, onde foi introduzido o cultivo da cana-de-açúcar”,
lastreada basicamente na exploração do trabalho do escravo africano. Portanto, segundo Kelly-Normand, no Baixo
Tocantins havia “um sistema de ‘plantação’ ou de plantation tradicional, voltado para o mercado de exportação,
seja para o mercado local, ou para o exterior”. Os principais produtos arrolados em 1788 indicam, todavia, que o
cultivo da cana não era a única atividade agrícola importante em todas as seis paróquias constantes da referida
região. Da mesma forma que nas plantações da Zona Guajarina, há pouco mencionadas, nas propriedades do
Tocantins também havia certa diversidade de culturas. Nas paróquias de Abaeté e Baião, por exemplo, destacava-
se o algodão. Contudo, café, arroz, açúcar e cacau constavam entre “os cinco produtos mais importantes em todas
as seis paróquias”. Madeiras para construção, farinha, aguardente e milho também constituíam outros produtos
comercializados pelas unidades agrícolas da região, além de certas “drogas do sertão”, tais como o cravo fino de
Oeiras. Em Baião, inclusive, encontrava-se “o único empreendimento industrial” da área, ou seja, uma olaria de
propriedade de um escravista [47].

Ainda de acordo com Kelly-Normand, no Baixo Tocantins havia uma população escrava de 1.346
indivíduos, distribuída pelas 140 propriedades fundiárias da região. Conforme a Tabela XXI, reproduzida do
trabalho da referida autora, percebe-se que havia 97 pequenas plantações, reunindo 28,75% do total de escravos da
região, ou seja, 387 cativos, perfazendo uma média de quatro trabalhadores por unidade; 39 médias plantações,
arregimentando 51,64% da totalidade de escravos da região, ou seja, 695 cativos, resultando uma média de 18
trabalhadores por unidade; e quatro grandes plantações com 19,61% do contingente populacional de escravos da
região, ou seja, 66 cativos, perfazendo uma média de dez trabalhadores por unidade de produção. Embora sejam
referenciais de análise e entendimento da economia escravista na dita região, é claro que, usualmente, os
proprietários possuíam uma quantidade maior ou menor de cativos em suas terras do que as indicadas pelas
referidas médias. Este foi o caso, por exemplo, de certa senhora que, residindo em Belém, possuía a única
plantação da região tocantina com 87 escravos [48].

Aliás, entre os senhores detentores de terras e escravos no Baixo Tocantins, devido à proximidade desta
região com a cidade de Belém, existiam efetivamente alguns que viviam na capital paraense, tornando-se
proprietários ausentes. Sobre a questão, Kelly-Normand informou que justamente a “grande maioria dos senhores
e senhoras de engenho estavam morando em Belém”, graças às suas posses, enquanto os proprietários de
engenhocas “viviam principalmente nas paróquias”, em cujas áreas possuíam as suas terras. Daí, portanto, a razão
de a maior parte dos proprietários das seis paróquias morar nas mesmas, uma vez que parecia haver o predomínio
de pequenas e médias plantações. Entretanto, no caso das paróquias de Acará e Abaetetuba, talvez porque situadas
realmente pouco distantes de Belém, ambas eram caracterizadas pela ausência dos seus proprietários de terras,
quer homens ou mulheres, quer grandes ou pequenos. No Acará, por exemplo, existiam “22 donos de escravos
morando em Belém, com plantação de todos os tamanhos”, até porque, pelo menos, parte do Acará, ou seja, a
bacia do Rio Acará integrava a região de Belém denominada Zona Guajarina [49].

Em 1822, segundo os dados constantes no “Ensaio corográfico sobre a Província do Pará”, escrito por
Baena, na região tocantina já existia uma população escrava mais representativa, considerando-se como ponto de
referência os números que, citados anteriormente, constavam do Recenseamento Nominal de 1788. Havia, então,
no Baixo Tocantins, 28.261 habitantes, sendo que 7.726 eram escravos e 4.715 eram índios e mestiços. Quanto aos
15.820 indivíduos restantes, todos livres, havia uma pequena parcela de 192 pessoas consideradas brancas,
enquanto a grande maioria não foi identificada [50]. Em 1822, portanto, os cativos perfaziam 27,34% da totalidade
de habitantes da dita região. Observou-se também que, segundo algarismos arrolados por Rosa Acevedo Marin,
nas regiões tocantinas em que havia o cultivo da cana-de-açúcar, do arroz e do café, dentre outros produtos
agrícolas, verificava-se uma maior densidade demográfica da população escrava. No Rio Moju, por exemplo,
1.728 pessoas, ou 54,7% de seus 3.157 moradores, eram cativas; em Igarapé-Miri, 1.839 indivíduos, ou 51,5% de
seus 3.573 habitantes, eram escravos; em Barcarena, os 365 escravos aí existentes perfaziam 43,6% de sua
população, estimada em 837 pessoas; em Abaeté, havia 1.639 cativos, ou seja, 40,3% de seus 4.064 moradores
(ver Tabelas XVII e XVIII) [51].

De fato, na bacia do Rio Moju, desde o século XVII já haviam sido levantadas lavouras de cana-de-açúcar,
tal como o citado “Engenho de Jaguarary”. Nesta área, também havia o “Engenho de Itaboca”, da propriedade de
Domingos Monteiro de Noronha, cavaleiro fidalgo da Ordem de Cristo e familiar do Santo Ofício no Grão-Pará;
bem como o de “Juquiri-Assu”, de Bento Alves da Silva, tesoureiro do Erário Real; e o “Engenho Real de
Ibirajuba”, o qual foi doado por dona Catarina da Costa aos jesuítas em 1737 [52]. Henry Bates, por sua vez,
relatou que, às margens do Rio Moju, haviam existido 11 grandes engenhos de açúcar [53]. Na área de Igarapé-
Miri, por sua vez, existiam ainda os engenhos “Enseada”, da família Lobato, e “São Domingos”, de propriedade do
Barão de Igarapé-Miri. Na faixa de terra situada entre a Vila de Igarapé-Miri e a cidade de Belém, identificada por
Cândido Mendes de Almeida como Ilha de Carnapijó, em seu belíssimo atlas, situavam-se diversas localidades em
cujas áreas também existiam fazendas de cultivo da cana-de-açúcar. Na Baía de Carnapijó, por exemplo, no furo
do cafezal, encontrava-se a fazenda e engenho homônimo que, segundo Salles, entre os “antigos engenhos do
Pará” foi “talvez o de mais largas proporções” [54]. Ainda em Carnapijó, na área de Barcarena, havia o “Engenho
São Mateus” que, de propriedade do português Mateus Magno Ferraz de Araújo, posteriormente, em 1871,
pertenceu à família Acatauassu. Em Barcarena, também, ficava o “Engenho de Madre de Deus”, de propriedade do
ex-presidente cabano Eduardo Angelim que, já citado anteriormente, chegou a possuir 72 escravos. Em Abaeté,
por sua vez, havia a “Fazenda e Engenho São Francisco”, de Antônio Francisco Corrêa Caripuna, bem como, na
margem direita do Rio Tucumanduba, situava-se a “Fazenda e Engenho São José”, cujo proprietário era José
Honório Roberto Maués, comendador da Ordem de Cristo [55].

No Rio Tocantins, também havia alguns outros engenhos, tais como o denominado “Curussambaba”,
localizado na margem direita do dito rio, pertencente a Manoel Pestana de Mendonça, Capitão-Mor de Santa Cruz
de Camutá. Também existia o “Engenho Vista Alegre” que, movido a bois, foi visitado por Wallace e Bates [56].
No Baixo Tocantins, localizava-se igualmente o “Engenho Carmelo do Carapajó”, de propriedade do mestre de
campo João de Morais Bittencourt, em cujas terras trabalhavam “42 escravos entre homens e mulheres, 17
menores e 6 índios”. Todavia, em Carmelo do Carapajó, também existia uma “agricultura de cacauais” reunindo
“perto de trezentos mil pés” além de “olaria, curtume, roças para família, alguns arrozais, faturas de canoas
grandes e mais miudesas (sic) de lavouras”, sendo que o Coronel Hilário de Morais Bittencourt, herdando a
propriedade, preferiu manter os escravos empregados na cultura do cacau porque dizia que encontrara o engenho
“na última decadência”, situação que deixava inalterada porque lhe faltavam os braços necessários para manter a
extração do cacau e reerguer a cultura da cana ao mesmo tempo. Na época, 1790, os bons preços do cacau
amazônico com certeza influíram na decisão deste proprietário, que reclamava pela falta de trabalhadores para
levar adiante as várias culturas de suas terras [57].

Na região do Baixo Tocantins, por outro lado, existiam áreas com uma menor presença de escravos, uma
vez que se desenvolviam nas mesmas atividades coletoras das “drogas do sertão”, empregando largamente os
trabalhadores indígenas e mestiços livres, na medida em que o “curso do rio Tocantins foi reconhecido como o
reino da canella e do cravo explorados de forma intensiva desde os fins do século XVII” [58]. Também havia, em
determinadas áreas, a extração do cacau silvestre, embora nas fazendas em que existia o mesmo também fossem
empregados escravos africanos em sua coleta. Aliás, na região tocantina houve o cultivo do cacau lastreado no
trabalho do escravo importado pela Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão. Nas terras de Cametá, por
exemplo, a exploração do cacau tornou-se importante atividade econômica, ainda que não houvesse uma
“monocultura do cacau”, como já se pôde notar em virtude do relato do grande proprietário de terras em Cametá,
Hilário de Morais Bittencourt, pelo contrário [59]. Assim sendo, em determinadas regiões tocantinas, notou-se
uma presença menor do trabalho escravo negro, tais como em Baião, Cametá e Oeiras, ainda que reunissem
percentuais significativos de trabalhadores cativos negros aproveitados no plantio ou na coleta do cacau. Em 1822,
por exemplo, havia, em Baião, 450 escravos ou 23,1% dos seus 1.950 habitantes; em Cametá, por sua vez,
existiam 1.382 cativos, perfazendo 14,6% dos seus 9.450 moradores; em Oeiras, 192 escravos ou 8,2% dos seus
3.944 habitantes. Já nas localidades de Conde e Beja, arroladas por Baena como aldeias indígenas, aparentemente
não havia uma atividade agrícola assentada no trabalho escravo de origem africana, na medida em que não
constavam entre as populações aí existentes os referidos escravos, sendo as ditas aldeias habitadas por 1.157 índios
e 129 mestiços (ver Tabelas XVII e XVIII) [60].

∗∗

Em 23 de dezembro de 1665, a Coroa doava a Capitania de Ilha Grande de Joanes ao súdito português
Antônio de Souza de Macedo, sendo a sua primeira povoação denominada de Monforte ou Joanes. Em 29 de abril
de 1794, a dita capitania reverteu ao domínio da Coroa. Nesta época, entretanto, a conquista e ocupação
portuguesa da Ilha de Joanes ou Marajó, antigamente chamada Ilha dos Nheengaibas, já havia sido iniciada,
destacando-se o trabalho missionário dos jesuítas junto aos índios aruás ou aruacs, notadamente o Padre Antônio
Vieira [61]. No Marajó, contudo, a presença dos jesuítas não ficou restrita à catequese indígena, uma vez que os
ditos religiosos desde cedo se tornariam senhores de grandes quantidades de terras, nas quais possuíam 134.465
cabeças de gado vacum e 1.409 de gado cavalar. Inclusive, a prosperidade dos negócios levados a cabo pelos
padres da Companhia de Jesus havia despertado o protesto propositadamente exagerado dos colonos contra “o
absoluto domínio e jurisdição” dos referidos missionários na Ilha de Marajó, onde os jesuítas eram acusados pelos
colonos de fazer uso do trabalho de três mil índios para a coleta do “cravo, cacau e outros produtos(utilidades)
valiosos” [62].

Na verdade, havia também outras ordens religiosas detentoras de terras e escravos na região do Marajó,
igualmente dedicando-se à criação de gado e ao cultivo da cana-de-açúcar, dentre outros produtos agrícolas, além
da coleta das “drogas do sertão”. No século XVIII, por exemplo, nas fazendas dos carmelitas e mercedários, havia
“grande número de escravos negros”. Aliás, a fazenda dos mercedários em Cachoeira “era a maior não só dessa
ordem, como de toda a Ilha de Marajó” [63]. Segundo Frei Caetano Brandão, havia na mesma “mais de 150
escravos entre machos e fêmeas” [64]. Não foi à toa, portanto, que, sendo desocupadas pelas ordens religiosas,
após a sua expulsão da Colônia, e transferidas em grande parte pela Coroa para a posse de particulares,
particularmente as antigas propriedades jesuíticas, “essas fazendas acabaram por tornar-se a base econômica para
famílias política e socialmente eminentes, como os Bezerra, os Chermont, os Lobato, os Miranda e os
Montenegro” [65].

Por outro lado, a obtenção de títulos de sesmarias, por parte dos colonos, demonstra que o processo de
formação de grandes propriedades de terras, no Marajó, já se encontrava em curso na segunda metade do século
XVIII. Segundo Rosa Acevedo, “Le XVIIIe siècle fut décisif en ce qui concerne l’instauration du régime de grande
propriété dans l’île” [66]. Nos rios Arari e Anajás, de acordo com Ernesto Cruz, localizavam-se:

(...) a Fazenda dos Remédios, de José Miguel Aires, com carta de data e sesmaria de 10
de maio de 1762; Fazenda Santo Reis, de José Garcia Galvão, com carta de data e
sesmaria de 15 de maio de 1762; Fazenda Boa Vista, de José Bernardo da Costa Osso,
com carta de data e sesmaria de 12 de maio de 1762; Fazenda São João de Deus, de José
Antônio Salgado, com carta de data e sesmaria de 14 de maio de 1762.

No Igarapé Paracauari, nas cabeceiras dos rios Tauá e Atuá, Florentino da Silva Frade possuía “grandes
áreas”, sendo que, no Rio Anajás, era dono da “Fazenda Nossa Senhora da Conceição”, “em terras concedidas a 1o
de maio de 1762”. Francisco de Melo Palheta, que introduziu o cultivo do café em território paraense, igualmente
possuía bons pedaços de terras situados entre as bocas dos igarapés Arapijó e Guajará, sendo que os mesmos foram
“concedidos por Carta de Data e sesmaria de 7 de fevereiro de 1709” [67].

Foi justamente nas grandes propriedades setecentistas que, localizadas em boa parte em regiões de campos,
houve tanto o desenvolvimento de uma agricultura caracterizada pelo cultivo da cana-de-açúcar, arroz, café, milho,
algodão, mandioca, além do cacau, bem como o surgimento e predomínio da criação de gado vacum. Assim sendo,
ainda que duas terças partes ocidentais do território da Ilha Grande de Joanes fossem formadas por espessas
florestas, havia poucos proprietários de fazendas que possuíam alguma terra em áreas florestais. Nas regiões de
florestas, por sua vez, desenvolviam-se atividades extrativistas, particularmente a produção da borracha nas
últimas décadas do século XIX. Inclusive, segundo Weistein, “os registros [de terras] relativos a Breves e Anajás
(zonas de seringueiras em Marajó) não mostram sequer um nome normalmente associado à elite de fazendeiros
entre os 989 assentamentos até 1872” [68].

Entre as diversas culturas agrícolas, todavia, destacava-se a lavoura canavieira, cujo dinamismo favoreceu,
por determinado momento, o surgimento de vários engenhos na Ilha de Marajó, mesmo que, posteriormente, a
economia marajoara fosse dominada pelas atividades criatórias das fazendas de gado. Sobre os engenhos de açúcar
e seus proprietários, inventariados por Ernesto Cruz, foi possível perceber que, na foz do Rio Arary, havia o
“Engenho de Santana”, pertencente aos frades mercedários; em Ponte de Pedras, existia o “Engenho dos Santos
Reis”, da propriedade de Mateus Carvalho; e, em local não identificado, o “Engenho Maruaru”, de João Furtado de
Mendonça [69]. João Ferreira Texeira, por sua vez, indicou a existência de outros engenhos pertencentes a Antônio
Ferreira Ribeiro, mestre de campo da Ilha de Marajó e detentor de uma sesmaria na foz dos rios Quio e Camara; a
Raimundo Ferreira Ribeiro, dentro da Ilha de Sant’Ana; a Florentino da Silveira Frade, inspetor-geral da ilha,
proprietário de São Marçal na foz do Rio Arari; a João Ferreira Ribeiro, na foz do Rio Anabiju; e, finalmente, a
“Fazenda” Fábrica de Manoel Teodoro Ferreira Ribeiro, situada no Rio Arapixi, em Chaves [70].

Ao longo do período colonial, entretanto, as atividades de criação de gado nas fazendas dos grandes
proprietários passaram a assumir uma importância econômica cada vez maior, tanto que a pecuária acabou
constituindo-se atividade típica do Marajó. No princípio, os primeiros rebanhos de gado vacum e cavalar foram
introduzidos, provavelmente ao mesmo tempo, na Ilha Grande de Joanes pelos conquistadores portugueses.
Posteriormente, em poucos anos, com o rápido crescimento do gado cavalar, “subindo a um número que se calcula
duplo do gado bovino”, a existência dos dois tornou-se um inconveniente para a criação do gado vacum, uma vez
que rebanhos de gado cavalar “devastaram os campos devorando os pastos já insufficientes para o gado vaccum”.
Foi então que, a Coroa autorizou que os colonos comprassem e matassem milhares de éguas “para lhe aproveitar as
pelles e a crina”. Acontece que, enquanto ocorria a diminuição do gado cavalar pela mortandade das fêmeas, no
Marajó também surgiu a moléstia denominada “quebra-bunda”, afetando mortalmente o gado cavalar. Enfim, a
opção pela criação do gado bovino favoreceu de tal forma a drástica redução da população dos equinos que os
rebanhos sobreviventes de gado cavalar tornaram-se até mesmo insuficientes para os trabalhos das fazendas [71].
Mas qual a razão da preferência dos fazendeiros pela criação do gado vacum? A opção dos proprietários de terras
do Marajó pela criação do gado bovino foi condicionada tanto pelos bons negócios envolvendo o abastecimento de
carnes verdes em Belém quanto pelo comércio de exportação de couros e couros secos (ver Tabelas IV a e IV b).
Por sua vez, o surgimento do contrabando de bois, cavalos e couros da Ilha Grande de Joanes para a Guiana
Francesa também animou o desenvolvimento da atividade criatória entre os fazendeiros [72].

Na região meridional e nordeste da Ilha de Marajó, segundo Rosa Acevedo Marin, houve o surgimento das
primeiras fazendas de gado, uma vez que “entre 1721 et 1740 y furent distribuées plus de 50 ‘sesmarias’,
notamment le long de la rivière Arari” [73]. Posteriormente, houve novas concessões de terras, acompanhando o
curso do Rio Arary e seus afluentes na costa norte e em áreas situadas nas ilhas de Caviana e Mexiana. Segundo
João Ferreira Teixeira, citado por Acevedo Marin, a quantidade de sesmarias distribuídas em Marajó totalizavam
32 concessões entre os anos de 1750 a 1780 e 13 concessões entre 1781 e 1800, enquanto, em 1822, já haviam sido
distribuídos 16 títulos [74]. Em fins do século XVIII, precisamente em 1783, em Joanes existiam 153 fazendas. Já
no começo do século XIX, entre 1803 e 1806, o número de fazendas subiu para 226 [75]. Após a independência,
entretanto, Baena apontou uma redução da quantidade de fazendas, sendo seu entendimento que esta redução
explicava-se pela decadência da referida atividade. Em 1825, por exemplo, existiam 56 fazendas na costa
setentrional e 92 no restante da ilha; em 1826, as fazendas situadas na costa setentrional já haviam diminuído para
44 e as demais para 86; em 1827, por sua vez, contava-se somente 38 fazendas na costa setentrional e 75 nas outras
áreas [76]. Na segunda metade do século XIX, relatou Vicente Salles, as fazendas de gado sofriam adversidades
econômicas em função, principalmente, dos baixos preços dos produtos pecuários no mercado paraense, além das
dificuldades com a manutenção e a segurança dos rebanhos, que eram constantemente objeto de roubos entre os
próprios fazendeiros [77]. Mas, como já foi notado, em 1872, as tradicionais famílias de grandes proprietários do
Marajó ainda continuavam dedicando-se à criação de gado vacum, não se envolvendo no extrativismo da borracha,
que, de imediato, parecia tornar-se opção cada vez mais forte para os fazendeiros menos afortunados. Aliás, os
infortúnios econômicos da pecuária não haviam afetado a situação vivida pelos grandes fazendeiros, que
continuavam exercendo um papel importante dentro da vida econômica e política da província paraense [78].
Neste sentido, Cristina Cancela informou, por exemplo, que os seringais existentes nas propriedades da tradicional
família Pombo, dona de terras na Ilha de Mexiana, em 1865, representavam 9% de seus bens; em 1888, já
configuravam 18% dos bens, mas somente em 1893 o seringal representaria 40% do valor dos bens dessa família
que, apesar de seu envolvimento de certa forma tardio com os negócios da borracha, não deixara de ser
proprietária de terras para criação de gado bovino. Inclusive, ainda segundo essa autora, de um modo geral, nos
942 inventários analisados em sua pesquisa referente ao período de 1870 a 1920, antes de 1885 havia pouco
registro de estradas de seringueiras ou seringais, embora, a essa altura, já fosse atividade econômica importante e
rentável a extração da seringa e seu comércio [79].

Entrementes, a diminuição do número de fazendas também significava a própria redução da quantidade de


gado bovino e cavalar, este já bastante reduzido. Por exemplo, se em 1806 havia 500 mil cabeças de gado bovino,
em 1881, estimava o Barão de Marajó, havia entre 200 mil e 250 mil bois e oito mil a dez mil cavalos em toda a
ilha de Joanes [80].
De qualquer maneira, tornando-se a pecuária atividade típica da Ilha de Marajó, ainda que em suas densas
florestas fosse desenvolvido o extrativismo, bem como em seus rios, lagos e litoral a atividade pesqueira, foi
justamente nas fazendas de gado que houve a fixação definitiva do escravo negro como trabalhador, usualmente
como vaqueiro. Além dos escravos, é verdade, trabalhavam igualmente nas fazendas libertos, índios e mestiços
livres. Em uma fazenda localizada na Ilha de Mexiana, visitada por Wallace, havia, por exemplo, 40 pessoas
vivendo em suas terras, sendo a metade composta de cativos e a outra de indígenas e negros libertos, que
desempenhavam diversas atividades na propriedade [81]. Aos vaqueiros cabiam obviamente os cuidados relativos
ao gado bovino e cavalar, mas, igualmente, segundo Salles, possuíam “por obrigação construir casas e currais,
caçar jacarés, para tirar-lhes a banha, e matar os morcegos, que causavam grande dano ao gado” [82]. Entretanto,
no caso da caça aos jacarés, além da obtenção da banha, tornava-se importante o combate aos mesmos em razão do
perigo que representavam nos lagos da ilha para os peixes e, particularmente, para os bois [83]. Ainda segundo
Salles, aos “escravos e trabalhadores livres era permitido fazer farinha, cultivar todos os cereais e vegetais para
consumo próprio, fornecendo-se-lhes ainda armas e munições. Permitia-se-lhe igualmente plantar fumo, e outros
ainda ganhavam dinheiro fazendo jacás, cestos etc.” [84].

No tocante à sua população, na Ilha do Marajó, em 1822, existiam 13.036 habitantes, sendo que 2.120
indivíduos eram escravos, enquanto a população livre era parcialmente composta por 367 brancos, 1.357 índios,
315 mamelucos e 220 mestiços. Compreendendo 16,26% do contingente populacional da Ilha Grande de Joanes, a
população escrava encontrava-se presente em maior densidade nas regiões dominadas pelos campos, nas quais se
desenvolviam as atividades de agricultura e, particularmente, de criação de gado. Em Soure, por exemplo, 155
indivíduos, ou 42,3% dos 366 moradores, eram escravos; em Monsarás, 249, ou 29,1%, dos 857 habitantes eram
cativos; em Chaves, 447 pessoas, ou 24,1% dos 1.853 moradores, eram escravos; em Monforte, 124, ou 18,7% dos
664 moradores, eram cativos; em Cachoeira, 531, ou 15,3% dos 3.463 habitantes, eram escravos; em Muaná, 503,
ou 14,3% dos 3.524 moradores, eram escravos.

Nas regiões demarcadas pela presença de densa floresta, por sua vez, havia um contingente cativo menor
ou praticamente inexistente, haja vista as atividades econômicas extrativistas desenvolvidas nas mesmas. Em
Salvaterra, por exemplo, os 31 escravos perfaziam apenas 6,2% dos seus 497 moradores; em Breves, os 80 cativos
existentes representavam 3,5% dos seus 227 habitantes. Em algumas áreas, inclusive, não havia sido registrado,
em 1822, nenhum coeficiente de escravos negros presente nas mesmas. Em Ponta de Pedras, por exemplo, entre os
seus 815 habitantes não existia nenhum cativo; em Modim, igualmente inexistiam escravos entre os 230
moradores. Aliás, em certas localidades, tais como Villar, Condeixa e Rebordelo, as populações indígenas
formavam a totalidade de seus habitantes, uma vez que os índios, como em outras regiões paraenses, constituíam-
se em importante mão de obra nas diversas atividades econômicas desenvolvidas no Marajó, quer nas fazendas,
quer no extrativismo (ver Tabelas XVII e XVIII) [85].

Na verdade, o coeficiente de escravos existentes na Ilha Grande de Joanes parece ter sido aquém das
necessidades de trabalhadores por parte das fazendas, carência acentuada pelas disputas por braços entre os
fazendeiros e os segmentos sociais vinculados ao extrativismo da borracha, em expansão desde as últimas décadas
do século XIX [86]. Aliás, esta realidade torna-se perceptível quando se compara as sub-regiões paraenses em
termos da distribuição da população escrava. No período demarcado pelos anos de 1849 a 1888, segundo
Anderson, após a área do Baixo Tocantins, excetuando-se Belém e adjacências, a Ilha do Marajó aparecia em
seguida, bastante distanciada das outras duas, em número de escravos, entre as ditas sub-regiões da província
discriminadas conforme a presença escrava nas mesmas. Segundo os dados constantes na Tabela XXIV, todavia,
somente entre os anos de 1872 e 1888, a Ilha de Marajó ocuparia a referida terceira posição, distante das duas
outras áreas, ultrapassando o Baixo Amazonas, cujo número de escravos, entre 1822 e 1848, era superior ao da
Ilha de Marajó [87].

∗∗

Em 14 de junho de 1637, Bento Maciel Parente, temível apresador de índios, recebeu a Capitania do Cabo
Norte, da Coroa lusa, sendo os seus limites as águas dos rios Amazonas e Tapuyusus e as possessões espanholas,
tornando-se o forte de Camaú a sua primeira povoação. Já alguns anos depois, em 1642, por morte do donatário, a
dita capitania reverteu ao domínio da Coroa. Entretanto, o território amapaense, na época denominado Cabo Norte,
desde pelo menos o século XVI tornou-se palco das tentativas empreendidas por diversos conquistadores europeus
em tomar-lhes a sua posse. Por exemplo, ingleses, holandeses, franceses e portugueses intentaram a conquista das
terras do Cabo Norte. Mas, finalmente, coube aos lusitanos o domínio efetivo da referida área, ainda que, por cerca
de três séculos, fosse o mesmo domínio constantemente questionado e ameaçado pelas incursões francesas
lançadas a partir de Caiena, na Guiana Francesa [88].

No contexto demarcado pelas guerras de conquista contra os demais invasores europeus, com os quais uma
ou outra nação indígena estabelecia ou desfazia convenientemente as suas alianças, os portugueses, visando ao
domínio da região do Cabo Norte, não somente lançavam-se na tarefa de combater as fortalezas e feitorias
inimigas, expulsando seus incômodos ocupantes, como também tratavam de fundar suas próprias fortalezas. Neste
sentido, inclusive, destacou-se a construção da “Fortaleza de São José de Macapá”, localizada na foz do Rio
Amazonas, defronte da qual se erigiu o núcleo urbano de Macapá. Foi visando a fazer frente a uma possível
invasão francesa, em terras da Guiana Brasileira, que a construção da dita fortaleza foi iniciada em 29 de junho de
1764, ainda que seu término somente tenha ocorrido em 19 de março de 1782 [89]. Nas obras de construção da
fortaleza, houve a utilização de trabalhadores escravos negros e indígenas. Aliás, segundo Anaíza Vergolino, no
decorrer do século XVIII, “foram os serviços das fortificações militares que parecem ter absorvido grande parte
da mão de obra, não somente dos negros, mas também dos índios escravos” [90]. De fato, para que fosse possível a
construção de determinada fortaleza, fazia-se necessária toda uma infraestrutura capaz de fornecer tanto os
diversos tipos de materiais de construção quanto os serviços indispensáveis a ela própria. Por exemplo, da mesma
forma que se tornava preciso o fornecimento de materiais necessários à obra pelas pedreiras, pelas olarias, pelos
fornos de cal, pelas serrarias, fazia-se imprescindível a prestação de serviços especializados de remeiros, canoeiros
e carreteiros.

Em 1767, por exemplo, na construção da “Fortaleza de São José de Macapá”, encontravam-se cerca de 150
a 200 trabalhadores, entre índios e negros escravos, que já haviam labutado nas pedreiras por volta de 2,5 mil dias.
Alguns anos antes, em 1765, é possível perceber a divisão de tarefas entre trabalhadores negros e indígenas. Neste
ano, por exemplo, havia 177 escravos de origem africana alocados na construção da fortificação da Praça de S.
José de Macapá, sendo que 119 desenvolviam as suas atividades na própria edificação da fortaleza, 34 trabalhavam
na primeira pedreira junto à obra e dois na “pedreira da bocca do rio Uanará Pecu”. Os outros 22 negros restantes
estavam convalescendo no hospital. Os indígenas, em menor número, totalizavam 169 operários que, à exceção
dos 12 “índios calcetas e aditos à obra”, em sua maior parte eram “empregados como remeiros das canoas que
transportam pedras, lenhas para o forno de cal, madeiras e palhas para o telheiro dos tijolos” [91].

Assim sendo, enquanto existiam apenas 12 índios trabalhando na edificação propriamente dita da fortaleza,
mesmo assim sob calcetas, além dos 46 empregados nas pedreiras e os dois nos fornos de cal que serviam a obra,
80 indígenas cuidavam do transporte de madeiras, pedras, lenha e palha através das canoas e 15 empregavam-se no
“corte de acapuz na bocca do rio Cororú”. Entre os 169 trabalhadores índios, na época, havia ainda 14
hospitalizados. Ou seja, cabia aos escravos negros a carga de trabalho mais pesada no tocante à edificação da
fortaleza, não sendo estranho, portanto, que os índios só fossem empregados na mesma sob calcetas, talvez sob
alguma forma de castigo, uma vez que vários escravos tratavam de fugir desta labuta, enveredando pelas matas e
terras interioranas do Amapá em busca da liberdade. Em 1765, por exemplo, 51 cativos haviam fugido, ainda que
pouco tempo depois 41 tenham sido recapturados [92].

Entretanto, nas terras do Cabo Norte, ocupadas pelos conquistadores portugueses, houve também o
desenvolvimento de outras atividades que não fossem unicamente as edificações de fortalezas militares. No
território amapaense, houve certo florescimento das atividades agrícolas, particularmente o cultivo da lavoura do
arroz. Entre 1775 e 1779, segundo Vergolino & Figueiredo, no Cabo Norte “a lavoura mais expressiva era a do
arroz” [93]. Nesta atividade, além do recurso ao braço indígena, foi igualmente empregado o trabalhador escravo
de origem africana, embora as necessidades dos proprietários dos arrozais em relação ao fornecimento de cativos
parecem nunca ter sido supridas a contento. Em 1779, quando reiterava à metrópole suas solicitações de maior
número de braços escravos em favor dos colonos da Guiana Brasileira, o Governador João Pereira de Caldas dizia
a El-Rey que pedia por mais braços para a lavoura justamente porque esperava uma “boa exportação de arroz e da
maior que daqui se tem feito, desde o estabelecimento desta lavoura com o princípio do meu governo”. Alguns
anos depois, em 1786, ao que parece atendendo aos reclames dos portugueses da Guiana Brasileira, já chegavam à
Colônia alguns escravos oriundos da praça africana de Cachêu, sendo que a Coroa esperava receber
“sucessivamente em todos os navios até 800 arrobas de arroz e achas de lenha” [94]. Isto porque o arroz produzido
na região amazônica, bem como em outras áreas do Brasil Colônia, visava fundamentalmente ao abastecimento da
metrópole portuguesa [95].

É verdade que, em terras portuguesas da Amazônia, havia o florescimento da cultura de arroz igualmente
na região de Belém, não se limitando os arrozais unicamente ao cultivo realizado no Cabo Norte. A cultura do
arroz branco já havia sido introduzida no Grão-Pará na década de 1760, sendo que, a partir de 1768, segundo
Acevedo, “ses progrés avaient amené l’établissement de plusieurs machines à décortiquer” [96]. Já em 1773, o
tenente-coronel e proprietário de terras Theodosio Constantino Chermont, engenheiro português de ascendência
francesa, exportou arroz para Portugal pela primeira vez, estabelecendo o referido comércio entre a Colônia e a
Metrópole. Todavia, além de Chermont, existiam, nas proximidades de Belém, outros sete proprietários de terras
que cultivavam arroz, sendo os mesmos o Capitão-Auxiliar Ambrósio Henrique; o Comandante Manoel Joaquim
Pereira; os alferes Pedro Miguel Aires, João Garcia Galvão e Feliciano José Gonçalves; e Miguel Antônio de
Araújo, além do arrozal do Arsenal da Marinha “qui avait appartenu au Maître du Camp João Ferreira” [97].
Inclusive, no período de 1773 a 1818, como havia sido anteriormente observado, no Grão-Pará já se destacava a
produção de arroz, além do algodão e, principalmente, do café e cacau (ver Tabelas VIII e IX).

Sendo estabelecido o comércio de exportação do arroz cultivado em terras paraenses, desde 1773, alguns
anos mais tarde, entre 1796 e 1811, o arroz já constava entre os três principais produtos comercializados pelo
Grão-Pará, ficando apenas atrás do cacau, em primeiro lugar, e do algodão, em segundo [98]. Quanto à quantidade
de arroz exportado para Portugal, segundo Ignácio Moura, nos anos de 1814 e 1815 somavam 162.486 arrobas
anuais; em 1816, 128.851; em 1817, 219.819; e, em 1818, 161.642 arrobas [99]. Em meados do século XIX,
todavia, mesmo considerando a qualidade do arroz cultivado na província paraense tão boa quanto a do plantado
no estado norte-americano da Carolina, o viajante naturalista Wallace percebia que a falta de cuidados no cultivo e
na colheita do produto nas fazendas paraenses, devido à carência de trabalhadores, comprometia a qualidade
exigida para a sua venda no mercado de exportação, o que muito provavelmente acentuava ainda mais as
dificuldades dos plantadores de arroz no Pará [100].

É verdade também que, nas terras do Cabo Norte, da mesma forma que em outras regiões do território
paraense, não se plantava apenas arroz; pelo contrário, havia também o cultivo de diversos outros tipos de culturas
agrícolas, visando particularmente ao abastecimento interno. No ano de 1759, a título de exemplo, em Macapá
haviam sido colhidos 3.850 alqueires de arroz, 75 alqueires de farinha de mandioca, 180 arrobas de algodão, 62
arrobas de tabaco, cinco mil mãos de milho, 50 mil melancias e 1.430 cachos de bananas [101]. Aliás, Rosa
Acevedo Marin destacou o cultivo do algodão nas terras em torno de Macapá como uma importante atividade
econômica desenvolvida na costa setentrional do território paraense, sendo a mesma baseada na exploração do
trabalho escravo masculino e feminino, o primeiro necessário na cultura e o segundo, na fiação. Ainda segundo
Acevedo Marin, havia mesmo entre os plantadores de algodão alguns importantes senhores de escravos
estabelecidos em Macapá. Por exemplo, Manoel Vaz de Campos, que dispunha de 40 escravos para a sua cultura
do algodão e 15 escravas para o trabalho de fiação; Julião Álvares da Costa, por sua vez, com dez cativos para
cultura e cinco cativas fiadoras; Lucas Valente de Couto, que possuía 18 escravos no cultivo e seis escravas como
fiadoras; além de quatro proprietários da mesma família, que possuíam entre dez e 18 cativos destinados à cultura
do algodão e entre cinco e 27 escravas fiadoras [102]. Desta forma, foi justamente nas obras de fortificações
militares, particularmente da Praça de São José de Macapá, e no trato da lavoura de arroz e algodão que,
basicamente, fez-se uso da mão de obra escrava composta pelos trabalhadores de origem africana.

Em 1772, segundo mapa de Manoel da Gama Lobo de Almada, havia em Mazagão, importante localidade
do Cabo Norte, surgida entre 1770 e 1771, 459 moradores, dentre os quais 76 escravos de ambos os sexos [103].
Em 1788, conforme Vicente Salles, na Vila de Macapá, reunia-se número bem maior de escravos africanos,
totalizando 750 indivíduos [104]. De fato, parece que, no decorrer dos séculos XVIII e XIX, em Mazagão e
Macapá, houve a maior concentração dos trabalhadores escravos negros introduzidos na costa setentrional
paraense ou Guiana Brasileira, haja vista que foi justamente em torno das referidas povoações que se organizaram
as lavouras de arroz e a edificação da mais imponente fortificação militar portuguesa do Norte, ou seja, a
“Fortaleza de São José de Macapá”. Inclusive, talvez por conta das obras de construção da referida fortaleza, em
fins do século XVIII, registre-se uma diferença bastante significativa entre o número de escravos existentes em
Macapá e Mazagão, diferença esta que conheceu diminuição nas primeiras décadas do século XIX, como poderá
ser visto a seguir.
Em 1822, a população escrava existente na costa setentrional reunia 940 indivíduos, representando 19,6%
da totalidade de seus habitantes, estimados em 4.803 pessoas, dentre os quais 2.125 brancos, 1.011 índios e 727
mestiços livres. Justamente em Macapá e Mazagão, principais núcleos coloniais da Guiana Brasileira, havia uma
maior densidade demográfica em relação ao restante do território. Em Macapá, por exemplo, habitavam 2.558
moradores, sendo 1.238 brancos, 242 índios, 483 mestiços e 595 escravos, representando 23,3% do contingente
populacional macapaense. Em Mazagão, por sua vez, existiam 1.152 habitantes, sendo 498 brancos, 148 índios,
181 mestiços e 325 escravos, que representavam 28,2% do total (ver Tabelas XVII e XVIII). Portanto, nas duas
praças, tem-se reunida a maior parte da população paraense da costa setentrional, bem como a quase totalidade dos
escravos existentes na mesma. Destaque-se, ainda, a maior densidade demográfica de escravos em Mazagão em
relação a Macapá, considerando-se a relação entre população livre e escrava [105].

No restante do território do Cabo Norte, Baena infomou que, em Arraiolos, constava ainda uma pequena
quantidade de escravos, somando 20 pessoas ou 4,1% da sua população estimada em 425 indivíduos, dentre os
quais 202 brancos, 180 índios e 21 mestiços. Já nas localidades de Espozende e Almeirim, não havia a presença da
escravidão. Em Espozende, existiam 363 moradores, sendo 187 brancos, 124 índios e 42 mestiços, enquanto em
Almeirim havia 305 pessoas, todas indígenas (ver Tabelas XVII e XVIII). A presença muito reduzida de escravos
negros em Arraiolos, bem como a sua ausência nas outras duas povoações, dentre as quais uma aldeia de índios,
explica-se pelas próprias atividades econômicas desenvolvidas em torno destes núcleos, caracterizadas tanto pela
agricultura familiar de produtos de subsistência como pelo extrativismo das ditas “drogas do sertão”, enquanto
uma maior presença de pessoas brancas justificava-se pela presença militar na área. De fato, somente em
Arraiolos, que reunia 20 escravos, havia além do cultivo agrícola da mandioca, atividade dominante, uma dúzia de
pequenas explorações com pés de café, no máximo 212, duas outras propriedades com cacaueiros e duas fazendas
de criação, cada uma, respectivamente, com 42 e 15 cabeças de gado bovino [106].

∗∗

Sob a União Ibérica (1580-1640), os súditos portugueses da Coroa espanhola ampliavam os domínios dos
“Felipes” sobre os sertões da Amazônia, indo além da “Fortaleza de Santo Antônio de Gurupá”, cuja praça forte
havia sido anteriormente erigida por holandeses auxiliados pelos índios mariocais. Em 1623, expulsos os
holandeses, os conquistadores lusos fixando-se em Gurupá, “utilizaram-na como uma cabeça de ponte para as
incursões que tivessem de realizar sobre o oeste desconhecido e tentador” [107]. Em 1626, por exemplo,
missionários e conquistadores portugueses, liderados por Pedro Teixeira, que posteriormente realizou a sua famosa
expedição pelo vale amazônico, já haviam alcançado o Rio Tapajós, afluente do Amazonas, na região comumente
denominada Baixo Amazonas. No Tapajós, entrementes, os lusitanos que iniciavam a ocupação da área também
haviam encontrado indícios da presença de inimigos europeus da Espanha, visando à posse de seus domínios.
Eram os ingleses, cujo núcleo colonial denominado de Tapoywassoze, fundado às margens do Rio Tapajós na
década de 1630, já havia sido em pouco tempo destruído pelos ataques indígenas, uma vez que, entre os guerreiros
índios, alguns missionários haviam observado a posse de mosquetes, pistolas e espadas “obtidas no massacre dos
habitantes da colônia inglesa” [108]. Nas primeiras décadas do século XVII, portanto, a conquista da região do
Baixo Amazonas pelos súditos da União Ibérica, em suas guerras contra seus habitantes nativos e demais invasores
europeus, tornava-se passo importante na tarefa de ocupação efetiva do referido território pelos portugueses. Desta
forma, preservando e ampliando seus domínios, os lusitanos igualmente garantiam a exploração de suas riquezas,
ou seja, o comércio de escravos índios e das “drogas do sertão”, além da exploração de outras atividades
econômicas, tais como o estabelecimento da agropecuária.

De fato, segundo o cronista Maurício de Heriarte, em sua Descripção do Estado do Maranhão, Pará,
Gorupá e Rio das Amazonas, publicada na década de 1660, no tocante à região do Tapajós, existiam boas
condições ambientais para o florescimento das atividades de criação de gado e de culturas agrícolas em suas terras.
Relatou Heriarte que:

O clima desta província he quente, de mui boas e alegres terras, capazes para criar muitos
gados, vacum, ovelhas, cabras e gado de cerda. Tem muitas serras, e pela falda dellas e
por algumas ilhas que tem este rio [Tapajós] e o da Amazonas, se póde fazer grandes
engenhos de assucar; por quanto as crescentes do rio fructificam todas aquellas terras, em
que os Índios fazem suas roças de milho, e fructas e alguma mandioca [109].

Igualmente, a presença bastante significativa de populações indígenas na dita região, destacando-se os


índios tapajós, tornava o empreendimento da conquista do Baixo Amazonas atividade rentável aos que buscavam
reduzir seus nativos à escravidão, não somente abastecendo os mercados ávidos de trabalhadores localizados em
Belém e suas proximidades, em cujas terras já se estruturava a mais antiga e tradicional área de grande lavoura no
Grão-Pará, mas fornecendo os próprios trabalhadores que se faziam necessários ao incremento das diversas
atividades econômicas no Baixo Amazonas, fosse a criação de gado, a agricultura, o próprio apresamento de
escravos ou a coleta e o comércio das “drogas do sertão”, destacadamente o cravo, a noz-moscada e o cacau.

Na verdade, tornou-se bastante comum na historiografia acerca do processo de conquista do vale


amazônico pelos portugueses associar acentuadamente a referida conquista com a exploração e o comércio de
escravos índios e das “drogas do sertão”, minimizando, em suas principais áreas de povoamento, a estruturação de
atividades econômicas assentadas na agricultura e pecuária de natureza mercantil [110]. Não há dúvidas de que,
em determinadas regiões, havia um predomínio das atividades de apresamento de escravos indígenas usualmente
imbricadas com a exploração e o comércio das “drogas do sertão”, coletadas nas florestas pelos próprios índios a
serviço dos colonos. Porém, nos principais núcleos de povoamento da conquista portuguesa, havia a presença
econômica significativa das atividades não extrativas, quer de forma predominante, como nas regiões próximas de
Belém, quer ao lado das atividades de extração das ditas drogas, tais como no Baixo Tocantins e no Baixo
Amazonas, sendo a região tocantina importante área de extração de canela e cacau, enquanto as terras do Baixo
Amazonas eram caracterizadas pelo extrativismo de cravo, cacau e noz-moscada.

Desta forma, mesmo que a ocupação portuguesa da região do Baixo Amazonas fosse assentada, ao longo
dos séculos XVII e XVIII, a partir do eixo conformado pelas fortificações militares e pelos aldeamentos jesuíticos,
permitindo a estruturação da exploração da mão de obra indígena e das “drogas de sertão”, como já ocorrido em
outras regiões, a presença econômica das atividades agrícolas e criatórias de natureza mercantil não foi menos
importante, até mesmo por conta das condições ambientais favoráveis ao florescimento destas atividades, como já
havia sido observado por Heriarte.

É verdade que, na região do Baixo Amazonas, o florescimento das atividades agrícolas e criatórias somente
ocorreu na segunda metade do século XVIII, em razão da política pombalina de fomento das mesmas no vale
amazônico. Nesta época, os bons preços do cacau nos mercados europeus já havia tornado a exploração do mesmo
uma importante e rentável atividade na Amazônia. Até então, fazia-se comumente a coleta do cacau silvestre nas
florestas das regiões dos rios Tocantins e Tapajós, a partir da exploração do trabalho indígena, não havendo
maiores incentivos ao cultivo do referido produto. A partir da criação da Companhia Geral do Grão-Pará e
Maranhão, com o estabelecimento do tráfico regular de escravos africanos para a região amazônica, fomentava-se
o cultivo do cacau, o qual, rendendo duas safras anuais, aumentava as oportunidades de negócios, enquanto o
cacau bravo, de qualidade menor, permitia apenas uma colheita [111]. Neste período, portanto, o estabelecimento
do tráfico de escravos africanos, resolvendo parcialmente o problema da carência da mão de obra necessária ao
desenvolvimento da agricultura comercial, bem como a política metropolitana de distribuição de sesmarias,
permitindo a formação de grandes fazendas necessárias ao cultivo e exploração agrícola, haviam sedimentado as
bases de estruturação da cultura do cacau, além de outras atividades, tais como o cultivo do açúcar, algodão, café,
arroz e a criação de gado, destacadamente o gado bovino [112].

Ainda que o cacau cultivado nunca tenha suplantado quantitativamente o peso e a importância do cacau
silvestre na pauta das exportações da Amazônia, de uma forma ou de outra a sua exploração econômica favoreceu
a ocupação portuguesa da região do Baixo Amazonas, no transcorrer do século XVIII. Nesta área, em torno do
cacau cultivado, sob o fomento pombalino, estruturou-se inicialmente a economia escravista existente na mesma.
Por exemplo, desde os anos iniciais da segunda metade do século XVIII, entre alguns moradores das freguesias de
Santarém (principal núcleo urbano do Baixo Amazonas), Monte Alegre, Alenquer, Óbidos e Faro, o governo
metropolitano havia distribuído títulos de sesmarias. Segundo Acevedo & Castro, entre tais moradores,
“classificados como Remediados, aplicados a plantar cacau, conforme critério do Recenseamento de 1788, um
grupo de 20 moradores, entre eles um não branco, havia adquirido 233 escravos, fazendo-se merecedores de
datas de sesmarias nas margens dos rios Amazonas, Tapajós ou igarapés das vizinhanças das vilas” [113].
Na freguesia de N. S. da Conceição da Vila de Santarém, a título de exemplo, haviam sido beneficiados
Lourenço Xavier de Souza, proprietário de 13 escravos, cuja sesmaria situada no Igarapé Uarapixuna, no Rio
Tapajós, foi-lhe concedida em 29 de novembro de 1747; Manoel João Baptista, dono de 11 cativos, cuja sesmaria,
localizada no Igarapé Pucá ou Furo dos Arapiuns, havia-lhe sido conferida pela Coroa em 7 de outubro de 1752;
Manoel Corrêa Picanço, possuidor de 43 escravos, cujas sesmarias situadas no Igarapé Ary Tapera e na ilha
existente no Igarapé Arapary no Rio Amazonas foram-lhe concedidas em 15 de julho de 1752 e 12 de maio de
1761, respectivamente; João da Gama Lobo, senhor de oito escravos, cuja sesmaria existente na Costa das Cueiras,
no Rio Amazonas, foi-lhe conferida em 27 de julho de 1789.

Na freguesia de Santa Anna da Vila de Óbidos, Maurício José de Souza, senhor de seis escravos, no
Igarapé Itanduba, recebeu sesmaria em 18 de janeiro de 1786; igualmente, Constantino Manoel Marinho,
proprietário de 18 cativos, possuía uma sesmaria nas vizinhanças da Villa de Faro, concedida em 13 de março de
1792, e outra, localizada no Igarapé Paraná-Mirim, cuja concessão datava de 10 de setembro de 1795. Já na
freguesia de Santo Antônio da Villa de Alenquer, Domingos Corrêa Picanço, dono de nove escravos, possuía no
Lago Curuamanema sesmaria concedida em 8 de abril de 1777; enquanto Manoel Baptista, proprietário de 11
escravos, detinha sesmarias nas fraldas da Serra Ibipiaba e no Igarapé Cuticanga no Rio Amazonas, cujas
concessões datavam, respectivamente, de 1730 e 14 de dezembro de 1787. No todo, nas freguesias das vilas de
Santarém, Óbidos e Alenquer, em fins do século XVIII, existiam 20 proprietários rurais que eram senhores de
escravos, destacando-se como principais donos de escravos Manoel Corrêa Picanço, detentor de 43 cativos; João
Paes Pedroso, possuidor de 21 escravos, e Constantino Manoel Marinho, proprietário de 18 cativos. Outros três
senhores possuíam, cada um, 13 trabalhadores; enquanto dois plantadores possuíam, cada um, 11 escravos. Quatro
proprietários possuíam, cada um, nove cativos; três donos de terras detinham, cada qual, oito escravos; dois
possuíam, cada um, sete cativos; apenas um senhor era dono de seis escravos. Enfim, existiam dois proprietários
que possuíam, cada qual, cinco escravos. Havia, então, um predomínio da distribuição dos escravos entre os donos
de pequenos e médios plantéis, o que não significava necessariamente a predominância entre os mesmos senhores
de pequenas e médias propriedades rurais, haja vista que a posse de modestos plantéis de trabalhadores escravos
não limitava obrigatoriamente as atividades de cultivo ou coleta de cacau nas fazendas em que se fazia a
exploração do referido produto. Por exemplo, a Irmandade de Santa Anna de Óbidos possuía um cacoal com mais
de 16 mil pés, o qual era justamente cuidado por apenas nove escravos [114].

Entre a segunda metade do Setecentos e as primeiras duas décadas do século XIX, o cultivo e,
particularmente, a coleta do cacau constituíra-se na principal atividade econômica desenvolvida na região do Baixo
Amazonas, ainda que não fosse a única. Por exemplo, desde esta época, já havia a criação de gado bovino que,
embora sem a mesma importância adquirida na Ilha de Marajó, ocupava os campos de Santarém, Monte Alegre e
Óbidos, fazendo uso dos escravos de origem africana lado a lado com os trabalhadores índios. Conforme salientou
Funes, quando a lavoura cacaueira havia declinado na primeira metade do século XIX, houve “uma expansão da
pecuária, aproveitando-se as pastagens das várzeas e campos naturais, que ao lado do extrativismo de produtos
nativos e coleta da castanha, tornou-se base da economia local perdurando, de certa forma, até os dias atuais”
[115]. Ainda segundo Funes, no “Baixo Amazonas o negro foi empregado na lavoura cacaueira, na agricultura de
subsistência e, sobretudo, na pecuária” [116].

De fato, observando-se os dados arrolados por Funes, reproduzidos na Tabela XXII, retirados dos
inventários post mortem de proprietários de Santarém, Alenquer e Óbidos, percebe-se que, na primeira metade do
século XIX, sobressaía-se o predomínio dos cacauais, somando 66 propriedades, enquanto as fazendas de gado
perfaziam quatro propriedades. Já na segunda metade do século XIX, houve uma retração das atividades
cacaueiras, com a diminuição do número de cacauais para 47 propriedades, ainda que esta atividade continuasse
sendo economicamente importante na região. Em relação à pecuária, por sua vez, percebe-se justamente o
crescimento das fazendas de gado, cujo número aumentou para 33 propriedades, coeficiente bastante próximo do
total de fazendas de cacau existentes no mesmo período. Todavia, deve ser observado que, ao longo de todo o
século XIX, existiam propriedades caracterizadas tanto pela presença das atividades cacaueiras como pela criação
de gado bovino, sendo que, na primeira metade da referida centúria, estas somavam dez propriedades, enquanto, na
segunda metade, o número das mesmas havia aumentado para 43 propriedades. Ou seja, talvez o declínio das
atividades cacaueiras houvesse favorecido o crescimento significativo das propriedades rurais destinadas, ao
mesmo tempo, ao cultivo de cacau e à criação de bois em suas terras. Assim sendo, a permanência da exploração
econômica do cacau, revelando a sua importância ainda ao longo do século XIX, beneficiava-se pelo crescimento
das atividades criatórias, cada vez mais importantes na região.
Na pecuária, da mesma forma que nos cacauais, havia a presença de modestos plantéis de escravos de
origem africana, sendo as atividades de criação do gado bovino realizadas tanto pelos escravos como pelos demais
trabalhadores índios. Segundo o naturalista Henry Bates, os proprietários de fazendas de cacau e de gado de
Óbidos eram “geralmente pobres”, devido aos métodos “mais primitivos” e “mais empíricos” usados em suas
propriedades, havendo somente um pequeno número de proprietários que haviam conseguido enriquecer, “usando
de um pouco de engenho e habilidade na administração de suas propriedades”. Funes demonstrou acreditar que a
observação feita por Bates possa ser estendida para as demais áreas do Baixo Amazonas, nomeadamente Alenquer
e Santarém, “onde também os proprietários eram de baixo poder aquisitivo e estilo de vida simples, com raras
exceções, dentre elas o Barão de Santarém” [117]. Enquanto personagem representativa dos ricos proprietários de
terras e escravos, Miguel Antônio Pinto Guimarães, Barão de Santarém, quando veio a falecer, possuía 50
escravos. Inclusive, o Barão havia sido proprietário do “Engenho Taperinha”, em sociedade com o norte-
americano R. J. Rhomes, ainda que o cultivo da cana-de-açúcar não fosse atividade destacada na região. Por outro
lado, enquanto indício das imbricadas relações socioeconômicas existentes na região amazônica, o Barão de
Santarém havia construído em boa parte a sua fortuna a partir do comércio, fazendo largamente o uso da
exploração do trabalho de tapuios e índios, os quais eram empregados na atividade pesqueira sob seu serviço.
Sobre o fato, Ave-Lallemant contou que Miguel Antônio Pinto Guimarães, “dirigindo sua própria canoa na qual
seu pessoal tapuia se entregava à pesca, chegou a acumular uma fortuna de cerca de 300.000 telares, com uma
indústria tão simples” [118].

No Baixo Amazonas, em verdade, pouquíssimos senhores haviam conseguido reunir sob seu serviço
número superior a 40 escravos. Pelo menos no século XIX, houve o predomínio dos proprietários de pequenos
plantéis, reunindo entre um e 15 trabalhadores cativos em suas propriedades. Fazendo uso das informações
contidas nos inventários originários de Santarém, Alenquer e Óbidos, entre os anos de 1800 a 1886, Funes
encontrou somente um senhor possuidor de 67 escravos. Considerando, para os padrões de propriedade escrava da
região, que um número superior a 40 escravos representava um grande plantel, Funes indicou que, ao longo do
século XIX, os grandes proprietários de escravos totalizavam apenas 5,3% dos senhores cujos bens constavam dos
inventários já citados. Por sua vez, dentro deste universo documental, constata-se que 80,3% dos inventariados
eram pequenos senhores de escravos, possuindo entre um e 15 cativos, enquanto 14,4% haviam sido médios
proprietários de cativos, detendo entre 16 e 40 trabalhadores escravos. Ou seja, os dados arrolados por Funes,
reproduzidos na Tabela XXIII, indicam justamente a predominância dos proprietários de pequenos plantéis de
escravos, com uma propriedade escrava em larga medida disseminada, ainda que concentrada [119].

Quanto à média de escravos por plantel, Funes observou que houve uma queda na mesma, na medida em
que, durante a primeira metade do século XIX, havia uma média de 12 escravos por plantel, enquanto na segunda
metade desse século verificaram-se nove cativos por plantel, ainda que o número de plantéis tenha aumentado,
subindo de 120 para 183, quando da passagem da primeira para a segunda metade do Oitocentos (ver Tabela
XXIII) [120]. Aliás, o referido crescimento do número de plantéis de cativos parece não ter representado um
significativo aumento da população escrava (ver Tabela XXIV), mas a sua redistribuição entre os proprietários,
havendo inclusive um aumento bastante representativo do número dos pequenos plantéis de escravos que,
somando 89 plantéis na primeira metade, já eram 162 na segunda metade do XIX. Já no tocante aos plantéis
caracterizados como médios, entre uma e outra metade do referido século, houve o aumento dos plantéis de
escravos que reuniam entre 16 e 20 cativos, enquanto predominava a tendência de diminuição dos que reuniam
entre 21 e 40 cativos, reforçando o processo de aumento das propriedades de escravos mais modestas, ainda que o
número dos plantéis médios de cativos não fosse alterado ao longo do século XIX. Enfim, quanto aos grandes
plantéis de escravos, ainda que em termos absolutos fosse mantido inalterado o número dos mesmos, quando da
passagem da primeira para a segunda metade do XIX, percebe-se o desaparecimento do único plantel com mais de
50 escravos, exatamente 67 cativos, enquanto triplicava a quantidade de plantéis reunindo entre 46 e 50 escravos.
Ou seja, nos últimos 50 anos do Oitocentos, não somente ampliou-se como consolidou-se o predomínio dos
proprietários de escravos mais modestos no Baixo Amazonas, talvez em função da incapacidade dos proprietários
de aumentar seus números de escravos ao longo do tempo à medida que os plantéis de escravos eram fracionados
pelas partilhas dos bens inventariados entre os herdeiros (ver Tabelas XXIII e XXIV). Mas, afinal, quantos eram os
escravos existentes nesta região?

Foi na segunda metade do século XVIII, como já pôde ser observado, que o trabalho escravo de origem
africana fez-se presente de forma significativa na Amazônia, portanto na região do Baixo Amazonas. Nesta época,
segundo dados constantes do Recenseamento de 1788, havia pelo menos 233 escravos distribuídos entre 20
moradores da referida região [121]. Todavia, em 1822, segundo dados arrolados por Baena, existiam 3.657
escravos no Baixo Amazonas, representando 13% da população total de escravos da província paraense [122]. A
quase totalidade dos referidos cativos encontrava-se nas áreas em torno dos principais núcleos urbanos da região,
destacadamente Óbidos e Santarém. Nas terras em volta de Óbidos, por exemplo, entre seus 4.281 moradores,
viviam 1.294 cativos, representando 30,2% da sua população. Esta presença significativa de escravos explica-se
particularmente pelo seu emprego nos cacauais, atividade econômica responsável pelo florescimento da Vila de
Óbidos em fins do século XVIII, ainda que fossem os trabalhadores cativos também utilizados em “fazendas
estabelecidas no Caxioyri, nos lagos e nos dois paraná-mirins, onde se haviam generalizado plantações de café,
mandioca, algodão, milho e feijão” [123]. Na área de Santarém, que se tornara o mais desenvolvido centro urbano
e comercial de toda a região, concentravam-se 1.270 escravos, perfazendo 24,2% dos 5.255 habitantes da mesma
(ver Tabelas XVII e XVIII). Tais escravos empregavam-se nos cacauais, em diversas culturas agrícolas e nas
fazendas de criação de gado bovino [124]. Sobre a referida área, por exemplo, os viajantes Spix e Martius, às
vésperas da Independência, haviam escrito:

Deve-se considerar Santarém o empório do comércio entre a parte ocidental da Província


do Pará e a capital. Das vilas vizinhas, Óbidos, Faro, Alenquer, Vila-Nova-da-Rainha (a
oeste), Alter-do-Chão, Vila Franca, Boim, Pinhel e Aveiro (ao oeste), à margem do
Tapajós, trazem cacau, salsaparrilha, cravo do Maranhão, algum café, algodão e borracha.
Os fazendeiros, que têm as suas plantações próximas, e só raramente, sobretudo na
ocasião dos dias santos vêm à cidade, outrora cuidavam quase exclusivamente de cultivar
o cacau; em tempos recentes, começam a dar mais atenção ao café, ao algodão e ao anil
[125].

Em torno da vila de Alenquer, por sua vez, os escravos somavam 440 indivíduos, que perfaziam 26,7% de
seus 1.648 habitantes. Nesta localidade, o “crescimento de fazendas de criação de gado nas campinas de sua
vizinhança, porém, com pequenos cultivos de mandioca e de cacau” [126] absorvia boa parte da sua população
cativa. Em Monte Alegre, com uma população de 2.070 pessoas, os escravos somavam 290 sujeitos, ou seja, 14%
de seus moradores. Neste distrito, como nos demais já mencionados, destacava-se igualmente o emprego dos
cativos de origem africana no cultivo do cacau, ainda que reunisse uma força de trabalho escrava menor. Na
verdade, em Óbidos, Santarém, Alenquer e Monte Alegre, que compreendiam áreas da chamada região de
Santarém, existia quase toda a população escrava do Baixo Amazonas em razão do fato de que aí terem se
desenvolvido as principais atividades econômicas nas quais encontravam envolvidos os trabalhadores cativos
negros. Entretanto, mesmo na dita região de Santarém, nomeadamente em Outeiro e Faro, era possível encontrar
números mais reduzidos de escravos. Em Outeiro, por exemplo, entre seus 362 moradores viviam apenas 20
escravos, ainda que, em termos percentuais, tais cativos representassem 15,5% de sua população. Segundo Baena,
Outeiro era considerado como “terra farta de cacao, salsaparrilha” [127]. Em Faro, todavia, nota-se efetivamente a
diminuta presença escrava entre seus habitantes. Nesta, viviam 2.082 pessoas, sendo que somente 93 eram
escravos negros, ou seja, 4,5% da sua população. A maior parte dos moradores de Faro era indígena (ver Tabelas
XVII e XVIII). Segundo Marin & Castro, em Faro, “algumas pequenas fazendas de criação de gado e
principalmente o cacau, o café e a mandioca constituíam suas produções importantes, enquanto nos lagos do
distrito pescava-se peixe-boi, pirarucu e tartarugas” [128], ao que parece fazendo largo uso do trabalho dos índios
aldeados.

Já nas demais localidades do Baixo Amazonas, percebe-se um contingente bastante reduzido de escravos
espalhados por suas diversas áreas, havendo mesmo a sua completa ausência em alguns povoados, os quais
integralmente eram vilas indígenas. No primeiro caso, por exemplo, situam-se os locais denominados Santa Cruz,
Curi e Uxituba, nos quais a população escrava negra não ultrapassava 2,5% do coeficiente de seus habitantes,
sendo quase todos índios (ver Tabelas XVII e XVIII). No segundo caso, Boim e Itaituba eram povoados compostos
somente por indígenas (ver Tabela XVIII). Havia ainda as povoações de Alter-do-Chão, Pinhel e Aveiros, sobre as
quais se cita Rosa Acevedo Marin:

Le long du Tapajós, Alter-do-Chão, Pinhel et Aveiro étaient seulement de petites localités


dont le nombre d’habitants, selon Baena, variait entre 300 et 900, la plupart étant indiens
e métis qui vivaient de la cueillette e entretenaient, pour leur subsistance, la culture du
manioc. Le nombre d’esclaves se limitait à une douzaine dans les deux premiers endroits
et ne dépassait pas 40 à Aveiro [129].

É verdade que, em termos absolutos, na localidade de Franca foram arrolados por Baena 150 escravos
negros. Entrementes, tais cativos perfaziam apenas 5,3% dos habitantes de Franca, estimados em 2.888 indivíduos.
De qualquer forma, parece possível pensar que a presença destes 150 escravos negros fazia-se em decorrência das
atividades cacaueiras desenvolvidas em Franca desde a segunda metade do século XVIII [130].

De um modo geral, portanto, no Baixo Amazonas, houve uma acentuada concentração da força de trabalho
dos escravos de origem africana em torno da chamada região de Santarém, área demarcada pela presença de
atividades econômicas associadas ao uso em maior escala desta mão de obra, ou seja, o cultivo de diversas culturas
agrícolas, tais como o algodão, o café, o açúcar e, principalmente, o cacau, além da criação de gado bovino. Já nas
demais localidades, a predominância das atividades agrícolas de subsistência, como o cultivo da mandioca, ao lado
do desenvolvimento do extrativismo, parece não ter favorecido a presença de população escrava negra de forma
mais significativa, ainda que a extração das riquezas naturais da região tenha se tornado uma importante atividade
econômica realizada pelos escravos fugidos e aquilombados [131].

Neste momento, entretanto, abandona-se a região do Baixo Amazonas paraense, que atualmente faz
fronteira com o território amazonense, para se atravessar, no sentido oeste-leste, as terras do Grão-Pará, em direção
à região compreendida entre São Miguel do Guamá e Gurupi, cuja área situa-se no chamado nordeste paraense,
atingindo os limites com o Maranhão. Esta região será o ponto final da caminhada aqui delineada [132].

∗∗

A região compreendida entre São Miguel do Guamá e Gurupi foi efetivamente ocupada e povoada pelos
portugueses no século XVIII. “Dans les années 1752-1754”, segundo Rosa Acevedo, “arrivèrent divers
chargements d’imigrants des Açores qui furent distribués entre Macapá, d’une part, et São Miguel do Guamá,
Ourém, Tentugal et Bragança, d’autre part” [133]. Nesta região, desenvolveu-se o cultivo agrícola de diversos
produtos, dentre os quais o café, o algodão, o arroz, a cana-de-açúcar e o cacau, verificando-se, ainda, o
surgimento de fazendas de criação de gado. Em 1822, segundo Baena, em suas terras existiam 1.192 escravos, os
quais perfaziam 12% de toda a sua população, estimada em 9.950 pessoas. Entre os habitantes livres da região,
havia um predomínio dos que haviam sido considerados brancos, somando 5.362 indivíduos, enquanto 774 seriam
índios e 684 arrolados como mestiços (ver Tabela XVII) [134].

Observando-se a distribuição demográfica da população escrava na dita região, a área em torno de


Bragança reunia o maior número de cativos, ou seja, 482 sujeitos, que perfaziam 7% da sua população de 6.847
moradores. Enquanto mais importante núcleo urbano do nordeste paraense, Bragança também congregava, em
seus arredores, o maior contingente populacional livre da região, representado por 4.468 brancos e 1.885 índios e
mestiços (ver Tabela XVIII). Segundo Rosa Acevedo, “Bragança avait été créée avec dès immigrants en 1753 par
Francisco Xavier de Mendonça Furtado, sur les ruines de la ‘ville’ de Souza qui avait été le siège d’une
capitainerie au début de l’occupation du Pará, en 1628” [135]. Nas propriedades rurais situadas em volta de
Bragança, plantava-se o café, o algodão e a mandioca, bem como existiam algumas fazendas de criação de gado
voltadas para o abastecimento local. Estas atividades certamente absorviam a mão de obra escrava existente em
Bragança.

Em São Miguel do Guamá, por sua vez, ainda que sua população escrava fosse um pouco menor que a
existente nas terras da Vila de Bragança, a elevada proporção de escravos em relação a pessoas livres fazia com
que a mão de obra escrava assumisse, em sua sociedade, uma importância destacada. São Miguel compreendia
uma população de 1.071 indivíduos, dentre os quais 442 eram escravos e 629 eram livres, distribuídos da seguinte
forma: 302 brancos, 22 índios e 305 mestiços. Ou seja, os escravos perfaziam 41,3% dos habitantes de São Miguel.
Já em torno da vila de Ourém, cujo núcleo urbano floresceu como entreposto ou estância situada na rota comercial
terrestre entre Maranhão e Grão-Pará, particularmente no que dizia respeito ao tráfico de escravos [136], havia 160
cativos, perfazendo 23,9% de sua população. Quanto aos livres, existiam 232 brancos, 194 índios e 83 mestiços.
Ora, tanto em São Miguel do Guamá quanto em Ourém, a significativa presença escrava de origem africana
encontrava-se associada ao desenvolvimento de atividades agrícolas. No caso de Ourém, por exemplo, entre os
seus habitantes abastados, destacavam-se dois proprietários de engenhos que possuíam, cada um, 50 e 15 escravos
respectivamente, enquanto outro sujeito detinha a propriedade de 20 cativos, embora a maior parte dos demais
proprietários possuísse entre cinco e dez escravos, e alguns apenas um ou dois (ver Tabelas XVII e XVIII) [137].

Na localidade de Irituia, por seu turno, além da existência das culturas agrícolas do arroz, do feijão, do
milho e do café, dentre outras já existentes em São Miguel e Ourém, havia também o cultivo da cultura do tabaco,
produto muito procurado pelo seu uso nos negócios envolvendo o tráfico de escravos durante o período colonial,
embora não fosse necessariamente este o caso do tabaco produzido no Grão-Pará. Em Irituia, em 1822, existiam
108 escravos, perfazendo 11,8% de sua população estimada em 915 pessoas, das quais 348 seriam brancas, 163
índias e 296 mestiças. Não é preciso insistir sobre o fato de que o coeficiente de escravos existentes nesta região
empregava-se nas diversas culturas agrícolas arroladas acima, tanto que, entre os 17 proprietários de Irituia
considerados como prósperos, quase todos possuíam entre quatro e oito escravos, à exceção de um “privilegiado”,
que detinha 16 cativos sob suas ordens [138].

Nas demais povoações existentes na região em tela, segundo Baena, não existiam trabalhadores escravos de
origem africana. Em Vizeu e Gurupi, por exemplo, todos os seus habitantes eram índios, sendo 172 e 223 pessoas
respectivamente. Em Piriá, por sua vez, viviam 53 sujeitos arrolados como livres, sem nenhuma qualificação, por
parte de Baena, que os identificasse como brancos ou índios ou mestiços (ver Tabela XVII e XVIII) [139]. Mas,
com toda certeza, uns e outros deviam empregar-se nas atividades extrativistas, agrícolas e de criação de gado
bovino existentes na região, sendo que, nas duas últimas tarefas, ao lado dos escravos negros. Enfim, na localidade
de Piriá termina o passeio pelas regiões da província paraense, em que se fazia presente a economia escravista.
6
À guisa de conclusão

Nas páginas anteriores deste livro, foram abordados o tráfico de escravos, as origens e a composição étnica
da população escrava, bem como alguns elementos de sua demografia e, finalmente, a inserção e a presença dos
trabalhadores cativos nas diversas e principais áreas da região amazônica, tendo como espaço privilegiado da
análise realizada os territórios da antiga Província do Grão-Pará, quando da segunda metade do século XIX.
Todavia, faz-se ainda importante detalhar a referida composição demográfica escrava, conforme a sua distribuição
pelas regiões paraenses, já descritas, no decorrer do século XIX.

Robin Anderson, em sua tese denominada Following Curupira: colonization and migration in Pará. 1758-
1930, fez a discriminação da população escrava por regiões em relação ao período de 1849-1888. Segundo Bárbara
Weistein, Anderson afirmou que a área tocantina sobressaía-se como “a primeira em número de escravos durante
todos esses anos (sem contar Belém), vindo Marajó, muito distanciada, em segundo lugar” [1]. Entretanto,
cotejando os dados existentes nas obras de Rosa Acevedo Marin e Vicente Salles, aqui reproduzidos com algumas
modificações, como a Tabela XXIV, foi possível constatar que o Baixo Tocantins, à exceção dos anos de 1823 e
1885, foi sempre a primeira região paraense em termos de número de escravos, enquanto o especo territorial em
torno de Belém, nomeadamente a Zona Guajarina, vinha quase sempre ocupando o segundo lugar. Na verdade,
embora não seja possível ter-se certeza da exatidão dos algarismos apresentados e compulsados neste trabalho,
evidencia-se, sem margem de dúvidas, o predomínio das antigas e tradicionais áreas de lavoura no Grão-Pará,
enquanto espaços caracterizados pela absorção da maior parte dos escravos em território paraense no século XIX.
Quanto ao Marajó, é possível constatar que, à exceção dos anos de 1885 e 1888, a referida área em vários
momentos aparece em quarto lugar, em número de escravos, atrás do Baixo Amazonas que, então, ocupava
usualmente uma distante terceira colocação em relação ao Baixo Tocantins e a Belém e suas cercanias. De uma
forma ou de outra, contudo, essas regiões reuniam cada uma contingentes escravos bem menos significativos que
as áreas de lavoura existentes na área tocantina e em torno de Belém, haja vista a própria natureza da economia
escravista vigente nas mesmas.

Por sua vez, as demais regiões, nomeadamente o nordeste paraense, onde se inserem os territórios de São
Miguel do Guamá ao Gurupi, e a costa setentrional ou Cabo Norte, compreendendo os territórios do atual Amapá,
reunia populações escravas cada vez mais reduzidas ao longo do século XIX, à medida que a economia escravista
nestas áreas perdia força no decorrer das décadas da segunda metade do Oitocentos. É verdade que, de um modo
geral, o declínio da população escrava na província paraense ocorria em todas as suas regiões, mas, faz-se
importante notar, a diminuição dos contingentes escravos não acontecia da mesma forma e intensidade em suas
diversas áreas. Algumas regiões, tais como o Baixo Tocantins, por exemplo, mesmo que sofrendo a redução de
seus trabalhadores cativos, ainda conseguiam chegar ao último ano da escravidão reunindo boa parte da população
escrava existente na província. O Cabo Norte, por sua vez, a partir das últimas duas décadas do escravismo, sofreu
significativamente a redução do número de cativos em suas terras, tanto que, em 1888, o quantitativo de escravos
que possuía era quase o mesmo coeficiente dos existentes na região do Xingu, área usualmente caracterizada na
província paraense como de pouca expressividade em número de escravos.

Entrementes, tais comentários sobre a distribuição da população escrava pelas diversas regiões da província
paraense, cujos dados constam das Tabelas XVII e XXIV, no âmbito deste livro, já bastam para indicar a evolução
da demografia escrava por regiões no Grão-Pará, demonstrando que, no decorrer do Oitocentos, a presença escrava
em suas diversas áreas fez-se uma constante, particularmente nas regiões mais antigas e tradicionais da agricultura
paraense, bem como nos territórios caracterizados pela existência das fazendas de criação de gado.

Enfim, observando-se os Mapas VII e VIII, reproduzidos dos trabalhos de Vicente Salles e de Anaíza
Vergolino & Napoleão Figueiredo, que indicam a localização dos principais mocambos existentes na província
paraense, bem como o Mapa IX, reproduzido igualmente do trabalho de Vergolino, que aponta, por sua vez, as
principais áreas de concentração da população escrava, e, ainda, no mesmo sentido o Mapa X, especialmente
adaptado para este trabalho, percebe-se que os quatro mapas convergem em suas informações, portanto,
demonstrando que a localização dos principais mocambos era a mesma das áreas caracterizadas pela presença
escrava no Grão-Pará [2]. A Tabela X, por sua vez, indicando a localização, os tipos e a quantidade de mocambos
na Amazônia colonial, reafirma as informações constantes nos referidos mapas, ou seja, que nas principais áreas de
concentração do trabalho escravo, no Grão-Pará, estavam localizados os quilombos de negros, negros e índios e
boa parte dos mocambos de índios. Da mesma forma, no caso das histórias envolvendo escravos fugitivos não era
diferente, uma vez que os escravos em fuga, mesmo que em sua maioria não aquilombados, também faziam dos
territórios dominados pelo escravismo seus espaços de luta e resistência contra o domínio senhorial, seja
estabelecendo padrões e rotas de fugas, seja mantendo ou reconstruindo seus laços de convivência social com seus
camaradas nos mundos da escravidão, dos quais faziam parte enquanto personagens [3].

∗∗

Ultimando as páginas deste livro, em sua segunda edição revista e ampliada, após dez anos de distância da
publicação da primeira edição, renova-se a certeza de que, desde a primeira vez, o trabalho aqui apresentado aspira
ter contribuído para a historiografia acerca dos estudos da escravidão brasileira, bem como para uma melhor
compreensão da história da região amazônica, inovando inclusive na abordagem realizada, ainda que, em larga
medida, utilize fontes secundárias, ou já citadas por outros autores, ou, ainda, faça uso das informações já
produzidas por outros diversos estudos, reunindo-os ou concatenando-os neste trabalho, que, não por isso, deixa de
ser uma publicação nova e original em alguma medida, usando, inclusive, quando necessário, fontes primárias para
sua escrita. Essa sempre foi e continua sendo a expectativa desta obra. Oxalá, o autor destas páginas tenha
conseguido.
7
Fontes e referências bibliográficas

FONTES:

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JORNAIS:

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Diário do Gram-Pará, 1869-1881.

Diário de Notícias, Belém, 1881-1888.

MANUSCRITOS:

Inventário dos bens do cazal da finada D. Inocência Roza de Oliveira, 1837. Acervo do Centro de Memória da
Amazônia da Universidade Federal do Pará – CMA/UFPA.

IMPRESSOS:

ALMEIDA, Cândido Mendes de. Atlas do Império do Brasil. Rio de Janeiro: 1868.

ARARIPE, Tristão de Alencar. Dados estatísticos e informações para os imigrantes. Belém: Governo da Província
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DIRETORIA GERAL DE ESTATÍSTICA. Censo realizado em 1o de agosto de 1872. Rio de Janeiro: SCE, 1873. p. 212.

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Falla com que o Exm. Sr. Conselheiro Francisco José Cardoso Júnior, 1o Vice-Presidente da Província do Pará,
abriu a 1ª sessão da 26ª legislatura da Assembléia Provincial no dia 04 de maio de 1888.

PARÁ, Governo da Província do. Portaria de 19 de março de 1883, que distribui proporcionalmente a quota do
fundo de emancipação que coube à Província, na presidência do Barão de Maracaju.

______. Falla com que o Exm. Sr. Conselheiro Francisco José Cardoso Júnior, 1o Vice-Presidente da Província do
Pará, abriu a 1ª sessão da 26ª legislatura da Assembléia Provincial no dia 04 de maio de 1888.

Portaria de 19 de março de 1883, que distribui proporcionalmente a quota do fundo de emancipação que coube à
província, na presidência do Barão de Maracaju. Coleção de Leis da Província, Arquivo Público do Estado do Pará
(CLP/Apep).

Relatório apresentado à Assembléa Geral na Terceira Sessão da Décima Sétima Legislatura pelo Ministro e
Secretário de Estado dos Negócios da Agricultura, Commercio e Obras Públicas Manoel Buarque de Macedo. Rio
de Janeiro: Typographia Nacional, 1880. Disponível em: <http://brazil.crl.edu>.
Relatório apresentado à Assembléa Geral na Segunda Sessão da Vigésima Legislatura pelo Ministro e Secretário
de Estado dos Negócios da Agricultura, Commercio e Obras Públicas Rodrigo Augusto da Silva. Rio de Janeiro:
Imprensa Nacional, 1887. Disponível em: <http://brazil.crl.edu>.

Relatório apresentado à Assembléa Geral na Terceira Sessão da Vigésima Legislatura pelo Ministro e Secretário
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Tabelas & Gráficos
TABELA I
Cativos africanos ingressados no Grão-Pará (1680-1841), ao longo dos anos

Períodos de tempo Quantidades Totais parciais


1680 350 846
1682-1685 62
1691 72
1692 72
1693 67
1695 29
1696 85
1698 109
1702 100 1.311
1707 100
1708 100
1718 75
1721 75
1752 150
1753 427
1755 284
1756 378 17.627
1757 395
1758 1.111
1759 956
1760 351
1761 524
1762 2.005
1763 465
1764 898
1765 832
1766 425
1767 441
1768 268
1769 181
1770 1.034
1771 1.011
1772 652
1773 807
1774 533
1775 1.214
1776 1.066
1777 838
1778 a 1.242
1778 b 1.089 17.970
1779 1.293
1780 1.176
1781 1.131
1782 377
1783 1.088
1784 491
1785 289
1786 1.326
1787 710
1788 631
1789 687
1790 534
1791 279
1792 569
1793 759
1794 983
1795 1.240
1797 176
1798 400
1799 1.451
1800 1.291
1801 118 10.927
1802 473
1803 1.086
1804 1.846
1805 2.606
1806 3.339
1807 568
1808 169
1810 722
1811 412 6.175
1812 326
1813 419
1814 485
1815 685
1816 934
1817 835
1818 946
1819 971
1820 162
1821 159 3.412
1823 2.048
1824 498
1826 160
1828 266
1830 281
1835 507 627
1841 120
TOTAIS 58.895 58.895
Fonte: BARATA, Manuel. Apontamentos para as efemérides paraenses, republicado em BARATA, Manuel. Formação
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TABELA II
Cativos africanos ingressados no Grão-Pará (1680-1841)

Períodos de Média anual de cativos africanos ingressados por períodos


tempo Quantidades Percentual de tempo
1680-1698 846 1.47% 47
1702-1755 1.311 2.23% 24.74
1756-1778a 17.627 29.93% 801.22
1778b-1800 17.970 30.50% 816.82
1801-1810 10.927 18.55% 1.092.70
1811-1820 6.175 10.48% 308.75
1821-1830 3.412 5.79% 341.20
1835-1841 627 1.05% 104.50
TOTAL 58.895 100% 390.03

Fonte: BARATA, Manuel. Apontamentos para as efemérides paraenses, republicado em BARATA, Manuel. Formação
histórica do Pará. Belém: UFPA, 1973; BARBOSA, Benedito Carlos Costa. Em outras margens do Atlântico: tráfico
negreiro para o Estado do Maranhão e Grão-Pará (1707-1750). Dissertação (Mestrado em História Social da
Amazônia) – Universidade Federal do Pará. Belém, 2009; CARREIRA, Antônio. As companhias pombalinas de
Grão-Pará e Maranhão e Pernambuco e Paraíba. Lisboa: Presença, 1983; CARREIRA, Antônio. A Companhia
Geral do Grão-Pará e Maranhão. O comércio monopolista Portugal-África-Brasil na segunda metade do século
XVIII. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1988, 2 volumes; CHAMBOULEYRON, Rafael. Escravos do
Atlântico Equatorial: tráfico negreiro para o Estado do Maranhão e Pará (século XVII e início do século XVIII).
Revista Brasileira de História, v. 26, n. 52, p. 79-114, São Paulo, dezembro, 2006; DIAS, Manuel Nunes. Fomento
e mercantilismo. A Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão (1755-1778). Belém: UFPA, 1970, 2 volumes;
DOMINGUES DA SILVA, Daniel B. The Atlantic slave trade to Maranhão, 1680-1846: volume, routes and
organisation. Slavery & Abolition: a Journal of Slave and Post-Slave Studies, v. 29, n. 4, p. 477-501, 2008. URL:
<http://dx.doi.org/10.1080/01440390802486507>; GOULART, Maurício. Escravidão africana no Brasil. Das
origens à extinção do tráfico. São Paulo: Martins, 1949; MACLACHLAN, Colin M. Slave trade and economic
development in Amazonia, 1700-1800. In: TOPLIN, Robert Brent (org.). Slavery and race relations in Latin
America. Published in: Contributions in Afro-American and African Studies, number 17, Westport, Connecticut;
London, England, Greenwood Press, 1974, p. 112-145; MATTOSO, Kátia Queirós. Ser escravo no Brasil. São Paulo:
Brasiliense, 1988; MONTEIRO, Armanda Santos. Rotas negras: o tráfico entre a África Ocidental e o Grão-Pará e
Maranhão (1757-1777). Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação em História) – Universidade
Federal do Pará. Belém, 2001; SALLES, Vicente. O negro no Pará sob o regime da escravidão. Brasília: Ministério
da Educação; Belém: Secretaria de Estado de Cultura – Secult; Fundação Cultural “Tancredo Neves”, 1988; SILVA,
Marley Antonia Silva da. O que se precisa para o adiantamento das lavouras. Tráfico negreiro no Grão-Pará com
o fim da Companhia Geral de Comércio (século XVIII). Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso de
Graduação em História) – Universidade Federal do Pará. Belém, 2009; VERGOLINO-HENRY, Anaíza & FIGUEIREDO,
Arthur Napoleão. A presença africana na Amazônia Colonial: uma notícia histórica. Belém: Arquivo Público do
Pará, 1990; VERGOLINO E SILVA, Anaíza. O negro no Pará. A notícia histórica. In: ROCQUE, Carlos (org.). Antologia
da cultura amazônica. Belém: Amazônia Edições Culturais/Amada, 1971, p. 17-33; Voyages: The Trans-Atlantic
slave trade database. Disponível em: <http://www.slavevoyages.org/>.
TABELA III A
Quantidade de embarcações que chegaram ao Estado do Maranhão e Grão-Pará (1708-1750)

Anos Número de Períodos Número de embarcações por período Percentual


embarcações
1708 01 1708-1715 06 13.05%
1710 01
1712 01
1714 01
1715 02
1721 01 1721-1729 08 17.38%
1723 02
1724 02
1725 01
1728 01
1729 01
1731 05 1731-1739 22 47.83%
1732 06
1733 05
1735 02
1738 01
1739 02
1740 01
1741 03 1741-1750 10 21.74%
1743 01
1744 01
1747 02
1748 03
46 TOTAL 46 100%
TOTAL

Fonte: elaborado a partir de BARBOSA, Benedito Carlos Costa. Em outras margens do Atlântico: tráfico negreiro
para o Estado do Maranhão e Grão-Pará (1707-1750). Dissertação (Mestrado em História Social da Amazônia) –
Universidade Federal do Pará. Belém, 2009.
TABELA III B
Quantidade de embarcações que não chegaram ou com chegada incerta ao Estado do Maranhão e Grão-
Pará (1708-1750)

Anos Número de Períodos Número de embarcações por período Percentual


embarcações
1710 01 1710-1715 02 9.10%
1715 01
1723 02 1723-1729 05 22.70%
1724 01
1725 01
1729 01
1731 04 1731-1739 10 45.50%
1733 03
1738 01
1739 02
1744 01 1744-1750 05 22.70%
1747 02
1750 02
22 TOTAL 22 100%
TOTAL

Fonte: elaborado a partir de BARBOSA, Benedito Carlos Costa. Em outras margens do Atlântico: tráfico negreiro
para o Estado do Maranhão e Grão-Pará (1707-1750). Dissertação (Mestrado em História Social da Amazônia) –
Universidade Federal do Pará. Belém, 2009.
TABELA IV A
Principais gêneros exportados do Porto do Pará, conforme Livros da Alfândega desta cidade, durante o
período de 1730 e 1750 em quantidades e valores totais

Item Produto Quantidades (em arrobas) Valores


1 Cacau 852:973.71 2.157:316$222
2 Açúcar 50:898.29 68:352$821
3 Cravo grosso 29:833.09 95:812$504
4 Couros 24:260.65 12:969$962
5 Salsa 16:921.54 144:139$103
6 Café 13:819.67 35:546$443
7 Cravo fino 4:276.46 24:212$172
8 Meios de sola 505 13:187$837
9 Anil (somente em 1732) 5 Não informado
TOTAL 992:998.31 2.551:537$064

Fonte: elaborado a partir de BARBOSA, Benedito Carlos Costa. Em outras margens do Atlântico: tráfico negreiro
para o Estado do Maranhão e Grão-Pará (1707-1750). Dissertação (Mestrado em História Social da Amazônia) –
Universidade Federal do Pará. Belém, 2009.
TABELA IV B
Principais gêneros exportados do Porto do Pará, conforme
Livros da Alfândega desta cidade, durante o período de 1730 e 1750 em quantidades e valores totais

Item Produto Valores Quantidades (em arrobas)


1 Cacau 2.157:316$222 852:973.71
2 Salsa 144:139$103 16:921.54
3 Cravo grosso 95:812$504 29:833.09
4 Açúcar 68:352$821 50:898.29
5 Café 35:546$443 13:819.67
6 Cravo fino 24:212$172 4:276.46
7 Meios de sola 13:187$837 505
8 Couros 12:969$962 24:260.65
9 Anil (somente em 1732) Não informado 5
TOTAL 2.551:537$064 992:998.31

Fonte: elaborado a partir de BARBOSA, Benedito Carlos Costa. Em outras margens do Atlântico: tráfico negreiro
para o Estado do Maranhão e Grão-Pará (1707-1750). Dissertação (Mestrado em História Social da Amazônia) –
Universidade Federal do Pará. Belém, 2009.
TABELA V
Cativos africanos ingressados no Grão-Pará, ao longo dos anos, com base nos dados do Slaves Voyages
(período: 1741-1755 & 1778-1799)

Anos Quantidade de Quantidade de Região e/ou portos de origem Totais


cativos cativos parciais
embarcados desembarcados
1741 100 000* Cacheu/Senegâmbia 000
1752 316 000* Bissau/Ilhas de Cabo Verde/Senegâmbia 150
1752 169 150 Ilhas de Cabo Verde/Senegâmbia
1753 297 277 Bissau/Senegâmbia 277
1753 169 000* Bissau/Senegâmbia
1755 316 284 Bissau/Senegâmbia 284
1.367 711 Área de origem dos cativos: Senegâmbia: 711
S UBTOTAL 711
1
1778 353 324 Bissau/Senegâmbia 324
1779 224 222** Bissau/Cacheu/Ilhas de Cabo 222
Verde/Senegâmbia
1780 171 157 Bissau/Senegâmbia 157
1781 72 66 Bissau/Senegâmbia 900
1781 353 324 Cacheu/Senegâmbia
1781 190 174 Cacheu/Senegâmbia
1781 363 336 Não especificado
1782 49 48** Bissau/Senegâmbia 168
1782 120 120** Cacheu/Bissau/Senegâmbia
1783 363 336 Bissau/Senegâmbia 407
1783 10 10** Cacheu/Ilhas de Cabo Verde/Senegâmbia
1783 31 30** Bissau/Senegâmbia
1783 31 31** Bissau/Senegâmbia
1784 22 21** Bissau/Senegâmbia 21
1785 02 02** Bissau/Senegâmbia 20
1785 18 18** Bissau/Senegâmbia
1786 353 324 Cacheu/Senegâmbia 648
1786 353 324 Cacheu/Senegâmbia
1787 363 336 Luanda/África Centro-Ocidental/ Ilha de 599
Santa Helena
1787 287 263 Bissau/Senegâmbia
1790 67 61 Bissau/Senegâmbia 61
1791 42 39 Bissau/Senegâmbia 39
1792 191 176 Bissau/Senegâmbia 569
1792 217 199 Bissau/Senegâmbia
1792 217 194 Bissau/Senegâmbia
1793 359 328 Costa da Mina/Baía de Benin/África 328
Ocidental
1794 350 323 Bissau/Senegâmbia 983
1794 353 324 Benguela/Luanda/África Centro-Ocidental/
Ilha de Santa Helena
1794 363 336 Loango/África Centro-Ocidental/ Ilha de
Santa Helena
1795 535 494 Luanda/Benguela/África Centro-Ocidental/ 1.240
Ilha de Santa Helena
1795 536 495 Luanda/África Centro-Ocidental/ Ilha de
Santa Helena
1795 382 251*** Luanda/Cabinda/África Centro-Ocidental/
Ilha de Santa Helena
1797 332 000* Bissau/Senegâmbia 000
1798 353 324 Não informado 324
1799 400 371 Luanda/África Centro-Ocidental/ Ilha de
Santa Helena 1.451
1799 363 336 Loango/África Centro-Ocidental/ Ilha de
Santa Helena
1799 353 324 Benguela/África Centro-Ocidental/ Ilha de
Santa Helena
1799 113 105 Cacheu/Bissau/Senegâmbia
1799 663 315**** Benguela/Nova Redonda/Luanda/África
Centro-Ocidental/ Ilha de Santa Helena
10.917 8.461 Área de origem dos cativos: 8.461
S UBTOTAL Não informado: 660
2
Senegâmbia/África Ocidental: 3.891
Costa da Mina/África Ocidental: 328
África Centro-Ocidental: 3.582
Totais 11.284 9.172 Área de origem dos cativos: 9.172
Não informado: 660
Senegâmbia/África Ocidental: 4.602
Costa da Mina/África Ocidental: 328
África Centro-Ocidental: 3.582

Fonte: Voyages: The Trans-Atlantic slave trade database. Disponível em: <http://www.slavevoyages.org/>.

* Navios cujo primeiro porto foi o Maranhão, sendo o Pará o segundo porto, mas havendo apenas desembarque de
cativos no Maranhão.

* Navios registrados como propriedade ou a serviço da Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão.

*** Navio com desembarque de cativos no Maranhão, primeiro porto, e no Pará, segundo porto.

**** Navio com desembarque de cativos em Pernambuco, primeiro porto, e no Pará, segundo porto.
TABELA VI
Cativos africanos ingressados no Grão-Pará (1756-1778), ao longo dos anos, durante o período da
Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão (CGGPM)

Anos Quantidade de Quantidade de cativos Região e/ou portos de origem Total


cativos embarcados desembarcados parcial 1
1756 316 284 Não especificado* 378
1756 94 94 Cacheu/Senegâmbia
1757 508 379 Luanda/África Centro-Ocidental/ 395
Ilha de Santa Helena
1757 ------ 16 Maranhão
1758 153 137 Cacheu/Senegâmbia 1.111
1758 189 173 Bissau/Cacheu/Senegâmbia
1758 551 398 Luanda/África Centro-Ocidental
Ilha de Santa Helena
1758 490 403 Luanda/África Centro-Ocidental/
Ilha de Santa Helena
1759 194 146 Cacheu/Senegâmbia 956
1759 658 377 Luanda/África Centro-Ocidental/
Ilha de Santa Helena
1759 ------ 16 Bissau/Senegâmbia
1759 512 417 Luanda/África Centro-Ocidental/
Ilha de Santa Helena
1760 158 140 Cacheu/Senegâmbia* 351
1760 219 211 Bissau/Senegâmbia
1761 170 169 Cacheu/Senegâmbia 524
1761 147 146 Bissau/Senegâmbia
1761 230 209 Bissau/Cacheu/Senegâmbia
1762 386 351 Luanda/África Centro-Ocidental/ 2.005
Ilha de Santa Helena**
1762 141 138 Cacheu/Senegâmbia
1762 162 128 Bissau/Senegâmbia
1762 514 377 Luanda/África Centro-Ocidental/
Ilha de Santa Helena
1762 705 540 Luanda/África Centro-Ocidental/
Ilha de Santa Helena
1762 424 313 Luanda/África Centro-Ocidental/
Ilha de Santa Helena
1762 190 158 Cacheu/Senegâmbia
1763 151 147 Cacheu/Senegâmbia 465
1763 466 318 Angola/África Centro-Ocidental/
Ilha de Santa Helena
1764 216 208 Cacheu/Senegâmbia 898
1764 457 277 Luanda/África Centro-Ocidental/
Ilha de Santa Helena
1764 557 413 Luanda/ África Centro-Ocidental/
Ilha de Santa Helena
1765 706 665 Luanda/ África Centro-Ocidental/ 832
Ilha de Santa Helena
1765 171 167 Bissau/Cacheu/Senegâmbia
1766 316 284 Bissau/Senegâmbia*** 425
1766 163 141 Ilhas de Cabo
Verde/Bissau/Senegâmbia
1767 194 125 Bissau/Senegâmbia 441
1767 200 189 Cacheu/Senegâmbia
1767 167 127 Bissau/Senegâmbia
1768 170 159 Cacheu/Senegâmbia 268
1768 ------ 109 Bissau/Senegâmbia
1769 192 181 Ilhas de Cabo 181
Verde/Cacheu/Senegâmbia
1770 244 225 Bissau/Serra Leoa/Senegâmbia 1.034
1770 202 194 Ilhas de Cabo
Verde/Cacheu/Senegâmbia
1770 198 198 Ilhas de Cabo
Verde/Bissau/Senegâmbia
1770 143 127 Cacheu/Bissau/Serra
Leoa/Senegâmbia
1770 02 02 Ilhas de Cabo Verde/Senegâmbia
1770 175 157 Ilhas de Cabo
Verde/Bissau/Senegâmbia
1770 ------ 90 Bissau/Senegâmbia
1770 ------ 41 Bissau/Senegâmbia
1771 152 129 Bissau/Senegâmbia 1.011
1771 185 177 Cacheu/Senegâmbia
1771 220 198 Bissau/Senegâmbia
1771 181 177 Ilhas de Cabo
Verde/Bissau/Senegâmbia
1771 226 216 Cacheu/Senegâmbia
1771 114 114 Cacheu/Bissau/Senegâmbia
1772 158 151 Serra Leoa/ Cacheu/Senegâmbia 652
1772 201 191 Ilhas de Cabo
Verde/Bissau/Senegâmbia
1772 185 177 Cacheu/Senegâmbia
1772 152 133 Bissau/Senegâmbia
1773 201 198 Ilhas de Cabo 807
Verde/Bissau/Senegâmbia
1773 219 210 Cacheu/Senegâmbia
1773 235 218 Cacheu/Bissau/Senegâmbia
1773 187 181 Cacheu/Senegâmbia
1774 102 91 Cacheu/Bissau/Senegâmbia 533
1774 233 216 Bissau/Senegâmbia
1774 ------ 226 Bissau/Senegâmbia
1775 156 149 Bissau/Senegâmbia 1.214
1775 204 197 Cacheu/Senegâmbia
1775 209 192 Bissau/Senegâmbia
1775 176 163 Cacheu/Senegâmbia
1775 ------ 513 Benguela/ África Centro-
Ocidental/ Ilha de Santa Helena
1776 211 200 Bissau/Senegâmbia 1.066
1776 207 194 Cacheu/Senegâmbia
1776 207 187 Bissau/Senegâmbia
1776 513 485 Benguela/ África Centro-
Ocidental/ Ilha de Santa Helena
1777 353 324 Bissau/Senegâmbia** 838
1777 179 155 Bissau/Senegâmbia
1777 170 164 Cacheu/Senegâmbia
1777 216 195 Bissau/Senegâmbia
1778 618 560 Benguela/ África Centro- 1.242
Ocidental/ Ilha de Santa Helena
1778 169 167 Cacheu/Senegâmbia
1778 574 515 Benguela/ África Centro-
Ocidental/ Ilha de Santa Helena
Total 19.214 17.627 Área de origem dos cativos: 17.627
parcial 2 Não informado: 300
Senegâmbia/África Ocidental:
10.026
África Centro-Ocidental: 7.301

Total 18.450 16.852 Área de origem dos cativos: 16.852


parcial 3 Não informado: 16
Senegâmbia/África Ocidental:
9.886
África Centro-Ocidental: 6.950

TOTAL 19.214 17.627 ÁREA DE ORIGEM DOS 17.627


GERAL CATIVOS
Não informado: 300
Senegâmbia/África Ocidental:
10.026
África Centro-Ocidental: 7.301

Fonte: DIAS, Manuel Nunes. Fomento e mercantilismo. A Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão (1755-
1778). Belém: UFPA, 1970, 2 volumes; VERGOLINO E SILVA, Anaíza. O negro no Pará. A notícia histórica. In:
ROCQUE, Carlos (org.). Antologia da cultura amazônica. Belém: Amazônia Edições Culturais/Amada, 1971, p. 17-
33; CARREIRA, Antônio. As companhias pombalinas de Grão-Pará e Maranhão e Pernambuco e Paraíba. Lisboa:
Presença, 1983; CARREIRA, Antônio. A Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão. O comércio monopolista
Portugal-África-Brasil na segunda metade do século XVIII. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1988, 2
volumes; Voyages: The Trans-Atlantic slave trade database. Disponível em: <http://www.slavevoyages.org/>.

Observações: o total parcial 1 contempla somente a soma dos valores relativos aos escravos desembarcados por
ano. O total parcial 2 contempla a soma de todos os valores, independentemente de o tráfico haver sido realizado
por navios ou pela Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão (CGGPM). O total parcial 3 somente compreende
a soma dos valores relativos ao tráfico realizado por navios ou pela CGGPM.

* Navios com pavilhão ou bandeira da Grã-Bretanha. Portanto, não considerados na soma dos valores relativos ao
tráfico realizado por navios ou pela CGGPM.
** Navio de pavilhão ou bandeira portuguesa, mas cujo nome não consta da relação de 124 navios ou embarcações
da CGGPM, conforme listado por Dias (Op. cit., p. 285-297). Portanto, não considerado na soma dos valores
relativos ao tráfico realizado por navios ou pela CGGPM.

*** Navios de pavilhão ou bandeira portuguesa, cujos nomes aparecem entre aqueles a serviço ou pertencentes à
CGGPM, conforme listagem apresentada por Dias (Op. cit., p. 285-297), ainda que nos dados do Slaves Voyages
não seja indicada a propriedade da galera “Nossa Senhora do Cabo”, bem como indiquem como donos da galera
“Santana e São Domingos” os nomes de João da Costa e João Antônio Pereira, sendo, que, para os demais dados,
aparece sempre como dona da embarcação a CGGPM. Consideraram-se, no entanto, essas duas galeras ligadas ao
tráfico realizado por navios ou pela CGGPM.
TABELA VII
Cativos africanos ingressados no Grão-Pará, ao longo dos anos, com base nos dados do Slaves Voyages
(período: 1800-1841)

Anos Quantidade de Quantidade de Região e/ou portos de origem Totais


cativos cativos parciais
embarcados desembarcados
1800 359 328 Luanda/África Centro-Ocidental/ Ilha de 1.291
Santa Helena
1800 679 627 Benguela/Nova Redonda/ Luanda/África
Centro-Ocidental/ Ilha de Santa Helena
1800 363 336 Luanda/África Centro-Ocidental/ Ilha de
Santa Helena
1801 121 118 Luanda/África Centro-Ocidental/ Ilha de 118
Santa Helena
1802 530 473 Bissau/Senegâmbia 473
1803 550 491 Luanda/África Centro-Ocidental/ Ilha de 1.086
Santa Helena
1803 475 436 Luanda/África Centro-Ocidental/ Ilha de
Santa Helena
1803 179 159 Bissau/Senegâmbia
1804 370 335 Benguela/ Luanda/África Centro-Ocidental/ 1.182
Ilha de Santa Helena
1804 545 494 Benguela/ Luanda/África Centro-Ocidental/
Ilha de Santa Helena
1804 390 353 Bissau/Senegâmbia
1805 492 412 Guiné Portuguesa/ Senegâmbia 2.606
1805 652 582 Luanda/África Centro-Ocidental/ Ilha de
Santa Helena
1805 592 536 Luanda/África Centro-Ocidental/ Ilha de
Santa Helena
1805 653 582 Luanda/África Centro-Ocidental/ Ilha de
Santa Helena
1805 554 494 Luanda/África Centro-Ocidental/ Ilha de
Santa Helena
1806 530 472 Luanda/África Centro-Ocidental/ Ilha de 1.804
Santa Helena
1806 300 272 Moçambique/Cabo da Boa Esperança/
África Centro-Oriental e ilhas do Oceano
Índico
1806 321 286 Luanda/África Centro-Ocidental/ Ilha de
Santa Helena
1806 555 495 Luanda/África Centro-Ocidental/ Ilha de
Santa Helena
1806 310 279 Luanda/África Centro-Ocidental/ Ilha de
Santa Helena
1807 530 473 Bissau/Senegâmbia 568
1807 105 95 Gabão/ São Tomé e Príncipe/Baía de Biafra
e Golfo das Ilhas da Guiné
1808 187 169 Gabão/ São Tomé e Príncipe/Baía de Biafra 169
e Golfo das Ilhas da Guiné
1811 492 412 Guiné Portuguesa/Senegâmbia 412
1814 390 353 Luanda/África Centro-Ocidental/ Ilha de 353
Santa Helena
1815 183 160 São Tomé/ Baía de Biafra e Golfo das Ilhas 160
da Guiné
SUBTOTAL 11.407 10.222 Área de origem dos cativos: 10.222
1* Senegâmbia/África ocidental: 2.282
Gabão/São Tomé e Príncipe/África Centro-
Ocidental: 424
África Centro-Ocidental: 7.244
África Centro-Oriental: 160
1816 530 473 Luanda/África Centro-Ocidental/ Ilha de 826
Santa Helena
1816 390 353 Luanda/África Centro-Ocidental/ Ilha de
Santa Helena
1817 530 473 Benguela/ Luanda/África Centro-Ocidental/ 473
Ilha de Santa Helena
1818 530 473 Luanda/África Centro-Ocidental/ Ilha de 946
Santa Helena
1818 530 473 Cabinda/ África Centro-Ocidental/ Ilha de
Santa Helena
1819 390 353 Benguela/ África Centro-Ocidental/ Ilha de 353
Santa Helena
1820 183 162 Bissau/Senegâmbia 162
1821 179 159 Bissau/Senegâmbia 159
1823 239 217 Ilhas de CaboVerde/Senegâmbia 217
1826 177 160 Não informado 160
1828 270 266 Luanda/África Centro-Ocidental/ Ilha de 266
Santa Helena
1830 303 281 Luanda/África Centro-Ocidental/ Ilha de 281
Santa Helena
1835 554 507 Luanda/África Centro-Ocidental/ Ilha de 507
Santa Helena
1841 135 120 Ilhas de Cabo Verde/Senegâmbia 120
SUBTOTAL 4.940 4.470 Área de origem dos cativos: 4.470
2 Não informado: 160
Senegâmbia/África Ocidental: 658
África Centro-Ocidental: 3.652
Totais 16.347 14.692 Área de origem dos cativos:
Não informado: 160 14.692
Senegâmbia/África Ocidental: 2.940
Gabão/São Tomé e Príncipe/África
Centro-Ocidental: 424
África Centro-Ocidental: 10.896
África Centro-Oriental: 160

Fonte: Voyages: The Trans-Atlantic slave trade database. Disponível em: <http://www.slavevoyages.org/>.
* O subtotal 1 tem como recorte 1815, em razão de que, a partir desta data, ficou proibido o tráfico de cativos
africanos importados diretamente da África Ocidental, situada acima da Linha do Equador, sendo que o ingresso
de escravos dessa região a partir de então, ainda que existente, como demonstrado no subtotal 2, tornou-se
atividade ilegal, considerada pirataria, sob regime de contrabando.
TABELA VIII
Principais gêneros exportados do Porto do Pará, durante o período de 1778 e 1818, em quantidades (em
arrobas)

Produtos
Arroz descascado Cacau Algodão em rama Café
Total Média Total Média Total Média
Períodos exportado anual Períodos exportado anual Períodos exportado anual Períodos ex

1778- 437.647 87.529 1778- 319.697 63.939 1779- 33.142 6.628 1778-
1782 1784 1783 1784
1783- 496.272 99.254 1785- 367.838 73.568 1784- 25.241 5.408 1785-
1787 1797 1788 1797
1788- 422.216 84.443 1798- 515.994 103.199 1789- 41.656 8.331 1798-
1797 1802 1798 1802
1798- 301.510 60.302 1808- 370.311 74.062 1801- 52.913 10.583 1810-
1802 1813 1808 1818
1808- 445.142 89.028 1814- 674.328 134.866 1810- 23.525 4.705
1813 1818 1814
1814- 834.784 166.957 1815- 254.299 63.575
1818 1818
Segundo informações para os Segundo informações para os
anos de: 1788-1789, 1794, 1796- anos de: 1779, 1784, 1794,
1797, 1808, 1810-1813. 1796, 1797-1802, 1808, 1815-
1818.

Fonte: adaptado de CARREIRA, Antônio. A Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão. Volume 1. São Paulo:
Companhia Editora Nacional, 1988, p. 234, segundo dados constantes em BARATA, Manoel. Formação histórica do
Pará. Belém: Universidade Federal do Pará, 1973.
TABELA IX
Principais gêneros exportados do Porto do Pará, durante o período
de 1780 e 1818, em valores (em mil réis)

Produtos
Arroz descascado Cacau Algodão em rama C
Valores Valores Valores
Períodos A B C Períodos A B C Períodos A B Per
1780- 6.970 7.890 7.930 1780- 5.400 6.400 5.600 1780- 51.100 63.300
1789 1789 1789 178
1794- 4.228 4.408 4.488 1794- 12.290 13.490 13.890 1794- 35.610 35.500
1800 1800 1800 180
1801- 5.325 5.325 5.325 1801- 7.850 7.850 7.850 1801- 22.680 22.680
1810 1810 1810 181
1811- 10.250 10.250 10.250 1811- 13.200 13.200 13.200 1811- 35.415 35.415
1818 1818 1818 181
Totais Totais Totais To
26.773 27.873 28.013 38.740 40.940 40.540 144.805 156.895
Valores em A, B e C, levando-se em consideração variações de preços para determinados anos dentro de determina

Fonte: adaptado de CARREIRA, Antônio. A Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão. Volume 1. São Paulo:
Companhia Editora Nacional, 1988. p. 236.
TABELA X
Mocambos na Amazônia Colonial: localização, tipo e quantidade

Localização Mocambos de Mocambos de negros e Mocambos de


negros* índios** índios*** Total
Amapá 18 04 01 23
Baixo Amazonas 15 01 05 21
Ilha de Marajó 11 04 04 19
Baixo Tocantins 09 02 02 13
Belém 07 01 03 11
Rio 05 --- 06 11
Negro/Amazonas
Nordeste paraense 04 --- --- 04
Costa oriental 03 --- 02 05
Xingu 01 01 01 03
Outras localidades 10 03 09 22

Fonte: GOMES, Flávio dos Santos. A hidra e os pântanos: quilombos e mocambos no Brasil (sécs. XVII-XIX). ,
Tese (Doutorado em História) – Universidade Estadual de Campinas. Campinas: Unicamp, 1997.

* Os referidos mocambos foram quantificados por Gomes entre os anos de 1734 e 1816.

** Os referidos mocambos foram quantificados por Gomes entre os anos de 1762 e 1801.

*** Os referidos mocambos foram quantificados por Gomes entre os anos de 1752 e 1809.
TABELA XI
Comércio de escravos entre Belém e demais municípios ou regiões
da Província do Grão-Pará (1867/1873 & 1881)

Exportação Importação
Destino Número de escravos Origem Número de escravos
Baixo Tocantins 27 Baixo Tocantins 13
Marajó 75 Marajó 49
Médio Amazonas 15 Médio Amazonas 17
Nordeste do Pará ----- Nordeste do Pará 09
Amapá/Mazagão 02 Amapá/Mazagão 04
Total 119 Total 92

Fonte: Diário do Gram-Pará, Belém, 1867/1873 & 1881.


TABELA XII
O tráfico interprovincial e o Grão-Pará,
através do Porto de Belém (1867/1873 & 1881)

Exportação Importação
Destino Número de Origem Número de
escravos escravos
Rio de Janeiro/ portos do Sul/ 97 Rio de Janeiro/ portos do Sul/ 172
escalas escalas
Amazonas/ Manaus/ escalas 55 Amazonas/ Manaus/ escalas 51
Maranhão 26 Maranhão 10
Outros (PE/CE/BA) 05 Outros (PE/CE/BA) 09
Não consta 02 Não consta 20
Total 185 Total 262

Fonte: Diário do Gram-Pará, Belém, 1867/1873 & 1881.


TABELA XIII
O tráfico interprovincial e o Grão-Pará, números de entradas e saídas (1872-1885)

Período Entradas Saídas Saldos


01/01/1872 a 30/11/1876 597 647 -50
01/12/1876 a 31/12/1878 1.819 1.445 + 374
01/01/1879 a 30/06/1885 3.086 2.501 2.935* + 585 + 151*
Totais 5.502 4.593 5.027 * + 909 + 475 *

Fontes: Relatório apresentado à Assembléa Geral na Terceira Sessão da Décima Sétima Legislatura pelo Ministro
e Secretário de Estado dos Negócios da Agricultura, Commercio e Obras Públicas Manoel Buarque de Macedo.
Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1880, p. 14; Relatório apresentado à Assembléa Geral na Segunda Sessão
da Décima Sexta Legislatura pelo Ministro e Secretário de Estado dos Negócios da Agricultura, Commercio e
Obras Públicas Thomaz José Coelho de Almeida. Rio de Janeiro: Typogtaphia Perseverança, 1877, p. 15, ambos
disponíveis em: <http://brazil.crl.edu>; Diário de Notícias, 21 de fevereiro de 1886, p. 2; SLENES, ROBERT. Op. cit.,
p. 610, Tabela A-6.

* Considerado reajuste por Robert Slenes, para o período compreendido entre 1873 e 1885, mas aqui atribuído aos
cativos ingressados ao longo do período de 01/01/1879 a 30/06/1885. Cf. SLENES, Robert. The demography and
economics of Brazilian Slavery: 1850-1888. Doctoral Thesis in History – Stanford University, Palo Alto, 1976, p.
610, Tabela A-6.
TABELA XIV
População total e escrava no Grão-Pará (século XIX)

Ano População Escravos Escravos %


1823 128.127 28.051 22,25
1833 149.854 29.977 20,00
1848 164.949 33.542 20,28
1850 179.415 33.323 18,57
1854 198.756 30.847 15,52
1862 215.923 30.623 14,18
1872 275.237 27.458 9,98
1874 264.159 31.537 11,9
1882 274.883 24.763 9,00
1884 274.883 20.849 7,58
1888 280.676 10.535 3,75

Fontes: FUNES, Eurípides Antônio. “Nasci nas matas, nunca tive senhor”. História e memória dos mocambos do
Baixo Amazonas. Tese (Doutorado em História Social) – Universidade de São Paulo. São Paulo: USP, 1995;
MARIN, Rosa Elizabeth Acevedo. Du travail esclave au travail libre: le Pará (Brésil) sous le régime colonial et
sous l’Empire (XVIIe-XIXe siècles). Thèse (Docteur en Histoire) – École de Hautes Études en Sciences Sociales.
Paris: EHESS 1985; SALLES, Vicente. O negro no Pará sob o regime da escravidão. Brasília: Ministério da
Educação; Belém: Secretaria de Estado de Cultura-Secult; Fundação Cultural “Tancredo Neves”, 1988; CONRAD,
Robert. Os últimos anos da escravatura no Brasil: 1850-1888. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978.
TABELA XV
Número de escravos alforriados na Província do Grão-Pará (1871-1885)

Período Alforrias
28/09/1871 a 31/12/1875 1.228
01/01/1876 a 18/11/1876 403
01/12/1876 a 31/12/1878 668
01/01/1879 a 30/06/1885 5.646
Total 7.945

Fontes: Relatório apresentado à Assembléa Geral na Terceira Sessão da Décima Sétima Legislatura pelo Ministro
e Secretário de Estado dos Negócios da Agricultura, Commercio e Obras Públicas Manoel Buarque de Macedo.
Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1880, p. 14; Relatório apresentado à Assembléa Geral na Segunda Sessão
da Décima Sexta Legislatura pelo Ministro e Secretário de Estado dos Negócios da Agricultura, Commercio e
Obras Públicas Thomaz José Coelho de Almeida. Rio de Janeiro: Typogtaphia Nacional 1877, p. 13; Relatório
apresentado à Assembléa Geral na Primeira Sessão da Décima Sexta Legislatura pelo Ministro e Secretário de
Estado dos Negócios da Agricultura, Commercio e Obras Públicas Thomaz José Coelho de Almeida. Rio de
Janeiro: Typogtaphia Perseverança, 1877, p. 16, disponíveis em: <http://brazil.crl.edu>; Diário de Notícias, 21 de
fevereiro de 1886, p. 2.
TABELA XVI
Composição sexual da população escrava do Grão-Pará (1849-1888)

Anos Homens Mulheres Totais


1849 17.507 16.745 34.252
1851 16.950 17.123 34.073
1852 16.608 17.715 34.323
1872 15.062 15.927 30.989
1876 13.798 14.686 28.484
1885 10.550 9.668 20.218
1888 5.196 5.339 10.535

Fontes: para o ano de 1851, ver: SALLES, Vicente. O negro no Pará sob o regime da escravidão. Brasília:
Ministério da Educação; Belém: Secretaria de Estado de Cultura – Secult; Fundação Cultural “Tancredo Neves”,
1988, p. 73; para os anos de 1872 e 1876, conferir em DIRETORIA GERAL DE ESTATÍSTICA. Relatório e trabalhos
estatísticos apresentados ao Illm. e Exm. Sr. Conselheiro Dr. Carlos Leoncio de Carvalho. Ministro e Secretário de
Estado dos Negócios do Império, pelo Director Geral Conselheiro Manoel Francisco Correia, em 20 de novembro
de 1878. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1878. Para o ano de 1885, ver ARARIPE, Tristão de Alencar. Dados
estatísticos e informações para os imigrantes. Belém: Governo da Província do Pará, 1886, p. 06/12. Para o ano de
1888, ver Falla com que o Exm. Sr. Conselheiro Francisco José Cardoso Júnior, 1o Vice-Presidente da Província
do Pará, abriu a 1ª sessão da 26ª legislatura da Assembléia Provincial no dia 04 de maio de 1888, p. 14/18. Para
os demais anos, ver BATISTA, Luciana Marinho. Op. cit., p. 211.
TABELA XVII
População da Província do Grão-Pará em 1822 (Parte Oriental).

Região População Total % Escravos Escravos %


Belém 23.012 17,96 9.849 35,11
Baixo Tocantins 26.975 21,05 7.726 27,54
Ilha do Marajó 12.956 10,11 2.120 7,56
Amapá 4.803 3,75 940 3,35
Baixo Amazonas 23.845 18,61 3.657 13,04
Nordeste Paraense 9.950 7,77 1.192 4,25
Costa Oriental 12.932 10,09 1.044 3,72
Rio Xingu 5.685 4,44 383 1,37
Outras: Melgaço, Portel, Prainha 7.969 6,22 1.140 4,06
TOTAL 128.127 100 28.057 100

Fonte: Adaptado de Marin, Rosa Elizabeth Acevedo. Du travail esclave au travail libre: le Pará (Bresil) sous le
regime colonial et sous l’Empire (XVIIe-XIXe siecles). Paris: Ecole de Hautes Etudes en Sciences Sociales, 1985.
Tese de Doutorado.
TABELA XVIII
População da Província do Grão-Pará em 1822 (parte oriental)

Localização Total Livres não Escravos


Brancos Escravos Índios Mestiços identificados %
Belém e Zona Guajarina:
Capital 12.467 5.643 5.715 – 1.109 – 45,8
Rio Acará 2.976 – 1.437 – – 1.539 48,3
S. Domingos da Boa 1.929 – 1.047 – – 882 54,3
Vista
Rio Bujaru 1.714 – 915 – – 799 53,4
Rio Capim 1.655 – 663 – – 992 40,1
Benfica 985 – 72 – – 913 7,3
Beja 886 – – 886 – – 0,0
Conde 400 – – 271 129 – 0,0
TOTAIS 5.643 9.849 129 6.234 44,41
22.176 1.157
Baixo Tocantins:
Cametá 9.450 – 1.382 – – 8.068 14,6
Abaetetuba 4.064 – 1.639 – – 2.425 40,3
Oeiras 3.944 192 323 1.826 1.603 – 8,2
Igarapé-Miri 3.573 – 1.839 – – 1.734 51,5
Rio Moju 3.157 – 1.728 – – 1.429 54,7
Baião 1.950 – 450 – – 1.500 23,1
Barcarena 837 – 365 – – 472 43,6
TOTAIS 192 7.726 1.603 15.628 28,64
26.975 1.826
Ilha de Marajó:
Muaná 3.524 – 503 – – 3.021 14,3
Cachoeira 3.463 130 531 – – 2.802 15,3
Chaves 1.853 44 447 – – 1.362 24,1
Monsarás 857 88 249 190 130 200 29,1
Ponta de Pedras 815 – – – – 815 0,0
Monforte 664 33 124 367 140 – 18,7
Salvaterra 497 46 31 296 124 – 6,2
Soure 366 26 155 44 141 – 42,3
Rebordelo 279 – – 279 – – 0,0
Mondim 230 – – – – 230 0,0
Breves 227 – 80 – – 147 3,5
Villar 95 – – – – 95 0,0
Condeixa 86 – – 86 – – 0,0
TOTAIS 367 2.120 535 8.672 16,36
12.956 1.262
Amapá:
Macapá 2.558 1.238 595 242 483 – 23,3
Mazagão 1.152 498 325 148 181 – 28,2
Arraiolos 425 202 20 182 21 – 4,1
Espozende 363 187 – 134 42 – 0,0
Almeirim 305 – – 305 – – 0,0
TOTAIS 4.803 2.125 940 727 – 19,6
1.011
Baixo Amazonas:
Santarém 5.255 – 1.270 – – 3.985 24,2
Óbidos 4.281 – 1.294 – – 2.987 30,2
Franca 2.888 – 152 – – 2.736 5,3
Faro 2.082 – 93 – – 1.989 4,5
Monte Alegre 2.070 – 290 – – 1.780 14,0
Alenquer 1.648 – 440 – – 1.208 26,7
Curi 1.014 4 14 996 – – 1,4
Pinhel 881 – 16 – – 865 1,8
Alter-do-Chão 828 – 10 – – 818 1,2
Boim 780 □ – – – 780 0,0
Santa Cruz 554 4 14 536 – – 2,5
Uxituba 491 2 4 485 – – 0,8
Itaituba 398 – – 398 – – 0,0
Outeiro 362 – 20 – – 342 15,5
Aveiro 313 – 40 – □– 273 12,8
TOTAIS 10 3.657 – 17.763 15,3
23.845 2.415
Nordeste paraense:
Bragança 6.847 4.480 482 – – 1.885 7,0
S. Miguel do Guamá 1.071 302 442 22 305 – 41,3
Irituia 915 348 108 163 296 – 11,8
Ourém 669 232 160 194 83 – 23,9
Gurupi 223 – – 223 – – 0,0
Vizeu 172 – – 172 – – 0,0
Piriá 53 – – – – 53 0,0
TOTAIS 9.950 5.362 1.192 774 684 1.938 12,0
Costa oriental:
Vigia 5.130 2.120 329 – 2.681 – 6,4
Cintra 4.784 – 465 – – 4.319 9,7
Villa Nova Del Rei 1.392 224 202 274 692 – 14,5
Salinas 515 25 30 – – 460 5,8
Collares 484 43 18 175 248 – 3,7
Odivellas 335 – – – – 335 0,0
Santarém Novo 292 – – 292 – – 0,0
TOTAIS 2.412 1.044 741 3.621 5.514 8,1
12.932
Xingu:
Gurupá 1.456 828 248 183 197 – 17,0
Pombal 814 1 8 629 176 – 1,0
Porto de Móz 758 151 53 336 218 – 7,0
Souzel 681 6 3 399 273 – 0,4
Villaninho do Monte 566 340 48 133 45 – 8,5
Veiros 475 2 – 371 102 – 0,0
Carrazedo 401 – – 401 – – 0,0
Boa Vista 395 218 13 59 105 – 3,3
Tapera 139 18 10 69 42 – 7,1
TOTAIS 5.685 1.564 383 1.158 – 6,7
2.580
Outras regiões:
Melgaço 5.719 1.021 1.140 1.440 2.118 – 19,9
Portel 2.250 – – – – 2.250 0,0
TOTAIS 7.969 1.021 1.140 2.118 2.250 14,3
1.440

Fonte: adaptado de MARIN, Rosa Elizabeth Acevedo. Du travail esclave au travail libre: le Pará (Brésil) sous le
régime colonial et sous l’Empire (XVIIe-XIXe siècles). Thèse (Docteur en Histoire) – École de Hautes Études en
Sciences Sociales. Paris: EHESS, 1985.
TABELA XIX
População livre e escrava de Belém (1787-1888)

Ano População Escravos Escravos %


1787 5.276 2.733 50,00
1793 8.573 3.051 35,60
1823 12.471 5.719 45,20
1839 – 4.580 –
1848 16.092 5.085 31,60
1872 34.464 5.087 14,76
1888 40.000 2.196 5,00

Fontes: SALLES, Vicente. O negro no Pará sob o regime da escravidão. Brasília: Ministério da Educação; Belém:
Secretaria de Estado de Cultura – Secult; Fundação Cultural Tancredo Neves, 1988; Diário de Notícias, 1888.
TABELA XX
População escrava da Província do Pará e do Município de Belém (1872/1888)

População escrava da População escrava de Percentual da população escrava de


Anos Província Belém Belém
27.458 5.087 18,52 %
1872
24.763 7.662 30,94 %
1882
20.218 6.231 32,83 %
1885
10.535 2.541 24,12 %
1888

Fontes: ARARIPE, Tristão de Alencar. Dados estatísticos e informações para os imigrantes. Belém: Governo da
Província do Pará, 1886; Falla com que o Exm. Sr. Conselheiro Francisco José Cardoso Júnior, 1o Vice-Presidente
da Província do Pará, abriu a 1ª sessão da 26ª legislatura da Assembléia Provincial no dia 04 de maio de 1888;
PARÁ, Governo da Província do. Portaria de 19 de março de 1883, que distribui proporcionalmente a quota do
fundo de emancipação que coube à Província, na presidência do Barão de Maracaju.
TABELA XXI
Plantações e escravos no Baixo Tocantins

Plantação Total de escravos Média por plantação % do total


Tamanho Número
Pequena 97 387 04 28,75
Média 39 695 18 31,64
Grande 04 264 66 19,61
Totais 140 1.346 10 100,00

Fonte: KELLY-NORMAND, Arlene. Africanos na Amazônia, cem anos antes da abolição. Cadernos do CFCH
(UFPA), n. 18, p. 1-21, Belém, outubro/dezembro, 1988.
TABELA XXII
Ocupações dos escravos no Baixo Amazonas – século XIX

Primeira metade – século XIX Segunda metade – século XIX


Atividades Propriedades % Atividades Propriedades %
Cacau 66 55,0 Cacau 47 25,6
Pecuária 4 3,3 Pecuária 33 18,0
Cacau/pecuária 10 8,3 Cacau/pecuária 43 23,4
Olaria 1 0,8 Fábrica de cal 1 0,5
Outras 39 32,5 Outras 59 32,2
Total 120 100 Total 183 97,7 *

Fonte: FUNES, Eurípides Antônio. “Nasci nas matas, nunca tive senhor”. História e memória dos mocambos do
Baixo Amazonas. Tese (Doutorado em História Social) – Universidade do Estado de São Paulo. São Paulo: USP,
1995,.

* No quadro elaborado por Funes, a soma dos percentuais totaliza 97,7%.


TABELA XXIII
Plantéis de escravos no Baixo Amazonas – século XIX

Número de escravos por Primeira metade – século XIX Segunda metade – século XIX
plantel Número de % Sobre os Número de % Sobre os
plantéis plantéis plantéis plantéis
01 a 05 48 40,0 84 45,9
06 a 10 31 25,8 50 27,3
11 a 15 10 8,3 18 9,8
16 a 20 6 5,0 12 6,5
21 a 25 9 7,5 5 2,7
26 a 30 5 4,1 6 3,2
31 a 35 4 3,3 1 0,5
36 a 40 3 2,5 3 1,6
41 a 45 2 1,6 1 0,5
46 a 50 1 0,8 3 1,6
Mais de 50 1 0,8 - ----
Total 120 99,7 183 99,5

Fonte: FUNES, Eurípides Antônio. “Nasci nas matas, nunca tive senhor”. História e memória dos mocambos do
Baixo Amazonas. Tese (Doutorado em História Social) – Universidade do Estado de São Paulo. São Paulo: USP,
1995,.
TABELA XXIV
População escrava da Província do Grão-Pará, por regiões (1822-1888).

Regiões 1822 1848 1856 1876 1885 1888


Belém 9.849 9.526 8.720 4.966 6.594 2.778
Baixo Tocantins 7.726 10.033 16.773 7.702 6.371 3.578
Baixo Amazonas 3.657 3.793 4.334 3.075 2.211 1.074
Ilha de Marajó 2.120 2.495 3.248 3.846 2.501 1.369
Nordeste Paraense 1.192 1.584 1.694 1.402 943 734
Amapá 940 1.870 1.158 563 253 211
Costa Oriental 1.044 1.668 2.175 1.366 752 518
Rio Xingu 383 437 547 666 468 203
Outras: Melgaço, Portel, Prainha. 1.140 395 129 138 125 70
TOTAL 28.057 31.301 38.778 22.924 20.218 10.535

Fonte: Adaptado de Marin, Rosa Elizabeth Acevedo. Du travail esclave au travail libre: le Pará (Bresil) sous le
regime colonial et sous l’Empire (XVIIe-XIXe siecles). Paris: Ecole de Hautes Etudes en Sciences Sociales, 1985.
Tese de Doutorado.; Salles, Vicente. O Negro no Pará. Sob o Regime da Escravidão. Brasília: Ministério da
Educação; Belém: Secretaria de Estado de Cultura-Secult; Fundação Cultural “Tancredo Neves”, 1988.
GRÁFICO I
Índice de preços de escravos nas províncias brasileiras e direção do tráfico interno de escravos brasileiros
durante a década de 1870
Índice de preços de escravos, na escala de 0 a 100, à esquerda, na vertical, sendo 100 = índice de preços em São
Paulo.

----------> Direção do tráfico interregional, no sentido norte/nordeste e sul para centro-sul.

- - - - - > Direção do tráfico intrarregional dentro do Nordeste (na direção de Pernambuco, Alagoas, Sergipe e
Bahia, áreas de lavoura açucareira, com escravos oriundos de Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba) ou
entre Nordeste e Norte (na direção do Pará, incluindo Maranhão, com escravos oriundos do Maranhão, Piauí,
Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba).

Fonte: adaptado de SLENES, Robert. The demography and economics of Brazilian Slavery: 1850-1888. 1976.
Doctoral thesis in History – Stanford University. Palo Alto, California. Gráfico A-1. p. 653.
Mapas
MAPA I
Prováveis rotas marítimas entre Lisboa/Portugal – África Ocidental/Alta Guiné e Costa da Mina –
Belém/Grão-Pará

Fonte: adaptado de DOMINGUES DA SILVA, Daniel B. The Atlantic slave trade to Maranhão, 1680-1846:
volume, routes and organisation. Slavery & Abolition: a Journal of Slave and Post-Slave Studies, v. 29, n. 4, p.
477-501, 2008. URL: <http://dx.doi.org/10.1080/01440390802486507>.
MAPA II
Prováveis rotas marítimas entre Lisboa/Portugal – África Centro-Ocidental/Congo-Angola – Belém/Grão-
Pará

Fonte: adaptado de DOMINGUES DA SILVA, Daniel B. The Atlantic slave trade to Maranhão, 1680-1846:
volume, routes and organisation. Slavery & Abolition: a Journal of Slave and Post-Slave Studies, v. 29, n. 4, p.
477-501, 2008. URL: <http://dx.doi.org/10.1080/01440390802486507>
MAPA III
Prováveis rotas marítimas entre Lisboa/Portugal – África Centro-Oriental/Moçambique – Belém/Grão-
Pará; portos do Brasil – África Centro-Oriental/Moçambique – Belém/Grão-Pará

Fonte: adaptado de DOMINGUES DA SILVA, Daniel B. The Atlantic slave trade to Maranhão, 1680-1846:
volume, routes and organisation. Slavery & Abolition: a Journal of Slave and Post-Slave Studies, v. 29, n. 4, p.
477-501, 2008. URL: <http://dx.doi.org/10.1080/01440390802486507>.
MAPA IV
Provável rota terrestre-fluvial São Luís-Belém-São Luís

Fonte: DIAS, Manuel Nunes. Fomento e mercantilismo: a Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão, 1775-
1778. Belém: Universidade Federal do Pará, 1970. 2 volumes.
MAPA V
Áreas de origem dos africanos escravizados desembarcados na Amazônia: África Ocidental (Guiné: Cacheu
e Bissau) e Centro-Ocidental (Angola)

Fonte: DIAS, Manuel Nunes. Fomento e mercantilismo: a Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão, 1775-
1778. Belém: Universidade Federal do Pará, 1970. 2 volumes.
MAPA VI
Áreas de origem dos africanos escravizados desembarcados na Amazônia: África Ocidental (Cabo Verde;
Alta Guiné: Cacheu e Bissau; Costa da Mina); África Centro-Ocidental (Congo-Angola) e África Centro-
Oriental (Moçambique e Mombaça)

Fonte: adaptado de VERGOLINO-HENRY, Anaíza & FIGUEIREDO, Arthur Napoleão. A presença africana na
Amazônia Colonial: uma notícia histórica. Belém: Arquivo Público do Pará, 1990; DOMINGUES DA SILVA,
Daniel B. The Atlantic slave trade to Maranhão, 1680-1846: volume, routes and organisation. Slavery & Abolition:
a Journal of Slave and Post-Slave Studies, v. 29, n. 4, p. 477-501, 2008. URL:
<http://dx.doi.org/10.1080/01440390802486507>.
MAPA VII
Localização dos principais mocambos da Província do Grão-Pará

Fonte: SALLES, Vicente. O negro no Pará sob o regime da escravidão. Brasília: Ministério da Cultura; Belém:
Secult, 1988.
MAPA VIII
Principais áreas de localização dos mocambos da Amazônia Colonial (1732-1807)

Fonte: VERGOLINO-HENRY, Anaíza & FIGUEIREDO, Arthur Napoleão. A presença africana na Amazônia
Colonial: uma notícia histórica. Belém: Arquivo Público do Pará, 1990.
MAPA IX
Principais áreas de concentração da população escrava na Amazônia Colonial

Fonte: VERGOLINO-HENRY, Anaíza & FIGUEIREDO, Arthur Napoleão. A presença africana na Amazônia
Colonial: uma notícia histórica. Belém: Arquivo Público do Pará, 1990.
MAPA X
Principais regiões da Província do Grão-Pará, nas quais se encontrava concentrada a população escrava

Fonte: mapa adaptado de VERGOLINO-HENRY, Anaíza & FIGUEIREDO, Arthur Napoleão. A presença africana
na Amazônia colonial: uma notícia histórica. Belém: Arquivo Público do Pará, 1990.
NOTAS DE RODAPÉ
APRESENTAÇÃO
[1]
Cf. BEZERRA NETO, José Maia. Nas terras do Cabo Norte: fugas escravas e histórias de liberdade nas fronteiras da
Amazônia Setentrional (século XIX). In: RUIZ-PEINADO ALONSO, José Luis & CHAMBOULEYRON, Rafael (orgs.).
T(r)ópicos de História: gente, espaço e tempo na Amazônia (séculos XVII e XXI). Belém: Açaí; Programa de Pós-
Graduação em História Social da Amazônia/UFPA; Centro de Memória da Amazônia/UFPA, 2010. p. 163-182;
BEZERRA NETO, José Maia. O que aconteceu com Zacarias? Uma microanálise da escravidão em seus últimos dias
em Belém. História & Perspectivas, n. 25/26, p. 307-331, Uberlândia, julho/dezembro, 2001 e janeiro/junho,
2002; BEZERRA NETO, José Maia. Ousados e insubordinados: protesto escravo e fugas de escravos na Província do
Grão-Pará – 1840/1860. Topoi, v. 2, p. 73-112, Rio de Janeiro, 2001; BEZERRA NETO, José Maia. Fugindo, sempre
fugindo: escravidão, fugas escravas e fugitivos no Grão-Pará (1840-1888). 2000. Dissertação (Mestrado em
História Social) – Universidade Estadual de Campinas. Campinas: Unicamp; BEZERRA NETO, José Maia. A vida
não é só trabalho: fugas escravas na época do abolicionismo na Província do Grão-Pará (1860-1888). Cadernos do
CFCH (UFPA), v. 12, n. 1/2, p. 141-154, Belém, 1993; BEZERRA NETO, José Maia. Quando histórias de liberdade
são histórias da escravidão: fugas escravas na Província do Grão-Pará (1860-1888), Estudos Afro-Asiáticos, n. 36,
p. 73-96, dezembro, Rio de Janeiro, 1999; BEZERRA NETO, José Maia. Histórias urbanas de liberdade: escravos em
fuga na cidade de Belém, 1860-1888. Afro-Ásia, n. 28, p. 221-250, Salvador, 2002.
CAPÍTULO 1
[1]
Ver, por exemplo, os diversos trabalhos escritos por Arthur Cézar Ferreira Reis, alguns dos quais citados ao longo
deste livro. Na dita historiografia regional ou paraense, ver também as diversas obras de Arthur Vianna. Ernesto
Cruz, por sua vez, em seus livros sobre a história do Pará, distanciou-se em parte desta abordagem, enfatizando o
estabelecimento da colonização portuguesa na região com referência ao processo de constituição de uma atividade
agrícola, como se verá oportunamente. Para uma análise historiográfica semelhante à que se apresentou, ver
SAMPAIO, Patrícia Maria de Melo. Os fios de Ariadne. Tipologias de fortunas e hierarquias sociais em Manaus:
1840-1888. Manaus: Universidade do Amazonas, 1997.

[2]
No que tange à compreensão da Amazônia colonial como área periférica, o mais importante trabalho foi produzido
por Ciro Cardoso, haja vista sua influência na historiografia sobre a região, inclusive produzida recentemente. Ver
CARDOSO, Ciro Flamarion S. Economia e sociedade em áreas periféricas: Guiana Francesa e Pará, 1750-1817. Rio
de Janeiro: Graal, 1984.

[3]
Para uma leitura acerca da escravidão negra no Amazonas, ver SAMPAIO, Patrícia Maria de M. Op. cit. No que diz
respeito ao Maranhão, particularmente à região entre os rios Gurupi e Turiaçu, ver GOMES, Flávio dos Santos. A
hidra e os pântanos: quilombos e mocambos no Brasil (sécs. XVII-XIX). Tese (Doutorado em História) –
Universidade Estadual de Campinas. Campinas: Unicamp, 1997.
CAPÍTULO 2
[1]
Cf. REIS, Arthur Cézar Ferreira. O negro na empresa colonial dos portugueses na Amazônia. Lisboa: Papelaria
Fernandes, 1961, p. 02-03.

[2]
A respeito, ver, por exemplo, CHAMBOULEYRON, Rafael. Plantações, sesmarias e vilas. Uma reflexão sobre a
ocupação da Amazônia seiscentista. Nuevo Mundo Mundos Nuevos [on-line], debates, 2006, postado em 14 de
maio de 2006. URL: <http://nuevo mundo.revues.org/index2260.html>; bem como: CHAMBOULEYRON, Rafael.
Povoamento, ocupação e agricultura na Amazônia colonial (1640-1706). Belém: Açaí/Centro de Memória da
Amazônia/PPHIST-UFPA, 2010; CHAMBOULEYRON, Rafael. Portuguese colonization of the Amazon region, 1640-
1706. Thesis (Doctor of Philosophy) – Faculty of History, University of Cambridge, Cambridge, England, 2005.
Ver também: RICCI, Magda; CHAMBOULEYRON, Rafael & FIGUEIREDO, Aldrin. Os usos da terra. In: FURTADO,
Rogério (org.). Amazônia. A floresta e futuro. São Paulo: Duetto, 2008, p. 80-87; além dos trabalhos de MARIN,
Rosa Elizabeth Acevedo. Camponeses, donos de engenhos e escravos na região do Acará. Paper do NAEA, n. 153,
Belém, outubro, 2000; MARIN, Rosa Elizabeth Acevedo & CARNEY, Judith. Aportes dos escravos na história do
cultivo do arroz africano nas Américas. Estudos Sociedade e Agricultura, p. 113-133, Rio de Janeiro, abril, 1999;
MARIN, Rosa Elizabeth Acevedo. Alianças matrimoniais na alta sociedade paraense no século XIX. Estudos
Econômicos, v. 15, edição especial, São Paulo, 1985; MARIN, Rosa Elizabeth Acevedo. Agricultura do delta do Rio
Amazonas: colonos produtores de alimentos em Macapá no período colonial. In: MARIN, Rosa Elizabeth Acevedo
(org.). A escrita da história paraense. Belém: NAEA/UFPA, 1998, p. 53-92; bem como: ANGELO MENEZES, Maria
de Nazaré. Aspectos conceituais do sistema agrário do vale do Tocantins colonial. Cadernos de Ciência e
Tecnologia, v. 17, n. 1, p. 91-122, Brasília, janeiro/abril, 2000; ANGELO MENEZES, Maria de Nazaré. Repertório
bibliográfico: fontes indicativas para a história social da Amazônia. Aspectos agrários do vale do Tocantins. Paper
do Naea, n. 137, Belém, 2000; ANGELO MENEZES, Maria de Nazaré. Cartas de datas de sesmarias: uma leitura dos
componentes mão de obra e sistema agroextrativista do Baixo Tocantins; Fontes existentes no Arquivo Público do
Pará. Paper do Naea, v. 157, p. 1-57, Belém, 2000; ANGELO MENEZES, Maria de Nazaré. O sistema agrário do vale
do Tocantins colonial: agricultura para consumo e para exportação. Projeto História: Espaço e Cultura, n. 18, São
Paulo, 1999; ANGELO MENEZES, Maria de Nazaré. Marcas das políticas agrárias do delta do Amazonas encontradas
no tesouro descoberto do Rio Amazonas do Padre João Daniel. Asas da Palavra, v. 5, n. 10, p. 52-59, Belém,
1999;
ANGELO MENEZES, Maria de Nazaré & GUERRA, Gutemberg Arrmando D. Os cultivos nas sesmarias do Vale do
Tocantins: cana-de-açúcar, cacau e café. In: LOPES, Eliano Sérgio Azevedo; MOTA, Dalva Maria da & SILVA, Tânia
Elias Magno da (orgs.). Ensaios – Desenvolvimento rural e transformações na agricultura. Aracaju: Universidade
Federal de Sergipe, 2003, v. 1, p. 354-373; ANGELO MENEZES, Maria de Nazaré. Histoire sociale des systèmes
agraires de la vallée du Tocantins-Etat du Pará-Brésil: colonisation européenne dans la deuxième moitié du XVIII
siècle et la première moitié du XIX siècle. Doutorado em História Agrária. École des Hautes Études en Sciences
Sociales, Paris, EHESS, 1998. Ver ainda: RICCI, Magda. A Cabanagem, a terra, os rios e os homens na Amazônia:
o outro lado de uma revolução (1835-1840). In: MOTA, Márcia & ZARTH, Paulo, A. (orgs.). Formas de resistência
camponesa. Visibilidade e diversidade de conflitos ao longo da história. São Paulo: Unesp, 2008, p. 153-170;
SOARES, Eliane. Roceiros e vaqueiros na ilha de Marajó (sécs. XVIII e XIX). Dissertação (Mestrado em
Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido) – Núcleo de Altos Estudos Amazônicos da Universidade Federal
do Pará, Belém, NAEA/UFPA, 2005; LIMA, Ana Renata. Revoltas camponesas no Vale do Acará-PA (1822-1840).
Dissertação (Mestrado em Planejamento do Desenvolvimento) – NAEA/Universidade Federal do Pará, Belém,
2002; MARQUES, Fernando Luiz Tavares. Um modelo da agroindústria canavieira colonial no estuário amazônico:
estudo arqueológico de engenhos dos séculos XVIII e XIX. Tese (Doutorado em História) – Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2004; GOMES, Flávio dos Santos. “No labirinto dos
rios, furos e igarapés”: camponeses negros, memória e pós-emancipação na Amazônia, c. XIX-XX. História
Unisinos, v. 10, n. 3, p. 281-292, São Leopoldo, setembro/dezembro, 2006; CUNHA, Ana Paula Macedo. Engenhos
e engenhocas: atividade açucareira no Estado do Maranhão e Grão-Pará (1706-1750). Dissertação (Mestrado em
História Social da Amazônia) – Universidade Federal do Pará, Belém, 2009.

[3]
Ver a respeito, por exemplo: CHAMBOULEYRON, Rafael. Suspiros por um escravo de Angola. Discursos sobre a mão
de obra africana na Amazônia seiscentista. Humanitas, v. 20, n. 1/2, p. 99-111, Belém, 2004; CHAMBOULEYRON,
Rafael. Escravos do Atlântico Equatorial: tráfico negreiro para o Estado do Maranhão e Pará (século XVII e início
do século XVIII). Revista Brasileira de História, v. 26, n. 52, p. 79-114, São Paulo, dezembro, 2006; BARBOSA,
Benedito Carlos Costa. Braços negros na Amazônia. Trabalho e economia no Estado do Maranhão e Grão-Pará
(1707-1750). Monografia (Especialização em História Social da Amazônia) – Universidade Federal do Pará,
Belém, 2008; BARBOSA, Benedito Carlos Costa. Em outras margens do Atlântico: tráfico negreiro para o Estado do
Maranhão e Grão-Pará (1707-1750). Dissertação (Mestrado em História Social da Amazônia) – Universidade
Federal do Pará, Belém, 2009; SILVA, Marley Antonia Silva da. O que se precisa para o adiantamento das
lavouras. Tráfico negreiro no Grão-Pará com o fim da Companhia Geral de Comércio (século XVIII). Monografia
(Trabalho de Conclusão de Graduação em História) – Universidade Federal do Pará, Belém, 2009; MONTEIRO,
Armanda Santos. Rotas negras: o tráfico entre a África Ocidental e o Grão-Pará e Maranhão (1757-1777).
Monografia (Trabalho de Conclusão de Graduação em História) – Universidade Federal do Pará, Belém, 2001.

[4]
Cf. SALLES, Vicente. O negro no Pará sob o regime da escravidão. Brasília: Ministério da Educação; Belém:
Secretaria de Estado de Cultura – Secult; Fundação Cultural “Tancredo Neves”, 1988, p. 18-19.

[5]
Ver, por exemplo, além dos estudos já citados na nota 3, o trabalho de DOMINGUES DA SILVA, Daniel B. The Atlantic
slave trade to Maranhão, 1680-1846: volume, routes and organisation. Slavery & Abolition: a Journal of Slave and
Post-Slave Studies, v. 29, n. 4, p. 477-501, 2008. URL: <http://dx.doi.org/10.1080/01440390802486507>.

[6]
Cf. CHAMBOULEYRON, Rafael. Escravos do Atlântico Equatorial: tráfico negreiro para o Estado do Maranhão e Pará
(século XVII e início do século XVIII), já citado. O trecho citado na página 101.

[7]
A esse respeito, ver, por exemplo, SILVA, Maria Celestino Gomes da. Alta Guiné e Maranhão: tráfico atlântico e
rotas comerciais na segunda metade do século XVIII. In: IV ENCONTRO ESCRAVIDÃO E LIBERDADE NO BRASIL
MERIDIONAL. Anais eletrônicos... Curitiba: Universidade Federal do Paraná, 2009; bem como: DIAS, Manuel
Nunes. Fomento e mercantilismo: a Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão 1775-1778. Belém: Universidade
Federal do Pará, 1970, 2 volumes.

[8]
Cf. DOMINGUES DA SILVA, Daniel B. Op. cit., p. 488-489, em especial a Tabela 3.

[9]
Cf. CHAMBOULEYRON, Rafael. Escravos do Atlântico equatorial: tráfico negreiro para o Estado do Maranhão e Pará
(século XVII e início do século XVIII), já citado. Bem como: BARBOSA, Benedito Carlos Costa. Braços negros na
Amazônia, e BARBOSA, Benedito Carlos Costa. Em outras margens do Atlântico: tráfico negreiro para o Estado do
Maranhão e Grão-Pará (1707-1750), trabalhos já citados.

[10]
Sobre o assunto, ver CHAMBOULEYRON, Rafael. Op. cit.; DOMINGUES DA SILVA, Daniel B. Op. cit.; quanto a Barbosa,
ver trabalhos já citados.

[11]
Cf. SALLES, Vicente. Op. cit. Bem como: CHAMBOULEYRON, Rafael. Escravos do Atlântico Equatorial, já citado, p.
99, Tabela 2; e, sobre a tentativa de produção de anil, CHAMBOULEYRON, Rafael. Povoamento, ocupação e
agricultura na Amazônia, já citado, p. 154.

[12]
Cf. SALLES, Vicente. Op. cit., p. 13, 18 e 22. Citação de Salles na página 18. Cf. as referências a Berredo e Baena,
em: VERGOLINO E SILVA, Anaíza. O negro no Pará: A notícia histórica. In: ROCQUE, Carlos (org.). Antologia da
cultura amazônica. Belém: Amazônia Edições Culturais, 1971, p. 19. (Antropologia e Folclore, v. 6). Ver também:
VERGOLINO E SILVA, Anaíza. Alguns elementos para o estudo do negro na Amazônia. Publicações Avulsas, n. 8, do
Museu Paraense E. Goeldi, Belém, 1968; bem como: VERGOLINO-HENRY, Anaíza & FIGUEIREDO, Arthur Napoleão.
A presença africana na Amazônia colonial: uma notícia histórica. Belém: Arquivo Público do Pará, 1990.

[13]
Cf. CHAMBOULEYRON, Rafael. Escravos do Atlântico Equatorial: tráfico negreiro para o Estado do Maranhão e Pará
(século XVII e início do século XVIII), já citado, p. 98 e 99, Tabelas 1 e 2.

[14]
Cf. CHAMBOULEYRON, Rafael. Op. cit., p. 101-102.

[15]
Considera-se, para efeito estimativo, possível que o número de escravos desembarcados na nau “Nossa senhora do
Rosário e Almas” tenha sido da ordem de 200 escravos, embora não necessariamente embarcada na Guiné essa
mesma quantidade, pois aqui se trata apenas do desembarque. Estima-se esse volume em razão de que naus,
galeras, sumacas e corvetas eram navios negreiros de maior porte, embora o número de cativos embarcados possa
variar, considerando-se ainda que, em 1671, duas naus holandesas, provenientes de Angola, chegaram a São Luís
com 400 cativos, mesmo que não viessem 200 africanos em cada uma e sua rota fosse diferente com implicações
sobre o volume de escravos transportados. Enfim, trata-se de uma estimativa.

[16]
Cf. DOMINGUES DA SILVA, Daniel B. Op. cit., p. 478-479 e 481; e CHAMBOULEYRON, Rafael. Op. cit., p. 98-99,
Tabelas 1 e 2.

[17]
Cf. BETENDORF, J. Felipe. Crônica da missão dos padres da Companhia de Jesus no Estado do Maranhão, 1910, p.
239, apud SALLES, Vicente. Op. cit., p. 18.

[18]
Cf. DOMINGUES DA SILVA, Daniel B. Op. cit., p. 480-481. Os dados do Voyages: The Trans-Atlantic slave trade
database ou Slave Voyages se encontram disponíveis em: <http://www.slavevoyages.org/>. Agradece-se a Rafael
Chambouleyron a cessão de arquivo já contendo listagem específica dos navios negreiros que desembarcaram
escravos na Amazônia, ainda que não especificado se no Pará ou no Maranhão. Ver, ainda, CHAMBOULEYRON,
Rafael. Op. cit., p. 98-99, Tabelas 1 e 2. Bem como: MATTOSO, Kátia Queirós. Ser escravo no Brasil. São Paulo:
Brasiliense, 1988, p. 32. Para uma crítica aos dados arrolados por Mattoso, ver BARBOSA, Benedito Carlos Costa.
Em outras margens do Atlântico: tráfico negreiro para o Estado do Maranhão e Grão-Pará (1707-1750), já citado,
p. 106.

[19]
Cf. CHAMBOULEYRON, Rafael. Povoamento, ocupação e agricultura na Amazônia colonial (1640/1706), já citado,
p. 133.

[20]
Cf. CHAMBOULEYRON, Rafael. Op. cit., p. 131-132; bem como a citação de SWEET, David. A rich realm of nature
destroyed: the middle Amazon valley, 1640-1750, 1974, apud CHAMBOULEYRON, Rafael. Op. cit., p. 131, com
tradução deste.
[21]
Cf. CHAMBOULEYRON, Rafael. Escravos do Atlântico Equatorial: tráfico negreiro para o Estado do Maranhão e
Pará (século XVII e início do século XVIII), já citado, p. 98-99, Tabelas 1 e 2; DOMINGUES DA SILVA, Daniel B. Op.
cit., p. 479, 481 e 497, Apêndice A; MATTOSO, Kátia Queirós. Op. cit., p. 32; bem como: SALLES, Vicente. Op. cit.,
p. 13-27. Ver, também, VERGOLINO-HENRY, Anaíza & FIGUEIREDO, Arthur Napoleão. Op. cit., p. 38-49.

[22]
Sobre a historiografia acerca do tráfico e a dificuldade em inferir o número de escravos ingressados no Maranhão e
no Grão-Pará, para além do que é possível supor quando dos estancos e assentos, ver os autores já citados neste
capítulo. Cf. os números citados em DOMINGUES DA SILVA, Daniel B. Op. cit., p. 481 e 496, Apêndice 1. Cf.
também a citação de Benedito Carlos Costa Barbosa em sua dissertação de mestrado já citada, p. 107.

[23]
Acerca da reexportação de escravos para o Brasil Central, a partir do Porto de Belém, cf. DOMINGUES DA SILVA,
Daniel B. Op. cit., p. 480; ver, ainda que analise um período posterior, principalmente, KARASCH, Mary. Centro-
Africanos no Brasil Central, de 1780 a 1835. In: HEYWOOD, Linda M. (org.). Diáspora negra no Brasil. São Paulo:
Contexto, 2008, p. 127 a 164, especialmente a Tabela 4.3, nas páginas 136-137. Sobre as políticas de ocupação e
exploração econômica, em especial a agrícola, na Amazônia portuguesa, entre 1640 e 1706, ver CHAMBOULEYRON,
Rafael. Povoamento, ocupação e agricultura na Amazônia colonial (1640/1706), já citado, dentre outros trabalhos
deste autor, também já arrolados neste capítulo; bem como, para o período da primeira metade do século XVIII,
BARBOSA, Benedito Carlos Costa. Em outras margens do Atlântico: tráfico negreiro para o Estado do Maranhão e
Grão-Pará (1707-1750), já citado. Acerca do crescimento econômico no Maranhão, ver DOMINGUES DA SILVA,
Daniel B. Op. cit. Para os números dos navios e produtos comentados, ver dados em BARBOSA, Benedito Carlos
Costa. Op. cit., p. 81-91, Quadros 1, 2, 3 e 4.

[24]
Cf. CHAMBOULEYRON, Rafael. Povoamento, ocupação e agricultura na Amazônia colonial (1640/1706), já citado,
p. 119-145.

[25]
Cf. CHAMBOULEYRON, Rafael. Escravos do Atlântico Equatorial: tráfico negreiro para o Estado do Maranhão e Pará
(século XVII e início do século XVIII), já citado, p. 102-103.

[26]
No caso específico do Maranhão, Domingues da Silva havia estimado o ingresso de 2.613 escravos africanos entre
1680 e 1755, mas, ainda que haja um pequeno erro de cálculo no número que indicou, se comparado com a soma
dos dados que ele próprio apresentou em seu Apêndice A, página 496, a natureza da enorme diferença entre seu
número e o apresentado aqui, 3.591 escravos supostamente ingressados no Maranhão no mesmo período, reside no
fato de serem considerados, nesta somatória, os dados apresentados por Rafael Chambouleyron após cotejamento
com os dados de Domingues da Silva. Assim, o volume de tráfico para o Maranhão foi maior. Cf. DOMINGUES DA
SILVA, Daniel B. Op. cit., p. 481 e 496; bem como CHAMBOULEYRON, Rafael. Op. cit., p. 99, Tabela 2.

[27]
Somente para efeito comparativo, mais ou menos na mesma época, entre 1676 e 1750, estima-se que 968,8 mil
africanos escravizados desembarcaram no Brasil Colônia, representando, portanto, um pouco mais de 0,5%, desse
total, os cativos africanos introduzidos na Amazônia portuguesa para o período de 1670-1755. Cf. estimativa em
KLEIN, Herbert S. A demografia do tráfico atlântico de escravos para o Brasil. Estudos Econômicos, v. 17, n. 02, p.
129-149, São Paulo, maio/agosto, 1987, em particular a Tabela 1, página 132.

[28]
Sobre a legislação metropolitana em relação aos índios, ver PERRONE-MOISÉS, Beatriz. Índios livres e índios
escravos: os princípios da legislação indigenista do período colonial (séculos XVI a XVIII). In: CUNHA, Manuela
Carneiro da (org.). História dos índios no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras; Secretaria Municipal de
Cultura; Fapesp, 1992, p. 115-132.

[29]
Cf. SALLES, Vicente. Op. cit., p. 25.

[30]
Cf. VERGOLINO-HENRY, Anaíza & FIGUEIREDO, Arthur Napoleão. Op. cit., p. 39; 69-70.

[31]
Cf. SALLES, Vicente. Op. cit., p. 47; VERGOLINO-HENRY, Anaíza & FIGUEIREDO, Arthur Napoleão. Op. cit., p. 46.

[32]
Cf. MOREIRA NETO, Carlos de Araújo. Índios da Amazônia. De maioria a minoria (1750-1850). Petrópolis: Vozes,
1988. Ver, também, SOUZA JÚNIOR, José Alves de. O projeto pombalino para a Amazônia e a “Doutrina do Índio-
Cidadão”. Cadernos do CFCH (UFPA), v. 12, n. 1/2, p. 85-98, Belém, 1993.

[33]
Sobre as fugas indígenas e formação de mocambos de índios ou envolvendo outras etnias, ver: SOUZA JÚNIOR, José
Alves de. Op. cit.; e GOMES, Flávio dos Santos. A hidra e os pântanos: quilombos e mocambos no Brasil (sécs.
XVII-XIX). Tese (Doutorado em História) – Universidade Estadual de Campinas. Campinas: Unicamp, 1997.

[34]
Cf. ALDEN, Dauril. O significado da produção de cacau na Região Amazônica. Belém: NAEA/UFPA, 1974, p. 32.

[35]
Sobre o fato, ver a documentação sistematizada por VERGOLINO-HENRY, Anaíza & FIGUEIREDO, Arthur Napoleão.
Op. cit. A historiografia, por sua vez, absorveu o referido discurso das autoridades metropolitanas como explicação
histórica para o pouco desenvolvimento do tráfico negreiro na região. Ver, por exemplo, ALMEIDA, Maria Regina
Celestino de. Trabalho compulsório na Amazônia: séculos XVII-XVIII. Arrabaldes, ano I, n. 2, Petrópolis,
setembro/dezembro, 1988, p. 101-118. Ver também: MACLACHLAN, Colin M. Slave Trade and economic
development in Amazonia, 1700-1800. In: TOPLIN, Robert Brent (org.). Slavery and race relations in Latin
America. Published in: Contributions in Afro-American and African Studies, number 17, Westport, Connecticut;
London, England, Greenwood Press, 1974, p. 112-145.

[36]
Cf. ALDEN, Dauril. Op. cit., p. 87-88, nota 164.

[37]
Cf. DIAS, Manuel Nunes. Fomento e mercantilismo: a Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão (1755-1778).
Belém: UFPA, 1970, p. 459.

[38]
Cf. ALDEN, Dauril. Op. cit., p. 28.

[39]
Cf. ALDEN, Dauril. Op. cit., p. 37. Sobre as décadas de 1730 e 1740, ver BARBOSA, Benedito Carlos Costa. Op. cit.,
p. 81-85, Quadros 1, 2 e 3.

[40]
Cf. ALDEN, Dauril. Op. cit., p. 32.

[41]
Cf. ALDEN, Dauril. Op. cit., p. 33. Ver, ainda, sobre o cacau e sua importância econômica para um período anterior,
entre 1640 e 1706, CHAMBOULEYRON, Rafael. Povoamento, ocupação e agricultura na Amazônia colonial
(1640/1706), já citado, p. 152-169. Ver também, para a primeira metade do século XVIII, BARBOSA, Benedito
Carlos Costa. Op. cit., particularmente as páginas 86-91, Quadro 4. Para uma análise atenuadora da importância
econômica do cacau capaz de gerar rendas significativas, inclusive em sua relação com o tráfico, no caso do
Maranhão, mas que iluminam aspectos para o Grão-Pará, ver DOMINGUES DA SILVA, Daniel B. Op. cit.

[42]
Cf. ALDEN,Dauril. Op. cit., p. 37.

[43]
Cf. CARREIRA, Antônio. A Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão. O comércio monopolista Portugal-
África-Brasil na segunda metade do século XVIII. 2 volumes. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1988;
CARREIRA, Antônio. As companhias pombalinas de Grão-Pará e Maranhão e Pernambuco e Paraíba. Lisboa:
Presença, 1982; DIAS, Manuel Nunes. Op. cit., p. 465, 469; VERGOLINO E SILVA, Anaíza. O negro no Pará: a notícia
histórica, já citado; MACLACHLAN, Colin. Op. cit., p. 137 e 140, apêndices A e B. DOMINGUES DA SILVA, Daniel B.
Op. cit. Sobre a reexportação de cerca de um terço dos cativos africanos desembarcados pela Companhia, ver, além
dos autores já citados, SALLES, Vicente. Op. cit., p. 61; e KARASCH, Mary. Op. cit.

[44]
Cf. VERGOLINO E SILVA, Anaíza. O negro no Pará: a notícia histórica, já citado, página 26. Ver, também, DIAS,
Manuel Nunes. Op. cit., bem como os trabalhos já citados de Carreira.

[45]
Cf. MACLACHLAN, Colin. Op. cit., p. 136.
[46]
Cf. CARREIRA, Antônio. As companhias pombalinas de Grão-Pará e Maranhão e Pernambuco e Paraíba, já
citado. Marinelma Meireles corroborou a informação de Carreira, ao informar sobre “registro de entrada da galera
Nossa Senhora de Nazaré e Santana no Maranhão, em 1783, com 226 escravos pertencentes à Companhia”,
conforme documento do Arquivo Histórico Ultramarino, Caixa 61, número 5.562. Cf. MEIRELES, Marinelma
Costa. As conexões do Maranhão com a África no tráfico atlântico de escravos na segunda metade do século
XVIII. Outros Tempos, volume 6, São Luís, dezembro, 2009, Dossiê Escravidão, p. 130-145, citação na página
136. Ver, também, a respeito, DOMINGUES DA SILVA, Daniel B. Op. cit. No banco de dados do Slaves Voyages,
também há informações de navios da Companhia ou a seu serviço ainda traficando escravos até o ano de 1788.

[47]
Cf. MACLACHLAN, Colin. Op. cit., p. 128.

[48]
Cf. SALLES, Vicente. Op. cit., p. 29; e MACLACHLAN, Colin. Op. cit., p. 128. A diferença entre as médias
apresentadas por Salles e MacLachlan, no tocante ao período do estanco da Companhia, reside no fato de que esses
autores arrolaram números distintos de escravos africanos introduzidos pela Companhia, para períodos distintos:
para Salles, foram introduzidos 14.749 escravos, durante 1755-1778, computando-se uma média anual de 629
(23.44833 X 629 = 14.749); para MacLachlan, foram 12.972 cativos, durante 1757-1778, computando-se uma
média anual de 581 (22.327022 X 581 = 12.972). Já para o período subsequente, Salles informou a média de 545
cativos introduzidos ao longo dos anos de 1778-1792, sendo o total de 7.606 escravos (13.955963 X 545 =
7.605.9998, o que dá 7.606), enquanto MacLachlan informou o número de 5.884 cativos durante 11 anos, entre
1779-1790, calculando uma média anual de 547 (10.756855 X 547 = 5.883.9996, que dá 5.884). Neste último
período, as médias de Salles e MacLachlan são bastante próximas. Mas, se for considerado o mesmo período
(1778-1792), os números de Salles e MacLachlan são ainda diferentes, o primeiro indicando 7.606 cativos
ingressados e o segundo indicando 7.132, o que faria, portanto, com que a média anual de MacLachlan fosse
recalculada, segundo seus dados, para cerca de 510 ao ano, aumentando inversamente a diferença entre as médias
anuais arroladas pelos ditos autores: Salles, com 545, e MacLachlan, com 510.

[49]
Sobre a questão, ver a documentação referenciada em VERGOLINO-HENRY, Anaíza & FIGUEIREDO, Arthur Napoleão.
Op. cit.

[50]
Sobre o crescimento da agricultura comercial durante o período de existência da Companhia, conferir DIAS,
Manuel Nunes. Op. cit., p. 495.

[51]
Cf. os dados em GOMES, Flávio dos Santos. Op. cit., p. 47-48.

[52]
Sobre essas observações acerca do tráfico entre África e a Amazônia portuguesa, ver ALMEIDA, Maria Regina
Celestino de. Op. cit., p. 104. Sobre o comércio entre Pará e Portugal, ver os dados em CARREIRA, Antônio. A
Companhia Geral do Grão Pará e Maranhão, já citado, p. 237.

[53]
A título de exemplo desta historiografia, ver DIAS, Manuel Nunes. Op. cit.; e ALMEIDA, Maria Regina Celestino de.
Op. cit.

[54]
Na primeira edição, não se havia considerado esta possibilidade, baseados, por exemplo, em GOMES, Flávio dos
Santos. Op. cit., p. 44.

[55]
Cf. SALLES, Vicente. Op. cit., p. 51.

[56]
Cf. VERGOLINO-HENRY, Anaíza & FIGUEIREDO, Arthur Napoleão. Op.cit.

[57]
Cf. para os anos de 1793, dados em SILVA, Marley Antônia Silva da. Op. cit., p. 62; para os demais anos da década
de 1790, MACLACHLAN, Colin. Op. cit., p. 137, Apêndice A. Para os anos entre 1804 e 1809, GOULART, Maurício.
Escravidão africana no Brasil. Das origens à extinção do tráfico. São Paulo: Martins, 1949, p. 269.

[58]
Cf. SALLES, Vicente. Op. cit., p. 51.

[59]
Cf. GOULART, Maurício. Op. cit., p. 269; e BARATA, Manuel. Apontamentos para as efemérides paraenses,
republicado em BARATA, Manuel. Formação histórica do Pará. Belém: UFPA, 1973, p. 76. Goulart, por exemplo,
informou que, em 1817, vieram 362 escravos; em 1818, 787; e em 1819, 971, somando 2.120 cativos. Barata
apontou os seguintes dados: em 1810, 722 vindos direto da África; em 1813, 323 vindos da África e 85 de outros
portos do Brasil; em 1814, 217 oriundos de Angola e 268 de portos brasileiros; em 1815, 136 vindos da África e
199 de outros portos nacionais; em 1816, 934 vindos de portos africanos e brasileiros. Considerando-se que os
números apontados por Goulart, cujos cativos seriam todos oriundos de Angola, provavelmente não vieram de
portos brasileiros. e dando-se preferência, no caso daqueles sabidamente vindos diretamente da África, ao maior
número informado por Goulart ou Barata, a fim de se evitarem sobreposições na falta de certeza se eram os
mesmos cativos, chegou-se ao algarismo indicado de 3.411 cativos importados. Vicente Salles, por sua vez,
citando Barata, calculou errado o número informado por este autor, dizendo ser da ordem de 2.934 escravos,
quando são 2.884; portanto, a média anual sugerida por Salles de 489 cativos ao ano também está prejudicada, o
que, no entanto, não afeta o presente trabalho, pois se trabalhou com o valor de 3.411, já indicado. Cf. SALLES,
Vicente. Op. cit., p. 51.

[60]
Cf. SALLES, Vicente. Op. cit., p. 51. O valor da média indicada por Salles é de 1.096 cativos; no entanto, conforme
cálculos aqui efetuados, estima-se em 1.097 escravos.

[61]
Cf. BAENA, Antônio Ladislau Monteiro. Compêndio das eras da Província do Pará. Belém: UFPA, 1969, p. 312,
nota a. Ver ainda: VERGOLINO E SILVA, Anaíza. Op. cit.; e SALLES, Vicente. Op. cit.

[62]
Cf. dados para o Maranhão em DOMINGUES DA SILVA, Daniel B. Op. cit., p. 497, Apêndice A. Para efeito
comparativo, segundo dados de KLEIN, Herbert. Op. cit., p. 133, Tabela 2, entre 1781 e 1820 ingressaram, no
Brasil, 963.700 cativos. Entre 1778 e 1820, na Amazônia, considerando-se os números de Baena, ingressaram
38.323 cativos; portanto, algo em torno de menos de 4% de todos os cativos importados. Caso se considere o
volume de 35.072 cativos, seria um pouco mais de 3.5%.

[63]
Cf. GOULART, Maurício. Op. cit., p. 269. Os dados apresentados por Goulart, ao que tudo indica, foram retirados da
obra de LOPES, Edmundo Correia. A escravatura: subsídios para a sua história. Lisboa: Agência Geral das
Colônias, 1944, p. 139-141.

[64]
Cf. SALLES, Vicente. Op. cit. p. 51.

[65]
Cf. a respeito: BEZERRA NETO, José Maia. Por todos os meios legítimos e legais: as lutas contra a escravidão e os
limites da Abolição (Brasil, Grão-Pará: 1850-1888). Tese (Doutorado em História) – Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo. São Paulo: PUC/SP, 2009,.

[66]
Cf. VERGOLINO E SILVA, Anaíza. O negro no Pará: a notícia histórica, já citado, p. 27-28; BARATA, Manuel. Op. cit.,
p. 76.

[67]
Segundo dados de DOMINGUES DA SILVA, Daniel B. Op. cit., p. 496-497, Apêndice A, ingressaram 100.525 cativos
no Maranhão. Mas, considerando-se os dados para o período de 1670-1705, apresentados por Rafael
Chambouleyron, no estudo Escravos do Atlântico Equatorial: tráfico negreiro para o Estado do Maranhão e Pará
(século XVII e início do século XVIII), já citado, p. 98-99, Tabelas 1 e 2, não levados em conta por Domingues da
Silva, esse número sobre para 101.513.
CAPÍTULO 3
[1]
Cf. SALLES, Vicente. O negro no Pará sob o regime da escravidão, já citado, p. 29-30; e VERGOLINO-HENRY,
Anaíza & FIGUEIREDO, Arthur Napoleão. A presença africana na Amazônia Colonial: uma notícia histórica, já
citado, p. 45.

[2]
Cf. VERGOLINO E SILVA, Anaíza. O negro no Pará: a notícia histórica, já citado, p. 27-28; BARATA, Manuel.
Formação histórica do Pará, já citado, p. 76, bem como SALLES, Vicente. Op. cit.; e MACLACHLAN, Colin. Slave
trade and economic in development in Amazonia, 1700-1800, também já citado.

[3]
Cf. BARATA, Manuel. Formação histórica do Pará, já citado, p. 76.

[4]
Cf. SALLES, Vicente. Op. cit., p. 43.

[5]
A respeito dessas considerações acerca do tráfico de escravos interno brasileiro, ver os importantes estudo de:
SLENES, Robert. The demography and economics of Brazilian slavery: 1850-1888. Doctoral Thesis in History.
Stanford University, Palo Alto, 1976, Apêndice A, p. 595-686; SLENES, Robert. Grandeza ou decadência? O
mercado de escravos e a economia cafeeira da província do Rio de Janeiro, 1850-1888. In: COSTA, Iraci Del Nero
(org.). Brasil: história econômica e demográfica. São Paulo: Instituto de Pesquisas Econômicas, 1986, p. 103-155;
SLENES, Robert. The Brazilian internal slave trade, 1850-1888. Regional economies, slaves experience, and the
politics of a peculiar market. In: JOHNSON, Walter. The chatell principle. Internal slave trade in the Americas. New
Haven & London: Yale University Press, 2004, p. 325-370. Sobre as similaridades entre o tráfico interno brasileiro
e o tráfico atlântico de escravos africanos, bem como outros aspectos organizacionais do tráfico interprovincial,
ver ainda: CONRAD, Robert. Os últimos anos da escravatura no Brasil: 1850-1888. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1978, em especial o capítulo: “O comércio de escravos interprovincial”, p. 63-87; bem como: CONRAD,
Robert. Tumbeiros. O tráfico de escravos para o Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1985, especialmente o capítulo: “O
tráfico interno de escravos”, p. 187-207.

[6]
Cf. dados de SLENES, Robert. The Brazilian internal slave trade, 1850-1888, já citado, p. 330-331 e nota 10. Ver
também SLENES, Robert. The demography and economics of Brazilian slavery: 1850-1888, já citado, p. 134-135 e
138, apud CONRAD, Robert. Tumbeiros. O tráfico de escravos para o Brasil, já citado, p. 196-97. Ver também, nesta
obra, a citação de Conrad na página 203.

[7]
Acerca das leis provinciais taxando a entrada de escravos para fins comerciais via tráfico interno, tornando os
preços dos cativos proibitivos, portanto inviabilizando o referido tráfico, uma vez que nem as assembleias
legislativas provinciais, nem os governos das províncias tinham competência para abolir ou proibir o tráfico,
apenas onerá-lo com pesados impostos provinciais dificultando sua existência, várias províncias, entre 1880 e
1881, aprovaram leis orçamentárias, prevendo tais impostos, dentre elas as províncias cafeeiras. Tomavam esta
medida justamente para evitar um Centro-Sul escravista e o restante do Brasil esvaziado de escravos, procurando
manter o compromisso das demais províncias com o escravismo. Ver, a respeito, os trabalhos já citados de Conrad
e Slenes. Sobre o tráfico para o Grão-Pará, ver, ainda, BEZERRA NETO, José Maia. Migrantes do cativeiro. O tráfico
entre províncias e os escravos ingressos no Pará, Século XIX. In: CANCELA, Cristina Donza & CHAMBOULEYRON,
Rafael (orgs.). Migrações na Amazônia. Belém: Açaí; Centro de Memória da Amazônia; PPGA, 2010, p. 41-54.
[8]
Diário do Gram-Pará, Belém, 04/07/1869, p. 1.

[9]
Diário do Gram-Pará, Belém, 20/07/1869, p. 1.

[10]
Diário do Gram-Pará, Belém, 11/07/1869, p. 1.

[11]
Diário do Gram-Pará, Belém, 13/07/1869, p. 1.

[12]
Diário do Gram-Pará, Belém, 18/07/1869, p. 1.

[13]
Cf. CONRAD, Robert. Tumbeiros. O tráfico de escravos para o Brasil, já citado, p. 194-195. Noutra passagem deste
livro, Conrad apresentou a seguinte descrição: “As linhas de vapores, brasileiras e estrangeiras, que na segunda
metade do século do século XIX ligavam todos os principais portos e províncias de Belém, ao norte, ao Rio
Grande do Sul, com seus passageiros com reservas e serviços de carga, evidentemente eliminavam a necessidade
de equipar navios especiais para o transporte de escravos, tão característicos do tráfico africano. Em vez disso,
trabalhadores vendidos ao sul (ou das três províncias do extremo sul para Santos e para capital do Império) eram
transferidos como passageiros pagos, seus nomes registrados no manifesto do navio, e suas acomodações e
condições visíveis pelo menos para os outros passageiros. Passageiros escravos constituíam uma cena comum a
bordo dos navios costeiros, tanto acompanhando seus proprietários quanto despachados em grupos ‘para serem
entregues’ (e entregar) em algum porto do sul”. Cf. p. 193. Ainda sobre esse comércio e seus agentes comerciais,
para além deste livro de Conrad, ver deste autor seu livro: Os últimos anos da escravatura no Brasil, já citado, p.
70-71. A respeito desse comércio, ver também Slenes, trabalhos já citados, bem como CHALHOUB, Sidney. Visões
da liberdade. Uma história das últimas décadas da escravidão na Corte. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.

[14]
Sobre o assunto, ver mais adiante, neste livro, o capítulo acerca da descrição por regiões da economia escravista no
Grão-Pará.

[15]
Sobre os dados do censo de 1872, acerca das taxas de urbanidade ou ruralidade dos cativos, ver: MARCONDES,
Renato Leite. Desigualdades regionais brasileiras: comércio marítimo e posse de cativos na década de 1870. Tese
(Livre-Docência em História Econômica) – Departamento de Economia da Faculdade de Economia,
Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. Ribeirão Preto: USP, 2005. Sobre
a profissão dos cativos, ver dados em SALLES, Vicente. O negro na formação da sociedade paraense. Belém: Paka-
Tatu, 2004; bem como em CONRAD, Robert. Os últimos anos da escravatura no Brasil: 1850-1888, já citado, p.
360-361, Tabelas 19 e 20.

[16]
Sobre a importância da agricultura e a importância da escravidão na economia amazônica sob o signo da borracha,
ver BEZERRA NETO, José Maia. Entre senzalas e seringais: escravidão, capitalismo e crescimento econômico no
Brasil (Pará: 1850-1888). História e-História, Campinas, publicado em 09/12/2009. Ver também: BEZERRA NETO,
Por todos os meios legítimos e legais, já citado. Ver ainda: OLIVEIRA FILHO, João Pacheco de. O caboclo e o brabo.
Notas sobre duas modalidades de força de trabalho na expansão da fronteira amazônica no século XIX. Encontros
Com a Civilização Brasileira, n. 11, p. 101-140, Rio de Janeiro, maio, 1979; BATISTA, Luciana Marinho. Muito
além dos seringais: elites, fortunas e hierarquias no Grão-Pará, c.1850-c.1870. Dissertação (Mestrado em História
Social) – Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: PPPHS/IFCH/UFRJ, 2004,; CANCELA, Cristina
Donza. Casamento e relações familiares na economia da borracha (Belém-1870-1920). Tese (Doutorado em
História Econômica) – Programa de Pós-Graduação em História Econômica da Universidade de São Paulo. São
Paulo: USP, 2006. Sobre a expansão do mercado provincial quando da economia da borracha e a questão do
abastecimento que, por sua vez, favorecia as atividades agrícolas e criatórias no Pará, ver: MACÊDO, Sidiana da
Consolação Ferreira de. Daquilo que se come. Uma história do abastecimento e da alimentação em Belém (1850-
1900). Dissertação (Mestrado em História Social da Amazônia) – Universidade Federal do Pará. Belém: UFPA,
2009.

[17]
Diário do Gram-Pará, Belém, 08/07/1869, p. 1.

[18]
Diário do Gram-Pará, Belém, 10/07/1869, p. 1.

[19]
Diário do Gram-Pará, Belém, 10/07/1869, p. 2.

[20]
Diário do Gram-Pará, Belém, 14/07/1869, p. 2.

[21]
Ver, a respeito, SALLES, Vicente. O negro no Pará sob o regime da escravidão, já citado, p. 44-47; CONRAD,
Robert. Os últimos anos da escravatura no Brasil: 1850-1888, também já citado, p. 67-72.

[22]
Cf. SALLES, Vicente. Op. cit., p. 60-64.

[23]
Cf. COSTA, Emília Viotti da. Da senzala à Colônia. São Paulo: Brasiliense, 1989, p. 160.

[24]
Cf. CONRAD, Robert. Os últimos anos da escravatura no Brasil: 1850-1888, já citado, p. 220.

[25]
Cf. SLENES, Robert. The demography and Economics of Brazilian Slavery: 1850-1888. Apêndice A, já citado, p.
644.

[26]
Diário de Notícias, Belém, 03/07/1881, p. 2.

[27]
Diário de Notícias, Belém, 07/07/1881, p. 2.

[28]
Diário de Notícias, Belém, 03/07/1881, p. 2.
[29]
Diário de Notícias, Belém, 17/07/1885, p. 2.

[30]
Diário de Notícias, Belém, 05/08/1881, p. 2.

[31]
Cf. SLENES, Robert. Op. cit., p. 609-611; 652-654.

[32]
Cf. CONRAD, Robert. Tumbeiros. O tráfico de escravos para o Brasil, já citado, p. 204, bem como Tabela 5, p. 217,
bem como em Os últimos anos da escravatura: 1850-1888, já citado, p. 351, Tabela 9. Cf. a citação em: CONRAD,
Robert. Os últimos anos da escravatura no Brasil: 1850-1888, p. 220.

[33]
Cf. SLENES, Robert. Op. cit., p. 610, Tabela A-6.

[34]
Ver, a respeito, os trabalhos de Slenes e Conrad já citados.
CAPÍTULO 4
[1]
Sobre o assunto ver: MEIRELES, Marinelma Costa. As conexões do Maranhão com a África no tráfico atlântico de
escravos na segunda metade do século XVIII; SILVA, Maria Celestino Gomes da. Alta Guiné e Maranhão: tráfico
atlântico e rotas comerciais na segunda metade do século XVIII; BARBOSA, Benedito Carlos Costa. Em outras
margens do Atlântico: tráfico negreiro para o Estado do Maranhão e Grão-Pará (1707-1750); CARREIRA, Antônio.
As companhias pombalinas de Grão-Pará e Maranhão e Pernambuco e Paraíba; CARREIRA, Antônio. A
Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão. O comércio monopolista Portugal-África-Brasil na segunda metade
do século XVIII; CHAMBOULEYRON, Rafael. Escravos do Atlântico Equatorial: tráfico negreiro para o Estado do
Maranhão e Pará (século XVII e início do século XVIII); DIAS, Manuel Nunes. Fomento e mercantilismo. A
Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão (1755-1778); DOMINGUES DA SILVA, Daniel B. The Atlantic slave trade
to Maranhão, 1680-1846; VERGOLINO-HENRY, Anaíza & FIGUEIREDO, Arthur Napoleão. A oresença africana na
Amazônia Colonial; VERGOLINO E SILVA, Anaíza. O negro no Pará. A notícia histórica, todos já citados no primeiro
capítulo.

[2]
Cf. DIAS, Manuel Nunes. Op. cit., p. 496.

[3]
Cf. DIAS, Manuel Nunes. Op. cit., p. 467.

[4]
Cf. VERGOLINO-HENRY, Anaíza & FIGUEIREDO, Arthur Napoleão. Op. cit., p. 50; SALLES, Vicente. O negro no Pará
sob o regime da escravidão, já citado, p. 59-60; e, DIAS, Manuel Nunes. Op. cit., p. 472.

[5]
Cf. Voyages: The Trans-Atlantic slave trade database. Disponível em: <http://www.slavevoyages.org/>.

[6]
Ibid, ibidem.

[7]
Cf. VERGOLINO-HENRY, Anaíza & FIGUEIREDO, Arthur Napoleão. Op. cit.

[8]
Cf. Voyages: The Trans-Atlantic slave trade database. Disponível em: <http://www.slavevoyages.org/>.

[9]
Cf. GOULART, Maurício. Escravidão africana no Brasil. Das origens à extinção do tráfico, já citado, p. 269.
Goulart se baseou em dados de LOPES, Edmundo Correia. A escravatura: subsídios para a sua história, já citado.

[10]
Cf. reprodução do referido discurso no jornal O Planeta, de 16 de agosto de 1851, p. 04. A partir dessa referência,
Vicente Salles creditou o ano de 1834 como data do último carregamento de escravos africanos diretamente da
África com destino ao Grão-Pará, sendo, durante muito tempo, aceita essa data pela historiografia acerca da
escravidão na região amazônica, inclusive na primeira edição deste livro. Cf. SALLES, Vicente. Op. cit., p. 51 e 74.
[11]
As informações acerca das referidas etnias encontram-se em VERGOLINO-HENRY, Anaíza & FIGUEIREDO, Arthur
Napoleão. Op. cit., p. 50; SALLES, Vicente. Op. cit., p. 59-60 ; e DIAS, Manuel Nunes. Op. cit., p. 472.

[12]
Cf. Inventário dos bens do cazal da finada D. Inocência Roza de Oliveira, 1837, constante do acervo do Centro de
Memória da Amazônia da Universidade Federal do Pará – CMA/UFPA.

[13]
Cf. BATISTA, Luciana Marinho. Demografia, família e resistência escrava no Grão-Pará (1850-1855). In: BEZERRA
NETO, José Maia & GUZMÁN, Décio de Alencar (orgs.). Terra matura. Historiografia e história social na Amazônia.
Belém: Paka-Tatu, 2002, p. 207-230. Ver especialmente as páginas 215-216 e 222, Tabela VI.

[14]
Os respectivos dados, constantes do censo de 1872, encontram-se em ALENCASTRO, Luís Felipe de (org.). História
da vida privada no Brasil. Império: a Corte e a modernidade nacional. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.

[15]
Cf., a respeito, os quadros gerais do recenseamento da população do império do Brasil, realizado em 1o de agosto
de 1872, p. 212.

[16]
Cf. CONRAD, Robert. Os últimos anos da escravatura no Brasil: 1850-1888, já citado, p. 348, Tabela 5.

[17]
Sobre os contatos interétnicos na região amazônica, ver GOMES, Flávio dos Santos. A hidra e os pântanos:
quilombos e mocambos no Brasil (sécs. XVII-XIX). Tese (Doutorado em História) – Instituto de Filosofia e
Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas. Campinas: Unicamp, 1997; SOUZA JÚNIOR, José Alves
de. O projeto pombalino para a Amazônia e a “Doutrina do Índio-Cidadão”. Cadernos do CFCH (UFPA), v. 12, n.
1/2, p. 85-98, Belém, 1993; SALLES, Vicente. Op. cit.; e FUNES, Eurípides Antônio. “Nasci nas matas, nunca tive
senhor”. História e memória dos mocambos do Baixo Amazonas. Tese (Doutorado em História Social) –
Universidade do Estado de São Paulo. São Paulo: USP, 1995.

[18]
Cf. BATES, Henry. Um naturalista no Rio Amazonas. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Edusp, 1979, p. 12.

[19]
Cf. AVÉ-LALLEMANT, Robert. No Rio Amazonas (1859). Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Edusp, 1980, p. 55.

[20]
Cf. VERÍSSIMO, José. Ethnographia. In: PARÁ, Governo do Estado do. Pará em 1900. Belém: Imprensa de Alfredo
Augusto Silva, 1900, p. 131-144. A citação encontra-se nas páginas 136 e 134, respectivamente.

[21]
Os dados relativos ao censo de 1890 foram retirados de VERÍSSIMO, José. Op. cit., p. 134.

[22]
Sobre o pensamento social e a etnografia constante na obra de José Veríssimo, ver BEZERRA NETO, José Maia. O
homem que veio de Óbidos: pensamento social e etnografia em José Veríssimo (1870-1915). Anais do Arquivo
Público do Estado do Pará, v. 3, tomo 2, p. 239-262, Belém, 1998.

[23]
Cf. VERÍSSIMO, José. Op. cit., p. 135.

[24]
Cf. MACLACHLAN Colin M., Slave trade and economic development in Amazonia, 1700-1800, já citado, p. 104.

[25]
Cf. GOMES, Flávio dos Santos. Op. cit., p. 49.

[26]
Sobre as informações prestadas por Souza Coutinho, ver VERGOLINO-HENRY, Anaíza & FIGUEIREDO, Arthur
Napoleão. Op. cit., p. 56.

[27]
Cf. CARREIRA, Antônio. As companhias pombalinas de Grão-Pará e Maranhão e Pernambuco e Paraíba, já
citado, p. 88 e 90. Ver também: KLEIN, Herbert S. Demografia do tráfico atlântico de escravos para o Brasil, já
citado, p. 140, Tabela 8, baseado em Carreira.

[28]
Cf. KLEIN, Herbert S. Op. cit., p. 139-140.

[29]
BAENA apud MARIN, Rosa Elizabeth Acevedo. Du travail esclave au travail libre: le Pará (Brésil) sous le régime
colonial et sous l’Empire (XVIIe-XIXe siècles). Thèse (Docteur en Histoire) – École de Hautes Études en Sciences
Sociales, Paris: EHESS, 1985, p. 112-139.

[30]
BAENA apud MARIN, Rosa Elizabeth Acevedo. Op. cit., p. 112-139.

[31]
Cf. RAIOL, Domingos Antônio. Motins políticos ou história dos principais acontecimentos políticos da Província
do Pará desde o anno de 1821 até 1835. Belém: UFPA, 1970, p. 806.

[32]
Sobre a questão, ver SALLES, Vicente. Op. cit.

[33]
Cf. SALLES, Vicente. Op. cit., p. 73.

[34]
Apud SALLES, Vicente. Op. cit., p. 73.
[35]
Cf. os dados indicados por Tavares Bastos em SALLES, Vicente. Op. cit., p. 75.

[36]
BAENA apud SALLES, Vicente. Op. cit., p. 76.

[37]
Cf. dados em ALENCASTRO, Luís Felipe de. Op. cit.

[38]
Cf. CONRAD, Robert. Op. cit., p. 345, Tabela 2.

[39]
Cf. Relatório apresentado à Assembléa Geral na Terceira Sessão da Décima Sétima Legislatura pelo Ministro e
Secretário de Estado dos Negócios da Agricultura, Commercio e Obras Públicas Manoel Buarque de Macedo. Rio
de Janeiro: Typographia Nacional, 1880, p. 14. Disponível em: <http://brazil.crl.edu>.

[40]
Cf. os dados relativamente à população livre em WEISTEIN, Bárbara. A borracha na Amazônia: expansão e
decadência (1850-1920). São Paulo: Hucitec; Edusp. 1993, p. 45. No tocante à população escrava, ver Portaria de
19 de março de 1883, que distribui proporcionalmente a quota do fundo de emancipação que coube à Província, na
presidência do Barão de Maracaju. Coleção de Leis da Província, Arquivo Público do Estado do Pará (CLP/Apep).

[41]
Para o ano de 1885, que indica uma população escrava de 20.218 pessoas, ver ARARIPE, Tristão de Alencar. Dados
estatísticos e informações para os imigrantes. Belém: Governo da Província do Pará ,1886, p. 06/12; Para o ano de
1888, que indica uma população de 10.535 cativos, ver Salles, op. cit., p. 76. No que diz respeito à população livre,
em 1888, o seu coeficiente foi estimado com base no índice de crescimento médio da população paraense durante
o período de 1872 a 1890, que corresponde à taxa de 0,99%. Acerca da referida média anual, ver MORAES, Ruth
Burlamaqui de. Transformações demográficas numa economia extrativista: Pará (1872-1920). Dissertação
(Mestrado em História) –Universidade Federal do Paraná. Curitiba: UFPR, 1984, p. 59.

[42]
Cf. dados em Relatório apresentado à Assembléa Geral na Segunda Sessão da Vigésima Legislatura pelo Ministro
e Secretário de Estado dos Negócios da Agricultura, Commercio e Obras Públicas Rodrigo Augusto da Silva. Rio
de Janeiro: Imprensa Nacional, 1887, p. 39; Relatório apresentado à Assembléa Geral na Terceira Sessão da
Vigésima Legislatura pelo Ministro e Secretário de Estado dos Negócios da Agricultura, Commercio e Obras
Públicas Rodrigo Augusto da Silva. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1888, p. 24 e 29. Disponível em:
<http://brazil.crl.edu>; bem como em: Diário de Notícias, 21 de fevereiro de 1886, p. 2. Ver ainda: SLENES,
Robert. The demography and economies of Brazilian slavery: 1850-1888, já citado, p. 610, Tabela A-6.

[43]
Sobre o assunto, ver BEZERRA NETO, José Maia. Por todos os meios legítimos e legais: as lutas contra a escravidão
e os limites da Abolição (Brasil, Grão-Pará: 1850-1888), já citado.

[44]
Cf. SLENES, Robert. Op. cit., p. 616, Tabela A-7.
[45]
Cf. CANCELA, Cristina Donza. Casamento e relações familiares na economia da borracha (Belém-1870-1920).
Tese (Doutorado em História Econômica) – Programa de Pós-Graduação em História Econômica da Universidade
de São Paulo. São Paulo: USP, 2006.

[46]
Cf. FUNES, Eurípides Antônio. Op. cit., p. 50.

[47]
Cf. SANTOS, Roberto. História econômica da Amazônia (1800-1920). São Paulo: T. A. Queiroz, 1980, p. 98.

[48]
Sobre os referidos dados, para o ano de 1851, ver SALLES, Vicente. Op. cit., p. 73; para os anos de 1872 e 1876,
conferir em DIRETORIA GERAL DE ESTATÍSTICA. Relatório e trabalhos estatísticos apresentados ao Illm. e Exm. Sr.
Conselheiro Dr. Carlos Leoncio de Carvalho. Ministro e Secretário de Estado dos Negócios do Império, pelo
Director Geral Conselheiro Manoel Francisco Correia, em 20 de novembro de 1878. Rio de Janeiro: Typographia
Nacional, 1878. Para o ano de 1885, ver ARARIPE, Tristão de Alencar. Dados estatísticos e informações para os
imigrantes. Belém: Governo da Província do Pará, 1886, p. 06/12. Para o ano de 1888, ver Falla com que o Exm.
Sr. Conselheiro Francisco José Cardoso Júnior, 1o Vice-Presidente da Província do Pará, abriu a 1ª sessão da 26ª
legislatura da Assembléia Provincial no dia 04 de maio de 1888, p. 14/18. Para uma análise da razão de
masculinidade nos plantéis escravos a partir dos inventários para a primeira metade da década de 1850, ver
BATISTA, Luciana Marinho. Op. cit. Ver também: BATISTA, Luciana Marinho. Muito além dos seringais: elites,
fortunas e hierarquias no Grão-Pará, c.1850-c.1870. Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Federal do
Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: PPPHS/IFCH/UFRJ, 2004.
CAPÍTULO 5
[1]
Cf. SALLES, Vicente. O begro no Pará sob o regime da escravidão, já citado, p. 27.

[2]
Cf. VERGOLINO-HENRY, Anaíza & FIGUEIREDO, Arthur Napoleão. A presença africana na Amazônia Colonial: uma
notícia histórica, já citado, p. 54-55.

[3]
Cf. VERGOLINO-HENRY, Anaíza & FIGUEIREDO, Arthur Napoleão. Op. cit., p. 46.

[4]
Cf. REIS, Arthur Cézar Ferreira. A política de Portugal no Vale Amazônico. Belém: Secult, 1993, p. 09-22.

[5]
Cf. CRUZ, Ernesto. História do Pará. Belém: UFPA, 1963, p. 89.

[6]
Cf. CRUZ, Ernesto. Op. cit., p. 70-71.

[7]
Cf. CHAMBOULEYRON, Rafael. Plantações, sesmarias e vilas. Uma reflexão sobre a ocupação da Amazônia
seiscentista; já citado, parágrafo 16.

[8]
Cf. CHAMBOULEYRON, Rafael. Povoamento, ocupação e agricultura na Amazônia colonial (1640-1706), já citado,
p. 104 e 105. Ver também: CHAMBOULEYRON, Rafael. Portuguese colonization of the Amazon region, 1640-1706,
também já citado.

[9]
Cf. CRUZ, Ernesto. Op. cit., p. 69-73.

[10]
Cf. CRUZ, Ernesto. Op. cit., p. 71.

[11]
Cf. Diário do Gram-Pará, Belém, 16/07/1869, p. 02.

[12]
Cf. WEISTEIN, Bárbara. A borracha na Amazônia: expansão e decadência (1850-1920), já citado, p. 57. Sobre o
Rio Negro, ver SAMPAIO, Patrícia Maria de Melo. As teias de Ariadne. Tipologias de fortunas e hierarquias sociais
em Manaus: 1840-1888, já citado.

[13]
Cf. WEISTEIN, Bárbara. Op. cit., p. 58. Sobre as ditas regiões, ver também SALLES, Vicente. Op. cit.; e VERGOLINO-
HENRY, Anaíza & FIGUEIREDO, Arthur Napoleão. Op. cit.
[14]
Sobre engenhos de açúcar no Pará, no período colonial, ver: KELLY-NORMAND, Arlene. Africanos na Amazônia,
cem anos antes da abolição. Cadernos do CFCH (UFPA), n. 18, p. 1-21, Belém, outubro/dezembro, 1988; e CRUZ,
Ernesto. História da Associação Comercial do Pará. Belém: UFPA, 1996, que apresenta um resumo histórico da
agricultura e da indústria da cana-de-açúcar no Pará. Ver ainda: CHAMBOULEYRON, Rafael. Plantações, sesmarias e
vilas. Uma reflexão sobre a ocupação da Amazônia seiscentista; CHAMBOULEYRON, Rafael. Povoamento, ocupação
e agricultura na Amazônia colonial (1640-1706); CHAMBOULEYRON, Rafael. Portuguese colonization of the
Amazon region, 1640-1706, obras já citadas. Além disso, consultar os trabalhos de MARIN, Rosa Elizabeth
Acevedo. Camponeses, donos de engenhos e escravos na região do Acará. Paper do NAEA, n. 153, Belém,
outubro, 2000; MARQUES, Fernando Luiz Tavares. Um modelo da agroindústria canavieira colonial no estuário
amazônico: estudo arqueológico de engenhos dos séculos XVIII e XIX, já citado; e CUNHA, Ana Paula Macedo.
Engenhos e engenhocas: atividade açucareira no Estado do Maranhão e Grão-Pará (1706-1750), também já citado.

[15]
Sobre a questão da proximidade de engenhos e fazendas de gado próximas à cidade de Belém do Pará, enfocando
as fugas escravas, ver: BEZERRA NETO, José Maia. A vida não é só trabalho: fugas escravas na província do Pará
(1860/1888). Cadernos do CFCH (UFPA), v. 12, n. 1/2, p. 141-154, Belém, 1993.

[16]
Cf. os referidos dados em SALLES, Vicente. Op. cit., p. 68-71.

[17]
Cf. MARIN, Rosa Elizabeth Ace vedo. Du travail esclave au travail libre: le Pará (Brésil) sous le régime colonial et
sous l’Empire (XVIIe-XIXe siècles). Thèse (Docteur en Histoire) – École de Hautes Études en Sciences Sociales.
Paris: EHESS, 1985, p. 136-139.

[18]
Cf. MARIN, Rosa Elizabeth Acevedo. Op. cit., p. 136-139.

[19]
Cf. CRUZ, Ernesto. Op. cit., p. 104-105.

[20]
Apud CRUZ, Ernesto. Op. cit., p. 53.

[21]
Cf. CRUZ, Ernesto. Op. cit., p. 92.

[22]
Cf. CRUZ, Ernesto. Op. cit., p. 97.

[23]
Cf. SALLES, Vicente. Op. cit., p. 114-115.

[24]
SPIX & MARTIUS apud CRUZ, Ernesto. Op. cit., p. 109.

[25]
SPIX & MARTIUS apud SALLES, Vicente. Op. cit., p. 115.

[26]
Cf. CRUZ, Ernesto. Op. cit., p. 107-112.

[27]
Cf. a descrição feita por Wallace em SALLES, Vicente. Op. cit., p. 119-121.

[28]
Cf. BIARD, François. Dois anos no Brasil. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1945, p. 168-169.

[29]
Cf. “Bárbara instituição”, Diário de Notícias, 08 de outubro de 1882, p. 02.

[30]
Cf. “Escravos existentes no Município de Belém”, Diário de Notícias, 21 de junho de 1883, p. 03.

[31]
Cf. CRUZ, Ernesto. Op. cit., p. 135-137.

[32]
Cf. WEISTEIN, Bárbara. Op. cit., p. 58.

[33]
Cf. SALLES, Vicente. Op. cit., p. 71.

[34]
Cf. os dados em SALLES, Vicente. Op. cit., p. 72.

[35]
Cf. BATES, Henry Walter. Um naturalista no Rio Amazonas. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Edusp, 1979, p.
216.

[36]
Apud WEISTEIN, Bárbara. Op. cit., p. 56.

[37]
Informação reproduzida por SARGES, Maria de Nazaré. De criados e “turcos de teque-teque” numa cidade que se
moderniza: os ofícios na cidade de Belém do Pará (1888-1900). Belém: UFPA, 1999, projeto de pesquisa, p. 03.

[38]
Este dado, relativo ao período de outubro de 1882, encontra-se publicado no Diário de Notícias. Cf. “Diário de
Belém”, Diário de Notícias, 29 de outubro de 1882, p. 02.

[39]
Relativamente ao ano de 1896, ver os dados constantes em SARGES, Maria Nazaré. Op. cit., p. 03. No que diz
respeito ao coeficiente relativo ao ano de 1894, ver MARAJÓ, José Coelho da Gama Abreu, Barão de. As regiões
amazônicas: estudos chorographicos dos Estados do Gram-Pará e Amazonas. Belém: Secult, 1992, p. 391.

[40]
Cf. dados em TOLOSA, Maria Júlia. Estrutura socioprofissional de Belém na segunda metade do século XIX.
Monografia (Especialização em História) – Departamento de História da Universidade Federal do Pará. Belém:
UFPA, 1986.
[41]
Cf. “Secção Abolicionista”, Diário de Notícias, 24 de junho de 1883, p. 02.

[42]
Cf. Portaria de 19 de março de 1883, que distribui proporcionalmente a quota do fundo de emancipação que
coube à província, na presidência do Barão de Maracaju. Coleção de Leis da Província, Arquivo Público do Estado
do Pará (CLP/Apep).

[43]
Cf. ARARIPE, Tristão de Alencar. Dados estatísticos e informações para os imigrantes. Belém: Governo da
Província do Pará, 1886, p. 06/12.

[44]
Cf. Falla com que o Exm. Sr. Conselheiro Francisco José Cardoso Júnior, 1o Vice-Presidente da Província do
Pará, abriu a 1ª sessão da 26ª legislatura da Assembléia Provincial no dia 04 de maio de 1888, p. 14/18.

[45]
Cf. os dados históricos sobre Cametá e região adjacente em CRUZ, Ernesto. Op. cit.; ALMEIDA, Cândido Mendes de.
Atlas do Império do Brasil. Rio de Janeiro: 1868; e TAMER, Victor. Chão cametaense. Belém: Imprensa Oficial do
Estado do Pará, 1998.

[46]
Cf. as informações e citações referentes a Igarapé-Miri em: CRUZ, Ernesto. Igarapé-Miry. Fases de sua formação
histórica. Belém: Oficinas Gráficas da Revista de Veterinária, 1945, p. 07-14. No tocante ao testemunho de
Wallace, ver particularmente a página 12.

[47]
Cf. KELLY-NORMAND, Arlene. Op. cit., p. 02-03, 06 e 13.

[48]
Cf. KELLY-NORMAND, Arlene. Op. cit., p. 04.

[49]
Cf. KELLY-NORMAND, Arlene. Op. cit., p. 04-06.

[50]
Cf. BAENA apud Marin, Rosa Elizabeth Acevedo. Op. cit., p. 136-139.

[51]
Cf. MARIN, Rosa Elizabeth Acevedo. Op. cit., p. 119-120; 136-139.

[52]
Cf. CRUZ, Ernesto. Op. cit., p. 107-112.

[53]
Apud CRUZ, Ernesto. Op. cit., p. 110.
[54]
Cf. SALLES, Vicente. Op. cit., p. 118.

[55]
Para algumas destas informações, ver CRUZ, Ernesto. Op. cit., p. 136-139.

[56]
Cf. CRUZ, Ernesto. Op. cit., p. 107-112.

[57]
Cf. VERGOLINO-HENRY, Anaíza & FIGUEIREDO, Arthur Napoleão. Op. cit., p. 54; 141-143. Ver também CRUZ,
Ernesto. Op. cit., p. 107-112.

[58]
Cf. ANGELO MENEZES, Maria de Nazaré Angelo. História social dos sistemas agrários do Vale do Tocantins-Pará-
Brasil (1669-1800). Rupturas e estabilidades. Paris: École des Hautes Études en Sciences Sociales, 1994, p. 41.
Memória para obtenção de Diploma de Estudos Aprofundados. ANGELO MENEZES, Maria de Nazaré. Aspectos
conceituais do sistema agrário do vale do Tocantins colonial; ANGELO MENEZES, Maria de Nazaré. Repertório
bibliográfico: fontes indicativas para a História Social da Amazônia. Aspectos agrários do vale do Tocantins;
ANGELO MENEZES, Maria de Nazaré. Cartas de datas de sesmarias: uma leitura dos componentes mão de obra e
sistema agroextrativista do Baixo Tocantins; ANGELO MENEZES, Maria de Nazaré. O sistema agrário do vale do
Tocantins colonial: agricultura para consumo e para exportação; ANGELO MENEZES, Maria de Nazaré. Marcas das
políticas agrárias do delta do Amazonas encontradas no Tesouro Descoberto do Rio Amazonas do Padre João
Daniel; ANGELO MENEZES, Maria de Nazaré & GUERRA, Gutemberg Armando D. Os cultivos nas sesmarias do Vale
do Tocantins: cana-de-açúcar, cacau e café; ANGELO MENEZES, Maria de Nazaré. Histoire sociale des systèmes
agraires de la vallée du Tocantins-Etat du Pará-Brésil: colonisation européenne dans la deuxième moitié du XVIII
siècle et la première moitié du XIX siècle. Tese (Doutorado em História Agrária) – École des Hautes Études en
Sciences Sociales, todos já citados.

[59]
Sobre a economia cacaueira na região tocantina, ver, por exemplo, os trabalhos de Angelo Menezes, já citados na
nota anterior, e ALDEN, Dauril. O significado da produção de cacau na região amazônica. Belém: NAEA/UFPA,
1974.

[60]
Cf. os dados em MARIN, Rosa Elizabeth Acevedo. Op. cit., p. 119-120; 136-139.

[60]
Cf. os dados históricos sobre as origens do domínio português na Ilha Grande de Joanes, em ALMEIDA, Manuel
Nunes. Op. cit.; Cruz, Ernesto. Op. cit.; e SALLES, Vicente. Op. cit. Ver, ainda: SOARES, Eliane. Roceiros e
vaqueiros na Ilha de Marajó. (sécs. XVIII e XIX). Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Sustentável do
Trópico Úmido) – Núcleo de Altos Estudos Amazônicos da Universidade Federal do Pará, Belém: NAEA/UFPA,
2005; bem como: SOARES, Eliane. Relações de compadrio no Marajó. Tese (Doutorado em História) – Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, São Paulo: PUC/SP, 2010.

[62]
Cf. ALDEN, Dauril. Op. cit., p. 33-37. A citação foi retirada da página 86, nota 45.

[63]
Cf. SALLES, Vicente. Op. cit., p. 125.

[64]
Ver comentário do Frei Caetano Brandão em SALLES, Vicente. Op. cit., p. 125.

[65]
Cf. WEISTEIN, Bárbara. Op. cit., p. 58.

[66]
Cf. MARIN, Rosa Elizabeth Acevedo. Op. cit., p. 84.

[67]
Cf. CRUZ, Ernesto. Op. cit., p. 71-72.

[68]
Cf. WEISTEIN, Bárbara. Op. cit., p. 62.

[69]
Cf. CRUZ, Ernesto. Op. cit., p. 107-112.

[70]
Cf. as informações em MARIN, Rosa Elizabeth Acevedo. Op. cit., p. 82.

[71]
Cf. as citações e informações em MARAJÓ, José Coelho da Gama Abreu, Barão de. Op. cit., p. 308-309.

[72]
Sobre o referido contrabando, ver MARIN, Rosa Elizabeth Acevedo. Op. cit., p. 83.

[73]
Cf. MARIN, Rosa Elizabeth Acevedo. Op. cit., p. 85.

[74]
Cf. MARIN, Rosa Elizabeth Acevedo. Op. cit., p. 85.

[75]
Cf. GOMES, Flávio dos Santos. A hidra e os pântanos: quilombos e mocambos no Brasil (sécs. XVII-XIX). Tese
(Doutorado em História) – Universidade Estadual de Campinas. Campinas: Unicamp, 1997., p. 48.

[76]
Cf. BAENA apud MARIN, Rosa Elizabeth Acevedo. Op. cit., p. 85.

[77]
Cf. SALLES, Vicente. Op. cit., p. 124-129.
[78]
Cf. WEISTEIN, Bárbara. Op. cit.; e MARIN, Rosa Elizabeth Acevedo. Op. cit.

[79]
Cf. CANCELA, Cristina Donza. Casamento e relações familiares na economia da borracha (Belém-1870-1920), já
citado.

[80]
Cf. MARAJÓ, José Coelho da Gama Abreu, Barão de. Op. cit., p. 308-309.
[81]
Cf. SALLES, Vicente. Op. cit., p. 129.

[82]
Cf. SALLES, Vicente. Op. cit., p. 129.

[83]
Cf. MARAJÓ, José Coelho da Gama Abreu, Barão de. Op. cit., p. 311-312.

[84]
Cf. SALLES, Vicente. Op. cit., p. 129.

[85]
Cf. os dados em MARIN, Rosa Elizabeth Acevedo. Op. cit., p. 136-139.

[86]
Cf. WEISTEIN, Bárbara. Op. cit., p. 60. Ver, também, SALLES, Vicente. op. cit., p. 124-129.

[87]
Cf. ANDERSON apud WEISTEIN, Bárbara. Op. cit., p. 318.

[88]
Ver os dados históricos sobre o Amapá, em ALMEIDA, Manuel Nunes. Op. cit.; CRUZ, Ernesto. Op. cit.; REIS,
Arthur Cézar Ferreira. A Amazônia e a cobiça internacional. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; Manaus:
Superintendência da Zona de Franca de Manaus, 1982.

[89]
Cf. os dados históricos acerca da referida fortaleza em Fortaleza de São José de Macapá. Macapá: sem autor, sem
editor, sem data.

[90]
Cf. VERGOLINO-HENRY, Anaíza & FIGUEIREDO, Arthur Napoleão. Op. cit., p. 54.

[91]
Cf. VERGOLINO-HENRY, Anaíza & FIGUEIREDO, Arthur Napoleão. Op. cit., p. 54-55; 82-84; 90-93.

[92]
Ver: VERGOLINO-HENRY, Anaíza & Figueiredo, Arthur Napoleão. Op. cit., p. 54-55.

[93]
Cf. VERGOLINO-HENRY, Anaíza & Figueiredo, Arthur Napoleão. Op. cit., p. 52.

[94]
Cf. VERGOLINO-HENRY, Anaíza & Figueiredo, Arthur Napoleão. Op. cit., p. 52.

[95]
Sobre a produção de arroz, ver ainda: MARIN, Rosa Elizabeth Acevedo. Agricultura do delta do Rio Amazonas:
colonos produtores de alimentos em Macapá no período colonial. In: MARIN, Rosa Elizabeth Acevedo (org.). A
escrita da história paraense. Belém: NAEA/UFPA, 1998, p. 53-92; bem como MARIN, Rosa Elizabeth Acevedo &
Carney, Judith. Aportes dos escravos na história do cultivo do arroz africano nas Américas. Estudos Sociedade e
Agricultura, n. 12, p. 113-133, Rio de Janeiro, abril, 1999. Ver também, com ênfase no caso do Maranhão, mas
cujas reflexões são pertinentes para se pensar o cultivo do arroz pelos escravos da Senegâmbia na Amazônia
paraense: CARNEY, Judith A. With grains in her hair: rice in Colonial Brazil. Slavery and Abolition: a Journal of
Slave and Post-Slave Studies, v. 25, n. 01, p. 01-27, April, 2004; e HAWTHORNE, Walter. From “black rice” to
“brown”: rethinking the history of risiculture in the Seventeenth – and Eighteenth – Century Atlantic. American
Historical Review, v. 115, p. 151-163, February, 2010.

[96]
Cf. MARIN, Rosa Elizabeth Acevedo. Du travail esclave au travail libre: le Pará (Brésil) sous le régime colonial et
sous l’Empire (XVIIe-XIXe siècles), p. 70.

[97]
Cf. MARIN, Rosa Elizabeth Acevedo. Op. cit., p. 71.

[98]
Cf. GOMES, Flávio dos Santos. Op. cit., p. 47.

[99]
Cf. MOURA apud MARIN, Rosa Elizabeth Acevedo. Op. cit., p. 71.

[100]
Apud WEISTEIN, Bárbara. Op. cit., p. 60.

[101]
Cf. dados em GOMES, Flávio dos Santos. Op. cit., p. 51; ver também CRUZ, Ernesto. Op. cit., p. 79.

[102]
Cf. MARIN, Rosa Elizabeth Acevedo. Op. cit., p. 127.

[103]
Cf. documento constante em VERGOLINO-HENRY, Anaíza & FIGUEIREDO, Arthur Napoleão. Op. cit., p. 93.

[104]
Cf. SALLES, Vicente. Op. cit., p. 221.

[105]
Cf. MARIN, Rosa Elizabeth Acevedo. Op. cit., p. 124-129; 136-139.

[106]
Cf. MARIN, Rosa Elizabeth Acevedo. Op. cit., p. 124-129; 136-139.

[107]
Cf. REIS, Arthur Cézar Ferreira. Santarém: seu desenvolvimento histórico. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira;
Brasília: INL; Belém: Governo do Estado do Pará, 1979, p. 14.

[108]
Cf. REIS, Arthur Cézar Ferreira. Op. cit., p. 12-13.

[109]
Apud REIS, Arthur Cézar Ferreira. Op. cit., p. 22.

[110]
Ver, por exemplo, VIANNA, Arthur. Notícia histórica. In: PARÁ, Governo do Estado. O Pará em 1900. Belém:
Imprensa de Alfredo Augusto Silva, 1900, p. 185-280; REIS, Arthur Cézar Ferreira. Op. cit., dentre outros.

[111]
Sobre a questão, ver ALDEN, Dauril. O significado da produção de cacau na região amazônica. Belém:
NAEA/UFPA, 1974.

[112]
Cf. MARIN, Rosa Elizabeth Acevedo & CASTRO, Edna. Negros do Trombetas. Guardiães de matas e rios. Belém:
Cejup; NAEA/UFPA, 1998.

[113]
MARIN, Rosa Elizabeth Acevedo & CASTRO, Edna. Op. cit., p. 43-44.

[114]
Cf. MARIN, Rosa Elizabeth Acevedo & CASTRO, Edna. Op. cit., p. 48.

[115]
Cf. FUNES, Eurípides Antônio. Op. cit., p. 53-54.

[116]
Cf. FUNES, Eurípides Antônio. Op. cit., p. 54.

[117]
BATES apud FUNES, Eurípides Antônio. Op. cit., p. 59. Ver, também, p. 59-60.

[118]
AVE-LALLEMANT apud MARIN, Rosa Elizabeth Acevedo & Castro, Edna. Op. cit., p. 55.

[119]
Cf. FUNES, Eurípides Antônio. Op. cit., p. 59-61.

[120]
Cf. FUNES, Eurípides Antônio. Op. cit., p. 59-61.

[121]
Cf. MARIN, Rosa Elizabeth Acevedo & CASTRO, Edna. Op. cit., p. 44.

[122]
Cf. BAENA apud MARIN, Rosa Elizabeth Acevedo & CASTRO, Edna. Op. cit., p. 49-50.

[123]
Cf. MARIN, Rosa Elizabeth Acevedo & CASTRO, Edna. Op. cit., p. 53.

[124]
Sobre Santarém, ver FUNES, Eurípides Antônio. Op. cit.; MARIN, Rosa Elizabeth Acevedo & CASTRO, Edna. Op.
cit.; e REIS, Arthur Cézar Ferreira. Op. cit..

[125]
Cf. SPIX & MARTIUS apud REIS, Arthur Cézar Ferreira. Op. cit., p. 135.

[126]
Cf. MARIN, Rosa Elizabeth Acevedo & CASTRO, Edna. Op. cit., p. 53.

[127]
Cf. BAENA apud MARIN, Rosa Elizabeth Acevedo & CASTRO, Edna. Op. cit., p. 52.

[128]
Cf. MARIN, Rosa Elizabeth Acevedo & CASTRO, Edna. Op. cit., p. 53.

[129]
Cf. MARIN, Rosa Elizabeth Acevedo. Op. cit., p. 134.

[130]
Cf. MARIN, Rosa Elizabeth Acevedo. Op. cit., p.133.

[131]
Cf. FUNES, Eurípides Antônio. Op. cit.

[132]
Nesta segunda edição, ainda se optou por não se tratar mais amiúde das regiões de Melgaço, ilhas e adjacências; da
região do Rio Xingu e da Costa Oriental. No caso da região do Rio Xingu, no entanto, sugere-se a leitura dos
seguintes trabalhos: KELLY, Arlene M. Family, church and crown: a social and demographic history of the lower
Xingu valley and the Municipality of Gurupá, 1623-1889. Dissertation (PhD) – University of Florida, Gainesville,
1984; SOUZA, César Martins de & CARDOZO, Alírio (orgs.). Histórias do Xingu: fronteiras, espaços e
territorialidades (séc. XVII-XXI). Belém: UFPA, 2008.

[133]
Cf. MARIN, Rosa Elizabeth Acevedo. Op. cit., p.122.

[134]
Cf. os dados indicados por Baena, em MARIN, Rosa Elizabeth Acevedo. Op. cit., p. 122-123; 136-139.
[135]
Cf. MARIN, Rosa Elizabeth Acevedo. Op. cit., p. 122.

[136]
Cf. SALLES, Vicente. Op. cit., p. 43.

[137]
Cf. MARIN, Rosa Elizabeth Acevedo. Op. cit., p. 124.

[138]
Cf. MARIN, Rosa Elizabeth Acevedo. Op. cit., p. 124.

[139]
Cf. MARIN, Rosa Elizabeth Acevedo. Op. cit., p. 136-139.
CAPÍTULO 6
[1]
Ver ANDERSON apud WEISNTEIN, Bárbara. Op. cit., p. 318, nota 29. Ou: ANDERSON, Robin Leslie. Following
Curupira: colonization and migration in Pará, 1758 to 1930 as a study in settlement of the humid tropics. Ph. D.
Latin American History. Davis: University of California, 1976.

[2]
Cf. MARIN, Rosa Elizabeth Acevedo. Du travail esclave au travail libre: le Pará (Brésil) sous le régime colonial et
sous l’Empire (XVIIe-XIXe siècles), já citado; SALLES, Vicente. O negro no Pará sob o regime da escravidão, já
citado; VERGOLINO-HENRY, Anaíza & FIGUEIREDO, Arthur Napoleão. A presença africana na Amazônia colonial:
uma notícia histórica, já citado; BEZERRA NETO, José Maia. Fugindo, sempre fugindo: escravidão, fugas escravas e
fugitivos no Grão-Pará (1840-1888), também já citado.

[3]
Ver a respeito: BEZERRA NETO, José Maia. Op. cit.
Sumário

Prefácio da 1ª edição 7

Apresentação da 2ª edição 11

1. À guisa de introdução 21

2. A “rota negra” entre o Grão-Pará e a África:

um mar de incertezas e muitas histórias 25

3. A economia escravista do Grão-Pará e o

tráfico interno brasileiro: alguns comentários 71

4. Etnia e população escrava no Grão-Pará:

origens africanas, mestiçagem e demografia 93

5. A economia escravista na

província paraense: uma caracterização 123

6. À guisa de conclusão 183

7. Fontes & referências bibliográficas 187


Table of Contents
Conselho Editorial
Folha de Rosto
Ficha Catalográfica
Ficha Técnica
Dedicatória
Prefácio
Apresentação
Sumário
Sumário de Tabelas e Gráficos
Sumário de Mapas
À guisa de introdução
A “rota negra” entre o Grão-Pará e a África:um mar de incertezas e de muitas histórias
A economia escravista do Grão-Paráe o tráfico interno brasileiro:alguns comentários
Etnia e população escrava no Grão-Pará:origens africanas, mestiçagem e demografia
A economia escravista na província paraense:uma caracterização
À guisa de conclusão
Fontes e referências bibliográficas
Referências bibliográficas
Tabelas e Gráficos
Tabela I
Tabela II
Tabela III a
Tabela III b
Tabela IV a
Tabela IV b
Tabela V
Tabela VI
Tabela VII
Tabela VIII
Tabela IX
Tabela X
Tabela XI
Tabela XII
Tabela XIII
Tabela XIV
Tabela XV
Tabela XVI
Tabela XVII
Tabela XVIII
Tabela XIX
Tabela XX
Tabela XXI
Tabela XXII
Tabela XXIII
Tabela XXIV
Gráfico I
Mapas
Mapa I
Mapa II
Mapa III
Mapa IV
Mapa V
Mapa VI
Mapa VII
Mapa VIII
Mapa IX
Mapa X
Notas de Rodapé

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