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Maria Cecília P.

d0 S0UZa-e-Silva
Inged0re Villaçü VOCÊ

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do-Livro, SP, Brasil)

Souza-e-Sih•z, Maria Cecília P de


lint,uislica aplicada ao português : morío1op•ia / Maria
Cecília F. de Souza-e-Silva, liagedore Yillaça Koch. — 18. ed.
— Sfio Paulo : Cortez, 2011.

Bibliografia.
ISBN 978-85-249-1683-0

1. Linguística estrutural 2. Portugjiês —Morfologia 1. Koch,


Ingedore Grunfeld Villaça. II. Tí:ulo.

M0fÉ0)0§Íü
11-00888 CDD-469.5

Índices para catãlogo sistemático:


1. Morfologia : Português . Linguística 469.5

18d edição

’GDiTONQ
LINGUÍSTICAAPLICADAAO POltTUGUÊS: morfologia
de Cecília para Marcio
Maria Cecília Pérez de Souza-e-Silva
Ingedore Grunfeld Villaça Koch '

Capa: aeroestúdio
Ret isto: Elisabeth Matar
Composição: Linea Editora Ltda.
Coordenação editorial: Danilo A. Q. Morales

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expressa das autoras e do editor.

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E-mail: cortez&cortezeditora.com.br
www.cortezeditora.com.br

Impresso no Brasil - abril de 2012


de Inge para Luiz
11

Nota Introdutória ...............................,............................ 13

1. Revisão dos princípios básicos do estruturalismo 17


1.1 Língua e fala ........................................................ 18
1.2 Sincronia e diacronia .......................................... 19
1.3 Sintagma e paradigma ....................................... 21
1.4 A dupla articulação da linguagem ................... 22
1.5 Descritivo e normativo....................................... 24
Notas........,........„.,.......„..........,................................,.. 25
Exercícios.............,....................................................... 26

z. Princípios da análise mórfica ................................... 33


2.1 O vocábulo formal.....................................,........ 33
2.2 Análise mórfica: princípios básicos e auxiliares 35
2.3 Tipos de morfemas ..........................................,.. 38
Notas......................................„:.........,.......................... 43
EXerCíCiOS .......,...........,..........................,......••..........•... 45
S0UZA-C-StVA.K0Cü
LI G tSTlCA ‹PLICADA A0 PORT G ES: M0Rf0r0GIA

3. Estrutura e formação de vocábulos............................. 49 5.2.5 Verbos com padrão especial no


3.1 Estrutura ............................................................................ 49 particípio -......... .. ... ...........,.. 94
3.2 Formação....................................................................... 51 5.2.6 Verbos anômalos. ........................................ 94
— Tipos de derivação. .............................................. 52 Notas...............................................,....,.........„....... . 95
— Processos de composição .......................................... 54 E er•' ›° - - -...-. .................................................. 97
— Outros processos de formação de palavras 56
Bi*°*i°s'a*ia. ................................................................... 1o3
Notas............................................................................................. 58
Exercícios. ..............................................................................60

4. A flexão nominal .......................................................... 63


4.1 Flexão de gênero ............................................................. 64
4.2 Flexão de número ....................-. .................................. 69
Notas. .................................................................................. 72
Exercícios. ............................................................................. 74

5. A flexão verbal. ............................................................. 79


5.1 O padrão geral. ............................................................... 83
5.1.1 Alteração do radical. ........................................ 84
5.1.2 Vogal temática. ................................................... 85
5.1.3 Desinências número-pessoais. ...................... 87
5.1.4 Desinências modo-temporais......................... 88
5.2 O padrão especial ............................. . 89
5.2.1 Irregularidades flexionais............................... 91
5.2.2 Irregularidades no tema de indicativo
perfeito .................................................................... 91
5.2.3 Irregularidades no tema de indicativo
presente. ................................................................. 92
5.2.4 Irregularidades no futuro. .............................. 93
11

Muitas obras linguísticas sobre o Português têm sido


publicadas nos últimos dez anos, no Brasil e em Portugal,
mas a maioria é constituída de pesquisas linguísticas ori-
ginais — várias teses de mestrado e doutorado — e, por-
tanto, de cunho mais científico do que didático.
Ao contrário do que ocorre em outros países, essa li-
teratura não foi acompanhada, a menos de raras exceções,
de um trabalho de divulgação a nível do professor de
Português, e muito menos de trabalhos de cunho didático,
isto ê, de manuais para uso do aluno.
Tal tipo de manual ó um instrumento introdutório
necessário para a leitura de textos de caráter científico,
alóm de constituir-se em instrumento avaliador da poten-
cialidade didática das descrições teóricas propostas na
literatura.
O presente trabalho, das professoras Maria Cecília
Pérez de Souza-e-Silva e Ingedore Villaça Koch, insere-se
nessa tarefa de processamento pedagógico das pesquisa
linguísticas. Professoras de Morto-Sintaxe do Por’
12 S0UEA-E-SIL¥A • KOCH

na graduação, há muitos anos, estão altamente qualificadas,


pela formação linguística que têm e pelo conhecimento
próximo do aluno desse nível, a fornecer-lhe um “input”
compreensível, sem o qual, sabemos, não há aprendizagem
significativa.
Ao iniciarem essa tarefa, na área de Morfologia, com
" base na obra de Mattoso Câmara, para depois prosseguirem N0ta intr0dutÓria
com tratamentos mais recentes, as autoras preocuparam-se
não em seguir o “dernier cri”, mas em apresentar didati-
camente uma descrição que vem resistindo ao teste do
tempo, motivo por que a obra de Mattoso Câmara consti-
tui hoje um clássico da Linguística portuguesa. De acordo com Mattoso Câmara Jr., cabe à linguística
pura ou teórica a descrição das estruturas das diferentes
Apesar da fidelidade à obra de Mattoso, as autoras
; línguas e ã linguística aplicada, a adequação dessa descri-
não deixaram de contribuir com suas intuições e com suas
ção ao ensino.
referências e comparações com a gramática tradicional.
Como professoras da disciplina Morfo-Sintaxe do
Esperamos que trabalhos como este possam multipli-
car-se para preencher as lacunas bibliográficas de cursos Português, na PUC-SP sentimos desde logo a necessidade
introdutórios à Linguística do Português. de adequação da descrição teórica ao nível de conhecimen-
to e às necessidades pedagógicas do aluno recém-ingresso
na universidade. Nosso trabalho se concretizou, em um
São Paulo, janeiro de 1983 ' primeiro momento, na elaboração assistemática de alguns
Mory A. Kato textos e, finalmente, na produção deste livro didático cujo
objetivo fundamental é o de servir de introdução ao estu-
do da Morfologia.
Daí termos escolhido a obra já clássica de Mattoso
Câmara, mais especificamente A estrutura da língua por-
tuguesa, como ponto de partida para uma base de publi-
cações de cunho didático.
Seguimos também a orientação estruturalista, funda-
mental para a aprendizagem das correntes linguísticas
14 SOUZA-E-SltVA.K0CH j3
LIIJGUÍSIICA APLICADA A0 PORTUGUÊS: M0Rf0L0GIA

posteriores e procedemos, ainda, a uma abordagem sin- cialmente diferente, na medida em que, ao contrário do
crônica, tomando por base, no entanto, a modalidade es- autor, não estamos pressupondo a existência de algumas
crita, com o intuito de obter uma descrição mais uniforme, formas teóricas em que esteja presente a vogal temática.
capaz de atingir os estudantes universitários de todo o
No Capítulo 5, caracterizamos rapidamente as noções
Brasil, sem os percalços oferecidos por uma descrição fun- gramaticais expressas através da flexão verbal e passamos
damentada na linguagem oral. à descrição do padrão geral e de seus desvios, os quais, por
Embora seguindo de perto as colocações do autor, em apresentarem uma organização imanente, passam a cons-
alguns momentos adotamos posições divergentes, suge- tituir um outro padrão denominado especial.
rindo novas alternativas na solução de determinadas Cada um dos capítulos é seguido de exercícios diver-
questões. Acrescentamos também algumas contribuições sificados, visando à melhor fixação dos assuntos tratados.
próprias, como o capítulo referente à estrutura e formação Nesta parte, bem como na leitura crítica da obra, contamos
dos vocábulos, assunto que, na obra de Mattoso, encon- com a competente colaboração da colega Laís Furquim de
tra-se apenas de modo embrionário; excluímos o capítulo Azevedo, a quem, de público, registramos nosso reconhe-
sobre os pronomes, cujo tratamento julgamos mais ade- cimento.
quado em uma obra que trate da sintaxe do enunciado e, Linguística Aplicada ao Português: Morfologia pre-
especialmente, da sintaxe do discurso. tende, pois, atingir professores e estudantes que atuam no
Nosso livro tem, portanto, a seguinte organização: no campo da ciência da linguagem, bem como aqueles que,
Capítulo 1, encontra-se uma breve revisão dos princípios sem interesse profissional específico, se interessem por uma
básicos da linguística estrutural pertinentes para o desen- informação acessível nesse domínio.
volvimento dos capítulos posteriores.
No Capítulo 2, explicitamos os princípios da análise
mórfica e classificamos os diferentes tipos de morfemas
existentes em Português; no Capítulo 3, mostramos como
se estruturas os vocábulos e como se processam as forma-
ções vocabulares.
O Capítulo 4 é dedicado à flexão nominal de gênero
e numero; na parte referente ao gênero, propusemos uma
nova classificação com base nos tipos de morfemas. No
que diz respeito ao número, adotamos uma posição par-
É9VÍSá0 ÓOS §fÍhCͧÍ0S ÕáSÍCOS d0 PStruturaliSMO

Até fins do século XVIH, os estudos linguísticos eram


baseados na gramática greco-latina, que partia de princí-
pios lógicos e através deles procurava deduzir os fatos da
linguagem e estabelecer normas de comportamento liu-
guístico. Pressupunha-se uma fixidez da língua; conse-
quentemente, as descrições gramaticais tinham um caráter
essencialmente normativo e filosófico.'
Contra essa concepção estática, os estudiosos da lin-
guagem rebelaram-se no século passado, enfatizando então
a mudança incessante da língua, através de um processo
dinâmico e coerente.
Originaram-se, assim, a gramática comparativa e a
linguística histórica: a primeira, comparando entre si os
elementos de línguas distintas com o objetivo de depreen-
der-lhes as origens comuns e de reconstituir a protolíngua
de que se originaram e a segunda, procurando explicar a
formação e evolução das línguas. As mudanças linguísticas
LINGUÍSTICA APLICADA A0 PORTIJGuíS: MORFOLOGIA 19
18 S0UIA-E-SI1VA.K0CH

AJaIu é a realização, por parte do indivíduo, das pos-


eram consideradas como fenômenos naturais em contra-
sibilidades que lhe são oferecidas pela língua. É, portanto,
posição ã fixidez preconizada pela gramática greco-latina.
um ato individual e momentâneo em que interferem mui-
Ainda no fim do século XIX e começo do século XX,
tos fatores extralinguísticos e no qual se fazem sentir a
embora dominasse o ponto de vista histórico-comparatiVO, vontade e a liberdade individuais. Apesar de reconhecer a
alguns linguistas já se preocupavam com a ideia de que,
interdependência entre língua e fala, Saussure considerava
ao lado de um estudo evolutivo da língua, deveria haver
como objeto da linguística a língua (por seu caráter homo-
também um estudo sincrônico ou descritivo. Quem real-
gêneo), procurando entendi-la e descrevê-la do ponto de
mente rompeu com a visão historicista e atomista dos fatOs
vista de sua estrutura interna.
linguísticos foi F. de Saussure, ao conceituar a língua como
sistema e ao preconizar o estudo descritivo desse sistema. De acordo com A. Martinet (1960), a oposição entre
Nasce, assim, o estruturalismo como mótodo linguístico. lingua e fala pode também exprimir-se em termos de código
Saussure foi quem definiu, pela primeira vez, e com e mensagem: o código representa a organização que permi-
maior clareza, o objeto da linguística “stricto sensu”, isto te enunciar a mensagem, e a mensagem lirriita-se a concre-
é, a línguD. Considerando a linguagem como um fenômeno tizar a organização do código.
unitário no qual os vários elementos se inter-relacionam, Um dos princípios essenciais propostos por Saussure
o autor estabeleceu, do ponto de vista metodológico, dico- ó a definição da língua como um sistema de signos2 e de leis
tomias básicas (língua/fala, sincronia/diacronia, sintag- combinatórias. O autor ilustra essa ideia através de uma
ma/paradigma) em função das quais se criaram escolas e comparação com o jogo de xadrez: se substituirmos as pe-
teorias mais recentes. ças de madeira por peças de marfim, a troca é indiferente,
mas se diminuirmos ou aumentarmos o número de peças, •
essa mudança atinge a gramática do jogo. O valor respec-
1.1 Língua e fala tivo das peças depende de sua posição sobre o tabuleiro,
da mesma forma que, na língua, cada termo tem seu valor
por oposição a todos os outros termos (Saussure, 1967).
A língttD e ao mesmo tempo um sistema de valores que
se opõem uns aos outros e um conjunto de convenções
necessárias adotadas por uma comunidade linguística para
se comunicar. Ela está depositada como produto social na 1.2 Sincronia e diacronia
mente de cada falante de uma comunidade, que não pode
nem criá-la, nem modificá-la. Assim delimitada, ela ó de Embora a linguística histórica do século XIX tenha
natureza homogênea. reconhecido a especificidade dos estudos diacrônicos,
20 S0UZA-£-SILVA • KOCH
yj

Saussure foi o primeiro linguista a estabelecer uma distin- momento dado (Saussure, 1967). Por exemplo, o futuro do
ção nítida entre sincronia e diacronia. presente e do pretérito se constituíram pela combinação
A fim de melhor salientar a diferença entre os dois do infinitivo do verbo principal mais uma modalidade do
pontos de vista, o autor traçou dois eixos, um horizontal (A indicativo presente e pretérito imperfeito do verbo haver fun-
— B) e outro perpendicular (C — D), representando o pri- CiOnando como auxiliar. A explicação diacrônica nos dá,
meiro, o eixo das simultaneidades, ou seja, a sincronia, e o pois, cantar(h)ei, cantar(h)ia. No entanto, do ponto de
segundo, o eixo das sucessividades, ou seja, a diacronia. VÍStã sincrônico, essa agliitinação tornou-se obscura me-
O eixo das siitiuIíangidndes representa relações entre diante uma nova distribuição de constituintes que nos
fenômenos existentes, das quais se exclui toda a interven- permite descrevê-los como marcados pelas desinências
ção do tempo. A língua é considerada como um conjunto modo-temporais /-re/ e /-ria/, sem qualquer referência à
de fatos estáveis, estudados como elementos de um sistema sua evolução.
que funciona num determinado momento do tempo.
O eixo das suc#ssioidades representa os fenómenos que
foram se modificando numa sucessão no tempo; tais fenó- 1.3 Sintagma e paradigma
menos não são isolados, mas acarretam modificações no
sistema, determinando a passagem de um estado de língua As unidades linguísticas relacionam-se umas às outras
a outro. de dois modos distintos. Por um lado, temos as relações
Do ponto de vista metodológico, Saussure reivindicou siritagtnóticas que ocorrem dentro do enunciado e que são
a autonomia para a pesquisa sincrônica, utilizando a ima- diretamente observáveis (relações “in praesentia”). Tais
gem já citada do jogo de xadrez. Durante uma partida, a relações decorrem do caráter linear e temporal da lingua-
disposição das peças muda a cada lance, mas em cada um gem humana.
deles a disposição pode ser inteiramente descrita a partir Por outro lado, temos as relações entre unidades ca-
da posição em que se encontra cada peça. Pelo andamento pazes de figurar num mesmo contexto e que, pelo menos
do jogo, num momento dado, não é necessário saber quais nesse contexto, se excluem mutuamente. Essas relações
foram os lances jogados anteriormente, em que ordem eles decorrem do fato de um elemento poder figurar em lugar
se sucederam: o estado particular da partida e a disposição de outro, em um dado contexto, mas não simultaneamen-
das peças podem ser descritos sincronicamente, isto é, sem te. D enominam-se psrDdigmóíicnse ocorrem com os elemen-
nenhuma referência aos lances anteriores. O mesmo ocor- tos que não estão presentes no discurso (relações “in ab-
re com as línguas: elas se modificam constantemente, mas
sentia”). Os paradigmas consistem em inventários de
podemos explicar o estado em que elas se encontram num
22 S0UZA-E- SILU . OCM
LING íSTlCA APLICADA A0 PORTIJG tS: M0Rr0L0GIA 23

elementos linguísticos, agrupados de acordo com critérios indivisíveis em unidades menores,/oJórnmos decompõe-se
preestabelecidos.° em quatro. morfemas jul - á - na - mos. Cada uma dessas
Considerando-se a frase: unidades significativas6 pode, no mesmo ambiente, ser
“O PMDB propõe coalizão” nós
PDT união substituída por outras no eixo paradigmático eu ou
vocês
PTB junção
pode, num ambiente diferente, achar-se combinada no eixo
as relações entre propõe e seus vizinhos contextuais PMDB
sintagmático: Nós chegamos. Diriglu-se a nós. Falou sobre
e coalizão são sintagmáticas. Nessa mesma frase existem,
nós calmamente.
em cada ponto, possibilidades de substituição: PDT, PTB,
No segundo plano, ou segunda articulação, cada
por exemplo, podem figurar no mesmo contexto de PMDB;
morfema, por sua vez, se articula em unidades menores
o mesmo sucede com os substantivos uniíío e )unção, sus-
desprovidas de significado: os/onemas, de número limita-
cetíveis de aparecer no lugar de coalizão. do em cada língua. Assim, o morfema nós, divide-se em
As dicotomias saussureanas têm sido objeto de várias três Monemas /n/ /ó/ /s/, cada um dos quais pode ser
interpretações e críticas que são importantes para a com- substituído por outros no mesmo ambiente /v/ /ó/ /s/,
plementação desta exposição, mas dispensáveis para a /v/ /á/ /s/ ou combinar-se com outros para formar um
compreensão da análise descritiva a que nos propomos. morfema diferente: ano, não.
A dupla articulação evita sobrecarga da memória e
permite economia de esforços na produção e compreensão
1.4 A dupla articulação da linguagem ) da linguagem verbal; sem ela, seria preciso recorrer a
morfemas e fonemas diferentes para designar cada nova
A dupla articulação,4 na hipótese funcionalista de A. experiência.
Martinet, consiste em uma organizaçãso Pecífica da lin- A terminologia usada para designar as unidades de
! primeira articulação varia muito. A. Martinet designa-as
guagem humana, segundo a qual todo enunciado se arti-
monemas, distinguindo, ainda, os lexemas, monemas que se
cula° em dos planos. No primeiro plano, ou primeira ar- situam no lóxico e mor emas, os que se situam na gramática.
ticulação, o enunciado divide-se linearmente em unidades Já a linguística norte-americana, de modo geral, denomina
significativas: frases vocábulos e not/ernie. ASSim, o enun- os monemas de morfemas, distinguindo os morfemas Ie-
ciado N6s @íf ramns bem, articula-se, isto é, divide-se em xicais / cant-/ dos gramaticais /-a-/ /-ra/, terminologia
trôs vocábulos: nós-falávamos-bem. Enquanto nós e bem são que adotaremos neste texto.
24 S0UZá-E-SIL\/A • Y0LtI LINGUÍSTICA APL|CADA A0 PORTUGUÊS: MORFOLOGIA

1.5 Descritivo e normativo Este trabalho visa COntribuir no sentido de se atingir


tal objetivo, apresentand o uma descrição sincrônica da
estrutura morfológica do Português em sua modalidade
A partir de Saussure, os estudos linguísticos concen-
escrita.
traram-se no estudo do mecanismo pelo qual uma dada
língua funciona como meio de comunicação entre os seus
falantes e na descrição da estrutura que a caracteriza. NOTAS
A abordagem descritiva fica melhor caracterizada em
1. As gramáticas do Português, seguindo a orientação da
oposição á normativa. A primeira explicita, enumera e clas- e OCa, limitavam-se, de modo geral, a apresentar normas para,
sifica a estrutura das frases, dos morfemas que constituem bem falar e bem escrever.
as frases, dos fonemas que constituem os morfemas e das 2. Entende-se por signo linguístico, conforme Saussure, um
regras de combinação dessas diferentes unidades. Trata-se conjunto formado de duas partes: uma perceptível, o significan-
de um trabalho de definição, classificação, interpretação e te ou imagem acústica e uma inteligível, o significado. O significar-
te ó o complexo sonoro audível que encerra o significado ou
não de julgamento ou legislação. A última procura pres- conceito.
crever as normas, discriminando os padrões linguísticos e Ex.: “cravo” — significante: /Kravu/
elegendo um deles como de “bom uso”, muitas vezes a — Significado: a ideia da flor que o complexo
partir de critérios de ordem social e não linguística. Ao sonoro desperta no ouvinte e no falante,
longo dos anos, as gramáticas normativas foram estabele- quando se produz esta combinação de
sons.
cendo preceitos avaliativos, isto é, instruções que muitas
O Signo ó o resultado da união entre um Significante e um
vezes se resolvem em digo x, não diga y. conceito e não entre uma coisa e um nome.
Frente a essa distinção, uma questão tem sido coloca- 3. Os critérios para os agrupament os paradigmáticospodem
da com frequência: deve a gramática normativa ser aban- ser IOF OI ógicos (por ex. as classes de palavras), sintéticos
(por
donada? Pensamos, como Mattoso Câmara Jr. (1975), que MX. Pts funções gramaticais), semânticos (por ex. as sinonímias e
antoriímias) etc.
a falha não está no fato de as gramáticas serem prescritivas, 4. Este item 1.4, referente á dupla articulação, foi calcado em
mas sim no de basearem-se em descrições inadequadas e Dubois, Jean (1973, p. 67 e 68).
falsas. Cabe à linguística descritiva descrever os padrões 5. ArticulaÇãO SigrtifiCa, tambÓm, em linguística, o ato de
em uso nos quais a gramática normativa possa basear-se, produzir os sons da fala através dO aparelho fonador.
de tal modo que a norma não seja uniforme e rígida, mas 6. O conceito de unidades lRíriiIRiãS Si gnifiCatiVaS apoia-se no
se mostre elástica e contingente, adaptando-se às diferen- fato de não serem possíveis outros desmembramentos, sob pena
de os segmentos não terem Significado na estrutura em exame.
tes situações.
S0UZA-E-SltVA.K0CH rINGiJíSTl‹ APLICADA A0 PORTIJGiJtS: M0Rr0L0GlA

EXERCÍCIOS Bloco 2

Distinga e justifique, nas afirmações a seguir, as noções


Bloco 1
linguísticas em jogo (sincronia — diacronia; sintagma —
1. Imagine uma situação em que haja quatro jogadores, paradigma) e a abordagem (normativa ou descritiva) uti-
lizada pelo autor:
pedras de seis cores diferentes e as seguintes regras
obrigatórias e opcionais: 1. “Na fala popular do Rio de Janeiro, há uma tendência
a) combine sempre para a direita as pedras azuis e as para a supressão das semivogais de certos ditongos...
amarelas; Consideremos em primeiro lugar os ditongos crescentes.
Há um grupo de palavras para as quais é grande a ten-
b) pode-se intercalar entre a pedra azul e a amarela,
dência à redução do ditongo:
pedras verdes e vermelhas, desde que elas sejam
colocadas sempre juntas; Padrão Popular
c) as pedras verdes e vermelhas podem ser substituídãs paciência paciença
por cinzas e laranjas. polícia poliça
2. Imagine as seguintes jogadas e verifique quais dos jo- salário salaro
gadores seguiram as regras estabelecidas: contrário contraro
a) o jogador A não põe entre a pedra azul e a amarela armário armaro
as pedras verdes e vermêlhas; edifício edifiço
b) o jogador B põe uma pedra amarela entre a verde e escritório escritóro
a vermelha; anúncio anunço”
c) o jogador C combina pedras azuis com amarelas á (Lemle, Miriam. Heterogeneidade dialetal: um apelo à
esquerda; pesquisa linguística e ensino do vernáculo. Tempo Bra-
sileiro, n. 53/54, p. 57, 1978).
d) o jogador D põe uma pedra amarela ao lado direito
2. “O infinitivo pessoal emprega-se obrigatoriamente num
de uma am;tI, intercalando pedras cinzas elaranjas.
só caso: quando tem sujeito próprio, distinto do sujeito
3. Estabeleça agora um paralelo entre o jogo e as noções da oração principal” (Rocha Lima, 1974, p. 429).
linguísticas de língua e fala: o que corresponde, na des-
3. O pronome efl é empregado na língua como sujeito de
crição acima, à Iítlgtfn? E à fala?
um verbo. Em qualquer outra função é substituído por
28 LINGUÍSTICA APLICADA A0 §08TUG [$: M0§ç0L0GIA
29

se (objeto direto e indireto) não precedido de preposição uma só, embora, sendo adotada sem o mínimo escrúpu-
ou por via, se for precedido de preposição. 10 pela linguagem literária. Tornou-se usual a
companhar
4. “Quanto à colocação ou procedência dos pronomes na a forma imperativa de /r e sir dos votos de bom êxito.
frase, é de boa norma, não propriamente gramatical, mas Esta noção, compreendid a no advérbio embora, deslu-
de distinção e elegância, dar prioridade à primeira (eu), ziu-se da consciência hodierna, que confusamente
quando se trate de alguma coisa menos agradável, ou descarrega nele o conceito de afastamento como se os
que importe responsabilidade, ou, ainda, nas manifesta- verbos não dissessem já a mesma coisa” (Ali, M. S. Gra-
ções de autoridade e hierarquia; em caso contrário, por mática histórico da língua portuguesa. São Paulo, Melho-
modéstia e delicadeza, a primeira pessoa, a que fala, co- ramentos, 1971).
loca-se em ultimo lugar...” (Rocha Lima, 1974, p. 310).
5. “Na linguagem arcaica, era frequente o uso das formas Bloco 3
tônicas do objeto indireto em função objetiva direta”
(Rocha Lima, 1974, p. 302). Aplique nos exercícios abaixo, as noções linguísticas
6. “Como é sabido, o plural, em -aeis, —eis -- ees), -is (= iis estudadas neste capítulo:
ou eies), -oes e -ues dos nomes terminados em -ml, -ed, -U,
-of,-ml é devido à queda do / intervocálico; a terminação 1. A palavra estudantes pode ser dividida de duas formas,
-files deu, quando tônica, -ões, que passou para -iis e de acordo com o princípiO da dupla articulação da lin-
depois se reduziu a -is, e, quando átona, -ees, que mais guagem. Quantos segmentos teria, se subdividida em
tarde, por dissimilação ou devido ao lugar ocupado pelo unidades de primeira articulação? E em unidades de
ó1timo e, se tomou em -eis, evolução que igualmente segunda articulação? Responda às mesmas questões a
sofreu a tônica -e res...” (Nunes, J. J. Compêndio de gramá- respeito das palavras:
fico histórica portuguesa (fonética e morfologia). Lisboa: a) linguistica;
Livraria Clássica Editora, 1945. p. 236 e 237). b) indiretamente;
7. “Posto que a instituição dos oráculos e agouros estives- C) OSS2bilidad e;
se morta desde muito tempo, perdurou na era medieval, d) significativas.
e ainda na idade moderna, a crença de que o êxito dos 2. Construa conjuntos de palavras que se agrupem por
atos humanos dependia da hora em que eram empreen- paradigmas de acordo com os seguintes critérios:
didos. Daí o costume de se acrescentar a frases optativas
a) semântico: palavras que indicam ação, estado, sen-
ou imperativas, por sinceridade, ou mera cortesia, a
timento;
locução em boa hora... Fundiu o uso as três palavras em
30 S0UzA-E-SILVA • K0€H fI#GIJíSIICA APLICADA A0 P0RTIJGU£S: MORFOLOGIA 31

b) sintético: termos que exercem as funções de sujeito, c) de elementos gramaticais indicadores de oposição
obJeto e modificadot; ou contraste entre outros elementos pertencentes aos
diversos paradigmas da língua:
c) morfológico: elementos gramaticais que ocorrem
como: prefixos, sufixos formadores de nomes, sufixos “Pequei Senhor: mas não porque hei pecado
formadores de adjetivos. De vossa alta clemência me despido
3. Determine os critérios que possibilitaram os agrupa- Porque, quanto mais tenho delinguido
mentos obtidos nas colunas Ae B; em seguida, combine Vos tenho a perdoar mais empenhado”
de modo diferente as palavras de cada uma delas, indi- (Guerra, Gregório de Mattos. Obra Sacra n. 1 — A
cando os critérios utilizados. Jesus Cristo Nosso Senhor. In: A literatura brasileira
A B afrarés de fexíos. Massaud Moisós. São Paulo: Cultrix,
teatro automóvel 1971. p. 4).
tróleibus cinema
testemunha advogado
4. Observando as relações sintagmáticas, construa três
frases, utillZando elementos pertencentes às classes
gramaticais indicadas:
a) dois substantivos, um artigo e um verbo;
b) três substantivos, dois artigos, uma preposição e um
verbo;
c) um substantivo, um artigo, um adjetivo e um verbo.
5. Complete o vazio com outros contextos:
sui - cida com - portar com - portar
cida com portar
cida com portar
6. No texto abaixo, procure detectar os paradigmas se—
guintes:
a) de palavras relacionadas à religiosidade;
b) de termos que exprimam oposição de ideias;
üFÍhCͧÍ0S dü ãnálise mórfica

2.1 O vocábulo formal

Mattoso Câmara Jr., baseando-se em Bloomfield (1933,


p. 160), define o vocábulo morfológico ou formal em Por-
tuguês, tendo em vista o seu funcionamento a nível de
frase. De acordo com o linguista norte-americano, as uni-
dades formais de uma língua são livres e presas. As primei-
ras constituem uma sequência que pode funcionar isola-
damente como comunicação suficiente, conforme livros no
enunciado: “O que você vai revender?” “Livros”. As formas
“ presas só funcionam ligadas a outras, como o prefixo ra em
revender e a marca de plural em livro-s. O vocábulo formal
ou morfológico apresenta-se, então, como a unidade a que
se chega quando não é possível nova divisão em duas ou
mais formas livres.
De modo a abranger as partículas proclíticas e enclíticas,
em Português (artigos, preposições, pronomes átonos etc.),
34 S0UZA-E-SIL¥A • KOCH LINGUÍSTICA APLICADA A0 PORTUGUÊS: M0Rf0L0GIA

Mattoso Câmara Jr. introduziu um terceiro conceito, o de maticais, e no vocábulo imprecisírei tem-se um morfema
formas dependentes, as quais funcionam ligadas às livres, lexical e três morfemas gramaticais. Ainda, o vocábulo ns,
conforme se observa em: “As notícias da falsificação do citado anteriormente, é composto de dois morfemas gra-
jornal espalharam-se rapidamente”. Tais formas distin- maticais, um funcionando como forma dependente, outro
guem-se das livres e das presos: das primeiras, porque não como forma presa.
podem funcionar isoladamente como comunicação sufi- Portanto, não se pode confundir o conceito de formas
ciente; das segundas, pelas possibilidades de intercalação livres, dependentes e presas com o de morfemas.’ Trata-se de
de novas formas e de variação posicional na frase. conceitos estabelecidos a partir de critérios diversos: os
Modificando-se parcialmente o enunciado anterior: primeiros, definem-se a nível de frase, isto é, do funciona-
“As notícias verdadeiras e chocantes da falsificação do jornal mento das unidades linguísticas no enunciado; os segun-
se espalharam rapidamente” e comparando-se as duas dos, a nível de vocábu1o,2 ou melhor, da possibilidade ou
versões, verifica-se que dois vocábulos foram intercalados não de sua divisão em menores unidades significativas ou
entre notícias e da e que o pronome se passou para a posição de primeira articulação.
proclítica. Nesse mesmo enunciado, as formas presas (por Nossa análise consiste justamente a depreensão e
ex.: -s e -mente) apresentam-se intimamente ligadas às livres funcionamento dos morfemas lexicais e gramaticais que
e ás dependentes. constituem o vocábulo formal em Português.
Introduzindo a noção de forma dependente, Mattoso
Câmara ampliou o conceito de vocábulo formal: ó a unidade
a que se chega quando não é possível a divisão em duas 2.2 A análise mórfica: princípios básicos e auxiliares
ou mais formas livres ou dependentes.
Tanto as formas livres como as dependentes ora A análise mórfica consiste na descrição da estrutura
apresentam-se indivisíveis (sol, a), ora são passíveis de do vocábulo mórfico, depreendendo suas formas mínimas
divisão em unidades menores (in-feliz-mente, im-pre- ou morfemas, de acordo com uma significação e uma fun-
-vis-í-vel, a-s). Em infelizmente, a forma livre feliz está ção elementares que lhes são atribuídas dentro da signifi-
combinada com formas presas; em imprevisível, a forma cação e da função total do vocábulo.
livre compõe-se apenas de formas presas. A significação global de um vocábulo como cantaría-
Recordando a distinção estabelecida no Capítulo 1 mos, por exemplo, é de que pessoas — entre as quais o
entre morfemas lexicais (que se situam no léxico) e mor- falante —poderiam, nomomento da enunciação linguística,
femas gramaticais (que se situam na gramática), no vocá- estar empenhados na emissão vocal peculiar que se entende
bulo infelizmente tem-se um morfema lexical e dois gra- pelo morfema lexical ou radical / cant- /.' Depreende-se tal
S0UIA-f-SILYA • KOCH LING ÍSTICA zPrICADA z0 PORT G IS: M0zr0L0GlA 37

morfema utilizando-se o princípio básico da análise mór- Ao lado da comutação, existem dois outros princípios
fica, a comutação, que consiste em uma operação contras- da análise mórfica: a alomorfia e a mudança morfofonêmica.
Os diferentes morfemas de uma língua não estão obri-
tiva por meio de permuta de elementos para a qual são
gatoriamente ligados a um segmento fônico imutável:
necessárias: a) a segmentação do vocábulo em subconjun-
por exemplo, o segmento /-s/ marca, de modo geral, o
tos e b) a pertinência paradigmática entre os subconjuntos
plural dos nomes em Português, mas outros segmentos
que vão ser permutados. Visualizemos como opera este
princípio: como /-es/ têm essa mesma função. Do mesmo modo,
/-ria/, que marca o futuro do pretérito, tem uma varian-
morfema lexical: te / -rie/ .4 Também os morfemas lexicais apresentam
cant (a pertinência paradigmática está no variantes: /ordem/, /orden-/, /ordin-/ têm a mesma
grit ar fato de cada um dos segmentos carac- significação em ordem, ordenar e ordinário, respectivamen-
fal terizarem usos da voz humana) te. A essa possibilidade de variação de cada forma mínima
dá-se o nome de alomorfia.*
vogal temática: A alomorfia pode ser ou não fonologicamente condi-
jog a ríamos (o confronto de verbos de conjugações cionada. A não condicionada implica variações livres, que
beb e ríamos diferentes possibilita evidenciar a independem de causas fonéticas, como as alternâncias
ped i ríamos vogal temática) vocálicas em faz,Jez, fiz. A fonologicamente condicionada
consiste na aglutinação de fonemas, nas partes finais e
marca de modo e tempo: iniciais de constituintes em sequência, acarretando mudan-
(depzeende-se ne como marca do fu- ças fonéticas. Trata-se, pois, de uma mudança morfofonêmi-
jogaimos ca, porque, operando entre fonemas, afeta o plano mórfico
turo do pretérito en oposição a ra do
jogávÀmos da língua. São exemplos de mudanças morfofonêmicas a
pretérito imperfeito, re do futuro do
pxesente etc.) redução de /in-/ a /i-/ diante de consoante nasal da síla-
ba seguinte: incapaz / imutável; o aparecimento de uma
marca de número e pessoa: semivogal na forma passeio ao lado de passear; a troca de
(depreende-se nos como marca de consoantes em duvida indubitável. Conforme se pode
primeira pessoa do plural em oposição verificar pelos exemplos dados, a mudança morfofonêmi-
jogaria ITIOS
a s que indica segunda pessoa do sin- ca é fonte constante de alomorfia.
jogaria s
jogaríe is gular e a is que indica segunda pessoa A consideração da variação morfofonémica dentro do
do plural). vocábulo é muito importante na derivação vocabular,
38 S0UZA-E@LVA.K0CH 3g

principalmen te nas flexões nominais e verbais, porque cria as formas atemáticas, que se circunscrevem às palavras
simplifica a descrição gramatical, suprimindo falsas irre- terminadas em consoantes e vogais tônicas. Incorporadas
gularidades. aos morfemas lexicais, as vogais temáticas formam a base
Outro fenômeno importante na análise mórfica é o da para a anexação dos morfemas flexionais.
centralização, que consiste na perda da oposição entre uni- Os morfemas/exionais “fletem”, ou alteram, os mor-
dades significativas diferentes. Como a alomorfia, ela pode femas lexicais, adaptando-os à expressão das categorias
se dar apenas no plano mórfico ou ser resultante de con- gramaticais que a sua classe admite: (nos nomes, gênero e
dicionamento fonológico. Como exemplo do primeiro caso, número; nos rerhos, modo e tempo, número e pessoa). São
tem-se a neutralização entre a primeira e a terceira pessoas cinco os morfemas flexionais em Português: aditivos, sub-
gramaticais em vários tempos verbais: cantava - cantava; trativos, alternativos, morfema zero, morfema latente.
cantaria - cantaria etc. Como exemplo do segundo caso, Aditivos: resultam do acréscimo de um ou mais Mone-
tem-se, em alguns tempos verbais, uma neutralização mas ao morfema lexical. Considerando os pares: rapaz -
entre a segunda e a terceira conjugação em decorrência da rapazes, professor - professora, tem-se os segmentos /-es/ e
perda de toxicidade da vogal temática, isto é, a oposição /-a/ indicando respectivamente as noções gramaticais de
entre essas conjugações, caracterizada pelas vogais -e e -i, género e número. Há, ainda, um tipo específico de morfe-
respectivamente, desaparece quando a vogal temática é mas que se agrupam nessa classe: os cumulatioos, que re-
átona final: temes, teme, temem; partes, parte, partem. sultam da acumulação de.mais de uma noção gramatical
numa forma linguística indivisível. Tais morfemas são
constantes nos verbos portugueses. Em amáramos, bebêrDTttOS
2.3 Tipos de morfemas e paríírflWos, por exemplo, nos segmentos /-ra/ e /-mos/
a indicação de modo se acumula com a de tempo e a de
número com a de pessoa.
Os morfemas gramaticais em Português podem ser
enquadrados em quatro tipos: classificatórios, flexionais, Subtrativos: resultam da supressão de um segmento
derivacionais e relacionais. fônico do morfema lexical. No conjunto órfão - ôrfã, a noção
de feminino, em vez de aparecer indicada através da adição
Os morfemas clnssificatórios são constituídos pelas
vogais temáticas cuja função é a de enquadrar os vocábulos de um morfema à forma masculina, processo básico de
formação do gênero em português, decorre da própria
em classes de nomes (substantivos e adjetivos) e de ver-
bos. Daí a sua subdivisão em nominais /-a, -e, -of e verbais subtração dessa forma.
/-a,/-e,/-i,/... A ausência de vogal temática em alguns nomes Alternativos: resultam da alternància ou permuta de
um fonema no interiór do vocábulo. Entre os nomes, a
LING ÍSTICA APLICADz A0 PORT Guts: M0Rr0L0GlA 41

vogal tónica /-ô/ do masculino singular pode alternar com gue-se daquele porque não apresenta morfema gramatical
um /-ó/ no feminino e no plural, cortforme demonstram próprio para indicar qualquer categoria, isto é, não traz em
os exemplos a seguir: polo - porOs; fOYłTIOSO - OYłTłOSO. A al- si mesmo o contraste entre as categorias gramaticais. Os
ternäncia nos nomes é um traço morfológico secundário, vocábulos Jñpis e orfisfa, por exemplo, funcionam isolados
porque ela complementa as flexões de gênero e número. e inalterados para indicar as significações gramaticais de
Os exemplos citados, alóm das marcas /-s/ e /-a/, carre- singular-plural e de masculino-feminino, respectivamente.
gam na formação do nùmero e gênero, respectivamente, a A designação latente provém do fato de que essas signifi-
alternancia vocálica /-ô/ — /-ó/ como traço redundante. cações revelam-se indiretamente no contexto. Trata-se dos
Em Português é mais adequado considerar-se tais alter- morfemas básicos de plural /-s/ e de feminino /-a/ que
nâncias como morfemas redundantes, dada a sua função se realizam algumas vezes cØomo na qualidade de alo-
unicamente subsidiária, e enquadrá-los como uma subclas- morfes. Por exemplo: o lápis caiu — os lápis caíram; o ar-
se dos alłernatioos, exceçäo feita ao par aoö - avó e seus tista chegou —u artista chegou.
derivados. Nesse par, a marca sufixal de feminino está
ausente e a distinção de gênero é indicada unicamente pela Resta ainda falar acerca de dois outros tipos de mor-
alternancia que passa, no caso, a ser traço primário, distin- femas: os derivacionais e os rela İOnais. Os primeiros criam
tivo e a ocorrer no finn do vocábulo, constituindo o verda- novas palavras na língua: a partir do morfema lexical liar-o,
deiro morfema alternativo. 6 tern-se livr-eiro, liar-aYİD, live-inho etc. Tais morfemas, ao
Morfema zero: resulta da ausência de marca para contrário dos flexionais, não obedecerńa uma sistematiza-
expressar determinada categoria gramatical. Só ocorre ção obrigatória: assim é que uma derivação pode aparecer
quando há oposição, isto é, quando o morfema lexical para um dado vocábulo (de cantar deriva-se cantarolar), e
isolado assume uma signiłiCação gramatical em virtude da faltar para um vocábulo congênere (não há derivações
ausência do morfema que expressa a signifiCação Oposta. análogas para/afar e griíar). Já os morfemas flexionais estão
No morfema lexical mar, a ausência da marca de plural concatenados em paradigmas coesos e com pequena mar-
/-es/ indica a noção de singular. Também em professor, a gem de variação; compare-se a série sistemática: cantáva-
ausência do morfema /-a/ expressa a noção de masculino. mos, faláoamos, griłáramos, que ocorre toda vez que a ativi-
Em Português, o mecanismo gramatical de gênero e nú- dade expressa no verbo é atribuída ao locutor e a mais
mero baseia-se, essencialmente, em morfemas aditivos que alguém em condições especiais de tempo passado.
ficam em oposição a morfemas Ø. Na derivação encontram-se, via de regra, idiossincra-
Morfema latente ou alomorfe Ø: embora tenha em sias ao lado de regularidades, porque os morfemas deri-
comum com o morfema zero a ausência da marca, distin- vacionais não constituem um quadro regular, coerente e
42 LING íSTlCA APtlCADA z0 PORTUG tS. M0zr0r0Glz 43

preciso. Nem todos os verbos portugueses, como se exem- Por se tratar de relações abertas, na derivação, as
plificou há pouco, apresentam nomes deles derivados e, idiossincrasias constituem a regra e a não previsibilidade
para os derivados existentes, os processos são desconexos é uma constante, enquanto, na flexão, a regra é a previsi-
e variados: fato pasa@lsr, ronsoloçõo e consolo para consolar; bilidade e as idiossincrasias constituem a exceção. Além
julgamento para /flIgor, e assim por diante. Também nem disso, as formas derivadas podem assumir extensões de
todos os substantivos portugueses têm um diminutivo sentido de tipos variados, enquanto as flexionadas mantêm
correspondente e os que existem podem ou não ser utili- o mesmo sentido ou função, de modo que as extensões,
zados, numa frase dada, de acordo com a vontade do fa- quando existem, ocorrem em termos globais, para todos
lante. Logo, morfemas como: -ção, -mento, -inho, entre ou- os itens de uma determinada classe.7
tros, não têm a mesma função em Português que elementos Portanto, apresenta-se como uma das incoerências de
como /-s/, /-a/, ou /-no/, caracterizadores de número e gê- nossas gramáticas a inclusão dos morfemas caracterizado-
nero nos nomes e de modo e tempo nos verbos. Os primei- res de grau, aumentativo e diminutivo, como flexionais. -
ros formam palavras que enriquecem o léxico, servem como Trata-se, na realidade, de um processo derivacional.
base para derivações posteriores e possibilitam ao falante
Finalmente, os morfemas rgIacionais ordenam os ele-
a escolha de uma forma vocabiilar; os segundos são ele-
mentos da frase, possibilitando a concatenação dos morfe-
mentos de caracterização exclusiva e sistemática impostos
mas lexicais entre si, como as preposições, conjunções e pro-
pela própria natureza da frase (que nos faz colocar, por
nomes relativos. A manipulação desses morfemas pertence
exemplo, um substantivo no plural ou um verbo na pri-
á sintaxe, motivo pelo qual não serão abordados aqui.
meira pessoa do pretérito imperfeito) e não podem servir
de base para formações derivacionais posteriores.
O resultado da derivação é um novo vocábulo. Entre
ele e os demais vocábulos derivados similares há esse tipo NOTAS
de relações abertas, que caracteriza o léxico de uma língua
em contraste com a sua gramática. Nesta, o que se estabe- 1. Não há sequer coincidência nas classificações. Em lisboeta,
lece são relações fechadas, como, por exemplo, a que vigo- por exemplo, encontra-se um morfema lexical que não ocorre
como forma livre ria língua: lisbo. Evidentemente, se se conside-
ra entre cantóvamos e todas as demais formas do verbo
ra o grau de autonomia e as regras decombinação dos morfemas,
cantar, ou entre lobos ou loba e o nome básico singular lobo.
ter-se-á de admitir que os morfemas lexicais têm maior tendên-
A flexão caracteriza-se, portanto, pelo alto teor de regula- cia a se constituir em formas livres, enquanto os gramaticais
ridade de seus padrões, ainda que estes possam ser de apenas são atualizados como formas livres, quando lexicalizados
grande complexidade, conforme veremos ao tratar dos e, portanto, deixando de ser gramaticais. Exemplo: é o -s do
verbos chamados “irregulares”. plural, trata-se do -iam de casinha.
LlNGuÍSTlCA APrlCADA 0 PORTUGiJtS: M0Rr0L0GlA 4S

2. Parece procedente considerar o termo palavra equivalente adequado considerar morfema o significante mais usual e siste-
a vocábulo, tomando por base a classificação das formas em livres mático na língua (forma básica) e os demais como variantes ou
e dependentes. Isto porque, se se pedir a diversos falantes que alomorfes.
reproduzam lentamente as palavras que compõem o enunciado 5. Em português existe também o fenômeno contrário, isto
“O livro da biblioteca”, perceber-se-á a existência de quatro é, o da homonímia: uma mesma forma, indicando diferentes sig-
pausas correspondentes a quatro palavras diferentes. Se este nificações gramaticais: /-s/ indicando plural nos nomes e a 2
enunciado for transposto para a língua escrita, obter-se-á o mes- pessoa gramatical nos verbos.
mo resultado, visto que o princípio usado para se identificar o
6. Além da alternância de fonemas segmentais, também se
número de palavras é a existência de espaços em branco entre
encontra a de fonemas suprassegmentais. Em Português, há uma
as unidades. Ora, tal critério corresponde exatamente ãquele
oposição entre formas verbais paroxítonas e formas nominais
estabelecido por Mattoso Câmara Jr. para definir vocábulo, crité-
proparoxítonas: fábrica-fabrica, exército-exercito etc. Nestes
rio este que propomos abranja também a noção de palavra.
Mesmo partindo desse princípio, há casos de análise duvidosa. casos, o morfema lexical enquadra-se numa determinada classe
Em haixo e embaixo correspondem a duas combinações de mor- de palavra, de acordo com a incidência do acento de intensidade
femas diferentes ou apenas a duas representações gráficas de na penúltima ou na antepenúltima sílaba. O acento de intensi-
uma mesma combinação de morfemas? Trata-se de uma ou de dade também indica uma oposição entre tempos verbais, mais
duas palavras? Em co-ocorrência qual o valor do hífen? Equivale especificamente entre o mais-que-perfeito do indicativo e o fu-
a um espaço e então há aí duas palavras? Para um entendimen- turo do presente. Por exemplo: cantara, vendera, partira/canta-
to maior da questão, consultar: Morfologia da língua portugue- rá, venderá, partirá.
sa (In: Revista da Universidade Católica de São Paulo, 1979). Parte 7. Para um maior aprofundamento da questão, consulte-se
significativa deste capítulo baseia-se no referido artigo. Margarida Basílio (1981).
3. Adotar-se-ão os termos morfema lexical e radical como equi-
valentes; este último, desvinculado da sinonímia com raiz, a fim
de evitar interferência entre procedimento sincrônico e diacrô-
nico. O radical mais a vogal femóíica constituem o que se costuma EXERCÍCIOS
designar de tema.
4. Alguns linguistas restringem a terminologia morfema ao Bloco 1
nível de fíngon, considerando-o como valor abstrato da estrutu-
ração linguística; em nível de/ala estariam os morfes, realização
dos morfemas. De acordo com esses linguistas, existe, por exem- Se você concordar com cada uma das afirmações a
plo, um morfema correspondente à significação gramatical de seguir, coloque ao lado um exemplo que a comprove; caso
plural /PI/ que se atualiza através dos moríes /-s/, /-es/ etc. contrário, deixe o espaço em branco:
Cada um desses morfes é um alomorfe. Do mesmo modo, há um
1. tem-se a alomorfia quando a forma é a mesma, apenas
morfema correspondente à significação gramatical do futuro do
pretérito no indicativo /IdFt2/, que se atualiza através dos mor- o significado varia...............................................................
tes /-ria/, /-rie/. Do ponto de vista pedagógico, parece mais
46 SOFIA-fi-SltVà • fi0€h LlOGUÍSTItA APLICADA A0 PORTUGIJtS: M0Rf0L0GIA

2. as partículas enclíticas e proclíticas em Português não O rosto da acusada parecia transfigurado.


sãovocãbulosmór6cos:::::.::::.:..:::..::::.:„ Casas extraordinárias!
2. Decomporiha as palavras reconsolidar e encruzilhada em
3. em Português há uma grande ocorrência de vocábulos unidades significativas.
formados de uma forma livre e uma ou mais formas
3. Para cada palavra abaixo, indique outra que contenha
alomorfe do morfema lexical:
a) felicidade; b) petição; c) dúvida; d) visão; e) bandido.
4. para dividir o vocábulo emb cada um dos segmentos
que o constituem, baseamo-nos no princípio da comu-
tação ....................................................................................

Línguas hipotéticas
5. o morfema lexical, além de funcionar como base de
significado, serve para formar outras palavras do 1. Observe os dados da língua A:
idioma ikalveve — casa grande petatsosol — capacho velho
ikalsosol — casa velha petatcin — capacho pequeno
ikalcin — casa pequena ikalmeh — casas
6. o morfema gramatical tem a função de enquadrar o petatveve — capacho grande petatmeh — capachos
morfema lexical dentro de categorias da língua ............
a) segmente os vocábulos;
b) quais os elementos que significam“grande”, “velho”,
“pequeno”?
Bloco 2 c) quais os elementos que significam “casa” e “capa-
cho”?
1. Considerando as frases abaixo: d) quais os morfemas indicativos do número e do gê-
a) indique o número de vocábulos mórficos e classifi- nero?
que-os em formas livres e dependentes; 2. Observe agora os dados da língua B:
b) assinale todas as formas presas e, a seguir, indique filkas — forte mafilkas — fortalecer
os morfemas lexicais e gramaticais que constituem kelad — fraco mekelad — enfraquecer
as formas livres: batar — surdo mabatar — ensurdecer
As cartas estão rasuradas novamente. fusat — escuro mufusat — escurecer
Não refiz o artigo de linguística. pesal —velho mepesal — envelhecer
S0IJiA-f-SlL\/A• KOCH 49

a) qual o afixo que aparece nos dados?


b) que ideia encerra?
c) esse afixo apresenta variantes (alomorfes), como
acontece com in-, im-, i- em Português?
d) dada a palavra posas (pobre), como você diria gmpo-
brecer?

Bloco 4 ÊStfJtUfü 9 f0FMãÇá0 Ó9


Classifique os morfemas flexionais encontrados em VOC1ÀUIOS 9M É07ÍJ§U9S
cada par de vocábulos.
a) freguês — freguesa
b) bisavô — bisavó
c) o, a pianista 3.1 Estrutura
d) cirurgião — cirurgiã
e) sogro — sogra No capítulo anterior, considerou-se a vogal temática
COIhO Tft0f emD classificatório, dado o seu valor gramatical.
f) mão — mãos
Mas, ao lado dela, existem, em Português, certos fonemas
g) o, os pires
que aparecem no interior dos vocábulos sem qualquer
h) compraremos — venderemos. valor mórfico. São as rognis e consoantes de ligação, ocorren-
tes na junção dos morfemas lexicais e derivacionais e cuja
única função consiste em evitar dissonâricias na juntura
daqueles elementos,' conforme os exemplos gasogênio e
chaleirD entre muitos outros. O primeiro desses vocábulos
é formado por dois morfemas lexicais ligados pela vogal
o sem valor significativo e o segundo é constituído do
morfema lexical chó e do sufixo -eira entre os quais aparece
a consoante não significativa -J-.
5D S0UZA-E-SLVA.K0CH *ING ÍSTICA APLICADA A0 PORTUGlJíS: M0Rr0L0GlA

Esses elementos de ligação, dado seu caráter pura- 3.3 prefixo(s) + morfema lexical (+ elemento de ligação)
mente eufônico, devem ser considerados como constituin- + sufixO(S) (* vogal temática) (+ morfemas flexionais): in-
tes dos morfemas aos quais se ligam. Tem-se, assim, casos felizmente; re-prova-ção; des-contenta-ment-o- s.
de alomorfia fonologicamente condicionada: o morfema
4. TtlOr SÍTIO lexical (+ vogal temática) (+ morfemas fle-
lexical gós apresenta uma variante geso- em gasogênio e o XiOilais) + morfema lexical (+ vogal temática) (+ morfemas
morfema derivacional -eira apresenta uma variante -feira, flexionais): couv-e—flor; guard-a—chuv-a-s; terç-a-s—
em chaleira.
feir-a-s; pé-s—de—molequ-e.
Considerando-se essas observações iniciais e partin-
do-se das delimitações já estabelecidas no capítulo anterior,
isto é, a de que a análise mórfica restringe-se à decompo-
3.2 Formação
sição dos morfemas em lexicais e gramaticais (flexionais,
derivacionais e classificatórios) tem-se condições para
determinar a estrutura dos vocábulos em português,2 os A partir desses vários tipos de estrutura, torna-se
quais podem ser constituídos de: possível determinar os processos de formação dos vocá-
1. apenas um morfema lexical: azul, mar, sol, feliz; bulos em Português. Os vocábulos indicados nos itens 1 e
2 são formas szmpies e primitivas e aqueles contidos no item
2. morfema lexical (+ vogal temática) + morfemas fle-
xionais: alun-a-s; menin-o-s;3 part-í-sse-mos; not-a-ra-m; 3 (com as respectivas subdivisões), constituem vocábulos
simples, mas derivados; finalmente, os vocábulos incluídos
3. morfemD lexical + morfemas derívacionais (+ morfemas
no item 4, os quais contêm mais de um morfema lexical,
flexionais):
são vocábulos compostos.
3.1 prefixo(s) + morfema lexical (+ vogal temática) (+
Portanto, para uma análise sincrônica dos mecanismos
morfema flexional): in-feliz; des-em-path-a-r; in-apt-o-s;
utilizados na formação de palavras, levar-se-á em conta a
3.2 morfema lexical + sfl xo s) (+ vogal temática) (+ existência de palavras simples e compostas, conforme
morfemas flexionais): mur-alh-a; cant-eir-o-s; habitu-al; contenham um ou mais morfemas lexicais. os simples po-
levanta-ment-o; arrependi-ment-o; menina- zinh-a-s. dem, pois, ser primitivas e derivadas. As primitivas são as
Nas junções especificadas no item acima, cabe ao que não se originam de outras e servem de base para a
sufixo marcar a classe gramatical e as flexões do vocábulo formação das derivadas.
ao qual se agrega.'É o que ocorre, por exemplo, em lemon- Os principais processos de formação de novas pala-’
tamento e meninazinhas, nos quais a vogal temática existen- VfaS, isto é, os de mais alta produtividade são a derivação
te no vocábulo primitivo — levant-a-r e menin-a — perde e a composição.
o valor de morfema ao sofrer o acréscimo do sufixo.5
S0IJZA-E-SILVA • KOCH *INGUÍSTICA APLICADA A0 PORTUGIJtS: M0Rr0r0GIA

Aderiraçõo consiste na formação de palavras por meio A derivação parassintótica distingue-se da anterior l0
de afixos agregados a um morfema lexical. Para que haja por que o prefixo e o sufixo são acrescentad os a um

derivação, duas condições devem ser preenchidas. A pri- tempo ao morfema lexical, constituindo, portanto, um
meira delas consiste na possibilidade de depreensão sin- uniCo morfema gramatical, de caráter descontínuo."
crônica dos morfemas componentes. Considerar derivadas Ob-
serve-se a diferença entre: feliz - infeliz - felizmente - infe-
palavras como submisso, perceber, conduzir, admitir, a partir
lizmente e tarde - *tardecer - *entarde - en
de uma pseudo forma livre -misso-, -ceber-, -duzir-, -mitir-, tardecer, no
primeiro conjunto, todos os vocábulos são atualizad os em
com o acréscimo dos prefixos sob-, per-, con- e ad- repre-
senta um critério diacrônico válido apenas no estudo his- Português, enquanto no segundo, o nome *entarde e o ver-
tórico, já que no estágio atual da língua esses morfemas bo *tardecer não são lexicalizad os, p
corre de afixação simultânea. ortanto, entardecer de-
lexicais inexistem. Assim, tais vocábulos devem ser trata-
dos como palavras primitivas.6 A parassíntese
de formação consiste, basicamente, em umprocesso
de verbos,
em especial daqueles que expri-
A segunda condição implica na possibilidade de o mem mudança deestado, tais como engrossar, amadurecer,
afixo, como forma mínima, estar ã disposição dos falantes
reju cenescer, mas encontram -se também, na língua, adje-
nativos, no sistema, para a formação de novos derivados.
tivos formados por parassíntese como desalmado (des +
Por sua vez, a maior ou menor produtividade 7 do afixo
alma + ado).
auxilia o falante não só a formar ou aceitar determinadas
Nos tipos de derivação até aqui verificados, a palavra
palavras, rejeitando outras, como também a interpretar
nova resulta de acréscim o de afiXOS aos morfemas lexicais;
determinados vocábulos como morfologieamente comple-
neles há, pois, uma constante: a palavra derivada amplia
xos ou simples.'
a p rimitiva.
Preenchidas as condições explicitadas, pode-se falar
Existe, no entanto, um processo de criaçãO Vocabular
na existência de quatro tipos de derivação:
— a derivação regressiva — que é feita justamente ao contrá-
a) preflxal: acréscimo de prefixos ao morfema lexical: rio, pela subtração de morfemas. Isto ocorre, por exemplo,
reter, ilegal, subtenente, compor;
COm as palavras caça (de úaçar), corte (de cortar), descanso
b) sfl mal: acréscimo de sufixos ao morfema lexical: (de descansar) em que a desinência verbal do infinitivo e a
saboroso, ponteiro, grandol/iõo, barcaça, vozinha, toquiuho;9 vogal temática do verbo são substituídas pelas vogais te-
c) pre ixal e su xml: acréscimo tanto de prefixos como máticas rtOmÍliaiS -c, -e, -o, formando, por esse processo,
de sufixos ao morfema lexical: deslealdndr, infelizmente; nomes abstratos de ação, denominad os deverbais.12
d) parassintética: acréscimo simultâneo de um prefixo e Resta, airtda, referirmo-nos à derivação imprópria, isto
um sufixo ao morfema lexical: entardecer, esfarelar. é, ao processo de enriquecimento vocabular ocasionado
'i4
S0UZA-£-SIL\/A • KOCH Ll#GiJíSTlCz APtlCADA z0 PORTIJGiJlS: M0Rr0f0GlA

pela mudança da classe de palavras. Por ele explica-se a que o falante nativo não tem consciência da existência
passagem de substantivos a adjetivos: manga-rosa, co1é- desses dois morfemas, não se pode falar em composição.
$’so-modelo ,- de adjetivos a advérbios: ler alto, falar baí O É o que acontece com palavras como fidalgo (filho de algo),
custar caro etc. Trata-se, na realidade, de um processo agrícola (habitante do campo), aqueduto (condutor de água).
sintático-semântico e não morfológico, motivo pelo qual O que representam hoje, por exemplo, os morfemas lexicais
não o incluiremos entre os diferentes tipos de derivação. agri e cola? Quem, senão o estudioso da história da língua,
compostçõo é o processo de formação de palavras que pode descobrir aglutinação nessas palavras?
cria novos vocábulos pela combinação de outros já exis- Embora a divisão entre derivação e composição, apre-
tentes, dando origem a um novo significado. AtfiãVÓS sentada neste texto, seja comum para a maioria dos gra-
desse processo combinam -se dois morfemas lexicais, máticos, há divergências que merecem atenção, como a
operando-se entre eles uma fusão semântica, que pode ser inclusão da prefixação na composição com base no critério da
mais ou menos completa. Assim, por exemplo, em guar- independência vocabular, dado que grande número de
da-chuva, o significado de cada elemento persiste com prefixos correspondem a preposições: compor, coníradizer,
certa nitidez; já em pé de moleque, este significado pratica- decrescer e a advérbios: olentejado.
mente desaparece para dar lugar a outro. No entanto, ao lado desses prefixos, existem outros
composição pode dar-se por/flsíuposiçóo ou por agir- que não são usados como palavras na língua atual oujamais
Atuação, conforme a fusão mais ou menos íntima dos elemen- o foram, conforme os exemplos respectivos: oú-ter, re-tomar,
tos componentes. Na JflsfaposiÇêo, os vocábulos que se ex-portar, in-feliz. Se ob-e ex-já foram formas preposicionais,
combinar são colocados lado a lado, mantendo a sua au- no latim, o mesmo não se deu com re- e in- como assinala
tonomia fonética, isto é, o acento e todos os fonemas que os Said Ali (s/d.). É fácil afirmar que drs-, re-, in- representam
constituem. São grafados ora unidos, ora separados, COITt partículas inseparáveis que são ou foram advérbios. Nada
ou sem hífen:13 passatempo, girassol, anti-herói, amor-per- se sabe da existência de tais vocábulos independentes nem
feito, Nossa Senhora. Já na aglutinação, os vocábulos se em latim, nem em outra língua indo-europeia. Por toda a
fundem num todo fonético, com um ónico acento, ocorren- parte ocorrem estes elementos, funcionando sempre como
do também a perda ou alteração de algum de seus elemen- prefixos.
tos fonéticos (acento tônico, vogais ou consoantes), confor-
Desta forma, o argumento baseado na independência
me os exemplos planalío, pontiagudo, aguardente etc...
vocabular de preposições e advérbios não justifica a exclu-
Do ponto de vista sincrônico, só se leva em conta a
são da prefixação do âmbito da derivação. Além do mais,
aglutinação quando, através da análise mórfica, for possí-
a relativa independência verificada entre alguns prefixos
vel a depreensão de dois morfemas lexicais. Nos casos em
poderia também ser observada em pelo menos um sufixo:
S0UzA-E-flLYA • KOCH LING tSTlCA APrI‹ADr A0 PORNG ES. M0Rr0r0GlA 57
56

-mente, típico da formação de advérbios de modo, corres- Trabalhista Brasileiro), PMDB (Partido do Movimento
pondente na língua a um substantivo. Democrático Brasileiro). No entanto, uma vez criadas,
passam a ser sentidas como palavras primitivas que pos-
Embora haja diferenças entre o sufixo e o prefixo — como
pol exemplo, o fato de o primeiro, não os e@uItdO, II\BICã7' sibilitam a formação de novas palavras: petebista, peeme-
a classe gramatical do vocábulo ao qual se agregi -nâose debista etc.
justifica, a partir dos contra-argumerltOS levantados, a tn- Quanto ao hibridismo, combinação de elementos de
clusão da prefíxação como piOCRSSO de composiÇâo." línguas diversas como autoclave (gr. + lat.), sociologia (lat. +
gr.), goleiro, futebolista (ingl. + port.), televisão (gr. + port.),
Além da derivação e composição, dois processos básiCOS
monóculo (gr. + lat.) e bicampeão (lat. + port.), não o consi-
de formação de palavras, encontram-se, em Português,
deramos um novo processo de formação vocabular. Tal
outros recursos para incorporar palavras à língua: a afire-
colocação baseia-se na justificativa de que o falante nativo,
E IDÇÔO , ã r êuqliCação ou a onOmDtOpeiD e as signos.
exceção feita ao estudioso da língua, não consegue depreen-
A abreriação, ocasionada por economia, isto é, pela lei
der sincronicamente a origem da palavra. Mesmo perce-
do mínimo esforço, consiste no emprego de uma parte da
bendo a existência de dois morfemas lexicais diferentes,
palavra pelo todo, até limites que não prejudiquem a com-
como em auto-clare, ou de um morfema lexical e um sufixo,
preensão. É o qne sucede, por exemplo, com os voCábulos
longos e, em particular, com os compostos greco-la0nos como em íeholis2o, ou, ainda, de um prefixo e um morfe-
de criação recente: amo (por automóve1),/otp(por /otõgra- ma lexical, como em hicampefio, o falante não tem condições
fia), moto (por motocicleta), pneu IpO* l2OiÁtÍco). A MOLHO de determinar a língua de origem. Aléin do mais, numa
abreviada passa a constituir uma nova palavra e, nos di- descrição sincrônica, parece dispensável cogitar-se da
cionários, tem um tratamento ã parte, quando sofre alte- procedência deste ou daquele morfema; essa distinção será
ração de sentido ou adquire matiz especial em relação feita num estudo diacrônico ou num levantamento etimo-
àquela de que procede. lógi co.15
A reduplicaÇÕO, taITlbem chamada duplicação silóbica, Assim, parece mais adequado considerar-se o chama-
consiste na repetição de uma sílaba na formação de novas do hibridismo não comoem processo à parte, mas enqua-
palavras como Zezé, Ju/R etc. Quando a reduplicação é drá-lo entre os casos de /usíaposiçõo, quando resulta da
imitatíva, isto é, procura reproduzir aproximadamente junção de dois morfemas lexicais, ou entre os de derivação,
certos sons ou certos ruídos, tem-se as onomatopeias: ii- quando é formado pela combinação de afixo e morfema
que-taque, zás-trás, num-zum etc. lexical.
As siglas consistem na redução de longos títulos ãs Concluindo, a definição deste ou daquele processo
letras iniciais das palavras que as compor: B (Partido como formador de palavras depende da possibilidade de
S0UZA -£-SIL\/A • KOCH LI GUÍSTICA zPflCADA A0 PORTUGiJtS. M0Rr0L0GIz

se decompor os vocábulos em menores unidades signifi- 7. Os sufixos -menfe, -ção, -inho, entre outros, são de grande
produtividade, ao passo que -eo, -(f)Rrn etc., apresentam rendi-
cativas operantes na língua atual. mento mais baixo.
8. Para um maior aprofundamento da questão, consulte-se
Basílio (1982).
NOTAS 9. Incluíram-se na derivação sxȚxaf os afixos caracterizadores
do grau aumentativo e diminutivo dado que eles formam pala-
vras e possibilitam ao falante a escolha de uma outra forma
1. Não ó conveniente designar de inȚxos esses elementos vocabular, conforme se evidenciou no capítulo anterior.
puramente eufônicos, como oportunamente lembra MattOSO
10. Muitas das nossas gramáticas não distinguem entre esses
Câmara Jr. (1964, p. 197) porque a intercalação naO ocorre no
dois tipos de derivação.
radical e o fonema não tern valor gramatical próprio.
11. A descontinuidade consiste na manifestação de um mes-
2. Esta análise limitar-se-á ä estrutura e formação das formas mo significado gramatical em posições separadas; no caso, en-
livres.
está anteposto ao morfema lexical e -ecer está posposto, mas
3. Em crcioos, o o é vogal temática e em alunas, o a é morfe- ambos indicam parassíntese.
ma flexional resultante de uma mudança morfofonêmica: su-
12. Embora nossas gramáticas limitem o processo de forma-
pressão da vogal temática átona, quando do acróscimo do ção regressiva a nomes de ação derivados de verbos, Basílio
morfema de gênero. Esse ponto será retomado no próximo ca- (1982) evidencia ser ele bem mais produtivo. No entanto, mesmo
pítulo.
em se tratando de nomes deverbais, parece-nos que a derivação
4. Posição diferente é assumida por Rolim de Freitas (1979, regressiva não fica clara para o falante nativo que, geralmente,
p. 99). Segundo o autor “as modalidades temáticas de gênero e é levado a considerar o nome como primitivo, por analogia com
de número podem aparecer duas vezes: no núcleo e no elemen- o que ocorre com os nomes compostos, como arma e prego, de
to perifórico: corpo, corpozinho” . Tambóm C. Pedro Luft (1976, que se derivam armar e pregar, respectivamente.
p. 135) aceita duas vogais temáticas, mas apenas nas formas
13. Se fosse possível utilizar o hífen como critério, seria mais
nominais do verbo, uma do próprio verbo e outra do nome fácil a identificação na linguagem escrita das ocorrências de
(partido, partindo, partir Ø). justaposição; no entanto, a utilização aleatória deste sinal não
5. Também ocorrem mudanças morfofonêmicas como a su- permite uma identificação segura.
pressão davogal átona do morfema lexical (mur-alha) ou a fusão, 14. Para uma discussão mais detalhada, consulte-se Cintra,
quando o sufixo começa pela mesma vogal (desalma + ado). Anna M. M. e Souza-e-Silva, M. Cecilia P. de (1979).
6. Roliin de Freitas (1979, p. 104) faz um levantamento dos
15. Para uma discussão mais detalhada, consulte-se Rolim de
verdadeiros prefixos existentes na língua portuguesa, delimitan- Freitas (1979), capítulos: “A derivação prefixal e formação erudi-
do-se a uma VlSaO SİRcrônica e procurando reformular os critérios ta” e “Linguagem técnica”, em que o autor se posiciona acerca
tradicionais das gramáticas que, em extensas relações de exem- do hibridismo e das palavras que provêm de fontes eruditas ou
plos, incluem formas que se prefixaram no latim. que pertencem ă linguagem técnica das ciências modemas.
60 S0UZA-E-UVA.K0CH

EXERCÍCIOS d. canil l. crueldade


e. preferência m. saltitar
1. No texto abaixo, grife os vocábulos formados por deri- f. poeirenta n. refazer
vação e/ou composição, explicando o(s) processo(s) g. alimentício o. esperança
usado(s): h. orgulhoso
“Oswald de Andrade foi um vagamundo que tentou
3. Determine, nas palavras abaixo, as diversas etapas da
bandeira-nacionalizar a arte de seu tempo e, tendo derivação, seguindo o modelo:
chegado aos sessenta anos, declarou-se um sexappeal-
inexistente [in [existen te]
genário. No começo do sécuto, Martins Fontes, poeta Adj Adj.
pré-vinte e dois, queria construir o brasilirismo. Hoje, [[existirJv + -nteiA.,
na era da informação, diante do paralá-paracáparlar a. descolorir i. apiinhalar
(Guimarães Rosa), é preciso ser um anarquiteto como b. proclamaçãO j. deslocamento
Augusto de Campos, para se viver efetivamente, com c. ilegalidade k. cooperação
a informação adequada, acabar com as formas gastas d. antevisão 1. progressivarriente
pelo tempo e fazer com que a realidade possa brotar de e. empobrecer , transposição
uma nova forma — como uma constelação de pala- f. intrometimen to n. imigrante
vras-montagem” (Firpo, Júlio. Revista Diners, n. 8, p.
g. revisioniSITlO o. retroceder
68, in Soares e Rodrigues, 1975, p. 43). h. recrudescer
2. Determine, conforme o modelo, as regras de derivação
das palavras abaixo, especificando o tipo de morfema
e a classe de seus componentes. Use os símbolos: N para 4. No grupo de palavras abaixo, Criado pelo escritor Dias
Gomes, para as falas do personagem Odorico Paragua-
substantivo, V para verbo, Adj. para adjetivo e Adv. para
çu, cidadão ignorante mãs apreciador de vocabulári
advérbio. o
rebuscado [Sucupira: ame-a ou deixe-a. Civilização Bra-
Modelo:
sileira, 1982):
juramento = [[morf. lex. -]p + sufixo]N. ab,. 1. dê as formas corretas dos itens u
tilizados, consu1tan-
[[jurar]v + mento]N. Ab,. do, se preciso, o dicionário;
a. festejar i. eficazmente 2.
determine:
b. lavagem j. heroísmo
2.1 as formas que violam as regras de derivação,
c. simbolista k. escorrer por
modificarem as classes de palavras-base;
62 S0UIA-E-SILVA • KOCH 63

2.2 as formas que não violam as regras de derivação


mas que são paralelas a outras formas da língua e
por isso impedidas de aparecer (ou bloqueadas):
a. de repentemente
b. providenciamentos
c. gente ezcomungflenfa
d. comprovamento
e. talentosa delegada
A Ê9XÁ0 I10MÍFÂÍ
f. esquerda fiuderrtisfa
g. dama de muitas merecendências
h. como digo, repito e trepito
i. manifestança subversiventa Embora, nas gramáticas do Português, o adjetivo e o
j. lavagem e enxaguagem substantivo sejam considerados como duas categorias
distintas, a flutuação categorial entre eles é grande.'
Funcionalmente, muitos dos nomes podem ser, con-
forme o contexto, substantivos (termos determinados) ou
adjetivos (termos determinantes). Assim, no enunciado art
diplomata mexicano, o segundo vocábulo é substantivo e o
terceiro, adjetivo; já em Bm mexicano diplomata dá-se o in-
verso. Há, entretanto, alguns nomes que são essencialmen-
te adjetivos (triste, grande etc.) e outros que são essencial-
mente substantivos (homem, tigre etc.). Mesmo assim, a
distinção funcional não é absoluta: flm homem tigre designa
aquele que tem a ferocidade de um tigre e corresponde a
um homem feroz.
Formalmente, a diferença entre essas duas classes
gramaticais ó também muito pequena. Por um lado, tanto
os substantivos como os adjetivos são marcados por vogais
f0UzA-L-SIL\/A• K0(H Ll›łGUÍSTICA APrlCADA A0 PORTuG rS: M0Rr0r0GlA 63

temáticas (criança, mestre, medo, agrícola, verde, cinzento) decorrente do acréscimo do morfema -D: pombo - o + a =
ou por formas atemáticas terminadas em vogais tônicas e pomba; parente - e + a = parentp.
consoantes (filó, gibi, urubu, inspetor, cru, nu, burguês, No entanto, nem todas as palavras são marcadas f1e-
tentador). Por outro lado, os adjetivos estão quase exclu- xionalmente. Veja-se, por exemplo: casa, livro, cônjuge,
sivamente distribuídos nas formas em -e, -o e em consoantes, criança, em que a vogal final não indica gônero, mas sim-
enquanto os substantivos encontram-se distribuídos em plesmente registra a classe gramatical. Embora não mar-
todas as formas. cadas flexionalmente, tais palavras admitem a anteposição
Flexionalmente, ambos são suscetíveis de flexão de de um artigo: o casa, o livro, o cônjuge, a criança. Assim,
genero e número, evidentemen te apresentando pequenas em Português, cabe ao artigo marcar, explícita ou implici-
diferenças. O gênero, que condiciona uma oposição entre tamente, o gênero dos nomes substantivos. Consequente-
forma masculina e forma feminina, é caracterizado por mente, a flexão de gênero nos nomes é um traço acessório,
flexão, através do morfema /-a/ (forma marcada) no femi- redundante.
. nino, e do morfema Ø (forma não marcada) no masculino' Essa flexão, acessória e redundante, embora se carac-
(peru - perms). O número, que cria o contraste entre forma terize por um mecanismo simples, apresenta-se como um
singular e plural, é tambëm caracterizado por flexão, através dos tópicos mais incoerentes e confusos de nossas gramá-
do morfema flexional -s, no plural, e da forma não marcada ticas. Isso se deve, em primeiro lugar, ă incompreensão
no singular (peru - perus). Assim, conforme já se disse, o semântica da natureza do gônero e, em segundo, ă ausên-
masculino e o singular em português caracterizam-se pela cia de distinção entre processo flexional, de um lado, e
ausência de marca, isto é, por um morfema Ø. processos lexicais, de outro.
Quanto a natureza, a flexão de gênero costuma ser as-
sociada întimamente ao sexo dos seres. Contra essa inter-
4.1 A flexão de gênero pretação tern-se os seguintes argumentos: a) o gônero
abrange todos os nomes substantivos portugueses, quer se
refiram a seres animados, providos de sexo, quer designem
Tal flexão opera através do acréscimo do morfema
apenas “coisas” como: mesa, ponte, friho, que são femininos
flexional -o átono final ă forma masculina. Quando a forma
(precedidos do artigo a) ou sofá, pente, prego, que são mascu-
masculina é atemática, há simplesmente o acréscimo men-
linos (precedidos pelo o); b) o conceito de sexo não está
cionado: peru - perua / autor - autota; mas, quando ta1forma
necessariamente ligado ao de gênero: mesmo em substan-
termina em vogal temática como pombo, parente, essa vogal
tivos referentes a animais e pessoas há algumas vezes dis-
é suprimida, através de uma mudança morfofonêmiCiã,
crepância entre gônero e sexo. Assim, a testemunha, a cobra
66 S0UZA-E-SIL\/4 • KOCH 1|NGU6TCAAP1T1ADÆA0P0?TUGUf§:M0RfO10G)A

são sempre femininos eo cônjuge, o fibre, sempre masculinos, Desse modo, não procedem as designações de epiceno,
quer se refiram a seres do sexo masculino ou feminino. sobrecomum, comum de dois, usadas pela gramática tradicio-
Em razão da ausencia de distinção entre processo na1. Ao lado de palavras cOITlO fi CObra, existem oułras como ,
flexional e processo lexical, é comum ler-se em gramáticas a vítima, a criança, o indfvíduo, o algoz, que pertencem respec-
do Português que mulher é o feminino de homem, que cabra tivamente aos gêneros feminino e masculino. A importância
é o feminino de bode. Trata-se de casos de heteronímia dos do artigo na distinção do gênero é tão importante que só
radicais, isto é, de vocábulos lexicalmente distintos, que, através dele, ou de outro determinante ou modificador,'
tradicionalmente, têm sido utilizados para indicar a cate- palavras como artista, colega, estudanłe, climate, sem flexão,
goria de gënero. Na realidade, a distinção gramatical se têm o genero determinado: (o, a) artista, (o, a) colega, (o, a)
faz através do artigo. Assim, os substantivos mulher e ceòr estudante e (o, a) c1iente.5
são sempre femininos, porque podem ser precedidos pelo
Concluindo, pode-se dizer que, do ponto de vista
artigo a; e homem e bode, a eles semanticamente relaciona-
flexional, ao lado da regra básica de formação do femi-
dos, são do gênero masculino, porque podem ser precedi-
nino — acréscimo do morfema aditivo - g6 em oposição
dos pelo artigo o.
Ø ao do masculino — existem os seguintes casos de alo-
Esta interpretação também se estende a outro caso de
morfia:
heteronímia, àquele em que um sufixo derivacional tern
distribuição limitada aos substantivos femininos, conforme a) subtração da forma masculina: órfão-órfã; réu-ró;
os exemplos: o diácono - a diaconisa, o abade - a abadessa, man-má (morfema subtrativo);
o barão - a baroness etc. Nesse caso, os sufixos derivacionais b) alternância vocálica redundante e não redundante: rg-
-isa, -essa, - esa etc. são formadores de feminino. Há ocor- duYlÃDHłe — vogal média posterior tônica fechada /ò/
rências, embora muito raras, de sufixos que aparecem só / passa a aberta /ó/: formoso - formosa; novo - nova
na forma masculina: o perdigöo - a perdiz,’ ou em ambas (morfema aditivo e alternativo); não redundante — avô
as formas: o imperador - a imperaíriz. - avó e seus derivados (morfema alternativo);
Não cabe também falar em uma distinção de gênero c) distinção de gêneros diferentes sem flexão: o, a intérpre-
expressa pelas palavras mark e /émeu, não só porque o te; o, a mártir (morfema latente).
acréscimo não é obrigatório (podemos falar em cobra e łigre
sem acrescentar os apostos), mas também porque o gênero Ao lado desses morfemas flexionais (aditivo, subtra-
não muda com a indicação precisa de sexo (continua-se a tivo, alternativo e redundante), o genero é também indica-
ter a cobra macho no íeminino, como assinala o artigo a e o do pelos morfemas derivacionais femininos: diácono - dia-
łigre fêmea no masculino, conforme indica o artigo o). conisa, abade - abadesso, duque - duquesa.
68 S0UZA-£-SIL\/A • KOCH G II APrIC DA A0 r0RT G IS: M0Rr0r0GIA
69

No feminino das palavras em -ão, ocorrem ora mor- — (o) homem; (a) mulher; (o) bode; (a) cabra;
(o) prín-
femas subtrativos, como em irmão - irmã, ora morfemas cipe; (a) princesa; (o) sacerdote; (a) sacerdotisa.
aditivos. Neste caso, existem sempre mudanças morfofo- Na descri çã o do gênero, cOmo nas descrições 1ingu:s-
- nêmicas, que se caracterizam ou pela perda da vogal nasal, ticas em geral, é indispensável delimitar o plano gramatical
como em leão - leoa (leão + a = le(ã)oa = leoa), ou por uma e o lexical, tendo em vista que a gramática trata dos
alteração no sufixo derivacional de aumentativo próprio fatos
gerais da língua e o TÓXICO, dOS fatos especiais. Assim,
da forma masculina, decorrente do acréscimo do morfema a
descrição gramatical deve ser completada com as informa-
-a, como em valentão - valentona. Outras vezes, a flexão ções de um dicionário ou léxico, que seria constituíd
de género é marcada pelo acréscimo de um morfema de- o, se-
gundo Chomsky (1965), de uma série não ordenada
rivacional de diminutivo à forma feminina, couro em galo de
regras lexicais, engloband o tOdas as propriedades
- galinha Também entre os morfemas derivacionais estão idiossin-
críticas de cada um dos itens1exicaiS.7 Caberia, então,
as formas em gu, como europeu - euiopeia, nas quais o a um
acréscimo do morfema -a ao sufixo derivacional acarreta dicionário do Português, registrar as ocorrências de gênero
uma mudança morfofonémica que se caracteriza pela su- não explicáveis pelos padrões gerais da gramática.'
pressão da vogal assilábica e ditongação: europeu + a =
europe(u)a = europea = europeia. 4.2 A flexâo de número
As gramáticas poderiam ensinar o gênero dos subs-
tantivos a partir da descrição proposta, baseando-se, em se tratando do ntimero, o conceito significati vo é
primeiro lugar, na forma masculina ou femirúna do artigo muito mais simples e coerente. Trata-se da oposição
e considerando, em segundo lugar, a seguinte divisão em entre
lìniCO indivlduo e mais de um lndÌVlduo. Excetuam-se:
trôs grupos:
a) a situação especial dos coletivos, em que a forma
1. nomes substantivos de dois gêneros com uma flexão singular
eTlVO Ve UITlã SÍgrtifiCação
de plural, e b) a de certos nomes
redundante: (o) lobo — (a) loba; (o) mestre — (a) mestra; em que a forma de plural refere-se a um
(o) pintor — (a) pintora; conceito linguisti-
camente indecomponíVel. Trata-se, nos dOiS Casos, de uma
2. nomes substantivos de dois gêneros sem flexão peculiaridade da lingua. No primeiro, a língua interpreta
aparente: (o, a) camarada; (o, a) selvagem; (o, a) mártir; uma série de sereS homogêneos como uma unidade superior,
3. nomes substantivos de gênero único: que, como unidade, vem Ft O Singular: multidão p r essupõe o
— (a) pessoa; (a) testemunha; (o) algoz; (a) mosca; (o) indivíduo cidadão; ramagem indica coleção de ramos. Eviden-
besouro; (a) mesa; (a) tábua; (o) disco; (o) livro; temente, tais nomes, quando designar mais de um
desses
7O S0UIA-E-flŁVA•K0CH LI GIJÍSTICA zPLlCzDA A0 POrTlJGiJtS: M0Rf0r0GlA 71

conjuntos, também se flexionam: multidões e ramagens. No lidade, em nossa língua, de grupos finais cuja combinação
segundo caso, interpreta-se linguisticamente, de um modo seja -ss, -rs e -rz.
global, um continuo de atos ou de partes întegradas, os quais Outro caso de alomorfia ocorre com os nomes termi-
podem ser entendidos, no mundo extralinguístico, como nados em I, precedidos de vogal diferente de i, cujo plural
uma série ou sequência de partes componentes: óculos, é expresso através da forma is,conforme os exemplos:)ogral
algemas, exéquias, núpcias. Estes vocábulos não apresen- - jograis; coronet - coronéis; lençol - lençóis; azul - azuis. A mu-
tarn singular mórfico correspondente. dança morfofonêmica é caracterizada pela queda do I final
Tambóm em relação ao número, à semelhança do que e por ditongação: jogral + is (-I) jograis; coronel + is (-I)
ocorre no gênero, entende-se o mecanismo flexional como —+ coronéis; lençol + is (-I) + lençóis; azul + is (-I) —+ azuis.
uma oposição privativa em que o singular não-marcado, Quando os nomes terminados em I forem precedidos
ou Ø, opõe-se ao plural com marca própria, caracterizado da vogal i, além da queda do I, ocorrer outras mudanças
pelo morfema /-s/. Esse morfema marca, no plural, os morfofonêmicas dependendo da tonicidade da vogal. Se •
nomes terminados no singular em: ela for tônica, há erase e se for átona, há dissimilação re-
a) vogais orais e nasais: cajá - cajás; romã - romãs; gressiva (i > e) e ditongação, conforme os exemplos,/uziJ
b) m: álbum - álbuns;’ - zis e/óssiI - fósseis, respectivamente: fuzil + is (-I) fu-
ziis fuzis; fóssil + is (-I) fossiis (i > e) fósseis.
c) ditongos orais: ceu - céus;
Ainda, entre os casos de alomorfia foneticamente
d) ditongos nasais átonos e alguns tônicos: bênção -
condicionadas estão os nomes terminados em z e s, os quais,
bençãos; irmão - irmãos.
quando precedidos de vogal átona, não sofrem variação:
tórax, cams. Trata-se de alomorfes Ø, ou morfemas latentes,
Fora dessa regra geral, a única complexidade no me-
dado que a oposição singular-plural só é recuperada pelo
canismo flexional de número está nas mudanças morfo-
contexto: (este, estes) tórax, (a, as) cútis.
fonêmicas exigidas por certas estruturas vocabulares, que
ocasionam diferentes alomorfes. Assim é que os nomes Finalmente, alguns nomes cuja vogal média posterior
terminados no singular em -s (precedido de vogal tônica), tônica é o fechado, além do morfema -s, mudam, no plural,
-r, -z e -n formam o plural com o acréscimo do alomorfe o o fechado Iô/ pelo aberto /ó/: corpo - corpos; polo - polos.
-es: país - países; pilar - pilares; nez - vezes; Câłlon - cânOłł€S. A Trata-se de morfemas alternativos; no caso, redundantes,
presença da vogal átona e resulta de uma mudança mor- porque o plural já é indicado pelo morfema aditivo.
fofonêmica fonologicamente condicionada, conforme É preciso lembrar também que, com o acréscimo dos
explicação dada no Capítulo 2, decorrente da impossibi- sufixos -zinho e -zito, tanto o substantivo primitivo quanto
S0IJZA-E-SIL\/A • KOCH

o derivado apresentam marca de plural: fogãoziriho = 2. Há outros autores que marcam também o masculino, ad-
fogõe(s) + zinhos; anelzinho = anéi(s) + zirihos; cãozito = mitindo a Oposição o/a: gato, gata. Optou-se pelo critério ado-
cãe(s) + zitos.'0 tado por Mattoso Câmara por uma questão de economia e
simplificação da análise linguística: enquanto o feminino e o
A simplicidade estrutural na descrição de número só plural apresentam marcas específicas -d e -s, respectivamente, o
éaté certo ponto perturbada pela possibilidade de variação, masculino e o singular apresentam diversas possibilidades de
sem nenhum condicionamento fonétíco, dos vocábulos terminação, não constituindo, portanto, formas marcadas.
terminados em -do. Certo número deles forma o plural com 3. Em perd’igfio - perdiz, o sufixo aumentativo -ão indica os
o acréscimo do morfema -s (todos os paroxítonos e um machos da espécie perdiz, já em galo - galinha, a terminação -irma
número pequeno de oxítonos: sótão - sáfõ0s, crisfêo -cristãos); designa as fômeas da espécie galo.
4. O adjetivo ora se aproxima do substantivo, quando assu-
a maioria (nesse grupo incluem-se os aumentativos),além
me as mesmas flexões; ora se afasta dele, nos casos em que não
do acréscimo do -s, apresenta alternância da vogal e da se flexiona e naqueles em que funciona como modificador, mar-
semivogal (balíío - balões, ladrão - ladrões, va1entíío - valen- cando ele próprio a flexão de género do substantivo (colega
tões)i e, finalmente, um número reduzido apresenta, além simpático, colega simpática).
do -s, uma alternância da semivogal (alemão - alemães, 5. O valor morfêmico do artigo amplia-se em vocábulos cuja
capelão - capelães). oposição de gênero acarreta significação diferente, como: o
cabeça/a cabeça; o guarda/a guarda, conforme Rolim de Freitas
Acresce, também, que para alguns desses nomes não
(1979, p. 79).
há, ainda, uma forma de plural definitivamente fixada;
6. Não se flexionam, geralmente, no feminino, os adjetivos
no entanto, como bem afirma Mattoso Càmara (1970), essa terminados em -D, -e e consoantes.
variação livre não é tão frequente quanto sugerem longas 7. A constituição do léxico será retomada mais detalhada-
listas das nossas gramáticas." Muitas das formas aí pre- mente na obra referente ã sintaxe.
sentes não existem realmente na língua viva, são formas 8. Caberia a esse dicionário explicar todas as idiossincrasias,
“fantasmas”, lançadas pelos gramáticos por motivos como: a) os femirünos irregulares:/ Rdia e cantadeira em oposição
diacrônicos.12 ajudem e causador; b) os nomes de duplo gênero; c) os de género
Vacilante etc.
9. Como, em Português, a ortografia não permite a combi-
nação ms, os nomes terminados em -m, ao receberem a desinên-
NOTAS cia -s de plural, mudam o m em os.
10. Este é o único caso em que a flexão passa parcialmente e
1. Trabalho referente ao assunto foi apresentado no VII En- não totalmente para o sufixo.
contro Nacional de Linguística (PUC-RJ, 1982), por Margarida 11. Embora, para alguns substantivos terminados em -ão, não
Basílio: “Substantivação plena e substantivação precária: um haja ainda uma forma de plural definitivamente fixada, nota-se,
estudo de classes de palavras em Portugués”.
74 S0UZA-E-SlLYA • KOCH ŁINGUÍSTICA APLICADA A0 PORTUGUtS: MORFOLOGIA

na linguagem corrente, uma preferéncia sensível pela formação 3. Compare a descrição a que você chegou com aquela
mais comum: -ões. proposta pela gramática normativa. Tire suas próprias
12. À semelhança do que se propôs com relação ao gênero, conclusões e justifique-as.
caberia ao dicionário elencar as idiossincrasias, entre elas: as
palavras terminadas em -do que assumem diferentes plurais;
aquelas que só se empregam no plural; as que se manifestam Bloco 2
com o acento tônico deslocado (caráter - caracteres); aquelas
termínadas em -1, cujo plural é es (ma1 - males) etc. De acordo 1. Agrupe os nomes abaixo, discriminando os morfemas
com Basílio (1981), essa alternativa tern inconvenientes. e alomorfes indicativos de nùmero; aponte, também, os
pares em que não ocorre morfema Ø.
réu - róus maçã - maçãs
EXERCÍCIOS café - cafes cataláo - catalães
álcool - álcoois ovo - ovos
Bloco 1 mulher - mulheres matiz - matizes
animal - animais ônibus
Discrimine nos nomes abaixo as ocorrências de morfe- escrivão - escrivães barril - barris
mas e alomorfes marcadores de gênero, indicando in- réptil - répteis jejum - jejuns
clusive os casos de morfema Ø.
órgão - órgãos mãe - mães
2. Distribua-os pelos três grupos apresentados na pági- eleição - eleições ananás - ananases
na 68. lápis coração - corações
dentista vitrine 2. Compare a descrição a que vocô chegou com aquela
duque - duquesa zangão - abelha proposta pela gramática normativa. Tire suas próprias
tataravô - tataravó marquês - marquesa conclusões e justifique-as. ”
cônjuge genro - nora
pastor - pastora baleia
Bloco 3 — Exercício Síntese
solteirão - solteirona abade — abadessa
cortesão - cortesã charmoso - charmosa Examine as colunas abaixo:
sapo reitor - reitora A B
juiz - juíza idoso - idosa elefante - elefanta dólar - dólares
herói - heroína cliente poeta - poetisa gato - gatos
garoto - garota patrão - patroa novo - nova lilás - lilases
76 S0UZA-E-SILVA • KOCH LIIJGIJÍSTICz APtICzDA A0 PORTUGUíS: M0Rr0L0GIA 77

perdigão - perdiz a/ US fÔIÚX 4. Determine quais são os alomorfes e, quando possível, o


pigmeu - pigmeia corrimão - corrimãos contexto morfofonêmico em que ocorrem.
sacerdote - sacerdotisa sacristão - sacristães
patrão - patroa álbum - álbuns Palavras que
apresentam alomorfia
Alomorfes
Contexto morfofonêmico
em que a alomorfia ocorre

alemão - alemã europeu - europeus Gênero


solteirão - solteirona sol - sóis Número
frade - freira O/Os ônibus
gato - gata sótão - sótãos
5. Classifique as palavras restantes das colunas A e B
bisavô - bisavó funil - funis quanto ao gênero e ao número.
o/a artista capelão - capelães
pavão - pavoa fértil - férteis
Campeão - campeã morto - mortos
padrinho - madrinha melão - melões
tirolês - tirolesa férias
1. Retire das colunas A e B as palavras que se submetem
ã regra geral de formação do gênero: acréscimo do mor-
fema -a e do níimero: acréscimo do morfema -s.
2. Especifique o contexto morfofonêmico em que as regras
se aplicam.

Palavras que se Morfema Contexto modofonêmico


submetem à regra geral básico em que a regra se aplica

Gênero -a

Número -s

3. Retire das colunas A e B as palavras que formam o gê-


nero ou o número através de alomorfia.
79

A flexá0 verbal

Noções gramaticais muito diferentes são expressas


através da flexão verbal em Português. De um lado, as de
tempo e modo, indicando, respectivamente, o momento em
que ocorre o processo verbal e a atitude do falante (de
certeza, impossibilidade, solicitação etc.) em relação ao fato
que enuncia; de outro lado, a de pessoa, assinalando na
forma do verbo, a pessoa gramatical do sujeito, entendido
como o termo sobre o qual recai a predicação. Essa segun-
da noção, não propriamente verbal, implica também na
indicação do numero, singular ou plural, desse sujeito.
Ao lado das categorias de tempo e modo, coexiste outra
complementar: a de aspecto, entendida, comumente, como
a propriedade que tem uma forma verbal de indicar a
duração do processo. Em nossa língua, como nas demais
línguas romanicas, a base do agrupamento das formas
verbais faz-se, primariamente, em função do tempo, mas,
no pretérito, manteve-se a oposição, existente em làtim,
gg S0U1A-E-SILVA • KOCH LI GIJÍSTlCz APrlCADA A0 PORTUGIJíS: M0RF0r0GIA 81

entre imperfeito, aspecto inconcluso, e perfeito, aspecto con- optativas. E de rendimento mínimo na linguagem colo-
cluso.' O aspecto, dado seu caráter secundário na morto- quial; em seu lugar, emprega-se ou o pretérito perfeito ou o
logia do Português, será tratado apenas quando das con- mais-que-perfeito composto (formado com o verbo teT no
siderações acerca do modo e do tempo.' imperfeito seguido do particípio passado).
O modo indicativo exprime atitude de certeza relati- Acrescente-se à oposição presente/pretérito, a de futuro
va do falante perante o processo que enuncia e aparece (Id Ft). O futuro do presente (Id Ftl ) exprime um processo
acumulado com as noções de tempo presente, pretérito ou posterior ao momento em que se fala. Pode ocorrer ainda
futuro. com valor de imperativo ou de presente, exprimindo
O indicativo presente (Id Pr) exprime um processo si- dúvida ou probabilidade. O futuro do pretérito (Id Ft2)
multâneo ao ato de fala ou um fato costumeiro, habitual. exprime um processo posterior a um processo passado,
É usado frequentemente com valor de passado (presente indicando, também, hipótese, probabilidade, incerteza, não
narrativo ou histórico) ou de/Bíoro. comprometimento do falante. Pode, ainda, ocorrer cor:ri valor
O pretérito ou passado (Id Pt) exprime um processo de presente, exprimindo modéstia ou cerimônia.
anterior ao ato de fala e manifesta-se através do imperfeito O indicativo, em seus vários tempos, exprime um grau
(Id Pt,), do pretérito perfeito (Id Pt2) e do mais-que-perfeito (Id elevado de certeza do falante perante o processo que enun-
Pt 3). O imperfeito (Id Pt,) exprime um processo passado cia. Já o subJuntivo, expressa atitude de incerteza, possih/Ii-
com duração no tempo, indicando concomitância ou ha- dDde ou duvlda, isto é, maior subjetividade do falante pe-
bitualidade, sendo usado, também, para indicar fatos rante esse processo. A oposição indicativo /subjuntivo é
passados, concebidos como contínuos ou permanentes. mais de modalidade que de tempo. Na realidade, os tempos
Muitas vezes é empregado metaforicamente para expressar do subjuntivo não apresentam noção de época tão definida
irrealidade. Já o perfeito (Id Pt2) exprime um processo pas- como os do indicativo o fazem.
sado totalmente concluído, sem duração no tempo. Outra particularidade do tempo no subjuntivo está na
Tanto o per/sido como o imperfeito exprimem um pro- sua estreita correlação com o verbo da oração principal.
cesso passado; portanto, a oposição entre eles não é pro- Por exemplo, nas substantivas, o subjuntivo virá no pre-
priamente de tempo, mas de aspecto (passado com duração sente se o verbo da principal estiver no presente, e no
no tempo, passado concluído, respectivamente).' passado, se o verbo daquela estiver no passado. Nas ad-
O mais-que-perfeito (Id Pt3) exprime um processo ante- verbiais condicionais, o futuro do subjuntivo acompanha
rior a um processo passado. Pode ocorrer com valor de o futuro do presente e o imperfeito do subjuntivo acom-
imperfeito do sub/flnfiro, aparecendo, também, em orações panha o futuro do pretérito. Esta regra sofre variações
8?
LINGUÍSTICA APLICADA A0 PORTUGUES: M0Rr0L0Glz

conforme o grau de formalidade do enunciado e a situação


5.1 0 padrão geral
comunicativa.
Quanto ao aspecto, este atualiza-se com menor clare-
As categorias de modo-tempo e nilmero-pessoa são
za no modo subjuntivo, devido ao seu valor hipotético e
assinaladas na forma verbal por morfemas gramaticais,
subjetivo, ao contrário do que ocorre no indicativo, que
daqui por diante denominados desinen6ias flexionais (DF)
apresenta as situações como certas ou reaips 4
de dois tipos: modo-temporais (DMT) e niímero-pessoais
Finalmente, o imperativo exprime atitude de ordem, so-
(DNP). Essa desinência flexional une-se ao fema (T), cons-
licitação ou súplica. É usado, também, no lugar da expressão
tituído pelo radical (R), ou morfema 1exical,7 que garante a
“se + futuro do subjuntivo” para sugerir uma hipótese.
significação lexical permanente do verbo, e pela vogal te-
Na realidade, as flexões verbais do imperativo marcam mática (VT) da conjugação correspondente. Chega-se, as-
essencialmente a modalidade. No que diz respeito ao tempo, sim, à fórmula geral da estrutura do vocábulo verbal em
embora seja sempre enunciado no presente, o imperativo Português:
tem valor de futuro porque a ação que exprime está para
se realizar. Por marcar a modalidade e ter valor de futuro,
o imperativo não possui aspecto.5 É preciso lembrar ainda T (R + VT) + DF (DMT + DNP)
que a afirmação de grande parte de nossas gramáticas de
que certas formas do imperativo constituem manifestações Qualquer dos constituintes indicados na fórmula,
' do subjuntivo, só tem sentido se se considerar o subjuntivo exceto o radical, pode faltar ou sofrer variações formais.
e o imperativo do ponto de vista puramente morfológico. As variações são indicadas por diferentes alomorfes, entre
Resta um comentário sobre as formas nominais do eles a ausência do constituinte.
verbo, o inquilino, o gerúndio e o particípio, que tém em Acumulação em um único morfema das noções de
comum o fato de não poderem exprimir por si, nem o modo e tempo determina a existência de treze desinencias
tempo nem o modo. Entre elas estabelece-se uma oposição modo-temporais, sendo seis delas no modo indicativo: um
aspectual. O iiiJuiíiro é a forma mais indefinida do verbo presente (Id Pr); três pretéritos: imper/eixo, perfeito,
e é aspectualmente neutra por se referir apenas à situação mais-que-perfeito (Id Ptl , Id Pt, e Id Pt3) e dois futuros: o do
em si. Apresenta o processo verbal em potencial, exprime presente e o do pretérito (Id Ft e Id Ft,). No subjuntivo, há
a ideia de ação. O gerúndio marca o aspecto inacabado,6 o um presente, um pretérito e um furo (Sb Pr, Sb Pt e Sb Ft).
processo verbal em curso e o particípio marca o aspecto A esses morfemas deve-se acrescentar o do imperativo (Ip)
concluído, acabado. O infinitivo equivale a um substantivo, e os indicadores das formas nominais do verbo: geríindio
e o gerúndio e o particípio a adjetivos e advérbios. (Gr), infinitivo (If) e particípio (Pa). O infinitivo apresenta
84 S0IJZA-E-SIL\/A• KOCH LlNGuÍSTlCA APLICADA A0 PORTljslJtS; ly|08t t çn

duas formas: uma não flexionada (If ), outra flexionada Em CI, as vogais e aberto (é) e o aberto (ó) marcam as
(If2) (suas desinências número-pessoais são homônimas às formas rizotõnicas, isto é, aquelas cujo acento cai na vogal
do futuro do subjuntívo),enquantoo gerúndio é invariável do radical: Id Pr e Sb Pr P, e IP P levo, levas, leva, levam
2 36 2
e o particípio não se flexiona em pessoa. / leve, leves, leve, levem / leva; choro, choras, chora /
Do mesmo modo, a cumulação das desinências nú- chore, chores, chore, chorem / chora.
mero-pessoais determina a existência de seis morfemas Já as vogais e fechado (ê) e o fechado (ô) marcam as
gramaticais, resultantes da oposição entre emissor e recep- formas arrizotônicas,aquelas cujo acento incide ou na vogal
tor, e entre eles e uma terceira pessoa. Tais morfemas serão temática (devamos, lewis; choramos, chorais etc.) ou na
indicados por P„ P2, P, (as três pessoas do singular) e P4, vogal do sufixo flexional (levarei, chorarei etc.).
P , P 6 (as três pessoas do plural).' Alguns verbos terminados em -ear (passear) ou -iar
Tanto as desinências número-pessoais quanto as (incendiar), nas formas rizotônicas de Id Pr, Sb Pr e Ip
modo-temporais, que constituem as desinências flexionais, sofrem uma ditongação: passeio, passeias, passeia, pas-
prendem-se a um tema verbal, ou seja, a um radical am- seiam / passeie, passeiem, passeie, passeiem / passeia.
pliado por uma das vogats temáticas -a, -e, -n. A vogal te- Em CII, com as mesmas vogais, há alternância quan-
mática no verbo é mais rtíóda e de aparecimento mais do a vogal do radical é tônica, opondo o Id Pr P , P , P
2 3 6
sistemático que no nome, daí a praxe tradicional de clas- (bebes,
sificar morficamente os verbos portugueses em três conju- corre) aobebe, bebem; corres, corre, correm) e o ip P2 (bebe;
Id Pr P (bebo; corro) e ao Sb Pr P
12, , (beba, bebas,
gações (CI, CII, CIII), caracterizadas, respectivamente, por beba, bebam; corra, corras, corra, corram).
uma das vogais temáticas.
Em CIII há alternância exatamente nas mesmas cir-
cunstâncias de CII, só que agora entre o e fl / e e i, além das
já citadas, conforme os exemplos: Id Pr - feres, fere, ferem;
S.I. Alteração do radical dormes, dorme, dormem; Ip - leve; dorme em oposição a
Id Pr Pr - firo; durmo e Sb Pr - fira, fzras, fira, firam; durma,
Nos verbos regulares, cabe apenas às desinências durmas, durmam.
flexionais a identificação das diversas formas verbais,
porque o radical é invariável, sofrendo somente, em cir-
cunstâncias bem determinadas, uma alternância da vogal
que o constitui, quando tônica. Essa alternância, no entan-
to, manifesta-se em condições previsíveis e é considerada Após os comentários a respeito da vogal do radical,
regular. pode-se passar à vogal temática. Considerando-se que ela
86 S0UZA-E-flLYA • KOCH ŁISGIJÍSÏICA APLICAOA š0 POfiTIJGUÊS: MORfiOLŒIA 87

fica melhor determinada quando tònica, tomou-se hábito etc.). Justifica-se o alomorfe -o em vez de -n marcando
identificar-se a conjugação do verbo pelo infinitivo; a rigor, nesse caso a primeira conjugação, porque nos verbos por-
porém, poderia ser escolhida outra forma nas mesmas tugueses não há vogal temática -o; justifica-se, também, o
condições, como o Id Pt, e o Sb Pt (cantara, temera, partira; alomorfe -e porque, justamente nessa forma, Id Pt2 P„ a
cantasse, temesse, partisse). Apenas em alguns tempos e vogal -e deixa de marcar a segunda conjugação, que conflui
pessoas a vogal temática perde a tonicidade: a) no Id Ft, e com a terceira, assumindo a forma i.
Id Ft2 em que ela é pretônica (cantnrei, cantaria etc.) e b) no
Id Pr P2 3 6 e IP P2 em que ela é átona final (cantas; canta,
cantam; canta). Nesse último caso, em CII e CIII, neutrali- S.1.3 3 Desinéncias número-peSS0äi5
za-se a oposição entre /e/ e /i/, conforme os exemplos:
vendes, vende, vendem e partes, parte, partem.
Retomando-se, agora, a fórmula do vocábulo verbal,
Além de ser átona em algumas circunstâncias, a vogal passa-se a aplicá-la às desinências flexionais do Id Pt,.
temática também pode ser marcada por um alomorfe Ø;
P canta (cant + a) + ra (ra + Ø)
isto ocorre em Id Pr P e em todas as pessoas do Sb Pr. O P canta (cant + a) + ras (ra + s)
alomØorfe resulta, nos dois casos, da regra morfofonêmi- 2

ca segundo a qual o acréscimo de um novo constituinte P, canta (cant + a) + ra (ra + Ø)


vocálico (a desinência número-pessoal o em Id Pr P, e a P, cantá (cant + a) + ramos (ra + mos)
desinência modo-temporal e no Sb Pr) leva ao apagamen- P cantá (cant + a) + reis (re + is)
to da vogal átona final, conforme os exemplos, respectiva- P, canta (cant + a) + ram (ra + m)
mente: canta + o = canto; teme + o = temo; parte + o =
parto; canta + e, es, e, emos, eis, em = cante, cantes, cante, Considerando-se primeiro as desinências número-pes-
cantemos, canteis, cantem; teme + a, as, a, amos, ais, am = soais, a saber, -Ø para P e PQ, -s para P2, -mos para P„ -is
tema, temas, tema, temamos, temais, temam; parte + a, as, para P5 e -m para P6 e utilizando-se o método da comutação,
a, amos, ais, am = parta, partas, parta, partamos, partais, pode-se depreender que essas mesmas desinências apare-
partam. cem em todos os modos e tempos, à exceção de alguns
A vogal temática apresenta alomorfes na primeira casos de variações, que são poucos e previsíveis: a) a DNP
conjugação no Id Pt, em Pl e P,: cantei, cantou (esta última deØP, é e os alomorfes são: -o átono final no Id Pr (canto,
em oposição a temeu, partiu), e encontra-se neutralizada, parto); -i semivocálico no Id Pt2 e Id Ftl (canter, temi, part/,
por sua vez, na segunda e terceira conjugações no Id Pt, P1 cantarei, temerei, partirei; b) a DNP de P2 é -s e os alomor-
(bebi - parti) e no Id Pt, (bebia, bebias etc. e partia, partias fes são: -Ø no Ip (canta, teme, parte) e -she no Id Pt2 (can-
88 S0IJZA-£-SIL\/A• KOCH
89

taste, temeste, partiste; c) a DNP de P3 é Ø, com um único marca os verbos em CI (cantauo etc.) e -ia em CII (temic
alomorfe: -u assilábico no Id Pt2 (canton, temeu, partiu; d)
etc.) e CIII (partia etc.). A forma -ia funde-se com a vogal
a DNP de P é sempre -mos; e) a DNP de P5 é -/s e os alo-
temática, tambóm -i neutralizada, nas duas conjugações
morfes são: -sfes no Id Pt2 (cantasteø, temestes, partístes),
(tern + i + ia, part + i + ia).
-des no Sb Ft (cantardes, temerdes, partirdes) e -i assilábico
Os casos de alomorfia estão indiCã dos nos pares a
no Ip (cantai, temei, parti); f) a DNP de P6 é -m com um
seguir, nos quais o pr imeiro elemento indica o morfema
único alomorfe: o -o semivocálico em Id Ft (cantarão, te-
merão, partirão).' 0 É preciso acrescentar que o -i assilábico que marca a desinência modo-tempOral e o segundo, o
i l omorfe correspondente : a) Id Pt -rn--re em CI
no Id Pt2 P1 em CII e CIU (tern + i + i, part + i + i), funde-se l e -in -ze
€ m CII e CIII; b) Id Pt -Ø -- ru; c) Id Pt
com a vogal temática, também i nas duas conjugações, em 2 3
-re--re ; d) Id Ft l
decorrência da regra morfofonêmica, segundo a qual duas -I -ra -rã; e) Id Ft2 -ria --rie; f) Sb Pt -r -re.
vogais iguais fundem-se em uma só. Apresentados os casos de alomorfia da vogal temáti-
ca e das desinências flexionais, è importante lembrar que
qualquer desses elementos pode ser Ø, conforme os exem-
plos: a) DNP = Ø (am + a + va + Ø em oposição a am + á
S.1.4 DeSinênCiaS modo-temporais
+ va + mOS); b) DMT = Ø (WITl + a + Ø + mos em oposição
Analisando-se, agora, as desinências modo-temporais ä iãITl + a + va + mos); c) DF = Ø (am + a + ø + ø em opo-
SlÇfiO ã am + a + rim + mos); d) VT = & (am + B + e + s) em
do Id Pt, (-rD e alomorfe -re em P5) e utilizando-se o méto- oposição a (am + a + ria + s).
do da comutação, tern-se condições para a depreensão das
demais desinências, a saber, -re para o Id Ft (cantarei, te-
merei, partirei), -rim para o Id Ft2 (cantaria etc.), -sse para o
5.2 0 padrão especial
Sb Pt (cantasse etc.), Ø para o Id Pr (canto etc.) e Ip P, (can-
ta etc.), -r para o Sb Ft e If (cantar etc.) e -ndo e -do para o
Ao lado dos Chamados verbos Tegulares, que seguem
gerúndio (cantaado etc.) e particípio (cantado etc.), respec-
o padrão geral, as gramáticas do Português costumam
tivamente. Essas formas são comuns para as tres conjuga-
elencar, em ordem alfabética, separados apenas pela con-
ções. Apenas em duas circunstâncias as desinências mo- do-
jugação a que pertencem , os verbos ditos irregulares. ir-
temporais de CI são diferentes daquelas de CII e CIII:
regularidade ó entendida, portanto, cOmo um desvio do
a) no Sb Pr em que o morfema -e marca os verbos de CI
padrão morfológico geral, impredizível em face dos pa-
(cante etc.) e o morfema -a marca os verbos de CII (tema
drões regulares. Ocorre, porém, que também estes desvios
etc.) e CIII (parta etc.) e b) no Id Pt, em que o morfema -ra
podem ser, de certa forma, padronizados, de modo a
gp f0UZA-E-SItVA.K0CH LINGUÍSTICA APLICADA A0 PORTtJGIJíS: M0Rr0t0GIA 91

chegar-se a pequenos grupos de verbos que apresentam nas formas rizotônicas de certos verbos, como passear, odiar
padrões comuns, perfeitamente explicitáveis. etc., não devem ser consideradas como irregularidades no
plano morfológico, mas, simplesmente, como alterações
Para o estudo das irregularidades que ocorrem nos
fonologicamente condicionadas. Passar-se-á, agora, ao
verbos portugueses, faz-se importante lembrar os tempos
exame dos principais tipos de irregularidades encontradas:
ou jbrrnas primiiium, isto é, aquelas das quais se originam
na flexão, no radical de Id Pt„ no radical de Id Pr, no futu-
as demais. São formas primitivas: a) P, de Id Pt, (segunda
ro; acrescente-se, ainda, verbos com padrão especial no
pessoa do pretérito perfeito), da qual se derivam o ntsis-
particípio e verbos anômalos.
-que-defeito do indicativo (Id P,), o imperfeito do subjunliuo
(Sb Pt) e o futuro do subjunlivo (Sb Ft); b) P, de Id Pr (primei-
ra pessoa do presente do indicativo), que dá origem ao 5.2. I lvegulatidades flexionais
subjunli o prrsenIe (Sb Pr) e, em decorrência, ãs formas
intperafipas deste derivadas; c) P, e PS de Id Pr, das quais se a) radicais monossilábicos terminados em -e, em CII,
forma P, e P, de imperoftvo nJrrtafíuo (IP,) com supressão e em -i em CIII, apresentam em P Id Pr a DNP -des (e,
5
da DNP -s; d) If (infinitivo n e ionado) de que são derí- consequentemente, em P5 Ip, -de): credes, ledes, redes, rides.
vados o imperfeito (Id Pt,), o futuro do presexfe (Id Ft,), o O mesmo acontece com os verbos de radical monossilábi-
futuro do pretérito (Id F2), o infinitivo flexionado (lfZ), o gerún- co terminado em nasal: tendes, vindes, pondes etc.;
dio (Gr) e o particípio (Pa). Havendo qualquer tipo de irre- b) no verbo dar, a vogal temática -a de CI passa a -e
gularidade numa das formas primitivas, todas as suas (aberto) em P, Id Pt2 e em todas as formas desta derivadas:
derivadas manterão a mesma irregularidade. deste, dera, desse, der, em P, e P3, por sua vez, o -g permane-
É de se salientar, também, que o "desvio" pode con- ce fechado: dei, dez.1' Já a vogal temática -e de CII passa a
sistir ntima variação do nioJmna flexional (em sua totalida- -i, em alguns verbos como ver, querem mete, qflisesfe, donde:
de ou em um de seus constituintes) ou numa vendçno do sim, visse, vir, quisera, quisesse, quiser.
radical, a qual passa a contribuir, como ressalta Mattoso
Câmara, para a expressão das noções gramaticais de topo,
5.2.2 lrreguIaridades no tema de indicativo perfeito
modo e pessoa. É este tipo de irregularidade que permite
distinguir "padrões" morfológicos desviantes, já que os a) radicais terminados em -r ou -z não apresentam
verbos regulares se caracterizam, justamente, pela imuta- vogal temática em P, Id Pr: querer —+ quer, fazer —+ faz, dizer
bilidade do radical. dia, produzir —+ produz;
Convém recordar, ainda, que as alternâncias vocálicas b) os verbos com P, e P3 de Id Pt2 rizotônicas, sem
no radical de Id Pr nas formas rizotónicas de CII e CIII, ou sufixo flexional, podem apresentar uma alternância vocá-
a ditongação do radical, nesse mesmo tempo, que ocorre
92 LINGUÍSTICA APLICADA A0 PORTUGLltS: M0Rf0L0GIA 93

liCa na raiz, com vogal alta (-i) ou (-u) na 1p C*Ssoa e vogal b) alargamento da vogal do radical: com ditongação
média fechada correspondente (-e) ou (-o) na 3 Nesses de e (aberto) para ci: requerer requeiro; e com ditongação
casos, P e P3 se opõem em Id Pt2 pelo vocalismo radical: de a para ai: cabem caibo. O verbo querer, embora não
fiz -fez, tive - teve, estive - esteve, pus - pôs, fui -foi, pude - pôde. sofra a ditongação em Id Pr, apresenta-a em Sb Pr (qfleirc);
Não ocorrendo a alternância indicada no item anterior, P o mesmo se dá com o verbo saher (saiba), apesar de, em Id
e P3 ficam indiferenciadas — apresentando ou não um -e Pr, apresentar em P a forma sei que, sincronicamente, é
átono final— só contrastando, em conjunto, com as demais explicada por Mattoso Càmara como uma redução do ra-
formas arrizotônicas: quis (P, e P,) x quisgste, quisemos, dical soih- e uma alternância a-e;
quiseram etc.; disse, coube, houve, trouxe, soube;’2
c) acréscimo de uma consoante final ao radical: ser
c) há verbos com radical de Id Pt2 em ou em oposição ve)o, haver ha/a. Segundo Càmara, também se encaixa aí
a a de If: coubeste, soubeste, trouxesse, houveste; nesses casos, o verbo haver, cujo radical é hav- e cujas formas rizotônicas
o ou se estende às formas derivadas (ex.: coubera, coubes- no Id Pr, por serem atemáticas, perdem o/ final: hó, hás, há.
se, couber). Há, ainda, ptouve, verbo unipessoal, só usado Já P1 (hei), pode ser explicado da mesma maneira que sei,
em P ;
3 isto é, como uma forma radical ha)-, com a vocalização do
d) o verbo vir, com P, de Id Pt, atemático e com vogal / final e também com uma alternância a-e;
final tônica nasal (sim) perde a nasal nas formas arrizotô-
d) radicais monossilábicos atemáticos terminados em
nicas, diante da vogal temática e (aberto): vieste, viemos,
vogal tônica nasal, clara em P2 de Id Pr (tens, vens, pões),
viestes, vieram; e em P3 veio, há alternância de i para e (fe-
apresentam uma variação mais complexa, embora única
chado), seguido de o, (irregular em face à DNP R assilábica),
que sofre ditongação: veio. para todos; em P„ a nasal final transforma-se em nasal
palatal: tenho, venho, ponho (donde: tenha, senha, ponha).
Estes verbos mantêm a nasal palatal em Id Pt,: linha, minha,
pBnhu, perdendo a nasalidade no infinitivo e em Id Ftl e Id
5.2.3 Irregularidades no tema de indicativo pre5ente Ft2 (ter, terei, teriD; Dir, virei, uirin; pôr, porei, porta) e conser-
vando-a no gerúndio (tendo, vendo, pondo).
a) mudança da consoante final do radical em P,: valer
valho, perder perco, pedir —+ peço, medir meço, ouvir
ouço, fazer fDÇO, trazer —+ trago, dizer —› digo, poder —+ 5.2.4 Irregularidades no futuro
posso (peço e meço com alternância vocálica). Em decor-
rência, a mesma irregularidade aparecerá em Sb Pr e nas Os verbos dizer, fazer e trazer, por exceção, apresentam
formas de Ip dele derivadas; irregularidades em Id Ft, e Id Ft2 (já que os tempos deriva-
94 rINGiJISTICz APLICADA A0 P0RTIJG\ItS: M0Rr0t0GIA 95

dos de P2 de Id Pr são, na grande maioria, regulares). No verbo ser, um radicalbásico e- (aberto), altema com
Nestes há uma síncope da sílaba final do tema, antes do outro se-. O primeiro aparece nas formas atemáticas de P2
acréscimo das desinências modo-tempo ral e número-pes- e P3 em Id Pr (és, é), com uma variante er- em Id Pt, (era,
soal: di(ze)rei, fa(ze)rei e tra(ze)rei; di(ze)ria, fa(ze)ria e erss etc.); o segundo é encontrado em li, Id Ft„ Id Ft2 (ser,
tra(ze)ria. serei, seria), com uma variante sey-, em Sb Pr, outra so-, ate-
mática (somos - sois) e outra se-, atemática (sõo).
No verbo Ir, um radical básico i- alterna com ra-. O
5.2.S Verbos com padrâo especial no particípio primeiro, em If, Id Ft„ Id Ft2, Gr, Id Pr (P5) e Id Ptl (ir, irei,
iria, indo, ides, ia[s] etc.); o segundo, em Id Pr (P23 , 4 e 6)- Sb
Dividem—se em dois grupos: aqueles em que só existe Pr, Ip (mrs, mi, remos, vão, ró[s] etc.; vai, com a variante
o padrão especial e aqueles que possuem duplo particípio. ro- em P1 de Id Pr (sou).
Os padrões especiais podem ocorrer na base do radical de Pode-se concluir que na flexão encontra-se, geralmen-
If (sempre em verbos que pertencem a CI) ou na base de te, uma situação em que, ao lado de padrões gerais, existem
um alomorfe do radical de If. Dentre os primeiros, podem-se padrões especiais nos quais há, no entanto, uma organiza-
citar: Dceito, entregue, expulso, ffasto, pago, salvo, solto; dentre ção imanente, possível de ser depreendida.1 °
os últimos, dito, jeito, posto, risfo, tido, eleito, gnxflfo, oito,
impresso, preso, suspenso, morto (de matar e de morrer).
NOTAS

5.2.6 Verbos anômalos 1. Travaglia (1981), a partir de uma resenha sobre o assunto,
reformula e amplia o conceito de aspecto, indicando as várias
formas através das quais essa categoria se manifesta. Referindo-se
São aqueles que, além de apresentarem irregularida-
no Capítulo 7, especificamente, à manifestação através das flexões
des no radical, possuem radicais supletivos, isto é, as formas verbais, estabelece uma correlação entre os diferentes tempos e
derivadas do If ou do Id Pr não apresentam um radical os vários aspectos que eles marcam e evidencia as restrições que
permanente. É o que ocorre com os verbos ir e ser, em a modalidade e o futuro exercem na atualização do aspecto.
Português. O radical de perfeito —fo/fu —; embora idên- 2. Aceita-se a opinião de Mattoso Câmara (1970), que cor-
tico para ambos (e para as formas derivadas de Id P' )- robora a de Jakobson, quanto à importância de se lazer um
corresponde, assim, a dois verbos mórfica e semanticamen- estudo da significação das formas concomitantemente ao das
te diferentes, diferença, porém, que só se explicita nos suas flexões.
demais radicais. 3. Travaglia, op. cit. (cap. 7), discute a afirmação de que o
pretérito imperfeito expressa sempre o imperfectivo e o pretérito
S0UZA-E-SILVA • KOLF *!*G !STICA áPtTCADá A0 PORflJGlJíS: M0RF0f0G|A

perfeito sempre o perfectivo. Também H. Weinrich, na obra Le EXERCÍCIOS


Temps, tradução francesa do original alemão, editada em 1970
pela Editora du Seuil, mostra que há casos muito comuns de Bloco 1
perfeito com ideia de duração, e de imperfeito com ideia de ação
acabada, concluída. C onsiderando os verbos regulares de CI, CII e CIII:
4. Travaglia, op. cit., cap. 7. 1. Indique nos quadros em branco a VT, as DMT e as
5. Travaglia, op. cit., cap. 7. DNP.
6. Travaglia discorda dessa afirmação, dizendo que: “Na 2. Faça uma relação de todOS OS casos de alomorfia
verdade, o aspecto expresso pelo gerúndio parece depender do da
DMT e da VT.
tipo da oração desenvolvida, a que a reduzida de gerúndio cor-
responde e do tempo flexional em que está o verbo principal” ' 3. Faça uma relação dos alomorfes da DNP, considerando
(p. 175). que os morfemas são os seguintes:
7. O radical pode estar acrescido de sufixos derivacionais: r, = a P4 - II›OS
beb-eric-ar. i P 2— S P IS
” 8. P tem rendimento mínimo em Português, pois está cir- P3 — O Ps -'
cunscrita a registros especiais da linguagem escrita e a situações
4. Aponte todas as ocorrências de neutralização.
específicas altamente formais da linguagem oral (oratória, por
ex.).
VERBO AMAR
9. Embora de pouco rendimento em Português, por também
VT DMT DNP A DMT DFP VT DMT DNP
estar, como P , circunscrita a registros especiais da linguagem Id Pr Id Pt, Id PÇ
escrita, escolheu-se esta forma como exemplo, dada a sua gran- Amava
Amas Amei
de transparência morfológica. Ama
Amavas Amaste
Amava Amou
10. Ao acrescentar-se o -o semivocálico à DMT, origina-se a Amamos Amàvamos Amamos
Amais Amáveis Amastes
forma ao, que, em Português, só existe enquanto hiato (caos, Aotaot Amavam
aorta). Para evitar-se a hiatização, torna-se obrigatória a nasali- Id Pt, Id Fl, Id FÇ
Amara Amarei
zação do /a/, de acordo com as regras fonológicas da língua. Amaras Amaria
Amarás Avarias
Amara
11.Note-se que o Sb Pr do verbo dar é de, dês, dê etc., fugindo, Amáramos
Amará Amaria
Amaremos Amaríamos
portanto, ã regra geral. Aotáreis Amareis Amarieis
Aoiazam Amarão Amariam
12. Em dizer, ocorre, ainda, em Id Pt2, ensurdecimento da Sb Pr Sb Pt ’Sb £’t
consoante do radical; em pôr, passagem do r a s (sonoro). Ame Amase Amar
Ames Amases
13. Caberia ao dicionário do Português registrar: a) as formas Ame Amasse
Amares
Amemos Amávemos
primitivas do verbo e cada um dos tempos delas derivados; b) Ameis AMsxis
Amwmos
Amades
os desvios do padrão geral, em cada uma dessas formas. bem Amassem &maem
98 S0U1A-E-SILVA • KOCH LINGUÍSTICA APLICADA A0 PORTUGUÊS: M0Rf0L0GIA 99

VERBO RECEBER Bloco 2


VT DMT DNP VT DMT DNP VT DMT DNP
Id Pr 1. Identifique as formas primitivas das quais se derivam
Recebo Recebia Recebi
Recebes Recebias Recebeste os tempos verbais:
Recebe Recebia Recebeu
Recebemos ltecebíamos Recebemos a) Paulo toca muito bem piano.
Recebeis Recebíeis Recebestes
Recebem Recebiam Receberam ‘ b) Se você quisesse, passaria de ano.
Id Pt
Recebera Receberei Receberia c) Lúcia estudava quando Mário telefonou.
Receberas Receberás Receberias
Recebera iteceberá Receberia d) Maria casara cedo, constituindo logo família.
Recebéramos Recebereis Receberíeis
Recebéreis Recebereis Receberíeis
Receberam Receberão Receberiam
e) Quando você escrever a carta, mande lembranças a
Sb Pr Sb Pt Sb Ft Paulo.
Receba Recebesse Receber
Recebas Recebesses Receberes f) Ficarei aborrecido, caso não me telefones.
Receba Recebesse Receber
Recebamos Recebêssemos Receberinos g) Assustado com os assaltos, Marcos não sai de casa.
Recebais Recebêsseis Receberdes
ltecebam Recebessem Receberem h) Viver é muito perigoso.
i) Procura teus amigos.
VERBO DIVIDIR j) Poderás participar do curso, se fizeres a reserva.
VT DMT DNP VT DMT DNP VT DMT DNP 2. Preencha os espaços vazios, colocando os verbos indi-
Id Pr Id Pt, Id Pt
Divido Dividia cados no tempo e modo exigidos pela estrutura da
Divides Dividias Dividiste
Divide Dividia Dividiu frase (apresente todas as alternativas possíveis, segun-
Dividimos Dividiamos Dividimos
Dividis Dividíeis Dividistes
do o uso padrão):
Dividem Dividiam Dividiram
Id Pt3 Id Ft, Id Ft a) Duvido de que todos dispostos a colaborar.
Dividira Dividirei Dividiria (estar)
Divididas Dividirás Dividirias
Õvidira Dividirá
Dividíramos Dividiremos
Dividiria
Dividiríamos
b) Esperava que você o que perdeu. (reaver)
Dividíreis Dividireis Dividiríeis
Dividiram Dividirão Dividiriam c) Se você e a proposta bem recebi-
Sb Pr Sb Pt Sb Ft da, hoje livres dessa obrigação. (intervir,
Divida Dividisse Dividir
Dividas Dividisses Dividires ser, estar)
Divida Dividisse Dividir
Dividamos Dividíssemos Dividimos d) Se a palavra, mais respeitados.
Dividais Dividisseis Dividirdes
Dividam Dividissem Dividirem (manter, ser)
100 S0UiA-£-SIL\/A• KOCH LINGUÍSTICA APrlCADA z0 PORT G Et: M0Rr0r0GlA 101

e) Como não outra alternativa, apolícia d) Quando você o rever, dize-lhe que lhe marido um
os manifestantes. (haver, conter) abraço.
f) Se você de tempo e os originais, e) Felizmente, meu amigo reaveu os documentos per-
eles irão ao prelo ainda hoje. (dispor, rever) didos.
g) Se alguém se a criticar-me, deverá saber f) A polícia deteu o assaltante.
argumentar. (predispor) g) Ele freiou bruscamente o carro.
h) Quem possui muitos bens pode ceiar fartamente.
h) Diante de tantos obstáculos, perguntei se não
i) Paulo e seu melhor amigo desaviram-se por questões
a pena voltar. (valer)
políticas.
i) Não acredito que ela coragem de fazer tal
j) Não nos importaríamos com o trabalho, se dele pro-
coisa. (ter) vissem os necessários frutos.
j) O Exército já as armas, quando o inimigo 4. Identifique e explique as irregularidades que ocorrem
em massa. (depor, atacar) nos tempos verbais:
k) Se nos nesse assunto, muito a) Luísa quer independência.
tempo. (deter, perder) b) A mim me coube a sua indiferença.
l) Enquanto ninguém algo de novo, c) O choro reduz o sofrimento.
a proposta estabelecida inicialmente. (propor, con- d) Tu previste esse fato.
servar) e) Eu fiz o trabalho que você não fez.
m) Se ele ao menos a confusão que iria dar! f) Despeço-me atenciosamente.
Mas não teve tempo para refletir: não se e g) Irás comigo ou vou sozinho?
na briga. (prever, conter, intervir).
h) Tu me deste o anel.
3. Conjugue de acordo com o uso padrão, as formas verbais i) Aponde vossa assinatura ao contrato.
a ele inadequadas: j) Recomponha os fatos.
a) Quando ele nos propor novamente a venda, só acei- k) Trarei os livros para você.
faremos se ele manter o preço anterior. 1) Saiba Vossa Senhoria que...
b) Quando você repor os objetos nos seus devidos lu- m) Ele foi aceito na corporação.
gares, avise-me. n) Veja estas pinturas.
c) Se ele se entretesse durante o exame, não responde-’. o) Seja feita a tua vontade.
ria a nenhuma questão.
103

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Sîmb0l0f 9 ÊİglüS

SÍMBOLOS

agramaticalidade
Ø A qualquer elemento não realizado
// para efeito de simplificação didática, a notação em barras
foi usada para indicar morfemas, fonemas, alomorfes e
grafemas.

SIGLAS

Id Pr indicativo presente
Id Pt indicativo pretérito
Id Pt, indicativo pretérito imperfeito
Id Pt2 indicativo pretérito perfeito
Id Pt3 indicativo pretérito mais-que-perfeito
Id Ft indicativo futuro
Id Ft, indicativo futuro do presente
106

Id Ft2 indicativo futuro do pretérito


Sb Pr subjuntivo presente
Sb Pt subjuntivo pretérito
Sb Ft subjuntivo futuro

u, infinitivo não flexionado


2 infinitivo flexionado
Ip imperativo
Gr gerúndio
Pa particípio
Pl plural
Pi primeira pessoa do singular
P2 segunda pessoa do singular
P3 terceira pessoa do singular
’4 primeira pessoa do plural
Ps segunda pessoa do plural
P6 terceira pessoa do plural
CI primeira conjugação
CII segunda conjugação
CM terceira conjugação
DNP desinência número-pessoal
DMT desinência modo-temporal
DF desinência flexional
VT vogal temática

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