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FORTALEZA
2004
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FORTALEZA
2004
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Esta dissertação foi submetida ao Programa de Pós-Graduação em Lingüística como parte dos
requisitos necessários para a obtenção do grau de Mestre em Lingüística, outorgado pela
Universidade Federal do Ceará, e encontra-se à disposição dos interessados na Biblioteca da
referida Universidade.
A citação de qualquer trecho da dissertação é permitida, desde que seja feita de acordo com as
normas científicas.
____________________________________________
Socorro Cláudia Tavares de Sousa
BANCA EXAMINADORA:
____________________________________________
Dra. Bernardete Biasi Rodrigues
ORIENTADORA
____________________________________________
Dr. Luiz Antônio Marcuschi
____________________________________________
Dra. Mônica Magalhães Cavalcante
_____________________________________
Dra. Maria Elias Soares
(suplente)
AGRADECIMENTOS
A Deus, pela coragem de continuar, mesmo quando tudo à minha volta parecia tão
desanimador.
Às companheiras Beth, Kátia, Karine e Rafa e aos companheiros Matos e Lailton, por
compartilharem comigo as angústias e as satisfações da minha vida pessoal e profissional.
À professora Bernardete, orientadora ímpar, pelo equilíbrio e pela sensatez com quem me
acompanhou durante o Mestrado, dirigindo-me sempre as palavras certas em todas as horas.
RESUMO
(317 palavras)
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ABSTRACT
This research has as main objective the description of argumentative textual organization in
newspapers editorials from Brazilian press, by the analysis of its textual organization as
movies and textual sequences. The approach given to the subject was based on the Text
Linguistics. For the analysis of information distribution on the corpus compound by 60
newspapers editorials, it was used the CARS model (Create a Research Space) proposed by
Swales (1990), and for analysis of the materialization of textual sequences it was used the
argumentative sequence prototype, proposed by Adam (1992). The analysis of the information
distribution in the editorials made possible the construction of a “standard” compound by
three movies: Un1 – ‘Subject contextualization’, Un2 – ‘Argumentation about the thesis’, and
Un3 – ‘indication of the publisher point of view’. That “standard” of the rhetoric organization
was correlated to the argumentative macropropositions identified in the editorials: previous
theses, data, restriction e conclusion. This way, it was possible to define a correspondence
between the previous thesis and the Un1 (Subject contextualization); the Un2 (Argumentation
about the thesis) and the previous thesis, the data and the restriction; the Un3 (indication of
the publisher point of view) and the conclusion, or the new thesis. It was also possible to
verify the presence of descriptive and explicative sequences as dominated sequences
according to the argumentative sequence in the corpus, what showed the compositional
heterogeneity of this genre. The study also made possible to verify an intense flexibility in the
information distribution. From the movies identified, only the Un2 reveled a compulsory use
in the editorials, while the others seemed to be optional; and that individual style of the
editorialist has a determinant role in the construction of the argumentativeness in this textual
genre. This research bring a theoretical implications that can make easy other studies on the
compositional structure of editorials, and also contributes to the discussions on argumentative
sequence and its use on texts with argumentative characteristic.
(321 words)
7
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE QUADROS
LISTA DE TABELAS
Introdução
O estudo da argumentação sempre foi uma temática que despertou interesse desde
os mais remotos tempos. Seja na Grécia, onde o interesse dos gregos pela argumentação
estava intimamente ligado à defesa do direito de propriedade; seja no contexto clássico com
destaque para a “Arte Retórica” de Aristóteles onde o autor apresentou um conjunto de
normas que tinha como objetivo identificar e definir os procedimentos persuasivos; seja no
século XX através da publicação do “Tratado de Argumentação: Nova Retórica” de Perelman
e Olbrech-Tyteca (2000) onde os autores buscaram analisar a estrutura da argumentação em
textos escritos, dada a importância destes no mundo moderno.
Na análise das seqüências textuais, pode-se afirmar que esse estudo reforça a
operacionalidade dos protótipos de Adam (1992) no exame de textos concretos. Contudo, a
relevância principal da pesquisa está na relação que se estabeleceu entre as unidades retóricas
1
Para Bakhtin (1997, 2002), a língua é essencialmente dialógica e o sujeito se constitui a partir do outro.
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Por outro lado, partindo do pressuposto de que editoriais de jornais são textos que
se caracterizam por apresentar uma estrutura textual predominantemente argumentativa,
buscou-se em Adam (1992) o aparato teórico que permitirá analisar como se materializam as
seqüências textuais nesse dado gênero. Considerou-se o caráter “estável” e, portanto,
observável desse plano de organização textual, apesar de se reconhecer que há múltiplas
formas de realização da seqüência argumentativa, como também, há uma heterogeneidade
textual que compõe o gênero em estudo.
textos e deixam evidente o postulado de que não se pode dissociar a língua das relações
sociais, isto é, a língua reflete e refrata as complexas relações dentro da sociedade. Essa
afirmação é bastante clara em Bakhtin (2002), na medida em que o referido autor caracteriza
o signo lingüístico como um índice de valor. Daí tornar-se inadequada para os propósitos da
presente pesquisa, a concepção de língua como sistema imanente, a-histórico, pautado em
conceitos que consideram os contextos de produção externos à língua como não suscetíveis de
serem tomados como elementos constitutivos dos textos. A esse respeito se posicionou
Bakhtin ao inserir as relações sociais dentro do escopo do estudo da linguagem.
1.1.1 O enunciado
Como se pode depreender do que foi exposto anteriormente, não existe discurso
monológico, até o próprio sentido do termo diálogo foi ampliado, conseqüentemente o
princípio do dialogismo permeia as reflexões bakhtinianas, seja no que se refere a enunciado
ou a gêneros do discurso. Nesse sentido, é o próprio Bakhtin (1997) que traça essa relação de
imbricação entre enunciado e gênero quando afirma que os gêneros do discurso são “tipos
relativamente estáveis de enunciados” (BAKHTIN, 1997, p. 279). Assim, faz-se necessário
primeiramente abordar enunciado para somente depois tratar de gênero.
Bakhtin (1997) apresenta três aspectos que caracterizam o enunciado, que são: a
atitude responsiva ativa, o acabamento do enunciado e o fato de que o enunciado é um elo na
cadeia de comunicação verbal. De acordo com Bakhtin (1997), todo discurso aponta para uma
atitude responsiva ativa, isto é, qualquer enunciado supõe uma resposta. Essa resposta pode se
apresentar de variadas formas desde a materialização em uma resposta fônica concreta até
uma compreensão responsiva muda. Nesse sentido, mais cedo ou mais tarde o que foi ouvido
ou lido encontrará um eco, seja através de uma ação, de um comportamento, de uma atitude
responsiva imediata ou retardada. Conforme o referido autor, o locutor ao expressar um
enunciado de forma alguma espera uma atitude passiva. Na realidade, o que ele espera é uma
concordância, uma adesão, uma objeção, uma execução, dentre outros atos. Nesse sentido,
esse tipo de ouvinte passivo proclamado pela lingüística geral não corresponde à figura real
na comunicação verbal.
Partindo do princípio de que os enunciados não são indiferentes uns aos outros,
tampouco auto-suficientes, compreende-se que o enunciado é um elo na cadeia da
comunicação verbal. Conforme Bakhtin (1997, p. 316):
O enunciado está repleto de ecos e lembranças de outros enunciados, aos quais está
vinculado no interior de uma esfera comum da comunicação verbal. O enunciado
deve ser considerado acima de tudo como uma resposta a enunciados anteriores
dentro de uma dada esfera (a palavra “resposta” é empregada aqui no sentido lato):
refuta-os, confirma-os, completa-os, baseia-se neles, supõe-nos conhecidos e, de um
modo ou de outro, conta com eles.
2
Sem a pretensão de explorar a diferença entre interdiscursividade e intertextualidade, ressalta-se apenas que
para Maingueneau (2000) o interdiscurso está para o discurso assim como o intertexto está para o texto. Nesse
sentido, interdiscursividade corresponde a um conjunto de discursos e intertextualidade a um conjunto de
relações implícitas ou explícitas que um texto mantém com os outros textos.
17
A expressividade, por sua vez, implica a não neutralidade dos enunciados, visto
que esse enunciado está inserido numa situação concreta de comunicação, nos quais os
falantes escolhem os recursos lingüísticos específicos para manifestar uma atitude emotivo-
valorativa. No dizer de Bakhtin (1997, p. 297):
As pessoas não trocam orações, assim como não trocam palavras (numa acepção
rigorosamente lingüística), ou combinações de palavras, trocam enunciados
constituídos com a ajuda de unidades da língua – palavras, combinações de palavras,
orações; mesmo assim, nada impede que o enunciado seja constituído de uma única
oração, ou de uma única palavra, por assim dizer, de uma única unidade da fala (o
que acontece sobretudo na réplica do diálogo), mas não é isso que converterá uma
unidade da língua numa unidade da comunicação verbal.
Nessa perspectiva, a oração como forma da língua não tem ligação direta com a
realidade, é neutra, haja vista suas palavras servirem a quaisquer situações. Como, por
exemplo, “que alegria!” pode num determinado contexto expressar uma satisfação ou uma
insatisfação. Nesse sentido, a oração não é passível de determinar uma atitude responsiva
ativa, a não ser quando compõe o todo de um enunciado.
3
É possível visualizar mais diretamente a atitude responsiva ativa frente aos editoriais de jornais através de
outros gêneros dentro do próprio jornal, tais como, cartas do leitor, notas de esclarecimentos, dentre outros.
Em fevereiro de 2004, o Sindjorce (Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Ceará), por exemplo, publicou
uma nota no jornal Diário do Nordeste, manifestando sua indignação diante das informações contidas no
editorial do jornal O Povo do dia 16 de fevereiro de 2004.
18
Quando Bakhtin (1997) refere-se a gêneros secundários, expõe que estes podem
ser materializados principalmente pela escrita. Essa afirmação, se não for devidamente
compreendida, pode gerar a concepção de que os gêneros primários estariam relacionados
com gêneros orais e os secundários com gêneros escritos. Pode se ilustrar tomando como
exemplo o seminário e o bilhete, o primeiro é um gênero de natureza oral, mas pertence ao
campo dos gêneros secundários, o segundo tem uma natureza escrita e faz parte dos gêneros
primários.
Bakhtin (1997) ao se referir a gênero aponta para três elementos que o constituem:
conteúdo temático, estilo e construção composicional. O conteúdo temático corresponde ao
conjunto de temáticas que podem ser abordadas por um determinado gênero. Não se entenda
aqui conteúdo temático como assunto, mas como um leque de temas que podem ser tratados
em um dado gênero. A construção composicional diz respeito à estruturação geral interna do
enunciado. O estilo, por sua vez, corresponde aos recursos lexicais, fraseológicos e
gramaticais utilizados pelo enunciador.
serão destacados a seguir o conceito de gênero e o modelo CARS (Create A Research Space),
que será testado na análise de editoriais de jornais.
1.2.1 Gênero
Para tratar de gênero, Swales (1990) faz uma retrospectiva do conceito nas
diversas áreas do conhecimento, ou seja, em estudos folclóricos, em estudos literários, em
lingüística e em retórica. Dessa pesquisa em quatro disciplinas diferentes, Swales (1990, p.
44-45) indica alguns pontos em comum sobre o conceito de gênero:
►Um gênero é uma classe de eventos comunicativos - Evento é aqui compreendido como um
ato comunicativo verbal no qual o aspecto verbal é uma parte essencial da atividade4. Os
eventos comunicativos podem ser extremamente comuns ou até relativamente raros,
contudo, precisam ter uma certa importância para poder se configurarem como um gênero.
Nesse sentido, um evento comunicativo ajusta sua linguagem ao meio ambiente de sua
produção e de sua recepção.
4
Para Swales (1990), atividades nas quais a fala é incidental como realizar atividades caseiras e dirigir não são
considerados eventos comunicativos.
21
► A base lógica que subjaz a um gênero estabelece restrições para contribuições possíveis
em termos de seu conteúdo, posicionamento e forma - O conjunto compartilhado de
propósitos comunicativos, em nível de consciência, é reconhecido pelos membros
estabelecidos de uma dada comunidade discursiva, ao passo que pode ser reconhecido
apenas parcialmente por membros aprendizes, e pode ser ou não reconhecido por não-
membros. Para Swales (1990), o reconhecimento de propósitos comunicativos evidencia a
existência de uma base lógica que produz convenções restritivas referentes à estrutura
esquemática do discurso, às escolhas sintáticas e lexicais, a atitudes e aos posicionamentos
que se esperam diante dos propósitos.
5
Segundo Swales (1992, p. 15), “as comunidades de discurso são redes sócio-retóricas que se formam para
trabalhar em direção a conjuntos de metas em comum. Uma das características que membros estabelecidos da
comunidade do discurso possuem é a familiaridade com os gêneros particulares que são usados no auxílio
comunicativo daqueles conjuntos de metas. Em conseqüência, os gêneros são as propriedades de comunidades
de discurso; ou seja, os gêneros pertencem à comunidade de discurso, não a indivíduos, outros tipos de
agrupamento ou a comunidades maiores de fala”.
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comunidade discursiva pode levar a três situações: um mesmo gênero pode mudar de nome
porque se realiza num cenário X ou Y; as ações que caracterizam um gênero já se
modificaram enquanto sua nomenclatura é a mesma; e há ainda a possibilidade de haver
gêneros sem nome. A partir desses seis aspectos, Swales (1990, p. 58) define gênero como:
O modelo de Swales (1990) ficou conhecido pela sigla CARS (Create a Research
Space - crie um espaço para a pesquisa). Através desse modelo, é possível constatar que cada
gênero tem seu propósito comunicativo que se materializa por movimentos discursivos ou
retóricos e que cada movimento retórico também serve a uma intenção comunicativa que por
sua vez é subserviente ao propósito comunicativo global.
6
Segundo Rabaca et Barbosa (1978, p. 440/463 apud SILVA, 2002) o título é definido como “palavra ou frase,
geralmente composta em corpo maior do que o utilizado no texto, e situada com destaque no alto de uma
notícia, artigo, seção, quadro, etc., para indicar resumidamente o assunto da matéria e chamar a atenção do
leitor para o texto”; já o subtítulo é visto como um título secundário que é “colocado imediatamente após o
título principal de uma matéria jornalística. É composto usualmente, em letras grandes, mas sempre menores
que os caracteres usados no título. Serve para destacar algum detalhe que completa o sentido do título do texto
e segue, geralmente, as mesmas formas de redação deste”.
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Segundo Adam (1992), a seqüência se caracteriza pelo fato de que pode ser
atualizada no texto mediante as exigências pragmáticas dos enunciados. Nesse sentido, as
seqüências são relativamente estáveis visto que atravessam todos os gêneros, ao passo que os
gêneros são essencialmente heterogêneos porque marcam situações sociais específicas. A
diferença fundamental entre gênero e seqüência é que esta é delimitável em um pequeno
conjunto de tipos, isto é, possui uma menor variabilidade. Por essa razão, para Adam (1991) é
possível definir um plano de organização textual estável que compõe os textos.
7
“La marquise a les mains douces, mais je ne l’aime pas.” (ADAM, 1992, p.105)
29
ligação entre um dado e uma conclusão. No exemplo supracitado, a inferência que se faz é:
“Os homens amam as mulheres que têm as mãos doces”. Para Adam (1992), as regras de
inferência são ancoradas em garantias ou suportes. O próprio autor expõe que essas garantias
ou suportes guardam uma certa correspondência com o que Ducrot (1987) denominou topos.
Essa comparação, contudo, não esclarece que mecanismos cognitivos são ativados para se
chegar a uma dada “garantia” ou “suporte”.
Adam (1992) acrescenta, todavia, uma “restrição” para que se possa entender a
conclusão explícita “mas eu não a amo”. Nesse caso, a regra de inferência é contradita, visto
que o que é ressaltado é o contrário da conclusão que se esperava. Daí Adam (1992)
considerar que as inferências têm um caráter de probabilidade, visto que podem ancorar um
certo número de “garantias” ou “suportes”, mas podem também não se aplicar porque há a
possibilidade de aparecerem as “restrições” ou “refutações”. O exemplo em tela apresenta um
esquema concessivo clássico, donde a proposição p leva justamente ao contrário da conclusão
esperada.
Conclusão q
Figura 2 – Esquema de um movimento argumentativo.
Fonte: Adam (1992, p. 106).
8
“Les hommes aiment les femmes qui ont les mains douces (28)
or La marquise a les mains douces (29)
DONC j’aime la marquise” (ADAM, 1992, p. 105)
30
9
Ao apresentar a seqüência argumentativa caracterizando-a como de ordem não-linear, Adam (1992) faz
comparação com a seqüência narrativa como sendo linear, contudo, ressalta-se que a seqüência narrativa
também pode não explicitar todas as macroproposições, como a avaliação, por exemplo.
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Seqüência argumentativa
TESE + DADOS Ancoragem portanto provavelmente CONCLUSÃO
Anterior (Premissas) das inferências (Nova) Tese
P. arg 0 P. arg 1 P. arg 2 a menos que P. arg 3
RESTRIÇÃO
P. arg 4
Figura 3 - Protótipo da seqüência argumentativa
Fonte: Adam (1992, p. 118)
a) A tese anterior (P.arg.0): é uma conclusão inicial que se pode fazer a partir das primeiras
informações (dados) fornecidas pelo texto. De acordo com Adam (1992), pode estar
subentendida;
c) A ancoragem de referências (P.arg.2): diz respeito aos “princípios” que dão sustentação
aos dados. São implícitos;
d) A restrição (P.arg.4): corresponde aos argumentos que levam a uma conclusão não-C,
oposta à conclusão que se esperava a partir da utilização das regras de inferência;
Segundo Adam (1992), esse esquema prototípico tem uma estrutura de base que
se resume a três macro-proposições (P.arg.1, P.arg.2 e P.arg.3). A ordem dos constituintes da
seqüência argumentativa não é imutável, haja vista a nova tese (P.arg.3) ter a possibilidade de
aparecer no início ou no final do texto. Vale salientar que das macroproposições apresentadas
por Adam (1992), a única que necessariamente precisa estar explícita são os dados (P. arg. 1),
todas as outras, inclusive a conclusão - nova tese (P. arg. 3), podem estar implícitas.
Uma outra questão que Adam (1992) ressalta é que em seu protótipo de seqüência
argumentativa não exclui a restrição (P.arg.4). A presença dessa macro-proposição é
explicada pelo princípio dialógico que permeia o discurso argumentativo. Assim, nas palavras
de Moeschler (1985, apud ADAM 1992, p. 18): “Um discurso argumentativo [...] sempre se
reporta a um contra-discurso efetivo ou virtual [...] Defender uma tese ou uma conclusão
implica sempre em defender outra contra-tese ou conclusão”.
32
10
O próprio Adam (1992) destaca que há uma unanimidade em considerar a descrição como ausente de qualquer
autonomia e que essa crítica permeia estudos que vão de Marmontel à Valéry.
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(1992), essa operação é mais comumente considerada como a base da descrição. Enquanto a
operação de ancoragem coloca em evidência o todo, a operação de aspectualização faz a
decomposição desse todo em partes. No caso do exemplo anterior são ressaltadas as seguintes
partes de Charlot, bigode e chapéu, e apresentadas suas respectivas propriedades, pequeno e
preto. Ressalta-se que há uma complementaridade entre os dois componentes do
procedimento de aspectualização. A macro-proposição de aspectualização pode ser ilustrada
através do esquema abaixo:
Charlot
Pd PART
Bigode chapéu
“Um rosto rosado, um pouco mole, o nariz redondo, e uma fronte imensa. Qualquer
coisa de uma virgem flamenga que teria esquecido sua touca.”12
12
“Um visage rose, um peu mou, le nez rond, et um front immense. Quelque chose d’une vierge flamande qui
aurait oublié as coiffe.”
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Tema-Título14
ANCORAGEM
própria (de dicionário) da seqüência descritiva. Contudo, o que parece é que é a orientação
argumentativa que direciona os elementos descritivos.
Um exemplo apresentado por Adam (1992, p. 139) pode exemplificar cada uma
dessas macroproposições textuais apresentadas anteriormente:
“[...] [a] Foi no ano de 1936 em que o naturalista J. E. Gray anunciou seu famoso
“paradoxo”, segundo ele a massa muscular dos golfinhos, levando em conta seu
tamanho e sua forma, era certamente incapaz de explicar as velocidades que estes
15
Adam (1992) afirma que a maior parte das seqüências em que aparece “como” não são explicativas.
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cetáceos atingiam efetivamente! [b]Ainda mais, segundo este paradoxo, são eles
bem incapazes de saltar!
[c] Acontece que, cada um destes animais saltam mesmo muito bem...[d] De que
maneira explicar esta distorção que existe entre os cálculos teóricos, irreprováveis,
as hidrodinâmicas, e a realidade a mais facilmente visível? [e] Várias hipóteses
foram emitidas sobre esse assunto. [f] Uma delas faz intervir as propriedades
particulares da pele dos cetáceos. [g] O que freia o avanço dos objetos nos fluidos
(água ou ar) são os turbilhões que esta progressão mesmo gera. [h] Acontece que, a
pele dos golfinhos e de seus primos têm a capacidade, em se deformar localmente de
modo reflexo, de “destruir” as turbulências parasitas. [i] Resultando um escoamento
da água em torno do seu corpo, [j] isso que explicaria suas performances
extraordinárias.[...]”16
16
“[...] [a] C’est em 1936 que le naturaliste J. E. Gray énonça son fameux “paradoxe”, d’après lequel la masse
musculaire dês dauphins, compte tenu de leur taille et de leur forme,átait tout à fait incapable d’expliquer lês
vitesses que ces cétacés atteignent effectivement! [b] A fortiori, selon ce paradoxe, sont-ils bien incapables de
sauter!
[c] Or, chacun sait que ces anumaux même très bien...[d] Comment expliquer cette distorsion qui existe entre lês
calculs théoriques, irreprochables, des hydrodynamiciens, et la réalité la plus aisément visible? [e]Plusieurs
hypothèses ont été émises à ce sujet.[f]L’une d’elles fait intervenir lês propriétés particulières de la peau das
cétacés.[g]Ce qui freine l”avancementdes objets dans les fluides (eau ou air) ce sont les tourbillons que cette
progresión même engendre.[h] Or, la peau des dauphins et deleurs cousins aurait a capacité, en se déformant
localement de façon reflexe, de “tuer” les turbulences parasites. [i] Il en résulteriat um écoulement quase
laminaire de l’eau autour de leur corps,[j]et c’est ce quiexpliquerait leurs performances extraordinaires[...]”
39
principalmente porque Adam (1992) não pretende apenas reduzir os textos reais a uma
classificação tipológica. O fato é que devido a essa heterogeneidade podem-se encontrar
seqüências explicativas dominantes, seqüências explicativas dominadas ou ainda um
imbricamento de seqüências que torna muitas vezes difícil separar os limites das seqüências.
Tendo em vista essa realidade, Adam apresenta um exemplo de uma propaganda na qual a
seqüência explicativa é a estrutura textual escolhida pelo publicitário para convencer o
auditório a comprar determinada marca de eletrodomésticos. Um outro exemplo interessante é
a explicação de um fato que apresenta a macroproposição explicativa 2 numa estrutura textual
narrativa. O que se quer propor através desses exemplos é que mais que uma forma, as
seqüências devem ser consideradas uma função textual, mesmo considerando que existam
protótipos que se caracterizem mais formalmente. Por outro lado, a apresentação de um
protótipo de seqüência explicativa exclui, segundo Adam (1992), a elaboração de mais um
tipo textual: a seqüência “expositiva”. Para Adam (1992) o texto expositivo estaria de acordo
com sua organização textual materializando seqüências descritivas ou seqüências explicativas.
► o texto interpretativo apresenta fatos propondo ligações entre eles que o conduzem a vários
entendimentos possíveis, seja através da relação de causa/conseqüência, de analogia, de
aparência, de essência;
► o texto opinativo apresenta uma versão para um conjunto de fatos. Esses fatos podem ser
mencionados ou não.
17
Para Bonini (2003), a história de interesse humano é um aspecto que pode compor a reportagem e não um tipo
ou subtipo de reportagem.
41
de informação que encerram. Por outro lado, nos textos opinativos é reservada ao leitor
apenas a função de concordar ou não com a opinião expressa. Nesses termos, um texto
interpretativo possibilita a produção de algumas conclusões, enquanto que no opinativo não
há esse espaço. Para ilustrar essas afirmações, Lage (2003) apresenta os seguintes exemplos:
Texto interpretativo
Admitamos que junto três fatos, por hipótese verdadeiros, na mesma matéria:
(a) O Presidente Fernando Henrique Cardoso tem a maior rejeição pública da
história brasileira;
(b) O Primeiro-Ministro Winston Churchill tinha a maior rejeição pública inglesa
logo antes da Segunda Guerra Mundial;
(c) Churchill conduziu a Inglaterra à vitória na guerra.
Texto opinativo
Admitamos que escrevo:
À semelhança de Churchill, que viveu momentos de rejeição popular sem
precedentes antes de alcançar a glória política no contexto da Segunda Guerra
mundial, Fernando Henrique está pagando o preço de sua coerência e da persistência
com que se empenha na defesa do interesse nacional. Mas o futuro imediato, tal
como aconteceu com o Primeiro ministro inglês, logo o reporá no lugar merecido.
De acordo com o referido autor não se trata de uma argumentação voltada para
perceber as reivindicações da coletividade e expressá-las. Significa muito mais um trabalho de
“pressão” ao Estado para a defesa de interesses dos segmentos empresariais e financeiros que
representam. Assim, o editorial de hoje está longe de ser a voz do dono ou da emissora de
radiodifusão. Em organizações de pequeno e médio porte, até é possível que o editorial
represente a “voz do dono”, visto que o controle financeiro fica nas mãos de um proprietário e
de sua família.
Um outro aspecto que Lage (2003) ressalta é sobre a questão das escolhas
lexicais, o editorialista pode utilizar um vocabulário mais específico, ao contrário dos textos
noticiosos em que essa seleção seria inadmissível. Em outras palavras, editoriais de jornais
podem conter um léxico mais específico, como, por exemplo, palavras concernentes à área de
Economia, enquanto que em notícias isso já não é possível.
44
c) nota: é um registro crítico e ligeiro de uma ocorrência, tem o objetivo de prevenir o leitor
sobre as conseqüências de um determinado fato. É considerada um lembrete sobre este ou
aquele acontecimento. A nota pode surgir em qualquer parte do jornal e em regra é escrita em
negrito.
a) promocional: os fatos que analisa e explica estão em consonância com a política editorial
do jornal. Seu objetivo é convencer a comunidade;
Na categoria topicalidade não fica claro qual o critério utilizado para distinguir o
editorial preventivo, do editorial de ação e do editorial de conseqüência. As definições
apresentadas por Beltrão (1980) são pouco esclarecedoras na medida em que enfocam pontos
que caracterizam o editorial de jornal de uma forma geral. Por outro lado, é inteiramente
subjetivo mensurar se uma dada situação ou circunstância abordada no editorial produziu
conseqüências na sociedade, comentando-se especificamente aqui a definição do editorial
preventivo, por exemplo. Na categoria conteúdo, o critério é bem objetivo, contudo são as
definições que estão confusas. Considerar, por exemplo, um editorial como informativo é
46
pressupor que os demais não são. Considerar, ainda, um editorial como capaz de aumentar os
conhecimentos dos leitores é também pressupor que os demais não tenham essa possibilidade.
Em suma, as críticas mais gerais que se pode fazer a essa classificação são a falta
de esclarecimento de critérios que estão sendo utilizados nas categorias, uma mistura de
critérios em uma mesma categoria, ou, ainda, uma abordagem subjetiva de algumas
definições. Espera-se que o estudo da organização textual argumentativa, especificamente, à
análise da distribuição das informações e das seqüências textuais, possa trazer contribuições
capazes de fornecer uma interpretação estrutural para o gênero.
18
De acordo com Brito (1994), por volta de 1968 surge na Alemanha a Estética da Recepção. Esta corrente
teórica tem como foco o leitor, fazendo dele um elemento funcional e produtor do texto. Na visão da autora:
“Nenhum ato comunicativo pode ignorá-lo, pois a um tempo ele é sujeito e objeto desse mesmo ato (sujeito da
relação diádica e objeto do próprio ato de fala). É sujeito enquanto pressupõe um repertório de conceitos, de
esquemas, de normas que o remete ao seu mundo de experiências; é objeto enquanto intenção comunicativa,
possibilidade de verbalização e de recepção” (BRITO, 1994, p. 67).
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Na visão dessa autora, os editoriais são constituídos de uma teia dialética na qual a
tese é a afirmação (o que está explicíto) e a antítese é a negação (o que está implícito). Assim,
se tem a presença de dois discursos: um superficial e um profundo. Para que o editorialista
consiga atingir o leitor, faz-se necessária uma interação dialógica entre ambos, produtor e
leitor, a partir de uma interseção do repertório de um e de outro. É possível se construir, então,
um jogo comunicativo nos quais os participantes interagem e exercem pressões mútuas um
sobre o outro. Segundo Brito (1994, p. 175):
(...) o jornal visa a convencer o leitor, o leitor, convencido, sustenta o jornal. Por
conseguinte, ambos se necessitam. De onde se conclui que deverá haver uma
semiose, uma vez que sem ela, o jornal se invalida por falta de instauração de
sentido do leitor.
O receptor, por sua vez, precisa fazer duas leituras: uma da superfície discursiva
explícita nas asserções do enunciado e a outra da superfície em profundidade. Assim, depois
de ler o texto, o leitor assume determinado posicionamento produzindo o efeito desejado pelo
editorialista (o ato perlocucional). A natureza da perlocução depende da interpretação
pragmática do público de interesse (leitor empírico do editorial), uma vez que a dialética do
editorialista está elaborada no próprio tecido enunciativo.
19
Segundo Brito (1994), os brancos semânticos correspondem aos implícitos presentes no texto editorial e que
devem ser preenchidos pelo leitor na construção do sentido do texto.
48
informações em editoriais de jornais. Por outro lado, a relação entre implícito e explícito será
também explorada, principalmente por que os protótipos das seqüências textuais propostas
por Adam (1992) preconizam a existência de algumas macroproposições implícitas.
Vale ressaltar que a noção que Nascimento (1999) tem de inserção é de um modo
de organização textual que pode ser descritivo ou narrativo e não se constitui uma categoria
textual predominante dentro de um movimento argumentativo. Pode-se afirmar que a
perspectiva teórica de Adam (1992) sobre as noções de seqüência textual possibilitou uma
análise em maior profundidade do processo de heterogeneidade textual e de inserção de
seqüências, tendo em vista que o referido autor vai além do que Nascimento (1999, p. 22)
propugna como “trechos narrativos ou descritivos dentro de um texto eminentemente
argumentativo”. Os próprios protótipos construídos por Adam (1999) possibilitaram uma
análise mais específica da composição da superfície textual em editoriais de jornais. Assim,
contrapondo-se às conclusões de Nascimento (1999) não se verificou a presença da seqüência
narrativa na estrutura textual de editoriais de jornais. De acordo com a tipologia proposta pelo
autor, o que Nascimento (1999) considera narração (fato ou acontecimento) não se
caracterizaria como uma seqüência narrativa.
20
Para Nascimento (1999), as inserções se constituem segmentos descritivos ou narrativos que estão a serviço da
argumentação.
51
Em suma, Nascimento (1999, p. 141) afirma que o Jornal do Brasil organiza seu
editorial da seguinte forma:
aquele que é um editorial, isto se deve ao fato de haver uma superestrutura convencionada
para ele, capaz de defini-lo como um tipo específico de texto do discurso jornalístico.
Editorial
Capítulo 3 – Metodologia
editoriais selecionados de cinco jornais na versão on-line, sendo cada jornal de uma região
diferente do Brasil. Justifica-se essa quantidade por se considerar que é um número razoável
capaz de levar a resultados consistentes na abordagem indutiva. Objetivando trabalhar com
um corpus que representasse editoriais de todo o Brasil, optou-se por analisar um universo
composto por editoriais oriundos de jornais de cada uma das regiões do Brasil.
Um critério para a seleção dos jornais foi o fato de estes integrarem a lista do IVC
(Instituto Verificador de Circulação) e estarem classificados entre os quarenta jornais mais
lidos do Brasil. A escolha de editoriais que possuem versão on-line justificou-se pelo critério
da acessibilidade21, ou seja, através da internet é mais fácil ter acesso ao corpus. Os jornais
selecionados foram os seguintes: “O Povo” em Fortaleza, “O Liberal” em Belém, o “Jornal do
Brasil” no Rio de Janeiro, o “Correio do Povo” em Porto Alegre e o “Correio Brasiliense” em
Brasília. Ressalta-se que o acesso aos editoriais desses jornais não se restringia a usuários de
um determinado provedor, através dos respectivos sites foi possível compilar o corpus da
pesquisa.
21
O critério da acessibilidade para a seleção do corpus é utilizado por alguns pesquisadores, tais como: Motta-
Roth (1995) e Bezerra (2001).
22
O conteúdo temático abordado em editoriais de jornais refere-se a tópicos nacionais, internacionais, estaduais
e municipais de natureza social, política ou econômica dentre outros assuntos de menor relevância.
58
Para dar conta de uma proposta de organização retórica dos editoriais, partiu-se do
pressuposto de que o gênero editorial de jornal tem uma natureza argumentativa e nesse
sentido, realizaram-se os seguintes procedimentos numa primeira etapa:
23
Esclarece-se que se adotou o mesmo processo de nomeação das unidades e subunidades retóricas de Biasi-
Rodrigues (1998). Para as unidades retóricas utilizou-se expressões nominais e as subunidades expressões
predicativas com o verbo no gerúndio. Segundo a autora essa forma de nomeação evidencia “uma clara divisão
entre o produto e o processo, considerando-se que nem tudo pode fazer parte de um esquema de representação
de um dado tipo de texto e que as estratégias de condução das informações podem variar de sujeito para
sujeito” (BIASI-RODRIGUES, 1998, p. 121).
24
Utilizou-se a mesma terminologia de Biasi-Rodrigues (1998), os moves serão tratados como unidades retóricas
e os steps como subunidades retóricas.
59
observações de freqüência das unidades retóricas em pesquisas que tinham como objetivo a
descrição de um padrão de organização retórica de um dado gênero textual. Quanto às
subunidades optou-se por não se definir um padrão percentual devido à volatilidade observada
dos percentuais nessas mesmas pesquisas27.
27
Em Biasi-Rodrigues (1998), observou-se subunidades retóricas com um padrão de realização de 54,40%,
como também de 9,70%, já em Bezerra (2001) verificou-se percentuais que variavam entre 73,33% até 3,3%.
61
28
Essa decisão metodológica embasou-se nas análises seqüenciais realizadas por Adam (1992) na apresentação
de seus protótipos.
62
d) sistematização da relação entre cada unidade retórica com cada uma das macroproposições
argumentativas;
Fica, pois, evidente que “o próprio autor leva em conta aquele a quem a obra é
orientada e que, por conseqüência, intrinsecamente determina a estrutura da obra”
(BAKHTIN, 1926, p. 11 apud BRAIT, 2003). Nessa perspectiva, a argumentação em
editoriais alimenta-se da dimensão interacional da linguagem na medida em que o texto é
produzido estrategicamente a partir de um jogo de imagens30 que o editorialista tem de seus
interlocutores.
E06 “As Forças Armadas foram relegadas ao fim da fila, numa política de terra arrasada.
Chegou a hora de receberem a atenção que merecem num país de dimensões continentais. O
presidente Lula deu excelente passo ao adotar o critério de antiguidade na escolha dos
comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. Acertou também ao nomear o
embaixador José Viegas para o Ministério da Defesa. Caberá a Viegas resgatar o prestígio das
Forças Armadas.” (Un2) (Jornal do Brasil, 29/12/2002)
A tese defendida no E06 de que o governo Lula deve “resgatar o prestígio das
29
Essa visão do leitor de editoriais de jornais baseia-se em Melo (1985).
30
Osakabe (2002) salienta a importância da imagem que se fazem mutuamente destinador e destinatário e
apresenta um esquema desenvolvido por M. Pêcheux e ampliado por ele.
31
Os exemplos dos editoriais citados na presente dissertação não foram alterados, ou seja, não se fez nenhuma
revisão gramatical a fim de não modificar a originalidade destes.
65
Forças Armadas” revela a quem se destina realmente o editorial (ao governo), inclusive o
jornalista expressa claramente a quem deve estar incumbido desse papel (o Ministro José
Viegas). Um outro exemplo do diálogo entre a empresa jornalística e o Estado pode ser
verificado no E11 quando o enunciador apresenta as “escolhas certas” que o governo Lula
deveria fazer para beneficiar-se da guerra entre os EUA e o Iraque.
E11 “Sem dúvida, o governo Lula posicionou-se corretamente em relação à guerra. Mas
poderia tirar do momento internacional proveito ainda maior. É hora de efetuar um ataque
frontal às deficiências da economia. Se o Brasil fizer sacrifícios agora, sairá mais forte doa
conflito que se anuncia.
O clima de economia de guerra permitirá que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva adote três
providências básicas. A primeira delas - se necessário - será um choque de juros para reverter
a expectativa inflacionária. Contra o risco de alta generalizada dos preços, não bastará
aumentar os juros em meio ponto percentual. A dose deverá ser muito mais forte.
Outra medida - aparentemente antipática - será o corte radical das despesas públicas. Mesmo
que sejam preservados os gastos de cunho social, nada impedirá que outras áreas da
administração pública passem pelo fio do facão. O aumento dos impostos está fora de
cogitação. É alternativa esgotada, como mostra o editorial abaixo.
“Todas as esferas da atividade humana, por mais variadas que sejam, estão sempre
relacionadas com a utilização da língua. Não é de se surpreender que o caráter e os
modos dessa utilização sejam tão variados como as próprias esferas da atividade
humana, o que não contradiz a unidade nacional de uma língua. A utilização da
língua efetua-se em forma de enunciados (orais e escritos), concretos e únicos, que
emanam dos integrantes duma ou doutra esfera da atividade humana”
estilo individual em editoriais de jornais. Admite-se que o editorial de jornal por ter um papel
dentro da esfera jornalística de indicar a opinião oficial de uma empresa diante dos fatos de
maior repercussão no momento, conduz à utilização de um determinado estilo geral, ou seja, a
utilização de recursos lingüísticos específicos (a impessoalidade, ausência de assinatura dentre
outros). Contudo, a capacidade de persuasão e o poder de convencimento que está nas mãos
do editorialista é que imprime ao editorial um estilo individual de conduzir a argumentação.
Nesse sentido, a forma como os argumentos são apresentados, como as palavras são buriladas
no editorial “produzem enunciados que dão idéia ou imagem de grandeza, quantidade,
indignação, repúdio, insatisfação ou não” (BRITO, 1994, p. 57).
E02 “Nessa época, esbarrando na falta de habilidade para as negociações políticas, ela
avançou pouco, deixando de fora alguns pontos fundamentais. Não conseguiu criar uma
previdência básica universal nem adotar o sistema único, onde há um teto de até dez salários
mínimos para a aposentadoria de todos os trabalhadores. Sejam eles do serviço público ou da
iniciativa privada.
Mesmo parando aí, a reforma já apresentou resultados. Por exemplo, evitou que o
rombo nas contas do INSS chegasse a R$ 32 bilhões em 2002. Mas o problema não foi
resolvido. Foi empurrado para a frente. E o rombo da previdência tende a subir do atual 1,3%
do PIB para 2,5%, dentro de 30 a 40 anos.
Pode-se dizer que há muito tempo para resolver a questão, antes do desastre final. Mas a
verdade é outra. Não se deve esquecer que o desequilíbrio nas contas da previdência tem sido
um dos adubos que fertilizam e dão vigor ao déficit público, uma das causas da inflação.
32
Segundo Cunha (2002, p. 168), “o termo dialogismo tem uma pluralidade de sentidos. Além disso, foi
traduzido por intertextualidade, o que provoca uma certa confusão entre os conceitos. Alguns autores utilizam
o conceito de intertextualidade para se referir às inserções de outras vozes no texto, na forma de citação,
paráfrase, alusão, entre outras. Esse mesmo fenômeno é também chamado de polifonia ou discurso reportado”.
67
A reforma é inadiável. O PT, enquanto era oposição, cumpriu o papel de bombardear seus
aspectos mais impopulares, como a proposta de mudança no regime de aposentadoria dos
servidores públicos. Mas agora o PT é governo, e suas lideranças já percebem que é
necessário enfrentar o problema. O que não será tão difícil, mesmo porque alguns caminhos já
têm sido sugeridos pelos resultados da reforma parcial.” (Jornal do Brasil, 10/12/2002)
E05 “A nova alta das taxas de juros básicas, para 25% ao ano, provocou choro e ranger de
dentes. Reverberando o sentimento dos empresários, o vice-presidente eleito José Alencar
afirmou que, no nível em que se encontram, os juros ''são um despropósito; mais do que isso,
um assalto''. (Jornal do Brasil, 22/12/2002)
E08 “O novo diretor da Polícia Federal ostenta currículo profissional que o habilita à tarefa a
que se propõe. Currículo, disposição e apoio do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos,
que é do ramo. Advogado criminalista há mais de 40 anos, acompanhou profissionalmente a
escalada do crime, e prega mudanças em nome de ''milhões de destituídos carentes de
segurança pública''. (Jornal do Brasil, 10/01/2003)
princípio de que “a verdadeira substância da língua não é constituída por um sistema abstrato
de formas lingüísticas nem pela enunciação monológica isolada, nem pelo ato psicofisiológico
de sua produção, mas pelo fenômeno social da interação verbal, realizada através da
enunciação ou das enunciações” (BAKHTIN, 1997, p.123).
33
Na seção que tratará da padronização e da flexibilidade na distribuição das informações em editoriais serão
apresentados os índices quantitativos que justificam por que a organização retórica que se propõe é de caráter
heurístico.
69
adaptação do modelo CARS (Swales, 1990) para o gênero editorial de jornal, haja vista o
autor considerar a realização dessa opcionalidade somente entre as subunidades de uma
mesma unidade34.
A unidade retórica 1 (Un1) recebe esse nome porque é o espaço que o editorialista
tem para contextualizar o leitor apresentando uma informação relacionada com a temática,
mas que não se constitui argumento da tese. Essa contextualização pode ocorrer de diferentes
formas, isto é, através da realização de uma ou duas subunidades concomitantes ou não.
A subunidade 1.1 tem como função retórica apresentar uma informação que
possibilite a introdução da argumentação. Seu conteúdo proposicional pode ser realizado a
partir da apresentação de um fato ou acontecimento da atualidade, de dados estatísticos,
dentre outros. É através do conteúdo dessa unidade que se pode iniciar a discussão da tese.
Considera-se, portanto, um ponto de partida para a argumentação.
A unidade retórica 2 (Un2) recebe esse nome porque é o espaço que tem o
editorialista para convencer o leitor. Os argumentos utilizados pelo editorialista podem ser
apresentados de diversas formas, tais como: fatos, exemplos, citações, dados estatísticos,
dentre outros. Assim, os recursos lingüísticos utilizados são bastante diversificados.
34
A opcionalidade das unidades retóricas foi inicialmente apresentada por Silva (2002) na descrição da
organização retórica dos gêneros notícia e reportagem.
70
E43
Situação Delicada
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva terminou o primeiro mês de governo com 83% de apoio popular e
ferrenha oposição — de poucos, mas bastante barulhenta — dentro do próprio partido, o PT. [Sub. 1.1] A
contradição, até aqui sem maiores conseqüências, terá nova dimensão de hoje em diante.
Esta semana é de negociações com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Na próxima segunda-feira, o novo
Congresso, eleito em outubro do ano passado, começa a trabalhar. As reformas estruturais, fundamentais para o
sucesso do governo, estarão em foco. E o apoio de seus partidários é o ponto de partida mínimo que o presidente
precisa para mudar o país.
O PT, portanto, tem pouco tempo para se acertar. A história da legenda, que completa 23 anos nesta terça-feira, é
de intensa disputa interna entre facções e tendências. Mas também de respeito à decisão da maioria. O partido
não pode tornar-se indisciplinado justamente quando chega ao poder.
Os compromissos da campanha de Lula foram claramente explicitados em sua Carta ao Povo Brasileiro,
divulgada em 22 de junho do ano passado, três meses antes do primeiro turno das eleições. Ali o candidato
prometeu manter a estabilidade e cumprir contratos. Os que agora cobram dele postura diferente da apresentada
de duas, uma: não votaram ou não acreditaram nele. Também estava claro que o governo seria mais amplo que o
PT. Afinal, o vice-presidente, o empresário mineiro José de Alencar, é do Partido Liberal.
Na última semana, os radicais petistas agravaram as provocações ao governo. O deputado João Babá (PA)
apelou para a grosseria ao dizer que nem como médico confia no ministro da Fazenda, Antonio Palocci, formado
em medicina. Suspeita-se, ainda, que Palocci tenha sido grampeado pelos rebeldes em reunião fechada com a
bancada do partido na Câmara. No caso, o tiro errou o alvo. O ministro foi inflexível na defesa do programa de
governo, que, segundo ele, não foi feito apenas para ganhar a eleição, mas para governar.[Sub.2.1]
Com o recrudescimento de sua ação, os rebeldes se tornam mais que uma preocupação para o PT. Embora
poucos — somam 35 entre os 91 deputados do partido e quatro dos 14 senadores —, eles podem comprometer a
aprovação das reformas tributária e previdenciária, pretendidas ainda para este ano. No mínimo, deixam delicada
a situação do governo, que, antes de negociar apoios no Congresso, se verá diante do constrangimento de ter que
explicar por que não convence sequer os próprios aliados. (Correio Brasiliense, 11/02/2003)
A unidade retórica 3 (Un3), por sua vez, expressa com bastante clareza a opinião
defendida pela empresa jornalística de que os rebeldes do PT colocam o partido numa
“situação delicada” de modo a comprometer a governabilidade do país.
Pode-se afirmar que essa unidade foi uma das que mais apresentou dificuldades na
identificação das informações que nela poderiam estar presentes, principalmente, porque seu
conteúdo proposicional não poderia ser considerado um argumento da tese defendida pela
empresa jornalística. Enquadrar essas informações na unidade retórica 2 se tornava
complicado, na medida em que seu conteúdo proposicional não se encaixava com as
definições previstas para essa unidade. E o que é mais interessante ressaltar é que não se
podia, por outro lado, desconsiderá-la, visto que a freqüência de aparecimento desta unidade
era de alguma forma relevante.
E56 “O mundo ouviu com atenção a intervenção do secretário de Estado, Collin Powell, no
Conselho de Segurança da ONU, sobre a crise no Iraque. O relatório fundamenta, com fotos e
gravações, a acusação de que o Saddam Hussein está enganando a equipe de inspetores das
Nações Unidas que investiga a existência de armas de destruição em massa no país,
apresentando para isso resultados obtidos pelos serviços de inteligência.” (O Povo,
06/02/2003)
E37 “Qualquer reforma constitucional atinge interesses. As reações, por isso, são naturais e
previsíveis. A parte que se sente prejudicada recorre a todos os meios para evitar que as
perdas se concretizem. Quando o movimento abarca diversos setores, a união de forças pode
inviabilizar o processo.
E60 “O assassino, de acordo com testemunhas, foi o empresário Paulo Expedito Rebouças,
proprietário de uma locadora de carros, que teria atirado na cabeça da vítima, o flanelinha
José Humberto Gomes da Silva, depois de este ter produzido um risco na lataria de uma
camionete Hilux de sua propriedade.” (O Povo, 13/02/2003)
Por outro lado, tendo em vista que um dos objetivos do presente trabalho é
identificar as unidades retóricas do editorial em virtude de sua natureza argumentativa,
questiona-se sobre a argumentação existente nesse bloco de informações. Indaga-se se as
informações apresentadas nessa unidade podem ser consideradas apenas um pretexto para
levantar uma determinada tese e/ou se a forma como elas são apresentadas ao leitor já
direcionam a argumentação. Pela análise dos dados, acredita-se que nenhuma informação
apresentada no editorial pode estar totalmente desconectada da função argumentativa. Nesse
75
sentido, pode-se afirmar que a Un1 (contextualização do tema) apresenta uma natureza
argumentativa35, porém de forma diferente da Un2 (argumentação sobre a tese). Essa
afirmação se justifica, provavelmente, pelo objetivo ilocucionário dessa subunidade:
contextualizar o leitor sobre a temática do editorial.
As estratégias utilizadas pelo editorialista para realizar essas duas subunidades são
bastante diversificadas. O editorialista pode apresentar exemplos, dados estatísticos,
perguntas, enfim ele utiliza uma gama de possibilidades para a condução de informações
nessa unidade. Os excertos abaixo indicam algumas formas de conduzir as informações na
Sub 2.1 (argumentando convergentemente):
35
A natureza argumentativa dessa unidade será melhor esclarecida na aproximação entre as unidades retóricas e
o protótipo de seqüência argumentativa de Adam (1992).
76
E37 “Outra questão relevante: o governo vai enxertar despesas de caráter eminentemente
social como custos previdenciários?” (Correio Brasiliense, 19/01/2002)
E37 “Mais. O sistema de financiamento far-se-á apenas com contribuições dos segurados? Ou
a estas se acrescentarão receitas de caráter tributário como o Cofins?” (Correio Brasiliense,
19/01/2002)
E27 “Especialista em ações contra o tráfico de drogas na América Latina e na Ásia e uma das
maiores autoridades do Brasil na área, o juiz Walter Fanganiello Maierovitch, admite que a
legislação brasileira é boa para reprimir, por exemplo, a lavagem de dinheiro. No entanto,
essa mesma legislação não qualifica a organização criminosa como deveria. As quadrilhas e
bandos terminaram. Transformaram-se em organizações regionais. O problema, diz o juiz, é
de segurança nacional.” (Correio do Povo, 21/01/2003)
E34 “Importa lembrar que também Fernando Henrique Cardoso passou por esse processo de
mudança ao solicitar que a opinião pública esquecesse as teses de Sorbonne e as substituísse
por outras.” (Correio do Povo, 03/03/2003)
E54 “De acordo com dados de 1999, os analfabetos no Brasil representariam 13,3% de 169,6
milhões de habitantes antes do Censo 2000. A menor taxa do continente é a da Argentina,
3,1% de 37,5 milhões de pessoas em 2001. Seguida por Cuba, 3,6% de 11,2 milhões de
moradores em 2000. São países, porém, com muito menor densidade populacional do que o
Brasil. Entretanto, um modelo que poderia ser analisado pelos brasileiros é o das Filipinas.
Nação do Terceiro Mundo, tinha 4,6% de analfabetos, com os habitantes somando 77,1
milhões, em 2000.” (O Povo, 25/01/2003)
Optou-se por citar três excertos do E37 para apresentar ao leitor com mais clareza
a estratégia utilizada pelo editorialista para conduzir os argumentos da Sub 2.1 (argumentando
convergentemente). A tese defendida pelo editorialista é de que a reforma da Previdência só
dará certo se o governo esclarecer quais os princípios que irão norteá-la. Para chegar a tal
conclusão o jornalista instaura um clima de não esclarecimento desses princípios através do
uso de perguntas. Sua escolha lingüística (o uso de perguntas) reflete a falta de definições por
parte do governo dos princípios que irão nortear a reforma da Previdência.
36
Segundo Koch (2000) o argumento de autoridade é um mecanismo discursivo que utiliza atos ou julgamentos
de uma pessoa ou de um grupo de pessoas como meio de prova em favor de uma tese.
77
argumento inquestionável, visto que quem fala tem embasamento para tal.
E19 “Se o debate não for conseqüente, se o discurso se mantiver canibalista, se as propostas
espelharem os voluntarismos e as utopias que cada um alimenta e se as disposições
individuais não se somarem à vontade geral, será absolutamente inócuo esperar que as tão
almejadas reformas se tornem, de fato, realidade.” (O Liberal, 23/02/2003)
E22 “Se a violência se sobrepuser à observância estrita dos direitos de terceiros, dificilmente
conseguirá o Ministério do Desenvolvimento Agrário conduzir a política de reforma agrária
dentro de parâmetros que aliem os ideais de justiça social ao imperativo de manter a ordem e
zelar pelo respeito à democracia. E aos limites que ela impõe.” (O Liberal, 08/03/2003)
chega a abalar a tese defendida, mas alerta para futuros problemas que poderão ser
enfrentados pelos consumidores advindos dessa fusão. O excerto abaixo ilustra:
E42 “Mas, para que o consumidor também saia ganhando, é preciso que o Cade evite abusos.
Afinal, a nova empresa já nasce com o domínio de 70% do mercado interno.” (Correio
Brasiliense, 08/02/2003)
37
Segundo Nascimento (1999, p. 21), a concessão “é um recurso argumentativo através do qual se finge
conceder razão à tese oposta para em seguida apresentar uma restrição a ela. Funciona como um argumento
contrário à tese defendida”.
38
Nascimento (1999) utiliza a terminologia de Boissinot (1994) quando se refere à argumentação expositiva.
Segundo Nascimento (1999, p. 158 apud BOISSINOT (1994), “na argumentação expositiva, o argumentador
demonstra convicção diante de seus posicionamentos, por isso assume o papel de uma “autoridade”
incontestável. Se o seu discurso representa a fala de uma autoridade, não há espaço para a voz do outro, ou
melhor, do adversário, portanto não são feitas concessões.”
79
posição do jornal).
E03 “As autoridades têm que entender que não se pode fazer política à custa da vida alheia.”
(Jornal do Brasil, 11/12/2002)
E04 “O Brasil tem de alargar o campo da visão. Deve olhar para quem está ganhando e para
quem está perdendo. E, então, decidir onde vai perder e onde vai ganhar.” (Jornal do Brasil,
15/12/2002)
E51 “É preciso, antes de tudo, que a legislação seja cumprida.” (O Povo, 09/01/2003)
E02 “O que é preciso é vontade política para que a reforma seja finalmente concluída.”
(Jornal do Brasil, 10/12/2002)
39
Segundo Koch (2000, p. 138), modalizadores são “todos os elementos lingüísticos diretamente ligados ao
evento de produção do enunciado e que funcionam como indicadores das intenções, sentimentos e atitudes do
locutor com relação ao seu discurso. Estes elementos caracterizam os tipos de atos de fala que deseja
desempenhar, revelam o maior ou menor grau de engajamento do falante com relação ao conteúdo
proposicional veiculado, apontam as conclusões para as quais os diversos enunciados podem servir de
argumento, selecionam os encandeamentos capazes de continuá-los, dão vida, enfim, aos diversos personagens
cujas vozes se fazem ouvir”.
80
posição do jornal) é que essa unidade pode aparecer mais de uma vez, como também não estar
textualizada. No primeiro caso, acredita-se que essa estratégia utilizada pelo editorialista
tenha como objetivo reforçar o ponto de vista que está sendo defendido. Os exemplos abaixo
ilustram a realização da Un3 (indicação da posição do jornal) em várias passagens do E52.
E52 “Além disso, faz-se necessária uma discussão ética e, por isso mesmo delicada, levando-
se em conta a diversidade de opiniões sobre o assunto, partindo de sociólogos, educadores,
psicólogos e religiosos.” (O Povo, 23/01/2003)
E52 “Sem cair no moralismo de fachada, o tema precisa ser discutido com toda a seriedade.”
(O Povo, 23/01/2003)
E49 “Os condomínios de luxo das grandes cidades brasileiras, incluindo a capital cearense,
mas principalmente do Rio de Janeiro, tornaram-se literalmente verdadeiras fortalezas.” (1ª
passagem) (O Povo, 14/12/2003)
E49 “Mas o que deve ser levado em conta, também como um dos fatores negativos no
episódio contra a mãe e a irmã de Ronaldo, é resultado da conversão de condomínios em
cidadelas. Nesse caso, a questão de segurança acaba feudalizando uma opção de moradia que,
a princípio, tinha a intenção de assegurar privacidade aos condôminos, mas que,
lamentavelmente, agrava desigualdades sociais.” (2ª passagem) (O Povo, 14/12/2003)
Por outro lado, a Un3 (indicação da posição do jornal) pode ser inferida dos
argumentos apresentados, haja vista não estar textualizada no editorial. Essa hipótese já tinha
sido aventada por Lage (2003) e confirmada na análise do corpus. Nascimento (1999, p. 114)
também se pronuncia sobre a questão afirmando:
(...) a existência da tese é condição sine qua non para que haja argumentação. Isso
81
implica que esse constituinte por ser essencial, deve estar presente nas linhas ou nas
entrelinhas de um texto argumentativo, ou seja, pode ser representado por asserção
expressa ou subtendida. (...) Cabe, portanto, ao leitor, em sua interação com o texto
inferir algumas informações não dadas.”
E33
Medidas incoerentes
Os quase 53 milhões de brasileiros que votaram em Lula esperavam soluções diferentes das adotadas pela equipe
econômica de Fernando Henrique Cardoso para os problemas de economia e finança que afligem o país.
Esperavam porque Lula candidato fazia crer, na campanha, ter uma farmacopéia própria diversa da usada 'pelos
neoliberais', assim batizados FHC e seus áulicos. Daí o Everest de sufrágios dados ao atual presidente. Agora se
vê a opinião pública frustrada com os aumentos de juros que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco
Central vem impondo ao país.
Em janeiro, os respectivos encargos passaram a ser de 25,5% ao ano, agora sofrem nova alta: 26,5%. Foram
elevadas, também, as alíquotas do compulsório sobre as contas correntes, que passaram de 45% para 60%. Tudo
sob o mesmo figurino de Malan & Cia. e sob o mesmo pretexto: o combate à inflação. Está claro que a decisão
recebe palmas do Fundo Monetário Internacional, porque consulta as lições do breviário que edita para aplicação
no Terceiro Mundo, breviário esse de nítido feitio de amarra ao desenvolvimento, que tem no acesso ao sistema
creditício sua alavanca principal.
A inflação é o grande terror desses senhores que a política de resultados finais de balanço costuma colocar na
condução dos negócios públicos dos países não desenvolvidos, na relação dos quais estamos. A perda de poder
aquisitivo da moeda é, para eles, o Moloch devorador de qualquer política desenvolvimentista. Urge combatê-la
com todas as armas. Em nome dessa política monetária pratica-se o ato de criar mais óbices ao próprio
desenvolvimento. Daí a adoção da alta dos juros e, principalmente, a elevação do compulsório sobre o montante
de dinheiro em circulação no mercado. É uma punição imposta pelo poder público ao poupador, um trágico
desestímulo a quem põe suas disponibilidades monetárias a serviço indireto da pujança da economia nacional.
Assim vai ficar mais difícil o soerguimento econômico nacional, sonho e objetivo de quantos brasileiros querem
aumentar o PIB nacional e entrar para o clube do Primeiro Mundo. (Correio do Povo, 22/02/2003)
E30 “O presidente Luiz Inácio Lula da Silva está consciente da realidade brasileira e dos
problemas que irá enfrentar, mas não deixou de se referir, mesmo que indiretamente, à
possível guerra dos Estados Unidos contra o Iraque, no Oriente Médio - uma das maiores
preocupações do mundo na atualidade -, durante o lançamento do programa Fome Zero, o
projeto mais ambicioso do seu governo.” (Un1/2) (Correio do Povo, 02/02/2003)
E30 “O trabalho, gigantesco, já conta com a doação de quase 3 mil toneladas de alimentos
vindas de Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, Paraná, São Paulo e Goiás.” (Un2)
(Correio do Povo, 02/02/2003)
Mesmo utilizando a conjunção “conforme” para indicar o que pensa Lula sobre o
assunto, os argumentos apresentados pelo editorialista na progressão do editorial reforçam a
idéia de que esse não é um ponto de vista somente do Presidente. As declarações de que o
projeto é “ambicioso” e de que o trabalho é “gigantesco”, conduzem o leitor a concluir que a
empresa jornalística corrobora com a opinião do Presidente.
Como foi constatado que mais da metade do corpus, 58,33%, era constituído de
três unidades retóricas, foi possível definir que o “padrão” que seria proposto na presente
pesquisa possuísse as três unidades. Um segundo passo foi a identificação da ordem de
aparecimento dessas três unidades retóricas. A Tabela 1 revela que a Un1 (contextualização
do tema) apresentou uma maior freqüência na primeira posição, respectivamente, 55%, nas
demais posições o percentual de ocorrência foi considerado relativamente baixo, ou seja,
6,66% na segunda posição e 3,33% na terceira posição. Nas demais posições não houve a
realização da Un1 (contextualização do tema). Essa observação aliada às informações
apresentadas por Lage (2003) de que o início do editorial deve conter a apresentação de um
fato mais a definição da função comunicativa da Un1, possibilitou que se definisse que a Un1
(contextualização do tema) ocupasse a primeira posição.
A análise desse percentual permite confirmar o que Adam (1992) propugna sobre
a composição de base de textos considerados argumentativos, ou seja, segundo o referido
autor, os textos argumentativos são estruturados essencialmente a partir da relação entre
argumentos e tese. Com editoriais de jornais não poderia ser diferente, a presença maciça da
Un2 (argumentação sobre o tema) revela que ela está diretamente relacionada à presença
explícita ou implícita de um dado ponto de vista. Nesse sentido, excluindo-se 5% do corpus
em que a tese apareceu de forma implícita, a ocorrência explícita de 95% da Un3 (indicação
da posição do jornal) reforça a estrutura de base proposta por Adam (1992).
A Tabela 3 também evidencia que a Sub 1.2 (esclarecendo uma informação) foi a
que apresentou uma menor freqüência de aparecimento (13,33%), provavelmente esse índice
se justifique pelo fato de que o espaço do editorial é mais predominantemente de apresentação
86
42
Ao contabilizar os índices de ocorrência das subunidades não se conferiu o número de argumentos que
constituíam a Sub 2.1 e a Sub. 2.2, apenas a ocorrência destas subunidades. Possivelmente se esses tivessem
sido contabilizados, a freqüência da Sub. 2.2 seria bem maior.
43
Nascimento (1999) analisou um corpus de dez editoriais.
44
Nascimento (1999) utilizou-se da classificação de Boissinot (1994) que considera a argumentação expositiva
como um espaço no qual o argumentador demonstra convicção diante de seus posicionamentos, assumindo,
pois, o papel de “autoridade” incontestável.
45
Considera-se imbricamento quando uma unidade retórica está intimamente ligada à outra numa mesma porção
textual, tornando, portanto, difícil delimitar onde começa uma e onde começa a outra.
87
analisado, ocorreram imbricamentos com maior freqüência nas unidades 2/3 (um total de 15),
depois nas unidades 1/2 (um total de 13) e uma freqüência menor nas unidades 1/3 (um total
de 03). Verificou-se também que na primeira posição todos os casos de imbricamento
apresentavam a Un1 (contextualização do tema) imbricada ora com a Un2 (argumentação
sobre a tese), ora com a Un3 (indicação da posição do jornal). Nas demais posições, os
imbricamentos ocorriam com mais freqüência entre as unidades 2 e 3. Os exemplos abaixo
ilustram exemplos de imbricamentos:
E13 “O clamor que temas como as reformas previdenciária e tributária têm provocado nas
últimas semanas encontra nos fatos que o dia-a-dia produz combustível suficiente para
sensibilizar corações e mentes aos quais compete, mais diretamente, abandonar um pouco o
discurso e partir para a ação concreta. E urgente, se possível.” (Un1/3) (O Liberal,
10/02/2003)
E56 “O importante, porém, é que qualquer decisão seja legitimada pelas Nações Unidas, não
se permitindo decisões unilaterais, pois isso levaria à explosão da ordem jurídica
internacional, isto é, do pouco da institucionalidade conseguida, nesse campo, após a Segunda
Guerra Mundial nas relações entre Estados soberanos.” (Un2/3) (O Povo, 06/02/2003)
Escolhas feitas, o presidente da República terá, inevitavelmente, que delegar poderes a seus comandados. Não
disporá de tempo para despachar com a assiduidade desejada. O contato diário ficará restrito aos ministros da
casa e aos assessores do Planalto. José Dirceu, Luiz Gushiken e Luiz Dulci terão este privilégio e o secretário de
Imprensa, Ricardo Kotscho, talvez exerça a mesma influência de Ana Tavares de Miranda no governo Fernando
Henrique.
Se Lula pretende tratar ministros e secretários com a mesma deferência, é bom saber que o desejo é impossível
de ser realizado. Não há como receber mais de 30 executivos para despachos freqüentes. [Sub.2.1] Será preciso
definir com clareza o papel de cada um e, então, soltar as amarras. Fixadas as atribuições, o passo seguinte virá
com a cobrança de responsabilidades.
O gigantismo do primeiro escalão foi necessário para encaixar todas as peças. Mas representa intrincado desafio
gerencial. Nos partidos de esquerda costuma prevalecer o centralismo democrático, por meio do qual as decisões
de cúpula são pacificamente assimiladas pela base. Na máquina de governo, os ministérios têm vida e iniciativa
próprias. E o presidente da República não deve coibi-las. Se o fizer, corre o risco de paralisar decisões
importantes. [Sub.2.1]
Está na hora de estabelecer competências e delegar poderes.A depuração ocorrerá naturalmente. (Jornal do
Brasil, 30/12/2002)
E23
Professores e Professores
Por ocasião das matrículas na rede estadual de ensino, uma questão aparentemente banal deveria ter provocado
uma reflexão mais aprofundada dos responsáveis pela educação, em todos os níveis, no Pará.
Nos diferentes colégios, em diferentes bairros e municípios, há professores e professores, naturalmente divididos
entre os mais comprometidos eticamente com os estudantes e os que, desmotivados, relaxam diante dos baixos
salários e da falta de crescimento profissional. [Sub. 1.1]
No magistério de Ensino Médio se concentra a maior complexidade dos problemas da educação brasileira,
superando, inclusive, a corrida às aposentadorias e à migração de professores universitários, tudo devido a uma
realidade que não tem sido modificada há anos e que pode ser resumida por questões salariais, políticas,
econômicas e sociais, que deságuam na baixa estima social.
Segundo dados do Ministério da Educação, o Ensino Médio brasileiro se ressente da falta de 200 mil professores,
um déficit acumulado, na década de 90, por não acompanhar, preliminarmente, o crescente número de
concluintes do Ensino Fundamental que, por sua vez, não encontram salas de aulas disponíveis para abrigar
tamanho contingente.
Um contingente que diminui consideravelmente pela desistência de milhares de jovens que se frustram em busca
de empregos, sem que o mercado de trabalho tenha condições de absorvê-los ainda que sem a qualificação
profissional adequada, porque, no bojo da complexidade do problema, o Ensino Médico ainda se debate em meio
a objetivos distorcidos ou não-resolvidos constatados pelo dilema: preparar o jovem para o trabalho ou para
estudos superiores.
As disciplinas mais prejudicadas são as que envolvem professores de matemática, física, química e biologia,
situação que repercute na formação de quadros para a produção científica e tecnológica do país. Enquanto as
atenções não se voltarem para esse vazio pedagógico, os colégios paraenses serão identificados por professores e
professores, que não são obviamente qualificados por conformados discursos da competência. [Sub. 2.1](O
Liberal, 09/03/2003)
48
Segundo Ducrot (1987, p. 20) “se oposto é o que eu afirmo, enquanto locutor, se o subtendido é o que deixo
meu ouvinte concluir, o pressuposto é o que apresento como pertencendo ao domínio comum das duas
personagens do diálogo, como objeto de uma cumplicidade fundamental que liga entre si os participantes do
ato de comunicação”.
90
Mas não é só por sua estrutura organizacional que esse editorial merece destaque,
um outro aspecto diz respeito à apresentação do ponto de vista da empresa jornalística. Um
aspecto que chama atenção nesse editorial é que a tese não está diluída, contudo sua
textualização é apresentada de forma recortada no meio dos argumentos. As porções
sublinhadas destacam o ponto de vista da empresa jornalística apresentado dentro da Un2
(argumentação sobre a tese). O E16 abaixo ilustra essas observações:
E16
Decisões de cúpula
A eliminação de 65% dos candidatos na primeira fase do concurso vestibular deste ano, da Universidade Federal
do Pará, confirma as avaliações do Enem/MEC, dos relatórios de entidades internacionais e das ONGs
educacionais, que reprovaram os estudantes brasileiros em Língua Portuguesa, incluindo-se a redação e a
matemática, que são fundamentais para a obtenção de conhecimentos que formam intelectualmente o cidadão.
Não por acaso, a reitoria da UFPA divulga um novo formato de ingresso em seus cursos superiores que
basicamente avaliará os estudantes durante os três anos de Ensino Médio, aproximando-se do que já faz a
Estadual com o Prise. [Sub. 1.1] As novas regras impostas pela universidade seguem a tradição, na área
educacional, em que as decisões são tomadas verticalmente de cima para baixo, como foi o caso, nos anos 80, da
inclusão da redação decidida apenas pelos especialistas diante do descalabro intelectual do ensino que substituiu
a leitura e a produção de textos pelos malfadados testes objetivos. [Un3/4]
Grave contradição do ensino brasileiro se concentra exatamente no portal de entrada dos estudantes nos cursos
superiores, o que antecipa de certa forma os problemas crônicos da universidade na última década, a tal ponto de
se interrogar quais seriam, hoje, as suas finalidades.
Teorias misturadas a projetos, formas e estratégias, estabelecimento de cotas para negros, indígenas e pobres são
testados pelas universidades públicas e privadas, sem que os resultados satisfaçam a sociedade, considerando-se
a justeza das avaliações e das aprendizagens acumuladas durante toda a educação básica. [Un3/4]
Se os objetivos da UFPA se concentrarem na melhoria do Ensino Médio, ainda que se utilize o vestibular
como instrumento de pressão, a própria universidade deverá, então, assumir seus compromissos éticos e
pedagógicos que começaria internamente pelo aperfeiçoamento das licenciaturas, adequadas aos valores
culturais da pós-modernidade, o que significaria aprimorar a educação a partir das creches e do pré-
escolar e do ensino fundamental que são os pilares da educação superior. [Sub. 2.2] (O Liberal, 13/02/2003)
E48 “O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, vai ao ponto crítico da lavagem de
dinheiro ao anunciar a Criação do Departamento de Recuperação de Ativos Financeiros para
substituir o ineficiente Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). Mas as ações
perderão substância se não tiverem o suporte de serviços de inteligência, capazes de
49
Essas observações não têm um caráter prescritivo, mas tão somente apresentá-las visando ilustrar as
dificuldades enfrentadas pela pesquisadora.
92
mergulhar nos antros da bandagem para descobrir-lhes as estratégias e ataques futuros. Sem
esquecer a formação de contingentes específicos para dar-lhes combate mediante o concurso
da União, dos estados e dos municípios.” (Correio Brasiliense, 27/03/2003)
E33 “A inflação é o grande terror desses senhores que a política de resultados finais de
balanço costuma colocar na condução dos negócios públicos dos países não desenvolvidos, na
relação dos quais estamos. A perda de poder aquisitivo da moeda é, para eles, o Moloch
devorador de qualquer política desenvolvimentista. Urge combatê-la com todas as armas.”
(Correio do Povo, 22/02/2003)
textual. O que se quer dizer com isso é que a materialização dessa unidade a partir da
apresentação de um acontecimento resultou, em certos casos, na materialização de uma
seqüência descritiva em alguns dos editoriais analisados.
O E57, por exemplo, apóia a iniciativa do presidente Lula de abrir espaço para o
florescimento da democracia participativa e introduz o tema a partir da apresentação do fato
de que o governo indicou os nomes que comporão o CDES (Conselho de Desenvolvimento
Econômico e Social), ao mesmo tempo em que o define, estabelece suas respectivas funções e
especifica sua forma de composição. O excerto abaixo ilustra essa afirmação:
50
A divisão do editorial em proposições ampara-se no princípio de Adam (1992) de que um texto é constituído
de macroproposições e essas, por sua vez, são constituídas de proposições: [#T# [seqüência(s)
[macroproposição (ões) [proposição (ões)]]]].
96
O fato é que a análise desse editorial e de outros que compõem o corpus permitiu
pôr em confronto as informações apresentadas por Nascimento (1999). Segundo a referida
autora, “as inserções narrativas situadas no primeiro parágrafo objetivam contextualizar o
assunto a ser tratado. Elas funcionam como uma introdução: apresentam o fato que será alvo
dos comentários” (NASCIMENTO, 1999, p. 158-59). Sua afirmação possibilita o
levantamento de duas considerações: por um lado, verificou-se na unidade retórica 1 a
presença de um fato como elemento motivador dos comentários que serão tecidos no texto
editorial, confirmando, assim, parte das afirmações de Nascimento (1999); por outro lado,
porém, não está claro que critérios a autora estabeleceu para definir uma dada porção textual
como narrativa ou descritiva. Ao que parece, a autora toma como base apenas um critério de
“modo de organização textual”, que estaria a serviço da argumentação.
Isto, no entanto, não basta. Segundo Adam (1992), estar diante de algumas marcas
de superfície textual, como, por exemplo, organizadores temporais (depois, então, de repente)
não é uma condição suficiente para se definir que uma dada porção textual seja narrativa ou
não. Um outro aspecto que o autor ressalta é que a presença de verbos exprimindo ações
também pode configurar um outro tipo de seqüencialidade: a descrição de ação. As descrições
de ações por serem muito próximas das narrativas podem levar a uma identificação
equivocada de narração. Adam (1992) posicionou-se sobre o assunto esclarecendo que a
simples compilação de fatos não classifica uma seqüência como narrativa, visto que lhe falta
um elemento fundamental, a colocação em intriga, ou seja, o aparecimento de uma
complicação e de uma resolução.
O E52, por exemplo, defende a tese de uma discussão ampla sobre a prostituição
infantil; o editorialista introduz o tema apresentando uma operação do Ministério da Justiça
contra a prostituição infantil e juvenil. As informações que preenchem a unidade retórica 1
desse editorial conduzem à tese anterior de que o governo federal intensifica as ações contra
os exploradores de crianças e adolescentes. O exemplo abaixo ilustra essa assertiva:
E52 “(01) O Governo federal vem intensificando o cerco contra a prostituição infantil e
juvenil, chaga social que continua a desafiar a sociedade brasileira, mesmo não sendo um
drama exclusivo do País. (02) O compromisso de combate a esse crime havia sido firmado
pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na primeira reunião ministerial e já se observa algo
de concreto nas ações do Ministério da Justiça neste sentido.
(03) No momento, está em curso uma operação nacional, denominada 12 de Outubro (data
emblemática: Dia da Criança) em 18 estados, além do Distrito Federal. Foram presos 52
adultos envolvidos nessa atividade criminosa e repugnante, além da apreensão de 19 crianças
vítimas do comércio degradante de corpos.” (O Povo, 23/01/2003)
OPERAÇÃO 12 DE OUTUBRO
E54 “(01)“Ação contra analfabetismo vai começar pelo Ceará’’, anuncia matéria da repórter
Daniella Cronemberger, publicada na página 19 da editoria Política, na edição de ontem do O
POVO. (02) O lançamento do programa nacional de alfabetização foi acertado pelo ministro
da Educação, Cristovam Buarque (PT), com o governador Lúcio Alcântara (PSDB), para 25
de março.
(03) Uma das deferências do MEC, com relação a esse lançamento, além do fato de existir
uma grande massa local a ser alfabetizada, é que o Estado foi palco, episodicamente, de
inovações pedagógicas desde que o educador paulista Manuel Bergstr®m Lourenço Filho
começou a reformar o ensino público cearense no final da década de 1920. (04) A ação dele
deixou tantos resultados na terra que muitos acreditam, equivocadamente, que ele teria
nascido no Ceará.
(05) O desafio maior é o programa ter o objetivo de proporcionar acesso à alfabetização para
os 16,3 milhões de analfabetos em todo o País, até o final do governo Luiz Inácio Lula da
Silva, em 2006. (06) Isso com a proposta de alfabetizar cerca de cinco milhões de pessoas por
ano, em cursos com três meses de duração. (07) Isso poderia engajar cerca de 700 mil pessoas
habilitadas a ensinar adultos e crianças a ler e escrever, do total de 4,5 milhões de habitantes
em condições de ensinar as duas faixas etárias, de acordo com cálculos do MEC.” (O Povo,
25/01/2003)
E37 “(01) Qualquer reforma constitucional atinge interesses. (02) As reações, por isso, são
naturais e previsíveis. (03) A parte que se sente prejudicada recorre a todos os meios para
evitar que as perdas se concretizem. (04) Quando o movimento abarca diversos setores, a
união de forças pode inviabilizar o processo.
E41 “Quando a Carta Magna foi promulgada, em 1988, o então constituinte Ulysses
Guimarães a chamou de Constituição Cidadã. De fato, nunca havia ocorrido tanta participação
popular na elaboração do conjunto de leis que rege nossas vidas. Os ventos daquela época se
espalharam pelo tempo e hoje a maioria dos brasileiros tem consciência de que muitas
soluções para os problemas que afligem o país só podem surgir da ação coletiva.” (Correio
Brasiliense, 30/01/2003)
No E41, a tese defendida é de que o programa Fome Zero só dará certo se for
ancorado na participação popular. Para contextualizar o leitor, o editorialista faz remissão à
elaboração da Constituição ao mesmo tempo em que utiliza esse exemplo como um
argumento para sustentar a tese. Nesse caso, ocorre o imbricamento da Un1 com a Un2.
E13 “O clamor que temas como as reformas previdenciária e tributária têm provocado nas
102
últimas semanas encontra nos fatos que o dia-a-dia produz combustível suficiente para
sensibilizar corações e mentes aos quais compete, mais diretamente, abandonar um pouco o
discurso e partir para a ação concreta. E urgente, se possível.” (O Liberal, 10/02/2003)
E13 “(03) Eis um fato, divulgado com destaque, sim, mas aquém da importância que o bom
senso, a experiência corrente e as circunstâncias indicariam: no ano passado, a carga tributária
brasileira atingiu um recorde histórico de 36,45% do PIB (Produto Interno Bruto, a soma das
riquezas produzidas pelo País). (04) Na Suíça, esse percentual foi de 36% no ano passado.
(05) O governo arrecadou R$ 476,57 bilhões em impostos federais, estaduais e municipais em
2002, um crescimento de 18% em relação ao período anterior.
(06) O Brasil, conclui-se, ultrapassou a Suíça, pelo menos na arrecadação de impostos. (07) A
fome do fisco local só perdeu para o da Suécia (47% do PIB) e o da Alemanha (36,7%). (08)
Mas ultrapassou os EUA (29% do PIB), o Canadá (31%) e países emergentes, como o México
e o Chile (22%). (09) Os dados, irrefutáveis, são do Instituto Brasileiro de Planejamento
Tributário.
(10) Números que tais já justificam, por si mesmos, grande estupefação e configuram brutal
injustiça. (11) E mais assustador ainda é voltar os olhos para o passado e atestar o tempo
perdido com propostas sem consistência, discussões inconseqüentes, abulia política
indisfarçável e demagogia repugnante, tudo isso com a intenção - não-declarada,
convenhamos - de retardar a consecução de uma reforma tributária capaz de tornar este País
menos injusto.
103
(12) Os números apresentados pelo IBPT traduzem, com crueza atordoante, um Brasil por
construir, por edificar. (13) Um Brasil que está em débito com aqueles - pessoas físicas e
empresas - que padecem os efeitos perversos das descompensações de uma estrutura tributária
reprodutora de distorções de toda ordem - sociais, inclusive e principalmente.” (O Liberal,
10/02/2003)
“(4) Um exemplo está na matéria ''Comércio de livro usado é opção para os pais'', publicada
na página 5, da Editoria Fortaleza, na edição de sexta-feira última do O POVO. (5) Nesse tipo
de intercâmbio, podem acontecer venda, compra e troca de publicações didáticas e
paradidáticas. (6) Os comerciantes desse ramo garantem que a mercadoria chega a ser de 40%
a 60% mais barata do que uma nova.
(7) Por exemplo, um didático novo, que custa em média R$ 30,00 na livraria convencional,
pode ser adquirido por até R$ 15,00 no sebo. (8) Há uma exigência nesse tipo de comércio
optativo para que os livros sejam bem conservados. (9) E que, em determinadas páginas de
respostas a sabatinas, que tenham sido preenchidas a lápis e não a caneta, para facilitar o
apagamento.”
CONCLUSÃO C
“(10) Indaga-se, por outro lado, se essas publicações de segunda mão estão atualizadas, dentro
do que foi regulamentado pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDBE) atualmente em
vigor. (11) Nos últimos anos, o Ministério da Educação (MEC) vem intensificando a
fiscalização do livro didático e muitos foram proibidos de circular, tanto pela falta de
qualidade editorial quanto pelo conteúdo errado e/ou deturpado.
(12) Com relação ainda aos preços altos, os comerciantes de publicações novas apresentam
explicações contra as queixas a respeito de despesas, por parte da clientela. (13) O Sindicato
51
Os excertos do E50 foram selecionados do jornal O Povo do dia 04 de janeiro de 2003.
105
do Comércio Varejista de Livro do Estado do Ceará afirma que o reajuste do material escolar
variou de 12% a 15% e o das edições didáticas, 10% em média, tendo sido concedido em
novembro de 2002. (14) O papel, pelo fato de a cotação ser em dólar, encabeçou o aumento.
CONCLUSÃO NÃO-C
“(17) O grande problema, como já foi supracitado, é o custo de vida. Isso, na área estudantil,
agrava-se com o preço dos livros para o ensino superior. (18) Tanto é que no entorno do
Campus do Benfica da Universidade Federal do Ceará (UFC), nos últimos anos, surgiram
estabelecimentos comerciais, mistos de livraria e reprografia. (19) Nas faculdades e cursos,
equipes fazem cotas para comprar determinados livros, que são fotocopiados como
apostilhas.”
CONCLUSÃO C
“(20) Esse recurso já foi alvo de campanha por parte de autores e editores, alegando falta de
ética e concorrência desleal.”
CONCLUSÃO NÃO-C
(21) Mas deve-se levar em conta que muitos estudantes, inclusive de nível superior, são
provenientes até de famílias de baixa renda. (22) Sem contar com famílias residentes em
Fortaleza, têm de recorrer, respectivamente, aos restaurantes e residências universitárias para
se alimentar e morar.”
CONCLUSÃO C
editoriais de jornais.
DADOS X DADOS Y
(4), (5), (6), (7), (8), (9), (10), (11), (12), (13), (14), (15),
(17), (18), (19), (21), (22) (16), (20)
E06 “(08) Nem tudo, porém, correu bem. (09) Cometeu-se erro crasso ao deixar as Forças
Armadas em petição de miséria. (10) Uma decisão da maior gravidade. (11) O governo Lula
terá de examinar o problema em toda sua dimensão. De que Forças Armadas o país necessita?
(12) Que prioridade estratégica devem merecer enquanto pólos de desenvolvimento
tecnológico e centros vitais de pesquisa e desenvolvimento? (13) Há também que observar o
efeito multiplicador das encomendas de material bélico sobre o comércio exterior.
107
(14) A estratégia dos últimos anos pecou pela incongruência. (15) De que vale o interesse por
submarinos atômicos se falta pão nas casernas? (16) Não dá para entender que a discussão
sobre a compra de jatos modernos não tenha sido acompanhada, desde o início, das
contrapartidas comerciais.” (Jornal do Brasil, 29/12/2002)
No caso do E06, a tese anterior opõe-se à conclusão (nova tese). Porém, nem
sempre a relação entre a tese anterior e a conclusão (nova tese) é de oposição. A análise do
corpus permitiu verificar que a restrição também pode ampliar a tese anterior sem
necessariamente opor-se a ela. O E05, por exemplo, em um dado segmento textual apresenta
dados que levam a uma tese anterior de que a alta taxa de juros representa um “remédio” para
a economia brasileira. Em seguida, apresenta uma restrição que não se contrapõe à tese
anterior, mas que a complementa, conduzindo, portanto, à conclusão (nova tese) de que os
juros devem funcionar apenas como medida paliativa para os problemas econômicos e que
somente as reformas estruturais poderão solucionar as disfunções da economia. Os recortes
abaixo ilustram essas afirmações:
E05 (06) Há que fazer, porém, importante ressalva: ao elevar os juros, o Comitê de Política
Monetária do Banco Central (Copom) aplainou o terreno para os primeiros passos do governo
Lula. (07) Assumiu o ônus da impopularidade e deu golpe violento nas expectativas
inflacionárias. (08) O remédio é amargo. (09) Com juros proibitivos, é difícil que se mantenha
a tendência de alta dos preços.
(16) A alta dos juros contém a inflação e favorece a arrancada do governo Lula. (17) Porém,
não há tempo a perder. (18) O PT tem que dar início às articulações sobre mudanças vitais.
(19) Deve discutir desde já as reformas tributária, política, do Judiciário e da Previdência -
esta última, a mãe de todas as reformas. (20) Quando o país estiver assentado em novas bases,
os juros cairão como conseqüência natural.
(21) Há mais de 20 anos, o Brasil vive na sombra do Fundo Monetário Internacional. (22) E a
política monetária austera faz parte do receituário que o FMI nos recomenda. (23) Virá o dia
em que o país, graças às reformas, criará blindagem que assegure a estabilidade. (24) Então,
ficará livre de assessorias externas. (25) E a sociedade nunca mais vai ouvir falar de juros
altos e risco Brasil.” (Jornal do Brasil, 22/12/2002)
A percepção de que no E06 a conclusão (nova tese) opõe-se à tese anterior e que
no E05 a conclusão (nova tese) amplia a tese anterior, sem representar uma contraposição,
levanta a possibilidade de não se enquadrar sob o mesmo rótulo de tese anterior mecanismos
discursivos tão diferentes. Das macroproposições do protótipo argumentativo do autor, a que
108
menos é abordada é a tese anterior. Sobre a P. arg. 0 (tese anterior), Adam (1992, p. 118)
expõe que “o esquema de base para as três macro-proposições (P. arg. 1, 2 e 3) se apóia
explicitamente em P. arg.0 no caso particular da refutação”. Essa afirmação, aliada à análise
do poema de Raymond Queneau52, leva à interpretação de que essa macroproposição
representa uma conclusão contrária à conclusão (nova tese), o que nem sempre acontece.
E01 “(04) Mas podia ser ainda melhor, se a violência não se tivesse tornado no Brasil uma
causa endêmica de mortalidade.
(05) Mata-se muito no Brasil. Segundo o IBGE, entre 1980 e 2001, foram registradas mais de
1,9 milhão de mortes violentas, que incluem os homicídios, os acidentes de trânsito e os
suicídios. (06) Número igual à soma das populações de Rondônia e do Acre. (07) Ou, numa
comparação ainda mais assustadora, número que representa oito vezes e meia o total de
52
Adam (1992, p. 118) ao analisar o poema Vigília apresenta como exemplos da P. arg. 0 (tese anterior) os
versos 1e 2. Estes, por sua vez, enunciam uma tese que se opõe à P. arg. 3 (conclusão(nova tese)). O poema
ilustra essa assertiva:
“Veille
Si les feuxdans la nuit faisaient des signes certes
la peur serait un rire et l’angoisse un pardon
mais les feux dans la nuit sans cesse déconcertent
le guetteur affiné par la veille et le froid.”
53
Concebe-se operador argumentativo como “um elemento da gramática de uma língua que têm por função
indicar a força argumentativa dos enunciados “ (KOCK, 2000, p. 30).
54
As proposições que aparecem antes da restrição são as seguintes: “(01) A expectativa de vida no Brasil tem
melhorado nas últimas décadas. (02) Graças às políticas de educação e saúde pública, à descoberta de tratamento
para doenças que até um passado recente matavam, e à melhoria dos hábitos e disponibilidades alimentares, a
expectativa média de vida do brasileiro passou de 62,7 anos, em 1980, para 68,9anos, em 2001. (03) O que é
bom.”
109
(09) Nessa carnificina, os homens são as maiores vítimas: 1,575 milhão. (10) Ou seja, mais de
82% das vítimas são do sexo masculino, o que acaba interferindo no cálculo da expectativa de
vida do brasileiro. (11) Enquanto entre as mulheres, no período pesquisado, houve aumento
de 6,9 anos na expectativa de vida, entre os homens o ganho foi de apenas 5,5 anos. (12) Por
causa da violência, a taxa de mortalidade entre os homens brasileiros de 20 a 29 anos chega a
ser até três vezes superior à das mulheres. (13) Sem os óbitos por causas evitáveis, os
brasileiros do sexo masculino viveriam 2,4 a mais, em média.
(14) A face mais dramática dessa matança é a violência entre os jovens. (15) Na faixa de
idade entre 20 e 24 anos, morrem três vezes e meia mais homens mulheres.” (Jornal do Brasil,
09/12/2002)
E08 “O novo diretor da Polícia Federal ostenta currículo profissional que o habilita à tarefa a
que se propõe. Currículo, disposição e apoio do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos,
que é do ramo. Advogado criminalista há mais de 40 anos, acompanhou profissionalmente a
escalada do crime, e prega mudanças em nome de ''milhões de destituídos carentes de
segurança pública''. (Jornal do Brasil, 10/01/2003)
ASPECTUALIZAÇÃO
Pd.PROPR.
ostenta currículo profissional disposição apoio do ministro advogado criminalista prega mudanças em
que o habilita à tarefa da Justiça há mais de 40 anos, nome de milhões de
acompanhou destituídos carentes
profissionalmente a de segurança pública
escalada do crime
E33 “Os quase 53 milhões de brasileiros que votaram em Lula esperavam soluções diferentes
das adotadas pela equipe econômica de Fernando Henrique Cardoso para os problemas de
economia e finança que afligem o país. Esperavam porque Lula candidato fazia crer, na
campanha, ter uma farmacopéia própria diversa da usada 'pelos neoliberais', assim batizados
FHC e seus áulicos.” (Correio do Povo, 22/02/2003)
E32 “É verdade que graças a esse produto ocorreram inúmeros progressos no mundo
moderno, mas também em seu nome guerras são deflagradas e uma nova geopolítica do
mundo é redesenhada. O maior ou o menor valor do petróleo depende de uma série de fatores,
entre os quais o da fragilidade econômica de alguns, de problemas políticos em outros e de
ameaças bélicas como as que ocorrem dos EUA para com o Iraque.” (Correio do Povo, 06/02/
2003)
E40 “Impõe-se uma política clara, inteligente, moderna e transparente de governo que
coordene as contribuições e dite os rumos desse esforço nacional.” (Correio Brasiliense,
29/01/2003)
E02 “Na questão da previdência não há o que inventar. O que é preciso é vontade política
para que a reforma seja finalmente concluída.” (Jornal do Brasil, 10/12/2002)
Nascimento (1999) também afirma que a tese pode muitas vezes estar marcada em
mais de um parágrafo, informação também confirmada na presente pesquisa. Essa
consideração coloca em questão a afirmação de Adam (1992) de que um movimento
argumentativo tem uma forma particular de composição, ou seja, segundo uma ordem
progressiva (dados [inferência] conclusão) ou uma ordem regressiva (conclusão [inferência]
dados). No caso dos editoriais de jornais, não se anula a organização textual em uma dessas
duas formas de composição, porém acrescenta-se mais uma: a repetição em mais de um trecho
da conclusão (nova tese).
5.4 Uma análise da distribuição das informações e das seqüências textuais em editoriais
de jornais
E45
Vergonha!
“(01) A situação vexatória dos seis cemitérios do Distrito Federal não é novidade. (02) É histórica. (03) Mas a
privatização dos serviços, no ano passado, a levou a um ponto extremo. (04) À má administração — com
limpeza precária e falta de segurança, entre outras falhas — se somam graves problemas legais. (05) O próprio
processo de licitação é questionado na Justiça. (06) A empresa beneficiária também é acusada de descumprir
contrato e cometer abusos. (07) No mais recente deles, reserva o Campo da Esperança, único localizado no Plano
Piloto, apenas para famílias que possam pagar pelo sepultamento.
(08) Antes, aumentou os preços em até 300%, só voltando atrás depois de intervenção do Tribunal de Justiça
(TJDF). (09) Também diminuiu o espaço livre entre os jazigos a quase metade do espaço determinado pelo
projeto original. (10) E com tal descaso que a terra das covas era jogada sobre túmulos já existentes.
(11) O Estado não pode contribuir para aumentar a dor de quem precisa enterrar um ente querido. [Sub.2.1] (12)
Precisa pôr um fim rápido a esse desrespeito com a sociedade. (13) O governador Joaquim Roriz avisou, por
meio do seu porta-voz, que cancelará o contrato imediatamente se forem confirmadas irregularidades.
[Sub.2.1](14) Não há o que esperar. (15) Desde segunda-feira a empresa Campo da Esperança Serviços Ltda. é
multada pelo GDF em R$ 11 mil por dia pelo não cumprimento de cláusulas do contrato.
55
A expressão “padrão” não quer indicar que o movimento argumentativo em editoriais de jornais pode ser
colocado numa “fôrma” e analisado, apenas pretende-se apresentar algumas formas de composição dos dados
que apresentaram uma macroestrutura textual argumentativa recorrente nos editoriais analisados.
56
A unidade retórica 2 está na cor preta e a Un3 está na cor vermelha.
114
(16) A punição, sobre a qual ainda cabe recurso, é insuficiente. (17) O Tribunal de Contas do DF aponta
irregularidade já na licitação: apesar de obrigatória, não houve audiência pública. (18) O Ministério Público do
Distrito Federal (MPDF) quer anular a privatização. (19) Apresenta extensa lista de falhas. (20) Como a falta de
projeto com especificações técnicas para reformas em túmulos e jazigos, com planilha de custos e previsão de
tempo de execução do trabalho. (21) Também segue indefinida a construção do crematório previsto.
(22) A alegação mais grave, porém, é que a Campo da Esperança Serviços Ltda. não venceu a licitação. (23) Foi
criada posteriormente, com capital social de R$ 300 mil, quando o verdadeiro vencedor, o consórcio DCB,
entrou na concorrência com capital de R$ 1,4 milhão. (24) Isso, para administrar os seis cemitérios — além do
Campo da Esperança, os de Taguatinga, Gama, Brazlândia, Sobradinho e Planaltina — por 30 anos. (25)
Assinado em 13 de fevereiro, o contrato já fez seu primeiro aniversário. [Sub. 2.1] (26) Que a solução venha
logo!” (Correio Brasiliense, 22/02/2003)
Um outro aspecto que merece ser ressaltado através da análise desse editorial é
que nem toda proposição que contém certos conectivos como “mas” ou “porém”, por
exemplo, introduz uma restrição. A restrição é uma macroproposição que tem a função
textual de apresentar um “contraponto” ao que estava sendo colocado anteriormente. A
proposição 22 é um exemplo dessa afirmação.
E45 “(22) A alegação mais grave, porém, é que a Campo da Esperança Serviços Ltda.não
venceu a licitação.” (Correio Brasiliense, 22/02/2003)
DE OLHOS NA ONU
“(01) O mundo ouviu com atenção a intervenção do secretário de Estado, Collin Segurança da ONU, sobre a
crise no Iraque. (02) O relatório fundamenta, com fotos e gravações, a acusação de que o Saddam Hussein está
enganando a equipe de inspetores das Nações Unidas que investiga a existência de armas de destruição em massa
no país, apresentando para isso resultados obtidos pelos serviços de inteligência. [Sub. 1.1]
(03) Os indícios apresentados pelos EUA são dignos de atenção por parte da comunidade internacional. (04)
Entretanto, não são provas incontestáveis, já que se trata de deduções ainda não devidamente confirmadas por
outros serviços de inteligência ocidentais. (05) O que adiantaram, entretanto, deixa uma impressão bastante
desfavorável ao governo iraquiano e leva a comunidade internacional a exigir respostas claras e rápidas de
Bagdá, pois as que têm sido apresentadas deixam muito a desejar. (06) Saddam Hussein não pode deixar dúvidas
de que atende às exigências das resoluções 886 e 1.441 das Nações Unidas: todas no sentido de que o país se
desfaça de qualquer armamento proibido pela comunidade internacional, após a Guerra do Golfo.
(07) Os EUA, no entanto, devem submeter seus dados ao exame da comunidade internacional para que sejam
examinados conjuntamente por todos os membros do Conselho de Segurança, de forma a permitir que os
especialistas de outros países dêem também seu parecer. [Sub.2.1] (08) O importante, porém, é que qualquer
decisão seja legitimada pelas Nações Unidas, não se permitindo decisões unilaterais, pois isso levaria à explosão
da ordem jurídica internacional, isto é, do pouco de institucionalidade conseguida, nesse campo, após a Segunda
Guerra Mundial nas relações entre Estados soberanos. [Un2/3]
(09) Se o Iraque tiver montado um esquema para burlar a ação dos inspetores da ONU, tratar-se-ia realmente de
uma violação à resolução 1.441, que exige a cooperação de Bagdá com o trabalho dos técnicos, e isso poderia
justificar por si só sanções mais graves. (10) As provas, contudo, precisam ser mais incisivas. (11) Para isso faz-
116
se necessário que a ONU crie mecanismos ainda mais eficazes de investigação, mobilizando os serviços de
inteligência dos membros do Conselho de Segurança para esse trabalho, exigindo do Iraque a remoção de todo e
qualquer obstáculo ao trabalho de investigação, inclusive, a proibição aos vôos de reconhecimento. (12) Esses
mecanismos devem ser ágeis, de maneira a permitir o acesso imediato e simultâneo a todos os lugares que os
inspetores acharem necessário, bem como às pessoas que possam dar informação, com todas as garantias para
sua segurança.
(13) Com essas medidas não haveria necessidade de se lançar mão da força e o desarmamento poderia ocorrer de
forma pacífica - se de fato os iraquianos tiverem o armamento de que são acusados. (14) O recurso à guerra será
a confissão do fracasso da comunidade internacional em criar uma ordem jurídica minimamente civilizada.
(15) O argumento dos EUA em favor do uso imediato da força, ainda mais de forma unilateral, sob o pretexto de
proteger a vida de seus cidadãos e de outros inocentes em todo o mundo, é contraditório quando tem como
conseqüência a morte de outros inocentes: o povo iraquiano. (16) Este não tem culpa de ter um dirigente
envolvido em ações delituosas (se forem verdadeiras as acusações), ainda mais quando sofre há 12 anos uma
punição por algo pelo qual não tem culpa direta: o embargo econômico. [Sub. 2.1]
(17) De qualquer forma, se o Iraque não conseguir responder às indagações feitas pelos EUA, e se esgotarem
todos os meios pacíficos para fazê-lo cumprir as resoluções da ONU, só a esta deve caber a legitimidade para
determinar a aplicação de outros recursos mais enérgicos para obter o resultado desejado. [Un2/Un3] (18)
Nenhum país, contudo, tem o direito de agir com as próprias mãos.” [Sub. 3.1] (O Povo, 06/02/2003)
Pode-se afirmar que a conclusão (nova tese) está materializada na primeira parte
da proposição (“O importante, porém, é que qualquer decisão seja legitimada pelas Nações
Unidas, não se permitindo decisões unilaterais (...)”) e que os dados estão na segunda parte
(“(...) pois isso levaria à explosão da ordem jurídica internacional, isto é, do pouco de
institucionalidade conseguida, nesse campo, após a Segunda Guerra Mundial nas relações
entre Estados soberanos.”). A análise do corpus permitiu acrescentar que a identificação do
protótipo de seqüência argumentativa de Adam (1992) em textos reais nem sempre
corresponde a uma delimitação tão precisa das macroproposições, comparando com o
“modelo” desenhado no protótipo. Nesse sentido, pode-se ter numa mesma proposição a
realização de duas macroproposições.
117
RESTRIÇÃO
(Un2) (Proposições 03 e 04)
+
DADOS CONCLUSÃO (NOVA TESE)
(Un2) (Un2/3) (Un2/3)
(Proposições 05 a 18) (Proposições 08 e17)
Quadro 7 – Movimento argumentativo do E56
E36
“(01) A preocupação com o social, presente em todas as manifestações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
obriga os integrantes de sua equipe econômica a trabalhar em busca de um modelo que esqueça a antiga crença
de que é preciso fazer o bolo crescer para depois distribuí-lo. (02) O ministro da Fazenda, Antônio Palocci Filho,
destaca que o crescimento econômico não embute automaticamente um processo distributivo de renda. (03) E
lembra, com propriedade, que estudos disponíveis indicam que um impacto de 10% na distribuição da renda no
país teria o mesmo efeito na melhoria dos indicadores sociais que um crescimento de 3% do Produto Interno
Bruto durante 25 anos.
(04) A questão é como conjugar as políticas econômica e social, assegurando que se torne possível,
gradativamente, a melhoria da distribuição da renda. (05) A teoria parece correta, mas na prática, para que seus
resultados produzam os efeitos desejados, são inúmeros os problemas que precisam ser resolvidos. (06) Há uma
significativa parcela da população que não se integra ao processo econômico imediatamente, mesmo com a
retomada do crescimento. (07) É indispensável, para tanto, que políticas sociais atuantes sejam implementadas
para que esse segmento tenha acesso ao consumo, ainda que sem contar com emprego formal. (08) Um
instrumento poderoso para que se estabeleçam as premissas que poderão produzir melhor distribuição da renda
será o novo modelo do sistema fiscal que deverá resultar da reforma tributária, caso, de fato, como se espera,
118
P. expl. 1 P. expl. 2
(Proposições 04 a 06) (Proposições 07 a 11)
Quadro 8 – Movimento argumentativo do E36
pergunta, contudo não se pode negar que a tese defendida no editorial é a de uma conjugação
do econômico com o social, visando uma melhoria na distribuição de renda. É complexo
afirmar que a tese se materializa na proposição 04, ao mesmo tempo em que é impossível não
perceber seu conteúdo proposicional. A solução proposta na presente pesquisa é considerar
que a idéia da tese está contida na estrutura de pergunta da proposição 04.
E08
De olho no crime
“(01) Um olho no contrabando de armas e outro na corrupção policial. (02) Esta é a síntese do discurso de posse
do diretor-geral da Polícia Federal, delegado Paulo Lacerda. (03) Direto e objetivo. (04) Prometendo apertar o
cerco à entrada de armamentos que alimentam o poder de fogo dos bandidos e reprimir duramente a corrupção
de policiais. [Sub. 1.1] (05) Para Lacerda, tráfico de drogas, assaltos, seqüestros e roubo de cargas acontecem em
boa medida pela facilidade de acesso às armas. (06) Acobertada pela corrupção de agentes da lei que alugam sua
farda ou seus distintivos aos bandidos, inibindo ou atrapalhando o combate mais efetivo ao crime. (07)
Sobretudo o crime organizado, que tem dinheiro e ousadia suficientes para comprar o silêncio, a omissão e a
cumplicidade dos maus policiais.
(08) O desafio é grande. (09) Conforme reconhecido pelo próprio diretor da PF, enquanto a sociedade gastava
tempo e discurso para saber a quem cabia o combate ao contrabando de armas, a bandidagem ganhava tempo e
atrevimento para se organizar. (10) O crime no Brasil cresceu de proporções. (11) A violência foi banalizada até
atingir limites insuportáveis. (12) A vida humana - valor absoluto - foi relativizada diante do cano da arma
homicida. (13) E tudo sob o olhar alarmado da população e a vista grossa dos maus policiais. (14) Muitos deles,
indo além da simples omissão em seu dever de combater o crime. (15) Tornaram-se parceiros da bandidagem.
(16) Passaram a viver do dinheiro farto do contrabando e tráfico de armas.
(17) O acesso cada vez mais facilitado às armas ilegais não podia ter resultado em tragédia maior. (18) Cidades
inteiras loteadas pelo crime, que delimita os espaços e classifica as áreas por onde a população ordeira pode ou
não pode circular livremente. (19) Ruas fechadas por constantes tiroteios ou paralisadas nas barreiras das blitzes
da marginalidade, onde a ordem paga pedágio ao crime. (20) E, em áreas conflagradas pela violência sem limite,
bandos de menores infratores, adolescentes recrutados para o tráfico de tóxicos, brincando perigosamente com a
crueldade. (21) Brincando de matar, de roubar, de barbarizar suas vítimas. (22) Tudo por conta e em nome da
facilidade com que as armas chegam até o crime.
(23) O novo diretor da Polícia Federal ostenta currículo profissional que o habilita à tarefa a que se propõe. (24)
Currículo, disposição e apoio do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, que é do ramo. (25) Advogado
criminalista há mais de 40 anos, acompanhou profissionalmente a escalada do crime, e prega mudanças em nome
de ''milhões de destituídos carentes de segurança pública''. [Sub. 2.1]
(26) A Polícia Federal sabe exatamente por onde começar. (27) Agora, é agir.” (Jornal do Brasil, 10/01/2003)
120
ASPECTUALIZAÇÃO REFORMULAÇÃO
Pd. PART. Tragédia maior
57
O esquema da seqüência descritiva dessa passagem já foi descrito na pág. 106.
122
E11
Economia de guerra
“(1) Após a intervenção do secretário de Estado americano, Colin Powell, no Conselho de Segurança da ONU, a
sorte está lançada. (2) Falta apenas conhecer o dia e a hora em que começará a guerra dos Estados Unidos
contra o Iraque. (3) Se a guerra é inevitável, resta aos demais países se preparar para seus reflexos negativos na
economia mundial. (4) O preço do petróleo já está subindo e a atividade industrial dos dois lados do Atlântico
não dá sinais de recuperação. [Sub. 1.1] (5) No que diz respeito ao Brasil, o governo Lula tem agido de forma
inteligente ao se antecipar aos efeitos do conflito.
(6) Brasília não pretende ficar a reboque dos fatos. (7) Mais do que nunca, é melhor prevenir do que remediar.
(8) É bem-vinda a linha de ação apresentada pelo ministro da Fazenda, Antônio Palocci, no sentido de evitar
impacto maior sobre a inflação. (9) Caso se confirmem a elevação da taxa de câmbio e a pressão no preço do
petróleo, o governo oferecerá subsídios à população de baixa renda para a compra de gás de cozinha. (10)
Haverá maior esforço em relação às exportações - pois a crise abre mercados e oportunidades. E serão
preservados, a qualquer custo, os programas sociais.
(11) Sem dúvida, o governo Lula posicionou-se corretamente em relação à guerra. [Sub.2.1] (12) Mas poderia
tirar do momento internacional proveito ainda maior. (13) É hora de efetuar um ataque frontal às deficiências da
economia. [Sub.2.1] (14) Se o Brasil fizer sacrifícios agora, sairá mais forte doa conflito que se anuncia.
[Un3/4]
(15) O clima de economia de guerra permitirá que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva adote três
providências básicas. (16) A primeira delas - se necessário - será um choque de juros para reverter a expectativa
inflacionária. (17) Contra o risco de alta generalizada dos preços, não bastará aumentar os juros em meio ponto
percentual. (18) A dose deverá ser muito mais forte.
(19) Outra medida - aparentemente antipática - será o corte radical das despesas públicas. (20) Mesmo que
sejam preservados os gastos de cunho social, nada impedirá que outras áreas da administração pública passem
pelo fio do facão. (21) O aumento dos impostos está fora de cogitação. (22) É alternativa esgotada, como mostra
o editorial abaixo.
(23) Como desfecho, o governo terá de convencer o Congresso a aprovar o conjunto de reformas no prazo mais
curto possível. (24) Não há mais tempo para reuniões intermináveis. (25) As discussões estão maduras e as
reformas se impõem.
(26) Os Estados Unidos vão à guerra. (27) Isso, em princípio, poderá atrapalhar o sucesso do governo
Lula.[Sub.2.1] (28) Mas também poderá ajudar. (29) Basta fazer as escolhas certas.” (Jornal do Brasil,
06/02/2003)
O E11 defende a tese de que a guerra entre Estados Unidos e Iraque poderá
beneficiar o Brasil. O editorialista contextualiza o leitor apresentando a informação de que em
época de guerra os países devem organizar de uma forma específica suas economias. Como
ficou esclarecido no capítulo 4, o conteúdo proposicional da Un1 não se constitui argumento
para a conclusão (nova tese).
A segunda parte da Un2 apresenta dados que estão diretamente sustentando a tese.
O editorialista apresenta uma série de providências que poderá levar o Brasil a “tirar proveito”
da guerra. Pode-se citar: choque de juros, corte radical das despesas públicas e aprovação de
um conjunto de reformas. As proposições 15 a 25 apresentam as “escolhas certas” que o
Brasil deverá fazer. As proposições 26 e 27, por sua vez, retomam o argumento de que a
guerra pode prejudicar o governo Lula para reafirmar a sugestão de que o Brasil precisa
adotar as providências sugeridas no editorial. Mais uma vez o editorialista apresenta uma
restrição que conduz à conclusão (nova tese).
O E11 não apresenta nenhuma seqüência inserida, mecanismo esse que apresentou
uma certa recorrência no corpus analisado. Os movimentos argumentativos desse editorial
podem ser visualizados no Quadro 11 abaixo:
Após uma análise qualitativa dos dados, fez-se necessário abrir uma seção
específica para que se possa demonstrar as inquietações encontradas na aplicação do protótipo
de seqüência argumentativa, como também levantar algumas reflexões sobre o modelo
proposto por Adam (1992).
125
Uma outra dificuldade foi o aprisionamento aos aspectos formais na análise dos
dados. A valorização dos aspectos funcionais representou um julgamento mais coerente nas
tomadas de decisões que se precisou fazer durante a análise dos dados. Por exemplo, uma
proposição introduzida por um “mas” não implica a realização de uma restrição, ou uma
proposição introduzida por um “para tanto” não implica em uma conclusão (nova tese).
126
1º) Tese anterior: indica uma conclusão inicial ou parcial da conclusão (nova tese);
2º) Dados: argumentos que sustentam a tese anterior, a conclusão (nova tese) e a contra-
conclusão;
3º) Regras de Inferências: princípios gerais que fundamentam a passagem dos dados à
conclusão;
4º) Restrição: junta-se aos dados e indica um contraponto na argumentação que está sendo
realizada. Pode-se fazer restrição à tese anterior, à conclusão (nova tese) e à contra-conclusão;
6º) Conclusão (nova tese): ponto de vista principal que é defendido no texto.
Considerações finais
Pode-se afirmar que uma das contribuições desta pesquisa seja o olhar lingüístico
que se lançou sobre a organização textual em editoriais de jornais, ou seja, mesmo
apresentando um “padrão” de organização retórica de caráter didático, o desvelamento da
existência de três unidades retóricas claramente recorrentes em editoriais de jornais propicia
uma colaboração de base teórica no que diz respeito às orientações sugeridas nos manuais de
redação e estilo que, na maioria das vezes, são lacunosos em relação à estrutura
composicional do gênero.
Um outro aspecto que pode ser destacado na presente pesquisa é que a descrição
das unidades retóricas revelou a função comunicativa de editoriais de jornais, de modo a
confirmar a concepção de gênero de Swales (1990) como uma classe de eventos
comunicativos que tem propósitos comunicativos específicos e variam em sua prototipicidade.
Ressalta-se esses dois pontos abordados por Swales (1990) porque se considera que o
propósito comunicativo de convencer o interlocutor de um determinado ponto de vista
constitui-se a base lógica em editoriais, apesar da variação com que foram conduzidas as
informações nos exemplares analisados.
1º) Tese anterior: indica uma conclusão inicial ou parcial da conclusão (nova tese);
2º) Dados: argumentos que sustentam a tese anterior, a conclusão (nova tese) e a contra-
conclusão;
3º) Regras de Inferências: princípios gerais que fundamentam a passagem dos dados à
conclusão;
4º) Restrição: junta-se aos dados e indica um contraponto na argumentação que está sendo
realizada. Pode-se fazer restrição à tese anterior, à conclusão (nova tese) e à contra-conclusão;
6º) Conclusão (nova tese): ponto de vista principal que é defendido no texto.
Referências bibliográficas
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______. Estética da criação verbal. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
BRAIT, B. Interação, gênero e estilo. In: PRETI, D. (Org.). Interação na fala e na escrita. 2.
ed. São Paulo: Humanitas/FFLCH/USP, 2003.
KOCK, I. G. V.; FÀVERO, L. L. Contribuição a uma tipologia textual. Letras & Letras,
Uberlândia, v.3, n. 1, p. 03-10, jun., 1987.
______. Gêneros textuais: o que são e como se constituem. Recife: UFPE, 2000. Não
publicado.
1ª 2ª 3ª 4ª 5ª 6ª 7ª 8ª 9ª 10ª
E33 Un2
E36 Un2
E52 Un1 Un2 Un2/3 Un2 Un3 Un2 Un3 Un2 Un3 Un2