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Dedicatória
Enfim, as coisas ficaram tão ruins para mim do lado de fora que uma
noite fiquei super bêbada com piña colada e tentei fugir da cidade no meu
carro. Só que perdi o controle alguns quilômetros e quase bati em uma
árvore.
Foi quando eles me internaram no hospital.
Eles chamaram isso de colapso mental
antes de me dar um diagnóstico adequado. É
uma coisa que principalmente as celebridades
passam quando as pessoas não as deixam em paz.
Então, sou uma celebridade agora: A Vadia de
Cherryville em Connecticut e eu sofria de Síndrome do
Pânico, um tipo de transtorno de ansiedade.
Não sei quanto tempo o silêncio durou, mas o
interrompi. — Ninguém me disse para ir beijá-lo, sabe. Ele
definitivamente não me beijou. Na verdade, vocês sabem o que ele me
disse? Ele me disse para ir para casa. Repetidamente. De novo e de novo.
Ele me disse: “Violet, vá para casa. Violet, afaste-se de mim.” Ele
continuou dizendo isso e eu não ouvi. Eu não me importei.
— Vocês sabem o que eu estava pensando quando fui beijá-lo como
uma pessoa louca? Eu estava pensando que seria apenas um beijo no
meio da noite. Pensei em beijá-lo nos lábios e depois voltar para casa. Eu
pensei que ele nem se lembraria disso em alguns dias. Ou mesmo se o
fizesse, pensei que ele consideraria um erro estúpido causado pelo álcool
da adolescente ao lado. O pior cenário na minha cabeça era que ele
poderia me encarar no dia seguinte ou dizer algo ruim para mim ou até 74
mesmo contar aos meus pais, que não se importariam de qualquer
maneira. Então, sim. Era o que eu estava pensando que aconteceria. E por
tudo isso, eu pensei que poderia apenas... roubar um pouco dele para
mim. Algo que pertencia a este homem por quem eu era louca. Algo que
eu poderia contar aos meus filhos até. Algo que eu poderia rir mais tarde.
Eu não queria machucar ninguém. Eu ia me afastar e esquecer tudo sobre
ele. Era só o meu adeus. Um presente do meu aniversário de dezoito anos,
junto com aquelas rosas. Isso é tudo o que deveria ser.
Eu fungo e enxugo minhas lágrimas. — Mas acabou sendo um
grande desastre que parece não ter fim.
— Ah, Vi. – Willow aperta minhas mãos
na mesa. — Você tem que seguir em frente.
Você tem que se perdoar.
Renn e Penny também estão olhando para mim com
preocupação.
— Eu não posso. Não até eu saber o que ele tem feito.
Eu tenho que vê-lo. Eu tenho que ter certeza de que ele
está bem. Isso... se ele seguiu em frente. – eu insisto. — Eu fico pensando
nele o tempo todo. Tudo o que ele passou por minha causa. Todo o
estigma e boatos. Eu não posso deixar isso para lá. Só preciso ver se ele
está bem.
Willow assente, embora eu ainda possa ver que ela está perturbada.
Todas elas estão. Mas eu sei que elas irão me apoiar de qualquer maneira.
— Ok, se é isso que quer, peça desculpas. Faça o que tiver que fazer
para se concentrar em si mesma.
Penny assente também, enquanto ela me adverte: — Eu não acho que
vai ser fácil, no entanto.
Willow concorda. — Sim, Sr. Edwards não parece um cara que 75
esquece ou perdoa facilmente.
— Sim. – É a vez de Renn concordar. — Sr. Edwards parece um osso
duro de roer.
Eu sei. Eu estou ciente disso.
Eu sei que ele não vai facilitar para mim. Ele provavelmente nem vai
me ver se eu reunir coragem suficiente para bater na porta da frente, mas
estou fazendo isso.
Eu estou indo para o Colorado e vou encontrá-lo.
De alguma forma, vou compensar tudo o
que aconteceu.
Porque o que ele passou foi pior do que
tudo que eu sofri.
Roubei uma rosa hoje, mas apenas para salvá-la. Eu
A palavra com P.
— Você sente?
Sua voz é a mesma, baixa e ressoante.
Ela me faz pular da mesma maneira que fez naquela noite. De fato,
ela me faz pular e me arquear contra a parede. Como se a aspereza em sua 99
voz controlasse a curvatura da minha coluna.
— Sim.
Ele inclina a cabeça para o lado, me observando. — Pelo quê?
O olhar que ele me dá é completamente diferente do que ele deu a
ela, a rainha. Com ela, ele era lento e deliberado.
Comigo, ele é desdenhoso. Ele dá uma olhada para cima e para baixo
no meu corpo, na minha camiseta e shorts, e é isso.
Aposto que ele já até esqueceu como sou, mesmo que
esteja olhando diretamente para mim.
Fechando minhas mãos ao meu lado,
lambo meus lábios. — Por correr e, por
arruinar... - Sua vida. - Sua noite.
Esse é o menor dos meus crimes, mas é a única coisa
que posso pensar em dizer agora, especialmente após o seu
olhar indiferente.
Sem mencionar, é a única coisa que tenho coragem de
dizer.
— Arruinar a minha noite. – ele murmura, coçando a mandíbula, e eu
juro que ouço o farfalhar de seu polegar e sua barba, isso rouba meu
fôlego. — Sim, você fez isso. Você arruinou a minha noite.
— Talvez você ainda possa salvá-la. – sussurro, me sentindo tola e
sem fôlego ao mesmo tempo.
— O que você sugere?
Eu engulo, querendo desviar o olhar dele.
Quero dizer, eu deveria. Realmente, realmente deveria. Estou
olhando para ele um pouco demais. 100
Mesmo que ele esteja fazendo o mesmo comigo, duvido muito que
ele esteja abrigando os mesmos pensamentos que eu.
Pensamentos como o quanto alto ele é e como seus ombros são
enormes. Enormes o suficiente para bloquear a rua de todas as pessoas e
edifícios. Como a gola aberta de sua camisa xadrez me dá uma vista de
sua garganta, juntamente com uma aparição dos pelos do peito.
— Você deveria... – Olhando para baixo, luto contra o desejo de
mostrar a língua e amordaçar as palavras que estou prestes a falar. —
Você deveria voltar para ela e terminar o que começou.
— O que era? O que eu comecei.
Eu levanto meus olhos com a pergunta
dele. Faço isso tão rápido que quase bato com a
cabeça na parede.
Ele está realmente me perguntando isso.
Parece que está. Seu rosto está curvado, e seus olhos
estão em mim, intensos e vigilantes, como se estivesse
esperando minha resposta.
— Eu... Bem, você sabe, você estava a beijando, então... – digo de
maneira infantil. Como se eu não pudesse entender o conceito de beijo e
as coisas que acontecem por causa disso.
Ele estreita os olhos um pouco, como se realmente não pudesse
entender. — Então?
Eu engulo.
Espero por alguns segundos, debatendo o que dizer e depois vou em
frente.
— Então, eu tenho certeza que você queria fazer mais. – e só porque
eu não posso evitar: — Ela definitivamente queria que você fizesse mais. 101
É um complemento murmurado. Eu não tinha o direito de dizer isso e
o direito de deixar meu pequenino pedaço de amargura aparecer.
Quero dizer, por que estou amarga? Com o que estou amarga?
Por que ele não beijaria aquela mulher? Por que ele não a beijaria e
faria outras coisas com ela?
Os lábios do Sr. Edwards se levantam novamente, como fizeram no
bar, em uma direção e apenas um pouco. Novamente, não é nada como o
sorriso que deu a ela. Esse é frio e mesquinho, mas ainda assim eu
respondo.
Respondo a isso ficando sem fôlego
novamente. Colocando o pé esquerdo sobre o
direito e apertando as coxas.
— O que você acha que ela queria que eu fizesse com
ela? – ele pergunta.
A cada pergunta que ele me faz, as respostas se
tornam cada vez mais difíceis. Eu realmente deveria acabar
com isso.
Principalmente porque não é da minha conta. Mas também porque
não quero falar sobre ela. Não quero falar sobre o que aquela mulher
queria dele e o que ele queria dela.
E, no entanto, não posso evitar quando meus lábios se separam e
minha resposta sai. — Continuar beijando-a e nunca parar.
Seus olhos passam rapidamente pelo meu rosto e acho que é isso. Ele
vai parar agora. Ele tem que parar. Eu nem sei o que estou dizendo.
Mas ele não para.
Seu rosto abaixa ainda mais, como se ele estivesse tentando arrancar 102
as respostas de mim. — O quê mais?
Como se vê, ele não precisa arrancar nada. Eu vou dar a resposta de
qualquer maneira. Vou continuar falando e falando como uma idiota.
— Tocar nela, talvez.
— Onde?
— Em toda parte. Todos os lugares que você pode alcançar.
Pare. Pare. Pare.
O que estou dizendo? Por que ele continua fazendo
essas perguntas?
Por que estou medindo a distância entre
nós? Por que estou tentando ver os lugares que
ele pode alcançar no meu corpo?
— O cabelo dela, talvez? – ele pergunta curiosamente,
como se eu estivesse dizendo algo que ele nunca poderia ter
descoberto por si mesmo.
Percebo que estou muito consciente dos meus próprios
cabelos soltos, tocando meu braço, meus ombros, descendo até a parte
inferior das minhas costas. — Sim.
— E o pescoço dela? Ela quer que eu toque seu pescoço?
Meu pescoço formiga. — Sim.
— A cintura dela. Talvez deslizar um pouco?
Concordo, sentindo a parede de tijolos encostando na minha bunda.
— Para a bunda dela.
— E se eu levar minha mão para frente, deslizar pela barriga dela?
Ela gostaria disso?
Meus olhos descem para as mãos dele. Elas estão fechadas em 103
punhos ao lado, imitando as minhas.
Sua postura é ampla e seu corpo se contrai, completamente em
conflito com a voz baixa, preguiçosa e quase sonolenta. E percebo que
talvez seja assim que ele se parece quando está excitado.
Ah Jesus, ele está excitado? Ela o fez se sentir tanto assim?
Isso me faz querer chorar.
Em vez disso, sussurro: — Sim. Sim, ela gostaria disso. Muitíssimo.
— E se eu não parar por aí? E se continuar indo até
minha mão estar em outro lugar?
— Nas coxas dela?
Digo isso, mas não estou realmente
pensando nisso. Estou pensando em outra coisa.
Algo que eu estou apertando e pressionando entre as
minhas coxas enquanto eu observo seus punhos fechados.
Enquanto tento fazer meus punhos tão fechados quanto os
dele, tão apertados quanto o nó na minha parte inferior da
barriga.
— Sim. Mas não é isso que a minha mão procura. Você sabe disso,
não é? Está atrás de outra coisa. Minha mão está atrás da sua bo...
— OK! – eu quase grito, tentando fazê-lo parar de falar. — Entendi.
Ela queria que você a tocasse em todos os lugares.
Jesus Cristo, ele tem que parar agora.
Ele tem que parar.
Eu não aguento mais. Não posso levá-lo a dizer essa palavra.
Ele ia dizer algo mais, algo como boceta, e não.
Apenas não. Não posso. 104
Eu não posso aceitar que ele possa me conscientizar do meu próprio
corpo enquanto ele está falando sobre tocar no de outra pessoa.
O sorriso do Sr. Edwards fica ainda mais cruel, ainda mais frio. —
Você parece um pouco corada. Você está bem? Um pouco excitada,
talvez?
— Eu estou...
— Observar as pessoas faz isso com você?
Meus olhos se arregalam. Tenho certeza que ele
pode ver através dos óculos de sol. — O que?
— Você observa as pessoas, Violet?
Ele acabou de dizer meu nome.
Ele disse da mesma maneira que ele fez naquela noite.
Como se ele estivesse o destruindo entre os dentes.
Balanço a cabeça, raspando as costas contra a parede
de tijolos. —Não. Claro que não. Eu não... não observo as
pessoas.
— Não?
— Não.
— Então por que você estava me observando?
— Eu não quis te observar. Eu só estava... por acaso estava lá. E... e
você estava, você sabe. E então, eu não conseguia parar de observar. Era
meio hipnótico e eu sou tão...
— Talvez da próxima vez que dois adultos estejam se beijando, você
não faça isso.
Estou tão assustada que nem me ofendo com dois adultos. — Sim, 105
ok.
— Ou tente pornô no seu tempo livre. Para fins educacionais, você
entende, para não hipnotizar novamente.
Eu faço uma careta. Sabia que isso de alguma forma voltaria para me
assombrar, o comentário hipnótico. — OK. Pornô, claro. Vou tentar isso.
Então eu vejo seus lábios tremerem. Apenas uma vez, mas eu vejo e,
para uma ação tão pequena e minúscula, ela tem uma avalanche de
efeitos.
Meu coração acelera um momento antes de
disparar dentro da caixa torácica.
Essa era a maneira dele de... sorrir?
— Chave de cadeia. – ele murmura do nada, e meu
coração que acelera dentro do meu peito diminui.
Eu estremeço, como se a realidade me desse um tapa
no rosto. Eu abro meus punhos e meus ombros ficam
moles.
Em uma voz muito baixa, eu digo: — Eu não sou. Eu tenho dezoito
anos.
Como eu era quando o beijei.
Como eu disse às pessoas várias vezes depois disso.
E então, pulo e acrescento: — E dez meses. Tenho dezoito e dez
meses.
Isso é importante.
Se de alguma forma eu pudesse envelhecer mais rápido, eu o faria.
Mas não posso. Então, vou contar todos os dias em minha idade patética e 106
inadequada.
— Você não deveria estar usando isso, então. – ele levanta o queixo,
apontando algo. — Se não quer que as pessoas tenham uma impressão
errada.
Franzo a testa por um momento, então a percepção surge.
Ah.
Porra.
Estendendo a mão, tiro meu boné de beisebol. É
magenta com “Jailbait8” escrito em preto.
Deus, eu sou uma idiota.
111
Sonhei que era uma adolescente dos anos 80.
— Entra na caminhonete.
Olho para trás e eu percebo que o algo metálico que encostei alguns
segundos atrás era sua caminhonete. Estamos de volta a onde
começamos, no bar onde eu o encontrei.
Onde eu o vi beijar outra mulher.
— Quer que eu entre em sua caminhonete? – pergunto insanamente.
Sem resposta. Mas ele range os dentes e percebo que, quando o faz,
os ossos do rosto parecem ainda mais pontudos e
parecidos com lâminas.
Como se acidentalmente eu tocasse o seu
rosto, eu pudesse me cortar.
— Mas nunca estive na sua caminhonete antes. Eu
pensei que isso não era permitido.
Caramba.
Eu poderia parecer mais infantil do que agora?
Permitido?
Ele se inclina em minha direção, me olhando nos olhos, como se
realmente quisesse que eu me concentrasse em sua próxima declaração.
—Entre ou eu te faço entrar. E você não vai gostar do jeito que eu faço.
— Fazer-me entrar?
Ele se endireita e, soltando a manga da minha camiseta, ele me
agarra pela cintura.
Num piscar de olhos, estou no ar. Meus pés saem do chão e meus
olhos se arregalam, mas eu nem tenho a chance de ofegar antes de ser
jogada no banco da sua caminhonete. 115
Não tenho ideia de como ele fez isso tão rápido. Como ele abriu a
porta enquanto ainda me segurava e como ele me colocou dentro como se
eu fosse um saco de penas, tudo no espaço de três segundos.
Tudo o que sei é que vi uma cara feia em seu rosto quando ele
colocou as mãos em mim para fazer tudo isso.
Cara, ele realmente me odeia, não é?
A visão dessa cara feia é tão chocante, tão triste, mesmo que eu
tivesse esperado, que eu nem solto um xingamento quando minha bunda
bate no banco de couro e meus óculos e boné caem. Eu
ainda consigo segurar minha bolsa.
Sr. Edwards está prestes a fechar a porta
quando eu coloco minha mão em seu peito e o
paro.
Acho que, além de pará-lo, também parei o tempo.
Ou pelo menos, parece que sim.
Parece que eu parei o tempo, e paralisei o mundo ao
nosso redor, colocando minha mão pequena em seu peito enorme.
Sua mão na porta se aperta. Tão apertada que consigo ver os tendões
em seu pulso esticado. Tão tenso quanto seu peitoral.
Que eu estou tocando neste segundo.
— Tire sua mão de mim. – ele ordena.
Imediatamente eu tiro.
Olho para a feição nítida dele. — Meus óculos. Eu preciso deles.
— O que?
— Meus óculos de sol. Eles caíram. No chão.
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Ele me dá um olhar inexpressivo como se não tivesse me ouvido.
Mas então, um músculo pulsa em sua bochecha e acho que talvez ele
atropele meus óculos de sol com sua caminhonete só para me irritar.
Na minha cabeça, eu já estou pensando em comprar um novo,
provavelmente um pouco mais como reserva, quando ele se abaixa e o
pega. Ele os devolve para mim com um movimento brusco da mão e eu o
pego rapidamente, antes que ele mude de ideia e o jogue fora.
Segurando-os no meu peito, eu digo: — Obrigada.
Mais uma vez, ele vai fechar a porta, mas eu o paro.
— Meu boné. Também caiu. – Seu peito
sobe e desce em um longo suspiro e não posso
deixar de acrescentar: — Ma... mas está tudo
bem. Eu não gosto dele tanto assim. Podemos apenas...
Ele dá um passo para trás e bate a porta na minha cara,
no meio da minha frase. Estremeço e meus olhos se
fecham quando os fios de cabelos se movem sobre minhas
bochechas.
Vou comprar um novo boné amanhã. Vou fazer o pedido on-line,
como faço desde que saí de Heartstone, e tudo ficará bem.
Está tudo bem. Está tudo bem.
Na verdade, comprarei vários bonés e óculos escuros. Na verdade,
estou surpresa comigo mesmo por não ter comprado ainda, já que toda a
minha vida depende disso agora.
Lição aprendida.
Alguns segundos depois ele abre a porta do lado do motorista e entra.
Ele tem meu boné nas mãos que joga para mim e eu o pego, soltando 117
meus óculos.
É como se ele tivesse me jogado ar e o peguei, respirando
novamente.
Engolindo, espio seu perfil severo. — Obrigada.
Sua resposta é colocar o cinto de segurança, o que me lembra que eu
tenho que fazer isso também. Antes que ele fique ainda mais irritado, eu
coloco o cinto.
E então saímos.
Para partes desconhecidas.
— Onde estamos indo? – pergunto,
hesitante, observando os reflexos de luzes em
seu corpo largo enquanto passamos por
restaurantes, lojas e vários edifícios no centro da cidade.
Silêncio.
— Estou supondo que é um lugar para conversar?
Nada.
Aperto minha bolsa com as pernas. — Na verdade, eu tenho um
carro. Estava estacionado ali, um pouco mais longe. Se você me dissesse
para onde estávamos indo, eu poderia ter seguido você.
Dei outro olhar para verificar se ele estava ouvindo. Mas não vejo
sinais externos disso. Eu poderia muito bem não estar aqui.
Dentro de sua caminhonete.
Estou dentro da sua caminhonete.
Uau.
Eu imaginei isso muitas e muitas vezes antes. Eu sempre pensei que 118
seria um sonho não realizado, como todos os meus outros sonhos quando
se trata dele.
— Ela é espaçosa. – murmuro, olhando para o teto, o painel, seu CD
player à moda antiga.
Então eu noto o cheiro.
Eu respiro.
Cheira um pouco a... álcool. Não muito, mas um pouco. Há um
vestígio disso.
Agora que estou pensando, Sr.
Edwards também cheira assim.
Almiscarado e picante como álcool.
Limpo minha garganta e continuo a diminuir
o silêncio constrangedor. — A caminhonete, eu
quero dizer. Ela é espaçosa. Então não é como se eu não
gostasse. Mas acho que, se eu tivesse meu próprio veículo,
eu poderia dirigir de volta. Você sabe, quando
terminarmos de conversar. Mas agora, você terá que me
dar carona e...
Com isso, percebo vários tiques no seu queixo.
— Mas está tudo bem. Eu posso simplesmente chamar um táxi.
Então, vocês têm táxis aqui, certo? Eu não vi um único a caminho.
Nada ainda.
— É claro que existem táxis aqui. – eu rio nervosamente. —
Pergunta estúpida. Mas se você pudesse me dar um número... Como,
onde eu posso ligar, isso seria ótimo. Ah! – eu levanto minhas mãos. —
Posso pedir um Uber. Vocês definitivamente têm Uber, certo?
Ah Deus, isso não está ajudando. Estou ficando cada vez mais
nervosa. Por que ele não diz nada? 119
Apenas diga alguma coisa, qualquer coisa.
Não gosto dessa situação do tipo silêncio antes da tempestade. Eu
juro que estou prestes a hiperventilar.
— Se...
— Como você sabia que eu estava aqui?
Porra, finalmente.
Enfio o meu cabelo atrás das orelhas e respondo: — Hum, eu vi no
Facebook.
— Facebook.
— Sim. Vi que você morava aqui.
Sei como isso pode parecer. Que eu estava stalkeando
ele ou algo assim. Mas não quero mentir para ele.
— Como você viu isso? – ele pergunta.
— Brian... Ele postou sobre isso.
À menção de seu filho, seus dedos apertam o volante. Além disso,
suas narinas se abrem e eu não tenho absolutamente nenhuma ideia do
que fazer com isso.
— Então o que, você pensou que poderia aparecer para dizer oi?
Eu me movo no meu lugar. — Não oi exatamente. Eu te disse que
vim...
— Por que você não está na faculdade? – ele resmunga, encarando a
estrada.
Uau, tudo bem.
120
A resposta correta é: não estou na faculdade porque perdi a cabeça
no verão passado e passei algum tempo em uma Clinica Psiquiátrica. E
agora, ir para um lugar lotado como a faculdade me aterroriza, então
estou indo com calma.
Essa é a resposta correta.
Mas a outra resposta correta é: estou bem agora. Estou lidando com
as coisas. Isso está tudo no passado. Então, qual é o sentido de dizer a
ele?
Sinto o couro da minha bolsa contra as pernas enquanto
digo: —Porque são férias de verão. A faculdade
geralmente está fechada.
Mentiras. Mentiras. Mentiras.
Eu estou mentindo para ele e quero vomitar. Mas,
novamente, qual é o sentido de dizer a ele quando tudo
acabou?
Ele aceita minha resposta rangendo os dentes e
apertando o volante com força.
Alguns segundos se passam até que ele faça outra pergunta. —Seus
pais sabem que você está de férias aqui?
Não.
Eles acham que estou em um retiro de ioga com as garotas por causa
de meus problemas de ansiedade, elas ajudaram a tornar tudo
convincente. Nelson recomendou há muito tempo e, na semana passada,
eu concordei em ir.
— Sim. – eu minto pela segunda vez no espaço de um minuto, e a
bile está tão alta na minha garganta que eu sinto na ponta da minha
língua. 121
—Isso é verdade?
Eu posso ver porque isso é um pouco mais difícil de acreditar para
ele, mas continuo nisso. — Sim. É verdade.
— Seus pais sabem que a inocente garotinha do papai está aqui. Com
o suposto predador sexual. É isso que você está tentando me dizer?
Ele está citando aquele artigo do Cherryville Chronicle e, assim que
o diz, o tique na mandíbula não para.
Meu coração segue sua liderança e começa a
disparar também, lentamente ganhando
velocidade.
— Antes de tudo, não sou uma garotinha.
Sou uma adulta. Eu posso tomar minhas próprias
decisões. – eu digo ferozmente. — Segundo, meus pais não
se importam. Minha mãe está ocupada com seu novo caso.
E meu pai está fora do país pelo resto do mês.
Após meu acidente, meu pai permaneceu o mesmo,
mas minha mãe mudou.
Ela começou meio a se importar comigo. Não muito, é claro. Eu
ainda sou a prova viva de suas traições. Mas ela conversou com Fiona
sobre a foto e o desastre nas redes sociais, não que minha irmã tenha
escutado, mas ainda assim ela falou. Mamãe começou a perguntar sobre
minha saúde, meu tratamento, minha terapia e tudo mais.
Mais do que isso, porém, ela fica muito nervosa sempre que Sr.
Edwards é mencionado. Especialmente quando estou mencionando ele,
insistindo em sua inocência e minha culpa.
Aos olhos dela, a culpa foi do Sr. Edwards.
De alguma forma, ele me fez beijá-lo e eu sou a inocente, e nunca 122
vou entender o porquê. Ela sempre teve tanta certeza de que sou a
reencarnação de Satanás.
Às vezes acho que foi ela quem publicou aquele artigo no jornal,
fazendo de mim uma donzela e ele o vilão.
De qualquer forma, não somos uma família feliz e, como nunca saio
de casa, é muito, muito difícil ela não saber onde estou. Então, assim que
eu disse a ela que estava indo com as garotas para um longo
acampamento de ioga no verão, ela reservou minhas passagens
rapidamente, ‘ótima ideia, Violet’, ela disse, e então eu a
ouvi conversando com seu novo namorado no
telefone, planejando encontrá-lo no dia
seguinte.
— E acima de tudo, você não foi acusado de nada. – eu
termino com a mesma força, virando-me para encará-lo.
— É? Estava no jornal. Deve ser verdade. – ele diz
sarcasticamente, com os olhos na estrada.
E isso apenas me deixa louca totalmente.
Fico com tanta raiva por ele. Tão furiosa que não consigo parar de
levantar a voz e fechar as mãos no assento.
— Foda-se o jornal, ok? Foda-se todo mundo. Foda-se cada pessoa
que diz isso sobre você. Foi minha culpa. Minha. Tudo isso. Cometi um
erro estúpido causado pelo álcool, foi estúpido e você teve que pagar o
preço por isso. Não é...
Quase mordo minha língua quando a caminhonete para
violentamente. Apesar de usar o cinto de segurança, meu corpo vai para
frente e se empurra contra o cinto.
123
A dor é tão forte que tudo o que posso fazer é ofegar, sem poder
emitir um som.
— Saia.
Ainda ofegando dolorosamente e esfregando meu peito, eu olho para
ele. — O que?
Ele tira o cinto de segurança, o barulho dele desafivelando é alto,
mais alto do que qualquer coisa que ouvi hoje à noite antes de me
encarar.
Ele não apenas me encara, ele se aproxima de mim.
Mas não em minha direção no banco, isso teria
sido menos assustador por algum motivo.
Ele se aproxima, inclinando-se, pairando
sobre mim.
Ele inclina a cabeça suavemente, apontando algo, mas
seus olhos estão em mim. — Você viu aquilo?
Sua voz íntima me faz tremer. O interior da cabine
mal é iluminado pela luz do teto, tornando o ar espesso e
aconchegante.
É difícil desviar o olhar dele. Mas ainda assim, faço.
É uma placa, verde neon, na beira da estrada, anunciando nossa
chegada à cidade dele, Pike's Peak. Eu passei no meu caminho.
Estou confusa.
Por que estamos aqui?
É uma área deserta, a quilômetros de distância do centro em que
estávamos.
Há quanto tempo estamos dirigindo?
124
Eu viro meu olhar de volta para ele. — Sim?
— Quero que você saia da caminhonete e caminhe até ela. – diz ele,
novamente naquele tom íntimo.
— Por quê? – pergunto, cautelosamente.
— E quando você chegar, eu quero que você continue andando. – ele
faz uma pausa, mas não terminou. Eu posso sentir isso. — Quero que
você caminhe até sair desta cidade. Este estado. – Outra pausa. — Quero
que você caminhe até voltar de onde veio. Você entende?
— Ma... mas eu...
— Eu quero que você ande.
Tudo o que ele disse, ele fez de uma
maneira calma. Tão calma que é mortal e
assustador. E tão oposto ao que estou sentindo agora.
Frenética.
Isso é o que eu sou. É assim que estou fazendo as
coisas.
Freneticamente, olho para a placa. Freneticamente, estou respirando
fundo e olhando para ele.
— Sr. Edwards, eu sei que você não é louco. Eu sei disso. É... é por
isso que eu vim. Eu queria me desculpar e...
— Sei por que você veio. – ele me interrompe, novamente com
calma. — Veio por causa do seu erro estúpido causado pelo álcool, não
é?
Estou tão perto de gemer, tão perto de desmaiar com a rapidez com
que meu coração está batendo. Mas de alguma forma, consigo concordar.
— Você veio porque eu paguei por isso. Por seu erro. 125
Eu dou outro aceno de cabeça.
— Então você acha que quero seu pedido de desculpas, não é? Você
acha isso?
— Sim.
— Agora, deixe-me dizer o que eu penso, sim? Você quer saber o
que penso quando olho para você?
Deus, por que ele está me perguntando?
Isso torna tudo duplamente perigoso e assustador.
Como se eu tivesse escolha. Eu posso dizer
que não e ele não vai me dizer.
Mas eu nunca vou fazer isso. Eu nunca vou
dizer não a ele.
Eu vou aceitar o que ele me der.
Eu aperto meus óculos de sol Audrey Hepburn entre
minhas mãos e aceno. — O que?
Na minha voz baixa, sua calma se quebra. A mão que ele tem no
volante se aperta e eu me preparo.
— Quando olho para você, Violet, penso na noite que mudou minha
vida. Todo mundo tem esse momento. Quando as coisas mudam. O
momento que você se lembra pelo resto da sua vida. O momento em que
você pensa pelo resto da sua vida. Você é esse momento para mim.
Ele faz outra pausa aí, como se estivesse procurando as palavras de
algum lugar no fundo de sua alma. Palavras que ele provavelmente queria
dizer por um longo tempo, mas nunca teve a chance.
As palavras que eu sei que ele dirá vão partir o pouco coração que
me resta.
126
E então, ele me prova que eu estava certa.
— Você. Uma adolescente que fedia a um rum de mil dólares. Você
é o meu momento. Uma garota que arruinou minha vida. É nisso que eu
penso. Penso na minha paz de espírito perdida. A paz que você tirou de
mim. Penso na merda de como minha vida se tornou. Eu penso em como
diabos te esquecer. E penso em como não importa o que eu faça, nunca
esquecerei. Porque você é um pesadelo que é inesquecível.
Fecho meus olhos enquanto seu olhar, sua raiva e suas palavras me
queimam.
— Então eu não quero seu pedido de desculpas.
Eu não quero que você esteja aqui por minha
causa, entendeu? Quero que você saia. Quero
que você saia dessa cidade e nunca mais volte.
Agora ele parece uma montanha imponente, com os
ombros esticados na frente da janela, o peito arfando e as
coxas abertas.
Ou talvez um vulcão que pareça estar prestes a
explodir.
Por minha causa.
O pesadelo dele.
— Ok. – sussurro, concordando.
Pego minha bolsa, abro a porta e desço, tudo de uma vez, e faço o
que ele diz.
Fechando a porta atrás de mim, ando até a placa e coloco minha
bolsa hobo perto dela. Com as costas viradas, agacho e abro o zíper.
Vasculho na minha bolsa por um tempo, sem saber o que eu estou
procurando. Não tenho certeza do que diabos eu estou fazendo. 127
Alguns minutos depois, ouço o acelerador da caminhonete, o som de
seus pneus enquanto ele provavelmente dá a ré, se vira e me abandona.
Sozinha na beira da estrada.
Eu quero chorar. Quero cobrir meu rosto com as mãos e soluçar nelas
até não ter mais lágrimas em mim.
Mas eu não vou fazer isso.
Eu não vou chorar por algo que eu já sabia no meu coração.
Eu sabia que ele me odiava.
Eu sabia que ele estava com raiva, furioso
e nervoso.
Eu esperava isso.
O que eu não esperava era o fato de me tornar seu
pesadelo.
Em todos os sonhos que tive com Sr. Edwards, nunca
pensei nisso. Nunca pensei que iria arruinar sua vida e
roubar sua paz.
Mas está tudo bem.
Estou aqui para consertar isso. Eu estou aqui para fazer tudo certo.
Para pagar pelos meus crimes, e não serei derrotada tão facilmente.
Levanto-me e coloco o meu disfarce.
Boné, fones de ouvido e óculos de sol. Eu também pego alguns
pirulitos.
Levanto-me e jogo a grande bolsa por cima dos ombros. Ao me virar,
olho para a estrada escura e interminável, ainda mais escura pela cor dos
meus óculos. 128
Pelo menos ele escolheu me deixar em uma área deserta, onde não há
pessoas por perto.
Desembrulhando meu pirulito, eu enfio na boca e começo a andar.
Não longe da cidade dele ou dele.
Mas para ele.
Porque eu não vou a lugar algum.
129
Alucinações.
Delírios. Ilusões. Coisas da imaginação.
Todos os itens acima são sintomas de uma mente
doente. Uma mente quebrada. Uma mente doentia. Talvez até
de um coração doente.
Eu nunca gostei delas, das alucinações.
Definitivamente não são as que são provocadas por uma mente
sóbria.
Até esta noite, eu queria que elas fossem embora. Eu queria que me
deixassem em paz e se fodessem.
Na verdade, eu bebia e bebia até ter certeza de que elas me
deixassem em paz. Tive certeza de que meu cérebro estava desligado e
meu coração estava entorpecido.
Estou fazendo a mesma coisa agora. Estou sentado aqui, na minha 130
caminhonete escura, tomando Jack Daniels como água.
Agora, eu daria qualquer coisa, qualquer coisa, para que isto fosse
um pesadelo.
Um pesadelo, como eu disse a ela.
Eu daria qualquer coisa para ela não estar aqui.
Daria qualquer coisa para ver coisas. Estar imaginando, alucinando,
sonhando acordado como eu tenho feito nos últimos dez meses.
Alucinando com o seu rosto pálido. Imaginando seu
cheiro, sua voz. Seus lábios vermelhos.
Mas não é um sonho.
Se fosse, minha caminhonete não estaria
escondida na floresta à beira da estrada em que a
abandonei como o maldito imbecil que sou, esperando que
ela passasse como um criminoso.
Apenas para ter certeza de que... ninguém a estará
sequestrando. Aparentemente, tenho consciência quando se
trata dela.
Que porra.
Que porra ela está fazendo aqui? Por que diabos ela não me deixa em
paz?
Foi um erro estúpido causado pelo álcool...
Então aquilo foi um erro.
Ela cometeu um maldito erro. Porque ela estava bêbada. Porque ela
pensou que poderia fazer o que diabos quisesse.
Porque ela é uma coisa terrível que eu não consigo esquecer.
A coisa mais terrível que já aconteceu comigo.
131
No meu carro.
Eu andei por milhas e milhas e por horas e horas e estou quase morta
agora. Quase, mas não completamente.
Eu vou morrer assim que abrir a porta do meu carro e sentar no
banco. Eu vou morrer de exaustão, fome e frio.
Jesus Cristo, está frio.
Um segundo depois, praticamente caio no
banco e minhas pernas cedem. Eu me livrei do
meu disfarce, minha bolsa e os meus fones de
ouvido. Esvazio meus bolsos das embalagens de pirulito,
jogando-as no chão.
Eu prometo jogá-las fora amanhã.
Mas não consigo descobrir se já é amanhã e devo continuar com a
limpeza.
Estou atordoada e ainda está escuro lá fora. Então, talvez não.
Talvez eu possa apenas apoiar minha cabeça no volante por um
tempo. Só por um momento e depois, irei encontrar um hotel e descobrir
como reservar um quarto sem ter medo de falar com a recepcionista.
— Ok... apenas... cinco segundos. Só cinco e depois eu vou... –
sussurro e abraço o volante antes de fechar os olhos.
A próxima coisa que me lembro é de um barulho alto e isso me
acorda com um sobressalto. Gritando, pulo e bato minha cabeça no
encosto de cabeça. 140
É quando eu percebo que não poderia ter sido um toque. Tinha que
ter sido um estrondo, porque o rosto me olhando pela janela pertence a
um homem muito zangado e impaciente.
Pertence ao homem que me deixou na beira da estrada.
— Saia. – ele diz quando sabe que tem minha atenção.
Franzo a testa, incapaz de entender como ele chegou aqui e o que
está dizendo.
Então ouço um estrondo no teto. Não é um grande
estrondo, mas é o suficiente para limpar minhas teias
de aranha sonolentas, me fazendo pensar que
ele meio que bateu com o punho no teto do
meu carro.
Caramba.
Como ele pode fazer meu carro parecer, uma
maquinaria pesada, toda
insignificante e pequena, eu nunca vou saber.
— Saia agora.
Eu nem espero para obedecê-lo. Eu saio.
— O que você está fazendo aqui?
Ele olha para mim de rosto vazio. — Você tem mala?
— Sim.
— No porta-malas?
— Sim…
— Abra.
141
— Hã?
Ele me dá um olhar. — Apenas abra.
Ele não espera para ver se obedeci. Ele simplesmente se vira e chega
na traseira do meu carro em dois passos. Quando ainda não abri o porta-
malas, ele me dá outro olhar impaciente e eu entro no meu carro para
fazer o que ele pede.
É o sono, digo a mim mesma.
Estou com sono e é por isso que estou agindo como sua escrava. Essa
é a única razão.
Ok, certo.
Sr. Edwards pega minhas malas, uma
vermelha, e caminha de volta para mim. —
Vamos.
— O que?
Mais uma vez, ele não explica, nem espera para ver se
eu estou o seguindo. Ele continua andando, carregando a
minha mala na mão. Ele nem a coloca no chão, e sei que
está meio pesada. Será estranho dizer que isso faz meu corpo inteiro
formigar? Ele estar carregando minha mala pesada como se não pesasse
nada.
Ele está no fim do quarteirão quando acordo e entro de novo no meu
carro, pego meu disfarce e minha bolsa, não consigo esquecer minha
bolsa, antes de segui-lo.
Meu corpo inteiro está rígido e minhas pernas vão me abandonar a
qualquer segundo, mas continuo andando. Tenho a sensação de que ele
vai jogar minha mala no lixo ou algo assim, apenas para deixar claro o
quanto ele não me quer aqui. Então, eu preciso estar lá para pegá-la na
lixeira.
142
Mas chocantemente ele não joga.
Ele continua andando e andando, e então entra no mesmo bar que eu
o encontrei. A placa diz fechado, mas ele ainda empurra a porta e entra.
Que diabos ele está fazendo?
Chego a porta e meus pés param. Eu literalmente não posso movê-los
e fazê-los dar o último passo.
Deus, às vezes eu acho que sou uma vampira ou algo assim. Ou um
dos meus antepassados era um vampiro. Eu amo a noite, eu sou pálida pra
caralho. Não consigo entrar pelas portas da frente.
A única coisa que resta é sugar sangue.
Então talvez eu seja tipo setenta por cento
vampira.
E Sr. Edwards não gosta disso.
Claro.
Quando observo o bar, ele já está conversando com
um cara atrás do balcão. Um roqueiro gordo e barbudo que peguei um
breve vislumbre antes de desviar o olhar. Agora, Sr. Edwards olha para
mim e olha furioso quando percebe que não estou me mexendo.
— Qual é o problema? – ele pergunta impaciente.
Eu estremeço. — Eu... o que estamos... o que está acontecendo?
— Entre aqui.
Lambo meus lábios e olho para o batente da porta. Graças a Deus eu
tive lucidez suficiente para disfarçar porque o cara atrás do balcão está
me encarando com diversão.
— Eu não acho que posso.
143
Com isso, Sr. Edwards realmente me encara. Tipo, sério. Este é o
olhar para acabar com todos os olhares. Então ele se dirige ao homem,
pede licença e se aproxima de mim.
Dou um passo para trás assim que ele me alcança. Ele me observa
por um segundo e eu já estou me encolhendo com a mentira que vou ter
que contar quando ele perguntar sobre o meu medo das portas da frente.
Mas então, ele agarra meu braço - pela camiseta, lembre-se - e me
arrasta para dentro.
Chegando ao homem no balcão, ele diz: — Chave.
O homem joga para ele e ele a pega com a
sua capacidade física de costume e familiar
antes de começar a me arrastar.
Atravessamos a parte dos fundos do bar, pegamos o
corredor e subimos as escadas até chegarmos a um quarto, a
porta do qual ele abre com um empurrão.
Soltando a minha mala, ele me encara. — Como não
há bêbados desmaiados aqui em cima, Billy deixará você ficar aqui a
noite toda. Mas apenas uma noite. Amanhã você vai embora.
E assim, ele vira e começa a descer as escadas.
Ele apenas... meio que me reservou um quarto?
Olho para o quarto e sim, há uma cama, uma cômoda, uma cadeira
pequena e uma porta entreaberta que se abre para o banheiro.
Ele me encontrou um quarto. A mesma coisa que eu estava com
medo de procurar.
Sem mencionar, que ele me forçou a entrar pela porta da frente e fez
isso tão rápido que tudo o que senti foi esse grande choque e nada mais. 144
Nada.
Quero dizer, ele me deixou no lado da estrada. Mas então, ele não
precisava fazer nada disso. O homem me odeia. Ele poderia ter me
deixado lá e eu teria dormido no carro. Porque vamos ser sinceros, eu não
faria algo que envolvesse conversar com um estranho para reservar um
quarto para a noite.
Mas por causa dele e de seus modos estranhos, eu vou dormir em
uma cama.
Dou um passo à frente, em direção a ele para
agradecer talvez, mas ele desapareceu de vista.
E não tenho absolutamente nenhuma ideia do
que sentir neste momento, exceto uma grande
sensação de alívio.
..........................................
Eu ouço a voz dele.
Está vindo lá de baixo. Um pouco aborrecida, diluída
e misturada com outra voz. Essa pertence a Billy, o homem divertido que
vi na noite passada, eu acho.
Então, ele está no andar de baixo.
Sr. Edwards.
O que ele está fazendo aqui?
Ele provavelmente está aqui para ver se eu fui embora ou não.
Porque ele disse que queria que eu fosse embora hoje.
Ele disse isso, certo?
Muito do que aconteceu ontem à noite parece surreal. Parece os
sonhos que eu não tenho mais. 145
Mas não, aconteceu.
Ele me encontrou um quarto e eu dormi em uma cama como os
mortos. Então acordei, tomei um banho e, assim que saí, ouvi sua voz.
E agora, estou do lado de fora antes de repassar meu plano.
Não tenho certeza do que vou dizer a ele ou como vou dar as más
notícias de que não vou embora ainda, mas preciso vê-lo.
Desço as escadas, ando pelo corredor e chego ao salão para descobrir
que Sr. Edwards está sozinho, encostado no bar, e que Billy saiu.
Talvez ele tenha ouvido os meus passos
desajeitados e rápidos, porque ele se vira e me
encara.
Ele também usa uma camisa xadrez hoje, as
mangas dobradas até os cotovelos, uma das quais
está apoiada na barra de madeira. Seus dedos estão agarrados
a uma garrafa. Uma garrafa de Jack Daniels, e me lembro do
cheiro de álcool da sua caminhonete.
Ele está bebendo logo de manhã?
Como se para responder minha pergunta não dita, ele pega a garrafa e
toma um gole enorme, sem interromper o nosso olhar.
— O que há com o boné e os óculos de sol? – ele pergunta, como se
estivéssemos apenas conversando, como se ele não tivesse a intenção de
me expulsar de sua cidade e como se eu não pretendesse frustrar suas
tentativas, pelo menos por um tempo.
Coloquei meu disfarce quando ouvi a voz de Billy, mas, como se vê,
não preciso disso. Mesmo assim, não tiro quando me aproximo dele e do
bar. Ao alcançá-lo, apoio meu próprio cotovelo nele e me inclino a alguns
metros dele.
— É o meu novo visual. – eu respondo. 146
Pelo menos isso é verdade.
— É? Ser uma irritante gigantesca parou de funcionar para você?
Eu engulo, olhando para longe de seus olhos e para a garrafa que ele
está apertando com os dedos.
— Sim. Por uma questão de fato, sim. Eu precisava de uma mudança.
— Então, o que você deveria ser agora? Uma princesa adolescente de
ressaca?
Não. É o meu disfarce contra o mundo.
Mas tudo bem se ele pensa em algo
completamente diferente.
Isso está bem.
Eu levanto meu queixo, mesmo que esteja morrendo um
pouco por dentro, porque estou escondendo coisas dele,
mentindo para ele. — Eu prefiro diva, mas princesa
também serve.
Seus olhos se estreitam por um segundo antes que ele tome outro
gole de uísque, me observando.
— Hum, obrigado por... reservar o quarto para mim. Eu teria
agradecido a você ontem à noite, mas você acabou saindo. – eu começo.
— Embora eu não tenha muita certeza de como você sabia onde eu
estava.
O que está me ocorrendo agora.
Isso é um mistério, certo?
Como ele saberia onde eu ia estar? Como ele sabia que eu dormiria
no carro?
147
Pensamentos passam pelo meu cérebro um por um por mais cinco
segundos, quando abruptamente, ele se move, e eles fogem.
Ele toma outro gole de seu Jack Daniels, este maior, e ouço a gota do
líquido caindo e o pomo de Adão deslizando com ele. Então ele coloca a
garrafa no balcão, limpa a boca com as costas da mão e dá um passo em
minha direção.
— Então, você encontrou o caminho de volta. – ele murmura,
ignorando completamente a minha pergunta.
Embora nem eu me lembre do que estava pensando
diante daquele gigante, barbudo, avançando sobre
mim.
Automaticamente, começo a voltar. —Não foi difícil. Eu
tinha meu GPS no celular, isso é uma coisa maravilhosa.
O tempo todo sinto essa emoção relutante percorrer
meu corpo. Uma emoção estúpida.
Uma espessa emoção de estarmos sozinhos. O bar está fechado. As
janelas estão fechadas e cobertas. Não ouço nada além de nossos passos
em movimento e nossas respirações.
— Da próxima vez vou tirar seu celular. – ele sussurra.
— Da próxima vez eu não vou entrar na sua caminhonete.
O tempo todo, me pergunto por que não tenho medo de ficar sozinha
com ele. Eu nunca tive realmente, nem naquela noite, quando ele próprio
me avisou sobre garotinhas serem sequestradas. Essa garotinha mal tinha
medo ou até mesmo era tímida.
Embora agora eu tenha todos os motivos para ter medo, vergonha e 148
cautela.
O homem me odeia. Me odeia.
Ele me deixou na beira da estrada na noite passada e agora ele está
tentando me atropelar com seu corpo.
Sim, estou recuando enquanto ele caminha em minha direção, mas
não com medo.
Eu estou dançando a música dele. Estou combinando com ele passo a
passo. Eu estou mantendo o ritmo de seus pés como se sua espreita fosse
uma música sombria de algum tipo.
— E da próxima vez também, você não
terá escolha. Como não teve ontem à noite.
Eu engulo.
Eu lambo meus lábios.
Eu respiro ofegantemente.
Parece que tenho andado pelo deserto. O deserto mais
seco e quente do planeta, tão queimada pelo sol que minha pele está
rachada e minha língua ressecada.
— Tire-os. – ele ordena, referindo-se ao meu disfarce, como ele fez
ontem.
E percebo que não o tirei porque queria que ele dissesse. Queria que
ele ordenasse primeiro, me fizesse sentir minúscula e dominada. Assim
como ontem à noite, eu faço isso em um flash.
Deus, eu sou louca.
Faço isso tão rápido e faço de uma maneira que diz que mal posso
esperar para ser frágil e vulnerável na frente dele, e que o alimente com
bobagens: — Você não pode me dizer o que fazer. 149
Nós dois sabemos que é a mentira do século. Seus olhos até vão para
o disfarce que está pendurado nos meus dedos suados.
Ele me anima com um movimento de seus lábios. — Vou manter
isso em mente.
— Faça isso. – digo, mantendo a farsa.
Então minhas costas batem na parede e se apoiam nela, e eu esqueço
como formar as palavras.
Ele para a alguns metros de mim, com os seus ombros
bloqueando a luz entrando pelas janelas, jogando-nos
completamente na sombra, transformando o
dia em noite.
Percebo que seus olhos são castanhos,
castanhos escuros e rapidamente escurecendo.
Será que algum dia vou superar como seus olhos são lindos,
como camaleões, imprevisíveis?
Ele percorre o meu rosto, me incentivando um pouco
mais, antes de murmurar descuidadamente: — Diga-me
uma coisa. O que você faz quando alguém a deixa na beira da estrada?
— O que?
Quando ele se inclina para mim e coloca a mão, apoiada na parede
acima da minha cabeça, sei que não vou gostar do que ele tem a dizer.
Mas isso não importa, de jeito nenhum, porque ele está mais perto de
mim.
Eu posso sentir seu aroma picante misturado com uísque, e eu posso
sentir seu calor na minha pele.
— É tarde da noite. A estrada está deserta e você sabe tudo sobre a
cidade. O que você faz, Violet? 150
Minhas mãos estão abrindo e fechando, da mesma maneira que
minha boca, tentando encontrar uma resposta.
Quero dizer, o que ele está me perguntando? Não é como se eu fosse
abandonada o tempo todo.
— Bem, eu não tenho certeza qual é a resposta certa. Vendo como
isso nunca tinha acontecido comigo antes da noite passada. Mas optei por
voltar à civilização.
Isso me deixa com narinas dilatadas.
— Você volta para a civilização. Mas digamos
que você tivesse seu celular e poderia ter
chamado um táxi. Você poderia ter chamado
um Uber. Você faz isso? Ou anda por milhas?
Não apenas isso, mas você caminha como se
fosse a dona da estrada. Como se você não houvessem
perigos no mundo. Você usa fones de ouvido gigantes e
ridículos e está dançando ao som da música. É isso o que
você faz?
Ele está falando.
Ele nunca fala tanto e está dizendo muitas coisas sobre as quais não
deveria ter conhecimento.
Quero dizer, como ele sabe que eu estava dançando? Fiquei triste e
sabia que se não fizesse nada para me distrair, ficaria na estrada e
choraria até o amanhecer.
— Como você...
— E então, quando você caminhou por quilômetros como uma idiota,
o que você faz? Você dorme no carro? Em vez de encontrar um lugar
decente e seguro para passar a noite? Vamos. Esclareça-me, Violet.
151
Tento novamente quando ele faz uma pausa, com seu peito arfando,
empurrando sua camisa xadrez ao limite. — Como você sabe o que eu fiz
depois que você me deixou?
Eu juro que ouço alguma coisa.
Um gemido, talvez, se originando em algum lugar profundo nele. Ou
o tecido finalmente sendo levado ao limite e rasgando com o tamanho de
sua respiração.
— Me responda. É isso que você faz quando fica na beira de uma
estrada deserta, porra?
Seu tom é grosso. Cada palavra que ele
proferiu, todo palavrão que falou, está me
agitando com o calor.
Eles me atingiram como dardos, afiados e cortantes. Mas
não estou me encolhendo com a dor deles. Não estou me
movendo ou gemendo de dor.
Eu gosto deles.
Gosto do calor de suas palavras mordazes. Eu gosto de como eles são
eletrizantes.
Porque eu entendo o que está acontecendo aqui.
Ele está bravo comigo por sobreviver à sua ira, não é? Ele está bravo
por ter feito algo horrível comigo e ainda assim voltei. Não fugi
chorando.
Ainda estou aqui.
Ele está bravo por não ter sido capaz de me assustar.
Eu aperto minha mão e meu disfarce cai no chão. — Você voltou por
minha causa, não foi? É assim que você sabe o que eu estava fazendo. 152
Que eu andei por quilômetros. Foi assim que soube onde me encontrar.
Sua fisionomia carregada está monumental, mas não sou intimidada.
Ele achou que eu teria medo dele. Ele pensou que eu seria como um
dos seus jogadores ou algo assim.
Sr. Edwards.
Eu não sou normal. Coisas típicas como bestas raivosas não me
assustam. Tenho medo de outras coisas minúsculas, como portas da frente
ou ser parada na rua por um estranho.
— O que eu não entendo é, por que não vi
você?
— Porque como eu disse, você estava muito ocupada
para perceber qualquer coisa. Muito ocupada e muito
imprudente.
— Então você voltou e depois o que? Você me
seguiu?
Ele fica calado e ainda está com a cara feia, e novamente eu sei que
estou certa.
Também sei que não deveria ficar muito animada.
Mas não posso evitar. Ele não apenas me salvou de toda a ansiedade
de conversar com um estranho e encontrar um quarto para a noite, como
me seguiu até o carro.
Deus.
Eu sinto... tudo carregado e borbulhante e leve. — Onde estava sua
caminhonete? Quer dizer, não posso que ser cega. Eu teria visto os faróis. 153
— Sim, isso é discutível. – e então. — Eu deixei na floresta. Queria
ver até onde você andaria antes de se desesperar e chamar um táxi. Mas,
aparentemente, você é estúpida demais para fazer isso. Aparentemente,
andar sozinha, no escuro, era preferível a pedir ajuda. Eu quase desejei ter
deixado você dormindo em seu carro apenas para lhe ensinar uma lição.
Balanço a cabeça para ele, meio divertida e cheia de formigamentos.
— Você não só voltou por minha causa e me encontrou um lugar para
ficar a noite, como também caminhou de volta à cidade, a pé também.
Minha voz soa mais vibrante e cheia de ar do que eu
pretendia que fosse. E Sr. Edwards também ouve.
Suas sobrancelhas se juntam, e ele se
abaixa para isso. — Vamos esclarecer isso de
verdade, a única razão pela qual fiz isso foi
porque você parecia infeliz quando eu a chutei
para fora da minha caminhonete. Então, eu tive pena de você.
Foi um ato de pena, entendeu? Acalme os hormônios da
adolescência porque você está indo embora agora.
Ele tira a mão da parede e levanta-se, pairando sobre
mim como um pilar, e cruza os braços sobre o peito, esperando que eu
concorde e vá embora.
Hormônios adolescentes.
Certo.
Claro, sou uma adolescente, então estou cheia de hormônios e eu não
sei o que estou fazendo.
Ele realmente sabe como me irritar, não sabe?
Eu não ia ser como adolescente, mas agora eu vou.
Eu olho para ele, apertando minhas mãos. — Não.
154
— O que?
— Você me ouviu. Primeiro de tudo, não preciso da sua pena. Não
preciso de nenhum favor seu. E segundo, eu não vou a lugar algum. Este
é um país livre. Eu posso ficar aqui o tempo que eu quiser. Você não
pode me parar.
Ele fica quieto. Como se eu apenas o desafiasse, sua fera interior. —
Isso é realmente algo que você quer me dizer?
Ah cara.
Ele não sabe o que fez.
Desafio aceito.
— Sim. Você não pode me parar. – digo.
Muito bem. Eu disse isso. Há apenas uma coisa.
Mexo minhas mãos e arregalo os olhos. — Você
quer me deixar na beira da estrada, tudo bem. Faça. Voltarei
sempre e não vou ligar para um táxi só para te irritar. Por
isso não chamei pela primeira vez. Porque eu sabia que
você gostaria que eu desistisse. E você sabe o que mais?
Eu vou dormir no meu carro, todas as noites. Mais uma vez, apenas para
te incomodar. Eu sou adolescente, certo? Adolescentes fazem coisas
loucas. Então sim. Eu não sou um dos seus jogadores e você não pode me
controlar.
Estou ofegando, observando-o através do nevoeiro que parece ter se
estabelecido sobre mim, me deixando meio entorpecida e o mundo meio
embaçado.
O único problema com o mundo sendo embaçado é que agora ele
está brilhante. Mais brilhante que antes. Ele parece mais nítido para mim,
mais claro do que nunca, mais focado em seu rosto frio e barba selvagem.
— País livre, hein?
155
— Sim.
— Então você pode fazer o que quiser.
— Sim eu posso.
Seu sorriso é lento e preguiçoso, mais frio que o gelo.
Eu não toquei seu sorriso, com minhas mãos, mas as pontas dos meus
dedos estão ficando azuis de qualquer maneira.
Seus olhos escuros pousam na minha boca por um segundo. — Então
você faz muito isso? Cometer muitos erros estúpidos causados
pelo álcool?
Eu separo meus lábios porque merda, eu
não consigo respirar. Ele está olhando para os
meus lábios.
— O que? – digo em voz alta.
Ele descruza os braços e diminui a distância entre nós
novamente. Desta vez não há dança, não há ritmo com os
pés. Ele vem até mim rapidamente.
— Erros estúpidos causados pelo álcool. – diz ele. — Como o que
você fez naquela noite. Você os faz muito? Já que é um país livre e tudo
mais. E você pode fazer o que diabos você quiser.
Eu teria respondido. Teria dito algo em resposta à sua declaração.
Se ele não tivesse baixado o olhar ainda mais.
Se ele não tivesse começado a olhar para o meu peito.
O que por si só é tão surreal que está fazendo isso. Que ele encontra
algo no meu corpo interessante o suficiente para fazer o que está fazendo.
Encarando. Muito, muito lento. Como se ele tivesse todo o tempo do
mundo para olhar, analisar e memorizar. 156
E depois de um momento ou dois de seu olhar, sinto algo exatamente
no local em que seus olhos estão.
Sinto-me molhada.
Olho para baixo e percebo que meu cabelo molhado do banho está
pendurado no ombro e paira sobre o peito direito. A água escorreu pela
minha camiseta, tornando-a úmida e transparente. Fazendo com que o
contorno do meu peito fique visível junto com o meu sutiã vermelho e
meus mamilos duros.
Ah Deus.
Ele está olhando para os meus mamilos.
Sr. Edwards está olhando para meus
mamilos.
— Tem Violet? – ele repete a pergunta com voz rouca,
levantando os olhos.
— Eu não entendi a pergunta. – digo fracamente,
diante do fato de que seu olhar sexy está me fazendo
querer apertar minhas coxas. Curvar meus dedos dos pés e morder meus
lábios e mover meu corpo de maneiras que são muito inapropriadas.
Muito.
— Acho que sei a resposta. – ele me diz enquanto move seu corpo na
mesma posição de antes, com a mão na parede acima da minha cabeça.
— Qual é a resposta?
— Eu acho que você sai por aí beijando quem você quiser. Isso não
está certo?
— O que?
Ele levanta o queixo. — Sim, acho que está certo. Acho que é isso 157
que você faz. Você fica bêbada e dá em cima dos homens. Esses
hormônios adolescentes, não é? Eles fazem isso com você, não fazem?
Talvez você até os deixe ir mais longe.
— Mais longe?
— Sim, talvez você os deixe colocar as mãos em seu corpinho
minúsculo. Talvez eles te toquem da maneira que eu queria tocar naquela
mulher noite passada. Antes de você aparecer e estragar tudo para mim.
— Eu...
— Porque tudo começa com um beijo, não é?
Porque nada disso significa alguma coisa para
você. É tudo um erro estúpido causado pelo
álcool que você nem se lembra no dia seguinte.
Ele termina a frase com os dentes rangendo e acho que
acabou.
Acabou.
Mas não, ele tem mais a dizer. Ele tem mais gasolina para jogar sobre
o fogo que suas palavras começaram em minhas veias para que queime
meu corpo inteiro.
— Você se lembrou disso no dia seguinte? Do beijo? Ou você estava
apenas jogando um jogo? Foi tudo um jogo, não foi? Você fez aquilo
tudo por nada e para dar risadinhas. Poderia ter sido qualquer um. Poderia
ter sido toda a vizinhança. Pelo que sei, foi toda a vizinhança. Talvez
você tenha ido até todos os homens da região antes de vir até mim. Não é
mesmo? Porque vamos ser sinceros, foi um erro, não foi?
Meu peito está doendo. Está arfando, quase vibrando com a violência
em minhas respirações.
Estou furiosa. 158
Deus, eu estou tão, tão furiosa.
Mas não consigo me mexer. Não posso me fazer escapar das chamas
que queimam a minha pele, meus mamilos e transformando-os nesses
pequenos pontos duros, fazendo-os doer.
Como ele ousa?
Como ele ousa dizer isso? Como ele ousa?
Como ele se atreve a ficar ali, todo indignado e tenso, olhando para
mim como se ele quisesse me matar por beijar outros
homens quando eu nunca beijei alguém em toda
a minha vida?
Mas sabe o que, foda-se ele. Estou muito
longe agora. Longe demais com a minha raiva.
Eu não vou corrigi-lo.
Se ele quer ser um idiota, ele pode ser um. Mas eu não
vou cair nessa.
Desafio aceito, Sr. Edwards.
— Bem, agora você sabe. Agora sabe que é isso o que eu faço.
Assim que as palavras saem da minha boca, todo combate me deixa.
Todo fogo e toda a raiva.
Eu sei que não deveria ter dito. Ele está certo em ficar com raiva e eu
deveria ter aceitado. Eu deveria ter aceitado sua ira.
Um segundo depois, ouço um soco, um soco que ele dá na parede,
tão forte que praticamente sacode o prédio inteiro.
— Não brinque comigo, entendeu? – ele fala alto. — Se eu disser
para fazer alguma coisa, faça. Se eu disser para ir embora, você vai
embora. Você vai embora. Não mexa comigo. Você nunca mais mexerá 159
comigo. Eu como garotas como você no café da manhã. Você entende? E
você? Vou te devorar tão devagar que você sentirá cada mordida
dolorosa. Eu vou fazer você sentir cada mordida dolorosa. Cada mordida
dos meus dentes afiados. Cada puxão cruel da minha boca. E confie em
mim, você não vai gostar, nem um pouco. Então se acalme e vá embora.
Esta é a última vez que pedirei gentilmente.
Com isso, ele se vira e sai pela porta.
Querido coração, sério.
Por que ele?
- Diário da Retraída Violet, 17 anos.
172
Eu o vi em uma jaqueta de couro ontem. O inverno é
Não.
Ele também dá um passo para trás e acho que é porque ele sabe que
estou surtando a cada segundo. Ele finalmente está percebendo o que eu
sou.
O que não é verdade.
Eu estou bem.
Bemmmm.
Porque ele não está prestando atenção em mim. Seus pensamentos 174
estão longe, provavelmente naquele alguém na porta, e para provar isso,
ele se vira e sai. Ele caminha pelo corredor de sua cabana e vai até a porta
da frente.
Logo quando ele gira a maçaneta, eu me viro e me encosto na parede,
me escondendo de vista.
Eu ouço a porta abrir, seguida pela voz do Sr. Edwards. — Richard. –
ele parece furioso. — O que você quer?
— Estou surpreso em ver que você acordou tão cedo. – diz o homem,
Richard.
— Se você sabia que havia uma
possibilidade de eu estar dormindo, por que
você veio?
Richard ri. — Para acordar você.
— Bem, como pode ver, estou acordado. Então você
pode ir agora.
Meu coração sobe até a garganta e pressiono minha mão na boca com
mais força. Sr. Edwards vai dizer que sim? Ele traria
Richard aqui para me ver?
Ah Deus, eu não posso ver pessoas sem
meu disfarce.
Não posso.
— Eu não estou aqui para brigar com você, está bem? Minha filha
está na cidade. Vou levar ela e minha esposa para um
bom almoço. Não quero estragar o meu dia.
— Então não estrague.
Não há nada além de passos e posso muito bem imaginar que Sr.
Edwards esteja rangendo os dentes para Richard ou coçando a barba de
uma maneira que faça as pessoas se sentirem estúpidas.
177
— Sim. Por que não fui suficientemente claro sobre isso no passado?
Cada vez que o vejo, ele está com uma garrafa. Ele bebeu tanto
uísque agora, mas quase nada aconteceu com ele.
Ele parece sóbrio. Exceto pelo cheiro penetrante e viciante, e a
dilatação de suas pupilas, não consigo ver mais sintomas.
Na verdade, não.
Estou errada.
Tenho que fazer uma pausa porque vejo seu peito arfando.
— Também odeio escolas. – digo porque quero que ele saiba que não
está sozinho. — Odeio corredores, estudantes e professores. Todos com
seu julgamento e as suas fofocas. Fui lá uma vez depois... que tudo
aconteceu, para ver o diretor, e eu odiei cada segundo daquilo. Eu odiava
o cheiro, o ar, os armários. Tudo.
Voltei à escola para dizer ao diretor Jacobs que fui eu quem fez a
coisa errada. O prédio estava vazio, exceto por algumas pessoas.
Não encontrei ninguém a caminho do escritório do
diretor, mas ainda sentia minha pele arrepiar.
Como se todos estivessem me olhando.
— Mas não é isso, é? Você não odeia apenas
escolas, odeia tudo. Odeia suas rosas também. É
porque eu estava tentando roubá-las naquela noite? É por
isso que você não cuida mais delas?
Eu limpo a boca com as costas da mão, me sentindo
tão pequena, tão vulnerável.
— Elas me lembram de você. – ele finalmente diz, soltando o fôlego.
— Suas rosas?
— Sim.
Isso aperta meu coração tanto que acho que vai explodir. Minhas
veias irão estourar. Minha mente entrará em colapso. Meu coração se
autodestruirá.
— E é por isso que as odeia agora, porque me odeia. – eu concluo em
um sussurro, imaginando quantas garotas sonham em ser a rosa de 181
alguém e quantas choram quando realmente se tornam.
Ele se encolhe, com um tremor.
Ele quase tropeça para trás, como se desta vez eu atirasse nele com
uma arma e a bala atingisse seu coração.
— Que porra você está fazendo? – ele diz alto.
— Tudo o que você disse. – sussurro, olhando para ele, com meus
joelhos no chão, no antigo piso de madeira.
Então vou em frente e ponho as mãos no chão também, ficando de
quatro. Minhas mãos estão a poucos centímetros de onde começam os
cacos de vidro. Eles estão espalhados, entre nós, e eu não me importo se
preciso rastejar através do vidro para chegar até ele.
Olho para ele novamente e encontro sua cara feia, a mais feia que eu 183
já vi. É tão nítida, que é quase como um buraco no chão.
— Você me disse para não brincar com você. Não mexer com você.
Para fazer o que você diz. Então, se você quer que eu me ajoelhe, então
me ajoelho. – eu levanto minha mão e dou um passo em sua direção. —
Vou rastejar, implorar e me sacrificar até você seguir em frente. Até você
não odiar ou sentir raiva. Eu farei tudo e qualquer coisa. Porque é tudo o
que posso fazer. Eu não posso mudar o passado. Não posso apagar meu
beijo, Sr. Edwards, mas posso fazer você esquecer e seguir em frente.
E então, eu levanto minha outra mão e vou até ele.
Estou tão confusa e distraída com os dedos em minha pele nua pela
primeira vez que estremeço quando ouço sua voz novamente. — Não.
Nunca. Nunca faça isso de novo. Não por mim.
É quando eu entendo tudo.
210
Desintoxicar não é divertido.
Eu sei.
Já passei por isso. Quando me internaram em Heartstone, me deram
todos os tipos de medicamentos e coquetéis de medicamentos. Todos
tiveram efeitos colaterais. Alguns funcionaram, outros não. Então eles
começaram a parar de administrá-los. Passaria pelo tremor, pelos suores
noturnos, calafrios, vômitos e todas as coisas divertidas.
Quatro dias atrás, chorei na frente dele pela primeira vez e ele foi
embora. Horas depois, ele voltou de onde quer que fosse. O tempo
todo que eu fiquei sozinha na cabana esperando por ele,
eu a arrumei um pouco. Joguei fora o lixo,
lavei a louça e limpei a bancada da cozinha. O
básico.
Ele apareceu com um rosto inexpressivo e um silêncio
que eu tive que quebrar.
— Só, hum, tentei melhorar isso... – eu parei quando
ele moveu seus olhos para mim antes de eu acrescentar um
sussurro: — Para você.
Ele olhou para mim com uma intensidade que queimou minha pele e
fez surgir uma bonita cor vermelha. Uma intensidade que ainda sinto
quatro dias depois.
Pensei que ele diria algo, algo rude ou brusca, ou algo sobre para
onde ele foi e o que fez. Porque ele praticamente fugiu quando viu
minhas lágrimas.
Porque ainda acho que ele fugiu. Ainda sinto que ele não podia me
ver chorar.
Que deve ser a coisa mais ridícula do mundo, certo?
211
Por que ele se importaria? Ele me odeia.
Enfim, tudo o que ele fez foi caminhar em minha direção com um
propósito até que fiquei sem fôlego e ele me deu uma garrafa de Jack
Daniels.
É isso aí. Isso é tudo. Uma garrafa de Jack Daniels e nada mais.
Mas eu sabia.
Eu sabia que ele tinha concordado com meus planos. Ele concordou
em desistir.
Eu sorri naquele dia.
Mas não estou sorrindo agora. Isso não
seria bonito.
Eu sabia disso, no entanto.
Sabia que isso não seria bonito e pensei que estava
preparada. Mas você nunca está preparada quando se trata
de ver alguém passar pela dor da desintoxicação. Alguém
com quem você se importa tanto que todo desconforto faz
você se sentir inútil.
Primeiro de tudo, há dores de cabeça.
Deus, as dores de cabeça.
É como se eu pudesse senti-las. Posso sentir suas têmporas pulsando.
Eu posso sentir o calor e o pulso de sua dor na base do meu próprio
crânio. Seus olhos lacrimejam quando fica muito forte. Ficam
avermelhados, brilhantes de uma maneira que sei que vem da exaustão.
Teria sido bom se ele tivesse dores de cabeça, no entanto.
Mas isso não é apenas a única coisa, é? Nunca são apenas dores de
cabeça. Ela vem com a sensação de náusea.
212
Sim, náusea é ainda pior.
Queima seu estômago, seu peito e a sua garganta. Faz você suar e
tremer e, às vezes, mesmo com todas as suas náuseas, nada sai. Porque
você já expeliu tudo.
Já passei por isso. Mas Jesus Cristo, eu parecia tão agonizante?
Parecia que alguém estava me torturando, estrangulando minha traqueia e
eu esperava e rezava para que eu morresse?
Acho que não. Eu não acho que fui tão torturada quanto ele.
Pela porta do banheiro, eu continuo dizendo a ele
que vai ficar tudo bem. Isso vai passar e ele vai
ficar bem.
Mas ele nunca pronuncia uma palavra. Ele
nunca reclama de nada disso.
Embora ele me peça uma coisa, quando digo para ele
beber mais líquidos e esbanjar nos complexos vitamínicos
que eu pedi para o meu amigo, Billy, comprar para ele,
para que ele possa manter suas forças.
Ele me olha, com seus olhos cor de avelã e de camaleão, enquanto
toma as pílulas com o suco. — Como você sabe tanto sobre isso?
— Você quer dizer, álcool e tudo isso?
— Tudo isso. Sim.
Agora eu sinto vontade de vomitar. Sinto meu estômago revirar.
— Google. – Meu coração começa a acelerar quando ele não
acredita. Eu posso ver isso em seu olhar especulativo. — E porque eu
venho de uma família de alcoólatras enrustidos.
Isso parece satisfazê-lo. — Sua mãe.
Ufa. 213
Ótimo.
— Sim.
Ele zomba. Como se não aprovasse. Como se ele não aprovasse
minha mãe beber e me sinto culpada por mentir para ele.
Quero dizer, que é claro que a minha mãe bebe. Mas todo esse
conhecimento que tenho vem de outra coisa. Outra coisa que não posso
contar a ele.
Não quero contar a ele.
Mas está ficando cada vez mais difícil
mentir.
Está tudo bem, Violet. Você está bem. Não
há nada para contar. Está tudo no passado.
Apenas se concentre nele.
Então é isso que faço. Eu me concentro nele.
Não entendo como ele pode ser tão calmo, calado e
não cruel comigo, quando eu sei - eu sei - que ele está sofrendo. Eu
posso ver em seus olhos.
Como por exemplo, encare o incidente no banheiro.
Eu estava tomando banho e, quando terminei, me enrolei em uma
toalha. Mas assim que saí para ir para o quarto que eu estava ocupando,
que ficava a três passos do banheiro, parei abruptamente.
Sr. Edwards estava parado no início do corredor, com os olhos em
mim. Parecia que ele estava andando, mas tinha parado, tão abruptamente
quanto eu, ao me ver.
Havia um enorme franzido em sua testa como se estivesse com dor
de cabeça. E o seu maxilar estava tão tenso, como normalmente acontece
214
quando está tentando evitar a dor, que eu pensei que ele estava rangendo
os dentes à pó.
Queria perguntar se ele estava bem. Se a cabeça dele o estava
incomodando novamente, mas não conseguia falar. Porque cara, ele
estava olhando para mim.
Olhando e olhando, me queimando com seu olhar.
Minha mão estava no nó da minha toalha vermelha e meus dedos se
apertaram. Eles continuaram apertando quando ele moveu os olhos. Com
cada centímetro de pele que ele olhava, minha garganta, minha clavícula,
meus ombros nus, meus dedos se apertaram um pouco
mais. Meu pulso pulsou tanto que eu tinha
certeza de que ele podia vê-lo.
Seu olhar, caloroso e lento, tornou-se
demais, de modo que tive que apertar minhas
coxas e impedir que meus pensamentos fossem para lugares
inadequados.
Eu tive que dizer: — Eu... eu pensei que você estava
dormindo. Ou que você estava no seu quarto.
Seus olhos voltaram para os meus e eu poderia jurar que eles eram
esverdeados quando ele começou a olhar para mim, mas agora estavam
escuros e marrons. E eu poderia jurar que suas bochechas nítidas eram
bronzeadas, mas agora estavam coloridas em um rubor escuro.
Havia até algumas gotas de suor na sua testa, como se apenas estar de
pé ali fosse muito doloroso para ele.
Um grande sofrimento.
Com um tique no queixo, ele levantou a mão e me mostrou que
estava segurando uma garrafa. — Eu estava com sede. – disse ele de uma
maneira rouca.
215
— Ah, eu...
Ele não esperou para ver o que eu ia dizer. Ele se virou e saiu da
cabana, fechando a porta violentamente.
Veja, a desintoxicação não é nada bonita. O homem não está indo
bem.
Mas no quinto dia, as coisas mudaram.
Ele começou a parecer melhor.
Sua pele resplandece. As olheiras sob os seus olhos
quase sumiram. Mesmo que pareça que perdeu um
pouco mais de peso, ele está mais saudável.
Mais desperto e presente.
Acima de tudo, ele está atento.
Ou pelo menos, é assim que o vejo fazendo reparos ao
redor da cabana. Ele começa com o jardim da frente.
Abrindo o cadeado da garagem e tira todas as ferramentas
antes de começar a trabalhar.
Eu o observo pela janela suja da sala antes de sair para a varanda. Eu
tenho limpado a casa em meu tempo livre. Veja, eu tive que fazer alguma
coisa enquanto ele estava sofrendo e não poderia curá-lo.
Então, tentei fazer outras coisas que poderiam facilitar a sua vida.
Joguei fora todas suas garrafas de bebida enquanto ele vomitava no
banheiro e lavava a roupa enquanto ele tremia em sua cama com suas
ansiedades.
Ah, e eu estive cozinhando.
Eu amo cozinhar. Um amor que descobri quando os Edwards se
mudaram para a casa ao lado e Brian me disse que seu pai era péssimo na
cozinha. Ele cozinhava, mas não sabia assar. Pensei que isso era adorável. 216
Mas, então, acho tudo adorável sobre Sr. Edwards.
Achava. Eu achava cada pequena coisa sobre Sr. Edwards adorável.
Não acho.
Então, sim, comecei a assar porque o homem com quem sonhava não
podia assar. E não olhei para trás desde então. Sem mencionar, ser caseira
e estar dentro de casa 24 horas por dia, 7 dias por semana, torna tudo
muito mais fácil se você tiver coisas para cozinhar, limpar e lavar em
casa. Na verdade, eu era uma forte concorrente da nossa governanta em
Connecticut.
Para resumir a história, eu tenho feito coisas na
cabana para me manter ocupada e não pensar
muito em como Sr. Edwards está sofrendo,
mas esta é a primeira vez em dias que ele parece
interessado nessas coisas.
— O que você está fazendo? – pergunto a ele do degrau
mais alto.
Ele para o que está cortando, mais como podando, os
arbustos que parecem ter crescido quase à minha altura. —
Melhorando as coisas.
Sua voz é tão baixa que até o vento poderia levá-la embora. Mas não
há vento nesta parte do mundo. Tudo está quieto e solitário, então eu o
ouço.
Eu o ouço e mordo meu lábio, dando-lhe um sorriso.
E o Sr. Edwards? Seus olhos vão para minha boca por um segundo
antes de ele se virar quase violentamente e voltar ao trabalho.
Ah bem.
Ele ainda está mal-humorado, mas pelo menos não está vomitando.
Nos próximos dias, melhoramos as coisas. Juntos. 217
Nós arrumamos as coisas, limpamos. Ele limpa todo o quintal, e o
jardim que está na frente da cabana. Ele arruma os degraus da varanda e
eu espano os móveis, limpo o chão, limpo as janelas sujas.
E porque sou a pessoa mais estúpida de todos os tempos, cortei meu
dedo no vidro que estava rachado e gritei como se alguém estivesse
tentando me matar. Nem doeu tanto, mas por alguma razão, eu grito ai,
ai, ai até que ele esteja bem perto de mim.
Não é só isso, ele está segurando minha mão.
Sim.
Eu nem sei como ele chegou aqui tão
rápido porque estava lá atrás, de pé em uma
escada, tirando a hera e coisas do telhado. Mas
agora, ele está aqui, bem ao meu lado, segurando
meu pulso com seus dedos longos, sujos e manchados,
olhando para o corte na ponta do meu polegar.
— O que diabos aconteceu? – ele pergunta com uma
cara feia.
Eu tento diminuir essa cara feia, dizendo. — Não é nada. Realmente.
Eu estava apenas sendo uma rainha do drama.
Ele levanta os olhos e seus dedos flexionam e se movem, quase
acariciando a pele delicada do meu pulso. — Você está sangrando.
Eu engulo.
Eu quero tanto olhar onde ele está segurando minha mão e ver se os
dedos dele estão deixando marcas sujas na minha pele pálida. Deus, eu
espero que sim.
Em vez disso, faço a coisa certa.
Eu aceno minha outra mão e digo a ele: — É... 218
E então, eu paro.
Porque cara, ele está perto de mim. Tão perto que acabei de sentir o
cheiro forte e almiscarado no ar. O perfume que tenho convivido nos
últimos dias. Eu sinto um monte aqui e ali. Sinto o cheiro no corredor, na
sala, na cozinha, no quarto em que durmo, que fica bem ao lado do dele.
Mas esta é a primeira vez que é tão forte que estou me afogando nele.
Eu não quero respirar.
— É o que? – ele pergunta quando não termino
minha frase.
Mas então, eu a termino e me pergunto o
que diabos estou pensando.
— Dói. – eu respiro.
Ele franze a testa e puxa o meu pulso. —Vamos.
Mas eu resisto a me mover. — Eu... É...
Deixo minha mente se desligar mais uma vez porque
não faz sentido. Nada sobre isso está fazendo sentido. Eu não deveria agir
assim. Eu não deveria mentir para ele quando não está doendo nada. Ou
pelo menos não muito.
— Violet. – ele diz.
Levanto minha mão - a que ele está segurando - entre nós e quase
sussurro:
— Você vai fazer isso ficar melhor?
— O que?
Ah Deus, eu sou louca, mas tanto faz. Ele está perto de mim e eu não
consigo respirar sem respirá-lo em meus pulmões, e ele está me tocando -
é apenas a segunda vez que ele toca minha pele - e eu quero mais. 219
Um pouquinho mais.
— Eu... Eu li em algum lugar que quando você está sangrando de um
corte e dói muito, é sempre bom chupar o sangue com a boca. Impede a
dor e o sangue estanca imediatamente.
No final da minha mentira estúpida e transparente, estou toda corada.
Aposto que estou vermelha e, o pulso no meu pescoço está pulsando tanto
que ele pode vê-lo.
Ele pode ver tudo.
Ele pode ver que eu estou mentindo e
inventando essas coisas. Está nos olhos dele
que estão curiosos e estreitos e movem sobre
meu rosto.
Movendo e movendo até que eu esteja convencida de
que ele pode decifrar todos os meus pensamentos e
emoções. Toda a história deles. Toda a história da minha
paixão e obsessão.
— Foi isso que você leu? – ele diz finalmente.
Olho para seus lábios, os que eu consegui beijar por cerca de dez
segundos, à dez meses atrás. Parecem tão macios tendo como o pano de
fundo sua barba. A barba que nunca tive a chance de tocar.
Provavelmente nunca terei.
De alguma forma isso me ajuda a acompanhar a farsa. O fato de que
tudo é tão complicado e impossível entre nós. Não que eu queira que as
coisas sejam possíveis, eu não tenho mais uma queda por ele.
Certo?
Certo. Mas ainda assim...
220
— Eu li sim. – eu aceno enquanto olho para ele, fingindo ser
inocente. — Então, você vai me fazer isso ficar melhor?
— Você quer que eu faça?
— Uhum.
— Porque está doendo?
— Sim. Muito.
Meu coração está disparado no meu peito, acelerando enquanto o
encaro. Como ouso imaginar... Como ouso imaginar aqueles lábios
em volta do meu polegar levemente sangrando e
tirando a dor.
Provavelmente não vai acontecer, é claro. Ele não é
louco. Ele não está acreditando nisso. Mas e se?
E se ele o colocar na boca e eu sentir o calor? Sentir o
movimento de sua língua.
Lentamente, ele levanta meu braço ainda mais. Ele o aproxima da
boca e paro de respirar. Ele olha para o sangue, uma pequena gota
escorrendo do corte e passa o polegar sobre o meu pulso.
Minha própria boca se abre como se eu fosse chupar meu dedo
ferido.
Acontece que eu vou.
Porque suas pálpebras tremem e ele murmura: — Acho que é melhor
você o chupar, não é?
Ele empurra o polegar na minha boca e meus lábios se fecham.
— Chupa. 221
Assim que ele diz, eu faço. Chupo meu polegar porque ele me pediu.
O gosto metálico do sangue se espalha pela minha língua e quase fecho
meus olhos. Aposto que não seria tão erótico esse sabor se ele não
estivesse me olhando como está.
Se ele não estivesse tão focado na minha boca e na pequena coisa que
estou fazendo. Não era isso que eu queria, minha própria boca em mim.
Mas de alguma forma, isso está além de qualquer coisa que eu poderia ter
imaginado.
Seus olhos estão escuros e dilatados. Em minha
boca.
Seus dedos ásperos no meu pulso que ele
ainda está segurando.
O tremor na minha barriga. O aperto das minhas coxas.
O latejar que sinto entre elas.
Isso é surreal, não é? O jeito que ele está me olhando.
Acho que vou explodir. Seus olhos vão me desfazer e romper o meu
corpo porque estou inchando e inchando com sentimentos quando ele diz:
— Acho que já está tudo resolvido.
Só então ele se afasta e solta o meu pulso, antes de me deixar lá,
agitada e excitada ainda me afogando em seu perfume e me perguntando
sobre seus olhos.
Também me pergunto sobre eles no dia seguinte.
Eu me pergunto sobre eles e debato o que fazer com os mantimentos.
Estão acabando e estou pensando se devo pedir para entregá-los na
cabana ou se devo usar meu disfarce, dirigir até a cidade, esperar o bar
fechar para que eu possa entregar um bilhete ao meu amigo, Billy.
222
Em algum momento, talvez eu precise pedir seu número de telefone.
Não posso continuar dando bilhetes para ele como se estivéssemos no
ensino médio.
Eu preciso ser mais madura com isso.
Estou debatendo e misturando os ingredientes molhados para os
muffins que estou assando, enquanto ouço “You Give Love a Bad Name”
de Bon Jovi e canto junto, quando ouço um barulho atrás de mim.
Tiro meus fones de ouvido e me viro para encontrar Sr. Edwards
parado na bancada, com seus olhos grudados em mim.
Cara, os olhos dele.
— Ah, ei. – pressiono uma mão no meu
peito. — Você me assustou.
Ele olha para a minha mão. — Eu posso ver isso.
— Eu não ouvi você entrar.
Ele olha para os fones de ouvido que eu tirei
aleatoriamente e joguei na bancada. — Eu não estou surpreso.
Enfio meu cabelo atrás da orelha e abaixo a cabeça e murmuro
inutilmente:
— Estava ouvindo a minha playlist irada.
— Playlist irada.
Eu concordo. — Sim. São todas as minhas músicas favoritas do tipo,
da vida toda. E é claro, elas são ótimas, então simplesmente não consigo
parar de cantar junto.
— Claro.
Do jeito que ele diz isso com tanto sarcasmo, tenho que me ofender. 223
— Por que você não acha que “You Give Love a Bad Name” é irada?
Seu olhar se fixa nos meus. — Você conhece o lago atrás da cabana?
Na floresta?
— Sim.
Ele coça a barba com o polegar, momentaneamente me distraindo
com seu gesto sexy. — Irada ou não, acho que você deveria parar de
cantar se não quiser que os peixes no lago se afoguem.
Peixe? Afoguem-se?
Minha boca se abre. — Você está dizendo que sou
uma cantora ruim?
Diversão aparece nos olhos dele. Maldito
seja. Por que isso tem que ser tão sexy, mais sexy
do que quando coça a sua barba?
— Estou dizendo que você está matando os peixes.
Antes que eu possa responder, ele coloca algo na
bancada. — Aqui.
E então ele sai.
É uma sacola marrom. Eu corro para ela e vejo que tem tudo, era a
lista que eu ia dar a Billy. Mas tem algo a mais também. Está bem em
cima e eu me vejo correndo atrás dele.
— Você foi fazer compras no supermercado? – eu pergunto atrás
dele; ele está no corredor.
— Parece que sim.
— Você me comprou pirulitos? – digo ofegante, mas isso tanto faz.
Ele me comprou pirulitos. Ninguém nunca me comprou pirulitos que
eu me lembre. Talvez minha babá quando eu era criança e não sabia
como comprar coisas para mim. 224
Ele para na porta do quarto e olha para mim. — Comprei tudo da
lista. Então acalme seus hormônios de adolescente.
Eu ri. — Ah é?
— É.
Encolho os ombros, rasgando o pacote de pirulitos, desembrulhando
um e colocando-o na minha boca. — Não posso fazer isso, sinto muito.
Você não irá se livrar dos meus hormônios de adolescente. Na verdade,
eu estou transbordando-os agora.
Suas pálpebras tremem quando ele me vê
chupar meu pirulito como se ele estivesse me
vendo chupando meu polegar ontem. — Sim,
eu posso sentir o cheiro.
Com isso, ele entra no quarto e fecha a porta. E eu
sorrio.
Porque veja, pirulitos não estavam na lista.
Não.
Eles não estavam. Então isso significa que ele comprou por si
mesmo.
Não apenas pirulitos. Ele me comprou toneladas de outras coisas que
eu não coloquei na minha lista. Eu nem pensei em colocá-las lá.
Uau, as coisas que ele me comprou.
Ele comprou o meu suco favorito: melancia. Comprou pacotes das
minhas batatas fritas favoritas e molho barbecue. A barra de chocolate
favorita que como, além dos pirulitos, amêndoas e chocolate. Minha
segunda fruta favorita, novamente melancia. Pretzels cobertos de
chocolate, normais, e palitos de legumes, todas as coisas que eu 225
costumava comer em Connecticut. Na verdade, eu levava na escola.
Costumava ser o meu almoço.
Mas como ele sabe disso?
Ele não sabe nada sobre mim. Ele nem sabia quem eu era até a noite
em que eu o beijei estupidamente.
Eu sou a única que sabe coisas sobre ele. Eu.
Eu que era uma stalker assustadora.
Mas por que ele parece ser um stalker também?
Eu não consigo esquecer isso. Eu penso e
penso, até que sou obrigada a perguntar.
É noite e acabamos de jantar. Depois de ir
às compras, ele terminou de limpar o telhado e
começou a trabalhar nos degraus quebrados da varanda.
Honestamente, fiquei um pouco decepcionada.
Eu pensei que em seguida ele iria para suas rosas.
Eu pensei que ele iria cuidar nelas, regá-las ou pelo menos olha-las.
Mas ele não fez e isso me machuca mais do que eu quero admitir.
Então estou me distraindo com a pergunta que vou fazer. Nós
estamos sentados no sofá velho e mofado - que é surpreendentemente
confortável - ele de um lado e eu do outro, assistindo a um filme na TV.
Eu disse a ele para parar em um canal e ele deixou, e agora estamos
assistindo a algo que nem presto atenção.
Eu desisto de toda a pretensão de assistir e me viro para ele.
Apoiando minhas costas contra o braço do sofá e colocando meus
joelhos no peito, pergunto: — Como você sabe tanto sobre mim?
226
Coisas que sonho em fazer antes de morrer:
em seus braços...
Essa pedra tenta subir, mas eu a engulo novamente, mesmo que seja
infinitamente mais difícil fazer isso dessa vez. — Ei, isso já foi resolvido.
Acabou. Estou orgulhoso de você.
Eu estou.
Ele fez a coisa certa e, além disso, eu também não sabia o que dizer.
Então, são águas passadas.
266
Estou feliz que estamos conversando agora.
— Ela merece o melhor, pai. Vi merece o melhor. Ela merece alguém
que não a machuque como eu. Ela merece alguém que a coloque em
primeiro lugar.
Agora, a dor no meu peito é tão grande que irradia para todo o meu
corpo. Lembro-me das palavras dela da noite passada.
Você está dizendo que eu sou... Visível?
Jesus Cristo.
Eu quis quebrar alguma coisa. Socar alguma coisa.
Talvez até os pais dela.
— Ela merece. – digo, finalmente.
— Ela merece alguém como você, pai.
— O que?
— Não há desculpa para como eu me comportei. Eu
estou tão envergonhado. Não há como compensar isso,
todas as coisas que fiz com você no ano passado, a maneira
como falei, as coisas que disse apenas para machucá-lo porque estava
com raiva. Mas pai, eu quero que você saiba disso. Quero que saiba que
ela merece alguém como você em sua vida. Alguém bom e nobre.
Alguém que não a machucará. Eu aleguei ter sentimentos por ela e olha o
que fiz. Surtei com o meu ego. Eu estava tipo, como ela não gosta de mim
quando todas as outras garotas gostam. Como diabos ela não gosta de
mim, sabe? E pisei em tudo que tornou nosso relacionamento especial.
Ela merece alguém que...
A dor se torna tão insuportável, tão intensa que eu ranjo os dentes e o
interrompo. — Nós não estamos falando sobre isso.
— Por que não? Pai, por favor. Você precisa acreditar em mim.
267
— Brian. – eu disse.
— Por favor, apenas me dê uma boa razão para não falarmos sobre
isso. Eu sei que você gosta dela, pai. Eu sei disso.
— Não. – eu digo.
— Pare de mentir, pai. Se não gostasse, você nunca teria me ligado e
pedido para consertar as coisas. Eu sei o quanto difícil fiz as coisas para
você. Eu sei o quanto difícil foi para você se aproximar depois da maneira
como agi. Então, eu sei. O que eu não sei é porque você está resistindo a
isso. Eu sei que ela está aí com você. Ela me disse. Faça
isso por mim, pai. Você me pediu para fazer algo
por você e estou pedindo o mesmo agora.
— Deixe isso para lá, Brian.
— Eu vou. – diz Brian rapidamente. — Apenas me diga
porque você a namorar é uma péssima ideia. Só me dê um
motivo.
— Porque ela tem metade da minha idade. – eu
respondo. — Você entende o que isso significa? Porque tenho um filho
da idade dela. Porque ela ainda é ingênua, inocente e cheia de vida. Ela
fala sobre sonhos e desejos e...
E ela me salvou.
Ela me salvou de beber quando não tinha motivo.
Depois do jeito que cresci com meu pai bêbado, odiava beber.
Sempre considerei isso um ponto fraco, algo que não faria. Algo que
prometi a mim mesmo que nunca faria meu filho passar.
Mas então, tornou-se necessário. Tornou-se imperativo esquecer tudo
o que aconteceu no verão passado. A culpa, o fato de o meu filho me
odiar. 268
Ela me salvou, no entanto.
Ela chegou e me salvou.
Ela salva pessoas. Ela faz do mundo um lugar melhor. Ela sonha.
Nem me lembro da última vez que tive um sonho. Não me lembro
dos meus desejos ou coisas que eu queria enquanto crescia.
Tudo o que sei é que minha mãe foi embora quando eu tinha cinco
anos e meu pai era alcoólatra. Tudo o que sei é que cuidei dele e quando
não pude e precisava de uma distração, eu jogava.
Eu joguei não porque queria ou amava,
mas porque isso me tirava de casa.
Isso me esgotava, então eu não me sentia
sozinho. Não me sentia sem rumo ou com raiva
de ter um pai que bebia e uma mãe que não se importava o
suficiente para ficar.
— Pai?
Brian me tira dos meus pensamentos. — Ela merece alguém que é
bom. Você está certo. Alguém que não a machucará. Alguém que lhe
dará o que seu coração romântico quiser. Eu não sou essa pessoa. Eu
nunca fui essa pessoa, e está tudo bem. E eu não estou começando a ser
assim agora. Ela provavelmente nunca teve uma decepção amorosa e eu
não tenho interesse em ser a primeiro dela. Então deixe isso para lá.
Não tenho interesse em fazê-la chorar e deixá-la como as pessoas da
minha vida me deixaram. Não tenho interesse em partir o coração dela e
torná-la incrédula como eu.
Não tenho interesse em assumir esse fardo. Essa culpa.
Eu tenho culpa suficiente para lidar. Eu já cometi crimes suficientes.
269
Brian diz que ele não quis dizer nada do que disse. Que ele estava
furioso e queria me machucar.
A razão pela qual essas coisas me machucaram foi porque eram
verdadeiras. Cada uma delas. Até aquele artigo era verdade.
Eles me chamavam de pervertido, um indivíduo doente e mal. Um
perigo para a sociedade.
Eu sou tudo isso.
Porque há dois anos e dez meses atrás vi uma garota de dezesseis
anos saindo pela janela e não consegui desviar o olhar.
Eu não queria desviar o olhar.
Parecia que alguém tinha me apunhalado
no peito.
Alguém me infectou e eu perdi a cabeça por ela.
270
Graham.
Apenas Graham...
- Diário da Desabrochada10 Violet, 18 anos e 10
meses.
Além disso, o momento não era certo. Eu era muito jovem, mal tinha 273
dezoito anos, mas não sou mais tão jovem agora. Não há ninguém no
mundo que possa nos parar.
Nenhum humano, nenhuma lei, nem mesmo Deus.
Depois que fiz Brian prometer que ligaria para o seu pai e consertaria
as coisas, conversamos por horas. Eu disse a ele para não contar ao seu
pai sobre meus sentimentos e ele concordou. Ele me perguntou se o pai
dele era a razão pela qual eu não iria à sua casa e eu disse que sim. Eu
disse a ele como tudo começou e como me senti culpada
por me apaixonar pelo seu pai.
Ele me disse que cortou laços com todo
mundo em Connecticut. Ele bloqueou todas as
pessoas nas redes sociais que lhe enviavam mensagens sobre
mim e o beijo.
De fato, havia várias pessoas que lhe enviaram
mensagens sobre o meu colapso e, por um segundo, fiquei realmente
assustada. Eu pensei que ele sabia, mas como se vê, ele não sabe. Porque
quando ele falava essas coisas com Fiona, ela dizia que eram boatos.
Graças a Deus por isso.
Até conversamos sobre todos os rumores estúpidos e desagradáveis
sobre ele e eu. E pela primeira vez, ri deles. Era bom rir sobre ele ser meu
suposto noivo.
Pareciam velhos tempos.
Então, fiz algo importante.
Algo que está faltando na minha vida há meses. Peguei um novo
diário da minha mala e dei um nome diferente: Diário da Desabrochada
274
Violet.
Eu escrevi até com uma caneta glitter vermelha.
Para honrar meus novos sonhos e alguém que me disse que eu era
linda.
Um certo alguém que voltou do trabalho há pouco tempo.
Ele deu uma olhada em mim, com meu vestido vermelho, rangeu sua
mandíbula com raiva, me deu um olhar quase acusador e desapareceu
pelo corredor como se eu o incendiasse.
Ele está no banheiro agora, tomando
banho. Posso ouvir a água enquanto caminho
em direção a ele.
A cada passo que dou, meu coração incha. Mais e mais,
até parecer um balão no meu peito, tão inchado que é
doloroso prendê-lo nas minhas costelas.
Chego à porta do banheiro depois do que parecem
anos. Eu estou esperando que esteja trancada, mas não está. Na verdade,
nem sequer está fechada. Como se ele só quisesse sair da minha presença
o mais rápido possível e não se importasse em trancar a porta.
O vapor sai pela porta entreaberta como água e como algo de um
sonho.
Eu sei que uma garota normal e sã não entraria lá e se intrometeria
em sua privacidade, mas eu não sou uma garota normal.
Eu também não sou sã.
Eu sou louca por ele. Maluca, insana, pirada.
E apaixonada.
275
Não sei para onde estou indo com essa história, porque não estou
seguindo o caminho da ansiedade. Porque oi? Eu estou bem. Então não
estou dizendo isso, mas estou dizendo algo a ele.
Eu tenho que contar uma coisa para ele. Não posso deixá-lo pensar o
pior de si mesmo. 290
Eu tenho que melhorar. Eu tenho.
— Diga-me o que aconteceu. – diz ele em voz baixa e pulsante. —
Diga-me o que eles fizeram.
Com respirações ofegantes, olho para ele e vejo toda essa raiva em
seu rosto.
Em meu nome.
Faz meu estômago apertar daquela maneira dolorida que eu
costumava sentir sempre que pensava nele na minha
cama. Dolorido e forte que eu senti ontem à
noite, e sussurro, divulgando meus segredos
ilícitos. — Eu tinha aquele travesseiro e, quando
todo mundo ia dormir, eu o colocava entre as pernas. Eu me
esfregava sobre ele. Forte. E depois de um tempo, quando
eu ficava realmente inquieta, começava a me mover. Eu
me movia contra ele e mordia meu lábio. Porque eu gostava de gemer e
chamar seu nome. Mas eu tinha medo que alguém pudesse me ouvir.
Então, eu ficava quieta e continuava. Eu continuava me balançando
contra o travesseiro, porque eu queria tanto você.
Não acredito que estou dizendo isso a ele.
Observo um rubor superar suas bochechas. Observo a dilatação de
suas pupilas, sua respiração ficando baixa e ofegante, como se estivesse
dormindo, mas acho que nunca esteve tão acordado.
Mais atento.
Porque estou da mesma maneira e posso dizer. 291
— Ah, e nós tínhamos aquela empregada, ela lavava a roupa e tudo
mais. E ela vinha ao meu quarto para trocar os lençóis e sempre me
olhava. Porque acho que ela podia... Ela podia sentir meu cheiro neles.
Ela podia ver os pontos molhados e então, quando tudo aconteceu, eu a
ouvi conversando com Fiona no andar de baixo e ela estava me chamando
de vadia. Como todo mundo.
Minha respiração se tornam altas. Ofegante, quase. Mas então ele
coloca as mãos em mim e meus pulmões se esquecem de
respirar.
Meu coração se esquece de bater.
Meus olhos se arregalam e eu tenho que
olhar para baixo.
Eu tenho que ver as mãos dele em mim. Elas estão na
minha cintura. Seus dedos bronzeados sobre o meu vestido
vermelho. São tão grandes as mãos dele que pode cobrir
minha cintura inteira com elas.
Seus polegares se encontram no meio, onde está o meu umbigo, e
eles apertam meu corpo, pressionando e minhas coxas apertam.
Mas não apenas minhas coxas, meu núcleo aperta também.
Minha boceta.
Que eu costumava esfregar no travesseiro porque eu o queria tanto.
— Você não é uma vadia. – ele rosna, e eu olho para ele.
Sua expressão está furiosa. Suas sobrancelhas franzem com raiva
enquanto ele continua: — Não por aquele beijo. E definitivamente não é
o que você sentiu. Nunca pelo que você sentiu. Quem disse isso? Vou 292
destruí-los com minhas próprias mãos, entendeu? E essa sua empregada,
se você desperdiçar um único pensamento nela, naquela patética amostra
de um ser humano, eu a caçarei, e desejarei que ela esteja morta.
Quando ele termina, suas mãos estão apertando minha cintura com
força, mas tudo bem. Eu não me importo.
Eu o tenho para me apoiar.
Fico na ponta dos pés.
Meus braços se envolvem em seu pescoço e eu estou
inclinada para ele.
Estou encostada nele do jeito que estava
no meu aniversário de dezoito anos. Do jeito
que estou começando a pensar que fui feita para estar. —
Você vai?
Ele assente lentamente. — Sim.
Eu levo um momento para processar isso. Processar a enormidade do
que aconteceu.
Ele não apenas me absolveu de todos os crimes que pensei ter
cometido contra ele, como destruiu sozinho todas as vozes que
pertenciam àquelas pessoas.
As vozes que me xingavam.
E a verdade é que acreditei nelas. Sempre tive tanta vergonha dos
meus desejos por ele que acreditava que merecia ser chamada de vadia
por beijá-lo, por desejá-lo e por abraçá-lo.
Eu não acho que me senti mais livre do que um minuto atrás, mas
isso mal está mantendo meus pés no chão. 293
Agora é a vez dele.
— Mas então, se você fizer essas coisas, você vai acabar na cadeia. –
sussurro, com meus mamilos indo muito, muito forte contra seu peito
enquanto dou a ele mais do meu peso.
Um segundo depois, ele me faz dar tudo a ele.
Ele me traz para frente, puxando minha cintura e colocando nossos
corpos juntos. É tudo muito repentino, violento e maravilhoso, e eu
suspiro quando meu corpo mole e fundido se
encostam aos músculos fortes dele.
— Você acha que tenho medo disso? Que tenho medo
de ir para a cadeia por você? – ele murmura.
Eu lambo meus lábios secos e balanço minha cabeça
rapidamente.
Eu me movo como se meu coração estivesse vibrando dentro do meu
peito. Com emoções e uma espécie de prazer sombrio. — Não, eu não
penso assim.
296
Acho que fomos amantes em outra vida,
este século.
318
319
Eu tive um sonho.
Eu era criança, provavelmente estava com quatro ou
cinco anos, e estava com meu pai.
Estávamos em seu jardim de rosas nos fundos e colhíamos
flores para minha mãe. Então, a cena mudou e nós estávamos dentro da
cabana.
Fui eu quem ofereceu o buquê de rosas e ela o pegou com um sorriso.
Ela parecia feliz e eu estava cheio de orgulho. Fiquei satisfeito com essa
conquista de garoto que fiz com que minha mãe sorrisse e depois acordei.
Não tenho certeza se foi uma lembrança que eu tinha esquecido ou se
inventei na minha cabeça. Nem sei ao certo porque sonhei em primeiro
lugar, quando não sonho há tanto tempo. Provavelmente nunca sonhei.
Eu acho que é ela.
Eu acho que ela me deu um pouco de sua magia.
320
Ou pelo menos pensaria isso se não soubesse bem. Se eu acreditasse
em coisas como magia.
Se eu acreditasse nisso, pensaria que simplesmente porque a provei
na minha língua, doce e salgada com uma pitada de morangos, seria um
homem mudado.
Eu sou um homem com sonhos.
Respiro fundo e sinto seu cheiro. Ela está dormindo ao meu lado.
Ela dormiu assim que gozou. Ela suspirou, disse meu nome, se
encolheu de lado e dormiu.
Como se ela não tivesse dormido há anos.
Em vez de deixá-la sozinha e dar a ela privacidade, eu
coloquei sua cabeça no meu braço e a colei ao meu corpo.
Suas costas estão pressionadas no meu peito agora,
seu vestido está todo amarrotado e aquelas alças que
destruí envolvem em seus delicados braços como fitas vermelhas.
Jesus Cristo. O que diabos aconteceu comigo?
Por que faria algo tão... Selvagem e indomável? Algo tão criminoso e
louco. Algo que eu nunca fiz antes.
Mas no momento em que a beijei, algo aconteceu comigo. Era além
da mera faca no meu peito. A dor, a necessidade, o desejo eram mais um
fenômeno. Um terremoto que destrói cidades e, aparentemente, o meu
autocontrole.
Ela me afeta de uma maneira que eu não entendo.
Não entendo porque quero consumi-la. Porque eu quero arruiná-la e 321
mantê-la segura, tudo ao mesmo tempo.
Por que eu sou tão idiota que nem arrumei suas roupas? Eu nem
puxei seu vestido para cobrir sua bunda, que atualmente está colada no
meu pau muito duro, ou cobri seus seios perfeitos. Tudo o que fiz foi
protegê-la contra o ar frio com um cobertor e o calor do meu corpo.
Talvez seja porque eu gosto de olhar para ela. Porque eu podia olhar
para ela por horas e horas.
Então é isso que estou fazendo.
Estou olhando para a inclinação de seus ombros e a
curva de seu pescoço delicado. Estou sentindo o
cheiro do cabelo dela no meu rosto, esfregando
o meu nariz nele. Enquanto a minha mão está flexionada na
cintura dela e minha palma está aberta em seu estômago.
De vez em quando, pressiono em sua pele macia, ela
suspira e se esfrega no meu pau, fazendo-o doer para
caralho.
Deixando-me com dor.
Mas é pouco castigo para mim para o que eu quero fazer com ela.
Por tão egoísta e mau quero ser. Um maldito possessivo dominador.
Mesmo se eu esquecer o fato de que tinha uma obsessão doentia por
uma garota mais nova, o que eu disse a Brian ainda é verdadeiro.
Ela merece mais.
Muito mais eu. Mais do que um homem de meia idade que não tem
interesse em um relacionamento. Não vou namorar com ela. Nunca
namorei ninguém antes. Eu nem sei como namorar. 322
Eu não sou um garoto adolescente que vai mudar pela a garota que
ele quer.
Eu não posso.
Eu sou muito sério, muito severo para ela. Eu já vi muitas coisas na
vida, muita realidade, muito abandono para ser tolo o suficiente para
esperar por qualquer outra coisa.
E ela é jovem demais para saber mais nada além de corações e
sonhos.
Por mais que eu ame meu filho e admire
como ele fez a coisa certa, ele a machucou. Eu
não vou fazer o mesmo. Ela já conhecia muita
dor.
Eu me recuso a fazer isso com ela.
Além disso, ela está indo para a faculdade, não é?
Essas são suas férias. Quando terminar, ela irá
embora. Encontrará alguém que será muito melhor para ela.
Então, eu tenho que fazer o que disse para Brian fazer outro dia.
Eu tenho que fazer a coisa certa.
Tenho que lhe dar uma chance de sair. Uma última chance de desistir
antes que eu perca toda a aparência de decência e bondade e a mantenha
aqui egoisticamente para mim. E pegue e pegue, e tire tudo dela.
Sem promessas. Sem corações e sonhos e todas as besteiras que eu
nunca tive tempo.
E que ela merece, afinal.
Porque ela é feita de lua e magia.
323
Contei as horas e minutos. Passaram-se dezoito
— O que?
Estou sentada no sofá e é de manhã. Graham já foi trabalhar e estou
segurando o que ele me deixou no meu travesseiro.
Uma rosa.
Viva, integra e aveludada. Pacifica, com pétalas amarelas cítricas
com bordas rosa pálida.
Então agora estou chorando, quase soluçando porque eu sou uma
mentirosa e ele está me dando rosas por isso.
— Eu menti para ele desde que cheguei
aqui e não sei o que fazer. – digo, limpando o
nariz com as costas da mão.
— Ah, Vi. O que aconteceu? Porque está chorando?
Fungo, tentando me controlar. É ridícula a quantidade
de lágrimas que estou chorando enquanto seguro seu
presente no meu peito. Mas é tão triste. É tão triste que ele
continue sendo tão maravilhoso comigo e eu não posso nem dizer a
verdade.
Tudo na minha vida é tão triste agora porque sou mentirosa.
— Ele acha que vou para a faculdade, Willow. Ele acha que estou de
férias. – eu encolho meus joelhos até o peito e sinto o cheiro da camisa
dele que coloquei na noite passada. — E estou o deixando pensar isso.
Estou deixando que ele pense que sou uma garota normal cuja vida toda
está à sua frente. Quando mal consigo sair da minha casa. Se um estranho
aleatório me olha, eu surto. Eu começo a hiperventilar. Estou tão... fraca.
Sou defeituosa, uma perdedora, e ele acha que eu vou para a faculdade e 358
vou conhecer alguém e eu...
— Calma, calma, calma, ok. Pare. – Willow me interrompe e fico em
silêncio, fungando novamente.
Então, ela suspira e diz: — Primeiro de tudo, você não é uma
perdedora. Você não é fraca ou defeituosa. Você tem uma doença. Você
está lutando, Vi. Você está se esforçando desde que saiu de Heartstone.
Como o resto de nós, e não tem problema. Mas você está se esforçando
mais porque continua insistindo que está tudo bem. Você continua
negando. Você continua fingindo.
Eu continuo fingindo.
Ela está certa e eu estou muito sentimental
agora para admitir.
Sim, eu finjo.
Eu finjo que está tudo bem. Finjo que estou lidando
com as coisas do meu jeito.
Finjo que não há problema em usar disfarces e deixar bilhetes para
estranhos e me esconder quando alguém bate à porta.
Venho fingindo desde que saí de Heartstone e fazia isso na frente de
todos, o que para mim era fácil.
Fingir para ele não é.
Não quando ele olha para mim dessa sua maneira especial e
protetora. Não quando olha para mim como se ele pudesse matar e
destruir tudo e todos que me machucarem.
— Ele disse que eu era linda. – eu apoio a testa nos joelhos e
sussurro.
— Sério? Ele disse? 359
Eu tenho enviado mensagens de texto para as garotas. Contei a elas
sobre o que Brian disse e como Graham me beijou no outro dia. Mas não
compartilhei nenhum detalhe íntimo com elas.
Eu não quis.
Eles são meus.
Acho que sou uma verdadeira solitária. É difícil compartilhar coisas.
Mas posso compartilhar isso com Willow. Talvez porque tenhamos coisas
em comum. Coisas como aniversários de dezoito anos quando
nossos mundos meio que explodiram. Além disso, ela
está apaixonada como eu.
— Sim. Ele disse que eu mereço coisas.
Ele disse que mereço alguém que segure a minha
mão e ande comigo na praia. Ele disse que sou feita de lua e
magia.
Willow suspira, parece feliz e sonhadora. — Ah, Vi,
isso é maravilhoso. Ah, eu estou tão feliz. Porque você está
chorando?
Eu franzo a testa. — Você não ouviu o que eu disse? Estou mentindo
para ele. Ele não sabe sobre... sobre minha doença e tudo mais.
Ele não sabe que eu finjo.
Ele não sabe que eu faço isso porque é muito fácil negar as coisas. É
tão fácil negar, porque a alternativa é lidar com minha mente apocalíptica.
É tão difícil fazer isso. É tão difícil combater a ansiedade. Distinguir
entre pensamentos racionais e irracionais quando cada insegurança sua é
elevada.
Nada bonita. Não é digna. Uma vadia. 360
Sei que não devo acreditar nessas coisas, especialmente depois de
tudo o que ele me disse, e há momentos em que acredito nele.
Eu acredito.
Mas às vezes é tão difícil. Como agora mesmo.
E eu sou tão fraca.
Ele não sabe disso.
Ele não sabe que me afogo em inseguranças e pensamentos ansiosos
todos os dias. E a única maneira de sobreviver é fingir
que está tudo bem.
— Então diga a ele.
— O que?
— Sim. Se você está mentindo para ele e isso está lhe
dando tanta dor, basta dizer a verdade.
Levanto a minha cabeça dos joelhos e olho para a
parede oposta ao sofá. — Está brincando, não é?
— Não.
— Eu não posso dizer a ele.
— E porque não?
— Porque... – eu agarro o celular com força, quase gritando.
Quero dizer, eu sei que é a solução óbvia. Se eu odeio tanto mentir,
devo dizer a verdade. Mas eu não posso.
Eu não posso dizer a verdade.
— Por que?
— Porque olhe para a minha vida, Willow. Olhe para ela. Estou 361
sozinha. Eu sempre estive sozinha. Eu sempre estive sozinha. Ninguém se
importa comigo. Meu pai nem reconhece minha existência. Minha irmã
tem um problema comigo sobre tudo. Minha mãe me queria morta.
Mesmo antes de eu nascer. Ela queria me abortar porque sou o resultado
de um caso e ela não queria arruinar sua reputação.
Ela suspira. — Eu não... eu não fazia ideia.
— Sim. – eu engulo. — Ela nunca se importou comigo. Sempre fui
um fardo para ela. Uma dor de cabeça. Bem, exceto agora. Ela me manda
mensagens agora. Pergunta pela minha saúde. A coisa da
ioga. Acho que ela está fazendo isso apenas para
tranquilizar sua consciência. Eu não sei. Mas
com certeza não é porque se importa comigo.
E sempre aceitei isso, sabe. Eu sempre aceitei
que ela não vai me amar ou cuidar de mim ou me
tratar como se eu importasse e tudo bem. Eu aguento isso. Eu
aceitei isso há anos. Estou acostumada com isso. Mas eu
não posso... E se...
Eu paro, com o meu coração disparando dentro do
meu peito. Todas essas coisas do pânico chegando à superfície. Todos
esses medos que eram fáceis de guardar comigo até agora. Mas eles não
vão mais ficar. Meu cérebro caótico não vai deixar.
— E se o quê?
— Eu o amo, Willow. Estou apaixonada por ele. Deus, eu o amo
muito e ninguém se importa comigo como ele. Nem uma pessoa. E ele
olha para mim. Ele está me observando desde os dezesseis anos. Eu
sempre fui visível para ele, Willow. Sempre. Eu. A garota que ninguém
vê. E se eu contar a ele e ele parar? E se eu contar a ele e ele pensar a
mesma coisa que eu estou pensando? E se ele achar que eu também estou
defeituosa?
362
Meu Deus, se ele pensasse isso eu morreria.
Eu literalmente morreria.
Estou segurando a rosa dele no meu peito agora. A rosa que ele me
deixou no travesseiro, porque eu disse que queria.
E nem é uma rosa murcha. Não é algo rejeitado ou morto. Ele a
apanhou, viva e rosada.
Só para mim.
Eu a tenho em minhas mãos e estou amassando com os
meus dedos, como se imaginasse que meu coração
se deformasse, se ele pensasse isso. Se ele
pensasse que eu também estava defeituosa,
como todo mundo na minha vida.
Eu não seria capaz de viver. Eu não seria capaz de seguir
em frente.
— Vi, ele não vai pensar isso. Ele não pode. Porque
você não está defeituosa. Não há nada de errado com você.
Nem uma coisa. E você saberá isso se contar a ele.
Lágrimas escorrem pelo meu rosto. — Por que ele não vai pensar?
Todo mundo pensa. Eu não posso. Estou com tanto medo.
Eu posso ouvir as lágrimas dela também. Ela está chorando por mim
e eu poderia abraçá-la por ser minha amiga. — Escute, Vi. Ouça com
muita atenção, ok? Eu sei que é assustador. Eu sei disso. Eu sei que é
fácil negar e fingir. Eu fiz isso também, lembra? Então eu sei. E você o
ama. Isso é assustador também. Eu entendo. – ela faz uma pausa antes de
dizer: — Mas agora você tem que decidir se confia nele ou não.
— Claro que eu confio nele.
— O suficiente para contar a ele sobre você? 363
Meu coração sobe para a garganta e todas as palavras que eu diria
ficam presas lá, longe da minha língua, incapazes de sair.
— Você tem que decidir, Vi. Você tem que decidir se o homem que
você ama, o homem por quem você dirigiu milhares de quilômetros, o
homem por quem você estava pronta para aceitar qualquer coisa porque
ele estava sofrendo... você tem que decidir se confia ou não nele. Se você
confia nele o suficiente para lhe contar essa coisa assustadora sobre você.
Você tem que decidir isso, Vi.
Tenho que decidir se confio nele ou não. O homem
que eu amo.
Eu confio nele?
O pensamento surge na minha mente o dia
todo, muito depois de terminar minha conversa
com Willow, muito depois de secar minhas lágrimas.
Isso vai e vem e ainda está pairando quando ele volta
do trabalho.
Ouço o barulho de cascalho lá fora e percebo que ele está aqui.
Eu estava na cozinha, terminando algumas coisas, e corro para a
porta. Abro e corro para o topo da escada da varanda. Que ele consertou
no outro dia. Cheira a madeira nova.
Mas não estou focando nisso.
Eu estou focando nele.
Graham.
Ele me vê assim que sai da caminhonete. Sem interromper nosso
olhar, ele fecha a porta atrás de si. E assim que ouço o barulho disso, eu
corro.
364
Meus tênis batem contra o caminho de pedra enquanto corro para ele
e ele faz o mesmo. Ele se aproxima de mim e nos encontramos no meio.
Ofegante, eu o observo.
Seus olhos são brilhantes, mais brilhantes do que qualquer coisa que
já vi e ele está me olhando com respirações tão ofegantes quanto as
minhas.
Ele está me olhando. Olhando.
— Você me deixou uma rosa esta manhã. – digo a ele de uma
maneira ofegante.
— Sim.
Sua voz rouca me deixa bem afetada,
exatamente igual aquele momento que parece ter
começado no momento em que coloquei meus
olhos nele e mordo meu lábio por um segundo.
— Porque você me prometeu.
— Sim. Não posso simplesmente dizer algo e não
fazer.
Ele repete minhas palavras casualmente jogadas fora da noite passada
e eu engulo. Eu engulo meu coração porque ele está tentando sair do meu
corpo. Está tentando voar para ele.
— Eu quero que você saiba que ninguém nunca me deu uma rosa
antes de você. – digo, afastando os fios rebeldes do meu cabelo. — Então
isso é outra coisa que ninguém fez por mim. Quero que você saiba disso.
Observando-me atentamente, ele dá um passo em minha direção. —
As pessoas são idiotas, não são? Embora...
— Embora o que?
— Embora, eu não tenha certeza de como um presente é bom para 365
alguém como você.
— Alguém como eu?
Ele assente lentamente, ainda me observando com um foco singular.
— Alguém que cora como uma rosa e fica linda pra caralho fazendo isso.
Uma onda de emoção passa por mim. Uma onda, uma avalanche
dela. Ela passa por todo meu corpo antes de se estabelecer profundamente
no meu estômago. No fundo da minha alma.
Profundamente entre minhas coxas, e eu as aperto.
Aperto-as com tanta força, tanto quanto
meu coração está apertando agora.
Porque o jeito que ele disse isso... parece amor. A
maneira como ele está me olhando também parece amor.
Eu sei que é uma mentira. Eu sei disso. Ele me disse
que não pode me amar. Que ele nunca vai amar.
Então ele sempre será esse meu sonho interrompido. Esse desejo não
realizado. Meu amor não correspondido.
Mas neste momento, ele está me olhando como ele amasse. Como se
ele me amasse.
Eu mataria por esse olhar. Mataria, roubaria e mentiria.
Sim, eu mentiria por esse olhar, porque se essa é a única coisa que
terei dele, um olhar, então como posso perder isso?
— Eu senti sua falta. – sussurro, dando um passo em sua direção.
— Você sentiu?
366
— Sim. Então passei o dia assando todo tipo de coisa para você.
Tudo com canela. Eu sei que você gosta disso.
— Eu adoro. – Então ele me dá algo, algo que estava em sua mão
antes, mas eu não vi. — Aqui.
Eu vejo agora. Um saco de pirulitos. Eu pego da mão dele. — Você
me comprou pirulitos?
Ele balança a cabeça novamente, mas isso é mais firme do que antes,
meio tímido. — Os seus estavam acabando.
Eu o abraço no meu peito, o abraço e aperto antes de
rasgar o pacote e pegar um. Dou uma longa
chupada antes de dizer: — Esta é sua maneira
de dizer que você também sentiu minha falta?
Ele me observa girar o pirulito na minha boca. — Não.
Franzo a testa, pegando o pirulito. — Não?
Então, ele chega mais perto e me agarra pela cintura.
Ele aperta tanto que me faz perder o ar quando ele enfia os dedos, como
se quisesse certeza de que eu estivesse realmente viva e que finalmente
pudesse me tocar.
Levantando-me, ele me coloca em suas botas e resmunga: — Isso
sim.
Com isso, ele quis dizer seu beijo.
Porque ele está me beijando agora.
Soltei todos os pirulitos e o saco caiu no chão. Mas tudo bem. Eu
pego mais tarde. Agora, eu preciso beijá-lo também.
Eu passo meus braços em volta dele e faço exatamente isso. Eu o
beijo também enquanto ele beija minha boca coberta de doce antes de me 367
levantar com uma mão na minha bunda e me levar até a casa enquanto eu
o agarro como um macaco-aranha.
Alguns segundos depois ele interrompe o beijo e eu me encontro em
sua cama novamente.
Eu me apoio nos cotovelos e ele se abaixa para se aproximar da
cama. Eu observo com respirações ofegantes quando suas mãos chegam
aos botões de sua camisa que eu estou vestindo.
Ah, sim, eu ainda estou usando.
De fato, tomei um banho e a coloquei de volta
para sentir o cheiro dele. Eu podia sentir o
calor persistente de seu corpo no meu.
E agora, ele tem as mãos nela e eu sei o que ele vai fazer
antes mesmo de fazer isso.
Eu sinto isso a cada batida do meu coração.
Ele vai rasgar. Está nos olhos dele, nos olhos ardentes e intensos, e
ele rasga.
Ele segura o tecido e puxa. Ele puxa e rasga, até as veias de seus
pulsos ficarem tensos e seu rosto ficar tenso com a força. Tanta força que
eu levanto e acaricio seu queixo severamente articulado.
Assim que eu faço, a camisa cede e os botões se abrem.
Minha coluna arqueia com isso, empurrando meus seios.
Ele tem que olhar para eles então. Ele tem que olhar para os meus
seios balançando enquanto faz o mesmo com o resto dos botões, rasgando
sua própria camisa.
Deus, ele é um homem tão selvagem. 368
Depois que ele termina, ele abre a camisa, expondo-me aos seus
olhos. Expondo meu minúsculo corpo corado que ele não consegue parar
de olhar.
Então ele se abaixa ainda mais e pega um mamilo na boca, chupando
forte como eu fiz com o meu pirulito, me fazendo arquear um pouco mais
e agarrar os lençóis.
Ele não para de chupar. Ele pega na mão áspera, apalpa e aperta,
enfiando ainda mais o mamilo na boca.
Como se ele amasse isso, esse tratamento rude e
delicioso em meu seio, ele geme. Resmunga e
esfrega a barba sobre a pele macia.
— Graham. – suspiro.
— Porra, amo seus seios, baby. Amo como eles pulam
para mim.
E ele prova isso. Ele prova o quanto ama, fazendo-os
pular. Apalpando-os em suas mãos grandes e fazendo-os
mover, esfregando os mamilos com a palma da mão, fazendo-me perder
todo o meu senso e pensamentos.
Ele me agarra pela cintura e me puxa para frente da cama, então eles
pulam um pouco mais. Eles movem e balançam para ele, meus seios.
No momento em que ele termina de brincar com eles, eu estou me
contorcendo na cama. Minha calcinha está toda encharcada e grudenta
quando ele volta a minha boca, beijando-me.
Este é curto.
Ele termina rapidamente, como se tivesse outros planos para mim, e
se afasta.
369
Sento-me, meio curvada, completamente excitada e ofegante. Como
na noite passada, ele pega sua camisa de uma maneira impaciente. Ele
abre alguns botões e se afasta para arrancá-la de seu corpo de uma só vez,
descobrindo seu peito musculoso e bagunçando seus lindos cabelos.
Meu Deus, ele precisa de um corte de cabelo. Mas não vou dizer isso
a ele. Porque ele parece sexy pra caralho.
Ele deixa o jeans quando se deita e tenho que dizer que estou um
pouco decepcionada. Mas ele compensa mostrando seu tesão enorme
dentro de suas calças.
De fato, está fazendo uma tenda em seu jeans,
pressionando contra o zíper. Posso até
imaginar - a sua brava e gloriosa coroa,
empurrando contra os limites de suas calças,
talvez vazando antes do sêmen. Vazando tanto
que terá uma mancha molhada e escura lá.
Ah Deus, eu quero tanto isso.
Quero aquela mancha molhada no jeans dele. Quero
isso tanto quanto eu quero que ele tire seu pau grande e me foda com ele.
Meu homem tem o mesmo pensamento, acho. Porque o tempo todo
que eu estava olhando para o seu pau, ele estava olhando para a minha
boceta coberta com a calcinha, sua fisionomia está tensa. Mesmo estando
coberta como ele, aposto que ele pode ver a mesma coisa que eu.
Ele pode ver como minha boceta está sensível e como meus lábios
pressionam contra o tecido. Quando ele consegue ver a minha fenda e
como há uma mancha molhada gigante lá.
Com o queixo ainda abaixado, ele levanta os olhos para mim. Ele
coloca um dedo no meu joelho direito, movendo-o em círculos, fazendo
minha pele arrepiar.
370
— Está doendo? – ele pergunta, e sei que ele está perguntando sobre
minha boceta.
Flexiono meus tendões e balanço a cabeça. — Não.
— Não?
Ele continua com seus círculos lentos e eu movo meus quadris. —
Não. Você cuidou dela ontem à noite, afinal.
Ele ri, como se estivesse pensando nisso agora, imaginando que
cuidou dela, da minha boceta.
Antes de ir dormir na noite passada e antes de se
levantar para cuidar nas rosas e ele cuidou de
mim. Ele trouxe uma toalha úmida, quente, e a
pressionou contra o meu núcleo, tirando toda a
dor. Acontece que eu sangrei, mas só um pouco.
Havia uma mancha nas minhas coxas e na base de seu pau e
ele limpou esse local também.
Ele parecia um pouco horrorizado com isso, mas eu o
distraí beijando toda a sua barba e o seu peito.
Percebo o momento em que ele volta ao presente e esquece a
memória da noite passada. Seu dedo para de fazer círculos e, em vez
disso, sobe na minha coxa. Ele move e desliza para cima e para cima até
que sua mão é como uma faixa em volta da minha coxa.
Seu polegar é tão longo e grande que toca o limite da minha calcinha,
a curva da minha boceta, esfregando em mim.
— Ela está faminta? – ele pergunta, fazendo círculos com o polegar
lá agora, me tocando sobre o tecido grudento.
— Uhum.
— Ela quer alguma coisa? 371
Eu aceno com entusiasmo, abrindo minhas pernas como uma vadia e
avançando para perto dele. Avançando em direção ao seu pau.
Um lento sorriso de lado se espalha por seus lábios e ele desce para
me beijar. Um beijo suave e lento que arranha um pouco quando ele
esfrega a barba na minha bochecha.
Isso me faz gemer, seu gesto afetuoso e erótico, e eu chego a brincar
com sua barba, minha coisa favorita em todo o mundo.
— Vou alimentá-la, então. Vou cuidar dela como fiz ontem à noite.
— Sim. – sussurro.
Se afastando, ele tira minha calcinha. Ela
fica presa nos meus tênis que ainda estou
usando, mas ele a tira com facilidade. Não me deixando tirar
meus tênis.
Ele me diz para mantê-los, que isso mexe com sua
mente e vejo esse brilho nos olhos e que pulsa através do
meu núcleo nú.
Agora, ele pode ver tudo.
Seus olhos vão para a minha boceta e ele me olha. Ele olha minha
boceta sensível. Eu a observo também. Ela está toda colorida com
excitação, rosa profundo, quase vermelho, e fico tão excitada com isso,
tão excitada e vadia que me abro e esfrego minhas dobras.
Estou esparramada na cama, ainda vestindo sua camisa e tênis, meus
joelhos flexionados agora, e estou esfregando minha boceta molhada com
abandono na frente dele, esperando, morrendo e me contorcendo de
desejo.
— Alimente-a, Sr. Edwards. – sussurro, olhando para ele através dos 372
meus cílios.
Suas feições são malvadas e cruéis com a excitação, mas mesmo
assim ele balança a cabeça para mim. Ele ri, com um som abafado de uma
risada antes de tirar o meu fôlego com suas próximas palavras.
— Então você gosta de pirulitos, hein. – ele murmura, pegando o que
eu estava chupando.
Eu nem sei quando ele conseguiu e onde ele tinha o escondido até
agora, mas eu realmente não me importo.
Eu não posso me importar.
Porque assim que ele disse e me deixou
quase irracional, ele o colocou na boca.
Ah Deus, ele tem meu pirulito na boca, aquele doce de
cor magenta que ele prende nos lábios e dá uma longa e
lenta chupada, movendo suas bochechas.
Eu tenho que abrir minha boca para respirar, porque
merda... ele parece tão sexy fazendo isso. Ele parece tão sexy e masculino
enquanto chupa meu doce e eu nem consigo pensar coerentemente.
Então ele aparece, seus olhos escuros de desejo e algo mais, algo
delicioso e perigoso, e tenho que perguntar: — O... o que você vai fazer?
— Dar-lhe uma recompensa. – diz ele em voz baixa.
Tão baixo que fico sem ossos. Ainda mais sem ossos e louca do que
antes.
— Recompensa?
Em vez de me responder com palavras, ele agarra minhas coxas
novamente e me puxa para baixo na cama. Estou apoiada nos cotovelos 373
até agora, mas ele me faz deitar de costas. Então ele desce pelo meu
corpo, seu grande tamanho se tornando meu céu, colocando uma mão ao
lado da minha cabeça.
Olhando nos meus olhos, ele diz: — Sim, uma recompensa.
E então, ele me dá.
Ele dá de uma maneira que me faz agarrar os lençóis e puxar a cama.
Isso me faz arquear e apertar meus seios.
Porque ele simplesmente deu uma batida no meu clitóris com o meu
pirulito.
— Vou dar a ela algo para comer. – ele
murmura, batendo o doce no meu clitóris
novamente, e eu quase fico em pedaços.
Eu quase me divirto com a coisa vergonhosa que ele está
fazendo.
— Você gostaria disso, não gostaria? Se eu desse à
sua boceta algo para comer?
Ele está me perguntando?
Como ele pode me perguntar alguma coisa quando está roubando
minha capacidade de pensar e mais ainda de falar? Tudo o que consigo é
fazer alguns barulhos murmurantes enquanto ele circula meu clitóris, gira
o pirulito através das minhas dobras encharcadas, assim como eu o giro
com a língua.
— Responda-me, Violet. Você gostaria disso? Você quer que eu
alimente sua boceta, baby?
Eu seguro e puxo o lençol com tanta força que ele se solta das
minhas mãos e eu tenho que agarrar em seus lados e cravar minhas unhas
em sua pele quente. 374
— Sim. – respondo a ele em um gemido, com meus olhos piscando e
movendo fechados.
— Sim? Tem certeza disso?
Seu tom de satisfação e provocação me faz esfregar meus tênis para
cima e para baixo na cama, me deixando muito mais inquieta, pesada e
vazia, todas as coisas ao mesmo tempo.
— Sim. Sim, eu quero... eu quero.
— Ok. Vou dar-lhe algo para comer. Vou lhe dar seu
pirulito. – ele sussurra, com seu rosto cheio de
luxúria antes de dar a ela.
Ele dá meu pirulito para minha boceta.
Ele enfia o meu pirulito, aquele que eu estava chupando,
aquele doce que amo desde que me lembro, dentro da minha
boceta e tudo se estilhaçou.
Tudo explode no meu estômago. Todas as sensações,
descargas elétricas e faíscas.
Eu grito.
Eu acho.
Não tenho certeza. Eu também posso ter tirado sangue de sua pele
com a maneira como estou me agarrando a ele, e percebo que ele nem fez
nada.
Tudo o que ele fez foi enfiar meu pirulito dentro da minha boceta e
eu perdi a cabeça.
Deus sabe o que farei quando ele fizer alguma coisa.
Algo como me foder com isso. 375
O que ele faz um segundo depois.
Ele começa a me foder com meu pirulito e eu não sei como lidar com
a situação. Eu não sei como lidar com isso.
Então eu grito o nome dele. Canto como uma oração, porque só ele
pode me salvar. Meu Graham.
Ele pode me salvar de sentir tanto, de me sentir tão cheia, de me
apaixonar por ele cada vez mais fundo a cada estocada.
Mas então ele fala e percebo que nada e ninguém
pode me salvar.
Porque Jesus, suas palavras e sua voz.
Indecente, erótica e tão incrível.
— Você estava certa, Jailbait. Você estava tão certa. –
ele diz no meu ouvido e eu percebo que ele está bem perto.
Ele está deitado de lado, meio me cobrindo com seu
corpo enquanto bombeia o pirulito dentro e fora da minha
boceta.
Ele passa a boca ao longo da minha garganta enquanto sussurra: —
Sua boceta estava faminta, baby. Ela estava com muita fome. Ela está
devorando seu doce, engolindo-o como uma boa boceta. Você pode
sentir? Você pode sentir sua boceta chupando seu doce?
Delirando, viro o rosto para olhá-lo enquanto me empurro em suas
estocadas. — Uhum, eu posso sentir.
— Sim pode. Você pode sentir isso. Você pode sentir sua boceta
chupando todo.
Eu me movo, com esse sentimento pesado, mas vazio no meu 376
estômago cresce e se espalha pelos meus membros. Ele se espalha e se
espalha até que eu precise pedir a ele. Tenho que abrir a boca e formar
palavras, o que parece ser uma tarefa difícil, mas eu faço.
— Deus, Graham. Por favor, me faça gozar. Por favor, por favor, eu
quero gozar. Por favor, Deus!
Eu preciso do pau dele.
Eu não quero pirulitos. Eu o quero. Minha boceta o quer.
No segundo seguinte, ele me dá isso também.
Ele tira o pirulito da minha boceta. Seu calor
desaparece do meu lado por alguns segundos
antes de voltar e mover sobre o meu corpo e eu
abro meus olhos.
Ele está debruçado sobre mim como na noite passada,
apoiando-se nos antebraços. — Abra sua boca.
Não tenho mais poder para fazer outra coisa senão
abri-la.
— Coloque sua língua para fora.
Eu também faço e ele coloca o pirulito na minha boca. — Chupe.
Fecho meus lábios ao redor e chupo. Faço isso porque não há como
não fazer. Eu estou tão excitada por ele, tão faminta, tão faminta quanto a
minha boceta e então chupo o pirulito que ele estava alimentando minha
boceta e gemo como a vadia que eu sou.
Eu o chupo com vontade. Eu como o que ele me dá, e Deus, o meu
gosto. Sou picante, salgada e muito cremosa.
— Tem um gosto bom, não é? – ele pergunta, como se estivesse
lendo meus pensamentos. 377
Ainda chupando, concordo.
— É sua boceta, baby. Tem um sabor melhor do que o doce, não é?
Concordo novamente, devorando-o.
— Você virou fã agora, Violet? Você gosta mais da sua boceta do
que do seu doce?
— Uhum.
— Sim, você gosta. Por que você não gostaria? Sua boceta é a coisa
mais doce que já provei. Mais doce, mais gostosa e mais
quente. E você sabe o que mais?
Balanço a cabeça, comendo meu doce
como uma garota gulosa.
Mas então, paro de chupar. Paro de mover minha língua
sobre ele, atrás do meu próprio gosto, e o mordo, em vez
disso.
Porque ele me penetra de uma só vez.
Eu nem sei quando ele colocou a camisinha, provavelmente quando
eu ainda estava delirando com a porra do pirulito, e agora, ele está dentro
de mim com estocadas fortes, roubando todas as minhas respirações e
todo o vazio que eu estava sentindo.
Então ele coloca minhas coxas sobre seus braços e as empurra de
volta para o meu corpo.
Minha boceta está ainda mais apertada assim. Com as pernas sobre
seus ombros e os tênis no ar. Os cadarços estão desfeitos e penduram ao
nosso redor, balançando dentro e fora da minha visão e de alguma forma,
me deixa ainda mais excitada.
— Sua boceta tem gosto de que ela é minha. – ele finalmente termina 378
seu pensamento de antes e eu gemo eu volta do meu pirulito.
Ele tira o seu pau antes de empurrá-lo para dentro novamente,
enfatizando-o com suas palavras pervertidas. — Quero foder essa boceta,
essa boceta apertada e jovem. – Outra estocada de seu pau, seguido por
outro gemido meu com o quanto bom ele me estica.
— E quero enchê-la de pirulitos. Eu vou foder sua boceta com eles. E
então quero que você chupe esse doce com sabor de boceta enquanto eu
te fodo com meu pau e jogo minha porra em cima de você.
Com isso, eu gemo mais alto. Eu até tiro o doce com
sabor de boceta da minha boca para dizer a ele:
— Sim, você pode tê-la. Você pode ter tudo
dela. Tudo de mim. Sou sua vadia. Sua vadia.
Seu tudo. Sou sua, Graham.
Sua expressão muda.
Torna-se ainda mais feroz. Mais do que na noite
passada, quando ele tirou minha virgindade. Na verdade, é
a mais nítida e cruel que eu já vi, e sei o que é.
Ou o que parece.
Parece amor.
Esse criador de sonhos, realizador de sonhos, um tecedor de sonhos
que quero agarrar com as duas mãos. Eu quero pegar aquele olhar e nunca
deixar ir. Nunca o perder. Nunca fazer nada para prejudicá-lo.
Quero que ele nunca pare de me olhar assim. Como se ele estivesse
apaixonado por mim.
Um segundo depois, ele tira o doce da minha boca e joga antes de me
beijar.
Antes de fundir nossos corpos e enfiar seu pau em mim. Acelerando, 379
se enfiando, e penetrando na minha boceta com tesão enquanto me fode.
Ele me fode como uma fera.
É ainda mais intenso do que ontem à noite. O jeito que ele está me
fodendo.
Suas estocadas são mais fortes e mais poderosas. Mais possessivas.
Como se sua necessidade por mim só aumentasse depois que ele tivesse
uma prova de mim.
Como se ele me quisesse ainda mais agora. Como se ele precisasse
mais de mim.
Como se ele precisasse tanto de mim que
não conseguisse se controlar.
Ele penetra em mim uma e outra vez,
movendo nossos corpos juntos, batendo na minha
bunda com a pélvis. Ele me penetra com tanta ferocidade que
minhas pernas vão para trás e atingem a parede. A cabeceira
da cama também bate na parede.
É como se ele estivesse tentando encontrar algo dentro
de mim. Ele está tentando encontrar uma coisa que ele quer, um lugar,
para que ele possa morar lá.
Seus quadris movem duas vezes enquanto ele penetra na minha
boceta e procura por essa coisa ilusória.
E isso é tão bom, tão maravilhoso que eu agarro sua bunda e o faço ir
mais forte. Eu o faço ir mais fundo do que antes. Eu o faço me esticar
mais, me esticar tanto que eu nunca mais me sinta vazia.
Que eu nunca mais me sinta vazia e solitária. Que ele encontre o que
quer e tire de mim e guarde para si.
Porque ao contrário dele, eu sinto isso de verdade.
380
Eu sinto esse amor de verdade. Isso precisa ser unicamente dele.
Essa necessidade dele me olhar assim. Como se ele estivesse se
afogando em mim.
Na verdade, ele tira os braços debaixo das minhas pernas para poder
agarrar meu rosto com elas - com as mãos - como ontem. Mas o jeito que
ele está apertando as pontas dos dedos nas minhas bochechas e meu couro
cabeludo é muito mais intenso e dominante do que na noite passada.
Há uma urgência nele, na maneira como ele está me segurando.
Como se eu fosse sua tábua de salvação. Como se eu fosse
a coisa em que ele está se perdendo, mas, ao mesmo
tempo, também sou o que vai salvá-lo.
Eu pensaria mais se não fosse por seu pau.
Se não fosse por ele me fodendo, fodendo o meu
corpo com tanta força que os meus seios pulam,
meus dentes batem e toda a minha alma sacode.
E o tempo todo ele está me olhando.
Ele se afasta e se enfia dentro de mim. Penetra o meu
canal confortável, com minhas pernas ao redor dos meus ouvidos.
Então ele acha outro jeito.
Ele para e arfa: — Segure seus cadarços.
Estou relutante em largar a bunda dele, mas sei o que ele quer dizer.
Mesmo através da névoa de luxúria, eu sei que ele está me pedindo para
segurar meus cadarços pendurados porque ele me quer mais apertada.
E eu também quero isso.
Eu quero ser boa e apertada para ele, pois sinto cada centímetro do
seu pau grosso.
Então eu seguro. 381
Eu seguro os cadarços dos meus tênis para que minha boceta esteja
mais apertada para ele.
Então minha boceta o agarra e o mantém dentro de mim enquanto ele
me fode e fode.
Até aquele olhar em seus olhos, esse falso amor explode. Explode
essa coisa grande e enorme que parece tão real e incrível, maravilhosa e
comovente que eu gozo.
Eu aperto em torno de seu pau e suas pulsações se tornam fortes e
aleatórias. Ele se move e se contrai, seu corpo deslizando
sobre o meu com o suor, o atrito que criamos. E
então, ele goza também.
Ele ainda faz isso olhando para mim.
Ele não fecha os olhos. Ele não se perde sozinho no
clímax.
Ele se perde comigo.
A garota que ele não pode amar, mas parece que ama.
A garota que está pensando, eu não posso. Não posso. Não posso.
Não posso perder esse olhar. Eu não posso contar a ele. Não posso
contar a verdade.
Eu o amo.
Ele rouba todos os meus pensamentos e meus gritos quando ele geme
e quase cai em mim, com seus quadris movendo uma última vez enquanto
seu orgasmo segue seu curso.
Mas ele não acaba. Ele também não desvia o olhar de mim.
Na verdade, ele tem um franzido marcando sua testa enquanto ainda
está sobre mim, todo suado, com seus dedos ainda emoldurando meu
382
rosto.
— Graham? – eu o chamo, com as minhas pernas descendo e
agarrando-o pela cintura e minhas mãos em sua mandíbula.
— Eu não... – ele faz uma pausa enquanto reúne seus pensamentos.
— Eu machuquei você?
Franzindo a testa, balanço minha cabeça. — Não.
Seu pau pulsa dentro de mim e minha boceta pulsa, fazendo com que
nós dois quase fechemos os olhos. Mas ele continua. —
Eu não sou assim. Eu não... faço essas coisas. –
ele engole, olhando para mim com admiração
e confusão. — Eu não sou assim tão mau. Isso
é loucura... eu não sei o que acontece comigo
quando se trata de você. Você faz algo…
Ele deixa sua frase no ar e meu coração fica orgulhoso.
Bate contra a minha caixa torácica com tanto amor por ele e
suas declarações pela metade.
Ele parece tão perdido e tão estupefato e tão exposto
enquanto tenta explicar essa mudança nele. A mudança que eu trouxe, de
alguma forma.
Eu.
A garota que mal faz diferença no universo está fazendo diferença
para ele. Eu estou de alguma forma transformando-o, e as coisas que ele
faz para mim, comigo, é novo para ele. Tão novo e maravilhoso como são
para mim.
Eu quero chorar. Eu quero rir.
Mas tudo o que faço é sorrir um pouco e estender a mão para beijar
sua boca, que ele transforma em um beijo longo e molhado.
383
Quando paro para respirar, sussurro: — Eu amo isso. Faça o que
fizer, seja como for, eu amo.
Eu te amo…
Como posso dizer a ele a verdade sobre mim quando ele pensa que
estou fazendo algo com ele? Algo está mudando nele por minha causa e,
por isso, ele me olha com admiração. Ele olha para mim como se eu fosse
especial.
Como posso contar a ele?
Como posso perder esse olhar?
Não posso. Não vou.
Estou com muita fome. Meu coração está
com tanta fome. Minha alma está faminta.
Tanto que eu estou pronta para comer o seu falso amor.
Que eu estou pronta para mentir por isso.
384
Todo dia ele me deixa uma rosa no travesseiro e eu
dizer a ele...
424
No fim, a única coisa que importa é que eu o amo.
Eu o amei desde o primeiro momento em que o vi e
Estávamos na cama, nos preparando para dormir. Ele tinha acabado 425
de sair do banheiro, com o peito nu, usando seu pijama xadrez quando a
inspiração me atingiu. Eu estava apoiada nos travesseiros, vestindo a
camisa que roubei dele assim que ele chegou em casa do trabalho - sem
calcinha - e levantei minha perna e mexi os dedos dos pés.
— Você vai pintar minhas unhas, Sr. Edwards? – perguntei, girando
um pirulito na boca.
Ele olhou em minha direção, fazendo toda a luxúria dentro de mim
acordar. Não é que eu vá dormir quando ele está por perto, mas ainda
assim...
Ele alcançou a cama e olhou para a minha perna
levantada uma vez antes de olhar na minha
boceta, que eu estava acidentalmente de
propósito exibindo-a.
— Pareço um universitário idiota para você, Jailbait? –
ele murmurou, olhando para mim.
Eu abaixei minha perna na cama, mas mantive minhas
coxas abertas para ele. — Você parece um exemplo sexy
de homem e eu quero que você pinte minhas unhas dos pés.
Eu pensei que ele não iria fazer. Eu estava apenas brincando.
Mas ele pegou o vidro de esmalte brilhante da mesa de cabeceira
onde eu o deixei da última vez. Então subiu na cama e se ajoelhou entre
minhas pernas abertas. Ele apertou meu tornozelo, abrindo minhas pernas
ainda mais, então eu estava exposta para ele, e colocou meu pé em sua
coxa antes de começar a pintar.
Ele meticulosamente pintou cada unha. Cada uma enquanto se
inclinava sobre mim e me acariciava com o pequeno pincel.
Ele nem sequer olhou para ela, minha boceta, a qual ele abriu com
minhas pernas, e por algum motivo isso a deixou ainda mais molhada. 426
Mas mais do que isso, essa atitude me encheu de tanto amor por ele
que, uma vez que ele terminou, eu legitimamente o ataquei. Eu o ataquei
e beijei seu rosto inteiro, arruinando seu trabalho no processo, mas não
importa.
Então eu disse que queria montar sua coxa e me esfregar nela e ele
me deixou. Ele me deixou montar sua coxa até eu gozar e espalhar todos
a minha umidade sobre ele antes que segurasse meu cabelo e me olhasse
nos olhos. — Você se divertiu, Jailbait. Minha vez agora.
Pensei que quis dizer que gostaria que eu chupasse
seu pau, mas ele murmurou: — Sente-se na
minha cara.
Não só isso, ele realmente me fez sentar.
Ele me pegou e me posicionou até que eu estava sentada
em seu rosto enquanto me lambia e me fazia gozar
novamente, desta vez em seu queixo e barba, enquanto se
masturbava.
Enquanto isso, tínhamos esquecido o vidro de esmalte e, durante a
nossa travessura, ele havia derramado, manchando o lençol.
Agora vejo a mancha quando acordo na manhã do meu aniversario de
dezenove anos. O sinal da noite em que ele pintou minhas unhas depois
que ele disse que não faria.
O lado dele da cama está vazio e frio, o que significa que ele se foi há
muito tempo.
Ele provavelmente está no trabalho.
Ele provavelmente já descobriu agora. Sobre mim, quero dizer. E ele
conversará comigo quando voltar.
427
Estranhamente, não tenho medo.
O medo desapareceu ontem, quando ele me salvou de Richard e de
minha própria mente para que eu pudesse esquecer que estou doente por
um tempo.
Nem senti nada além de um coração batendo forte quando coloquei o
plano em ação na noite passada depois de completar dezenove anos.
Eu pensei em como contar a ele. Qual seria a melhor maneira de
transmitir tudo o que está dentro de mim, e a resposta foi simples.
Meus diários.
Eu poderia dar-lhe, e ele poderia ler tudo
por si mesmo. Então os deixei na mesa de
centro, uma pilha completa deles, juntamente
com algumas outras coisas.
Agora ele pode saber tudo.
Ele sabe que aos dezesseis anos eu o vi e me apaixonei.
Aos dezoito anos o beijei e o escândalo que surgiu quase
me quebrou e, aos dezenove, estou lhe contando tudo.
Tiro as cobertas e saio da cama.
O chão range sob meus pés e esse som de alguma forma me traz onde
eu quero.
O rangido do chão, as ripas de madeira da cabeceira da cama e a
porta sem verniz de seu armário. Coisas que eu aprendi a amar.
Agora a porta do armário está aberta, e posso ver os meus vestidos
pendurados com suas camisas xadrez.
Eu os coloquei lá como uma brincadeira, dizendo a ele que, se
continuar me comprando todos esses vestidos, então eu vou tomar conta
do armário. A reação dele foi me virar e me foder em um estilo 428
cachorrinho na cama com seu polegar na minha bunda, enquanto ele me
fazia olhar nossas roupas juntas. Toda vez que meus olhos se fechavam,
ele puxava meu cabelo enrolando em seu pulso e dizia para eu continuar
olhando.
Ele me perguntava: qual é o seu favorito, baby?
E quando dizia a ele, aquele com rosas, ele me perguntava o por quê.
Ele me pediu para descrevê-lo exatamente como se não soubesse como
era.
Eles estão bonitos, meus vestidos e suas camisas pendurados lá.
Tudo sobre este lugar parece bonito. Não
acredito que pensei que esta cabana estava
desmoronando. Quero dizer, Graham fez um
grande trabalho nas últimas semanas e ainda há
mais a ser feito, mas eu nem me importo.
Eu gosto desta cabana.
Eu amo essa cabana.
Eu a amo porque ela é o meu lar. Ela se tornou meu
lar nas últimas semanas.
Minhas coisas estão por toda parte.
Na mesa de cabeceira e no chão, e quando vou ao banheiro, vejo
meus frascos de xampu e condicionador por ali. Até o ar cheira a mim:
morango.
Esse é o meu lar.
Meu lar.
Não sei por que continuo dizendo isso repetidamente na minha
cabeça. Não sei por que está me atingindo agora que esta cabana no meio
da floresta é o primeiro lugar a que eu pertenço.
Mas é isso. 429
Isso me atinge ainda mais quando ando pelo corredor e o encontro.
Meus pés param.
Ele está aqui.
Pensei que ele tivesse ido embora. Pensei que ele estaria no trabalho
agora. Eu pensei que tinha tempo.
Mais tempo para me preparar.
Deus, ele está aqui e vai fazer todas estas perguntas. Eu
pensei que não estava com medo, até que o vi, então
percebo que estou. Sim, estou com medo.
Eu sou tão, tão fraca.
Tão fraca que eu sussurro o nome dele. — Graham.
Suas costas estão tensas.
Ele está sentado no sofá, olhando para o vazio. Seus
ombros parecem estar curvados, inclinados para frente, e eu percebo que
ele tem os cotovelos apoiados nas coxas abertas e as mãos caídas
frouxamente entre elas.
Mas todos os seus músculos se encolhem com seu nome sussurrado.
Eu os vejo movendo sob a camiseta fina que ele está vestindo. Ele
geralmente dorme sem camisa, mas quando acordo - sempre mais tarde
que ele - ele veste uma de suas camisetas velhas junto com seu pijama
xadrez.
Ele está de pé agora e lentamente se vira para mim. Ele parece... sem
vida.
Tão inexpressivo e vazio. 430
Isso me enfraquece os joelhos. Eles quase flexionam. Não achei que
ele fosse ficar assim. Eu pensei que ele ficaria... irritado.
Sim, foi o que pensei.
Pensei que ele ficaria irritado comigo por mentir ou talvez incrédulo
ou algo assim. Não achei que ele pareceria tão derrotado.
Sim, é assim que ele se parece.
Como se ele tivesse perdido todas as batalhas e todas as guerras e
agora ele não tem nada para viver.
— Você está em casa. – eu sussurro
inutilmente.
— Sua bolsa. É isso que você tem aí?
Sua voz está monótona. Sem qualquer ajustamento, com
sem tom alto no final alertando que é uma pergunta. Mas é
uma e ele está esperando eu responder. Mesmo que ele já
saiba.
Apertando as minhas mãos, concordo. — Sim. Eu os carrego por
toda parte.
Por eles, quero dizer, meus diários antigos. Os que eu escrevia antes
de ir para Heartstone. Aqueles que continham meus sonhos e desejos por
ele.
Vejo meus diários espalhados pela mesa de centro e sei que ele leu
todos.
— E as pílulas. – ele continua naquele tom monótono dele.
Com isso, meu peito arfa com uma respiração ofegante. Também
existem frascos de pílulas em todos os lugares, ao lado dos meus diários.
Deixei-os ao lado dos diários empilhados para ele encontrar. 431
— Sim. Às vezes preciso delas. Quando as coisas estão ruins. – ele
fica me encarando e eu continuo explicando: — Eu estava tomando um
medicamento regular. An... antes. Mas eles suspenderam e agora tenho
essas. Para quando as coisas não estiverem bem.
Mantenho minhas pílulas ao lado dos meus sonhos, que eu continha
todos na minha bolsa hobo.
Não sei por que faço isso, por que mantenho meus sonhos e meus
medicamentos juntos. Talvez seja para me lembrar de algo. De coisas que
não posso fazer agora. Eu não sei, apenas os mantenho
juntos.
— Eu não tenho que tomá-las há um
tempo. – digo a ele antes que ele possa dizer
mais alguma coisa. — Apenas tomei um quando
estava dirigindo até aqui, mas fora isso eu não precisei.
Isso, pelo menos, é verdade.
Tomei a pílula porque estava ansiosa. Estava surtando
com a possibilidade de vê-lo, mas depois que eu realmente o vi, não
precisava mais.
Depois que eu o vi, algo me acalmou, embora eu achasse que ele me
odiasse naqueles primeiros dias. Mas então eu tinha algo pelo que lutar.
Tinha um propósito. Um objetivo. Para lhe dar paz, para compensar
as coisas.
Talvez seja por isso que não precisei delas.
— É por isso que você a coloca no armário.
Com isso, ele quer dizer a bolsa hobo. A coisa que eu não posso ficar
sem.
432
Ele percebeu isso?
Claro que ele percebeu. Ele percebe tudo sobre mim. Claro, que ele
percebeu que eu escondi a bolsa no armário do outro quarto quando
cheguei semanas atrás para ajudá-lo a se desintoxicar. Coloquei lá para
que ele não descobrisse. Então ele não tropeçaria acidentalmente e veria
seu conteúdo.
— Sim.
Ele fica em silêncio depois disso e avalio a distância entre nós, como
fiz na primeira noite em que o vi no bar e estávamos conversando
sobre ele tocando aquela mulher como uma rainha. Eu
olho para ele, de pé ao lado de seu sofá e eu no
corredor e tento pensar em quantos passos
teriam antes que eu pudesse tocá-lo.
Quantos passos antes que eu possa sentir seu calor
novamente, respirar o mesmo ar que ele, sentir a batida de
seu coração sob a palma da minha mão.
— O que é Heartstone?
Ele faz a pergunta depois que parece uma eternidade. E, novamente,
não parece uma pergunta, porque ele provavelmente já sabe a resposta.
Parei de escrever nesses diários na noite em que me enviaram para lá.
Esse foi o meu último registro, quando eu estava indo para uma ala
psiquiátrica, e então eu parei. Até que comecei de novo no dia em que
Brian me ligou e descobri que Graham estava me observando tanto
quanto eu.
Expiro um longo suspiro. — Uma clínica psiquiátrica. Fica no norte
de Nova York. Hospital Psiquiátrico Heartstone.
— Você estava lá.
433
— Sim. Sim. Eu estava.
— Quanto tempo?
— Por... por alguns meses. Eles têm esse programa de seis semanas,
mas não estava progredindo muito, então o estenderam e eu tive que ficar
lá por mais seis semanas.
— Quando foi isso.
Engulo e agarro a barra do que estou vestindo. Sei que é a camisa
xadrez dele de ontem.
Eu coloquei depois que ele me fodeu na
caminhonete, me desejou um feliz aniversário
e me trouxe para dentro. Tomamos um banho
juntos e ele me deu banho antes de me foder
novamente no chuveiro, devagar e preguiçoso
como se tivéssemos todo o tempo no mundo. Depois eu vesti
a camisa dele e nós comemos pizza aquecida no
microondas, a que ele comprou para nós antes de sermos
pegos pelo Richard.
Sua camisa xadrez macia que ainda cheira a ele me dá força agora.
— A... ano passado. No Verão e um pouco do Outono.
Na verdade, eu fui a penúltima da nossa gangue a deixar Heartstone.
Willow foi a última, ela teve um incidente grave uma noite antes de sair.
— Por quê? Por que você estava lá?
A primeira pergunta que ele me fez que parece uma pergunta de fato.
Parece que a voz dele está mudando. Sua expressão ainda está
inexpressiva, ainda sem vida, mas algo está acontecendo dentro dele e eu
não sei o que é.
Não seja egoísta, Violet. 434
Diga a ele. Eu te Amo.
Deixe ele te matar, está tudo bem.
— Porque eu tenho síndrome de pânico.
Finalmente vejo um pouco de movimento em seu rosto. Acho que é
um franzido na testa. Não tenho certeza. Foi muito pequeno e acabou
rapidamente. Foi antes que eu realmente pudesse dizer o que está
acontecendo.
Mas, de qualquer forma, a verdade está lá fora agora.
Eu disse a ele.
Ele sabe.
E agora que ele sabe, digo o resto. Eu digo a ele, mesmo
que haja uma chance de ele ainda achar que sou defeituosa e
fraca.
— Eu... – eu engulo e puxo a barra de sua camisa. —
Eu sempre fui meio tímida e longe do mundo. Bem, exceto quando se
trata de você. De qualquer forma, nunca gostei de pessoas. Nunca gostei
dos olhos deles em mim. Principalmente porque sempre me olhavam
como se eu fosse uma garota estranha, com cabelos loiros e olhos
castanhos gigantes que sempre me fizeram parecer assustada ou algo
assim...
Eu rio nervosamente. — Mas é principalmente porque eu não estou
acostumada. Eu não estou... acostumada a ser vista. Então, quando eu
beijei você naquela noite, e de repente me tornei vista e essa coisa que
todo mundo estava me vendo, eu não aguentei. Eu não pude lidar com
isso. Isso me assustou. – eu limpo minha boca com as costas da minha
mão e volto a agarrar sua camisa, esgarçando-a com os dedos. 435
— Isso me assustou tanto que acho que tive meu primeiro ataque de
pânico quando estava no supermercado. Alguém me viu e me reconheceu
e começou a falar comigo. E eu simplesmente não conseguia lidar com a
situação. Eu saí de lá e não conseguia respirar. Eu senti como se alguém
estivesse sentando no meu peito e meu estômago estivesse revirando e...
sim, foi horrível. Mas então aconteceu de novo e de novo até que eu não
conseguia sair de casa. Até me sentir segura no meu quarto ou quando
saía à noite.
— E uma noite, eu estava sentada no telhado e estava bebendo
porque Fiona me chamou para se gabar dela e de Brian.
Então eu fui até o telhado, estava sentada lá e vi
alguém na rua. E então, alguém me viu. Eles
me viram lá em cima e começaram a caminhar
em direção à casa e eu perdi a cabeça. Eu nem sei
o que queriam, mas eu fiquei com medo assim
mesmo. Eu não queria descer do telhado, mas precisava. Eu
precisava porque alguém estava lá e estavam caminhando
em minha direção e eu estava com muita raiva das pessoas
por não me deixarem em paz. Era um momento meu, você
sabe. Era a minha hora de estar no mundo e observar a lua e escrever no
meu diário, mas não conseguia nem fazer isso. Então entrei no meu carro
porque queria ir embora dali. Eu estava tão cansada de tudo que queria
sair daquela cidade. Mas a alguns quilômetros de distância, eu saí da
estrada e ia bater naquela árvore, mas não bati.
Finalmente, paro para respirar. Paro para dizer a mim mesma que
isso acabou. Ou pelo menos, está quase no fim. Portanto, é mais ou
menos um suspiro de alívio.
Embora eu ainda não esteja fora de perigo.
Porque ele não disse uma palavra.
Ele também não mudou sua expressão. Ele está fazendo a mesma 436
coisa que no segundo em que se virou e me viu: ele está apenas me
olhando.
Ele está olhando para mim, mas, novamente, os seus punhos não
estavam fechados quando começamos isso.
Eles estão agora.
Eles parecem ainda mais violentos que os meus. Meus insignificantes
que estou usando para destruindo a sua camisa.
Não sei ao certo o que quer dizer com seus punhos estarem assim. Se
é uma boa coisa ou se ele está começando a pensar que
sou tão fraca e patética que só porque alguém
estava caminhando em minha direção, eu
surtei e quase bati o meu carro em uma árvore.
Mas olho para aqueles punhos e continuo: — Eles me
levaram para um hospital. Enviaram-me para uma avaliação
psicológica e tudo mais. Então me deram a opção de ir a
essa clínica para que pudesse ter um ambiente estruturado
e eu aceitei. Principalmente porque eu queria fugir. Então, basicamente,
menti para você. Eu tenho mentido para você sobre tudo. Não há... Não
há universidade. Não há férias. Não há nada. Não tenho certeza se estou
indo para a faculdade. Porque as pessoas ainda me assustam.
Eu passo os dedos do pé direito até a panturrilha da perna esquerda,
me sentindo exposta e constrangida e de repente tão tímida na frente dele.
Algo que nunca senti antes e odeio esse sentimento.
Ele é a única pessoa que nunca quis me esconder ou mentir, e odeio
ter feito às duas coisas.
— O que aconteceu com Richard... Aquilo foi uma espécie de mini
ataque de pânico. Não posso olhar as pessoas nos olhos e não posso falar
com elas porque fico com medo. Isso me deixa ansiosa. Eu tenho essas 437
coisas, meu terapeuta, Nelson, as chama de disfarces. Boné e óculos de
sol. Eu os uso quando saio. O que não é muito. Eu não saio muito. Eu
principalmente só fico em casa. Compro coisas on-line e converso com as
pessoas através de bilhetes.
Com isso, tenho que rir um pouco. Billy, meu amigo.
— Faço todas essas coisas porque não gosto de estar aqui. No
mundo. Eu estava bem no lnterior, em Heartstone, mas estou... meio que
lutando do Lado de fora. Em Heartstone, todos eram como eu. Todo
mundo tinha problemas e ninguém olhava para mim como se eu
fosse diferente. Mas então saí e percebi que tudo
continuava igual. As pessoas na minha cidade,
seus julgamentos e fofocas e tudo isso. Eles
ainda pensavam que eu era uma vadia e ainda
me xingavam e todos os rumores ainda estavam
vivos. Portanto, era mais fácil ficar em casa e me
trancar no meu quarto do que sair e enfrentar os meus
problemas. Enfrentar o mundo barulhento e todas essas
pessoas. Era mais fácil fingir que não havia problema em
usar um disfarce e nunca falar com ninguém além de
algumas pessoas que conheci em Heartstone. É mais fácil fingir que
estou bem do que lidar com o problema real: minha mente caótica. A
ansiedade é cansativa, sabe, e eu simplesmente não queria mais estar
cansada. Eu acho que estava apenas fraca. Eu gostei de tomar o caminho
mais fácil. Mas se você realmente pensar sobre isso, eu sempre fui fraca,
certo? Tímida e se escondendo do mundo e ocupada com livros, música e
tudo mais. Portanto, faz sentido que eu esteja fraca agora, diante da
minha doença.
— E a razão pela qual eu não contei nada disso... – eu lambo meus
lábios e certifico-me de não desviar o olhar dele. — É porque pensei que
você pensaria que eu era fraca e covarde. Eu pensei que você pensaria
que eu estava defeituosa. Você pensaria que eu tenho essa doença louca e
todas essas fobias estúpidas e que sou patética. Eu sou falha. Então sim,
eu tenho mentido e escondido coisas e você provavelmente deve me odiar 438
agora. Mas eu não quero que você...
Não digo isso porque, bem, acho que não posso dizer nada. Eu disse
tudo o que tinha em mim para dizer.
Eu já disse tudo e não posso mais olhar para ele. Então eu volto a
encarar seus punhos fechados. Percebo que os tendões do pulso dele estão
tensos agora. Suas veias estão quase saindo de sua pele e tenho tanto
medo de olhar para a expressão em seu rosto.
E se ele pensa tudo isso e muito mais?
Mas então, ele sempre me salvou, me fez sentir bonita
e especial. Ele me fez sentir como o mundo dele.
Então eu não sei.
Não sei e tenho tanto medo, que quando
ele começa a se mover em minha direção, fecho
os olhos. Eu até dou um passo para trás. Aperto os músculos
do estômago e encolho os dedos dos pés e, se pudesse
também me encolheria em uma bola.
Finalmente, ele vai dizer todas as coisas que eu tenho
medo, não é?
Ele vai. Ele vai. Ele vai.
Eu sei disso. Eu sei.
— Você está defeituosa.
Suas palavras - que eu sabia que ele ia dizer - ainda me deixam sem
fôlego. Elas me fazem abrir minhas pálpebras e olhá-lo.
Sua fisionomia está tensa, angular e nítida por sua fúria. Ele está me
olhando com violência nos olhos. Tanta violência que não sei como voltar
seu olhar. Mas, ao mesmo tempo, não quero desviar.
Não posso. 439
Ele é uma coisa linda e magnífica na minha vida e o amo tanto que,
mesmo quando ele parte meu coração, minha alma, eu tenho que vê-lo
fazer isso. Não há outra opção.
— Você é fraca. Patética. Falha. Você é uma covarde.
Estremeço e meus lábios se separam, respirando através de soluços.
— É isso que você é?
Eu concordo.
Porque sim, é isso que sou. Estou com todos os
tipos de defeitos e tenho sido estúpida por
pensar que estou bem.
Fui tão estúpida em pensar que ele seria a única pessoa
que não pensaria isso de mim quando todo mundo sempre
me desprezado.
Tão estúpida, Violet. Deus, você é tão estúpida.
Ao meu aceno, ele traz o seu rosto para perto de mim, com seu peito
se movendo para cima e para baixo. — Então me explique algo. Explique
como você está parada na minha frente, me dizendo todas essas coisas
sobre você?
— O que?
Minha confusão o incomoda e suas próximas palavras são arrancadas
de seus dentes rangendo. — Como você ainda está aqui? Como está aqui
depois de todas as coisas pelas quais eu a fiz passar? Todas as coisas
terríveis e cruéis que lhe fiz desde o começo. Por que não fugiu e se
trancou em um quarto? Porque é seguro, não é? Porque é fácil fingir que
está tudo bem. É fácil mentir, não é?
440
— Eu...
— Eu te dei todas as oportunidades de ir embora. Na verdade, eu me
esforcei muito para que você fosse. Por que você não fez? Se você é tão
patética e covarde, por que não foi embora? Por que não pegou o caminho
mais fácil disso, Violet? Por que diabos me deu seus diários? Porque se
você não tivesse me dito, eu nunca teria descoberto. Por que me contar?
Por que me dizer quando eu posso ver claramente o medo em seu rosto?
Por que me diz tudo quando há uma parte de você que pensa que vou
rejeitá-la pela verdade?
Por que contar a ele?
Ele já não sabe? Não leu no meu diário,
aquele em que comecei a escrever depois que
cheguei aqui?
— Porque eu amo você. – digo a ele com os olhos
lacrimejantes, com as palmas das mãos suadas passando
pela camisa que estou usando, com meus dedos encolhidos
fazendo buracos em seu piso de madeira antigo.
— Você me ama.
Engolindo, eu aceno. — Sim.
Ele estreita os olhos. — Mesmo quando não te amo? Mesmo quando
eu não posso. Mesmo depois de lhe dizer um milhão de vezes que nunca
vou te amar, você ainda me ama.
Uma lágrima desce pela minha bochecha e ele segue sua jornada com
uma expressão severa e atormentada. — Sim. – sussurro. — Eu te amo.
— Por quê?
— Porque eu sempre te amei. Desde o começo. Porque você me faz
sentir segura. Protegida e aquecida. E porque o amor não é pedir a 441
alguém para te amar também. É sobre... Amar. Trata-se de pular de um
penhasco com os dois braços abertos e esperar que esses braços se tornem
asas e você possa voar. Mas mesmo se não puder e cair no chão e morrer,
tudo bem. Tudo bem, porque poucas pessoas morrem apaixonadas.
Pouquíssimas pessoas morrem enquanto fazem o que amam.
Pouquíssimas pessoas são tão radiantes, iluminadas e intensas e... e
corajosas, sabe? E...
Eu disse corajosa?
Eu não poderia ter dito. Eu não sou corajosa. Eu nunca fui. Quero
dizer, sou a garota que se esconde. Como eu posso ser...
— Corajosa, hein. Então você é corajosa?
Suas palavras roucas me fazem esquecer
meus pensamentos. Ou melhor, elas completam
os meus pensamentos. Todos esses pensamentos
que estão indo e voltando, me dizendo essa coisa, que sou
corajosa.
Eu sou corajosa.
Eu?
Fico tão abalada, como se alguém tivesse me dado um soco no
estômago ou me empurrado de um penhasco. O penhasco que eu estava
caindo de qualquer forma. Eu estou caindo daquele penhasco desde que
completei dezesseis anos e o vi.
Eu caí daquele penhasco e sonhei enquanto estava voando.
Sonhando com ele, amando-o e sendo corajosa.
Jesus Cristo, eu sou corajosa.
— Você é tão corajosa, Violet. Tão magnífica que às vezes eu não sei
o que fazer. Você é a pessoa mais corajosa que conheço. – ele diz.
Eu sou... corajosa, porra.
442
Como poderia ser quando nunca foi meu? Como ela pôde dizer isso?
Seu lar é Connecticut. Seu lar é com os pais.
Mas então, isso não é verdade, é?
Seus pais nunca foram seu abrigo. Seus pais nunca se importaram
com ela. Ela estava sozinha lá.
Ela estava sozinha e ignorada, solitária e... estranhamente invisível.
Até que eu cheguei.
Até que eu a vi naquela noite, subindo no
telhado. Eu a vi e não conseguia parar de
observá-la.
E eu a vi ser ignorada uma e outra vez por pessoas de
mente pequena e sem imaginação. Vi homens e garotos
babarem atrás dela, mas ficavam longe porque ela não era
convencional. Ela estava em seu próprio mundo.
Eu observei isso. Vi tudo isso e a mandei de volta.
Enviei-a de volta para aquelas pessoas que a machucaram em
primeiro lugar. Que tiraram a sua segurança. Que a fizeram se sentir
insegura em sendo ela mesma. Pessoas que a deixaram com tanto medo a
ponto de sair – bêbada - e se colocar em risco.
Isso ainda me assusta. Isso faz minha respiração parar. Ela era tão
insegura e infeliz lá que não pensou em nada, exceto sair de lá.
Meu Deus.
Você me faz sentir segura...
Eu a faço se sentir segura. Ela me disse isso e simplesmente ignorei.
459
Eu ignorei e a enviei de volta.
Mandei-a de volta para as pessoas que a julgaram desde o início,
começando por ser quem ela era.
Lua e magia.
Porra.
Porra.
Mas então, qual era a outra opção? Mantê-la aqui? Comigo?
Eu nem sei como...
Mas eu posso aprender, não posso?
Eu posso aprender, porra.
Olho seus diários com novos olhos. Estes são os seus
sonhos. Estes são seus sonhos desde os dezesseis anos, e ela
me deu. Ela confiou em mim. Ela pensou que a rejeitaria,
mas ainda assim, ela me deu seus sonhos.
Porque ela é corajosa.
Se ela pode ser tão corajosa assim, então posso aprender a ser
também.
Não posso?
Se ela pode amar um homem difícil como eu, incrédulo, velho e
emocionalmente ferrado, então posso aprender a ser gentil com ela. Posso
aprender a protegê-la melhor.
Sim, eu posso aprender.
Eu posso aprender isso, porra.
Por ela. 460
Eu acredito...
- Diário da Desabrochada Violet, 19 anos.
474
Alguns sonhos são sonhos.
Eles são frágeis, confusos e surreais.
Mas alguns sonhos são mais do que sonhos.
Alguns sonhos são claros e nítidos.
Alguns sonhos podem respirar.
Eles têm uma alma. Como ele e eu.
- Diário da Desabrochada Violet, 19 anos. 475
Ele voltou.
Ah meu Deus, ele voltou.
Eu nem paro para pensar.
Afasto o diário e a lanterna do meu colo e desço do telhado tão
rápido - mais rápido do que jamais desci antes - que não consigo
recuperar o fôlego.
Somente quando meus pés tocam o chão eu respiro
fundo, com um profundo soluço, porque posso
vê-lo claramente.
Posso ver seu rosto sob as pequenas luzes
da calçada.
Ele está respirando com dificuldade como eu. Essa é a
primeira coisa.
Tipo, muito difícil.
O tipo de respiração que você respira quando sai a superfície depois
de ficar debaixo d'água por um longo tempo. Os primeiros doces sopros
da vida.
E então, há os olhos dele.
Meu Deus, seus olhos escuros.
Parecem abatidos, cansados e com alguma grande necessidade de
dormir e tão brilhantes. Mais brilhantes do que essas luzes artificiais na
calçada.
Mais brilhante que a lua que tenho observado.
— Você poderia ter caído. – diz ele e eu decido que estava errada.
476
Sua voz é a coisa mais extraordinária sobre ele agora.
Mal está lá. É tão baixa, grossa e o que quer que esteja lá - qualquer
que seja o som deixado em sua garganta - é rouca.
Faz meus dedos dos pés encolherem no cimento quente. — Estou
acostumada com isso.
— Está, não é? – ele passa os olhos na árvore por cima do meu
ombro por um segundo, antes de se concentrar em mim. — Foi assim que
te vi pela primeira vez. Foi minha primeira noite aqui e vi você agarrando
o galho e escalando-o até o telhado. Nunca tinha visto alguém subir
em uma árvore tão rápido. Pensei que você era um
intruso ou algo do tipo, mas então você se
sentou e pegou o seu diário e começou a
escrever. Percebi que você era a vizinha.
A vizinha.
Sim, era o que eu era e ele me viu no mesmo dia em
que o vi: no meu aniversário de dezesseis anos. É estranho
que eu nunca tenha perguntado isso a ele. Nunca perguntei
exatamente quando ele me viu.
Mas agora eu sei.
Sei que nos vimos no mesmo dia, talvez com horas de intervalo, mas
tivemos essa obsessão no mesmo período de tempo.
Exatamente iguais, é o que somos.
Antes que eu possa formar uma palavra, ele continua: — Fiquei
ansioso por isso, você subindo ao telhado todas as noites. Na verdade,
esse costumava ser o ponto alto do meu dia. Observar você ao luar.
Isso empurra seu peito ao extremo. Isso o faz dar um soco na camisa,
com uma respiração rajada quando ele balança a cabeça uma vez. — Eu 477
me castiguei muito por isso. Por observar você, quero dizer.
Engulo, deixando seu olhar se fixar em mim, deixando ele me olhar
quando olho para ele. Enquanto ainda tento absorver o fato de que ele
está aqui.
Sei que venho dizendo isso para as pessoas o tempo todo e acreditei
que ele viria, mas Deus, isso está acontecendo.
E parece tão real, nítido e de tirar o fôlego.
Talvez porque ele esteja falando, me dizendo coisas.
Ele nunca diz nada. Era sempre eu quem falava, o
que já é uma surpresa em si. Porque não falo
muito com os outros.
Somente com ele.
Eu sou um eu diferente apenas com ele.
— Você está aqui. – sussurro quando ele fica quieto.
— Sim.
— Por quê?
Ele engole. — Eu vim por você.
Ele veio por mim.
Sua resposta é mais potente do que qualquer outra coisa sobre ele
agora. Mais drástico e mais importante.
Tenho que fechar meus olhos por um segundo e deixá-lo perceber.
Mais uma vez, eu sabia disso, mas ainda assim...
Ele está aqui por mim.
Não apenas isso, mas ele está dizendo as palavras exatas para mim
478
que eu disse a ele na primeira noite em que o encontrei no bar.
Eu vim por você.
Foi o que eu disse e agora ele está dizendo também.
Quando abro os olhos novamente, noto que ele se aproximou. Ele
deu alguns passos em minha direção e seu foco está nos meus pés.
Movo os dedos dos pés, confusa, e olho para eles. Eles me parecem
perfeitamente bem, descalços e pequenos.
— Você deixou para trás o seu esmalte. – diz ele.
E percebo o motivo de seu foco. Minhas
unhas dos pés sem pintar.
— Deixei para trás muitas coisas.
— Você deixou mesmo. – ele confirma.
É verdade. Eu deixei. Deixei para trás meus diários e os
vestidos que ele me comprou.
Meu lar.
Deixei para trás meu lar quando ele me mandou embora e tenho que
ouvir dele. Eu tenho que ouvir isso da boca dele. Todas as razões pelas
quais ele me mandou embora e todas as razões pelas quais ele voltou
agora.
— Por quê? – pergunto novamente, com as minhas mãos fechada ao
lado da minha calça do meu pijama vermelho. — Por que você está aqui
por mim?
Seu peito se move novamente e sua mandíbula também. Ele fecha
por um segundo antes de dizer: — Porque fodi tudo.
Levanto meu queixo. — Fodeu o que?
Ele percebe meu desafio. Percebe o quanto forte estou me segurando. 479
Eu estou me segurando firme.
Eu estou de pé no meu lugar. Eu estou colando os meus pés no meu
lugar, porque porra, eu estou com raiva dele. Estou furiosa com ele.
Sim, eu estava esperando por ele. Sim, sabia que ele viria, mas ele
me machucou. Ele me machucou da pior maneira possível e não vou me
mexer até que me conte tudo com suas próprias palavras.
Eu não vou para ele. Não dessa vez.
Ele tem que vir até mim.
Como se para dizer que me ouviu, ele dá
outro passo em minha direção. Ele diminui um
pouco da distância entre nós e o meu coração
começa a bater forte.
— Minha promessa para você. – ele murmura.
— Que promessa? – eu tento introduzir um pouco de
severidade no meu tom.
Outra respiração, mas esta é curta. — Que eu a manteria segura.
Protegeria você. Mas eu te mandei embora. Enviei você de volta para as
pessoas e para a cidade que sempre te machucou. E eu também te
machuquei no processo.
Meus olhos ardem com as lágrimas.
Bingo.
Ele me machucou.
Ele entendeu direito. Mas isso não significa que vou aceitá-lo tão
facilmente.
Não. Não depois do que ele fez.
480
Eu enrijeço todos os meus músculos, todos eles, enquanto pergunto:
— Por quê? Por que você me mandou embora? Por que me mandou
embora assim?
— Porque eu queria que você me odiasse. Eu precisava que você me
odiasse. Então fiz a pior coisa que pude pensar. – ele confessa com um
olhar penetrante.
— Você queria que eu te odiasse?
— Sim. Queria que parasse de me amar e passasse a me odiar.
— Por quê? – pergunto novamente, provavelmente
pela terceira vez.
— Porque pensei que estava fazendo a
coisa certa. Pensei que estava te fazendo um
favor. Eu pensei que eu era...
— Você era o que?
Minhas palavras - por mais inconsequentes que
pareçam - parecem tê-lo atingido em algum lugar. O
estômago dele, talvez. Seu peito, seu coração, eu não sei.
Mas atingiram o seu corpo e ele se encolhe.
Ele abaixa a cabeça e esfrega o rosto com a palma da mão. Ele parece
ainda mais cansado agora. Mais cansado do que quando ele chegou aqui
há alguns minutos e meu coração aperta por ele. Deus sabe quantas noites
ele passou sem dormir.
Também não durmo desde que voltamos do Colorado.
O estranho é que nunca dormi bem até estar na sua cama, bem ao
lado dele. E quando ele não estava lá na semana passada, eu voltei a ter
insônia novamente.
Eu me tornei uma criança da lua novamente. Solitária e invisível.
481
E estou tão furiosa com ele, por me dar todas as coisas maravilhosas
e depois tirá-las assim de mim.
Tão furiosa que quase grito: — Diga-me, Sr. Edwards. Quero saber
por que você quer que eu te odeie. Por que eu não posso te amar? O que
há de tão horrível em amar você?
Por fim ele levanta o rosto, exausto e nitidamente inclinado. —
Porque viemos de mundos diferentes, Violet.
— O que?
Ele ri e olha para o céu por um segundo antes de
dizer em um tom rouco: — Mundos diferentes.
Nós somos de mundos diferentes, você e eu. –
ele balança a cabeça. — Meu mundo é solitário.
E eu sempre vivi lá. Em um mundo solitário. Sempre vivi em
um mundo onde as pessoas nunca ficam. Onde as pessoas
quebram promessas. Onde as pessoas são egoístas. Onde
não importa o que você faça, você sempre sente que não fez o suficiente,
que não pode fazer o suficiente. Que você não é digno. Pelo menos, não é
digno o suficiente para elas ficarem. Esse é o mundo em que vivo. Minha
mãe foi embora quando eu tinha cinco anos. Nem me lembro dela. E por
mais trágico que isso fosse, teria sido bom se fosse apenas minha mãe.
Mas com ela, meu pai também foi embora. Claro, ele estava lá.
Fisicamente. Mas nunca esteve realmente lá. Ele bebia. Ele falava sobre
minha mãe. Ele me prometeu que iria parar, mas era só até pegar a
garrafa novamente no dia seguinte.
— Então me acostumei com isso, entende? Eu me acostumei a viver
482
em um mundo solitário. Acostumei-me a viver em um mundo onde as
pessoas não querem dizer o que dizem. Eu me acostumei a eliminar todos
depois do meu pai. Acostumei-me a me distrair com a primeira coisa que
surgiu: o futebol. Você me perguntou isso, lembra? Se quis ser um grande
jogador de futebol? A verdade é que nunca gostei muito de futebol. Eu
realmente nunca gostei de jogar. Eu era bom nisso. Foi fácil e me levou
para longe de casa. Isso me deu uma fuga. Realmente nunca me importei,
porque, novamente, eu me acostumei. Acostumei-me a viver em um
mundo onde não queria nada além disso. Além de distrações, seguindo o
fluxo e apenas chegando ao dia seguinte até que eu pudesse escapar da
cidade em que estava vivendo.
— E então, meu pai morreu; cirrose e esse
tempo finalmente chegou. Eu deveria estar em
êxtase. Eu deveria estar feliz. Quero dizer, sim,
foi devastador que meu pai tenha morrido, mas a
essa altura, ele estava tão fora do mundo que já estava morto
há um tempo. Mas, em vez de eu ficar feliz, aliviado e
extasiado, o que senti foi outra coisa. Você quer saber o
que era?
Minhas lágrimas estão embaçando minha visão agora. Eu não pensei
que iria começar a chorar tão facilmente, que cederia tão rapidamente e
meu coração me forçaria a ir até ele.
Mas aconteceu.
Ele parece tão perdido e triste que eu quase quero que ele pare de
falar. Eu quero abraçá-lo e dizer que tudo ficará bem, mas não posso.
Porque acho que ele precisa disso.
Ele precisa dizer todas essas coisas. Então, eu estou aqui, colada ao
meu lugar como antes, não porque quero ficar longe dele, mas porque
quero que ele tire isso de dentro de si.
483
— O que era? – sussurro.
Ele engole novamente e responde: — Terror. Eu estava apavorado.
Aterrorizado.
Franzindo a testa, ele faz uma pausa para juntar todos seus
pensamentos. — Estava com medo de fazer exatamente o que queria por
mais tempo: escapar. Até tinha uma bolsa de estudos para uma faculdade.
E eu queria aquela bolsa. Eu trabalhei duro por ela. Eu queria algo que
me afastasse da cabana, do meu pai, e quando chegou a hora de eu ir, eu
estava tremendo de medo.
— Mas então, Brian chegou. Eu também
fiquei aterrorizado com isso, sobre cuidar de
um bebê. Eu não sabia nada sobre isso. Não
sabia se conseguiria. Mas eu fiz. Na verdade, me
joguei nisso - cuidar do meu filho. Eu me tornei
tudo o que ele queria que eu fosse. Tudo o que ele precisava,
e fiz isso feliz como qualquer outro pai, imagino. Era tudo
por ele, sua lição de casa, seus treinos, seus amigos, sua
escola, suas necessidades e os seus desejos. Tudo era por
ele. Eu me tornei seu pai e nada mais. Até você. Até eu te ver, você me
fez alguma coisa e algo aconteceu comigo.
Meu coração dispara quando ele diz isso.
Algo aconteceu com ele...
Você me fez alguma coisa…
Ele disse isso também, e mesmo assim, meu coração apertou por ele.
Apertado por aquele olhar de confusão que vi em seu rosto.
Ele não está confuso agora, apenas vulnerável e eu respiro: — O que
aconteceu?
Ele leva a mão ao peito, exatamente onde está o coração. Eu o
imagino sentindo seus próprios batimentos cardíacos sob os dedos. 484
Eu amava fazer isso. Eu adorava sentir as batidas do seu coração
sempre que dormia com a cabeça em seu peito. Isso era reconfortante
para mim.
Espero que seja reconfortante para ele também.
Ele precisa disso, neste momento.
E já que estou parada aqui, quero que o coração dele lhe dê paz até
que chegue a hora de eu diminuir a distância e fazer isso sozinha.
— Quando vi você, Violet, parecia que alguém tinha
me apunhalado no peito. – ele diz com a voz
rouca.
Meus olhos se arregalam. — O que?
Ele ri, com um sorriso débil. — Ou pelo menos parecia.
Eu vi você no telhado, com seus cabelos grossos, lindos e
seus braços bem abertos, algo se alojou dentro do meu
peito, logo abaixo do meu coração, e por muito tempo
pareceu uma espécie de faca. Algo que me fez... diferente. Mas não foi
isso.
— O... o que foi?
— Minha alma. – ele sussurra. — Era a minha alma acordando. A
coisa que mantém um homem vivo, ela começou a viver quando te vi.
Você acordou minha alma, Violet.
— Acordei?
Ele concorda. — Sim. Eu queria ver você depois disso. Eu não pude
evitar, e fiquei com raiva, você sabe. Eu estava com raiva de observar
uma garota com metade da minha idade. Estava com raiva que algo
estava acontecendo comigo. Plantei um maldito jardim de rosas, algo que 485
eu não fazia há anos, apenas para observar aquela garota. Só para ter uma
desculpa para vê-la à noite. Deus, eu pensei que estava enlouquecendo.
— De repente, comecei a sentir as coisas. Comecei a querer coisas
para mim. Comecei a desejar, e estava tão acostumado a não fazer nada
disso, tão acostumado a não querer nada para mim que não sabia o que
fazer. Eu não sabia como lidar com isso. Não sabia como lidar com você.
Então eu me afastei. Eu me afastei de você por muitas razões até não o
fazer. Até a noite do seu aniversário de dezoito anos.
— E então tudo aconteceu, e meses depois você me encontrou no
meu pior. Jesus Cristo, eu queria que você fosse embora.
Você era tão jovem. Meu filho gostava de você.
Você me fazia sentir coisas.
Ele passa a mão no rosto novamente. — E
queria que você me deixasse tanto em paz. Tanto,
mas você nunca ouviu. Você não foi embora. Você não foi a
lugar nenhum. Não só isso, você me salvou. Você foi e me
salvou e finalmente percebi uma coisa.
Com isso, ele me dá um olhar que nunca vi dele. Ele
me dá uma aparência de pura e absoluta vulnerabilidade. Um olhar que
me diz que ele está arruinado.
E fica tão difícil ficar aqui.
Então desisto e dou um passo em sua direção. — O que percebeu?
— Você me disse que seus óculos de sol e seu boné são disfarces,
certo? Você os usa para se esconder do mundo. Também uso disfarces,
Violet.
Meu coração está acelerado no meu peito agora. Batendo e batendo.
Não era o que eu esperava que ele dissesse. De modo algum.
— Você usa disfarces? 486
— Sim. Eu me escondo atrás de cuidar do meu filho e de um trabalho
sem perspectiva, porque é mais fácil. É mais fácil mantê-lo, porque eu
deveria fazer isso de qualquer maneira, trabalhar um trabalho que odeio
do que encarar a verdade.
— Qual é a verdade?
— A verdade é que nunca vivi realmente. Eu passei por problemas.
Sobrevivi. Mas nunca estive realmente vivendo. Nunca tive meu próprio
sonho. Eu nunca tive o luxo de sonhar um sonho. Talvez se minha vida
fosse diferente e vivesse em um mundo menos solitário e egoísta,
eu teria aprendido. Teria aprendido a viver, sonhar,
querer. Mas nunca vivi nesse mundo Violet, e
não sei como fazer nenhuma dessas coisas.
Não sei se posso. Então usei disfarces. Eu me
escondi atrás das coisas só porque era mais fácil
do que encarar a realidade. Encarar o fato de que estou na
metade da minha vida e não sei nada sobre sonhos, vontades
e desejos. Mas vou tentar.
Até agora, sua expressão parecia perdida. Tanto como
um garotinho que esqueceu o sonho que teve na noite passada quanto um
velho no final de sua vida que nunca conseguiu realizar nenhum dos
sonhos que viu.
Porque ele estava vivendo para todo mundo e deixou de viver para si
mesmo.
Mas sua expressão mudou agora. Em algum lugar no final, tornou-se
feroz e determinado.
Suas narinas se abrem e ele fecha as mãos ao lado do corpo, como se
finalmente a força voltasse em seu corpo.
— Vou tentar. Eu vou aprender, Violet.
487
— Aprender o que?
— Poesia.
— Poesia?
Ele concorda com um movimento da cabeça. — Posso aprender a
escrever poesia. Quanto difícil isso pode ser? É um homem bêbado
escrevendo sobre os seus sentimentos, certo? Li um poema uma vez,
Anestesia daquele cara. Abrams ou algo assim.
— Thomas Abrams12?
12Thomas Abrams: Para quem não lembra (ou ainda não leu), a
autora faz uma referência a outro personagem de outro livro dela.
Thomas Abrams é o professor de poesia da Layla. Estes são
personagens do livro com o título The Unrequited.
— Sim. Algo parecido.
Por mais emocionada que esteja agora, sinto vontade
de sorrir, mas reprimo isso, Thomas Abrams é muito
famoso por sua poesia e outras coisas. — Ele é muito
importante, na verdade.
— Quem se importa? Se ele pode fazer isso, também posso. – Antes
que eu possa dizer mais alguma coisa, ele continua. — Também posso
pintar suas unhas. Já fiz uma vez, posso fazer de novo. Eu posso segurar
sua mão e caminhar pela praia com você. Mesmo que minhas mãos
estejam ásperas e arranhadas, e odeie a praia, e muitas pessoas. Mas
posso fazer tudo isso. Eu posso aprender a fazer tudo isso e muito mais,
Violet.
—Você quer aprender tudo isso?
Por fim, ele dá os passos finais e fica exatamente onde pode me
tocar. Ele estende a mão e segura minha bochecha e não tenho forças para 488
afastá-lo.
Eu não tenho forças para não segurar sua camisa e olhar para ele
enquanto enxuga minhas lágrimas, que não sabia que estava derramando.
— Sim. Por você. Eu vou aprender tudo isso. Aprenderei a ser suave.
Vou aprender a ser gentil e terno. Vou aprender a sonhar quando fechar
meus olhos. Porque acho que não posso mais viver no meu mundo. Eu
não gosto do meu mundo, Violet. Eu quero viver em um mundo diferente.
— Um mundo diferente?
Percebo que estou repetindo suas palavras, mas não
sei mais o que fazer quando ele está me olhando
com tanta emoção e intensidade.
Ele está roubando todos meus pensamentos e palavras,
parecendo que ele acabou de sair de um sonho.
Meu sonho.
— Sim. Um mundo onde as cores são brilhantes e lindas. Onde você
dança ao luar. Onde você tem uma horta ao lado de um jardim de rosas.
Um mundo onde o ar cheira a morangos e doces. Um mundo em que uma
garota de dezoito anos entra furtivamente no quintal de um homem que
ela quer, um homem que ela está observando - um homem que também a
observa - e rouba suas rosas. Um mundo em que ela pisa nos sapatos dele
porque é tão pequena que não consegue chegar à boca dele, e o beija. Um
mundo onde ela o segue apenas porque acha que o prejudicou. Um
mundo onde ela o salva de si mesmo. Quero viver no seu mundo, Violet.
Um mundo de lua e magia, se você deixar.
Deus, ele quer viver no meu mundo.
O mundo que eu criei porque não queria viver no mundo que me foi 489
dado. E ele quer viver lá, no meu mundo imaginário.
Ele quer morar lá comigo.
Ah Deus, meu coração está tão orgulhoso, eu preciso que ele pare de
falar para que possa beijá-lo agora.
— Graham, eu...
— Eu fodi tudo, ok? – ele me interrompe. — Eu sei disso. E eu acho
que consegui mesmo foder com tudo. Você provavelmente me odeia. –
Seus dedos flexionam e empurram minha bochecha com o pensamento.
— Mas você não precisa me amar, está tudo bem. Tudo
bem se você não o fizer.
— Mas eu...
Ele me interrompe novamente, movendo os
olhos para frente e para trás entre os meus. — Se
você pode colocar todos os seus sonhos na palma da minha
mão como você fez com seus diários, se você pode ser tão
corajosa, então também posso ser. Eu posso ser corajoso
por você. Porque você me inspira a ser corajoso, baby.
Mais lágrimas escorrem pelas minhas bochechas e molham a ponta
dos seus polegares. — Eu te inspiro a ser corajoso?
Ele concorda. — Sim. Você inspira. Você me inspira a viver, Violet.
Você me inspira a viver em um mundo onde uma garota corajosa salva
um animal velho e perigoso e mostra que ele é corajoso como ela.
Uma risada hesitante me escapa.
Mas ele não sorri. Ele não diminui o foco ou a intensidade. Ele
continua me olhando, querendo que eu entenda.
— Então não precisa me amar, Violet. – ele continua com um tom
baixo. — Porque eu te amo o suficiente por nós dois. E vou aprender a
mostrar isso, certo? Eu prometo a você. Vou aprender a mostrar meu 490
amor por você. Pode não acontecer da noite para o dia, mas continuarei
tentando. Tudo que quero é que você confie em mim. Apenas confie em
mim.
Pressiono meus dedos em seu abdômen duro e posso ouvir seus
batimentos cardíacos lá, batendo contra minhas mãos.
Sentindo essas batidas em minhas mãos, eu sussurro: — Eu não fazia
antes. Eu não confiei em você.
A dor cruza seu rosto. — Eu sei. Mas nunca... eu nunca pensaria mal
de você e...
— Eu sei. – concordo. — Eu sei. Acho
que sempre soube. Eu sempre soube que podia
confiar em você. Acho que foi... meu cérebro
caótico. Não me deixou dizer. Continuava
dizendo que eu não sou boa o suficiente e... sim. Era isso.
Ele pressiona as mãos nas minhas bochechas. — Você
é magnífica, Violet, entendeu? É perfeita pra caralho.
Mais lágrimas surgem e escorrem pelo meu rosto. — Não estou bem,
Graham. Nada está bem. Eu tenho essa coisa dentro de mim e estou com
tanto medo. Eu sei que sou corajosa. Eu sei disso. Mas me assusta que
tenha que viver com isso pelo resto da minha vida e...
Ele coloca a testa sobre a minha. — Ei, ei, olhe para mim. Olhe para
mim. Nós vamos resolver isso. Nós vamos resolver isso juntos, ok?
Vamos lidar com isso um dia de cada vez. Um passo de cada vez. Eu
estou com você. Pesquisei sobre isso, certo? Há um monte de médicos
em Denver que podemos ir. Eu comprei livros e outras coisas. Eu estou...
— É por isso que você estava em Denver?
Ele me observa um pouco e depois assente. 491
— É por isso que demorou tanto tempo para vir e enviou Brian?
— Eu queria ter certeza de que sabia tudo. Queria que você confiasse
em mim.
Eu rio então.
Não é uma risada alta nem nada. De fato, está cheia de lágrimas. Mas
de alguma forma, é o riso mais puro e alegre que já sorri.
É aceitação.
Foi o que senti no dia em que aceitei que o amava
desde o início.
É isso que estou sentindo agora. Aceita e
amada.
Eu rio e choro, e minha cabeça cai em seu peito.
Deus, eu o amo. Ele é um idiota, mas o amo.
Ele enfia a mão no meu cabelo e pressiona minha
testa em seu peito ainda mais. Tomo um segundo para esfregar o nariz na
camisa dele, sentir seu cheiro. Isso me lembra muito a cabana, nosso
jardim de rosas, a cama e a floresta que rodeia nossa casa.
Tenho que me afastar e dizer a ele. Estou ficando impaciente agora.
Eu preciso que ele me leve embora.
— Eu fiquei tão brava. Você me machucou da pior maneira possível.
Você me fez chorar e todo mundo ficava dizendo que você não viria. Que
você não se importava.
— Baby, eu...
Coloquei um dedo na boca dele. — Mas eu sabia. Eu sabia que você
viria. Você sabe como eu sabia? 492
Ele engole um pouco de emoção e respira contra esse meu dedo,
balançando a cabeça uma vez.
— Você me beijou. – sussurro. — Aquele dia. Quando você me
mandou embora. Você se aproximou de mim e enxugou minhas lágrimas
e me beijou na testa, disse o que fez no meu aniversário de dezoito anos.
Você disse, vá para casa. Mesmo que você quisesse me beijar naquela
noite, você continuou me afastando. Você continuou se negando. Você
continuou fazendo a coisa certa. E eu sabia. Eu sabia que você estava
fazendo a coisa certa no meu aniversário de dezenove anos também. Você
só precisava perceber que o que pensava ser o certo não
era realmente a coisa certa. E sabia que você
perceberia isso. Sabia disso porque confiava
em você. Confiei e confio. Eu confio em você,
Graham.
Uma respiração sai da boca dele e meu dedo a absorve.
Viaja pelas minhas veias e se espalha pelo meu corpo. Essa
respiração de alívio.
Tiro a mão e balanço a cabeça para ele. — E você é
um estúpido se pensa que pode me fazer te odiar.
Vejo o impacto total das minhas palavras registrando em seu corpo
pouco a pouco.
No começo, ele franze a testa, mas quando ele percebe o que eu
disse, seus olhos fixam no meu rosto para confirmar. Seus lábios se
separam e o maior impacto é como ele aperta suas mãos sobre mim. Seus
dedos passam no meu cabelo e estremeço antes que ele enfie a ponta
deles no meu couro cabeludo.
Finalmente, ele diz com uma voz grossa, mas aliviada: — Graças a
Deus, você é mais esperta do que eu.
— Dã. 493
Seus lábios se curvam em um sorriso torto que eu absolutamente
adoro, e subo em seus pés. — Eu quero ir para casa. Eu não gosto daqui.
Ele desliza a mão pela minha coluna e a espalha na parte inferior das
minhas costas, pressionando nossos corpos juntos. — Casa. Sim. Não
parecia um lar antes.
Pego a gola da sua camisa e digo com firmeza: — Agora ela é o
nosso lar.
Seus olhos brilham com emoções. — Ele é.
— Ótimo. E acho que nós precisamos de
novos pisos.
Seu peito reverbera com uma risada. — Precisamos?
— Sim. Também precisamos de um jardim de rosas
maior porque tenho ideias.
— Você tem ideias.
Concordo com a cabeça lentamente, mordendo meu lábio e olhando
para ele através dos meus cílios. — Sim.
Uma descarga elétrica passa entre nós, ou melhor, absorvemos o
desejo um do outro, uma vez que quase não resta espaço entre nós para
que algo passe.
Eu passo meus braços em volta do pescoço dele e ele coloca as mãos
debaixo da minha bunda para me levantar. Eu o agarro como um macaco-
aranha.
Quando estou grudada nele, ele agarra a parte de trás do meu pescoço 494
e exige: — Conte-me sobre elas.
Esfrego os dedos em sua barba grossa e beijo a sua bochecha
suavemente. — Só se você me beijar.
— Sim?
— Uhum. E eu não quero isso aqui.
— Onde você quer isso?
Deus, sua voz sexy sempre me surpreende. Sempre.
Isso me deixa impetuosa. A coisa que eu me torno
quando estou com ele.
— No seu antigo quintal, onde tudo
começou.
Ele aperta o meu pescoço enquanto seus olhos se
estreitam. — Sabe que existem outras pessoas morando lá
agora, certo?
— Sim. Tem essa senhora com um monte de gatos. E
acho que o marido dela fica me olhando.
Na verdade eu não sei. Eu o peguei olhando uma vez, mas não sei se
ele continua fazendo isso. Eu apenas disse isso porque quero minha besta
agora.
Quero que ele saia em toda a sua glória possessiva.
— Ele fica te olhando?
Sua voz perigosa envia uma emoção escura na minha espinha. —
Sim. Então você deveria apenas me reivindicar... você sabe. Mostre a ele
que você é meu namorado.
— Eu sou seu namorado? 495
Franzo o nariz. — Sim. Você é. É assim que as jovens da minha
idade estão chamando nos dias de hoje.
Diversão surge sobre suas feições quando ele começa a se mover. —
Sim, eu tinha que saber disso, certo?
Rindo, eu o beijo enquanto ele nos leva até o ponto onde tudo
começou. Não há jardim de rosas lá, está coberto por um pouco de grama
e de espreguiçadeiras, as coisas são diferentes.
Tudo é diferente, mas ainda é o mesmo.
Ainda sinto o mesmo por ele. Eu ainda tenho a
mesma urgência em beijá-lo. Mas antes que
ele possa me beijar, sussurro contra seus
lábios: — Graham?
— Sim?
— Odeio a praia também.
— Você odeia?
— Uhum. E muitas pessoas.
— Sim e muitas pessoas.
— E acho que não gosto muito de poesia.
— Você não gosta, hein?
— Não. Acho que gosto mais quando você fala coisas obscenas
comigo.
Um músculo pulsa em sua bochecha e eu sei que é luxúria. — Vou
manter isso em mente, Jailbait.
— Faça isso, Strawberry Man.
496
Ele se aproxima de mim, mas eu o paro mais uma vez. — Ah, mais
uma coisa.
— O que?
— Eu te amo.
Ele respira fundo nos meus lábios, com seus olhos arregalando uma
fração como se ele ainda não pudesse acreditar. Ainda não consigo
acreditar que amo um homem como ele.
— Eu também te amo, baby. – ele murmura.
E então, ele está me beijando.
No mesmo local.
No mesmo quintal, provavelmente com as mesmas
pessoas que estão dormindo agora no bairro.
Ou talvez não.
Talvez não estejam dormindo.
Porque acho que os novos proprietários acenderam as luzes. E outra
luz acendeu na casa da minha família.
Ops.
Acho que acordei todo mundo com meu beijo novamente.
Mas está tudo bem.
Porque nos braços dele sou impetuosa e bela. E no meu, ele é a
minha Fera.
Está tudo bem porque eu estou beijando o homem dos meus sonhos e
ele está me beijando também. 497
Alguém está me observando.
É uma garota.
Não a notei antes. Eu estava olhando para o meu celular, tentando
olhar a lista de coisas que eu precisava comprar no supermercado antes de
poder ir para casa.
Cara, eu quero ir para casa, mas ainda há uma tonelada de coisas para
comprar. E não pretendo sair para o mundo pelas próximas semanas,
então tem que ser agora.
Além disso, é um grande dia amanhã.
Tipo, muito grande. O telefone estará tocando. 498
Primeiro, receberei ligações de todas as minhas amigas - The
Heartstone Sisters - Renn, Penny e Willow, que teve a bebê mais fofa de
todos os tempos, a Fallon. Ah, mal posso esperar para falar com aquela
gracinha no FaceTime.
Depois disso, tenho certeza de que Brian ligará também.
Não o vejo desde o Natal do ano passado, quando ele veio visitar
com sua nova namorada. E parece que estão firmes, na verdade, e eu não
poderia estar mais feliz por ele.
Então, novamente, ele sai muito em
encontros como fazia no ensino médio. Até
agora, nenhuma das garotas ficou por aqui e o
desejo que eu fiz para ele no dia em que ele veio
me ver em Connecticut, há dois anos, ainda não foi atendido.
Mas estou mantendo meus dedos cruzados para que
este seja sério Que o meu melhor amigo finalmente se
apaixone depois da dor involuntária que causamos um ao
outro.
Ah, e minha mãe também pode ligar.
Conversamos ocasionalmente e, nos últimos dois anos, nos
aproximamos um pouco mais. Ainda estou convencida de que foi a
história do meu pai verdadeiro que ajudou a preparar o caminho. Embora,
também possa ser o fato de ela estar esperando o dia em que acordarei do
meu sonho e farei o meu coração partir - já que escolhi fugir de
Connecticut novamente, apesar de todos os avisos para desistir da
esperança - para que ela possa juntar os pedaços e dizer: eu te avisei.
Mas o problema é que não vou mais acordar.
A coisa é que eu vivo em um mundo novo agora. 499
Um mundo de sonhos. Uma terra dos sonhos.
Enfim, tenho outra pessoa na minha vida, minha irmã, Fiona. Embora
não ache que ela vai ligar. Quase nunca conversamos, e algumas pessoas
na minha vida não gostam dela.
Bem, uma pessoa na minha vida não gosta tanto dela. Ele também
não gosta muito da minha mãe, mas ele a tolera porque eu digo para ele
ser legal com ela.
O que me lembra que eu tenho que contar a ele
novamente, porque amanhã é um grande dia.
Mas esse não é o ponto.
O ponto é que uma garota está me
encarando.
Não é um olhar muito intimidante, honestamente.
A garota que está fazendo isso está olhando para mim
por alguns segundos antes de se concentrar, na direção dos
legumes frescos, estamos na seção de produtos.
Por isso, o formigamento - o que acontece no meu couro cabeludo e
na parte de trás do meu pescoço quando alguém me olha por mais tempo
do que o aceitável - não é muito contínuo. Ele vem e vai com os olhos em
mim como um relâmpago e talvez seja por isso que eu perdi a cabeça.
Mas eu posso sentir isso agora.
Posso sentir o formigamento. Eu posso sentir o rubor se espalhando
pela minha garganta. Posso sentir meu coração acelerando e meu cérebro
caótico pulsando.
Caos.
Isso é o que é a ansiedade. 500
É um caos dentro da sua cabeça. Isso o deixa nervoso e inquieto. Faz
você querer se esconder ou fugir para um lugar onde há silêncio. E paz.
Sim, isso é um ladrão de paz, ansiedade.
Existem muitas maneiras de se livrar disso e, no passado, fiz isso
usando o caminho mais fácil. Negando que esteja lá ou usando disfarces.
Mas hoje em dia, eu lido com as coisas de frente.
Não é fácil. Então, antes que eu possa amarelar, olho para meu
celular e olho diretamente para a garota.
E sorrio.
— Oi. – eu digo.
Ela parece assustada, com os olhos
arregalados e os lábios um pouco abertos. Mas
essa não era minha intenção. Estava apenas tentando
controlar a situação, como diz minha terapeuta, Kate.
Controle a situação, Vi. Essa é a melhor maneira de
vencer a ansiedade. Saia da sua cabeça e tente fazer as
coisas, preste atenção ao ambiente.
— Sinto muito. Não tive a intenção de assustá-la. – eu rio
discretamente. — Só pensei que você queria me dizer algo.
Embora juro que não sei por quê.
Minha reação instintiva é supor o pior. Talvez queira me dizer que
meu cabelo loiro opaco é um pouco opaco demais ou meus lábios um
pouco grossos demais. Talvez ela queira comentar como estou pálida.
Todos esses pensamentos passam na minha cabeça, mas ainda assim,
eu sorrio. Eu continuo sorrindo para ela, esperando sua resposta.
— Desculpe. – ela ri também, um pouco timidamente. — Eu só... eu
amei seu vestido. 501
Surpresa, eu mesmo olho para ele. Ainda não sou uma garota de
vestido ou maquiagem, mas às vezes uso os dois.
Passo a mão pela saia e respiro fundo.
Nossa!
Ela me elogiou. Não foi nada de ruim que meu cérebro caótico me
fez pensar. Está tudo bem.
— Obrigada. – eu digo à garota, olhando para cima e sorrindo
novamente. — Eu também o amo.
— Eu amo essas cores.
—Você ama?
—Sim. Eu amo como rosa e vermelho combinam.
Ok, agora isso me faz feliz.
Tipo, realmente, genuinamente feliz, sem qualquer
sinal de ansiedade. Isso me enche de calor e segurança, e olho para o meu
vestido novamente.
Ele é um lindo vestido.
Cor-de-rosa, como rosa realmente feminino - ele é meu favorito, com
rosas vermelhas gigantes - o favorito dele.
O homem que comprou para mim. Para que eu vista vestidos e
maquiagem. Não porque ele me pede, mas porque eu quero.
— Elas combinam, não é? Eu também amo isso. – digo, olhando para
a garota.
— Eu sei.
502
E só porque estou cheia de felicidade, digo a ela: — Ele comprou
para mim.
Levanto meu queixo e aponto na direção dele. A garota se vira e olha
para o que eu quero que ela veja.
Ele.
Meu querido.
É assim que gosto de chamá-lo hoje em dia. Ele tem muitos nomes,
no entanto.
Strawberry Man. The Beast. Sr. Edwards.
Graham.
E a melhor parte? Posso chama-lo por cada
um deles quando e onde for.
Agora, eu quero chamá-lo de Querido.
Por causa do que ele está fazendo, ele está no corredor
dos doces, diretamente à minha frente, me comprando
pirulitos, e não apenas um pacote deles. Ele estende a mão
e eu o vejo pegando pelo menos alguns deles, que ele passa a jogar em
seu carrinho.
Meu Deus, e ele parece sexy fazendo isso.
Suas mãos grandes pegam os pacotes coloridos de doces e sua testa
franzida, enquanto lê o rótulo, contrasta totalmente com a satisfação dos
pirulitos.
Mas é assim que ele faz as coisas, meu Graham.
Com cuidado e precisão, principalmente se isso me envolver.
— Ele me ama de vermelho. Mas minha cor favorita é rosa. Então,
nós nos comprometemos. – digo enquanto o vejo me comprar doces. 503
— Ah. – A menina diz de uma maneira surpresa, enquanto desvia o
olhar de Graham e se concentra em mim.
Há um brilho nos olhos dela. É um brilho que eu estou familiarizada
e, se estou sendo honesta, é um brilho que meio que tenho um problema.
Pelo menos algumas vezes.
É um brilho especulativo e diz que ela está se perguntando sobre nós.
Ela está se perguntando se estamos juntos, Graham e eu.
Nos últimos dois anos, desde que comecei a sair e me
misturar com o mundo ao lado de Graham, tivemos
alguns olhares e suposições assim.
Primeiro de tudo, é o fato de ele ser
enorme e se impõe entre todos os que o rodeiam.
Ele está fazendo isso mesmo agora. De camisa
xadrez e botas, ele é o homem mais alto do corredor. Mais
alto e mais largo. Então, quando caminhamos juntos pela
rua, ele todo gigante e eu toda pequena, as pessoas param
para dar outra olhada.
Mas o mais importante, é a diferença de idade.
Tenho vinte anos e ele tem trinta e oito, dezoito anos mais que eu. E
as pessoas notam.
Notam as linhas de expressão ao redor dos olhos dele que se
aprofundaram e aumentaram em número ao longo do tempo que eu o
conheci. Notam os cabelos grisalhos na barba aparada e nas costeletas.
Elas notam a maturidade em seu rosto e em seu comportamento.
Elas notam todas as coisas sobre ele que o tornam tão irresistível para
mim.
Muitas vezes, as pessoas ficam bem com isso. Elas não nos dão uma
segunda olhada. Outras vezes, olham e se perguntam, mas não dizem 504
nada. Mas, ocasionalmente, encontramos alguém que olha, pergunta e
também diz coisas.
Acontece que essa garota se enquadra na terceira categoria.
— Ele é... ele é como... seu namorado?
Ótimo.
Fico feliz.
Surpreendentemente, eu sou fã de encarar as coisas de frente. Gosto
quando as pessoas são francas. Não dá tempo a minha
mente caótica para criar cenários desastrosos,
algo que Kate me mostrou em uma de nossas
sessões quando disse a ela que odeio quando
estranhos falam comigo.
Além disso, os olhares ainda são um gatilho para mim.
Posso lidar com as coisas melhor, mas ainda assim é difícil.
Ainda olhando para Graham, respondo: — Não. Ele
não é meu namorado.
Como se ele soubesse que estamos falando dele, ele levanta os olhos
e olha para mim.
Ele gosta de fazer de vez em quando, quando estou longe dele. Ele
gosta de parar o que está fazendo e olhar para mim, para ter certeza de
que estou bem.
Eu sorrio assim que seu olhar encontra o meu.
Não consigo ver a cor dos olhos dele daqui, mas posso adivinhar.
Provavelmente são de um verde caloroso como a expressão dele: calma e
pacífica.
Então mordo meu lábio e sei que devem estar mudando de cor agora. 505
Eles devem estar ficando mais escuros.
E com certeza, eu vejo os efeitos disso em seu corpo. Seu peito se
expande e um sorriso de lado aparece em seus lábios. Ele ainda é muito
sério para sorrir, mas tenta.
Ao ver seu sorriso sexy, não posso ficar longe dele.
Eu nem digo adeus à garota que está me encarando com confusão
pelo meu comentário “ele não é meu namorado”, eu acho.
Empurro meu carrinho pelo lugar, mantendo os meus
olhos nele. Nossos carrinhos batem quando o alcanço
e, deixando-o, me aproximo do homem que
amo.
O homem com quem vivo na minha terra dos sonhos.
— Ei, Sr. Edwards. – eu o cumprimento.
— Ei. – ele responde e sim, seus olhos estão escuros.
Então ele olha para a garota com quem eu estava falando. — Você
está bem?
Bato na frente de sua bota esquerda resistente com o meu tênis, de
brincadeira. — Eu estou.
Ele franze a testa levemente. — Ela está incomodando você?
Balanço a cabeça, batendo em sua bota novamente. — Não.
Ele olha para baixo e balança a cabeça ao meu gesto brincalhão. —
Tem certeza?
Eu sorrio para ele.
Ele sempre acha que as pessoas estão me incomodando. Na verdade, 506
odeia os olhares mais do que eu. Porque ele sabe o que pode desencadear
em mim.
Dois anos atrás, quando ele voltou para mim e eu escolhi ir para a
cabana com ele, eu estava muito mal. Mas Graham, junto com meu antigo
terapeuta, Nelson, me encontraram uma nova pessoa a quem eu poderia
ir: Kate.
Ela me ajudou muito ao longo dos anos, mas no começo foi muito
difícil. Eu seria desencadeada facilmente. Tinha medo de tudo no mundo
aqui Fora. Ir a restaurantes, parques, filmes, passear... tudo.
Tem sido um longo caminho e Graham
esteve comigo a cada passo nessa estrada.
Então ele sabe.
Ele sabe o quanto assustada posso ficar, e meu homem
odeia isso.
Ele odeia tanto que olha fixamente para todos que
tentam olhar para mim. Até entrou em brigas com as
pessoas algumas vezes.
O que pode acontecer em cerca de cinco segundos se eu não o
acalmar.
Eu ando na direção dele, então.
Coloco meus pés sobre os dele e envolvo meus braços em seu
pescoço, beijando sua barba. — Sim, tenho certeza. Na verdade, ela disse
que meu vestido é bonito.
Suas mãos pousam na minha cintura enquanto ele se inclina para
aproximar nossos rostos. — Não é.
— Não é? 507
Ele balança a cabeça devagar, com os olhos escuros e bonitos. —
Você é mais bonita.
Deus.
Meus dedos apertam a sua camisa quando algo dentro do meu
estômago torce e aperta. Ainda não consigo acreditar que ele me acha
bonita. Que ele me acha bonita e de tirar o fôlego e todas as outras coisas
que ele murmura quando estamos em nosso próprio mundo e está sendo
gentil comigo.
Quero dizer, acredito nele, mas às vezes é difícil.
Sempre fui insegura e tímida e, além
disso, eu tenho uma mente caótica. Portanto, é
difícil acreditar em coisas positivas sobre mim.
É difícil acreditar que sou bonita, amada e aceita do jeito
que sou.
Mas eu tento.
Eu tento porque sou corajosa e porque confio nele com todo o meu
coração.
— Eu disse a ela que você comprou para mim. – digo, com minha
mão descendo no seu peito e pressionando o local onde está o coração
dele.
— Disse?
— Sim. Eu disse a ela que sua cor favorita é vermelha, mas a minha é
rosa, então você me comprou um que nós dois gostamos.
— O que ela disse?
— Ela me perguntou se você era meu namorado.
508
Com isso, ele massageia a pele da minha cintura. Ele faz isso com
tanta força que sinto cada centímetro de sua ereção pressionando o meu
corpo. — O que você disse?
— Eu disse que não.
— Você disse, hein.
Eu aceno, meio que me contorcendo contra ele. — Porque você não é
mais meu namorado.
— Não sou? Então, como as jovens chamam nos dias de hoje? – ele
murmura, todo arrogante.
Reviro meus olhos para ele. — Acho que
é esposo.
Seu coração acelera sob a minha palma. Não só isso,
seus olhos brilham e as suas mãos que estão em mim aperta.
Ele realmente ficou mais possessivo e protetor desde
que deixou de ser meu namorado e se tornou meu esposo.
Você pensaria que desde que sou legalmente dele agora, ele relaxaria um
pouco. Mas não.
O casamento teve o efeito oposto em meu esposo.
Mesmo assim, você não pode dizer pelo tom casual que ele usa. —
Ah, ok. Esposo, então.
Eu estreito meus olhos para ele. Ele pode ser um idiota.
Seu sorriso se transforma em uma risada sombria.
— Leve-me para casa, Sr. Edwards. – eu ordeno, levantando meu
queixo.
Foda-se as compras de supermercado. Foda-se tudo. 509
Eu preciso dele.
Além disso, estamos viajando há horas de Denver, tentando chegar à
cabana para o grande dia de amanhã.
Ah sim, moramos em Denver agora porque vou para a faculdade.
Comecei na primavera do ano passado, quando fui capaz de suportar
multidões e, na verdade, estou gostando. Não tenho muitos amigos, mas
tenho alguns, e todos amam Bukowski. Temos até discussões sobre ele.
Isso não é incrível?
— Vamos para casa. – digo novamente,
subindo na ponta dos pés e beijando-o nos
lábios.
Porque mal posso esperar.
Ok, tudo bem, o casamento também teve um efeito
oposto em mim. Eu me tornei mais faminta por ele. Talvez
porque sei que ele é meu e posso tê-lo sempre que quiser.
Então eu o beijo mais forte.
Eu sei que é um corredor de supermercado e sei que as pessoas estão
por perto, mas estou me sentindo impetuosa. Estou me sentindo como sua
Bela.
E eu quero minha besta.
Ele vem para mim. Ele vem. O homem que está me beijando também
se torna a besta para mim. Ele enfia a língua na minha boca e agarra a
parte de trás do meu pescoço. Ele pressiona nossos corpos juntos e eu
gemendo, me esfregando nele.
Meu esposo tem essa coisa de me beijar em público. Ele pega as
pistas de mim.
510
Quando tenho dias ruins e minha ansiedade está rugindo em meus
ouvidos, ele segura minha mão e caminha comigo lado a lado, como meu
protetor.
Mas nos bons dias, como hoje, quando me sinto confiante e feliz e
um pouco impetuosa, ele muda de meu homem para minha besta. Ele me
pega em seus braços e me beija com tudo de si.
Porque eu quero que ele faça.
Quando chegamos ao ar livre, ele murmura: — Ok, Sra. Edwards, eu
vou levar você para casa.
E é isso que ele faz.
Ele me leva para casa. Ele me leva para a
cabana que tem sido meu lar desde que eu o
encontrei há pouco mais de dois anos atrás.
Daqueles anos para cá, a cabana mudou muito.
Embora passemos apenas algumas semanas aqui,
Graham a reformou completamente. Além disso, ele fez
isso com suas próprias mãos.
Ele levou dois verões, o verão que ele me mandou embora antes de
voltar para mim e o verão depois disso, para reformar todo o lugar.
Mas ele fez isso.
Ele fez tudo sozinho e eu sei o motivo.
Na noite em que ele voltou para mim em Connecticut, ele me disse
que queria morar no meu mundo. Ele me disse que estava cansado de
viver em um mundo solitário e queria morar em um lugar onde as cores
eram mais brilhantes.
Mais tarde, quando ele me trouxe de volta à cabana, eu disse outra
coisa. 511
Disse a ele que meu mundo também estava solitário. Claro, as cores
eram brilhantes e os sonhos eram abundantes, mas não tinham nenhum
significado. Eles não estavam completos. Não até ele.
— Deveríamos criar nosso próprio mundo. – eu disse, beijando-o,
abraçados em nossos lençóis.
— Sim?
— Sim. Devemos fazer um lugar para nós mesmos. Ele pertence
apenas a você e a mim.
— OK.
Eu sorri. — E quero um recanto de leitura
nele. Você tem que me construir um recanto
de leitura onde eu possa ler e escrever no meu
diário. Ah, e também, uma maneira de subir ao
telhado para que possamos observar a lua juntos.
Ele acariciou o polegar no canto da minha boca,
mapeando meu sorriso. — Vou manter isso em mente,
Jailbait.
— Ok, Strawberry Man.
E, como todas as outras promessas, ele cumpriu essa também.
Ele me fez um mundo novo, o nosso mundo.
Esta cabana nova e brilhante, no meio da floresta, com um recanto de
leitura em nosso quarto e uma escada que sobe para o telhado.
Mas principalmente, temos um enorme jardim de rosas, e é aí que o
encontro horas depois.
Depois daquele beijo no supermercado, ele me trouxe de volta para
casa em tempo recorde. Até então, nosso desejo era tão palpável e forte
que ele me fodeu na caminhonete. Ele me disse para dançar em seu pau e 512
o fiz. Eu me contorci e balancei, o beijei, dando-lhe uma dança enquanto
ele cavalgava minha boceta por baixo.
Quando finalmente chegamos à cabana, debaixo do chuveiro, ele me
agarrou, enfiando seu pau na minha bunda. Foi lento e intenso como
todas as coisas com ele. Uma vez que minha besta se sentia saciada por
um tempo, ele ficava preguiçoso e terno, e não consigo parar de brincar
com sua barba.
Ele me alimentou depois disso e, desde então, eu tenho dormido. Até
que acordei um minuto atrás, para descobrir que o lado dele da
cama está vazio e a lua está brilhando no céu como
uma lâmpada.
Uma lâmpada que ilumina os contornos
do corpo inclinado do meu esposo.
Ele está vestindo sua camiseta habitual - roubei sua
camisa xadrez depois do banho - e seu pijama xadrez, e ele
está colhendo rosas em seu jardim.
Seu jardim.
Algo que ele me disse que começou a fazer porque poderia usar
como desculpa para me observar.
Não é mais uma desculpa.
É o sonho dele.
Sim, isso. Rosas.
Assim como levei meses para acalmar minha ansiedade a um nível
que eu poderia sair de casa, ele levou meses para se lembrar de seu sonho.
— Rosas. – ele sussurrou uma noite depois que acabamos de fazer
amor.
513
Ele estava em cima de mim, todo suado e quente quando se apoiou
nos cotovelos e disse: — Eu tenho tido esse... sonho recorrente. Sobre a
minha mãe. Tenho uns cinco anos ou mais e meu pai e eu estamos
pegando rosas para ela. E quando eu dou a ela, ela sorri.
Minhas coxas que ainda estavam ao redor de seus quadris, apertaram
e eu segurei sua mandíbula. — Sério?
— Sim. Acho... – ele engoliu em seco, me dando um olhar
vulnerável que apertou meu coração. — Acho que isso foi real. É uma
lembrança e estou sonhando com isso. Eu acho... eu quero isso.
— Rosas?
— Sim.
Sabia que se eu chorasse iria foder com a
cabeça dele - ele me disse - mas não conseguia
me conter. Comecei a chorar como uma idiota e ele teve que
me consolar pelos próximos dez minutos.
Quando me controlei, disse: — Vamos fazer isso
então. Vamos construir o maior jardim de rosas em nosso
novo mundo.
E nós fizemos.
Mas não é só isso, os livros de jardinagem que encontrei empilhados
em um canto do armário dele? Acontece que essas são uma extensão do
seu sonho.
Meu esposo grande e malvado quer ter um mundo de rosas e até
trabalha para isso. Este jardim de rosas é a prova. Ele começou a expandi-
lo logo depois que me contou sobre seu sonho. E desde o outono passado,
ele fornece rosas para algumas das floriculturas da região.
Como moramos em Denver a maior parte do tempo, onde ele
também trabalha como treinador de um time de futebol americano do 514
ensino médio, ele tem alguns caras trabalhando para ele no jardim. Eles
começaram a ajudá-lo como um favor até Graham poder pagá-los.
Um deles é o meu amigo, Billy. Finalmente o conheci e ele é hilário.
Ele me contou muitas histórias dos dias bêbados de Graham - engraçadas
e trágicas - e eu juro que estou feliz que esses dias ficaram para trás.
Enfim, isso me faz sorrir toda vez que eu penso em minha fera
trabalhando reverentemente com algo tão frágil e delicado. Algo que é o
sonho dele.
Como ele está fazendo agora.
Ele está cortando os espinhos delas e
cortando os caules suavemente, e sei o motivo.
Desço os degraus da porta dos fundos e me aproximo
dele. Ele me ouve, obviamente, e se levanta.
Quando ele me olha, percebo que tem um buquê de
rosas e as segura em suas mãos grandes e ásperas.
Mãos que eu sempre amei tanto.
— Elas são para mim? – pergunto quando me aproximo dele.
Uma brisa de verão - Sim, há uma brisa agora e também sol em nossa
parte do mundo - bagunça seu cabelo escuro quando ele me olha, em sua
camisa xadrez e tênis.
Seus olhos percorrem meu corpo preguiçosamente, trazendo arrepios
pelo caminho.
Quando finalmente ele volta aos meus olhos, ele pega uma das flores
do monte e passa em um lado da minha bochecha com ela. Eu tenho que
flexionar meus dedos nisso. Em seu movimento suave e sedutor. 515
— Sim.
— Qual é a ocasião? – eu o provoco.
Ele chega ao lado da minha boca e traça a curva dos meus lábios
enquanto me faz esperar por sua resposta. Ele observa a curva e o
contorno da minha boca por um segundo antes de se abaixar.
— É o aniversário da minha baby. – ele sussurra, com seus olhos
penetrantes e intensos. — Feliz aniversário de 21 anos, Violet.
Meu Deus, ele é sempre o primeiro a me desejar feliz
aniversário.
Hoje em dia muitas pessoas ligam, e todos
fazem pela manhã, mas o seu é o único que
mais anseio.
O seu é o único que faz meu coração bater mais rápido.
Sorrindo, pego as rosas de suas mãos, incluindo a que
ele estava traçando minha boca. Eu enterro meu rosto nas
flores e sinto o cheiro delas, o cheiro delas me atingindo
com tanta força que eu tenho que suspirar.
— Obrigada. – sussurro. — Mas essa não é a única ocasião, é?
Seus olhos movem entre os meus, com seu tom áspero e provocador
ele diz. — Qual é a outra ocasião?
Eu levanto minhas sobrancelhas para ele. — Lembra do seu presente
do ano passado? O que você me deu no meu aniversário de vinte anos?
— Por que você não me lembra?
Sorrindo, balanço minha cabeça para ele.
Foi o seu presente para mim.
516
Nosso casamento.
Nos casamos no ano passado no meu aniversário.
Na verdade, começou quando vimos uma noiva e um noivo do lado
de fora de uma igreja que estávamos passando em Denver.
Ao vê-los, eu apenas parei. Não sei porque, mas a noiva era tão
bonita e radiante em seu vestido branco e o noivo não conseguia tirar os
olhos dela. E havia tantas rosas, todas rosas, vermelhas e bonitas.
Naquele momento, ali parada, observando-os rir e se beijar, vi um
sonho com os olhos abertos.
Sonhei acordada comigo e com Graham.
Eu queria que fôssemos isso um dia.
Eu queria usar um vestido branco e ele um terno preto,
queria estar cercada por suas rosas, e de mãos dadas nos
beijando.
Claro, eu nunca disse nada a ele, mas quem eu estou
querendo enganar? Ele adivinhou e, algumas semanas depois, ele fez o
pedido de casamento.
Eu disse que não e fiquei dizendo isso até o dia do casamento. Que
ele decidiu e tomou todas as providências por conta própria. Escolheu um
vestido para mim também, por conta própria.
— Eu não vou me casar com você só porque acha que é isso que eu
quero. – eu quase gritei com ele no dia do casamento.
— Ótimo. Vou me casar com você, porque é isso que quero. – ele
respondeu.
— Mas nós nunca conversamos sobre isso antes de eu ver aquela
noiva. 517
Ele exalou um grande suspiro, me dando um olhar conturbado. —
Você não entendeu ainda?
— Entendeu o que?
— Eu não sou um sonhador, Violet. – ele se irritou, passando a mão
pelos cabelos grossos. — Eu já te disse. Não tenho sonhos como você.
Não fecho os olhos e vejo imediatamente o que quero. Não quero algo
imediatamente. Eu tenho que aprender a querer isso. Leva tempo para eu
aprender a querer. E quando vi você, emocionada, com seus malditos
hormônios adolescentes enquanto os encarava, fiquei
com ciúmes, ok? Fiquei com tanto ciúmes
porque você nunca pareceu assim comigo.
Fiquei com ciúmes que seus olhos estavam
todos brilhantes e deslumbrados por causa de
algo que não me envolvia. E foi aí que me atingiu.
Me ocorreu que eu queria isso, entendeu? Eu queria esse seu
olhar. Eu queria colocar esse olhar em seus olhos, seus
olhos brilhavam tanto que meu peito doía com isso, ok?
Fiquei em silêncio depois disso, sem palavras, mas ele
continuou.
— Eu quero esse olhar, Violet. Eu quero e vou colocar esse olhar em
seus olhos, quer você queira ou não. Agora vamos lá, estou ficando sem
paciência aqui. Ouvi mil malditos nãos de você no último mês e isso vai
mudar agora.
Ai Jesus.
O que mais poderia fazer senão ir até ele e dizer que ele era um
idiota. Que ele não tinha motivos para ficar com ciúmes. Que a razão pela
qual eu tive esse olhar era porque eu estava sonhando acordada com ele e
comigo.
Quando contei a ele a última parte, suas narinas se abriram e ele foi 518
atrás de mim.
Ele me jogou por cima do ombro e me trouxe de volta ao seu jardim
de rosas, onde um padre estava nos esperando junto com Richard. Graças
a Deus a amizade deles ainda está forte e não foi arruinada por causa do
incidente do meu ataque de pânico, além de Brian e Billy.
E foi assim que nos casamos: ele de terno preto e eu de bermuda e
camiseta porque ele não me deu tempo suficiente para usar o vestido
branco que me comprou.
Está tudo bem. Eu usei o vestido branco mais tarde
naquela noite.
Neste momento, eu caminho até ele.
Levanto-me e envolvo meu braço livre - o que não está
segurando as rosas que ele pegou para mim - em volta do
pescoço.
Suas mãos pousam na minha cintura e meu corpo fica
quente com o seu.
E as rosas?
Elas ficam presas entre nós como no meu aniversário de dezoito
anos.
Esticando o pescoço para cima, eu digo: — Sinto muito, eu continuei
dizendo não a você.
— Mil vezes. – ele murmura, apertando a minha cintura.
Acho que ele ainda está meio chateado com isso. — Eu estava
apavorado que você estivesse com medo.
Seus olhos ficam todo claro com isso. Todo claro, emocional e 519
bonito. — Estava. Eu estou. Mas você me inspira a ser corajoso, lembra?
Eu engulo. — Sim. Você me inspira a ser corajosa também.
Uma emoção cruza seu rosto e eu me levanto na ponta dos pés para
pressionar um beijo suave em sua barba. — Feliz primeiro aniversário de
casamento, baby.
— Sim. Isso.
— Ah, isso me lembra. Não seja idiota com a minha mãe amanhã
quando ela ligar, ok? Seja legal.
Ele me dá um olhar inexpressivo, mas sua
mandíbula está tensa.
Sim, ele não gosta da minha mãe e ela não
gosta dele. Ela ainda acha que ele vai me deixar
de coração partido, no entanto, estamos casados agora e já
faz dois anos desde que ele voltou para mim e eu deixei
Connecticut para ficar com ele. E ele não perdoou ou
esqueceu seus anos de negligência.
Mas eu não quero que eles briguem por mim.
— Vamos. Será um grande dia. – eu mordo o lábio e olho para ele
através dos meus cílios. — Pode ser seu presente para mim.
Seus olhos se estreitam de uma maneira perigosa e deliciosamente
familiar. — Pensei que o meu presente para você era ler aquele
desvairado Bukowski.
— Ei, ele não é desvairado. Ele é meu escritor favorito. Além disso,
foi ele quem me fez te beijar naquela noite.
Ele aproxima seu rosto do meu. — Como?
Não acredito que nunca contei a ele essa história. — Bem, ele disse 520
para encontrar aquela coisa no mundo que amamos e depois deixar que
ela nos mate. Eu já tinha encontrado uma coisa no mundo que amava.
Você sabe, quando eu tinha dezesseis anos. Então imaginei que aos
dezoito anos roubaria um beijo seu e deixaria você me matar.
— É?
— É.
Ele se aproxima ainda mais de mim, cada vez mais perto, até
bloquear a lua e toda a luz do mundo.
Até ele ser tudo o que vejo.
— Que tal eu beijar você também desta
vez?
Rindo come todo meu coração, dou outro
beijo como na noite do meu aniversário. As rosas
ainda estão presas entre nós e eu ainda estou de pé.
A única diferença é que essas rosas estão saudáveis e
aveludadas, em vez de murchas e rejeitadas, e ele está me
beijando também.
Ah, e estamos nos beijando em nosso mundo.
Um mundo que construímos sobre amor e sonhos.
Um mundo onde ele é meu e eu sou sua.
Para sempre e sempre.
521
522
As pessoas passam por vidas que mal vivem.
Elas nunca ficam loucas.
Elas nunca desejam algo a ponto de sofrer.
Seus peitos nunca doem ao ver alguém.
Não escrevem em diários. Não colecionam sonhos em sua grande
bolsa hobo. Não criam novos mundos. Não olham fixamente para a lua e
não sobem ao telhado à meia-noite. Elas não pulam na água com suas
roupas e não se apaixonam por alguém à primeira vista.
Eu poderia ter sido uma dessas pessoas.
Eu poderia ter vivido uma vida monótona e comum, mas ela
apareceu e mudou tudo.
Por sua causa, eu provei a neve no inverno passado. Por sua causa, li
poesia em frente a fogueira uma noite.
Por sua causa, danço com ela à meia-noite com as músicas de sua 523
playlist irada. E por causa dela, em vez de correr para dentro quando
chove, fico de pé e deixo as gotas me molharem.
Mas acima de tudo, por causa dela estou aprendendo a sonhar.
Estou aprendendo a querer, desejar e almejar.
Estou aprendendo a viver.
Porque ela é uma garota feita de lua e magia. Ela é uma garota que
tem mechas douradas nos cabelos grossos e lábios vermelhos como o
pecado. E ela é uma garota que brilha ao luar.
Uma garota que amei desde a primeira vez
que a vi.
Minha bela.
Minha Violet.
524