Você está na página 1de 7

ESTUDO TEÓRICO

Diretrizes curriculares e estratégias Diretrizes curriculares


e estratégias para
implantação de

para implantação de uma nova uma nova


proposta pedagógica

proposta pedagógica

CURRICULUM DIRECTIONS AND STRATEGIES FOR THE IMPLEMENTATION


OF A NEW PEDAGOGIC PROPOSAL

DIRECTRICES CURRICULARES Y ESTRATEGIAS PARA LA IMPLANTACIÓN


DE UNA NUEVA PROPUESTA PEDAGÓGICA

Josicélia Dumêt Fernandes1, Iara de Moraes Xavier2, Maria Isabel Pedreira de Freitas Ceribelli3,
Maria Helena Cappo Bianco4, Dirce Maeda5, Michele V. de C. Rodrigues6

RESUMO ABSTRACT RESUMEN 1 Professora Titular da


O presente estudo busca contri- This study is aimed at El presente estudio busca Escola de Enfermagem da
Universidade Federal da
buir com o movimento de trans- contributing to the transforma- contribuir con el movimiento de Bahia (UFBa). Doutora em
formação a ser desenvolvido nas tion movement to be developed transformación a desarrollarse en Enfermagem. Pesquisadora
in the Nursing Courses/Schools. las Escuelas/Cursos de Enfer- do CNPq.
Escolas/Cursos de Enfermagem. dumet@ufba.br
Essa contribuição se refere à The contribution refers to the mería. Esa contribución se refiere 2 Professora Adjunta.
formação de enfermeiras(os) com formation of nurses with auto- a la formación de enfermeras(os) Doutora da Escola de
Enfermagem da Univer-
autonomia e discernimento, para nomy and discernment, to ensure con autonomía y discernimiento, sidade Federal do Estado
assegurar a construção do modelo the construction of the model of para asegurar la construcción del do Rio de Janeiro (UFRJ).
de atenção à saúde, à produção de health attention, to the production modelo de atención a la salud, la 3 Professora Assistente
Doutora do Departamento
novos conhecimentos e à pres- of new knowledge and to the producción de nuevos conoci- de Enfermagem da
tação de serviços de qualidade delivery of quality services mientos y la prestación de servi- Faculdade de Ciências
voltados para as necessidades de directed to the health needs of the cios de calidad volcados hacia Médicas da Universidade
Estadual de Campinas.
saúde da população, com reso- population. This study brings las necesidades de salud de la 4 Professora Titular Doutora
lutividade. Traz algumas reflexões some conceptual and methodo- población, con resolutividad. da Universidade Sagrado
conceituais e metodológicas que logical reflections that may direct Considera algunas reflexiones Coração - Bauru - SP
5 Enfermeira, aluna do Curso
possam direcionar a mudança no the change in the nurse formation conceptuales y metodológicas de Mestrado em
processo de formação de enfer- process, as well as pointing que puedan orientar el cambio en Enfermagem da UFBa.
meiras(os), além de apontar estra- strategies to implement the new el proceso de formación de 6 Aluna do Curso de
Graduação em Enfermagem
tégias para a implantação da nova pedagogic proposal from the enfermeras(os), además de señalar da UUFBa.Bolsista de
proposta pedagógica, baseando- challenge posed by the imple- estrategias para la implantación Iniciação Científica
se no desafio da implementação mentation of the National Curri- de la nueva propuesta pedagógica, (PIBIC/UFBa)
das Diretrizes Curriculares culum Directions for Under- a partir del desafío de la imple-
Nacionais do Curso de Graduação graduate Nursing Courses. mentación de las Directrices
em Enfermagem. Curriculares Nacionales del Pre
Grado en Enfermería.

DESCRITORES KEY WORDS DESCRIPTORES


Currículo. Curriculum. Curriculum.
Enfermagem. Nursing. Enfermería.
Educação em Enfermagem. Nursing education. Educacion en enfermeria.
Educação baseada em Competence-based education. Educación basada en
competências. competencias.

Recebido: 11/05/2005
443
Rev Esc Enferm USP
Aprovado: 27/07/2005 2005; 39(4):443-9.
INTRODUÇÃO ponto de partida para as mudanças necessárias à
Josicelia Dumêt Fernandes
Iara de Moraes Xavier formação da(o) enfermeira(o); como referência para
Maria I. P. de F. Ceribelli O presente estudo busca contribuir para o pro- que as escolas/cursos, no uso de sua autonomia,
Maria Helena C. Bianco
Dirce Maeda
cesso de implementação das Diretrizes Curriculares construam, coletivamente, seus Projetos Pedagó-
Michele V. de C. Rodrigues Nacionais para os Cursos de Graduação em Enfer- gicos, respeitando a especificidade regional, local e
magem (DCENF), publicadas oficialmente na Reso- institucional.
lução CNE/CES Nº 03 de 7/11/2001(1), apontando
A implantação/implementação das DCENF
elementos conceituais, filosóficos e metodológicos
implica um grande desafio que é o de formar enfer-
que possam fundamentar a mudança no processo
meiras(os) com competência técnica e política, como
de educação em enfermagem, além de indicar estra-
sujeitos sociais dotados de conhecimento, de raci-
tégias de ensino/aprendizado, como elementos es-
ocínio, de percepção e sensibilidade para as
senciais na construção de uma nova proposta pe-
questões da vida e da sociedade, capacitando-
dagógica para a formação da(o) enfermeira(o).
as(os) para intervirem em contextos de incertezas e
Nesse sentido, este estudo parte das premissas complexidade(4).
expressas na Lei de Diretrizes e Bases da Educação
No enfrentamento a esse desafio, observa-se
Nacional (LDB)(2), que fundamentam o processo de
que as escolas/cursos vêm encontrando dificulda-
formação na educação superior através do desen-
des na incorporação das propostas para incrementar
volvimento de competências e habilidades; do aper-
as mudanças na formação dos futuros profissio-
feiçoamento cultural, técnico e científico do cida-
nais, estabelecidas pelas DCENF, principalmente
dão; da flexibilização dos currículos; da imple-
aquelas relativas à aquisição/desenvolvimento/ava-
mentação de Projetos Pedagógicos inovadores,
liação das competências e das habilidades, dos con-
numa perspectiva de mudança para a formação pro-
teúdos essenciais, das práticas/estágios e das ati-
fissional. Essas premissas apontam novas configu-
vidades complementares. Observa-se, também, que
rações para os padrões curriculares, até então vi-
ainda não existe uma clara definição sobre as com-
gentes, indicando a necessidade de uma reestru-
petências para a formação da(o) enfermeira(o) e
turação dos cursos de graduação com mudanças
para a obtenção de consenso sobre essas compe-
paradigmáticas no contexto acadêmico, direcionando
tências. Porém, são exatamente essas competênci-
a construção de Diretrizes Curriculares para cada
as que irão conciliar o plano curricular dos cur-
Curso de Graduação.
sos às necessidades e objetivos de formação de
A partir da LDB, concretizou-se, em 7/8/2001, o enfermeiras(os).
Parecer 1133 do CNE/CES(3), que veio reforçar a
necessidade da articulação entre Educação Superi- Nessa perspectiva, o presente estudo, buscan-
or e Saúde, objetivando a formação geral e específi- do contribuir para a implementação de nova pro-
ca dos egressos/profissionais, com ênfase na pro- posta pedagógica na formação de enfermeiras(os),
moção, prevenção, recuperação e reabilitação da traz algumas reflexões conceituais e metodológicas
saúde. que possam objetivar e direcionar as escolas/cur-
sos de graduação em enfermagem, além de apontar
Após esse Parecer, foi aprovada a Resolução estratégias para a implementação da mudança a
CNE/CES Nº 03 de 7/11/2001(1), que definiu as Dire- partir do desafio das DCENF. Para a construção
trizes Curriculares Nacionais para o Curso de Gra- dessas reflexões, as autoras fundamentaram-se nas
duação em Enfermagem (DCENF). suas experiências de participação na elaboração das
Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de
As DCENF tiveram sua materialidade concreti- Graduação em Enfermagem, bem como na literatura
zada, a partir de propostas que emergiram da pertinente ao tema.
mobilização das(os) enfermeiras(os), através da sua
associação de classe, de entidades educacionais e Inicialmente, são explicitados os fundamentos
de setores da sociedade civil interessados em de- conceituais, filosóficos e metodológicos das Dire-
fender as mudanças da formação na área da saúde. trizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Gradu-
Elas expressam os conceitos originários dos movi- ação em Enfermagem, que possam estar embasando
mentos por mudanças na educação em enfermagem, as ações para a construção da mudança na educa-
explicitando a necessidade do compromisso com ção em enfermagem. Com base nesses fundamen-

444
princípios da Reforma Sanitária Brasileira e do Sis- tos, são abordados os desafios e estratégias que se
tema Único de Saúde (SUS). Elas devem ser apreen- apresentam na implementação de uma nova pro-
didas, destarte, como produto de uma construção posta pedagógica na área da enfermagem. Final-
Rev Esc Enferm USP
social e histórica, trazendo, no seu conteúdo, os mente, são apresentadas as considerações finais,
2005; 39(4):443-9. posicionamentos da enfermagem brasileira como enfatizando-se a necessidade de enfrentamento
dos desafios e definição de estratégias que aten- al, espiritualidade, pensamento autônomo e críti-
Diretrizes curriculares
dam às demandas sociais e profissionais que se co, criatividade, iniciativa e rigor científico. En- e estratégias para
apresentam no processo de formação da(o) fim, condições que favoreçam ao indivíduo a aqui- implantação de
uma nova
enfermeira(o). sição de autonomia e discernimento(5-9). proposta pedagógica

Pautando-se nessa vertente educacional, as


FUNDAMENTOS DAS
DCENF descortinam possibilidades para a forma-
DIRETRIZES CURRICULARES
ção por competências, indicando a necessidade /
de experiências e oportunidades de ensino-apren-
Falar de estratégias para a implantação de uma dizagem que possibilitem o desenvolvimento para
nova proposta pedagógica, implica em falar de uma além do cognitivo. Apontam para a necessidade
base conceitual, filosófica e metodológica que pos- de oportunizar o desenvolvimento, na(o) aluna(o),
sa direcionar a construção do processo de forma- da capacidade de agir com eficácia frente à mais
ção de enfermeiras(os). diversas situações, apoiando-se em conhecimen-
As DCENF têm como objeto a construção de tos anteriormente adquiridos, mas sem limitar-se
um perfil acadêmico e profissional para enfer- a eles, evidenciando diferença entre competência
meiras(os) com competências e habilidades, atra- e conhecimento(10).
vés de perspectivas e abordagens contemporâne- O conhecimento, como representações da reali-
as de formação, pertinentes e compatíveis com refe- dade, é construído no decorrer das experiências vi-
renciais nacionais e internacionais que possam vidas e no processo de formação. Já as competênci-
fundamentar a formação do profissional crítico-re- as consistem em capacidades para utilizar esses
flexivo, transformador da realidade social e agente conhecimentos, integrá-los ou mobilizá-los, visan-
de mudança. do a resolução dos diversos problemas enfrenta-
A sua intencionalidade está voltada para o dos no cotidiano. Elas dizem respeito ao saber agir e
oferecimento de diretrizes gerais para que o pro- transformar a prática, através da identificação e
cesso de formação possa desenvolver a capaci- mobilização de conhecimentos que darão suporte
dade de aprender a aprender que engloba para a solução de problemas(10).
aprender a conhecer, aprender a fazer, apren- Através da formação por competência, espera-
der a viver junto e aprender a ser, garantindo a se que o profissional egresso tenha a capacidade
capacitação de profissionais com autonomia e de utilizar uma diversidade de conhecimentos na
discernimento para assegurar a integralidade da solução de problemas do seu dia-a-dia, estabele-
atenção à saúde com qualidade, eficiência e cendo relações entre cultura, sociedade, saúde, éti-
resolutividade(4). ca e educação. Nesse sentido, é premente o domí-
nio de conteúdos e metodologias, em níveis cres-
As DCENF assumem, portanto, como base fi-
centes de complexidade e fundamentados nas rela-
losófica, os quatro pilares da Educação, em que o
ções dialéticas entre as transformações sociais e as
aprender a conhecer envolve o aprender a pen-
do mundo do trabalho.
sar a realidade, a pensar o novo, a reinventar o
pensar, a pensar e reinventar o futuro e está rela- Ao se adotar o referencial da formação por com-
cionado ao prazer da descoberta, da curiosidade, petências, deve-se destacar que não se trata de um
da busca da compreensão, da construção e re- conjunto de ações ou procedimentos técnicos que
construção do conhecimento. O aprender a fazer precisam ser alcançados pelos alunos, mas, sim, a
oferece oportunidades de desenvolvimento de articulação dos vários saberes para a resolução de
competências amplas para enfrentar o mundo do problemas e enfrentamento a situações de
trabalho e está relacionado à competência pesso- imprevisibilidade, bem como a mobilização da inteli-
al que possibilita ao profissional trabalhar coleti- gência para fazer face aos desafios do trabalho.
vamente, adquirir qualidades para as relações
interpessoais no trabalho, em detrimento da pura Esses parâmetros, por sua vez, fundamentados
qualificação profissional. O aprender a viver junto no arcabouço teórico do SUS, da Ética, da Cida-
oferece possibilidades para a compreensão do dania, da Epidemiologia e do processo saúde/doen-
outro, para a busca do esforço comum e para a ça/cuidado, oferecem os elementos para as bases

445
participação em projetos de cooperação com o filosóficas, conceituais, políticas e metodológicas
outro.O aprender a ser integra os outros três pi- que irão definir um conjunto de habilidades e com-
lares; cria condições para o desenvolvimento in- petências para a formação contemporânea de acor-
tegral da pessoa com inteligência, sensibilidade, do com referenciais nacionais e internacionais de Rev Esc Enferm USP
sentido ético e estético, responsabilidade pesso- qualidade(4). 2005; 39(4):443-9.
DESAFIOS E ESTRATÉGIAS sino/pesquisa/extensão, a flexibilidade na orga-
Josicelia Dumêt Fernandes
Iara de Moraes Xavier nização do curso, a interdisciplinaridade, a incor-
Maria I. P. de F. Ceribelli A busca da implementação de uma mudança poração de atividades complementares em rela-
Maria Helena C. Bianco ção ao eixo fundamental do processo de forma-
Dirce Maeda
para adequar a formação profissional à diversida-
Michele V. de C. Rodrigues de e complexidade do mundo contemporâneo im- ção, a avaliação formativa, da terminalidade do
plica o enfrentamento a desafios, tais como: o afas- curso (11).
tamento das práticas de ensino centrado no pro-
O aluno, sujeito do seu processo de formação,
fessor para as atividades de aprendizagem
requer a predominância da formação sobre a infor-
centradas no aluno; a superação do modelo dis-
mação, em que o ensino é direcionado para o de-
ciplinar fragmentado para a construção de um cur-
senvolvimento da capacidade de aprender a apren-
rículo integrado, em que o eixo da formação arti-
der; de articular conhecimentos, de desenvolver
cula a tríade prática/trabalho/cuidado de enferma-
habilidades e atitudes; de saber buscar infor-
gem; a saída da oferta da teoria ministrada de for-
mações para resolução de problemas e de enfren-
ma isolada, antecedendo a prática, para a articula-
tamento a situações de imprevisibilidade; de mo-
ção teoria/prática; o abandono da concepção de
bilizar a sua inteligência para fazer face aos desafi-
saúde como ausência de doença para a concepção
os do trabalho; de apreender a realidade social e
de saúde enquanto condições de vida; o rompi-
de reconhecer as lacunas do seu conhecimento.
mento da polarização individual/coletivo e bioló-
gico/social para uma consideração de inter-pene- A articulação entre teoria e prática pressupõe
tração e transversalidade; a mudança da concep- ações pedagógicas que, ultrapassando os muros
ção de avaliação como processo punitivo para a da academia, indicam a necessidade da inserção
de avaliação como instrumento de (re)definição de do aluno em realidades concretas, fazendo com
paradigmas(11). que a formação seja centrada na prática, numa con-
tínua aproximação do mundo do ensino com o
No enfrentamento a esses desafios, as escolas/ mundo do trabalho. Essa articulação se dá através
cursos vêm sendo instigadas a redirecionar, coleti- de um processo que deve possibilitar o teorizar a
vamente, seus Projetos Pedagógicos, tendo como partir da prática nos vários espaços onde aconte-
paradigma, as relações entre cultura, sociedade, saú- ce o trabalho da enfermagem – comunidade, equi-
de e educação. Nesse redirecionamento, o Projeto pe de saúde da família, escolas, creches, laborató-
Pedagógico dos cursos configura-se como a base rios, serviços de saúde da rede básica e da rede
de gestão acadêmico-administrativa, devendo con- hospitalar, bem como os espaços de gestão do
ter os elementos das bases filosóficas, conceituais, SUS.
políticas e metodológicas que definem as compe-
tências e habilidades essenciais à formação das(os) A diversificação dos cenários de aprendiza-
enfermeiras(os). gem implica na participação de docentes, discen-
tes e profissionais dos serviços, nos vários cam-
O Projeto Pedagógico de cada escola/curso, pos do exercício profissional. Essa participação
apreendido como processual, deve ser coletivamente se apresenta na perspectiva de uma efetiva arti-
construído, gerando envolvimento e comprometi- culação que contribui não só para a formação
mento de docentes, discentes, técnico-administra- profissional, mas também para as mudanças na
tivos, profissionais dos serviços, administradores e produção de serviços. A realidade concreta e os
instituições de ensino, serviços de saúde e usuári- reais problemas da sociedade são substratos es-
os desses serviços. Esse envolvimento favorece a senciais para o processo ensino/aprendizagem,
superação de resistências e possibilita a programa- como possibilidade de compreensão dos múlti-
ção conjunta de ações que possam despertar para a plos determinantes das condições de vida e saú-
formação de conceitos, delineamento de propostas, de da população.
retroalimentação do processo, mudança ou
reafirmação de paradigmas como condições para a O processo de formação de profissionais crí-
construção da situação pretendida. ticos, criativos, reflexivos, com compromisso po-
lítico e capazes de enfrentar os problemas com-
Outro aspecto que merece destaque na supe- plexos que se apresentam na sociedade e, mais
ração dos desafios da mudança diz respeito à ne- especificamente, na área da saúde, pressupõe a
cessidade de se estabelecer estratégias que indi- utilização de metodologias ativas de ensino-

446
Rev Esc Enferm USP
quem o aluno como sujeito do processo ensino-
aprendizagem, a articulação teoria/prática, a di-
versificação dos cenários de aprendizagem, o uso
aprendizagem, que possibilitem aos estudantes
ocuparem o lugar de sujeitos na construção da
sua aprendizagem, tendo o professor como
2005; 39(4):443-9. de metodologias ativas, a indissociabilidade en- facilitador e orientador.
São metodologias fundamentadas nos princípios monitorias e estágios; programas de iniciação ci-
Diretrizes curriculares
da pedagogia interativa, na concepção pedagó- entífica; programas de extensão; estudos com- e estratégias para
gica crítico e reflexiva, tendo como eixo central a plementares e cursos realizados em outras áre- implantação de
participação ativa dos alunos em todo o proces- as afins(1). uma nova
proposta pedagógica
so, incluindo todos os novos e diferentes cenári-
os de prática(11). A avaliação da aprendizagem, como um proces-
so formativo e permanente de reconhecimento de
São estratégias que levam em conta a realidade saberes, competências, habilidades e atitudes, “dei-
concreta e a necessidade de se trabalhar, além das ques- xa de ser pontual, punitiva e discriminatória”(11), para
tões técnicas, as emoções e as relações interpessoais. se constituir em uma avaliação que respeite a indivi-
São metodologias que buscam desenvolver valores e dualidade do aluno e favoreça sua formação com
atitudes no processo ensino/aprendizagem, conside- qualidade e competência. Ela passa a ser apreendi-
rando que a prestação do cuidado é realizada por da como um instrumento de acompanhamento de
sujeitos portadores de valores, culturas e ideologias todo o processo ensino-aprendizagem, devendo ser
que permeiam a prática sanitária desses agentes. iniciada desde o ingresso do aluno no curso, de
maneira processual, identificando as necessidades
A articulação da pesquisa com o ensino e com a
e dificuldades dos mesmos e propondo estratégias
extensão é indicada como um princípio pedagógico
capazes de superar essas dificuldades. Vale desta-
para o desenvolvimento da capacidade de produzir
car que a tarefa da prática avaliativa tem como pre-
conhecimento próprio, assegurando uma assistên-
missa básica a constante reflexão dos docentes so-
cia de qualidade e com rigor científico. Trata-se da
bre sua prática pedagógica e o acompanhamento
construção de um processo de ensino-aprendiza-
do aluno na sua caminhada de construção do co-
gem dialógico e investigativo que viabiliza a troca
nhecimento, tendo como claro que o erro é o ponto
de experiências e a construção/reconstrução/signi-
de partida para esclarecimentos e nunca para servir
ficação de conhecimentos. Essa é uma estratégia
como motivo de punição.
fundamentada no conhecimento teórico e pedagó-
gico do professor, bem como na sua capacidade O processo de acompanhamento, avaliação e
investigativa e na sua sensibilidade para com os gestão do curso deve se constituir num processo
problemas da sociedade e, mais especificamente, da de reflexão permanente sobre as experiências viven-
área da saúde. Se o avanço teórico e metodológico ciadas, os conhecimentos disseminados ao longo
só se dá através das descobertas da ciência e de do processo de formação profissional e a interação
sua confrontação com a realidade através da práti- entre o curso e o contexto local, regional e nacional.
ca, a sua materialidade passa pela formação da ca-
pacidade investigativa do professor e do aluno, ou A terminalidade do curso caracteriza-se pela
seja, pela construção do aprender a aprender.
garantia da formação generalista, instrumen-
A flexibilidade curricular indica a talizando o profissional a atuar nos mais varia-
dos contextos, opondo-se à especialização pre-
adoção de medidas que contraponham a rigidez coce e evitando visões parciais da realidade(11).
dos pré-requisitos e dos conteúdos obrigatórios
ordenados em seqüência obrigatória, como se Além desses desafios, e englobando todos eles,
existisse apenas uma maneira de aprender(11). destaca-se a necessidade da utilização de referenciais
teórico-pedagógicos, particularmente os pilares da
A interdisciplinaridade é indicada como forma educação contemporânea e a construção de
de admitir a ótica pluralista das concepções de ensi- competências, como categorias que fundamentam
no, integrando os diferentes campos do conheci- o processo de formação do profissional crítico-re-
mento e possibilitando uma visão global da realida- flexivo, transformador da realidade social e agente
de; como forma de superar o pensar simplificado e de mudanças(12).
fragmentado da realidade; como forma de integrar
conhecimentos, buscando uma unidade do saber e
CONSIDERAÇÕES FINAIS
a superação dos currículos organizados por disci-
plinas e centrados em conteúdos.
As novas configurações para a formação da(o)
A incorporação de atividades complementares enfermeira(o) apontam para o entendimento das
em relação ao eixo fundamental do processo de for- DCENF como referência para as discussões a res-
mação aponta para a necessidade de adoção de es-
tratégias institucionais que possibilitem o aprovei-
tamento de conhecimentos, pelo aluno, através de
peito da formulação, desenvolvimento e avaliação
do Projeto Pedagógico dos cursos e não, necessa-
riamente, com a função de estabelecer currículos e
447
Rev Esc Enferm USP
estudos e práticas independentes, tais como formatações para estes cursos; apontam, também, 2005; 39(4):443-9.
para a utilização de estratégias que aproximem a for- so formativo de verdadeiros cidadãos, capazes de
Josicelia Dumêt Fernandes
Iara de Moraes Xavier mação da(o) enfermeira(o) às necessidades locais responder aos constantes desafios impostos pela
Maria I. P. de F. Ceribelli de saúde e, conseqüentemente, à consolidação do sociedade e, mais especificamente, pelo setor saú-
Maria Helena C. Bianco SUS; apontam, ainda, para a construção de Projetos de. O enfrentamento a esse desafio perpassa, pois,
Dirce Maeda
Michele V. de C. Rodrigues Pedagógicos vinculados às condições de inserção pelas oportunidades de reflexão sobre o trabalho/
social, específicas de cada curso, entre as quais, um fazer pedagógico na saúde e na enfermagem.
corpo docente qualificado, com capacidade de de-
senvolvimento de pesquisa e extensão, com condi- Nesse sentido, as discussões temáticas contri-
ções de trabalho, infra-estrutura adequada e partici- buem para esse despertar, respaldando-se num am-
pação de todos os interessados no processo. plo processo de reflexão sobre práticas e concep-
ções em saúde/enfermagem e educação, rompendo
Cada Escola/Curso, no uso de sua autonomia, as dificuldades e resistências individuais de docen-
constrói, coletivamente, o seu Projeto Pedagógico tes, alunos e profissionais de serviço.
e define estratégias de renovação capazes de faze-
rem frente ao desafio de qualificar enfermeiras(os) As relações entre as escolas/cursos e serviços
de forma contextualizada ao modelo de atenção à de saúde passam a ser construídas, portanto, em
saúde. Na definição dessas estratégias, docentes, novas bases, ou seja, em relações mais horizontais
discentes e profissionais dos serviços são compre- de dupla mão, em que as demandas dos serviços
endidos como atores conscientes do modelo de aten- sejam realmente consideradas pelas escolas/cursos,
ção à saúde. em que as decisões sejam tomadas em conjunto,
havendo ganhos concretos para todos os parcei-
As novas configurações para a formação da(o) ros. Nessa integração/articulação, as parcerias e/
enfermeira(o), indicadas nas DCENF, não se limi- ou convênios são fundamentais para dar conta da
tam, pois, a questões técnicas, relativas a conteú- complexidade do desenvolvimento de Projetos Pe-
dos de ensino, procedimentos didáticos e técnicas dagógicos voltados para as reais condições de vida
pedagógicas – pedagogia tecnicista. Elas pautam- e saúde da população.
se na adoção de referencial teórico-pedagógico que
sustente uma aprendizagem significativa, Para concluir, é necessário explicitar que este
transformadora e adequada às demandas sociais e estudo não pretende indicar caminhos a serem per-
profissionais que se apresentam. corridos pelas escolas/cursos para alcançarem as
transformações necessárias. Ele apenas sugere a
O maior desafio continua sendo o de aprofundar superação das abordagens tradicionais e a neces-
as discussões e de tornar claro, à comunidade uni- sidade de mudar paradigmas, fazer rupturas com
versitária, que o desenvolvimento de habilidades práticas e crenças que nos impedem de fazer mu-
passa pelo conhecimento explícito (através das dis- danças e enfrentar desafios. Trata-se, portanto, de
ciplinas e outras atividades curriculares formais), uma contribuição ao debate coletivo e crítico, bem
mas não se restringe a ele; passa, também, pela ne- como ao favorecimento das bases conceituais para
cessidade de desenvolver a competência de traba- a construção de um projeto maior que é o de fazer
lhar a parte tácita deste conhecimento, num proces- uma nova Enfermagem.

REFERÊNCIAS

(1) Ministério da Educação. Conselho Nacional de Edu- (3) Ministério da Educação. Conselho Nacional de Edu-
cação. Câmara de Educação Superior. Resolução CNE/ cação. Câmara de Educação Superior. Parecer CNE/
CES n. 3, de 7 novembro de 2001. Institui as diretri- CES n. 1133, de 7 agosto de 2001. Institui as diretri-
zes curriculares nacionais do curso de graduação em zes curriculares nacionais dos cursos de graduação
Enfermagem. Diário Oficial da República Federativa em enfermagem, medicina e nutrição. Diário Oficial
do Brasil. Brasília (DF), 9 nov. 2001. Seção 1, p. 37. da República Federativa do Brasil [online] Brasília
(DF), 03 out. 2001. Disponível em: <http://www.mec.
(2) Ministério da Educação. Lei n. 9.394, 20 de dezembro gov.br/Sesu/diretriz.shtm#legislação> (12 fev. 2004)
de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação
nacional. Diário Oficial da República Federativa (4) Xavier I, Fernandes JD, Ceribelli MI. Diretrizes
do Brasil, Brasília (DF) 23 dez. 1996; Seção 1, curriculares: articulação do texto e contexto. Bol Inf

448
p. 833-41. Assoc Bras Enferm 2002; 44(2):6-7.

Rev Esc Enferm USP


2005; 39(4):443-9.
(5) Delors J. Educação: um tesouro a descobrir. Lisboa: (10) Perrenaud P. Construindo competências desde a es-
Diretrizes curriculares
UNESCO/ASA; 1996. cola. Trad. de Bruno Charles Magne. Porto Alegre: e estratégias para
Artmed; 1999. implantação de
(6) Delors J. Organização do trabalho na escola. São Pau- uma nova
lo: Ática; 1993. (11) Fernandes JD, Ferreira SLA, Oliva DSR, Santos MP, proposta pedagógica
Costa HOG. Diretrizes estratégicas para a implan-
(7) Gadotti M. Escola vivida, escola projetada. Campi- tação de uma nova proposta pedagógica na Escola
nas: Papirus; 1992. de Enfermagem da Universidade Federal da Bahia.
Rev Bras Enferm 2003; 56(4):392-5.
(8) Gadotti M. Pedagogia da práxis. São Paulo: Cortez;
1998. (12) Faustino RLH, Egry EY. A formação da enfermeira
na perspectiva da educação: reflexões e desafios para
(9) Gadotti M. Perspectivas atuais da educação. Porto o futuro. Rev Esc Enferm USP 2003; 36(4):332-7.
Alegre: Artes Médicas; 2000.

Correspondência:
Josicélia D.Fernandes
Rua Prof. Sabino Silva, 32
Jd. Apipema - Salvador
CEP - 40155-250 - BA

449
Rev Esc Enferm USP
2005; 39(4):443-9.

Você também pode gostar