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Técnica e Gêneros de

Escultura
Prof.a Roseli Kietzer Moreira

2011
Copyright © UNIASSELVI 2011

Elaboração:
Prof.ª Roseli Kietzer Moreira

Revisão, Diagramação e Produção:


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri


UNIASSELVI – Indaial.

731.735
M835t Moreira, Roseli Kietzer.

Técnica e gêneros de escultura/ Roseli Kietzer Moreira.


2ª Ed. Indaial : Uniasselvi, 2011.

203 p. il.

Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-7830-432-4

1. Escultura. I. Centro Universitário Leonardo da Vinci


II. Núcleo de Ensino a Distância III. Título

Impresso por:
Apresentação
Prezados acadêmicos (a)!

Apresentamos os estudos referentes a Técnicas e Gêneros da


Escultura. Essa disciplina assume o compromisso de instigar o conhecimento
das práticas e da linguagem artística da escultura, mediante a história da arte
com o prisma do gênero.

A escultura possui um universo fascinante, próprio de sua qualidade


tridimensional, que nos propicia a perspectiva de vários ângulos.

A criatividade humana se manifesta desde os primórdios e demonstra


a perspicaz técnica que os artistas alcançaram com o tempo e a prática.
Durante a história, a escultura também gerou suas formas em função da
estética e da cultura. As influências histórico-culturais direcionaram as artes,
e é por isso que se diz que a Arte é o retrato de uma civilização. A Arte revela
os hábitos, o cotidiano, as preferências de cada povo.

Vamos conhecer artistas e suas linguagens, para conhecer um pouco


de nós mesmos, como humanidade, como parte de uma identidade, que nos
define como seres humanos, que sentem, pensam e se relacionam com os
outros e com o meio.

Bem-vindos! Vamos aos estudos!

Prof.ª Roseli Kietzer Moreira

III
NOTA

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto


para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há
novidades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é


o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,


apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.

Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto
em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de


Desempenho de Estudantes – ENADE.

Bons estudos!

UNI

Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos


materiais ofertados a você e dinamizar ainda
mais os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza
materiais que possuem o código QR Code, que
é um código que permite que você acesse um
conteúdo interativo relacionado ao tema que
você está estudando. Para utilizar essa ferramenta,
acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor
de QR Code. Depois, é só aproveitar mais essa
facilidade para aprimorar seus estudos!

IV
V
VI
Sumário
UNIDADE 1 – CULTURAS E GÊNEROS............................................................................................ 1

TÓPICO 1 – CONCEITOS DA ESCULTURA..................................................................................... 3


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 3
2 A ESCULTURA NA ARTE................................................................................................................... 3
3 ESCULTURA E HISTÓRIA................................................................................................................. 7
4 GÊNEROS DA ESCULTURA.............................................................................................................. 9
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................ 17
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 20
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 21

TÓPICO 2 – GÊNEROS E HISTÓRIA.................................................................................................. 23


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 23
2 ESCULTURA CHINESA....................................................................................................................... 23
3 ESCULTURA INDIANA...................................................................................................................... 25
4 ESCULTURA AFRICANA.................................................................................................................... 26
5 ESCULTURA PRÉ-COLOMBIANA................................................................................................... 28
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 32
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 33

TÓPICO 3 – PRIMÓRDIOS DA HUMANIDADE............................................................................. 35


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 35
2 A ESCULTURA NA PRÉ-HISTÓRIA................................................................................................ 35
2.1 PALEOLÍTICO SUPERIOR.............................................................................................................. 36
2.2 NEOLÍTICO ...................................................................................................................................... 38
3 A ESCULTURA NA MESOPOTÂMIA.............................................................................................. 42
3.1 ARTE SUMÉRIA............................................................................................................................... 43
3.2 ARTE ASSÍRIA.................................................................................................................................. 48
3.3 ARTE PERSA..................................................................................................................................... 50
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 54
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 55

UNIDADE 2 – HISTÓRIA E GÊNERO................................................................................................ 57

TÓPICO 1 – SOBRE A VIDA E A MORTE.......................................................................................... 59


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 59
2 A ESCULTURA NO EGITO................................................................................................................. 59
3 GRÉCIA: DO ARCAÍSMO AO HELENISMO................................................................................. 65
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 73
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 74

TÓPICO 2 – A POLÍTICA E A RELIGIÃO.......................................................................................... 75


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 75
2 ROMA ANTIGA.................................................................................................................................... 75

VII
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 86
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 87

TÓPICO 3 – O RENASCIMENTO......................................................................................................... 89
1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 89
2 O PERÍODO DA RENASCENÇA....................................................................................................... 89
2.1 RENASCENÇA E A FIGURA HUMANA.................................................................................... 90
2.2 MICHELANGELO: O ESCULTOR RENASCENTISTA ............................................................. 93
3 ESCULTURA APÓS A RENASCENÇA............................................................................................. 97
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................ 104
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 106
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 107

UNIDADE 3 – ARTE E GÊNERO.......................................................................................................... 109

TÓPICO 1 – ESCULTURA DO SÉCULO XVIII E XIX...................................................................... 111


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 111
2 OS SÉCULOS XVIII E XIX................................................................................................................... 111
2.1 NEOCLASSICISMO E ROMANTISMO........................................................................................ 112
2.2 REALISMO E IMPRESSIONISMO................................................................................................. 115
3 RODIN: O ESCULTOR DA EXPRESSÃO........................................................................................ 115
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 120
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 121

TÓPICO 2 – O GÊNERO E O SÉCULO XX.......................................................................................... 123


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 123
2 A ARTE MODERNA............................................................................................................................. 123
3 ARTE CONTEMPORÂNEA................................................................................................................ 133
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................ 138
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 139
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 140

TÓPICO 3 – GÊNEROS DA ESCULTURA BRASILEIRA................................................................ 141


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 141
2 ESCULTURA BRASILEIRA................................................................................................................. 141
2.1 GÊNERO RELIGIOSO...................................................................................................................... 141
2.2 NEOCLACISSISMO E ROMANTISMO........................................................................................ 145
2.3 MODERNISMO................................................................................................................................. 148
2.4 CONTEMPORANEIDADE............................................................................................................. 151
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 157
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 158

TÓPICO 4 – ADIÇÃO E TALHA........................................................................................................... 159


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 159
2 ADIÇÃO.................................................................................................................................................. 159
2.1 PRÁTICA PARA A ESCOLA.......................................................................................................... 163
3 TALHA..................................................................................................................................................... 165
3.1 PRÁTICA PARA A ESCOLA.......................................................................................................... 171
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................ 174
RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................................................ 177
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 178

VIII
TÓPICO 5 – CONSTRUÇÃO E MOLDAGEM................................................................................... 179
1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 179
2 CONSTRUÇÃO...................................................................................................................................... 179
2.1 PRÁTICA PARA A ESCOLA.......................................................................................................... 185
3 MOLDAGEM.......................................................................................................................................... 186
3.1 PRÁTICA PARA A ESCOLA.......................................................................................................... 198
RESUMO DO TÓPICO 5........................................................................................................................ 200
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 201

REFERÊNCIAS.......................................................................................................................................... 203

IX
X
UNIDADE 1

CULTURAS E GÊNEROS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta Unidade, caro(a) acadêmico(a), você estará apto(a) a:

• conhecer os conceitos e os gêneros que cercam a escultura como lingua-


gem artística;

• contemplar a escultura chinesa, indiana, africana e pré-colombiana e seus


gêneros;

• contextualizar os princípios da escultura na pré-história e na Mesopotâ-


mia e suas influências sócio-histórico-culturais e gêneros.

PLANO DE ESTUDOS
Esta Unidade está dividida em três tópicos, sendo que, em cada um deles,
você encontrará atividades que contribuirão para sua reflexão e análise dos
estudos já realizados.

TÓPICO 1 – CONCEITOS DA ESCULTURA

TÓPICO 2 – GÊNEROS E HISTÓRIA

TÓPICO 3 – PRIMÓRDIOS DA HUMANIDADE

1
2
UNIDADE 1
TÓPICO 1

CONCEITOS DA ESCULTURA

1 INTRODUÇÃO
A escultura era tida como uma das menores das artes. Sempre relacionada à
arquitetura, por ter semelhanças na questão da construção e tida como ornamento,
somente depois de muito tempo, é que a escultura tem seu reconhecimento como
linguagem artística.

A escultura surge já na pré-história como uma forma de expressão.


Durante toda a história da arte, sofre mudanças e adaptações, segundo as
técnicas, os materiais e a proposta estética de cada civilização. Talvez isso seja
relevante destacar: cada cultura vive seu instante, propondo a filosofia de vida do
cotidiano, e a escultura acompanha essa tendência.

Nos dias de hoje, pode nos parecer deveras estranha alguma manifestação
escultórica, mas frente à tecnologia, nossa cultura cibernética e vida agitada
de metrópoles, a Arte também se exprime diferentemente das suas mostras
anteriores. Nossa vida mudou, a Arte acompanha o ritmo e também se modifica.

Que os estudos sobre a história da escultura por meio de gêneros possa


amparar no entendimento das manifestações artísticas de hoje. Estudar o passado
pode ajudar a compreender o presente.

2 A ESCULTURA NA ARTE
Escultura é a arte das representações no tridimensional. Volume é sua
qualidade inerente, por ocupar um espaço, possuir densidade, um certo peso e
massa. Diferente de uma pintura, que simula, por meio de perspectiva de luz
e sombra, a tridimensionalidade, a escultura é tridimensional, possui altura,
largura e profundidade, pertence ao espaço real.

O relevo também faz parte da linguagem escultórica. Relevo pode


ser definido como uma forma que se projeta de um plano. Muito usado na
arquitetura, é conhecido por alto e baixo relevo. Se o escultor removeu bastante
material, a ponto dos elementos parecerem se desprender da base, em que a
tridimesionalidade é evidenciada, chamamos de alto-relevo, conforme o exemplo
a seguir:

3
UNIDADE 1 | CULTURAS E GÊNEROS

FIGURA 1 – ATENEA E ALCIONEO, 180 a.C. MÁRMORE

FONTE: Disponível em: <http://www.opendemocracy.net/arts/germany_3595.


jsp>. Acesso em: 22 abr. 2009.

Mas caso se assemelhe mais a um desenho com pouco volume, será


considerado um baixo-relevo. Para exemplificar, temos o seguinte exemplo:

FIGURA 2 – ESTELA MAIA

FONTE: Disponível em:<http://www.jornallivre.com.br >.


Acesso em: 22 abr. 2009
4
TÓPICO 1 | CONCEITOS DA ESCULTURA

Na observação de uma estrutura escultórica, tem-se uma vantagem sobre


outras linguagens da Arte. Ao apreciar uma escultura, há várias perspectivas:
diversos perfis que proporcionam diversos olhares sobre uma mesma estrutura.
Podemos vagar o olhar, indo do mínimo detalhe à visão completa. Nessa
descoberta, percebemos luz e sombra, proporções e textura. Se for possível tocar
a escultura, nossa percepção se torna mais ampla, pois o tátil pode revelar o
material e suas especificidades.

Conhecer as técnicas e materiais de escultura será importante para


entender a história e a prática dos artistas, além de auxiliar na análise da obra de
arte.

Iniciemos com as técnicas: a modelagem, a fundição, a construção e a talha.


A modelagem tem relação com a adição e advém do acréscimo de materiais, como
argila ou cera. Já a fundição tem a ver com moldes e consta de preenchimento
de materiais diversos como: cera, cimento, argila líquida, gesso, bronze, silicone
etc. A construção é a liga de vários elementos, ou seja, remete à solda de partes
do material para criar uma forma completa. E por fim, a talha, que é a ação de
esculpir, com ferramentas adequadas até chegar à estrutura final. Já foi possível
perceber que a técnica se relaciona com o material. Ao optar por mármore, por
exemplo, estará escolhendo a talha, e vice-versa: se preferir a talha só poderá
trabalhar com madeira ou pedra.

Vamos conhecer agora os materiais, que são os mais diversos: a pedra,


a madeira, o gesso, a argila (terracota) e os metais são considerados materiais
clássicos, pois foram utilizados desde os primórdios da humanidade. Em pedra
temos os mármores, as pedras calcárias, os granitos. Os metais: o bronze, o cobre,
o ouro, a prata. É possível usar todo tipo de madeira para escultura, as mais
duráveis são o ébano e o jacarandá. Outros materiais também foram utilizados,
como será citado no transcorrer dos estudos: pedras preciosas como o jade
e outros de origem orgânica como o âmbar e o marfim. O século XX, por suas
características industriais e tecnológicas favoreceu uma diversidade de materiais
que também são exploradas pelos escultores: plástico, vidro, concreto, metais,
papel, fibras sintéticas e outras.

E
IMPORTANT

Preste atenção para esta questão de nomenclatura: esculturas em argila


também são conhecidas como “escultura em terracota”.

5
UNIDADE 1 | CULTURAS E GÊNEROS

Outro aspecto importante da escultura é a sua representação. Podendo ser


figurativa ou abstrata:

• Figurativa: quando se identificam as formas da escultura. Mesmo que


composição esteja simplificada, é possível compreender o tema proposto.
O conceito de realismo tem a ver com o figurativo. Ao se falar de realismo
em escultura, é o artista recriando a natureza tal como ela é, com detalhes e
pormenores, com a proximidade máxima do real. A seguir, um exemplo de
escultura figurativa:

FIGURA 3 – O PENSADOR, DE AUGUSTE RODIN, 1889

FONTE: Disponível em:<http://www.mainieri.blogspot.com>. Acesso


em: 22 abr. 2009.

l Abstrata: na abstração, as formas não levam a uma identificação com o mundo


concreto. A abstração está ligada aos elementos formais de composição:
formas, linhas, cores. Contrária à imitação da natureza, a abstração convida
o observador à apreciação escultórica por meio de percepções e sentimentos.
A abstração se manifesta efetivamente a partir do século XX, com os artistas
europeus, numa espécie de reação ao academismo na Arte. A seguir, um
exemplo de escultura abstrata:

6
TÓPICO 1 | CONCEITOS DA ESCULTURA

FIGURA 4 – FRANS WEISSMANN

FONTE: Disponível em:<http://www.divirta-se.correioweb.com.


br>. Acesso em: 22 abr. 2009.

Seja figurativa ou abstrata, a escultura revela a história do homem e


mantém em seu cerne a expressividade e criatividade do artista, da pré-história
até nossos dias.

3 ESCULTURA E HISTÓRIA
Sendo uma das primeiras linguagens artísticas exploradas pelo homem,
a história da escultura se confunde com a própria história da humanidade. Sua
origem tem a ver com a necessidade de representação do homem, diante de
um mundo desconhecido e inóspito. O homem ao modelar ou esculpir alguma
imagem na matéria, projeta uma espécie de domínio. Dar forma para um material
amorfo, além de propiciar uma atitude de magia e poder, estimula uma das
aptidões intrínsecas do ser humano: a criatividade.

Ao estudar a história da escultura, vamos perceber que a forma mais


evidente na linguagem escultórica seja a figura humana. Mas por que dessa
escolha? Talvez porque a forma humana é conduzida pela proporção, simetria
e pela beleza das possibilidades tridimensionais. Da rusticidade das Vênus
Paleolíticas, passando pela perfeição corpórea das esculturas de Michelângelo e
Rodin até a expressividade abstrata de Henry Moore, podemos descobrir e nos
deslumbrar das diversas manifestações escultóricas do corpo humano de que o
escultor é capaz de realizar.

7
UNIDADE 1 | CULTURAS E GÊNEROS

FIGURA 5 – TORSO MASCULINO

FONTE: Disponível em: <http:// www.classica.org.br>. Acesso


em: 22 abr. 2009.

O corpo humano sempre foi o desafio e a expressão máxima da linguagem


escultórica. Uma das manifestações mais interessantes da figura humana é o
torso, uma escultura de parte do corpo humano com destaque para o elemento
central, que consta do tórax. Representada em nu artístico, figuras femininas e
masculinas, personificando divindades ou alegorias, a figura humana se revela
em vários formatos e circunstâncias conforme a época e civilização e em todos os
gêneros.

Outra presença marcante da escultura é sua relação com a arquitetura.


Considerada um complemento arquitetônico, por suas características espaciais,
só depois de séculos, que a escultura se afirma como uma arte independente. Ao
falar de afinidades, na busca de entendimentos sobre a linguagem escultórica,
surgem teorias como esta que considera a escultura como situada entre a
arquitetura e a pintura. De um lado, ela se baseia na estrutura, no espaço, nas
formas abstratas como a obra arquitetônica. Por outro constituído pela imitação,
simbolismo e representação da pintura. Essa dicotomia revela as perspectivas
distintas, porém que se completam no âmbito da escultura.

No decorrer dos estudos, há de se entender que a representação da


escultura se modifica, conforme os requisitos histórico-sociais das civilizações.
Em um momento ela é realista, em outro busca a abstração ou a simplificação
formal. O importante é compreender que essas referências são para atender as
necessidades de uma época, o que torna a disciplina interessante: ao vincularmos
o olhar para a escultura e sua representação, estaremos também focando a
concepção filosófica de um período histórico. Ao interpretar a escultura, vamos
decodificar o contexto humano de uma época.

8
TÓPICO 1 | CONCEITOS DA ESCULTURA

Esperamos que esses estudos possam contribuir para o conhecimento da


linguagem escultórica, bem como instigar sua apreciação e com isso, proporcionar
o entendimento do pensamento humano por meio da história e cultura.

4 GÊNEROS DA ESCULTURA
Um dos objetivos dessa unidade é conhecer os gêneros que cercam a
escultura como linguagem artística. Mas afinal, o que é gênero?

Ao se tratar de gênero, estamos lidando com certo “estilo”. Por exemplo,


na literatura, temos uma variedade de gêneros, que configuram as características
da composição. Assim temos o gênero lírico, o gênero épico e o gênero dramático.
Em escultura, temos gêneros que compartilham com outras linguagens, como a
pintura.

O gênero na arte foi instituído como conceito a partir do Renascimento


e principalmente no século XVI, quando os artistas começaram a avaliar suas
obras por meio de estilos. Da pré-história até 1500-1600, são historiadores,
artistas e profissionais da arte que opinam a respeito do gênero na história. Uma
hipótese para tal surgimento tardio do gênero na história talvez seja a mudança
de concepções do ser humano: até a renascença, a filosofia de vida se baseava, no
geral, na religiosidade e na mitologia, no divino ou pagão, voltado à natureza,
aos ídolos e divindades. Não havia necessidade de conceituar ou de reter
nomenclaturas.

Outro precedente seria a valorização da linguagem do artista como


indivíduo. Até a Idade Média os escultores eram incumbidos de trabalhar para a
soberania religiosa ou política, tratados como meros artesãos. Com o surgimento
da burguesia é que os artistas iniciam sua jornada como profissionais liberais,
pagos por pedidos e encomendas de retratos e outros. É possível que isso também
tenha dado vazão à diversidade e conceituação dos gêneros.

E
IMPORTANT

Preste atenção! Vamos em seguida, conhecer alguns principais gêneros da


escultura, bem como as referências escultóricas inseridas em cada um.

9
UNIDADE 1 | CULTURAS E GÊNEROS

Os principais gêneros da escultura são:

l Gênero Mitológico.
l Gênero Religioso (subgêneros: cerimonial e funerário).
l Gênero Alegoria.
l Gênero Retrato (autorretrato).

Os gêneros da escultura são quatro grandes grupos com suas devidas


subdivisões. Em cada gênero, podemos encontrar esculturas inclusive com nomes
específicos que revelam suas funções junto ao contexto em que estão inseridas.

O Gênero Mitológico representa os mitos e crenças e está relacionado


com as divindades e heróis da antiga Grécia. Exemplos: as esculturas de atlante,
cariátide, herma.

Atlante: É um tipo de escultura ligada à arquitetura. No lugar da coluna se


apresenta a forma de um homem, de corpo musculoso e com os braços erguidos
sobre a cabeça, simulando a ideia de suportar o peso da construção. O nome
atlante surge da mitologia grega com o titã Atlas, que é condenado por Zeus a
carregar o globo terrestre em seus ombros. Utilizado principalmente na Grécia, e
nos movimentos artísticos subsequentes da Renascença, Neoclassicismo, Barroco
e Rococó, tanto no exterior como no interior das edificações. No século XVII fora
empregado em proas e popas de navios.

FIGURA 6 – ATLANTE NO TRIBUNAL DE WOOSTER

FONTE: Disponível em <http://www.pt.wikipedia.org/wiki/


Atlante>. Acesso em: 22 abr. 2009.

10
TÓPICO 1 | CONCEITOS DA ESCULTURA

Cariátide: é a versão feminina do atlante. Usada também como coluna de


sustentação na arquitetura, esse tipo de gênero mostra a elegância e ao mesmo
tempo a imponência dessa figura feminina.

FIGURA 7 – CARIÁTIDE

FONTE: Disponível em: <h://www.unav.es/.../2004/


descouvre/Cariatide.jpg>. Acesso em: 22 abr. 2009.

Herma: O nome se origina do deus grego Hermes, ligado à sorte e


fertilidade. Uma herma era uma espécie de pilar quadrado ou retangular, feito
em terracota, pedra ou bronze. Sobre esse pilar constava a cabeça de Hermes, com
barba por representar força física. Usado como símbolo de proteção, era colocado
nas ruas e portas para os respectivos viajantes e moradores.

11
UNIDADE 1 | CULTURAS E GÊNEROS

FIGURA 8 – HERMES

FONTE: Disponível em: <http://commons.wikimedia.org/wiki/


File:Herma>. Acesso em: 22 abr. 2009.

O Gênero Religioso se refere aos conceitos religiosos de uma cultura, esse


gênero se manifesta em dois subgêneros: o cerimonial e o funerário. O cerimonial
está ligado aos objetos e esculturas usados em rituais e cerimônias, um exemplo é
a estátua de roca. O funerário, como o próprio nome orienta, abarca os elementos
escultóricos voltados para o mortuário. Como exemplo, temos a efígie.

Efígie: integrado a monumentos fúnebres, encontrado principalmente


em igrejas. A efígie é a representação de corpo inteiro de um indivíduo falecido
de importância social. Feitas de madeira ou pedra, as esculturas podem ser
encontradas deitadas, ajoelhadas ou em pé, quase sempre em postura de oração,
com as mãos justapostas.

12
TÓPICO 1 | CONCEITOS DA ESCULTURA

FIGURA 9 – EFÍGIE

FONTE: Disponível em: <http://gloriadaidademedia.blogspot.


com/2008_06_01_archive.html>. Acesso em: 22 abr. 2009.

E
IMPORTANT

Efígie é a representação de um indivíduo real, simbólico ou fictício. Pode ser


o retrato de uma pessoa ou de uma divindade, tal como apresentado em moedas, por
exemplo. Na escultura, está associado a monumentos fúnebres.

Estátua de roca: as estátuas de roca são imagens sacras, normalmente


vestidas com trajes e tecidos. São destinadas para as procissões de culto católico.
Sua demanda esteve presente no período Barroco até o século XIX. Algumas ainda
são utilizadas e podem ser encontradas em igrejas. Fazem parte do subgênero
cerimonial do gênero religioso.

13
UNIDADE 1 | CULTURAS E GÊNEROS

FIGURA 10 – IMAGEM DE ROCA REPRESENTANDO CRISTO


COM O SÍMBOLOS DA PAIXÃO. MUSEU DE PERNAMBUCO.

FONTE: Disponível em: <www.wikimedia.org/wikipedia/


commons>. Acesso em: 22 abr. 2009.

O Gênero Alegoria é a representação de um pensamento, um ideal ou um


conceito por meio da forma figurada. A escultura equestre é um exemplo.

Escultura Equestre: essa escultura é uma espécie de homenagem para


glorificar personalidades importantes de uma época. Por meio do posicionamento
das patas do cavalo, obtém-se a simbologia da morte do indivíduo: morte de causa
natural quando as quatro patas estiverem posicionadas no chão; morte em ação
com três patas fixas no chão; morte em batalha com duas patas suspensas no ar.

14
TÓPICO 1 | CONCEITOS DA ESCULTURA

FIGURA 11 – ESTÁTUA EQUESTRE EM BRONZE DE MARCO


AURÉLIO. II d.C.

FONTE: Disponível em: <http://umolharsobreomundodasartes.


blogspot.com>. Acesso em: 22 abr. 2009.

O Gênero Retrato é a descrição, a imagem de um indivíduo como forma


de perpetuar suas feições. Um subgênero do retrato é o autorretrato: o artista se
personifica na escultura. Os bustos são exemplos perfeitos do gênero retrato.

Busto: é a representação de uma pessoa, geralmente políticos, reis,


monarcas, indivíduo de importância política ou religiosa. Ligada aos conceitos
do retrato, o escultor recriava a fisionomia acrescida da sua importância social.
O busto se limita na apresentação da cabeça, pescoço, ombros e parte do dorso,
incluindo, por vezes, o apoio numa espécie de pedestal.

FIGURA 12 – TIBERIUS PALERMO

FONTE: Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/


Ficheiro:Tiberius_palermo.jpg>. Acesso em: 22 abr. 2009.

15
UNIDADE 1 | CULTURAS E GÊNEROS

Algo curioso, mas que pode acontecer é a possibilidade de uma escultura


pertencer a dois ou mais grupos de gêneros. Como por exemplo, a máscara
mortuária que se reporta tanto para o Gênero Religioso quanto para o Gênero
Retrato. Serve para os dois objetivos: para eternizar a imagem do morto como
para o ritual funerário, apesar de seu conceito estar mais para esse último.

Máscara Mortuária: a máscara mortuária convinha para perpetuar a


imagem do morto. Os materiais utilizados para sua confecção era cera ou gesso
(em alguns casos a folha de ouro) e seu processo se sucedia diretamente no rosto
do indivíduo. A máscara também servia à arte funerária. A cultura egípcia usava
como parte do processo da mumificação. Culturas europeias utilizaram a máscara
mortuária como efígies, no século XVII.

FIGURA 13 – MÁSCARA MORTUÁRIA – MICENAS, CÍRCULO


TUMULAR

FONTE: Disponível em: <http://www.fflch.usp.br/dh/heros/


traductiones/pausanias/micenas.html>. Acesso em: 22 abr. 2009.

TURO S
ESTUDOS FU

No decorrer de nossos estudos, veremos outras manifestações escultóricas e


seus gêneros. O objetivo é interagir esse conhecimento com o contexto histórico-cultural.

UNI

Vamos ao resumo deste Tópico! O objetivo é reunir as principais ideias sobre


conceitos e gêneros da escultura.

16
TÓPICO 1 | CONCEITOS DA ESCULTURA

LEITURA COMPLEMENTAR

UM BURACO NO ESPAÇO

Josep Maria Subirachs

Por que o ser humano tem necessidade da obra de arte? Como é que nos
outros seres vivos não vemos nenhum indício de uma atividade parecida? Não
nos enganemos com o ninho, a colmeia ou a teia de aranha, imaginando que tem
algo a ver com a arquitetura; falta-lhe a premissa fundamental do homem: o estilo.
Sim: essas construções frequentemente de grande beleza carecem naturalmente
do mais leve indício de estilo: são só ferramentas, realizações instintivas para
prolongar a anatomia animal ou, dito de outra maneira, para aperfeiçoar a vida
fisiológica do ser. De certo modo não há nelas nada de essencial que as diferencie
de uma casca de uma tartaruga ou a plumagem de um pássaro. E é por isso que
o que chamamos de obra de arte, esta realização inútil – inútil do ponto de vista
material, embora para o ser humano indispensável a todas as luzes, pois aparece
acompanhando-o ao longo de toda sua história e também de sua pré-história
– serve-nos por sua vez para que possamos decifrar a diferença essencial que
separa o homem de outros seres, e que necessariamente deve ter, no processo
darwiniano da evolução, uma fronteira a partir da qual possa se afirmar que o
homem nasceu.

Onde situar tal linha divisória? Sem dúvida no momento em que o ser
tem consciência de que vive e de que sua vida tem um limite: trágica informação
perante a qual se rebela e inventa a arte para defender-se da desesperança.

A vida não é o oposto da morte, já que as duas parecem-se demasiado. O


verdadeiro oposto à morte deve ser algo subtraído, independente do biológico
e que, nascido do pensamento humano, como Minerva da cabeça de Júpiter,
sirva ao homem de antídoto contra a doença fatal, permitindo-lhe escapar, pela
“natureza” artificial que cria, do férreo ciclo dos seres vivos. Assim, a arte existe
porque o homem quer burlar a morte e procura – com muito pouco êxito ao final
– persistir mais além do inexorável final. E ao dizer que a arte se opõe à morte não
me refiro ao que correspondentemente se diz a cerca da hipotética imortalidade
do artista através de sua fama imarcescível, mas a uma realidade metafísica
baseada no caráter intemporal de sua obra.

Deste valor ou desta virtualidade da obra de arte beneficia-se o homem


em geral – esse homem espectador, gozador, usuário do fato artístico – ao sentir
abrigado, protegido do nada, da espada constante sobre sua cabeça, porque –
como diz Proust – “caso o nada seja a única verdade e todo o nosso sonho seja
inexistente, mas então pressentimos que será necessário que essas frases musicais,
estas noções que existem em relação ao nada, fiquem também sem realidade.
Pereceremos, mas levaremos como reféns estas divinas cativas que correrão
nossa sorte. E a morte com elas nos parecerá menos amarga, menos mísera, talvez
menos provável”.
17
UNIDADE 1 | CULTURAS E GÊNEROS

Chegando a este ponto vemos com claridade o papel criador do verdadeiro


artista: criador de seres que nos acompanham e nos consolam, nos iludem e nos
orgulham, nos desforram e nos dão a mão através do tempo – essa alcoviteira
que nos relaciona com a morte – para poder cruzar com uma certa serenidade a
frágil ponte.

E esses seres que nos acompanham tem nome e rosto: são a rainha
Nefertiti, os Guerreiros de Riace, o cavaleiro de Bamberg, os Serers da capela
mediceia, os Burgueses de Calais, o são Jorge de Montjuic, as Figuras reclinadas
de Moore...Não vêm a luz de cada dia, nem com facilidade, mas afortunadamente
constituem já uma povoação importante e conservam imarcescível, apesar da
erosão do tempo e dos bárbaros, uma auréola de imortalidade.

Entre as artes espaciais, a arte escultórica situa-se entre a pintura e a


arquitetura. Ocupa um lugar semelhante ao da poesia entre as artes do tempo,
à metade do caminho entre a narrativa e a música. E esse caráter intermediário
confere certo parecido à escultura e à poesia.

Menos “utilitária” que a arquitetura e mais minoritária que a pintura,


a escultura chega dificilmente ao grande público. Todo mundo, em efeito, tem
necessidade de acolher-se numa casa e sente desejos de pendurar algo na parede
que quebre a monotonia da mesma. Todos leem de vez em quando algum texto
ou ouvem música. Mas é menos frequente e estimulante a afeição pela escultura
ou pela poesia. Esta limitação da escultura é também sua grandeza, se pensarmos
que a arte, como o seu próprio nome indica, é artifício. Comparada com as demais
especialidades artísticas, a escultura é mais artificiosa: sua “necessidade” é menos
evidente e, portanto, entra de cheio no que poderíamos chamar “necessidade da
vontade”: necessidades criadas pelo homem e que o situam num nível, não só
superior, mas radicalmente diferente aos outros seres que são escravos de suas
necessidades e desejos.

Para aproximar-nos da compreensão que o caracteriza, pelo menos em sua


origem, a diferentes artes plásticas, deve-se ter presente que o desenho é a arte da
linha, assim como a pintura é a arte da superfície, a escultura a arte do volume
convexo e a arquitetura a arte da concavidade. Acaso o estilo virá de alguma forma
motivado pela combinação destes elementos básicos, afastando a obra de sua
pureza teórica, mas enriquecendo com isso suas possibilidades. Linha, superfície,
convexidade e concavidade são para as diferentes artes plásticas como as cores
puras do pintor que, misturadas sabiamente na paleta, dão uma infinidade de
matizes. O estilo será obtido em parte pelo maior ou menor afastamento da obra
da sua origem teórica.

O escultor Joan Rebull, num texto de 1929, diz que “uma escultura é um
buraco no espaço” Esta paradoxal frase reforça-nos a ideia do caráter volumétrico
da escultura, porque, em efeito, o que é um buraco no espaço, essa forma
tridimensional que chamamos escultura?

18
TÓPICO 1 | CONCEITOS DA ESCULTURA

Em sua frase Rebull intui uma maneira de ver a obra desde o ponto de
vista fenomenológico, que nos traz à memória uma ideia do filósofo francês
Maurice de Merleau-Ponty, exposta em sua obra Sens et non-sens: “O aspecto do
mundo mudaria completamente para nós se conseguíssemos ver como coisas os
intervalos entre as coisas...”

Por estar mais próximo da arquitetura, a obra do escultor encontra-se


mais atada à matéria do que à obra do pintor. Dessa forma, o escultor deve ter
mais em conta a técnica e é inimaginável uma obra escultórica onde a matéria
em que está realizada não tenha sido tratada com respeito. O escultor, bem como
o arquiteto, colabora com os elementos escolhidos, e será um mau artista se
contradiz a natureza do material em que trabalha.

Os escultores utilizaram quase todos os materiais que permitem realizar


formas tridimensionais: o ferro, vidro, o marfim, os plásticos [...] Os novos tempos
trouxeram novos materiais para a escultura e ainda novas e originais formas de
entender essa arte. Talvez seja na arte da escultura onde vemos com maior clareza
que a forma é o resultado da união da ideia com a matéria, mas dialoga com ela
para conseguir o que deve ser o resultado de toda obra de arte: a materialização
da ideia.

FONTE: BOZAL, Valeriano. História geral da arte: escultura. Barcelona: del Prado, 1996. p. 9-12.

19
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você viu que:

• Sobre os conceitos: a escultura é a arte das representações no tridimensional,


sendo o volume sua qualidade inerente. Por muito tempo esteve relacionada
à arquitetura. Os relevos são manifestação escultórica e se dividem em alto
e baixo relevo. A representação da escultura pode ser figurativa ou abstrata.
As principais técnicas são a modelagem, a fundição, a construção e a talha; os
materiais são os mais diversos. A forma mais idealizada em escultura é a figura
humana.

• Sobre o gênero: os principais gêneros da escultura são: Gênero Mitológico,


Gênero Religioso (com os subgêneros: cerimonial e funerário), Gênero Alegoria
e o Gênero Retrato (com o subgênero autorretrato). Existe a possibilidade de
uma escultura integrar dois ou mais gêneros.

20
AUTOATIVIDADE

A máscara mortuária é uma prática escultórica ligada ao


retrato e ao religioso. A máscara se torna instigante pelo processo
na qual é produzida: trata-se de perpetuar as feições do morto
usando diretamente o rosto do falecido! Deve ser perturbador e
curioso! Mas era talvez a única forma de preservar a memória do indivíduo
na sua tridimensionalidade. As máscaras eram feitas principalmente para a
realeza, a aristocracia e pessoas importantes como artistas e poetas. Uma das
máscaras mortuárias mais famosas é a do faraó Tutankamon. A atividade
proposta é a seguinte: faça uma pesquisa (bibliográfica ou internet) e busque
sobre máscaras mortuárias e descubra outras personalidades famosas de nossa
história que foram imortalizadas pelo processo da máscara. Vamos à pesquisa!

21
22
UNIDADE 1
TÓPICO 2

GÊNEROS E HISTÓRIA

1 INTRODUÇÃO
A história da arte, normalmente, se concentra na contextualização das
civilizações ocidentais, pois nossa maior influência sócio-histórico-cultural é da
colonização europeia.

Incluímos nessa unidade a manifestação artística de outras culturas que


também são referências para o nosso conhecimento em Artes e gênero. Vamos
perceber que a religiosidade é o gênero predominante dessas culturas e de que a
arte tem a função de mediar o homem e suas divindades, seja em cerimoniais ou
rituais funerários, na ornamentação ou na arquitetura.

A finalidade é revelar as principais características dessas culturas e suas


contribuições para a arte escultórica numa perspectiva geral. São elas: a escultura
chinesa, indiana, africana e pré-colombiana. Vamos conhecê-las.

2 ESCULTURA CHINESA
A filosofia chinesa influencia o cotidiano e a arte. Na versão oriental, o
escultor é um artesão que procura colocar a natureza como um meio para atingir o
equilíbrio e a comunhão com todas as coisas. O artista chinês referencia a natureza.
BOZAL (1996, p. 65) comenta que “o artista ocidental é fundamentalmente um
criador, enquanto que o chinês é antes de tudo um contemplador”.

Os gêneros de suas esculturas estão voltados para o religioso, cerimonial


ou funerário. Imagens de pessoas, animais, divindades convertidas em objetos,
estatuetas, esculturas, ornamentos. As vertentes mais importantes são os
trabalhos em jade, a modelagem em argila e a fundição em bronze. O jade para os
chineses é a pedra preciosa mais bela: dotada de virtudes, entre elas, a sabedoria e
a bondade. O jade é uma rocha cristalina, translúcida, de brilho vítreo, compacta,
de várias cores, do conhecido branco leitoso, passando pelos verdes, azuis,
amarelos, vermelhos até os pretos. Devido ao seu material ser de grande dureza, o
trabalho com o jade é muito difícil. Por isso, os objetos são de pequeno porte, mas
as estatuetas são de uma belíssima forma e mostram a destreza de seus artistas.

23
UNIDADE 1 | CULTURAS E GÊNEROS

FIGURA 14 – ESCULTURA EM JADE

FONTE: Disponível em: <http://portuguese.cri.


cn/1/2004/11/05/1@18372.htm>. Acesso em: 22 abr. 2009.

A fundição em bronze desenvolve criaturas representativas como dragões,


tigres, serpentes e pássaros. Esses animais - e outros - possuem um simbolismo
ligado aos conceitos filosóficos chineses e aparecem em objetos e ornamentos.
Essa característica da escultura aliada à decoração, é para o artista chinês, um
evento singular: a decoração precisa ter sentido e não uma mera superficialidade.

FIGURA 15 – TIGRE, SÉCULO X a.C, BRONZE

FONTE: BOZAL, Valeriano. História geral da arte: escultura. Barcelona:


del Prado, 1996.

A modelagem em argila tem a sua representatividade maior nos


Guerreiros de Terracota. Em 1975, se fez uma das descobertas arqueológicas
mais fascinantes: um exército de esculturas em argila de tamanho natural, em
ótimo estado de conservação. Figuras principalmente de homens e cavalos, em
posição de combate. Os guerreiros portam armas - espadas, lanças, arcos - feitas
de bronze. Esse conjunto com mais de 8.000 esculturas, faz parte da arte funerária
e tumba do imperador Shih Huang Ti da dinastia Ch’in (221-206 a.C.).

Para a construção de tais esculturas, foram empregados moldes, para


facilitar a extensa produção: são maciças da cintura para baixo; o torso é oco
acrescido dos antebraços, mãos e cabeça. O acabamento é meticuloso: os rostos são
personalizados e os adereços e penteados são detalhistas. Os “guerreiros de Xian”,

24
TÓPICO 2 | GÊNEROS E HISTÓRIA

como são conhecidos também, eram coloridos para criar realismo às esculturas e
revestidas com uma espécie de laca. A exposição ao ar provocou a descoloração
das peças. E é por isso e pela fragilidade da argila que os arqueólogos trabalham
até hoje, com cuidado, para preservar ao máximo a integridade das peças.

FIGURA 16 – GUERREIROS DE TERRACOTA

FONTE: Disponível em: <http://www.acemprol.com/viewtopic.


php?f=16&t=141>. Acesso em: 22 abr. 2009.

E
IMPORTANT

Ao contrário da arte ocidental, a arte chinesa não adota o nu na escultura, e


cultiva poucos retratos.

3 ESCULTURA INDIANA
A cultura indiana tem como princípio a religiosidade, sendo três as
principais formas de religião: o Budismo, o Hinduismo e o Janismo. Para tanto,
templos são construídos para as oferendas e cultos às divindades. Isso gera uma
relação direta da escultura com arquitetura e construções.

Mas para adornar os templos com a simbologia das referidas religiões, a


escultura cria o aspecto de relevo e não de tridimensionalidade. Os relevos são
narrativos e muitos contam a história de Buda. A representação de Buda era por
meio de símbolos. Só mais tarde (entre os séculos I e V) a figura de Buda aparece
em forma humana, representada com a típica mão direita levantada em posição
de bênção.

25
UNIDADE 1 | CULTURAS E GÊNEROS

FIGURA 17 – BUDA SEDENTO, SÉCULOIII , ARDÓSIA

FONTE: BOZAL, Valeriano. História geral da arte: escultura.


Barcelona: Del Prado, 1996.

Na arte escultórica indiana também surgem algumas figuras humanas


representando fertilidade, bondade e proteção por meio de divindades femininas
e masculinas. A arte indiana tem como principal característica de formalizar na
matéria, os conteúdos espirituais. Portanto, animais como o leão e o elefante têm
a sua simbologia representativa na força e poder.

Com essa ideia da representatividade, encontram-se também as imagens


de corpos sensuais, que surgem mais tarde no século IV a VI: as formas elegantes
e dinâmicas revelam na verdade, a união da divindade com a alma humana.
Dentro dessa configuração estão os conceitos do tantrismo e o tema da fertilidade.
Os materiais mais usados foram o bronze e vários tipos de pedras, como o granito
e ardósia.

4 ESCULTURA AFRICANA
A escultura africana tem a religião como base para a sua arte. Mas a
religião africana nada tem a ver com templos ou divindades. A atitude religiosa
está na veneração dos mortos e a crença nos espíritos da natureza. Esse modo de
ser e viver vincula o indivíduo de forma direta com o seu meio natural, assim a
água, as árvores e os animais são tratados como portadores do sagrado e seus
rituais são destinados, por exemplo, aos espíritos da floresta.

Por estarem ligados à natureza e suas manifestações cíclicas, acredita-se


que a morte seja somente uma transição, e que é dever dos vivos e seus familiares

26
TÓPICO 2 | GÊNEROS E HISTÓRIA

de prestar homenagens frequentes aos mortos. Essa condição de vida determina


a forma de ser da arte, que está vinculada a reverenciar os espíritos e a morte.
As máscaras e esculturas fazem uma espécie de entremeio ente o homem e as
entidades sobrenaturais.

FIGURA 18 – MÁSCARA DA COSTA DO MARFIM, MADEIRA E METAL

FONTE: BOZAL, Valeriano. História geral da arte: escultura. Barcelona:


del Prado, 1996.

As máscaras estão impregnadas de simbolismo. Suas formas são


geométricas, contrastantes, cheias de cores e apliques. Sua preocupação não é a
fidelidade com o real, mas somente com a representatividade. As esculturas são
mais realistas e procuram legitimar a figura humana: se empenham nos detalhes,
nas formas naturais do corpo. Pode acontecer de não haver proporção entre as
partes: a cabeça pode ser maior que os membros, por exemplo. Mas isso tem a ver
com a filosofia africana: de que o sobrenatural se sobrepõe ao real.

27
UNIDADE 1 | CULTURAS E GÊNEROS

FIGURA 19 – KAYA-MBUA – 1800, MADEIRA

FONTE: BOZAL, Valeriano. História geral da arte: escultura.


Barcelona: del Prado, 1996.

O material utilizado extensamente para a produção de máscaras e


esculturas é a madeira. Os motivos talvez tenham sido a sua acessibilidade na
natureza e sua potencialidade religiosa: a árvore é tida como guardiã de poderes
mágicos. Outros materiais empregados são: a pedra, o marfim, a argila e metais
como o ouro, o bronze e o cobre.

E
IMPORTANT

A cultura africana foi inspiração para os artistas do século XX. O artista Pablo
Picasso se baseou na simplificação e geometria africanas para criar suas pinturas cubistas.

5 ESCULTURA PRÉ-COLOMBIANA
As manifestações mais interessantes da cultura dos povos da América
pré-colombiana são os relevos e as esculturas, principalmente ao se tratar dos
olmecas, maias e astecas. Formas humanas, seres mitológicos, híbridos (homem
e animal) surgem em estatuetas e grandes esculturas nos templos e altares, muitas
vezes integrados à arquitetura.

28
TÓPICO 2 | GÊNEROS E HISTÓRIA

A arte tem caráter religioso e reverencia as forças divinas tanto da


natureza quanto da classe dominante: seus sacerdotes e reis tinham a premissa
da divindade. Para tanto as figuras de demônios, deuses, rituais se confundem
com cenas de guerra ou da vida cotidiana dos aristocratas. Por vezes, tais relevos
ou esculturas são representados de maneira real e detalhista e outras de forma
simplificada.

A escultura olmeca é conhecida principalmente pelas cabeças gigantes,


encontradas nas áreas arqueológicas de La Venta, Três Zapotes e São Lorenzo.
Essas colossais cabeças que podem medir entre 2 a 3 metros de altura e pesar de 6
a 25 toneladas, possuem vestígios de tinta, com a hipótese de que eram pintadas.
O que impressiona é a expressão dos rostos e o realismo das características faciais.

FIGURA 20 – CABEÇA COLOSSAL – SÉCULOS IX-VII a.C.

FONTE: BOZAL, Valeriano. História geral da arte: escultura.


Barcelona: Del Prado, 1996.

A representação mais famosa da arte asteca é o relevo da Pedra do Sol.


Esculpido num bloco de basalto com 3,60 metros de diâmetro, possui o peso de
24 toneladas. Descoberto no final do século XVIII na cidade do México. Em seu
centro encontra-se o deus sol Tonatiuh que é circundado por vários símbolos e
inscrições relacionados com o respectivo astro.

29
UNIDADE 1 | CULTURAS E GÊNEROS

FIGURA 21 – RELÓGIO DO SOL

FONTE: Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Piedra_del_


Sol.jpg>. Acesso em 22 abr. 2009.

Da escultura maia, uma vertente importante são os relevos que representam


personalidades importantes comprimidas nos limites da pedra. Esculpidas com
detalhes os ornamentos e roupas, as figuras aparecem geralmente na posição
frontal, acompanhadas de inscrições hieroglíficas.

FIGURA 22 – ESTELA DE MADRI, 600-900. PEDRA

FONTE: BOZAL, Valeriano. História geral da arte: escultura.


Barcelona: del Prado, 1996.

30
TÓPICO 2 | GÊNEROS E HISTÓRIA

UNI

Esse é o momento do RESUMO! Vamos recapitular os pontos importantes


desse tópico.

31
RESUMO DO TÓPICO 2
Nesse tópico, apresentamos a manifestação artística escultórica de
algumas culturas para servir de referência para o nosso conhecimento em
Gêneros da Escultura. A religiosidade é o gênero dominante dessas culturas.

l A escultura chinesa são imagens de pessoas, animais, divindades que estão em


objetos, estatuetas, esculturas, ornamentos. A escultura chinesa está aliada à
decoração, sempre baseada no simbolismo e não em mera superficialidade.

l A escultura indiana tem uma relação direta com arquitetura devido aos
templos, todos adornados com relevos que são narrativos: a maioria conta a
história de Buda. As imagens de animais e figuras humanas são simbólicas e
representam divindades ou virtudes como força e poder.

l A escultura africana está voltada à veneração dos mortos e a crença nos espíritos
da natureza. As máscaras e esculturas são tidas como uma analogia do homem
com o sobrenatural. O material mais utilizado é a madeira.

l As culturas pré-colombianas reverenciam as forças divinas da natureza e da


classe dominante. Figuras humanas, seres mitológicos, híbridos, cenas de
guerra ou da vida cotidiana dos aristocratas surgem em relevos, estatuetas e
esculturas colossais nos templos e altares, muitas vezes integrados à arquitetura.

32
AUTOATIVIDADE

As culturas aqui apresentadas possuem o gênero religioso


como princípio importante, que serve de referência para a sua
vivência e sua arte. Pesquise outras culturas, procure conhecer sua
arte, direcione seu interesse para a escultura e procure identificar
o gênero predominante. Esse é um ótimo exercício de pesquisa que serve para
instigar o seu interesse pela escultura, como linguagem artística.

33
34
UNIDADE 1
TÓPICO 3

PRIMÓRDIOS DA HUMANIDADE

1 INTRODUÇÃO
A pré-história pode ser considerada um dos períodos mais significativos
da arte. Sua importância vem sustentada pelo desenvolvimento do homem, bem
como pelas suas conquistas que seriam os parâmetros para toda uma história
futura de inventos e progressos. Por ser uma época anterior à escrita, os únicos
registros são baseados em pinturas nas cavernas e nos objetos e estatuetas
pesquisadas por arqueólogos e historiadores. É a ciência moderna que vem
restituir o homem do passado.

É nesse período que surgem os princípios da Arte, um diferencial


importante se levarmos em consideração, que é uma manifestação única dos
seres humanos e que nos distingue dos animais. O homem procura sobrevivência
e para tanto precisa superar o meio em que vive. Talvez essa tenha sido a questão
que levou os humanos a fazer arte, é a crença na magia, para exceder a natureza.
O homem primeiro domina a imagem, a forma do animal, para depois caçá-lo.
Acredita-se que ele cumpria primeiro um ritual para depois sair à captura de
animais para seu alimento. Parafraseando Fischer (1983, p. 19) “[...] a arte em
sua origem foi magia, foi um auxílio mágico a dominação de um mundo real
inexplorado”.

O historiador Janson (2001), teoriza de que a arte pré-histórica não servia


somente para “abater” animais, mas também para “criá-los”. Sua teoria se baseia
em imagens das cavernas que concerne essa ideia: da possibilidade do homem
pré-histórico, em tempos de caça difícil, criar imagens realistas de animais, para
quem sabe, atraí-los, indo contra a realidade da escassez.

Com esses textos, podemos verificar a importância da arte já na pré-


história. Vamos conhecer agora, como a escultura contribuiu para o contexto
cultural da humanidade nesse período.

2 A ESCULTURA NA PRÉ-HISTÓRIA
A pré-história consta de um período aproximado entre 35.000 a.C. a 3.500
a.C. Essas datas são baseadas no livro História Geral da Arte de H. W. JANSON
(2001). A pré-história se divide em quatro momentos: os chamados Paleolítico

35
UNIDADE 1 | CULTURAS E GÊNEROS

Superior, Mesolítico, Neolítico e a Idade dos Metais. Vamos estudar os dois


períodos mais importantes da expressão escultórica: o Paleolítico Superior e o
Neolítico.

2.1 PALEOLÍTICO SUPERIOR


Nesse período da pré-história, os primeiros hominídeos tinham como
base a caça, a pesca e a coleta. Possuíam o controle do fogo e tinham instrumentos
como facas e machados a partir de pedras, madeira, marfim e ossos. Eram
nômades, viviam em grupos nas cavernas, tinham uma linguagem rudimentar,
usavam trajes contra o frio. Enterravam seus mortos e protegiam o túmulo com
pedras demonstrando preocupação com seus entes e familiares. Percebe-se que o
homem encontra formas de dominar a natureza e assim se adaptar e sobreviver
às intempéries do seu meio.

O grande destaque do Paleolítico Superior é a pintura rupreste: as pinturas


feitas nas cavernas e rochas. As mais famosas são de Altamira, na Espanha e
Lascaux, na França. As imagens de animais e figuras humanas realizadas de
uma maneira naturalista indicam também o significado de magia: da crença de
um poder sobrenatural em primazia da natureza. Há uma mudança de atitude
do homem diante do mundo que o cerca: de mera aceitação da natureza para a
tentativa de reproduzi-la, ao criar imagens. E ao criar imagens, o homem cria as
primeiras inscrições da Arte.

FIGURA 23 – CAVALO SELVAGEM – 30.000 a.C, MARFIM

FONTE: BOZAL, Valeriano. História geral da arte: escultura. Barcelona : del


Prado, 1996.

Nosso destaque é para a escultura com o predomínio de animais e figuras


femininas. Não há presença de figuras masculinas. Os primeiros materiais usados
devem ter sido a madeira e a argila, mas em função da fragilidade dos mesmos,
não sobreviveram. O osso foi outro material explorado pelo homem para esculpir.
Por gravar com facilidade, ser mais leve e eficaz talhava-se adornos delicados e
seu uso era voltado principalmente para rituais. Surgem também os chamados

36
TÓPICO 3 | PRIMÓRDIOS DA HUMANIDADE

bastões de comando, lançadores de dardos, arpões e pequenas figuras como


adorno e objeto pessoal. As estatuetas mais antigas foram feitas em marfim de
mamute e tem aproximadamente 30.000 anos a.C. e possuem formas ornamentais
geométricas.

FIGURA 24 – BASTÃO DE COMANDO, 18.000 -10.000 a.C.

FONTE: BOZAL, Valeriano. História geral da arte: escultura. Barcelona:


Del Prado, 1996

Muito da escultura do paleolítico está em relevos em rochas e cavernas


e têm relação com as pinturas ruprestes, principalmente relevos de animais.
Uma figura feminina em relevo que se destaca é a Vênus de Laussel (Dordofia,
França) de 25.000 a.C. Realizada em pedra calcária, essa figura mede em torno
de 44 centímetros de altura e representa uma mulher segurando uma espécie
de chifre. Suas características sexuais são exageradas, suas linhas são grosseiras,
porém expressivas.

FIGURA 25 – VÊNUS DE LAUSSEL – 25.000 a.C. RELEVO SOBRE


ROCHA

FONTE: BOZAL, Valeriano. História geral da arte: escultura.


Barcelona: Del Prado, 1996.

37
UNIDADE 1 | CULTURAS E GÊNEROS

A manifestação escultórica mais importante desse período são as Vênus


Esteatopígicas: figuras de mulheres com partes do corpo exageradas como
as nádegas, o abdome, os seios e as coxas. É provável que o destaque desses
elementos tenha a intenção de representação da fertilidade, seriam as primeiras
deusas usadas em partos ou em rituais de iniciação feminina. Outros estudos
etnológicos sugerem que tais figuras possam representar espíritos protetores
de animais e homens: permitindo a abundância de um e o sucesso da caça para
outro. São peças de pequena estatura, mas temos de levar em consideração a
dificuldade em trabalhar as pedras e as ferramentas rudimentares, bem como a
sua função: de servir como amuletos ou objetos de adorno.

FIGURA 26 – VÊNUS DE WILLENDORF

FONTE: Disponível em: <http://contemplalaobra.blogspot.


com/2008_05_01_archive.html>. Acesso em: 22 abr. 2009.

A Vênus de Willendorf (Áustria) é anterior às pinturas ruprestes, com a


conclusão de que a escultura surge antes da pintura. É uma estatueta de 10,45
cm. de altura, em pedra calcária e é claro, possui aspectos anatômicos bastante
voluptuosos. Apesar das Vênus Paleolíticas não terem detalhes no rosto e outros
membros (como braços) serem simplificados, a Vênus de Willendorf possui um
penteado elaborado.

2.2 NEOLÍTICO
No período que corresponde a 10.000 a 3.500 a.C. o clima da Terra se torna
ameno, tornando a sobrevivência do homem mais simples. Agora o homem se

38
TÓPICO 3 | PRIMÓRDIOS DA HUMANIDADE

torna agricultor, e de nômade passa a sedentário. Deixa das cavernas para morar
em casas por ele construídas. Aperfeiçoa seus instrumentos e ferramentas, cria
panelas e potes para guardar seus mantimentos, constrói canoas e jangadas,
domestica animais para transporte e alimento. Tece fios para a produção de trajes.
Inventa a roda e domina o fogo. Produz os primeiros metais. Organiza-se em
família e divisão de trabalho.

Constroem monumentos e construções em pedra: os menires e dolmens.


Os menires são pedras fincadas na terra em posição vertical. Talvez sejam os
primórdios dos totens e das colunas. Poderiam ter sido usadas para rituais ou
marcos territoriais. Percebeu-se que posicionar uma pedra horizontal sobre duas
pedras verticais, caracterizava-se uma construção mais complexa. Assim surgem
os dolmens: transformados em túmulos ou espaços cerimoniais. Considerado um
dos primeiros grandes monumentos em pedra da humanidade, Stonehenge no
sul da Inglaterra, é um conjunto de pedras que possui uma espécie de altar no
centro e induz a teoria de que essas construções tinham motivos religiosos. Os
homens neolíticos mantêm suas manifestações religiosas baseadas na natureza e
essa crença vai se revelar também na Arte.

FIGURA 27 – STONEHENGE

FONTE: Disponível em:<http://commons.wikimedia.org/wiki/


File:Stonehenge>. Acesso em: 22 abr. 2009.

E
IMPORTANT

Algumas esculturas colossais se tornam verdadeiros monumentos, como o


Cristo Redentor ou a Estátua da Liberdade. Um monumento é construído com o intuito de
homenagear personalidades, comemorar um acontecimento ou ainda ter uma representação
simbólica. Muitos monumentos acabam por se tornar ícones de sua cidade ou país, seja pela
sua imponência, beleza ou sentido histórico.

39
UNIDADE 1 | CULTURAS E GÊNEROS

FIGURA 28 – O PENSADOR, 3.500 a.C. TERRACOTA

FONTE: BOZAL, Valeriano. História geral da arte: escultura.


Barcelona: del Prado, 1996.

As esculturas neolíticas são pequenas figuras de animais e humanos


que se revelam detalhistas e de um significado tridimensional intenso, como é o
exemplo “o pensador”. As estatuetas femininas com peculiares volumes - Vênus
Esteatopígicas - surgem com funções distintas: como amuletos ou oferendas
relacionadas com a mulher e a natureza. Algumas tendem a uma simplificação
esquemática. Suas descobertas arqueológicas revelam seus locais como sendo
para o culto: numerosas figuras enterradas em nichos em edificações, específicas
para rituais. Aqui se desvenda o fato de que os homens pré-históricos tinham
uma divindade feminina como princípio determinante de suas vidas.

40
TÓPICO 3 | PRIMÓRDIOS DA HUMANIDADE

FIGURA 29 – ORANTE, 3.400 a.C. TERRACOTA

FONTE: BOZAL, Valeriano. História geral da arte: escultura.


Barcelona: del Prado, 1996.

No neolítico, encontra-se uma variedade de estatuetas em diversos


materiais. Por dominar o fogo, o homem desenvolve nesse período, a metalurgia
e a cerâmica. A substituição da pedra pela argila, teria sido não somente pela
facilidade de manuseio do material, mas também por suas qualidades artísticas.

Por volta de 5.000 a.C., surge a cerâmica, no mesmo tempo em que se


desenvolve os metais. O cobre é o primeiro metal obtido e trabalhado, mas não
possui uma desenvoltura como a cerâmica. Temos objetos de adorno, algumas
joias, pequenas esculturas em metal, mas esse material acaba por ser transferido
na fabricação de facas e machados, mais convenientes ao uso cotidiano. Somente
na Idade dos Metais, com o bronze, que a metalurgia tem seu progresso e que
coincide com as primeiras grandes civilizações.

No final do Neolítico, surge a difusão de elementos culturais por meio de


migrações. Isso acontece em parte, pelo crescimento demográfico e também pela
procura de terras férteis e exploração de minerais e materiais preciosos. Todos
esses elementos muitas vezes podem conduzir a um fator original da época: a
guerra. O conflito gerou a extinção de alguns povoados, confirmando a presença
de outros tidos como culturalmente mais avançados. E ficaram assim distribuídos:

41
UNIDADE 1 | CULTURAS E GÊNEROS

Por volta de 4.000 a.C. já estavam marcadas as principais linhas da


colonização neolítica: para o centro e norte da Europa; para o Ocidente
e o Sul, pelo Mediterrâneo e o norte da África, com a colonização no
vale do Nilo; para o Leste, por Mesopotâmia e Irã, bifurcando-se para
alcançar o Indo e a longínqua China. (BOZAL, 1996, p.23).

O fim da Pré-história é marcado pelo advento da escrita, com a possibilidade


de registro e a História propriamente dita. Certas culturas transformam-se
em civilizações, com princípios sociais, econômicos e políticos definidos. As
civilizações da Mesopotâmia e o Egito são consideradas, pelos historiadores, as
mais antigas.

UNI

Encerramos aqui a contextualização da Pré-história. Vamos seguir adiante com


um dos berços da civilização, que é a Mesopotâmia. Mas antes, vamos a uma pausa, refletir
sobre as contribuições da Pré-história na escultura!

3 A ESCULTURA NA MESOPOTÂMIA
A Mesopotâmia é conhecida como “terra-de-entre-os-rios”, por se
localizar entre os rios Tigre e Eufrates. Por ser uma região ampla, fértil, porém
sem grandes defesas naturais, sempre esteve propensa a enchentes e outros
desastres. É aqui que tem origem a versão bíblica do dilúvio. Isso condicionou
o homem mesopotâmico a uma visão caótica da vida com base nas forças da
natureza como princípio para sua religião. Seu deus era uma espécie de mediador
perante outras divindades da natureza, como a água, o vento e os astros. Seu
sistema político e econômico era nomeado “socialismo teocrático” por ter
como base o templo como centro administrativo: seu deus era proprietário das
terras e da produção da população que se submetia às ordens por meio de um
administrador humano. Mais tarde, a ambição transforma esses administradores
em verdadeiros monarcas, mais preocupados em expandir seus domínios.

Sendo o templo o centro das atenções, vale destacar a arquitetura como


referencial mesopotâmico. Seus zigurates, espécie de pirâmide em degraus, são
famosos pelas dimensões e imponência estrutural. A lendária torre de babel se
origina dessas construções.

Os fatores geográficos também não ajudavam a formar um Estado único


e pacífico. Era comum a rivalidade e as invasões estrangeiras. De 3.500 a.C. a
650 d.C. - datas baseadas no livro História Geral da Arte de H.W.JANSON (2001)
- a Mesopotâmia foi habitada entre outros, pelos seguintes povos: sumérios,
acádios, amoritas, assírios, elamitas, os caldeus. Todos contribuíram para a arte

42
TÓPICO 3 | PRIMÓRDIOS DA HUMANIDADE

escultórica desse período, que se divide em três grandes momentos: Arte Suméria,
Arte Assíria e Arte Persa. Vamos perceber que o gênero religioso é o principal
norteador desses povos. O gênero alegoria se instala mais tarde, ao representar
em frisos e relevos as glorificações e simbologias referentes aos monarcas, cenas
mais idealizadas do que realizadas. Também a alegoria se encontra nos animais
híbridos, que significam força e proteção, instalados nos palácios e entradas.

3.1 ARTE SUMÉRIA


Em função dos aspectos geográficos, a Mesopotâmia possuía uma
abundância de argila. Em contrapartida, a pedra era escassa. As pedras tinham
de ser trazidas de lugares distantes. Essa realidade influenciou a arquitetura e a
escultura que se utilizou mais da argila do que a pedra para seus projetos.

A argila possibilitou a produção de tijolos, os adobes usados em diversas


construções, como o zigurate. O adobe era feito de argila, água e uma fibra natural
como a palha, moldados em forma e secos ao sol. Outra manifestação são os
tabletes de argila que continham uma espécie de escrita chamada de cuneiforme,
por causa de sua forma em cunha. Apesar de serem de difícil manuseio, em
função de seu peso, tinham a vantagem de serem duráveis.

FIGURA 30 – ESTATUETA FEMININA, IV a.C.TE RRACOTA

FONTE: BOZAL, Valeriano. História geral da arte: escultura.


Barcelona: del Prado, 1996.

43
UNIDADE 1 | CULTURAS E GÊNEROS

Na escultura, a qualidade maleável da argila, possibilitou o


desenvolvimento de uma estatuária votiva. Numerosas estatuetas que lembram
as Vênus Esteatopígicas, mas com formas híbridas de animais e figuras femininas,
principalmente pássaros. Dotadas de um esquema frontal e eixo vertical, são
voltadas ao culto da fertilidade.

FIGURA 31 – ITUR SHAMAGAN EM ORAÇÃO. III a.C.

FONTE: BOZAL, Valeriano. História geral da arte: escultura.


Barcelona: del Prado, 1996.

As figuras votivas masculinas são representadas em oração. Acreditava-


se que as divindades estavam presentes nessas estatuetas. Também em esquema
frontal, a cabeça é raspada, os braços cruzados, o torso nu e uma espécie de
vestidura que vai da cintura até os pés. Possuem expressão de assombro tomada
por grandes olhos, normalmente incrustados por pedras ou pedaços de metais.
A concepção de forma estava no cilindro e no cone, presentes principalmente
nos braços e pernas. Havia também figuras femininas, com essas mesmas
características, a diferença está no penteado, que se desdobra em ondas simétricas,
ou por vezes estão recolhidos sobre a nuca. A vestimenta desce dos ombros até
os pés. Uma característica interessante da escultura é a rejeição do nu na figura
humana. Talvez por uma convenção cultural do nu como desamparo ou uma
forma de impotência. As conclusões se baseiam nos relevos que demonstram em
cenas de guerra, em que somente os prisioneiros e os vencidos estão despidos.

A escultura com base em animais se manifesta em touros, bodes, leões


etc. Também com motivos religiosos, essa associação vem desde os tempos pré-

44
TÓPICO 3 | PRIMÓRDIOS DA HUMANIDADE

históricos. Exemplo magnífico com esse tema é o bode e árvore, um suporte para
oferendas. Ele simboliza o deus Tamuz, o princípio masculino da natureza. Feito
em madeira, folhas de ouro e lápis-lazúli é o modelo de uma escultura construída
com vários materiais.

E
IMPORTANT

O lápis-lazúli é uma rocha metamórfica de esplêndida cor azul muito usada


para objetos e ornamentos e pequenas esculturas.

FIGURA 32 – BODE E ÁRVORE, 2.600 a.C.

FONTE: JANSON, H.W. A História Geral da Arte. São Paulo:


Martins Fontes, 2001.

As esculturas mais antigas que concebem os monarcas possuem a condição


da frontalidade, grandes olhos e largas barbas e cabeleiras onduladas. Os olhos
eram incrustados com pedras preciosas. Algumas são feitas em bronze como a da
gravura a seguir:

45
UNIDADE 1 | CULTURAS E GÊNEROS

FIGURA 33 – CABEÇA DE UM SOBERANO ACADIANO,


2340-2234 a.C. BRONZE

FONTE: JANSON, H.W. A História Geral da Arte. São Paulo:


Martins Fontes, 2001.

Outra manifestação escultórica importante desse período são os relevos.


Como características dos relevos, temos a apresentação sobrepostas das figuras e
o abandono à perspectiva. Uma das mais famosas é a Estela Comemorativa do Rei
Naram-Sin. Esse relevo possui 2m de altura por 1,05m de largura e destinou-se a
comemorar a vitória do monarca. Acima de todos está o líder vitorioso enquanto
os seus inimigos imploram por absolvição e suas tropas avançam a encosta de
um monte. Podem-se observar os símbolos das divindades coroando o relevo.
Essa Estela é o mais antigo monumento dedicado a um conquistador e se dedica
a informar a devida hierarquia assim posta de cima para baixo: os deuses, o rei e
os soldados.

46
TÓPICO 3 | PRIMÓRDIOS DA HUMANIDADE

FIGURA 34 – ESTELA COMEMORATIVA DO REI NARAM-SIN

FONTE: O Guia do Louvre. Musée du Louvre éditions, 2006.

Os Gudea são esculturas voltadas para os santuários. Algumas estatuetas


possuem inscrições e orações. Esses personagens em posição de preleção,
sentados ou em pé, usam vestimentas que vão do ombro direito até os pés. A
cabeça possui um tipo de chapéu bastante sofisticado que remete à hierarquia
de pessoas importantes. A musculatura e o rosto são bem talhados em detalhes
e com superfícies muito bem polidas que revelam a experiência e os estudos do
artista nesses trabalhos.

FIGURA 35 – PEQUENO GUDEA SENTADO, 211-2124 a.C.


DIORITA

FONTE: História geral da arte: escultura. Barcelona: del


Prado, 1996.

47
UNIDADE 1 | CULTURAS E GÊNEROS

No apogeu babilônico, a peça mais expressiva é o Código de Hammurabi.


É uma espécie de documento de leis gravado em pedra diorita. O texto está
gravado logo abaixo de uma cena que representa a relação entre o homem e a
divindade, o rei perante o deus sol. É Hammurabi recebendo as leis das mãos do
deus Shamash. A cena esculpida tem relação com os gudea, pela técnica e estilo.

FIGURA 36 – CÓDIGO DE HAMURABI

FONTE: Disponível em: <http://www.


igrejacenaculodafeeabiblia.com>. Acesso em: 22 abr. 2009.

3.2 ARTE ASSÍRIA


A arte assíria se inspirou na arte suméria, mas conseguiu projetar um estilo
próprio. Os seus templos e palácios alcançaram proporções e estilos incomuns. A
produção de relevos foi intensa para decorar e ilustrar suas crenças e símbolos.
As manifestações escultóricas reproduzem os cânones da escultura sumeriana.
Mas com o tempo foram incorporando elementos nas esculturas e relevos que
definiram seu próprio modo de ser: a musculatura e força dos seus homens. As
formas vigorosas se precipitaram inclusive nas figuras femininas.

Uma das mais vibrantes esculturas desse período são as figuras híbridas
de touro e homem. Todas as culturas primitivas têm na imagem do touro o
símbolo de força e criação. Os touros assírios são esculturas colossais feitas em
calcário que serviam para proteger as entradas dos palácios. A cabeça de homem

48
TÓPICO 3 | PRIMÓRDIOS DA HUMANIDADE

possui o rosto bem modelado, um chapéu elaborado e o penteado e a barba são


complexos. O corpo do animal é musculoso – característica assíria – podem-se
perceber detalhes como veias e os ossos das costelas. Essa escultura possui cinco
patas, mas voltada para uma ideia de percepção diferenciada: vista de frente,
ela possui uma postura imóvel, imposta. Quando de lado, passa a impressão de
movimento. Esse ser fantástico possui asas, que ajudam a ampliar a magnitude e
a sua postura de respeito e majestade.

FIGURA 37 – TOUROS ALADOS ASSÍRIOS, 721-705 a.C.

FONTE: O Guia do Louvre. Musée du Louvre éditions, 2006.

Os relevos encontrados nas paredes de palácios e templos são pranchas


de pedra que concebem narrativas baseadas em cenas religiosas, de caça e de
guerra. No centro ficam os fatos mais importantes com seus monarcas e outras
personalidades. Nos contornos são imagens complementares. As figuras
humanas são ícones assírios: geralmente de perfil, representam força por meio de
seus corpos musculosos. Já os animais são mais realistas. O trabalho é realizado
com maestria e severidade: é um relevo bastante fino, as figuras são talhadas
com nitidez para gerar uma descrição acessível, sem a necessidade de um texto
explicativo. Os relevos religiosos são em menor número se comparado com os
relevos que abordam a caça ou a guerra.

49
UNIDADE 1 | CULTURAS E GÊNEROS

FIGURA 38 – ASSURBANIPAL MATANDO LEÕES, 850 a.C. CALCÁRIO

FONTE: JANSON, H.W. A História Geral da Arte. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

3.3 ARTE PERSA


A escultura persa está aliada à arquitetura, ou seja, relevos. Existem poucas
manifestações escultóricas em forma de estatuetas. Os baixos relevos revestem
muros e paredes de palácios e sepulcros. Sua arte destaca os triunfos do rei e do
império. As narrativas não se dedicam às cenas de batalha, mas sim às vitórias.
São frisos cheios de figuras humanas que carregam presentes e glorificam seu
monarca.

A influência assíria aparenta na escultura persa nas atitudes, ações


e no esquema de alinhamento das figuras. Sem realismo, o diferencial está na
vivacidade das imagens. Podemos distinguir dois grupos de baixos relevos: os
relevos em pedra do palácio de Persépolis e os relevos em tijolos esmaltados do
palácio de Susa.

No palácio de Persépolis, as colunas e paredes estão cobertas de relevos


com várias temáticas: desde o leão que ataca o touro, soldados enfileirados
postando armas, o soberano com símbolos divinos, até um ambiente festivo com
cortesãos conversando e com presentes para o seu rei. Todos esses relevos estão
convertidos em frisos decorativos que ornamentam o palácio.

50
TÓPICO 3 | PRIMÓRDIOS DA HUMANIDADE

FIGURA 39 – CORTEJO DOS CORTESÃOS, VI a.C. BAIXO RELEVO DO


PALÁCIO DE PERSÉPOLIS

FONTE: BOZAL, Valeriano. História geral da arte: escultura. Barcelona: del


Prado, 1996.

Ao contrário, o Palácio de Susa é convertido em cor. Numa atmosfera de


magia, portadora de símbolos e animais imaginários híbridos. Um exemplo é o
Leão alado com chifres de carneiro e patas traseiras de grifo com 2,52m de altura. Coberto
de tons amarelos, ocres, verdes e azuis que expandem a sua magnificência, é
provável que sua função seja a de protetor do palácio.

FIGURA 40 – LEÃO ALADO COM CHIFRES DE CARNEIRO E PATAS


TRASEIRAS DE GRIFO, V a.C. TIJOLO ESMALTADO

FONTE: BOZAL, Valeriano. História geral da arte: escultura. Barcelona: del


Prado, 1996.

51
UNIDADE 1 | CULTURAS E GÊNEROS

Os tijolos esmaltados ou vidrados se revelam uma conquista na área da


técnica cerâmica. É uma evolução do adobe. Pelo fato do palácio de Susa estar
próximo das áreas de argila da Mesopotâmia, pareceu viável para a época,
adicionar tal material para os relevos. Os artistas persas aplicaram várias queimas
e coziam os tijolos com pigmentos para alcançar a magnitude da cor.

FIGURA 41 – FRISO DOS ARQUEIROS (DETALHE), V a.C. TIJOLO


ESMALATADO

FONTE: BOZAL, Valeriano. História geral da arte: escultura.


Barcelona: del Prado, 1996.

Outra aparição esplêndida é a da guarda imperial. Sua vestimenta é


suntuosa e sua postura é de espera e atenção. Seus grandes olhos são característicos
da arte mesopotâmica. Sem a euforia festiva do palácio de Persépolis, os relevos
do palácio de Susa estão mais para admiração e perplexidade.

E
IMPORTANT

Os primórdios da humanidade demonstram as capacidades do homem de ser


criativo, ao explorar materiais e adaptá-los às suas necessidades religiosas e idealistas. Esperamos
que esses estudos iniciais venham estimular o seu conhecimento na arte escultórica. Na próxima
unidade, vamos continuar a explorar as culturas dos povos que ajudaram na formação da história
artística e social. Aguarde!

52
TÓPICO 3 | PRIMÓRDIOS DA HUMANIDADE

DICAS

Conheça a literatura sobre escultura voltada para o público infantojuvenil.


Indicamos os seguintes livros: CANTON, Katia. Escultura aventura. São Paulo: DCL Difusão
Cultural, 2003; REGO, Lígia. SANTOS, Ligia. PASSOS, Tati. Escultura. São Paulo: Moderna, 2008
e o Trabalho dos escultores. São Paulo: Melhoramentos, 1995 da série As Origens do Saber.
Boas leituras e descobertas!

53
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você viu que:

O gênero que predomina a Pré-história e a Mesopotâmia é o religioso.


Muito mais tarde, na Mesopotâmia, o gênero da alegoria surge por meio de
relevos.

Pré-história:

l No Paleolítico Superior, a escultura destaca animais e figuras femininas. Não


há presença de figuras masculinas. Muito da escultura também está nos relevos
de rochas. As manifestações escultóricas mais importantes são as Vênus
Esteatopígicas.

l No neolítico, o homem constrói os menires e dolmens para uso de túmulos ou


espaços cerimoniais. As esculturas neolíticas são pequenas figuras de animais
e humanos. As Vênus Esteatopígicas prevalecem. Desenvolve-se a cerâmica e
os metais.

l Mesopotâmia: destacam-se os zigurates. A abundância de argila permitiu a


produção de tijolos (o adobe) e os tabletes de argila para a escrita cuneiforme.
Vários povos ocuparam a região da Mesopotâmia e todos contribuíram para a
arte escultórica.

l Arte Suméria: a escultura votiva resultou em formas híbridas de animais e


figuras femininas. Figuras masculinas e femininas são representadas em oração.
Os Gudea são esculturas voltadas para os santuários. Outra manifestação
escultórica importante são os relevos.

l Arte Assíria: as figuras masculinas e femininas possuem o destaque para a


musculatura. Uma das esculturas mais importantes são as figuras híbridas de
touro e homem nas entradas e palácios. Os relevos idealizam cenas religiosas,
de caça e guerra.

l Arte Persa: poucas manifestações escultóricas em forma de estatuetas. A


escultura está nos relevos, que enfatizam as glórias do rei e do seu império.
Destaque para os relevos em pedra do palácio de Persépolis e os relevos em
tijolos esmaltados do palácio de Susa.

54
AUTOATIVIDADE

Prezado(a) acadêmico(a)! Sugerimos que você realize


esta atividade com a ajuda do computador e internet. Entre no
navegador Google, digite Museu do Louvre. Procure o site oficial
do Museu do Louvre (Paris), clique em traduzir a página para
o português. Entre no link: coleções – visão geral e selecione Próximo Oriente –
antiguidades. Clique no link Mesopotâmia – obras selecionadas. Conheça os 57
trabalhos selecionados por meio de imagens de obras mesopotâmicas que
pertencem ao acervo do museu. Reconheça e compare com as esculturas e
relevos aqui estudados. Você vai se surpreender com o site e as obras!

55
56
UNIDADE 2

HISTÓRIA E GÊNERO

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta Unidade, caro(a) acadêmico(a), você estará apto(a) a:

• reconhecer os gêneros da escultura por meio de estudos históricos;

• contextualizar a escultura do Período Antigo até a pós Renascença e suas


influências sócio-histórico-culturais.

PLANO DE ESTUDOS
Esta Unidade está dividida em três tópicos, sendo que, em cada um deles,
você encontrará atividades que contribuirão para sua reflexão e análise dos
estudos já realizados.

TÓPICO 1 – SOBRE A VIDA E A MORTE

TÓPICO 2 – A POLÍTICA E A RELIGIÃO

TÓPICO 3 – O RENASCIMENTO

57
58
UNIDADE 2
TÓPICO 1

SOBRE A VIDA E A MORTE

1 INTRODUÇÃO
Vamos dar continuidade aos estudos da disciplina por meio da
contextualização da escultura no Período Antigo, que abarca o Egito e a Grécia.

A cultura egípcia procura evidenciar a vida após a morte, e essas ideias


se propagam em sua Arte, e logicamente na linguagem escultórica, por meio de
sarcófagos, relevos, estatuetas, objetos.

A Grécia, tida como o berço da civilização ocidental, tem suas referências


na divindade, na filosofia e Arte, na vivência do cotidiano. A importância está na
mitologia e na natureza, são elas que servem de guia para as suas vidas.

Culturas diferenciadas, com contribuições distintas na escultura e na


história da humanidade. Vamos conhecê-los para aprimorar nossos estudos!

2 A ESCULTURA NO EGITO
Uma civilização como o Egito só conseguiu se desenvolver por causa
de uma organização política, social e econômica muito bem estruturada. O seu
apogeu acontece entre 5.000 a. C. até 500 a. C., aproximadamente, e está dividida
em períodos chamados de Monarquia Antiga, Monarquia Média e Monarquia
Nova.

Outra contribuição para o sucesso foi a condição geográfica que possibilitou


o crescimento de uma cultura ordenada que perdurasse durante milhares de
anos. A geografia isolada, ao redor do Nilo, perpetuou uma tradição magnífica
fundamentada na religião. A vida no antigo Egito se precipitava na ordem social,
política e essencialmente religiosa. A arte também teve sua expressão maior
vinculada ao misticismo dos deuses e na vida pós-morte. A escultura se manifesta
por meio do gênero cerimonial e funerário.

59
UNIDADE 2 | HISTÓRIA E GÊNERO

UNI

A cultura egípcia antiga deixou uma extensa produção artística, descoberta


pelos arqueólogos que revolvem as areias até os dias de hoje. Infelizmente, pouco resta
dos palácios e cidades daquela época, o que se tem conhecimento, é a partir dos túmulos
e construções como as pirâmides, que foram construídas para a eternidade – interessante
ironia!

Mas o autor Janson (2001, p. 54) comenta de que não devemos nos enganar
com os princípios egípcios, pois a vida não era considerada uma simples via para
a morte:

A preocupação dom o culto dos mortos vinha do Neolítico, mas o


sentido que lhes atribuíram era diferente: o sombrio temor aos espíritos
dos defuntos, dominante nos primitivos cultos aos antepassados,
parece ausente aqui. Para os Egípcios, cada homem devia preparar-
se para uma sobrevivência feliz. Arranjava o sepulcro como uma
espécie de vaga reprodução do seu cotidiano, para a fruição do ka, o
seu espírito, ao qual devia assegurar um corpo para residir (o cadáver
mumificado ou uma estátua do falecido).

Os egípcios acreditavam que a vida era constituída por três elementos:


o corpo, a alma e ka, uma espécie de alterego. Suas crenças eram de que ka
retornaria ao corpo, e por isso a necessidade da mumificação. Mas com receio
de que o corpo pudesse vir a se deteriorar, usavam estatuetas para representar o
morto. Substituir o corpo real por figuras, formaliza a força que a imagem tem na
representação. O realismo foi a escolha óbvia: quanto mais parecido com o morto,
maiores as chances de ka aceitar a escultura como morada.

A escultura egípcia passa a ter a função religiosa de representar a


divindade: seja de deuses ou monarcas. Assim se fortalecia a ideia de que o
faraó possuía interferência divina. Isso explica as numerosas estatuárias que
representam deuses e monarcas. Um exemplo imponente de esculturas que
retratam a monarquia é a de Khefren. Esculpida em diorita, tem o rei em seu trono,
com o deus Horus a envolver-lhe a cabeça, em sinal de proteção. A escultura
demonstra imobilidade e resistência, própria para o resguardo do espírito.

60
TÓPICO 1 | SOBRE A VIDA E A MORTE

FIGURA 42 – O FARAÓ KHEFREN (detalhe)

FONTE: BOZAL, Valeriano. História geral da arte: escultura.


Barcelona: Del Prado, 1996.

Khefren faz parte das características que determinam a grande maioria da


escultura egípcia. São elas: as figuras se apresentam sentadas ou em pé; a cabeça é
a parte mais importante: é o rosto que sugere traços personalizados enquanto que
o corpo é comum e possui a lei da frontalidade, em que a escultura deve estar
posicionada de frente para o observador. Essa rigidez propicia uma simetria,
na qual a metade da escultura se reflete quase por igual do outro lado. Outro
exemplo de escultura com essas mesmas características é o príncipe Rahotep e sua
esposa Nofret:

61
UNIDADE 2 | HISTÓRIA E GÊNERO

FIGURA 43 – RAHOTEP E SUA ESPOSA NOFRET

FONTE: Disponível em:<http://faculty.mccfl.edu>. Acesso em: 27


abr. 2009.

O diferencial desse conjunto de esculturas é a coloração. Esculpidas


em calcário, o artista se preocupou em caracterizar esses monarcas pela cor. É
possível que outras esculturas tenham sido pintadas, mas essa é a que mais se
preservou. Prática comum era incrustar os olhos com pedras, vidro e cobre, neste
caso o quartzo.

Essa aparência sólida da escultura egípcia cogita o fato da permanência


pelo tempo: a eternidade era o objetivo maior. Essas ideias ganhavam força
com o tipo de material usado para a escultura: a grande maioria era pedra. As
características da dureza e a perpetuidade da pedra vinham de encontro da
filosofia de vida e morte dos egípcios. Ao contrário da vizinha Mesopotâmia, o
Egito possuía uma gama variada de pedras: calcário, granito, diorita, mármore
em cores que variavam do preto ao branco, passando pelos vermelhos e ocres.

Além da solidez, o tamanho das suas esculturas impressiona até hoje.


É o caso da Esfinge. Essa colossal figura de uma cabeça num corpo de leão foi
esculpida diretamente na rocha. Possui 20m de altura e os estudos arqueológicos
acreditam ser a personificação do faraó Khefren. Sua postura gigantesca nos causa
um impacto e reafirma o poder faraônico. Na invasão islâmica seus traços foram
danificados.

62
TÓPICO 1 | SOBRE A VIDA E A MORTE

FIGURA 44 – ESFINGE DE GIZE

FONTE: Disponível em: <http://picasaweb.google.com>. Acesso em: 27 abr.


2009.

Outra importante manifestação eram os relevos. Na sua maioria baixos-


relevos, faziam parte dos sepulcros, adornando paredes com cenas cotidianas,
escritas, deuses, monarcas e oferendas. Este relevo mostra a deusa Hathor
acolhendo o rei Seti I no além. Repletos de simbolismos, os relevos são mais
formosos do que algumas esculturas. Os perfis das figuras são elegantes, assim
como suas vestes e perucas. O relevo a seguir é calcário pintado, proveniente do
túmulo de Seti I.

FIGURA 45 – A DEUSA HATHOR E O REI SETI I

FONTE: Disponível em: <http://estudostarotegipcio.


blogspot.com> Acesso em: 27 abr. 2009.

63
UNIDADE 2 | HISTÓRIA E GÊNERO

O faraó Amenofis IV implanta o monoteísmo que propaga a verdade e a


sinceridade. Diante dessa nova vertente, as esculturas passam a ser cada vez mais
realistas, com o intuito de marcar as personalidades. As novas atitudes pedem
esculturas menos rígidas. Um grande exemplo deste período inovador é Nefertiti.
A cabeça em calcário retrata a rainha com traços delicados e exóticos. Este busto
tem uma composição equilibrada entre a base, pescoço, rosto e tiara numa beleza
e majestade únicas.

FIGURA 46 – NEFERTITI – XVI a.C.

FONTE: WILDUNG, Dietrich. El Arte Egípcio em Berlin.


AL:Berlim, 2007.

E
IMPORTANT

Aqui percebemos o gênero do retrato evidenciado na escultura de Nefertiti.


Outros retratos da monarquia fazem parte da estatuária egípcia, assim como as máscaras
mortuárias. Mas atenção: o retrato tem concepção religiosa, pela crença de que as imagens
possuem a capacidade de reter divindades.

Após várias invasões estrangeiras, o Egito sucumbe à dominação persa,


grega e mais tarde a romana. A identidade egípcia sofre várias influências: toda
uma estrutura social, intelectual, política e religiosa recebem aculturações. A arte
também se modifica e perde a originalidade e a representação religiosa inicial.
Muito da cultura antiga egípcia pode ser encontrada em museus importantes da
Europa e no Museu do Cairo, no Egito.

64
TÓPICO 1 | SOBRE A VIDA E A MORTE

E
IMPORTANT

Aculturação significa o contato entre culturas diferentes. Essa relação pode ser
pacífica, ao ponto de gerar trocas culturais ou ainda, ser de forma agressiva, quando uma
civilização impõe sua cultura sobre outra.

TURO S
ESTUDOS FU

Vamos agora passar para os estudos de outra importante civilização: a Grécia.

3 GRÉCIA: DO ARCAÍSMO AO HELENISMO


A Grécia é avaliada como o berço da cultura ocidental. Podemos considerar
como herança, quesitos de linguagem, filosofia, arquitetura, educação, arte,
ciências, política etc. Conceitos de democracia e outros termos como monarquia,
aristocracia e tirania são derivados dos gregos. Idealizadores dos Jogos Olímpicos,
o atletismo era estimulado na Grécia como forma de preparo para a Guerra e
como ideal de força física.

A antiga Grécia é reconhecida de 1.100 a.C. a 150 a.C. Num período inicial,
considerado formador da civilização grega, seu destaque se dá a partir de 800 a. C.
com o chamado período Arcaico seguido pelos períodos: Clássico e Helenístico.

O período Arcaico é representado por esculturas que parecem ter relação


com a estatuária egípcia: seja pela postura frontal, estática, simplificada ou pelo
penteado que mais se assemelha a uma peruca, a similaridade ainda se encontra
nos punhos cerrados, na posição das mãos femininas sobre o peito, na perna
esquerda adiantada. Mas as esculturas gregas possuem características próprias:
essas imagens foram esculpidas ao máximo, o artista retirou todo o material
possível. Trabalhadas em pedra (calcário e mármore) são consideradas as
primeiras esculturas de vulto redondo, ou seja, em que o artista trabalha em volta
da pedra, criando uma perspectiva tridimensional, diferente dos egípcios que
tinham sempre um apoio para as suas esculturas. A estatuária grega revela muito
mais vivacidade do que a egípcia; essa última possui uma espécie de serenidade.

65
UNIDADE 2 | HISTÓRIA E GÊNERO

FIGURA 47 – KOUROI E KORAI – 650 a.C.

FONTE: JANSON, H.W. A História Geral da Arte. São Paulo: Martins


Fontes, 2001.

As esculturas gregas femininas são conhecidas como Korai – plural de


Koré - que constitui jovem mulher - enquanto que as figuras masculinas são
chamadas Kouroi – plural de Kouros - que significa homem novo. As Korai estão
sempre vestidas enquanto que os Kouroi estão nus. Mas qual era a sua função?
Eles serviam tanto para o cerimonial quanto para o funerário. O gênero que segue
a escultura arcaica é religioso:

É difícil, no entanto, determinar se elas representam o doador,


se uma atividade, se qualquer pessoa favorecida pelos deuses,
como por exemplo, o vencedor dos jogos atléticos. Outras eram
colocadas em sepulturas, mas não devem ser vistas como retratos,
são representações convencionais, imagens impessoais. A estranha
ausência de diferenciação parece ser característica essencial destas
figuras. Nem são deuses nem homens, mas seres intermediários, tipos
de um ideal de perfeição física e de vitalidade, de que participam
igualmente os mortais e os imortais, tal como os heróis homéricos,
que tanto vivem nos domínios da História como nos da Mitologia.
(JANSON, 2001, p. 112)

Com um século de diferença, algumas peculiaridades escultóricas se


modificam e se tornam mais sofisticadas: o vestuário se desdobra em camadas
de tecido, formosamente esculpidas, os cabelos se tornam mais orgânicos e o
rosto mais redondo numa expressão de alegria formatada num sorriso singelo.
Muitas esculturas eram pintadas, porém muito pouco restou das cores para a
nossa apreciação. Podem-se perceber as características citadas na Korai a seguir:

66
TÓPICO 1 | SOBRE A VIDA E A MORTE

FIGURA 48 – KORAI DE CHIOS

FONTE: Disponível em: <http://www.yasou.org/ancient/


images/kore.jpg>. Acesso em: 2 maio 2009.

E
IMPORTANT

O gênero da escultura grega inicialmente é religioso. Com o Classicismo,


os mitos ganham força e projetam isso também na escultura, e o gênero então, se torna
mitológico.

A escultura Clássica consegue se libertar de maneira radical: talvez a


conquista principal seja o movimento que os artistas conseguiram impor sobre o
material. É verdade que as esculturas arcaicas alcançam certa liberdade por meio
do vulto redondo, mas era mais um arranjo técnico. No Classicismo, a liberdade
é autêntica, perceptível. As possibilidades de composição escultórica foram
exploradas: o realismo chega ao seu auge, as musculaturas e detalhes corporais
são belíssimos. Apesar de a figura feminina muitas vezes representar um corpo
másculo, robusto, ele era ornado por trajes complexos, cheio de tramas e camadas.

67
UNIDADE 2 | HISTÓRIA E GÊNERO

FIGURA 49 – AFRODITE, CHAMADA VÊNUS DE ARLES

FONTE: O Guia do Louvre. Musée du Louvre éditions, 2006.

Aspecto interessante é que alguns escultores começaram a ser conhecidos


em sua comunidade. Os nomes mais famosos da Grécia antiga são: Fídias e
Praxíteles.

O “estilo de Fídias” dominou a escultura até o século V a.C. As esculturas


mais célebres desse artista são as colossais: Atena (em ouro e marfim no Parthenon),
outra Atena (em bronze na Acrópole) e de Zeus (em ouro e marfim no Templo de
Olímpia). Todas foram destruídas, restando apenas as reproduções em tamanho
reduzido, que não dão maiores informações sobre o estilo do artista.

Podemos conceber um entendimento de suas obras nos frisos em


relevo do notável Parthenon. Monumento da Grécia, essa arquitetura mantém
a nostálgica impressão do que deveria ser a Grécia em seu esplendor clássico.
Fídias foi o responsável pelo ornamento em relevo do Parthenon, que representa
várias divindades observando o nascimento de Atena. Esculpidas em mármore,
o realismo das figuras é intenso, cheio de movimento e de detalhes. Apesar de
fragmentadas, esses relevos mostram a técnica aprimorada do escultor.

68
TÓPICO 1 | SOBRE A VIDA E A MORTE

FIGURA 50 – ASSEMBLEIA DOS DEUSES

FONTE: Disponível em: <http://platea.pntic.mec.es>. Acesso em: 3 maio 2009.

Uma das esculturas mais conhecidas de Praxíteles é Hermes, que representa


o deus com Dionísio menino em Olímpia. O encanto “suave” clássico de suas
esculturas inspirou artistas de todos os tempos. Hermes se traduz por meio das
esbeltas proporções, o sorriso discreto e quase imperceptível, a delicadeza do
tratamento do mármore, todas essas características que exaltam a beleza clássica.

FIGURA 51 – HERMES

FONTE: Disponível em: <http://users.otenet.gr>. Acesso em: 3


maio 2009.

69
UNIDADE 2 | HISTÓRIA E GÊNERO

O período Helenístico consta de IV até I a.C. A escultura dessa época se


torna mais naturalista. Sem o idealismo heroico do classicismo como referência,
a estatuária se transfere para o dramático: as ações são reveladas, tornando a
anatomia mais específica no tratamento; as esculturas são mais humanas, vivas
e personalizadas. Elas expressam sentimentos e drama por meio de suas feições
e atitudes. Seus temas ainda são divindades e mitologias. É o caso do grupo de
esculturas Laocoonte e seus filhos. Encontrada em Roma, em 1506, causou grande
impressão sobre Michelangelo. A obra se encontra hoje no Museu do Vaticano.
Provavelmente inspirada no altar de Pérgamo, a sua dinâmica parece pouco
natural, porém a dramaticidade é a máxima representação da sublime tragédia.

FIGURA 52 – LAOCOONTE E SEUS FILHOS

FONTE: Disponível em: <http://oglobo.globo.com>. Acesso em: 3 maio


2009.

E
IMPORTANT

Para o seu conhecimento: parte do mito da Guerra de Troia, Laocconte percebe


o perigo no presente enviado pelos gregos para os troianos: o Cavalo de Troia. O deus
Poseidon, em favor dos gregos, e para combater o alerta de Laocoonte, envia duas serpentes
para matá-lo. Por fim, os gregos vencem a batalha. É assim que surge também o famoso
provérbio: “presente de grego”.

70
TÓPICO 1 | SOBRE A VIDA E A MORTE

Muito das esculturas gregas são cópias de originais, derivados do bronze


ou cópias romanas. Muitos são fragmentos, que chegam até nós, sem membros
ou cabeça. Apesar das condições calamitosas que se encontram tais esculturas,
elas não perdem o virtuosismo. Muito dos relevos – outra forte manifestação
grega – agregados à arquitetura, estão fragmentados. Os gregos trabalhavam
tanto o baixo como o alto relevo. A sua maioria são narrativos e mitológicos:
contam histórias de divindades, monstros e gigantes. São cenas de procissões,
batalhas, triunfos e conquistas envolvendo deuses, figuras humanas e animais,
que mostram uma vivacidade original.

FIGURA 53 – FRIZO DECORATIVO DA BASE DO ALTAR DE PÉRGAMO –


BERLIM

FONTE: Disponível em: <http://travel.webshots.com>. Acesso em: 3 maio


2009.

E
IMPORTANT

Para o seu conhecimento: o altar de Pérgamo é uma fantástica construção do


século II a.C, dedicada ao deus Zeus na antiga cidade de Pérgamo (Turquia). Escavada por
arqueólogos, foi levada em partes para a Alemanha. Pode ser encontrada em sua magnitude
no Pergamon Museum, em Berlim.

Mas talvez o ícone do Helenismo seja Vitória de Samotrácia. Ela se encontra


numa posição que revela a deusa como uma figura de proa de navio, numa
diagonal que parece enfrentar o vento. O espaço parece cercar a escultura numa
espécie de áurea invisível. O seu vestido insinua o corpo da deusa, que transparece
envolto em tecido leve. Apesar de mutilada, a escultura detona força e vitalidade.
Com certeza é uma das esculturas mais encantadoras do acervo da arte grega.

71
UNIDADE 2 | HISTÓRIA E GÊNERO

FIGURA 54 – VITÓRIA DE SAMOTRÁCIA

FONTE: Disponível em: <http://encrucijadasylaberintos.blogspot.


com>. Acesso em: 4 maio 2009.

DICAS

Dicas de Leitura. Para saber mais sobre a Grécia antiga, seus mitos e
personagens, leiam os famosos “poemas homéricos” em Ilíada, de Homero, a tradução é de
Frederico Lourenço.

72
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você viu que:

l A escultura egípcia se manifesta por meio do gênero religioso, com os


subgêneros cerimonial e funerário na representação da divindade: seja
de deuses ou monarcas. As estatuetas serviam de morada para o morto.
Características que determinam a escultura egípcia: o realismo, a frontalidade,
a simetria, algumas eram coloridas e a base de material era a pedra. Algumas
esculturas como a Esfinge são colossais. Outra importante manifestação eram os
relevos: em sua maioria baixos-relevos que eram parte dos sepulcros, repletos
de simbolismos e adornavam paredes com cenas cotidianas, escritas, deuses,
monarcas e oferendas. No último período, as esculturas passam a ser mais
realistas. O gênero do retrato surge, mas com concepção religiosa, da crença de
que as imagens possuem a capacidade de reter divindades.

l A escultura grega se divide em arcaica, clássica e helenística. A escultura


arcaica tem relação com a escultura egípcia, pelas características: frontalidade
e simplificação. São as primeiras esculturas de vulto redondo. Construídas
em pedra e mármore, as femininas são conhecidas como Korai e as figuras
masculinas são chamadas Kouroi e o seu gênero era religioso. A partir do
clássico, o gênero é mitológico. Destaque para a escultura clássica é o realismo
baseado no idealismo heroico. Escultores começam a ter reconhecimento: Fídias
e Praxíteres. No período Helenístico a escultura se torna mais naturalista e se
transfere para o drama: as ações e atitudes são reveladas, a anatomia é mais
específica, as esculturas são personalizadas por divindades e mitologias.

73
AUTOATIVIDADE

Os relevos são importantes amostras da escultura tanto


para a civilização do Egito como para a Grécia. Pesquise na
internet ou em bibliografias, mais sobre os relevos egípcios e
gregos. Faça uma análise comparativa entre as duas manifestações
escultóricas (Egito e Grécia) e destaque as características de cada uma.

74
UNIDADE 2 TÓPICO 2
A POLÍTICA E A RELIGIÃO

1 INTRODUÇÃO
Vamos dar início aos estudos alusivos a Roma e à Idade Média. É um
tópico interessante, por ser determinante na história da humanidade. Roma é um
marco: é a civilização que criou um dos maiores impérios na Europa Ocidental,
que assimilou e influenciou culturas. É influente e responsável também pelo
outro período subsequente: a Idade Média.

A Idade Medieval inicia efetivamente com a queda da Roma Ocidental.


Mas o Cristianismo e a Igreja Católica são herdados de Roma. Esse período
é tido como uma época de filosofia e crença religiosa. Apesar de deter fatos
históricos como as Cruzadas e a Peste Negra, esta época também é prenúncio
de ressurgimento urbano e comercial nos setores: econômico, intelectual e
tecnológico, com o aparecimento das primeiras universidades.

É assim que esse tópico anuncia Política e Religião numa metáfora para
Roma e Idade Medieval. O gênero da escultura que se destaca é o religioso, com
algumas menções ao retrato.

2 ROMA ANTIGA
Roma é uma grande civilização que teve como base cultural os gregos, e
em menor escala, os etruscos, os egípcios e o oriente próximo. Divide-se em três
períodos: Monarquia, República e Império. A antiga Roma data de 753 a.C. – data
tradicional da fundação – até 476 d.C. – a queda do Império Romano do Ocidente.

O legado cultural de Roma está na língua: o latim que é a base para outras,
como o português, o espanhol, o italiano, o francês etc. Os romanos também
contribuíram para a política, o direito, a administração e arquitetura. No final do
Império, instituiu as bases para a Igreja Católica e o Cristianismo.

Na arte, a grande influência está na Grécia, mas a sua produção artística


possui qualidades próprias. Pode-se mencionar uma escultura como sendo
um ícone para os romanos e o princípio da estatuária romana. A loba capitolina
é conhecida pelos livros de História, quando se menciona a antiga Roma. Ela
representa uma loba alimentando os gêmeos Rômulo e Remo. Feita em bronze,
o realismo faz parte da composição, marcada por ornamentos e detalhes. Sua
representação está vinculada à lenda da criação de Roma e a de seus fundadores.
O gênero desta escultura é mitológico.
75
UNIDADE 2 | HISTÓRIA E GÊNERO

FIGURA 55 – LOBA CAPITOLINA

FONTE: BOZAL, Valeriano. História geral da arte: escultura. Barcelona:


Del Prado, 1996.

E
IMPORTANT

Para saber mais sobre a lenda: Rômulo e Remo foram abandonados por seu pai
e sobreviveram por terem sido alimentados por uma loba. Quando adultos, vingaram-se do
pai e fundaram a cidade exatamente no local onde teriam sido encontrados pelo animal. A
lenda fixou a data exata do surgimento de Roma (753 a.C.). O nome originou-se de Rômulo,
que devido a disputas políticas, acaba por assassinar o seu próprio irmão. Um mito envolto
em tragédia, vingança e drama, que são reminiscências gregas.

Na escultura romana, as grandes mostras são os retratos e os relevos.


Os retratos foram extensamente produzidos, principalmente no período da
República, e sua propriedade mais importante é o realismo. Para os escultores
romanos o importante era personalizar suas esculturas, a beleza não estava
idealizada – como nos gregos – mas era essencial representar a figura com rugas,
linhas de expressão e outras qualidades não tão estéticas, mas sim reveladoras: a
idade que marca maturidade, sabedoria e poder. Reconhecer os imperadores era
o objetivo final para Roma. Graças a essas convicções, temos acesso à imagem real
de grandes personalidades, por exemplo, do imperador César.

76
TÓPICO 2 | A POLÍTICA E A RELIGIÃO

FIGURA 56 – JULIO CÉSAR

FONTE: Disponível em: <httm://letrasartes.blogspot.com>. Acesso


em: 4 maio 2009.

Acredita-se que tal realismo e retratos tenham tido origens nas máscaras
mortuárias da aristocracia, que por hábito, conservava tais máscaras de antepassados
em cera. Sendo um material de pouca duração, começou-se a reproduzir as feições
dos mortos em mármore, para eternizar a memória e a linhagem da família. A
escultura romano com bustos de seus antepassados exemplifica essa questão.

FIGURA 57 – ROMANO COM BUSTOS DE SEUS


ANTEPASSADOS

FONTE: BOZAL, Valeriano. História geral da arte: escultura.


Barcelona: Del Prado, 1996.

77
UNIDADE 2 | HISTÓRIA E GÊNERO

As esculturas do período imperial reforçam a autoridade do imperador,


e os escultores lhe envolvem com uma espécie de aura sobre-humana. A
representação escultórica pretende ser homem e deus. Assim se manifesta uma
antiga preposição do Egito e da Mesopotâmia: a de que o soberano é divino. A
produção se intensifica, e podiam-se ver em todo o império, esculturas, estatuetas
e bustos, numa maneira de massificar o poderio e a força do imperador.

FIGURA 58 – AUGUSTO PRIMA PORTA

FONTE: BOZAL, Valeriano. História geral da arte: escultura.


Barcelona: Del Prado, 1996.

NOTA

Essa representação da magnitude do imperador se manifesta também em


esculturas equestres, já citado no tópico da unidade anterior em “Gêneros da Escultura” com
o exemplo da Figura 11: a Estátua Equestre em Bronze de Marco Aurélio, II d. C.

Os relevos surgem em arcos de triunfo, colunas, altares. Esculpidos em


baixo-relevo, esses narram e celebram os grandes feitos do império e de seu
imperador. Ao contrário dos gregos que representavam em seus relevos, seres
míticos sem relação de tempo e espaço, os romanos concebiam acontecimentos
históricos. As vitórias e conquistas de chefes militares, imperadores e outros
importantes momentos da história romana foram incorporadas às construções.

78
TÓPICO 2 | A POLÍTICA E A RELIGIÃO

Uma das mais famosas é a Coluna de Trajano, erguida de 106 a 113 a.C.
para comemorar as glórias do imperador sobre os Dácios (habitantes da antiga
Romênia). A coluna por si só já era tida como monumento por seus 37,5m de
altura, numa possível referência aos obeliscos do Egito. Os baixo-relevos vieram
ampliar sua magnitude, que revestem e contornam a coluna numa espécie de
faixa contínua, em espiral. Suas figuras contam as histórias das Guerras Dácicas
de forma épica. É um feito colossal, se avaliarmos a extensão de relevos – quase
200m de comprimento. O único inconveniente, é que o observador para seguir
a narrativa, precisa circular a coluna, várias vezes para acompanhar a história;
sendo que se perde em detalhes conforme a coluna ganha altura. A base da Coluna
de Trajano serviu de câmara funerária para as cinzas do imperador.

FIGURA 59 – GUERRA CONTRA OS DÁCIOS (DETALHE)

FONTE: BOZAL, Valeriano. História geral da arte: escultura. Barcelona: Del


Prado, 1996.

E
IMPORTANT

Obeliscos são monumentos comemorativos em forma de pilar feito em pedra,


de forma quadrangular que se afunila na parte mais alta. Muito usado no antigo Egito, era
ornado com inscrições. Lembra os menires da Pré-história.

O realismo nas esculturas continua até o final do império romano,


mas se deslumbra diferenças na representação: tudo é muito mais expressivo.
Principalmente nas feições do rosto e nos olhos, que se tornaram mais significados
tendo as íris e as pupilas escavadas. Assim o olhar se torna direcionado e ativo.
Retratar fielmente o personagem já não era tão importante quanto envolvê-lo de

79
UNIDADE 2 | HISTÓRIA E GÊNERO

força simbólica: “Esta concepção foi prenúncio do fim da arte do retrato, tal como
a conhecemos até aqui. Se a semelhança física importa pouco, um retrato só tem
sentido como símbolo visível do eu espiritual”. (JANSON, 2001, p.188).

Para exemplificar tal concepção, a cabeça de Constantino, o Grande retrata


mais o cargo exercido, a sua majestade do que aparência física real do imperador.
Fazia parte de uma grande escultura, colossal em tamanho, que representava o
primeiro imperador cristão e o responsável pela nova estruturação do Estado
Romano. Somente a cabeça, já nos induz uma supremacia, uma força sobre-
humana, não somente pelo impacto do tamanho, mas pela aparência carregada,
concentrada e os grandes olhos penetrantes. Feito em mármore, encontra-se nos
Museus Capitolinos em Roma.

FIGURA 60 – CONSTANTINO, O GRANDE

FONTE: JANSON, H.W. A História Geral da Arte. São Paulo:


Martins Fontes, 2001.

O Império Romano Ocidental sucumbe no ano de 476 d.C. As invasões


dos bárbaros e questões econômicas são alguns dos fatores que levam à queda de
Roma. O lado oriental de Roma, conhecido como Império Bizantino permanece
até 1453, quando incide a Queda de Constantinopla. No entremeio desse período
(476 a 1453) acontece a chamada Idade Média.

80
TÓPICO 2 | A POLÍTICA E A RELIGIÃO

DICAS

Para saber mais sobre a história de Roma, indicamos o livro de Edward Gibbons,
“Declínio e Queda do Império Romano”. Um site para descobrir mais sobre a arte romana é:
<http://www.mundosites.net/artesplasticas/arteromana.htm>. Dicas de filmes que retratam
o cotidiano dos romanos: Gladiador, Spartacus, Bem-Hur e A queda do Império Romano.

TURO S
ESTUDOS FU

Prezado acadêmico(a)! Estudamos até o momento o contexto que abrigou a


escultura romana. Veremos adiante, a estatuária da Idade Medieval.

3 IDADE MÉDIA
Ao pensarmos na Idade Medieval, o que vem à mente é a arquitetura, presente
nos castelos e catedrais. Essa metáfora pode ser transferida para os dois tipos de força
social que dominam esse período: o senhor feudal e o clero. Isso acontece mediante
as invasões bárbaras, quando as pessoas procuram abrigo no campo. Os senhores
de terras, se vem obrigados a construir castelos envoltos em muralhas para garantir
segurança. E assim, construídos em altas montanhas e lugares de difícil acesso, os
castelos acabam se tornando os símbolos de poder do feudalismo enquanto que a
agricultura se torna a base da economia da Idade Média.

Mas a característica maior da Idade Média é a religiosidade, com a


concretização do Cristianismo, pelo crescente domínio da Igreja Católica. A
filosofia e a arte contribuem para a constituição da crença religiosa. As igrejas
são adornadas com temas bíblicos, e essa poderia ser uma forma de doutrinar
as pessoas para a nova fé que se projetava. Para a construção das catedrais é
necessária uma leva cada vez maior de artesãos e profissionais, fazendo surgir
corporações de ofícios. Sem se importar com o realismo, e sim com a mensagem
divina baseada no simbolismo, os artistas desenvolvem uma linguagem única,
voltada sempre ao gênero religioso.

Os dois principais momentos da escultura na Idade Média são conhecidos


como Românico e Gótico. Antes disso, a chamada arte Paleocristã, a escultura
não teve grandes manifestações em função da proibição bíblica de ídolos. A igreja
para evitar a idolatria, desvia-se da escultura de grandes proporções. As formas
são contidas em relevos e em estatuetas. Os primeiros trabalhos de escultura cristã
foram os sarcófagos de mármore dedicados aos membros complacentes da Igreja.

81
UNIDADE 2 | HISTÓRIA E GÊNERO

FIGURA 61 – SARCÓFAGO DE JUNIUS BASSUS – 359 a.C.

FONTE: JANSON, H.W. A História Geral da Arte. São Paulo: Martins Fontes,
2001.

O Românico tem a característica dos relevos em pedra agregados à


arquitetura. Eram baixos relevos em sua maioria, que serviam ao propósito de
comunicar o enredo de temas bíblicos para os fiéis e peregrinos. A composição
muitas vezes densa que sugere um movimento frenético ornamenta pórticos,
colunas, fachadas e paredes. As catedrais tornam-se um marco importante, pois
servem de ponto de encontro dos peregrinos e para guardar preciosas relíquias
religiosas.

Era a passagem de um mundo para outro. Se a rua era o mundo dos


homens, o templo era o mundo de Deus. (...) Como o espaço em que
estavam, aquelas eram as imagens de outro mundo, e neste ponto
existia um acordo de princípio entre o escultor e os fiéis: estes não
buscavam o que podiam ver cotidianamente. Mas o que, estando
oculto diariamente, sabiam, no entanto, onipresente. (BOZAL, 1996,
p.28)

FIGURA 62 – JUÍZO FINAL – 1.120 d.C.

FONTE: BOZAL, Valeriano. História geral da arte: escultura. Barcelona:


del Prado, 1996.

82
TÓPICO 2 | A POLÍTICA E A RELIGIÃO

No período Gótico, as catedrais ganham em estilo e arquitetura: a


verticalidade é característica, as torres são ornadas por vitrais e rosáceas, os arcos
e abóbadas se fazem presentes. O estilo é de uma elegância austera que propõe
a grandiosidade, a crença num plano superior que faz com que tudo se projete
para o alto. As mais famosas catedrais são Notre Dame de Paris e Notre Dame de
Chartres, na França.

As esculturas seguem a tendência da arquitetura, são verticais e alongadas.


Em contraposição ao estilo Românico, a composição é mais simétrica e nítida.
As esculturas são elementos distintos, independentes de outros ornamentos: é
o ressurgimento da escultura de vulto redondo, porém atrelada a colunas. Sua
presença é mais evidente do que os relevos românicos. As esculturas no inicio do
período gótico possuem feições mais realistas, porém o corpo é desproporcional
e mantém uma espécie de rigidez vertical.

FIGURA 63 – ESTÁTUAS DAS JAMBAS, PORTAL SUL, CATEDRAL DE


CHARTRES

FONTE: JANSON, H.W. A História Geral da Arte. São Paulo: Martins


Fontes, 2001.

Com o tempo, o Gótico se torna mais fluido, sem a severidade e o


geometrismo anterior, as figuras possuem movimento, as vestes tem caimento
natural e os braços já se afastam do corpo, dando naturalidade às esculturas. As
posturas e feições são mais humanas e os volumes são evidentes. A maioria da
estatuária Gótica é em pedra e mantém-se em colunas e acopladas à arquitetura.

83
UNIDADE 2 | HISTÓRIA E GÊNERO

FIGURA 64 – A VISITAÇÃO

FONTE: BOZAL, Valeriano. História geral da arte: escultura.


Barcelona: Del Prado, 1996.

A partir de 1.100 ocorre uma um renascimento urbano e comercial, de


crescimento econômico que gera grandes evoluções tecnológicas: o relógio, a
prensa, a bússola e instrumentos navais como o astrolábio são algumas invenções
que surgem para ampliar e direcionar os horizontes humanos. A confecção de
mapas e as caravelas vão facilitar a expansão comercial via marítima da Europa,
e assim surgem as grandes navegações, que vão acessar novas culturas. Todo
esse movimento gera outras vivências e pensares. O final da Idade Medieval é o
impulso para outro período conhecido como o Renascimento.

DICAS

Para saber mais sobre a Idade Medieval, leia o livro "A Idade Média, o nascimento
do Ocidente" do Professor Hilário Franco Júnior. Sites sobre a arte medieval podem ser acessados
em: http://www.mundosites.net/artesplasticas/artegotica.htm. Existem muitos filmes que relatam
os costumes da Idade Média, seus mitos e heróis, entre eles: Excalibur, Coração Valente, O Nome
da Rosa, Cruzadas, Lutero.

84
TÓPICO 2 | A POLÍTICA E A RELIGIÃO

UNI

Prezado(a) acadêmico(a)! Aqui encerramos o tópico 2 sobre o contexto e


gênero da escultura em Roma e Idade Média. Vamos por meio do resumo, refletir sobre as
contribuições dessas civilizações para a arte escultórica.

85
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você viu que:

l Na escultura romana, as grandes mostras são os retratos e os relevos. Os retratos


em forma de bustos que são realistas e têm sua origem nas máscaras mortuárias.
As esculturas reforçam a autoridade do imperador, numa representação sobre-
humana. O realismo nas esculturas continua até o final do império romano,
mas a representação é muito mais expressiva. Os relevos narram as glórias do
império e de seu imperador, ao contextualizar os fatos históricos.

l O gênero que domina a escultura na Idade Média é o religioso. Na arte


Paleocristã, em função da proibição de ídolos, surgem somente relevos e
pequenas estatuetas. O Românico tem a característica dos relevos em pedra
agregados à arquitetura, que serviam ao propósito de comunicar o enredo de
temas bíblicos para os fiéis e peregrinos. De composição densa, sugere um
movimento frenético que ornamenta pórticos, colunas, fachadas e paredes. No
Gótico, as esculturas são verticais e alongadas e a composição é mais simétrica
e nítida. Ressurge a escultura de vulto redondo atrelada a colunas, só mais
tarde o Gótico perde a rigidez, mediante o novo movimento das figuras.

86
AUTOATIVIDADE

Os bustos são importantes manifestações da escultura de


Roma. Pesquise na internet ou em bibliografias, sobre este gênero –
busto – no período romano e analise a extensa produção dedicada
aos imperadores. Se preferir, entre no site oficial dos Museus
Capitolinos, que abarcam uma importante coleção de bustos de imperadores
e filósofos: <www.museicapitolini.org>. Não se esqueça de traduzir a página!

87
88
UNIDADE 2 TÓPICO 3

O RENASCIMENTO

1 INTRODUÇÃO
O Renascimento é o período que se caracteriza entre o final da Idade
Média e o início da Idade Moderna. Época de importantes transformações que
sinaliza a transição do feudalismo para o capitalismo, com a presença acentuada
da burguesia. Seus efeitos estão na arquitetura, nas artes, na filosofia e nas ciências.

Apesar de pertencer a um curto período (final do século XV a XVI)


a Renascença é tida como uma época singular, pela genialidade de alguns
personagens, pela contribuição intelectual e cientifica e por seu retorno às bases
da Antiguidade Clássica.

Como decorrência, temos o Pós-Renascimento, com movimentos artísticos


chamados de Maneirismo, Barroco e Rococó, que são considerados como uma
espécie de complemento do período Renascentista.

Muito nos aguarda, portanto, vamos aos estudos!

2 O PERÍODO DA RENASCENÇA
A Itália sempre foi a referência cultural desta época, principalmente
Florença. Porém manifestações renascentistas também incidiram por toda a
Europa.

A Renascença tem como principal veia filosófica, o Humanismo. O ideal


humanista se utiliza da razão e da vivência empírica, aliada aos textos originais
para as suas conclusões. O Humanismo está ligado a outras tendências filosóficas
como o Neoplatonismo, o Antropocentrismo, o Racionalismo e o Individualismo.
Todas têm certa relação e defendem o homem como um ser lógico e virtuoso,
capaz de realizações e de averiguações. Essa foi a época de um novo homem, com
sentimentos otimistas com ênfase nas probabilidades latentes do ser humano.
Nesta perspectiva, acontece uma revalorização da cultura da Antiguidade
Clássica, o que permitiu o nome “Renascimento” para este período.

89
UNIDADE 2 | HISTÓRIA E GÊNERO

E
IMPORTANT

O Neoplatonismo tem base nos ensinamentos de Platão e na crença de que a


perfeição humana e a felicidade podem ser adquiridas neste mundo por meio da filosofia,
não sendo necessária a espera pela pós-vida para ser feliz. Já o Antropocentrismo tem o
homem como ser importante e relacionado com o universo.

É com o Renascimento que os artistas começam a ter prestígio, vistos


como eruditos e não mais como um simples artesão. A genialidade poderia ser
concebida a um artista, e temos nas figuras de Leonardo da Vinci e Miguelângelo,
a representação maior.

É certo que a tendência para ver no artista um gênio soberano, e não


um artífice dedicado, nunca foi mais forte que durante a primeira
metade do século XVI. O conceito de gênio segundo Platão – o espírito
assenhoreando-se do poeta e levando-o a compor um “delírio divino”
– fora alargado por Marsílio Ficino e outros neoplatônicos a ponto de
incluir o arquiteto, o escultor e o pintor. Pensava-se que os homens de
gênio se distinguiam do comum dos mortais pela inspiração divina
que guiava os seus esforços e mereciam o epíteto de ‘divinos’, ‘mortais’
e ‘criadores’ (antes de 1.500 a criação, diferente da feitura, era privilégio
unicamente de Deus). (JANSON, 2001, p.436)

2.1 RENASCENÇA E A FIGURA HUMANA


É com o Renascimento que a nudez retorna para a escultura. Os artistas
redescobrem a beleza, a força e a sensualidade do corpo nu. Talvez pela influência
da Antiguidade Clássica ou pela confiança de uma sociedade que se forma
mediante a riqueza, a educação e a filosofia baseada em ideais neoplatônicos. A
primeira escultura em tamanho natural a revelar a nudez - desde a Antiguidade
- foi David de Donatello (1386-1466). Realizada em 1430, num período precoce
do Renascimento – considerado por alguns autores como o Pré-Renascimento
ou Proto-Renascimento – a escultura provocou algumas polêmicas. Tanto, que
durante anos não houve a produção de novas esculturas com a temática da nudez.

Donatello foi um dos primeiros grandes escultores do Renascimento, e


também um dos primeiros que defendeu a nova atitude da época. Seus trabalhos
iniciais estavam vinculados a encomendas religiosas. Dono de um estilo particular,
expressivo, suas esculturas vão servir de referências a outros artistas no futuro.
Donatello cria a escultura de David em bronze e revela todo o seu conhecimento
da anatomia humana. O artista escolhe como modelo um adolescente, sem a
desenvoltura de um atleta, e com isso gera uma representação psicológica do
personagem David – a de que ele pode parecer pequeno e fraco, mas possui
coragem e a proteção de Deus.

90
TÓPICO 3 | O RENASCIMENTO

FIGURA 65 – DAVID

FONTE: BOZAL, Valeriano. História geral da arte: escultura.


Barcelona: Del Prado, 1996.

A figura humana se torna o centro de interesse entre os artistas do


Renascimento, ao ponto de se tornar o foco na atividade escultórica. Os dois
gêneros que se destacam são: o retrato e o religioso. O retrato principalmente
por meio de bustos e o religioso, por meio de esculturas que celebrem fatos e
personagens bíblicos ou ainda pela escultura funerária.

Um exemplo de busto do gênero retrato, é o de Giovanni Chellini realizado


por Antonio Rossellino (1427-1479). Sendo escultor e arquiteto, dedicou-se
principalmente a monumentos funerários. Acredita-se que o ressurgimento de
bustos tenha se dado com Rosselino e seus contemporâneos, pois desde a Roma
Antiga, não se tinha mais visto e produzido retratos. Giovanni Chellini representa
um famoso médico de Florença, cuja expressão facial está definida com muita
personalidade, precisão e realismo.

91
UNIDADE 2 | HISTÓRIA E GÊNERO

FIGURA 66 – GIOVANNI CHELLINI

FONTE: JANSON, H. W. A História Geral da Arte. São Paulo: Martins


Fontes, 2001.

Um dos nomes mais importantes desse período é Andrea del Verrocchio


(1435-1488). Escultor e pintor, Verrocchio influenciou entre outros artistas,
Leonardo da Vinci e Michelangelo. Nascido em Florença, trabalhou para Lorenzo
de Médici. Utilizou materiais como mármore, terracota, prata e bronze. A partir
de 1475, dedica-se quase que exclusivamente à escultura, tendo um dos mais
importantes trabalhos, a escultura equestre, em bronze que retrata Bartolommeo
Colleoni, um famoso comandante dos exércitos venezianos.

FIGURA 67 – ESTÁTUA EQUESTRE DE BARTOLOMMEO COLLEONI

FONTE: JANSON, H.W. A História Geral da Arte. São Paulo: Martins


Fontes, 2001.

92
TÓPICO 3 | O RENASCIMENTO

Não podemos deixar de citar outros escultores do Renascimento que


também contribuíram com suas obras para o contexto artístico desse período.
São eles: Luca Della Robbia (1400-1482), Antonio Pollaiuolo (1431-1498), Niccolo
Dell’Arca (1435-1494).

Mas a referência artística da escultura mais famosa e cultuada é


Miguelangelo. O escultor eleva a figura humana a um patamar sem precedentes,
a uma nova dimensão de beleza e volumes, considerada muitas vezes, sobre-
humana.

2.2 MICHELANGELO: O ESCULTOR RENASCENTISTA


Considerado um ícone cultural e artístico, Michelangelo Buonarroti
(1475-1564) domina uma arte difícil, com marcas muito pessoais num ofício de
lenta evolução. Ele conseguia imprimir personalidades em suas figuras, de modo
que se percebe uma força interna surgindo de suas esculturas. A proposta de
Michelangelo era criar figuras que não parecem ser deste mundo: são super-
homens, não deuses, cheios de energia e paixão. Ele não imitava o homem do
Renascimento, mas sim os criava, tal era a sua genialidade.

David é considerado a primeira escultura monumental do período


Renascentista. Num misto de Hércules e David, e simbolizam coragem e força, as
virtudes do Renascimento. Chamado de “O gigante” se converteu rapidamente
em dos símbolos da cidade. Foi encomendada em 1501 (quando Michelangelo
tinha somente 26 anos) e finalizada em 1504. David representa todas as qualidades
técnicas e o aprimoramento artístico e genial de Michelangelo: a “ação suspensa”
que é característica do artista e surge em David numa atitude que relaciona calma
e tensão.

93
UNIDADE 2 | HISTÓRIA E GÊNERO

FIGURA 68 – DAVID

FONTE: Disponível em: <http//: www.museum-replicas.com>.


Acesso em: 18 maio 2009.

David foi feito em mármore, possui 4,10m de altura e está atualmente


na Galeria Dell’Academia em Florença, na Itália. Os detalhes esculpidos são
assombrosos pela perfeição, por exemplo, as íris dos olhos, a ondulação do cabelo,
ou ainda pelas veias que saltam das mãos e pés da escultura.

Michelangelo tinha recentemente voltado de Roma, onde teve contato


com as esculturas helenísticas. Os corpos musculosos da estatutária grega devem
tê-lo impressionado e inspirado na produção de David. “A escala heroica, a beleza
e poder sobre-humanos e o volume túmido das suas formas tornaram-se parte
do próprio estilo de Miguel Ângelo e através dele, da arte do renascimento em
geral.” (JANSON, 2001, p. 452).

94
TÓPICO 3 | O RENASCIMENTO

FIGURA 69 – DAVID (DETALHE)

FONTE: Disponível em: <http//:www.ri.net>. Acesso em: 18


maio 2009.

Podemos observar essa beleza sobre-humana em Pietá (Piedade) outra


obra conhecida de Michelangelo, realizada antes de David. Representa Jesus
morto apoiado nos braços de sua mãe, a Virgem Maria. Aqui, o artista cria uma
visão idealizada: a dor misturada a uma espécie de tranquilidade, atributo
somente de santos.

FIGURA 70 – PIETÁ

FONTE: Disponível em: <http//:www.galilean-library.org>. Acesso em:


18 maio 2009.

95
UNIDADE 2 | HISTÓRIA E GÊNERO

Para adentrar na composição piramidal, o conjunto foi alterado em suas


proporções: o Cristo é menor que Maria; a figura de Jesus se estende numa
horizontal que se harmoniza com a verticalidade da Virgem. O requinte do
polimento, semelhante ao marfim, reafirma seu aprimoramento artístico e sua
dedicação ao ofício de escultor. Pietá possui 1,74m de altura e foi feita entre 1497
e 1499, e se encontra no Vaticano, na Basílica de São Pedro.

E
IMPORTANT

As Madonnas (de origem italiana) são representações artísticas da Virgem Maria.


É um tema frequente na arte sacra que revela Maria e seu filho Jesus, às vezes, circundados
por outros personagens como santos.

Dentre as obras de Michelangelo, encontram-se dois monumentos


funerários: a Tumba de Júlio II e Tumbas de Lorenzo e Juliano de Médici. Infelizmente
nenhuma foi totalmente terminada. Do túmulo de Júlio II apenas algumas
esculturas chegam ao público: as figuras de Moisés, o Escravo Morimbundo e o
Escravo Rebelde.

Moisés foi representado com tamanha força e majestade, que revela uma
atitude entre vigilante e meditativo, um líder capaz de uma ira devastadora.
Sua musculatura, o drapejado das vestes, sua intricada barba e feições são ricas
definições escultóricas. Feito em mármore, em 1515, possui 2,35m de altura.
Encontra-se na igreja São Pedro in Vincoli, em Roma.

FIGURA 71 – MOISÉS (DETALHE)

FONTE: BOZAL, Valeriano. História geral da arte: escultura.


Barcelona: Del Prado, 1996.

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TÓPICO 3 | O RENASCIMENTO

Apesar de não ter grandes afeições pela pintura, realizou nos anos de 1508
a 1512, um dos trabalhos mais fascinantes: a pintura da Capela Sistina. São cenas
do Gênesis e do Juízo Final. O artista transportou para a pintura, os volumes da
escultura, que podem ser observados nas musculaturas das imagens. Michelangelo
também trabalhou com arquitetura, responsável por vários projetos, entre eles, a
cúpula da Basílica de São Pedro, em Roma.

Mas a sua grande contribuição é na arte escultórica. Michelangelo passava


até oito meses em pedreiras para a escolha do mármore perfeito; realizava o entalhe
direto de suas esculturas, sem grandes estudos prévios ou meios mecânicos de
marcação de bloco. Michelangelo acreditava que suas obras estavam dentro do
bloco de mármore e que competia a ele libertá-las de seu estado aprisionado, e
lhes dar um sopro de vida. Com sua genialidade, ele conquistou um status de arte
maior para a escultura, posicionando-a no mesmo nível da pintura e arquitetura,
e não mais como uma simples arte manual – como era avaliada pelos antigos
artesãos medievais.

3 ESCULTURA APÓS A RENASCENÇA


O Maneirismo é o próximo período após a Renascença. Suas datas
estão entre 1530 a 1630. Conhecida como o movimento artístico da elegância,
que procura dar certo dinamismo à escultura. O Maneirismo na Europa ainda
lida com o gênero Religioso. Já o Maneirismo italiano começa a criar alguns
temas baseados na mitologia da Grécia, provavelmente inspirado no retorno
à Antiguidade Clássica. Os escultores italianos mais famosos desse período é
Benvenuto Cellini (1500-1571) e Giovanni Bologna (1529-1608).

Benvenuto Cellini é conhecido por sua aptidão teórica e sua desenvoltura


técnica. Sua famosa escultura Perseu, mostra o personagem vitorioso ao sustentar
a cabeça da Medusa. Esse mito nos diz sobre a luta dos deuses para libertar o
homem do mal e proporcionar um mundo mais justo e racional. A musculatura
de Perseu é imponente, seu corpo é robusto e forte. Feita em bronze entre 1545 e
1554, a sua altura gira em torno de 3,20m.

97
UNIDADE 2 | HISTÓRIA E GÊNERO

FIGURA 72 – PERSEU (DETALHE)

FONTE: Disponível em: <http://www.flickr.com>. Acesso em: 20 maio 2009.

Giovanni Bologna esculpe o mármore muitas vezes em escala monumental


e suas esculturas são dinâmicas. Em sua escultura O Rapto das Sabinas, as figuras
movem-se numa espiral, se retorcendo num alargamento que incide num gesto
incomensurável e até pouco coerente num espaço reduzido. Ela se impõe de
maneira a criar várias perspectivas ao observador. Essa multiplicidade de olhares
para a escultura é singular, se comparada à visão frontal renascentista, uma visão
serena em contraposição ao enérgico dinamismo.

FIGURA 73 – O RAPTO DAS SABINAS

FONTE: BOZAL, Valeriano. História geral da arte: escultura.


Barcelona: Del Prado, 1996.

98
TÓPICO 3 | O RENASCIMENTO

O Barroco é um período conhecido por suas esculturas que inspiram


leveza e dinamicidade. Pertence ao século XVII, após o Maneirismo e antes do
Rococó. O artista mais conhecido desta época é Gianlorenzo Bernini (1598-1680).
Num misto de arquiteto e escultor, teve a maior parte de sua carreira dedicada
à ornamentação da Basílica de São Pedro, em Roma. A relação entre arquitetura
e escultura se evidencia principalmente no Trono de São Pedro, envolta em
santos, anjos e nuvens que adornam o fundo central da Basílica. Numa fantástica
explosão de energia e delicadeza, esse é um exemplo típico do Barroco.

A força expressiva do estilo Barroco também se encontra em suas esculturas,


nos gêneros: religioso, mitológico e retrato. Em David, Bernini consegue uma
desenvolver uma ação, uma atitude do personagem frente a seu inimigo, que não
vemos, mas sabemos que está presente. Bernini consegue uma nova e dinâmica
relação com o espaço. A escultura cria uma enérgica e ativa interação espacial
com a ação de David no ato de lançar a pedra, que será fatal para o gigante Golias.

FIGURA 74 – DAVID

FONTE: Disponível em: <http://www.classinfoonline.org>. Acesso em: 20


maio 2009.

99
UNIDADE 2 | HISTÓRIA E GÊNERO

FIGURA 75 – DAVID (DETALHE)

FONTE: Disponível em: <http://www.onefastbuffalo.com>. Acesso em:


20 maio 2009.

Uma das obras-primas de Bernini é o grupo de esculturas chamado O


êxtase de Santa Teresa, na igreja de Santa Maria della Vittoria, em Roma. Conta a
história da santa que teve uma experiência espiritual, na qual um anjo lhe teria
acertado o coração com uma flecha de ouro. Bernini baseado na narração da
santa, busca recursos escultóricos e de ornamentação para imortalizar o instante
divino. Esse é o relato:

A dor foi tão intensa que gritei; mas ao mesmo tempo, senti uma tão
infinita doçura que desejei que a dor jamais acabasse. Não foi uma dor
física, mas mental, embora afetasse também, de alguma maneira, o
corpo. Foi a mais doce carícia da alma de Deus.

100
TÓPICO 3 | O RENASCIMENTO

FIGURA 76 – O ÊXTASE DE SANTA TEREZA

FONTE: Disponível em: <http://www.portalsaofrancisco.com.br>.


Acesso em: 20 maio 2009.

Bernini foi com certeza, também um grande retratista. Os retratos que


esculpiu, possuíam uma complexidade e uma diversidade espantosa. Em Luis
XIV, o artista consegue desvendar a majestade e a seriedade do monarca, por
meio de um olhar ativo e superior. As tramas do tecido e a delicada renda, junto ao
penteado ondulado criam uma moldura esplendorosa para as feições célebres do
personagem. O realismo alcançado por Bernini junto a uma dinâmica entusiasta,
são características primorosas do Barroco.

101
UNIDADE 2 | HISTÓRIA E GÊNERO

FIGURA 77 – LUIS XIV

FONTE: Disponível em: <http://www.bestpriceart.com >. Acesso


em: 20 maio 2009.

O Rococó surge no século XVIII pelos decoradores franceses, conhecido


também como estilo Luis XV. O nome surge da palavra rocaille que significava
uma alegre decoração de grutas com conchas e pedras irregulares. Muitos
autores consideram o Rococó como um Barroco tardio, mas ele possui algumas
peculiaridades próprias. A ornamentação se torna mais rica e fantástica. As
esculturas alegóricas chegam a sobrecarregar escadarias, fontes, igrejas, palácios.
Um exemplo de escultura rococó é do artista Etienne-Maurice Falconet (1716-
1791), o Cupido Ameaçador de 1750, em mármore.

FIGURA 78 – CUPIDO AMEAÇADOR

FONTE: Disponível em: <http://www.hermitagerooms.com>.


Acesso em: 20 maio 2009.

102
TÓPICO 3 | O RENASCIMENTO

O Rococó é audacioso, caprichoso, alegre, extravagante. Muitas esculturas


eram pequenas para serem vistas de perto. Porcelana agora era um material
bastante usado para estes grupos de estatuetas. A sensualidade também era um
tema bastante frequente e sua composição é mais livre se comparada ao Barroco.
Sátiro e Bacante do artista Clodion (1738-1814) feito em terracota é um exemplo
desse período.

FIGURA 79 – SÁTIRO E BACANTE

FONTE: Disponível em: <http://kcfac.kilgore.cc.tx.us/artpage/art/ch9.


html>. Acesso em: 20 maio 2009.

No Rococó, o gênero da alegoria é o mais marcante. Mas a religiosidade, a


mitologia e o retrato também se fazem presentes. Esse estilo, com certeza, deflagra
toda a suntuosidade da corte de uma época, tanto que o Rococó e sua exuberância
finalizam com a morte do Rei Luis XV em 1774.

NOTA

Para complementar os estudos sobre o Michelangelo e sua escultura do


Renascimento, indicamos a leitura complementar.

103
UNIDADE 2 | HISTÓRIA E GÊNERO

LEITURA COMPLEMENTAR

MIGUEL ÂNGELO

H. W. Janson

O conceito de gênio como inspiração divina, poder sobre-humano concedido


a reduzido número de indivíduos e manifestando-se através deles, não se encontra
mais completamente exemplificado que na vida e obra de Miguel Ângelo (1475-
1564). Nem só os admiradores o viam a esta luz; ele próprio impregnado da tradição
do Neoplatonismo, aceitava a ideia do seu gênio como uma realidade viva embora
às vezes, mais lhe parecesse uma praga que uma bênção. O elemento que confere
continuidade à sua carreira longa e agitada é a força da sua personalidade, a fé na
verdade subjetiva de tudo o que criava. Convenções, normas e tradições podiam
ser respeitadas por espíritos menores; ele não podia reconhecer autoridade mais
alta do que a ditada pelo seu próprio gênio.

Ao contrário de Leonardo, para quem a pintura era mais nobre das


artes porque abarcava todos os aspectos visíveis do mundo, Miguelângelo foi
um escultor – mais especificamente um talhador de estátuas de mármore – até
as entranhas. A arte não era, para ele, ciência, mas sim “feitura de homens”,
análoga (ainda que de modo imperfeito) à criação divina; as limitações da
escultura que Leonardo verberava, eram, por esse fato, virtudes essenciais aos
olhos de Miguelângelo. Apenas a “libertação” de corpos reais, tridimensionais,
do material recalcitrante, podia satisfazer a sua ânsia [...]. A pintura devia, em seu
entender, imitar a plenitude das formas esculpidas, e também a arquitetura devia
possuir as qualidades orgânicas da figura humana.

A fé de Miguelângelo na imagem humana como o supremo veículo de


expressão conferiu-lhe afinidade com a escultura clássica mais estreita que a de
qualquer outro artista do Renascimento. Dentre os mestres recentes admirava
Giotto, Masaccio, Donatello e Jacopo della Quércia, mais que os artistas do tempo
da sua juventude em Florença, embora o clima cultural da cidade lhe tivesse
influenciado decisivamente o espírito ao longo das décadas de 1480 e 1490; quer
o neoplatonismo de Marsílio Ficino, quer as reformas religiosas de Savanarola
o afetaram profundamente. Estas influências opostas agravaram as tensões na
personalidade de Miguelangelo, as violentas flutuações de humor, o sentimento
de estar em luta contra si próprio e contra o mundo.

Assim como concebia as suas estátuas como corpos humanos libertados


da sua prisão de mármore, também o corpo era para ele a prisão terrena da alma
– nobre, é certo, mas apesar de tudo prisão. Este dualismo entre corpo e espírito
confere às suas figuras um “pathos” extraordinário; calmas no exterior parecem
ser agitadas por uma energia psíquica irresistível, que não se liberta através do
movimento físico.

FONTE: JANSON, H. W. A História Geral da Arte. São Paulo: Martins Fontes, 2001. p. 451.

104
TÓPICO 3 | O RENASCIMENTO

DICAS

Para saber mais sobre a vida e obra deste fabuloso artista, leia o livro A arte secreta
de Michelangelo, de 2004, da Editora ARX. Os autores são Gilson Barreto e Marcelo G. Oliveira. A
história de Miguelangelo foi imortalizada pelo filme “Agonia e Êxtase” com o ator Charlton Heston
que interpreta o artista; é um filme antigo de 1965, mas que representa muito bem a época e o
contexto histórico. Vale a pena conhecer!

UNI

Prezado acadêmico(a). Terminamos aqui a unidade 2 de gêneros da escultura.


Vamos ao resumo do tópico e rever questões importantes da escultura do Renascimento e
Pós-Renascimento.

105
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você viu que:

l O Renascimento se baseia no Humanismo e num retorno à Antiguidade


Clássica. A nudez, como tema, retorna para a escultura e o primeiro escultor a
realizar tal proeza, é Donatello, com David. Os dois gêneros da escultura que se
enfatizam são: o Retrato e o Religioso. O principal escultor é Michelangelo com
obras importantes como: David, Pietá e Moisés.

l No Pós-Renascimento, temos três períodos: Maneirismo, Barroco e Rococó. No


Maneirismo, o gênero principal é religioso, mas na Itália, o Mitológico se destaca
principalmente com dois escultores: Cellini (com Perseu) e Bologna (com o Rapto
das Sabinas). Já o Barroco tem em Bernini o escultor que expressa o dinamismo
por meio dos gêneros: religioso, mitológico e retrato em importantes obras:
David, O êxtase de Santa Teresa e Luis XIV. No Rococó, a ornamentação se torna
rica, sensual e extravagante. A escultura alegórica é o ponto alto dessa época,
mas a religiosidade, a mitologia e o retrato também estão presentes.

106
AUTOATIVIDADE

Prezado(a) acadêmico(a). Como sugestão de autoatividade, pedimos


que faça uma análise comparativa das características escultóricas entre o David,
de Michelangelo e o David, de Bernini. Será um ótimo exercício para entender
e refletir sobre os aspectos de cada movimento artístico: o Renascimento e o
Pós-Renascimento, com o Maneirismo.

107
108
UNIDADE 3

ARTE E GÊNERO

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta Unidade, você estará apto(a) de:

• reconhecer os gêneros da escultura por meio de estudos históricos;

• contextualizar a escultura do século XVIII até o período contemporâneo e


suas influências sócio-histórico-culturais;

• conhecer uma breve história da escultura brasileira e os gêneros devidos;

• conhecer técnicas e materiais da escultura;

• contextualizar as técnicas escultóricas com alguns escultores e suas obras;

• relacionar práticas da escultura e sua inserção na escola.

PLANO DE ESTUDOS
Esta Unidade está dividida em cinco tópicos, sendo que, em cada um deles,
você encontrará atividades que contribuirão para sua reflexão e análise dos
estudos já realizados.

TÓPICO 1 – ESCULTURA DO SÉCULO XVIII E XIX

TÓPICO 2 – O GÊNERO E O SÉCULO XX

TÓPICO 3 – GÊNEROS DA ESCULTURA BRASILEIRA

TÓPICO 4 – ADIÇÃO E TALHA

TÓPICO 5 – CONSTRUÇÃO E MOLDAGEM

109
110
UNIDADE 3
TÓPICO 1
ESCULTURA DO SÉCULO XVIII E XIX

1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, iremos estudar os gêneros da escultura do século XVIII e
XIX, bem como suas influências sócio-histórico-culturais.

Depois dos movimentos do Barroco e Rococó, repletos de ornamentos e


ricos em detalhes, surge o Neoclassicismo como uma tendência mais racional,
voltada ao Helenismo Clássico. Romantismo, Realismo e Impressionismo são
outras tendências desse período. No final do século XIX, revela-se um dos
maiores expoentes na escultura: Auguste Rodin, que dará início ao século da
modernidade.

Desejamos ótimos estudos e vamos a mais um tópico de Gêneros da


Escultura!

2 OS SÉCULOS XVIII E XIX


Antes de adentrarmos na escultura, vamos contextualizar o século
XVIII e XIX. O conhecido século das luzes (XVIII) dissemina a ciência e o saber
baseados na crença de que o bem-estar de uma coletividade surge por meio da
razão. O Iluminismo se baseia nessas ideias e resume os diversos conhecimentos
intelectuais, filosóficos e religiosos de que por meio das capacidades humanas
e do envolvimento político e social é possível um mundo melhor. Essas ideias
convergem para várias revoluções políticas na Europa, como a Revolução
francesa, em 1789.

A Revolução Industrial que inicia na Inglaterra no século XVIII ganha


impulso no século XIX. A máquina supera a mão de obra humana e isso gera uma
nova relação de trabalho e torna o capitalismo o sistema econômico em vigência.

A tecnologia aliada à industrialização ganha força e surgem muitas


invenções como: a máquina a vapor, o telégrafo, o telefone, a energia elétrica,
o radioamador, o fonógrafo e o motor de combustão interna, a fotografia, entre
outros, são verdadeiras inovações que mudam o estilo de vida das pessoas.

111
UNIDADE 3 | ARTE E GÊNERO

Junto à evolução tecnológica, muitas ciências ganham notoriedade:


a física, a química e a metalurgia. As ciências humanas também se destacam
por meio da Sociologia e a Psicologia. Mas é com Charles Darwin, que se dá a
verdadeira revolução; com o livro sobre A Origem das Espécies (1859), as ciências
tomam novos rumos, e criam polêmica junto à Igreja.

2.1 NEOCLASSICISMO E ROMANTISMO


Os períodos da história da arte que competem ao século XVIII e XIX são
chamados de: Neoclássico e Romântico.

O Neoclassicismo (1774-1820) retoma a cultura helenística clássica grega


e se baseia nas ideias da razão, porém marcada de sensibilidade. Os gêneros da
escultura que convém a esse período é o mitológico e a alegoria. Um dos escultores
mais famosos do Neoclássico é o italiano Antonio Canova (1757-1822). Canova
pertence a um mundo ideal, seus personagens não são deste mundo, vivem na
supremacia ou na mitologia. Quando representa os papas, os imperadores e seus
familiares converte-os em deuses e heróis. É o caso da escultura Paulina Borghese
como Vênus (1807) que idealiza a irmã de Napoleão Bonaparte na deusa do amor e
da beleza. A paixão pela razão e o belo está firmada nessa escultura que repercute
perfeição e delicadeza.

FIGURA 80 – PAULINA BORGHESE COMO VÊNUS

FONTE: Disponível em: <http://clasesdearte.blogspot.com>. Acesso em: 23 maio


2009.

112
TÓPICO 1 | ESCULTURA DO SÉCULO XVIII E XIX

Outra belíssima escultura de Canova, que cultiva o gênero da alegoria é


Eros e Psique. É um mito que conta a história trágica e as desventuras desses dois
amantes, que por fim conseguem ficar juntos mediante a ajuda de Júpiter, que
consente a morada dos céus para Psique. A história em si é alegoria e representa
a psique como a alma humana, que é purificada pelas adversidades, e por fim
consegue a verdadeira felicidade. A escultura em mármore, possui delicadeza e a
sensualidade proposta pelo Neoclássico.

FIGURA 81 – EROS E PSIQUE (DETALHE)

FONTE: Disponível em: <http://redeazul.blogspot.com>. Acesso em


23 maio 2009.

O Romantismo (1815-1848) tinha uma perspectiva diferente do


Neoclássico; era contrário ao racionalismo e em favor de um nacionalismo. Os
artistas românticos se voltaram para o drama humano, a tragédia e os ideais
utópicos. A marca do Romantismo é o lirismo, o subjetivo e o escapismo.

E
IMPORTANT

O escapismo significa uma espécie de fuga da realidade por meio da imaginação


ou de devaneios.

113
UNIDADE 3 | ARTE E GÊNERO

A pintura romântica conseguiu se desenvolver muito mais do que a


escultura: é que a sua concepção sólida e tridimensional não se relacionava com
o caráter romântico da época. Mesmo com essa incompatibilidade em mediar
as ideias com a materialidade escultórica, podemos destacar dois artistas deste
período: François Rude (1784-1855) e Jean-Baptiste Carpeaux (1827-1875).

François Rude é o artista mais romântico, podemos observar isso em


seu relevo que consegue manifestar o idealismo e as manobras expressivas e
dramáticas caracterizadas pelo romantismo. É o exemplo de A Marselhesa de
que se encontra num dos pilares do Arco do Triunfo em Paris. Feita em calcário,
representa soldados, voluntários de 1792, em defesa da República, esculpidos de
forma clássica. O personagem alegórico “gênio da liberdade” se sobressai contra
o inimigo e envolve todos num impulso enérgico.

FIGURA 82 – A MARCHA DOS VOLUNTÁRIOS DE 1792

FONTE: Disponível em: <http:// www.flickr.com>. Acesso em: 26


maio 2009.

Jean-Baptiste Carpeaux é conhecido pelo relevo da fachada da Ópera de


Paris. A Dança lembra a alegria do rococó e as figuras parecem menores, apesar
de medirem 5m de altura. Baseados na mitologia, sugerem personagens evasivos,
perdidos em seus devaneios.

114
TÓPICO 1 | ESCULTURA DO SÉCULO XVIII E XIX

FIGURA 83 – A DANÇA

FONTE: Disponível em: <http://commons.wikimedia.org>. Acesso


em: 26 maio 2009.

2.2 REALISMO E IMPRESSIONISMO


No final do século XIX, surgem o Realismo e o Impressionismo. O
Realismo propunha a realidade tal como é - o homem precisa se convencer a ser
realista, inclusive na arte. Dever-se-ia deixar a subjetividade e o emotivo de lado,
numa severa oposição ao Romantismo. O Impressionismo renova totalmente a
linguagem artística por meio da técnica e os seus conceitos sobre a luz. Isso tudo
irá refletir na escultura, quando se deixa o idealismo e se volta ao realismo, no
sentido de recriar as coisas tais como são. Com o Impressionismo, a escultura
procura os conceitos de luz e sombra, a ideia de visualização de vários ângulos
e a obra inacabada. Os temas surgem do cotidiano e da literatura da época. O
escultor que irá absorver tais conceitos e revitalizar a escultura será Auguste
Rodin (1840-1917).

3 RODIN: O ESCULTOR DA EXPRESSÃO


A revolução da escultura regida por Auguste Rodin aos seus 24 anos de
idade, só teve impulso e reconhecimento no fim da década de 1870. O artista
assimilou as tendências da época e conseguiu transferir para a arte escultórica. Foi
um dos primeiros escultores a utilizar o inacabado como linguagem expressiva,
que ele articulou no tratamento das superfícies, mas também no que diz respeito
da obra em si. Ou seja, o inacabado também se encontra na forma da escultura:
suas figuras nem sempre inteiras, ou são partes de algo, é o que se chama de
115
UNIDADE 3 | ARTE E GÊNERO

“autonomia do fragmento”. Um desses fragmentos autônomos mais famosos é O


Pensador (figura 3 – Unidade I), que faz parte do conjunto escultórico: As Portas do
Inferno. Essa última obra nunca foi terminada, mas serviu de fonte de inspiração
para outras esculturas.

O Pensador (1880-1904) é uma dessas obras que bastam por si mesmas: elas
não necessitam de mais elementos para nos narrar uma história. O Pensador nos
remete às esculturas sobre-humanas de Michelangelo, que em descanso possuem
uma energia intrínseca.

FIGURA 84 – O PENSADOR (DETALHE)

FONTE: Disponível em: <http://www.fundacaocultural.ba.gov.br>.


Acesso em 21 jun. 2009.

Rodin fez a primeira versão dessa escultura em 1880. Concebido para ser
parte das Portas do Inferno, ele representa inicialmente o poeta Dante Alighieri
(1265-1321) que medita sobre a sua concepção poética. Mas separada de sua
matriz original, a escultura pode representar qualquer outro personagem.

E
IMPORTANT

Dante Alighieri é conhecido por seu livro “A Divina Comédia” que relata uma
viagem realizada pelo próprio Dante pelos seguintes lugares: Inferno, Purgatório e Paraíso.
O sentido original de “Comédia” é o término feliz em contrapartida com a tragédia que tem
por finalidade o drama.

116
TÓPICO 1 | ESCULTURA DO SÉCULO XVIII E XIX

Outra conhecida escultura de Rodin é O Beijo que também se origina das


Portas do Inferno. O inacabado do mármore contrasta com os corpos dos amantes
e acentua a ternura, a emoção e a sensualidade das esculturas. Acredita-se que
Rodin tenha se impressionado com as esculturas de Michelangelo, principalmente
a ideia de que as figuras estivessem presas às pedras. Em O Beijo, os personagens
parecem vinculados ao mármore o que pode simbolizar também as paixões
terrenas.

FIGURA 85 – O BEIJO

FONTE: Disponível em: <http://www.flickr.com>. Acesso em: 29


maio 2009.

DICAS

Uma dica: para saber mais sobre o artista Auguste Rodin e sua obra, veja o
filme Camille Claudel. Conta a história do romance tumultuado entre Rodin e Claudel, sua
assistente no ateliê. Vale a pena para conhecer o contexto da escultura e seus artistas de uma
época.

117
UNIDADE 3 | ARTE E GÊNERO

Enquanto Michelangelo era um cinzelador, Rodin era um modelador.


Suas esculturas eram direcionadas para o bronze. Talvez por isso, Rodin
conseguisse uma expressividade única, ao trabalhar diretamente com a argila
e suas possibilidades maleáveis. A expressão inacabada de suas esculturas, na
verdade revelava a personalidade e a força contida nas feições escultóricas. É o
caso de Balzac que revela muito mais do que simplesmente o retrato do escritor
e romancista francês. Sem grandes pretensões de complexidade escultórica, a
figura mais parece um monólito. Mas a aparência quase fantasmagórica de Balzac
talvez seja dada pela capa que lhe envolve: uma espécie de mortalha, na qual
emerge somente a sua cabeça. Sua aparência deflagra uma angústia íntima.

FIGURA 86 – BALZAC (DETALHE)

FONTE: JANSON, H. W. A História Geral da Arte. São Paulo:


Martins Fontes, 2001.

Nos trabalhos de Rodin podemos perceber a alegoria e os retratos


como gêneros da escultura. Na alegoria, o frequente uso de metáforas: suas
esculturas expressam além de suas figuras representadas, e nos levam a reflexão
e subjetividade. Mesmo quando realiza retratos de seus amigos, por encomenda
ou comemorativos, Rodin prefere exaltar a personalidade à semelhança física de
seus retratados.

118
TÓPICO 1 | ESCULTURA DO SÉCULO XVIII E XIX

E
IMPORTANT

Uma parte interessante do trabalho de Rodin, são as “colagens”. Recentemente


descobriu-se esta faceta do artista, que sem pretensão alguma, realizava esculturas a partir
de “sobras” ou partes. Talvez para Rodin fosse algum tipo de exercício espacial ou estudos
prévios, ao unir fragmentos de esculturas, sem se importar com proporções ou medidas. Era
sua criação espontânea, mas que de certa maneira era uma prénuncio das colagens cubistas
e da arte moderna do século XX.

UNI

Está na hora do RESUMO! Vamos rever os quesitos mais importantes do tópico 1.

119
RESUMO DO TÓPICO 1

Neste tópico, você viu que:

• Os movimentos artísticos, os artistas e os gêneros que competem aos séculos


XVIII e XIX são:

• O Neoclassicismo retoma a cultura helenística clássica grega com base nas


ideias da razão com sensibilidade. Os gêneros da escultura são: o mitológico e
a alegoria. O escultor referência desse período é Antonio Canova.

• O Romantismo era contrário ao racionalismo e em favor de um nacionalismo,


voltado para o drama e os ideais utópicos. Seus escultores: François Rude e
Jean-Baptiste Carpeaux.

• O Realismo propõe um homem voltado à realidade, em oposição ao


Romantismo.

• O Impressionismo inspira a escultura, com os conceitos de luz e sombra, a


visualização da escultura em vários ângulos e a obra inacabada. O escultor
dessa época é Auguste Rodin. Exímio modelador utiliza o inacabado como
linguagem expressiva. Nas esculturas de Rodin percebemos a alegoria e os
retratos como gêneros da escultura. Principais obras: as portas do inferno, O
Pensador, O Beijo, Balzac entre outras.

120
AUTOATIVIDADE

Ao conhecer as obras de Rodin, talvez a que tivesse


despertado mais curiosidade seja As portas do Inferno. Como você
imagina que seja essa porta? Para que fim ela foi encomendada?
Pesquise em bibliografias ou na internet essa obra inicial
de Auguste Rodin, que foi inspiração para outras esculturas. Durante a
apreciação da obra, procure reconhecer as esculturas que surgem dos relevos,
por exemplo, O pensador e O beijo. Bom estudo!

121
122
UNIDADE 3
TÓPICO 2

O GÊNERO E O SÉCULO XX

1 INTRODUÇÃO
Nossos estudos agora se encaminham para a escultura moderna e
contemporânea. A linguagem e os conceitos artísticos se modificam e o artista
ganha autonomia em seu trabalho.

A partir desse momento, os gêneros da escultura também sofrem um


questionamento: como definir o gênero para a escultura, já que essa se torna cada
vez mais abstrata?

Tantas mudanças refletem o novo século que se inicia e que traz consigo
a expectativa, a inovação, a tecnologia e a libertação da arte como linguagem e
expressão.

Mantenha a curiosidade, instigue a apreciação e bons estudos!

2 A ARTE MODERNA
A arte moderna está intimamente ligada ao modernismo e ao século XX,
esse período tido como o mais avançado no quesito tecnológico (rádio, televisão,
automóveis, aviões, computador e internet, entre outras) e mudanças radicais de
poderes políticos e sociais. Esse período também é conhecido como o “Século
Sangrento” pelos inúmeros conflitos ocorridos, principalmente as duas Grandes
Guerras Mundiais.

Diante de um século tão conturbado e ao mesmo tempo fascinante, a arte


não poderia deixar de sua contribuição. Com o advento da fotografia, a arte perde
a obrigatoriedade da representação, e surge a abstração. Sem a necessidade de
conceber de maneira literal algum assunto ou objeto, a arte pode experimentar
novas técnicas e materiais, assim como diferentes conceitos e ideias.

Surgem vários movimentos artísticos: Expressionismo, Fovismo,


Cubismo, Futurismo, Surrealismo, Dadaísmo entre outros. H. W. Janson (2001)
distingue três correntes principais, que orientam a arte do século XX:

123
UNIDADE 3 | ARTE E GÊNERO

[...] a da Expressão, a da Abstração e a do Fantástico. A primeira


acentua a atitude emocional do artista em relação a si próprio e ao
mundo; a tônica da segunda é a estrutura formal da obra de arte; a
terceira explora o reino da imaginação, em especial os seus traços
espontâneos e irracionais. (...) são três correntes que não correspondem
a estilos determinados, mas a atitudes gerais do espírito. A primeira
preocupação do expressionista é a comunidade humana, a do
abstracionista, a estrutura da realidade; e a do artista da fantasia, o
labirinto da mente individual. (JANSON, 2001, p. 666)

Na escultura, estas correntes da expressão, da abstração e do fantástico se


pronunciam por meio de diferentes materiais, técnicas de construção, conceitos e
formas. A escultura narrativa que remete às histórias, mitos e símbolos - começa
a se esvair. A abstração e os novos conceitos sem grandes referências com o
cotidiano, criam uma situação hermética – na qual o observador não compreende
a obra.

Esse prisma - do não compromisso com a realidade e a valorização do


trabalho do artista - faz com que nem sempre relacionemos o escultor com o
movimento artístico, mas sim, com sua obra. Isso gera uma situação diversa para
os Gêneros, que começam a perder sua função. Como definir o gênero de uma
época ou o gênero de um artista? O individualismo gera linguagens tão distintas e
por vezes abstratas, que não se emprega mais o gênero para avaliar as esculturas,
mas no lugar dele, prevalece a temática ou o conceito. Não que os artistas não se
utilizem de algum gênero como forma de inspiração para suas esculturas, mas a
partir do século XX, os temas e os estilos são usados para conceituar e definir suas
linguagens escultóricas.

TURO S
ESTUDOS FU

Nosso próximo estudo se refere aos artistas que contribuíram de alguma maneira
para a escultura moderna, por meio de conceitos, linguagens ou materiais diferenciados.
Apesar dos movimentos artísticos (cubismo, expressionismo etc.) serem o fio condutor do
século XX – principalmente para a pintura - isso nem sempre se revela na escultura, que por
vezes segue um caminho próprio. Na escultura se conhece o artista e sua obra, que por
vezes acompanha o movimento artístico vigente.

Artistas e suas obras

Constantin Brancusi (1876-1957), artista romeno que se estabelece em


Paris a partir de 1904. Seu interesse estava voltado para a simplificação formal.
“Enquanto que nas mãos de Rodin, a modelagem – apesar do intimismo do
tema - havia se tornado pública, agressiva, extrovertida e generalizada, Brancusi
deu ao entalhe um sentido oposto: privado, individual, isolado, concentrado e
silencioso.” (TUCKER, 1999, p. 43).
124
TÓPICO 2 | O GÊNERO E O SÉCULO XX

Brancusi trabalhou vários materiais como o calcário, a madeira, o mármore


e o bronze. Buscava as formas legítimas e abstratas. O artista se preocupava com
o acabamento final e algumas peças são tão lustrosas que parece buscar o intimo
da matéria. Brancusi valorizava o material em que trabalhava e destacava as
características desse, a tal ponto que percebemos a relação entre forma e matéria,
numa afinidade pura e singela, mas não menos poderosa. A escultura O Recém
Nascido, de 1915 exemplifica essas ideias.

O artista Brancusi buscou inspiração nas esculturas primitivas. Ao invés


de se impressionar com a expressão selvagem, preferiu a simplificação das formas.
Isso fica evidente em outra escultura sua chamada O Beijo, na qual prevalece o
material (pedra) em função da forma, que é bastante simples e pouco entalhada.
Brancusi procura enaltecer o material, e para tanto a forma não pode ser complexa
e por isso a abstração é o recurso apropriado.

FIGURA 87 – O RECÉM NASCIDO

FONTE: Disponível em: <http://www.diacenter.org>. Acesso em: 29


maio 2009.

E
IMPORTANT

Muitos artistas modernos buscaram inspiração em outras culturas, na busca


de um certo exotismo. O que lhes agradava era o geometrismo, a simplificação, a expressão
e a iconografia das culturas primitivas. É histórico o surgimento do cubismo com base nas
máscaras africanas.

Henry Moore (1898-1986) escultor inglês, também busca a abstração, por


meio de suas figuras humanas simplificadas. Ele também procurou inspiração no
primitivismo, e algumas de suas esculturas revelam-se verdadeiros monólitos,
que lembram Stonehenge – no sul da Inglaterra, que deve ter fascinado o artista,
pelas suas formas simplistas e de grande escala.

125
UNIDADE 3 | ARTE E GÊNERO

FIGURA 88 – FIGURA RECLINADA

FONTE: BOZAL, Valeriano. História geral da arte: escultura. Barcelona: Del


Prado, 1996.

Moore se utiliza da pedra e do bronze para as suas esculturas. Ele propõe


o vitalismo na escultura - defendida também por outros artistas, como Jean Arp.
O vitalismo sugere a vida que impregna a matéria amorfa, ou seja, o escultor
impregna suas esculturas com algum tipo de existência, algum tipo de energia
vital (ver leitura complementar). A figura humana é uma temática constante nos
trabalhos de Moore. Suas figuras se alongam, saem de suas proporções, sugerem
movimento e espacialidade. O artista indica um retorno ao primitivo, às origens
da escultura, quando usa da talha como técnica primordial e da figura humana
como tema da pré-história. É o caso de Figura Reclinada, de 1958.

Umberto Boccioni (1882-1916) era escultor e pintor. De descendência


italiana, ele é um dos escultores que estava associado às ideias do movimento
artístico chamado Futurismo, que exaltava a velocidade e os desenvolvimentos
tecnológicos. Boccioni realiza esculturas a partir de 1912, principalmente em
gesso. A sua escultura mais famosa é Formas Únicas de Continuidade no Espaço, que
reverencia o movimento e é o marco da vanguarda do modernismo europeu. Em
bronze, mede 111,2cm de altura.

126
TÓPICO 2 | O GÊNERO E O SÉCULO XX

FIGURA 89 – FORMAS ÚNICAS DE CONTINUIDADE NO ESPAÇO

FONTE: Disponível em: <http://upload.wikimedia.org>. Acesso em: 2 Jun.


2009.

A escultura Formas Únicas de Continuidade no Espaço procura causar


impressão de ação. Assemelha-se com uma figura em movimento, que se desloca
mediante uma força, que passa pelo corpo e cria a ilusão de aceleração e rapidez.
Podemos fazer uma menção à Vênus de Samotrácia, que também retrata agilidade
a outros modos de representação. Curioso é que o artista declarou em um de seus
manifestos que considerava um carro de corrida muito mais interessante do que
a Vênus de Samotrácia. No entanto, Formas Únicas de Continuidade no Espaço nos
impressiona pelo conceito de propor movimento às esculturas, liberando-as do
conceito pesado e estrutural, o que será conseguido mais tarde, com os móbiles.

Pablo Picasso (1881-1973) é conhecido por suas pinturas. Muitos


desconhecem sua contribuição para outras linguagens, inclusive a escultura.
A ousadia de Picasso está na construção, ao utilizar vários materiais, desde a
madeira ao papelão, passando mais tarde para objetos. A tridimensionalidade de
Picasso começa a partir de suas colagens na pintura, e passam para os relevos.
O Instrumento Musical é um dos exemplos dos trabalhos do artista com pedaços
e restos de madeira. Usando a linguagem do cubismo, esse relevo se torna
escultórico pelo material intercalado um sobre o outro junto à textura da madeira.
Unir coisas ao invés de esculpir, já era um exercício praticado por Rodin, mas até
então não tinha sido visto como uma proposta final de escultura.

127
UNIDADE 3 | ARTE E GÊNERO

Afinal, Picasso e Brancusi foram os maiores responsáveis pela revolução


que ocorrera entre 1909 e 1915. Brancusi aplicou a simplicidade e a
racionalidade dos procedimentos artesanais aos materiais tradicionais
da escultura, criando uma ordem nova de objetos físicos; já as
construções de Picasso, feitas entre 1912 e 1915, demonstraram que a
escultura podia buscar o assunto, a estrutura e o material no mundo
dos objetos. (TUCKER, 1999, P.75).

FIGURA 90 – INSTRUMENTO MUSICAL

FONTE: TUCKER, William. A linguagem da escultura. São Paulo:


Cosa & Naify edições, 1999.

Picasso, na década de 30, retorna à escultura com ideias sobre as


possibilidades de construção usando objetos e metal soldado, auxiliado pelo
artista Julio González.

Julio González (1876-1942) é um artista espanhol que trabalhou a escultura


linear. A contribuição de González era conhecida como “Desenho no espaço”. O
material utilizado era ferro, que em sua maioria eram filetes e chapas soldados
uns aos outros e criavam uma composição de linhas e planos. São circundados
pela espacialidade, que proporciona leveza às esculturas. Gongález possuía o
conhecimento técnico da solda em metal, e por essa facilidade a construção das
esculturas lineares lhe era viável. Foi ele que introduziu o ferro forjado como
material escultórico, e apesar da simplicidade de seus trabalhos, a expressividade
e a pureza dos elementos glorificam as possibilidades da abstração.

128
TÓPICO 2 | O GÊNERO E O SÉCULO XX

FIGURA 91 – PEQUENA ESCULTURA NO ESPAÇO

FONTE: Disponível em: <http://www.revistadearte.com>. Acesso


em: 21 jun. 2009.

Um dos desafios mais pertinentes da vanguarda era dar movimento à


escultura, uma linguagem tida tradicionalmente como pesada e estática. Para
isso, os artistas tiveram de ser radicais, e quem se destacou foi o norte-americano
Alexander Calder (1898-1976). Calder construiu várias esculturas suspensas ou
articuladas, com o nome de Móbiles. Movidas pelo vento, pelo toque do observador
ou por engrenagens e pequenos motores, as esculturas além de possuírem o
princípio do movimento, interagem com o espaço. Esse último passa a ser um
denominador importante e presencial para os Móbiles.

Calder faz parte do conceito Cinético, concebido inicialmente pelos


construtivistas, em que o objetivo das esculturas é criar efeitos visuais por meio de
oscilação ou ilusão de ótica. Trabalhando principalmente com chapas metálicas,
o artista procura conceber uma composição que exige certo equilíbrio entre as
partes, para que aja movimento. Outra concepção importante nas esculturas de
Calder é a presença de cores. A cor inserida na escultura amplia nossa percepção
diante do escultórico cinético. Outra questão pertinente é o pedestal, ou a falta
dele. Outros artistas já dispensam o pedestal, mas é com os móbiles que não há
mais essa necessidade de apoio extra para a escultura.

129
UNIDADE 3 | ARTE E GÊNERO

FIGURA 92 – BLACK PEACOCK (PAVÃO PRETO)

FONTE: Disponível em: <http://artismoving.blogspot.com>. Acesso em: 2 jun. 2009.

E
IMPORTANT

Preste atenção! Se antes a característica primordial da escultura era volume,


com a Arte Moderna e mais tarde a Arte Contemporânea, o princípio escultórico passa a ser
a estrutura.

Marcel Duchamp (1887-1968) pertenceu ao Dadaísmo, um dos precursores


da Arte Conceitual e um dos artistas mais polêmicos da arte moderna. Um dos
pontos relevantes de Duchamp era a seguinte pergunta: o que faz uma obra de arte?
Diante disso, o artista insere objetos do cotidiano na classe da Arte, simplesmente
pela escolha: são os readymades (arte-pronta). Os trabalhos de Duchamp baseavam-
se no ato de selecionar. Talvez a resposta para o questionamento fosse que o
trabalho em artes não necessita ser um objeto físico, mas um conceito. Não é
preciso fazer arte, mas saber definir o que pode ser arte.

Nada resta de uma escultura – e da veneração que se deve a uma escultura


e a seu criador, ao escultor -, quando no seu lugar tem um Urinol [...] ou um Porta-
garrafas [...], nada podemos dizer de técnicas e estilos, de problemas formais; não
se trata de uma escultura, mas sim de uma manifestação, isto é, a expressão de
uma atitude que, como tal, deseja provocar, não pode cair na redundância e no
tédio. (BOZAL, 1996, p.48 e 49).

Duchamp é um provocador. Ao apresentar, por exemplo, A Fonte ele


pretende desvincular a análise do observador – na tendência da narrativa – e
não oferecer nenhuma possibilidade de compreensão. Ele não quer o objeto seja

130
TÓPICO 2 | O GÊNERO E O SÉCULO XX

examinado, mas sim que os valores estéticos e artísticos sejam questionados.


Duchamp propõe nem o belo e nem o feio, mas a indiferença, uma arte alienada
de sentimentos pessoais.

E
IMPORTANT

O Dadaísmo é um movimento artístico contra o bom senso, questionava o


bom e o mal gosto, os valores estéticos e morais. O Dadaísmo rejeita a tradição estilística e os
fundamentos artísticos como a criação, inspiração, o ofício do artista, os gêneros, as técnicas
e estéticas vigentes.

FIGURA 93 – A FONTE (1917)

FONTE: Disponível em: <http://locus.cwrl.utexas.edu>. Acesso em: 4


jun. 2009.

A Fonte foi enviada para participar de um concurso de artes, e é claro


que foi rejeitada pelo júri que dizia não haver nenhum trabalho artístico na peça.
Hoje, é um dos trabalhos mais conhecidos e venerados de Duchamp. É um urinol
comum, comprado numa loja, na qual o artista somente interferiu com uma
espécie de assinatura e trocou-lhe a posição original na qual lhe diz respeito. Ao
mudar sua posição, Duchamp retira do objeto sua função, e remete a um contexto
diferente, lhe dando uma nova configuração. Essa também é uma das propostas
do readymade.

131
UNIDADE 3 | ARTE E GÊNERO

TURO S
ESTUDOS FU

Marcel Duchamp revoluciona a Arte e a escultura com suas ideias vanguardistas,


e veremos mais adiante com a contemporaneidade, seus desígnios expressos nos trabalhos
dos artistas mais recentes.

Mas antes de passarmos para a Arte Contemporânea, devemos mencionar


outros nomes de escultores que também contribuíram para a Arte Moderna:

l Aristide Maillol (1861-1944)


l Raymond Duchamp-Villon (1876-1916)
l Vladimir Tathin (1885-1953)
l Antoine Pevsner (1886-1962)
l Jean Arp (1887-1966)
l Alexander Archipenko (1887-1964)
l Naum Gabo (1890-1977)
l Jacques Lipchitz (1891-1973)
l Alexander Rodchenko (1891-1956)
l Alberto Giacometti (1901-1966)
l Barbara Hepworth (1903-1975)
l David Smith (1906-1965)
l Eduardo Chillida (1924-2002)

Neste período Modernista, pintores também realizaram algumas


esculturas. Podemos citar entre outros: Henri Matisse (1869-1954), Edgar Degas
(1834-1917), Juan Miró (1893-1983), Amedeo Modigliani (1884-1920), Paul
Gauguin (1848-1903), Raoul Hausmann (1886-1971).

DICAS

Para saber mais sobre escultura moderna, seus artistas e obras indicamos o
livro: Escultura Moderna: Uma história concisa de Herbert Read, da editora Martins Fontes,
2003.

132
TÓPICO 2 | O GÊNERO E O SÉCULO XX

3 ARTE CONTEMPORÂNEA
Na segunda metade do século XX, a arte começa a ter conceitos e linguagens
mais ousadas e diversificadas. Inicia-se a arte contemporânea também conhecida
como pós-moderna: consequência da tecnologia e da conquista espacial que
revoluciona as ideias quanto ao espaço e aos materiais inovadores e diferenciados.
Os limites que encerram as linguagens ficam desnorteados: até que ponto uma
arte é pintura, escultura ou arquitetura? A arte moderna procurou quebrar todas
as normas sobre técnicas e conceitos artísticos e estéticos; e a arte contemporânea
intensifica em criar polêmica e dissolver qualquer convenção que possa ainda
resistir.

Os Minimalistas conseguem chegar à abstração total. Donald Judd (1928-


1994) é um dos artistas desse movimento artístico que tem na repetição de objetos
e formas a pretensão de indiferença – sugerida pelos readymades. Ao propor formas
puras e básicas, intercaladas numa continuidade, o Minimalismo alcança o que
era proposto no Dadaísmo. Muitos trabalhos se revelam sem título, ampliando a
abstração e a proposta de desprendimento: sem um título para orientar, a obra
pode ser o que o observador quiser.

FIGURA 94 – SEM TÍTULO

FONTE: Disponível em: <http://www.myspace.com>. Acesso


em: 4 jun. 2009.

Ao contrário dos Minimalistas, a Arte Pop, impregna o observador de


imagens reconhecíveis de seu cotidiano, difundidas pela publicidade e pela
cultura de massa. A Arte Pop produziu e difundiu as chamadas assemblage e
instalações.

133
UNIDADE 3 | ARTE E GÊNERO

Robert Rauschenberg (1925-2008) é conhecido pela sua construção


Odalisca (exemplo de assemblage), que é uma espécie de caixa coberta com
fotografias e imagens de mulheres nuas com a intervenção da pintura e com
outros elementos como um pedestal, almofada e um frango empalhado. O título
Odalisca se refere às imagens das mulheres, mas a construção faz referência aos
obeliscos, monumentos da Idade Antiga. Numa mescla entre o absurdo e o
popular, o artista talvez queira nos remeter as ideias sobre o estereótipo da nudez
e da sensualidade na cultura do consumo.

E
IMPORTANT

Foi o artista Jean Dubuffet (1901 - 1985) que conceituou primeiramente em 1953, o
termo Assemblage. Definido como reunião ou junção, esse termo em artes serve para referenciar
os trabalhos artísticos que utilizam diversos tipos de material agregados à obra de arte. Esse tipo
de trabalho já tinha sido iniciado pelo Dadaísmo e por Picasso, mas ganha repercussão com a
Pop Art.

FIGURA 95 – ODALISCA

FONTE: JANSON, H.W. A História Geral da Arte. São Paulo:


Martins Fontes, 2001.

134
TÓPICO 2 | O GÊNERO E O SÉCULO XX

George Segall (1924 -2000) cria instalações na qual sua temática gira
em torno de figuras humanas feitas em gesso, numa técnica desenvolvida pelo
próprio artista. O formato humano foi moldado sobre um modelo vivo. A
escultura possui uma aura fantasmagórica que revela a solidão e o individualismo
da época contemporânea. Também pertencente à Arte Pop, Segall introduz essas
esculturas em ambientes com objetos do cotidiano, criando nichos sobre a vida
urbana. Por vezes, insere suas figuras em locais da cidade, interagindo com o
espaço publico e ampliando sua perspectiva espacial. Suas esculturas imitam o
dia a dia das pessoas comuns, em perfis usuais, como por exemplo, esperando o
ônibus ou numa fila.

E
IMPORTANT

A instalação trabalha com o tempo e o espaço – a obra se instala num


determinado lugar por um período definido ou indefinido. Aqui não há preocupação com o
atemporal. Certas instalações são tão amplas que convidam o observador a experimentar e
fazer parte integrante da obra.

FIGURA 96 – TRIO DE VIAJANTES PRESOS NO TEMPO

FONTE: Disponível em: <http:// twi-ny.com>. Acesso em: 6 jun. 2009.

135
UNIDADE 3 | ARTE E GÊNERO

DICAS

Para saber mais sobre os conceitos contemporâneos da Arte, sugerimos o livro


“Arte Contemporânea – uma história concisa” de Michael Archer, da editora Martins Fontes,
de 2001. O livro traz também as últimas tendências e artistas da contemporaneidade. Boa
leitura!

Quando as instalações ocupam a natureza e ganham proporções


gigantescas, são chamadas de Land Art. Pode ser uma intervenção na natureza
como o Quebra-mar espiral de Robert Smithson (1938-1973) um artista norte-
americano que se dedicou a geologia artificial. Ele questionava qual a fronteira
entre a natureza e a produção cultural. Quebra-mar espiral é um aterro de basalto
e areia no grande lago salgado de Utah/EUA. Sua representação se baseia num
símbolo arcaico que contrasta com a paisagem orgânica. A Land Art é a proposta
estrutural do temporal e material que invade uma determinada área, sem se
preocupar com o durável e o eterno, mas que se coloca a disposição da erosão e
das intempéries do tempo.

FIGURA 97 – QUEBRA-MAR ESPIRAL

FONTE: Disponível em: <http://www.mediabistro.com>. Acesso em: 6 jun. 2009.

Diante de novos conceitos de arte, como a Assemblage e a Instalação,


poderiam esses ser os novos gêneros da tridimensionalidade? Ainda há
divergências entre autores e a história é recente. Devemos estar atentos e ficar
atualizados com as propostas e conceitos que vão surgir. Pesquisa é essencial.

136
TÓPICO 2 | O GÊNERO E O SÉCULO XX

A própria escultura a partir da arte moderna começa ser questionada


pelos limites: até que ponto uma escultura é considerada escultura e não uma
instalação? Cada uma possui seus referenciais, mas às vezes alguma obra pode
criar polêmica. Para não nos dispersarmos quanto aos conceitos, o importante é
que todas são tridimensionais.

Para complementar o período contemporâneo, citamos os seguintes


artistas:

l Jean Dubuffet (1901-1985).


l Louise Bourgeois (1911).
l Meret Oppenheim (1913 – 1985).
l Joseph Beuys ( 1921-1986).
l Jean Tinguely (1925- 1991).
l Mario Merz (1925-2003).
l John Chamberlain (1927).
l Claes Oldenburg (1929) .
l Niki de Saint-Phalle (1930-2002).
l Robert Morris (1931).
l Carl Andre (1935).
l Javacheff Christo (1935).
l Hans Haacke (1936).
l Eva Hess (1936-1970).
l Richard Serra (1939).
l Bruce Nauman (1941).
l Ron Mueck (1958).

NOTA

Para ampliar seus estudos, um texto complementar sobre a escultura moderna


e um de seus conceitos: o Vitalismo. Boa leitura!

137
UNIDADE 3 | ARTE E GÊNERO

LEITURA COMPLEMENTAR

A IMAGEM VITAL

Herbert Read

Já me referi [...] ao desenvolvimento da escultura moderna que melhor se


designa pela palavra vitalismo. Como a maioria dos novos desenvolvimentos na
arte moderna, foi primeiramente inspirado por Picasso, mas esta fase particular
da escultura foi dominada pelo gênio de Henry Moore, e uma afirmação sua
muito citada justifica o uso da palavra vitalismo nesta relação:

Vitalidade e poder de expressão. Para mim, uma obra deve primeiramente


ter uma vitalidade própria. Não quero dizer um reflexo da vitalidade da vida,
do movimento, ação física, cambalhotas, figuras dançando e assim por diante,
mas que uma obra pode ter em si uma energia retida, uma intensa vida própria,
independente do objeto que porventura represente. Quando uma obra tem essa
poderosa vitalidade, não associamos a ela a palavra Beleza. Beleza, no sentido
grego posterior ou renascentista, não é o objetivo da minha escultura.

Entre a Beleza de expressão e o poder de expressão há uma diferença de


função. A primeira almeja agradar aos sentidos, o segundo tem uma vitalidade
espiritual que para mim é mais emocionante e vai além dos sentidos.

Não é porque uma obra não almeja a reprodução das aparências naturais
que ela é, por isso, uma fuga da vida – mas pode ser uma penetração na realidade...
uma expressão do significado da vida, um estímulo a um maior esforço em viver.

FONTE: READ, Herbert. Escultura Moderna: uma história concisa. São Paulo: Martins Fontes,
2003. p. 161.

UNI

Este é o momento do resumo deste tópico. Vamos rever algumas questões


referentes à escultura Moderna e Contemporânea.

138
RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico, você viu que:

l Na Arte Moderna, a escultura busca correntes da expressão, da abstração e do


fantástico por meio de diferentes materiais, técnicas de construção, conceitos
e formas. A escultura narrativa começa a se esvair. Diante da abstração e o
individualismo dos artistas, os gêneros perdem sua função. Os artistas como
Constantin Brancusi e Henry Moore buscam a abstração. Pablo Picasso
revoluciona com a construção e a pesquisa de materiais; Umberto Boccioni
busca o movimento na escultura que alcança sua plenitude com os móbiles
de Alexander Calder; Júlio González propõe as esculturas lineares e Marcel
Duchamp revoluciona ao propor a arte como conceito com seus readymades –
ao utilizar objetos do cotidiano.

l Na Arte Contemporânea, intensificam-se conceitos como Assemblage, Instalação


e Land Art. Os minimalistas alcançam a abstração completa. A Pop Art dissemina
os conceitos contemporâneos de Arte como a Assemblage, exemplificada pelo
artista Robert Rauschenberg e a obra Odalisca. George Segal explora o conceito
de Instalação com suas figuras humanas engessadas inseridas em ambientes.
Robert Smithson amplia o termo Instalação para a Land Art, com interferência
na natureza.

139
AUTOATIVIDADE

No final da Arte Contemporânea, listamos alguns artistas,


entre eles, John Chamberlain e Ron Mueck. Procure na Internet,
alguns desses artistas citados e conheça os seus trabalhos. Muitos
deles possuem obras instigantes e fascinantes. Pesquise e amplie
seus conhecimentos sobre as manifestações escultóricas da arte contemporânea!

140
UNIDADE 3
TÓPICO 3

GÊNEROS DA ESCULTURA BRASILEIRA

1 INTRODUÇÃO
Agora, que você já possui um bom conhecimento sobre a escultura e seus
gêneros, com certeza saberá relacionar tais quesitos à escultura brasileira, com
facilidade.

Este é o nosso último tópico, e temos como objetivo contextualizar as fases


mais importantes da escultura no Brasil, começando com o Barroco até algumas
manifestações da Arte Contemporânea.

É um tópico importante, por estarmos reconhecendo os movimentos


artísticos e estéticos que abordam nossa Arte e também para valorizar os artistas
e suas obras que contribuem para a cultura e arte brasileira. Bons estudos!

2 ESCULTURA BRASILEIRA
A Escultura no Brasil teve a sua base nos movimentos estéticos e artísticos
no estrangeiro, principalmente a Europa. Seja o Brasil Colônia ou o Brasil
República, a verdade é que a vanguarda da arte coube aos europeus e mais tarde
os norte-americanos. Mesmo com a premissa de se apoiar nas vanguardas de
outros, a escultura brasileira se adapta aos interesses e aos temas da cultura de
seu povo. O Barroco que orientou todo o Brasil Colônia teve seus princípios
adaptados aos interesses brasileiros, ao ponto de ser chamado Barroco Mineiro,
porque as suas peculiaridades eram diferentes do Barroco europeu. Essa premissa
fica mais óbvia com a Antropofagia – a proposta dos modernistas, de tomar os
conceitos europeus e transformá-los na temática e linguagem brasileira. É na Arte
Contemporânea que os artistas começam a mostrar individualidade e iniciativa
artística, ao ponto de ter reconhecimento no exterior.

2.1 GÊNERO RELIGIOSO


O contexto da escultura brasileira se inicia com os portugueses e o Brasil
Colônia. Junto à colonização, um dos marcos mais influentes foi a religião.
Catequizar era uma forma de dominar e apaziguar os grupos humanos que
aqui viviam. A evangelização necessitava de capelas e de imagens, ou seja, de
esculturas. As primeiras esculturas foram trazidas de Portugal pelos padres, mas

141
UNIDADE 3 | ARTE E GÊNERO

com o tempo conseguiu-se uma produção local, realizada por devotos e sacerdotes.
As esculturas sacras eram usadas para a propagação da religião, apesar do Novo
Testamento recusar o uso de imagens para evitar a idolatria de ídolos.

O Gênero Religioso predominou a história da escultura no Brasil durante


séculos. A preocupação era a catequização e o domínio religioso nas artes era
evidente. Os dois temas mais difundidos era Nossa Senhora e a Crucificação. O
modelo a seguir era o Barroco, que possuía em sua essência a ornamentação e
o dinamismo, que se efetivou mais na arquitetura e pintura. A escultura tinha
aspecto mais singelo, se comparado à proposta barroca europeia.

FIGURA 98 – NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO - 1676

FONTE: BARDI. P. M. Em torno da escultura no Brasil. Banco


Sudameris Brasil, 1989.

Na escultura, os dois materiais que mais se trabalhava era a madeira e


a argila, seja pelo acesso ou pela facilidade da técnica, o certo é que a maioria
era policromada – pintada com várias cores para deixá-la mais realista. Algumas
esculturas foram realizadas em pedra. A autoria dos trabalhos escultóricos
era anônima. Simples artesãos, que se colocavam a disposição para esculpir as
imagens sagradas do Brasil colonial.

Muitas das esculturas sacras eram vestidas, para criar mais volume à figura
e ficaram conhecidos como Santos de Roca (ver figura 10 – Unidade 1). Muitos dos
Santos de Roca (ou imagens de vestir) possuíam uma grande expressividade nas
feições faciais e alguns eram articulados para exercer algum movimento ou gesto
142
TÓPICO 3 | GÊNEROS DA ESCULTURA BRASILEIRA

que tenha relação com o personagem ou santo. A troca de vestes, acessórios e por
vezes o cenário, criava uma encenação teatral na qual permitia uma aproximação
maior com os fiéis que acompanhavam as procissões. Essa teatralidade tem
origens na Idade Média e vem de encontro com as concepções barrocas. Algumas
esculturas para terem uma concepção mais naturalista usavam perucas e em seus
olhos se incrustavam cristais.

No século XVIII, principalmente com a descoberta de ouro e pedras


preciosas na Região Central do Brasil, Minas Gerais se torna um cerne religioso
e urbano, em que a riqueza se vê mediante as decorações e arquitetura. Neste
período, surge um dos nomes mais importantes do Barroco Mineiro: Antônio
Francisco Lisboa (1730-1814).

FIGURA 99 – PROFETAS

FONTE: Disponível em: <http://www.brasilcultura.com.br>. Acesso


em: 8 jun. 2009.

Era mais conhecido como Aleijadinho - em função de uma doença que


no final da vida que lhe deixou deformado. Tido como desenhista, arquiteto
e entalhador, Aleijadinho era efetivamente um escultor. Suas obras mais
conhecidas são em pedra-sabão, as esculturas de vulto redondo Os Doze Profetas
– no Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, no município de Congonhas
do Campo em Minas Gerais - realizadas entre 1795 a 1805. Mas trabalhou também
com entalhes de imagens, retábulos e outros elementos arquitetônicos, aliando a
escultura à arquitetura.

143
UNIDADE 3 | ARTE E GÊNERO

FIGURA 100 – ANJO ATLANTE

FONTE: BARDI. P. M. Em torno da escultura no Brasil. Banco


Sudameris Brasil, 1989.

Aleijadinho é referência quando se trata do Barroco Brasileiro. Apesar de


se apoiar inicialmente no barroco europeu, ele consegue desenvolver um estilo
próprio de representação barroca escultórica. Tanto que muitas obras não são
assinadas pelo artista, mas os especialistas confirmam sua autoria mediante as
suas características estatuárias. As feições e o corpo de suas esculturas retratam a
aparência do homem brasileiro da época.

Trabalhou também a madeira, e outro conjunto de esculturas conhecida


no Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos é Os Passos da Paixão, que
retrata os momentos finais de Cristo. Aleijadinho talhou 66 figuras e as distribuiu
em seis capelas nos seguintes episódios: Ceia, Passo do Horto, Prisão, Flagelação
e Coroação de Espinhos, O Carregamento da Cruz, Crucificação. A execução
desse trabalho foi de 1796 a 1799. Coube aos pintores Francisco Manuel Carneiro
e Manoel da Costa Ataíde, a policromia iniciada em 1808.

144
TÓPICO 3 | GÊNEROS DA ESCULTURA BRASILEIRA

FIGURA 101 – PRISÃO

FONTE: Disponível em: <http://www.itaucultural.org.br>. Acesso em: 9 jun.


2009.

DICAS

Para conhecer mais sobre Aleijadinho e suas obras, assista o filme “O


Aleijadinho - Paixão Glória e Suplício” do ano de 2000. A história narra a biografia do artista,
do nascimento à sua morte, e relata sobre sua carreira artística e sua paixão pela vida e arte.

O artista Aleijadinho morre em 1814, mas o Barroco se perpetua até o


início do século XX, expandindo-se para outras regiões como Bahia, Rio Grande
do Sul, Goiás e Nordeste. Outros materiais são usados, além da madeira, pedra e
argila: é introduzido o mármore, o bronze e o gesso. O Barroco vai ser substituído
por outros movimentos que chegam da Europa, e o artífice de produzir imagens
sacras, acaba por ficar com os santeiros - artesãos populares – que até hoje
produzem essa temática, graças à tradição e a persistência.

2.2 NEOCLACISSISMO E ROMANTISMO


No século XIX, surgem grandes mudanças no Brasil, com a chegada da
Corte Portuguesa, que foge da ameaça Napoleônica – que assola a Europa. Uma
revolução cultural e urbana acontece para acomodar os nobres habituados a
outras maneiras de ser e viver. Incide a abertura dos portos, a industrialização,
o surgimento da imprensa, de bibliotecas, museus, teatros e uma Escola de Belas
Artes, no Rio de Janeiro – capital da época.

145
UNIDADE 3 | ARTE E GÊNERO

A Escola de Belas Artes foi criada em 1816 nos moldes da Academia


Francesa com o apoio da Missão Artística Francesa – chefiada por Joachin
Lebreton (1760-1819) - e seus professores europeus, tinham todo o princípio
voltado para o Neoclássico e o Romântico. Esse período e a Escola de Belas Artes
ficaram conhecidos no Brasil por Academismo, pelos métodos de ensino de arte
profissional, que se equiparava ao ensino superior universitário. Apesar da Escola
ter a aprovação da Corte Real, encontrou grandes resistências entre os artistas
aqui estabelecidos, que tinham no Barroco ainda a vertente inspiradora.

FIGURA 102 – BUSTO DE D.PEDRO I – DE MARC FERREZ

FONTE: Disponível em: <http://pt.wikipedia.org>. Acesso em: 11 jun.


2009.

Por isso, o Neoclássico e o Romântico não tiverem uma proliferação


intensa e imediata na escultura. Mas como a intenção da Corte Portuguesa
era uma urbanização, a produção escultórica se voltou para o monumento e a
estatuária para praças e locais públicos. Curioso desse período é o aparecimento
da figura nua feminina – uma novidade – para os parâmetros até então cristãos
e barrocos.

Encontramos esculturas no gênero retrato – principalmente dos nobres em


bustos e esculturas feitos em mármore ou bronze; o gênero alegoria e mitológico
em esculturas com o estilo neoclássico e romântico – produzidas pelos escultores
que seguiram os princípios da Escola de Belas Artes; e o religioso como um gênero
remanescente do Barroco.

146
TÓPICO 3 | GÊNEROS DA ESCULTURA BRASILEIRA

Entre outros escultores que se destacaram nesse período e deixaram


sua contribuição, citamos: Marc Ferrez (1788-1850), Francisco Manoel Chaves
Pinheiro (1822-1884), Caetano de Almeida Reis (1838-1889), Rodolfo Bernadelli
(1852-1931).

FIGURA 103 – ALEGORIA DO IMPÉRIO BRASILEIRO – DE


CHAVES PINHEIRO

FONTE: Disponível em: <http://www.dezenovevinte.net>.


Acesso em: 11 jun. 2009.

Já num momento de transição, entre o fim do século XIX e início do século


XX, percebe-se um ecletismo principalmente na arquitetura de elementos que
integram desde o greco-romano, o gótico, o barroco, o românico e o neoclássico
com novos estilos, como a Art Nouveau. Um dos escultores mais conhecidos a
trabalhar inicialmente com características de Art Noveau, foi Victor Brecheret e
um dos primeiros a participar do modernismo, que viria a seguir. Outra mudança
de final de século é a Escola de Belas Artes, que transforma-se em 1890 na Escola
Nacional de Belas Artes e mais tarde em 1931, é incorporada à Universidade
Federal do Rio de Janeiro.

147
UNIDADE 3 | ARTE E GÊNERO

2.3 MODERNISMO
Em 1922, acontece a Semana de Arte Moderna, em São Paulo, com a
prerrogativa dos artistas de propor novos conceitos estéticos e artísticos para a
Arte Brasileira. Num parecer voltado contra o Academismo, o Modernismo surge
como uma necessidade de se firmar uma identidade cultural. Esse movimento
teve como base o Manifesto Antropofágico – escrito por Oswald de Andrade – e
defendido pelos artistas modernistas, a “ingestão” de culturas estrangeiras, mas
com referência nas características nacionais. Os artistas deveriam “absorver” as
vanguardas que se manifestavam nas culturas europeias e norte-americanas, mas
transformar essas tendências com aspectos brasileiros, com temáticas, cores e
expressividade brasileira. Para isso, houve um resgate no folclore e nos elementos
formadores da cultura nacional.

Na escultura, o destaque se dá para a abstração, principalmente depois


da década de 50. Inicialmente de forma tímida por meio de simplificação dos
formatos, a abstração completa acontece com os artistas que buscam as formas
puras. Victor Brecheret (1894-1955) inicia uma abstração de forma simplificada,
suas figuras ainda são reconhecíveis, mas já possuem uma composição formal
distinta: é a linguagem do artista que se pronuncia. Brecheret durante a sua
carreira, prestigiou alguns gêneros: tendo estudando inicialmente o Romântico e o
Clássico e depois integrado o Art Noveau, e outros estilos como o Expressionismo,
o Cubismo e o Construtivismo.

FIGURA 104 – MONUMENTO AS BANDEIRAS

FONTE: Disponível em: <http://olhares.aeiou.pt>. Acesso em: 11 jun. 2009.

148
TÓPICO 3 | GÊNEROS DA ESCULTURA BRASILEIRA

Um dos trabalhos mais famosos de Brecheret é Monumento às Bandeiras. O


tamanho colossal da obra já assombra e é um dos monumentos mais conhecidos
da cidade de São Paulo. É um exemplo da sagacidade técnica do artista junto
à proposta modernista. A escultura feita em granito, levou anos para a sua
concretização, sendo inaugurada em 1954. Representa os bandeirantes e seu
esforço em desbravar novos territórios. O conjunto escultórico expõe as várias
etnias, numa menção à formação cultural brasileira feita por índios, negros e
portugueses.

Bruno Giorgi (1905-1993) é um escultor com várias premiações e que


participou de exposições importantes como a Bienal de Veneza (1950) e a Bienal
de São Paulo (1953). É reconhecido pelas esculturas de Brasília que se tornaram
símbolo da cidade: Monumento aos Candangos e Meteoro. No início de carreira, ele
explorou a temática da figura humana, na busca de uma simplicidade das formas.

Passa do figurativo para as formas geométricas ao trabalhar com espaços


públicos - a abstração se manifesta de maneira intensa - talvez para se equiparar
à arquitetura das cidades, principalmente Brasília, que na arquitetura de Oscar
Niemeyer se revela uma cidade moderna aos moldes da década de 60. Meteoro
(1967) é uma escultura em mármore branco de Carrara e se localiza em frente ao
Palácio do Itamaraty. Monumento aos Candangos (1960) possui 8m de altura e se
encontra na Praça dos Três Poderes e faz referência aos operários que colaboraram
na construção de Brasília.

FIGURA 105 – MONUMENTO AOS CANDANGOS

FONTE: Disponível em: <http://www.beearte.com>. Acesso em: 13


jun. 2009.

149
UNIDADE 3 | ARTE E GÊNERO

Outros escultores modernistas que se pode citar é Ernesto de Fiori (1884-


1945) e Alfredo Ceschiatti (1918-1989).

Maria Martins (1900-1973) é uma artista que revoluciona ao optar pelo


surrealismo em suas esculturas. Isso acontece pelo convívio e estudos realizados
na Europa e Estados Unidos, junto aos dadaístas – nomes como Marcel Duchamp.
Mas com base no Modernismo, cultiva temas como os mitos e a natureza brasileira.
Antropofágica são por vezes suas próprias esculturas, como Impossível de 1945,
que insinua um casal envolto numa espécie de sensualidade canibal.

FIGURA 106 – IMPOSSÍVEL

FONTE: Disponível em: <http://desentranhos.blogspot.com>. Acesso em:


13 jun. 2009.

Os gêneros da escultura praticamente são inexistentes, são usados


esporadicamente como inspiração, mas não focados como conceito. Quando
o Modernismo se utiliza de mitos e lendas brasileiras como inspiração para a
escultura, não significa que o Gênero seja mitológico. Não mais se utiliza Gênero
como o principio norteador ou classificatório. Com a contemporaneidade, isso
fica evidente com as tendências cada vez mais abstratas e conceitos vanguardistas.

150
TÓPICO 3 | GÊNEROS DA ESCULTURA BRASILEIRA

2.4 CONTEMPORANEIDADE
Após a década de 50, a Arte Brasileira convoca a abstração e novos
movimentos da Vanguarda. De início o Concretismo, que evidencia a abstração
por meio de formas geométricas. Parte do Movimento Concretista Brasileiro, o
artista Amílcar de Castro (1920-2002) tem no geometrismo a essência de suas
obras. Utiliza chapas de metal como se fossem folhas de papel, nas qual ele
recorta e dobra, e formaliza suas estruturas abstratas. Simples e puras, essas são
referências para o seu trabalho.

DICAS

Para saber mais sobre Amílcar de Castro, visite o site oficial do artista: <www.
amilcardecastro.com.br>. E pesquise sobre as suas esculturas concretistas.

FIGURA 107 – SEM TÍTULO

FONTE: Disponível em: <http://www.escritoriodearte.com>. Acesso


em: 13 jun. 2009.

Lygia Clark (1920-1988) dedica-se ao espaço e à materialidade. Em 1959,


fez parte do movimento Neoconcreto, que vinha como uma reação ao Concretismo
e ao seu racionalismo. O Neoconcretismo acreditava nas possibilidades criativas
do artista e a relação real e afetiva do observador com a obra.

Com essas novas propostas conceituais sobre a escultura, Lygia Clark


apresenta a série “Bichos”. São esculturas em alumínio que revelam a mobilidade
escultórica com base em dobradiças e possibilitam uma articulação das mesmas
e criam, assim, uma nova formatação. Para isso, a participação do público é
essencial. Inicia-se uma fase na escultura contemporânea, que permite a interação
do observador, possibilitando uma ação possível e não mais passiva, como era até

151
UNIDADE 3 | ARTE E GÊNERO

então. Clark é uma das artistas pioneiras em apresentar uma arte participativa.
Em 1961, com os “Bichos” ganha o prêmio na VI Bienal de São Paulo, como a
melhor escultura nacional.

A artista Lygia Clark é voltada a trabalhar com objetos do cotidiano ou


materiais inusitados e com temas e propostas de vanguarda. A intenção sempre
está na interação da obra com o público, principalmente na questão sensorial e
perceptiva. Assim, a artista promove um novo lugar para esse espectador, de
participante – muitas vezes inserido na obra. Suas propostas de arte representam
um trabalho que está sempre em transformação.

FIGURA 108 – BICHO - 1966

FONTE: Disponível em: <http://miramiro.blogspot.com>. Acesso


em: 13 jun. 2009.

Ligado à um geometrismo mais linear, está o escultor José Resende


(1945). Suas esculturas estão relacionadas com o princípio do desenho. Influência
possível de sua formação em arquitetura, o artista sabe aliar muito bem linhas
com estrutura e espaço. Transportadas para as diversas formas do metal (e
outros materiais), sua representação é direta e objetiva. Sem grandes pretensões
de composição, suas esculturas criam o impacto visual pela simplicidade de
elementos.

152
TÓPICO 3 | GÊNEROS DA ESCULTURA BRASILEIRA

FIGURA 109 – SEM TÍTULO

FONTE: Disponível em: <http://www.cultura.gov.br>. Acesso em: 17


jun. 2009.

DICAS

Para saber mais sobre o artista Jose Resende e suas esculturas, visite o site
oficial: <www.joseresende.com.br>.

Frans Krajcberg (1921) é um artista dedicado ao tema da preservação do


meio ambiente. Polonês, naturalizado brasileiro, é um apaixonado pela natureza
e encontrou nela o material necessário para as suas esculturas. Krajcberg utiliza
elementos da natureza, principalmente madeira, troncos e raízes que o artista
recolhe das queimadas. Reconhecido também como pintor, gravador e fotógrafo.
Foi a partir da década de 70 que o artista ganha projeção internacional com suas
esculturas calcinadas, que refletem a preocupação com a paisagem brasileira, em
especial com a Floresta Amazônica. Os tamanhos de suas esculturas geralmente
são grandes, ganham o espaço e se integram no meio em que se encontram. O
artista interfere no material recolhido, usando pigmentos e materiais naturais.

153
UNIDADE 3 | ARTE E GÊNERO

DICAS

Indicamos o filme documentário intitulado “Krajcberg, o Poeta dos Vestígios”


do diretor Walter Salles de 1987. Belíssimo filme que retrata o artista e suas obras e a denuncia
sobre o desmatamento das florestas no Brasil. Vale a pena conferir!

FIGURA 110 – SEM TÍTULO

FONTE: Disponível em: <http://educacaoinfantilnarede.blogspot.com>.


Acesso em: 17 jun. 2009.

A geração mais recente de escultores tem a sua disposição uma variedade


incrível de materiais, devido às tecnologias de nossa época. Os recursos materiais
vêm de encontro às necessidades expressivas dos artistas. Além das técnicas
disponíveis herdadas de culturas e de contextos anteriores, tem-se ainda uma
extensa materialidade que pode ser explorada pelos artistas contemporâneos. É o
caso de Ernesto Neto (1964), que trabalha com esculturas e instalação. A instalação
é uma manifestação escultórica que se inicia no Brasil desde o Neoconcretismo
com Lygia Clark, Helio Oiticica e outros artistas da vanguarda nos anos 60.

Desde os anos 90, Ernesto Neto utiliza materiais como o tecido de


lycra, poliamida ou algodão que são esticados e muitas vezes preenchidos com
especiarias, ervas, miçangas e outros que criam peso, cor, textura e aromas. As
instalações são abstratas e podem ocupar todo o espaço de exposição. A construção
dessas estruturas tem formas orgânicas que podem se tornar verdadeiros
labirintos para o observador, que também é um participante, interagindo com
a obra e vivenciando experiências sensoriais. Seu trabalho evoca sensualidade,
tensão, resistência por meio de tecidos elásticos e translúcidos que lembram um
organismo, numa trama inusitada, curiosa e atraente.
154
TÓPICO 3 | GÊNEROS DA ESCULTURA BRASILEIRA

FIGURA 111 – SEM TÍTULO

FONTE: Disponível em: <http://www.centrepompidou.fr>. Acesso em: 17


jun. 2009.

DICAS

Para conhecer mais sobre o contexto da arte escultórica brasileira, indicamos o


livro “Histórias da Arte e do Espaço: Da Escultura à Instalação”. Ele é o catálogo de exposição
da 5. Bienal do Mercosul de 2005, e traz referências de escultores e suas obras do Brasil e na
América Latina, junto à conceitos sobre as manifestações escultóricas e suas tendências. Vale
a pena conferir!

A produção escultórica na Arte Brasileira é extensa e extremamente


expressiva. Citamos adiante mais alguns nomes que são referência em estruturas
tridimensionais (esculturas, instalação, assemblage):

l Bispo do Rosário (1909-1989)


l Frans Weissmann (1914 - 2005)
l Vasco Prado (1914-1998)
l Mestre Didi (1917)
l Francisco Stockinger (1919- 2009)
l Rubem Valentim (1922-1991)
l Liuba Wolf (1923-2005)
l Francisco Brennand (1927)
l Domenico Calabrone (1928-2000)
l Nicolas Vlavianos (1929)
l Sérgio Camargo (1930-1960)
l Nelson Leirner (1932)
l Caciporé Torres (1935)

155
UNIDADE 3 | ARTE E GÊNERO

l Helio Oiticica (1937-1980)


l Waltércio Caldas (1946)
l Carmela Gross (1946)
l Cildo Meireles (1948)
l Tunga (1952)
l Nuno Ramos (1960)

UNI

Prezado acadêmico! Terminamos aqui o contexto sobre a escultura brasileira,


seus artistas e obras. No final desta jornada, esperamos que todo o conhecimento apreendido
tenha lhe despertado a apreciação por essa linguagem da arte – a escultura. Mas o assunto
não se esgota, fica aqui a sugestão para visitar exposições, museus, galerias e fundações
culturais, para exercitar sua fruição perante a escultura e suas manifestações. Visite sites,
leia artigos e livros, o importante é sempre pesquisar e vivenciar, pois o profissional de Artes
necessita estar atualizado e ciente dos movimentos e acontecimentos que circundam a
cultura. Boa sorte e bons estudos!

E
IMPORTANT

Chegou a hora do RESUMO! Vamos rever os momentos mais importantes do


tópico 3:

156
RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico, você viu que:

l Os gêneros e a escultura brasileira podem ser assim resumidos:

l O Gênero Religioso predominou a história da escultura no Brasil durante


séculos. Os dois temas mais difundidos era Nossa Senhora e a Crucificação. O
modelo a seguir era o Barroco e o artista referência deste período é Aleijadinho.

l Em 1816, a recém criada Escola de Belas Artes com o apoio da Missão Artística
Francesa inserem o Neoclássico e o Romântico no Brasil. Surge a nudez da
figura feminina na escultura. Devido à necessidade de uma urbanização, a
produção escultórica se voltou para o monumento e a estatuária para praças
e locais públicos. Encontramos esculturas no gênero retrato de nobres em
bustos e esculturas; o gênero alegoria e mitológico em esculturas com o estilo
neoclássico e romântico – por escultores que seguiram os princípios da Escola
de Belas Artes; e o religioso como um gênero herdado do Barroco.

l No inicio do século XX, o Modernismo surge como uma necessidade de se


firmar uma identidade cultural, e teve como base o Manifesto Antropofágico.
Destaque para Victor Brecheret que inicia uma abstração de forma simplificada
e Bruno Giorgi com suas esculturas em Brasília. Maria Martins inova com o
surrealismo. Outros nomes a citar é Ernesto de Fiori e Alfredo Ceschiatti. Os
Gêneros se extinguem com o surgimento da abstração e os novos conceitos de
Vanguarda.

l Após a década de 50, a Arte Brasileira convoca a abstração e novos movimentos


da Vanguarda. O Concretismo evidencia a abstração por meio de formas
geométricas e tem no artista Amílcar de Castro sua referência. Lygia Clark faz
parte do Neoconcretismo e propõe a mobilidade escultórica e a intervenção do
observador. José Resende constroe esculturas mais lineares e Frans Kracjberg
utiliza a temática da natureza em suas esculturas. Os artistas contemporâneos
possuem uma gama extensa de materiais e tecnologias para expressar suas
ideias. É o exemplo de Ernesto Neto que evidencia materiais como o tecido de
lycra, poliamida ou algodão para as suas estruturas escultóricas.

157
AUTOATIVIDADE

Pesquise na Internet o site do Itaú Cultural: <www.


itaucultural.org.br>. que possui uma extensa programação cultural.
Entre eles, o link da “Enciclopédia de Artes Visuais” na qual é
possível encontrar vários artistas brasileiros contemporâneos.
Visite o site e aproveite para conhecer pelo menos cinco dos artistas citados:
entre Bispo do Rosário até Nuno Ramos. Boas pesquisas!

158
UNIDADE 3
TÓPICO 4

ADIÇÃO E TALHA

1 INTRODUÇÃO
Conhecer as técnicas e materiais de escultura será importante para entender
a história e a prática dos artistas, além de auxiliar na análise da obra de arte.

Iniciemos com as técnicas: a adição, a talha, a construção e a moldagem.


Neste primeiro tópico, o destaque é para a adição e a talha. A adição tem relação
com a modelagem e advém do acréscimo de materiais, como argila ou cera. A talha
é a ação de esculpir, com ferramentas adequadas até chegar à estrutura final. É
possível perceber que a técnica se relaciona com o material. Ao optar por mármore,
por exemplo, o escultor estará escolhendo a talha, e vice-versa: se preferir a talha
só poderá trabalhar com madeira ou pedra, materiais que favorecem a subtração.

No decorrer da história da arte, foram utilizados os mais diversos materiais


para a escultura - a pedra, a madeira, o gesso, a argila e os metais são considerados
materiais clássicos, pois foram utilizados desde o princípio da humanidade.

Vamos conhecer, a partir de agora, as técnicas e materiais referentes à


adição e a talha.

2 ADIÇÃO
Adição se relaciona com o processo de modelagem, ou seja, se consegue
a forma escultórica adicionando e agregando partes do material, que pode ser
argila, cera ou outras massas moldáveis.

O modelado propicia ao escultor uma grande liberdade de expressão, pois o


controle sobre o material é mais efetivo, devido à sua flexibilidade e maleabilidade,
enquanto que outras técnicas exigem mais experiência e vivência de materiais e
ferramentas. O ato de moldar também é indicado para os principiantes, como um
primeiro contato com a prática escultórica.

A adição como técnica da escultura, também pode ser vista não somente
como o produto final, mas também como um meio para alcançar outras técnicas
– tais como a moldagem, a fundição. Mas vamos falar agora sobre os materiais
mais usados para a técnica da adição: a argila e a cera.

159
UNIDADE 3 | ARTE E GÊNERO

A argila pode ser considerada um dos primeiros materiais utilizados


pelo homem para a escultura. A argila é um material de fácil acesso, geralmente
próximo a locais úmidos, a beira de rios e lagos. Essa facilidade, aliada a recursos
mínimos de ferramentas, onde as mãos são o principal elemento, teria propiciado
ao homem primitivo, como um material efetivo para dar forma a objetos. As
ferramentas utilizadas para o trabalho com a argila são as estecas: de pontas com
desenhos variados em metal, que servem para corrigir ou desenhar na massa
argilosa. As estecas podem ser utilizadas em outras massas e materiais para
desbastar - como veremos adiante.

FIGURA 112 – ESTECAS

FONTE: Disponível em: <http://www.dimclay.com/loja/images/ea6.jpg>.


Acesso em: 23 abr. 2010.

A cera é um material que foi amplamente utilizado no período após o


Renascimento, quando os escultores criavam pequenas maquetes de cera, que
serviam como um estudo preliminar para estruturas maiores. A seguir, um relevo
em cera criado pelo artista Giovanni Bologna (1529-1608). A cena apresenta Cristo
perante Caifás. Apesar de algumas fissuras, este relevo mantém-se intacto depois
de tanto tempo, o que permite desvendar a nobreza de detalhes criada pelo artista.

Podemos citar outros artistas como Gianlorenzo Bernini (1562-1629) e


Benvenuto Cellini (1500-1571).

160
TÓPICO 4 | ADIÇÃO E TALHA

FIGURA 113 – RELEVO EM CERA

FONTE: MIDGLEY, Barry. Guia completa de escultura, modelado y ceramica:


tecnicas y materiales. Madrid/ES: Hermann Blue, 1982.

Como material para retratar pessoas em pequenas esculturas, a cera foi


muito empregada no século XVII. Para a sua utilização por meio da técnica da
adição, se aconselha criar esculturas de pequenas dimensões. Sensíveis ao calor e
a golpes, é necessário ter cuidado em seu manuseio.

FIGURA 114 – BLOCO DE CERA DE ABELHAS

FONTE: Disponível em: <http://www.microcristal.com.br/>. Acesso em: 23


abr. 2010.

161
UNIDADE 3 | ARTE E GÊNERO

Existem vários tipos de cera: a mais usada na história da escultura é a


cera de abelha, muitas vezes misturada a solventes ou sebos para melhorar a
modelagem. Nos dias atuais, é possível encontrar ceras microcristalinas. Essas
são subprodutos do petróleo que se apresentam em várias densidades, desde as
mais resistentes às mais flexíveis.

FIGURA 115 – FERRAMENTAS PARA MODELAR CERA

FONTE: Disponível em: <http://www.portifolium.com.br/>. Acesso em: 25 abr.


2010.

Para modelar a cera se emprega poucas ferramentas. Assim como na


argila, o principal para a adição são as mãos. Ferramentas de ponta fina são
aconselháveis para os detalhes. A cera precisa ser trabalhada ainda em estado
maleável, pois sua tendência é secar e se tornar rígida. Caso haja necessidade
de realizar algum acerto, será preciso aquecer a ponta do instrumento no fogo.
Muitos escultores utilizam o ferramental dos dentistas. (Figura anterior).

E
IMPORTANT

Para a adição em cera para esculturas maiores será necessário preparar com
antecedência uma espécie de armação – geralmente em metal. Essa estrutura serve de
apoio para a modelagem.

162
TÓPICO 4 | ADIÇÃO E TALHA

2.1 PRÁTICA PARA A ESCOLA


Alguns professores podem considerar complexo o trabalho da escultura
em sala de aula, em função do curto tempo e do espaço muitas vezes limitado.
Mas a questão é que com prévia organização é possível desenvolver uma prática
escultórica.

Para a técnica de adição, apresentamos uma prática com argila. Esse


procedimento também pode utilizar outros materiais, como as “massinhas”
coloridas ou ainda a conhecida massa de biscuit.

Para as ferramentas utilizam-se as estecas – instrumentos também


utilizados na cerâmica e modelagem. Sempre é necessário preparar o local,
com mesas e cadeiras, um tanque ou pia com água e algumas prateleiras para
acomodar as esculturas produzidas. Forrar as mesas também é uma boa ideia
para ajudar na limpeza posterior.

Uma prática de adição pode ser feita a partir da ideia dos figureiros,
que produzem figuras em argila inspirados no cotidiano das pessoas. A seguir,
uma imagem de figuras nordestinas de Mestre Vitalino, mas pode-se usar como
temática a produção de figuras regionais, como base para a construção de
pequenas esculturas.

Cria-se uma estrutura para o corpo com a argila e depois se agrega as


partes, não se esquecendo de colar com barbotina. Os detalhes de vestimenta e
acessórios podem ser feitos com palitos e estecas. Para a figura manter-se em pé,
coloca-se uma base, também de argila.

E
IMPORTANT

Barbotina é feita à base de água e argila, considerada a cola para unir partes
da argila. O seu correto procedimento encontra-se no Caderno de Estudos de Modelagem.

163
UNIDADE 3 | ARTE E GÊNERO

FIGURA 116 – LAMPIÃO E MARIA BONITA

FONTE: Disponível em: <http://uminstantenabiblioteca.blogspot.


com/2009/08/m...>. Acesso em: 28 abr. 2010.

Outra ideia para se trabalhar com escultura na técnica de adição é a


modelagem de uma parte do corpo – mão, pé, cabeça, rosto. Aqui apresentamos
a confecção de uma mão, em que o princípio é o mesmo: inicia-se com uma base
que representa a “palma” da mão, e agregam-se os dedos nesta base. Alisa-se
com um pouco de água para unir muito bem as partes e criar uma aparência
uniforme. Um exemplo é a mão em argila apresentado na figura a seguir.

FIGURA 117 – MÃO

FONTE: Disponível em: <http://cimitan.blogspot.com/2007_01_14_


archive.html>. Acesso em: 28 abr. 2010.

164
TÓPICO 4 | ADIÇÃO E TALHA

TURO S
ESTUDOS FU

Adiante vamos conhecer outra técnica da escultura: a talha.

3 TALHA
A talha é uma técnica de subtração de materiais. Basicamente é o contrário
da adição. Também conhecida como a ação do esculpir, do entalhar. Talvez seja
a técnica mais comum e reconhecida como parte da escultura.

Esta técnica requer mais tempo, concentração e força física. A extração do


material por meio de cortes, perfurações e toques exigem experiência e paciência,
pois a matéria é mais densa e severa. Normalmente, os artistas se utilizam de
uma maquete ou esboços, antes de partir para a talha da escultura, pois qualquer
erro pode ser irreparável. Uma vez quebrado um pedaço da escultura durante o
processo, o escultor precisa começar novamente em outro bloco ou ter de reparar,
modificando a ideia original.

Na antiguidade, as esculturas eram coloridas devido ao emprego de


pinturas. Primeiramente se aplicava uma camada de gesso e cola que absorvia
a tinta e facilitava o encobrimento e a durabilidade das cores. Na Grécia, as
esculturas não recebiam polimento para que a aspereza fixasse a camada de
gesso. A partir do século V a.C. é que se começou a lustrar as esculturas, porém a
policromia ainda era uma constante. No século IV, a pintura não é mais utilizada.

Mais tarde, a policromia é restaurada na Idade Média e com o Renascimento


perde a força novamente. No período Renascentista se aprecia o material e a
técnica escultórica, acreditando-se que a pintura é desnecessária já que as formas
e o primor alcançado pelos artistas não deveria ser mascarado por tintas e cor.

Os materiais mais usados na talha são as pedras. Pode-se entalhar uma


diversidade de pedras, desde as mais árduas de procedência eruptiva (basalto,
o órfido e o granito) até o frágil alabastro. O trabalho escultórico pode acontecer
em pedras preciosas, como o jade, até nas mais comuns como os quartzos e os
calcários e as metamórficas (o mármore).

165
UNIDADE 3 | ARTE E GÊNERO

FIGURA 118 – CINZÉIS E FORMÃO

FONTE: Disponível em: <http://www.facavocemesmo.net/.../2009/02/


cinzel.jpg>. Acesso em: 28 abr. 2010.

Definido o modelo, o escultor parte para o desbaste do excesso de


material. Pouca coisa mudou em relação aos instrumentos usados pelo escultor,
da antiguidade aos dias de hoje – a diferença está na inclusão de furadeiras, discos
e lixadeiras industriais a partir da modernidade. O desbaste se inicia com cinzéis
pontiagudos; para esboçar a figura utiliza cinzéis de três dentes para depois
passar para os cinzéis de corte quadrado e redondo. Para dar a forma final, os
acabamentos e polimentos, detalhes e orifícios, utilizam-se os escopros, lixas e
furadeiras finas.

E
IMPORTANT

Escopro: instrumento de metal com ponta plana cuja função é de aplainar e


lavrar objetos e esculturas em mármores, madeiras e outros.

A seguir temos um exemplo de uma escultura em mármore inacabada


pelo grande artista Michelângelo. Podemos perceber a forma geral e as marcas
das ferramentas deixadas pelo escultor.

166
TÓPICO 4 | ADIÇÃO E TALHA

FIGURA 119 – ESCULTURA INACABADA DE MICHELÂNGELO

FONTE: Disponível em: <http://mesquita.blog.br/wp-content/


uploads/2008/03/b>. Acesso em: 28 abr. 2010.

A escultura da antiguidade possui grande mérito, se pensarmos na


agilidade dos escultores da época, que sem grandes recursos ferramentais
conseguiram trabalhar pedras duríssimas – muito diferente de hoje que se tem
à disposição uma tecnologia avançada, como por exemplo, os aços especiais de
vídia.

O outro material também utilizado para a talha é de origem orgânica:


marfim, âmbar e a madeira (jacarandá, ébano, cedro etc).

E
IMPORTANT

Para o seu conhecimento: o âmbar é considerado uma resina fóssil usada para
a produção de objetos e formas escultóricas.

A madeira é um material tradicional na escultura. Pode-se perceber


isso na história, pelos poucos testemunhos de culturas antigas que não foram
extintos pela decomposição. Assim como a pedra, a madeira pode ser entalhada
diretamente com as ferramentas.

167
UNIDADE 3 | ARTE E GÊNERO

Mas ao contrário da pedra, o entalhe da madeira é mais acessível, não


possui grande resistência aos instrumentos, porém a forma e o tamanho são
limites para o trabalho do escultor. A madeira possui sensibilidade em relação ao
meio ambiente, pois expande com a umidade e contrai com o calor. Envelhece com
o tempo, é sujeita ao bolor e sua cor se modifica quando exposta à luz. Por causa
dessas avarias, a escultura em madeira durante muito tempo foi considerada
inferior se confrontada à pedra.

A estrutura da madeira, com seus nós, linhas e fibras, próprias de


sua natureza, dificultam o resultado final, é difícil conseguir na madeira o
“naturalismo” de um corpo ou uma figura. Sem a policromia, a escultura em
madeira não conseguiria “representar” o personagem desejado. O resultado é
certa rusticidade, que com o tempo só ampliam ainda mais as características da
madeira, se não houver cuidados devidos.

Temos um exemplo comparativo a seguir de uma escultura em madeira


(figura a seguir - O GOVERNADOR KAAPER) e uma escultura em pedra ardósia
(figura 121 - MIQUERINOS E SUA MULHER – IV DINASTIA), ambas do antigo Egito.
Podemos perceber os detrimentos cometidos pelo tempo muito mais na escultura
em madeira do que na de pedra. Na escultura em madeira, as fendas no material
são aparentes. Os egípcios preocupados com o conceito da eternidade usaram muito
mais pedras como diorita, ardósia e calcário do que a madeira ou argila.

FIGURA 120 – O GOVERNADOR KAAPER

FONTE: BOZAL, Valeriano. História geral da arte: escultura.


Barcelona: del Prado, 1996.

168
TÓPICO 4 | ADIÇÃO E TALHA

FIGURA 121 – MIQUERINOS E SUA MULHER – IV DINASTIA

FONTE: Disponível em: <http://www.neilos.org/


wandsgallery/016_mykerinus.jpg>. Acesso em: 2 maio 2010.

A madeira ganhou popularidade quando na execução de esculturas


religiosas. Estaturas pequenas ou médias eram fáceis de serem carregadas e
produzidas. A policromia era extensamente usada e criava o esplendor colorido
e dourado desejado aos santos. Na contemporaneidade, os artistas valorizam as
características naturais da madeira e exploram a abstração e a simplificação nas
esculturas, como no caso do escultor Henry Moore.

FIGURA 122 – FIGURA RECICLÁVEL (1959-1964)

FONTE: CARANDENTE, Giovanni. Moore. Giunti, editore S.p.A.: Florença, 2004.

169
UNIDADE 3 | ARTE E GÊNERO

As madeiras para a escultura são selecionadas por sua beleza e textura.


Atualmente, as madeiras mais usadas são o cedro e o mogno, pela facilidade de
trabalho e leveza.

Na talha em madeira, usam-se formões, goivas e limas. Primeiro se retira as


cascas e irregularidades com machados e serras. Para dar a forma geral, utilizam-
se os cinzéis, formões e goivas. O escopro entalha a madeira em planos retos
enquanto as goivas realizam sulcos, devido suas lâminas curvas. Para a tarefa de
acabamento, o escultor recorre a lixas, areia ou pedra pomes. Completa-se a obra
com tintas e vernizes preparados com resinas químicas ou naturais.

FIGURA 123 – GOIVAS

FONTE: Disponível em: <http://wagner-lopes.blogspot.


com/2009_03_01_archive.html>. Acesso em: 30 abr. 2010.

Para o acabamento, durante muito tempo se utilizou a policromia. As


esculturas em madeira necessitam de tratamentos especiais para a superfície, e
por isso é que se usava a policromia como uma forma de proteção e decoração.
Assim como na pedra, antes da pintura ou da douração, é preciso passar uma
camada de cola e gesso. A policromia tem relação com a arte feita com diferentes
e várias cores. Portanto, é antagônica à monocromia. A seguir um exemplo de
escultura em madeira policromada e dourada do Século XVII, feita por algum
artesão no período do Brasil Colonial. Encontra-se hoje no Museu de Arte Sacra
em São Paulo.

170
TÓPICO 4 | ADIÇÃO E TALHA

FIGURA 124 - NOSSA SENHORA DO BOM PARTO

FONTE: Disponível em: <http://oglobo.globo.com/blogs/


arquivos_upload/2009/08/129_643-bom%20parto.jpg>.
Acesso em: 2 maio 2010.

TURO S
ESTUDOS FU

Até o momento, prezado acadêmico, você acompanhou o processo e os


conceitos da talha. Agora, vamos ver uma prática para ser aplicada na escola.

3.1 PRÁTICA PARA A ESCOLA


Uma prática de talha para ser desenvolvida na escola, pode ser à base de
gesso e areia e as ferramentas utilizadas podem ser as estecas. O gesso pode ser
encontrado em lojas de materiais de construção, em sacos de 1 kilo ou ainda de
20 kilos.

Primeiro se faz necessário preparar a massa com antecedência. Prepara-


se gesso em uma bacia – de preferência de plástico, para posterior facilidade na
limpeza. Coloca-se a água e acrescenta-se aos poucos o gesso, de maneira circular,
por toda a superfície líquida, até formar uma espécie de “ilha”. Esse é o sinal de
que é o suficiente de gesso para a quantidade de água, mas geralmente a medida

171
UNIDADE 3 | ARTE E GÊNERO

pode ficar de 1 quilo de gesso para 800 ml de água. Mistura-se até chegar a uma
consistência homogênea e acrescenta-se um pouco de areia – que serve para dar
estrutura à massa.

Coloca-se a massa em caixas para formar os “cubos” que vão servir para o
entalhe posterior. Essas caixas podem ser menores para atender à expressividade
das crianças. A sugestão é utilizar caixas vazias (tipo longa vida) de suco ou de
leite. Não é necessário preencher por completo: metade da caixa é suficiente para
desenvolver um trabalho em talha. A secagem se dá em questão de duas horas,
mas o correto é esperar 24 horas. Depois retira-se o papel, e o resultado é similar
com a figura a seguir: uma massa consistente, branca e de fácil desbaste.

FIGURA 125 – BLOCO DE GESSO PRONTO PARA A TALHA

FONTE: Autora.

Para a prática da talha, recomenda-se forrar as mesas e preparar o local


e as ferramentas. Antes de entalhar com as estecas, se faz um desenho com lápis
sobre a massa que servirá como um guia. A temática é diversa, pode-se usar
desde o figurativo até o abstrato. Aqui temos o exemplo do desbaste inicial de
uma figura – pode-se perceber os traços que se transformam em volumes.

172
TÓPICO 4 | ADIÇÃO E TALHA

FIGURA 126 – BLOCO DE GESSO INICIADO PELA TALHA

FONTE: Autora.

Com exercício do entalhe, as figuras e formas vão aos poucos se


aprimorando, e no final pode-se completar a escultura com lixa – para acabamento
final; ou ainda com pintura – numa espécie de policromia – na qual se aconselha
usar tintas à base de água, como guache ou acrílica. A seguir outro exemplo de
escultura com a técnica da talha sobre gesso e areia, onde ainda se vê as marcas
das ferramentas, e do entalhe em si.

FIGURA 127 – ESCULTURA COM A TÉCNICA DA TALHA SOBRE


GESSO

FONTE: Autora.

173
UNIDADE 3 | ARTE E GÊNERO

DICAS

Para saber mais sobre as técnicas de escultura, indicamos o livro de Barry


Midgley, “Guia Completa de Escultura, Modelado y Cerâmica” de 1993 da editora Hermann
Blume/ Madrid /ES. Boa leitura!

LEITURA COMPLEMENTAR

A ANTIGUIDADE

No passado, os escultores utilizaram praticamente todos os materiais que


se prestavam a receber uma forma de três dimensões. Até mesmo materiais como
areia, conchas, cristal de rocha e vidro têm seu lugar na história da escultura.
Os escultores modernos ampliaram enormemente a diversidade dos materiais:
novos metais, aço, materiais artificiais como o náilon e os plásticos vieram somar-
se e dar continuidade à antiga tradição de busca e experimentação.

Não obstante, ao longo da história e por todas as partes do mundo, dois


materiais predominaram: a madeira e a pedra. O bronze pode ser acrescentado
como um terceiro material em algumas partes do mundo como a China, a África, a
Grécia e Roma. Na Europa, a escultura em madeira sempre foi um procedimento
comum nos países setentrionais, principalmente na França e na Alemanha. Nestes
países, quando se utilizava a pedra, o que acontecia com certa frequência, tratava-
se em geral de uma variedade menos dura de pedras encontradas nos arredores,
como a pedra calcária e o arenito, e não de pedras duras, como o mármore, ou
materiais de uma rigidez ainda maior, como o granito e o pórfiro, extraídas em
países mediterrâneos.

O trabalho em pedra é de uma antiguidade incalculável: todos conhecem


os utensílios de pedra primitivos, encontrados em todas as partes do mundo.
Tais utensílios devem ser vistos como a primeira extensão eficaz da mão humana.
Eles nos oferecem os primeiros exemplos da habilidade manual do homem, pois
para fazê-los era preciso lascar ou “britar” a pedra. Conferiam poder, coisa que
o homem primitivo estava constantemente descobrindo, e se tornaram, assim,
os precursores das divindades e das imagens de pedra, receptáculos do poder
mágico.

Com o passar do tempo, os utensílios de pedra lascada deixaram de


satisfazer ao homem. Desenvolveram-se, então, duas novas técnicas de se
trabalhar a pedra, ambas extremamente trabalhosas e lentas. Descobriu-se que,
friccionando-se um utensílio com areia, sua forma podia ser aperfeiçoada, o que
174
TÓPICO 4 | ADIÇÃO E TALHA

deu início aos processos de abrasão. Além disso, inventaram-se os instrumentos


de cobre, de bronze e, mais tarde, de ferro, e com sua ajuda era possível dar
forma à pedra. A partir da existência desses instrumentos, testemunhamos o
nascimento da história da escultura. Isto nos leva a retroceder mais de seis mil
anos da história, até as origens da civilização egípcia e babilônica. Os gregos,
herdeiros das civilizações orientais, e depois deles os romanos e italianos,
cultivaram com orgulho as tradições que remontam a uma época imemorial, e foi
no seio dessas civilizações mediterrâneas que surgiu o conceito de que esculpir a
pedra, especialmente o mármore, era o objetivo mais elevado e a mais grandiosa
realização dos escultores. Tal conceito, nascido o Sul, foi plenamente assimilado
por toda a Europa, e sua força continua viva até hoje. Seguindo esta tradição,
grande parte das coisas que vou afirmar aqui estará ligada à escultura em pedra.

[...] Não há duvida de que esculpir em mármore é algo que requer um


longo aprendizado e uma extraordinária experiência. Na verdade, o trabalho do
escultor começa antes do trabalho de escultura propriamente dito – começa com
a escolha do bloco de mármore. Um escultor como Michelangelo não confiava
em ninguém, e passou muitos anos nas pedreiras de Carrara e proximidades,
nos arredores de Florença. Essas pedreiras são ainda hoje, o principal repositório
do melhor mármore italiano. Quando não podia ir pessoalmente às pedreiras,
Michelangelo orientava os canteiros que nelas trabalhavam, fornecendo-lhes
desenhos com instruções de uma precisão absoluta, que incluíam as medidas
dos blocos de que necessitava. Milagrosamente, alguns desses desenhos
sobreviveram, e as anotações que neles se encontram trazem a letra inconfundível
de Michelangelo. Num dos blocos, ele escreveu: “largo braccie due e mezzo”, ou
seja, o bloco devia ter cerca de dois braccie de largura, pouco mais de um metro
e meio.

O sucesso do trabalho dependia em grande parte da qualidade do


mármore. Até certo ponto, a qualidade do bloco à disposição do escultor
determinava inclusive quais ferramentas podiam ser utilizadas, e quais não. [...]

[...] Quero mencionar especificamente o martelo de cabeça quadrada


(ou boucharde), que possui uma cabeça de aço coberta de pontas piramidais; a
ponta ou ponteiro, que é usado com um malho para desprender lascas de pedra
relativamente grandes; vários tipos de cinzéis; a pua, representada aqui por duas
formas primitivas usadas pelos gregos; limas e grosas, que eram usadas para
suavizar a superfície das obras, e os abrasivos, que serviam para dar polimento e
remover as marcas deixadas pela grosa.

Muitos destes instrumentos já eram conhecidos pelos egípcios e vêm


sendo usados há mais de três mil anos; muito poucos vieram somar-se ao velho
arsenal. Como abrasivos, os gregos usavam o esmeril, encontrado principalmente
na ilha de Naxos e na Ásia Menor. Em outros lugares, a areia ou a pedra-pomes
(uma espécie porosa de lava) eram usadas para a mesma finalidade. Hoje em dia
os escultores usam o carborundo, produzido por meio mecânicos.

175
UNIDADE 3 | ARTE E GÊNERO

Esses instrumentos não foram todos utilizados simultaneamente ao longo


da história. A cada período dava-se preferência a instrumentos diferentes. Estou
quase certo de que a continuidade de um estilo dependia, até certo ponto, dos
instrumentos que, nos ateliês, passavam de uma geração a outra. Houve períodos
em que os escultores usavam principalmente, ou mesmo exclusivamente,
processos abrasivos, e cheguei mesmo a conhecer escultores modernos fanáticos
por eles. Em certos períodos, a pua foi interessante foi intensamente usada; assim,
não é de admirar que os resultados apresentem diferenças tão grandes. Podemos
afirmar, porém, que os instrumentos principais sempre foram, e continuam
sendo, o ponteiro, o cinzel plano e o de unha (ou dentado), e a pua. [...]

Nossos conhecimentos dos métodos e tradições de trabalho da


Antiguidade e da Idade Média é bem maior do que se costuma pensar. Não são
raras as representações dos instrumentos dos escultores, de seus ateliês e dos
próprios escultores trabalhando. Reconhecidamente, este tipo de material é bem
mais comum na Idade Média do que na Grécia ou em Roma. Mesmo assim, ainda
se conserva um grande número de mármores inacabados, que nos oferecem
uma excelente oportunidade de verificar quais eram os métodos de trabalho
empregados na Antiguidade.

FONTE: WITTKOWER, Rudolf. Escultura. São Paulo: Martins Fontes, 1989. p. 3 e 7.

UNI

Agora chegou o momento do resumo deste Tópico! Vamos rever alguns


pontos importantes sobre as técnicas da adição e talha.

176
RESUMO DO TÓPICO 4

Neste tópico, conhecemos os materiais, ferramentas e procedimentos da


técnica adição e talha:

• Adição se relaciona com o processo de modelagem, ou seja, se consegue a forma


escultórica ao adicionar e agregar partes do material, que pode ser argila, cera
ou outras massas moldáveis. Sobre as ferramentas: para a técnica da adição,
nos materiais como a cera e argila o principal são as mãos. Estecas para argila
e ferramentas de ponta fina para a cera.

• Talha é uma técnica de subtração de materiais. A extração do material é feita


por meio de cortes, perfurações e toques e exige experiência e paciência, pois a
matéria é mais densa e severa. Os materiais mais usados na talha são as pedras
e a madeira. As ferramentas usadas são: cinzéis, formões, martelos, escopros,
lixas e furadeiras (para as pedras) goivas, formões, limas, lixas, machados
e serras (para a madeira). A policromia era muito utilizada para dar cor e
proteção às esculturas.

177
AUTOATIVIDADE

Prezado acadêmico! Procure na internet o seguinte site: <http://www.


revistamuseu.com.br/galeria.asp?id=6828>. No artigo apresenta-se a biografia
do artista Henry Moore, bem como o anúncio de uma exposição de suas
obras no Brasil em 2005. Leia o artigo e descubra o que o artista falou sobre a
materialidade da escultura em 1938. Boa pesquisa!

178
UNIDADE 3
TÓPICO 5

CONSTRUÇÃO E MOLDAGEM

1 INTRODUÇÃO
No primeiro tópico, relatamos as técnicas de adição e talha. Neste, daremos
ênfase a outras duas técnicas da escultura: a construção e a moldagem.

A construção é a liga de vários elementos, ou seja, remete à solda de


partes do material para criar uma forma completa. Já a moldagem tem a ver com
moldes e a fundição e consta do preenchimento de materiais diversos como: cera,
cimento, argila líquida, gesso, bronze, silicone, entre outros.

Portanto, vamos conhecer as técnicas e materiais referentes à construção


e moldagem.

2 CONSTRUÇÃO
A construção é a união de vários materiais para dar forma a uma
escultura. O escultor prepara diversos elementos em separado para depois uni-
los. Os materiais podem ser variados: desde ferro, gesso, papel, cimento, materiais
reutilizáveis da indústria ou do cotidiano. Para compor a escultura, pode-se colar,
soldar, pregar, encaixar etc.

A técnica da construção já era utilizada pelos escultores há muito tempo,


mas somente como um meio para concretizar a escultura e não como a escultura
em si. A seguir, uma escultura de Auguste Rodin (1840-1917), uma espécie de
preparação para a fundição em bronze, utilizando materiais como argila, cera,
gesso, pregos e outros metais para compor a estrutura. Provavelmente haveria
uma “cobertura” de algum material como gesso ou argila para acabamento final.
A construção era usada como parte do processo para chegar à escultura final –
neste caso, o bronze.

179
UNIDADE 3 | ARTE E GÊNERO

FIGURA 128 – CONSTRUÇÃO EXECUTADA POR RODIN

FONTE: A autora.

Se Rodin foi um artista que usava a técnica da construção como meio para
as suas esculturas, podemos citar outro escultor que leva a técnica da construção
como prática escultórica final.

Esse artista é Alberto Giacometti (1901-1966). Ele é um escultor de origem


suíça que se estabeleceu na França. Seu início foi com o Surrealismo, passou pela
pintura, mas é conhecido principalmente por suas esculturas com a temática da
figura humana voltada a uma espécie de expressionismo. Seus trabalhos são
reconhecidos e são exibidos nos principais museus do mundo, como no Museu
de Arte Moderna de Nova York (MoMA).

A desproporção de suas figuras por meio de alongamento das formas,


junto a uma textura acentuada de suas esculturas, cria uma dramática poética
artística. A escala das figuras também varia muito, desde miniaturas até
personagens maiores. A superfície de suas esculturas revela a interferência dos
dedos do artista e realçam a expressão, e geram uma dinâmica que contrasta
com a verticalidade rigorosa da maioria de suas figuras. Um exemplo é “grande
femme”, de 1958, com as dimensões de 188,3 X 28.8 X 40.9 cm feita em gesso.

180
TÓPICO 5 | CONSTRUÇÃO E MOLDAGEM

FIGURA 129 – GRANDE FEMME

FONTE: GENET, Jean. O ateliê de Giacometti. São Paulo:


Cosac & Naify edições, 2000.

E
IMPORTANT

Um fato impressionante: no início do ano de 2010, a escultura de Alberto


Giacometti intitulada “walking man” foi leiloada em Londres por um valor espetacular: US$
104 milhões.

181
UNIDADE 3 | ARTE E GÊNERO

FIGURA 130 – GIACOMETTI

FONTE: GENET, Jean. O ateliê de Giacometti. São Paulo: Cosac


& Naify edições, 2000.

Giacometti criou esculturas em bronze e utilizou-se também da técnica


da construção para efetivar muito de suas esculturas. Utilizava estruturas de
variados materiais para depois “envolvê-los” com alguma massa – na maioria o
gesso (ver figura anterior).

Foram os artistas do século XX que optaram pela construção como uma


prática escultórica, pois conciliava com as propostas artísticas modernas. Segundo
o autor Valeriano Bozal (1996):

[...] os escultores cubistas desenvolveram um princípio que teria


considerável importância na evolução da arte: a construção ou
montagem. A análise do comportamento dos volumes, de suas
interseções, dos planos e segmentos, foi realizada fundamentalmente
segundo o procedimento da construção ou da montagem, como se a
obra fosse um objeto feito à base de peças que vão sendo reunidas e
dispostas de acordo com princípios mais ou menos claros.

O autor cita o artista Henri Laurens (1885-1954) e sua obra “garrafa e copo”
que utiliza a madeira e o ferro numa articulação de peças variadas que reunidas
compõem a escultura cubista. (figura a seguir)

182
TÓPICO 5 | CONSTRUÇÃO E MOLDAGEM

FIGURA 131 – GARRAFA E COPO

FONTE: BOZAL, Valeriano. História geral da arte: escultura.


Barcelona: del Prado, 1996.

Talvez uma das mais famosas esculturas representativas da técnica da


construção seja "cabeça de touro", de Pablo Picasso (1881-1973): uma estrutura feita
com um selim e um guidão de bicicleta. Ele foi um dos primeiros a usar objetos
encontrados ao acaso e transformava os materiais mais hipotéticos em escultura.

FIGURA 132 – CABEÇA DE TOURO

FONTE: DUPUIS-LABBÉ, Dominique. Picasso La scultura. Florença/


IT: Giunti.

183
UNIDADE 3 | ARTE E GÊNERO

Os artistas que também exploraram os objetos por meio da técnica da


construção foram os dadaístas - artistas de uma vanguarda moderna chamada
Dadaísmo com início em 1916, em Zurique, na Suíça.

Em suas manifestações artísticas, os dadaístas incorporavam materiais


encontrados e recolhidos nas ruas. Utilizavam por vezes os objetos usuais e
construíam suas esculturas com sentimento irônico e a incoerência. O ilógico e
o pessimismo eram enfatizados por meio de uma espécie de improvisação – o
acaso. Apesar de esses objetos escultóricos representarem uma aparente falta
de sentido, o objetivo dadaísta era um protesto contra a guerra. Os dadaístas
negavam os valores artísticos e estéticos e a técnica da construção era a resposta
para os seus trabalhos: a união de materiais diversos e sem a preocupação de
serem materiais nobres ou clássicos, mas sim que pudessem expressar a denúncia,
o escândalo e o absurdo. Um exemplo de construção dadaísta é do artista Raoul
Hausmann (1886-1971).

FIGURA 133 – O ESPÍRITO DE NOSSO TEMPO, 1919

FONTE: Disponível em: <http://otway.wordpress.com/2009/11/13/>.


Acesso em: 26 maio 2010.

A cabeça de manequim de madeira envolta com materiais e objetos


inusitados provoca inicialmente uma resposta de estranhamento do público.
Quando analisada com mais atenção, a interpretação pode ser extensa: desde a
invocação de um ser humano robótico, quanto de uma crítica ao pensamento
racionalista. O título “o espírito de nosso tempo” ajuda a criar uma escultura
simbólica e surreal.

O Dadaísmo foi base para o advento de outros movimentos de arte, como


o Surrealismo, a Arte Conceitual e a Pop Art.

184
TÓPICO 5 | CONSTRUÇÃO E MOLDAGEM

E
IMPORTANT

A industrialização e as tecnologias a partir do século XX ofereceram novos


materiais e originais formas de fazer escultura. O escultor tem a sua disposição uma gama
variada de materiais e possibilidades expressivas. Ao criar usando concreto, vidro, metais,
fibras sintéticas, papel, plástico, sucata industrial, o artista faz referência mais a um construtor
do que a um escultor clássico.

2.1 PRÁTICA PARA A ESCOLA


Uma prática para a escola com a técnica da construção seria utilizar vários
materiais para a estrutura de uma figura ou personagem. Podem-se utilizar caixas
de diversos tamanhos, canudinhos, jornal, barbante, palitos, copos plásticos,
cartolina etc. Escolhe-se a figura ou objeto de que se quer a estrutura e se usa do
recorte, da dobradura, da cola, da reunião de materiais para a conclusão do objeto.
Para acabamento, as crianças podem pintar partes ou a escultura por inteiro.

Um exemplo de que se pode utilizar como inspiração são os relevos e


esculturas do artista Pablo Picasso, que são à base de madeira e papel, como o da
figura a seguir, em que se presencia a cartolina, papelão e barbante para compor
a “Guitarra”, de 1912.

E
IMPORTANT

Sempre que possível, o professor de artes deve realizar uma exposição com
os trabalhos dos alunos – é uma forma de valorizar a produção artística das crianças e de
incentivar a apreciação dos demais alunos da escola.

185
UNIDADE 3 | ARTE E GÊNERO

FIGURA 134 – GUITARRA

FONTE: DUPUIS-LABBÉ, Dominique. Picasso La scultura. Florença/


IT: Giunti.

TURO S
ESTUDOS FU

Prezado acadêmico! Após conhecer a técnica da construção, vamos agora


estudar os princípios que envolvem outra técnica da escultura: a moldagem.

3 MOLDAGEM
A moldagem está ligada aos moldes e à reprodução. Basicamente, toda
moldagem segue o mesmo princípio: o processo é a obtenção de um molde
chamado negativo que parte de uma matriz, de um original chamado positivo.

Podem-se usar vários materiais para reprodução: desde materiais comuns


como a argila, o gesso e o cimento, até metais como o bronze, o cobre, o ouro, a
prata etc.

O bronze é uma liga que tem como base o cobre e o estanho. No início, era
usado para ferramentas e armas, mas logo foi utilizado como material escultórico.
O fato de que sua obtenção esteja relacionada a um processo de fundição, se faz
necessário usar moldes de areia ou o procedimento chamado “cera perdida”.
186
TÓPICO 5 | CONSTRUÇÃO E MOLDAGEM

O bronze, quando polido ao extremo, apresenta uma aparência de dourado.


Sua notoriedade se dá por sua resistência estrutural frente às intempéries do
tempo. Material que se adequada bem à fundição e propicia uma variedade de
efeitos e acabamentos.

Uma característica do bronze é uma espécie de pátina esverdeada que


acontece por causa da corrosão do cobre que vem à superfície com o passar dos
tempos. É um artifício natural, pois é a tendência dos metais de retrocederem ao seu
estado mineral. Esse efeito pode ser estável sem grandes dados para a escultura,
mas dependendo do caso, ela pode ser destrutiva e desgastar a superfície, que se
transforma num corrosivo chamado cancro do bronze. A seguir, uma escultura
em bronze impregnada de pátina. É possível observar a distinção entre o dourado
do bronze original e o esverdeado corrosivo do cobre.

FIGURA 135 – ESCULTURA EQUESTRE DO IMPERADOR MARCO AURÉLIO

FONTE: Disponível em: <http://2.bp.blogspot.com/__d2B9sUpUVU/


SbRcO6UUB5I/AA>. Acesso em: 30 maio 2010.

A moldagem já era uma prática muito utilizada desde a antiguidade.


Registros históricos mostram que os egípcios e os mesopotâmicos produziam
pequenas esculturas em bronze. Mas foram os gregos que conseguiram alcançar
com sucesso a fundição de esculturas maiores. Os romanos aperfeiçoaram a
técnica e deixaram um legado enorme de obras, como no exemplo da figura
anterior – a escultura equestre do Imperador Marco Aurélio, que se encontra
nos Museus Capitolinos em Roma.

Após o Renascimento, a fundição em bronze ganhou aprimoramento


técnico e estético. Foi neste período que se desenvolveu a pátina artificial, ou seja,

187
UNIDADE 3 | ARTE E GÊNERO

a pátina provocada por meio de ácidos para formar uma camada de oxidação
estável, sem corrosão do bronze, para conferir à escultura recente um ar de
antiguidade, com tons de marrons e verdes.

Mas é a partir do século XIX que a moldagem e as esculturas em metal se


reproduzem com esmero e com rapidez: é comum encontrar esculturas de figuras
históricas em praças de cidades e capitais.

A moldagem propicia a reprodução de réplicas e a reutilização do molde.


Com isso é possível que se possa ter uma escultura famosa presente em locais
distintos, com acesso para um público maior. Mas isso criou uma polêmica que
envolve a reprodução de imagens, afinal onde fica a originalidade e a questão de
obra única?

No universo da escultura, existe uma regra para a produção em série.


É considerada válida a reprodução de um original até doze exemplares, sendo
quatro avaliadas como provas do artista. Mas todas devem conter a assinatura
do artista, bem como a data e a numeração de série. Mesmo assim, ainda há
desacordo de opiniões quanto à quantidade a ser admitida para que as réplicas
sejam tidas como originais.

E
IMPORTANT

Prova do artista são uma espécie de teste, na qual o artista tem direito de copiar
a imagem para realizar correções e estudos prévios, antes de efetivar a reprodução em si.

O escultor Rodin, durante toda a sua carreira, explorou ao máximo as


possibilidades da moldagem e fundição: as conhecidas e principais obras como
Porta do Inferno, Eva, Balzac e o Beijo tiveram sua versão em bronze – inclusive
reproduzida várias vezes. É o caso de O Pensador que teve réplicas, possíveis de
serem encontradas em museus pelo mundo. Esta cópia fiel de O Pensador feita
em 1889 por Rodin pode ser encontrada no museu Ny Carlsberg Glyptotek em
Copenhagen na Dinamarca. (A escultura se encontra na parte externa do museu
e é visível a corrosão do cobre na superfície).

188
TÓPICO 5 | CONSTRUÇÃO E MOLDAGEM

FIGURA 136 – O PENSADOR

FONTE: Disponível em: <http://wpcontent.answers.com/wikipedia/


commons/thumb....>. Acesso em: 30 maio 2010.

Segundo a escultora Glória Corbetta (2000), sobre as leis que orientam a


reprodução das obras de Rodin, afirmou o seguinte:

De acordo com o desejo de Rodin, foi dado ao Museu Rodin o


direito de reproduzir esculturas póstumas de Rodin. Em 1956, uma
lei francesa limitou a produção para 12 exemplares de cada molde.
O sistema de numeração foi estabelecido pela legislação francesa no
ano de 1968, segundo a qual as primeiras 8 cópias dos 12 exemplares
deveriam ser numeradas em 1/8, 2/8 até 8/8 e estariam disponíveis
para a venda ao público. Os últimos 4 exemplares numerados de I/IV,
II/IV até IV/IV, estariam reservados para instituições culturais. Essa lei
foi restabelecida e rigidamente imposta em 1981, na França.

Antes de essas leis serem concretizadas, o artista Rodin permitiu que suas
obras pudessem ser copiadas livremente por fundições para atender à demanda
do público interessado em adquirir seus trabalhos. “[...] de 1898 a 1918 apenas a
fundição Barbediene produziu 231 exemplares da Eterna Primavera e 319 do Beijo,
cada um disponível em 4 tamanhos” (CORBETTA, 2000, p. 79).

Como se pode perceber, a questão da reprodução tomaria rumos


desenfreados, se não fossem impostas algumas leis de controle. Apesar disso,
ainda existe muita polêmica na questão da originalidade.

Apesar da fatalidade do cancro do bronze, muitos escultores ainda


preferem a moldagem e a fundição em contrapartida do mármore ou a cerâmica,
em função de sua durabilidade e resistência – o metal resiste a colisões que

189
UNIDADE 3 | ARTE E GÊNERO

outros materiais não conseguiriam. Outra propriedade do bronze é que ele pode
ser reaproveitado, o que sempre é uma vantagem, em tempos de guerra ou de
mudanças históricas: muitas esculturas em bronze foram derretidas para serem
transformadas em armas ou ainda esculturas de deuses pagãos que viraram sinos.

TURO S
ESTUDOS FU

Vamos conhecer agora o processo de fundição e moldagem!

Um dos processos mais utilizados para a fundição é a conhecida cera


perdida. Inicialmente o escultor prepara uma matriz, que deve ser o modelo exato
em tamanho e acabamento desejados. Assim como é a matriz será o exemplar
final. Normalmente essa matriz é construída em argila.

A partir da matriz, se confeccionam os moldes – para fundição de metais


se utilizam moldes de areia ou à base de materiais refratários – para suportar as
altas temperaturas.

No molde, na parte interna, se aplica uma camada de cera, formando uma


espécie de casca, que mais tarde será substituída pelo metal líquido. Se preenche
o espaço interno com material refratário e gesso, para a peça se tornar oca. É
um molde dentro do outro, tendo a cera como intermediário. Leva-se ao forno
para aquecer e derreter a cera – criando um espaço vazio que será preenchido
pelo metal. Por isso este processo se chama cera perdida. Se preenche o vazio
deixado pela cera, com metal em estado líquido. Após o esfriamento, o metal
agora endurecido, passa pela desmoldagem e a correção e acabamentos, como o
polimento e pátinas.

E
IMPORTANT

O método da cera perdida é o mais empregado na confecção de esculturas,


por produzir peças com melhor acabamento e possibilitar o uso de formas complexas.

190
TÓPICO 5 | CONSTRUÇÃO E MOLDAGEM

FIGURA 137 – FUNDIÇÃO DE METAIS

FONTE: Disponível em: <http://www.4.bp.blogspot.com>. Acesso


em: 30 maio 2010.

O principal material para o molde é o gesso – usado como intermediário,


mas de extrema importância por suas qualidades: é acessível, seca rápido, tem
certa durabilidade e se adapta muito bem à moldagem.

Vamos conhecer a moldagem a partir do processo básico de moldes em


partes.

Primeiramente, se faz necessário uma matriz. Modela-se em argila uma


escultura, de preferência mais abstrata, sem grandes contornos e detalhes.
Para a moldagem em gesso, quanto mais simples for a forma, mais fácil será a
desmoldagem depois, ou seja, a retirada da réplica do molde.

191
UNIDADE 3 | ARTE E GÊNERO

FIGURA 138 – CONSTRUÇÃO DE MATRIZ

FONTE: CORBETTA, Glória. Manual do escultor. Porto Alegre: AGE,


2000.

Traça-se uma linha na matriz (ainda úmida), para dividir as partes que
serão de gesso. Dependendo da matriz serão necessárias duas ou mais partes.
Matrizes simples exigem apenas duas partes – normalmente a frente e o verso. Se
necessário, fazem-se estudos preparatórios em desenhos para planejar as partes
do molde de gesso e depois se repassa tais linhas para a matriz.

FIGURA 139 – DESENHO DA MATRIZ E SUA DIVISÓRIA

FONTE: CORBETTA, Glória. Manual do escultor. Porto Alegre: AGE,


2000.

192
TÓPICO 5 | CONSTRUÇÃO E MOLDAGEM

Produz-se primeiramente, uma parte do gesso e para tanto, é preciso


criar uma espécie de separador, uma espécie de divisória que acompanha a linha
traçada na escultura. Para a divisão insere-se na matriz folha de flandres, acetato
(de radiografias) ou argila – ver a figura a seguir. A parte que não receberá o gesso
no primeiro momento deve ser protegida com plástico ou papel.

FIGURA 140 – COLOCAÇÃO DE DIVISÓRIA NA ESCULTURA

FONTE: CORBETTA, Glória. Manual do escultor. Porto Alegre: AGE,


2000.

E
IMPORTANT

Preste atenção para o correto preparo do gesso!

Para o preparo do gesso, em uma bacia de plástico, coloca-se água e


acrescenta-se o gesso aos poucos até o surgimento de “ilhas” na superfície da
água. Com as mãos (vestidas de luvas de borracha ou látex), fazem-se gestos
circulares até alcançar uma mistura homogênea. Espera-se o gesso descansar um
pouco e bate-se nas laterais da bacia para dissolver as bolhas de ar que possam
estar inseridas na massa.

Uma medida de base é calcular 100 partes de gesso para 80 partes de água,
ou ainda 1k de gesso para 800 ml de água.

Cobre-se de gesso uma parte da matriz, salpicando e colocando de maneira


uniforme, com o cuidado de preencher todos os cantos e detalhes. Isso é importante
para que o molde fique perfeito para a reprodução posterior. Deixa-se secar.
193
UNIDADE 3 | ARTE E GÊNERO

FIGURA 141 – COLOCAÇÃO DE GESSO NA MATRIZ

FONTE: CORBETTA, Glória. Manual do escultor. Porto Alegre: AGE,


2000.

A secagem do gesso ocorre de maneira rápida. Pode-se perceber o calor


que emana do gesso. Logo após acontece o esfriamento e este o sinal que o
processo chegou ao fim.

Retiram-se as folhas de flandres (ou outro material) e pincela-se um


desmoldante neste espaço. Prepara-se novamente o gesso e completa-se o outro
lado do molde. Deixa-se secar por completo.

E
IMPORTANT

O desmoldante pode ser cera líquida ou um preparo de cera com querosene.


Serve para impermeabilizar e ajudar na separação do molde.

Raspa-se o espaço da união do molde, até encontrar a linha de divisão.


Com um formão e martelo faz-se batidas leves na divisão do molde até que as
partes de separem.

A escultura Glória Corbetta aconselha: “Colocar água nessa junção e


friccionar uma parte contra a outra, para que a escultura de barro úmido comece
a se desprender. Por isso a necessidade do barro de estar molhado.” (CORBETTA,
2000, p. 20).

194
TÓPICO 5 | CONSTRUÇÃO E MOLDAGEM

FIGURA 142 – ABERTURA DO MOLDE

FONTE: CORBETTA, Glória. Manual do escultor. Porto Alegre: AGE,


2000.

Com as partes do molde abertas, retira-se a escultura em argila. Nem


sempre ela sairá por inteiro e acaba-se perdendo a matriz. Mas o importante neste
processo é conseguir o molde em gesso. É a partir dele que se conseguirão várias
réplicas, a matriz serviu apenas como um meio.

FIGURA 143 – RETIRADA DA MATRIZ DO MOLDE

FONTE: CORBETTA, Glória. Manual do escultor. Porto Alegre: AGE,


2000.

195
UNIDADE 3 | ARTE E GÊNERO

Limpam-se as partes do molde com esponja úmida e preparam-se para a


fundição. Caso tenha de fazer algum reparo, o momento é este. Se surgir alguma
marca de bolha inesperada, basta preencher com um pouco de gesso. Pode-se
observar na figura a seguir o negativo da escultura.

FIGURA 144 – PARTES DO MOLDE

FONTE: CORBETTA, Glória. Manual do escultor. Porto Alegre: AGE,


2000

E
IMPORTANT

Preste atenção para a fundição de material no molde de gesso, esse momento


também é de extrema importância!

Para a fundição, se faz necessário passar uma camada de desmoldante


por toda a parte interna do molde. Fecha-se o molde, unindo as partes e prende-
se com arame ou borracha (fitas recortadas a partir da borracha de pneu de carro
são excelentes). Amarram-se quantas forem necessárias para manter o molde
em segurança, durante o manuseio e fundição. Na junção das partes do molde,
coloca-se argila para evitar o vazamento do material no andamento do processo.

196
TÓPICO 5 | CONSTRUÇÃO E MOLDAGEM

FIGURA 145 – MOLDE PRONTO PARA A FUNDIÇÃO

FONTE: CORBETTA, Glória. Manual do escultor. Porto Alegre: AGE, 2000.

Escolhe-se o material para preencher o molde: pode ser resina, cimento,


gesso, barbotina ou cera de abelha. Qualquer material deve estar em estado
pastoso para a fundição. Vira-se o molde ao contrário, posicionando-o de maneira
a ficar firme até o final da secagem e despeja-se o material dentro do molde. Deixa-
se secar. Dependendo do material, a secagem pode levar menos tempo, umas
quatro horas – como no caso do gesso – ou então mais tempo, 24 horas – para
materiais pesados como o cimento. O importante é respeitar a secagem completa
do material antes de desenformar o molde.

FIGURA 146 – CRIAÇÃO DO POSITIVO NO MOLDE

FONTE: CORBETTA, Glória. Manual do escultor. Porto Alegre: AGE,


2000.

197
UNIDADE 3 | ARTE E GÊNERO

Com a secagem completa, basta soltar as amarras e abrir as parte do


molde. Caso se tenha dificuldade para abrir, bastam alguns toques - de leve -
com martelo e formão nas junções do molde. A réplica - o positivo – deve se
soltar facilmente devido ao desmoldante pincelado no interior do molde. Mesmo
assim, pode haver algumas correções a fazer. Para o acabamento pode-se retocar,
lixar ou pintar com verniz, conforme as necessidades criativas. Um exemplo de
escultura resultante de moldagem é o da figura a seguir – escultura em gesso da
artista Glória Corbetta.

FIGURA 147 – ESCULTURA DE GLÓRIA CORBETTA

FONTE: CORBETTA, Glória. Manual do escultor. Porto Alegre:


AGE, 2000.

3.1 PRÁTICA PARA A ESCOLA


Uma prática de moldagem para executar na escola, pode ser feita por
meio de ataduras engessadas. Esse material pode ser adquirido em farmácias ou
casas especializadas em material hospitalar. O princípio da moldagem é o molde
de uma matriz, que pode ser realizada a partir das mãos das crianças.

198
TÓPICO 5 | CONSTRUÇÃO E MOLDAGEM

FIGURA 148 – MOLDAGEM DE MÃOS COM ATADURA ENGESSADA

FONTE: A autora.

As ataduras vêm prontas com gesso. Basta recortar pedaços dessas


ataduras, molhar em água e colocar sobre as mãos. O importante é alisar bem para
que o gesso impregne e firme as ataduras, criando a forma desejada. O segredo é
manter as matrizes (no caso, as mãos das crianças) paradas até o final da secagem,
que é rápido - em questão de 15 a 20 minutos. Daí é só retirar o molde. Após 24
horas, pode-se fazer os acabamentos necessários como pintura e colagem.

DICAS

Para conhecer mais sobre as técnicas de escultura, recomendamos os livros


de Glória Corbetta, o Manual do Escultor (Porto Alegre: AGE, 2000) e o livro Moldes do autor
Joaquim Chavarria.

UNI

Prezado acadêmico! Este é o momento do resumo deste tópico! Vamos rever


pontos importantes sobre as técnicas da Construção e Moldagem.

199
RESUMO DO TÓPICO 5

Neste tópico, você viu que:

• A construção é a união de vários materiais para dar forma a uma escultura.


Os materiais podem ser variados: desde ferro, gesso, papel, cimento, materiais
reutilizáveis da indústria ou do cotidiano, entre outros. Para compor a
escultura, pode-se colar, soldar, pregar, encaixar etc. Os artistas do século XX
optaram pela construção como uma prática escultórica: pode-se citar Alberto
Giacometti, os cubistas como Henri Laurens e Pablo Picasso, os dadaístas como
Raoul Hausmann.

• A moldagem está ligada aos moldes e à reprodução. Basicamente, toda


moldagem segue o mesmo princípio: o processo é a obtenção de um molde
chamado negativo que parte de uma matriz, de um original chamado positivo.
Podem-se usar vários materiais para reprodução, desde materiais comuns como
a argila, o gesso e o cimento, até metais como o bronze, o cobre, o ouro e a prata.
Muitos escultores ainda preferem a moldagem e a fundição em contrapartida
do mármore ou a cerâmica, em função de sua durabilidade e resistência. Neste
tópico, apresentou-se a fundição em cera perdida e a moldagem em partes.

UNI

Prezado acadêmico! Terminamos aqui com as técnicas de escultura. De


agora em diante, você irá acompanhar os gêneros e o contexto da escultura em épocas e
civilizações distintas. Esperamos que estes estudos possam servir de suporte para a sua vida
acadêmica! Bons estudos!

200
AUTOATIVIDADE

Para conhecer um pouco mais sobre escultores e suas possibilidades


criativas e contemporâneas, visite o site: <www.youtube.com.br> e escreva
sobre Ron Mueck - Esculturas humanas - GENIAL - Jornal Hoje. É uma
reportagem de 4 minutos e 24 segundos, sobre um dos escultores mais
prestigiados de nosso tempo: Ron Mueck. Veja e prestigie a arte escultórica em
sua perfeição técnica e estética e perceba qual a mensagem das esculturas do
artista. Boa pesquisa!

201
202
REFERÊNCIAS
BARDI, P. M. Em torno da escultura no Brasil. São Paulo: Banco Sudameris
Brasil, 1989.

BASBAUM, Ricardo. Arte contemporânea brasileira: texturas, dicções, ficções,


estratégias. Rio de Janeiro: Rios Ambiciosos, 2001.

BOZAL, Valeriano. História geral da arte: escultura. Barcelona: del Prado, 1996.

BRECERET, Victor. A escultura brasileira: perfil de uma identidade. São Paulo:


Banco Safra, 1997.

CORBETTA, Glória. Manual do escultor. Porto Alegre: AGE, 2000.

FABRINI, Ricardo Nascimento. O espaço de Lígia Clark. São Paulo: Editora


Atlas S/A, 1994.

JANSON, H.W. A História Geral da Arte. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

KRAUSS, Rosalind. Caminhos da Escultura Moderna. São Paulo: Marins


Fontes, 1998.

O GUIA DO LOUVRE. Paris/FR: Musée du Louvre éditions, 2006. Catálogo.

READ, Herbert. Escultura moderna: uma história concisa. São Paulo: Martins
Fontes, 2003.

PLOWMAN, John. A Linguagem da escultura. Enciclopédia de técnicas


escultóricas. Barcelona/ES: Ed. Acanto, 1995.

TUCKER, William. A Linguagem da escultura. São Paulo: Cosac & Naify, 1999.

WILDUNG, Dietrich. El Arte Egípcio em Berlin. AL:Berlim, 2007.

203

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