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CAPA DO PROCESSO

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Processo Nº 5105179-28.2021.4.02.5101

Evento 4

Data: 04/10/2021 11:20:42

Número do Processo: 5105179-28.2021.4.02.5101

Número do Evento: 4

Usuário: ABELARDO JOSÉ DE MOURA JUNIOR - OFICIAL DE GABINETE

Descrição do Evento: Recebida a denúncia


Poder Judiciário
JUSTIÇA FEDERAL
Seção Judiciária do Rio de Janeiro
3ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro
Avenida Venezuela, 134, Bloco B, 2º andar - Bairro: Praça Mauá - RJ - CEP: 20081-312 - Fone: (21)3218-7933 - whatsapp
21-96725.2313 - Email: 03vfcr@jfrj.jus.br

AÇÃO PENAL Nº 5105179-28.2021.4.02.5101/RJ


AUTOR: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
RÉU: VICENTE GADELHA ROCHA NETO
RÉU: PAULO HENRIQUE ROSA DE LANA
RÉU: MARCIA PINTO DOS ANJOS
RÉU: KAMILA MARTINS NOVAIS
RÉU: GUILHERME SILVA DE ALMEIDA
RÉU: MARIANA BARBOSA CORDEIRO
RÉU: DIEGO SILVA VIEIRA
RÉU: ALAN GOMES SOARES
RÉU: MICHAEL DE SOUZA MAGNO
RÉU: TUNAY PEREIRA LIMA
RÉU: MIRELIS YOSELINE DIAZ ZERPA
RÉU: LARISSA VIANA FERREIRA DUMAS
RÉU: JOAO MARCUS PINHEIRO DUMAS VIANA
RÉU: FELIPE JOSE SILVA NOVAIS
RÉU: GLAIDSON ACACIO DOS SANTOS
RÉU: ANDRIMAR MORAYMA RIVERO VERGEL
RÉU: KELLY PEREIRA DEO DE SOUZA LANA

DESPACHO/DECISÃO

Vistos em decisão.

O Ministério Público Federal ofertou denúncia em face de GLAIDSON ACÁCIO


DOS SANTOS, MIRELIS YOSELINE DIAZ ZERPA, FELIPE JOSÉ SILVA NOVAIS, K
AMILA MARTINS NOVAIS, TUNAY PEREIRA LIMA, MÁRCIA PINTO DOS ANJOS,
VICENTE GADELHA ROCHA NETO, ANDRIMAR MORAYMA RIVERO VERGEL, D
IEGO SILVA VIEIRA, MARIANA BARBOSA CORDEIRO, PAULO HENRIQUE DE
LANA, KELLY PEREIRA DEO DE SOUZA LANA, JOÃO MARCUS PINHEIRO
DUMAS VIANA, LARISSA VIANA FERREIRA DUMAS, GUILHERME SILVA DE
ALMEIDA, ALAN GOMES SOARES e MICHAEL DE SOUZA MAGNO, imputando-lhes
a prática das seguintes infrações penais:
1) GLAIDSON ACÁCIO DOS SANTOS – art. 16 da Lei nº 7.492/86, na forma
do art. 29, caput, do Código Penal, com incidência da agravante prevista no art. 62, inc. I,
também do Código Penal (FATO 01); art. 4º da Lei nº 7.492/86, na forma do art. 29, caput, do
Código Penal, com incidência da agravante prevista no art. 62, inc. I, também do Código Penal
(FATO 02); art. 7º, II, III e IV, da Lei nº 7.492/86 c/c art. 2º, IX, da Lei nº 6.385/76, na forma
dos arts. 29 e 30 do Código Penal, com incidência da agravante prevista no art. 62, inc. I,
também do Código Penal (FATO 03); art. 2º, § 4º, III e IV, da Lei nº 12.850/2013, com
incidência da agravante prevista no art. 62, inc. I, também do Código Penal (FATO 04).

2) MIRELIS YOSELINE DIAZ ZERPA – art. 16 da Lei nº 7.492/86, na forma


do art. 29, caput, do Código Penal, com incidência da agravante prevista no art. 62, inc. I,
também do Código Penal (FATO 01); art. 4º da Lei nº 7.492/86, na forma do art. 29, caput, do
Código Penal, com incidência da agravante prevista no art. 62, inc. I, também do Código Penal
(FATO 02); art. 7º, II, III e IV, da Lei nº 7.492/86 c/c art. 2º, IX, da Lei nº 6.385/76, na forma
dos arts. 29 e 30 do Código Penal, com incidência da agravante prevista no art. 62, inc. I,
também do Código Penal (FATO 03); art. 2º, § 4º, III e IV, da Lei nº 12.850/2013, com
incidência da agravante prevista no art. 62, inc. I, também do Código Penal (FATO 04).

3) FELIPE JOSÉ SILVA NOVAIS – art. 16 da Lei nº 7.492/86, na forma do art.


29, caput, do Código Penal (FATO 01); art. 4º da Lei nº 7.492/86, na forma do art. 29, caput, do
Código Penal (FATO 02); art. 7º, II, III e IV, da Lei nº 7.492/86 c/c art. 2º, IX, da Lei nº 6.385
/76, na forma dos arts. 29 e 30 do CP (FATO 03); art. 2º, § 4º, III e IV, da Lei nº 12.850/2013
(FATO 04).

4) KAMILA MARTINS NOVAIS – art. 16 da Lei nº 7.492/86, na forma do art.


29, caput, do Código Penal (FATO 01); art. 4º da Lei nº 7.492/86, na forma do art. 29, caput, do
Código Penal (FATO 02); art. 7º, II, III e IV, da Lei nº 7.492/86 c/c art. 2º, IX, da Lei nº 6.385
/76, na forma dos arts. 29 e 30 do CP (FATO 03); art. 2º, § 4º, III e IV, da Lei nº 12.850/2013
(FATO 04).

5) TUNAY PEREIRA LIMA – art. 16 da Lei nº 7.492/86, na forma do art. 29, cap
ut, do Código Penal (FATO 01); art. 4º da Lei nº 7.492/86, na forma do art. 29, caput, do Código
Penal (FATO 02); art. 7º, II, III e IV, da Lei nº 7.492/86 c/c art. 2º, IX, da Lei nº 6.385/76, na
forma dos arts. 29 e 30 do CP (FATO 03); art. 2º, § 4º, III e IV, da Lei nº 12.850/2013 (FATO
04).

6) MÁRCIA PINTO DOS ANJOS – art. 16 da Lei nº 7.492/86, na forma do art.


29, caput, do Código Penal (FATO 01); art. 4º da Lei nº 7.492/86, na forma do art. 29, caput, do
Código Penal (FATO 02); art. 7º, II, III e IV, da Lei nº 7.492/86 c/c art. 2º, IX, da Lei nº 6.385
/76, na forma dos arts. 29 e 30 do CP (FATO 03); art. 2º, § 4º, III e IV, da Lei nº 12.850/2013
(FATO 04).
7) VICENTE GADELHA ROCHA NETO – art. 16 da Lei nº 7.492/86, na forma
do art. 29, caput, do Código Penal (FATO 01); art. 4º da Lei nº 7.492/86, na forma do art. 29, cap
ut, do Código Penal (FATO 02); art. 7º, II, III e IV, da Lei nº 7.492/86 c/c art. 2º, IX, da Lei nº
6.385/76, na forma dos arts. 29 e 30 do CP (FATO 03); art. 2º, § 4º, III e IV, da Lei nº 12.850
/2013 (FATO 04).

8) ANDRIMAR MORAYMA RIVERO VERGEL – art. 16 da Lei nº 7.492/86,


na forma do art. 29, caput, do Código Penal (FATO 01); art. 4º da Lei nº 7.492/86, na forma do
art. 29, caput, do Código Penal (FATO 02); art. 7º, II, III e IV, da Lei nº 7.492/86 c/c art. 2º, IX,
da Lei nº 6.385/76, na forma dos arts. 29 e 30 do CP (FATO 03); art. 2º, § 4º, III e IV, da Lei nº
12.850/2013 (FATO 04).

9) DIEGO SILVA VIEIRA – art. 16 da Lei nº 7.492/86, na forma do art. 29, caput
, do Código Penal (FATO 01); art. 4º da Lei nº 7.492/86, na forma do art. 29, caput, do Código
Penal (FATO 02); art. 7º, II, III e IV, da Lei nº 7.492/86 c/c art. 2º, IX, da Lei nº 6.385/76, na
forma dos arts. 29 e 30 do CP (FATO 03); art. 2º, § 4º, III e IV, da Lei nº 12.850/2013 (FATO
04).

10) MARIANA BARBOSA CORDEIRO – art. 2º, § 4º, III e IV, da Lei nº 12.850
/2013 (FATO 04)

11) PAULO HENRIQUE DE LANA – art. 16 da Lei nº 7.492/86, na forma do


art. 29, caput, do Código Penal (FATO 01); art. 4º da Lei nº 7.492/86, na forma do art. 29, caput,
do Código Penal (FATO 02); art. 7º, II, III e IV, da Lei nº 7.492/86 c/c art. 2º, IX, da Lei nº 6.385
/76, na forma dos arts. 29 e 30 do CP (FATO 03); art. 2º, § 4º, III e IV, da Lei nº 12.850/2013
(FATO 04).

12) KELLY PEREIRA DEO DE SOUZA LANA – art. 16 da Lei nº 7.492/86, na


forma do art. 29, caput, do Código Penal (FATO 01); art. 4º da Lei nº 7.492/86, na forma do art.
29, caput, do Código Penal (FATO 02); art. 7º, II, III e IV, da Lei nº 7.492/86 c/c art. 2º, IX, da
Lei nº 6.385/76, na forma dos arts. 29 e 30 do CP (FATO 03); art. 2º, § 4º, III e IV, da Lei nº
12.850/2013 (FATO 04).

13) JOÃO MARCUS PINHEIRO DUMAS VIANA – art. 16 da Lei nº 7.492/86,


na forma do art. 29, caput, do Código Penal (FATO 01); art. 4º da Lei nº 7.492/86, na forma do
art. 29, caput, do Código Penal (FATO 02); art. 7º, II, III e IV, da Lei nº 7.492/86 c/c art. 2º, IX,
da Lei nº 6.385/76, na forma dos arts. 29 e 30 do CP (FATO 03); art. 2º, § 4º, III e IV, da Lei nº
12.850/2013 (FATO 04).
14) LARISSA VIANA FERREIRA DUMAS – art. 16 da Lei nº 7.492/86, na
forma do art. 29, caput, do Código Penal (FATO 01); art. 4º da Lei nº 7.492/86, na forma do art.
29, caput, do Código Penal (FATO 02); art. 7º, II, III e IV, da Lei nº 7.492/86 c/c art. 2º, IX, da
Lei nº 6.385/76, na forma dos arts. 29 e 30 do CP (FATO 03); art. 2º, § 4º, III e IV, da Lei nº
12.850/2013 (FATO 04).

15) GUILHERME SILVA DE ALMEIDA – art. 16 da Lei nº 7.492/86, na forma


do art. 29, caput, do Código Penal (FATO 01); art. 4º da Lei nº 7.492/86, na forma do art. 29, cap
ut, do Código Penal (FATO 02); art. 7º, II, III e IV, da Lei nº 7.492/86 c/c art. 2º, IX, da Lei nº
6.385/76, na forma dos arts. 29 e 30 do CP (FATO 03); art. 2º, § 4º, III e IV, da Lei nº 12.850
/2013 (FATO 04).

16) ALAN GOMES SOARES – art. 16 da Lei nº 7.492/86, na forma do art. 29, ca
put, do Código Penal (FATO 01); art. 4º da Lei nº 7.492/86, na forma do art. 29, caput, do
Código Penal (FATO 02); art. 7º, II, III e IV, da Lei nº 7.492/86 c/c art. 2º, IX, da Lei nº 6.385
/76, na forma dos arts. 29 e 30 do CP (FATO 03); art. 2º, § 4º, III e IV, da Lei nº 12.850/2013
(FATO 04).

17) MICHAEL DE SOUZA MAGNO – art. 7º, II, III e IV, da Lei nº 7.492/86 c/c
art. 2º, IX, da Lei nº 6.385/76, na forma dos arts. 29 e 30 do CP (FATO 03); art. 2º, § 4º, III e IV,
da Lei nº 12.850/2013 (FATO 04).

Articulou os fatos, a seu sentir, ocorridos, no curso das investigações empreendidas


no bojo do inquérito policial nº. 5051019-53.2021.4.02.5101 (2021.0036768-SR/PF/RJ-01),
cognominada, pela Polícia Federal de "Operação Kryptos", em que se teria descortinado
conjunto de fatos supostamente comandados por GLAIDSON ACÁCIO DOS SANTOS, sócio-
administrador da GAS CONSULTORIA E TECNOLOGIA LTDA, envolvendo crimes contra o
sistema financeiro nacional (art. 16, art. 4º e art. 7º, II, III, IV todos da Lei nº 7.492/86) e
organização criminosa (art. 2º, da Lei nº 12.850/13).

Narrou que as investigações teriam se iniciado a partir de notícias de que


representantes da empresa GAS CONSULTORIA E TECNOLOGIA LTDA, que teria GLAIDS
ON ACÁCIO DOS SANTOS como sócio-administrador, estariam oferecendo ao público em
geral espécie de contrato de investimento coletivo, denominado “Contrato de Prestação de
Serviços para Investimento em Bitcoin – moeda criptografada”, por meio do qual assegurariam
aos investidores rendimento bruto mensal de 10% sobre o montante investido por um prazo
determinado e mediante “aplicação de dinheiro brasileiro em mercado financeiro da moeda
criptografada denominada BITCOIN”, com a previsão de que a remuneração da contratada pelos
serviços prestados seria “o valor que ultrapasse o percentual líquido auferido pelos Contratantes,
enquanto durar o presente contrato”.

Quatro teriam sido os conjuntos de condutas praticadas, a seguir resumidos:


1. Pelo menos no período de 2017 a 25 de agosto de 2021, de forma livre e
consciente e em comunhão de desígnios, GLAIDSON DOS SANTOS, MIRELIS ZERPA, FE
LIPE NOVAIS, KAMILA NOVAIS, TUNAY LIMA, MÁRCIA DOS ANJOS, JOÃO
MARCUS DUMAS, LARISSA DUMAS, VICENTE GADELHA, ANDRIMAR VERGEL, P
AULO LANA, KELLY LANA, DIEGO VIEIRA, GUILHERME DE ALMEIDA e ALAN
SOARES teriam feito operar, sem a devida autorização, instituição financeira, consistente no
grupo formado pelas empresas GAS CONSULTORIA & TECNOLOGIA LTDA, GAS
ASSESSORIA & CONSULTORIA DIGITAL EIRELI e MYD ZERPA TECNOLOGIA
EIRELI, de propriedade de GLAIDSON e MIRELIS, e pelas outras pessoas jurídicas de
propriedade dos codenunciados, que a elas se teriam associado ao longo do período
citado, captando, custodiando, direcionando e alocando, em investimentos, recursos de
terceiros (Operação de instituição financeira sem a devida autorização, art. 16 da Lei nº 7.492
/1986, praticada na forma do art. 29, caput, do Código Penal – Fato 01).

2. Pelo menos no período de 2017 a 25 de agosto de 2021, de forma livre e


consciente e em comunhão de desígnios, GLAIDSON SANTOS, MIRELIS ZERPA, FELIPE
NOVAIS, KAMILA NOVAIS, TUNAY LIMA, MÁRCIA DOS ANJOS, JOÃO MARCUS
DUMAS, LARISSA DUMAS, VICENTE GADELHA, ANDRIMAR VERGEL, PAULO
LANA, KELLY LANA, DIEGO VIEIRA, GUILHERME DE ALMEIDA e ALAN
SOARES teriam gerido fraudulentamente a instituição financeira oficiosa por eles
pretensamente operada, consistente no grupo formado pelas empresas GAS CONSULTORIA &
TECNOLOGIA LTDA, GAS ASSESSORIA & CONSULTORIA DIGITAL EIRELI e MYD
ZERPA TECNOLOGIA EIRELI, de propriedade de GLAIDSON e MIRELIS, e pelas outras
pessoas jurídicas de propriedade dos codenunciados, que a elas se teriam associado ao longo do
período citado, uma vez que teriam direcionado a fins diversos dos contratados, recursos de
terceiros captados, deixando ainda de esclarecer os clientes acerca da alocação e sonegando
informações, quando inquiridos, além de se pretensamente se apropriar de parcelas dos capitais
dos investidores (Gestão fraudulenta de instituição financeira, art. 4º da Lei nº 7.492/86,
praticada na forma do art. 29, caput, do Código Penal – Fato 02).

3. Pelo menos no período de 2017 a 25 de agosto de 2021, de forma livre e


consciente e em comunhão de desígnios, GLAIDSON DOS SANTOS, MIRELIS ZERPA, FE
LIPE NOVAIS, KAMILA NOVAIS, TUNAY LIMA, MÁRCIA DOS ANJOS, VICENTE
GADELHA, ANDRIMAR VERGEL, DIEGO VIEIRA, PAULO LANA, KELLY LANA, J
OÃO MARCUS DUMAS, LARISSA DUMAS, GUILHERME DE ALMEIDA, ALAN
SOARES e MICHAEL MAGNO teriam emitido e ofertado ao público, através de diversos
meios, presenciais e remotos, valores mobiliários, consistentes em contratos de investimento
coletivo em nome da empresa GAS CONSULTORIA & TECNOLOGIA LTDA, sem registro
prévio de emissão junto à CVM, sem lastro ou garantia suficientes e sem autorização prévia da
CVM (art. 7º, II, III e IV, da Lei nº 7.492/86 c/c art. 2º, IX, da Lei nº 6.385/76, na forma dos arts.
29 e 30 do CP – Fato 03).

4. Pelo menos no período de 2017 a 25 de agosto de 20218 , de modo consciente,


voluntário, estável e em comunhão de vontades, GLAIDSON DOS SANTOS e MIRELIS
ZERPA, por meio das empresas GAS CONSULTORIA & TECNOLOGIA LTDA, GAS
ASSESSORIA & CONSULTORIA DIGITAL EIRELI e MYD ZERPA TECNOLOGIA
EIRELI, bem como FELIPE NOVAIS, KAMILA NOVAIS, TUNAY LIMA, MÁRCIA DOS
ANJOS, VICENTE GADELHA, ANDRIMAR VERGEL, DIEGO VIEIRA, MARIANA
CORDEIRO, PAULO LANA, KELLY LANA, JOÃO MARCUS DUMAS, LARISSA
DUMAS, GUILHERME DE ALMEIDA, ALAN SOARES e MICHAEL MAGNO, por meio
das empresas a eles vinculadas e que foram associando-se ao longo do período citado às
empresas GAS e MYD ZERPA, além de outros indivíduos ainda não denunciados, teriam
promovido, constituído, financiado e integrado, pessoalmente, de modo estruturalmente
ordenado e com divisão de tarefas, organização criminosa preordenada à prática de crimes contra
o sistema financeiro, contra a ordem tributária e lavagem de dinheiro auferido desses crimes,
valendo-se, para tanto, de extensa rede de pessoas físicas e jurídicas, atuantes no Brasil e no
exterior, que teriam captado e gerido recursos de terceiros, e emitido, ofertado e
negociado valores mobiliários, tudo à margem das autoridades de controle (constituição e
pertinência a Organização Criminosa: art. 2º, § 4º, III e IV, da Lei nº 12.850/2013 – Fato 04).

Retratou, quanto ao FATO 01 que GLAIDSON e MIRELIS teriam operado,


inicialmente para fins pessoais, no mercado de compra e venda de criptomoedas, e que, em 2015
e 2016, ambos teriam passado também a gerir recursos de terceiros e a emitir, distribuir e
negociar valores mobiliários, tudo sem autorização do Banco Central e da Comissão de Valores
Mobiliários. Segundo apurado pela Receita Federal com base em relatórios de inteligência
financeira, em 2014, GLAIDSON teria movimentado, por sua conta pessoal, R$ 62.091,67 a
crédito e de R$ 62.966,11 a débito. Já em 2015 e 2016, esse fluxo financeiro teria se
tornado mais de 10 vezes maior, justamente em função dos aportes de terceiros: em 2015, ele
teria movimentado R$ 786.271,58 a crédito e de R$ 785.326,45 a débito na sua conta pessoa
física; em 2016, teriam sido R$ 624.695,77 a crédito e R$ 640.759,44 a débito. O aumento
exponencial na movimentação pessoal de GLAIDSON, pretensamente incompatível com seu
perfil de cliente, teria chamado a atenção dos setores de compliance dos bancos com que teria
mantido relacionamento e, por consequência, teria gerado a cobrança por constantes
esclarecimentos e a comunicação de situações atípicas ao COAF. Em 2017, teria ocorrido a
primeira comunicação ao COAF de que se tem notícia, o que teria gerado a necessidade inicial
da criação de uma pessoa jurídica, com contas próprias. Portanto, a fundação do grupo GAS,
inicialmente com a GAS CONSULTORIA, guardaria estreita relação com o fato de que
GLAIDSON e MIRELIS teriam buscado consolidar uma estrutura criminosa centralizada em
suas empresas, voltada a captar e aplicar recursos de terceiros a partir da emissão, distribuição e
negociação de valores mobiliários, sem autorização das autoridades competentes, operando
como verdadeira instituição financeira à margem da fiscalização e regulação do Sistema
Financeiro Nacional. Essa estrutura teria se profissionalizado em 2018 e perdurado, ao menos,
até 25/08/2021, data da deflagração da fase ostensiva da denominada "Operação Kryptos".

Esclareceu que o esquema teria como base a assinatura de instrumentos


particulares pelos quais, em essência, GLAIDSON DOS SANTOS ou a GAS CONSULTORIA,
tomava para si recursos de terceiro (chamados de clientes ou investidores), prometendo um
rendimento mensal em percentual fixo (calculado sobre o valor aportado pelo cliente) e, ainda, a
devolução integral do capital vertido ao fim da vigência do contrato, que variava entre 12 e 48
meses. O cliente tinha como única obrigação o aporte dos recursos previstos no contrato, sobre
os quais seria calculado e pago o rendimento mensal – sem precisar, por exemplo, indicar outros
clientes potenciais. Como contrapartida, o contratado era remunerado com uma quantia
estipulada em função do quantum mensalmente apurado de rentabilização do capital (ou um
percentual, ou um excedente), supostamente obtida com operações de compra e venda de
criptoativos em plataformas próprias, e, para conferir aparência de solidez e confiabilidade ao
empreendimento e à avença ofertada aos clientes, GLAIDSON DOS SANTOS emitia uma nota
promissória no valor do contrato, através da qual MIRELIS ZERPA, sua esposa, funcionava
invariavelmente como sua avalista da avença, garantindo o quanto devido aos clientes
/investidores.

Afirmou que, para contratos mais expressivos, e em razão do fato de o dinheiro


aportado tornar-se basicamente inacessível ao cliente - que, no mais das vezes, desconhecia por
completo seu paradeiro ou sua alocação -, as equipes que compunham o grupo GAS eram
orientadas a oferecer aos potenciais clientes, ainda como garantia, a possibilidade de contratação
de um seguro de vida em nome do próprio GLAIDSON, no qual o investidor era o beneficiário.
Apontou que as diversas mudanças realizadas nos contratos demonstrariam que GLAIDSON
DOS SANTOS e MIRELIS ZERPA teriam pleno conhecimento da ilicitude das atividades por
eles supostamente desempenhadas, na medida em que seriam visariam afastar a caracterização
dos mencionados contratos como valores mobiliários, na modalidade contrato de investimento
coletivo (art. 2º, inc. IX, da Lei 6385/1976), que seria sua real natureza, de maneira; ainda
segundo o Ministério Público, no início, os instrumentos eram intitulados “contratos de
investimento”, o que atrairia a imediata comparação com a figura típica do contrato de
investimento coletivo, e teria provocado as mudanças, com o objetivo de fazer com que o
empreendimento se furtasse à ação das autoridades regulatórias, com possível aplicação de
sancionamentos.

Aduziu que, em 2017, GLAIDSON e MIRELIS teriam atuado em parceria com a


LLS GESTAO DE TECNOLOGIA E INVESTIMENTOS EIRELI (CNPJ 28.016.709/0001-02),
de propriedade LAURINEY LEITE DOS SANTOS (CPF 639.655.501-87), oferecendo aos
clientes um “contrato de prestação de serviços em investimento em moedas digitais”, no qual a
GAS CONSULTORIA teria sido apresentada explicitamente como gestora de recursos, a
empresa LLS seria administradora de um fundo de investimento e MIRELIS seria a avalista de
uma nota promissória que garantiria o cumprimento do contrato. Em 2018, os instrumentos
teriam chegado a ser chamados de “contrato de prestação de serviços para investimento em
bitcoins – moeda criptografada”, até que, em 2019, finalmente teriam passado ao nome de
“contrato de prestação de serviços para terceirização de trader de criptoativo”, o que se teria
mantido até 2021

Racontou que a arquitetura do modelo criminoso, pretensamente idealizada por


GLAIDSON DOS SANTOS e MIRELIS ZERPA, teria como pilar uma extensa rede de pessoas
físicas e jurídicas que, sem vínculos contratuais ou empregatícios com as empresas GAS
CONSULTORIA e GAS ASSESSORIA, tampouco com seus sócios, que atuariam para obter e
gerir recursos de terceiros e que tais pessoas e entes teriam sido organizadas por GLAIDSON e
MIRELIS de forma estratificada, segundo uma espécie de plano de carreira, para desempenhar
funções que, embora específicas para cada cargo, por vezes teriam sido
executadas cumulativamente por uma mesma pessoa. Em geral, esses indivíduos teriam sido
recrutados entre os próprios clientes e, então, teriam ascendido a outros níveis no grupo. A
progressão entre os estratos teria sido baseada no tempo de investimento, além do grau de
desempenho nas funções anteriores, comprovada por meio do cumprimento de "metas". A
remuneração aumentaria a cada nível e teria se verificado em forma de participação nos lucros,
ou seja, um percentual sobre os contratos firmados. A grande extensão temporal do esquema
criminoso teria provocado a adoção de alterações também na composição desse "plano de
carreira", tendo sido identificados ao menos 4 cargos, a saber: (1) sócios, (2) sócios
administrativos, (3) associados e (4) consultores.

Apontou que GLAIDSON e MIRELIS, conhecidos como sócios administradores


ou diretores, seriam efetivamente responsáveis pela gestão estratégica e financeira do esquema,
gerindo os recursos de terceiros ou instruindo os demais integrantes do esquema acerca de como
deveriam fazê-lo. Autointitulado CEO e fundador do grupo GAS, GLAIDSON DOS SANTOS
desempenharia o importante papel de relações públicas da organização criminosa, apresentando
ao público sua proposta de negócios, com especial foco nos supostos atrativos do mercado de
criptomoedas e na alegada diferenciação entre o grupo GAS e demais esquemas criminosos
envolvendo este nicho, qeu teriam se instalado especialmente em Cabo Frio/RJ, e que estariam
sendo alvo de apurações, o que teria sido noticiado em veículos de mídia

Afirmou que MIRELIS ZERPA, por sua vez, seria pessoa com amplo
conhecimento do mercado de criptomoedas e acesso às carteiras de investimento do grupo, tanto
que, mesmo após a deflagração da denominada "Operação Kryptos", teria realizado diversos e
sucessivos saques, no total de 4330.737326 Bitcoins (BTC), a representar, ante cotação média de
31/08/2021, R$ 1.063.070.463,56 (um bilhão, sessenta e três milhões, setenta mil, quatrocentos e
sessenta e três reais e cinquenta e seis centavos).

Retratou que o grupo GAS auferiria ao todo, 5% do rendimento mensal pago ao


cliente, de modo que, descontada a remuneração das equipes diretamente responsável pela
arregimentação, GLAIDSON e MIRELIS receberiam – o primeiro diretamente, quando era o
contratado (basicamente antes de 2018), e ambos indiretamente, quando a GAS
CONSULTORIA era a contratada (de 2018 em diante) – 2,5% do retorno mensal prometido a
cada cliente e que, posteriormente, em 2019, a menção específica ao percentual de 5% como
contrapartida teria sido dolosamente substituída por uma fórmula aberta e de difícil
compreensão, que impediria tanto o contratante como grande parte dos demais integrantes do
grupo GAS de conhecerem os reais ganhos de GLAIDSON DOS SANTOS e MIRELIS ZERPA.

Aduziu que FELIPE NOVAIS seria, inicialmente, sócio da GAS CONSULTORIA


e que, posteriormente, em 2019, teria se tornado sócio administrativo do grupo GAS, figura essa
que teria surgido com a expansão das bases de atuação do esquema criminoso, quando
integrantes mais antigos do esquema – muitos dos quais nele tendo ingressado como clientes,
mas que já teriam se tornado faticamente consultores, recrutando novos clientes – teriam
criado suas próprias pessoas jurídicas e teriam começado a manter equipes e escritórios físicos
sob sua administração, constituindo bancas que, conquanto autônomas,
funcionariam estritamente em apoio à empresa GAS, sob comando de GLAIDSON e MIRELIS ,
tal como filiais ou franqueados, alimentando o macrogrupo.
Afirmou que, no grupo GAS, teriam funcionado como sócios administrativos:
FELIPE JOSÉ SILVA NOVAIS e sua esposa, KAMILA MARTINS NOVAIS; TUNAY
PEREIRA LIMA e sua companheira, MÁRCIA PINTO DOS ANJOS; JOÃO MARCUS
PINHEIRO DUMAS VIANA e sua esposa, LARISSA VIANA FERREIRA DUMAS;
VICENTE GADELHA ROCHA NETO e sua esposa, ANDRIMAR MORAYMA RIVERO
VERGEL; PAULO HENRIQUE ROSA DE LANA e sua esposa, KELLY PEREIRA DEO DE
SOUZA LANA; DIEGO SILVA VIEIRA, GUILHERME SILVA DE ALMEIDA e ALAN
GOMES SOARES.

Aduziu que o casal KAMILA e FELIPE NOVAIS teria inaugurado, em 2019, a


FKN CONSULTORIA E TECNOLOGIA LTDA, cujo objeto social seria a prestação de serviços
de consultoria: o principal seria “atividades de consultoria em gestão empresarial, exceto
consultoria técnica específica”, enquanto o secundário consubstanciaria “atividades de
intermediação e agenciamento de serviços e negócios em geral, exceto imobiliários”.

Sustentou que pelo menos duas sociedades empresariais vinculadas ao casal


também teriam trafegado dinheiro do esquema criminoso: o escritório de advocacia CARNEIRO
CHAVES ADVOGADOS ASSOCIADOS, do qual KAMILA seria sócia, junto de PHILIPP
CHAVES CARNEIRO (CPF 037.063.291-58), o qual, por sua vez, também seria sócio da
empresa de transporte B&J TRANSPORTES LTDA (CNPJ 13.677.625/0001-34);
adicionalmente, segundo planilhas relativas à custódia de valores contratuais e à carteira de
clientes (atualizadas até novembro/2020), FELIPE e KAMILA NOVAIS teriam movimentado
pelo menos R$ 281.774.82,54 e captado pelo menos 3.222 clientes. Em fevereiro/2021, os
valores por eles movimentados já teriam alcançado a cifra de R$ 254.687.218,56.

Em relação ao casal TUNAY LIMA e MÁRCIA DOS ANJOS, apontou o Parquet s


ua proximidade com GLAIDSON e MIRELIS, afirmando que teriam residido no mesmo
edifício, em Cabo Frio/RJ, e iniciado sua parceria comercial com o grupo GAS, como clientes no
início de 2017, e que, em 2018, TUNAY LIMA e MÁRCIA DOS ANJOS teriam se tornado
sócios da CONSULTORIA E SOLUÇÕES EM TECNOLOGIA LIMA EIRELI (CNPJ
30.484.905/0001-45), sendo ainda certo que, em 2019, teriam inaugurado mais duas pessoas
jurídicas no Rio de Janeiro (Freguesia e Niterói) e uma terceira no Paraná (Campo Mourão):
respectivamente, CONSULTORIA & TECNOLOGIA DOS ANJOS EIRELI (CNPJ 33.030.861
/0001-71), CONSULTORIA E SOLUÇÕES EM TECNOLOGIA LPA LTDA (CNPJ 35.679.874
/0001-00) e PEREIRA CONSULTORIA EM TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO LTDA
(CNPJ 35.688.590/0001-71), todas apresentando objeto social principal “consultoria em
tecnologia da informação”, e secundário como sendo “serviços combinados de escritório e apoio
administrativo”.

Decretou que o denunciado o MICHAEL DE SOUZA MAGNO teria se


tornado um consultor da equipe de TUNAY LIMA e que TUNAY e MÁRCIA DOS ANJOS,
tendo subsequentemente adquirido protagonismo no esquema criminoso: somados, ambos
deteriam, em novembro/2020, a maior carteira de clientes do grupo GAS, com 13.589, tendo
movimentado, também até novembro/2020, pelo menos R$ 1.008.842.140,04 – ou seja, mais de
1 bilhão de reais; em fevereiro/2021, esses valores já teriam ultrapassado a marca de 1,3 bilhões
de reais.

Afirmou que JOÃO MARCUS DUMAS e LARISSA DUMAS, cônjuges e sócios


administrativos da GAS, teriam começado na empreitada criminosa em 2018, como empregados
da GAS CONSULTORIA. Em 2019, LARISSA teria fundado sozinha a DUMAS
CONSULTORIA & TECNOLOGIA DA INFORMACAO EIRELI (CNPJ 35.191.340/0001-21)
e, em 2020, JOÃO MARCUS teria constituído sozinho a VIANA ASSESSORIA &
CONSULTORIA EM TECNOLOGIA DA INFORMACAO EIRELI (CNPJ 38.116.320/0001-
84). Ainda em 2020, o casal DUMAS teria aberto a CAEC GESTOR E TECNOLOGIA
CORPORACAO LTDA (CNPJ 41.076.666/0001-00). As referidas empresas, com sede em
Cabo Frio/RJ, teriam como objeto social primário a “consultoria em tecnologia da informação”,
nos mesmos moldes das demais pessoas jurídicas que comporiam o grupo GAS, mas os objetos
secundários variariam, respectivamente, entre “web design”, “serviços combinados de escritório
e apoio administrativo” e “suporte técnico, manutenção e outros serviços em tecnologia da
informação”. As respectivas planilhas de carteira de clientes e custódia de valores indicariam
que JOÃO MARCUS e LARISSA DUMAS, na qualidade de sócios administrativos, teriam
recrutado, até novembro/2020, 1.250 clientes, movimentando, no mesmo período, R$
54.254.263,13. Em fevereiro/2021, o total movimentado por eles teria atingido o montante de R$
74.498.163,96.

Apontou que o casal VICENTE GADELHA e ANDRIMAR VERGEL, ele


residente em Cabo Frio/RJ e ela de origem venezuelana (tal qual MIRELIS ZERPA), teriam
ingressado no esquema criminoso em 2017, como clientes, galgando a posição de consultores em
2018. Ambos como sócios administrativos, em 2019, por meio das seguintes empresas: VGR
TECNOLOGIA DA INFORMACAO EIRELI (CNPJ 33.166.187/0001-57), sediada em Cabo
Frio/RJ, no mesmo endereço da empresa GAS CONSULTORIA33; e VGR AGROPECUARIA
LTDA (CNPJ 28.372.433/0001-97), com sede em Araruama/RJ. Até fevereiro/2019, VICENTE
GADELHA também teria sido sócio da empresa DVG CONSULTORIA EM TECNOLOGIA
DA INFORMACAO EIRELI (CNPJ 31.624.348/0001-83), atuante em Campos dos Goytacazes
/RJ e que seria do coproprietário DIEGO SILVA VIEIRA. Como de resto, a VGR
TECNOLOGIA e a DVG CONSULTORIA ostentariam, como objeto social, a “consultoria em
tecnologia da informação” e a VGR AGROPECUÁRIA, “criação de bovinos para corte”. A
Receita Federal pontuou que VICENTE GADELHA teria incorrido em gastos com material de
construção que sinalizariam a possibilidade de manutenção de salas comerciais em João Pessoa
/PB e Natal/RN, locais para onde ele possivelmente teria expandido os negócios do grupo
GAS; a propósito, elementos obtidos a partir de quebras telemáticas teriam confirmado essas
suspeitas, tais como controles de gastos realizados por VICENTE com funcionamento de
diversas unidades, algumas das quais sediadas em Brasília/DF, Natal/RN, João Pessoa/PB,
Paraguai e Dubai/EAU.
Apontou que ANDRIMAR VERGEL também arregimentaria, ela própria,
investidores, que viriam a compor sua carteira conjunta de clientes com VICENTE GADELHA,
e também repassaria valores para quitação de contratos, cumulando as funções de sócia
administrativa e de consultora.

Aduziu que, conforme planilhas mais recentes de clientela e custódia de valores


por sócio, atualizadas até novembro/2020, VICENTE GADELHA e ANDRIMAR VERGEL
teriam sido responsáveis por 11.000 contratos, movimentando R$ 541.54.942,43 – um aumento
expressivo em relação à posição verificada em setembro/2020, dimensionada em R$
450.387.808,47, tratando-se da segunda maior carteira de clientes do grupo GAS à época, assim
se mantendo até fevereiro/ 2021, quando já teriam trafegado R$ 726.921.649,93 pelas contas por
ambos controladas.

Afirmou que, no ano 2018, teria havido a fundação da LANATECH


CONSULTORIA EM TECNOLOGIA DA INFORMACAO EIRELI (CNPJ 32.076.588/0001-
53), por parte de PAULO HENRIQUE LANA e sua esposa, KELLY LANA, que também teriam
operado como sócios administrativos do grupo GAS, repetindo o padrão das demais empresas
que teriam sido paulatinamente criadas e aderido ao grupo GAS. A empresa LANATECH, com
sede em Nilópolis/RJ, não teria cadastrado como atividade comercial principal ou acessória
qualquer tipo de empreendimento financeiro, tendo apresentado, como objeto social primário,
“marketing direto” e, como objeto social secundário, “desenvolvimento de programas de
computador sob encomenda”. Ambos também participariam do esquema em comento, por meio
das empresas IPPON ASSESSORIA E CONSULTORIA LTDA (CNPJ 04.120.725/0001- 74),
cujo objeto social principal seria “atividades de consultoria em gestão empresarial, exceto
consultoria técnica específica”, e PL CONSULTORIA EM TECNOLOGIA DA
INFORMACAO EIRELI (CNPJ 34.653.421/0001-33), destinada a “consultoria em tecnologia
da informação”. O fato de terem residido no mesmo prédio que GLAIDSON e
MIRELIS revelaria que o casal LANA provavelmente teria ingressado no esquema criminoso
pelos laços de amizade mantidos com os fundadores, primeiro na condição de clientes e, em
seguida, como consultores, até serem alçados a sócios administrativos. As planilhas de carteira
de clientes e custódia de valores indicariam que PAULO HENRIQUE LANA e KELLY LANA,
na qualidade de sócios administrativos, teriam recrutado, até novembro/2020, 4.852 clientes,
movimentando, no mesmo período, R$ 220.986.636,90 e, até fevereiro/2021, R$
286.621.156,64, o que lhes garantiria uma posição relevante entre as carteiras integrantes do
grupo GAS

Narrou que o sócio administrativo DIEGO VIEIRA, reafirmando o parâmetro de


escolha dos sócios administrativos, teria travado seus primeiros contatos com o esquema
criminoso em 2017, como cliente, e que, posteriormente, teria operado como sócio
administrativo no grupo GAS, por meio da empresa DVG CONSULTORIA EM TECNOLOGIA
DA INFORMACAO EIRELI (CNPJ 31.624.348/0001-83), ativa entre 2018 e 2020 – que, como
visto, também teria tido, até 2019, VICENTE GADELHA em seu quadro social –, e, depois, por
meio da empresa DSV CONSULTORIA EMPRESARIAL LTDA (CNPJ 38.388.553/0001-36),
aberta em 2020. Ambas as empresas teriam como objeto social a consultoria: a primeira, a
tradicional “consultoria em tecnologia da informação”, enquanto a segunda, “atividades de
consultoria em gestão empresarial, exceto consultoria técnica específica”. Também teria DIEGO
contado com a ajuda de sua esposa, MARIANA BARBOSA CORDEIRO, para prospectar
clientes, tendo, ainda, utilizado a empresa DCN CONSULTORIA EM TECNOLOGIA DA
INFORMACAO EIRELI (CNPJ 36.412.471/0001-54), formalmente em nome de seu
sogro DOMINGOS CORDEIRO NETO, mas de fato administrada por DIEGO, por procuração.
De acordo com a Receita Federal, DIEGO VIEIRA teria expandido suas atividades, no grupo
GAS, para Vitória/ES, o que seria extraível da circunstância de que teriam sido
detectadas diversas notas fiscais de aquisição de materiais de reforma e escritório. Em novembro
/2020, DIEGO VIEIRA teria atingido o patamar de 4.398 investidores integrando sua carteira,
movimentando R$ 324.929.600,35. Em fevereiro/2021, esses valores teriam alcançado a cifra de
R$ 386.947.609,94.

Aduziu que GUILHERME SILVA DE ALMEIDA e ALAN GOMES SOARES


teriam se tornados sócios administrativos do grupo GAS, operando por meio das empresas GSA
– CONSULTORIA E TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO EIRELI (CNPJ 36.670.058/0001-
90) e AGS CONSULTORIA E TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO EIRELI (CNPJ 37.406.898
/0001-02), fundadas, respectivamente, em março e junho de 2020, que estariam sediadas
no mesmo endereço da MYD ZERPA TECNOLOGIA EIRELI, esta pertencente a MIRELIS,
apresentando, como objeto social, “consultoria em tecnologia da informação”.

Apontou que GUILHERME DE ALMEIDA teria constituído mais de 100 pessoas


jurídicas, nas quais teria a posição de administrador e responsável, e cujas razões sociais
conteriam referências a atividades financeiras, por serem compostas por palavras estrangeiras
como bank, pay ou equivalente semânticos, em geral registradas como bancos comerciais ou
correspondentes de instituição financeira, afirmando que ele teria movimentado até fevereiro
/2021 a quantia de R$ 984.500,00, enquanto ALAN teria movimentado, em novembro/2020, R$
6.571.906,44, totalizando 65 clientes em sua carteira. Em fevereiro/2021, esses valores teriam
alcançado o montante de R$ 8.846.833,17.

Afirmou que os sócios administrativos teriam, sob o prisma fático, o perfil de


gerentes, porque, embora não poder decisório quanto à aplicação e alocação dos montantes
captados, em investimentos tradicionais e/ou criptomoedas, o que teria ficado a cargo de
GLAIDSON e MIRELIS, teriam os sócios administrativos ingerência sobre a operacionalização
do esquema criminoso, por serem responsáveis pelo dia a dia dos escritórios/bancas sob sua
tutela, sendo certo que também teriam participado da gestão de recursos de terceiros, na medida
em que ofereciam ao público contratos, captando recursos em nome de GLAIDSON e da
empresa GAS CONSULTORIA, sendo ainda certo que também teriam assumido, em rateio com
os demais, as despesas típicas do funcionamento das empresas integrantes do chamado grupo
GAS, tais como obras, aluguel e condomínio, tributos e tarifas (água e luz), gastos trabalhistas,
honorários advocatícios e contábeis, material gráfico e de limpeza.

Concluiu, assim, que FELIPE JOSÉ SILVA NOVAIS, KAMILA MARTINS


NOVAIS, TUNAY PEREIRA LIMA, MÁRCIA PINTO DOS ANJOS, JOÃO MARCUS
PINHEIRO DUMAS VIANA, LARISSA VIANA FERREIRA DUMAS, VICENTE
GADELHA ROCHA NETO, ANDRIMAR MORAYMA RIVERO VERGEL, PAULO
HENRIQUE ROSA DE LANA, KELLY PEREIRA DEO DE SOUZA LANA, DIEGO SILVA
VIEIRA, GUILHERME SILVA DE ALMEIDA e ALAN GOMES SOARES, na qualidade de
sócios administrativos no esquema do chamado grupo GAS, estariam enquadrados no art. 25 da
Lei 7.492/1986, assim como os fundadores GLAIDSON e MIRELIS, dado que o grupo,
globalmente considerado, caracterizaria instituição financeira, ainda que oficiosa e operando à
margem das autoridades regulatórias setoriais, e seus gestores seriam, sob o prisma fático, seus
controladores, o que seria suporte fático idôneo à incidência da norma legal cogitada.

Acresceu que a remuneração mensal dos escritórios dos sócios administrativos


seria de 2,5% do valor original do contrato de cada cliente e este percentual seria dividido entre
os pretensos integrantes de sua respectiva equipe. A remuneração mensal dos sócios
administrativos variaria de acordo com a formatação que pretendessem dar a sua equipe: se
optassem por trabalhar sem associados, receberiam integralmente os 2,5% do valor inicial do
contrato; se optassem por trabalhar com associados, receberiam apenas 1,5%, com o restante
sendo dividido entre os demais integrantes da equipe montada. Entretanto, alguns sócios
administrativos estariam sendo gratificados diferenciadamente, levando em conta faixas de
valores dos contratos fechados sob sua intervenção, o que também teria gerado reflexos para os
clientes que eventualmente tivesse participado da indicação, aparentemente como forma de
estimular a adesão de clientes de maior poderio econômico, sendo certo que isto se teria
verificado quanto a TUNAY LIMA.

Narrou o MPF que existiriam ainda os denominados "associados", que comporiam


o nível seguinte da estrutura. Seriam pessoas de apoio direto aos sócios e sócios administrativos,
considerados seus “braços direitos”. Contudo, o recrutamento de associados não teria sido
obrigatório e muitos sócios administrativo teriam dispensado esta figura. No patamar final do
organograma, encontrar-se-iam os consultores, a quem competiria a prospecção e a assistência
direta a clientes, bem como o tratamento de toda a burocracia inerente aos contratos, da
assinatura ao resgate. Seriam, portanto, a vertente puramente executiva do esquema, e seriam 3
os tipos de consultores: efetivado/credenciado/comissionado, fixo e trainee. Mantendo a lógica
do plano de carreira, os consultores efetivados, credenciados ou ainda comissionados
seriam indicados pelos sócios administrativos (ou pelo associado, se houvesse) entre os clientes
que ostentassem um tempo mínimo de investimento. A seu turno, cada consultor efetivado
/credenciado/comissionado poderia indicar, entre os clientes com um tempo mínimo de
investimento um pouco menor, os consultores fixos. E, por fim, os trainees seriam clientes em
treinamento para a consultoria, como seria possível depreender da própria nomenclatura
empregada.

Apontou que MICHAEL DE SOUZA MAGNO seria consultor credenciado


vinculado à banca de TUNAY LIMA e MÁRCIA DOS ANJOS, e que a remuneração dos
consultores variaria de acordo com a quantidade total de cargos da equipe – a eventual presença
de associados, por exemplo, reduziria o percentual a eles devido –, porém, em geral,
receberiam 1% do valor original do contrato, salvo pelos trainees, que recebiam 0,5%. Assim, e
levando em conta o organograma exposto, se determinado cliente fizesse um contrato no valor
de R$ 50.000,00 para uma equipe composta por sócio administrativo, a consultor credenciado e
trainee, seriam devidos os seguintes valores mensais: ao cliente, R$ 5.000,00 (10% do valor do
contrato), ao sócio administrativo R$ 500,00 (1% do valor do contrato), ao consultor R$ 500,00
(1% do valor do contrato), e, ao trainee R$ 250,00 (0,5% do valor do contrato). Segundo a
fórmula estipulada no contrato, GLAIDSON e MIRELIS teriam sido remunerados com o que se
excedesse “o percentual líquido auferido pelos contratantes [clientes]”, descontados esses outros
percentuais de remuneração das equipes.

Enunciou que o grupo GAS teria funcionado como instituição financeira


clandestina, uma vez que todo esse arranjo institucional e operacional descrito teria sido
dedicado à captação e gestão de recursos financeiros de terceiros por meio de emissão,
distribuição e negociação de valores mobiliários, atividades que pretensamente típicas de
instituições financeiras para os fins do art. 1º, caput, da Lei 7.492/1986, e que tudo se teria dado
sem autorização do Bacen e da CVM. A captação de recursos teria se lastreado no oferecimento
dos multicitados instrumentos contratuais aos clientes, que teriam sido sido prospectados pelo
trabalho das equipes, em específico o dos associados e consultores.

Apontou que contratos ofertados ao público pelos denunciados em nome da GAS


CONSULTORIA E TECNOLOGIA LTDA se caracterizariam como valores mobiliários, na
modalidade contratos de investimento coletivo (CIC), consoante previsto no art. 2º, inc. IX, da
Lei 6385/1976. Em síntese, tais contratos formalizariam investimentos de caráter coletivo por
prazo determinado (via de regra, entre 24 e 60 meses), a partir dos quais decorreria direito à
remuneração mensal em percentual do valor investido. Tal remuneração teria origem exclusiva
nos esforços dos empreendedores - GLAIDSON e MIRELIS e/ou de terceiros a eles associados
– vale dizer, a remuneração não decorreria de qualquer empenho dos investidores, aos quais
bastaria a assinatura do contrato e a entrega ou transferência dos valores investidos; tais
contratos teriam sido amplamente ofertados ao público em geral, nos moldes do que dispõe o art.
19, § 3º, da Lei 6385/197644 , tanto no Brasil quanto no exterior: seja por meio da internet
(inicialmente por site e perfil em rede social em nome da própria empresa, posteriormente por
meio de lives em redes sociais e vídeos divulgados em canais da plataforma Youtube), a alcançar
número indeterminado de pessoas, seja por meio de eventos com grande público, inclusive em
cultos religiosos, seja ainda por meio de prospecção de clientela por consultores.

Destacou que, a despeito de os clientes terem sido cooptados por equipes


vinculadas a diversos sócios administrativos, os valores previstos nos contratos seriam remetidos
para as empresas GAS CONSULTORIA, GAS ASSESSORIA e MYD ZERPA
CONSULTORIA, seja por depósito, seja por transferência bancária, na medida em que
GLAIDSON e MIRELIS seriam os reais encarregados da gestão desses valores e, nesta
qualidade, realizariam as operações financeiras necessárias para rentabilização de recursos,
alocando-os sob esta intenção; sob comando de GLAIDSON e MIRELIS, os valores aportados
também poderiam circular diretamente entre sócios administrativos, para equilíbrio de caixa.

Apontou o Parquet também que outra característica típica da captação de recursos


como instituição financeira compreenderia a contra-apresentação de garantia aos investidores,
consubstanciada em um título de crédito, do tipo nota promissória, que poderia ser executado
para garantir o cumprimento do contrato. Neste caso, como visto, GLAIDSON emitiria a nota
promissória e MIRELIS seria a avalista do negócio. Os valores arrecadados pelas múltiplas
bancas do grupo GAS teriam sido controlados por GLAIDSON e MIRELIS por meio de
planilhas encaminhadas pelos próprios sócios administrativos.
Relatou que a alocação dos recursos consistiria principalmente na sua utilização
para rentabilização, a partir de compra e venda de criptomoedas, além de outros tipos de
investimentos, tendo ainda sido tais montantes empregados para quitação da remuneração
mensal da clientela e do resgate dos aportes feitos ao término da vigência de outros contratos.
Nesse intuito, GLAIDSON DOS SANTOS e MIRELIS ZERPA teriam mantido contas em
bancos comerciais e outras instituições financeiras regulares, através das quais teriam
empreendido o tráfego de recursos entre os clientes (aportes e pagamentos mensais), as empresas
GAS CONSULTORIA e GAS ASSESSORIA e, ainda, todas as demais pessoas físicas e
jurídicas integrantes do esquema criminoso sob a administração de FELIPE NOVAIS, KAMILA
NOVAIS, TUNAY LIMA, MÁRCIA DOS ANJOS, JOÃO MARCUS DUMAS, LARISSA
DUMAS, VICENTE GADELHA, ANDRIMAR VERGEL, PAULO HENRIQUE LANA,
KELLY LANA, DIEGO VIEIRA e GUILHERME DE ALMEIDA.

Acresceu que GLAIDSON e MIRELIS teriam ainda aberto carteiras de


criptomoedas e negociado esses ativos em corretoras ou exchanges, entre elas Binance, Foxbit,
Mercado Bitcoin e BitPay. Nada obstante, GLAIDSON e MIRELIS também teriam injetado
recursos de terceiros em investimentos que não compunham os serviços especificados nos
contratos firmados com os clientes, como empréstimos e aplicações financeiras tradicionais.
Considerando o desenvolvimento dessas atividades típicas de instituição financeira (captação e
aplicação de recursos de terceiros), o Parquet apontou o fluxo financeiro do grupo GAS da
seguinte forma: (a) os recursos seriam inicialmente aportados pelos clientes junto à banca de um
dos sócios administrativos, e, em seguida, (b) a comando de GLAIDSON e MIRELIS, seriam
movimentados diretamente entre os sócios administrativos, ou (c) seriam transferidos a
GLAIDSON e MIRELIS, para consequente (c.1) aplicação em investimentos diversos (inclusive,
criptomoedas), (c.2) redistribuição (indireta) entre as demais bancas integrantes do esquema ou
(c.3) apropriação pessoal (como parte de sua remuneração no esquema ou, ainda, como desvios).

Afirmou que a concentração inicial dos recursos aportados em contas bancárias


controladas por GLAIDSON e MIRELIS teria permitido maior monitoramento por ambos do
equilíbrio do fluxo financeiro do grupo GAS e que a subsequente pulverização dos pagamentos
aos clientes, por meio das contas dos sócios administrativos, a seu turno, buscaria evitar a
problemas com limites diários de transações normalmente impostos pelos bancos.

Apontou ainda os relatórios de inteligência financeira emitidos pelo COAF,


focados na atuação de cada sócio administrativo.

Narrou que em maio/2018 – pouco antes, portanto, da fundação da GAS


CONSULTORIA, que se teria dado em 13/06/2018 –, GLAIDSON, FELIPE NOVAIS e
KAMILA NOVAIS teriam feito contato com um escritório de consultoria jurídico-contábil, na
tentativa de conferir uma formatação lícita às atividades que já estariam desempenhando, embora
não com as proporções conquistadas a partir de 2018 e 2019. A ideia original do grupo seria
constituir uma corretora de títulos e valores mobiliários, mas a resposta do escritório contatado
indicaria, com riqueza de detalhes, toda a metodologia a ser seguida, o que englobaria a
submissão do negócio ao Banco Central, o que, de fato, nunca teria acontecido.
Referiu que, pouco tempo depois, em fevereiro/2019, GLAIDSON DOS SANTOS,
assessorado pela DIRECIONAL SERVIÇOS CONTÁBEIS, teria recebido indicação para
submeter a empresa GAS CONSULTORIA ao credenciamento junto à CVM, para fins de
legalização da atividade como corretora/distribuidora, tendo sido sugeridas alterações no
multicitado modelo de contrato utilizado pelo grupo GAS, com pelo menos três delas versando
expressamente sobre problemas relacionados ao objeto social da empresa e à real caracterização
da atividade desempenhada.

Esgrimiu que a condução ilegal das atividades do grupo GAS, como instituição
financeira oficiosa, teria desencadeado dificuldades operacionais, principalmente em razão da
concentração, nas contas bancárias das empresas GAS e do próprio GLAIDSON, do capital
derivado da captação, com o objetivo de aplicação dos recursos de terceiros. Os bancos com os
quais a organização criminosa teria mantido relacionamento teriam deflagrado uma série de
pedidos de esclarecimentos, fundados na incompatibilidade entre a movimentação financeira e o
faturamento/receita comprovado, aliada ao uso disseminado de criptomoedas como tipologia
comum de lavagem de dinheiro, o que teria culminado em múltiplas comunicações ao COAF,
obstáculos de todos os gêneros pretensamente impostos à operação das contas bancárias, e até
mesmo encerramento do relacionamento.

Narrou que a organização criminosa teria buscado contornar esse cenário de


algumas formas. Em primeiro lugar, teria determinado aos associados e consultores que
orientassem os clientes no sentido de que, no momento das transferências de recursos, não
fizessem qualquer referência a criptomoedas, investimento ou o que o valha, como motivo da
transação, ao argumento de que “os bancos estão perdendo mercado na área de investimentos
pois as pessoas estão conhecendo outros investimentos mais rentáveis”. Além da informação
passada pela equipe, o alerta constaria da ficha cadastral de cada investidor. Em segundo lugar,
teria havido a progressiva migração para o uso de dinheiro em espécie, conforme se depreenderia
do volume de recursos apreendidos tanto durante a abordagem de consultores e associados à
beira do embarque no helicóptero PT-OUR, que teriam trazido consigo quase 7 milhões de reais
em espécie (autos 5044226-98.2021.4.02.5101), como durante o cumprimento da busca e
apreensão na casa do casal de sócios administrativos TUNAY LIMA e MÁRCIA DOS ANJOS,
em que apreendidos cerca de 13 milhões de reais em espécie (Autos 5091838-
32.2021.4.02.5101), bem como a partir dos relatórios de inteligência financeira emitidos pelo
COAF, tudo a redundar na formação deste cenário.

Apontou que a suposta organização criminosa teria gerido vultosas quantias


aportadas por terceiros completamente à margem do sistema financeiro, valendo-se de sua
arquitetura negocial já consolidada; um dos destinos dados ao dinheiro em espécie teria sido o
uso dos valores, aportados pelos clientes em razão de novos contratos, diretamente para a
quitação de outros contratos. Essa enorme quantidade de recursos em espécie também teria sido
utilizada para a operação do esquema criminoso por meio de mesas OTC, ou simplesmente
operadores em mercado de balcão, voltadas à negociação de criptomoedas em volumes mais
significativos, mas com maior liquidez e a preço fixo, porém envolvendo ativos não listados em
livros de ofertas de exchanges tradicionais.
Narrou que, em 2019, GLAIDSON teria estruturado a TRONIPAY SOLUCOES
EM PAGAMENTOS E CARTAO LTDA (CNPJ 33.819.914/0001-38), junto de KROSLEY
CANDIDO DOS SANTOS (CPF 051.534.636-56) e que, embora a TRONIPAY tenha sido
constituída em 2019, à época KROSLEY já operaria uma empresa-irmã da nova pessoa jurídica,
a TRONIPAY SERVICOS DE COBRANCAS E PAGAMENTOS ONLINE LTDA (CNPJ
21.541.241/0001-18), atualmente baixada, sendo o projeto da nova empreitada, discutido entre
GLAIDSON e KROSLEY em 04/02/2019, de fazer funcionar uma empresa de processamento
pagamentos e recebimento de valores por diversos meios, inclusive emissão de cartões de
crédito, aproveitando-se de uma estrutura já montada e que contaria com cerca de 11.000
usuários. A constituição formal da empresa TRONIPAY, em que seriam sócios GLAIDSON e
KROSLEY, teria se verificado, sob o CNPJ 33.819.914/0001-38, com atividade principal de
“administração de cartões de créditos”. Paralelamente, em nova proposta, datada de 26/02/2019,
GLAIDSON DOS SANTOS e KROSLEY ter-se-iam valido da TRONIPAY de CNPJ 21.541.241
/0001-18, ora baixada, para promover a venda de uma criptomoeda própria, a TRONIPAY
(TRP). Tomando passos bastante parecidos com aqueles que teria dado em relação à
TRONIPAY, GLAIDSON DOS SANTOS também teria assumido, em 2020, outra pessoa
jurídica, igualmente previamente constituída, para continuar gerindo recursos de terceiros, tendo
adquirido oficiosamente pessoa jurídica de nome QUÂNTICO BANK.

Afirmou o MPF que GLAIDSON seria o verdadeiro proprietário do QUÂNTICO


BANK, pessoa jurídica que, todavia, teria sido registrada em nome de GUILHERME SILVA DE
ALMEIDA (sócio minoritário) e ALAN GOMES SOARES (sócio majoritário), ambos já
identificados como sócios administrativos do grupo GAS. O QUÂNTICO BANK, cujo nome
anterior teria sido KIPPER BANK, seria uma fintech que operaria em conjunto com o
ATLANTIC BANK/SPACE BANK (CNPJ 03.824.191/0001-02), ambos originalmente
pertencentes a NELSON LUIZ DE CARVALHO TABORDA (CPF 058.081.917-50), pessoa
com quem GLAIDSON teria trocado mensagens eletrônicas comprovando a empreitada.

Referiu que GLAIDSON pretenderia subverter restrições que lhe estariam sendo
impostas pelo Sistema Financeiro Nacional, dado o funcionamento pretensamente irregular do
grupo GAS, atrelando sua atividade ilícita a estruturas preexistentes, como a TRONIPAY e o
QUÂNTICO BANK, com isto ganhando progressiva autossuficiência como instituição
financeira clandestina.

Afiançou que GLAIDSON DOS SANTOS e MIRELIS ZERPA também teriam


buscado a diversificação dos serviços do grupo GAS, com a inclusão de uma corretora de
criptomoedas, na medida em que, em 2018, ambos teriam criado sua própria exchange a
COINTRADE S/A, com sede no Uruguai, na qual GLAIDSON e MIRELIS teriam operado
(oficiosamente por um tempo) por meio de ELIANE MEDEIROS DE LIMA (CPF 867.036.251-
15). Em 03/05/2018, GLAIDSON teria encaminhado mensagem eletrônica para MIRELIS, cujo
assunto original seria “CONTRATOS COINTRADE”, na qual uma pessoa chamada PATRÍCIA
ROCHA, advogada sediada em Campo Grande/MS (cidade em que residiria ELIANE DE LIMA
quando de seu suposto ingresso no esquema), teria enviado minutas dos contratos produzidos
pela COINTRADE. No contrato anexado à mensagem, constaria que, à época, a COINTRADE
seria denominada DINAMIAN S/A, mas já sediada no Uruguai, e teria sido aventada a
aquisição, por GLAIDSON, de 50 ações da DINAMIAN S/A, as quais lhe teriam sido vendidas
por ANTÔNIO MARCOS MEDEIRO DE LIMA, irmão de ELIANE DE LIMA.

Afirmou também que GLAIDSON teria ainda adquirido 210 ações de ANTÔNIO
MARCOS DE LIMA, pelo valor de US$ 310.000,00.

Aduziu que, em 11/04/2019, a advogada PATRÍCIA ROCHA teria


encaminhado mensagem, com cópia oculta para GLAIDSON, anunciando aos demais sócios da
COINTRADE que um novo investidor (ao que tudo indica, GLAIDSON, uma vez que ele teria
assumido publicamente, depois, a faceta de acionista) assumiria 50% da empresa e que ELIANE
DE LIMA seria a nova CEO da COINTRADE BLOCKCHAIN TECHNOLOGY S.A

E que, em 08/04/2021, GLAIDSON teria recebido uma mensagem da


COINTRADE, já na qualidade de acionista formal, informando o cronograma de uma reunião de
sócios, na qual teria sido veiculado que ELIANE DE LIMA coordenaria a referida reunião de
acionistas e que PATRÍCIA ROCHA seria a diretora jurídica da exchange.

Enunciou que possuir uma exchange permitiria que valores fossem movimentados
de forma invisível aos reguladores do mercado (enquanto investidos em criptomoedas) e
convertidos, com facilidade, em moeda soberana quando necessário.

Afirmou que GLAIDSON e MIRELIS desejariam dominar também esta etapa,


tornando-se responsáveis pela compra, venda e troca de criptomoedas, e que, com isso, a
organização criminosa teria o total controle das atividades necessárias para seu modelo
operacional, tentando tornar-se, inclusive, imune a eventuais sanções oriundas do Sistema
Financeiro Nacional, ou mesmo do Poder Judiciário Brasileiro, de modo que todo esse
movimento em busca da autossuficiência negocial reforçaria o dolo de operar uma verdadeira
instituição financeira clandestina, ao sinalizar a tentativa de abarcar vários tipos de serviços
financeiros necessários à gestão dos recursos de terceiros dentro do modelo criminoso por eles
idealizado, e visando impedir interferências externas, inclusive estatais. A operação do grupo
GAS, como instituição financeira irregular, teria movimentado, entre 2015 e 2021, R$
38.223.489.348,97 (trinta e oito bilhões duzentos e vinte e três milhões quatrocentos e oitenta e
nove mil trezentos e quarenta e oito reais e noventa e sete centavos), por meio de operações
realizadas com pelo menos 8976 pessoas, sendo 6249 pessoas físicas e 2727 pessoas jurídicas, e
a Receita Federal teria apurado que o esquema abrangeria um total de 83 pessoas físicas, nos
seus diversos níveis hierárquicos, que seriam responsáveis por 210 empresas distintas, com
funcionamento em pelo menos 13 Estados brasileiros, tendo sido constatada a atividade do grupo
GAS, em qualquer de seus segmentos (captação ou aplicação de recursos e emissão, distribuição
ou negociação de valores mobiliários), inclusive em território estrangeiro (pelo menos em
Colômbia, Emirados Árabes Unidos, Estados Unidos da América, Reino Unido, Paraguai,
Portugal, Uruguai)
Asseriu ainda que, para além dessas circunstâncias evidenciarem o altíssimo risco
sistêmico do esquema criminoso em comento, já estariam sendo identificadas informações
concretas a respeito da utilização do grupo GAS para a injeção de recursos oriundos de outros
crimes graves, como tráfico de drogas e constituição e funcionamento de milícias privadas.

Apontou que o funcionamento do grupo GAS como instituição financeira irregular


representaria risco gravíssimo, que transcenderia a própria higidez do Sistema Financeiro
Nacional, uma vez que permitiria a circulação, ocultação e o próprio financiamento de
organizações criminosas voltadas para a prática de toda forma de crimes, sob verniz de
legalidade (investimentos em criptoativos) e à margem de todos os mecanismos de regulação do
mercado, e do alcance das autoridades estatais.

Concluiu, quanto ao ponto que, GLAIDSON ACÁCIO DOS SANTOS e MIRELIS


YOSELINE DIAZ ZERPA teriam praticado conduta criminalmente capitulada no art. 16 da Lei
nº 7.492/86, na forma do art. 29, caput, do Código Penal, com incidência da agravante prevista
no art. 62, inc. I, também do Código Penal; ademais, FELIPE JOSÉ SILVA NOVAIS, KAMILA
MARTINS NOVAIS, TUNAY PEREIRA LIMA, MÁRCIA PINTO DOS ANJOS, JOÃO
MARCUS PINHEIRO DUMAS VIANA, LARISSA VIANA FERREIRA DUMAS, VICENTE
GADELHA ROCHA NETO, ANDRIMAR MORAYMA RIVERO VERGEL, PAULO
HENRIQUE ROSA DE LANA, KELLY PEREIRA DEO DE SOUZA LANA, DIEGO SILVA
VIEIRA, GUILHERME SILVA DE ALMEIDA e ALAN GOMES SOARES teriam praticado
conduta criminalmente capitulada no art. 16 da Lei nº 7.492/1986, na forma do art. 29, caput, do
Código Penal.

Retratou o MPF, quanto ao FATO 02 (Do crime de gestão fraudulenta de


instituição financeira - art. 4º, da Lei nº 7.492/8673) que, pelo menos no período de 2017 a 25 de
agosto de 2021, de forma livre e consciente e em comunhão de desígnios, GLAIDSON DOS
SANTOS, MIRELIS ZERPA, FELIPE JOSÉ NOVAIS, KAMILA NOVAIS, TUNAY LIMA,
MÁRCIA DOS ANJOS, JOÃO MARCUS DUMAS, LARISSA DUMAS, VICENTE
GADELHA, ANDRIMAR VERGEL, PAULO LANA, KELLY LANA, DIEGO VIEIRA,
GUILHERME DE ALMEIDA e ALAN SOARES, teriam gerido fraudulentamente instituição
financeira, consistente no grupo formado pelas empresas GAS CONSULTORIA &
TECNOLOGIA LTDA, GAS ASSESSORIA & CONSULTORIA DIGITAL EIRELI e MYD
ZERPA TECNOLOGIA EIRELI, de propriedade de GLAIDSON e MIRELIS, e pelas outras
pessoas jurídicas de propriedade dos codenunciados, que a elas se teriam associado ao longo do
período citado e integrado a macroestrutura financeira por meio do qual os fatos se teriam dado.

Estar-se-ia diante de condutas que caracterizariam crime financeiro praticado por


agentes que, valendo-se de instituição financeira ilícita, teriam realizado operações, com pelo
menos 8.976 pessoas, sendo 6.249 pessoas físicas e 2.727 pessoas jurídicas, no período de 3 de
novembro de 2015 a 20 de maio de 2021, em valor equivalente a R$ 38.223.489.348,97 (trinta e
oito bilhões duzentos e vinte e três milhões quatrocentos e oitenta e nove mil trezentos e
quarenta e oito reais e noventa e sete centavos). Aproximadamente 44% desse montante (R$
16.739.269.833,00) teria sido movimentado apenas nos últimos 12 meses, em operações
vinculadas à GAS CONSULTORIA.
Afirmou que as operações supostamente realizadas pelo grupo GAS, enquanto
instituição financeira clandestina, teriam produzido lesão ao Sistema Financeiro Nacional, e que,
nesse sentido, os elementos colhidos na investigação apontariam que GLAIDSON DOS
SANTOS e MIRELIS ZERP, seriam os sócios e principais administradores das empresas GAS
CONSULTORIA, GAS ASSESSORIA, MYD ZERPA TECNOLOGIA, vértices empresariais do
esquema criminoso, bem como seriam igualmente responsáveis pela direção do esquema
financeiro os chamados “sócios administrativos”, que teriam tomado parte nas decisões das
demais empresas que criadas para operacionalizar os pagamentos aos investidores, em posição
muito similar à figura de gerentes de suas respectivas projeções.

Os “sócios administrativos” seriam FELIPE JOSÉ SILVA NOVAIS e sua


esposa KAMILA MARTINS NOVAIS, TUNAY PEREIRA LIMA e sua companheira MÁRCIA
PINTO DOS ANJOS, JOÃO MARCUS PINHEIRO DUMAS VIANA e sua esposa LARISSA
VIANA FERREIRA DUMAS, VICENTE GADELHA ROCHA NETO e sua
esposa ANDRIMAR MORAYMA RIVERO VERGEL, PAULO HENRIQUE ROSA DE LANA
e sua esposa KELLY PEREIRA DEO DE SOUZA LANA, DIEGO SILVA VIEIRA,
GUILHERME SILVA DE ALMEIDA e ALAN GOMES SOARES.

Narrou que a figura do sócio administrativo teria surgido com a expansão das bases
de atuação do esquema criminoso da GAS CONSULTORIA em 2018, quando GLAIDSON
DOS SANTOS e seus comparsas teriam concentrado o início da operação em outras cidades do
Rio de Janeiro, em outros Estados e até mesmo em outros países.

Enunciou que a primeira das fraudes empregadas pelos denunciados, na


operacionalização da instituição financeira ilegal composta pelo grupo GAS CONSULTORIA,
consistiria na falsidade das informações prestadas aos seus investidores, com o propósito de lesá-
los. A confusão patrimonial ocorreria com a ausência de separação de fato entre os patrimônios,
caracterizada por cumprimento repetitivo, pela sociedade, de obrigações do sócio ou do
administrador ou vice-versa, transferência de ativos ou de passivos sem efetivas
contraprestações, exceto os de valor proporcionalmente insignificante, e outros atos de
descumprimento da autonomia patrimonial da pessoa jurídica (art. 50, § 2º, CC), e que tudo isto
teria sido praticado pelos gestores da GAS CONSULTORIA.

Apontou que os contratos assinados entre investidores e a GAS CONSULTORIA,


nome fantasia CONSULTORIA BITCOIN, representada por GLAIDSON DOS SANTOS,
teriam preceituado que os recursos daqueles captados seriam aplicados no mercado de compra e
venda de criptomoedas, e que grupo GAS teria ofertado ao público em geral um contrato de
investimento coletivo denominado “Contrato de Prestação de Serviços para Investimento em
Bitcoin – moeda criptografada”, por meio do qual seria assegurado aos investidores rendimento
bruto mensal de 10% sobre o capital investido por prazo determinado, mediante a “aplicação de
dinheiro brasileiro em mercado financeiro da moeda criptografada denominada BITCOIN”,
“compreendendo um conjunto de operações de compra e venda nas plataformas Exchange
BITSTAMP.NET, BITTREX.COM, BINANCE.COM, BITMEX.COM e BITFINEX.COM à
manutenção e formação de recursos monetários indispensáveis ao retorno do capital investido”.
Arituclou que os instrumentos, que, em 2017, teriam sido originalmente intitulados
“contratos de investimento”, teriam passado a receber, em 2018, o nome de “contrato de
prestação de serviços para investimento em bitcoins – moeda criptografada” e, em 2019 teriam
passado à denominação “contrato de prestação de serviços para terceirização de trader de
criptoativo”, a qual teria sido retida até 2021. O grupo GAS, sob o nome fantasia
CONSULTORIA BITCOIN, também teria disposto de site de oferta pública de serviços, o qual
estaria, no atual momento, fora do ar, mas imagens apresentadas retratariam a apresentação em
agosto de 2018, período em que a empresa teria dito realizar Trade Bitcoin, descrito como “a
compra e venda da bitcoin, nas Exchange como Bitstamp.net e Okcoin.com, operando como
agentes intermediários, e arbitragem”.

Afirmou que os recursos captados pelo grupo GAS no esquema criminoso não
teriam sido aplicados apenas na moeda eletrônica bitcoin, tendo sido, por vezes, transferidos
para várias empresas do grupo GAS, para contas bancárias de pessoas físicas dos
administradores, além de aplicados também em produtos ou serviços bancários tradicionais e em
outras criptomoedas de volatilidade diversa do bitcoin; quanto ao ponto, ao afirmarem
falsamente que aplicariam os recursos dos investidores em bitcoin e os desviarem para
investimentos diversos e até para as contas particulares dos sócios e de empresas, GLAIDSON
DOS SANTOS, MIRELIS ZERPA e os demais sócios administrativos teriam gerido a instituição
financeira ilegal GAS com fraude, destinada a lesar os investidores., e sonegar-lhes informações.

Sentenciou que, no cumprimento do mandado de busca e apreensão expedido no


âmbito da denominada "Operação Kryptos" na sede da empresa GAS, teriam sido apreendidos
contratos datados a partir de 2020, nos quais os denunciados teriam inserido a possibilidade de a
GAS investir em Altcoins, que seriam criptomoedas alternativas ao Bitcoin. Ocorre que a
previsão genérica de aplicação em “Altcoins” caracterizaria informação fraudulenta, na medida
em que continuaria a impedir os investidores de conhecer os ativos em que a GAS aplicaria os
recursos junto a eles captados, impedindo que conhecessem os riscos do negócio e a o real
destino, e sem que estivesse delineada sua titularidade sobre os ativos que seriam adquiridos com
seus recursos. O ardil montado pelos denunciados em torno da empresa GAS CONSULTORIA
teria feito com que os investidores acreditassem que o rendimento mensal de 10% sobre o
montante investido adviria exclusivamente de operações com criptomoedas, mas não
havia nenhum balancete ou demonstrativo contábil neste sentido. Ainda na contabilidade
obscura da GAS CONSULTORIA, o contrato assinado pelos investidores descreveria que a
remuneração da empresa representaria o valor que excedesse os 10% auferidos a título de
rentabilização do capital vertido, mas a GAS nunca teria divulgado aos investidores o valor por
ela auferido a título de remuneração. Pretensos documentos sobre o faturamento da GAS
somente teriam sido conhecidos quando do cumprimento de mandado de busca e apreensão na
sede da empresa, ocasião em que teriam sido descobertas simples planilhas gerais, sem notícia
de que esses valores tenham sido divulgados aos investidores, e muito menos revestimento de
formalidades inerentes a adequada escrituração contábil.

Sustentou que a GAS CONSULTORIA teria prometido, em seus contratos,


rendimento fixo com investimento exclusivo em bitcoin, mercado de altos volatilidade e
risco, mas não teria respeitado a escolha do investidor, ao aplicar suas economias em
investimentos distintos, e, da mesma forma, o grupo GAS não disponibilizaria informações
claras sobre o retorno e as possibilidades (riscos) desse retorno vir a não se concretizar; no
mesmo sentir, não teria sido encontrada nenhuma documentação comprobatória do investimento
em criptomoedas, como garantia de que a vontade do investidor teria sido cumprida, e, na
deflagração da chamada "Operação Kryptos", na sede da empresa GAS, teriam sido encontradas
anotações, feitas à mão em um pequeno caderno, respeitantes aos investidores, o capital aplicado
e a data de vencimento do contrato, o que demonstra a forma precária como os recursos da GAS
eram “contabilizados”.

Afirmou que os recursos dos investidores teriam sido direcionados à empresa GAS,
à pessoa física GLAIDSON DOS SANTOS, à pessoa física FELIPE NOVAIS, a estrangeiro
colombiano (Richar Barreto Primo – Banco Colombia – Nº 9570016715 – representante da
empresa constituída por FELIPE NOVAIS na Colômbia) e até a uma autoescola colombiana
“Centro de Enseñanza Automovilistica DEL LITORAL LTDA. - NIT 800.207.224-5. Por sua
vez, os pagamentos dos dos valores devidos a título de rendimentos, aos investidores, teriam
sido realizados, dentre outros, pelos denunciados VICENTE GADELHA e KAMILA NOVAIS.
Segundo o Ministério Público, atos de desvio de finalidade e confusão patrimonial seriam usuais,
na estrutura do grupo GAS.

Apontou que a análise das empresas que teriam recebido os recursos dos
investidores confiados à GAS CONSULTORIA revelariam a gestão fraudulenta de recursos de
terceiros.

Decretou que a desordem negocial e confusão patrimonial seria conhecida por


todos os gestores administrativos denunciados, tanto que, na caixa de e-mail de GLAIDSON
DOS SANTOS (gladson2883@gmail.com) teria sido encontrada proposta de “compliance” em
que uma empresa sugere a implementação de regras básicas para o funcionamento seguro do
grupo, que não estariam sendo observadas pela GAS CONSULTORIA, nem teriam sido
posteriormente implementadas.

Sustentou que, mesmo estando cientes de não possuiriam a devida certificação, os


denunciados GLAIDSON SANTOS, MIRELIS ZERPA, FELIPE NOVAIS, KAMILA
NOVAIS, TUNAY LIMA, MÁRCIA DOS ANJOS, JOÃO MARCUS DUMAS, LARISSA
DUMAS, VICENTE GADELHA, ANDRIMAR VERGEL, PAULO LANA, KELLY LANA,
DIEGO VIEIRA, GUILHERME DE ALMEIDA e ALAN SOARES teriam feio inserir e teriam
ofertado ao público contratos cuja Cláusula Primeira descreveria a obrigação de o contratado
manter o registro regular na profissão, com o intuito de ludibriar os investidores e transmitir
falsa confiabilidade nos serviços contratados.

Concluiu, assim e quanto ao ponto, que GLAIDSON ACÁCIO DOS SANTOS e


MIRELIS YOSELINE DIAZ ZERPA teriam praticado conduta criminalmente capitulada no art.
4º da Lei 7492/1986, na forma do art. 29, caput, do Código Penal, com incidência da agravante
prevista no art. 62, inc. I, também do Código Penal; e FELIPE JOSÉ SILVA NOVAIS,
KAMILA MARTINS NOVAIS, TUNAY PEREIRA LIMA, MÁRCIA PINTO DOS ANJOS,
JOÃO MARCUS PINHEIRO DUMAS VIANA, LARISSA VIANA FERREIRA DUMAS,
VICENTE GADELHA ROCHA NETO, ANDRIMAR MORAYMA RIVERO VERGEL,
PAULO HENRIQUE ROSA DE LANA, KELLY PEREIRA DEO DE SOUZA LANA, DIEGO
SILVA VIEIRA, GUILHERME SILVA DE ALMEIDA e ALAN GOMES SOARES teriam
praticado conduta criminalmente capitulada no art. 4º da Lei 7.492/1986, na forma do art. 29, cap
ut, do Código Penal.

Retratou, quanto ao FATO 03 (crime de emissão, oferecimento ou negociação


irregular de valores mobiliários - art. 7º, II, III e IV, da Lei nº 7.492/86 c/c art. 2º, IX, da Lei nº
6.385/76), que, pelo menos no período de 2017 a 25 de agosto de 2021, de forma livre e
consciente e em comunhão de desígnios, GLAIDSON DOS SANTOS, MIRELIS ZERPA,
FELIPE NOVAIS, KAMILA NOVAIS, TUNAY LIMA, MÁRCIA DOS ANJOS, VICENTE
GADELHA, ANDRIMAR VERGEL, DIEGO VIEIRA, PAULO LANA, KELLY LANA,
JOÃO MARCUS DUMAS; LARISSA DUMAS, GUILHERME DE ALMEIDA, ALAN
SOARES e MICHAEL MAGNO teriam emitido e ofertado ao público valores mobiliários,
consistentes em contratos de investimento coletivo em nome da empresa GAS CONSULTORIA
& TECNOLOGIA LTDA, sem registro prévio de emissão junto à CVM, sem lastro ou garantia
suficientes e sem autorização prévia da mesma CVM.

Apontou que os denunciados teriam agido voluntariamente e em comunhão de


desígnios, a título de representantes da empresa GAS CONSULTORIA & TECNOLOGIA
LTDA, para oferecer ao público em geral espécie de contrato de investimento coletivo, em
empreendimento liderado por GLAIDSON DOS SANTOS e MIRELIS ZERPA, com prazo
determinado (via de regra, entre 24 e 60 meses) e apresentando promessa de rendimentos fixos
mensais dimensionados em 10% do capital vertido pelo cliente, com sua devolução integral ao
término do prazo contratual. GLAIDSON DOS SANTOS e MIRELIS ZERPA teriam sido os
principais idealizadores do esquema criminoso e possuiriam a palavra final quanto à emissão dos
títulos, assinados por ambos, bem como quanto à gestão e investimento dos montantes
arrecadados do público em geral, em ativos financeiros, para sua rentabilização e sustentação das
operações do grupo.

Segundo o MPF, ao longo do tempo, para expandir o alcance de suas atividades


pretensamente espúrias e aumentar o capital em seu poder, GLAIDSON DOS SANTOS e
MIRELIS ZERPA teriam arregimentando pessoas de sua confiança, trazendo-as ao grupo
criminoso, encarregando-lhes de liderar escritórios e equipes (espalhados em diversos pontos do
território nacional e até mesmo no exterior), que teriam operacionalizado a emissão e a oferta ao
público dos contratos de investimento coletivo em nome da GAS CONSULTORIA. Teriam
atuado nessa função os denunciados FELIPE NOVAIS, KAMILA NOVAIS, TUNAY
LIMA, MÁRCIA DOS ANJOS, VICENTE GADELHA, ANDRIMAR VERGEL, DIEGO
VIEIRA, PAULO LANA, KELLY LANA, JOÃO MARCUS DUMAS, LARISSA
DUMAS, GUILHERME DE ALMEIDA e ALAN SOARES, os quais seriam tidos no âmbito
do grupo como “sócios administrativos”.

Aduziu que FELIPE NOVAIS; KAMILA NOVAIS, TUNAY LIMA, MÁRCIA


DOS ANJOS, VICENTE GADELHA, ANDRIMAR VERGEL, DIEGO VIEIRA, PAULO
LANA, KELLY LANA, JOÃO MARCUS DUMAS, LARISSA DUMAS, GUILHERME DE
ALMEIDA e ALAN SOARES seriam responsáveis por captar milhares de clientes para o
esquema criminoso, bem como movimentar valores milionários, e o denunciado MICHAEL
MAGNO teria atuação preponderante como “consultor credenciado”, vinculado à equipe
liderada por TUNAY LIMA (“Consultoria Lima”). MICHAEL MAGNO atuaria em coautoria
com os demais denunciados, sendo encarregado de oferecer diretamente ao público os contratos
de investimento coletivo da GAS CONSULTORIA, sendo certo que, nos diálogos interceptados
pela Polícia Federal, MICHAEL MAGNO teria tratado com diversas pessoas sobre os prazos e
contratos da GAS, inclusive sobre a possibilidade de sua “cessão” a terceiros, chegando a
afirmar que possui cerca de 300 clientes.

Articulou que as atividades exercidas pelos denunciados seriam absolutamente


clandestinas e à margem de qualquer regulamentação, razão pela qual inexistiria qualquer tipo de
balancete ou demonstrativo de investimentos apresentado aos investidores, os quais se teriam se
contentado com o recebimento da remuneração mensal de 10% sobre o montante vertido, nas
datas acordadas; GLAIDSON DOS SANTOS e MIRELIS ZERPA seriam os responsáveis por
gerir, diretamente ou por intermédio de terceiros, recursos recebidos do público em geral, os
quais seriam aplicados em criptomoedas no Brasil e no exterior ou no mercado cambial, como
FOREX. Inicialmente, as informações prestadas pela corretora FOXBIT demonstrariam que, no
período de 2014 a 2018, GLAIDSON DOS SANTOS e MIRELIS ZERPA teriam realizado
operações de compra e venda de criptomoedas em valores superiores aos seus rendimentos
lícitos declarados, e, em processo de compliance, a mesma FOXBIT teria solicitado que
GLAIDSON DOS SANTOS informasse a origem dos valores transacionados.

Suscitou que, a despeito da inequívoca caracterização como valor mobiliário na


modalidade contrato de investimento coletivo, títulos em nome da GAS CONSULTORIA &
TECNOLOGIA LTDA seriam emitidos e oferecidos ao público pelos denunciados GLAIDSON
DOS SANTOS, MIRELIS ZERPA, FELIPE NOVAIS, KAMILA NOVAIS, TUNAY
LIMA, MÁRCIA DOS ANJOS, VICENTE GADELHA, ANDRIMAR VERGEL, DIEGO
VIEIRA, PAULO LANA, KELLY LANA, JOÃO MARCUS DUMAS, LARISSA
DUMAS, GUILHERME DE ALMEIDA, ALAN SOARES e MICHAEL MAGNO, sem
qualquer registro prévio de emissão junto à CVM, sem lastro ou garantias suficientes e sem
autorização prévia da CVM, não obstante essa seja exigida por lei, na forma do art. 19 da Lei nº
6.385/76.

Concluiu, após detalhar os elementos de prova, que GLAIDSON DOS SANTOS,


MIRELIS ZERPA, FELIPE NOVAIS, KAMILA NOVAIS, TUNAY LIMA, MÁRCIA DOS
ANJOS, VICENTE GADELHA, ANDRIMAR VERGEL, DIEGO VIEIRA, PAULO LANA,
KELLY LANA, JOÃO MARCUS DUMAS, LARISSA DUMAS, GUILHERME DE
ALMEIDA, ALAN SOARES e MICHAEL MAGNO, estariam todos incursos nas penas do art.
7º, II, III e IV, da Lei nº 7.492/86 c/c art. 2º, IX, da Lei nº 6.385/76, na forma dos arts. 29 e 30
do Código Penal.

Retratou, quanto ao FATO 04 (crime de organização criminosa - art. 2º, §4º, III e
V, da Lei nº 12.850/2013), que, pelo menos no período de 2017 a 25 de agosto de 2021, de modo
consciente, voluntário, estável e em comunhão de vontades, GLAIDSON DOS SANTOS e
MIRELIS ZERPA, por meio das empresas GAS CONSULTORIA & TECNOLOGIA LTDA,
GAS ASSESSORIA & CONSULTORIA DIGITAL EIRELI e MYD ZERPA TECNOLOGIA
EIRELI, bem como FELIPE NOVAIS, KAMILA NOVAIS, TUNAY LIMA, MÁRCIA DOS
ANJOS, VICENTE GADELHA, ANDRIMAR VERGEL, DIEGO VIEIRA, MARIANA
CORDEIRO, PAULO LANA, KELLY LANA, JOÃO MARCUS DUMAS, LARISSA
DUMAS, GUILHERME DE ALMEIDA, ALAN SOARES e MICHAEL MAGNO, por meio
das empresas a eles vinculadas e que foram associando-se ao longo do período citado às
empresas GAS e MYD ZERPA, além de outros indivíduos ainda não denunciados, teriam
promovido, constituído, financiado e integrado, pessoalmente, de modo estruturalmente
ordenado e com divisão de tarefas, organização criminosa preordenada à prática de crimes contra
o sistema financeiro, contra a ordem tributária e lavagem de dinheiro auferido a partir de
tais condutas, valendo-se, para tanto, de extensa rede de pessoas físicas e jurídicas, atuantes no
Brasil e no exterior, gerindo recursos de terceiros e emitindo, oferecendo e negociando valores
mobiliários à margem das autoridades regulatórias e dos controles estatais aplicáveis.

Referiu que a pretensa organização criminosa liderada por GLAIDSON DOS


SANTOS e MIRELIS ZERPA seria estruturalmente ordenada em, pelo menos, quatro níveis ou
núcleos, com divisão de tarefas delineadas, que girariam em torno das atividades e dos serviços
de investimento oferecidos ao público, pelo grupo GAS ou Consultoria Bitcoin (encabeçado pela
empresa GAS CONSULTORIA & TECNOLOGIA LTDA e composto por diversas pessoas
jurídicas criadas pelos denunciados), detalhado pelo Parquet da seguinte forma:

1) núcleo dos sócios ou diretores – cúpula da organização criminosa, integrada por


seus líderes e fundadores GLAIDSON DOS SANTOS e MIRELIS ZERPA;

2) núcleo dos sócios administrativos – camada imediatamente abaixo da cúpula,


integrada por pessoas de confiança dos seus líderes, com perfil gerencial e que teriam
exercido parcial ingerência sobre a operacionalização do esquema criminoso, haja vista que
escolheriam e coordenariam as equipes de cada escritório sob sua tutela, responsáveis pela oferta
pública dos valores mobiliários e consequente captação de recursos de terceiros; integrariam esse
núcleo FELIPE NOVAIS, KAMILA NOVAIS, TUNAY LIMA, MÁRCIA DOS ANJOS,
VICENTE GADELHA, ANDRIMAR VERGEL, DIEGO VIEIRA, MARIANA CORDEIRO,
PAULO HENRIQUE LANA, KELLY LANA, JOÃO MARCUS DUMAS, LARISSA DUMAS,
GUILHERME DE ALMEIDA e ALAN SOARES, além de outros ainda não denunciados;

3 – núcleo dos associados – integrado por pessoas de apoio direto aos sócios e
sócios administrativos, considerados integrantes de natureza gerencial (ou gestores) e “braços
direitos”. Contudo, o recrutamento de associados não era obrigatório e muitos sócios
administrativo dispensavam esta figura, e

4 – núcleo dos consultores – integrado por pessoas responsáveis por arregimentar


diretamente novos investidores, que figurariam na base das atividades coordenadas por sócios
administrativos, e integraria esse núcleo MICHAEL MAGNO.

Apontou que GLAIDSON DOS SANTOS, MIRELIS ZERPA, FELIPE NOVAIS,


KAMILA NOVAIS, TUNAY LIMA, MÁRCIA DOS ANJOS, VICENTE GADELHA,
ANDRIMAR VERGEL, DIEGO VIEIRA, MARIANA CORDEIRO, PAULO LANA, KELLY
LANA, JOÃO MARCUS DUMAS, LARISSA DUMAS, GUILHERME DE ALMEIDA, ALAN
SOARES e MICHAEL MAGNO, bem como outras pessoas a serem denunciadas ou
identificadas, teriam agido de modo voluntário e consciente, em comunhão de desígnios, de
forma estável e permanente, com o objetivo de auferirem vantagens financeiras mediante a
prática de crimes contra o sistema financeiro nacional (art. 16, art. 4º, art. 7º, II, III e IV, e art.
22, todos da Lei nº 7.492/86), crimes contra a ordem tributária (art. 1º, I e II, da Lei nº 8.137/90)
e lavagem de dinheiro (art. 1º da Lei nº 9.613/98) auferido desses crimes, por meio de extensa
rede de pessoas físicas e jurídicas, no Brasil e no exterior.

Esclareceu que as investigações teriam demonstrado que a organização criminosa


estaria em franca operação no momento da deflagração da denominada "Operação Kryptos", 25
/08/2021, havendo, inclusive, notícias de continuidade das atividades ilícitas por integrantes
foragidos mesmo após a atuação ostensiva da Polícia Federal, sendo certo que certo relatório de
movimentação de criptoativos, combinado com diálogos telefônicos legalmente
interceptados, que indicaria a continuidade das atividades criminosas principalmente por
MIRELIS ZERPA, então foragida nos Estados Unidos da América; de outro giro, as atividades
da organização criminosa também estariam em franca expansão financeira e territorial, a partir
do aumento exponencial das movimentações financeiras suspeitas reportadas nos Relatórios de
Inteligência Financeira do COAF, com incremento substancial nos últimos 2 anos, tendo em
vista a crescente quantidade de investidores cooptados, demonstrada também pelas planilhas de
custódia de valores e de número de clientes que teriam sido localizadas no material obtido por
meio do afastamento de sigilo telemático deferido pelo Juízo. Sustentou que, embora a
organização criminosa tenha sua origem e sede na cidade de Cabo Frio, Região dos Lagos do
Estado do Rio de Janeiro, o grupo criminoso já teria expandido suas atividades para outras
cidades do Rio de Janeiro e, pelo menos, além do Distrito Federal, nos Estados de Goiás, Mato
Grosso, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, São Paulo, Santa Catarina, Minas
Gerais, Maranhão e Pará, tendo sido identificadas também atividades da organização criminosa
no exterior, ao menos nos seguintes locais: Estados Unidos da América, Reino Unido (Londres),
Portugal (Lisboa), Uruguai, Colômbia, Paraguai e Emirados Árabes Unidos (Dubai).

Retratou o MPF, de forma detalhada, a participação de cada um dos integrantes:

A) GLAIDSON DOS SANTOS e sua esposa MIRELIS ZERPA comandariam o


grupo criminoso, sendo os responsáveis por conceber e coordenar o esquema milionário de
captação de recursos de terceiros e de oferecimento de contratos de investimento coletivo ao
público em geral, sob o pretexto de terceirizarem serviços de investimento em
criptoativos. Enquanto GLAIDSON DOS SANTOS teria atuação preponderante na esfera
comercial da empresa, especialmente na arregimentação de novos “investidores” e na liderança
dos demais integrantes que encarregados da captação de recursos de terceiros, a atuação de
MIRELIS ZERPA estaria focada na efetiva operação no mercado de criptoativos, seja para a
realização de investimentos, seja para a ocultação dos valores em carteiras particulares do casal.
Tal atuação teria se comprovado por robustas provas colhidas na investigação policial,
notadamente por: i) informações apresentadas pela Receita Federal; ii) informações prestadas
pela corretora FOXBIT Serviços Digitais; iii) relatórios elaborados pelo Ministério da Justiça
sobre carteiras dos denunciados na corretora Binance; iv) relatórios de apreensão de criptoativos;
v) relatório de movimentação de criptoativos após a deflagração da Operação; vi) relatório da
Polícia Federal de análise de material telemático; e vi) diálogos transcritos no auto
circunstanciado de interceptação telefônica nº 002.

Pontuou que a parceria criminosa e a posição de liderança de GLAIDSON DOS


SANTOS e MIRELIS ZERPA também estaria evidenciada pela forma de divisão de
responsabilidades nos contratos de investimentos alegadamente oferecidos ao público:
GLAIDSON DOS SANTOS assinaria cada contrato em nome da GAS CONSULTORIA &
TECNOLOGIA LTDA, como representante da contratada, e MIRELIS ZERPA figuraria como
avalizadora do negócio jurídico, assinando a nota promissória oferecida pelo casal como garantia
ao investidor.

Afirmou que MIRELIS ZERPA teria atuado cooptando terceiros investidores no


exterior, em países como Colômbia, México, Paraguai e Venezuela, e que possuiria o
controle dos recursos movimentados pelo grupo criminoso e ainda que a movimentação
financeira da organização criminosa teria sido centralizada e controlada por GLAIDSON DOS
SANTOS e MIRELIS ZERPA.

Quanto à transnacionalidade da organização criminosa, afirmou que teriam sido


identificadas provas a respeito da prática de crimes de evasão de divisas (art. 22, da Lei nº 7.492
/86), em razão da abertura de contas bancárias e de empresas no exterior por alguns dos
integrantes ora denunciados. Nesse sentido, tem-se que a Informação 0012 – UADIP/DELEFAZ
/SR/PF/RJ da Polícia Federal (DOC. 93) apontaria a manutenção de contas bancárias por
GLAIDSON DOS SANTOS, ao menos no Banco Millenium BCP e no Banco Comercial
Português, em Portugal, bem como no Bank of America, nos Estados Unidos da América.
Conforme informações obtidas por meio de afastamento de sigilo fiscal (autos nº 5062289-
74.2021.4.02.5101), nenhuma conta no exterior teria sido objeto de declaração, por GLAIDSON
DOS SANTOS à Receita Federal. Além disso, a informação policial nº 001/2021 também
indicaria ter GLAIDSON DOS SANTOS constituído a empresa GAS CONSULTORIA EM
TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO LLC na Flórida/EUA e a empresa MIREGLAD
TECHNOLOGY em Londres/Reino Unido. A não deixar dúvidas sobre a transnacionalidade das
atividades do grupo criminoso, indicou diálogos captados com autorização judicial, que
apontariam a movimentação da organização criminosa para promover a fuga de GLAIDSON
DOS SANTOS para os Estados Unidos da América, para que pudesse controlar os negócios de
fora do território nacional, junto com sua esposa MIRELIS ZERPA, o que ressairia do teor do
Auto Circunstanciado nº 01, na Informação Nº 008 – UADIP/DELEFAZ/SR/PF/RJ.

Destacou que o poder de comando de GLAIDSON DOS SANTOS estaria também


demonstrado a partir de diálogos em que teria ele dado ordens, diretamente para outros
integrantes da organização criminosa, ainda não identificados, para que capturassem e
amarrassem jornalistas que fossem até os escritórios da empresa GAS em Cabo Frio/RJ para
buscar informações sobre as atividades do grupo, cabendo a GLAIDSON DOS SANTOS decidir
“o que fazer com eles”.
Apontou também, com relação à relevante atuação de MIRELIS ZERPA, que esta
teria realizado diversos e sucessivos saques nos dias de 25, 26, 29 de agosto de 2021 do total de
4330.737326 Bitcoins (BTC), com expressão econômica de R$ 1.063.070.463,56 (um bilhão,
sessenta e três milhões, setenta mil, quatrocentos e sessenta e três reais e cinquenta e seis
centavos), na cotação média do dia 31/08/2021, no mesmo dia, e nos dias imediatamente
seguintes à deflagração da operação policial e o cumprimento de mandados de prisão expedidos
por este Juízo, MIRELIS ZERPA, que se encontraria em solo norteamericano, teria atuado de
forma decisiva, concreta e deliberada para sacar e dissipar mais de um bilhão de reais e, assim,
frustrar as determinações de sequestro judicialmente exaradas, tendo sido identificadas palavras
de recuperação no e-mail de MIRELIS ZERPA, que lhe teriam dado o acesso a sete carteiras
diferentes, e, após feita a recuperação das citadas carteiras, teria sido verificado que
4330.737326 Bitcoins (BTC) teriam sido sacados, valor correspondente ao já mencionado
montante de R$ 1.063.070.463,56 (um bilhão, sessenta e três milhões, setenta mil, quatrocentos
e sessenta e três reais e cinquenta e seis centavos).

B) FELIPE NOVAIS e sua esposa, KAMILA NOVAIS, teriam ingressado no


esquema criminoso bem em seu início, e teriam sido responsáveis por expandir as atividades do
grupo GAS para a região de Brasília/DF e, posteriormente, para outras localidades, inclusive no
exterior. Ambos teriam atuado em conjunto como “sócios administrativos” da GAS,
coordenando escritórios e equipes de associados e consultores, arregimentando mais investidores
para o esquema criminoso. Cumpre relembrar que FELIPE NOVAIS teria sido sócio de
GLAIDSON DOS SANTOS na empresa GAS CONSULTORIA & TECNOLOGIA LTDA, no
período de 2018 a 2019, o que evidenciaria a relação de confiança entre ambos e a atuação de
FELIPE NOVAIS como um dos precursores do esquema criminoso. De outro giro, ao menos
desde 2015, KAMILA NOVAIS já teria envolvimento no esquema, uma vez que teria recebido
recursos de GLAIDSON, em época em que ainda teria ostentado nome de solteira - “Consta
também o envio de R$ 98.925,00 para KAMILA MARTINS BEZERRA, que desde 2015 passou a
se chamar KAMILA MARTINS NOVAIS, em virtude de seu casamento com FELIPE.” A suposta
posição de relevo do casal FELIPE NOVAIS e KAMILA NOVAIS, na estrutura da organização
criminosa, indicaria ambos como responsáveis pela arregimentação e custódia de montante total
de mais de R$ 238.000.000,00 (duzentos e trinta e oito milhões de reais).

Referiu que FELIPE NOVAIS, após deixar formalmente o quadro societário da


GAS, em 2019, teria constituído a FKN CONSULTORIA E TECNOLOGIA LTDA junto com
KAMILA NOVAIS, com a finalidade exclusiva de captar recursos de terceiros para
investimentos na GAS CONSULTORIA, por meio dos instrumentos particulares de contrato
tantas vezes aludidos. A propósito, teriam sido apreendidos, na residência do casal em Brasília
/DF, diversos contratos envolvendo os denunciados, a empresa GAS CONSULTORIA e
GLAIDSON DOS SANTOS, bem como planilhas de controle dos valores arrecadados, sendo
ainda certo que que as movimentações financeiras atípicas realizadas por FELIPE NOVAIS e
KAMILA NOVAIS, e o recebimento de vultosas quantias de contas de GLAIDSON DOS
SANTOS, entre meados de 2017 e final 2020, assim como o expressivo crescimento patrimonial
de ambos, sem a correspondente comprovação de renda, evidenciaria a relevância da
participação do casal no esquema criminoso. Adicionalmente, haveria indícios de que FELIPE
NOVAIS também teria operacionalizado a instalação de um escritório empresarial em Fortaleza
/CE, expandindo assim os domínios territoriais da organização criminosa, e, em diligência da
Polícia Federal na residência do casal em Brasília/DF, teriam sido identificados documentos que
indicariam a expansão da atuação de FELIPE NOVAIS e de KAMILA NOVAIS para a
Colômbia, pois que dariam conta de que, em 12/03/2019, o casal teria constituído a empresa
COLOMBIA WORLD BUSINESS S.A.S., com capital social autorizado de $ 1.000.000.000,00
(um bilhão de pesos colombianos) e subscrito e integralizado o montante de $ 200.000.000,00
(duzentos milhões de pesos colombianos). FELIPE NOVAIS e KAMILA NOVAIS teriam
figurado como suplentes do representante legal e a pessoa jurídica teria ostentado, como
atividade principal, consultoria de informática, administração de instalações informáticas,
tecnologia de informação, serviços informáticos, processamento de dados, alojamento e
atividades relacionadas, o que se teria repetido no caso de outras sociedades ligadas ao grupo
GAS.

C) TUNAY LIMA e sua esposa MÁRCIA DOS ANJOS seriam importantes sócios
administrativos no esquema criminoso bilionário alegadamente comandado por GLAIDSON
DOS SANTOS e MIRELIS ZERPA, posição que seria evidenciada pela expressividade dos
montantes em custódia constantes nas planilhas localizadas a partir do afastamento de sigilo
telemático. Em setembro de 2020, TUNAY LIMA teria em sua carteira o total de R$
405.271.918,38 e MÁRCIA DOS ANJOS o total de R$ 173.378.811,13. Já no documento
referente ao número de clientes de cada sócio administrativo, TUNAY LIMA e MÁRCIA DOS
ANJOS contabilizariam, juntos, 11.446 clientes que teriam aportado dinheiro no esquema
criminoso, e, em mensagem eletrônica datada de 06/04/2017, encontrada no material obtido por
meio de autorizada quebra de sigilo telemático, GLAIDSON DOS SANTOS e TUNAY LIMA
teriam tratado de “modelo padrão do investimento em bitcoin com testemunhas”, demonstrando
a atuação de ambos, desde nascedouro do esquema pretensamente criminoso.

Narrou que, pelo menos a partir de 2017,113 TUNAY e MÁRCIA teriam


protagonizado transações financeiras volumosas com a G.A.S CONSULTORIA &
TECNOLOGIA LTDA, empresa então em nome dos denunciados GLAIDSON e FELIPE,
enviando e recebendo grandes somas de valores, havendo transações financeiras de grande
monta também em relação a empresas ligadas a outros integrantes da organização criminosa, a
exemplo da M Y D Z TECNOLOGIA EIRELI, pertencente a MIRELIS. Asseriu que, no RIF
61532, solicitado pela Polícia Federal no bojo do inquérito que apura o caso, teriam sido
identificados diversos lançamentos referentes a transações de valores milionários dos
denunciados TUNAY e MÁRCIA com a empresa G.A.S CONSULTORIA & TECNOLOGIA
LTDA, nos períodos de 01/01/2019 a 16/07/2019, 17/7/2019 até 12/4/2020. Outros indícios de
ilegalidades diversas que teriam sido protagonizadas pelo casal constariam no RIF 62691 e no
RIF 62948, os quais demonstrariam sua intensos fluxos financeiros, com indícios de
movimentação de recursos de terceiros, no bojo do esquema criminoso capitaneado por
GLAIDSON. Em relação a MÁRCIA, as comunicações constantes no item 6 do RIF
62691apontariam movimentação financeira incompatível com seus dados de renda e patrimônio
declarados, do que resultariam suspeitas de que ela e seu companheiro TUNAY, que teriam
teriam experimentado súbita elevação patrimonial nos últimos anos, dediquem-se a atividades
ilícitas ou não declaradas. Destacou elementos que indicariam a prática de sonegação fiscal e
lavagem de capitais, por ambos, sendo pertinentes ponderações que teriam sido externadas
em comunicação da instituição financeira NEON PAGAMENTOS S.A. ao COAF segundo a
qual as empresas de TUNAY e MÁRCIA, abertas em vários Estados, em datas aproximadas e
com os mesmos CNAEs, aparentariam ser “fantasmas”, tendo em vista a ausência de registro de
estabelecimentos e de divulgação comercial das respectivas atividades, despontando
ainda padrão de conduta do casal semelhante a outro cliente da instituição, o denunciado
PAULO HENRIQUE ROSA DE LANA. No RIF 62948, haveria 18 comunicações suspeitas
também em relação a TUNAY (item 8 do RIF). Os indícios de ilicitudes apontados em todas
essas comunicações seriam os mesmos já fartamente destacados, incluindo a incompatibilidade
manifesta entre a renda lícita declarada e o volume transacionado nos períodos
analisados, movimentação de contas PJs nas contas Pfs, créditos de grande monta oriundo de
recorrentes pessoas físicas e jurídicas e débitos pulverizados em valores menos para pessoas
diversas, indícios da prática de crimes financeiros e de lavagem de capitais, entre outros
ilícitos, além de vínculos financeiros estreitos cm GLAIDSON, suas empresas e empresas outras
nitidamente vinculadas ao esquema em investigação. Ademais, o RIF 62948 apontaria, em 2019,
sucessivas transações de TUNAY de altos valores, sem lastro financeiro declarado para tanto,
com as contas bancárias da PEERTRADE DIGITAL e para compras moedas digitais na
plataforma BitcoinTrade. E, no Anexo “Comunicações de Operações em Espécie” teriam sido
apontados indícios de lavagem de ativos em seis comunicações envolvendo a aquisição de
imóvel no valor de R$ 584.000,00, bem como de bens de luxo mediante pagamentos em espécie,
além de depósitos em espécie nas contas do investigado, feitos por ele próprio e por terceiro. Os
RIFs do caso apontariam que mais de R$ 77.000.000,00 (setenta e sete milhões de reais) teriam
saído das contas de GLAIDSON ou de sua empresa GAS CONSULTORIA & TECNOLOGIA
LTDA diretamente para as contas bancárias de TUNAY, pessoa física, entre 2017 e 2020. Nesse
mesmo período, outros montantes milionários também teriam transitado das contas de
GLAIDSON e da GAS para as contas bancárias de empresas registradas em nome de TUNAY e
de MÁRCIA, e também para as contas desta como pessoa física. Já o Relatório nº 012/2021, da
EFRAU06 da Receita Federal, apontaria um crescimento patrimonial vertiginoso de TUNAY e
MARCIA a partir de 2019, e pontuou que, antes de iniciar seu envolvimento com GLAIDSON e
suas empresas, TUNAY teria laborado como corretor de imóveis (CRECI-RJ nº 066496/O) e, a
partir de 2017, teria passado a declarar renda, bens e direitos em valores cada vez maiores. A
RFB teria constatado também que, em 2016, segundo informações de DIMOB, TUNAY teria
adquirido um apartamento no mesmo prédio em que, no ano seguinte, GLAIDSON também viria
a comprar uma unidade, passando ambos a serem vizinhos em Cabo Frio, justamente no ano em
que o COAF teria passado a detectar operações financeiras suspeitas envolvendo ambos e suas
respectivas empresas e esposas.

Afirmou que a CONSULTORIA E SOLUÇÕES EM TECNOLOGIA LIMA


EIRELI (CNPJ 30.484.905/0001-45), a CONSULTORIA E SOLUÇÕES EM TECNOLOGIA
LPA (CNPJ: 35679874000100) e a CONSULTORIA & TECNOLOGIA DOS ANJOS EIRELI
(CNPJ 33.030.861/0001-71) teriam sido identificadas nas investigações como as principais
pessoas jurídicas utilizadas pelos denunciados no esquema criminoso. A CONSULTORIA
LIMA seria uma empresa individual com capital social de R$ 100.000,00 (cem mil reais) e cujo
CNAE principal seria Consultoria em TI, tendo como CNAE secundário Suporte Técnico,
Manutenção e Outros Serviços em TI.

Aduziu também que, na residência de TUNAY e MÁRCIA, teria sido apreendida


grande quantidade de dinheiro em espécie (mais de treze milhões de reais), acondicionado em
malas e em alguns envelopes ostentando nome de supostos clientes.
D) MICHAEL MAGNO seria um operador no esquema criminoso denunciado,
atuante como consultor credenciado, vinculado diretamente aos sócios administrativos TUNAY
LIMA e MÁRCIA DOS ANJOS. Nesse sentido, o denunciado constaria de planilha apreendida
em meio eletrônico, com GLAIDSON DOS SANTOS. Corroborando a vinculação estreita de
MICHAEL MAGNO com o esquema criminoso, a Receita Federal teria apresentado informação
indicando que MICHAEL MAGNO, assim como GLAIDSON DOS SANTOS, MIRELIS
ZERPA e TUNAY LIMA, seria “sócio” da GAS CONSULTORIA. Tal informação teria sido
objeto de declaração do corretor de imóveis RONALDO FERNANDEZ MENDEZ (CPF
025.658.867-80) ao justificar, em sua DIRF, a transferência de R$ 5.000.000,00 (cinco milhões
de reais), em 2019 para a GAS CONSULTORIA, como um empréstimo. Haveria ainda grande
quantidade de transações financeiras que teriam sido travadas entre MICHAEL MAGNO e os
sócios administrativos TUNAY LIMA e MÁRCIA DOS ANJOS. A RFB, no Relatório
EFRAU06 nº 012/2021, teria apontado três notas, emitidas em 2020 pela empresa FAST SHOP
S.A em nome do investigado em questão, nas quais constaria o e-mail tunayplima@gmail.com,
pertencente ao codenunciado TUNAY. Também teriam sido encontradas duas notas emitidas em
nome de MICHAEL, referentes a duas mesas de jogos, nas quais constaria, como endereço dele,
“Rua Omar Fontoura 241 apt 202”, onde residiria GLAIDSON. Enunciou que reforçaria
igualmente a ligação de MICHAEL com o casal TUNAY e MÁRCIA a circunstância de que
todos eles teriam adquirido lanchas e automóveis de luxo em 2020, em datas próximas e alguns
desses bens na mesma loja, a AMAZON PESCA E CAMPING EIRELI, CNPJ 31.447.174/0001-
20. Desferiu que, conforme notas fiscais analisada pela RFB, MICHAEL e MÁRCIA teriam
comprado suas embarcações em datas bastante próximas e, assim como TUNAY na compra dos
carros, teriam se valido de cartas de crédito de consórcio para adquirir os bens, sendo ainda certo
que a RFB teria apurado que, em dezembro de 2020, MICHAEL teria adquirido um imóvel no
Condomínio Quintas do Rio, Barra da Tijuca, mesmo condomínio em que residiria MÁRCIA,
pretensamente de acordo com notas fiscais emitidas em seu nome e contrato de aluguel em nome
da CONSULTORIA LIMA; teria ainda a RFB elucidado que MICHAEL, TUNAY e MÁRCIA
teriam contas bancárias na Agência 4294 do Banco do Brasil (Banco do Brasil Estilo Barra da
Tijuca) e na Agência 0006 do Banco Safra (Banco Safra Candelária), na qual GLAIDSON
também possuiria conta, conforme ressairia do Relatório nº 012/2021 da EFRAU06. Indicou que
haveria também coincidência no Mac-Address relacionado à transmissão das DIRPFs 2020 de
MICHAEL MAGNO, Juliana (sua esposa), TUNAY LIMA e MÁRCIA DOS ANJOS, o que
indicaria utilizarem todos os serviços do mesmo contador, Gerri Adriani da Silva (CPF
011.087.957-06), sócio da DIRECIONAL SERVIÇOS CONTÁBEIS LTDA (CNPJ 07.290.111
/0001-29). Além das DIRPF, o MAC Address 34-E6-D7-FD05-BA também teria sido
empregado na transmissão das declarações da MAGNO GESTÃO IMOBILIARIA EIRELI,
empresa de MICHAEL MAGNO, e das empresas CONSULTORIA LIMA e CONSULTORIA
DOS ANJOS, tendo também o Parquet apontado ainda diversas ligações telefônicas entre
MICHAEL e o casal TUNAY e MARCIA, além de conversas tratadas entre MICHAEL e
VICENTE e ANDRIMAR, igualmente integrantes do pretenso esquema.

Afirmou ainda que MICHAEL, a partir dos diálogos interceptados, teria


explicado a dinâmica de envio de valores para o exterior por meio de criptoativos, de modo a
frustrar eventuais bloqueios judiciais, ressaltando que GLAIDSON não lhe enviaria dinheiro
fiduciário para que não fossem encontrados quaisquer indícios que os vinculassem.
Segundo o Parquet, ainda a partir também de diálogos interceptados, na véspera da
deflagração da denominada "Operação Kryptos", MICHAEL teria indicado que, depois do
nascimento de sua filha, iria morar nos Estados Unidos da América, sendo ainda certo que,
depois da saída da equipe policial da casa de seus sogros no Condomínio Alphaville, em Santana
de Parnaíba/SP, MICHAEL teria feito contato com o suporte da Apple, a fim de que
fossem retirados imediatamente os dados do seu iCloud ID do aparelho que fora apreendido, sob
a justificativa de que teria sido o aparato roubado.

E) VICENTE GADELHA e ANDRIMAR VERGEL, DIEGO VIEIRA e


MARIANA BARBOSA CORDEIRO, PAULO HENRIQUE ROSA DE LANA e KELLY
PEREIRA DEO DE SOUZA LANA também integrariam a organização criminosa desbaratada,
sendo ainda certo que, à exceção de MARIANA CORDEIRO, todos eles teriam figurado como
sócios administrativos no esquema. MARIANA CORDEIRO teria apenas auxiliado seu marido
DIEGO VIEIRA na ocultação e dissimulação da movimentação de valores da organização
criminosa.

Segundo o Parquet, o denunciado DIEGO VIEIRA era o proprietário da empresa


DVG CONSULTORIA EM TECNOLOGIA DA INFORMACAO EIRELI (CNPJ 31.624.348
/0001-83), ativa entre 2018 e 2020, que teria tido como coproprietário, até 2019, o igualmente
denunciado VICENTE GADELHA. Em 2020, a empresa DVG teria sido sucedida pelas
empresas DSV CONSULTORIA EMPRESARIAL LTDA (CNPJ 38.388.553/0001-36) e
DVMC EMPREENDIMENTOS E PARTICIPACOES LTDA (CNPJ 38.709.544/0001-08),
ambas pretensamente ainda em atividade.

Enunciou que VICENTE teria sido sócio da DVG CONSULTORIA até 2019, ao
lado de DIEGO, e que a pessoa jurídica, agora baixada, teria tido, como primeira sede, o mesmo
endereço da empresa de G.A.S., de propriedade de GLAIDSON, líder da possível organização
criminosa: Avenida Julia Kubistchek, 16, sala 212, Cabo Frio/RJ; teriam ainda sido identificadas
vinculações e transações financeiras robustas entre eles e GLAIDSON e sua empresa G.A.S.
Pontuou que, da mesma forma, teria sede neste mesmo local a B CORDEIRO CONSULTORIA
DIGITAL DOS LAGOS EIRELI (CNPJ 32.800.012/0001-97), de propriedade de MARIANA
CORDEIRO, esposa de DIEGO e sua parceira no esquema criminoso, sendo certo que esta
pessoa jurídica, além de ter sede declarada no mesmo endereço da G.A.S., também se utilizaria
dos serviços do mesmo contador que atenderia a empresa de GLAIDSON, de nome Carlos
André do Espírito Santo

Pontificou que, apesar de MARIANA CORDEIRO não constar nas planilhas de


sócios administrativos encontradas no material telemático colhido com autorização judicial, teria
ela integrado a organização criminosa como “laranja” e braço direito do esposo DIEGO
VIEIRA, protagonizando a criação de empresas, em seu nome e de seu genitor, para viabilizar a
atuação de DIEGO, no esquema capitaneado por GLAIDSON. Ainda sobre a pertinência de
MARIANA CORDEIRO à organização criminosa, destacou o Ministério Público conversa de
MIRELIS com a conta WhatsApp 5521980963048@s.whatsapp.net, contato salvo como Renata
Santos Privado, provável funcionária da GAS, no qual MIRELIS teria solicitado que lhe fosse
informado o valor que FELIPE NOVAIS e DIEGO possuiriam investido na empresa, sendo
certo que, no diálogo, a sócia líder do esquema criminoso atrelaria o investidor DIEGO a sua
esposa MARIANA, do que não existiria dúvida quanto a sua integração ao grupo.

Decretou que DIEGO VIEIRA também seria proprietário oficioso da empresa


DCN CONSULTORIA EM TECNOLOGIA DA INFORMACAO EIRELI (CNPJ 36.412.471
/0001-54), alegadamente registrada em nome de DOMINGOS CORDEIRO NETO (CPF
306.111.307-00), pai de MARIANA CORDEIRO e, portanto, sogro de DIEGO, que seria ainda
procurador, junto ao Banco do Brasil, para movimentação da conta de titularidade desta pessoa
jurídica, o que constaria de comunicação elaborada pelo COAF.

Sustentou que as movimentações atípicas pretensamente detectadas na conta


mantida pela DCN CONSULTORIA EM TECNOLOGIA DA INFORMACAO EIRELI (CNPJ
36.412.471/0001-54), junto ao Banco do Brasil, seriam em tudo semelhantes àquelas levadas a
cabo pela empresa DVG, evidenciando seu uso para o trânsito de recursos de terceiros,
cooptados pela oferta dos contratos de investimento pela organização criminosa. Afiançou
que, entre setembro/2019 e agosto/2020, tal conta teria acolhido, a crédito, R$ 46.569.592,54,
dos quais R$ 26.806.224,55 se originariam de contas da empresa GAS CONSULTORIA, por
meio de 39 transações, e R$ 419.687,08 seriam provenientes da empresa GAS ASSESSORIA,
por meio de uma única transação. Assim, 58% dos recursos que teriam abastecido a conta da
DCN CONSULTORIA, junto ao Banco do Brasil, teriam se originado em empresas de
propriedade de GLAIDSON ACÁCIO DOS SANTOS. defendeu ainda que o órgão de
inteligência financeira teria pontuado que a empresa DCN teria movimentado exatamente a
mesma quantidade de valores a débito (R$ 46.569.592,54), dos quais R$ 800.000,00 teriam sido
direcionados à empresa GAS CONSULTORIA, e R$ 900.000,00 teriam favorecido a empresa
GAS ASSESSORIA – totalizando apenas 3% do total de débitos; suscitou que o maior
beneficiário de recursos egressos da empresa DCN teria sido DIEGO VIEIRA, em favor de
quem teriam sido transferidos R$ 6.371.000,00, em 16 operações, sendo ainda digno de nota que
a empresa B CORDEIRO, de propriedade de MARIANA CORDEIRO, teria realizado duas
transações, no total de R$ 1.769.838,21, favorecendo a empresa DCN, formalmente de seu
genitor, porém administrada de fato por seu esposo. Destacou, com fins de comparação, que
DOMINGOS CORDEIRO NETO (pai de MARIANA), em nome de quem a empresa DCN está
registrada, teria protagonizado apenas uma transação atípica com a própria empresa, no valor de
R$ 100,00.

Sustentou que DIEGO VIEIRA teria se utilizado da empresa DCN para receber e
enviar valores para outros integrantes da organização criminosa e que o volume de recursos que
GLAIDSON teria aportado nas contas das empresas DVG, tanto no Banco do Brasil, como no
Inter, indicaria o esquema criminoso operado pelo grupo, dado que os recursos exclusivamente
captados de terceiros por DIEGO e VICENTE seriam insuficientes para manter a remuneração
mensal prometida aos investidores nos contratos de prestação de serviços com eles firmados, o
estaria a demandar a injeção de vultosos valores por outros operadores. Debateu que, ademais,
DIEGO VIEIRA manteria estreita relação bancária com outros integrantes da organização
criminosa que teriam disseminado o esquema em outros pontos do território nacional, como
Brasília/DF e Campo Grande/MS, e que, nesse sentido, teriam sido identificadas transações
envolvendo FELIPE NOVAIS, KAMILA NOVAIS, PHILIPP CARNEIRO (amigo de FELIPE
NOVAIS e sócio de KAMILA NOVAIS), CARINA FRANÇA (esposa de PHILIPP
CARNEIRO) e as empresas B&J TRANSPORTES LTDA e CARNEIRO NOVAIS
ADVOGADOS ASSOCIADOS, além de operações recorrentes com ELIANE DE LIMA e com
a empresa GLA SERVIÇOS, vinculadas a LAURINEY DOS SANTOS, fixados em Campo
Grande/MS, ambos alegadamente investigados.

Esgrimiu que os recursos ilicitamente obtidos pelo casal DIEGO VIEIRA e


MARIANA CORDEIRO, através de sua suposta pertinência à organização criminosa em tela,
estariam sido ocultados fora do território nacional, e que, no curso das apurações, a RFB, no
Relatório EFRAU, teria indicado que DIEGO possuiria bens, que somados, teriam expressão
econômica superior a R$ 4.000.000,00, e não teriam sido declarados ao Fisco Federal, sendo
certo que teriam sido encontradas 2 "offshores" em que DIEGO seria indicado documentalmente
como Diretor, uma sediada na Flórida/EUA e outra no Panamá.

Asseverou que, embora a empresa LIBERTY TRADER LLC tenha sido


constituída em 2020, tornando-se exigível ser a participação acionária informada ao Fisco
Federal em 2021, a empresa DSV ROBOTICA CORP teria sido constituída em 2019, e, nesta
medida, já deveria ter sido objeto de declaração en 2020, o que não teria ocorrido.

Afirmou que VICENTE GADELHA e sua companheira ANDRIMAR MORAYA


também integrariam a organização criminosa, conforme ressairia de documentos apreendidos
com a quebra de sigilo telemático de GLAIDSON. esgrimiu que, em 2019, VICENTE teria
deixado de ser sócio de DIEGO, e teria constituído a VGR TECNOLOGIA DA INFORMACAO
EIRELI (CNPJ 33.166.187/0001- 57), que seria ainda ativa, e que, em 2017, VICENTE já teria
sido proprietário da VGR AGROPECUARIA LTDA (CNPJ 28.372.433/0001-97), também em
atividade e cujo quadro social seria por ele dividido com sua
companheira ANDRIMAR; debateu que o RIF 63386 consolidaria operações atípicas
capitaneadas por VICENTE GADELHA e as pessoas físicas e jurídicas a ele relacionadas,
incluindo ANDRIMAR MORAYMA, e que seria possível aferir, a partir das movimentações
milionárias realizadas em suas contas bancárias, que o casal em tela estaria associado ao
esquema criminoso sob análise.

Alegou que, entre janeiro/2020 e junho/2021, VICENTE GADELHA, valendo-se


de 3 contas mantidas em nome da empresa VGR TECNOLOGIA, teria movimentado R$
442.430.819,00 a crédito e R$ 446.422.475,00 a débito, e que ANDRIMAR cumularia as
funções de consultora e sócia administrativa, já que arregimentaria ela própria investidores, para
compor a carteira dela e de VICENTE, bem como repassaria valores para a quitação de
contratos, e que, nesse sentido, teriam sido encontrados arquivos importantes sobre ela, a partir
da quebra de sigilo de dados telemáticos de FELIPE NOVAIS.

Ainda segundo o Ministério Público, o RIF 63386 daria conta de transações


financeiras também entre a empresa do denunciado VICENTE e a empresa da denunciada
MIRELIS, sendo certo que, analisando o tráfego de valores em uma das contas mantidas pela
empresa VGR TECNOLOGIA junto ao Banco Santander (agência 805, conta 130007714), seria
possível identificar que, no período entre 01/01/2021 e 18/03/2021 (portanto, em pouco mais de
2 meses), dos R$ 110.260.755,00 creditados, R$ 100.960.373,00 (91% do total) teriam sido
provenientes de 44 transações realizadas com a empresa M Y D ZERPA TECNOLOGIA
EIRELI; e, levando em consideração apenas o nicho de transações atípicas reportadas, a empresa
M Y D ZERPA não teria sido beneficiária de valores egressos dessa conta, apesar do altíssimo
aporte feito, mas a empresa GAS CONSULTORIA, de propriedade de GLAIDSON, teria
recebido R$ 3.043.718,00, através de 18 transações, sendo ainda certo que essa conta no
Santander teria recebido um crédito de R$ 2.292.508,00, por meio de uma transação, da empresa
GML CONSULTORIA & TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO EIRELI (CNPJ 37.749.038
/0001-71), que estaria sediada na Avenida Júlia Kubistchek, 16, sala 212, Cabo Frio/RJ, mesmo
endereço da VGR TECNOLOGIA e, sobretudo, de outras empresas pertencentes a GLAIDSON.
Vislumbrou que, na conta mantida pela empresa VGR TECNOLOGIA no Banco do Brasil
(agência 2592, conta 17261), teriam sido recebidos, entre 29/06/2020 e 21/06/2021, R$
269.970.064,00, dos quais R$ 138.957.183,81 (51% do total) teriam se originado em contas
registradas sob a titularidade da empresa M Y D ZERPA, por meio de 55 transações, e que, neste
caso, a empresa M Y D ZERPA teria recebido, no mesmo lapso temporal, R$ 4.062.501,40,
através de 13 operações, sendo ainda digno de nota que a conta mantida junto ao Banco do
Brasil, da mesma forma aquela pertinente ao Banco Santander, teria recebido aportes também da
empresa GML CONSULTORIA & TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO EIRELI, no total de
R$ 2.430.899,09.

Articulou que as contas de VICENTE GADELHA e da empresa VGR


TECNOLOGIA, junto a diversas instituições financeiras, teriam registrado outras operações em
contexto de atipicidade, envolvendo pessoas físicas e jurídicas envolvidas com a organização
criminosa. Destacou que, por ocasião das buscas e apreensões no dia da deflagração da fase
ostensiva da denominada "Operação Kryptos", teria sido cumprido mandado em endereço
atrelado a VICENTE, na Rua Sérgio Arouca, n.º 265, Condomínio Quintas do Rio, Barra da
Tijuca, Rio de Janeiro/ RJ, e lá teriam sido encontrados, além de documentos relativos a
processo criminal que lhe teria tido no polo passivo, referente a delitos de descaminho,
anotações e documentos que deixariam clara a sua posição de sócio no esquema criminoso
alegadamente capitaneado por GLAIDSON e MIRELIS.

Apontou o Parquet ainda anotações e documentos relativos a contrato da empresa


VGR em Dubai, com a Al Sayegh Insurance Brokrs LLC, extratos bancários de ANDRIMAR, e
anotações sobre diretrizes a serem conversadas e passadas a consultores a ele subordinados no
escritório da Paraíba, e que igualmente demonstrariam a integração de VICENTE e
ANDRIMAR ao esquema.

Afirmou também que teriam sido apuradas ligações subjetivas e financeiras que
demonstram a pertinência do casal PAULO HENRIQUE ROSA DE LANA e KELLY
PEREIRA DEO DE SOUZA LANA à suposta organização criminosa, e que teria sido
o vínculo de amizade entre eles e o casal VICENTE e ANDRIMAR que teria produzido seu
ingresso no grupo. Pontuou que, segundo a Receita Federal, eles se conhecem pelo menos desde
2014, quando teriam empreendido viagem em grupo para Israel, e que PAULO LANA seria
proprietário das empresas IPPON ASSESSORIA E CONSULTORIA LTDA (CNPJ 04.120.725
/0001-74), LANATECH CONSULTORIA EM TECNOLOGIA DA INFORMACAO EIRELI
(CNPJ 32.076.588/0001-53) e PL CONSULTORIA EM TECNOLOGIA DA INFORMACAO
EIRELI (CNPJ 34.653.421/0001-33), as duas primeiras ainda ativas e a terceira baixada em
2020. Debateu que a empresa LANATECH teria, como coproprietária, sua esposa KELLY
PEREIRA DEO DE SOUZA LANA, e que a análise das contas de PAULO LANA e dessas 3
empresas não deixaria dúvidas acerca de sua participação na captação de recursos de terceiros
para aplicação nos esquemas pretensamente liderados por GLAIDSON, sendo certo
que informações alegadamente retiradas do RIF 63387 apontariam as operações suspeitas
realizadas por pessoas físicas e jurídicas relacionadas PAULO, inclusive com participação de
KELLY.

Destacou que, na conta mantida pela empresa IPPON junto ao banco Original
(agencia 0001, conta 28997050), teriam sido movimentados, entre 10/12/2019 e 06/03/2020, R$
1.373.062,00, dos quais R$ 1.363.312,00 (99,28%, ou quase a totalidade) teriam sido remetidos
por GLAIDSON, por meio de 50 transações, e que o mesmo padrão teria sido observado na
movimentação da conta da empresa LANATECH junto ao banco Original (agência 0001, conta
43182720), para o período de 21/08/220 a 15/10/2020: dos R$ 8.498.731,00 que a empresa
LANATECH teria movimentado a crédito, R$ 5.121.859,26 (cerca de 60%) teriam sido
remetidos pela empresa M Y D ZERPA, de propriedade de MIRELIS ZERPA, esposa de
GLAIDSON, e R$ 2.502.511,25 (cerca de 30%) teriam partido da empresa GSA
CONSULTORIA E TECNOLOGIA DA INFORMACAO EIRELI (CNPJ 36.670.058/0001-90),
teria sede no mesmo endereço da empresa M Y D ZERPA. Portanto, prosseguiu o Ministério
Público, quase a totalidade dos valores que que teriam ingressado na conta da LANECTH, no
período indicado, teriam partido de pessoas jurídicas com estreitos vínculos com GLAIDSON, e
pontuou que, em apenas uma semana de janeiro de 2021 (mais precisamente entre 21/01/2021 e
28/01/2021), a conta da empresa LANATECH, mantida junto à Dock Soluções em Meio de
Pagamento (conta 5778), teria movimentado R$ 7.762.248,00 a crédito, tendo sido R$
7.728.527,85 (99,56%) provenientes de 10 transações capitaneadas pela empresa GAS
CONSULTORIA, de propriedade de GLAIDSON, e que os débitos teriam sido concentrados no
pagamento de boletos (R$ 3.872.248,00) e em 7 transferências que teriam totalizado R$
3.508.00,00, direcionados à empresa DEO ASSESSORIA E CONSULTORIA DIGITAL (CNPJ
36.924.065/0001-70), pertencente a LUIS CARLOS DEO DE SOUZA (CPF 582.904.277-00),
pai de KELLY DE LANA.

Enunciou que a empresa GSA CONSULTORIA também teria arcado com grande
parte da movimentação a crédito da empresa PL CONSULTORIA, em conta mantida junto ao
banco Original (conta 27916286), também de propriedade formal de PAULO DE LANA, para o
período de 15/05/2020 a 15/07/2020 (portanto, exatos 2 meses): da quantia de R$ 5.101.824,00
recebida pela empresa, R$ 4.000.000,00 (78%) teriam sido provenientes da empresa GSA
CONSULTORIA.

F) JOÃO MARCUS DUMAS e LARISSA DUMAS também seriam importantes


personagens que integrariam a organização criminosa como sócios administrativos,
desenvolvendo atividade de extrema relevância nesse esquema criminoso bilionário e de atuação
internacional, sendo certo que, conforme planilha de custódia de valores apresentada, JOÃO
MARCUS e LARISSA figurariam como responsáveis por valores na ordem de R$
33.503.435,59, no mês de setembro de 2020.
Enunciou o Parquet que, pelo menos a partir de meados de 2018, quando teria
iniciado vínculo empregatício GAS, JOÃO MARCUS teria integrado a organização criminosa, e
que LARISSA, por sua vez, na condição de empregada da empresa, a partir de novembro do
mesmo ano, teria atuado também como mais que mera empregada, para o atingimento das
finalidades visadas pela organização criminosa, tanto que teria funcionado como procuradora da
empresa, representando-a e promovendo seus interesses junto a instituição bancárias.

Apontou que inúmeras transações bancárias suspeitas, que teriam sido objeto de
comunicação pelo UIF/COAF e envolvendo o casal JOÃO MARCUS e LARISSA e suas
empresas, indicariam sua estreita ligação com GLAIDISON, a G.A.S. e outros codenunciados,
integrantes da pretensa organização criminosa, e demonstrariam a importância da atuação de
ambos no esquema criminoso, e quea atuação do casal JOÃO MARCUS PINHEIRO DUMAS
VIANA e LARISSA VIANA FERREIRA DUMAS, na qualidade de operadores financeiros do
grupo criminoso, seria vital para a execução das movimentações de dinheiro, tanto nas contas
quanto em espécie, garantindo o funcionamento da engrenagem concebida por GLAIDSON
DOS SANTOS, o que seria evidenciado pelos elementos de convicção coletados no curso da
apuração. Pontuou que Relatórios de Inteligência Financeira, produzidos pela UIF/COAF,
apontariam a relação de confiança firmada entre o casal JOÃO MARCOS/LARISSA e a cúpula
do esquema criminoso, e que o papel de LARISSA DUMAS na organização criminosa teria se
mostrado inequívoco e de extrema relevância, uma vez que figuraria como procuradora
autorizada a promover a movimentação de valores na conta bancária da GAS, mantida junto ao
Banco do Brasil em Cabo Frio/RJ, onde teriam sido transacionados, de maneira suspeita, R$
2.912.617.006,00, no período de 03/06/2020 a 03/12/2020, como ressairia do item 3.7 do
Relatório de Inteligência Financeira nº 62948120.

Do mesmo modo, JOÃO MARCUS DUMAS teria sido apontado como portador de
depósitos em espécie, que teriam sido realizados no período de 01/04/2019 a 22/07/2012, na
conta nº 10008461, mantida junto ao Banco Bradesco, de titularidade de GLAIDSON DOS
SANTOS, sendo ainda certo que o casal JOÃO MARCUS/LARISSA apareceria também como
destinatário de recursos originados em conta titularizada por GLAIDSON DOS SANTOS junto
ao Banco Inter S/A, em Belo Horizonte/MG, através de transferências suspeitas que totalizariam
R$ 2,1 milhões para JOÃO MARCUS e R$ 11,8 milhões para LARISSA, no período de 01/06
/2019 a 08/01/2020, conforme teria sido evidenciado no item 4.129 do RIF nº 62948, Relatório
nº 012/2021 da EFRAU06. Enunciou que outras comunicações de operações suspeitas teriam
sido emitidas, envolvendo depósitos de dinheiro em espécie realizados por JOÃO MARCUS
DUMAS em contas bancárias da GAS CONSULTORIA.

Afirmou que, a partir das funções declaradas por JOÃO MARCUS DUMAS,
quando da abertura de sua conta junto ao Banco Inter S/A, em Belo Horizonte/MG, a
movimentação financeira teria sido realizada no interesse da organização criminosa, o que se
depreenderia do fato de que teriam sido movimentados mais de seis milhões de reais, no período
de 01/11/2019 a 10/06/2020, não obstante o cliente tenha declarado como atividade "trabalho de
atendimento a público, caixa, despachante, recenseador e afins", com indicação de
perceber rendimento mensal de R$ 3.500,00 e titularizar patrimônio de R$ 25.000,00, sendo
certo que parte dos créditos (R$ 2,4 milhões) teria vido de GLAIDSON DOS SANTOS.
Anunciou que, no interesse da organização criminosa, JOÃO MARCUS DUMAS
teria movimentado mais de sete milhões de reais em conta mantida junto ao Banco Itaú em Cabo
Frio/RJ, no período de 09/04/2020 a 05/10/2020, durante o qual teria ele afirmado perceber
renda mensal de cerca de oito mil reais, provenientes de sua alegada atuação como técnico em
eletricidade, eletrônica, telecomunicações, o que seria completamente incompatível com os
valores pretensamente movimentados, e que, mais recentemente, entre 15/03/2021 a 16/04/2021,
JOÃO MARCUS DUMAS teria movimentado R$ 1.199.951,00, em conta aberta junto ao Banco
Original em São Paulo/SP, apesar de apresentar renda mensal de aproximadamente seis mil
reais, como teria sido apontado no item 1.3 do RIF 63541. Esclareceu que JOÃO MARCUS
seria, atualmente, titular da VIANA ASSESSORIA & CONSULTORIA EM TECNOLOGIA
DA INFORMAÇÃO EIRELI, CNPJ 38.116.320/0001-84, aberta em 17/08/2020, e LARISSA
controlaria a DUMAS CONSULTORIA & TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO EIRELI, CNPJ
35.191.340/0001-21, aberta em 15/10/2019, que estaria sediada em Cabo Frio/RJ no mesmo
endereço de outras empresas relacionadas ao esquema.

Afiançou que JOÃO MARCUS e LARISSA apenas teriam transmitido uma única
Declaração de Importo de Renda, referente a 2020, na qual teriam sido informados rendimentos
tributáveis no importe de R$ 120.000,00, recebidos da J.L.V CONSULTORIA e da DUMAS
CONSULTORIA, respectivamente, o que demonstraria, de forma inequívoca, a inexistência de
capacidade financeira para o empreendimento das pretensamente vultosas transações às quais
vinculados, de modo a confirmar que ambos seriam extremamente atuantes como operadores
financeiros da organização criminosa, e seria vislumbrável total descompasso entre as
movimentações financeiras realizadas e os rendimentos lícitos declarados, em relação a ambos, o
que teria sido apontado pela Receita no Relatório nº 012/2021, em que teria sido indicado que
JOÃO MARCUS teria movimentado R$ 14.712.443,51 e LARISSA R$ 3.655.281,40, no ano de
2020. Ao sentir do Ministério Público, tais fatos apontariam para a relevância do casal na
movimentação financeira da organização criminosa, incumbidos de atividades vitais à
manutenção do esquema, e seria certo que teriam sido feitas diversas comunicações de
instituições financeiras ao COAF sobre operações suspeitas envolvendo depósitos em espécie
nas contas da empresa CONSULTORIA LIMA, ligada ao casal TUNAY/MÁRCIA, pessoas
também supostamente integradas ao grupo. Enunciou que o RIF 62690 teria apontado, ao menos,
4 comunicações de instituições financeiras ao COAF sobre operações suspeitas envolvendo
depósitos em espécie nas contas da empresa CONSULTORIA LIMA, os quais retratariam
valores altos, de R$ 400.000,00 até R$ 1.150.019,00, realizados por JOAO MARCUS
PINHEIRO DUMAS VIANA, e que essa mesma mecânica de atuação do denunciado JOÃO
MARCUS ficaria evidenciada em outras 6 comunicações realizadas ao COAF por instituições
financeiras em relação à mesma empresa CONSULTORIA LIMA, conforme teria sido objeto do
RIF 62748, sendo certo que JOÃO MARCUS, cuja capacidade financeira e profissões/atividades
econômicas não justificariam tal aporte ou movimentação de recursos, teria feito transferência
em favor da CONSULTORIA LIMA, que pertenceria ao esquema de GLAIDSON, no importe
de de R$ 2.031.355,00.
Alegou ainda que, conforme RIF 62748, haveria demonstrações de operações
financeiras pretensamente realizadas por JOÃO MARCUS DUMAS, no interesse de outros
integrantes da suposta organização criminosa, TUNAY e MÁRCIA, tendo realizado diversos
depósitos de altos valores em dinheiro em datas bem próximas, todos feitos e informados pelo
Banco do Brasil, Agência Barra da Tijuca – 2507, localizada em Cabo Frio/RJ.

Debateu que a pertinência de JOÃO MARCUS PINHEIRO DUMAS VIANA e


LARISSA VIANA FERREIRA DUMAS à organização criminosa seria reforçada por diversos
elementos de convicção, dentre os quais os já citados relatórios em que apontadas as
comunicações suspeitas relatadas pelo UIF/COAF, bem como o Relatório nº 012/2021 da
EFRAU06 da Receita Federal, além de dados resgatados a partir de autorização judicial de
afastamento de sigilo telemático; indicou que JOÃO MARCUS PINHEIRO DUMAS VIANA e
LARISSA VIANA FERREIRA DUMAS residiriam no mesmo prédio que outros membros da
organização criminosa (GLAIDSON, TUNAY e PAULO HENRIQUE), e ostentariam vínculo
empregatício com a empresa G.A.S CONSULTORIA, a principal engrenagem de atuação do
grupo, e, além disso, o casal JOÃO MARCUS/LARISSA constaria das planilhas da GAS na
condição de “sócio adm” e também sócio das empresas J L V CONSULTORIA EM
TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO EIRELI (37.321.732/0001-93) e C.A.E.C. GESTOR E
TECNOLOGIA CORPORAÇÕES LTDA (41.076.666/0001-00), que seriam usadas de forma
constante para movimentação financeira, integradamente ao esquema pretensamente delituoso.

Argumentou que, de acordo com as informações levantadas pela RFB, comunicado


do Banco Inter para a DUMAS CONSULTORIA indicaria JOÃO MARCUS como sócio,
apontando que as transações a crédito, em sua maioria, teriam em GLAIDSON a origem dos
recursos transacionados, e, a partir do momento em que encerrado o vínculo da instituição
financeira com este, o mesmo perfil de transações teria passado a ser observado em relação à
GSA CONSULTORIA, empresa pertencente a GUILHERME SILVA DE ALMEIDA, sendo
ainda certo que haveria indicação de que a DUMAS CONSULTORIA teria recebido, neste
período, créditos no valor de R$ R$ 3.684.786,99, sendo R$ 1,2 milhão de GLAIDSON, R$ 1,1
milhão da GSA, empresa de GUILHERME, e R$ 1,1 milhão de LARISSA, titular da empresa.
Teria ainda a RFB apurado a existência de comunicação do Banco Inter relativa a LARISSA, no
período de 01/11/2019 a 09/06/2020 (RIF 57517, ID 23577925) dando conta de que teria ela
recebido a crédito R$ 2.856.865,71 sendo que R$ 2.600.000,00 teriam se originado em conta sob
controle de GLAIDSON. De acordo com as informações do Banco Inter, tanto a conta de
LARISSA quanto a conta da DUMAS CONSULTORIA seriam contas de passagem para os
recursos financeiros de GLAIDSON, da mesma forma como diversas outras empresas, sendo
ainda certo que outro comunicado do Banco Inter (RIF 57517, ID 21314896), também constante
do documento intitulado RELATÓRIO DE ATIVIDADES – EFRAU 06, referente ao período de
01/06/2019 a 08/01/2020 e alegadamente focado em GLAIDSON, apontaria que as contas de
JOÃO MARCUS e LARISSA teriam recebido, de GLAIDSON R$ 2.100.000,00 cada uma.
Pontuou que, no curso de monitoramento telefônico judicialmente autorizado, teria sido
ratificado cenário de que JOÃO MARCUS seria notório operador do fluxo financeiro, em
espécie, do grupo. Disse o Ministério Público que, de acordo com o Relatório de Interceptação
AC 01, depois do dia 15/08/2021, JOÃO MARCUS teria orientado um empregado da GAS a
falar por códigos e a não armazenar grandes quantidades de dinheiro, tendo proferido os seguinte
dizeres "o dinheiro entrou, saiu, entrou saiu", sendo ainda certo que a preocupação de JOÃO
MARCUS com a custódia de valores altos seria decorrente de impedimento imposto pelo Banco
do Brasil, horas antes, tendo sido obstado o recebimento de depósito em espécie, orçado em R$
2.400.000,00 (dois milhões e quatrocentos mil reais), em relacionamento com conta
de titularidade da GAS e da MYD, empresas de GLAIDSON e MIRELIS, respectivamente.
Defendeu que constaria do mesmo relatório de interceptação AC 01 que, ao tomar ciência do
problema, JOÃO MARCUS teria entrado em contato com VICTOR LEMOS e indicado que
GLAIDSON teria solicitado a "bancarização" do dinheiro, ou seja, que o dinheiro fosse
depositado em uma instituição bancária, e, objetivando sanar o problema, VICTOR teria entrado
em contato com o gerente-geral da agência.

Apontou que a atuação de LARISSA também não seria meramente coadjuvante


àquela de JOÃO MARCUS, na medida em que, além de figurar como procuradora de titulares
de diversas contas, LARISSA seria tida por “sócia administrativa” no esquema, conforme teria
constado de planilhas encontradas por força do afastamento judicialmente autorizado do sigilo
de dados telemáticos de GLAIDSON. Essa posição de destaque de LARISSA na organização,
prosseguiu o Ministério Público, também seria evidenciada pelo teor de diálogo interceptado na
manhã da deflagração da fase ostensiva da operação, ao orientar ela BIANCA, que teria sido
identificada como BIANCA PEREIRA BATISTA, CPF 127.093.997-17, exercente da função de
secretária-executiva da GAS, a não se dirigir à sede da empresa, onde haveria agentes policiais
cumprindo determinações judiciais.

Nessa condição, ainda conforme o Ministério Público, deteriam eles atribuição para
orientar parte dos membros do grupo criminoso na atividade de angariar mais clientes e recursos
para o esquema, bem como lhes teria sido atribuída a função de operadores financeiros, para
possibilitar a movimentação de grandes somas em espécie, inserindo tais valores no sistema
financeiro formal, por meio das contas abertas em nome das empresas titularizadas por JOÃO
MARCUS e por LARISSA, que seriam utilizadas para escoar o dinheiro da organização
criminosa, recebido diretamente das contas de GLAIDSON e de outras pessoas a ele
relacionadas.

G) GUILHERME SILVA DE ALMEIDA e ALAN GOMES SOARES teriam


recentemente passado a fazer parte do grupo, a partir, principalmente, de meados de 2020, e
teriam sido incumbidas da função, assim como outros membros da organização criminosa que
recebem a denominação de “sócios administrativos”, de captar clientes e contratos, com vistas a
obter mais ganhos para os integrantes do esquema, utilizando toda uma estrutura de empresas
criadas, em que ambos seriam sócios, conjuntamente ou não, e que receberiam denominação de
“bancos comerciais”, objetivando criar para os “clientes” aliciados uma aparência de solidez e de
negócios regulares, bem como visando facilitar a abertura de contas em nome dessas empresas
na rede bancária formal, como forma de viabilizar a circulação dos valores da organização
criminosa.

Arguiu que GUILHERME SILVA DE ALMEIDA (CPF 061.380.077-00) teria


constituído sua primeira pessoa jurídica em 2014, um Lava Jato, em Armação de Búzios/RJ
(LAVA JATO GUIGUI, CNPJ 21.549.533/0001-05, capital social de R$ 5.000,00, atualmente
baixada), e que, em suas DIRPFs relativas aos anos de 2015 e 2016, não teria ele declarado bens,
tendo informado rendimentos recebidos de pessoa física pouco acima de vinte mil reais, sendo
ainda certo que, em 2020, teria estabelecido a GSA - CONSULTORIA E TECNOLOGIA DA
INFORMACAO EIRELI, com sede na Praça Porto Rocha, 184, sala 107, Centro, Cabo Frio/RJ,
exatamente no mesmo endereço da M Y D ZERPA TECNOLOGIA EIRELI, empresa de
MIRELIS, companheira de GLAIDSON, e junto dele líder do pretenso grupo.

Sustentou que GUILHERME teria passado a integrar o esquema criminoso por


volta de abril de 2020, com a abertura da empresa GSA, e, desde então, teria aberto mais de 100
(cem) empresas, e que documento cognominado Relatório RFB nº 012/2021, da EFRAU06, em
análise de dados de inteligência financeira enviados pelo COAF, apontaria que a empresa GSA,
de GUILHERME, teria recebido de GLAIDSON, ou da GAS, R$ 125.450.420,96 entre a sua
abertura, em 13/03/2020, e 04/12/2020, mais R$ 93.111.428,00 da M Y D, totalizando montante
superior a duzentos milhões de reais (R$ 218.561.848,96), e acresceu que a RFB teria destacado
comunicação do Banco Inter, no RIF 57517, segundo a qual a GSA, empresa de GUILHERME,
em período de cerca de 5 meses (março a julho de 2020), teria movimentado cerca de cinquenta
e dois milhões de reais, tanto a crédito quanto a débito, sendo certo que, desse valor total, R$
45,7 milhões teriam sido creditados pela G.A.S, R$ 3,8 milhões, pela CONSULTORIA LIMA
EIRELI, empresa do casal TUNAY e MÁRCIA, também supostamente integrantes da
organização criminosa, e R$ 1.630.000,00 teriam sido creditados por GLAIDSON, concluindo
que, dos R$ 52 milhões creditados na conta da GSA, R$ 50,6 milhões teriam sido originários de
GLAIDSON e TUNAY, no caso, majoritariamente creditados por GLAIDSON. Adicionalmente,
segundo o Parquet, a comunicação indicaria que as movimentações teriam se tornado mais
frequentes e alcançado valores mais altos após o término do relacionamento comercial de
GLAIDSON com o banco, no final de maio de 2020, ficando evidenciando que GUILHERME
teria atuado como um operador financeiro de GLAIDSON, utilizando as contas abertas em nome
de suas empresas para dar destinação aos valores geridos pela organização criminosa, o que
demonstraria que a GSA não teria existência fática, como ocorreria com a grande maioria das
empresas tratadas na denúncia, e constituiria mera intermediária do esquema financeiro de
GLAIDSON, servindo suas contas bancárias como contas de passagem desses recursos e foi
debatida planilha, elaborada pretensamente pela RFB, que abordados os principais débitos da
GSA, no período abrangido pela comunicação do Banco Inter, e que demonstraria que os
beneficiários seriam majoritariamente envolvidos no esquema.

Asseverou que, segundo o RIF 63540, em seu item 3.4, a GSA CONSULTORIA
teria transferido, por equívoco, a quantia de R$ 515.000,00 para aquisição de um produto da
marca Dolce & Gabbana para GLAIDSON, quando, em verdade, deveriam ter transferidos tão
somente R$ 515,00, e o documento evidenciaria, ainda, que a GSA de GUILHERME realizaria
pagamentos pessoais do líder do esquema GLAIDISON, com frequência, sendo ainda certo que,
em que pese o grande volume de movimentações financeiras de alto valor protagonizadas pela
empresa GSA, a RFB teria apurado, em seu Relatório RFB nº 012/2021 da EFRAU06, que
GUILHERME não possuiria notas fiscais emitidas em seu nome.

Sustentou também que, durante os anos de 2018 e 2019 e, ainda em 2020, seus
gastos não indicariam aquisição de bens de luxo, sendo sua nota fiscal de valor mais elevado
referente a um equipamento eletrônico do tipo "adaptador USB", com valor de R$ 3.479,94, o
que autorizaria a conclusão de que sua efetiva capacidade financeira não seria compatível com o
volume financeiro movimentado por suas empresas, e destacou que seria identificável estreita
ligação de GUILHERME com outro integrante da suposta organização criminosa, ALAN
GOMES SOARES, que seria formalmente formal de GUILHERME em, no mínimo, mais 28
empresas. Ainda segundo o Ministério Público, o relatório da RFB conteria planilha em que
arroladas essas sociedades, que não exerceriam efetivamente atividades independentes e e teriam
sido criadas justamente para viabilizar o trânsito de recursos de atividades ilícitas, como
"empresas de fachada".

Afirmou que GUILHERME e ALAN possuiriam grande número de empresas


vinculadas, praticamente todas criadas no início de 2021 e com sede na cidade de São Paulo,
num mesmo endereço, a saber a Rua Atílio Innocenti, 474, Condomínio Helbor Lead
Office, compartilhando ainda todas o mesmo CNAE: 6421200 Bancos comerciais; da mesma
forma, o número de telefone de todas as empresas seria o mesmo, (11) 3681-4681,
pretensamente pertencente à pessoa jurídica LIBRA CONSULTORIA E CONTABILIDADE
LTDA, CNPJ 03.792.102/0001-85, tendo sido apresentado fluxograma, pelo Parquet, e que
demonstraria o grau de interligação dos negócios de GUILHERME e ALAN, e como essas
empresas desempenhariam função estratégica de captação e movimentação de valores, essencial
para a continuidade da atividade criminosa do esquema pretensamente capitaneado por
GLAIDSON.

Ressaltou, ainda, que tanto GUILHERME quanto ALAN figurariam como “sócios
adm” nas planilhas da G.A.S., encontradas a partir de levantamento de sigilo telemático de
GLAIDSON judicialmente autorizado, sendo certo que a participação de GUILHERME ficaria
também evidenciada pelo quanto teria ressaído de interceptação telefônica, igualmente
autorizada pelo Juízo, e a partir da qual teria sido possível observar diversas conversas e
mensagens de texto (SMS), alegadamente comprovando a organização de estratégias para
captação de clientes, abertura de escritórios, discussão sobre faturamento, bem como transações
bancárias e/ou movimentação de valores, tudo no interesse da organização criminosa, sendo
certo que, em diversos SMS interceptados, GUILHERME teria recebido dezenas de informações
sobre as vultosas operações financeiras pertinentes a esquema.

Afiançou que a participação de ALAN teria sido também evidenciada pelo que
haveria sido captado por meio de interceptação telefônica judicialmente autorizada, tendo sido
possível observar observar diversas conversas e mensagens de texto (SMS), comprovando a
organização de estratégias para captação de clientes, abertura de escritórios, discussão sobre
faturamento, bem como transações bancárias e/ou movimentação de valores, sendo ainda certo
que, dentre os documentos alegadamente apreendidos nas buscas realizadas por ocasião da
deflagração da fase ostensiva da denominada "Operação Kryptos", teria sido localizado pela
“Equipe 7B”, na casa do também denunciado VICENTE, um contrato de compra e venda de alto
valor – portanto, não condizente com a capacidade financeira declarada por ALAN ao Fisco
Federal – o que também confirmaria o alto grau de vinculação entre diversos integrantes da
organização criminosa, eis que seria incomum que terceiros tenham sob sua guarda contratos de
compra e venda de imóveis que não lhes dizem respeito.

Ponderou que teria restado comprovado que, ao menos a partir de meados de 2020,
GUILHERME e ALAN teriam atuado na organização criminosa, tendo constituído diversas
empresas e efetuado atividades de captação de clientes e de movimentação de valores, à conta e
ordem de GLAIDSON, a fim de permitir o funcionamento do esquema fraudulento e as
movimentações de valores à margem do sistema financeiro, garantindo que o tráfego de dinheiro
entre suas diversas empresas tornasse possível o fluxo financeiro e a continuidade das atividades
do esquema.

Indicou, por fim, sua proposta de tipificação dos fatos articulados, bem como
arrolou as testemunhas que entendeu pertinentes.

É o relatório. Decido.

I - DO RECEBIMENTO DA DENÚNCIA

Trata-se de denúncia que expôs, com clareza, os fatos criminosos, com todas as
suas circunstâncias, constando, ainda, de seu teor a qualificação dos acusados e a classificação
do crime, satisfazendo, assim, os pressupostos contidos no art. 41, do CPP, como ressai do
extenso relatório acima posto, elaborado a partir do quanto consta da peça acusatória. A
acusação, por conseguinte, é plenamente compreensível, estando as condutas individualizadas e
detalhadas, como a permitir que os denunciados se defendam e o objeto da narrativa, com
proposta de capitulação, em um primeiro momento, razoável, constituiria, em tese, ilicitude
penal, pelo que não há que se falar em rejeição da exordial acusatória, com base no art. 395, I, do
CPP.

Destaco, ainda, que a interpretação a contrario sensu da regra inserta no inciso II,
do art. 395 do CPP, revela também que a presente ação deve ser admitida, porquanto ausentes as
causas de rejeição da denúncia ali elencadas, no que tange à aferição dos pressupostos
processuais e condições da ação penal.

Quanto à competência do Juízo, tal como já exposto em momentos anteriores, em


que apreciadas demandas de cunho cautelar, pertinentes às apurações então em curso na etapa
pré-processual, deve ser dito que incide, quanto a grande parte da imputação, a norma
competencial do art. 26 da Lei 7492/86, cujo fundamento de validade é o art. 109, VI, da CR/88,
do que resulta que o feito deve ser apreciado, com efeito, pela Justiça Federal, sendo certo que,
quanto ao demais, unido às imputações de violação a normas penais incriminadoras vazadas na
Lei 7492/86 por liame conexivo, incide o verbete sumular 122, da lavra do C. Superior Tribunal
de Justiça; e, tendo sido os fatos pretensamente praticados em projeção territorial sobre a qual se
estende a competência do Juízo, ao qual foram regularmente distribuídos os autos, evidente que
não se há falar em incompetência para o processamento e julgamento do feito.

Por fim, entendo estarem minimamente configuradas a autoria e a materialidade


dos crimes que, em tese, teriam sido cometidos pelos denunciados, o que se afere pelo teor da
vasta documentação que instrui a exordial.
Neste passo - material indiciário mínimo, para autorizar a lícita deflagração da ação
penal -, é certo que foram trazidos aos autos, no Evento 1, 165 ANEXOS e 2 VÍDEOS, que dão,
ao menos prima facie, suporte à narrativa denuncial; inclusive, o I. Presentante Ministerial, ao
narrar os fatos narrados na denúncia, trouxe à baila excertos das de elementos de
convicção obtidos, em um primeiro momento, no curso da investigação, notadamente no bojo do
inquérito policial nº 5051019-53.2021.4.02.5101 (IPL 2021.0036768-SR/PF/RJ-01), inquérito
policial 5044226-98.2021.4.02.5101 (IPL 2021.0031530-SR/PF/RJ-01), e cautelares nº
50918261820214025101 (prisões cautelares), nº 50918383220214025101 (busca e apreensão),
nº 50918556820214025101 (sequestro penal), nº 5057887-47.2021.4.02.5101 (quebra de dados
celulares apreendidos), nº 5062289-74.2021.4.02.5101 (quebra de sigilo fiscal), nº 5070645-
58.2021.4.02.5101 (quebra sigilo telemático), nº 5076478-57.2021.4.02.5101 (quebra de sigilo
bancário) e nº 5080234-74.2021.4.02.5101 (Interceptação Telefônica), de modo substanciar suas
alegações.

Há, portanto, indícios mínimos de materialidade e autoria dos delitos imputados


pelo Ministério Público Federal, e, conseguintemente, justa causa para o prosseguimento da ação
penal, a contrario sensu da regra inserta no inciso III, do art. 395, do CPP, sendo certo que, no
bojo do processo, à luz dos princípios do contraditório e da ampla defesa, poderão ser
confirmadas, ou não, as acusações dirigidas aos denunciados.

Por tais razões, RECEBO A DENÚNCIA em face:

1) GLAIDSON ACÁCIO DOS SANTOS, pela suposta prática dos delitos


previstos no art. 16 da Lei nº 7.492/86, na forma do art. 29, caput, do Código Penal, com
incidência da agravante prevista no art. 62, inc. I, também do Código Penal (FATO 01), art. 4º
da Lei nº 7.492/86, na forma do art. 29, caput, do Código Penal, com incidência da agravante
prevista no art. 62, inc. I, também do Código Penal (FATO 02); art. 7º, II, III e IV, da Lei nº
7.492/86 c/c art. 2º, IX, da Lei nº 6.385/76, na forma dos arts. 29 e 30 do Código Penal, com
incidência da agravante prevista no art. 62, inc. I, também do Código Penal (FATO 03); art. 2º, §
4º, III e IV, da Lei nº 12.850/2013, com incidência da agravante prevista no art. 62, inc. I,
também do Código Penal (FATO 04);

2) MIRELIS YOSELINE DIAZ ZERPA, pela suposta prática dos delitos


previstos no art. 16 da Lei nº 7.492/86, na forma do art. 29, caput, do Código Penal, com
incidência da agravante prevista no art. 62, inc. I, também do Código Penal (FATO 01); art. 4º
da Lei nº 7.492/86, na forma do art. 29, caput, do Código Penal, com incidência da agravante
prevista no art. 62, inc. I, também do Código Penal (FATO 02); art. 7º, II, III e IV, da Lei nº
7.492/86 c/c art. 2º, IX, da Lei nº 6.385/76, na forma dos arts. 29 e 30 do CP, com incidência da
agravante prevista no art. 62, inc. I, também do Código Penal (FATO 03); art. 2º, § 4º, III e IV,
da Lei nº 12.850/2013, com incidência da agravante prevista no art. 62, inc. I, também do
Código Penal (FATO 04);
3) FELIPE JOSÉ SILVA NOVAIS, pela suposta prática dos delitos previstos no
art. 16 da Lei nº 7.492/86, na forma do art. 29, caput, do Código Penal (FATO 01); art. 4º da Lei
nº 7.492/86, na forma do art. 29, caput, do Código Penal (FATO 02); art. 7º, II, III e IV, da Lei
nº 7.492/86 c/c art. 2º, IX, da Lei nº 6.385/76, na forma dos arts. 29 e 30 do CP (FATO 03);
e art. 2º, § 4º, III e IV, da Lei nº 12.850/2013 (FATO 04);

4) KAMILA MARTINS NOVAIS, pela suposta prática dos delitos previstos


no art. 16 da Lei nº 7.492/86, na forma do art. 29, caput, do Código Penal (FATO 01); art. 4º da
Lei nº 7.492/86, na forma do art. 29, caput, do Código Penal (FATO 02); art. 7º, II, III e IV, da
Lei nº 7.492/86 c/c art. 2º, IX, da Lei nº 6.385/76, na forma dos arts. 29 e 30 do CP (FATO 03);
e art. 2º, § 4º, III e IV, da Lei nº 12.850/2013 (FATO 04);

5) TUNAY PEREIRA LIMA, pela suposta prática dos delitos previstos no art. 16
da Lei nº 7.492/86, na forma do art. 29, caput, do Código Penal (FATO 01); art. 4º da Lei nº
7.492/86, na forma do art. 29, caput, do Código Penal (FATO 02); art. 7º, II, III e IV, da Lei nº
7.492/86 c/c art. 2º, IX, da Lei nº 6.385/76, na forma dos arts. 29 e 30 do CP (FATO 03); e art.
2º, § 4º, III e IV, da Lei nº 12.850/2013 (FATO 04);

6) MÁRCIA PINTO DOS ANJOS, pela suposta prática dos delitos previstos no
art. 16 da Lei nº 7.492/86, na forma do art. 29, caput, do Código Penal (FATO 01); art. 4º da Lei
nº 7.492/86, na forma do art. 29, caput, do Código Penal (FATO 02); art. 7º, II, III e IV, da Lei
nº 7.492/86 c/c art. 2º, IX, da Lei nº 6.385/76, na forma dos arts. 29 e 30 do CP (FATO 03);
e art. 2º, § 4º, III e IV, da Lei nº 12.850/2013 (FATO 04);

7) VICENTE GADELHA ROCHA NETO, pela suposta prática dos delitos


previstos no art. 16 da Lei nº 7.492/86, na forma do art. 29, caput, do Código Penal (FATO
01); art. 4º da Lei nº 7.492/86, na forma do art. 29, caput, do Código Penal (FATO 02); art. 7º, II,
III e IV, da Lei nº 7.492/86 c/c art. 2º, IX, da Lei nº 6.385/76, na forma dos arts. 29 e 30 do CP
(FATO 03); e art. 2º, § 4º, III e IV, da Lei nº 12.850/2013 (FATO 04).

8) ANDRIMAR MORAYMA RIVERO VERGEL, pela suposta prática dos


delitos previstos no art. 16 da Lei nº 7.492/86, na forma do art. 29, caput, do Código Penal
(FATO 01); art. 4º da Lei nº 7.492/86, na forma do art. 29, caput, do Código Penal (FATO
02); art. 7º, II, III e IV, da Lei nº 7.492/86 c/c art. 2º, IX, da Lei nº 6.385/76, na forma dos arts.
29 e 30 do CP (FATO 03); e art. 2º, § 4º, III e IV, da Lei nº 12.850/2013 (FATO 04);

9) DIEGO SILVA VIEIRA, pela suposta prática dos delitos previstos no art. 16
da Lei nº 7.492/86, na forma do art. 29, caput, do Código Penal (FATO 01); art. 4º da Lei nº
7.492/86, na forma do art. 29, caput, do Código Penal (FATO 02); art. 7º, II, III e IV, da Lei nº
7.492/86 c/c art. 2º, IX, da Lei nº 6.385/76, na forma dos arts. 29 e 30 do CP (FATO 03); e art.
2º, § 4º, III e IV, da Lei nº 12.850/2013 (FATO 04);
10) MARIANA BARBOSA CORDEIRO, pela suposta prática dos delitos
previstos no art. 2º, § 4º, III e IV, da Lei nº 12.850/2013 (FATO 04);

11) PAULO HENRIQUE DE LANA, pela suposta prática dos delitos previstos
no art. 16 da Lei nº 7.492/86, na forma do art. 29, caput, do Código Penal (FATO 01); art. 4º da
Lei nº 7.492/86, na forma do art. 29, caput, do Código Penal (FATO 02); art. 7º, II, III e IV, da
Lei nº 7.492/86 c/c art. 2º, IX, da Lei nº 6.385/76, na forma dos arts. 29 e 30 do CP (FATO 03);
e art. 2º, § 4º, III e IV, da Lei nº 12.850/2013 (FATO 04);

12) KELLY PEREIRA DEO DE SOUZA LANA, pela suposta prática dos
delitos previstos no art. 16 da Lei nº 7.492/86, na forma do art. 29, caput, do Código Penal
(FATO 01); art. 4º da Lei nº 7.492/86, na forma do art. 29, caput, do Código Penal (FATO
02); art. 7º, II, III e IV, da Lei nº 7.492/86 c/c art. 2º, IX, da Lei nº 6.385/76, na forma dos arts.
29 e 30 do CP (FATO 03); e art. 2º, § 4º, III e IV, da Lei nº 12.850/2013 (FATO 04);

13) JOÃO MARCUS PINHEIRO DUMAS VIANA, pela suposta prática dos
delitos previstos no art. 16 da Lei nº 7.492/86, na forma do art. 29, caput, do Código Penal
(FATO 01); art. 4º da Lei nº 7.492/86, na forma do art. 29, caput, do Código Penal (FATO
02); art. 7º, II, III e IV, da Lei nº 7.492/86 c/c art. 2º, IX, da Lei nº 6.385/76, na forma dos arts.
29 e 30 do CP (FATO 03); e art. 2º, § 4º, III e IV, da Lei nº 12.850/2013 (FATO 04);

14) LARISSA VIANA FERREIRA DUMAS, pela suposta prática dos delitos
previstos no art. 16 da Lei nº 7.492/86, na forma do art. 29, caput, do Código Penal (FATO
01); art. 4º da Lei nº 7.492/86, na forma do art. 29, caput, do Código Penal (FATO 02); art. 7º, II,
III e IV, da Lei nº 7.492/86 c/c art. 2º, IX, da Lei nº 6.385/76, na forma dos arts. 29 e 30 do CP
(FATO 03); art. 2º, § 4º, III e IV, da Lei nº 12.850/2013 (FATO 04);

15) GUILHERME SILVA DE ALMEIDA, pela suposta prática dos delitos


previstos no art. 16 da Lei nº 7.492/86, na forma do art. 29, caput, do Código Penal (FATO
01); art. 4º da Lei nº 7.492/86, na forma do art. 29, caput, do Código Penal (FATO 02); art. 7º, II,
III e IV, da Lei nº 7.492/86 c/c art. 2º, IX, da Lei nº 6.385/76, na forma dos arts. 29 e 30 do CP
(FATO 03); e art. 2º, § 4º, III e IV, da Lei nº 12.850/2013 (FATO 04);

16) ALAN GOMES SOARES, pela suposta prática dos delitos previstos no art.
16 da Lei nº 7.492/86, na forma do art. 29, caput, do Código Penal (FATO 01); art. 4º da Lei nº
7.492/86, na forma do art. 29, caput, do Código Penal (FATO 02); art. 7º, II, III e IV, da Lei nº
7.492/86 c/c art. 2º, IX, da Lei nº 6.385/76, na forma dos arts. 29 e 30 do CP (FATO 03); e art.
2º, § 4º, III e IV, da Lei nº 12.850/2013 (FATO 04).

17) MICHAEL DE SOUZA MAGNO, pela suposta prática dos delitos previstos
no art. 7º, II, III e IV, da Lei nº 7.492/86 c/c art. 2º, IX, da Lei nº 6.385/76, na forma dos arts. 29
e 30 do CP (FATO 03); e art. 2º, § 4º, III e IV, da Lei nº 12.850/2013 (FATO 04).
Traslade-se cópia desta decisão para os autos do inquérito policial 5051019-
53.2021.4.02.5101.

CITEM-SE os acusados para apresentarem resposta escrita, no prazo de 10 (dez)


dias, na forma dos arts. 396 e 396-A do CPP. Na ocasião, poderão os réus arguir preliminares e
alegar tudo o que interessa à sua defesa, oferecer documentos, especificar as provas pretendidas
e arrolar testemunhas, qualificando-as e requerendo sua intimação, com o respectivo endereço,
justificando a necessidade de sua oitiva e intimação, quando for o caso.

Expeçam-se os mandados.

Expeçam-se cartas precatórias, com prazo de 10 (dez) dias para cumprimento, por
se tratar de feito envolvendo réus presos.

Caso algum dos acusados, regularmente citado, não constitua defensor e não
apresente resposta no prazo legal, designo, desde já, a Defensoria Pública da União para
apresentar a intervenção defensiva, nos termos do art. 396-A, § 2º, do CPP, com redação dada
pela Lei 11.719/2008.

Eventualmente frustrada a citação pessoal e a citação com hora certa (art. 362 do
CPP), manifeste-se o MPF, ficando desde já consignado que não cabe a expedição de ofícios
para fornecimento de endereço, uma vez ser ônus da parte. Havendo novas indicações de
endereços, expeçam-se novos mandados. Não sendo abrangido pela jurisdição deste Juízo o
endereço fornecido, expeça-se carta precatória, fixando o prazo de 60 (sessenta) dias para
cumprimento.

Efetivada a citação, com a vinda da resposta, venham-me conclusos para a análise


do art. 397 do CPP, sem prejuízo do reexame dos requisitos do art. 395 do mesmo Código.

Cadastrem-se os (as) advogados (as) que vierem a atuar na defesa dos réus, uma
vez apresentadas as respectivas procurações.

Efetue-se pesquisa acerca do nome dos denunciados na consulta de processos do


sistema SINIC. Feito isso, inclua-se o Boletim de Identificação (BIC), se não possuir Registro
Federal (RF), ou atualize-se. Inclua-se, ainda, o Boletim de Distribuição Judicial (BDI), ou
atualize-se.

Cadastrem-se a data do recebimento da denúncia e os dados qualificativos dos réus


no sistema, e atualizem-se a tipificação penal e a Tabela Única de Assuntos, em rotina específica
no sistema e-Proc.
Certifique a Secretaria a existência ou não de termo de bens apreendidos nos autos
e, em caso positivo, promova o respectivo cadastramento no SNBA/CNJ, bem como na rotina
específica do sistema e-Proc, no caso de remessa do bem a Secretaria deste Juízo.

Certifique a Secretaria os parâmetros prescricionais em cumprimento ao disposto


na Resolução 112/2010 do CNJ e do Provimento n. T2- PVC-2010/00084 da Corregedoria-
Regional da Justiça Federal da 2a Região, cadastrando-se as informações em rotina específica no
sistema e-Proc.

II- DOS DEMAIS REQUERIMENTOS

Em cota à denúncia (evento 1, INIC1), o MPF requereu fossem apensados à


presente ação penal os autos nº 5100892-22.2021.4.02.5101, 5100882-75.2021.4.02.5101 e
5100879-23.2021.4.02.5101, que tramitaram perante a Justiça Estadual e foram objeto de
declínio para esse Juízo. Requereu, ainda:

a) o compartilhamento das provas produzidas nos autos nº 5051019-


53.2021.4.02.5101 (IPL 2021.0036768-SR/PF/RJ-01), bem como nos procedimentos conexos
que tramitam perante esse Juízo, inclusive os autos nº 5100892-22.2021.4.02.5101, 5100882-
75.2021.4.02.5101 e 5100879- 23.2021.4.02.5101 citados acima, para fins de instauração de
procedimentos investigatórios autônomos a serem requisitados pelo Ministério Público Federal
diretamente à autoridade policial.

b) o compartilhamento das provas produzidas nos autos nº 5051019-


53.2021.4.02.5101 (IPL 2021.0036768-SR/ PF/RJ-01), bem como nos procedimentos conexos
que tramitam perante esse Juízo, com a Comissão de Valores Mobiliários, para fins de apuração
das condutas dos denunciados e das empresas envolvidas no âmbito da esfera administrativa,
mormente diante do precedente exarado por aquela Entidade no Processo Administrativo
Sancionador SEI 19957.001124/2021-74.

c) o compartilhamento das provas produzidas nos autos nº 5051019-


53.2021.4.02.5101 (IPL 2021.0036768-SR/ PF/RJ-01), bem como nos procedimentos conexos
que tramitam perante esse Juízo, para fins de: (1) instauração de procedimento cível no âmbito
do Ministério Público Federal, voltado a apurar as infrações cíveis à ordem econômica
cometidas pelos denunciados (artigo 1º, II, Lei 7.347/85, artigo 14 e 56 da Lei 8.078/90); (2)
apuração do regular exercício da CVM e BACEN, no âmbito de suas competências
fiscalizatórias.

d) a manutenção e reforço das prisões preventivas de GLAIDSON ACÁCIO DOS


SANTOS, MIRELIS YOSELINE DIAZ ZERPA, FELIPE JOSÉ SILVA NOVAIS, KAMILA
MARTINS NOVAIS, TUNAY PEREIRA LIMA, MÁRCIA PINTO DOS ANJOS, VICENTE
GADELHA ROCHA NETO, JOÃO MARCUS PINHEIRO DUMAS VIANA e MICHAEL DE
SOUZA MAGNO, bem como a decretação de cautelares diversas da prisão em relação aos
denunciados ANDRIMAR MORAYMA RIVERO VERGEL, DIEGO SILVA VIEIRA,
MARIANA BARBOSA CORDEIRO, PAULO HENRIQUE DE LANA, KELLY PEREIRA
DEO DE SOUZA LANA, LARISSA VIANA FERREIRA DUMAS, GUILHERME SILVA DE
ALMEIDA e ALAN GOMES SOARES, consistentes na i) proibição de acesso ou frequência
aos escritórios em nome da empresa GAS CONSULTORIA & TECNOLOGIA LTDA ou de
outras empresas citadas na presente denúncia (art. 319, II, do CPP), ii) proibição de que os
denunciados mantenham contato entre si ou com as testemunhas indicadas na denúncia (art. 319,
III, do CPP), e iii) proibição de os denunciados se ausentarem do país enquanto tramitar a
presente ação penal, devendo entregar os seus passaportes em Juízo (art. 319, IV, do CPP), tudo
com fulcro no art. 312 do CPP, tendo em vista a necessidade de garantia da ordem pública, da
aplicação da lei penal e da conveniência da instrução desta ação penal;

e) a decretação da suspensão das atividades das empresas GAS CONSULTORIA E


TECNOLOGIA LTDA (CNPJ 22.087.767/0001-32), GAS ASSESSORIA & CONSULTORIA
DIGITAL EIRELI (CNPJ 32.800.056/0001-17), MYD ZERPA TECNOLOGIA EIRELI, LLS
GESTAO DE TECNOLOGIA E INVESTIMENTOS EIRELI (CNPJ 28.016.709/0001-02), FKN
CONSULTORIA E TECNOLOGIA LTDA (CNPJ 33.496.833/0001-44), CONSULTORIA E
SOLUÇÕES EM TECNOLOGIA LIMA EIRELI (CNPJ 30.484.905/0001-45),
CONSULTORIA & TECNOLOGIA DOS ANJOS EIRELI (CNPJ 33.030.861/0001-71),
CONSULTORIA E SOLUÇÕES EM TECNOLOGIA LPA LTDA (CNPJ 35.679.874/0001-00)
e PEREIRA CONSULTORIA EM TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO LTDA (CNPJ
35.688.590/0001-71), DUMAS CONSULTORIA & TECNOLOGIA DA INFORMACAO
EIRELI (CNPJ 35.191.340/0001-21), VIANA ASSESSORIA & CONSULTORIA EM
TECNOLOGIA DA INFORMACAO EIRELI (CNPJ 38.116.320/0001-84), CAEC GESTOR E
TECNOLOGIA CORPORACAO LTDA (CNPJ 41.076.666/0001-00), VGR TECNOLOGIA
DA INFORMACAO EIRELI (CNPJ 33.166.187/0001-57), VGR AGROPECUARIA LTDA
(CNPJ 28.372.433/0001-97), DVG CONSULTORIA EM TECNOLOGIA DA INFORMACAO
EIRELI (CNPJ 31.624.348/0001-83), LANATECH CONSULTORIA EM TECNOLOGIA DA
INFORMACAO EIRELI (CNPJ 32.076.588/0001-53), IPPON ASSESSORIA E
CONSULTORIA LTDA (CNPJ 04.120.725/0001-74), DSV CONSULTORIA EMPRESARIAL
LTDA (CNPJ 38.388.553/0001-36), DCN CONSULTORIA EM TECNOLOGIA DA
INFORMACAO EIRELI (CNPJ 36.412.471/0001-54), GSA – CONSULTORIA E
TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO EIRELI (CNPJ 36.670.058/0001-90) e AGS
CONSULTORIA E TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO EIRELI (CNPJ 37.406.898/0001-02),
tudo com fulcro no art. 312 do CPP, tendo em vista a necessidade de garantia da ordem pública,
da aplicação da lei penal e da conveniência da instrução desta ação penal

f) sejam mantidos os bloqueios de bens e valores que alcancem o montante de, pelo
menos, R$ 38.223.489.348,97, decretadas nos autos nº 5091855-68.2021.4.02.5101 (sequestro
penal), tendo em vista a necessidade de garantir a efetividade de futuro provimento condenatório;

g) seja levantado o sigilo da presente ação penal, tendo em vista o princípio da


publicidade dos processos (art. 5º, LX, da CRFB/88), bem como o interesse público em relação
ao caso, que, por sua magnitude, atinge milhares de vítimas indiretas ainda não identificadas.

Decido.
De início, considerando as razões trazidas pelo MPF, acerca do suposto esquema
criminoso narrado, bem como o seu modo de execução, os quais transcenderiam ao tipo penal
descrito no artigo 2º, IX, da Lei nº 1.521/51 (crime contra a economia popular), estando
capitulados nos artigos, 16, 4º e 7º, II, III e IV, da Lei nº 7.492/86, uma vez que atentariam
contra o sistema financeiro nacional (nesse sentido: HC 530.563/RS, Rel. Ministro SEBASTIÃO
REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 05/03/2020, DJe 12/03/2020), autorizo e determi
no sejam apensadas à presente ação penal, os autos nº 5100892-22.2021.4.02.5101, 5100882-
75.2021.4.02.5101 e 5100879-23.2021.4.02.5101, que tramitaram perante a Justiça Estadual e
foram objeto de declínio para esse Juízo, diante da correlação de objeto com os presentes
autos. À Secretaria, para que proceda a devida vinculação, no sistema e-Proc. Traslade-se cópia
desta decisão para os referidos procedimentos, devendo em seguida ser aberta vista ao MPF, no
bojo dos referidos autos, para neles requerer, o que entender cabível, no prazo de 10 (dez) dias.

Quanto aos requerimentos de compartilhamento de provas, tenho que comportam


deferimento; com efeito, o interesse no compartilhamento de elementos de convicção produzidos
em fase de investigação ou processo criminal, coletados de forma idônea, e, portanto, sem
mácula, é admissível e sobressai sua justificativa à luz do princípio constitucional da razoável
duração do processo, eficiência e efetividade, evitando-se, nesse aspecto, a repetição de
procedimentos de produção de prova de idênticos conteúdo e valor, que são úteis a instruir outra
investigação criminal relacionada aos mesmos investigados ou fatos, ou ainda que envolva
investigados distintos, desde que em tais casos seja observado o princípio do devido processo
legal, contraditório e ampla defesa, peculiar a cada situação. Nesse sentido: INQ 3.787, Rel.
Min. Marco Aurélio, DJe 5 de maio de 2016 e INQ 4.141, Rel. Min. Roberto Barroso, DJe de 13
de dezembro de 2016 e a Segunda Questão de Ordem no Inquérito 2422, do egrégio Supremo
Tribunal Federal - STF.

In casu, imputação deduzida na denúncia ministerial veio instruída com diversas


provas, obtidas a partir de autorizações judiciais de quebra de sigilos fiscal, bancário e
telefônica, a indicarem a prática de possíveis outros delitos que não somente aqueles tratados na
peça inicial, a ensejar, portanto, a necessidade de instauração de novos procedimentos, incluindo-
se aí também procedimento cível no âmbito do Ministério Público Federal, voltado a apurar
possíveis infrações, de cunho extrapenal, à ordem econômica (artigo 1º, II, Lei 7.347/85, artigo
14 e 56 da Lei 8.078/90).

Ademais, os fatos judicializados atentariam contra o Sistema Financeiro Nacional e


ao Mercado de Capitais, a interessar também à Comissão de Valores Mobiliários, no âmbito de
suas competências regulatórias e sancionatórias, do que exsurge a necessidade de apuração das
condutas dos denunciados e das empresas envolvidas, na esfera administrativa, mormente diante
do precedente exarado por aquela entidade autárquica, no Processo Administrativo Sancionador
SEI 19957.001124/2021-74.

Sobressaem, dessa forma, a razoabilidade e proporcionalidade do pedido de


compartilhamento.
Ao contrário, o indeferimento do pleito ministerial causaria enormes prejuízos,
com desnecessária repetição de provas já coletadas, que provocaria a movimentação do serviço
público para alcançar o mesmo resultado já obtido em procedimentos vinculados aos presentes
autos, com ofensa ao princípio da economia e celeridade processual.

Ante o exposto, de modo a propiciar a ampla instrução dos feitos mencionados


pelo Parquet e o esclarecimento dos fatos, tanto em outros procedimentos de cunho criminal
quanto em esfera extrapenal, defiro o requerimento ministerial e autorizo o compartilhamento
das provas produzidas nos Autos nº 5051019-53.2021.4.02.5101 (IPL 2021.0036768-SR/PF/RJ-
01), bem como nos procedimentos conexos que tramitam perante esse Juízo, inclusive os autos
nº 5100892-22.2021.4.02.5101, 5100882-75.2021.4.02.5101 e 5100879- 23.2021.4.02.5101,
para fins de instauração de procedimentos investigatórios autônomos a serem requisitados pelo
Ministério Público Federal diretamente à autoridade policial, devendo informar a este Juízo
quais foram os procedimentos instaurados. Autorizo ainda o compartilhamento das provas
produzidas nos Autos nº 5051019-53.2021.4.02.5101 (IPL 2021.0036768-SR/ PF/RJ-01), bem
como nos procedimentos conexos que tramitam perante esse Juízo, com a Comissão de Valores
Mobiliários, mormente diante do precedente exarado por aquela Entidade no Processo
Administrativo Sancionador SEI 19957.001124/2021-74; autorizo também o compartilhamento
das provas produzidas nos Autos nº 5051019-53.2021.4.02.5101 (IPL 2021.0036768-SR/ PF/RJ-
01), bem como nos procedimentos conexos que tramitam perante esse Juízo, para fins de: (1)
instauração de procedimento cível no âmbito do Ministério Público Federal, voltado a apurar as
infrações cíveis à ordem econômica cometidas pelos denunciados (artigo 1º, II, Lei 7.347/85,
artigo 14 e 56 da Lei 8.078/90); (2) apuração do regular exercício da CVM e BACEN, no âmbito
de suas competências fiscalizatórias.

No tocante à manutenção das prisões decretadas no bojo das medidas cautelares


5091826-18.2021.4.02.5101 e 5097257-33.2021.4.02.5101 em desfavor de GLAIDSON
ACÁCIO DOS SANTOS, MIRELIS YOSELINE DIAZ ZERPA, FELIPE JOSÉ SILVA
NOVAIS, KAMILA MARTINS NOVAIS, TUNAY PEREIRA LIMA, MÁRCIA PINTO DOS
ANJOS, VICENTE GADELHA ROCHA NETO, JOÃO MARCUS PINHEIRO DUMAS
VIANA e MICHAEL DE SOUZA MAGNO, tenho que o pleito comporta deferimento.

A decretação da prisão preventiva deve ser amparada nos seus pertinentes


requisitos autorizadores, a partir de raciocínio decisório a compor o seguinte iter: primeiramente,
se analisa se existe sua possibilidade concreta, à luz do art. 313 do CPP; em seguida, avalia -se a
presença de eventual hipótese de periculum libertatis, conforme o rol legal do art. 312 do CPP;
e, por fim, afere-se a eventual suficiência de medidas cautelares outras – caso em que será
excessivo e, portanto, indevido o encarceramento -, segundo o que dispõe o art. 282, §6º, do CPP.

Tal análise já restou realizada quando proferidas as decisões por meio das quais
decretadas as prisões preventivas dos investigados GLAIDSON ACÁCIO DOS SANTOS,
MIRELIS YOSELINE DIAZ ZERPA, FELIPE JOSÉ SILVA NOVAIS, KAMILA MARTINS
NOVAIS, TUNAY PEREIRA LIMA, MÁRCIA PINTO DOS ANJOS, VICENTE GADELHA
ROCHA NETO, na cautelar 5091826-18.2021.4.02.5101 e em desfavor de JOÃO MARCUS
PINHEIRO DUMAS VIANA e MICHAEL DE SOUZA MAGNO, na cautelar 5097257-
33.2021.4.02.5101, permanecendo hígidos os fundamentos então lançados, tendo sido, em
realidade, robustecidos no atual momento, com o recebimento da denúncia, conforme acima
deliberado.

De plano – e na esteira do quanto verificado quando aferida positivamente a justa


causa para recebimento da denúncia, conforme exposto linhas acima -, é de se ressaltar que
concorrem robustos indícios da prática delitiva, tal como imputada na denúncia; tal convicção
advém em caráter principal, do vasto conteúdo trazido pelo MPF, no bojo do inquérito
policial 5051019-53.2021.4.02.5101 (IPL 2021.0036768-SR/PF/RJ-01), detidamente analisado
acima.

Vislumbrado o fumus comissi delicti , é de se notar que as infrações em tese


praticadas ostentam, conforme as pertinentes normas penais incriminadoras (art. 16 da Lei nº
7.492/86; art. 4º da Lei nº 7.492/86; art. 7º, II, III e IV, da Lei nº 7.492/86; art. 2º, § 4º, III e IV,
da Lei nº 12.850/2013), apenação privativa de liberdade de duração superior a quatro anos, pelo
que atendido o anteparo do art. 313, I, do CPP.

Outrossim, o quanto articulado pelo Ministério Público conta com conforto


probatório, no sentido da concorrência do periculum libertatis, como já exposto anteriormente
(art. 312 do CPP), sendo certo ainda que as medidas cautelares alternativas (art. 319 do CPP) não
são aptas ao enfrentamento do periculum libertatis divisado, seja por impertinência seja por
insuficiência, pelo que não há alternativa, no momento, ao encarceramento (art. 282, §6º, do
CPP).

Registre-se, por oportuno, que não foram encontrados até o presente MIRELIS
YOSELINE DIAZ ZERPA, FELIPE JOSÉ SILVA NOVAIS, KAMILA MARTINS
NOVAIS, VICENTE GADELHA ROCHA NETO, JOÃO MARCUS PINHEIRO DUMAS
VIANA e MICHAEL DE SOUZA MAGNO, cujos mandados de prisão pendem ainda de
cumprimento, reforçando-se, ainda mais e quanto a estes acusados, o periculum libertatis,
enquanto risco à aplicação da Lei Penal.

Ante o exposto, mantenho a prisão preventiva decretada em desfavor de GLAIDS


ON ACÁCIO DOS SANTOS, MIRELIS YOSELINE DIAZ ZERPA, FELIPE JOSÉ
SILVA NOVAIS, KAMILA MARTINS NOVAIS, TUNAY PEREIRA LIMA, MÁRCIA
PINTO DOS ANJOS, VICENTE GADELHA ROCHA NETO, JOÃO MARCUS
PINHEIRO DUMAS VIANA e MICHAEL DE SOUZA MAGNO, qualificados na denúncia,
para garantia da Ordem Pública, da aplicação da Lei Penal e a conveniência da Instrução
Criminal, porquanto presentes os requisitos autorizadores, tudo em conformidade com o teor
do art. 313, I, c/c art. 312, c/c art. 315, §1°, c/c art. 282, §6º, todos do CPP.

Com relação aos demais denunciados ANDRIMAR MORAYMA RIVERO


VERGEL, DIEGO SILVA VIEIRA, MARIANA BARBOSA CORDEIRO, PAULO
HENRIQUE DE LANA, KELLY PEREIRA DEO DE SOUZA LANA, LARISSA VIANA
FERREIRA DUMAS, GUILHERME SILVA DE ALMEIDA e ALAN GOMES SOARES,
diante dos elementos de prova a respeito da autoria e materialidade em relação à prática dos
crimes previstos nos artigos, 16, 4º e 7º, II, III e IV, da Lei nº 7.492/86, bem como no artigo 2º, §
4º, III e IV, da Lei nº 12.850/2013 (fumus comissi delicti) e considerando, ainda, as provas de
que a organização criminosa teria continuado em atividades mesmo após a deflagração da
Operação Kryptos, com denunciados ainda foragidos, a evidenciar o periculum libertatis, acolho
o requerimento ministerial e DECRETO, com fulcro no art. 312 do CPP, tendo em vista a
necessidade de garantia da ordem pública, da aplicação da lei penal e da conveniência da
instrução desta ação penal, e na esteira dos fundamentos esposados pelo Ministério Público, em
sua cota denuncial, as seguintes medidas cautelares diversas da prisão:

i) proibição de acesso ou frequência aos escritórios em nome da empresa GAS


CONSULTORIA & TECNOLOGIA LTDA ou de outras empresas citadas na presente denúncia
(art. 319, II, do CPP),

ii) proibição de que os denunciados mantenham contato entre si ou com as


testemunhas indicadas na denúncia (art. 319, III, do CPP),

e iii) proibição de os denunciados se ausentarem do país enquanto tramitar a


presente ação penal, devendo entregar os seus passaportes em Juízo (art. 319, IV, c/c art. 320, do
CPP), no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, devendo-se, ainda, ser incluído os nomes dos
referidos acusados, no sistema STI-MAR. Expeça-se ofício à Polícia Federal.

Expeçam-se os mandados de intimação.

No mesmo sentido, os robustos elementos de prova a respeito da utilização de


pessoas jurídicas para a prática dos crimes previstos nos artigos, 16, 4º e 7º, II, III e IV, da Lei nº
7.492/86, bem como no artigo 2º, § 4º, III e IV, da Lei nº 12.850/2013, detidamente analisados
por este Juízo, quando do recebimento da denúncia, tal como acima deliberado, ensejam a
necessidade da medida de suspensão das atividades das referidas empresas, a fim de impedir
as respectivas sociedades empresárias de manter contas bancárias junto a instituições financeiras,
obstando a persistência na prática fatos objeto da denúncia, bem como visando a garantia da
ordem pública, da aplicação da lei penal e da conveniência da instrução desta ação penal.

Assim sendo, acolho o requerimento ministerial e DECRETO, na forma do art.


319, VI, do CPP, a suspensão das atividades das empresas GAS CONSULTORIA E
TECNOLOGIA LTDA (CNPJ 22.087.767/0001-32), GAS ASSESSORIA & CONSULTORIA
DIGITAL EIRELI (CNPJ 32.800.056/0001-17), MYD ZERPA TECNOLOGIA EIRELI, LLS
GESTAO DE TECNOLOGIA E INVESTIMENTOS EIRELI (CNPJ 28.016.709/0001-02), FKN
CONSULTORIA E TECNOLOGIA LTDA (CNPJ 33.496.833/0001-44), CONSULTORIA E
SOLUÇÕES EM TECNOLOGIA LIMA EIRELI (CNPJ 30.484.905/0001-45),
CONSULTORIA & TECNOLOGIA DOS ANJOS EIRELI (CNPJ 33.030.861/0001-71),
CONSULTORIA E SOLUÇÕES EM TECNOLOGIA LPA LTDA (CNPJ 35.679.874/0001-00)
e PEREIRA CONSULTORIA EM TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO LTDA (CNPJ
35.688.590/0001-71), DUMAS CONSULTORIA & TECNOLOGIA DA INFORMACAO
EIRELI (CNPJ 35.191.340/0001-21), VIANA ASSESSORIA & CONSULTORIA EM
TECNOLOGIA DA INFORMACAO EIRELI (CNPJ 38.116.320/0001-84), CAEC GESTOR E
TECNOLOGIA CORPORACAO LTDA (CNPJ 41.076.666/0001-00), VGR TECNOLOGIA
DA INFORMACAO EIRELI (CNPJ 33.166.187/0001-57), VGR AGROPECUARIA LTDA
(CNPJ 28.372.433/0001-97), DVG CONSULTORIA EM TECNOLOGIA DA INFORMACAO
EIRELI (CNPJ 31.624.348/0001-83), LANATECH CONSULTORIA EM TECNOLOGIA DA
INFORMACAO EIRELI (CNPJ 32.076.588/0001-53), IPPON ASSESSORIA E
CONSULTORIA LTDA (CNPJ 04.120.725/0001-74), DSV CONSULTORIA EMPRESARIAL
LTDA (CNPJ 38.388.553/0001-36), DCN CONSULTORIA EM TECNOLOGIA DA
INFORMACAO EIRELI (CNPJ 36.412.471/0001-54), GSA – CONSULTORIA E
TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO EIRELI (CNPJ 36.670.058/0001-90) e AGS
CONSULTORIA E TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO EIRELI (CNPJ 37.406.898/0001-02).
Expeçam-se os ofícios ao BACEN, a Receita Federal e às Juntas Comerciais respectivas.
Autorizo que os ofícios sejam encaminhados pelo Ministério Público Federal, aos cuidados dos
Procuradores da República atuantes no presente feito. MPF compromete-se desde logo a
encaminhar os Ofícios ao .

Quanto aos bloqueios efetuados no bojo da cautelar 5091855-68.2021.4.02.5101,


tenho que devem ser, por ora, mantidos, pelos próprios fundamentos da decisão lançada no
evento 6 daqueles autos, robustecidos com o recebimento da denúncia, conforme o quanto acima
exposto.

Assim sendo, mantenho os bloqueios de bens e valores decretado nos autos nº


5091855-68.2021.4.02.5101 (sequestro penal).

Determino seja levantado o sigilo dos presentes autos, mantendo-se, todavia, o


sigilo das peças constantes no ANEXO6 a ANEXO171 (eis que contém diversos documentos
resguardados pelo sigilo constitucional), cujo acesso defiro apenas ao MPF e as D. Defesas dos
acusados, cuja esfera de intimidade há de ser resguardada.

Ciência ao Ministério Público Federal.

Expeçam-se os ofícios e mandados.

Cumpra-se.

Documento eletrônico assinado por VITOR BARBOSA VALPUESTA, Juiz Federal Substituto, na forma do artigo 1º,
inciso III, da Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006 e Resolução TRF 2ª Região nº 17, de 26 de março de 2018. A
conferência da autenticidade do documento está disponível no endereço eletrônico https://eproc.jfrj.jus.br, mediante o
preenchimento do código verificador 510006178261v120 e do código CRC 1e3452d9.

Informações adicionais da assinatura:


Signatário (a): VITOR BARBOSA VALPUESTA
Data e Hora: 1/10/2021, às 21:58:31
PÁGINA DE SEPARAÇÃO
(Gerada automaticamente pelo Balcão Virtual.)

Evento 7

Data: 06/10/2021 11:19:06

Número do Processo: 5105179-28.2021.4.02.5101

Número do Evento: 7

Usuário: FERNANDA SANTOS FALSETH - DIRETOR DE SECRETARIA SUBST.

Descrição do Evento: Juntada de certidão


Poder Judiciário
JUSTIÇA FEDERAL
Seção Judiciária do Rio de Janeiro
3ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro
Avenida Venezuela, 134, Bloco B, 2º andar - Bairro: Praça Mauá - RJ - CEP: 20081-312 - Fone: (21)3218-7933 - whatsapp
21-96725.2313 - Email: 03vfcr@jfrj.jus.br

AÇÃO PENAL Nº 5105179-28.2021.4.02.5101/RJ


AUTOR: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
RÉU: VICENTE GADELHA ROCHA NETO
RÉU: PAULO HENRIQUE ROSA DE LANA
RÉU: MARCIA PINTO DOS ANJOS
RÉU: KAMILA MARTINS NOVAIS
RÉU: GUILHERME SILVA DE ALMEIDA
RÉU: MARIANA BARBOSA CORDEIRO
RÉU: DIEGO SILVA VIEIRA
RÉU: ALAN GOMES SOARES
RÉU: MICHAEL DE SOUZA MAGNO
RÉU: TUNAY PEREIRA LIMA
RÉU: MIRELIS YOSELINE DIAZ ZERPA
RÉU: LARISSA VIANA FERREIRA DUMAS
RÉU: JOAO MARCUS PINHEIRO DUMAS VIANA
RÉU: FELIPE JOSE SILVA NOVAIS
RÉU: GLAIDSON ACACIO DOS SANTOS
RÉU: ANDRIMAR MORAYMA RIVERO VERGEL
RÉU: KELLY PEREIRA DEO DE SOUZA LANA

CERTIDÃO

Certifico e dou fé que, em cumprimento à decisão proferida no evento 4, retirei o


sigilo dos presentes autos, bem como cadastrei o sigilo nível 3 nas peças constantes no evento 1
ANEXO6 a ANEXO171.

Outrossim, certifico que trasladei cópia da decisão supracitada para os autos do


IPL5051019-53.2021.4.02.5101 e para os processos nº 5100892-22.2021.4.02.5101, 5100882-
75.2021.4.02.5101 e 5100879-23.2021.4.02.5101, declinados da Justiça Estadual, procedendo à
intimação do Ministério Público Federal.

Do que, para constar, lavro a presente certidão.


Documento eletrônico assinado por FERNANDA SANTOS FALSETH, Supervisora, na forma do artigo 1º, inciso III, da
Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006 e Resolução TRF 2ª Região nº 17, de 26 de março de 2018. A conferência da autentici
dade do documento está disponível no endereço eletrônico https://eproc.jfrj.jus.br, mediante o preenchimento do código
verificador 510006243202v6 e do código CRC 939a68f7.

Informações adicionais da assinatura:


Signatário (a): FERNANDA SANTOS FALSETH
Data e Hora: 6/10/2021, às 11:19:6

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