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Revisão do Plano de Ordenamento do Parque Natural da Ria Formosa

5.5. HIDROGEOLOGIA

5.5.1. INTRODUÇÃO

Genericamente a hidrogeologia corresponde à disciplina da geologia que investiga a


água do subsolo, especialmente a subterrânea.

Os recursos hídricos subterrâneos desde tempos remotos que têm desempenhado


um importante papel, quer no abastecimento de água potável às populações, quer
na agricultura e, mais tarde na indústria. De um modo geral estes reservatórios
constituem as primeiras origens da água, sobretudo em regiões onde os recursos
hídricos superficiais são escassos.

Designam-se como aquíferos as formações geológicas que armazenam e


transmitem água em condições de exploração economicamente viáveis. Existem, de
acordo com IGM (2001) basicamente dois tipos de aquíferos (Figura 3):

- Aquífero Livre – formação geológica permeável limitada, na base por uma camada
impermeável e, na parte sobrejacente pelo nível de água. Encontra-se parcialmente
saturada e o nível da água no aquífero está ao nível da pressão atmosférica.

- Aquífero Confinado – formação geológica permeável limitada na base e no topo


por camadas impermeáveis. Encontra-se completamente saturada e a pressão da
água no aquífero é superior à pressão atmosférica.

Fonte: Instituto Geológico e Mineiro (2001). Água Subterrânea: Conhecer para Preservar o Futuro.
Versão Online no site IGM: (http://www.igm.pt/edicoes_online/diversos/agua_subterranea/indice.htm).

Figura 3 – Tipos de Aquíferos

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Refira-se ainda que as camadas impermeáveis que limitam os aquíferos podem


apresentar-se de formas diversas das apresentadas na figura anterior, conferindo a
estes reservatórios de água subterrânea configurações diferentes (IGM, 2001).

A repartição dos aquíferos não é uniforme e encontra-se intimamente relacionada


com os processos e fenómenos geológicos.

Desta feita, o INAG estabeleceu para o território de Portugal Continental a


existência de quatro unidades hidrogeológicas (Mapa 4), que correspondem às
quatro grandes unidades morfo-estruturais em que o país se encontra dividido:

• Maciço Antigo

• Orla Ocidental

• Orla Meridional

• Bacia do Tejo e Sado

Mapa 4 – Unidades hidrogeológicas de Portugal Continental

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5.5.2. RESULTADOS

A área de estudo encontra-se totalmente inserida na Orla Meridional, sendo


constituída por depósitos sedimentares mesocenozóicos, estabelecidos sobre um
soco hercínico de xistos e grauvaques carbónicos (ALMEIDA et al., 2000).

Os terrenos do Mesozóico constituem um substrato praticamente impermeável. As


formações do Lias e Dogger (de idade jurássica) correspondem à base de alguns
dos mais importantes aquíferos desta orla, na medida em que possuem boas
propriedades hidráulicas (porosidade e permeabilidade) e afloram em grande
extensão. As formações carbonatadas do Jurássico superior possuem características
hidrogeológicas semelhantes às do Lias-Dogger, embora com menor extensão de
afloramentos, constituindo, por isso, também o suporte de outros sistemas
aquíferos importantes (ALMEIDA et al., 2000).

De um modo geral com caudais menos relevantes que as formações jurássicas, as


formações cretácicas apresentam maior espessura e extensão, facto que lhes
confere alguma evidência. Todavia, algumas camadas calcárias e dolomíticas do
Cretácico inferior (Lagoa) e superior (calcários cristalinos de Pão Branco e
Dolomitos de Chão de Cevada), cuja extensão dos afloramentos é reduzida, podem
produzir caudais avultados (ALMEIDA et al., 2000).

A formação carbonatada de Lagos-Portimão, de idade Miocénica, constitui o suporte


de sistemas aquíferos com alguma importância. As restantes formações miocénicas,
devido à sua reduzida espessura e extensão, possuem uma menor relevo (ALMEIDA
et al., 2000).

Destacam-se ao nível das formações quaternárias as Areias e Cascalheiras de Faro-


Quarteira e as dunas de Vila Real de Santo António-Monte Gordo (ALMEIDA et al.,
2000).

Constituindo uma das formações mais extensas da bacia mesozóica e, aflorando em


quase toda a extensão longitudinal do Algarve, a formação Areias e Cascalheiras de
Faro-Quarteira sofreu intensos processos de exploração, sobretudo com vista a
satisfazer as necessidades de uma agricultura de regadio cada vez mais intensiva
(ALMEIDA et al., 2000).

Até há bem pouco tempo as populações da área de Vila Real de Santo António eram
abastecidas pela formação das dunas de Vila Real de Santo António-Monte Gordo, o

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qual ainda detém alguma importância, sobretudo em caso de necessidade


(ALMEIDA et al., 2000).

No que toca às características físicas da água dos aquíferos da Orla Meridional, a


sua qualidade é, em muitos casos, fraca (ALMEIDA et al., 2000).

Esta unidade hidrogeológica é composta por dezassete sistemas aquíferos,


existindo, no entanto, áreas nas quais não foram identificados quaisquer sistemas,
devido à sua inexistência ou à sua irrelevante importância no contexto regional
(Mapa 5).

Fonte: www.snirh.inag.pt (2003)

Mapa 5 – Sistemas Aquíferos da Região Algarvia

Os referidos sistemas assentam em quatro tipos de litologias (www.snirh.inag.pt –


2003):

• Formações plioquaternárias (areias e cascalheiras continentais, areias de


duna, entre outras).

• Formações miocénicas, fundamentalmente de fácies marinha.

• Formações detríticas e carbonatadas cretácicas.

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• Formações calcárias e dolomíticas do Jurássico.

Na área do Parque Natural da Ria Formosa foram identificados três sistemas


aquíferos: o da Campina de Faro, o de São João da Venda – Quelfes e o de Luz –
Comentário: Projecto\aquife
Tavira (Carta 7). ros\hidrografia_hidrogeolog
ia_pnrf.mxd

O primeiro reparte-se pelos concelhos de Faro, Loulé e Olhão e ocupa uma área de
86,4 Km2. Contacta a Oeste com o sistema de Quarteira, a Norte com os sistemas
de Chão de Cevada – Quinta João de Ourém e de São João da Venda – Quelfes, o
qual também contacta a Este. A Sul, é limitado pelo Oceano Atlântico.

As formações aquíferas dominantes são os Calcários de Galvanas, os Siltes


Glauconíticos de Campina de Faro, do Miocénico, e as Areias e Cascalheiras de
Faro-Quarteira, do Quaternário. Na área do Parque predominam as Areias de Faro-
Quarteira, sobretudo na área compreendida entre o limite Oeste desta Área
Protegida e a zona do aeroporto como se pôde observar na Carta Geológica
simplificada (ALMEIDA et al., 2000).

Trata-se, de acordo com a fonte referida anteriormente, de um sistema aquífero


livre superficial e de um aquífero confinado multicamada. O primeiro é alimentado
através da precipitação, enquanto que o segundo, devido à reduzida frequência de
afloramentos é recarregado indirectamente, sobretudo por via de transferências dos
calcários jurássicos situados mais a Norte em zonas de ausência de formações
cretácicas menos permeáveis e, ainda através do leito das linhas de água (Ribeira
do Rio Seco).

A sua produtividade é considerada boa, tendo sido obtido um resultado médio de


sete litros por segundo (ALMEIDA et al., 2000).

De acordo com os relatórios produzidos pela Direcção Regional do Ambiente e


Ordenamento do Território do Algarve (actual Comissão de Coordenação e
Desenvolvimento Regional do Algarve - CCDRA) entre Novembro de 2001 e
Novembro de 2003, conclui-se que este sistema aquífero apresenta, em termos
quantitativos, comportamentos diferenciados em cada um dos dois subsistemas
(Campina de Faro e Ludo e Vale do Lobo) que o compõem. Por um lado, o
subsistema da Campina de Faro não possui problemas quanto aos níveis
piezométricos, registando valores intermédios em relação ao conjunto das
observações da série. Já a situação do subsistema Ludo e Vale de Lobo é distinta.
Embora tenha havido em 2003 uma inversão na tendência de descida gradual dos

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níveis piezométricos observada em Novembro de 2001, este subsistema continua a


registar valores negativos no Ludo e descidas em Vale do Lobo.

Também no que diz respeito à qualidade das águas subterrâneas a situação é


diferenciada nestes dois subsistemas. De um lado, situa-se o subsistema da
Campina de Faro, em que a qualidade da água é claramente inferior, com valores
elevados de concentrações de cloretos, sulfatos e nitratos, atingindo nos últimos
valores superiores aos VMA. Esta situação deve-se sobretudo a processos
antropogénicos, relacionados com a contaminação proveniente de uma agricultura
deveras intensiva. Todavia, parece ter-se instalado uma tendência para uma
melhoria gradual da qualidade da água, com a necessária diminuição das
concentrações dos poluentes anteriormente referidos. Do outro lado, situa-se o
subsistema do Ludo e Vale do Lobo, cuja água apresenta padrões qualitativos
superiores.

A fácies química predominante é a bicarbonatada cálcica, a cloretada sódica e mista


(ALMEIDA et al., 2000).

O sistema aquífero de São João da Venda – Quelfes apenas é abrangido pela área
do Parque numa pequena faixa entre Marim (concelho de Olhão) e Livramento
(concelho de Tavira). Ocupa, no entanto 113 Km2, sendo o maior dos três, e
reparte-se por quatro concelhos (Faro, Loulé, Olhão e Tavira). Contacta a Oeste
com o sistema de Quarteira, a Sul com os sistemas da Campina de Faro e de Chão
de Cevada – Quinta João de Ourém, a Norte com o de Peral – Moncarapacho e a
oriente com o de Luz – Tavira.

O sistema é constituído por duas subunidades, uma associada aos arenitos de


fácies Wealdeana e outra associada à sequência margo-calcária que se lhe segue.
Na área do Parque, a primeira assume maior importância em termos de área
ocupada (ALMEIDA et al., 2000).

A alternância de camadas com permeabilidades distintas, nomeadamente na série


margo-calcária, confere ao sistema um carácter multicamada. A recarga é feita por
infiltração directa das precipitações (ALMEIDA et al., 2000).

A produtividade média é superior na subunidade correspondente aos arenitos e


argilas (6,8 l/s), enquanto que na subunidade margo-calcária os valores médios
deste parâmetro não ultrapassam os 5,9 l/s (ALMEIDA et al., 2000).

De acordo com os referidos relatórios produzidos pela actual CCDRA, este sistema,
hoje em dia, não apresenta problemas relativamente aos níveis piezométricos,

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embora tal como sucede noutros sistemas, existam flutuações entre os meses
húmidos e os meses secos, respectivamente períodos de recarga e descarga do
aquífero.

Tanto para abastecimento como para regadio, as águas deste sistema apresentam
uma qualidade fraca, sobretudo devido a alguns registos de concentração de
nitratos acima dos VMR. Todavia, entre Novembro de 2001 e Novembro de 2003,
houve para além da subida das concentrações de nitratos também uma subida dos
das concentrações de cloretos e sulfatos.

A fácies química presente vai desde a bicabornatada cálcica até à cloretada sódica,
passando por fácies intermédias (ALMEIDA et al., 2000).

O sistema aquífero de Luz – Tavira é o mais pequeno, contando apenas com 28


Km2, e estando confinado somente ao concelho de Tavira.

Delimitado a ocidente pelo sistema aquífero de São João da Venda – Quelfes, a Sul
pelo mar e a Norte pelos calcários margosos e margas do Peral, do Oxfordiano,
predominam neste sistema aquífero os Calcários Bioconstruídos de Cerro da
Cabeça, Calcários do Escarpão (Jurássico superior), Formação de Cacela
(Miocénico) e Camadas de Morgadinho (Pliocénico), embora também estejam
presentes as formações do Cretácico e as Areias e Cascalheiras de Faro-Quarteira
(ALMEIDA et al., 2000).

A área deste sistema aquífero abrangida pela área do Parque corresponde a cerca
de 12% da sua área total, sendo de destacar a superfície ocupada pela Formação
de Cacela.

Trata-se de um sistema multi-aquífero, constituído por um aquífero cársico, livre a


confinado, que assenta sobre os Calcários Biocontruídos de Cerro da Cabeça e
Calcários do Escarpão (Jurássico superior), ao qual se sobrepõe um aquífero
poroso, igualmente livre a confinado, suportado pelas formações detrítico-
carbonatadas terciárias. Nalguns locais existe conexão hidráulica entre os dois
aquíferos e aprece haver uma transferência subterrânea do sistema aquífero Peral -
Moncarapacho para o de Luz – Tavira (ALMEIDA et al., 2000).

Comparativamente aos dois outros sistemas aquíferos referidos anteriormente, este


é o que apresenta um valor médio de produtividade mais reduzido (5,2 l/s)
(ALMEIDA et al., 2000).

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No entanto, os níveis piezométricos apresentam, em 2003, uma situação bastante


favorável, que se julga dever, pelo menos em parte, à redução das extracções e à
transferência da origem da água de rega, actualmente superficial (ALMEIDA et al.,
2000).

À semelhança dos casos anteriores também neste sistema a qualidade da água é


fraca, quer para abastecimento, quer para regadio (ALMEIDA et al., 2000).

As concentrações de nitratos são elevadas (acima dos VMA) em todo o aquífero,


sendo igualmente neste caso as mais que maiores preocupações geram, embora
sobretudo no litoral a situação dos cloretos não seja nada favorável, uma vez que
os seus níveis de concentração ultrapassam os VMR e juntamente com os sulfatos
têm sofrido incrementos ao longo do tempo (CCDR, 2003).

A fácies dominante é bicarbonatada cálcica (ALMEIDA et al., 2000).

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