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DESIGN E SUSTENTABILIDADE

AULA 3

Prof. Jaime Ramos


CONVERSA INICIAL

Ecodesign

Nesta aula, falaremos sobre as principais estratégias utilizadas pelo


ecodesign para reduzir impactos ambientais de produtos e serviços. Com o uso
de estratégias adequadas, é possível atender necessidades humanas com
menos materiais, menos energia e menos resíduos.
Inicialmente, vamos estudar as estratégias de ecodesign que buscam a
redução do uso materiais e de fontes de energia e a redução de emissões tóxicas
ao meio ambiente. Na sequência, abordaremos as possíveis contribuições do
design para o aumento da durabilidade dos objetos, evitando o descarte
prematuro. Reúso, remanufatura e upcycling (valorização de objetos usados)
também serão temas abordados. Por fim, analisaremos uma estratégia muito
conhecida, mas que nem sempre é a melhor opção: a reciclagem.

CONTEXTUALIZANDO

As palavras reduza, reúse e recicle sintetizam comportamentos que


devem ser adotados para diminuir o impacto ambiental no dia a dia. Também
chamadas de 3Rs da sustentabilidade, essas três palavras resumem as
principais estratégias do ecodesign.
A ordem dos 3Rs reflete sua importância. Reduzir é imperativo e se
relaciona com a diminuição de desperdícios. Se é possível fazer algo com menos
recursos, por que não fazer? Ao reduzir o uso de materiais, reduzimos também
a extração de matérias-primas não renováveis e, ao reduzir o uso de energia,
reduzimos uma série de impactos associados à produção energética. Ao diminuir
a geração de resíduos para o meio ambiente, ajudamos a reduzir o volume de
lixo e as emissões tóxicas que contaminam o ar, o solo e a água.
O segundo princípio – reúse – também é importante. Reusar significa
promover a durabilidade a fim de evitar o descarte prematuro. Outras formas de
reúso, como reforma, upcycling e remanufatura, também prolongam a vida útil
dos materiais, reduzindo a extração de matérias-primas virgens e o volume de
lixo, já que menos materiais são descartados.
Por fim, reciclar tem efeitos positivos, mas apresenta limitações. Em
embalagens, é comum vermos a palavra reciclável, mas essa característica não

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é garantia de que o material vai ser, de fato, reciclado. Para que isso aconteça,
é necessária uma estrutura que envolve coleta, separação, limpeza e
transformação dos materiais. O processo de reciclagem demanda materiais e
energia e gera emissões. Por essa razão, embora a reciclagem seja importante
para reduzir o volume de lixo e o desperdício de materiais, essa estratégia tem
limitações.

TEMA 1 – REDUÇÃO NO USO DE MATERIAIS, ENERGIA E EMISSÕES

Ao buscar, ainda na fase de projeto, estratégias para reduzir a quantidade


de materiais, energia e emissões de um produto ou serviço, é possível obter
ganhos em termos de performance ambiental, reduzindo significativamente os
impactos ambientais. Algumas ações para reduzir tamanho e peso do produto e
evitar desperdício e energia no processo de fabricação podem fazer muita
diferença na sustentabilidade de um projeto. Embora a busca da
sustentabilidade ambiental ainda seja vista como um custo adicional por parte
dos empresários, ela pode ser uma aliada para o sucesso econômico de uma
empresa ou empreendimento.
Segundo Barbieri (citado por Pearson, 2011), as empresas não podem
perder de vista a capacidade de renovação dos recursos naturais. Afinal a
exploração predatória leva ao esgotamento da matéria-prima, o que torna
insustentável o próprio negócio. Por isso, a gestão ecoeficiente aproveita ao
máximo o potencial dos recursos e aposta no reaproveitamento.
Atender a uma necessidade com menos materiais, energia e emissões
tóxicas pode se traduzir em menos custos com materiais e energia e menos
despesas com limpeza e descontaminações. Em outras palavras, a gestão
ecoeficiente pode significar mais rentabilidade, o que, sem dúvida, é algo
interessante para qualquer empresa ou empreendimento.

1.1 Redução de materiais

A redução do uso de materiais em uma atividade é uma das estratégias


mais usadas pelas empresas – não apenas por preocupação com o
desenvolvimento sustentável. Quando é possível produzir com menos materiais,
sem comprometer a qualidade de um produto, a empresa pode vender mais

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barato, aumentando a parcela de mercado. Por essa razão, é uma ação bastante
buscada pelas empresas.
O design de embalagens compactas reduz os materiais da embalagem e
contribui para a redução do consumo de combustíveis nos transportes, já que
mais unidades de um produto podem ser transportadas em um mesmo caminhão
(ou outro meio de transporte), por consequência, reduzindo custos de transporte
e as emissões para o meio ambiente por cada produto transportado.
Para Ramos (2001), a simplificação da estrutura e da forma do produto
conduz, frequentemente, à redução do uso de materiais. A simplificação pode
ser obtida pela redução do número de componentes necessários para o produto
funcionar bem e pela redução ou eliminação de características com funções
meramente decorativas.
Segundo Manzini (2002):

a proposta de minimização vai desde a redução da espessura de um


componente (usando estruturas geométricas para conservar as
características necessárias de rigidez), até a desmaterialização própria
e verdadeira, já que atualmente é possível substituir partes do
hardware por partes em software.

Por exemplo, um aplicativo que substitui o cartão de crédito.


Isso é possível também com o agrupamento de funções de vários
produtos em um único. A miniaturização é uma realidade nos dias de hoje e
permite grandes reduções no uso e no descarte de materiais. Em alguns casos,
é possível eliminar a necessidade de vários aparelhos. Um único smartphone
consegue reunir e, até mesmo substituir diversos aparelhos, por exemplo:
navegador de GPS, câmera fotográfica, calculadora, lanterna, rádio portátil,
telefone público, scanner, gravador etc. Anos atrás, quem poderia imaginar que
isso tudo seria possível?

1.2 Redução de energia

Energia é um recurso fundamental para o desenvolvimento de qualquer


economia e da civilização. Hoje ela é vista como estratégica no cenário
de poder mundial e regional e estima-se que a demanda energética
mundial triplique nos próximos 30 anos. Dessa forma, o consumo
energético mundial terá crescido 6 vezes em 80 anos. (Mancini; Cruz,
2012, p. 126)

Se, por um lado, o uso da energia é fundamental para o atendimento das


necessidades humanas atuais, por outro lado, o rápido crescimento da produção
e do consumo de energia traz consequências cada vez mais visíveis sobre o

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meio ambiente. “Se o acesso à energia é uma das condições do
desenvolvimento econômico e social, o consumo energético hoje é sinônimo de
poluição e aquecimento climático” (Kazazian, 2005, p. 98).
Em grande medida, meios de transporte ainda necessitam da energia
gerada pela queima de combustíveis fósseis, produzidos a partir da extração de
recursos naturais não renováveis, notadamente o petróleo. O resultado desse
processo são emissões que contaminam o ar, o solo e a água, contribuindo
também para o efeito estufa. Por sua vez, eletrodomésticos, computadores
sistemas de iluminação, aquecimento e refrigeração, entre outros equipamentos
eletroeletrônicos, são grandes consumidores de energia elétrica.
No Brasil, a energia elétrica é gerada predominantemente por usinas
hidroelétricas que, apesar de estarem entre as fontes de energia consideradas
limpas, também têm diversos impactos ambientais associados. Por exemplo, a
construção de uma barragem que gera o alagamento de uma grande área
provoca mudanças no traçado dos rios, perda de biodiversidade, deslocamento
de populações ribeirinhas e a liberação de metano quando as árvores não são
retiradas e apodrecem sob a água.
A busca de soluções para a redução no consumo de energia pode contar
com a contribuição de projetos de diferentes áreas, como arquitetura,
engenharias e design, e há vários exemplos de melhorias nesse sentido.
Atualmente, geladeiras e outros eletrodomésticos usam menos energia do que
usavam no passado; automóveis consomem menos combustível e poluem
menos; lâmpadas LED são mais eficientes do que as antigas incandescentes;
sistemas de aquecimento de água por placas solares e uso de células
fotovoltaicas para gerar eletricidade ajudam a reduzir a demanda sobre outras
fontes de energia.
O design de formas aerodinâmicas é outra solução que pode ajudar a
reduzir o consumo de energia e os impactos associados ao uso dos automóveis
e o design gráfico de interfaces pode ajudar na criação de um painel com
informações em tempo real sobre o consumo. Com o uso da gamificação, é
possível criar um sistema de pontuação que avalia o usuário a cada arrancada
e, no final do trajeto, atribui-lhe uma pontuação, estimulando-o a quebrar seus
próprios recordes de economia de combustível. Isso pode ter consequências
positivas para a redução do consumo de combustíveis e das emissões para o
meio ambiente.

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1.3 Redução de emissões

Além da energia, materiais e outros insumos que são consumidos em


cada etapa da vida de um produto ou serviço, temos também as emissões que,
muitas vezes, podem ser tóxicas para solo, ar e água. Esses processos, que têm
como objetivo atender necessidades humanas, trazem como efeito colateral
gases e líquidos tóxicos que são liberados para o meio ambiente, além de
refugos e sobras de material que são gerados com os produtos e componentes
desejados.
Na atividade de design, é possível contribuir para a redução das emissões
e resíduos gerados pelo produto ou serviço, especificando materiais e processos
de produção não tóxicos ou danosos para o meio ambiente ao longo do ciclo de
vida. Por exemplo, tintas e solventes usados em processo de impressão podem
conter substâncias tóxicas para o meio ambiente. Muitas dessas tintas contêm
compostos orgânicos voláteis (COV) que poluem a atmosfera e produzem
ozônio, o qual, próximo do solo, provoca problemas em pessoas com
dificuldades respiratórias. Além disso, o uso de metais pesados tóxicos, como
chumbo, é danoso para os seres vivos, com consequências que podem ser
graves para saúde humana. Ao especificar processos de impressão, o designer
pode e deve indicar tintas de baixo impacto ambiental.

TEMA 2 – USO PROLONGADO – DURABILIDADE

A obsolescência planejada é um processo em que um produto é


fabricado de modo a ser rapidamente descartado. O consumidor é induzido a
acreditar que certas coisas não têm mais utilidade ou que, de repente, ficaram
“fora de moda”. Somos encorajados a jogar fora coisas em boas condições e a
substitui-las por novas. O uso de materiais de baixa qualidade pode contribuir
para o descarte prematuro. Se, por um lado, isso reduz custos de produção, por
outro, leva ao aumento do volume de materiais descartados e,
consequentemente, de problemas ambientais decorrentes do lixo.
No caso da obsolescência planejada, produtos são pensados para
funcionar bem certo número de vezes. Depois, um simples componente deixa de
funcionar, obrigando o descarte de produto inteiro, pois a troca desse
componente costuma custar quase o mesmo valor de um produto novo.

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Mudanças nos softwares também inviabilizam a utilização de computadores,
celulares e outros dispositivos, pois algumas atualizações deixam de existir.
Projetar para durabilidade é uma ação que contraria os princípios da
obsolescência planejada e vai na contramão dos modelos de produção e
consumo atuais: “durabilidade é uma das estratégias de economia leve, porque
permite alongar a duração de vida dos produtos, diminuir sua renovação e
portanto preservar recursos naturais, limitando assim os impactos dos produtos
sobre o meio ambiente” (Kazazian, 2005, p. 44).

2.1 Durabilidade estética – emocional

Aspectos afetivos e emocionais influenciam a nossa relação com os


objetos e com o meio. Na cultura do use e jogue fora, não existe apego aos
objetos, que são descartados sem pena. Ainda assim, existem objetos que
impactam nossos sentidos e com os quais estabelecemos uma ligação
emocional: esses não são descartados facilmente, pois carregam significados,
sensações e lembranças de momentos agradáveis.
O design emocional pode ser útil para ajudar a mudar a nossa relação
com o mundo material – do descartável para o durável. O design emocional
busca despertar emoções nos usuários finais por meio do design com o objetivo
de fortalecer a conexão entre usuário e objeto. Quando isso acontece, fica mais
difícil descartar algo por motivos fúteis.
A estética também pode influenciar nossa relação com os objetos,
promovendo a durabilidade ou o descarte prematuro. Acabamentos ou cores
extravagantes, que seguem o estilo do momento, podem fazer com que muitos
objetos em boas condições de uso sejam descartados, apenas porque ficaram
fora de moda.

2.2 Desenvolvimento tecnológico


O desenvolvimento tecnológico pode nos ajudar a encontrar soluções
para criar produtos e serviços capazes de atender necessidades de maneira
mais duradoura. A durabilidade reduz descartes prematuros e contribui para a
economia de materiais, energia e emissões para meio ambiente. Dobrar a vida
útil de um produto reduz pela metade o consumo de materiais e a energia
necessária para atender a uma mesma necessidade dentro desse período.

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A tecnologia tem tido êxito no aumento da qualidade e da durabilidade em
diversas situações. Por exemplo, hoje em dia, uma lâmpada LED consome
apenas 20% da energia de uma lâmpada incandescente. Além de reduzir o
consumo de energia, elas duram até 25 vezes mais.
Em função da própria evolução da tecnologia, contudo, alguns
componentes podem ficar defasados, principalmente em produtos mais
complexos. Uma solução para aumentar a durabilidade e prolongar a vida útil
nesse caso poderia ser a utilização de sistemas modulares. Quando um módulo
ficasse defasado, apenas ele seria substituído, evitando o descarte do produto
inteiro.
Outros aspectos importantes para durabilidade são a qualidade e a
confiabilidade. Produtos de boa qualidade demandam menos substituições e,
com isso, contribuem para a redução de impactos ambientais.

2.3 Durabilidade é sempre boa ideia?

Nem sempre a durabilidade é benéfica para o meio ambiente. Grande


parte das embalagens que usamos no cotidiano é feita de polímeros (plásticos)
que podem ser extremamente duráveis. O problema é que a utilidade dessas
embalagens é de apenas algumas semanas, sendo descartadas após o uso.
Uma vez descartadas, podem durar até 400 anos e isso aumenta o volume de
lixo na Terra e nos oceanos. “Assim, designers devem evitar a escolha de
materiais duráveis para atender funções temporárias, a menos que esses
materiais possam ser reaproveitados” (Ramos, 2001).

TEMA 3 – REÚSO

A estratégia de reúso não deixa de ser também uma estratégia de


incremento da durabilidade. A diferença nesse caso é que o reúso pode ser
planejado para uma finalidade semelhante ou para outra função. Por exemplo, o
sistema de garrafas retornáveis (muito usado no passado) elimina ou, pelo
menos, reduz significativamente a necessidade do descarte dessas garrafas.
Outro exemplo de aproveitamento são os potes geleia que viram embalagens
para outros alimentos.
Antigamente, era muito comum o leiteiro deixar uma garrafa de leite fresco
nas portas das casas. No dia seguinte, deixava outra cheia e levava a vazia para

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limpeza e reuso. Esse sistema ficou inviável em função das exigências de
higiene e praticidade da vida contemporânea, mas a tecnologia pode abrir novas
possibilidades de resgatar as vantagens ambientais de soluções do passado. Na
França, por exemplo, existem máquinas para reencher vasilhames de leite
retornáveis. O cliente paga e retira uma embalagem com leite fresco, ao retornar,
a máquina recolhe a embalagem vazia e ele pode comprar outra cheia, sem
pagar de novo pela embalagem. A vantagem: menos embalagens para serem
descartadas.

Figura 1 – Estação de reenchimento de embalagens de leite

Fonte: Jaime Ramos.

Promover o reúso em produtos use e jogue fora pode ser uma boa
estratégia para reduzir o lixo. Produtos descartáveis facilitam a vida em muitos
aspectos: sacolas descartáveis são convenientes em termos de praticidade, mas
são um desastre do ponto de vista ambiental. Sacolas reusáveis ajudam a
diminuir o descarte, mas não são tão práticas, já que é preciso levá-las quando
se sai às compras. O design pode desenvolver soluções para que essas sacolas
fiquem mais atrativas tanto do ponto de vista da estética quanto da praticidade
de uso.
Evidentemente, também existem coisas que só podem ser usadas uma
única vez. É o caso de alguns insumos médicos, como máscaras, seringas, luvas
e outros produtos sujeitos à contaminação. Nesse caso, pode ser necessário
inclusive o tratamento adequado desses materiais para evitar contaminações
durante o descarte.
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TEMA 4 – REMANUFATURA E UPCYCLING

4.1 Remanufatura

Remanufatura é um processo que envolve a desmontagem, limpeza,


reforma e remontagem de um produto. Nesse processo, algumas peças são
substituídas por novas ou por peças aproveitadas de outros produtos. O produto
final deve ser semelhante a um produto novo. O design para a remanufatura
aumenta a vida útil do produto ou dos materiais incorporados. Facilidade para
desmontar e separar as peças é importante nesse caso – o uso de peças
modulares pode ajudar o reparo e a substituição e eficaz.
A remanufatura é aplicável normalmente para produtos de custo mais
elevado e duráveis, mas que necessitam de renovação estética ou tecnológica.
Para que seja viável, precisa ser pensada já durante o projeto. A facilidade de
separação e substituição de peças avariadas por peças novas é uma das
indicações para um design que facilite a remanufatura.
O processo de remanufatura deve ser feito pelo próprio fabricante ou em
estabelecimento autorizado. Há a necessidade de garantia já que, muitas vezes,
componentes remanufaturados envolvem questões de segurança e são usados
na indústria automotiva, por exemplo.
Existem também algumas ações derivadas desse processo, por exemplo,
a recarga de cartuchos de impressora ou a reforma de produtos. Esse tipo de
estratégia é comum em países onde a situação econômica obriga as pessoas a
pouparem recursos, mas pode contribuir para reduzir os problemas ambientais
do descarte de materiais.

4.2 Upcycling

Upcycling é um processo de recuperação ou reforma, que utiliza objetos


ou materiais desprezados, muitas vezes devido à aparência ou ao fato de
estarem fora de moda, para dar uma vida nova a eles. Nesse processo, busca-
se não apenas reformar o objeto, mas também dar novas qualidades estéticas,
visuais e funcionais.
Para Braungart (2002), o objetivo do upcycling é evitar o descarte de
materiais úteis. A redução do consumo de matérias-primas durante a criação de

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novos produtos pode resultar em diminuição do consumo de energia, poluição
do ar e da água e diminuição das emissões de gases de efeito estufa.

Diferentemente do processo de reciclagem, em que se usa energia


(seja de qualquer fonte) para destruir o produto e transformá-lo em
matéria prima para algo novo, o upcycling tranforma produtos inúteis e
descartáveis em novos materiais ou peças de maior valor, uso ou
qualidade. (Berlim, 2012)

Em outras palavras, o material passa a ser utilizado em finalidade mais nobre do


que a anterior.

Figura 2 – Calça jeans transformada em bolsa

Crédito: Marius Godoi/Shutterstock.

Essa estratégia é muito utilizada em itens influenciados pela moda, como


móveis e vestuário. Exemplos: transformar pranchas de skate em cadeiras,
transformar pallets de construção civil em sofás, transformar jaqueta velha em
uma nova e personalizada com a agregação de acessórios.

TEMA 5 – RECICLAGEM

A reciclagem é uma das estratégias mais divulgadas para diminuir o


volume de lixo. Apesar de ser bem conhecida, nem sempre é a melhor opção.
Para que os objetos sejam reciclados, é necessária a desmontagem e separação
dos materiais, retirada de impurezas e nova conformação dos materiais. Todo
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esse processo consome combustíveis (na coleta), produtos químicos (na
limpeza) e energia (para transformar essas peças em novos materiais). Assim,
a reciclagem também tem impacto sobre o meio ambiente.
Quando se pensa na redução de impactos ambientais, outras ações
podem ser mais interessantes do que a reciclagem, como o reuso de
componentes e a promoção da durabilidade, a fim de evitar o descarte. Contudo,
existem situações em que, em algum momento, os objetos precisam ser
descartados. Projetar pensando em estratégias para reciclagem pode evitar que
materiais valiosos acabem em aterros sanitários, criando problemas ambientais.
A reciclagem também é importante para a preservação dos recursos
naturais. Ao contribuir na recuperação dos materiais para uma nova utilização,
reduz a necessidade da extração, na natureza, de matérias-primas virgens,
reduzindo também impactos ambientais daí decorrentes.
Os impactos ambientais da reciclagem do alumínio equivalem a 10% dos
impactos da produção de materiais virgens. A energia necessária para a
produção do alumínio a partir do material reciclado traz reduções ainda maiores.
Ela demanda apenas 5% da energia necessária para a produção a partir de
materiais virgens (Billatos citado por Ramos, 2001).
Para facilitar a reciclagem, o designer pode prever informações claras nas
embalagens e manuais sobre como proceder o descarte. Deve usar formas que
facilitem a compactação para reduzir os custos de coleta e usar materiais fáceis
de identificar e separar para a triagem e encaminhamento desses materiais para
reciclagem.
A especificação de materiais recicláveis tem sido feita pelos designers
como uma estratégia para reduzir a geração de resíduos. A etiqueta dizendo
“este material é reciclável” vende a ideia de que um produto é “ecológico” e
inofensivo para o meio ambiente. Isso tem sido explorado pelo marketing verde
(em inglês, green washing) das empresas, o que pode ser uma forma de
publicidade enganosa.
Para que a reciclagem aconteça, é necessária toda uma estrutura de
coleta, separação e limpeza dos materiais para que, em uma etapa posterior,
eles sejam reciclados. Como em muitas cidades essa estrutura ainda não existe,
a maior parte desses materiais acaba sendo levada para o lixo ou aterro
sanitário.

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Aplicações para os materiais reciclados são importantes para viabilizar a
reciclagem. Assim, uma forma de estimular a reciclagem é prever no design de
objetos ou serviços o uso de materiais reciclados no lugar de materiais virgens.
Aumentar o consumo de materiais reciclados ajuda a incentivar a reciclagem.
O uso de materiais reciclados, entretanto, esbarra em algumas
resistências. Materiais reciclados têm, em geral, aparência heterogênea e, na
percepção do público, apresentam baixa qualidade. Para superar essa limitação,
o design pode desenvolver estratégias para valorizar visualmente esses
materiais, aproveitando suas características.

Figura 3 – Cabides feitos de material reciclado

Fonte: Jaime Ramos.

Existem materiais que podem ser reciclados para atender à mesma


função anterior – é o caso de alguns tipos de vidro e metais. No caso do alumínio,
ele pode ser derretido para fazer novos componentes com as qualidades do
alumínio virgem. O vidro, quando separado por cor, também pode fazer o mesmo
tipo de vidro, mas, quando as cores são misturadas na reciclagem, só pode ser
aproveitado para fazer vidro marrom.
No caso do papel, acontece o que chamamos de reciclagem degradada.
Papel branco pode ser reciclado, mas não volta a fabricar papel branco: vira
papelão ou papel cartão. A cada reciclagem, as fibras do papel ficam mais curtas,
impedindo o aproveitamento para finalidade original. Os polímeros (plásticos)
também sofrem degradação. A cada vez que passam pelo processo de
reciclagem, perdem resistência mecânica e propriedades estéticas e de
acabamento. Por essa razão, algumas embalagens de alimentos não podem ser
recicladas para fazer outras embalagens de alimentos, de modo que o

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aproveitamento se dá para finalidades menos nobres. Essa limitação poderia ser
superada com o desenvolvimento de materiais que pudessem passar várias
vezes pelo processo de reciclagem.
Uma tentativa de superar essas limitações está no aproveitamento dos
polímeros de produtos de uso rápido, como é o caso das embalagens, para
transformá-los em produtos de utilização permanente. Designers têm
especificado esses polímeros reciclados no projeto de bancos de jardim e de
outros objetos de longa duração. Isso evita que esses materiais venham a ocupar
espaços nos aterros sanitários, criando problemas para as futuras gerações.
O desenvolvimento de embalagens fáceis de compactar reduz os custos
de coleta e transporte de materiais recicláveis, reduzindo também o consumo de
combustíveis e as emissões para o meio ambiente. Entretanto, para que elas
sejam compactadas, é necessária a participação do usuário, que pode ser
incentivada pela comunicação visual, informando de forma clara como fazer isso
e a importância disso para o meio ambiente.

Figura 4 – Embalagens compactáveis

Crédito: Scisetti Alfio/Shutterstock.

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TROCANDO IDEIAS

Discuta com seus colegas exemplos de soluções que ajudam a reduzir


impactos ambientais. Reflita também a respeito de soluções que são vendidas
como ecológicas, mas que, na realidade, não são boas para o meio ambiente.

NA PRÁTICA

Analise os impactos ambientais de uma embalagem ao longo do seu ciclo


vida. Verifique quais são os problemas ambientais mais significativos que ela cria
ao longo da sua existência. Com base nessa análise, proponha estratégias de
ecodesign mais adequadas para reduzir os impactos ambientais.

FINALIZANDO

Nesta aula, discutimos algumas das estratégias mais usadas no


desenvolvimento de produtos e serviços sustentáveis. Vimos que as soluções de
ecodesign buscam reduzir o uso de recursos naturais ou evitar que esses
recursos acabem no lixo.
A redução do uso de materiais, de energia e de emissões para o meio
ambiente ajuda a aproveitar melhor os recursos da natureza e a reduzir a
poluição. As estratégias para aumentar e prolongar a vida útil dos objetos ou dos
materiais neles incorporados evitam que recursos valiosos sejam desperdiçados
e reduzem o volume de resíduos sólidos despejados nos aterros sanitários.
Para cada situação, existe uma estratégia de ecodesign adequada. Em
móveis, a durabilidade é importante. Já no caso de embalagens, a durabilidade
pode ser um problema, nesse caso, é melhor pensar em reciclagem ou mesmo
eliminar a necessidade da embalagem. Para produtos eletrônicos, o design pode
criar soluções a fim de facilitar o reuso, a reforma e a remanufatura. No caso do
vestuário, o upcycling pode ser uma opção para evitar o descarte. Esgotadas
essas possibilidades, deve-se planejar e desenvolver estratégias para viabilizar
a reciclagem.

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REFERÊNCIAS

BERLIM, L. Moda e Sustentabilidade: uma reflexão necessária. São Paulo:


Estação das Letras e Cores Editora, 2012.

BRAUNGART, M.; MCDONOUGH, W. Cradle to cradle: remaking the way we


make things. Nova York: North Point Press, 2002.

KAZAZIAN, T. Haverá a idade das coisas leves: design e desenvolvimento


sustentável. São Paulo: Senac, 2005.

MANCINI, S. D.; CRUZ, N. C. da. Recursos energéticos e meio ambiente. In:


ROSA, A. H.; FRACETO, L. F.; CARLOS, V. M. (Org). Meio ambiente e
sustentabilidade. 1. ed. Porto Alegre: Bookman, 2012.

MANZINI, E.; VEZZOLI, C. O desenvolvimento de produtos sustentáveis.


São Paulo: Editora USP, 2002.

PEARSON EDUCATION DO BRASIL. Gestão ambiental. São Paulo: Pearson


Prentice Hall, 2011.

RAMOS, J. Alternativas para o projeto ecológico de produtos. Tese


(Doutorado em Engenharia de Produção), Universidade Federal de Santa
Catarina, Florianópolis, 2001.

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