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SINOPSE DO CASE: Incorporação da Medicina Popular na Medicina Convencional?

Thássio Roberto Martins Oliveira Leite Fernandes2


Jorge Alberto Mendes Serejo3

1. DESCRIÇÃO DO CASO

O presente caso gira em torno da coexistência da medicina com as práticas


populares de cura oriundas das culturas e saberes locais. Na tentativa de impor seus
conhecimentos e obter o monopólio como o único e capaz de explicar a etiologia e cura para as
enfermidades, no início do século XIX foram surgindo cada vez mais faculdades de Medicina,
todavia, a disputa entre a medicina acadêmica e as práticas de cura popular se tornou cada vez
mais evidente, especialmente no cenário das grandes epidemias da época.

Diante desse fato, com o passar do tempo a Organização Mundial da Saúde foi
incorporando os praticantes autóctones como parte da classe responsável pela Atenção Primária
a Saúde, visto que existem regiões remotas do país onde o alcance médico é escasso ou até
mesmo inexistente. Apesar de seus saberes serem considerados opostos, na prática esses
conhecimentos se cruzavam e interagiam, havendo então uma simbiose que possibilita uma
constante evolução dessas práticas.

Posto isso, é corriqueiro nas regiões interioranas que benzedeiras e parteiras


acompanhem e façam parte da equipe médica no momento do parto. Dona Maria, por exemplo,
faz parte do referido grupo e possui muito prestigio na comunidade, pois para os moradores
daquele corpo social ela tem um “dom” além da medicina. Essa é uma característica muito
comum da influência cultural e das tradições nas práticas sanitárias locais.

2. IDENTIFICAÇÃO E ANÁLISE DO CASO

2.1 Descrição das decisões possíveis:

Em consideração a necessidade de garantir o mais alto grau de saúde para todos os


seres humanos, a Organização Mundial da Saúde (OMS) criou o departamento de Medicina

1
Case apresentado à disciplina Influência Afro na Cultura do Brasil e do Maranhão, da Unidade de Ensino
Superior Dom Bosco – UNDB.
2
Aluno do 2ª Período, do Curso de Medicina, da UNDB.
3
Professor, Mestre, Orientador.
Tradicional, a fim de humanizar as práticas medicinais, dessa forma, a inclusão formal dos
curadores populares, benzedeiras e rezadeiras, como Dona Maria, foi essencial para a cultura
de cuidado, fortalecendo o vínculo terapeuta-paciente, o empoderamento do indivíduo e seu
protagonismo no processo de cura.

A atuação de Dona Maria como parteira é a personificação clara do processo


cultural mesclado as tradições locais e aos saberes herdados pelas gerações anteriores, tudo isso
atrelado a medicina tradicional, cuja atuação é em benefício social e até mesmo em benefício
da própria classe médica, visto que há uma promoção da saúde, prevenindo doenças e,
consequentemente, reduzindo os gastos com fármacos e com internação hospitalar.

Cabe ressaltar que através dessa política de cultura do cuidado houve um impacto
na nova Classificação Internacional de Doenças e Problemas relacionados à Saúde (CID-11),
que passou a considerar os modelos de diagnóstico energético das Medicinas Tradicionais,
assim, foram criados padrões e códigos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) que
permitem aos profissionais o registro de suas avaliações.

2.2 Argumentos capazes de fundamentar cada decisão:

As MTCI, como são conhecidas as medicinas tradicionais, complementares e


integrativas pela OMS, correspondem ao conjunto de práticas de atenção à saúde baseado em
teorias e experiências de diferentes culturas utilizadas para promoção da saúde, prevenção e
recuperação, levando em consideração o ser integral em todas as suas dimensões. As práticas
da MTCI cada dia mais vem sendo reconhecidas e tendo uma forte adesão não só no Brasil,
mas em todo o mundo.

“Em 2018, 124 países (64% dos Estados Membros da OMS) informaram ter leis ou
regulamentos sobre medicamentos fitoterápicos e 78 países relataram ter
regulamentos sobre fornecedores de medicamentos tradicionais e complementares”,
informa o relatório. Aumentou de 58 em 2012 para 79 em 2018 o número de países
com políticas globais em MTCI. (ALMEIDA, 2019).

É notório que em todo o mundo a medicina tradicional é o pilar principal da


prestação de serviços de saúde:

Em alguns países, a medicina tradicional ou a medicina não convencional é muitas


vezes referida como medicina complementar. A resolução da Assembleia Mundial da
Saúde sobre medicina tradicional (WHA62.13), adotada em 2009, insta o Diretor-
Geral da OMS a atualizar a estratégia da OMS sobre a medicina tradicional 2002-
2005, com base nos progressos realizados pela países e novos desafios atuais no
campo da medicina tradicional. (OMS, 2013, p. 07).
Para milhões de pessoas, os tratamentos tradicionais e práticos das medicinas
tradicionais representam a principal fonte de cuidados de saúde e, por vezes, a única. Esta forma
de cuidado é perto de casa, acessível e além disso, é culturalmente aceita e confiável por muitas
pessoas.

Desde o lançamento da primeira estratégia da OMS sobre a medicina Tradicional


2002-2005 (2) realizaram-se progressos significativos e constantes na implementação,
regulamentação e gestão da MTC na maioria das regiões do mundo. Enquanto os
Estados-Membros agiram por sua própria iniciativa, o documento de estratégia
original desempenhou um papel importante no apoio de seus esforços (Figuras 1 e 2).
As estatísticas de progresso global foram extrapoladas doo recente inquérito global da
OMS sobre MTC e baseiam-se em indicadores críticos mencionados na estratégia da
OMS para a medicina tradicional 2002-2005 (2) (OMS, 2013, p. 21).

Cada país possui uma variedade própria de práticas reconhecidas e


institucionalizadas ou consideram uma determinada prática de maneira distinta em relação a
outro país, levando em conta sua inserção sociocultural e suas particularidades. Desta forma, as
MTCI possibilitam o uso racional das ações e serviços de saúde, com impacto nos custos do
sistema de saúde.

2.3 Descrição dos Critérios e valores:

As informações apresentadas no presente case tem por base pesquisas científicas


acadêmicas com apresentação de dados comprovados e análises minuciosas apresentadas por
uma agência especializada em saúde, qual seja OMS.
REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Verônica. Políticas de MTCI crescem no mundo e OMS reconhece missão do


ObservaPICS. ObservaPics, 2019. Disponível em: < https://observapics.fiocruz.br/politicas-de-
mtci-crescem-no-mundo-e-oms-reconhece-missao-do-observapics/>. Acesso em: 22 mar.
2023.

PRÁTICAS Integrativas e Complementares em Saúde – PICS. COFFITO. Disponível em: <


https://coffito.gov.br/campanha/pics/index.php?nome=principal>. Acesso em: 22 mar. 2023.

ESTRATEGIA de la OMS sobre medicina tradicional 2014-2023. OMS, 2013. Disponível em:
< https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/95008/9789243506098_spa.pdf>. Acesso
em: 23 mar. 2023.

MEDICINAS tradicionais, complementares e integrativas. OPAS. Disponível em: <


https://www.paho.org/pt/topicos/medicinas-tradicionais-complementares-e-integrativas>.
Acesso em: 23 mar. 2023.

SANTOS, A. C. B. dos. et al. Antropologia da saúde e da doença: contribuições para a


construção de novas práticas em saúde. PEPSIC, 2012. Disponível em: <
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2175-25912012000200003>.
Acesso em: 23 mar. 2023.

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