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Ocupação de caixas-ninho por Parídeos em

diferentes habitats florestais


Luís Pascoal da Silva *, Joana Alves, António Alves da Silva, Pedro Pereira, Milena Matos e Carlos Fonseca

Departamento de Biologia e CESAM, Universidade de Aveiro, 3810-193 Aveiro, Portugal


* lfps@ua.pt / lfpascoals@gmail.com

Introdução $
Os Parídeos são um grupo de pequenas aves florestais representadas em Portugal por quatro espécies (Chapim-de- Aveiro

poupa Lophophanes cristatus L., Chapim-carvoeiro Periparus ater L., Chapim-azul Cyanistes caeruleus L. e Chapim-real Parus Bussaco

major L.). Estas aves são consideradas modelos das populações avifaunísticas florestais e o estudo da sua reprodução é
relativamente simples.
Lisboa

Estudos de reprodução comparativa de chapins são comuns em florestas de Pinus e Quercus, todavia poucos trabalhos
foram efectuados em eucaliptais, habitat florestal de expansão crescente.
0 50 100 Km

Objectivos Fig. 1 - Localização da área de estudo em Portugal.

Comparar as posturas e o sucesso reprodutor de Parídeos nos diversos géneros de floresta existentes no Centro Norte de Portugal.

Metodologia
A amostragem consistiu na colocação de 470 caixas-ninho, distanciadas entre si cerca de 40 metros, na Serra do Bussaco (Figura 1). A sua
distribuição pelos habitats foi uniforme, colocando-se 100 caixas em pinhal (Pinus pinaster Aiton), 100 em eucaliptal (Eucalyptus globulus Labill.), 90
em floresta autóctone (dominada por árvores do género Quercus) e 180 na Mata Nacional do Bussaco, uma floresta exótica (com forte presença de
Cupressus lusitanica Mill.), divididas por duas zonas: uma área de forte perturbação antropogénica e uma zona mais isolada. Durante 2009 foi
efectuada a monitorização das mesmas, de forma conhecer o número de ovos por postura e o número de juvenis voadores de cada caixa-ninho
ocupada.

Resultados e Discussão
A cada habitat foi atribuída uma referência, onde A, C, D, E e P correspondem, respectivamente, a mata exótica não perturbada, mata exótica
perturbada, mata autóctone, eucaliptal e pinhal.
Os locais com maior ocupação de caixas-ninho (Tabela 1) são os habitats de floresta mista (mata exótica e autóctone), com taxas que rondam os
20%. As densidades de aves nestes habitats são muito superiores aos dos habitats de monoculturas florestais (pinhais e eucaliptais). No entanto,
devido às características destes, nomeadamente um maior número de cavidades naturais, a diferença entre o número de caixas ocupadas nos
diferentes habitats não é tão pronunciado.
A ocupação das caixas evidencia também as tendências dos habitats preferenciais para cada espécie, assim como a sua especificidade.
Os diferentes parâmetros reprodutores encontram-se descritos para cada espécie na Tabela 2. Os valores obtidos não demonstram diferenças
significativas (p>0,05) entre os diferentes habitats estudados (análise efectuada através de ANOVA’s). Os resultados obtidos podem ter sido
fortemente influenciados por condições climatéricas atípicas na região durante o ano da realização do trabalho, conduzindo à inexistência de
diferenças significativas entre os habitats.
O facto de ser o primeiro ano em que as caixas se encontravam disponíveis, pode ter contribuído, a par com as condições climatéricas, para a
obtenção destes resultados. Inicialmente esperava-se que existissem diferenças entre os habitats, atendendo às diferentes densidades de parídeos
neles existente.
Tabela 1 - Ocupação de caixas-ninho nos diferentes habitats, por percentagem e número absoluto (N).
L. cristatus P. ater C. caeruleus P. major Total
Habitat % (N) % (N) % (N) % (N) % (N) Tabela 2: Número médio e respectivo desvio-padrão de ovos e sucesso reprodutor (Suc. Rep.), calculado
A 0,0% (0) 8,9% (8) 5,6% (5) 5,6% (5) 20,0% (18) através da divisão do número de juvenis voadores pelos números de ovos postos. “n.a.” significa não aplicável.
C 0,0% (0) 0,0% (0) 8,9% (8) 10,0% (9) 18,9% (17)
Habitat A C D E P
D 0,0% (0) 0,0% (0) 3,3% (3) 15,6% (14) 18,9% (17)
N.º de ovos 5,0±1,0 4,0±n.a.
E 3,0% (3) 0,0% (0) 2,0% (2) 7,0% (7) 12,0% (12) L. cristatus
Suc. Rep. 0,5±0,5 1,0±n.a.
P 1,0% (1) 0,0% (0) 1,0% (1) 7,0% (7) 9,0% (9) N.º de ovos 4,5±1,3
P. ater
Total 0,8% (4) 1,7% (8) 4,0% (19) 8,9% (42) 15,5% (73) Suc. Rep. 1,0±0,1
N.º de ovos 5,4±0,9 5,1±1,3 5,7±0,6 6,0±1,4 5,0±n.a.
C. caeruleus
Suc. Rep. 0,7±0,3 0,9±0,2 0,5±0,2 0,1±0,2 0,2±n.a.
N.º de ovos 3,8±1,6 5,3±1,6 5,9±1,9 5,7±1,4 6,1±1,8
P. major
Suc. Rep. 0,6±0,3 0,3±0,3 0,2±0,2 0,5±0,5 0,4±0,4

Conclusões
Apesar da inexistência de diferenças nos parâmetros reprodutores analisados nos habitats estudados, este trabalho evidencia uma
diferença na ocupação das caixas-ninho, demonstrando a importância de habitats mistos face aos habitats de intensa exploração
florestal, nomeadamente pinhais e eucaliptais. Os resultados deste trabalho no que respeita à caracterização da reprodução das
espécies nos habitats estudados, têm de ser interpretados com sapiência uma vez que se tratou do primeiro ano de estudo. Aliado ao
reduzido tempo de adaptação dos chapins à presença das caixas-ninho, denotaram-se condições climatéricas anormais durante o
período reprodutor de 2009. De forma a tentar obter resultados mais robustos e fiáveis, este trabalho deverá ser continuado nas
próximas épocas reprodutoras.

Agradecimentos
Este trabalho não poderia ter sido realizado sem todo o apoio de um vasto grupo de pessoas que se voluntariou para a colocação das caixas-ninho, e
de um outro que se demonstrou sempre disponível para o esclarecimento de dúvidas e conceitos relacionados com o trabalho.

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