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MANUAL TÉCNICO SOBRE

SINCRONIZAÇÃO E INSEMINAÇÃO
ARTIFICIAL
EM TEMPO FIXO (IATF)

EM BOVINOS
IATF: Inseminação Artificial em Tempo Touros com DEP de 15 Kg tendem a ter filhos com
Fixo este aumento médio de peso nesta idade quando
A IATF é hoje uma realidade. Esta técnica reúne comparados a touros não melhoradores. Se
tantas vantagens que tem o potencial de mudar o multiplicarmos este ganho pelo número de filhos
perfil do rebanho nacional. Este manual técnico tem teremos uma estimativa dos ganhos conseguidos
por objetivo informar ao profissional do campo, de com esta técnica. Além do ganho de peso, várias
maneira clara e objetiva as vantagens e limitações outras características de importância econômicas
da inseminação artificial e mostrar as diferentes têm sido testadas; como precocidade,
técnicas de sincronização e IATF, fornecendo base rendimento de carcaça, etc. O uso de touros
para a escolha da melhor técnica em função das provados significou um grande avanço mundial no
características do rebanho. melhoramento genético, diminuindo muito os riscos
inerentes ao uso de touros selecionados pelo seu
A Inseminação Artificial: Uma tecnologia que aspecto morfológico, e possibilitando a previsão do
mudou o mundo ganho e a estimativa de custo benefício na compra
do sêmen.
A inseminação artificial (I.A) é a técnica mais Outra prática que aproveita as vantagens da I.A. e
empregada no mundo para o avanço genético dos os ganhos do cruzamento entre raças é o
rebanhos. A técnica de I.A. começou a ser utilizada cruzamento industrial, que no Brasil, geralmente
mais comercialmente na década de 50 nos EUA, consiste na utilização sêmen de touros europeus
época em que se concebeu a associação da I.A. provados em vacas zebuínas de rebanho comercial.
com métodos científicos de seleção genética Muitos autores mostram que os ganhos de peso
desenvolvidos pelos pesquisadores da universidade decorrentes à heterose e complementaridade entre
de Cornell. Esta associação mudou a genética do raças superam 15%, além de aumento da fertilidade
gado de leite americano revolucionando a produção das fêmeas nascidas do cruzamento. Um exemplo
de leite e carne naquele país e em vários outros. deste ganho pode ser visto na tabela 1.
Hoje, mais de 40% do gado americano é
inseminado artificialmente. Vários outros países Foram comparados 473 machos inteiros meio
possuem taxas ainda maiores. sangue Nelore-Europeu com 205 animais puros
Nelore. Todos os animais eram filhos de vacas
No Brasil a I.A. começou a ser utilizada Nelores do mesmo rebanho, os pesos foram
comercialmente no início da década de 70, com a ajustados à idade (diferença máxima foi de 90 dias)
abertura das primeiras centrais de inseminação. e receberam o mesmo manejo e alimentação (pasto
Segundo dados da Asbia (Associação Brasileira até 20 meses e confinamento posterior a esta
para Inseminação Artificial) cerca de 4% do rebanho idade). Machos cruzados ganharam 40 Kg a mais
nacional é inseminado. que os zebuínos aos 20 meses e 73Kg a mais aos
Algumas Vantagens da IA. 24 meses.

Existem várias vantagens no uso da I.A, como Tab 1- Pesos aos 20 e 24 meses de touros cruzados
padronização do rebanho, controle de doenças Nelore x europeu e Nelore puro nas mesmas
sexualmente transmissíveis, ordenação do trabalho condições de alimentação e tratamento. São Paulo,
na fazenda, diminuição do custo de reposição de 1997
touros etc. Entretanto as principais vantagens estão
diretamente ligadas ao processo de melhoramento Grupo genético Peso Vivo (Kg)
genético, na obtenção de animais com maior 20 meses 24 meses
potencial de produção e reprodução. A cada dia se Cruzados Nelore-europeu 376 441
faz mais necessário trabalhar com animais Nelore 336 368
melhorados, em função da competividade e Diferença 40* 73*
diminuição de margens de lucro do mercado de *p<0,001 Fonte: Valentim, R. 1997
carne e leite. Empresas que investem em produção
de alimento e manejos mais tecnificados Pode-se concluir, com base em décadas de
necessitam trabalhar com animais com alto trabalhos com I.A. que esta é a mais efetiva
potencial genético, sob pena de não se recuperar o ferramenta do melhoramento genético de grandes
investimento na melhoria do ambiente. rebanhos, responsável por grande evolução na
produção de fazendas de todo mundo, inclusive no
Vários trabalhos têm mostrado o impacto da Brasil.
inseminação artificial no melhoramento do rebanho. Entretanto, neste ponto surge uma pergunta que
Hoje existem sumários de touros de diversas raças, por vezes nos assombra: Se a Inseminação Artificial
incluindo a Nelore que permitem estimar o DEP oferece tantas vantagens por que é tão pouco
(diferencial esperado de progênie do touro) de usada no Brasil?
várias características de importância econômica:
Por ex: para a característica peso aos 18 meses,

2
OS PROBLEMAS

Muitos proprietários de fazendas investem em Tab 4 – Porcentagem de vacas que começaram (C),
programas de inseminação artificial objetivando a Terminaram (T) ou que começaram e
melhora genética do rebanho e o subseqüente terminaram o estro durante o dia ou a noite.
aumento de produtividade. Entretanto, é bastante Pinheiro et. al. 1998.
comum como conseqüência das limitações destes
programas, um aumento do intervalo entre partos e C T CT
uma diminuição do número de bezerros nascidos.
Isso acarretou a interrupção de programas de Noite 53,8% 46,1% 30,7%
inseminação em muitas propriedades, com retorno Dia 46,1% 53,8% 23,0%
do uso exclusivo da monta natural. Dois são os
principais motivos das falhas nos programas de
inseminação artificial: As falhas de detecção de cios Os dados acima mostram os principais motivos das
e o Anestro prolongado dos animais. falhas de detecção de estros. As avaliações por
radiotelemetria (heatwatch) mostram alta
Falhas na Detecção de Cios concentração de estros e comportamento de monta
à noite e no caso de zebuínos e cruzados, durante
A baixa eficiência dos programas de I.A. é relatada um período curto. Outros fatos também interferem
em todo mundo e decorre principalmente da no diagnóstico de cio, como chuva, stress dos
dificuldade de detecção de cios. Esta falha é ainda animais, ordenha, piso, entre outros. A presença de
mais acentuadas nas raças zebuínas, cujas fêmeas mais de uma vaca em cio facilita a detecção, pois
apresentam estros de curta duração e forma um grupo sexualmente ativo. Os métodos de
freqüentemente noturnos, como pode ser visto nas detecção também interferem na eficiência do
tabelas abaixo. programa de inseminação, como pode ser visto na
tab 5.

Tab 2– Duração do estro e intervalos estro-ovulação


de vacas Nelore, Angus e Nelore x Angus Tab. 5 - Porcentagem de observação de estros em
avaliados por radiotelemetria. Mizuta, et al. função do método de detecção. Bo, 2002.
2002. Método de detecção
Percentagem de
cios detectados
Grupos Genéticos Observação casual 43
Características Nelore Nelores x Angus Observação por ordenhadores 50
Angus
Duração do estro Observadores treinados (2 x dia) 50
12,9 ± 2,9 12,4 ± 3,3 16,3 ± 4,8
(horas) (n=25) (n=35) (n=26) Observação +pintura base cauda 71
Intervalo estro- Observação por 24 hora/dia 89
27,1 ± 3,3 25,7 ± 7,6 26,1 ± 6,3
ovulação (horas) (n=8) (n=10) (n=7)
Os dados mostram que mesmo as melhoras
técnicas de observação de cios apresentam alta
ocorrência de falhas. Vários autores relatam falhas
Tab.3 Características do estro detectado por
de detecção de cios variando entre 15 e 50%. As
radiotelemetria em novilhas cruzadas (zebu
perdas de cios aumentam o número de dias
x europeu) criadas a pasto, São Paulo.
improdutivos dos animais, o intervalo entre partos e
diminuem o número de bezerros nascidos. Muitos
Experimento Experimento
fazendeiros observaram estes efeitos,
1 2 descontinuando os programas de inseminação
Número de animais artificial.
77 99
Duração dos estros 10,4±5,7 10,8±5,1 Anestro Pós-Parto
0
N montas/estro 23,0±16,9 30,0±23,5
Outro fator que interfere nos resultados, tanto dos
Intervalo inicio estro/ovul. (h) - 27,6±5,1 programas de inseminação, quanto na monta
0 10±9,7
natural é o anestro pós-parto.
N montas entre 7:00 as 19:00 -
(43,5%) O intervalo entre-partos ideal é de 12 meses. Para
0 13,0±12,4 que isto seja possível o período de serviço (intervalo
N montas entre 19:00 as 7:00 -
(56,5%) entre partos menos o tempo de gestação) deve ser
Experimento 1: Bertan Membrive,C.M. (2000). inferior a 85 dias. Se considerarmos que os
Experimento 2: Rocha, J.L. (2000). primeiros 30 dias pós-parto a fêmea ainda recupera
o útero e o eixo hipotálamo-hipófisario-gonadal do
parto anterior, sobra apenas 55 dias para que o
3
animal cicle, seja inseminado ou coberto e Programas de inseminação artificial em rebanho
emprenhe. O anestro pós-parto prolongado significa com baixo grau de ciclicidade dos animais (número
um maior período de serviço obrigando, no gado de de animais ciclando dividido pelo número total de
corte, a realização de estações de monta longas, e animais em reprodução) acabam sendo muito
acarretando grande parcela de animais vazios no extensos e apresentando resultados insatisfatórios,
final desta, aumentando o número de dias porque a baixo número de fêmeas apresentando
improdutivos e o custo de produção dos bezerros. cios diariamente dificulta a observação e aumenta
as falhas de detecção de cios.

Parto Concepção
Involução Período de concepção Parto
Uterina 30 dias 55 dias
Gestação Gestação 280 dias

Período de serviço
85 dias
D-30 D-85
Intervalo entre partos: 12 meses

Figura 1: Esquema de um intervalo entre partos de 365 dias

Dentre os vários fatores que aumentam o período Tab. 6 – Efeitos de diferentes níveis de Escore de
de anestro pós-parto, os principais são o estado Condição Corporal (ECC) no pré e pós parto sobre o
nutricional das fêmeas e a presença do bezerro retorno a ciclicidade (B=baixo escore de condição
(amamentação). corporal; A=alto escore de condição corporal)
Combinação do ECC no
Característica avaliada
pré e pós-parto
Estado Nutricional B-B B-A A-B A-A
Intervalo parto-folic>8mm (dias) 88 20 16 13
Os escores de condição corporal têm sido de
Intervalo parto folic>10mm (dias) 91 46 46 30
grande utilidade na avaliação do estado nutricional
dos bovinos. Estas medidas refletem o grau de Intervalo parto-ovulação (dias) - 96 74 74
armazenamento de energia do animal e estão ECC na ovulação (1-9) - 5 4,9 6,5
relacionadas ao tempo de retorno da ciclicidade Adaptado de Perry et al, 1991
após o parto e aos resultados de prenhez de
programas de inseminação artificial e sincronização
de cios com inseminação em tempo fixo. A Tab. 6
mostra os efeitos de escores baixos e altos e suas
combinações no retorno à ciclicidade dos animais O
100
Graf.1 mostra as porcentagens de vacas cíclicas no
% acumulada de vacas

decorrer do tempo após o desmame, em função da 80


condição corporal. Pode se concluir que é de vital ECC<5
cíclicas

importância o animal parir com uma boa condição 60 ECC>5


corporal (ECC igual ou acima de 5) e manter ou
perder o mínimo de peso possível (não diminuindo 40
abaixo de 4). 20
Os resultados dos programas de IATF também
estão profundamente relacionados com e estado 0
nutricional dos animais. Iniciar estes tipos de 10 15 20 25 30 35 40
programas em animais com condição corporal 3 ou Dias após desmame
inferior geralmente resulta em baixos índices de
prenhez.
A Tab. 7 mostra a classificação dos escores de Graf-1 Percentagem de vacas cíclicas em função da
condição corporal segundo Richards et. al. condição corporal durante 40 dias após o
(1986). desmame precoce (45 dias)

4
Tab. 7 – Chaves para classificação dos escores de condição corporal
Escore de
Grupo Condição Descrição
Corporal
Emaciada – A vaca se apresenta extremamente magra, sem nenhuma gordura
palpável detectável sobre os processos espinhosos e transversos, ossos da
1
pelve ou costelas. A inserção da cauda e as costelas mostram-se muito
projetadas.
Pobre – A vaca continua bastante magra, mas a inserção da cauda e as
Condição costelas estão menos proeminentes. Os processos espinhosos podem ser
2
Magra individualizados e continuam bastante pontiagudos ao toque, mas verifica-se
um pouco de tecido de cobertura.
Magra – As costelas continuam identificáveis individualmente, mas menos
cortante ao toque. Há gordura palpável evidente ao longo da espinha e sobre a
3
inserção da cauda, com um pouco de tecido de cobertura sobre a porção
dorsal das costelas.
Intermediária – As costelas não podem mais ser identificadas visualmente. Por
Condição palpação detecta-se o processo espinhoso, que apresenta-se mais
4
Intermediária arredondado que cortante. Há uma certa cobertura de gordura sobre as
costelas, processos transversos e ossos ilíacos.
Moderada – A vaca apresenta uma boa aparência geral. Pela palpação,
5 percebe-se uma cobertura de gordura esponjosa sobre as costelas, além de
cobertura nas áreas que circundam a inserção da cauda.
Moderada-Alta – È necessário que se aplique uma pressão firme para se sentir
6 os processos espinhosos. Uma grande quantidade de gordura é palpável sobre
Condição
as costelas e ao redor da inserção da cauda
Ótimo-moderada
Boa – A vaca se apresenta com boa cobertura muscular e com uma quantidade
de gordura considerável. As costelas estão cobertas por uma vasta camada
7 esponjosa, bem como a inserção da cauda. Presença de bolsas de acúmulo de
gordura localizada. Detecta-se a presença de um pouco de gordura em torno
da vulva e nas virilhas.
Gorda – Vaca super-condicionada, apresenta alta deposição de carne. È
impossível palpar os processos espinhosos. Verificam-se vastos depósitos de
8
gordura sobre as costelas, ao redor da inserção da cauda e em torno da vulva.
Condição Várias “bolsas” de gordura se evidenciam.
Gorda Extremamente Gorda – A vaca se assemelha a um bloco. A inserção da cauda
e o íleo se encontram imersos em tecido gorduroso. As estruturas ósseas não
9
podem ser visualizadas e é quase impossível palpa-las. A mobilidade do animal
pode estar prejudicada.
RICHARDS et al. (1986). J. Anim. Sci, 62: 300 - 306

Presença do Bezerro 5
A duração do anestro pós-parto também é Não desmamada
influenciada pela presença do bezerro e estímulo da 4 Desmamada
mamada. Após o parto ocorre desenvolvimento dos
número de picos de LH

folículos ovarianos que, entretanto, regridem antes


3
de atingirem o estágio pré-ovulatório. Isso se dá
pela ausência dos pulsos de LH (hormônio
luteinizante da hipófise) e GnRH (hormônio liberador 2
de gonadotrofinas)que, por sua vez, são modulados
pela liberação de opióides endógenos, liberados
1
pelo estímulo da mamada. O Graf. 2 mostra a
resposta na produção do LH após a retirada do
bezerro aos 17 dias pós-parto. 0
0 2 4
A inseminação artificial, portanto possui um grande Dias após desmame
papel no melhoramento genético e no aumento de
produtividade do rebanho, entretanto fatores como
Graf.2- Aumento da freqüência de pulsos de LH
falhas na detecção de cios e anestro pós-parto,
induzido pelo desmame aos 17 dias pós
diminuem o desempenho do rebanho e dificultam a
parto durante 4 dias..
utilização desta técnica
5
AS SOLUÇÕES
O recente desenvolvimento das técnicas de Seleção e dominância: na qual um folículo cresce
sincronização de ovulações e inseminação artificial mais que os outros, tornando-se dominante e
em tempo fixo (IATF) oferece uma excelente inibindo o crescimento dos demais (dominados).
oportunidade de aumento da lucratividade na Esta fase é dependente do LH (Hormôniio
propriedade, porque possibilita o investimento em Luteinizante).
melhoria genética, acompanhado por melhora dos
Ovulação ou atresia: O folículo dominante ovula
resultados reprodutivos (diminuição do intervalo
após um pico de liberação de LH. No entanto, se
entre-partos e maior número de bezerros nascidos).
houver um corpo lúteo ativo, os níveis de
progesterona estarão altos (fase luteal) inibindo a
Entendendo a Fisiologia para estabelecer o
liberação de LH (Feed Back negativo), e então o
programa
dominante entra em atresia, e uma nova onda de
O crescimento dos folículos ovarianos nas fêmeas crescimento folicular se inicia. A última onda
bovinas se dá em ondas, geralmente duas ou três folicular de cada ciclo culmina com a regressão do
por ciclo. Cada onda pode ser dividida em 3 fases: corpo lúteo (induzida pela prostaglandina F2α
liberada no útero). Com a diminuição dos níveis de
Recrutamento: quando vários folículos primários
progesterona, cessa-se a inibição sobre o LH que é
passam a se desenvolver concomitantemente. Esta
liberado, induzindo o crescimento final do folículo, a
fase é dependente do FSH (Hormônio Folículo
ovulação e posterior luteinização formando o novo
Estimulante).
corpo lúteo.Este processo é ilustrado nas Fig. 2 a 4.

Fig.2-.Fases do crescimento folicular:


recrutamento (dependente de FSH);
Seleção e dominância (dependente de LH);
Ovulação ou atresia (na dependência da
presença o não do pico pré-ovulatório de
LH)

Fig.3- Esquema de ciclo estral com 2 ondas


foliculares. A primeira onda culmina com a
atresia do dominante por falta do pico pré-
ovulatório de LH (Fase luteínica) a
segunda onda culmina com a ovulação
(Fase folicular, baixa progesterona e pico
pré-ovulatório de LH)

Fig.4- Esquema de ciclo estral com 3 ondas


foliculares. A primeira e a segunda onda
culminam com a atresia dos dominantes
por falta do pico pré-ovulatório de LH
(Fase luteínica). A terceira onda culmina
com a ovulação (Fase folicular, baixa
progesterona e pico pré-ovulatório de LH).

6
Como Controlar as Várias Fases do Ciclo Estral? • Induzir a ovulação na fase folicular com GnRH
ou estrógeno.
Os programas de IATF se tornaram possíveis • Induzir o crescimento folicular em animais em
graças aos esforços de muitos pesquisadores que anestro utilizando gonadotrofinas (eCG).
descobriram métodos farmacológicos de controle de
cada fase do ciclo estral em diferentes estágios do Os programas de IATF seguem a lógica de iniciar
ciclo reprodutivo dos animais. Trabalhos mostraram uma onda folicular sincronizada em todos os
que é possível: animais, controlar a duração da fase luteal e o
• Sincronizar a emergência de uma nova onda crescimento folicular com um dispositivo de
folicular através da indução da ovulação (GnRH) liberação de progesterona até o estágio pré-
ou da atresia folicular (progesterona+estradiol). ovulatorio e depois sincronizar a ovulação retirando
• Controlar a duração da fase luteal usando a progesterona exógena (dispositivo) e endógena
luteolíticos análogos à prostaglandina F2α ou (prostaglandina F2α) e aplicando um indutor de
simulando uma fase luteal fornecendo ovulação, para definir o momento desta.
progesterona por meio de dispositivos de As principais formas de controle do ciclo estral e os
liberação lenta. produtos utilizados são resumidos na Fig. 5

TIPO DE FORMA DE PRODUTO AÇÃO


CONTROLE CONTROLE UTILIZADO FARMACOLÓGICA

Induz pico de LH e ovulação e/ou luteinização de fol. Emer-


GnRH Gestran Plus® gência de nova onda de crescimento folicular após ~ 1 1/2 dia
Sincronização do
crescimento da onda Proges- DIB® Induz atresia folicular. Inicia uma nova onda de crescimento
folicular após ~ 4 1/2 dias. O DIB ® simula a presença de um
folicular terona + + CL, controlando a duração da fase luteal. A progesterona
Estradiol RIC-BE® sensibiliza o sistema reprodutivo de animais em anestro.

Controleda PGF2α Prolise®


Controla a duração da fase luteal pela indução de luteólise
em animais com presença de corpo lúteo responsivo (entre
regressãodo CL
α
o dia 6-17 do ciclo estral). Não sincroniza a onda folicular.

Estradiol RIC-BE® Induz liberaç. de GnRH e LH (15h) e ovulação em 41 a 45 hs.

Induçãoda GnRH Gestran Plus® Induz liberação de LH em 2 h e ovulação em 28 a 30 hs.

Ovulação LH Lutropin® Simula pico endógeno de LH, induz ovulação em 26 a 28 hs.

hCG Efeito semelhante a LH, induz ovulação em 26 a 28 hs.

Em combinação com a progesterona estimula o desenvol-


Indução de eCG/PMSG Novormon®
vimento folicular de vacas em anestro, vacas com cria, e
novilhas pré-púberes Em lotes de animais acíclicos influen-
crescimento folicular cia dramaticamente as taxas de prenhez

Fig 5 Controle farmacológico do ciclo estral e produtos utilizados e ações farmacológicas

Vantagens da IATF • Possibilita a programação das inseminações


em um curto período
As novas ferramentas farmacológicas disponíveis • Concentra o retorno do cio das fêmeas
permitiram o desenvolvimento de vários programas falhadas na primeira inseminação facilitando o
(chamados protocolos) de sincronização de cios e diagnóstico de cio no repasse destas.
inseminação em tempo fixo (IATF). As principais • Possibilita altas taxas de prenhez no início da
vantagens da IATF são: estação de monta.
• Elimina na necessidade de observação de cios • Concentra a mão de obra e diminui o número
evitando erros de detecção de horas extras com inseminadores e problemas
• Evita inseminações de vacas fora do momento trabalhistas.
certo diminuindo o desperdício de sêmen, • Diminui o descarte e o custo de reposição de
material e mão de obra. matrizes no rebanho
• Induz a ciclicidade em vacas em anestro • Diminui o investimento com touros.
transicional, permitindo a inseminação destas • Melhora o manejo das pastagens, evitando a
fêmeas. degradação dos piquetes próximos ao curral
• Diminui o intervalo entre partos aumentando o (super utilizados em programas de inseminação
número de bezerros nascidos artificial convencional).

7
OS PROTOCOLOS

Protocolo 1: Programa IATF-Tecnopec


D0 8:00hs Colocar o DIB e aplicar 2 ml de RIC-BE

D8 8:00hs Retirar o DIB e aplicar 2 ml de Prolise e 1,5 ml de Novormon®

D9 8:00hs Aplicar 1 ml de RIC-BE

D10 14:00hs Inseminar todo lote entre 12:00 e 18:00 h

* Em fêmeas cíclicas o uso do Novormon® pode ser reavaliado.

Protocolo 2: Programa IATF-Tecnopec-Gestran Plus

D0 8:00hs Colocar o DIB e aplicar 2 ml de RIC-BE

D8 8:00hs Retirar o DIB e aplicar 2 ml de Prolise e 1,5 ml de Novormon®

D10 IA Aplicar 1 ml de Gestran Plus e Inseminar todo lote entre 6:00 e 10:00 h

* Em fêmeas cíclicas o uso do Novormon® pode ser reavaliado.

8
Protocolo 5: Programa OVSYNC-Tecnopec
D0 06h00m Aplicar 1 ml de Gestran Plus 

D7 06h00m Aplicar 2 ml de Prolise 

D9 06h00m Aplicar 1 ml de Gestran Plus 

D10 18h00m Inseminar todo lote

O programa Ovsynch é mais indicado para vacas taurinas, leiteiras e cíclicas.

Os Resultados dos Programas estação de monta seguinte. O intervalo entre o parto


e o início do programa IATF interferiu nas taxas de
Comparativo entre programa IATF e
prenhez, como pode ser visto na Tab. 8
inseminação convencional
A inseminação artificial em tempo fixo concentra as Tab. 8. Efeito do intervalo parto-início do tratamento na
prenheses no início da estação reprodutiva e taxa de concepção de vacas Brangus
diminui o intervalo entre partos. Comparação inseminadas em tempo fixo SP, 2001.
realizada em vacas Brangus, com bezerros ao pé,
em 45 dias de estação de monta (Graf. 3) mostrou Intervalo Parto
40 a 60 61 a 75 76 a 90
um aumento significativo da taxa de prenhez entre tratamento
IATF e IA convencional. Número de animais 47 56 95
31,9 41,1 57,9
IA convencional 65 Taxa de Concepção (%) a a b
(15/47) (23/56) (55/95)
70 IATF (65/100)
52 a≠b (P< 0,05) Adaptado de Baruselli et al, 2001
60
(52/100)
% vacas prenhes

50
40
19,1
Uso de GnRH (Gestran Plus
) no
30
(18/94)
20
0
programa IATF
10 (0/94)
0 A indução de ovulação com GnRH é muito mais
Dia 1 da EM Dia 45 da EM rápida do que a indução com estrógenos, permitindo
Dias de Estação de Monta sua administração no momento da IA e
economizando uma passagem dos animais pelo
Tronco. Experimentos mostram que não existe
Graf.3 Percentagem de vacas prenhez, inseminadas após
observação de cio (IA convencional) ou após
diferença entre o uso do GnRH ou Benzoato de
programa IATF, em 45 dias de estação de monta. estradiol. (Tab. 9)
(Adaptado de Baruselli et al, 2001)

Após 45 dias todos os animais foram colocados com


touros. A IATF abreviou em 39,3 dias o período de
serviço quando comparado com a inseminação
convencional, antecipando o parto e beneficiando a
9
Tab. 9. Taxa de prenhez de vacas lactantes tratadas com Tab. 11- Taxas de concepção de vacas Brangus,
protocolos IATF e IATF-GnRH (Adaptado de Bó et al, 2000) após o uso ou não de camisa sanitária no
Tratamento Taxa de prenhez momento da inseminação artificial em
IATF 59,0% (124/210) tempo fixo (Baruselli et al, 2002)
IATF- GnRH 57,7% (123/213)
Tratamento Taxa de Concepção
Sem Camisa sanitária 60,4% (64/106)
Uso do eCG ( Novormon) Com camisa sanitária 54,3%(57/105)

O uso do eCG tem se mostrado compensador em


rebanhos com baixo grau de ciclicidade, em animais
Reutilização do DIB
recém paridos (período pós parto inferior a 3 meses)
e em animais com condição corporal comprometida Vários técnicos de campo têm reutilizado
(4 na escala 1-9). A Tab.9 mostra os dados de um dispositivos de liberação de progesterona.
trabalho realizado com 215 vacas Nelore, mantidas Experimentos realizados para testar cientificamente
a pasto no Estado do MS. O período pós-parto a segunda e terceira utilizações mostram que não
há queda de fertilidade decorrente desta prática
médio era de 75 ± 19 dias. Foram comparados os
programas IATF e IATFC. Os trabalhos mostram um
Tab. 12- Comparação entre taxas de prenhez de
melhor resultado para o programa IATFC e, quando
vacas inseminadas artificialmente em
se avaliou a condição ovariana dos animais
tempo fixo com Dispositivos Intra-vaginais
tratados, (Tab. 10a,b) percebeu-se que o eCG foi
altamente benéfico em animais em anestro, porém Bovinos (DIB) novos e reutilizados
seu uso não se mostrou vantajoso em animais (Adaptado de Baruselli et al, 2002)
cíclicos.
Tratamento Taxa de Concepção
DIB novo 55,0% (55/100)
Tab. 10a. Taxa de prenhez de vacas Nelore lactantes
tratadas com protocolos IATF e IATFC (400 UI DIB 2º uso 61,9%(57/92)
eCG). MS, 2001.
Tratamento Taxa de prenhez Tab. 13- Taxas de concepção com dispositivos DIB
a
com 2 ou 3 usos em vacas Nelore com 40 dias pós-
IATF 38,9% (42/108) parto e utilização de 300 UI de eCG (Novormon),
b
IATFC (400 UI eCG) 55,1% (59/107) Faz. Sta Ilda – Campo Grande – MS, 2005
a≠b (P< 0,05)
Experimento Animais Tratamento Resultado
Tab. 10b- Taxa de prenhez de vacas Nelore lactantes,
tratadas com protocolos IATF e IATFC (400 UI eCG) em 61,9%
Vacas DIB Novo
função da classificação do estado ovariano. MS, 2001. Experimento (57/92)
zebuínas, 60
Classificação Taxa de prenhez 1 55%
dias pós-parto DIB 2º uso
dos ovários IATFC Diferença (55/100)
IATF 53,8%
55,5% 64,0% Vacas DIB Novo
A (presença de CL) +8,5% Experimento (28/52)
(15/27) (16/25) zebuínas, 60
2 52,8%
34,4% 50,0% dias pós-parto DIB 3º uso
B (folículo(s) ≥ 8mm +15,6% * (28/53)
(22/64) (29/58) 47,4%
29,4% 56,5% Vacas DIB 2º uso
C (anestro) +27,1% * Experimento (37/78)
(5/17) (13/23) zebuínas, 45
3 50%
dias pós-parto DIB 3º uso
• Significância. (25/50)

Vaginite induzida pelo Dispositivo * Recomenda-se após a retirada do dispositivo de


Vaginal e Taxa de Fertilidade uma vaca, lavá-lo em água limpa para remover o
muco e desinfetá-los com solução 1:250 de Kilol por
O uso de dispositivos vaginais tende a induzir uma 5 a 10 min, secar à sombra e guardar em saco
leve vaginite em uma parcela dos animais. Estudos plástico opaco, até a nova utilização.
mostram que não há interferência desta vaginite
sobre a fertilidade. Trabalho realizado recentemente
testou a utilização de camisa sanitária na
inseminação, com o objetivo de evitar a
contaminação do aplicador pelo muco presente na
vaginite. Os resultados (Tab.11) mostraram que a
vaginite não interferiu nos índices de prenhez.

10
Algumas sugestões para se evitar
baixos resultados após os
tratamentos

1. Não trabalhar com animais em condição corporal


muito comprometida ou com balanço energético
negativo intenso (perda de peso). Mesmo nos
melhores programas, o efeito da nutrição e da
condição corporal é sempre significante.

2. Tomar os devidos cuidados na manipulação e


aplicação dos hormônios. Mantê-los em local
refrigerado mesmo durante o manuseio no curral,
utilizar seringas pequenas (3 a 5ml) e agulhas
finas (40x9, 35x8), para um melhor doseamento
e para evitar o refluxo. Usar somente uma agulha
para retirar o produto do frasco, evitando
contaminações.

3. Utilizar uma planilha para controle das


aplicações. Todos os animais devem passar por
todas as aplicações, uma falha em uma
aplicação significa perda de prenhez do animal.
Muitas falhas comprometem o resultado final.
Uma sugestão de planilha pode ser observada
na tab. 11. Note o espaço para anotação da
condição corporal e intervalo pós-parto. Estes
dados ajudam a entender o resultado final e
realizar correções em um próximo programa,
caso seja necessário.

4. No momento da inseminação trabalhar com dois


inseminadores experientes para evitar o cansaço
do inseminador. Trabalhos mostram a diminuição
dos resultados quando se trabalha com um único
inseminador. É indicado que os dois
inseminadores se revezem a cada 30 minutos.

5. Não estressar desnecessariamente os animais


nas aplicações e na I. A.

11
Tab. 14 - Sugestão de planilha para controle das aplicações e dos resultados e como preenchê-la.

Fazenda: São Francisco Programa: IATFC Data início 02/12/2001 OBS

a a a a
Animal ECC IPP 1 2 3 4 IA OBS
(1-9) aplicação aplicação aplicação aplicação
12/12/2001 Lote paridas
2ml Retirar DIB 1 ml ____
início: retiro 2
1,5 ml RIC-BE
RIC-BE Novormon 14:40
inseminadores
colocar 10/12/2001 Final:

DIB 11/12/2001
início: 7:30 17:20
02/12/2001 João
início: 7:40
Final:8:10
início: 7:30 Final:8:20
Final:8:20
1125 5 70 X X X X Ia zé
2585 5 85 X X X X Ia joão
0589 4 85 X X X X Ia joão
0089 4 65 X X X X IA na cervix zé
1258 5 90 X X X X Ia joão

Toda Bibliografia deste manual está disponível aos clientes da Tecnopec

12
Lista de Hormônios

PRINCÍPIO ATIVO PRODUTO APRESENTAÇÃO COMERCIAL

Dispositivo Intravaginal de Progesterona DIB Bolsas com 10 unidades

Prostaglandina : D-Cloprostenol PROLISE Frasco ampola 20 ml


( 10 doses )

eCG NOVORMON Frasco-ampola 25ml


( 5000 UI )

GnRH : Lecirelina GESTRAN-PLUS Frasco-ampola 20ml


( 20 doses)

LHp LUTROPIN Frasco-ampola 5ml


( 25mg )

FSHp FOLLTROPIN Frasco-ampola 20ml


( 400mg )

Benzoato de Estradiol RIC-BE



Frasco 50 e 100ml
( 1mg/ml )

13
Tecnopec

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