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malaccensis) NA AMAZÔNIA CENTRAL
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Martha de Aguiar FALCÃO , Norival D. PARALUPPI, Charles R. CLEMENT
RESUMO - O jambeiro (Syzygium malaccensis Merr. & Perry, Myrtaceae) é uma fruteira
originária do sudeste da Ásia, hoje muito comum e apreciada na América do Sul e Central. O
conhecimento de sua fenologia pode contribuir para o planejamento e o manejo do plantio, e a
comercialização dos frutos. Num estudo realizado de janeiro de 1980 a dezembro de 1982 com
árvores de cinco anos de idade, plantadas como ornamental em Manaus, AM, Brasil, constatou-
se que a floração e a frutificação do jambeiro ocorreram duas vezes ao ano: em meado da estação
chuvosa (março) e durante o período de estiagem (julho-agosto). Ambos eventos foram rápidos,
com duração de sete a 15 dias, levando cerca de um mês entre a floração e a safra. O estímulo
climático à floração não foi evidente. O jambeiro apresentou vingamento moderado (4 a 10%),
como ocorre com a maioria das fruteiras da Amazônia. Um grande número de abelhas visitou as
flores, sugerindo uma síndrome de polinização, em lugar de co-evolução com uma espécie ou
gênero. A produtividade foi relativamente baixa, variando de 17,7 a 69.7 kg/planta, equivalente
a 4 a 14 t/ha, sendo conveniente lembrar que essas árvores nunca foram adubadas.
ABSTRACT - The Malay apple (Syzygium malaccensis Merr. & Perry, Myrtaceae) originated
in southeast Asia, and is common and appreciated in South and Central America today. A
knowledge of its phenology will help plan and manage the plantation and commercialization of
its fruits. This study took place from January 1980 to December 1982 in 5-year-old trees planted
as ornamentals in Manaus, AM, Brazil. Flowering and fruiting of Malay apple occurred twice a
year, once in the mid-rainy season (March) and once in the mid-dry season (July-August); both
events were very rapid, with durations of 7 to 15 days; the interval between flowering and harvest
was about one month. The climatic stimulus for flowering was not evident. The Malay apple had
low fruit set (4 to 10%), similar to the majority of Amazonian fruits. A large number of bee species
visited the flowers, suggesting a pollination syndrom rather than recent local co-evolution with a
single species or genus. Yield was relatively low. varying from 17.7 to 69.7 kg/plant (4 to 14 t/
ha), although it must be remembered that these trees were never fertilized.
1
Pesquisa desenvolvida com apoio do convênio Universidade do Amazonas e Instituto Nacional
de Pesquisas da Amazônia entre 1987 e 1990. e do Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico - CNPq entre 1997 e 1999.
2
Bolsista do Programa de Capacitação Institucional do Instituto Nacional de Pesquisas da
Amazônia - INPA, modalidade DTI, com apoio do CNPq. Av. Col. Teixeira, 386, Cond. Rio
Tupana, Apto. 602-A, 69030-481 Manaus, AM, Brasil. E-mail: mfalcao@internext.com.br
3
Instituto de Ciências Biológicas, Universidade do Amazonas, Av. Gal. R.O. Jordão Ramos. 3000.
69077-000 Manaus, AM, Brasil.
4
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA, Cx. Postal 478, 69011 -970 Manaus, AM. Brasil.
do Sul e Central, onde é cultivado tanto climáticas, influenciado pelas
como fruteira quanto como planta orna condições edáficas e ecológicas em
mental, devida a forma piramidal de sua geral, sobre o ciclo biológico das
copa que alcança 20 m de altura. A plantas, especialmente sobre os órgãos
inflorescência contém de uma a doze reprodutivos e de crescimento
flores, com pedícelos curtos. As flores vegetativo (Wielgolaski, 1974). O
são hermafroditas, actinomorfas, conhecimento da fenologia ajuda o
diclamideas, apopétalas ou dialipétalas, planejamento e o manejo do plantio,
com numerosos estames vermelhos; ao e da comercialização dos frutos.
cairem no solo formam um tapete Seguindo Prance & Silva (1975) e
vermelho, muito bonito. O fruto é Cavalcante (1991), o jambeiro floresce
drupáceo piriforme, vermelho a roxo- várias vezes por ano, mas outras
purpúreo quando maduro, considerado informações não existem na
como um dos maiores frutos do grupo Amazônia. O objetivo deste trabalho
Eugenia-Syzygium, com uma só foi observar as fases fenológicas e a
semente, polpa espessa, branca, produtividade do jambo durante três
suculenta, de sabor acidulado, agradável, anos na Amazônia Central.
semelhante ao da maçã (Prance & Silva,
MATERIAL Ε MÉTODOS
1975; Cavalcante, 1991). Quanto a
composição, 100 g de polpa do jambo O estudo foi realizado no
contém 90 g de água, 0,3 g de proteína, período de janeiro de 1980 a dezembro
3,9 g de carboidratos, 1 g de fibras, 253 de 1982, em uma área do Campo Ex
IU de vitamina A, 0,1 mg de vitamina perimental da Secretaria de Produção
C, e traços de vitamina BI e B2 Agropecuária do Estado do Amazonas,
(Molesworth, 1967; Morton, 1987). no km 12 da Estrada Torquato Tapajós
O jambeiro se adapta muito bem (AM-010 Manaus-Itacoatiara),
em climas com chuvas abundantes M a n a u s , A m a z o n a s . As árvores
(Calzada Benza, 1980). As árvores são estudadas estavam com cinco anos de
cultivadas em pomares, jardins e em idade no início das observações e
ruas, por sua beleza, bem como por serviam como ornamentação da área.
seus frutos que são apreciados pela O clima da região de Manaus é
população, sendo consumidos in "Afi", no esquema de Kõppen, com
natura, ou em forma de doces, médias anuais de 2.478 mm de chuva
compotas, geléias e refrescos. Na e temperatura de 25,6°C (Ribeiro,
Indonésia os frutos são usados em 1976). Os dados climáticos usados
saladas e são também conservados (Fig.IA) foram obtidos da Estação
como "picles". Tanto as folhas como Meteorológica do Ministério de
as raízes são usadas tradicionalmente Agricultura em Manaus, a 12 km da
na medicina caseira na Tailândia área de observação. O solo desta área
(Panggabean, 1992). é do tipo Latossolo Amarelo, de
A fenologia estuda o efeito da textura média (N. Falcão, INPA, com.
periodicidade das condições pess., 2001).
Para o estudo foram escolhidas dez pétalas ou das flores não polinizadas.
árvores ao acaso; de cada árvore foram Ochse et ai. (1974) comentaram que o
selecionados três ramos, sendo um jambeiro floresce uma vez por ano na
grande, outro médio e um pequeno, para Ásia e várias vezes por ano nos trópicos
contagem das flores e dos frutos (Falcão, americanos, concordando com as
1993). As observações foram realizadas observações aqui relatadas.
semanalmente e a contagem das flores foi A maior floração foi a primeira,
feita no período de floração máxima, com 8.100±1.230 flores/árvore
devido ao curto período deste fenômeno, (variando de 5.500 a 9.600). Todas as
diferente da metodologia seguida em florações subsequentes foram menores,
trabalhos anteriores (Falcão, 1993). Os não alcançando 5.500 flores/árvore.
frutos abortados foram contados debaixo Supõe-se que esta redução foi devido ao
de cada árvore. pequeno estoque de nutrientes no solo,
Para estimar a produtividade de já que plantas ornamentais raramente
cada planta, foram escolhidos ao acaso são adubadas em áreas públicas.
vinte e cinco frutos maduros, que foram Frutificação
pesados e separados em polpa e semente;
calculou-se a média e desvio padrão de A frutificação seguiu-se
cada variável. A casca não foi separada imediatamente após a floração (Fig. IB),
com a safra ocorrendo cerca de um mes
por ser uma película membranosa e
após a floração máxima. Essas
consumida junto com a polpa.
observações conflitam com o
Na época de floração máxima no
comentário de Cavalcante (1991) de que
ano de 1980, as observações foram
o jambo está presente nas feiras de
realizadas diariamente das 5:30 às
Belém durante a maior parte do ano,
19:00 h, com o objetivo de se observar
embora Cavalcante salientou que
e capturar os insetos visitantes. Os existem dois períodos de maior
insetos capturados foram enviados a abundância. Panggabean (1992) relatou
um especialista para identificação. que a maturação leva de 30 a 40 dias no
RESULTADOS Ε DISCUSSÃO sudeste da Ásia, similar ao observado
Floração aqui. Como ocorreu com a floração, a
safra também teve duração curta,
Observou-se duas florações bem raramente excedendo a 15 dias.
definidas: uma em março, na época Também, o número de frutos produzidos
chuvosa, e outra em julho ou agosto, na primeira safra foi maior (média de
durante o período de estiagem, 840±280 frutos/árvore; variando de 450
aparentamente sem relação com as a 1270) que nas safras subsequentes,
chuvas (Fig. IB). A sincronia entre provavelmente pela mesma razão.
árvores foi sempre alta, variando menos
de uma semana em cada lado da média Vingamento
da floração. O período de floração é O vingamento de frutos na
muito curto, levando de 7 a 15 dias en primeira safra foi em torno de 10% das
tre a abertura dos botões e a queda das flores (Fig. 1C). Como ocorreu com a
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