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2007
MARCELO ANDRADE BOTELHO MESQUITA
Orientador
Prof. Dr. Ricardo de Souza Sette
LAVRAS
MINAS GERAIS - BRASIL
2007
Ficha Catalográfica Preparada pela Divisão de Processos Técnicos da
Biblioteca Central da UFLA
CDD – 658.8342
MARCELO ANDRADE BOTELHO MESQUITA
LAVRAS
MINAS GERAIS – BRASIL
SUMÁRIO
Página
LISTA DE QUADROS........................................................................ i
LISTA DE FIGURAS.......................................................................... ii
RESUMO.............................................................................................. iv
ABSTRACT.......................................................................................... v
1 INTRODUÇÃO................................................................................. 1
2 OBJETIVOS...................................................................................... 6
3 OS COMBUSTÍVEIS NO BRASIL................................................ 7
3.1 História da indústria do petróleo no Brasil...................................... 7
3.2 Os biocombustíveis.......................................................................... 9
3.3 A revenda brasileira de combustíveis.............................................. 11
3.4 As ilicitudes do mercado.................................................................. 12
4 REFERENCIAL TEÓRICO............................................................ 15
4.1 Segmentação de mercados............................................................... 15
4.2 Comportamento do consumidor....................................................... 23
4.2.1 O modelo de comportamento de compra do
consumidor...................................................................................... 30
4.2.1.1 Fatores internos.......................................................................... 36
4.3 O papel dos valores no comportamento do consumidor.................. 39
4.4 Means-End Chain theory – A teoria da Cadeia de Meios e Fins..... 52
4.4.1 Críticas, limitações e utilização da MEC...................................... 61
5 METODOLOGIA............................................................................. 66
5.1 Natureza e caracterização da pesquisa............................................. 66
5.2 Contexto da pesquisa....................................................................... 71
5.2.1 Caracterização da cidade de Montes Claros, MG......................... 71
5.2.2 A revenda de combustível em Montes Claros.............................. 72
5.2.3 O Posto Mercolub/MG.................................................................. 74
5.3 População-alvo e amostragem......................................................... 75
5.4 Processo de coleta, análise e interpretação dos dados..................... 80
5.4.1 A técnica Laddering...................................................................... 80
5.4.1.1 A definição dos atributos........................................................... 83
5.4.1.2 A entrevista em profundidade.................................................... 86
5.4.1.3 Procedimentos para análise das informações............................. 91
5.4.1.3.1 Análise de conteúdo................................................................ 91
5.4.1.3.2 Construção da matriz de implicação....................................... 94
5.4.1.3.3 Construção do Mapa Hierárquico de Valores......................... 97
5.4.1.4 Críticas e limitações aos procedimentos de coleta e análise de
dados da Laddering................................................................................ 100
7 CONCLUSÕES................................................................................. 172
7.1 Objetivos Geral e Específicos.......................................................... 172
7.2 Implicações gerenciais e sugestões.................................................. 174
7.3 Limitações e sugestões para futuras pesquisas................................ 178
i
LISTA DE FIGURAS
ii
FIGURA 15 - Relações nas cadeias do MHV que caracterizam o
grupo dos consumidores Realizadores..................... 168
FIGURA 16 - Relações nas cadeias do MHV que caracterizam o
grupo dos consumidores Ecologicamente conscientes 170
iii
RESUMO
*
Orientador: Prof. Dr. Ricardo de Souza Sette - UFLA
iv
ABSTRACT
*
Guidance: Prof. Dr. Ricardo de Souza Sette - UFLA
v
1 INTRODUÇÃO
1
Ford fabricou seu primeiro modelo de automóvel em 1896.
2
Santos Dumont voou com o 14 Bis em outubro de 1906.
3
Em 1918, durante a Primeira Guerra Mundial, submarinos com motor a diesel foram
utilizados e o avião foi adotado como arma.
4
Parafina, gás natural, produtos asfálticos, nafta petroquímica, querosene, solventes,
óleos lubrificantes, plásticos, laicra e até goma de mascar (chicletes).
1
distribuídos no Brasil mais de 90 milhões de litros de derivados combustíveis de
petróleo5, um mercado que movimenta aproximadamente R$ 70 bilhões de reais
a cada ano e gera uma receita de impostos de quase R$ 35 bilhões (Pontes,
2002). Apesar da desregulamentação de 19976, que, em tese, eliminou o
monopólio da Petrobrás, a atividade do refino do petróleo no Brasil continua
sendo exclusividade da citada estatal. Até março de 2007, a Petrobras possuía 12
das 14 refinarias instaladas no país, que respondiam a 98,5% do refino do
petróleo nacional. As duas refinaria restantes pertenciam à Ipiranga que, naquele
mês, foi comprada pela Petrobrás. Como as importações de gasolina e de óleo
diesel são esporádicas e pouco afetam o mercado, pode-se dizer que,
independentemente de qual seja a companhia distribuidora - Shell, Esso, Texaco,
Petrobrás, Ipiranga ou qualquer outra –, todo diesel comum e gasolina comum
comercializados no Brasil são praticamente iguais7, ou seja: foram produzidos
pela Petrobrás. Essa peculiaridade do mercado brasileiro torna ainda mais difícil
para as distribuidoras a tarefa de diferenciarem seus produtos.
Nos últimos anos, é comum encontrar, na literatura de marketing, textos
que iniciam falando das grandes transformações políticas, econômicas e sociais
ocorridas nas últimas décadas - mercados globalizados, mudanças nos hábitos de
consumo, comoditização de produtos, crescimento do setor de serviços entre
outros - que contribuem para aumentar a complexidade do mercado ao qual as
organizações contemporâneas devem se adaptar para obter vantagem
competitiva ou, mesmo, garantir sua própria sobrevivência. E, nessa constante
busca das empresas por vantagem competitiva, estratégias de segmentação de
5
Além da gasolina e do diesel, também fazem parte desse grupo o GLP, a gasolina, o
querosene de aviação e o óleo combustível.
6
Com a desregulamentação outras empresas (nacionais e estrangeiras) poderiam
explorar e produzir óleo em território brasileiro.
7
Aqui não estão sendo levado em conta aspectos técnicos, como se o óleo é de base
parafínica ou naftênica. A intenção é ressaltar o fato de que todo produto tem a mesma
origem, no que diz respeito ao refino.
2
mercados e diferenciação de produto podem mostrar-se bastante úteis. Mas, no
caso dos combustíveis, além do quase monopólio da Petrobrás, o fato de ser um
produto de conveniência8 torna ainda mais difícil a tarefa de diferenciação.
Uma das únicas opções possíveis para a diferenciação dos combustíveis
é o acréscimo de aditivos, transformando-o em um produto aditivado. No caso
da gasolina, esses aditivos do tipo detergente-dispersante possuem a capacidade
de manter os bicos injetores e as válvulas de transmissão dos veículos limpas,
reduzem o desgaste dos bicos injetores, diminuem a formação de sedimentos e
depósitos e conferem maior proteção anticorrosiva a todo o sistema de
alimentação. Assim, com o uso do produto aditivado, os motores ficam mais
limpos e em melhores condições de funcionamento, o que reduz a incidência de
problemas mecânicos e, conseqüentemente, os gastos com manutenção9. Para as
empresas distribuidoras e postos revendedores, a venda de gasolina aditivada
também é vantajosa, já que as margens de lucro, normalmente, são maiores, se
comparadas às da gasolina comum.
Apesar de a gasolina aditivada proporcionar maiores margens de lucro e
ser o principal caminho para a diferenciação, as grandes companhias estão
investindo cada vez menos nesse segmento e o motivo é muito simples: para
manter o mesmo nível de consumo diante dos aumentos de preço do petróleo,
muitos consumidores trocam a gasolina aditivada pela comum (Miller, 2006).
Mas, mesmo quando os preços aumentam, uma parcela dos consumidores
continua acreditando e pagando pelos benefícios da gasolina aditivada. Pouco se
8
Produtos de conveniência são bens razoavelmente baratos, comprados pelos clientes
com freqüência e de forma rápida e com um mínimo de esforço (Nickels & Wood, 1999
p. 163). Como avaliam como baixo o risco da tomada de decisão os consumidores desses
produtos não costumam ser muito leais às marcas disponíveis. Esses produtos não
apresentam diferenças percebidas de qualidade, são vendidos a preços baixos e estão
disponíveis em muitos pontos de vedas (Kotler & Armstrong, 1998).
9
Por esses motivos, hoje, a gasolina aditivada é praticamente consenso entre os
fabricantes de veículos, com excessão da Fiat, que recomenda a gasolina comum, mas
não condena o uso da aditivada nos manuais de seus veículos (Brandão, 2007).
3
sabe sobre esses consumidores. No levantamento bibliográfico realizado para
esta pesquisa não foi encontrado10 nenhum texto acadêmico na área do
marketing11 que abordasse o assunto. Dessa forma, o presente trabalho traz
contribuições para um maior conhecimento do comportamento do consumidor
de gasolina aditivada, identificando a influência dos seus valores pessoais na sua
opção pelo produto.
Nos últimos anos, a influência dos valores pessoais tem sido examinada
em diferentes contextos de consumo, como em decisões de compra de
automóveis, de atividades de lazer, compra de alimentos orgânicos, roupas e
atividades educacionais (Schiffman et al., 2003). Nesta pesquisa a influência dos
valores pessoais na escolha por gasolina aditivada foi estudada na perspectiva da
teoria da Cadeia de Meios e Fins. Segundo essa teoria, é possível entender o
processo de decisão e o comportamento de compra do consumidor pela análise
da sua rede de valores. Para acessar a estrutura cognitiva do consumidor,
utilizou-se a entrevista em profundidade do tipo Laddering, técnica pela qual é
possível construir uma escada de valores do consumidor.
Acredita-se que o conhecimento gerado a partir deste estudo possa ser
utilizado pelas companhias distribuidoras e postos revendedores, elos finais da
cadeia de petróleo. Compreender o conjunto de atributos que orientam a decisão
do consumidor pela gasolina aditivada, os benefícios do produto por eles
percebidos e valorizados, os valores que guiam seu comportamento e a relação
entre esses três fatores é importante para o desenvolvimento de estratégias de
marketing mais eficientes pelas empresas envolvidas.
A outra contribuição deste trabalho reside na metodologia adotada. Para
Veludo-de-Oliveira & Ikeda (2004), Laddering é um método de grande valia no
10
Pesquisou-se nos bancos de teses e dissertações do Instituto Brasileiro de Informação
em Ciência e Tecnologia (IBICT), no Portal de Periódicos (nacionais e estrangeiros) da
Capes, nos anais do Enanpad e no Google.
11
Exceto trabalhos sobre variação nos preços do produto.
4
estudo do comportamento humano, servindo, sobretudo, para a avaliação de
valores dos indivíduos no contexto da teoria da Cadeia de Meios e Fins. Este
método vem sendo utilizado por pesquisadores de diversos países nas áreas de
administração e marketing, em pesquisas de opiniões, atitudes e crenças das
pessoas, sendo bastante recomendado em pesquisas que abordam o valor para os
consumidores. Apesar da repercussão internacional, no Brasil, o método ainda é
pouco conhecido e adotado, fato certamente influenciado pelo grande
investimento de tempo demandado pela técnica. Nesse sentido, ao adotar
Laddering em um contexto ainda não estudado, este trabalho também contribui
para a disseminação de uma nova alternativa à pesquisa de marketing no Brasil.
5
2 OBJETIVOS
6
3 OS COMBUSTÍVEIS NO BRASIL
7
submarina levaram a empresa à liderança mundial na exploração de petróleo em
águas profundas.
Em agosto de 1997, depois de quase 50 décadas de monopólio da
Petrobrás, a Lei 9.478 regulamentou uma emenda constitucional que
flexibilizava o monopólio estatal da Petrobrás, permitindo que outras empresas
explorassem e produzissem óleo em território brasileiro. A responsabilidade pelo
controle do setor petrolífero saiu das mãos da Petrobrás para as da recém-criada
Agência Nacional do Petróleo, a ANP. Dois anos mais tarde, quando ocorreu a
primeira licitação de blocos para a atividade de exploração, a estatal de petróleo
italiana AGIP tornou-se a primeira empresa estrangeira a atuar no Brasil. A
elevada carga fiscal do regime de tributação brasileiro, os altos investimentos
necessários, estudos técnicos insuficientes e a conjuntura mundial do setor
petrolífero na época desestimularam a participação das demais multinacionais na
licitação (Ribeiro Neto, 2001). No início de 2007, entretanto, o número de
empresas (nacionais e estrangeiras) que possuíam concessões para a exploração
de petróleo no Brasil chegava a 30, permanecendo a Petrobrás como a mais
expressiva.
Em abril de 2006, com a entrada em operação da maior plataforma de
petróleo P-50, cuja capacidade de produção é de 180 mil barris diários, foi
comemorada a auto-suficiência em petróleo. Naquele ano, a estimativa de
produção média de petróleo era de 1,9 milhão de barris diários, enquanto a
demanda interna pelo produto fecharia o ano em 1,8 milhão de barris diários
(Petrobrás, 2006). Segundo o anuário estatístico de 2006 da ANP, as reservas
brasileiras de petróleo em terra e mar são da ordem de 16.132,3 bilhões de
barris.
8
3.2 Os biocombustíveis
Neste cenário merece destaque o impulso que a produção dos
biocombustíveis (álcool e Biodiesel) tem recebido neste início de século XXI.
Criado em 1975 como parte das medidas para minimizar os impactos das crises
do petróleo, o Programa Nacional do Álcool, o Proálcool, substituiu a gasolina
por álcool etílico, diminuindo em 10 milhões o número de automóveis a gasolina
rodando no Brasil. Tal medida reduziu as despesas com importação de petróleo
ao longo da década de 1980, mas com a estabilização do preço da gasolina nos
anos seguintes, o produto perdeu competitividade e o governo passou a subsidiar
a produção.
Apesar dos subsídios do governo nas décadas de 1980 e1990, o álcool
só ganhou novo impulso com a entrada no mercado, em 2003, dos chamados
carros flex, que permitem optar pelo abastecimento de gasolina, álcool ou a
mistura em qualquer proporção dos dois combustíveis. Mesmo possuindo a
tecnologia desde 1998, a Volkswagen só lançou o primeiro modelo
bicombustível - o Gol 1.6 - em março de 2003, pois ainda havia incertezas sobre
a tributação de tais produtos e um enorme desconfiança com relação ao carro a
álcool. À medida que os problemas de tributação foram resolvidos e o brasileiro
ganhava confiança no carro flex, as vendas dispararam. Em junho de 2005 elas
superaram as do carro a gasolina e, no início de 2006 70%, da produção anual de
veículos no Brasil já contava com essa tecnologia (Nascimento, 2006). Até o
final daquele ano, a previsão era que esse número chegasse a 85% da produção e
que cerca de 1,2 milhão de carros flex estariam rodando no Brasil.
Além dos carros flex, o problema do aquecimento global – que torna
necessária a redução da emissão de CO2 resultante da queima de combustíveis
fósseis - também tem motivado o aumento da demanda pelo produto no mercado
externo. No Brasil, a adição de álcool à gasolina começou na década de 1930 e,
nos dias de hoje, é adotada na proporção de 25% (Brasil, 2005). Outros países –
9
dentre eles os Estados Unidos – têm planos de adotar medidas semelhantes,
sendo a importação do produto brasileiro um dos caminhos mais
economicamente viáveis. As grandes oportunidades de receita que se mostram
num futuro próximo têm estimulado constantes investimentos em tecnologia e
aumento da capacidade de produção. Em 2006, segundo relatório do Ministério
da Agricultura (Brasil, 2006), citado por Máximo (2006), a produção brasileira
de álcool foi de cerca de 17,2 bilhões de litros e estima-se que chegue aos 38,6
bilhões de litros em 2017, o que representa um aumento de 123,8% em 10 anos.
O outro biocombustível que começa a atrair atenção é o biodiesel,
produzido a partir de óleos vegetais que, de acordo com a lei nº. 11.116 de maio
de 2005, passou a ser misturado, na proporção de 2%, ao diesel comum e
aditivado. Essa lei determina que todo óleo diesel consumido no país deve
conter pelo menos 2% de biodiesel, mas tal medida, que por enquanto é
facultativa, só se tornará obrigatória a partir de 2008. Essa porcentagem deverá
subir para 5% até 2010. Os veículos não precisam passar por qualquer alteração
para receber o biodiesel, que pode ser extraído de diversas matérias-primas
como, baga de mamona, polpa do dendê, amêndoa do coco de dendê, amêndoa
do coco de babaçu, semente de girassol, amêndoa do coco da praia, caroço de
algodão, grão de amendoim, semente de canola, semente de maracujá, polpa de
abacate, caroço de oiticica, semente de linhaça, semente de tomate e de nabo
forrageiro. Embora algumas outras plantas nativas do Brasil apresentem bons
resultados em laboratórios, como o pequi, o buriti e a macaúba, sua produção é
extrativista e não há plantios comerciais que permitam avaliar com precisão as
suas potencialidades (Dabdoub, 2003).
De acordo com o secretário executivo do Ministério de Minas e Energia
Maurício Tolmasquim, citado por Pereira (2004), essa adição de 2% de biodiesel
ao diesel representa uma economia de cerca de 800 milhões de litros,
possibilitando uma redução de U$ 160 milhões em importações. Como o Brasil
10
importa 20% dos 360 bilhões de litros de diesel que consome por ano, a adoção
do percentual de 5% de biodiesel representaria uma economia anual de U$ 400
milhões para o país, fora a redução dos danos ambientais, já que o biodiesel
emite 78% menos gás carbônico na atmosfera terrestre. As potenciais
contribuições do biodiesel para o desenvolvimento econômico em certas regiões
do Brasil também merecem destaque. Ao contrário das refinarias de petróleo,
concentradas nos estados do centro-sul do país, as usinas de biodiesel podem ser
instaladas em qualquer região, conforme afirma Carlos Khalil, pesquisador
sênior do Centro de Pesquisas da Petrobrás citado por Pereira & Stavale (2004).
As usinas de biodiesel podem ser de médio porte e distribuídas em todo o
território brasileiro. O importante é juntar os três elementos: (1) a cadeia
produtiva agrícola, (2) a produção industrial, a transformação do grão em
biodiesel e (3) o consumo. Qualquer macroregião onde esses três elementos
sejam reunidos pode se tornar um pólo de biodiesel. Atualmente, existem 22
usinas de biodiesel em operação no país, 42 em construção e outras 48
anunciadas para os próximos anos, entre elas a de Montes Claros/MG.
12
Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e Lubrificantes.
13
Transportador Revendedor Retalhista
11
abertura, houve grande aumento no número de distribuidoras, a maioria delas de
pequeno porte. Por conta das estruturas mais enxutas e maior agilidade no
atendimento, essas distribuidoras de pequeno porte conseguiam competir com as
grandes distribuidoras14 obtendo, já em 1999, 25% das vendas nacionais de
derivados de petróleo. De acordo com o anuário da ANP (2007), no ano passado,
as pequenas distribuidoras responderam por 26,8% das vendas de diesel e
gasolina no mercado nacional.
No que diz respeito aos cerca de 34.300 postos de distribuição, observa-
se que quase 50% deles estão localizados na região sudeste. De acordo com o
SINDICOM (2007), que representa as 11 maiores empresas distribuidoras do
Brasil (85% do mercado), o faturamento anual desse segmento é de R$ 50
bilhões, com um volume de vendas de 62,2 bilhões de litros de combustíveis
automotivos, industriais, de aviação e lubrificantes. Os investimentos anuais são
de R$ 700 milhões e os tributos gerados alcançam R$ 25 bilhões.
14
O grupo considerado como “as grandes distribuidoras” é formado pela Petrobrás,
Ipiranga, Shell, Texaco e Esso.
12
sedimentada desconfiança da sociedade em relação ao setor, especialmente no
caso dos postos sem contrato fixo com nenhuma distribuidora, os chamados
“bandeira branca”.
A possibilidade de fraudes no recém-criado mercado do biodiesel
também faz parte da pauta de preocupações do setor, que receia que o produto se
transforme em um novo elemento de sonegação e adulteração, a exemplo do que
aconteceu com o álcool. Refinarias clandestinas de biodiesel poderão oferecer
produto de menor qualidade ou sem o recolhimento correto de tributos, com
preços mais convidativos. Apesar de parecer remota à primeira vista (uma vez
que o custo do biodiesel é superior ao do diesel, o que descartaria qualquer
vantagem no aumento do percentual da mistura), também não é nula a
possibilidade de uma adulteração por adição de biodiesel num nível superior ao
permitido.
Se um aumento no percentual da mistura diesel-biodiesel é inviável, a
adição de óleo vegetal ao combustível não é. Nos estados do Centro-Oeste
brasileiro, cuja economia foi castigada pela crise do setor agropecuário entre
2005 e 2006, alguns produtores rurais, mesmo sem saber exatamente quais as
conseqüências no funcionamento dos motores, estão misturando óleo de soja
refinado na proporção de até 50% nos tanques de combustível para reduzir seus
custos (Guidone, 2006). Ainda segundo Guidoni (2006), quem faz esse
“biodiesel caipira” baseia-se equivocadamente na mesma lógica do uso do
biodiesel. Mas, conforme explica o engenheiro químico João Pedroso, citado por
Guidone (2006), o biodiesel e o óleo vegetal são dois produtos diferentes. Para
ser transformado em biodiesel, o óleo vegetal é submetido ao processo chamado
de transesterificação, que remove a glicerina15 do óleo vegetal e a substitui por
etanol. A glicerina torna o óleo vegetal cerca de 10 vezes mais viscoso que o
biodiesel, o que prejudica as bombas do motor. Além disso, como sua queima é
15
Cerca de 20% da molécula do óleo vegetal é formada por glicerina.
13
irregular, o uso do óleo vegetal gera resíduos de carbono que acabam entupindo
os bicos injetores do veículo. Como se não bastasse a nocividade aos motores, a
queima do óleo vegetal que contém glicerina emite uma substância tóxica e
potencialmente cancerígena denominada acroleína, que deixa um insuportável
cheiro de fritura no ar.
14
4 REFERENCIAL TEÓRICO
15
do consumo de massa, pressupôs-se que os consumidores buscavam variedade e
mudança. Assim, para impulsionar as vendas, os fabricantes colocavam no
mercado dois ou mais produtos com diferentes aspectos, estilo e níveis de
qualidade que se mostravam como opções para os diferentes gostos dos
consumidores (Kotler & Armstrong, 1998).
Para diversos autores (Freitas & Heineck, 2001; Teixeira, 2005; Wind,
1978; Kara & Kaynak, 1997; Woo, 1998), o clássico trabalho de Smith (1956)
foi o marco de uma evolução no modo de se considerar o mercado. Até então,
tentava-se minimizar as variações na demanda dos consumidores individuais por
meio do uso de produtos atraentes, desenvolvidos para fazer com que a maior
parte da demanda convergisse para um produto ou para a linha de produtos
promovida (Smith, 1956). O autor, entretanto, sugeriu que, quando as demandas
por produtos não fossem homogêneas, seria necessário distinguir segmentos
semelhantes para que houvesse o encontro da curva da oferta com a curva da
demanda, ou seja: era melhor aceitar a demanda divergente como uma
característica do mercado e ajustar as linhas de produtos e as estratégias a ele
(mercado). Assim, as ofertas de produtos precisariam ser diferenciadas conforme
os diferentes públicos que poderiam comprar o produto (Porto & Torres, 2005).
Tal sugestão pode soar demasiadamente óbvia nos dias de hoje, mas só
com o trabalho de Smith (1956) foi rompida a suposição de que todas as pessoas
no mercado possuem necessidades e desejos similares. O mercado deixou de ser
visto como um todo homogêneo e passou a ser encarado como um conjunto de
segmentos distintos, para os quais se deveria desenvolver estratégias específicas
que atendessem, preferencialmente, àqueles grupos de clientes avaliados como
mais atrativos para a empresa (Freitas & Heineck, 2001). De fato, para a grande
maioria das empresas, é simplesmente impossível satisfazer toda a gama de
necessidades dos clientes no mercado. Ao agregar consumidores com
necessidades e expectativas semelhantes em um conjunto específico e distinto
16
dos demais consumidores, a segmentação de mercados ajuda as empresas a
lidarem com a heterogeneidade, equilibrando a variedade de necessidades dos
consumidores com os limitados recursos disponíveis para atendê-las (Dibb,
1998).
A partir de Smith (1956), a segmentação de mercados tornou-se um dos
principais conceitos da literatura e da prática do marketing. Além de ser um
caminho para a operacionalização de outros conceitos de marketing, a
segmentação provê diretrizes eficazes para o desenvolvimento das estratégias de
marketing, contribuindo para uma melhor alocação de recursos entre os diversos
mercados de produtos (Wind, 1978). Dessa forma, as empresas são capazes de
desenvolver planos de marketing específicos, que as ajudam a obter uma
efetividade maior do que conseguiriam trabalhando com um único mercado
padrão.
Na sociedade atual, caracterizada pela crescente individualização e
aberta para a expressão pessoal, a demanda individual de produtos e serviços
está cada vez mais presente (Featherstone, 1995 apud Saraiva Júnior &
Taschner, 2006). Diante de uma ampla variedade de produtos, os consumidores
podem escolher aqueles que atendem não somente suas necessidades básicas,
mas também aos seus desejos específicos. Num cenário em que a maioria dos
consumidores já possui os benefícios básicos, muitas empresas optam por focar
seus esforços de marketing justamente nas características e necessidades únicas
desses clientes. Por meio da segmentação de mercados é possível oferecer
variações em benefícios funcionais e também dar mais atenção às necessidades
hedonistas16 dos consumidores. Assim, a segmentação de mercados representa
uma estratégia para a sobrevivência em um ambiente no qual os consumidores
16
As necessidades hedonistas - ou desejos - são definidos por Spreng et al. (1996)
citados por Larán et al. (2004) como sendo os níveis de atributos e benefícios que o
consumidor acredita que o levará, ou estão associados, a valores de nível mais elevado,
sendo dirigidos pelas necessidades e vontades das pessoas.
17
são cada vez mais exigentes. Além disso, ela contribui para a construção e o
fortalecimento de relacionamentos duradouros com clientes-chave, possibilita
uma melhor compreensão do ambiente de competição (Dibb, 1998) e do perfil
dos clientes, o que facilita a adequação dos produtos às suas necessidades (Dibb,
1998; Söllner & Rese, 2001) e agiliza as respostas às mudanças de preferências
(Nickels & Wood, 1999).
Nos últimos anos, as mudanças no perfil do consumidor (alterações na
composição das famílias, envelhecimento da população, mudanças na
composição étnica de muitos países), as freqüentes inovações tecnológicas e os
obstáculos encontrados pelos estudos de segmentação têm estimulado a criação
de novas maneiras de lidar com mercados fragmentados. Nichos de mercado,
marketing de banco de dados, micromarketing, marketing interativo, marketing
de relacionamento e customização em massa, dentre outros, são alguns dos
conceitos presentes na literatura de marketing atual criados como alternativa à
tradicional segmentação de mercados. Embora esses termos possam parecer
completamente distintos uns dos outros, para Kara & Kaynak (1997) a idéia por
trás deles é bastante similar: criar maneiras mais eficazes e eficientes de
segmentar o mercado e alcançar o consumidor para satisfazer melhor às suas
diferentes necessidades e desejos.
Ao analisar a evolução da bibliografia sobre o assunto, Freitas &
Heineck (2001) apontaram cinco preceitos fundamentais da segmentação de
mercados: (1) o pressuposto da existência de heterogeneidade na preferência dos
compradores por produtos e serviços; (2) a possibilidade de essa
heterogeneidade de preferências estar relacionada às diferenças demográficas e
psicográficas dos consumidores, aos diferentes usos que fazem do produto ou
mesmo às variáveis situacionais; (3) as empresas podem reagir a essa
heterogeneidade das preferências efetuando modificações no produto ou nos
18
demais itens do composto de marketing17; (4) quando o valor pago pelos
consumidores por essas mudanças mostra-se superior ao custo de obtê-las, as
empresas costumam fazer modificações no seu composto de marketing e (5)
essas modificações incluem a adição e ou a extinção de produtos de linha, bem
como o reposicionamento das ofertas. Nesse sentido, conforme observado por
Dickson & Ginter (1987), a segmentação e o posicionamento de produto
apresentam-se como estratégias inter-relacionadas.
Para Weinstein (1995), citado por Soares & Carvalho (2004), a
estratégia de segmentação é parte fundamental do plano de marketing de
qualquer organização, uma vez que determina a forma como ela irá atuar no
mercado. O autor divide o processo de implementação de uma estratégia de
segmentação em cinco estágios: (1) primeiramente, é necessário definir o
propósito da segmentação (identificar, descrever ou validar segmentos, etc.) de
acordo com os objetivos da organização; (2) o segundo passo é ter uma base de
dados (primários ou secundários) confiável; (3) em seguida, deve-se escolher a
base de segmentação e o método no qual segmentar o mercado; (4) o quarto
estágio consiste no desenvolvimento de uma estratégia e na elaboração de um
plano para implementar e controlar os esforços da segmentação e, por fim, (5)
devem-se avaliar tais esforços, realizando mudanças quando necessário.
A correta escolha da variável e do modelo a ser utilizado é posta como
questão fundamental na literatura de segmentação de mercados (Freitas &
Heineck, 2001). Levando-se sempre em conta o objetivo da segmentação (para o
entendimento geral do mercado, estudos de posicionamento, para decisões de
preço, novos conceitos de produtos ou decisões de propaganda e distribuição),
diferentes variáveis podem ser adotadas como base para a produção de
segmentos de clientes com preferências mais homogêneas do que a média da
população. Segundo Wind (1978), as diversas variáveis de segmentação são
17
Produto, preço, distribuição, propaganda e promoção.
19
fundamentalmente de dois tipos: (1) características gerais dos consumidores, que
podem ser de cunho geográfico, demográfico, socioeconômico, de personalidade
e estilo de vida e (2) características do consumidor em situação específica, como
padrões de uso do produto, atitudes em relação ao produto e seu consumo, bem
como os benefícios buscados em um produto. Um maior detalhamento sobre
essas variáveis é apresentado no Quadro 1.
20
número de segmentos, seu tamanho relativo e sua descrição são geralmente
conhecidos no início do processo. No modelo de segmentação post hoc, o
pesquisador escolhe um conjunto de variáveis inter-relacionadas e, então, reúne
os consumidores em grupos, cuja similaridade interna (entre os membros do
grupo) é alta e a similaridade externa (entre diferentes grupos) é baixa. Aqui, o
número de segmentos, seu tamanho relativo e sua descrição só são evidenciados
após o término da operação. O próprio Wind (1978) ressalta, ainda, a
possibilidade de utilização de outras técnicas de análise multivariada, como a
análise conjunta (conjoint analisys) na segmentação de mercados. Atualmente,
conforme destacam Dibb (1998) e Freitas & Heineck (2001), essas e outras
técnicas multivariadas (como a análise fatorial, análise discriminante, correlação
canônica e análise de componentes principais) são freqüentemente utilizadas de
maneira complementar à técnica de cluster, com o objetivo de reduzir o número
de variáveis analisadas. Estes procedimentos, entretanto, são criticados por
alguns autores que alegam que, em tais técnicas, informações relevantes podem
ser descartadas, comprometendo a validade dos segmentos formados.
Outro ponto da segmentação criticado na literatura (Wind, 1978; Kara &
Kaynak, 1997) é a suposição geral de que existe uma melhor maneira (best way)
de se segmentar um mercado. Para os autores acima mencionados cada enfoque
possui seus méritos e limitações, dependendo do produto ou do mercado que
está sendo considerado e também dos objetivos que se busca alcançar com a
segmentação. A prática do mercado sugere que a tentativa de usar uma única
base de segmentação para todas as decisões de marketing pode resultar em
decisões erradas e no desperdício de recursos (Wind, 1978).
Apesar da grande variedade de critérios que podem ser utilizados para a
segmentação, diversos autores (Kotler & Armstrong, 1998; Woo, 1998;
Teixeira, 2005; Freitas & Heineck, 2001) observam uma predominância na
utilização de variáveis demográficas - que são mais fáceis de serem obtidas e
21
analisadas - nas pesquisas de segmentação realizadas nas últimas décadas.
Sharma & Lambert (1994) destacam duas limitações dessa escolha. A primeira é
que ela se baseia na suposição de que o perfil demográfico reflete padrões de
comportamento, o que nem sempre se mostra verdadeiro. O segundo problema
reside na implementação, já que segmentação baseada em características
demográficas não dá nenhuma dica de como as estratégias devem ser
formuladas. Corroborando com esse pensamento, Dibb (1998) acredita que o
melhor critério de segmentação é aquele que melhor embase as decisões a serem
tomadas pelo departamento de marketing.
Apesar do predomínio das variáveis demográficas, Wind (1978) já
chamava a atenção para a validade da adoção de variáveis de cunho
comportamental para a criação de grupos homogêneos de compradores.
Revisando a literatura sobre segmentação disponível até então, o autor
identificou as variáveis que se mostravam mais adequadas para os diferentes
objetivos da segmentação de mercado e observou que os benefícios buscados
adequavam-se a praticamente todos eles. O autor observa, em seu trabalho, que
a ênfase dada aos benefícios buscados não era apenas reflexo do seu viés
pessoal, mas mostrava a ênfase de um número considerável das pesquisas na
época.
Seguindo essa mesma lógica, pesquisas de segmentação mais recentes,
como as de Ehrman (2006), Soares & Carvalho (2004) e Wu (2001), têm dado
cada vez mais ênfase às necessidades e aos benefícios buscados pelos
consumidores. Esses estudos se apóiam na premissa de que os benefícios que as
pessoas procuram quando consomem algum produto são melhores determinantes
do comportamento do consumidor que outras variáveis e, portanto, são eficazes
para a segmentação de mercados. Wu (2001) salienta que, em muitos mercados,
a segmentação baseada em benefícios, necessidades ou motivações já se mostrou
mais eficaz para o entendimento da dinâmica do mercado do que a segmentação
22
baseada em fatores demográficos. Saber quem são os clientes, como se diferem
quanto aos benefícios que procuram e como usam o produto é fundamental para
oferecer um produto mais adequado a um preço apropriado para o público-alvo
(Kotler & Armstrong, 1998).
Os objetivos do consumidor também estão entre as variáveis
comportamentais que se destacam na segmentação de mercados. Um dos
primeiros trabalhos a chamar a atenção para a validade de sua utilização foi o de
Fine (1980), que segmentou as famílias objeto do estudo de acordo com
similaridades no consumo de alimentos. Em seu trabalho, esse autor buscou
mostrar como os objetivos do consumidor podem constituir um critério útil para
a compreensão do seu comportamento e do seu processo de decisão. O artigo
advoga que os objetivos básicos que os consumidores estabelecem para si
próprios têm um papel de destaque na tomada de decisão para o consumo, sendo
o conhecimento desses objetivos particularmente relevante nos estudos de
segmentação de mercado. Corroborando com esse pensamento, Markin (1971),
apud Reichelt et al. (2005), argumenta que, quando se enfoca o mercado a partir
das características comportamentais dos consumidores, é possível compreender
melhor as expectativas, desejos e necessidades das diversas categorias de
clientes. Diante da importância das características comportamentais para a
compreensão das tomadas de compras, uma abordagem mais aprofundada do
tema é apresentada na próxima seção.
23
que os consumidores queriam, a grande depressão de 1929 e, logo depois, a
Segunda Guerra Mundial, de certa forma frearam os pensamentos que
avançavam naquela direção. Mas, terminada a segunda Guerra Mundial, o
cenário econômico mudou radicalmente. A capacidade produtiva rapidamente
excedeu a demanda e, diante da necessidade de esforços de venda cada vez
maiores, a recém-criada disciplina do marketing vislumbrou a possibilidade de
se estudar e influenciar o comportamento de compra dos consumidores. Assim,
entre o final da década de 1950 e o começo da década de 1960, teve início
aquela que viria a se firmar como uma das mais proficientes áreas do marketing
(Engel et al., 1995).
O comportamento do consumidor é, hoje, uma área de pesquisa
fortemente difundida, sendo considerada por muitos profissionais e acadêmicos
a chave para o sucesso do marketing contemporâneo (Brandstetter & Heineck,
2005). O campo obteve sua legitimidade por ter se mostrado capaz de prover
arcabouço conceitual e informações significativas para o pensamento
estratégico, possibilitando às empresas não somente garantir sua sobrevivência,
mas também se diferenciarem perante a concorrência (Schiffman & Kanug,
2000 apud Demirdjian & Sengunder, 2004). Uma melhor compreensão do
comportamento do consumidor facilita o atendimento de suas expectativas, a
satisfação de suas necessidades e, conseqüentemente, o estabelecimento de
relacionamentos duradouros com o cliente (Ladeira et al., 2003).
Dentro do marketing, o campo do comportamento do consumidor é
aquele que estuda "todas aquelas atividades diretamente envolvidas na obtenção,
consumo e descarte de produtos e serviços, incluindo o processo de decisão que
precede e segue essas ações” (Engel et al., 1995, p.4). Essa área do
conhecimento busca respostas para algumas das perguntas mais pertinentes que
povoam as mentes de todos aqueles que atuam num mercado competitivo: Por
que as pessoas compram? O que influencia no seu comportamento de compra?
24
Como elas decidem entre produtos concorrentes? O que faz com que elas
comprem uma marca repetidas vezes ou mudem para outra? Mas, o interesse dos
pesquisadores e teóricos do comportamento do consumidor vai muito além da
compreensão das razões de compra, ou dos aspectos envolvidos no uso de um
produto ou serviço: para eles, é fundamental entender também os padrões
agregados e processos relacionados ao ato da compra, o que inclui todas as
possíveis atividades anteriores e posteriores a compra (Pachauri, 2001).
É grande o desafio apresentado aos teóricos e pesquisadores que lidam
com o assunto. O comportamento do consumidor é dinâmico. Consiste de atos,
processos e relacionamentos sociais de indivíduos ou grupos, antes, durante e
depois de um processo de troca. As ações de compra do consumidor nem sempre
são racionais ou seguem uma lógica determinada, sendo também direcionadas
por fatores hedônicos e sujeitas à interferência da dimensão emocional. Além
disso, o consumidor não é apenas um agente cognitivo, mas também um ser
comunicativo e simbólico, produzindo símbolos e significados que acabam
incorporados ao sistema simbólico ao qual a atividade humana pertence (Firat &
Venkatesh, 1995).
Em face da grande complexidade do tema, Demirdjian & Sengunder
(2004) observam que a disciplina, desde o seu início, buscou, em outras áreas do
conhecimento, conceitos e metodologias que contribuíssem para o entendimento
do comportamento do consumidor. Ratificando essa abordagem multidisciplinar,
Zaltman (1995), citado por Rossi & Hor-meyll (2001), chama a atenção para a
amplitude do tema comportamento do consumidor, cuja riqueza não poderia ser
contemplada por modelos criados a partir de uma única disciplina. Como
nenhuma delas isoladamente seria capaz de oferecer as melhores e mais
adequadas ferramentas analíticas, foi necessário adotar perspectivas de diversas
áreas do conhecimento para um bom entendimento do fenômeno. Arnould et al.
(2002), citados por Jeunon (2005), destacam as cinco disciplinas que mais
25
contribuíram para o entendimento do comportamento do consumidor: a
economia, com o estudo da produção, trocas e consumo de bens e serviços; a
psicologia, com o estudo do comportamento e dos processos mentais dos
indivíduos; a psicologia social, que estuda como os indivíduos influenciam e são
influenciados pelos grupos; a sociologia, com o estudo do comportamento dos
indivíduos nos grupos e a antropologia, com o estudo da relação
indivíduo/cultura. As contribuições de cada uma delas serão apresentadas a
seguir.
Ciências econômicas. As ciências econômicas forneceram os primeiros
pilares para a área de marketing e, conseqüentemente, para os estudos do
comportamento do consumidor. Delas, o marketing adotou muitos conceitos,
como os de oferta e demanda, utilidade, análise marginal e destacou a renda
como um fator crítico para o comportamento de compra. Por muitos anos, a
teoria do homem econômico permeou o pensamento e a prática do
comportamento do consumidor, baseando-se no pressuposto de que toda compra
envolve uma escolha, efetuada em função da busca de maximização de sua
utilidade. Aqui, os consumidores são vistos como tomadores de decisões
racionais, que sabem exatamente o que querem e que são capazes de buscar,
processar e usar informações para tomar uma decisão que minimize os riscos e
maximize os benefícios (Foxall, 2003). Essa teoria econômica do
comportamento do consumidor foi criticada por sua simplicidade e acusada de
tentar explicar não como o consumidor se comporta, mas sim como deveria se
comportar. Ela não aborda a dimensão emotiva do ser humano, carecendo assim,
de outros conceitos para compreender as complexidades da motivação do
consumidor. Diante das limitações de prover variáveis explicativas,
pesquisadores de marketing passaram a buscar o entendimento do
comportamento do consumidor a partir de outras ciências sociais (Demirdjian &
Sengunder, 2004).
26
Psicologia. A ciência que estuda o comportamento individual das
pessoas traz para a discussão conceitos como motivação, percepção,
aprendizagem, crenças, valores, atitudes e outros. Os primeiros psicólogos a
ingressar na área do comportamento do consumidor pertenciam à Escola
Behaviorista18 que, por meio do estabelecimento de relações entre os inúmeros
estímulos recebidos e as diferentes decisões de compra, buscavam entender,
explicar e predizer o comportamento humano da mesma forma que os cientistas
das ciências exatas e biológicas entendem, explicam e predizem o
comportamento de forças físicas e dos animais. Defensores do paradigma
positivista, os behavioristas não tratam dos processos mentais internos, uma vez
que esses não podem ser observados e, portanto, não podem ter sua existência
cientificamente comprovada. Em uma visão oposta, a Escola Cognitivista19
questiona a relação direta entre um estímulo e um determinado comportamento.
Ela defende a tese de que características próprias do indivíduo (aprendizado,
atitudes, valores e crenças desenvolvidos ao longo da vida) orientam o tipo de
18
A teoria behaviorista substitui o homem racional proposto pela teoria econômica, por
um ser moldado pelo ambiente. De forte traço determinístico, o behavorismo busca
prever comportamentos a partir de condições anteriores. O comportamento humano seria
conseqüência das condições anteriores, ou seja: dado o antecedente X, Y deve ocorrer,
numa relação causa efeito bem típica do positivismo. A perspectiva behaviorista
presume um mundo ordenado de entidades que se relacionam mecanicamente, cujas
regularidades podem ser registradas pela observação repetida. Como não podem ser
objetivamente observados, os processos que acontecem entre um estímulo e uma
resposta não interessam aos behavioristas. O que importa é isolar os inputs e outputs e
generalizar a relação entre eles (Primo, 2003).
19
Enquanto o behaviorismo evitava a mente, vendo-a como uma caixa preta, o
cognitivismo ocupa-se dos processos e mecanismos internos. Nessa perspectiva o
comportamento não se origina a partir do mundo como ele é (positivismo), mas sim da
concepção individual do mundo (interpretativismo). Isto é, o mundo é uma projeção ou
um subproduto da cognição de um indivíduo. Por seu foco quase que exclusivo no
processamento das informações dentro da psicologia, o movimento cognitivista é
tachado de abstrato, impessoal, tecnicista e de suprimir os problemas da vida cotidiana
(Primo, 2003).
27
resposta dado a determinado estímulo, fazendo com que a reação não seja
meramente mecânica (Ladeira et al., 2003). Assim, juntando as correntes
behaviorista e cognitivista, a perspectiva psicológica se foca nas variáveis
internas para explicar como são processadas as informações e feitas as decisões
de compra.
Psicologia social. A psicologia social é outra fonte de conceitos, pois
trata do comportamento das pessoas na presença de outros indivíduos ou grupos.
Conceitos, como percepções sociais, influência social, sansões e recompensas
sociais, dentre outros, também são úteis na compreensão do comportamento do
consumidor. A idéia é a de que o comportamento do consumidor acontece no
contexto dos grupos e na presença de outros indivíduos que influenciam o
processamento de informação e a tomada de decisão do consumidor (Engel et
al., 1995). Neste sentido, o foco da psicologia social são as influências externas
relacionados ao consumo (Demirdjian & Sengunder, 2004).
Sociologia. É a área que trata do comportamento social, particularmente
no que diz respeito às origens, organizações, instituições e o desenvolvimento da
sociedade humana. Dela foram importados conceitos, tais como estratificação
social, ciclo de vida familiar, processo de difusão e inovação, liderança e a teoria
dos papéis (Demirdjian & Sengunder, 2004; Vilas Boas et al., 2006). Embora
não aborde o comportamento do consumidor de maneira específica, a sociologia
lida com o contexto social no qual acontece o comportamento de consumo.
Diferentemente da psicologia, que adota o indivíduo como unidade de análise, a
sociologia concentra-se nos grupos e nas instituições sociais. Dentro da
perspectiva sociológica, Zaltman (2000) afirma que as diferenças de pensamento
e de comportamento dos indivíduos são, em grande parte, resultado da
diversidade entre suas interações com outras pessoas e com instituições distintas
ao longo da vida. Ladeira et al. (2003) colocam o indivíduo como produto social,
cujas necessidades têm origem nas exigências do grupo social no qual vive.
28
Como o indivíduo reflete a cultura do grupo social a que pertence, suas
necessidades individuais são reflexos das necessidades da sociedade. Assim, a
pedagogia nessa ciência enfatiza o comportamento de consumo a partir de
pontos de vista dos grupos.
Antropologia. Diferentemente da sociologia, a antropologia,
normalmente, estuda outras sociedades que não são as sociedades atuais
(Demirdjian & Sengunder, 2004). Folclore, mitos culturais, troca de presentes
(dádiva), rituais, superstições e outros padrões de comportamento passados
estudados pela antropologia podem ter influência no comportamento de hoje.
Uma das grandes contribuição da ciência para a compreensão do comportamento
do consumidor reside na visão semiótica20 das trocas. Nessa perspectiva, o
consumo é um momento no qual ocorrem trocas simbólicas e no qual há uma
ativa apropriação de signos que determinam e reproduzem o código social. O
produto ou o próprio comportamento de consumo podem ser utilizados para
comunicar diversos aspectos simbólicos aos demais indivíduos pertencentes do
grupo (Vilas Boas et al., 2006). A antropologia também é provedora de métodos
de pesquisa21 que, embora ainda pouco disseminados no ambiente acadêmico
nacional, já fazem parte das melhores práticas de investigação sobre o
comportamento do consumidor (Rossi & Hor-meyll, 2001).
O grande interesse na antropologia cultural na atualidade (Demirdjian &
Sengunder, 2004) é um sinal de uma mudança paradigmática no campo da
pesquisa do consumidor que se destacou no início da década de 1980. Naquela
época se intensificaram os debates sobre os fundamentos filosóficos e
metodológicos da pesquisa de consumo, com o fortalecimento da noção de que,
para o melhor entendimento do comportamento de consumo, é importante
20
Semiologia é a ciência geral dos signos, que estuda todos os fenômenos culturais
como se fossem sistemas de significação. Novo Dicionário Aurélio Século XXI. 3.ed.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999. 1072p.
21
Com destaque para a etnografia.
29
também observá-lo e compreendê-lo sem a intenção de predizê-lo ou influenciá-
lo (Engel et al., 1995). Em oposição ao predomínio gerencial do campo, os
pesquisadores clamaram por uma agenda de pesquisa mais ampla, que
permitisse o exame de todas as facetas do comportamento de consumo. Como
resultado, o campo do comportamento do consumidor se enriqueceu e se
expandiu em direção às ciências sociais, cujas ferramentas, na opinião de Vilas
Boas et al., (2006), capacitam o pesquisador a um maior aprofundamento nas
perspectivas e no mundo propriamente dito dos sujeitos a serem analisados. As
ciências sociais, contudo, não são o limite das pesquisas do comportamento de
consumo. Para Demirdjian & Sengunder (2004), outras áreas, como a psicologia
fisiológica22, bioquímica de produtos alimentícios e até mesmo a genética são
promissoras fontes de insights sobre o assunto.
22
Psicologia fisiológica estuda a interação entre corpo e mente e pode contribuir
determinando em que medida o comportamento é causado por fenômenos físicos e
químicos no corpo (Morris, 1996, citado por Demirdjian & Sengunder, 2004).
30
FIGURA 1 Processo de decisão de compra do consumidor.
Fonte: Adaptado de Nickels & Wood (1999, p. 106).
31
memória, recordando suas próprias experiências e reavaliando compras passadas
(Engel et al., 1995). Se a necessidade ocorre de forma regular, essa busca
interna por informações pode ser suficiente. No entanto, se o risco percebido23 –
chance de fazer uma escolha errada – for considerável, a pessoa parte para uma
busca de informações em fontes externas.
Tendo reunido um volume suficiente de informações sobre o bem ou
serviço, o indivíduo passa para a etapa de avaliação, quando compara e pondera
as informações obtidas. Nesse momento, o consumidor faz um julgamento de
valor, levando em conta o que cada uma das opções pode proporcionar, em
termos dos atributos procurados. A importância que um atributo tem para o
indivíduo reflete seus valores ou as prioridades que essa pessoa relaciona a cada
vantagem oferecida, sempre de acordo com as necessidades para as quais ele
busca satisfação (Mowen & Minor, 1998 apud Espinoza & Hirano, 2003).
Dependendo do risco percebido, o indivíduo pode se sentir impelido a voltar
para a etapa anterior e buscar novas informações para um melhor respaldo de
sua decisão.
Em seguida – na etapa da compra propriamente dita – o indivíduo
decide qual é a melhor alternativa e parte para a efetivação da compra (ou
aluguel) do bem ou serviço. Mas o processo de decisão de compra nem sempre
termina aqui. Existem ainda os estágios de consumo e de avaliação pós-
compra, os quais estão estreitamente relacionados e podem acontecer tanto em
momentos separados, como numa avaliação de desempenho geral de um
computador ou simultaneamente, como durante a degustação de um alimento
(Kotler & Armstrong, 1998). A questão fundamental nestas etapas é saber se as
23
Os riscos percebidos, segundo Solomon (2002) e Nickels & Wood (1999), podem ser
(1) financeiros – pagar mais do que o produto vale; (2) funcionais – escolher um produto
inadequado à necessidade ou desejo; (3) de segurança – escolher um produto cujo uso
possa representar risco à integridade; (4) social – escolher um produto fora de moda e (5)
risco psicológico – fazer uma escolha errada que leve a um sentimento de culpa.
32
expectativas do consumidor foram atendidas, superadas ou se ficaram aquém.
Percebe-se que o resultado da avaliação gera, em maior ou menor grau, a
satisfação ou a frustração. Nesse último caso, acontece um fenômeno chamado
dissonância cognitiva. Segundo Giglio (1996), dissonância cognitiva é o
processo ou o resultado emocional final da verificação da diferença entre o que
se desejou e o que ocorreu. Emoções negativas (relacionadas à insatisfação)
dificilmente levarão o consumidor a repetir a compra. A sétima e última etapa
do ciclo – o descarte – só recentemente passou a receber atenção de alguns
autores. Engel et al. (2000) apontam que neste momento o consumidor tem três
opções: o descarte sumário do produto, a reciclagem ou, mesmo, a revenda.
É importante salientar que essas etapas seqüenciais do comportamento
de compra são um modelo genérico. Segundo Engel et al. (1995), elas se
baseiam no modelo de processo de decisão de compra de Dewey, publicado em
1910. Nem todas as decisões de compra passam por todas as etapas e,
dependendo da complexidade da tomada de decisão, a intensidade de cada uma
dessas etapas também poder variar consideravelmente de uma compra para
outra. Às vezes, a solução do problema do consumidor envolve uma cuidadosa
avaliação utilitária dos atributos do produto. Outras vezes, os benefícios
hedônicos vão dominar e o objeto de consumo será visto mais em termos do
prazer sensorial, dos sonhos ou em termos de sua estética. Além disso, é preciso
ressaltar que essas etapas podem ser vivenciadas por pessoas distintas, ou seja,
várias pessoas podem estar envolvidas no processo. Por fim, as decisões também
são influenciadas (1) pelo grau de envolvimento do consumidor, (2) pelas ações
de marketing, pelos fatores (3) externos e (4) contingenciais e (5) por fatores
internos, que são o foco deste trabalho.
Um dos fatores que exercem influência no comportamento de compra é
o grau de envolvimento: nível de importância que o consumidor confere a
determinado produto ou situação de compra (Nickels & Wood, 1999). Numa
33
perspectiva racional, a pessoa age tentando minimizar os riscos e maximizar os
benefícios obtidos pelo uso. Assim, o grau de envolvimento aumenta quando os
riscos percebidos e ou o significado emocional e pessoal da compra são maiores.
Por sua vez, quanto maior for o envolvimento do consumidor com a compra,
mais clara será sua movimentação através de cada estágio do processo de
decisão de compra. Em situações de compra desconhecidas, o consumidor tende
a buscar e avaliar informações de forma consciente, já que é maior a importância
de se fazer a escolha certa. Quando a situação de compra já é conhecida, o
consumidor se sente mais seguro para arriscar novas opções de produto ou
marca. Quando as pessoas repetem uma compra de determinada marca ou
produto já conhecido (e bem avaliado), o levantamento de informações e a
tomada de decisão são ainda menos conscientes. O modelo de Assael,
mencionado por Giglio (1996), é bastante difundido no meio acadêmico e
relaciona o envolvimento do cliente com o grau e diferenciação das marcas,
como pode ser visto no Quadro 2.
34
com a compra é mínimo e as etapas de busca de informações e avaliação das
alternativas são praticamente suprimidas. A compra acontece mais por hábito do
que por lealdade e, como as consequências do uso do produto já são conhecidas,
a avaliação pós-compra também é quase sempre suprimida (Engel et al., 1995).
As principais estratégias de marketing para esses produtos focam-se nas
promoções de preço ou na propaganda repetitiva para tornar a marca familiar.
Pode-se também tentar diferenciar o produto oferecendo alguma vantagem
adicional – como a aditivação da gasolina -, aumentando o envolvimento do
consumidor durante a fase de avaliação.
O processo de decisão de compras também está sujeito a fatores
situacionais, particulares a um momento e a um lugar especifico e que
independem do consumidor ou do produto. A presença de outras pessoas, o
tempo que o consumidor dispõe para coletar informações, analisá-las e se
locomover ao encontro do produto, o propósito da compra (se ele compra pra si
próprio ou para presentear), o estado de espírito da pessoa no dia, a quantidade
de dinheiro de que se dispõe e as ações de marketing (atributos do produto,
campanhas promocionais, estratégias competitivas de preço e políticas de
distribuição) podem inibir ou estimular a compra (Foxall, 2003).
Como dito anteriormente, a psicologia social e a sociologia salientam os
vários fatores externos presentes no processo de decisão de compra. A família,
por exemplo, o faz por meio do processo de socialização da criança (que
aprendem com os pais sobre como avaliar e gastar dinheiro). O ciclo de vida da
família – pessoa jovem e solteira, depois casada sem filhos, com filhos
pequenos, com filhos maiores, divorciados com filhos, velhos e com os filhos já
criados – é outra variável interveniente no processo, já que as necessidades
familiares são diferentes em cada um desses estágios. Os conselhos ou
orientações dos líderes de opinião - pessoas especialista no assunto ou que já
testaram o produto –, os grupos de influência, os padrões e normas culturais, as
35
classes e subclasses sociais também constam na lista dos fatores externos
capazes de influenciar o comportamento de compra do consumidor (Nickels &
Wood, 1999).
36
Variáveis Neces-
PERSONALIDADE
Motivação
COMPORTAMENTO
Inatas sidades
37
influenciam a maneira como as pessoas percebem a realidade24 e,
conseqüentemente, suas necessidades. Estas, por sua vez, consistem em um
estado de tensão ou desconforto gerado por um sentimento de privação. Segundo
as teorias de Maslow e McClelland, apontadas por Vergara (2003), são as
necessidades não satisfeitas que motivam as pessoas a agir ou a adotar algum
comportamento – inclusive o de compra.
Como um dos fatores que afetam a maneira de pensar e agir dos
indivíduos, os valores pessoais têm recebido considerável atenção dos
estudiosos do marketing, o que pode ser percebido pelo crescente número de
estudos que procuram explicar o processo pelo qual eles influenciam o
comportamento de consumo (Sauerbronn, 2003; Jeunon, 2005; Silveira, 2006).
Os valores estão relacionados a importantes aspectos do processo de consumo,
como o grau de envolvimento do consumidor com o produto, o tipo de
julgamento usado para avaliá-lo, o significado desse produto para a pessoa e a
relevância que ela dá aos diversos atributos do produto (Jeunon, 2005).
Pitts & Woodside (1991), citados por Vilas Boas (2005), complementam
afirmando que, como ocupam uma posição central na estrutura cognitiva dos
seres humanos, os valores pessoais são uma ferramenta analítica poderosa para a
compreensão da personalidade, do estilo de vida e o do impacto de algumas
variáveis sócio-econômicas de interesse das empresas. Assim, para uma
compreensão mais profunda das razões do comportamento do consumidor, é
preciso examinar as crenças e os sentimentos que eles têm em relação aos
produtos (Engel et al., 1995). Por isso, a próxima seção abordará o papel dos
valores pessoais para o comportamento no consumidor.
24
A maneira como a pessoa percebe a si mesma – autoconceito – também é um
poderoso fator de influência no comportamento do consumidor, uma vez que ele busca
produtos para modelar, reforçar e/ou expressar sua individualidade.
38
4.3 O papel dos valores no comportamento do consumidor.
O interesse acerca dos valores humanos não é recente, tendo sido os
filósofos os primeiros a refletir sobre o tema. Embora a filosofia dos valores
(axiologia) só tenha se constituído como disciplina autônoma a partir de
Nietzsche, o tema esteve presente ao longo de toda a história da filosofia, com
Platão e Plotino, na filosofia grega; Tomás e Boaventura, no período medieval e
Pascal e Hume na filosofia moderna (Mondin, 1980 apud Sauerbronn, 2003).
Ainda segundo este autor, no campo da filosofia, a palavra valor pode possuir
um significado econômico; um sentido ético (indicando virtude) ou um sentido
ontológico, indicando a qualidade pela qual uma coisa possui dignidade e é, por
isso, digna de estima e respeito. Nessa perspectiva, valor é o motivo pelo qual
um ser é digno de ser e uma ação é digna de ser realizada.
É este último sentido de valor que interessa às ciências sociais, que o
relacionam com padrões mais amplos da conduta humana, originando complexas
normas institucionalizadas da sociedade (Kluckhohn, 1951 apud Porto & Torres,
2005). Para a antropologia, valores são elementos sociais objetivos que se
impõem sobre o indivíduo, provocando sua reação. Para a sociologia, valor é um
conceito que agrupa alguns modelos de comportamento em nossa sociedade.
Para psicologia, que examina valores na perspectiva dos motivos e atitudes
pessoais, valor é uma crença central e duradoura que guia as ações e julgamentos
através de situações específicas e conecta metas imediatas a níveis mais
elevados de estado final de existência (Rokeach, 1968 apud Vinson et al., 1977).
Dentro da perspectiva psicológica, o papel dos valores pessoais para o
entendimento do comportamento do consumidor ganhou destaque a partir das
contribuições teóricas e metodológicas de Rokeach (1973), citado por Kropp et
al. (1999), Allen & Ng (1999), Jolibert & Baumgartne (1997), Ikeda & Veludo-
de-Oliveira (2005) e outros mais. Rokeach conceituou valores pessoais como
crenças duradouras de que determinados modos de conduta ou estados finais de
39
existência são individual ou socialmente preferíveis a outros modos de conduta
(Kropp et al., 1999). Em outras palavras,
“dizer que uma pessoa tem um valor é dizer que ela tem uma crença
prescritiva ou provável que um específico modo de comportamento ou
estado-final da existência é preferido a um modo oposto de
comportamento ou estado-final. Essa crença transcende a atitude em
relação a objetos ou em direção a situações; ela é um padrão que guia e
determina ações, atitudes em relação a objetos ou situações, ideologias,
apresentação de si mesmo aos outros, avaliações, julgamentos,
justificações, comparações de si mesmo com os outros e tentativa de
influenciar os outros” (Rokeach, 1973 apud Ikeda & Veludo-de-
Oliveira, 2005, p.3).
40
princípios que guiam a vida das pessoas”. Elucidando as idéias de todos os
autores citados, Schwartz (1994) descreve os valores pessoais como sendo (1)
crenças (2) quanto aos estados finais ou modelos de conduta (3) que
transcendem situações específicas (ou seja, que são duradouras), (4) funcionam
como padrões de julgamento e justificam as ações. (5) Eles podem motivar a
ação, dando a ela direção e intensidade emocional. (6) São ordenados pela
importância relativa aos demais, formando um sistema ordenado de prioridades
axiológicas e (7) são adquiridos tanto por meio da socialização quanto pelas
experiências únicas do indivíduo.
Como pôde ser observado nos parágrafos anteriores, a definição exata
de valor é dificultada pela natureza intangível do conceito (Dibley & Baker,
2001) e por sua proximidade semântica com os conceitos de motivação e metas
pessoais (Jolibert & Baumgartner, 1997). Estes últimos autores observam que
um breve exame dos três conceitos permite identificar certa causalidade entre
eles, de modo que, na definição de quaisquer um deles (valores pessoais,
motivação e metas pessoais), normalmente são mencionados um dos outros dois
(quando não ambos). Tal inter-relação pode ser verificada em Engel et al. (1995,
p. 442) quando este escreve que “valores expressam os objetivos que motivam e
as maneiras apropriadas para alcançarem esses objetivos”. A inter-relação entre
os três conceitos pode ser mais bem observada no Quadro 3.
41
QUADRO 3 Inter-relação entre valores, metas e motivação.
42
que os valores, já que estes estão relacionados com objetivos normalmente
considerados como desejados pelo sistema social ao qual o indivíduo pertence.
Metas pessoais podem ser entendidas como os objetivos próprios do indivíduo,
enquanto que os valores são muito mais influenciados pelas normas sociais que
guiam as pessoas em seu comportamento.
Nessa mesma linha de raciocínio, Engel et al. (1995) explicam que os
valores podem ser sociais ou pessoais. Numa perspectiva macro (social), os
valores fazem parte das crenças compartilhadas que caracterizam um grupo,
definindo os comportamentos considerados normais por uma sociedade ou grupo
de pessoas, enquanto os valores pessoais definem o que é um comportamento
normal para um indivíduo. Os valores do grupo ao qual a pessoa pertence possui
grande influência nos seus valores pessoais. Schiffman et al., (2003) fazem
também uma distinção entre valores e valores pessoais. Para eles, o termo
valores tem uma forte conotação social, relacionado à cultura, em um nível
macro. Assim, a exemplo dos autores, optou-se neste trabalho pela utilização do
termo valores pessoais nas ocasiões em que se pretende deixar clara a idéia de
que a análise está sendo realizada no âmbito individual.
Ao longo do desenvolvimento dos estudos sobre a influência dos valores
no comportamento de consumo, diversas tipologias de valores foram propostas.
Rokeach (1973), citado por Engel et al. (1995), acreditava que valores estavam
relacionados com os objetivos (estados-finais) e com as formas de se comportar
(componentes instrumentais) para alcançar esses objetivos. Conforme observado
por Jayawardhena (2004), Rokeach concebia a personalidade como um sistema
de valores inter-relacionados, ou seja: uma organização durável de crenças
acerca de modos de conduta ou estados finais. Para identificar essa estrutura de
valores, Rokeach elaborou um instrumento – conhecido como a Escala de
Valores de Rokeach (RVS) - composto por uma lista de 18 valores terminais
(estados finais desejados) e 18 valores instrumentais (meios para alcançar esse
43
estado final) que as pessoas devem organizar em ordem de importância. Depois
de identificadas, as estruturas de valores eram analisadas por gênero, idade,
classe social ou qualquer outro fator ou traço pessoal que possam influenciar a
compra de uma marca ou produto em detrimento de outro. Os valores
instrumentais e terminais que compõem a RVS podem ser vistos no Quadro 4.
44
valores, podendo ser estes de cunho pessoal (salvação), social (paz mundial),
moral (honestidade) ou valores de competência (lógica).
Com o objetivo de superar as limitações de Rokeach e prover uma
mensuração mais eficaz dos valores pessoais, Kahle e outros pesquisadores do
Centro de Pesquisas de Survey da Universidade de Michigan propuseram, em
meados da década de 1980, uma tipologia de valores conhecida no meio
acadêmico como LOV, ou Lista de Valores de Kahle (Watkins & Gnoth, 1995).
A LOV concentra-se nos 18 valores terminais de Rokeach, resumindo-os num
conjunto de nove valores ainda mais abstratos: senso de pertencimento, emoção,
auto-realização, ser respeitado e admirado, diversão, prazer e felicidade na vida,
segurança, relacionamentos calorosos e auto-respeito.
Em estudos posteriores, Kahle encontrou evidências empíricas e teóricas
de que os novos valores que compunham a LOV tendiam a dividir os indivíduos
de maneira polarizada entre (1) indivíduos voltados para valores internos (que
valorizam diversão, excitação, autopreenchimento e auto-respeito) e que querem
maior controle de todos os aspectos de suas vidas e (2) aqueles que valorizam
valores externos (senso de pertencimento, ser respeitado e segurança), mais
inclinados a aceitar que o destino tome conta da vida. Aplicada em pesquisas, a
LOV logo mostrou possuir um número maior de itens que influenciavam as
escolhas dos entrevistados, estando assim mais próxima à vida diária do
comportamento de compra do que a Lista de Rokeach (Watkins & Gnoth, 2005).
Assim, para Novak & MacEvoy (1990), citados por Leão & Mello
(2003), a tipologia LOV demonstra um melhor alinhamento com as pesquisas de
comportamento do consumidor. Apesar de ter representado um passo importante
para a metodologia das pesquisas sobre valores no comportamento de consumo,
o conteúdo da LOV, assim como a Lista de Rokeach, não foi testado
transculturalmente, o que prejudica sua aplicação em diferentes países e
contextos (Porto & Torres, 2005). Nesse sentido, a teoria de Schwartz (1994)
45
vem trazer uma grande contribuição para os estudos do comportamento do
consumidor.
Para Schwartz (1994), valores são representações cognitivas de
necessidades. Uma vez que as necessidades são a força que leva os indivíduos a
buscarem interesses individuais e coletivos, o autor agrupa os valores
prioritários dos indivíduos em conjuntos denominados domínios motivacionais
(Silveira et al., 2006). Os dez domínios motivacionais por ele propostos são
reconhecidos como universais porque representam, em forma de objetivos
conscientes, respostas para três requerimentos comuns a todos os indivíduos e
sociedades: (1) necessidades do indivíduo como organismo biológico, (2) a
necessidade de interação social coordenada e (3) as demandas sociais para o
bom funcionamento e sobrevivências dos grupos (Jeunon, 2005). O conteúdo
dos dez domínios motivacionais derivados dessas três diferentes necessidade são
apresentado a seguir.
46
ou, então, a violação de expectativas e normas sociais, são os objetivos
desses valores baseados nas necessidades interacionais. Educação,
obediência e honra são exemplos de valores pertencentes a esse
domínio.
47
¾ Estimulação: o domínio da estimulação também é oriundo das
necessidades biológicas, estando relacionado à busca por variedade,
novidades, excitação, emoção e desafios na vida.
48
O caminho para a compreensão dessa estrutura é o pressuposto de que
“as ações tomadas na busca de cada tipo de valor têm conseqüências sociais,
práticas e psicológicas que podem ser compatíveis ou conflitivas com a busca de
outros valores” (Schwartz, 1994, p. 23). Assim, quanto mais próximos uns dos
outros, maior a compatibilidade entre os domínios motivacionais. Essa
compatibilidade entre os domínios proximamente localizados reside na sua
ênfase compartilhada, como, por exemplo, no caso dos domínios de Realização e
Hedonismo, ambos focados na satisfação individual, ou no caso dos domínios da
Conformidade e Tradição, que implicam na subordinação das expectativas
socialmente impostas. O contrário também é verdadeiro. Quando localizados em
lados opostos da estrutura circular, os domínios motivacionais são considerados
como conflitivos, uma vez que suas motivações mostram-se aparentemente
incompatíveis. Como o próprio Schwartz (1994) exemplifica, esforços na
direção da Realização Pessoal tendem a obstruir ou dificultar ações que buscam
o bem-estar de todos (domínio da Benevolência).
As diferenças e similaridades motivacionais entre os domínios permitem
classificá-los ainda em duas dimensões bi-polares: (1) Abertura à mudança -
Conservação e (2) Autopromoção – Autotranscendência. A primeira contrasta a
ênfase no pensamento e atitudes independentes (Autodirecionamento e
Estimulação) com a estabilidade social e preservação das tradições (Segurança e
Tradição). A outra é dividida entre os valores que buscam objetivos individuais
e o poder sobre outras pessoas (Realização e Poder) e os valores que pregam o
bem-estar dos outros e sua aceitação como sendo iguais (Universalismo e
Benevolência). É importante observar também que, num nível mais básico, os
valores que compõem os domínios formam um continuum de motivações
relacionadas. As fronteiras entre esses domínios não são de todo rígidas,
possibilitando que o domínio do Hedonismo, por exemplo, pertença
simultaneamente às dimensões de Abertura a mudanças e Autopromoção.
49
Conforme observado por Vilas Boas (2005), Schwartz concebeu ainda
um 11º domínio - o da Espiritualidade – que, no modelo, se encontraria entre os
domínios da Benevolência e Tradição, mas que não foi incluído por ter sido
questionado em função das diferenças interculturais. Ressalta-se, nesse sentido,
que a estrutura circular de Schwartz com dez domínios motivacionais foi testada
e validada em diferentes países, entre eles o Brasil (Tamayo & Schwartz, 1993
citados por Porto & Porto, 2006).
Conforme salientado por Shim & Eastlick (1998), é quase consenso
entre os autores que os valores, implícita ou explicitamente, são a base para os
julgamentos e tomadas de decisões no comportamento geral e de consumo.
Diferentes estruturas conceituais, entretanto, tentam explicar como estas relações
acontecem. Vinson et al. (1977) sugerem que essa influência pode ser
investigada em três diferentes níveis de abstração hierarquicamente inter-
relacionados: (1) valores globais, (2) valores de campos específicos e (3) valores
avaliativos.
Valores globais podem ser entendidos no mesmo sentido de valores
pessoais (crenças duráveis com relação a estados finais desejados e os modos
para alcançá-los). Os valores de campo específicos são aqueles aprendidos por
meio da experiência em diferentes campos da vida social (religioso, escolar, de
consumo). Para os autores, eles são a ponte entre os valores gerais e os critérios
de avaliação na escolha do produto. A terceira categoria de valores são menos
abstratas e consistem em crenças avaliativas sobre os atributos desejáveis em um
produto ou marca favorita. Para Vinson et al. 1977), o indivíduo possui milhares
de crenças avaliativas, centenas de valores de campos específicos e apenas
poucas dezenas de valores globais, sendo a preferência por determinados
produtos e marcas resultado das diferentes relações entre esses três níveis de
valor.
50
De maneira semelhante, Kahle (1980), citado por Shim & Eastlick
(1998) e também por Jayawardhena (2004), acredita que os valores têm apenas
um efeito indireto no comportamento do consumidor. Segundo o autor, essa
influência dos valores pessoais no comportamento de compra é intermediada
pela atitude, um fator menos abstrato. A formação da atitude, por sua vez, faz
parte de um processo mais amplo de abstrações que pode ser explicado pela
teoria da Expectância, de Rosenberg (1956), citado por Allen & Ng (1999).
Segundo essa teoria, à medida que o indivíduo tem experiências positivas e
negativas com determinados objetos, ele cria crenças avaliativas a respeito das
características do objeto percebidas como causadoras dessas experiências. A
atitude com relação ao produto resulta da soma de todas as crenças avaliativas
sobre diferentes aspectos do objeto.
Rokeach (1973) e Feather (1975), ambos citados por Allen & Ng
(1999), avançaram teoricamente nesse processo, argumentando que, a partir
desse ponto, o indivíduo resume suas atitudes para todos os objetos percebidos
como similares e, em seguida, sumariza classes de objetos ainda mais amplas até
formar os valores humanos. Uma vez formadas, as preferências de valores
podem ser generalizadas para novos objetos, percebidos pelo indivíduo como
sendo similar ao objeto inicial. Na seqüência, o processo de generalização pode
continuar até o nível dos valores pessoais, relacionando aqueles que são
semanticamente similares, à semelhança do que propõe o modelo de Schwartz
(1994). Assim, os processos de abstração e generalização terminam por formar
uma rede hierárquica entre crenças avaliativas e valores pessoais específicos,
conhecida também como Hierarquia de valor, atitude e comportamento, cuja
seqüência flui de valores abstratos para atitudes intermediárias e, finalmente,
para comportamentos específicos (Allen & Ng, 1999).
Gutman (1982), por sua vez, também defende que a influência dos
valores sobre as decisões e o comportamento de compra dá-se de maneira
51
indireta, mas por meio dos atributos dos produtos. Como postulado pela teoria
da Expectância de Rosenberg, a atitude com relação ao produto é o conjunto de
crenças avaliativas sobre características do produto percebidas como causadoras
de experiências positivas e negativas. Em outras palavras, Gutman (1982) afirma
que a valência positiva ou negativa que o consumidor atribui a essas
experiências de consumo está relacionada com a obtenção ou não dos benefícios
que o consumidor esperava obter com a compra ou consumo do produto.
Observa-se também que, no conceito de atitude, as avaliações são feitas sobre
características (ou atributos) específicas do produto. Nesse sentido, Gutman
(1982) acredita que os valores, como construtos motivacionais, têm influência
nos benefícios buscados pelo consumidor nos diferentes atributos dos produtos.
Esse modelo que inter-relaciona valores pessoais, benefícios e atributos é
conhecido como teoria da Cadeia de Meios e Fins, modelo teórico adotado para
o presente trabalho.
52
processos internos – pensamentos, imagens, construtos – é responsável pela
conduta das pessoas (Veludo-de-Oliveira & Ikeda, 2004).
Independentemente de qual tenha sido sua real origem, a Means-End
Chain theory, doravante referida como MEC, ganhou destaque na década de
1980, com o trabalho de Gutman (1982). Embora a intenção inicial da MEC
consistisse em descrever como os consumidores categorizavam informações
sobre produtos na memória (Woodruff, 1997; Bagozzi & Dabholkar, 2000), ele
acabou se mostrando útil também para capturar os valores essenciais do
consumidor, proporcionando, assim, um novo caminho para a compreensão do
seu comportamento de compra. A principal idéia da MEC é que os
consumidores não compram o produto pelo que eles são, mas sim em função do
que os produtos podem fazer por eles (Woodruf, 1997; Hofstade et al., 1998).
Assim, pode-se dizer que os consumidores vêem produtos como um meio para
alcançarem determinados fins, procurando a teoria explicar como a seleção de
um produto ou serviço facilita o alcance de estados-finais desejados (Gutman,
1982).
Conforme salientado por Huber (2004), a literatura sobre a MEC divide-
se entre aqueles que tratam dos seus aspectos conceituais e teóricos (Bagozzi &
Dabholkar, 2000; Gutman, 1982), aqueles que fazem considerações
metodológicas (Aurifeille & Valette-Florence, 1995) e uma ampla variedade de
estudos aplicados às áreas de marketing e gestão. No Quadro 5 são apresentados,
em ordem cronológica, os principais estudo sobre a MEC, antes de ano de 2000.
53
QUADRO 5 Principais autores e trabalhos sobre a MEC, até o ano de 2000.
54
No nível mais elementar da hierarquia encontram-se os atributos.
Entende-se por atributos todo o conjunto de características (componentes,
partes) ou aspectos (cor, textura, aparência) de um determinado produto ou
serviço (Reynolds & Gutman, 1984). Na literatura podem ser encontradas
diferentes maneiras de classificar os atributos de um produto ou serviço. Na
concepção de Zeithaml (1988), citado por Espinoza & Hirano (2003), existem
duas categorias de atributos: os intrínsecos, compostos pelos componentes
físicos e características funcionais, tais como design, durabilidade e tamanho, e
os extrínsecos, que não fazem parte da composição física do produto, como o
preço e a marca. Já para Peter & Olson (1999), também citados por Espinoza &
Hirano (2003), os atributos de um produto são de natureza concreta, abrangendo
tudo aquilo que é físico e tangível no produto (como o tamanho, cor e peso), ou
de natureza abstrata, como a qualidade percebida e outras características mais
intangíveis. Por sua vez, Allen (2001) denomina de tangíveis todos aqueles
atributos que podem ser percebidos por meio dos cinco sentidos humanos e
intangíveis as imagens que o consumidor faz do produto, como a beleza, a
estética e o prestígio.
Seja prontamente ou algum tempo depois, as pessoas acabam
percebendo as conseqüências (fisiológicas ou psicológicas, desejáveis ou
indesejáveis) do seu comportamento de compra. “O aspecto central do modelo é
que os consumidores escolhem ações que produzam conseqüências desejáveis e
que evitem as conseqüências indesejáveis” (Gutman, 1982, p.61). O autor
observa que, na literatura sobre marketing, o termo benefício é mais utilizado
em referência às conseqüências desejáveis. Na MEC, os benefícios estão no
nível intermediário da hierarquia e, de acordo com Peter & Olson (1999), citados
por Leão & Mello (2001), eles podem ser subdivididos em funcionais e
psicológicos. Os primeiros são resultados tangíveis da experiência direta de
consumo de um produto, como, por exemplo, matar a sede (com um
55
refrigerante). Os benefícios psicológicos, por sua vez, consistem nos resultados
psicológicos ou sociais do consumo de um produto, como a imagem que os
amigos fazem do consumidor por ele abastecer somente com combustível de
qualidade superior. Gutman (1982) observa ainda que esses benefícios podem
ser diretos (a mulher se sente mais bonita com o vestido novo comprado) e
indiretos (estando mais bonita, a mulher obterá melhores reações por parte dos
homens).
No nível mais elevado de abstração estão os valores pessoais que, como
visto no item 4.3 desta seção, designam as crenças pessoais profundamente
enraizadas quanto a estados-finais ou comportamentos desejados que guiam a
seleção e avaliação do comportamento. Os valores pessoais podem ser
distinguidos entre aqueles que são terminais e dizem respeito a estados finais de
existência, e os instrumentais, que são os modos de comportamento
preferenciais para se chegar a valores terminais (Solomon, 2002).
Para a MEC, a relevância de um determinado produto ou serviço deriva
das relações que o consumidor estabelece entre atributos, conseqüências e
valores pessoais. Por se tratarem de estágios-finais desejados e possuírem uma
dimensão emotiva, os valores pessoais têm grande influência motivacional no
comportamento (incluindo de compra) das pessoas. Estas compram/consomem
produtos por acreditarem que os atributos destes produtos geram benefícios que
os deixam mais próximos dos seus valores desejados. Dessa forma, o produto é
percebido como um caminho (meio) para o alcance do valores (fim).
A ligação hierárquica e seqüencial dos atributos, conseqüências e
valores forma uma escada (ladder, em inglês). Conforme explicado por
Botschen et al. (1999):
56
benefícios produzidos por certos atributos do produto, serviço ou
comportamento. Isso forma uma cadeia meios-fins, na qual atributos
são os meios pelos quais o produto, serviço ou comportamento fornece
conseqüências desejadas ou valores” (Botschen et al., 1999, p. 39-40).
57
por certos atributos de acordo com a capacidade destes de fazer com que os
consumidores obtenham a conseqüência desejada, de acordo com o valor
buscado no próximo nível hierárquico. O raciocínio oposto também é
verdadeiro. Olhando de baixo para cima na hierarquia, pode-se dizer que (2) é a
partir dos valores que os consumidores atribuem importância às diferentes
conseqüências do uso do produto e, de maneira semelhante, as conseqüências do
uso/consumo são o critério utilizado pelos consumidores para estabelecerem a
importância dos atributos.
Para um melhor entendimento de como os valores pessoais interferem
nas escolhas dos consumidores, é importante, neste momento, compreender a
forma como eles organizam seus pensamentos sobre as diferentes alternativas de
produtos, em um processo de categorização. Na vida cotidiana, as pessoas lidam
com uma grande variedade de produtos que se mostram como caminhos (alguns
mais, outros menos eficientes) para atingirem um número relativamente
reduzido de valores desejados. Como as pessoas têm uma capacidade limitada de
absorver e processar todo esse volume de estímulos provenientes do ambiente
que as cercam, elas naturalmente agrupam esses estímulos em categorias para
reduzir a complexidade das suas escolhas. Essa categorização, por sua vez,
baseia-se em um elemento cognitivo chamado de distinção. Distinções são
dicotomias (ou polaridades) que representam os pontos finais de uma dimensão
ao longo da qual objetos podem ser comparados (Gutman, 1982).
A distinção em si não é significativa. O que conta é a decisão de cada
pessoa em evidenciá-la ou não. São diversas as distinções utilizadas para a
comparação dos produtos. Café, suco e leite, por exemplo, podem ser
comparados na distinção quente/frio e muito viscoso/pouco viscoso, dentre
outras. Dessa forma, o processo de agrupamento gera o estabelecimento de
diversas categorias de produtos, que são agrupados nessas categorias em função
dos similares significados atribuídos a eles pelo consumidor (Vilas Boas, 2005).
58
Um dos principais critérios utilizados pelo consumidor para realizar essa
classificação dos produtos são os resultados obtidos em suas experiências de
compra e esses resultados, por sua vez, também terminam sendo classificados
por meio de distinções. Como visto anteriormente, as conseqüências advindas do
uso do produto podem ter valência positiva ou negativa25, à medida que tenham
contribuído ou não para deixar o consumidor mais próximo dos seus valores.
Uma vez que aprende a associar uma conseqüência particular a uma ação
particular, o consumidor acaba por classificar os produtos de acordo com sua
funcionalidade: entre aqueles cujo ato de compra contribuiu para o alcance das
conseqüências desejadas e aqueles cujo ato não contribuiu para tal. “Embora o
agrupamento se baseie nas propriedades do objeto, a seleção de quais dessas
propriedades têm maior importância é influenciada pelos valores” (Gutman,
1982, p. 62). Nesse sentido pode-se inferir que os valores são fatores
determinantes no padrão das escolhas de compra dos consumidores, já que,
mesmo que pelo intermédio das conseqüências, constituem o principal
parâmetro para a associação e a comparação dos produtos.
Gutman (1982) ressalta, ainda, a interferência do fator situacional nesse
processo de classificação. Em determinado contexto, os atributos de um produto
(como a excentricidade de uma camisa) podem trazer conseqüências desejáveis
(fazer sucesso em uma “festa brega”) e em outras não (nas demais ocasiões). Na
mesma linha de raciocínio, Woodruff (1997) observa que a situação de uso do
consumidor tem um papel relevante na sua avaliação, assim como no seu desejo.
Se a situação de uso muda, as ligações entre atributos, conseqüências e valores
também mudam. O autor cita o exemplo de um consumidor de serviços de
internet. Sua hierarquia de valores pode ser diferente com relação ao uso de
internet em casa (para diversão) e no trabalho. Com o passar do tempo os
25
Valência positiva e negativa constitui uma distinção, uma vez que representam os
pontos finais de uma dimensão ao longo da qual objetos podem ser comparados.
59
consumidores aprendem a distinguir entre os produtos que são e os que não lhes
são úteis, bem como em que situações eles farão essas escolhas.
Segundo Gutman (1982), é possível sumarizar o arcabouço conceitual da
teoria da MEC em quatro suposições fundamentais:
60
observar, na literatura sobre MEC, a existência de dois enfoques distintos: o
motivacional e o cognitivo. O enfoque motivacional é aquele em que a MEC e a
Laddering (principal técnica usada para a obtenção dos dados que será abordada
no capítulo seguinte) buscam obter insights sobre o motivo de compra do
consumidor, ou seja: de que maneira os valores básicos estão ligados ao
comportamento de compra. Nesta perspectiva, a realização da Laddering pode
prover insights valiosos, tanto para o entrevistador quanto para o estrevistado,
uma vez que este último é levado a refletir sobre os motivos de suas compras de
maneira diferente da que está acostumado.
O segundo enfoque – o da estrutura cognitiva – busca responder como
os aspectos relevantes para o consumo estão cognitivamente estruturados, ou
seja, a maneira como um conhecimento relevante para o consumo é gravado e
organizado na memória humana. Um modelo hierárquico básico é assumido, no
qual categorias cognitivas de diferentes níveis de abstração são interligadas em
cadeias. Nesse modelo hierárquico, assume-se que a “motivação
comportamental deriva da ligação dessas categorias cognitivas relacionadas a
objetos concretos com categorias cognitivas de um grau mais elevado de
abstração, como valores” (Grunert & Grunert, 1995, p.210). Assim, o enfoque
da estrutura cognitiva acredita ser possível explicar ou predizer o
comportamento em relação a determinado produto por meio da especificação de
como, numa dada situação, partes da estrutura cognitiva são restauradas e usadas
para guiar o comportamento.
61
A MEC e diversos outros modelos teóricos, como o de Vinson et al.
(1977) e o de Kahle (1980), citado por Allen & Ng (1999), baseiam-se na
premissa de que os valores afetam o comportamento de consumo apenas
indiretamente. Allen & Ng (1999) concordam que isso aconteça quando os
consumidores avaliam o produto de maneira utilitária, por meio de um
julgamento gradual dos seus atributos, mas argumentam que nem sempre o
comportamento de compra é racional, sendo também influenciado pelas
emoções, principalmente tratando de necessidades hedonistas. Assim, muitas
vezes, os consumidores fazem uma avaliação simbólica do produto, na qual o
julgamento é predominantemente afetivo. Nesses casos, segundo os autores, os
valores pessoais podem ter uma influência direta (sem elementos
intermediadores) na escolha do produto.
Outra dúvida a respeito da MEC é a sua aplicabilidade em estudos que
abordem determinados tipos de produtos e serviços. O próprio Gutman (1982)
reconhece que nem todo ato do consumidor está ligado a valores, especialmente
no caso da compra de produtos de baixo envolvimento. “O problema crítico dos
produtos de baixo envolvimento para o modelo é a falta de ligações entre
conseqüências do uso do produto e os valores pessoais” (Gutman, 1982, p.66).
Bagozzi & Dabholkar (2000), por sua vez, levantam dúvidas quanto à
adequação da MEC para a análise de serviços. Na opinião dos autores, embora
nada impeça a aplicação da MEC e sua metodologia tradicional, Laddering, ao
contexto dos serviços, ela parece apresentar melhores resultados com relação a
produtos, uma vez que seus atributos físicos são claros. Eles explicam que o
procedimento padrão da Laddering apoia-se em uma seqüência específica de
questões que, primeiro, focam a identificação dos atributos físicos, depois na
elaboração psicossocial do significado desses atributos e, finalmente, na
identificação dos valores abstratos por trás desses significados psicossociais.
Segundo os autores, este enfoque possui duas limitações: (1) presume que as
62
razões das pessoas estão seqüencialmente organizadas, partindo de critérios
físicos para os mais abstratos/intangíveis e (2), como uma conseqüência do
primeiro pressuposto, esse procedimento funciona melhor para produtos físicos,
sendo menos adaptado para idéias, pessoas e serviços, devido à dificuldade de
descrevê-los em termos de propriedades físicas.
Essas duas limitações foram o objeto de estudo nos trabalhos de Rekom
& Wierenga (2006) e Mort & Rose (2004), respectivamente. Para Rekom &
Wierenga (2006), os construtos na cabeça do consumidor não são
necessariamente organizados de maneira hierárquica. Os resultados de suas
pesquisas mostraram que estruturas não-hierárquicas de organização de
conhecimento também são possíveis. Sendo assim, questionam o porquê de os
entrevistadores, com tanta freqüência, encontrarem estruturas hierárquicas de
meios e fins em suas entrevistas. A explicação, para eles, encontra-se no formato
da maioria das entrevistas de Laddering que, literalmente forçam os
respondentes a descobrir conceitos ligados hierarquicamente. Grunert & Grunert
(1995) ratificam esse ponto de vista ao afirmarem que a entrevista de Laddering
pode forçar uma estrutura linear hierárquica, numa rede de significados que seria
potencialmente mais larga.
No que diz respeito à melhor aplicação da MEC a produtos físicos, Mort
& Rose (2004) explicam que os diferentes tipos de produtos também interferem
no grau de importância do valor para a motivação de compra. Os autores
observam que um grande número de trabalhos empíricos termina por concluir
que a ligação entre atributos e valores se dá de maneira indireta, por meio dos
benefícios (conseqüências desejáveis). Os autores observam, entretanto, que a
maioria dessas pesquisas analisa produtos bastante funcionais, como bicicletas e
iogurte. Mas, em outras pesquisas, nas quais os valores foram isolados dos
demais níveis de abstração da MEC, os resultados mostraram que os valores têm
um papel ainda mais forte na influência do comportamento do consumidor.
63
Assim, existem dois enfoques conflitivos entre motivação e valor: no primeiro, o
papel dos valores pode ser entendido apenas no contexto das ligações
hierárquicas da MEC; no segundo, atributos de produtos podem ser ligados
diretamente aos valores e explicar a motivação. Os autores sugerem que o tipo
de produto pode explicar esse conflito e criticam a suposição da MEC de que a
intermediação das ligações entre atributos e valores pessoais pelos benefícios
acontece para todos os produtos. Ela seria central apenas para os produtos
utilitários, uma vez que a performance funcional é percebida como proveniente
de características tangíveis do produto.
Apesar das lacunas teóricas e metodológicas apresentadas, o modelo
teórico da MEC tem se mostrado de grande aplicabilidade nos estudos do
comportamento do consumidor. Na área do marketing, ela se mostra útil na
elaboração de estratégias de segmentação de mercado (Rekom & Wierenga,
2006; Aurifeille & Valette-Florence, 1995; Bourne & Jenkins, 2005), na gestão
de imagem (Rekom & Wierenga, 2006), nas estratégias de propaganda (Rekom
& Wierenga, 2006; Hofstede et al., 1998; Aurifeille & Valette-Florence, 1995;
Bourne & Jenkins, 2005) e para o desenvolvimento de novos produtos
(Sondergaard, 2005; Hofstede et. al., 1998).
No exterior, onde tem grande repercussão, a MEC já foi utilizada em
estudos sobre o consumo de comida indiana na Inglaterra (White & Kokotsaki,
2004), para estratégias de posicionamento do varejo de alimentos naquele
mesmo país (Devlin et al., 2003) e também em estações de esqui, produtos de
moda e até no mercado de carne, conforme apontado por Rekom & Wierenga
(2006). No Brasil, o número de estudos empíricos pautados na MEC ainda é
reduzido, podendo ser destacados os de Leão & Mello (2001, 2002) com leitores
de jornais online, de Veludo-de-Oliveira & Ikeda (2006), em serviços
educacionais, de Löw (2004), no contexto da tecnologia de informação, de
64
Kaminski & Prado (2005), no estudo do consumo de música e de Vilas-Boas
(2005), no estudo do consumo de produtos orgânicos.
Todos os estudos citados identificaram um número suficiente de cadeias
dos clientes e a maioria obteve sucesso na identificação das estruturas cognitivas
indicando a relação entre atributos, conseqüênciass e valores para um dado
produto ou serviço. No entanto, os pesquisadores, tanto do Brasil quanto do
exterior aparentemente ainda não investigaram a estrutura cognitiva dos
consumidores no varejo de combustíveis. Nesse sentido, o presente trabalho
buscou uma melhor compreensão do comportamento do consumidor nesse ramo
de atividade e, mas especificamente, dos consumidores de gasolina aditivada. A
MEC se mostra como um caminho viável para o alcance desse objetivo.
65
5 METODOLOGIA
66
(Gil, 1999). Conforme ressaltado por Gil (1991), algumas pesquisas descritivas
podem ir além da simples identificação da relação entre variáveis, pretendendo
determinar a natureza dessa relação. A presente pesquisa, no entanto, apresenta-
se como sendo predominantemente exploratória, na medida em que se busca
obter uma visão geral acerca de determinado fato - no caso, os valores que
influenciam nas escolhas por gasolina aditivada.
Para Mattar (1996), o propósito da pesquisa exploratória é prover maior
conhecimento sobre o tema em estudo, desenvolver hipóteses a serem testadas e
aprofundar questões a serem estudadas. Essa opinião vai ao encontro da de Gil
(1999), para quem a principal finalidade das pesquisas exploratórias é o
desenvolvimento, o esclarecimento e a modificação de conceitos e idéias, tendo
em vista a formulação mais precisa de problemas ou hipóteses para estudos
posteriores. Por isso, as pesquisas exploratórias são, muitas vezes, a primeira
etapa de uma investigação mais ampla (Gil, 1999; Mattar, 1996). Seu produto
final é um problema mais esclarecido e passível de investigação por meio de
procedimentos mais sistematizados.
A formulação do problema, a construção das hipóteses e o
estabelecimento do marco teórico são essenciais para que o problema de
pesquisa assuma significado científico, mas por si só não permitem colocar o
problema em termos de verificação empírica (Gil, 1999). Assim, é necessário
definir o escopo da pesquisa em termos de amplitude e profundidade. Segundo
Mattar (1996), nesse quesito, as pesquisas podem ser classificadas como estudos
de caso, levantamentos amostrais e estudos de campo. O autor descreve o estudo
de caso como sendo um estudo profundo, mas não amplo, sobre um ou poucos
elementos. Um levantamento amostral, pelo contrário, é amplo e representativo
da população, mas pouco profundo. O estudo de campo – categoria na qual a
presente pesquisa pode ser enquadrada – encontra-se num meio termo entre o
estudo de caso e o levantamento amostral. Conforme explica o autor, os estudos
67
de campo trabalham com amostras de dimensão suficiente para a aplicação de
análises estatísticas sem, no entanto, haver preocupações com a
representatividade. Ao mesmo tempo, e também devido à dimensão da amostra,
é possível obter uma profundidade maior que nos levantamentos amostrais.
Tendo em vista a natureza das variáveis pesquisadas, este estudo é
classificado como sendo qualitativo. Ao distinguir a pesquisa qualitativa da
quantitativa, Kirk & Miller (1986), citados por Mattar (1996), esclarecem que a
pesquisa qualitativa busca identificar a presença ou a ausência de algo, enquanto
a pesquisa quantitativa procura medir o grau em que esse algo está presente.
Segundo Bogdan & Biklens (1994) o modelo de pesquisa qualitativo possui
cinco características principais:
(1) na investigação qualitativa, a fonte direta de dados é o ambiente
natural. Com base no pressuposto de que as ações podem ser mais bem
compreendidas quando observadas em seu ambiente de ocorrência, o
investigador, munido ou não de equipamento de registro, insere-se no ambiente
pesquisado e ali obtém informações por meio de observações e pelo contato
direto com as pessoas. Como o comportamento humano é influenciado pelo
meio, separar o ato, a palavra ou a ação de seu contexto impossibilita a
compreensão do seu significado. Por isso, o investigado insere-se no ambiente,
tornando-se o principal instrumento na pesquisa qualitativa;
(2) a investigação qualitativa é predominantemente descritiva.
Transcrições de entrevistas, notas de campo, documentos, fotografias, vídeos e
outros são utilizados para obter dados expressos em forma de palavras ou
imagens, e não em forma de números. Nenhum detalhe deve ser desprezado.
Para captar toda a riqueza do mundo, a pesquisa qualitativa exige que o
investigador suspenda seus pressupostos e leve sua investigação com a idéia de
que nada é trivial e que tudo pode ser uma pista para melhor compreender o
objeto de estudo;
68
(3) na pesquisa qualitativa, os investigadores se interessam mais pelo
processo que pelos resultados. É preciso saber como as pessoas se relacionam,
sua história e valores para, então, analisar o significado de seu comportamento.
Nesse mesmo sentido, Alencar (2000) afirma que, diferente do interesse
positivista de validar empiricamente, o foco da abordagem qualitativa consiste
em entender as interpretações dos atores sociais e, conseqüentemente, o seu
comportamento;
(4) os investigadores qualitativos tendem a analisar seus dados de forma
indutiva. As hipóteses são formadas à medida que os dados são recolhidos e
agrupados. O quadro fica mais nítido à medida que mais informações são
recolhidas e examinadas. As questões importantes só são conhecidas depois das
investigações;
(5) na abordagem qualitativa, os investigadores preocupam-se em
conhecer a perspectiva participante, ou seja, o modo como as pessoas
interpretam os significados do mundo. Para isso, os pesquisadores estabelecem
estratégias e procedimentos que lhe permitam ir a campo com o objetivo de
captar o fenômeno em questão a partir da perspectiva das pessoas nele
envolvidas (Godoy, 1995).
Diante das limitações dos métodos positivistas para lidar com uma
realidade que tem se mostrado cada vez mais complexa e dinâmica, as técnicas
qualitativas ganharam força nos últimos 40 anos, ocupando, hoje em dia, um
reconhecido lugar entre as várias possibilidades de se estudar os fenômenos que
envolvem os seres humanos e suas relações sociais. De acordo com Malhotra
(2006), os procedimentos da pesquisa qualitativa podem ter um enfoque direto
ou indireto, dependendo do fato de o entrevistado estar a par ou não do real
objetivo da pesquisa. Numa abordagem direta, o entrevistado tem ciência dos
objetivos da pesquisa, seja por ter sido informado pelo pesquisador ou por
dedução a partir das próprias perguntas formuladas. Quando o pesquisador, por
69
uma questão metodológica encobre ou disfarça os verdadeiros motivos da
pesquisa, tem-se uma abordagem indireta. Uma vez que todos os consumidores
entrevistados no presente estudo foram devidamente informados sobre os seus
reais propósitos – como será mais bem explicado adiante – este pode ser
caracterizado com tendo uma abordagem direta.
Dentre os métodos diretos de coleta de dados, Malhotra (2006) destaca a
entrevista em profundidade - utilizada nesta pesquisa para a obtenção dos dados
- como sendo uma das mais importantes. Gil (1999) define entrevista como a
técnica em que o investigador se apresenta frente ao investigado e lhe formula
perguntas com o objetivo de obter os dados que interessam à investigação. A
adjetivação em profundidade diz respeito ao grau de detalhamento que se
busca. A entrevista em profundidade é, geralmente, usada para identificar as
atitudes, motivações e comportamentos do consumidor, bem como para avaliar
sua importância (Bellenger et al., 1976 apud Overby, 2000). Na entrevista em
profundidade, o entrevistador, a partir de uma pergunta genérica inicial, estimula
o entrevistado a revelar suas crenças, percepções e sentimentos sobre um
determinado tópico. “Depois de formular a pergunta inicial, o entrevistador
utiliza um formato não estruturado. O rumo subseqüente da entrevista é
determinado pela resposta inicial” (Malhotra, 2006, 164 p.).
De acordo com Overby (2000), são três as principais técnicas de
entrevista em profundidade utilizadas para a identificação de valores pessoais
dentro da perspectiva da MEC: a Grand Tour; a Técnica de Elicitação de
Metáforas de Zaltman e a Laddering. Criada por Woodruff & Gardial (1996),
citados por Overby (2000), a Grand Tour é uma modalidade de entrevista em
profundidade utilizada para entender as hierarquias de valores indiretamente,
valendo-se das experiências de uso do produto do consumidor. Ela utiliza uma
abordagem indireta, com perguntas como "o que você está sentindo até este
momento do uso/consumo do produto?” e é mais propícia para estudar as
70
percepções das inter-relações entre atributos, benefícios e valores pessoais
durante o uso ou consumo do produto.
A Técnica de Elicitação de Metáforas de Zaltman, por sua vez, é
utilizada para entender as imagens que os consumidores formam sobre marcas,
produtos ou empresas, similaridade entre marcas e conceito de produtos. Nela,
os consumidores trazem fotografias que servem como base para uma
conversação guiada que usa uma combinação do Repertório Grid de Kelly
(1955) citado por Overby (2000) e técnicas tipo Laddering para revelar
construtos que podem ser então organizados em um mapa mental.
A última das três técnicas de entrevista em profundidade é a Laddering,
uma modalidade de entrevista em profundidade moderadamente estruturada26
utilizada para entender como o consumidor associa atributos dos produtos com
seus valores pessoais mais profundos. Ela utiliza perguntas diretas (por que isso
é importante para você?) para revelar as ligações entre os três elementos-chave
da cadeia da MEC: atributos, conseqüências e valores pessoais. Uma vez que foi
adotada no presente trabalho, um maior detalhamento da técnica Laddering será
visto adiante.
26
A Laddering é assim classificada por Woodruf & Gardial (1996), citados por Löw
(2004), uma vez que o rumo que a entrevista toma é determinado a partir da resposta
dada pelo respondente.
71
distribuição da precipitação entre os meses do ano dificulta o desenvolvimento
da agricultura, sendo a pecuária a atividade rural predominante na região.
Alem da pecuária, a cidade também possui um parque industrial
relativamente expressivo, contando com fábricas de empresas nacionalmente
conhecidas (como Nestlé e Novo Nordisk) e um comércio vigoroso, tornando-a
o principal centro comercial da região. Nos últimos anos a cidade tem se
transformado também num pólo universitário, contando hoje com uma
universidade pública estadual – Unimontes – e outras seis faculdades e centros
universitários que juntas oferecem à população formação superior nas mais
variadas áreas do conhecimento.
Servida por quatro rodovias federais (BR 135, BR 365, BR 251 e BR
122), Montes Claros classifica-se como o segundo maior entroncamento
rodoviário do país e é considerada um elo entre os grandes centros. Localiza-se a
418 km de Belo Horizonte, a 694 km de Brasília e a 320 km da Br 116, a
principal rota de ligação entre o Sudeste e o Nordeste do Brasil pelo interior.
Apesar do progresso, a boa localização geográfica e a malha rodoviária também
contribuíram para o crescimento desordenado e, consequentemente, para o
aumento da criminalidade no município nos últimos anos.
72
QUADRO 6 Veículos registrados em Montes Claros, MG.
73
reconhecidamente lícita e moral (já que nada é mais razoável do que um
comerciante tomar suas decisões considerando as estratégias daqueles com quem
compete), a população e mesmo muitas autoridades equivocadamente a
confundem com formação de cartel.
74
somam 8 bicos, as vendas de combustíveis giram em torno de 150 mil litros por
mês, dos quais cerca de 80 mil (53%) são de gasolina e álcool.
Em janeiro de 2007, a empresa possuía 274 clientes cadastrados e ativos
(pessoas físicas e jurídicas), que representavam cerca de 80% das vendas do
posto. Os 20% restantes ficavam por conta dos chamados “clientes transeuntes”,
que escolhem espontaneamente abastecer no Posto Mercolub/MG. Os 80% de
clientes cadastrados foram atraídos por meio de esforços de venda externa
pessoal.
75
único27 ponto de distribuição do produto, o Posto Mercolub/MG, localizado na
cidade de Montes Claros,MG. Assim, a população-alvo deste estudo foi definida
como sendo todos os clientes pessoas físicas desse posto que são consumidores
de gasolina aditivada e que estão dispostos a pagar até oito centavos a mais (em
relação à gasolina comum) pelo produto.
A segunda etapa do processo de amostragem (a determinação da
composição da amostra) é normalmente obtida por meio de uma lista que
identifica os elementos da população-alvo. Mas, como no varejo de
combustíveis é praticamente impossível manter registro sobre quem são todos os
consumidores de gasolina aditivada, não foi possível determinar a priori quais
indivíduos fariam parte da amostra, que, por fim, foi constituída por 55
consumidores. Tal amostra está em conformidade com a literatura relacionada à
técnica Laddering, que aponta uma amostra que possua entre 50 e 60 elementos
como adequada para a representação e interpretação dos dados na matriz de
implicação (Vilas Boas, 2005).
A identificação desses 55 consumidores se deu por (1) abordagem do
próprio pesquisador no ato do abastecimento de gasolina aditivada no referido
posto e (2) apontamento dos frentistas. A técnica de amostragem utilizada neste
estudo pode ser classificada, portanto, como não-probabilística por
acessibilidade ou conveniência (Gil, 1999). Segundo o mesmo autor, esse tipo
de amostragem é aplicado em estudos exploratórios, situações em que elevados
níveis de precisão não são necessários. Em uma amostra não-probabilística, não
é possível definir probabilidade de um determinado indivíduo do universo
27
O fato de terem sido entrevistados consumidores de apenas uma empresa não
caracteriza esta pesquisa como estudo de caso. O objeto de estudo em questão é o
comportamento de compra de um produto – gasolina aditivada – que pode ser
encontrado em milhares de pontos de venda, Brasil afora. Em se tratando de um estudo
predominantemente exploratório, acredita-se que a opção por adotar um ou vários pontos
para coleta de dados não interfira de maneira significativa nos resultados encontrados,
mas traz dificuldades para a execução da pesquisa.
76
populacional ser escolhido. A seleção não é aleatória. Assim, como, nesses
casos, é impossível medir o erro de amostragem, as conclusões do estudo não
podem ser generalizadas (Laville & Dionne, 1999). Conforme apontado por Rea
(2000), a amostragem por conveniência é uma das formas de amostragem não-
probabilísticas mais usadas, sendo especialmente útil nos estágios preliminares
de um projeto de pesquisa. Nessa modalidade, a amostra é escolhida com base
na semelhança presumida com a população e na sua disponibilidade.
No que diz respeito à primeira forma de identificação de consumidores –
abordagem durante o abastecimento –, foi preciso levar em conta que o tempo
requerido para a entrevista do tipo Laddering28 é bem maior do que o tempo que
o consumidor permanece parado no posto durante o abastecimento do veículo.
Assim, o momento do abastecimento foi utilizado pelo pesquisador para
selecionar entrevistados em potencial. Uma vez que o frentista tivesse iniciado o
abastecimento (com gasolina aditivada, escolhida espontaneamente pelo
consumidor), os consumidores foram abordados pelo autor da pesquisa, que se
apresentou como pesquisador interessado no comportamento de compra de
gasolina aditivada. Em seguida, quatro questionamentos foram direcionados ao
cliente: (1) “Você também abastece gasolina comum ou apenas gasolina
aditivada?” Aos clientes que afirmaram abastecer seus veículos apenas29 com
gasolina aditivada seguia-se a pergunta: (2) “Há quanto tempo você adotou essa
decisão de abastecer somente com gasolina aditivada?” Foram selecionados
apenas aqueles que afirmaram tê-la adotado há pelo menos três meses. (3) “Você
abastece gasolina aditivada mesmo quando ela tem um preço maior do que a
28
O tempo de duração de uma entrevista Laddering pode variar consideravelmente. De
acordo com Reynolds & Gutman (1988), entre 60 e 75 minutos. Para Wansink (2003),
de 30 a 40 são necessários para que resultados satisfatórios sejam obtidos. No trabalho
de Vilas Boas (2005) o tempo requerido em cada entrevista foi de 40 a 60 minutos,
enquanto que na pesquisa de Löw (2004), esse tempo variou entre 20 e 30 minutos.
29
Exceto nas situações (como durante viagens) em que não encontram o produto
disponível nos postos.
77
gasolina comum?” Em caso de resposta positiva seguiu-se a quarta e última
pergunta: (4) - “E se ela estivesse de cinco a dez centavos mais cara que a
gasolina comum? Mesmo assim você optaria pela aditivada?” A resposta
mínima aceita para essa pergunta foi de oito centavos, ou seja, se a diferença de
preço entre gasolina aditivada e gasolina comum fosse maior que oito centavos,
o consumidor pensaria na possibilidade de optar pelo produto comum no
próximo abastecimento. Cabe observar que, na época em que as entrevistas
foram realizadas, o preço da gasolina aditivada manteve-se de dois a quatro
centavos maior que o da gasolina comum.
O objetivo dessas perguntas foi obter uma amostra composta por
consumidores que apresentassem certo grau de lealdade ao produto em questão,
eliminando aqueles que, porventura, estivessem abastecendo gasolina aditivada
apenas por ocasião da pequena diferença de preço entre os dois combustíveis
naquele momento, ou pelo fato de as demais bombas de gasolina do posto
estarem ocupadas. Apenas os clientes que responderam de maneira adequada às
quatro perguntas foram selecionados como entrevistados em potencial. Esses
mesmos questionamentos foram feitos - pelo telefone ou durante as visitas nos
locais de trabalho - para selecionar candidatos potenciais dentre os consumidores
apontados pelos frentistas30 do Posto Mercolub/MG. Dessa forma foi possível
obter uma amostra composta apenas por consumidores que afirmaram abastecer
gasolina aditivada, há pelo menos três meses, e que pretendem continuar
30
Os frentistas conheciam os principais consumidores de gasolina aditivada do Posto
Mercolub/MG. Alguns, clientes antigos, possuiam ficha de cadastro na empresa, o que
facilitou o trabalho de obtenção de dados para contato. Algumas vezes, lembravam-se
apenas do nome, do veículo e ou do local de trabalho do cliente. Tais informações eram
suficientes para que o consumidor fosse identificado e contactado. Nos casos em que os
frentistas se lembravam apenas da fisionomia do cliente e ou seu veículo, pediu-se a eles
que obtivessem mais informações (nome, telefone, local de trabalho) sobre o cliente na
próxima vez que ele viesse ao Posto abastecer. Para evitar clientes aproveitadores,
dispostos a se passar por consumidores de gasolina aditivada apenas pela recompensa, os
frentistas foram orientados a não comentar sobre a recompensa financeira que estava
sendo oferecida.
78
optando pelo produto, desde que a diferença de preço não seja superior a 8
centavos. Ressalta-se aqui que a fidelidade da amostra para com a gasolina
aditivada atende à recomendação de Veludo-de-Oliveira et al. (2006), de que se
busque obter um grupo de respondentes suficientemente homogêneo e numeroso
para favorecer a redundância nas respostas e facilitar a categorização dos
elementos na etapa de análise de conteúdo.
Uma vez identificados como entrevistados em potencial, os
consumidores foram informados sobre as características, o tempo médio
requerido para a realização da entrevista31 e a recompensa financeira32 oferecida
para aqueles que se dispusessem a participar da pesquisa33. Por fim, a data, o
horário e o local da realização das entrevistas eram combinados entre o
pesquisador e os clientes interessados. Já com a agenda cheia para os próximos
dias, muitos entrevistados em potencial preferiam deixar o nome e o telefone
para que o pesquisador entrasse em contato posteriormente, para só então
estabelecerem data, hora e local da entrevista. Do total de 55 entrevistas
realizadas, 32 aconteceram numa sala apropriada do Posto Mercolub/MG, 16 no
local de trabalho do entrevistado e sete na residência do mesmo. As entrevista
aconteceram no período de 1º de abril de 2007 a 4 de junho de 2007 e tiveram
duração média de 32 minutos34. A de menor duração levou menos de 10
minutos, enquanto a mais longa chegou 65 minutos. Obteve-se pelo menos uma
31
Os entrevistados em potencial foram informados que o tempo de duração da entrevista
variaria entre 40 e 60 minutos.
32
R$ 10,00 em gasolina aditivada ou óleos lubrificantes comercializados pelo Posto
Mercolub/MG.
33
Desde que a recompensa financeira fosse ofertada para os consumidores que
responderam de maneira adequada às quatro perguntas de seleção, se enquadrando no
perfil buscado, não fazia diferença se o principal interesse do consumidor era a
recompensa financeira ou não. Alguns ratificaram sua intenção de participar da pesquisa,
mesmo que não houvesse recompensa.
34
A contagem do tempo de duração das entrevistas foi iniciada a partir das perguntas
sobre dados pessoais.
79
ladder completa de cada entrevistado, de modo que todas as entrevistas
realizadas foram consideradas válidas para o presente estudo.
35
Destaque para a Técnica de Padrões de Associação (APT) de Hofstede et al. (1998).
80
criticamente suas suposições por trás de seu comportamento de compra
cotidiano (Reynolds & Gutman, 1988). Em outras palavras, a partir da
identificação de atributos considerados importantes em um produto ou serviço, o
entrevistado é levado, a cada pergunta, a um grau mais elevado de abstração,
revelando, assim, as ligações entre os (A) atributos, (C) conseqüênciass e (V)
valores (Leão & Mello, 2001). As raízes da técnica, na opinião de Wansink
(2000), explicam sua semelhança com uma sessão psicológica, na qual o
pesquisador parece agir como psicanalista em busca dos verdadeiros motivos
ocultos para o comportamento do paciente (consumidor entrevistado).
O trabalho de Reynolds & Gutman (1988), intitulado Teoria, Método,
Análise e Interpretação da Laddering, foi o grande responsável pela
disseminação da técnica na área do marketing. Segundo os mesmos autores (p.
12), Laddering refere-se a uma “técnica de entrevista em profundidade,
individual, usada para compreender como os clientes traduzem o atributo de
produtos em associações com significado a respeito de si mesmos, seguindo a
teoria das Cadeias Meios e Fins”. Por meio dela é possível encontrar pontos de
entrada nas redes de significados pessoais que as pessoas usam para organizar
suas vidas e seguir o caminho da hierarquia até os construtos mais abstratos –
valores (Bourne & Jenkins, 2005).
A premissa central na técnica Laddering é que os níveis inferiores de
abstração afetam os níveis mais elevados, ou seja, atributos dos produtos geram
conseqüências desejáveis (benefícios) e estes, por sua vez, levam à satisfação
dos valores (Baker et al., 2004). Dessa forma, o objetivo principal de uma
entrevista de Laddering é revelar como atributos de produtos, os benefícios
obtidos com o seu uso e valores pessoais relacionados às escolhas feitas, estão
conectados na mente da pessoa. Na entrevista tipo Laddering, os
questionamentos se iniciam com as características dos produtos e vão
paulatinamente migrando o foco para as características do consumidor, levando
81
à identificação dos seus mapas mentais (Pieters et al., 1995). A seqüência de
perguntas da Laddering tem a capacidade de levar o respondente a pensar
criticamente sobre as conexões entre os atributos do produto e suas motivações
pessoais.
82
internas e vieses, enquanto se coloca no lugar do respondente, criando um senso
de envolvimento. Assim, o entrevistador é capaz de ir além das razões e
racionalizações superficiais e descobrir as razões mais fundamentais por trás da
percepção e comportamento dos respondentes.
De acordo com Hofstede et al. (1998), os procedimentos da Laddering
podem ser divididos em três etapas principais: (1) definição dos atributos, (2)
entrevista em profundidade e (3) análises dos resultados. Uma análise mais
detalhada dos procedimentos a serem adotados em cada uma destas três etapas é
feita a seguir.
83
autores recomendam informar o entrevistado também sobre as peculiaridades da
técnica, deixando claro que os procedimentos adotados são parte de uma
metodologia específica. Nessa mesma linha de pensamento, Reynolds &
Gutman (1988) sugerem dizer ao entrevistado, logo de início, que muitas das
questões podem parecer, de alguma forma, óbvias, mas que é preciso seguir
alguns parâmetros já estabelecidos pela academia. Segundo os autores, essa
medida cria uma sensação artificial de vulnerabilidade do entrevistador, o que,
devido à natureza pessoal das perguntas, contribui para uma atmosfera favorável
durante a entrevista.
Após as devidas orientações, Wansink (2000) sugere que o entrevistador
comece a entrevista com questões que façam o consumidor falar sobre o
produto: por quanto tempo ele usa o produto, com qual freqüência, onde o
compra, que preço ele acha mais adequando e outras que, embora não forneçam
nenhuma das informações buscadas pela Laddering, ajudam a trazer o
pensamento do cliente para o universo do produto e, assim, contribuem para que
se crie um clima mais propício para a pesquisa. As três recomendações
apresentadas foram adotadas no presente trabalho. Além disso, dados como
sexo, idade, escolaridade, faixa de renda e veículo também foram coletados para
a caracterização da amostra de entrevistados, como será mostrado no item 6.1.
O processo de obtenção de dados da entrevista Laddering tem início
com a menção, por parte do entrevistado, dos principais atributos do produto em
questão. Em vez da pergunta direta, a literatura recomenda a utilização de uma
das três técnicas listadas a seguir para a obtenção dessa informação:
84
características que sejam comuns a dois dos elementos e que, ao mesmo
tempo, os diferenciem do terceiro elemento;
37
A pergunta de sondagem mais freqüentemente utilizada nestas circunstâncias foi: “O
que a gasolina aditivada tem que proporciona essa conseqüência?”
38
Além de repetitiva, a pergunta “por que isso é importante para você?” em
determinados momentos mostra-se confusa para alguns entrevistados. “Por que você
acha importante um motor funcionando bem?”; “O que há de tão bom em poder contar
com o carro na hora que você precisa?”; “Por que você procura evitar ter dor de cabeça
com mecânica e manutenção?” e “Como você se sente quando isso acontece?” foram
variações da pergunta clássica da Laddering utilizadas neste estudo.
86
reflexões pessoais significativas que revelam mais sobre as qualidades
emocionais e abstratas que o consumidor associa à marca (ou produto). Por isso,
ainda segundo Wansink (2000), sempre que um benefício for encontrado, é
importante continuar cavando mais fundo naquele benefício em direção a um
valor que está por trás dele. Parar e voltar para outro atributo faz com que o
consumidor perca sua linha de pensamento, dificultando assim o bom
andamento da entrevista.
A seqüência de perguntas “por que isso é importante para você?”
conduz o entrevistado a níveis cada vez mais altos de abstração até que, no final,
o valor pessoal é revelado e uma seqüência (ladder) de atributo, conseqüências e
valores é formada. Conforme observa Wansink (2000), o número de perguntas
necessárias para que um valor surja é variável. Os valores podem aparecer
depois de apenas poucas perguntas ou só vir a ser revelado depois de uma longa
série de questionamentos. Assim, como o tempo da entrevista é limitado,
Reynolds & Gutman (1988) recomendam que o entrevistador parta para uma
nova ladder ( a partir de um atributo ou benefício) depois que um bom tempo já
tenha sido gasto, sem que se tenha chegado ao nível mais alto. Indo para outro
tópico, dá-se tempo para que o entrevistado pense mais sobre a questão, que
pode ser retomada mais tarde.
Conforme alertado por Wansink (2000), a entrevista de Laddering não é
tão simples quanto a seqüência atributos Æ conseqüências Æ valores sugere.
Como em qualquer entrevista, o respondente vai reagir às ações do
entrevistador. Por isso, o entrevistador deve mostrar-se sempre interessado e
adotar uma postura totalmente neutra, evitando emitir sinais que transmitam ao
entrevistado idéias de aprovação, desaprovação, surpresa ou hostilidade. Mas,
mesmo adotando uma postura adequada, o entrevistador deve estar devidamente
preparado para a interferência de fatores contingenciais e externos que
dificultem a boa condução da entrevista. Em muitos momentos, o entrevistador
87
tem dúvidas quanto à melhor maneira de se fazer uma pergunta. O entrevistado
pode estar nervoso, impaciente ou ficar desconfortável com determinado tipo de
questionamento. Por esses e outros motivos, alguns consumidores desenvolvem
estruturas estratégicas, respostas criadas pelos respondentes para justificarem
seu comportamento de compra, mas que não refletem sua real opinião (Vilas
Boas, 2005).
Reynolds & Gutman (1988) observam que, muitos consumidores, por
nunca terem refletido sobre o assunto, simplesmente não sabem descrever os
motivos de sua preferência por determinado produto. Além disso, à medida que
os questionamentos da Laddering levam o entrevistado a um nível cada vez mais
alto de abstração, a dinâmica da entrevista se torna mais pessoal e alguns
entrevistados começam a dar respostas que não correspondem ao nível de
abstração desejado, ficam em silêncio ou tentam desviar o foco da conversa.
Reynolds & Gutman (1988) apresentam seis diferentes técnicas que
ajudam o entrevistador a lidar com as estruturas estratégicas.
88
¾ Criar contraste regredindo no tempo. Levar o pensamento do
respondente de volta no tempo, comparando seus comportamentos
anteriores com os atuais, é uma maneira eficaz de fazê-lo pensar
criticamente sobre seus comportamentos e sentimentos.
89
a usar e a identificar as situações em que cada uma das seis técnicas se mostra
mais adequada para lidar com as estruturas estratégicas. Por fim, Wansink
(2000) condensou as principais recomendações a serem seguidas pelos
entrevistadores nessa etapa da Laddering, de acordo com os dados do Quadro 7.
90
dessas situações de dificuldade39. Às vezes nem mesmo as seis técnicas
sugeridas foram suficientes para levar uma ladder adiante e, em alguns casos,
até trouxeram resultados dúbios40. Para facilitar a condução das entrevistas, os
principais assuntos e itens mencionados (e não apenas aqueles que se mostravam
claramente como atributos, conseqüências ou valores) foram anotados pelo
pesquisador à medida que surgiam. Essa medida mostrou-se útil para evitar que
determinadas relações entre os elementos, mencionadas rapidamente pelo
entrevistado durante suas explicações, não fossem esquecidas, possibilitando ao
entrevistador explorar essas relações posteriormente. Mediante prévia
autorização dos entrevistados, todas as entrevistas foram gravadas, para
utilização na etapa de análise de conteúdo.
39
Neste trabalho, mais do que questionar a ausência do atributo ou do produto foi útil
perguntar “como você se sente quando isso (aquilo que foi anteriormente citado pelo
entrevistado) não acontece?”.
40
Em especial, a técnica de perguntar em terceira pessoa. Em três entrevistas os
entrevistados responderam à pergunta em terceira pessoa, mas frisaram que “os outros
pensam/agem assim, mas eles não”. As ladders obtidas nessas circunstâncias não foram
utilizadas no presente estudo.
91
“conjunto de técnicas de análise das comunicações, visando obter, por
procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das
mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a
inferência de conhecimentos relativos às condições de
produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens”.
41
De acordo com Flick (2004), são três as principais técnicas de análise de conteúdo: Na
abreviação da análise do conteúdo, trechos e paráfrases menos relevantes que possuam
significados iguais são omitidos, e paráfrases semelhantes são condensadas e resumidas.
A análise explicativa do conteúdo trabalha esclarecendo trechos difusos, ambíguos ou
contraditórios. A análise estruturadora do conteúdo busca por tipos ou estruturas
formais no material.
92
(Veludo-de-Oliveira & Ikeda, 2004), mas sim, explica como essa análise deve
ser feita em pesquisas que utilizam tal método. Segundo Leão & Mello (2003), o
processo de análise de conteúdo nesse método é caracterizado por dois
momentos distintos: (1) Desmembramento dos dados brutos e (2) Identificação e
codificação dos elementos-chave. Na etapa de desmembramento dos dados
brutos, deve-se realizar uma cuidadosa leitura dos textos para o levantamento de
passagens que reflitam aspectos importantes e centrais do que foi expresso pelo
entrevistado, sob a ótica da MEC (Reynolds & Gutman, 1988). O objetivo é
identificar, nas falas dos entrevistados, palavras ou conjunto de palavras que
representem de forma agregada tudo aquilo que nas entrevistas se caracterize
como elementos determinantes do comportamento de compra, bem como a
percepção do entrevistado em relação ao produto (Vilas Boas, 2005).
Na segunda etapa da análise de conteúdo das entrevistas é feita a
identificação e a codificação dos elementos. Como a soma de elementos gerados
em todas as entrevistas é normalmente elevada, é necessário sumarizar vários
elementos com sentido semelhante em um único conjunto maior ou código-
resumo. As falas com o mesmo sentido devem ser reunidas e representadas por
uma mesma palavra ou oração, limitando, assim, por meio dos significados, a
quantidade de elementos provenientes da análise. As mesmas opiniões ou idéias
acerca de algo, mesmo que expressas de maneira diferente por diferentes
entrevistados, são assim agrupadas em elementos mais representativos de
significado (Leão & Mello, 2003). É importante que esses códigos-resumo sejam
amplos o suficiente para eliminar respostas duplicadas e, ao mesmo tempo,
estreitos o suficiente para garantir que não seja perdido muito significado
(Devlin et al., 2003). A título de exemplificação, na pesquisa hipotética de
Reynolds & Gutman (1988) sobre vinhos tipo cooler, os elementos “não ficar
muito cansado”, “não ficar muito bêbado”, “não dizer coisas tolas” e “não ficar
doente” foram reunidos como evitar os efeitos negativos do álcool. Seguindo
93
esse exemplo, frases como “não se atolar em dívidas”, “não precisar pedir
dinheiro emprestado”, “não comprometer outras coisas da minha vida” e “não
ficar com nome sujo na praça”, obtidas durante as entrevistas deste estudo,
foram reunidas sob o código-resumo Evitar os efeitos negativos do descontrole
financeiro.
Após esse desmembramento, os elementos resultantes da sumarização
devem ser classificados em (A) atributos, (C) conseqüências e (V) valores
pessoais, segundo a MEC. Essa última orientação encontra respaldo na opinião
de Flick (2004), para quem um dos aspectos essenciais da análise de conteúdo é
o emprego de categorias obtidas em modelos teóricos. O resultado final dessa
etapa é condensado em um quadro-resumo, com os principais elementos
oriundos das entrevistas classificados (como atributos, benefícios ou valores) e
numericamente codificados.
42
Disponível gratuitamente no site do Prof. Ken Peffers: http://www.peffers.com.
Acesso em: 05 mar. 2007.
94
em posteriores estudos de Laddering, essa última etapa não será discutida neste
trabalho.
No primeiro estágio, a partir do quadro-resumo resultante da análise de
conteúdo, o pesquisador insere os elementos no programa, seu respectivo código
numérico e indica se se trata de um (A) atributo, uma (C) conseqüência ou um
(V) valor pessoal. A partir desses dados o software é capaz de criar uma matriz
de implicação, na qual é apresentado o número de vezes que cada elemento leva
a outro elemento (Reynolds & Gutman, 1988). Trata-se de uma matriz quadrada
que mostra, mediante representação numérica, todas as relações identificadas
nas ladders obtidas, ou seja, o número de vezes que determinado atributo levou
a uma conseqüência ou valor e que determinada conseqüência levou a outra
conseqüência ou a um determinado valor (Vilas Boas, 2005). Essas relações
podem ser tanto de natureza direta – sem elementos intermediários – quanto de
natureza indireta – elementos cuja relação se dá por meio de um elemento
intermediário. A título de exemplo, uma cadeia A Æ C Æ V possui duas
relações diretas (A Æ C e C Æ V) e apenas uma relação indireta (A Æ V). Na
matriz de implicação, o número de relações diretas e indiretas é mostrado nas
células em que convergem uma linha e uma coluna. As relações diretas são
tradicionalmente mostradas à direita do ponto (.) e as relações indiretas à
esquerda do ponto.
A matriz de implicação gerada pelo Laddermap 5.4, entretanto,
apresenta uma pequena diferença em relação à maneira como as relações diretas
e indiretas são tradicionalmente representadas nas células: à direita do ponto (.) é
mostrado o total de relações (diretas + indiretas) entre os dois elementos,
enquanto que à esquerda do ponto (.) é mostrado o número de relações diretas,
como exemplificado na Figura 4.
95
Código-resumo 06 - Limpa 07 – M&M43 Significa que entre os
01 – Aditivo 20.20 0.21 elementos 03 e 07
02 – Qualidade 9.11 1.18 existe um total de 10
03 – Pureza 8.8 2.10 Î relações, das quais 2
04 - Recomendação 3.4 9.16 são diretas. Logo, as
05 – Adulteração 3.4 1.8 outras 8 são indiretas.
43
Evitar problemas Mecânicos e Manutenção
44
A experiência foi feita observando-se as relações entre os elementos save time e
location do banco de dados Example, que vem junto com o arquivo do software.
Originalmente, a matriz de implicação Example mostra uma relação direta e duas
96
que, nessas circunstâncias, o Laddermap 5.4 conta a relação apenas como direta.
Mesmo quando a relação em questão aparece (durante a análise das ladders de
um mesmo entrevistado) como indireta com maior freqüência do que como
sendo direta, ela é computada pelo Laddermap 5.4 como relação direta. Não foi
encontrado respaldo na literatura para esse posicionamento, mas, levando-se em
conta tratar-se de um software desenvolvido pelo próprio Reynolds - um dos
principais expoentes da Laddering – e que tem sido adotado em pesquisas
mundo afora, optou-se, neste trabalho, por não adotar qualquer medida para lidar
com esse ponto ainda indefinido da técnica e do software. Desse modo, ao
inserir as ladders no Laddermap 5.4 da maneira como foram mencionadas pelos
entrevistados, sem nenhum tipo de análise sobre se deveriam ser direta ou
indireta, acredita-se ter reduzindo a possibilidade de viés.
indiretas (1.3) entre esses dois elementos. As Ladders que continham essas relações
foram identificadas e aquelas cujas relações eram indiretas foram transferidas para o
mesmo entrevistado (subject 10) que a menciona como direta. Estando as três ladders (a
que continha a relação direta e as duas que continham a relação indireta) como se
tivessem sido mencionadas por um único sujeito, a célula da matriz de implicação
mostrou apenas (1.1).
97
que emergem a partir dos dados da matriz de implicação (Reynolds & Gutman,
1988; Leão & Mello, 2001), representando, assim, uma opinião coletiva.
Segundo Reynolds & Gutman (1988), as relações observadas no MHV
podem ser de cinco tipos diferentes:
98
Não existe um único critério para a definição do ponto de corte. De
acordo com Gengler (1995), alguns autores sugerem como ponto de corte o
número que corresponda a 5% do número de indivíduos que compõem a
amostra. Segundo o mesmo autor, outros analistas sugerem que pelo menos 70%
dos relacionamentos no mapa devem estar representados. Para Reynolds &
Gutman (1988) a relação entre o número total de relações (diretas e indiretas) e o
número de células ativas (são consideradas ativas todas as células que
apresentem um número de relações diferentes de zero) na matriz de implicação
pode ser usada como um indicador da habilidade do mapa de expressar
relacionamentos agregados. Esse número, que representa o número médio de
relações por célula, também pode ser utilizado como ponto de corte.
Os mesmos autores afirmam que o ponto de corte ideal deve cobrir, pelo
menos, dois terços das relações apresentadas na matriz de implicação. Nesse
sentido, sugerem que as relações sejam mapeadas sob diferentes pontos de corte,
permitindo que o pesquisador avalie diferentes soluções e adote aquela que se
apresente como a mais estável e informativa. Por agilizar o processamento dos
dados, a utilização do software Laddermap foi de grande valia na execução desta
recomendação. Os Mapas Hierárquicos de Valores gerados pelo Laddermap,
entretanto, não vêm completamente prontos, exigindo que o usuário organize
espacialmente os elementos. Nesse quesito, Reynolds & Gutman (1988)
recomendam que se evite ao máximo o cruzamento de linhas entre cadeias, o
que aumenta sua coerência e facilita sua interpretação.
O Laddermap apresenta, ainda, em seus MHVs, três outras informações
relevantes para a análise e a compreensão dos resultados: (1) o número de vezes
que cada elemento foi citado pelo conjunto de entrevistados; (2) círculos de
diferentes diâmetros para representar a importância relativa de cada elemento e
(3) linhas (ligando os elementos) de diferentes espessuras para representar sua
força relativa. Essas informações são particularmente úteis na determinação das
99
cadeias dominantes do MHV e foram utilizadas para esse fim no trabalho de
Veludo-de-Oliveira & Ikeda (2006). Em estudos convencionais, como os de
Leão & Mello (2003) e Vilas Boas (2005), nos quais todo o processamento de
dados é realizado sem o auxílio de softwares, essa identificação pode ser feita
em duas etapas: primeiramente, as cadeias devem ser separadas de acordo com o
número de elementos que as constituíam, contabilizando o número de relações
diretas e indiretas de cada uma. Em seguida, divide-se o total de relações
(diretas e indiretas) dentro de cada grupo (cadeias com sete elementos, cadeias
com oito elementos, etc.) pela quantidade de cadeias desse grupo, fazendo uma
média de relações por cadeia para cada um dos grupos. De maneira semelhante
ao procedimento realizado para a elaboração do MHV, estabelece-se um ponto
de corte que a cadeia deve superar para ser considerada dominante.
100
Botschen et al. (1999) chamam a atenção para a complexidade da
análise de conteúdo da Laddering, que demanda grande volume de tempo do
pesquisador. A esse respeito, Gengler & Reynolds (1995), citados por Veludo-
de-Oliveira et al., (2006), comentam os dois principais obstáculos para a
proliferação da Laddering como uma ferramenta gerencial: primeiramente o
volume de trabalho tedioso que o analista precisa executar, o que torna qualquer
estudo custoso e, em segundo lugar, o fato de que muito dos que já conhecem a
técnica ainda têm dificuldades para relacionar os dados obtidos com implicações
gerenciais.
Outra limitação, apontada por Lastovicka (1995), reside no fato de que
as cadeias representadas no MHV podem não ter sido mencionadas por nenhum
dos entrevistados que proveram os dados. A princípio, isso não seria exatamente
uma limitação, uma vez que, conforme explicado por Reynolds & Gutman
(1988), não há necessidade de alguma escala individual conter a seqüência A-B-
C-D para que essa cadeia emerja da matriz. Entretanto, ao falar de pesquisadores
que se deparam com esse “problema”, percebe-se que tal peculiaridade pode
representar uma dificuldade em alguns estudos.
Lin (2002) aponta quatro limitações nos procedimentos de análise da
Laddering. Primeiramente, destaca o fato de que, na análise de conteúdo, a
seleção e a ligação entre os elementos ocorre num processo muito subjetivo por
parte do analista. Este pode não levar em consideração algumas variáveis,
resultando em análises equivocadas e, conseqüentemente, em estratégias
inapropriadas. Com relação à construção do MHV, observa que os pesquisadores
podem influenciar predefinindo o corte de alguns valores que poderiam aparecer
na representação. Outra limitação reside no fato de que o processo necessário de
simplificação das variáveis em códigos-resumo pode não refletir de forma
adequada os verdadeiros desejos do consumidor. Por fim, chama atenção para a
dificuldade em se classificar os elementos em atributos, conseqüências e valores,
101
especialmente quando a metodologia é aplicada na busca do entendimento de
produtos intangíveis.
As críticas e limitações apontadas pelos autores são pertinentes, porém,
intrínsecas à análise de conteúdo e à própria Laddering. Mesmo assim, no
intuito de evitar ao máximo a ocorrência de viés nos pontos mencionados, todas
as entrevistas deste estudo foram ouvidas à exaustão e os elementos comparados
não apenas entre si, mas, também, a elementos encontrados em outros estudos
que utilizaram Laddering, além de terem sido reclassificados sempre que uma
nova e relevante perspectiva surgia no decorrer das análises. Por fim, e seguindo
a recomendação de Veludo-de-Oliveira er al., (2006), ratifica-se aqui a opção
por utilizar o software Laddermap que, ao possibilitar diferentes simulações,
reduz a possibilidade de viés com relação à escolha do ponto de corte ideal.
102
6 RESULTADOS E DISCUSSÃO
103
de até 150 cilindradas (58,18%). As freqüências totais de todas as variáveis
podem ser observadas no Quadro 8.
104
Após a obtenção de dados sócio-demográficos dos respondentes, deu-se
início às entrevistas Laddering. Seguindo a recomendação de Wansink (2000),
os entrevistados foram primeiramente questionados sobre “quando foi que você
percebeu que existe gasolina aditivada?” ou “que motivos os levaram a adotá-
la?”, perguntas que podem ajudar a trazer o pensamento para o universo do
produto e, assim, criar um clima mais propício para a pesquisa.
45
Uma vez que as entrevistas foram gravadas em formato digital (mp3), o que facilita a
armazenagem e a lida do pesquisador com esse material, acreditou-se não haver
necessidade de transcrição integral das entrevistas. Em vez disso, optou-se por anotar o
tempo exato na entrevista gravada em que cada elemento foi mencionado pelo
entrevistado, facilitando a localização de qualquer assunto, toda vez que houvesse
necessidade de se retornar à entrevista para reavaliações.
105
explorando as idéias do entrevistado em busca de um valor. Uma vez encerrada
a ladder, seja com a plena obtenção de um valor, ou por dificuldades em se
evoluir na escala de abstração, retornava-se ao ponto anterior da entrevista onde
ocorrera a mudança de assunto. Nesses momentos das entrevistas, as anotações
feitas foram de grande utilidade para que o entrevistador retornasse rapidamente
aos diferentes assuntos já iniciados (mas ainda não devidamente explorados). Na
etapa de análise de conteúdo, essas anotações foram também utilizadas para
organizar as frases na seqüência. Um exemplo desse procedimento de
organização de frases na seqüência pode ser visto no Quadro 9. Entre parênteses
estão anotados os momentos exatos em que cada frase foi mencionada pelo
entrevistado na entrevista gravada. As frases precedidas de hífen (-) são
benefícios diferentes de um mesmo atributo (“Sinal que tem aditivo”), tendo
cada uma delas o seu próprio desdobramento.
106
Na segunda etapa da análise de conteúdo, quando os elementos são
identificados e codificados para posterior formação dos códigos-resumo, as
citações de diferentes entrevistados foram agrupadas de acordo com a
similaridade de idéias que apresentavam. Para facilitar a identificação e a
posterior construção das ladders, cada frase recebeu um código que informava o
número do entrevistado que a mencionou (à esquerda do ponto) e sua
localização na seqüência de frases do entrevistado (à direita do ponto), como
mostrado no Quadro 10.
46
Sem contar algumas citações que, de tão únicas, não puderam ser inseridas em
nenhum conjunto e, conseqüentemente, não aproveitadas na pesquisa.
107
terem sido encontradas, nas frases finais de ladders de diferentes entrevistados,
21 dos 36 valores que compõem a tipologia de Rokeach, destacados com um
asterisco (*) no Quadro 11.
108
reunia citações que expressavam a idéia de “bem-estar/estar de bem com...”, foi
necessário analisar o contexto em que as frases foram mencionadas durante a
entrevistas para redistribuí-las entre os conjuntos Tranqüilidade e Felicidade.
Tal medida encontra respaldo na observação de Bardin (1977), citado por Vilas
Boas (2005), de que o contexto em que frases são ditas também deve ser
considerado na análise de conteúdo e também na recomendação de Wansink
(2000), de que se perceba o tom de voz das pessoas ao responderem às questões.
Cabe aqui mencionar também que nem todos os conjuntos presentes na
solução final desta pesquisa foram definidos nesta etapa dos trabalhos. A baixa
associação observada entre alguns códigos-resumo durante a construção das
ladders (item 6.2.2 desta seção) e também após a elaboração dos primeiros
MHVs pelo Laddermap, motivou a realocação de frases e a reformulação de
conjuntos. Exemplos desses procedimentos podem ser vistos na descrição dos
elementos 04, 05, 07, 14, 20, 25 e 30 (item 6.2.1.1). No Quadro 12 são
apresentados os códigos-resumos relativos a cada um desses conjuntos,
posteriormente usados para a construção das ladders. A numeração dos códigos-
resumo obedece à ordem em que os itens aparecem na matriz de implicação
gerada pelo Laddermap 5.4.
109
QUADRO 12 Relação dos códigos-resumo formados a partir dos termos
mencionados durante as entrevistas com consumidores de gasolina aditivada do
Posto Mercolub/MG.
110
6.2.1.1 Conteúdo dos códigos-resumo
6.2.1.1.1 Atributos
01 – Aditivo. Substância química com propriedades detergente-
dispersantes acrescentada à gasolina, tranformando-a no produto aditivado.
Tecnicamente este é o único atributo (além do corante acrescentado por algumas
companhias distribuidoras) que diferencia a gasolina comum da gasolina
aditivada. Boa parte dos entrevistados que citaram esse atributos demonstrou ter
ciência deste fato. Apesar de não ser possível confirmar a presença do aditivo na
gasolina por meio dos nossos cinco sentidos, esse atributo pode ser classificado
como concreto, por se tratar de um componente que faz parte da composição
física do produto.
47
Exceto nos casos em que ocorre adulteração, não existe diferença de limpeza e pureza
entre a gasolina aditivada e a comum.
111
adotaram por terem sido assim orientados pelo mecânico ou outra pessoa de
confiança que entende do assunto. Pensava-se que essas diferentes fontes de
orientação pudessem se desdobrar em diferentes benefícios buscados, o que não
foi observado na etapa seguinte de formulação das ladders. Embora não esteja
presente no produto em si, a recomendação aqui será classificada como atributo
concreto, uma vez que não deriva de uma percepção do consumidor como ocorre
nos atributos abstratos.
48
Mesmo suspeitando que ao citarem limpeza, pureza e qualidade esses entrevistados
faziam referência ao problema da adulteração do combustível, o pesquisador optou por
não fazer perguntas que diretamente confirmariam/rejeitariam sua suspeita. Acredita-se
que, por se tratar de um assunto que todos conhecem mas sobre o qual poucos possuem
informações detalhadas, qualquer menção da palavra adulteração por parte do
pesquisador poderia induzir o entrevistado a mencionar atributos ou benefício de
maneira não espontânea. Algumas vezes a suspeita de que os atributos limpeza, pureza e
qualidade estavam relacionados à adulteração foi confirmada pelas próprias explicações
dadas pelo entrevistado no decorrer da entrevista.
112
uma imagem que o consumidor faz do produto do que uma característica em si,
este atributo foi classificado como sendo de natureza abstrata.
6.2.1.1.2 Benefícios
06 – Limpa/evita sujeira no sistema. Citados por aqueles entrevistados
que possuíam certo grau de conhecimento sobre o assunto, dois tipos de
benefícios funcionais relativos à parte mecânica do veículo compõem esse
código-resumo: (1) limpeza do sistema de alimentação (evita a formação de
crostas, limpa os bicos) e (2) lubrificação do sistema (lubrifica as peças, protege
as peças do motor, passa com mais facilidade, força menos o motor). Foi
pensada também a hipótese de incluir esses benefícios no código-resumo 10
(Funcionamento do motor), não levada adiante por acreditar-se ser necessário
dar voz a esse conjunto de consumidores mais bem informados sobre o produto.
Ao mesclar os dois conjuntos, essa visão mais detalhada dos processos
mecânicos seria suprimida. Assim, foram reunidas no código-resumo 10 -
Funcionamento do motor aquelas opiniões mais relacionadas à melhor
performance e ao funcionamento ideal/perfeito do mesmo.
113
08 - Dinheiro. Abrange não apenas o dinheiro em si mas também outros
termos relacionados à questão monetária como fazer economia, evitar despesa e
evitar prejuízo. Mesmo não sendo uma conseqüência direta do consumo do
produto, trata-se de um resultado tangível e, portanto, de um benefício
funcional.
114
12 – (Economia de ) tempo. Refere-se à idéia de não perder tempo, seja
no trânsito, com o veículo lento, falhando, seja parado na beira da estrada por
conta de um problema mecânico. A idéia oposta (de ganhar tempo chegando-se
mais rapidamente ao destino) também está incluída nesse código-resumo que
expressa um benefício funcional.
115
cadeia (antecede tranqüilidade), então, esse código-resumo poderia ser
classificado, no máximo, como valor instrumental. Mas, as idéias expressas nas
frases que o compõem estão menos relacionadas a modos de conduta (como são
descritos na MEC os valores instrumentais) do que à sensação de estar
precavido. Neste sentido, o presente código-resumo foi classificado como
benefício psicológico.
116
Realização Pessoal e, por isso, esses dois tipos de “o melhor” foram mantidos
como um só código-resumo, classificado como benefício psicológico, pelo seu
posicionamento nas ladders.
117
credibilidade e a confiança das pessoas. Pelo posicionamento nas ladders,
classifica-se como benefício psicológico.
118
27 – (Menor emissão de) fumaça. Uma vez que pertence a apenas uma
cadeia específica, este código-resumo reúne não apenas a idéia de redução na
emissão de poluentes como também todos os seus benefícios funcionais para o
meio ambiente: “redução do aquecimento global”, “redução do efeito estufa” e
“redução da poluição do ar que respiramos” foram as citações mais freqüêntes.
6.2.1.1.3 Valores
28 – Qualidade de vida. Como um estado final desejado, qualidade de
vida é caracterizado como valor terminal, possuindo, neste trabalho, dois eixos
principais: para alguns entrevistados, a busca por qualidade está relacionada à
maneira como se vive a vida, aproveitando seus melhores momentos. Outra
parcela de entrevistados usou a expressão “qualidade de vida” (e também a
palavra conforto) para expressar a vontade de alcançar (ou manter) um
padrão/nível de vida melhor.
119
31 – Sobrevivência. “Sobrevivência”, “sustento”, “manter a família" e
“ganhar o pão de cada dia” foram os principais termos utilizados pelos
entrevistados para expressar seu desejo de garantir a própria sobrevivência e o
sustento de suas famílias. Embora a princípio possa não parecer um estado final
desejado e, portanto, um valor terminal, é preciso levar em conta que ele reflete
a realidade de parcela considerável da amostra de consumidores, preocupados
com suas necessidades mais imediatas. Enquanto alguns buscam melhorar a
qualidade de vida (28), outros ainda se preocupam com garantir a vida. Nesse
sentido, o valor pode ser caracterizado como Terminal.
120
35 – Convivência harmoniosa. Reflete o desejo dos entrevistados de
manter um relacionamento agradável com as pessoas de convívio mais próximo,
evitando desavenças, brigas e desentendimentos. Apesar de aparecer como elo
final das cadeias no MHV, trata-se, na verdade, de um valor instrumental,
mostrando-se, durante as entrevistas, como caminho para se chegar a outros
valores, como a tranqüilidade, felicidade, amizade e respeito. As relações entre
convivência harmoniosa e cada um desses outros três valores terminais não
ocorreram em número suficiente (ponto de corte) para serem representadas no
MHV.
37 – (Fazer) sua parte e/ou dar o exemplo. São duas maneiras similares
de perceber o valor de sua atuação individual na busca por um objetivo coletivo
maior (futuro da humanidade), caracterizando-se, assim, como um valor
instrumental.
121
39 – Caráter. Idoneidade, caráter, honra, berço e integridade foram
termos utilizados por entrevistados para expressar sua forte convicção em seus
valores e princípios morais, caracterizando-se, assim, como um valor terminal.
122
Benefício C – (Evitar) Efeitos negativos dos descontrole financeiro49,
como ficar com o nome sujo na praça, não poder comprar a prazo, ter que se
privar de alguma coisa por ter estourado o orçamento, ter o constrangimento de
pedir dinheiro emprestado a amigos e parentes;
49
Até a penúltima versão deste trabalho este conjunto de citações compunha, juntamente
com o código-resumo 25 (Evitar sensações Negativas), um conjunto maior, denominado
Aborrecimento. Durante a análise dos resultados, entretanto, percebeu-se que a fusão
desses dois conteúdos havia sido a causa da representação no MHV de uma seqüência de
ligações não relevantes entre três elementos: Dinheiro Æ Aborrecimento Æ Autovalor.
Retornando-se às entrevistas verificou-se que a ligação entre Dinheiro e Aborrecimento
dava-se (em 5 das 7 relações) por conta da dimenção evitar Efeitos Negativos da
inadimplência, mas a ligação entre Aborrecimento e Autovalor referia-se à dimensão
sensações negativas do primeiro. Assim, o antigo código-resumo Aborrecimento foi
dividido em dois: (1) Evitar sensações negativas e (2) Efeitos negativos do descontole
financeiro.
123
cada código-resumo (Quadro 10). As citações foram assim substituídas pelo seu
código-resumo correspondente. Um exemplo desse procedimento pode ser visto
no Quadro 13.
124
desgaste natural e prolongando a vida útil do carro. Dessa forma haverá menos
necessidade de manutenção e, conseqüentemente, menos despesas”. Da mesma
forma, a citação “a satisfação, me sinto realizado” expressa idéias contidas em
outros dois códigos-resumo (19 e 32). Após esses ajustes, as ladders eram
representadas da seguinte forma para facilitar a próxima etapa:
/ 06 – 09 – 07 – 08
01
\ 23 – 08 – 20 – 19 – 32
50
Todas as ramificações percebidas eram anotadas pelo entrevistador durante a
condução das entrevistas, conforme explicado no item 5.4.1.2.
125
devido a limitações de tempo ou aos sinais de cansaço do entrevistado, nem
todas elas puderam ser exploradas51.
Apesar de ser um resultado normal das entrevistas de Laddering52, com
exceção de trabalho de Vilas Boas (2005), não foi encontrada no restante da
literatura pesquisada nenhuma indicação sobre como lidar com elas. Conforme
observa Löw (2004), a literatura sobre técnicas de análise das entrevistas de
Laddering é escassa e, mesmos dentre os que utilizam a técnica, poucos falam
sobre a análise dos dados. Nesse sentido, a busca por soluções para as lacunas
encontradas teve como referência os trabalhos em que dificuldades semelhantes
foram encontradas e as soluções para elas detalhadas. Vilas Boas (2005) baseou-
se nas demais ladders do entrevistado em questão para avaliar e estabelecer
possíveis ligações entre o elemento final de ladders incompletas e valores.
O mesmo procedimento foi adotado no presente trabalho com relação às
ladders incompletas consideradas relevantes para expressão geral do ponto de
vista do entrevistado. Apenas as que representavam seqüências distintas
(significativamente diferente do conjunto de ladders completas do entrevistado)
para se chegar a determinado elo foram completadas. Como exemplo desse
critério tem-se a ladder completa 02 – 06 – 10 – 07 – 08 – 31 e a ladder
incompleta 02 – 10 – 07 – 08, cuja diferença em relação à primeira consiste
apenas na ausência do elemento 06. Não trazendo nenhum acréscimo para a
compreensão do ponto de vista do entrevistado, esta última ladder não foi
completada. Já as ladders incompletas consideradas relevantes foram
completadas por meio do procedimento ilustrado na Figura 6.
51
A entrevista Laddering é, muitas vezes, longa e cansativa, tanto para o entrevistado
quanto para o entrevistador. Diante de alguns sinais de cansaço e impaciência do
entrevistado, e uma vez que já se tivesse obtido número satisfatório de ladders, as
entrevistas eram encerradas sem que todas as ramificações tivessem sido exploradas.
52
Conforme apontado por Hofstede et al. (1998, p. 39), as ladders não precisam sempre
terminar no nível de valor. Ratificando essa informação, Reynolds & Gutman (1988), ao
exemplificarem os procedimentos da Laddering, comentam que “nove ladders não
alcançaram o nível de valor”.
126
/ 06 – 09 – 07 – 08 / 06 – 09 – 07 \
01 Î 01 08 – 20 – 19 – 32
\ 23 – 08 – 20 – 19 – 32 \ 23 /
127
para complementação) referiam-se à mesma idéia. Além disso, e principalmente
no caso de ladders incompletas terminadas no elemento 08 (dinheiro),
ocorreram situações em que existiam duas ou mais opções de terminações que
poderiam ser utilizadas para a complementação. A opção de utilizar todas as
terminações disponíveis para uma ladder incompleta foi rejeitada, por entender-
se que tal medida aumentaria consideravelmente o número de ladders do
entrevistado, podendo causar distorções nos resultados finais. Assim, optou-se
por adotar apenas uma terminação para cada ladder incompleta, de acordo com
os critérios abaixo descritos:
128
QUADRO 14 Exemplo de utilização dos critérios na complementação das
ladders
Ladder nº 1 Æ 02 – 06 – 07 – 18 –
Ladder nº 2 Æ 02 – 06 – 07 – 12 – 18 – 31
Ladder nº 3 Æ 02 – 06 – 07 – 12 – B – 18 – 13 – 38 – 39
Ladder nº 4 Æ 02 – 06 – 07 – 12 – 13 – 17 – 32 – 33
Ladder nº 5 Æ 02 – 06 – 07 – 12 – 13 – 17 – D – 31
Ladder nº 6 Æ 02 – 06 – 07 – 12 – 13 – 25 – 15 – A –
Ladder nº 7 Æ 02 – 06 – 07 – 12 – 13 – 21 - E
Ladder nº 8 Æ 02 – 06 – 07 – 12 – 13 – 17 – B – 18 –
Ladder nº 9 Æ 02 – 06 – 09 – 15 – 16 –
Ladder nº 10 Æ 02 – 06 – 09 – 07 – 13 –
Ladder nº 11 Æ 02 – 09 – 08 – 13 –
Ladder nº 12Æ 02 – 09 – 08 – 17 – 32 – 33
129
Das 472 ladders obtidas nas 55 entrevistas realizadas, 118 não
terminavam no nível de valor. Destas, 64 puderam ser completadas mediante o
procedimento acima descrito e exemplificado. A princípio, todas as 472 ladders
foram individualmente inseridas no Software Laddermap 5.4, formando um
banco de dados. Entretanto, e por motivo apresentado na seção 6.4, optou-se por
não utilizar as 54 ladders incompletas nas próximas etapas da pesquisa. A matriz
de implicação e Mapa Hierárquico de Valores apresentados neste trabalho foram
elaborados, portanto, a partir de um banco de dados composto de 418 ladders
(354 naturalmente completas + 64 completadas) terminadas no nível de valor.
130
QUADRO 15 Matriz de implicação
6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22
1 20.20 0.21 0.24 3.15 5.11 3.14 0.9 0.6 0.11 4.10 0.12 0.9 0.8 0.12 0.7 0.5 0.8
2 9.11 1.18 0.19 3.15 4.11 3.11 0.9 0.11 0.6 1.9 0.10 3.8 0.12 0.9 0.5 1.11 0.6
3 8.8 2.10 0.12 1.8 7.8 3.10 0.7 0.6 0.5 2.5 0.6 1.4 0.6 0.5 0.5 0.7 0.2
4 3.4 9.16 1.14 5.9 3.6 2.3 0.5 0.3 0.4 0.2 0.7 3.5 0.8 0.3 0.4 1.6 0.3
5 3.4 1.8 0.7 2.5 1.2 0.1 0.3 0.1 0.3 1.1 0.3 0.1 0.3 0.1 0.3 0.2
6 14.32 0.28 21.22 10.11 4.8 0.12 0.12 0.14 3.8 0.12 0.11 0.10 1.13 0.9 0.8 0.8
7 36.36 1.1 15.15 3.10 1.16 1.1 2.13 1.10 1.14 0.6 0.13 0.8 2.2
8 7.8 19.20 1.8 3.5 1.6 3.7 12.14 1.6
9 28.28 7.30 2.2 1.1 0.8 1.10 1.16 0.9 4.12 1.9 1.9 0.10 1.8 11.14
10 9.18 0.19 6.8 10.12 0.9 0.6 0.6 12.12 1.8 1.3 0.9 1.8 0.3 0.6 1.3
11 2.2 0.7 1.1 8.8 1.6 0.3 0.1 4.9 2.3 2.6 6.7 0.4 0.3
12 2.3 13.14 0.5 8.10 0.4 7.11 5.8 1.5
13 0.2 1.2 1.2 4.5 1.2 0.1 8.8
14 2.2 0.2 0.1 3.3 0.2
15 4.6 0.5 1.1 1.1 3.3 5.6 0.6 0.4 5.9 1.4 1.6 1.2 0.1 1.4
16 0.1 0.1 2.6 8.8 1.2
17 1.1 1.2 0.2 1.1 0.1 9.10 3.3
18 2.2 4.4 1.1 3.4 1.1 2.2 1.1
19 0.1 2.2 0.1 1.3
20 7.7 0.1 0.3 2.2 1.1
21 0.1 1.1 0.3 2.3 1.1
22 12.12 0.2 0.6 0.1 1.4 0.2 2.4 0.3 0.1
23 18.18 0.3 0.6 0.2 0.2 0.5 0.4
24 2.3 0.5 2.2 2.3 7.8 0.3 0.4 0.1 1.3 0.1 0.3 0.2 0.2 0.2
25 1.1 3.3 1.1 0.1 1.2
26 1.1 0.1 1.1 1.1 1.1 1.1
27 0.1 0.1 0.1 1.1 2.2
28
29
30
31
32 Relações entre os atributos
33 1 2 3 4 5
34 1 1.1 1.1
35 2 5.5 5.5 1.1
36 3
37 4 1.1
38 5 2.2
39
40
“...continua...”
131
“QUADRO 15, Cont.”
23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40
1 1.9 3.4 0.6 0.5 2.6 0.15 0.19 0.12 0.11 0.8 0.11 0.12 0.8 0.5 0.10 0.6 0.3 0.5
2 2.8 2.4 0.4 2.7 0.3 0.7 0.14 0.5 0.11 0.9 0.6 0.5 0.7 0.7 0.2 0.5 0.6 0.1
3 2.5 7.7 0.4 0.4 3.7 0.5 0.11 0.5 0.8 0.4 0.3 0.4 0.3 0.4 0.3 0.2 0.5 0.2
4 1.1 0.1 0.5 4.5 0.7 0.8 0.4 0.6 0.4 0.7 0.4 1.6 0.7 0.1 0.3 0.2
5 0.1 0.1 0.1 0.5 0.4 0.2 0.3 0.2 0.2 0.1 0.1 0.3 0.1 0.0
6 1.7 1.1 0.5 0.5 1.5 0.17 0.16 0.13 0.16 0.11 0.13 0.10 0.11 0.8 0.7 0.6 0.7 0.6
7 0.6 6.6 0.20 14.20 0.12 0.20 0.12 1.13 0.7 1.11 0.6 0.3 0.7 0.7 0.1
8 3.6 5.23 1.2 1.15 12.20 0.8 2.12 2.11 1.7 0.4 1.3 0.3 0.5
9 0.7 0.2 0.18 2.13 1.11 0.13 0.9 0.14 0.11 0.10 0.6 0.6 0.7 0.8 0.1
10 8.10 1.7 1.7 7.7 0.10 1.18 0.11 0.7 0.4 0.5 0.6 0.6 0.6 0.3 0.1 0.2 0.4
11 4.4 3.3 4.4 0.1 0.9 15.18 0.6 0.3 0.4 0.2 0.1 0.4 1.5 0.1 0.3 0.3 2.5
12 0.1 0.1 0.11 1.3 2.9 0.9 0.7 0.6 1.6 0.3 0.1 1.8 0.6 0.1
13 1.2 1.1 0.3 0.2 1.3 2.6 0.6 1.4 0.1 0.3 1.4 1.2 4.7 4.9
14 2.3 4.9 1.1 7.11 4.5 1.3 1.4 4.4 1.1 0.1 0.2
15 1.3 3.3 2.4 0.4 9.15 0.5 0.4 0.5 0.1 0.7 0.2 0.1 0.3 0.2 0.1
16 7.12 1.2 4.9 0.3 0.6 0.2 0.1 13.13 0.1 0.5 0.2 0.1
17 2.2 1.1 2.3 0.1 3.4 0.2 8.13 2.6 0.4 0.1 1.4 4.4 1.1
18 2.6 2.2 0.3 7.8 4.7 1.4 1.2 0.2 2.2 0.1 0.2
19 1.2 4.5 0.1 10.11 1.5 0.1 1.1 3.3 0.1 5.5
20 5.11 1.4 0.3 1.3 0.2 4.5 1.2 0.1
21 1.1 0.1 0.1 0.2 4.9 0.1 1.1 0.1 0.1 5.7 1.1 1.1 3.4
22 1.3 0.6 0.2 0.5 0.3 0.8 0.2 0.1 0.2 0.2 2.2 0.2
23 0.1 1.1 2.2 0.9 0.3 0.7 0.4 0.1 0.4 0.2 0.2
24 2.2 0.1 0.3 0.1 0.2 0.7 0.1 0.3 0.3 0.1 0.1 0.2 0.1 0.2 0.3
25 0.2 2.3 0.1 1.1 0.1 0.2 5.7 1.1 1.2
26 0.2 11.12 5.6 0.1 1.1 0.1 0.0 0.1
27 1.1 0.4 0.1 2.8 0.1 0.1 8.8 1.2
28 1.1 2.2
29 0.1 2.2
30 7.7 1.1
31
32 4.4 1.1
33
34 1.1
35 2.2 3.3 0.1 4.5 1.2 5.5 0.1
36 2.2
37 0.1 1.2 1.1 12.12 2.2
38 2.2 2.2 0.1 1.1 1.2 7.7
39
40 1.1 1.1
132
6.4 O Mapa Hierárquico de Valores
O Mapa Hierárquico de Valores (MHV) é a representação gráfica das
principais relações representadas na matriz de implicação e o primeiro
procedimento para a sua elaboração com o Laddermap 5.4 consiste na definição
do ponto de corte. Seguindo a recomendação de Reynolds & Gutman (1988),
foram feitas simulações com diferentes pontos de corte para a escolha da melhor
solução. Uma inesperada limitação do software Laddermap 5.4, entretanto,
restringiu o número de MHVs disponíveis para comparação. Por motivo
desconhecido, o software não apresentou os resultados das simulações em que
eram adotados pontos de corte mais baixos53. As simulações em que eram
adotados pontos de corte mais elevados, por outro lado, também não se
mostraram satisfatórias54, além de, muitas vezes, não atenderem ao critério
mínimo de representação das relações (dois terços ou 66%).
Na hipótese de que o software pudesse estar sobrecarregado, as 54
ladders incompletas foram eliminadas do banco de dados e novas simulações
foram realizadas. O critério para a eliminação dessas ladders consistiu
53
Para contornar tal limitanção, tentou-se elaborar, por meio do procedimento manual,
os MHVs com pontos de corte que não eram apresentados pelo software. No entanto, o
grande número de inter-relações entre os elementos mencionadas pelos respondentes
tornou essa tarefa demasiadamente complexa. A título de exemplo, tome-se a primeira
cadeia contruída a partir da primeira linha da matriz de implicação (1 – 6 – 7 – 8 – 13 –
21 – 31) com um ponto de corte de 6. Após a identificação dessa primeira cadeia
central, deve-se voltar à primeira linha da matriz de implicação e verificar se existem
outros elementos com número de relações suficientes (6) com o atributo 01 que não
tenham sido incluídos na ladder principal (Reynolds & Gutman, 1988). Percebe-se,
contudo, que, com excessão dos elementos 21, 24 e 26, todos os demais benefícios na
matriz de implicação possuem 6 relações com o atributo 01. Mesmo diante de tamanha
complexidade, tentou-se levar adiante a elaboração manual do MHV com ponto de corte
6, mas, logo percebeu-se que seu provável formato seria diferente do formato dos demais
MHVs obtidos com o Laddermap. Por esse motivo, optou-se por não utilizar o
procedimento manual.
54
Além de reduzirem consideravelmente o número de elementos presentes nos MHVs,
algumas cadeias ficavam desfiguradas (atributo ligado diretamente a um valor) e
incompletas (benefícios que não levavam a nenhum valor), não se mostrando, assim,
boas representações da visão dos entrevistados.
133
justamente no fato de representarem opiniões que não foram relacionadas a
nenhum valor (seja instrumental ou terminal). Tal medida amenizou o
problema55, tendo sido escolhida a solução com ponto de corte sete (7), por ter
esta se mostrado a mais estável e informativa. Ela abrange 67% do total de
relações, respeitando, portanto, o critério mínimo de dois terços das relações.
Seguindo a recomendação de Reynolds & Gutman (1988), buscou-se organizar
espacialmente os elementos, de modo a evitar ao máximo o cruzamento de
linhas entre as cadeias do MHV, facilitando sua interpretação. O Mapa
Hierárquico de Valores citado é mostrado na Figura 7.
55
Ainda assim não se conseguiu que o software apresentasse as simulações que
abrangessem mais que 70% das relações.
134
FIGURA 7 Mapa Hierárquico de Valores dos consumidores de gasolina
aditivada elaborado a partir da solução apresentada pelo Laddermap 5.4.
Fonte: Dados da Pesquisa.
135
Na Figura 7, as cores e o diâmetro dos círculos que representam os
elementos, e também a espessura das linhas que os conectam, mantêm as
proporções exibidas pela solução apresentada pelo Laddermap 5.4. Na parte
inferior dos círculos pode ser visto o número de entrevistados que citaram o
elemento em questão. Com o objetivo de descongestionar o MHV, duas ligações
(entre os elementos 11 – 08 e 08 – 19) foram retiradas por não expressarem
idéias claras. O Elemento 40 (Prazer) aparece ligado ao elemento 11 por uma
linha tracejada, indicando que as relações entre esses dois elementos não
alcançaram o ponto de corte. A outra linha tracejada encontrada no MHV (entre
os elementos 06 e 09) também foi inserida pelo autor da pesquisa, que julgou ser
ela relevante para uma melhor representação da opinião dos consumidores
entrevistados. Mesmo possuindo 21 relações diretas entre si (conforme pode ser
observado na matriz de implicação, no Quadro 15), esses dois elementos foram
posicionados no MHV elaborado pelo Laddermap 5.4 como não adjacentes (N-
D). A ligação entre esses dois elementos estava intermediada pelo elemento 10
(Bom funcionamento do motor), formando a seqüência 06 – 10 – 09.
Uma possível explicação para esse mapeamento reside na maneira como
o software está programado. Ao explicarem os procedimentos para a construção
manual do MHV, Reynolds & Gutman (1988) afirmam que certo grau de
simplificação pode ser obtido compactand-se elementos consistentes. Usando
como exemplo uma pesquisa com consumidores de vinho espumante, os autores
explicam tal procedimento:
136
interpretação, é mapear 1 – 10 – 12, na qual ambas estão inseridas”
Reynolds & Gutman (1988, p. 22).
56
“Evitando-se o acúmulo de sujeira, o motor funciona melhor e, assim, terá maior
conservação e vida útil”.
57
“Evitando-se o acúmulo de sujeira, reduz-se a corrosão e o desgaste das peças,
aumentando a conservação e a vida útil do motor e do veículo”.
137
importantes idéias do conjunto de consumidores entrevistados. Assim,
considerando a relevância da relação direta entre os elementos 06 e 09, e
levando em conta que sua representação gráfica não contraria a metodologia
Laddering, optou-se por inseri-la no MHV. Uma vez inserida a linha entre os
elementos 06 e 09, foi retirada do MHV a ligação entre os elementos 10 e 9
(anteriormente o elemento 10 era o elo entre 06 e 09). Mesmo tendo relações
suficientes (6.8) e estando representada na solução gerada pelo Laddermap 5.4,
tal ligação não mostrou-se como fundamental para a compreensão do
comportamento dos consumidores pesquisados, tendo sido retirada do MHV
para descongestioná-lo58.
O MHV mostra como estão inter-relacionados os 40 diferentes
elementos, dos quais cinco são atributos, 22 benefícios (ou conseqüências
desejáveis) e 13 são valores pessoais. Para uma melhor interpretação das
informações contidas no MHV, o número de relações que partem e que chegam
a cada um desses elementos é mostrado no Quadro 16.
58
Com a ligação entre 06 e 09 acrescentada, o número de cadeias representadas no
MHV saltou de 212 para 276, o que representou um aumento de quase 25%. Com a
retirada da ligação entre 10 e 09, o número de cadeias no MHV manteve-se em 212.
138
QUADRO 16 Número de relações que partem e que chegam aos elementos do
MHV de acordo com a matriz de implicação.
139
Ratificando o diâmetro dos círculos em que são representados no MHV
e acompanhando o número de entrevistados que citaram o elemento, as relações
mostradas no Quadro 16 permitem apontar os atributos 01 (Aditivo) e 02
(Qualidade) como os principais. Percebe-se, pelo Quadro 16, que a diferença de
importância entre esses atributos reside basicamente no número de relações
indiretas que deles partem. Essa última observação sugere que o atributo 01
(Aditivo) faz parte de um maior número de cadeias longas (que possuem mais
elos). Em seguida, e também bastante semelhantes entre si em matéria de
número de relações diretas e número de entrevistados que os mencionaram,
aparecem os atributos 03 (Pureza) e 04 (Recomendação). Por fim, o atributo 05
(Adulteração) aparece, de longe, como o que menos se destacou.
No que diz respeito aos benefícios, os elementos 06 (Limpa / evita
sujeira no sistema), 07 (Evita problemas mecânicos e manutenção) 08
(Dinheiro) e 09 (Conservação) destacam-se dos demais pelo elevado número de
relações (desses, apenas o elemento 09 não possui mais que 400 relações). Estes
quatro elementos podem ser considerados o principal conjunto de benefícios
funcionais para a amostra de consumidores pesquisada, estando presentes na
maior parte das cadeias dominantes representadas no MHV (vide Quadro 18).
Os elementos 10 (Funcionamento do motor), 11 (Desempenho do veículo) e 12
(Economia de tempo) vêm logo depois no número total de relações, formando
um segundo conjunto de benefícios funcionais. Apesar de não estar presente nas
cadeias dominantes, observa-se que, a partir dessa seqüência de elementos
funcionais, formam-se cadeias que, mesmo não passando pelo elemento central
do MHV (08 – Dinheiro), chegam a 10 dos 13 valores apresentados. Dentre os
benefícios psicológicos, o elemento 15 (Evitar o estresse) destaca-se como o
mais citado pelos consumidores e o que possui maior número total de relações
(216), seguido, neste quesito, pelos elementos 14 (Segurança financeira), 18
140
(Desempenho no trabalho) e 13 (Cumprir os compromissos) com 197, 193 e 190
relações totais, respectivamente.
Por fim, quatro valores podem ser apontados como principais: 28
(Qualidade de vida), que possui o maior número total de relações (233); o valor
29 (Segurança), citado pelo maior número de entrevistados (38); 30
(Tranqüilidade), com 191 relações e 31 (Sobrevivência), com 180. Com relação
aos valores, estes podem ser agrupados em conjuntos de níveis mais elevados,
denominados domínios motivacionais (Schwartz, 1994). Levando em conta que
tal agrupamento baseia-se nas necessidades que motivam os indivíduos a
buscarem seus interesses, os 13 valores mencionados pela amostra de gasolina
aditivada presentes no MHV foram posicionados na estrutura dos domínios
motivacionais de Schwartz (1994) conforme mostrado na Figura 8.
141
Observa-se, em primeiro lugar, que o valor 34 (Futuro dos filhos e da
Hhmanidade) está presente tanto no domínio do Universalismo quanto no da
Segurança. Isso se deve às duas diferentes idéias expressas por meio deste
elemento no MHV. Quando se trata da cadeia em que é precedido do elemento
37 (Fazer sua parte), o valor 34 expressa a preocupação dos consumidores com
o futuro da humanidade (dentre os quais encontram-se seus descendentes) diante
das ameaças representadas pela degradação ambiental e pelo aquecimento
global. Mas, quando se trata da cadeia em que é precedido do benefício
funcional 08 (Dinheiro), a preocupação é apenas com o futuro dos filhos,
especificamente no que diz respeito à saúde, à educação e à sua inserção no
mercado de trabalho. Nesse contexto, o valor 34 (Futuro dos Filhos) denota uma
idéia de sobrevivência, podendo ser, portanto, também posicionado dentro do
domínio motivacional Segurança.
Percebe-se, pela Figura 8, que, com exceção do Autodirecionamento,
todos os domínios motivacionais estão presentes no comportamento de compra
da amostra de consumidores de gasolina aditivada pesquisada. Por refletirem a
busca pelo prazer, gratificação pessoal, variedade, novidade e emoção, os
valores 28 (Qualidade de vida) e 40 (Prazer) encontram-se entre os domínio
Hedonismo e Estimulação e, em um nível mais amplo, à dimensão Abertura à
mudança. Por possuir parcela de gratificação pessoal e, por ser para muitos o
objetivo maior da vida, o valor 33 (Felicidade) pode ser posicionado entre os
domínios Hedonismo e Realização. Composto por citações que expressam o
desejo de “sentir-se valorizado” por si próprio (estima) e pelas pessoas
(reconhecimento), acredita-se que a posição mais adequada para o valor 36
(Autovalor) seja entre os domínios Realização e Poder. Junto com o valor 32
(Realização), que está inserido no domínio motivacional de mesmo nome, os
valores 33 (Felicidade) e 36 (Autovalor) traduzem a busca dos consumidores
entrevistados por objetivos individuais, representados na dimensão da
142
Autopromoção. Do outro lado da estrutura circular foram posicionados os
valores 34 (Futuro dos filhos e da humanidade) e 37 (Fazer sua parte/dar o
exemplo), que transmitem a busca por proteção e bem-estar de todas as pessoas e
da natureza. Esses dois valores possuem parcelas de Humanismo e
Benevolência, que traduzem a busca por benefícios coletivos que caracteriza a
dimensão Autotranscendência.
Os seis valores restantes foram posicionados nos domínios
Conformidade, Tradição e Segurança. Segundo Schwartz (1994), no domínio da
Conformidade encontram-se os valores que visam a repressão ou o comedimento
de ações, de inclinações e de impulsos que possam provocar distúrbio ou ofensa
aos outros indivíduos. Por esse motivo foram aqui posicionados os valores 38
(Respeito), 35 (Convivência harmoniosa) e 39 (Caráter). Uma vez que reflete,
em certo grau, a aceitação e o compromisso com aspectos da cultura59, o
elemento 39 (Caráter) também apresenta características do domínio Tradição, o
que justifica seu posicionamento entre esses dois domínios. Da mesma forma, o
valor 35 (Convivência harmoniosa) também é posicionado dentro do domínio
Segurança, pois representa o objetivo de estabilidade social dos relacionamentos
do grupo. Por fim, os valores 29 (Segurança), 30 (Tranqüilidade), 31
(Sobrevivência) e 34 (Futuro dos filhos) (este último por motivo anteriormente
explicado) possuem características do domínio Segurança, tendo sido nele
posicionados.
O que chama atenção na Figura 8, no entanto, é a concentração de
metade dos valores na dimensão Conservação. De acordo com Schwartz (1994),
a motivação dominante nesta dimensão é a busca por estabilidade social e pela
preservação das tradições. A freqüência com que conseqüências indesejáveis
foram citadas durante as entrevistas pode ser um reflexo dessas motivações.
59
Principalmente no caso dos entrevistados que utilizaram o termo “berço”, numa
referênca à família e aos antepassados.
143
Sempre precedidas dos termos evitar e não, as conseqüências indesejáveis
expressavam uma preocupação com não perder o que já se tem ou não obter algo
que não se quer. Essa preocupação pode ser percebida no MHV, principalmente
nos elementos 06 (Evitar a sujeira), 07 (Evitar mecânica e manutenção), 15
(Não Falhar), 16 (Evitar o estresse) e 25 (Evitar sensações negativas). Muitas
citações precedidas de não ou evitar também estão presentes nos elementos 27
(Menor emissão de fumaça – “Evitar poluir o ar”), 13 (Honrar os compromissos
– “não deixar de pagar o que deve”). Além disso, é possível observar que, com
exceção do elemento 25, todos os outros acima citados precedem (no MHV)
pelo menos um dos seis valores posicionados na dimensão Conformidade da
estrutura circular dos domínios motivacionais de Schwartz (1994). Essas
constatações sugerem que, pelo menos para a amostra de consumidores
pesquisada, a opção por gasolina aditivada é muitas vezes motivada não pelo
desejo de se alcançar/obter algo, mas pela preocupação em não perder o que já
se tem, ou não obter o que não se quer. Em outras palavras, muitos dos
consumidores optam por gasolina aditivada não necessariamente em busca dos
benefícios por ela oferecidos, mas para evitarem as conseqüências indesejáveis
da utilização da outra opção disponível60 – a gasolina comum.
Embora não seja o produto alvo deste estudo, as conseqüências
indesejadas da gasolina comum também podem representar uma oportunidade
para as companhias distribuidoras. Se parcela dos consumidores deixa de
escolher a gasolina comum por causa das conseqüências indesejáveis do seu uso,
pode-se tentar atrair parte desses consumidores com uma gasolina percebida
como intermediária: uma gasolina comum (distinta e mais barata que a gasolina
aditivada), porém menos nociva que a gasolina comum tradicional.
60
No caso dos proprietários de veículos flex há também a possibilidade de optar pelo
álcool que, em termos de formação e depósitos no sistema, apresenta-se como um
produto intermediário entre a gasolina comum (maior formação e depósitos) e a gasolina
aditivada (ausência de depósitos).
144
Caso esse nicho de mercado realmente exista, a Texaco pode ser a
primeira a ocupá-lo. Desde março de 2007, a companhia anuncia que sua
gasolina possui Techron, um componente exclusivo. Embora os benefícios
anunciados61 do Techron sejam basicamente os mesmos provenientes do aditivo
da gasolina aditivada62, chama-se a atenção, aqui, para o fato de o Techron
também ser adicionado à gasolina comum comercializada pela companhia.
Assim, a Texaco transmite ao mercado a seguinte mensagem: “Por possuir
Techron, a gasolina comum da Texaco é melhor do que a gasolina comum das
outras companhias, embora seus preços sejam equivalentes”. Se tiver sucesso
nessa estratégia de diferenciação, a Texaco pode ocupar esse espaço
intermediário, aumentando sua vendas de gasolina comum (chamada de Especial
C com Techron) não pela migração de seus próprios consumidores de gasolina
aditivada tradicional63, mas, principalmente, pela atração de consumidores de
gasolina comum das outras companhias distribuidoras.
61
A empresa esclarece que o Techron limpa e evita a formação de depósitos ao longo do
sistema de admissão e na câmara de combustão. Com isso obtém-se máxima
performance, resgate do desempenho perdido e recuperação do consumo por litro
original do veículo. Fonte: <http://www.texaco.com.br/produtos_servicos/
combustiveis/techron/techron.shtml>. Acesso em: 20 ago.2007.
62
O que por si só já sugere que Techron é o nome do aditivo da Texaco, mas isso
também pode ser confirmado nas campanhas publicitárias da companhia: “Techron é
uma marca comercial registrada de aditivos para combustíveis licenciada para Chevron
Brasil LTDA”. Fonte: ISTOÉ, v. 30, n. 1971, p. 70-71, ago. 2007.
63
O que caracterizaria o canibalismo entre produtos. De acordo com Oliveira & Mattar
(2000), esse fenômeno ocorre quando o lançamento de um novo produto por uma
empresa reduz os resultados obtidos pela mesma empresa com outro produto.
145
cada um dos valores mencionados pelos consumidores. O Quadro 17 foi
construído a partir da matriz de implicação para auxiliar nessa análise.
146
forte relação entre o atributo 02 (Qualidade) e a busca de objetivos individuais,
que caracterizam a dimensão da Autopromoção.
A parte inferior do Quadro 17 mostra as mesmas relações indiretas entre
os atributos e valores (da parte superior do Quadro), só que em termos
precentuais. Dessa forma, é possível perceber quais são os valores que mais
freqüentemente encerram as ladders iniciadas por cada um dos cinco atributos.
Tendo sido o valor citado por maior número de entrevistados (38 no total), o
elemento 29 (Segurança) tende, naturalmente, a ter um número maior de
relações com os atributos do que os demais valores, o que, de fato, aconteceu no
caso de quatro dos cinco atributos (a exceção foi o atributo 05, que possui um
percentual maior de relações com o valor 28 do que com o valor 29). Destaca-se,
portanto, o fato de o valor 28 (Qualidade de vida) ser o elo final mais comum
(21% das vezes) das ladders iniciadas com o atributo 05 (Reduzidas chances de
adulteração), constatando-se, assim, uma forte associação entre esses dois
elementos. Ainda com base na parte inferior do Quadro 17, é possível identificar
uma significante relação entre o atributo 04 (Recomendação) e o valor 36
(Autovalor). Os atributos 02 (Qualidade) e 04 (Recomendação) são os que
possuem maior número de relação com o valor 36, ambos com sete relações.
Mas, comparando-se estas sete relações que cada um desses atributos possui
com o valor 36 (Autovalor), verifica-se que no caso do atributo 04, essa relação
representa uma parcela maior (12%, na parte inferior do quadro) do conjunto
total de relações com valores desse atributo.
147
de cadeias, é importante identificar quais delas caracterizam-se como as mais
representativas das orientações das percepções da amostra de consumidores
entrevistada.
Segundo Aurifeille & Valette-Florence (1995), essa identificação é
normalmente feita tanto de maneira intuitiva (levando-se em conta o número de
relações diretas e indiretas entre os elementos da cadeia) quanto
matematicamente (somando todas essas relações). No MHV gerado pelo
Laddermap 5.4, o tamanho dos círculos que identificam cada elemento, o
número de entrevistados que os citaram e a espessura das linhas que ligam os
elementos dão indícios de quais sejam as cadeias dominantes, mas não são, por
si só, capazes de determiná-las. Por outro lado, conforme ressaltado por Leão &
Mello (2002), a avaliação das cadeias dominantes pela simples soma do número
de relações que apresentam é insatisfatória, já que as cadeias com maior número
de elementos naturalmente terão um maior número de relações. A solução
adotada por esses autores foi a de separar as cadeias pelo número de elementos e
considerar como dominante aquelas que apresentarem uma média de relações
por cadeia superior ao ponto de corte. Este procedimento, entretanto, costuma
apontar um número relativamente alto de cadeias dominantes, como pode ser
observado nos trabalhos de Leão & Mello (2002) (nos quais 35% das cadeias
representadas no MHV foram consideradas dominantes) e no de Vilas Boas
(2005) (em que esse percentual foi de quase 50%).
Na tentativa de contornar tais limitações, optou-se, na presente pesquisa,
pela adoção de um critério diferente do utilizado pelos autores acima
mencionados: o número médio de relações por elemento da cadeia. Este
número foi obtido dividindo-se o número total de relações contidas na cadeia
(diretas e indiretas entre todos os elementos) pela quantidade de elementos
presentes em cada cadeia. As cadeias com os 21 maiores quocientes
(aproximadamente 10% do total de cadeias) são mostradas no Quadro 18.
148
QUADRO 18 As 21 cadeias dominantes do MVH.
149
6.7 Segmentação dos consumidores de gasolina aditivada com base nos
benefícios e valores buscados
A partir das informações fornecidas pela configuração dos 40 elementos
no MHV, é possível perceber diferentes orientações de percepções dos
consumidores com relação à gasolina aditivada, o que possibilita o agrupamento
desses consumidores em segmentos distintos. Essa distinção levou em conta,
principalmente, as ligações entre benefícios e valores representadas no MHV,
embora as relações mostradas na matriz de implicação também tenham sido
utilizadas para complementação, em alguns casos. As cadeias do MHV que
caracterizam cada um desses grupos e suas orientações de percepções serão
apresentadas a seguir. Deve-se levar em conta que um mesmo consumidor pode
fazer parte de mais de um grupo.
150
desfavorável, verificou-se que esta seqüência de idéias (ter dinheiro para
sobreviver) foi mencionada por indivíduos de todas as faixas de renda,
impossibilitando, assim, qualquer conclusão nesse sentido.
Muitos dos consumidores desse grupo que são pais64 revelaram também
uma preocupação com poderem prover saúde e educação de qualidade, para que
seus filhos tenham um futuro promissor. Essa orientação está representada no
MHV pela ligação65 entre os elementos 08 (Dinheiro) e 34 (Futuro dos Filhos).
Por fim, numa perspectiva mais preventiva, um terceiro conjunto de
consumidores que compõem esse grupo busca economizar para poder investir
em bens ou fazer uma poupança. Essa reserva financeira faz com que se sintam
mais tranqüilos em relação aos imprevistos da vida. É importante observar que,
embora esteja posicionado no MHV como valor instrumental, a Tranqüilidade
(30) foi o elemento final da maioria das ladders em que era precedida do
elemento 14 (Segurança financeira). Assim, a ligação entre 30 (Tranqüilidade) e
28 (Qualidade de vida) não deve ser levada em conta na leitura de cadeias (do
MHV) que terminam com a seqüência de elementos 08 – 14 – 30 (Dinheiro –
Segurança financeira – Tranqüilidade). As relações nas cadeias do MHV que
expressam a visão desses consumidores são mostradas em destaque na Figura 9.
64
Embora óbvia, esta é uma das duas únicas associações encontradas entre
características sócio-demográficas e um dos 40 elementos.
65
Observa-se que essa ligação é do tipo A-I, já que existe um maior número de ligações
indiretas do que diretas entre esses dois elementos.
151
FIGURA 9 Relações nas cadeias do MHV que caracterizam o grupo dos
consumidores preocupados com o futuro.
Fonte: Dados da pesquisa
152
Grupo 2 – Dinheiro pra ser feliz e viver bem. Esses consumidores
também optam pela gasolina aditivada visando economizar dinheiro (08) pela
redução no consumo de combustível (23), a diminuição das despesas com
manutenção (07) e pela valorização do veículo na revenda (22). Mas, seus
motivos para tal comportamento são diferentes dos do grupo anterior. Aqui eles
buscam os valores hedônicos da Felicidade (33) e melhor Qualidade de vida
(28). No que diz respeito aos elementos 08 (Dinheiro) e 33 (Felicidade), apesar
de estarem posicionados de maneira adjacente no MHV, percebe-se, pela matriz
de implicação, que a maior parte das relação entre eles é indireta66. Assim, a
relação entre os elementos 08 (Dinheiro) e 33 (Felicidade), evidenciada no
MHV não expressa uma idéia clara, a não ser a de que, para esses consumidores,
o dinheiro não é um objetivo final em si, mas é essencial para que eles alcancem
o que consideram ser felicidade. Tal idéia é perfeitamente expressa na fala de
um dos entrevistados: “dinheiro não traz felicidade, mas não dá pra ser feliz
sem dinheiro”. Cabe observar, nesse momento, a ausência de relações entre os
elementos 23 (Menor consumo de combustível) e 33 (Felicidade) na matriz de
implicação. Apesar de não ter sido mencionada por nenhum dos respondentes, a
representação no MHV da ligação entre os elementos 23 (Menor consumo de
combustível), 08 (Dinheiro) e 33 (Felicidade) é coerente com a metodologia
adotada, já que esta prevê que cadeias surjam da matriz de implicação, mesmo
que nenhuma ladder individual contenha tal seqüência (Reynolds & Gutman,
1988).
A relação entre dinheiro (08) e qualidade de vida (28), por sua vez,
expressa uma mensagem mais clara. Cinco entrevistados (de acordo com a
matriz de implicação) estabeleceram uma relação direta entre os dois elementos,
66
As 10 relações indiretas (mostradas na matriz de implicação) são intermediadas por
um ou mais elementos, dentre os quais encontram-se os valores 35 (Convivência
harmoniosa), 36 (Autovalor), D (Benevolência), 30 (Tranqüilidade) e E (Amizade), e os
benefícios 18 (Desempenho no trabalho), 14 (Segurança financeira) e 20 (Lazer).
153
referindo-se à idéia de que o dinheiro (08) possibilita a ascensão para um nível
de vida mais elevado, de maior conforto (28 – Qualidade de vida). Quando
intermediada pelos elementos 20, 16 e 30, a visão desses consumidores é a de
que o dinheiro possibilita a diversão, a dedicação aos hobbies e diversas outras
opções de lazer (20), individual ou coletivo, essenciais para diminuir ou eliminar
o estresse do dia-a-dia, citado como obstáculo para os que querem viver de
maneira mais tranqüila e melhor67. Na Figura 10 são mostras em destaque, as
relações nas cadeias do MHV que expressam o ponto de vista desses
consumidores.
67
Apesar de, no MHV, a ligação entre os elementos 16 (Evitar o estress) e 28
(Qualidade de vida) ser intermediada pelo elemento 30 (Tranqüilidade), a matriz de
implicação apresenta um número significativo (7) de relações diretas entre esses dois
elementos, permitindo também a interpretação de que “sem estresse vive-se melhor”.
154
FIGURA 10 Relações nas cadeias do MHV que caracterizam o grupo dos
consumidores que usam o dinheiro para serem felizes e viverem bem.
Fonte: Dados da pesquisa.
155
Grupo 3 – O terceiro grupo de consumidores é caracterizado pelo valor
terminal 29 (Segurança). Este valor, conforme explicado no item 6.2.1.1.3,
expressa o desejo dos consumidores de se verem livres de duas situações que
representam ameaça ou perigo para eles e suas famílias: acidentes de trânsito e
assaltos. Para esses consumidores, um veículo mal conservado tem maiores
chances de apresentar problemas mecânicos (07) durante uma viagem, o que,
muitas vezes, pode obrigá-los a ficar com seu veículo parado em locais
desconhecidos e ou desertos da cidade ou na estrada. Nessas circunstâncias, a
obtenção de socorro é dificultada e o motorista sente que ele e sua família estão
sujeitos ao ataque de bandidos e outros riscos. Em outra perspectiva, os mesmos
problemas mecânicos (07) podem comprometer a dirigibilidade em momentos
críticos de uma viagem (como durante as ultrapassagens), o que pode resultar
em uma colisão potencialmente fatal.
Conforme representado no MHV, a segurança (29) no trânsito e nas
viagens também pode ser obtida por meio dos elementos 26 (Confiança no
veículo), 11 (Desempenho) e 15 (Evitar que o veículo falhe). Segundo alguns
consumidores, quando eles sentem confiança no veículo que dirigem (26), é
menos provável que venham a cometer erros ao volante e, por outro lado,
maiores as chances de realizarem ultrapassagens seguras. Para outros, o
elemento 11 (Desempenho) é o fator determinante para a segurança nas
ultrapassagens, uma vez que tal situação de trânsito requer força, arrancada,
respostas precisas e velocidade para que seja bem executada. O elemento 15
(Evitar que o veículo falhe), por sua vez, foi relacionado pelos consumidores
tando às ultrapassagens quanto a outra situação do trânsito (urbano) que
representa riscos à segurança: cruzamento de vias.
Para esses consumidores, é desejável que o motor esteja com seu
funcionamento ideal para que o veículo não falhe, engasgue ou apague durante
travessias e cruzamento de vias, momento de tensão para o motorista em que ele
156
espera que o veículo responda de maneira precisa aos seus comandos para não
provocar ou se envolver em acidentes. Pelas características acima mencionadas,
este grupo foi denominado Segurança no trânsito, estando as relações que
expressam essas percepções destacadas no MHV da Figura 11.
157
FIGURA 11 Relações nas cadeias do MHV que caracterizam o grupo dos
consumidores que buscam segurança no trânsito.
Fonte: Dados da pesquisa
158
4 – Tomando como referência o elemento 16 (Evitar o estresse) um
quarto grupo de consumidores pode ser identificado. Esses consumidores
buscam evitar eventos e circunstâncias do cotidiano que os deixam estressados,
com raiva ou impacientes. O veículo pode ser fonte direta de estresse,
especialmente quando fica falhando (elemento 15), mas também quando não
apresenta um (11) desempenho satisfatório (4.9 relações de acordo com a matriz
de implicação), principalmente no que diz respeito às vezes em que o veículo
não responde com precisão aos comandos68. Cabe ressaltar também que, mesmo
não tendo sido diretamente ligado ao elemento 16 (Evitar o estresse) no MHV,
o elemento 12 (Economia de tempo) é, dentre todos, o que apresenta o maior
número de relações diretas com aquele.
Na vida contemporânea, caracterizada pela dinamicidade e o acúmulo de
tarefas, a perda de tempo compromete a agenda do dia e desperta a ira dos
entrevistados. Tanto a (12) perda de tempo (7.11 relações), quanto o (16)
estresse (8.8 Relações) por ela provocado prejudicam o bom (18) desempenho
no trabalho, cuja importância é determinada pelos valores (31) Sobrevivência e
(32) Realização. Além do desempenho profissional, o estresse também interfere
negativamente nos relacionamentos pessoais dos entrevistados, levando-os a
tratarem os outros de maneira injusta, provocando brigas desnecessárias com
colegas de trabalho e com as pessoas da família, com quem têm maior vínculo
afetivo. A ausência de conflitos e desavenças é mencionada como fundamental
para o (35) convívio harmonioso entre as pessoas, necessária para o alcance de
68
Respostas precisas aos comandos dizem respeito aos momentos em que os
consumidores exigem do veículo uma rápida aceleração, como em arrancada e
retomadas de velocidade.
159
valores de nível mais elevados como (28) Qualidade de vida, (30)
Tranqüilidade, (33) Felicidade e (D) Amizade69.
Como já discutido no segundo grupo, o desejo dos consumidores de
(16) evitar o estresse também está relacionado com a aspiração por
tranqüilidade e qualidade de vida (28). Pelas diretrizes acima apresentadas esse
quarto grupo foi denominado de Antiestresse. As relações nas cadeias do MHV
que caracterizam este grupo estão evidenciadas na Figura 12.
69
Nenhum desses valores apresentou relações em número igual ou superior ao ponto de
corte (7) com o elemento 35 (Convivência harmoniosa) para que a ligação entre os
elementos fosse representada no MHV.
160
FIGURA 12 Relações nas cadeias do MHV que caracterizam o grupo dos
consumidores Antiestresse.
Fonte: Dados da pesquisa
161
5 – A partir do elemento 13 (Honrar os compromissos) é possível
identificar um grupo de consumidores cuja opção por gasolina aditivada está
relacionada à importância que dão ao cumprimento dos compromissos
assumidos. Essa postura, por sua vez, é motivada por três diferentes diretrizes de
valores. Primeiramente, existem consumidores para quem o cumprimento dos
compromissos é uma questão de (38) respeito e (39) caráter. Na perspectiva
deles, o descumprimento, tantos dos compromissos financeiros quanto dos
presenciais, configura um desrespeito à outra parte envolvida no acordo. A idéia
de “não fazerem para os outros aquilo que não gostariam que fossem feito com
eles” também foi evidenciada nestas circunstâncias. Esse modo de conduta
(valor instrumental) é adotado com base no conjunto de valores morais que
orientam a vida dos consumidores: ética, idoneidade, justiça e honra, resumidos
no elemento 39 (Caráter).
Já para outros consumidores, o cumprimento (ou descumprimento) dos
compromissos tem impacto direto na sua (21) imagem pessoal e credibilidade. A
idéia aqui é que as pessoas que não chegam na hora marcada são vistas como
irresponsáveis, pouco profissionais e em quem não se pode confiar. Essa
imagem negativa que os outros podem ter, por sua vez, afeta o orgulho e a
confiança que os consumidores têm em si próprios, fazendo com que se sintam
inferiorizados e desvalorizados (36 – Autovalor). Nesse momento, cabe observar
que o atributo 02 (Qualidade), de acordo com a matriz de implicação, possui um
número expressivamente maior de relações com os elementos 13 (Honrar
compromissos) e 21 (Imagem e credibilidade) do que os demais atributos. Isso
sugere que parte desses consumidores pode perceber no produto uma imagem de
seriedade e superioridade que querem para si próprios, informação que pode ser
útil especialmente na elaboração de campanhas publicitárias das companhias
distribuidoras.
162
A conseqüência 21 (Boa imagem pessoal e credibilidade) também é o
elo intermediário entre o elemento 13 (Honrar os compromissos) e o valor
terminal (31) Sobrevivência. São duas as idéias expressadas pelos consumidores
nesta seqüência de elementos. No que diz respeito ao cumprimento dos
compromissos financeiros, a perda do crédito comercial é o ponto chave. Na
perspectiva desses consumidores, é preciso manter o “nome limpo na praça”,
tanto para que se possa efetuar as compras (à prazo) do cotidiano (alimentação e
vestuário), quanto para lidar com situações urgentes inesperadas, como doenças
(compra de remédios caros) que ameaçam a (31) sobrevivência. Outra
perspectiva também evidenciada nessa relação (entre os elementos 13 – 21 – 31)
é a de que quem não chega no horário transmite uma imagem negativa de si
mesmo para as outras pessoas. Ter uma boa imagem e/ou reputação, por sua vez,
é necessário para entrar no mercado de trabalho, garantir o emprego, ou mesmo
para continuar sendo procurado pelos clientes (no caso daqueles que são
empresários, representantes comerciais e prestadores de serviço). Este quinto
grupo foi denominado Honrar a palavra e as relações nas cadeias do MHV que
o identificam aparecem em destaque na Figura 13.
163
FIGURA 13 Relações nas cadeias do MHV que caracterizam o grupo dos
consumidores que buscam honrar a palavra.
Fonte: Dados da pesquisa.
164
6 – Prazer ou orgulho com o veículo. Os benefícios 10 (Bom
funcionamento do motor) e 11 (Desempenho do veículo) são os elementos-chave
para a identificação desse grupo de consumidores, que podem ser ainda
subdivididos em duas diretrizes. Embora não tenham aparecido em número
suficiente na amostra pesquisada, alguns consumidores entrevistados têm prazer
em dirigir. Um motor que esteja funcionando (10) da maneira ideal e uma
gasolina de melhor combustão (24) proporcionam melhor desempenho (11) do
veículo em termos de força e velocidade, tornando o momento de dirigir/pilotar
uma experiência prazerosa para o motorista (principalmente nas estradas,
durante as viagens).
Por outro lado, o malfuncionamento do motor (10) pode ser fonte de
constrangimento (25) para o proprietário do veículo. Cabe aqui observar que
essa seqüência de elementos (10 – 25) representa, em sua ampla maioria (6 em 7
casos), a opinião de consumidores proprietários de motocicletas de baixa
cilindrada (até 150 cc) e com renda mensal de até R$ 1000,00. Estes se sentem
envergonhados (25 - Evitar sensações negativas) quando outras pessoas
(especialmente os amigos e namoradas) percebem que a motocicleta apresenta
dificuldades para pegar, fica engasgando (ambas as situações estão incluídas no
elemento 15 – Evitar que o veículo “falhe”) ou emite quantidade anormal de
(27) fumaça70. Na opinião desses consumidores, tais sintomas sugerem que o
proprietário da motocicleta é incapaz de zelar adequadamente pelo veículo. A
importância do parecer/sentir-se capaz é determinada pelo reconhecimento desta
capacidade pelas outras pessoas e, também, pela estima e orgulho próprio desses
entrevistados, representadas no elemento 36 (Autovalor). Na Figura 14 são
mostradas as relações nas cadeias do MHV relativas a esse grupo.
70
Como nem o elemento 15 nem o 27 possuem por si só sete (7) relações com o
elemento 25 (Evitar sensações negativas), a ligação no MHV foi feita a partir do
elemento 10 (Funcionamento do motor), que precede os dois elementos e que também
possui uma relação direta com aquele.
165
FIGURA 14 Relações nas cadeias do MHV que caracterizam o grupo dos
consumidores que sentem prazer ou orgulho com o veículo.
Fonte: Dados da pesquisa.
166
7 – Um sétimo perfil de consumidores pode ser identificado a partir da
seqüência de elementos 17 – 19 – 32. São os consumidores Realizadores. A sua
opção por gasolina aditivada não é motivada apenas por seus benefícios
funcionais, mas também pelos benefícios psicológicos que dela obtêm. Para
esses consumidores a (09) conservação do veículo está relacionada ao desejo de
mantê-lo sempre afiado, novo e com seu estado original preservado, o que
representa pra eles as (17) melhores condições possíveis.
A principal recompensa por agirem “da melhor maneira possível” é a
(19) satisfação que sentem consigo mesmo, o que em última instância está
relacionado com o valor da (32) realização. Essa busca por fazer e obter sempre
aquilo que consideram ser (17) o melhor não se limita apenas aos cuidados com
o veículo mas reflete, antes de tudo, a maneira como esses consumidores lidam
com as demais dimensões da vida. Isso pode ser percebido na ligação entre os
elementos 18 e 32 no MHV, indicando que o (18) trabalho bem feito, traduzido
em metas alcançadas, resultados superiores e seu devido reconhecimento por
parte dos clientes, patrões, colegas de trabalho e pelo próprio entrevistado
também fazem com que estes se sintam (32) realizados. As relações nas cadeias
do MHV que caracterizam este grupo estão evidenciadas na Figura 15.
167
FIGURA 15 Relações nas cadeias do MHV que caracterizam o grupo dos
consumidores Realizadores.
Fonte: Dados da pesquisa.
168
8 – Por fim, um grupo de consumidores ecologicamente conscientes
também pôde ser identificado. Seu pensamento é simples: principalmente por
possuir (01) aditivos e/ou ser um produto mais (03) puro, a gasolina aditivada
reduz a quantidade de gases poluentes (27 – Menor emissão de fumaça) lançados
pelo veículo na atmosfera. Esses consumidores estão cientes de que essa
poluição é nociva ao meio ambiente, principalmente por contribuir para o
aquecimento global, fenômeno que põe em risco a saúde e a qualidade de vida
dos seus (34) descendentes e, para alguns, ameaça até mesmo o futuro de toda a
humanidade. Assim, ao optarem pela gasolina aditivada, acreditam estar fazendo
(37) sua parte para minimizar os impactos ambientais gerados pela utilização do
seu veículo. Na Figura 16 são mostradas em destaque, as relações nas cadeias do
MHV que expressam a percepção desses consumidores.
169
FIGURA 16 Relações nas cadeias do MHV que caracterizam o grupo dos
consumidores Ecologicamente conscientes.
Fonte: Dados da pesquisa.
170
É importante observar que praticamente todos os 55 entrevistados
citaram ladders que permitem incluí-los nos quatro primeiros grupos de
consumidores acima especificados. Além disso, observa-se que os grupos 1 –
Preocupados com o futuro, 2 – Dinheiro para ser feliz e viver bem, 3 –
Segurança no trânsito e 4 – Antiestresse foram formados a partir das cadeias
dominantes identificadas no MHV, podendo, assim, ser considerados os mais
abrangentes e significativos da pesquisa. Por sua vez, e não menos importantes,
os grupos 5 - Honrar a palavra, 6 – Prazer e orgulho com o veículo, 7 –
Realizadores e 8 - Ecologicamente conscientes baseiam-se nas ladders mais
específicas mencionadas por esses mesmos entrevistados, podendo ser
considerados, portanto, como grupos secundários.
171
7 CONCLUSÕES
172
relevantes tanto pela quantidade de relações que possuem com os demais
elementos, quanto pelo número de entrevistados que os citaram.
No que diz respeito ao segundo objetivo específico – identificar os
benefícios que os consumidores de gasolina aditivada acreditam obter com o uso
do produto -, foram encontrados 25 elementos entre benefícios da gasolina
aditivada e conseqüências indesejáveis do uso da gasolina comum. Destes, 22
foram representados no MHV, com destaque para os benefícios funcionais 06
(Limpa e evita sujeira no sistema), 07 (Evita problemas mecânicos e
manutenção), 08 (Dinheiro) e 09 (Conservação), presentes na grande maioria
das cadeias dominantes. Dentre os benefícios psicológicos, o elemento 15
(Evitar o estresse) destaca-se como o mais citado pelos consumidores e o que
possui maior número total de relações com os demais elementos.
Em resposta ao terceiro objetivo específico - identificar o conjunto de
valores que orientam a decisão e compra desses consumidores –, 15 diferentes
valores entre instrumentais e terminais foram encontrados, dentre os quais 13
foram representados no MHV. Os valores 28 (Qualidade de vida), 30
(Tranqüilidade) e 31 (sobrevivência), que apresentaram maior número de
relações com os demais elementos e o valor 29 (Segurança), citado pelo maior
número de entrevistados, puderam ser apontados como os principais. Na
perspectiva da estrutura dos domínios motivacionais de Schwartz, sete dos 13
valores pessoais encontram-se na dimensão Conservação. Os valores
pertencentes a essa dimensão são motivados pela busca por estabilidade social
nos relacionamentos e pela conservação da condição de vida atual (tanto no que
diz respeito à questão financeira, patrimonial quanto à segurança física e saúde
própria e da família).
Elaborado por meio do software Laddermap 5.4 a partir das ladders
obtidas nas entrevistas, o MHV adotado como solução final da presente pesquisa
mostrou-se satisfatório, representando 67% do total de relações entre os
173
atributos, benefícios e valores encontrados, sendo este percentual condizente
com o recomendado pela metodologia utilizada. Com a elaboração do MHV
tem-se a visão coletiva dos elementos valorizados pela amostra de consumidores
de gasolina aditivada pesquisada.
O último objeivo específico do presente trabalho consistiu em apontar
elementos de referência para a identificação de segmentos no mercado de
gasolina. Os atributos, benefícios e valores identificados na presente pesquisa,
suas inter-relações e os oito grupos de consumidores apontados a partir do MHV
podem ser utilizados para esse propósito. De maneira mais específica, o
posicionamento dos valores pessoais mencionados pelos entrevistados na
estrutura circular dos domínios motivacionais de Schwartz sugere a existência de
um nicho de mercado passível de exploração por parte das companhias
distribuidoras.
174
o que não foi observado nesta pesquisa71. O simples fato de não se tratar de um
produto de conveniência, por si só, já dá aos profissionais de marketing um
maior variedade de opções a serem utilizadas em estratégias de vendas e
promoção da gasolina aditivada. Se a escolha por gasolina aditivada apresenta
um maior grau de envolvimento (em comparação à compra da gasolina comum),
é possível que as etapas de busca de informações e avaliação das alternativas
estejam presentes e sejam significativas neste processo, requerendo das
companhias distribuidoras e postos maior atenção aos processos de comunicação
com o consumidor.
Nesse sentido, certas opiniões obtidas durante a realização das
entrevistas sugerem que a comunicação das propriedades e benefícios do
produto por parte dos postos e companhias distribuidoras ainda pode ser
melhorada. A gasolina aditivada, assim como os combustíveis de maneira geral,
é um produto cercado de mitos. Alguns têm impacto positivo na imagem do
produto, estimulando a escolha do produto por consumidores. É o caso da idéia
equivocada de que “a gasolina aditivada possui um percentual menor de álcool
em sua composição” (em comparação à gasolina comum). Mesmo não sendo
verdadeiro, esse mito mostrou ter influência na opção de alguns consumidores
por gasolina aditivada, sendo, inclusive, citado como atributo (03 – Pureza). O
mito de que “abastecido com gasolina aditivada o veículo consome mais”, por
sua vez, pode representar um grande desestímulo para a adoção do produto por
parte de determinados consumidores. Esse mito foi citado por três entrevistados
que, mesmo acreditando na sua veracidade, continuam optando por gasolina
aditivada. Observa-se, assim, que as crenças que o consumidor possui a respeito
do produto têm papel importante na sua opção por gasolina aditivada. A maior
evidência disso é o fato de que três72 dos cinco atributos mencionados não são
71
Exceto no caso de algumas das ladders incompletas.
72
02 – Qualidade; 03 – Pureza e 05 – Reduzidas chances de adulteração.
175
características perceptíveis, mas sim idéias e imagens que os consumidores têm
ou fazem do produto. Diante da influência que as crenças e mitos podem ter na
escolha por gasolina aditivada, e na hipótese de que haja interesse em expandir o
número de consumidores do produto, sugere-se que as companhias
distribuidoras, postos de combustíveis, montadoras e redes autorizadas de
manutenção atuem no combate ao mito do maior consumo.
A estratégia das companhias distribuidoras de adicionar corantes à
gasolina aditivada para diferenciá-la da gasolina comum também merece
atenção. O pequeno número de entrevistados que fizeram referência ao atributo
cor é um indício de que tal medida pode não estar sendo utilizada de maneira
eficaz para a diferenciação do produto. Levando-se em conta que a experiência
de uso dos combustíveis automotivos dá-se de maneira indireta (por meio do
veículo) e que são raras as ocasiões em que o consumidor tem contato direto
com esse produto, outras medidas podem ser tomadas para facilitar que o
consumidor veja a gasolina aditivada durante o abastecimento. Uma sugestão
neste sentido é a adoção, tanto nas bombas quanto na extremidade final das
mangueiras de abastecimento (nas bombas de gasolina aditivada e nas de
gasolina comum), de dispositivos transparentes que possibilitem ao consumidor,
mesmo de dentro do seu veículo, ver a cor do combustível que está sendo
abastecido.
Segundo diversos autores pesquisados, uma das principais aplicações
dos estudos com a MEC para o marketing reside na elaboração de estratégias de
propaganda e promoção dos produtos. Os elementos e suas inter-relações, as
cadeias dominantes e os grupos de consumidores identificados na presente
pesquisa mostram-se particularmente úteis para esse propósito. Uma vez que a
maior parte dos benefícios funcionais aqui mencionados já foi ou tem sido
utilizada pelas companhias distribuidoras do Brasil em suas ações de
comunicação com o consumidor - seja nas campanhas publicitárias recentemente
176
veinculadas na televisão ou nos folhetos e informações disponíveis nos sites das
companhias, conforme pode ser visto no Anexo A -, chama-se a atenção das
distribuidoras para a oportunidade de também utilizarem em suas campanhas
alguns dos benefícios psicológicos e valores aqui identificados, em especial os
elementos 26 (Sentir confiança no veículo) e 29 (Segurança), que possuem apelo
emocional. A forte relação do atributo 02 (Qualidade) com o com os valores 32
(Realização) e 36 (Autovalor) - relacionados à busca por objetivos individuais -
sugere também o realce desse atributo em campanhas direcionadas para os
grupos 5, 6 e 7 de consumidores.
A maior ou a menor incidência de ligações entre elementos evidenciadas
na matriz de implicação também pode oferecer pontos de alavancagem no
desenvolvimento de ações de marketing. Tome-se, por exemplo, a pequena
incidência (ou mesmo ausência) de relações relações verificada entre o atributo
04 (Recomendação) e benefícios importantes, como o 10 (Bom funcionamento
do motor), 0 11 (Desempenho do veículo), o 23 (Menor consumo de
combustível) e o 27 (menor emissão de fumaça). Por meio de campanhas de
comunicação, empresas que prestam serviços de manutenção (sejam autorizadas
das grandes motadoras ou oficinas independentes) podem estimular os
proprietários de veículos a seguirem a agenda de revisões progamadas,
mostrando que a consulta regular ao mecânico ajuda a manter o bom
funcionamento do motor e, conseqüentemente, a obter toda o conjunto de
benefícios dele decorrentes.
Em estudos realizados sobre a lente da MEC, todas as diferentes
combinações de cadeias formadas a partir dos atributos, benefícios e valores são
potenciais representações da percepção dos consumidores, podendo ser adotadas
como base para o posicionamento dos produtos. Uma vez que representam a
percepção de um maior número de entrevistados, acredita-se que as cadeias
177
apontadas como dominantes sejam as melhores diretrizes para o posicionamento
das diferentes marcas de gasolina aditivada.
Por fim, no que diz respeito às implicações gerenciais, os resultados
desta pesquisa apontam para a existência de um nixo no mercado de gasolina
ainda pouco explorado pelas companhias distribuidoras. O fato de metade dos
valores identificados e representados no MHV estarem posicionados na
dimensão Conservação da estrutura circular de Schwartz e a identificação de
elementos que traduzem o desejo de não obter conseqüência indesejáveis,
sugerem que parcela considerável das compras de gasolina aditivada é motivada
não pelos benefícios que o produto oferece, mas para se evitar os efeitos
indesejáveis do uso da gasolina comum. Assim, acredita-se que um produto
intermediário, percebido como inferior à gasolina aditivada, em termos de
desempenho, mas superior à gasolina comum, em termos de conservação do
veículo, possa ser o produto ideal para atender às reais necessidades e
expectativas de parte dos consumidores de gasolina.
178
disso, conforme mencionado no item 5.1, pesquisas exploratórias são, muitas
vezes, o primeiro passo de investigações mais amplas, que utilizam
procedimentos mais sistematizados. Assim, acredita-se que a presente pesquisa
possa servir de base para estudos de natureza qualitativa, realizados com
amostras estatisticamente representativas. Futuras pesquisas que busquem, por
exemplo, estabelecer relações entre os grupos de consumidores de gasolina
aditivada aqui identificados e características sócio-demográficas trariam grandes
contribuições à pesquisa desse mercado. Enquanto estudos mais detalhados não
tiverem sido realizados, os resultados desta pesquisa devem ser levados em
conta como norteadores e não como determinantes do comportamento de
compra dos consumidores de gasolina aditivada.
Apesar de ser inerente à Laddering, a possibilidade de interferências da
subjetividade do pesquisador nos processos de análise dos dados também pode
ser apontada como limitações deste estudo. O agrupamento de frases e palavras
de diferentes consumidores em códigos-resumo foi realizado com base nas
semelhanças semânticas identificadas pelo pesquisador. Avaliadas por outras
pessoas, as mesmas citações poderiam formar códigos-resumo com diferentes
conteúdos. As dificuldades encontradas durante a etapa de classificação dos
elementos em atributos (concretos e abstratos), benefícios (funcionais e
psicológicos) e valores (instrumentais e terminais) merecem destaque. Conforme
observado por Vilas Boas (2005), a literatura sobre Laddering é bastante vaga
sobre essa questão. A tipologia funcional-psicológica pareceu inadequada para a
caracterização de benefícios como 13 (Honrar os compromissos), 14 (Segurança
financeira), 18 (Desempenho no trabalho), 20 (Lazer) e 21 (Imagem e
Credibilidade), tendo sido, a maior parte destes, classificados como psicológicos
pela posição por eles ocupadas na ladder.
É preciso comentar também a situação do elemento 30 (Tranquilidade),
presente nas ladders ora como valor terminal, ora como valor instrumental.
179
Reconhece-se que, à primeira vista, as explicações mais lógicas para tal situação
residem (1) no agrupamento inadequado de frases neste código-resumo ou em
(2) associações feitas por alguns entrevistados apenas para atender os requisito
do pesquisador, conforme previsto por Grunert & Grunert (1995). O autor da
presente pesquisa, entretanto, rejeita ambas as hipóteses. A primeira pelo grande
volume de tempo gasto em análises e reanálises das gravações para a definição
do conteúdo final dos 45 códigos-resumo, o que, em alguns casos, só ocorreu
depois de várias simulações de MHVs. Nesse sentido, acredita-se que a
configuração adotada é a melhor possível. A segunda é rejeitada pela coerência
das mensagens representada pelas ligações entre os elementos 30 - 28 (Pessoas
tranqüilas vivem melhor) e 14 - 30 (quem tem reserva/investimento pode ficar
mais tranqüilo com relação ao futuro). Embora possam constituir diferentes tipos
de tranqüilidade, sua reunião em um único código-resumo é lógica e coerente
com os procedimentos metodológicos da Laddering.
Mesmo tendo atendido ao critério de representatividade apontada na
literatura, é necessário observar que o MHV apresentado no presente estudo
pode não ser a melhor representação da estrutura cognitiva do conjunto de
consumidores entrevistados. Isso porque o software Laddermap 5.4, por motivo
desconhecido, não respondeu a todas as ordens de simulações do pesquisador. A
melhor saída encontrada para lidar com essa limitação foi excluir do banco de
dados algumas ladders que, embora incompletas, também expressavam idéias do
conjunto de consumidores. Observa-se, ainda, que, mesmo com a eliminação
dessas ladders, não foi possível obter MHVs com pontos de corte inferior a 7.
Descartando a hipótese de sobrecarga do software, cabe aqui mencionar que o
mesmo problema foi encontrado quando as ladders foram divididas em dois
bancos de dados na tentativa de se criar dois MHVs: um para os proprietários de
motocicletas e outro para proprietários de automóveis. Gerados com pontos de
corte diferentes (devido às mesmas limitações do software) e com isso
180
representando diferentes percentuais de ladders, os dois MHVs não puderam ser
comparados. Por essas e outras limitações, recomenda-se, para as futuras
pesquisas com Laddering, a utilização do software Mecanalyst73, mais moderno,
porém, ainda não gratuitamente disponível na Internet. Apesar de suas
limitações, reconhece-se o Laddermap como ferramenta fundamental para a
realização do presente estudo.
Percebe-se, na literatura pesquisada sobre Laddering, que não existe
consenso sobre qual é a melhor forma de identificar as cadeias dominantes do
MHV, levando os pesquisadores a criar ou a adotar o critério mais adequado aos
seus dados, segundo seu julgamento. Juntando-se a esse grupo, mas também
buscando uma nova alternativa para a identificação das cadeias dominantes,
neste trabalho adotou-se como critério o número médio de relações por elemento
da cadeia que, assim como os demais, não tem nenhum respaldo estatístico. O
método Constrained Clustering, proposto por Aurifeille & Valette-Florence
(1995), por outro lado, baseia-se em dois critérios bastante coerentes para tal
propósito: (1) o número de ladders representadas na cadeia e (2) o valor da sua
representatividade semântica. Elaborada a partir de técnicas de escalonamento
multidimensional (MDS), a Constrained Clustering apresenta-se, nesse sentido,
como uma opção estatisticamente amparada que deve ser considerada em futuros
estudos com a Laddering.
73
http://www.skymax-dg.com/mecanalyst/
181
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALLEN, M. W.; NG, S. H. The direct and indirect influences of human values
on product ownership. Journal of Economic Psychology, v. 20, p. 5-39, 1999.
182
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Porto Editora, 1994. 335 p.
183
DEVLIN, D.; BIRTWISTLE, G.; MACEDO, N. Food retail positioning
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DIBLEY, A.; BAKER, S. Uncovering the links between brand choice and
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184
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mercado pela associação direta entre produtos e clientes. In: ENCONTRO
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185
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186
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do consumidor soteropolitano de terceira idade em relação ao entretenimento e
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187
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Porto Alegre: Bookman, 2006. 720p.
MILLER, S. Fuel Firms Cut Suport as premium sales tank. Brandweek, v. 47,
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MORT, G. S.; ROSE, T. The effect of product type on value linkages in the
means-end chain: implications for theory and method. Journal of Consumer
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188
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http://www.radiobras.gov.br/materia_i_2004.php?materia=206521&editoria=&q
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189
REKOM, J. Van; WIERENGA, B. On the hierarquical nature of means-end
relationships in ladder data. Journal of Business Research, p. 10, 2006.
190
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mercado de produtos alimentícios. In: ENCONTRO ANUAL DA ANPAD,
2005, Brasília. Anais... Brasília: ANPAD, 2005. 1 CD-ROM.
191
SONDERGAARD, H. A. Market-oriented new product development: how can a
means-end chain approach affect the process? European Journal of Innovation
Management, n. 8, n. 1, p. 79-90, 2005.
192
WATKINS, L.; GNOTH, J. Methodological issues in using Kahle's list of values
scale for japanese tourism behaviour. Journal of Vocation Marketing, v. 11, n.
3, p. 225-233, 2005.
WHITE, H.; KOKOTSAKI, K. Indian food in the UK: personal values and
changing patterns of consumption. International Journal of Consumer
Studies, v. 28 n. 3, p. 284-294, 2004.
193
ANEXO A – Elementos da presente pesquisa identificados nas Campanhas
publicitárias e páginas da internet das gasolinas aditivadas das principais
companhias distribuidoras que atuam no Brasil.
Campanhas publicitárias
74
Disponível em: <http://www.shell.com/home/content/br-
pt/shell_for_motorists/fuels/vpower/filme_cavalo_0713.html>. Acesso em: 03 set.
75
Disponível em: <http://www.texaco.com.br/produtos_servicos/
combustiveis/techron/techron.shtml>. Acesso em: 03 set. 2007.
194
Gasolina Ipiranga Original Aditivada Æ São ressaltados os atributos 02
(Qualidade); 03 (Pureza) e os benefícios 06 (Limpeza no sistema); 24 (Queima)
e 27 (Menos fumaça).
Disponível em:
<http://www.ipiranga.com.br/petroleo/distribuicao/conteudo_postos_produtos_c
ombustiveis.htm#2>. Acesso em: 03 set. 2007.
195
APÊNDICE A Guia prático de utilização do Laddermap 5.41
Este guia foi elaborado pelo autor com base na experiência adquirida
durante a realização da presente pesquisa e tem por objetivo auxiliar futuros
pesquisadores a se familiarizarem com o software. Na Figura 1 é mostrado o
menu principal do Laddermap. Os números à direita de cada item não existem
no programa. Foram inseridos aqui apenas para fins didáticos. A função,
detalhes e dicas de cada um desses itens serão apresentados a seguir.
╔═══════ L A D D E R M A P M A I N M E N U ═══════╗
║ 1 Edit/Enter Ladder Interview Results ║
║ 2 Print Listing of Ladders in File ║
║ 3 Enter/Edit Synonyms (Content Analysis) ║
║ 4 Print Lexical Listing ║
║ 5 Create Implication Matrix From Ladders ║
║ 6 Print Implication Matrix ║
║ 7 Create HVM From Implication Matrix ║
║ 8 Edit Hierarchical Value Map ║
║ Print Hierarchical Value Map ║
║ Quit ║
╚═══════ USE UP/DOWN TO MOVE ENTER TO PICK ════════╝
Ao escolher essa opção (que, como o próprio nome indica, serve para
inserir os dados provenientes das entrevistas Laddering), logo de cara o
programa solicitará um nome para o arquivo (ou banco de dados) onde serão
1
Disponível no site www.peffers.com. É importante observar que o programa não é
compatível com o Windows Vista. Além disso, como trabalha apenas com a porta
paralela, não é possível imprimir as listas e o rascunho do MHV em impresoras
conectadas ao computador por meio de porta USB.
196
armazenadas todas as informações. Caso você já possua um banco de dados
(como o Example, que vem no próprio programa para treino), digite-o para que
o programa carregue os dados que ele contém. Escolha o nome do novo arquivo
ou carregue um já existente e tecle Enter. Em seguida aparecerá uma tela
conforme mostrado na Figura 2:
╔══════════════════════════════════════════════════════╗
║ 1.1 Edit file demographic code selection ║
║ 1.2 Edit file per ladder code selection ║
║ 1.3 Enter/Edit Ladders ║
║ 1.4 Exit back to main menu ║
║ ║
╚══════════════════════════════════════════════════════╝
FIGURA 2 – Submenu do item Edit/enter Ladder interview results.
197
(como se, por exemplo, você tivesse digitado ESTTTCIVIL e quisesse eliminar
esses dois Ts a mais). A única opção para contornar a situação é apertar F10,
voltando para o menu do item 1 e depois voltar ao menu principal, SEM
SALVAR.
Dica 2 Æ Infelizmente o Laddermap só disponibiliza um caractere para
que você descreva os dados pessoais de cada entrevistado na próxima etapa. Isso
quer dizer que você terá que estabelecer seus próprios códigos (faça isso num
documento à parte, seja Word ou manualmente numa folha de papel) para inserir
as informações pessoas de cada respondente. Por exemplo: no caso de Idade: 1 =
até 20 anos, 2 = de 21 a 30, 3 = de 31 a 40 e assim por diante.
Esta opção serve para inserir as ladders dos entrevistados. Para cada
ladder, o programa primeiro pergunta o número/código do entrevistado e o
número/código da ladder. Tendo fornecido essas informações, o programa
solicitará que sejam inseridas as informações pessoais do entrevistado, usando,
para isso, os códigos que você mesmo elaborou na Dica 2.
Depois disso você pode começar a inserir as ladders. O laddermap foi
desenvolvido para ajudá-lo desde a fase de análise de conteúdo das entrevistas.
Logo, esse item 1.3 solicita inicialmente que você descreva as falas dos
entrevistados que possam representar atributos, conseqüências ou valores (por
exemplo: Gasolina aditivada tem menos chance de ser adulterada). Ao apertar
198
Enter, especifique se a frase se refere a um (A)tributo, (C)onseqüência ou
(V)alor. Logo depois, o programa solicita um Synonim. Esse é o termo usado
pelo programa para o que a literatura chama de códigos-resumo, os conjuntos
que englobam as falas dos entrevistados semelhantes entre si. Para armazenar a
ladder que você acabou de inserir e iniciar uma nova ladder, tecle F2. Por meio
do botão de Ajuda (F1) é possível aprender essa e outras opções de ação.
Dica 3 Æ Embora o programa diga que o comando Ctrl F2 apaga a
ladder atual, você primeiro precisa concluir/salvar a ladder para depois apagá-la.
Em outras palavras: se você deseja eliminar a ladder que está escrevendo, aperte
F2 (para escrever uma próxima ladder) e, depois, volte para a ladder anterior
(que você deseja apagar) para, então, dar o comando Ctrl F2.
Como o próprio nome indica, esse comando para imprimir uma lista de
todas as ladders inseridas no item 1.3
Dica 4 Æ Ao executar esse comando, o Laddermap gera um arquivo que
sempre terá o nome de ladder.rpt e será salvo na pasta C:\ladder\repports.
Independentemente do nome que você tenha dado ao arquivo das ladders, ao
sair do item 1.3 (o programa sempre pede para salvar), o nome desse relatório de
ladders sempre ladder.rpt.
Dica 5 Æ Para ler esse relatório (lista) das ladders é necessário ir à pasta
C:\laddr\repport e abrir o arquivo lader.rpt com um programa editor de textos,
como o Word ou mesmo o Bloco de notas do Windows. Esse procedimento é
necessário para a visualização de todos os demais relatórios gerados pelo
Laddermap, inclusive a matriz de implicação.
199
3 Enter/Edit Synonyms (Content Analysis)
200
possuam algumas características em comum. Caso queira uma matriz completa,
aperte F10 e Enter. Na tela seguinte, tecle Enter para construir a matriz completa
o S para escolher quais (A), (C) e (V) você quer que sejam inseridos na matriz.
Assim como todos os demais relatórios, só é possível visualizar a matriz de
implicação com o bloco de notas ou Word.
Dica 7 Æ A matriz de implicação gerada pelo Laddermap possui
algumas peculiaridades. A primeira delas diz respeito à maneira de contar as
relações diretas e indiretas entre os diferentes elementos. Com base em
observações na matriz de implicação do arquivo Example e também da matriz de
implicação gerada para este trabalho, percebeu-se que cada relação direta é
contada como sendo direta e indireta ao mesmo tempo. Perceba, em qualquer
matriz de implicação gerada pelo software, que não existem células que
contenham somente relações diretas. As relações indiretas, por sua vez, são
contadas da maneira tradicional: apenas como relações indiretas. Caso dois
elementos sejam descritos como direta e indiretamente relacionados (em ladders
diferentes, obviamente) por um mesmo entrevistado, o Laddermap, opta pela
relação direta que, no final das contas, será representada na matriz de implicação
como um 1.1. Além disso, é sempre bom lembrar que o Laddermap obedece à
regra da teoria que estabelece que a relação entre dois elementos deve ser
contada uma única vez.
Outro ponto a ser observado é que relações entre dois elementos podem
aparecer de ambos os lados da diagonal principal da matriz. Isso está
relacionado com a ordem em que os elementos se apresentam na cadeia. 01 Æ
03 aparecerá de um lado da diagonal principal, enquanto um possível 03 Æ 01
aparecerá do outro lado.
201
6 Print Implication Matrix
O nome já diz tudo. Mas, caso você não queira imprimir, uma boa opção
é importar a matriz para o Excel. Com o Excel aberto, vá em (1) abrir; (2)
selecione a pasta onde está o arquivo (.IMP) da matriz de implicação; (3) no
campo tipo de arquivo, selecione todos (*.*); (4) uma janela intitulada Assistente
de importação de texto aparecerá. Escolha a opção delimitada e clique em
avançar. (5) Na página seguinte, marque a opção espaço. Verifique na barra de
rolagem se está tudo certinho e então clique em concluir. A matriz requer
algumas pequenas edições mas, de qualquer forma, é bem menos trabalhoso do
que inserir os dados no Excel manualmente.
202
9 Outras coisas que você precisa saber sobre o Laddermap 5.4
O Laddermap 5.4 possui limitações. Algumas vezes, seja nos itens 1.1,
1.3 ou mesmo no 8, o programa não reconhece o arquivo, como se ele não
existisse ou estivesse vazio (aparece a mensagem creating new file). Caso você
se depare com essa situação, volte para o menu principal (sem salvar) e tente
acessar carregar o arquivo novamente. Costuma funcionar.
Na hora de editar o MHV, se for executado o comando fix line entre dois
elementos que não possuem número de relações entre si igual ou superior ao
ponto de corte, ele vai criar essa relação indevida.
Quando se utiliza o fix line com relação a dois elementos que, a
princípio, não apareceram no MHV, mas têm ponto de corte mais do que
suficiente para isso, percebe-se que a linha criada possui espessura
correspondente ao número de relações entre os elementos. Essa maior expessura
pode criar a falsa impressão de que essa ligação está corretamente representada
no mapa, o que não é necessariamente verdade.
Por fim, apesar de ser uma ferramenta bastante útil para o
processamento dos dados da Laddering, nesta pesquisa o Laddermap 5.4
apresentou uma falha que limitou a simulação e análise dos MHVs com
diferentes pontos de corte. Muitas vezes, o software gerava, mas não carregava
(no item 8) MHVs com pontos de corte mais baixos, que implicam num número
maior de inter-relações entre os elementos. Talvez haja um ponto de saturação,
além do qual o software não consiga representar todas as linhas interligando os
elementos. Mesmo assim, aplausos e agradecimentos ao Prof. Gengler, que criou
o software e ao Prof. Peffers, que o disponibiliza gratuitamente em seu site.
203