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[Entrevistador] Boa noite, hoje iremos dialogar sobre adversidades na vida e a visão do

budismo de ND sobre estas circunstâncias que fazem parte da vida de todos nós. E nosso
convidado para este super talk show é o Rodrigo Silva, membro da Comunidade Castro
Alves. Boa noite, Rodrigo, seja bem-vindo!

Vamos começar nossa entrevista de hoje. E gostaria de iniciar com uma pergunta que pode
surpreender algumas pessoas: Budista passa por adversidades, ou seja, dificuldades na vida?

[Rodrigo] Boa noite, é um prazer estar aqui hoje com vocês. Veja, no curso da vida nos deparamos com diversas
situações desfavoráveis: questões financeiras, problemas no trabalho, na família, com a saúde, dificuldades no
relacionamento amoroso ou com amigos etc. No budismo aprendemos que as dificuldades são parte da vida humana e
que felicidade não é sinônimo de uma vida livre de problemas.

[Entrevistador] Muito interessante, mas então, o que significa adversidade?

[Rodrigo] Boa pergunta! Se investigarmos o significado da palavra no dicionário encontraremos definições que
apontam para “sorte adversa”, “infortúnio”, “revés”, “obstáculo”, “dificuldade”, “infelicidade”.

Sobre essa questão o budismo possui uma perspectiva que trata a adversidade de uma maneira positiva.

[Entrevistador] Então adversidade não significa, necessariamente, infelicidade?

[Rodrigo] A vida é uma sucessão de batalhas. O budismo ensina que não existe vida sem obstáculos, e propõe uma
forma de encarar as dificuldades que passamos ao longo da vida. Com base no budismo passamos a reconhecer o
sofrimento como parte da vida conferindo um sentido positivo às experiências negativas.

Acho importante chamar atenção e apresentar de forma didática elementos que auxiliam no processo de superação
com base no budismo.

[Entrevistador] Quais seriam estes elementos?

[Rodrigo] A primeira questão importante para a superação dos desafios é compreender que o poder para superar as
adversidades existe dentro de você. No budismo não existe uma força “lá fora”, externo à sua vida, capaz de
solucionar as questões da sua vida.

Então, o primeiro passo é reconhecer a própria capacidade de ultrapassar os problemas para superação das
adversidades.

[Entrevistador] Se eu ainda não consigo reconhecer essa potencialidade dentro de mim o que
eu faço?

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[Rodrigo] Charles Chaplin no filme Luzes da Ribalta incentiva uma pessoa que havia perdido as esperanças da
seguinte forma: “Pense no poder que há no universo — que move a Terra e faz as árvores crescerem. Esse mesmo
poder existe em você, basta que tenha coragem — e o desejo de usá-lo”

Nós budistas manifestamos esse poder inerente por meio da recitação do daimoku unindo nossa vida (microcosmo) à
grande lei do universo (o macrocosmo).

[Entrevistador] Poderia explicar como funciona a recitação do daimoku?

[Rodrigo] O daimoku é a recitação do nam-myoho-rengue-kyo. O presidente da SGI, Dr. Daisaku Ikeda assim o
definiu: “O nam-myoho-rengue-kyo é o som do grandioso ritmo do universo, a fonte propulsora de toda a atividade
universal e também o coração e a essência do universo. A lei mística é fonte de todas as mudanças. É por isso que
quando recitamos a Lei Mística - nam-myoho-rengue-kyo- conseguimos ativar as forças do universo para nos apoiar.
O ritmo do nam-myoho-rengue-kyo foi denominado o próprio ritmo do universo.”

Em outras palavras, a oração constitui uma fusão de nossa mente com a lei fundamental do universo. Podemos
comparar isso com as engrenagens de uma máquina. Quando uma pequena engrenagem encaixa seus dentes nos
dentes de uma engrenagem maior, consegue se movimentar com uma força extraordinária. Da mesma forma, quando
fundimos o microcosmo de nossa própria vida à vida do universo, manifestamos uma ilimitada força que superará
quaisquer dificuldades.

[Entrevistador] Que maravilhoso! A recitação do daimoku pode tornar qualquer pessoa em


alguém capaz de superar suas dificuldades. É isso?

[Rodrigo] Sim, todos tem este poder dentro de si. O presidente da SGI, Dr. Daisaku Ikeda nos orienta sobre a
importância de cultivar a força interior: “Que tipo de pessoa é feliz? Em uma palavra, uma pessoa forte. (...) Uma
pessoa forte pode desfrutar tudo na vida, e quaisquer obstáculos que se levantem apenas a tornam ainda mais forte.”
“O objetivo de nossa fé é tornarmo-nos mais fortes que tudo. Devemos ter a consciência de que tudo na vida existe
para nos treinar e fortalecer.”

Num poema dedicado aos membros de todo o mundo, ele reafirma: “Sejam fortes! Sejam fortes! Sejam absolutamente
fortes! Ser forte é ser feliz, é ser vitorioso. Aqueles que são fortes conseguem conduzir as pessoas pelo valoroso curso
da vida de paz, justiça e felicidade. Ser fraco é ser infeliz (...) O fraco é destituído de boa sorte e suas orações não têm
resposta. O que transforma a fraqueza numa grande força é a prática da fé, o exercício budista e a disposição de lutar
com destemor.”

Portanto, no budismo as adversidades possuem um importante papel, é por meio dos diversos desafios que nos
aprimoramos, polimos nosso coração e nossa mente e forjamos nosso caráter. O budismo nos ensina e nos capacita
a tirar o maior proveito das adversidades.

[Entrevistador] Tirar proveito das adversidades? Como assim?

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[Rodrigo] Os obstáculos que enfrentamos servem como um trampolim para o amplo desenvolvimento de nossa vida.
É justamente em meio às dificuldades que extraímos o grandioso potencial que existe dentro de nós, rompendo as
barreiras internas da negatividade e do pessimismo conquistando a vitória total.
Portanto, adversidade não significa infelicidade. A infelicidade no budismo é ser derrotado pela adversidade, é desistir
da nossa felicidade, é não lutar por ela.

[Entrevistador] E a felicidade?

[Rodrigo] Felicidade significa jamais ser derrotado, é possuir a força necessária para persistir na luta até o fim. Como
o presidente Ikeda ensina, o importante é vencer no final. Se cair sete vezes, levante-se oito. Ikeda sensei incentiva
aqueles que se deparam com sucessivos obstáculos em seu caminho da seguinte forma:

“Não desistam quando se sentirem desencorajados, apenas se levantem e renovem sua determinação. O importante
não é a determinação de que jamais irão se abalar, mas, sim, que não perderão para si próprios, que não irão dar-se por
vencidos”.

Se persistirmos na prática budista “Tudo na vida [ganhará] um significado; a fé nos capacita a dar sentido a tudo
o que acontece.” A fé adquirida na prática se manifesta em coragem para jamais desistir, jamais desacreditar do
potencial que existe em cada um de nós por pior que seja a situação. O mais importante nesse processo é vencer a si
mesmo, as próprias fraquezas e avançar rumo à felicidade absoluta extraindo a grande força transformadora das
profundezas da própria vida.

[Entrevistador] Uma pessoa com essa força pode mudar não apenas a sua própria realidade
não é mesmo?

Sem dúvida! Além de nos capacitar individualmente a superar as adversidades da vida, o budismo nos ensina que
enfrentar e vencer as dificuldades acabam se tornando um grande tesouro em nossa vida, e justamente por termos
experimentado os piores sofrimentos somos capazes de incentivar outras pessoas a vencerem suas próprias
dificuldades. (Como o Mandela, inspirado pelo poema Invictus, se tornou um grande líder contra o aparthaid, mudou
a história política e social de seu país e ao mesmo tempo permaneceu leal ao seu ideal de conduzir seu país no
caminho da paz, sem macular seu coração com qualquer sentimento de vingança ou revanchismo)

Sendo assim, encontrar a adversidade não é sinônimo de infelicidade, infelicidade é sucumbir diante das
adversidades e o budismo nos capacita a superar todos os obstáculos da vida.

[Entrevistador] Que palavras incentivadoras não é mesmo? Gostaria de agradecer sua


participação aqui hoje. Para finalizar, gostaria de dar alguma mensagem para o público.

[Rodrigo] Muito obrigado pelo convite, eu que agradeço a oportunidade de falar para todos que nos assistem, seja
aqui na plateia, seja quem acompanha de casa.

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Para finalizar gostaria de ler um trecho do Discurso do presidente Ikeda sobre “Por que devemos nos deparar com as
adversidades e suportá-las?”

O propósito da nossa prática budista é manifestar o estado de buda e este é o estado de felicidade absoluta. Se
praticamos o Budismo de Nichiren Daishonin para conquistar a felicidade, por que então necessitamos enfrentar e
ultrapassar os obstáculos? A resposta é porque precisamos passar pelo processo das dificuldades para fortalecer o
indestrutível eu do estado de Buda, assim como um diamante.

O diamante é considerado o rei das pedras preciosas; é o mais forte dos minerais e possui um brilho inigualável.
Símbolo de pureza, seu nome se origina da palavra grega “adamas”, que significa “inconquistável” e “invencível”.
Como os diamantes são produzidos? Sabemos que eles são feitos a partir do carbono, assim como o grafite. No fundo
do solo do planeta, esse material é exposto a forte calor e pressão, até ao ponto que se transforma na estrutura
cristalina de um diamante. Esse processo é semelhante à forma como nos desenvolvemos. Somente quando expostos à
concentrada pressão das dificuldades e ao ardente calor das adversidades é que a essência de nossa vida — o forte eu
— se transforma no indestrutível estado de buda como um diamante

É por meio das experiências em enfrentar essas dificuldades que adquirimos o “corpo de um diamante” ou o “corpo
do Buda”, que reluz o brilho da felicidade absoluta tão fortemente como o de um diamante, capaz de ofuscar qualquer
tipo de sofrimento e desilusão. Uma prática budista tranquila e sem intercorrências e também ausente de dificuldades
não nos fortalece nem nos ajuda a polir a vida. Somente quando resistimos ao intenso calor e a forte pressão das
grandes adversidades é que brilhamos como campeões da vida, resplandecendo a mais perfeita luz de um
diamante.

Um estado de vida igual a um diamante faz cintilar um brilho puro, bonito e imperecível; é sólido e indestrutível,
mesmo quando fustigado pelas turbulentas marés da sociedade e pelos obstáculos causados por forças corruptas da
maldade. Atingimos esse estado de vida por meio da sincera recitação do Nam-myoho-renge-kyo e da dedicação à
causa do kosen-rufu.”

Então é isso. A prática budista nos ensina que o essencial não é orar para não nos deparar com sofrimentos, e sim polir
o diamante que existe dentro de nós, a força capaz de transformar qualquer situação, mesmo o pior sofrimento pode
dar lugar a uma grande comprovação. Isso nos torna realmente livres porque nos tornarmos verdadeiros senhores de
nosso destino, capitães de nossa alma.

Muito obrigado!

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