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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

Faculdade de Letras (FALE)

Felipe Emanuel da Silva Costa

ENSAIO - ENSINO DE GRAMÁTICA ESCOLAR: DO ERRÔNEO AO REPENSADO

Belo Horizonte, 2023


Felipe Emanuel da Silva Costa

ENSAIO - ENSINO DE GRAMÁTICA ESCOLAR: DO ERRÔNEO AO REPENSADO

Ensaio crítica apresentada ao programa de


Graduação em Letras da Universidade Federal
de Minas Gerais como atividade prevista como
requisito de aprovação da disciplina Tópicos
em Letras B: Ensino escolar de gramática pelo
texto

Orientador: André V. Lopes Coneglian.


Turma: LET404.

Belo Horizonte, 2023


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO..........................................................................................................................4
O ERRADO NA PRÁTICA...............................................,,......................................................4
CAMINHOS PARA A MUDANÇA..........................................................................................5
REFERÊNCIAS..........................................................................................................................6
ENSINO DE GRAMÁTICA ESCOLAR: DO ERRADO AO REPENSADO

INTRODUÇÃO

O ensino de gramática escolar nas escolas brasileiras encontra-se em um processo


extremamente delicado. Segundo DEWEY (1956), o currículo escolar deve não apenas pensar
na vida adulta do estudante, mas levar em conta seus interesses, vivências e práticas.
Entretanto, em muitos casos, o ensino gramatical se encontra na contramão dessa premissa.
São diversos conceitos teóricos reproduzidos em sala que não possuem uma aplicação prática,
o que gera desinteresse ou não agrega sentido para o aluno, gerando uma reputação ruim ou
um desconhecimento total do funcionamento da gramática da Língua Portuguesa. Na tentativa
de mudar este quadro, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), sob muitas críticas, parte
na tentativa de aproximar a gramática do cotidiano relacionando a prática docente com a
leitura, produção escrita, fala, escuta e análise linguística. Outro fator relevante para essa falta
qualidade no ensino gramatical é um fator sociopolítico. BURDIEU e (1970) apontam que a
escola, o currículo e o ensino refletem as disputas sociais, em que as classes dominantes
impõem seus valores. A partir disso, o ensino de gramática na escola reproduz essa imposição
do padrão imaginário do falar ou escrever dominante, que segundo Faraco (2002, p.39) é a
“norma” com prestígio social, sem buscar uma reflexão crítica dos professores e alunos do
funcionamento real da língua e suas possibilidades na construção comunicativa.

O ERRÔNEO NA PRÁTICA

Para exemplificarmos essa utilização errônea da gramática no espaço escolar, Neves


(2003) aponta que em muitos casos o professor não considera ou esquece que o aluno já tem
conhecimento de sua língua materna. Em tese, o estudante freqüenta a escola para
compreender os padrões dessa construção lingüística que já possui e assimilar novas maneiras
de utilização da língua na interação social. Porém, devido à falta de conhecimento teórico por
parte dos professores ou pela formatação do material didático utilizado nas escolas brasileiras
que reduz a dinâmica da língua em uso, que é viva e se constrói pela multiplicidade de
combinações sintagmáticas e paradigmáticas, docentes ministram aulas engessadas. Sob uma
ótica extremamente formalista, necessária, mas que individualmente não sustenta o ensino nas
escolas, os livros ou manuais para professores reproduzem e focam-se na identificação,
categorização e explicações sucintas das tradicionais classes gramaticais presentes na
Nomenclatura Gramatical Brasileira por meio de pequenas orações. Como exemplo, um
trecho de uma atividade retirada por (NEVES, 2003) que aborda as definições de sujeito e
predicado em um dos livros de sua análise:

Termo de que se fala alguma coisa = sujeito.

O que se fala do sujeito = predicado.

Classifique o sujeito:

( I ) Caraíbas têm cabeça oca (Resposta: Sujeito Expresso)

( 2) Deviam ter aprendido tições (Resposta: Sujeito Oculto)

Assim, mesmo sob a narrativa escolar de que por meio desta abordagem gramatical o
aluno escreverá melhor, não há uma reflexão crítica se as categorias formais podem adquirir
outras funções ou significados na construção dos enunciados e textos.

CAMINHOS PARA A MUDANÇA

Parafraseando Geertz (2008), para compreendermos a ciência primeiramente é


necessário observar os fenômenos ao invés de partir da teoria. Desta forma, é necessário que
o ensino gramatical nas escolas seja ligado à língua em uso. A abordagem das regras
presentes na estrutura da língua é necessária? Sim. Porém devem refletir o cotidiano dos
estudantes. O professor deve estar atento as diversas situações de comunicação que envolvem
o ambiente escolar, acadêmico, profissional e familiar. Desta maneira, o docente utilizará o
conhecimento da língua e vivência que estudantes já possuem para aumentar o vocabulário,
aprofundamento de conceitos e padrões na construção de enunciados. Além disto, a
metodologia de trabalho docente deve caminhar em uma proposta funcionalista, em que se
relaciona forma e função. O professor deve ensinar e discutir sobre os aspectos formais da
língua, porém aplicar o significado dessas peças formais em situações práticas de e interação
social. O objetivo é o ensino formal das classes em textos reais, em suas diversas
modalidades, e não em pequenas orações. Assim o estudante verificará que de acordo com o
tipo de interação social, os fragmentos e recursos da língua se organizam de maneiras
distintas. Em suma, é preciso deixar claro para os estudantes que em cada situação interativa
que envolve a construção de textos, as classes gramaticais, estáticas segundo o formalismo,
adquirem novas funções que geram outros significados. Desta forma, aprendendo exemplos
em que a língua se constrói por diversas combinações, o estudante compreenderá que a
gramática é um instrumento que permite mobilidade social, pois este perceberá que poderá
acessar diversos lugares por meio das diferentes maneiras de manipular a Língua Portuguesa.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BOURDIEU, P.; PASSERON, J.A Reprodução: elementos para uma teoria do sistema de
ensino.Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1970

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018.

CONEGLIAN, A. V. L. ; MÓDOLO, M. . Dez livros para conhecer funcionalismo em


linguística. In: João Roberto Gomes de Faria. (Org.). Guia bibliográfico da Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. 1ed.São Paulo:
Publicações FFLCH, 2020, v. 1, p. 1-29.

DEWEY, J. The child and the curriculum and the school and society. Chicago: The
University of Chicago Press, 1956.

GEERTZ, Cliff. A interpretação das culturas. 13ª reimpressão. Rio de Janeiro: LTC. 2008
[1989].

NEVES, M. H. M. Que gramática estudar na escola? Norma e uso na língua portuguesa. São
Paulo: Editora Contexto, 2003.

PEDON, Nelson Rodrigo; CORRÊA, Rubens Arantes. Escola e currículo: um ensaio sobre
territórios em disputa. Revista NERA, vol.22 , n. 48, p.85-97, Dossiê Território em
Movimento, 2019. mai.- ago. 2019.

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