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GRAMÁTICAS NA ESCOLA

Pires de Oliveira, Roberta e Quarezemin, Sandra. Gramáticas na escola. Petrópolis, RJ:


Vozes, 2016.

Lírian Oliveira Lira*

A obra Gramáticas na escola apresenta uma perspectiva científica sobre as línguas


convidando o professor a refletir sobre o ensino da língua portuguesa em sala de aula e
incentivando-o a construir novas gramáticas diante da língua falada habitualmente pelo aluno.
Uma língua que é suprimida dentro da escola, fazendo com que o estudante tenha dificuldades
e falta de interesse pelo ensino de língua portuguesa.
O livro foi elaborado por Roberta Pires de Oliveira, professora Titular pela
Universidade Federal de Santa Catarina, com Pós-doutorado no Massachussets Institute of
Techonology (MIT), de 2004 a 2005, e em Harvard University, de 2012 a 2013, com
financiamento da CAPES. Atua na área da Semântica e Pragmática de vertente formal;
Filosofia da Linguagem; Filosofia da Linguística; Linguística Aplicada; Educação. E Sandra
Quarezemin, professora doutora pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) que
atua na área de Teoria e Análise Linguística, especificamente na Sintaxe Gerativa.
O livro se divide em cinco capítulos cuidadosamente trabalhados para que possamos
refletir desde o processo tradicional de ensino da gramática em sala de aula até a compreensão
de como modificar e interagir com a gramática falada habitualmente pelo aluno.
O capítulo 1, Gramáticas: rota alternativa para aulas de português, inicia com uma
breve explanação da importância da linguística na formação do professor, afirmando que esse
conhecimento pode ser de grande utilidade não só dentro de sala de aula, mas também um
lugar significativo no ambiente escolar como um todo. Baseando-se nas experiências didáticas
de Chomsky el al. (1985), defendem que a reflexão sobre a língua natural auxilia na
compreensão escolar no ensino de ciências e matemática, além de desenvolver a capacidade
de leitura e escrita. Discorrem sobre a legitimação da língua que falamos como nossa
identidade linguística e sobre como as escolas engessam o ensino da língua portuguesa sem
______________________________
*
Graduanda em Letras/Português-Espanhol pela Universidade Federal de Roraima.
Atividade apresentada na disciplina: Discurso: Leitura e Produção de Textos e Hipertextos, Curso de Letras da
Universidade Federal de Roraima, 2016/2, ministrada pelo prof.° Eliabe Procópio.
atribuir ao estudo algo cientifico que faça o aluno ter o olhar curioso para o fenômeno natural
da língua.
Em certo momento ponderam sobre a trajetória da linguística como ciência e como ela
modificou o ensino de língua portuguesa nas escolas, ainda que mínima, ouve uma leve
interferência iniciada após a década de 1970. Oliveira e Quarezemin criticam os PCNs para
Ensino Fundamental afirmando que, a reflexão linguística não está representada nos
parâmetros curriculares. Mesmo com pesquisas publicadas na época de 1960 e 1970, os PCNs
(publicados em 1997) não têm perspectivas naturalistas e lidam com a gramática de forma
tradicional e normativa, sem perspectiva de construção de novas gramáticas edificadas pela
fala do aluno.
No capítulo 2, Gramáticas e faculdade da linguagem, aprofundam o conceito de
perspectivas naturalistas e explanam sobre as diferentes visões de gramáticas, focando na
gramática que não é ensinada em sala de aula. Afirmando que devemos ensinar os alunos a
serem cientistas e fazer com que eles procurem as razões pelo qual falamos de maneira
diferente da gramática normativa.
Explicam que o medo de extinção de uma língua fez com que a gramática normativa
tivesse uma importância impar que é apreciada até hoje, embora saibamos que a faculdade da
linguagem e construção de uma língua é própria do ser humano. Noam Chomsky defende a
versão de temos um componente genético ligado a línguas naturais, uma estrutura linguística
comum a todas as línguas que nos faz capaz de aprender e de criar novas línguas desde que
dentro dessas estruturas pré-determinadas pelo cérebro.
Assim as autoras dão sugestões de atividades em sala de aula com a finalidade de
entender o funcionamento das línguas naturais e compreender como as crianças “aprendem”
uma língua sem esforço, mesmo sem frequentar uma escola.
No capítulo 3, Construindo gramáticas O método científico na escola, Oliveira e
Quarezemin falam da linguística como ciência e o quanto ela ajuda na compreensão de
aprendizagem de ciências e matemática. Ilustrando como seria interessante se utilizássemos
essa mesma premissa para o ensino da gramática, que nas escolas é ensinada de forma
automatizada, no sistema de decorar regras sem a preocupação do porquê que essas
ocorrências gramaticais existem e porque pode ocorrer variações. Assim elas opinam sobre
atividades em classe que estimulem a construção de novas gramáticas, comparando o
desempenho dos alunos que construíram gramática com aqueles que continuaram a gramática
normativa. Incentivando a escola a dar voz ao aluno, pois a escola de hoje condena sua
gramática habitual, fazendo com que o estudante se sinta retraído quanto ao ensino da língua.
No decorrer do capítulo as autoras explanam alguns conceitos científicos estimulando
o uso desses conceitos com os estudantes em classe como forma de aproximar o aluno da
ciência.
No quarto capítulo, A gramática do português brasileiro (PB), é uma pequena
comparação entre o português brasileiro (PB) e o português europeu (PE), discorrendo sobre
suas características e diferenciações. Explicam que o português brasileiro sofreu variações
linguísticas que podem fazer do PB outra língua que não o PE. Para isso fazem diferenças
entre elas com intuito de elucidar esse acontecimento. O PB vem perdendo a morfologia para
a marcação do plural em todos os elementos para abrir espaço a marcação somente no
elemento mais à esquerda da sentença. Quanto ao sujeito nulo não mais tão comum no PB, é
possível perceber a marcação do sujeito, mesmo sem necessidade, na fala:
“ (9) a. No Brasil, nós vivemos no futuro não no presente.
b. Eu pensava que eu sabia matemática”. (OLIVEIRA E QUAREZEMIN, 2016,
p.129)

Analisam sentenças dentro do discurso que podem ser válidas no PB, porém não no
PE. Além de sentenças interrogativas que podem ser gramaticais para uma e não para outra.
Essas entre outras formas utilizadas no Brasil que não são consideradas gramaticais em
Portugal servem para instigar ainda mais os linguistas a busca da solução do PB como uma
língua diferente do PE.
No último capítulo, Falando no concreto Gramáticas na sala de aula, as autoras
concluem concordando com a fala de Geraldi (2006) em “Pesquisa em Linguagem na
Contemporaneidade” em que ele sugere a radicalização “na defesa de outras manifestações
verbais como tão importantes ou até mais importantes do que aquela que a tradição elevou à
categoria de cânone”. E completam que “é preciso olhar para o português da gente que diz
Os menino tudo saiu e muitas outras gramáticas”. (OLIVEIRA E QUAREZEMIN, 2016, p.
165)
O livro tem uma temática interessante do ponto de vista da situação do ensino de
gramática em nossas escolas, tentando ingressar de maneira mais prática e forma mais atrativa
em classe para que os alunos se interessem pelo estudo da língua e ainda facilite seu
entendimento em outras áreas de estudo. Tem como maior objetivo passar ao leitor uma
mensagem de que podemos fazer diferença dentro da escola e fazer do estudo da língua algo
tão científico como ciências ou matemática.
As autoras utilizam uma forma didática e bastante exemplificada tornando o livro
agradável e de fácil compreensão. Mesmo quem não tem o conhecimento da linguística a
fundo consegue trazer para si os conhecidos transmitidos por elas.

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