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UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE

CURSO DE LETRAS – LÍNGUA PORTUGUESA


DISCIPLINA DE ESCRITA ACADÊMICA
RESENHA DE UM ARTIGO CIENTÍFICO

Acadêmica: Érica Dias Borges


Professor: Richarles Souza de Carvalho

Maria do Socorro Alencar Nunes Macedo é professora titular do Departamento


de Ciências da Educação GPEALE: Grupo de Pesquisa em Alfabetização, Linguagem e
Colonialidade, Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de
São João Del-Rei e da Universidade Federal de Pernambuco. Rayra Farias Araújo tem
Mestrado na área de Educação e Linguagem, pelo Programa de Pós Graduação em
Educação da UFPE. Atua como professora de Língua Portuguesa, no Instituto Helena
Lubienska e participa do Grupo de Estudos GPEALE da UFPE e da UFSJ. Graduou-se
em Letras – Licenciatura em Língua Portuguesa na UFPE e foi bolsista pela PROACAD
no Programa de Educação Tutorial (PET Letras UFPE).

O artigo “A dimensão plural das práticas de leitura em sala de aula: análise de


uma turma do 4º ano”, foi publicado pela Revista Brasileira de Alfabetização no ano de
2020. O texto tem como objetivo analisar quais gêneros textuais circulam na escola;
com que objetivos; a maneira como são lidos; e por quem são lidos. Essas e outras
perguntas são respondidas no contexto de um projeto mais amplo de investigação
etnográfica em turmas do 1º ao 5º ano de uma escola municipal de Recife com o foco
nas práticas de letramento, buscando contrastar semelhanças e diferenças entre elas.
Neste texto nos deteremos nas práticas de leitura do 4º. ano.

Inicialmente, as autoras apresentam uma discussão indicando os conceitos de


língua, letramento e leitura que sustentam a perspectiva de análise e uma descrição do
processo de produção dos dados. No tópico seguinte, é indicado um conjunto de
elementos que evidenciam a pluralidade das práticas de leitura na sala de aula, e por
fim, as autoras trazem uma reflexão que visa apontar subsídios para a prática
pedagógica e futuras pesquisas.

As autoras trazem uma paráfrase de Paulo Freire em que para o autor, a leitura
de um texto, “tomada como pura descrição de um objeto, é feita no sentido de
memorizá-la, nem é real leitura, nem dela portanto resulta o conhecimento do objeto de
que o texto fala”. (FREIRE, 1989, p.12). Esta fala retrata a superficialidade de práticas
de leitura realizadas em sala de aula, e é justamente a partir desse ponto que as autoras
baseiam seu pensamento: no pressuposto de que as práticas de leitura na escola são
múltiplas, plurais, ainda que o processo de escolarização tensione no sentido de uma
homogeneidade e univocidade.

As autoras desenvolveram a produção de dados a partir de uma imersão durante


cinco meses em uma turma do 4º ano de Ensino Fundamental numa escola municipal da
periferia de Recife, onde observaram a turma e entrevistaram a professora pedagoga da
turma. O bairro da escola é habitado predominantemente por pessoas de baixa renda e a
escola é de pequeno porte, atendendo a uma média de 200 alunos matriculados em
turmas do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental. A turma do 4º ano, em que a pesquisa
foi realizada, era composta por 16 crianças.

A perspectiva etnográfica com a qual as autoras trabalharam durante este estudo


deriva-se dos novos estudos do letramento (STREET & HEATH, 2008) e do trabalho
das antropólogas mexicanas Elsie Rockewell e Justa Speleta (1985), que destacam o
viés de construcción social da escola que constitui-se como um espaço produtor de
práticas e cultura próprias. Cabe pontuar o interessante fato de que as autoras
observaram não somente os momentos denominados “hora da leitura”, mas também
aqueles que não o são, e a partir do contraste notado, puderam compreender de forma
mais ampla as práticas de leitura.

Neste período de observação, as autoras apontam que em sua maioria, a leitura


se fez presente em sala de aula como apoio para o trabalho com a produção de textos, o
desenho e atividades de análise linguística. Assim, as autoras constataram que o texto
foi sempre um suporte para o ensino dos mais diferentes conteúdos de modo que não se
fez presente apenas como objeto de ensino, mas para o ensino com o texto.

Como conclusão, as pesquisadoras retomam sua ideia principal e consideram


que a experiência reafirmou o pressuposto da pluralidade inerente ao letramento na
escola, evidenciando que a leitura é uma prática transversal no contexto escolar. De
acordo com as autoras, “uma prática que constitui praticamente todas as atividades das
quais os alunos participam, sendo elas de ensino sistemático de algum conteúdo
curricular ou de fruição, não cabendo, portanto, a dicotomia letramento escolar versos
letramento social”. Deste modo, conclui-se que a dimensão plural da leitura revelou-se
nos diferentes sentidos construídos pelos alunos, indicando que estão se apropriando da
leitura numa perspectiva mais crítica, participando de situações em que suas vozes de
alguma forma puderam ser ouvidas e discutidas. Este resultado trazido pelas
pesquisadoras é um dado bastante positivo, em virtude do contexto social em que os
alunos estão inseridos.

Sendo assim, a pesquisa mostrou-se notável pela forma como foi realizada: as
autoras dispuseram de um semestre letivo inteiro para observar e analisar as práticas de
leitura desta turma específica. Entretanto, ainda que os conceitos e pressupostos tenham
sido explicados de maneira clara e concisa, há uma falta de desenvolvimento em relação
aos resultados obtidos nesta investigação, de modo que a conclusão deste texto é curta e
não traz maiores reflexões. Ainda em relação à conclusão do artigo, as autoras
reafirmam os pressupostos já defendidos e fomentam a necessidade de aprofundamento
nas pesquisas e estudos na área, mas não trazem um resultado concreto e bem detalhado.

Em concordância com as autoras e ideias defendidas no texto, considera-se de


extrema importância a realização de estudos e pesquisas aprofundadas na área de
práticas de leitura – bem como estratégias de leitura em sala de aula, e pode-se constatar
que há necessidade de aprofundamento nesta área. Contudo, o estudo realizado não traz,
em sua apuração, detalhes maiores dos resultados obtidos, deixando o leitor com uma
espécie de lacuna em sua mente, aguardando o momento em que a reflexão (ou
reflexões) e a decorrência das situações observadas em um período de um semestre
letivo – período este, que para uma pesquisa desta proporção, é consideravelmente
longo – fossem expostas e relatadas.
Referências

MACEDO, Maria do Socorro Alencar Nunes; ARAÚJO, Rayra Farias. A dimensão


plural das práticas de leitura em sala de aula: análise de uma turma do 4º ano.
Revista Brasileira de Alfabetização: n. 13, p. 121-132. 2020.

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